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CAPÍTULO 8

SUMÁRIO
8 AS LEIS MORAIS (I)
8.1 DA LEI DIVINA OU NATURAL – O bem e o mal

8.2 DA LEI DE ADORAÇÃO


8.2.1 Politeísmo
8.2.2 Sacrifícios

8.3 DA LEI DO TRABALHO


8.3.1 Limite do trabalho – Repouso

8.4 DA LEI DE REPRODUÇÃO


8.4.1 Obstáculos à reprodução
8.4.2 Casamento e celibato
8.4.3 Poligamia

8.5 DA LEI DE CONSERVAÇÃO


8.5.1 Gozo dos bens terrenos
8.5.2 Necessário e supérfluo
8.5.3 Privações voluntárias – Mortificações

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8.6 DA LEI DE DESTRUIÇÃO
8.6.1 Destruição necessária e destruição abusiva
8.6.1.1 Flagelos destruidores
8.6.1.2 Guerras
8.6.1.3 Assassínio
8.6.1.4 Crueldade
8.6.1.5 Pena de morte

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Curso Básico de Espiritismo As leis morais (I)

8. AS LEIS MORAIS (I) (*)


A terceira parte de O Livro dos Espí-
ritos trata das leis morais.
Antes de entrarmos no estudo
pormenorizado de cada uma, vejamos o
significado de lei e de moral.
Diz-se que lei é uma regra necessária
e obrigatória que preside à relação de dois
ou mais fenómenos, relação esta constante
e invariável; também se pode entender
como o conjunto de normas emanadas de
um poder maior e soberano, estabelecendo
uma obrigação que se impõe por si mesma.
Entende-se por moral tudo aquilo
que diz respeito ao procedimento, que per-
tence ao domínio do espírito, da
inteligência e dos bons costumes; diz-se que
a moral é a luz condutora da consciência,
formando um corpo de preceitos e regras,
para dirigir as acções dos homens segundo
a justiça para consigo próprio e para com os outros.
O enfoque espírita aceita estas colocações e desdobra-as, qualificando-as de
acordo com uma ordem de sequência que fecha exactamente o ciclo de uma espiral
evolutiva, começando pela Lei Divina ou Natural, terminando na perfeição moral,
passando pelas leis de adoração, do trabalho, da reprodução, da conservação, da
destruição, da sociedade, do progresso, de igualdade e de liberdade, de justiça, amor
e caridade.
Parece uma escada ascensional formada por degraus que começam num pon-
to ideal – o princípio – e fecham em circuito sobre si próprios finalizando, em projec-
ção, num ponto comum e igual, levando, porém, como carga, todo um processo de
evolução, de crescimento, de madureza, de individualização consciencial.

8.1. DA LEI DIVINA OU NATURAL

É a lei de Deus, tendo-O como princípio imanente e transcendente do Univer-


so, causa e meta, princípio e finalidade; é natural, porque Deus estando em tudo, e
tudo em Deus, a natureza está prenhe de Deus, que está presente na energia que se
transforma em matéria, tanto quanto no espírito que se transforma em consciência,
porque nada existe sem ser em Deus.
Por ser uma lei natural é infeliz o que dela se afasta, não por desconhecê-la,
mas por repudiá-la.
Sendo uma consequência da Sua presença, ela é eterna e imutável, quanto ao
tempo e espaço, mas percebida pelos homens na medida em que evoluem e dilatam
o seu universo consciencial.
Conforme seja considerada, a Lei Natural tanto rege fenómenos da matéria,
* Todo este caderno foi elaborado com base no Livro dos Espíritos, 3.ª Parte, Cap. 1 a 6.

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sendo estudada pelo homem ligado às ciências académicas, na Física, Química, Bio-
logia, Astronomia, etc., como fenómenos do espírito, relacionado com o seu criador -
Deus - ou com os seus semelhantes - outros homens e seres da natureza: animais,
vegetais, minerais - formando as leis morais.
A lei natural, ou divina, está apropriada para cada mundo na faixa da sua evo-
lução, embora seja a mesma sob o ponto de vista universal. Todos a compreenderão
um dia, embora muitos a conheçam e não a consigam respeitar, sofrendo as conse-
quências desse desrespeito.
Como está insculpida na
consciência da criatura, ela é
tanto mais compreendida
quanto mais aperfeiçoado
(evoluído) o ser, que devido
aos seus maus instintos a
esquece. Para tanto, a Bondade
Divina providencia, de tempos
a tempos, a vinda de espíritos
superiores, que a encarnam em
extensão e profundidade.
Vivendo-a exemplarmente,
servem como modelos
catalisadores da mudança de
costumes de uma população,
de uma sociedade, da
humanidade toda, dependendo
do raio de acção de tais
missionários.
Alguns falham, não
conseguindo dar bom termo às
suas tarefas e, entre os ensinamentos reais e verdadeiros, misturam os seus erros e
fantasias, obrigando, assim, os seus seguidores a exercitarem, permanentemente, a
análise e a crítica.
Na antiguidade eram conhecidos como profetas. Os verdadeiros eram os que
não sobressaíam apenas pelas palavras, mas os que testemunhavam pelo exemplo
vivo. Entre todos os que até hoje vieram ao encontro do homem o mais perfeito foi
Jesus, que conseguiu, na sua longa jornada evolutiva, incorporar de tal forma as leis
divinas que as vivia naturalmente, respirando-as através dos seus actos.
É o modelo mais perfeito que o homem tem. Hoje, os seus ensinamentos,
vertidos em forma simbólica ou através de histórias, têm, pelo Espiritismo, uma expli-
cação mais lógica e coerente com a época e os conhecimentos actuais, fugindo das
características da antiguidade, quando os princípios das leis divinas e naturais eram
tidos como mistérios, abertos apenas a alguns iniciados.
A Doutrina Espírita, com o seu corpo de ensinamentos, vem popularizar o co-
nhecimento antes fechado às grandes massas, que tinham de se contentar em seguir
de olhos vendados os seus pretensos mestres que, gozando da possibilidade do po-
der, abusavam da ignorância do povo, impingindo-lhe crendices e temores infunda-
dos, misturando conceitos de bem e de mal.
Para a Doutrina Espírita, a moral tem que ver com o procedimento, isto é, a
ideia transformada em acção e em maneira de ser, visando o bem comum.
O bem seria a aplicação, nos limites do conhecimento e da possibilidade, das
leis divinas, e o mal a ausência da aplicação destas leis ou, no caso contrário, a
agressão a estas mesmas leis. Por intuição, o homem sabe o que é a lei divina, bas-

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tando, para isso, não se deixar dominar pelos seus interesses egoístas e vaidosos. Na
máxima cristã de não fazer aos outros o que não quer que lhe façam, e mais, fazer
aos outros o que gostaria que lhe fizessem, está o resumo de tudo. O mal não é uma
criação activa de Deus. Apresenta-se no homem como parte da sua natureza; ele é a
negação do bem que cumpre ser desenvolvido pelo homem, é a resistência criada
pelo homem para a sua própria libertação e crescimento.
À medida em que o homem se desenvolve e sabe o bem que deve fazer, e se
omite, não se esforçando por concretizá-lo, mais responsável se torna perante as leis
divinas pelo mal que pratique. Este, tanto pode ser caracterizado pelas acções con-
trárias ao bem, quanto simplesmente pela ausência deste. Por isso, o nível de res-
ponsabilidade da consciência ignorante não é o mesmo que o do homem dito escla-
recido, pois, dependendo das circunstâncias, como da falta de ocasião de praticá-lo,
só o simples desejo de perpetrá-lo já dá ao homem um sentimento de responsabili-
dade pelas suas consequências.
Todos podemos praticar o bem, porque não consiste em o indivíduo conside-
rar-se grandioso nos actos de caridade, mas, simplesmente, em tornar-se útil no nível
evolutivo em que está.
Há mérito em se resistir ao mal que provém do meio em que se vive e, às ve-
zes, isso ocorre como uma provação das nossas forças, podendo também o mal
exercer um arrastamento forte sobre o carácter do indivíduo, mas nunca irresistível,
pois a vontade é soberana em quaisquer circunstâncias, não se podendo atribuir ao
meio a responsabilidade de actos que a consciência aprova ou não.
A lei natural, tratando-se do comportamento do homem em relação ao seu
semelhante, é a do amor ao próximo como a si mesmo.

8.2. DA LEI DE ADORAÇÃO

Todos compreendem, mesmo que inconscientemente, que acima de tudo


existe um princípio criador, um ente supremo, Deus, que rege o Universo e as suas
criaturas em todos os níveis de evolução.
O reconhecimento e a evolução do pensamento da criatura ao Criador carac-
teriza a adoração, que faz parte da lei natural, pois é um sentimento inato que se
manifesta de formas diferentes.
A adoração interior é a verdadeira, é a do coração, mas a exterior, como bom
exemplo, tem o seu valor relativo, desde que não seja uma acção falsa, nem tão-
pouco mistificatória.
A adoração a Deus faz-se através do amor dedicado ao semelhante, sem
afectação e publicidade, num processo de autopromoção provocada pelo orgulho e
pela vaidade. É hipócrita todo aquele que cifra a sua atitude em actos exteriores e
espalhafatosos, cuidando de manter uma imagem de pureza e superioridade. Ele
cria, fermentando em torno de si, grupos de admiradores fanáticos, mas, na intimi-
dade, demonstra os seus interesses rasteiros de aparecer como figura especial, em
função da caridade que imagina prodigalizar.
A adoração a Deus é singela, simples, silenciosa e espontânea. Não necessita
de arroubos nem de fanfarras que anunciem a intenção do fiel. A linguagem conhe-
cida por Deus é a do coração.
A vida contemplativa, inerte, apenas de reflexão, é um desperdício, pois o po-
tencial do homem deixa de ser usado em benefício do semelhante. A verdadeira
adoração é a que nasce da acção útil em favor do outro, desenvolvendo, assim, os
potenciais riquíssimos que a criatura humana possui e ainda não se deu conta.

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A prece não deve ser confundida com uma adoração contemplativa, pois no
acto de orar mobilizamos recursos de natureza interior que nos permitem enfrentar
dificuldades sem nos abatermos, tanto quanto encontramos inspiração para novos
cometimentos realizados a favor dos nossos semelhantes.
A prece feita com o coração e a alma torna o homem mais senhor de si, po-
dendo lutar contra os seus maus próprios instintos, que o levam a ligações pouco
felizes com entidades perturbadas e perturbadoras. A prece funciona como um es-
cudo de protecção contra a invasão do mal de fora, que sempre se fundamenta no
mal de dentro da criatura, que assim se vê presa de influências perniciosas e deletéri-
as.
A eficácia da prece, contudo, dá-se quando quem ora consegue sair da sua
concha de egoísmo e, descendo do seu pedestal de orgulho, passa a tratar o seu
semelhante com amor e carinho, através de acções benéficas. A prece, pois, é uma
forma do homem se carregar de energias e canalizá-las para o bem geral e, conse-
quentemente, para o seu próprio bem.
De nada adianta orar, seja louvando seja pedindo perdão das faltas, se o indi-
víduo não procede a nenhuma
mudança na sua maneira de ser,
nem tão-pouco adianta simular
uma atitude de adoração.
A Lei tem a finalidade de
diminuir as dores e provas que
cada um deve passar, em
função dos seus próprios
desacertos, e da necessidade de
ultrapassar barreiras próprias e
naturais do processo evolutivo
(de crescimento espiritual).
A prece serve como
elemento de motivação para
enfrentarmos com dignidade e
elevação as provas, mas nunca
as diminuindo ou afastando-as
do nosso caminho, pois o que
mesquinhamente achamos um
grande mal, dentro da nossa
visão efémera e limitada, na
origem geral das coisas, pode
ser um bem.
A prece não muda os
desígnios de Deus, mas dá-nos
uma visão mais clara de como
devemos agir, e, quando oramos por terceiros, não os eximimos dos seus sofrimen-
tos, porém transmitimos-lhes o nosso sentimento amoroso, alcançando-os onde este-
jam, servindo a nossa prece como um refrigério às suas almas, e, a algumas, como
um toque para a sua renovação interior, para abandonarem uma posição de inércia,
trocando-a pela acção a favor de outros sofredores maiores que elas próprias. Forma-
se, assim, uma sequência de relações simpáticas e de gratidão entre os espíritos, que
aos poucos despertarão para o sentimento de amor recíproco e alcançarão, dessa
forma, as recomendações do Cristo.

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8.2.1. POLITEÍSMO

Incapaz, por falta de desenvolvimento das suas ideias, o homem atribuía, a


princípio, tudo o que não conseguia explicar, à acção de deuses que se espalhavam
pela natureza, a fim de atender-lhe os pedidos ou vingar-se, se não fossem reveren-
ciados como desejavam. Para o homem primitivo, os deuses disputavam o poder en-
tre si e chegavam a guerrear para mostrarem as suas forças.
O termo deus, a princípio, não significava o Senhor da Natureza, mas todo o
ser existente fora das condições da humanidade. Confundiam-se os espíritos nas suas
várias escalas evolutivas e as suas relações com os deuses. Era apenas uma questão
de palavras, mas que, até hoje, através da devoção dos fiéis, se vê, amiúde, a prática
politeísta.
Com o Cristianismo houve uma orientação segura quanto à definição de Deus
como Pai amoroso e vigilante, sempre pronto para auxiliar seus filhos a redimirem-se,
deixando de lado a imagem grosseira de um deus vingativo e cruel, irado e sujeito a
alterações de humor, conforme o procedimento das criaturas humanas.
A doutrina de Moisés deu-
deu- nos como avanço cultural religioso a no
no ção do
Deus único, soberano
soberano e poderoso, exercendo tal poder sobre tudo e todos no Uni-Uni-
verso.

8.2.2. SACRIFÍCIOS

O facto de os homens primitivos ainda estarem mais influenciados pelos ins-


tintos, não tendo desenvolvido o senso moral, é que fez com que procurassem mos-
trar o seu respeito e devoção às divindades através de sacrifícios, principalmente de
criaturas humanas, que valiam mais do que um animal que, a princípio, era objecto
de escolha para tal. Como admitiam que o valor da crença era proporcional ao valor
do que era sacrificado, procuravam agradar a Deus através dos sacrifícios humanos.
Essa prática não era realizada propriamente por crueldade, mas originada por uma
ideia errónea de querer agradar ao Pai.
Sem dúvida que, com o correr do tempo, os abusos instalaram-se e inimigos
comuns e particulares passaram a ser executados com a desculpa de se estar fazen-
do uma obra piedosa e de adoração a Deus.
Uma época remanescente desta fase obscurantista foi a Idade Média, na qual
centenas de milhares de pessoas foram imoladas para terem as suas almas salvas,
desencadeando, através do mecanismo da lei de causa e efeito, acontecimentos que
até hoje ocorrem no mundo, até ao restabelecimento final da ordem e da justiça nas
consciências.
Deus julga os sacrifícios pela intenção e à medida que os homens evoluíram
deixaram tais práticas, mantendo-as, apenas, a nível simbólico.
O melhor sacrifício perante os olhos de Deus não é a Sua defesa, nem dos
Seus ensinamentos, através de lutas e guerras fratricidas, em que se pretende impor
aos outros uma doutrina, mas sim através de uma acção amorosa, compreensiva,
procurando ajudar o semelhante, seja de que forma for, minorando-lhe os sofrimen-
tos e auxiliando-o a sair da escuridão da ignorância.
A melhor forma de adorar a Deus é trabalhar a favor da melhoria individual e
do grupo em que se vive.

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8.3. DA LEI DO TRABALHO

A necessidade do trabalho é lei da Na-


tureza, isto é, é intrínseco no homem ter que
trabalhar, para desenvolver o seu potencial
intelectual e moral. Tanto é trabalho o do
corpo quanto o da inteligência e, como resul-
tado, temos uma aplicação moral desse traba-
lho, revertendo para o próprio indivíduo e
para aqueles que o cercam, aumentando o
seu património material e espiritual, do qual
deve usufruir para a sua felicidade.
Enquanto o trabalho animal é pura-
mente instintivo e condicionado, o do homem
é racional e criativo, permitindo-lhe desenvol-
ver os seus potenciais divinos, pois não visa,
apenas, a conservação do corpo e os bens
materiais. O homem evoluído faz do trabalho
um meio para atingir os seus fins espirituais
de socialização.
O trabalho existe em função das ne-
cessidades que, quanto menos materiais fo-
rem, mais inclinam o homem para um traba-
lho menos penoso sob o ponto de vista físico.
As necessidades materiais exigem um traba-
lho material, as espirituais um espiritual.
Quanto mais meios o homem possui para a sua manutenção e sustento, mais
obrigação moral tem de ser útil aos semelhantes, pois usar o que possui só para o
seu gozo, caracteriza-o como egoísta e involuído. A posse de bens que extrapolem as
suas necessidades obriga-o a ser útil aos semelhantes, sob pena de converter-se num
entrave para o progresso moral e social do meio e da sociedade em que vive, po-
dendo, de futuro, encontrar-se impossibilitado de desenvolver uma função voluntari-
amente desprezada, tendo que viver às expensas do trabalho alheio, sofrendo o peso
dos limites que ele mesmo procurou.
Na sociedade actual, o trabalho dos pais a favor dos filhos (de uma maneira
geral de uma geração anterior para uma sucessora) deve receber, reciprocamente,
uma acção de ajuda mútua, estabelecendo uma cadeia natural de trocas, que estabi-
lize a sociedade. O mais velho ajudando a criança a ser adulta; esta, alcançando a
maturidade e o seu mais alto potencial produtivo, deverá ajudar e amparar os que
por ela tanto fizeram e voltar-se, também, para as novas gerações, que precisam de
ajuda e exemplos, e assim sucessivamente.

8.3.1. LIMITE DO TRABALHO – REPOUSO

O repouso, além de ter um papel na reparação das energias físicas, também


serve como elemento importante na indução do espírito a procurar a liberdade da
inteligência, alcançando a vertente da criatividade, fugindo, assim, do estreito anel
das condições reflexas e limitantes de um trabalho rotineiro.

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O limite do trabalho é o das forças. Todo o abuso que se cometa será consi-
derado suicídio indirecto, se for autonomamente imposto pelo próprio interessado,
ou escravidão vil, se da responsabilidade de um terceiro. Tanto uma como a outra
atitude configuram uma transgressão da lei de Deus.
Num meio social que leve em conta a lei de produção e consumo, uma faixa
etária nova é responsável pelo trabalho que assegure o bem-estar dos mais velhos,
que já não podem produzir, mas que têm o direito de viver e gozar dignamente a
sua velhice, pois ajudaram na educação dos mais novos que se prepararam para con-
tribuir a favor da sociedade e do mundo.
É por isso que a lei de reprodução é importante na manutenção deste fluxo
interminável, do qual são geradas as sociedades e a própria humanidade.

8.4. DA LEI DE REPRODUÇÃO

Evidentemente, a lei
de reprodução é uma lei da
Natureza, que assim provê,
permanentemente, a
renovação do património
humano, não só de bens
materiais, mas culturais e
espirituais que, em
conjunto, formam a
humanidade.
Sempre crescendo
geometricamente, a
população do globo
terrestre ameaça chegar a
um nível em que as
condições da Terra não
permitirão a todos viver. O
fantasma da sobrepopulação e da saturação angustia o homem de hoje, que apenas
vê "um canto do quadro da natureza, não podendo julgar da harmonia do conjunto".
Há mecanismos naturais que impedirão a implosão da Terra por excesso de popula-
ção e escassez de meios e recursos de sobrevivência.
Velhas raças são apenas lembranças históricas que deram lugar a novas raças,
que envelhecerão e terão que ser substituídas. Uma visão limitada não permite que
entendamos com clareza os desígnios da Providência, que se fazem sem ou com o
nosso conhecimento, e sem ou com o nosso consentimento.
Embora as raças possam ser substituídas, os espíritos que as encarnam são os
mesmos seres em processo de evolução. Da força bruta dos nossos ancestrais primi-
tivos evoluiu a força da inteligência, que consegue sobrepor-se aos elementos natu-
rais, tirando-lhes, de maneira progressiva, a força, aplicando-a em benefício próprio e
colectivo, o que não conseguem os animais.
Deus manifesta-se no homem através da sua inteligência, que é colocada ao
serviço do aperfeiçoamento da própria natureza, dela extraindo forças capazes de o
ajudarem no seu bem-estar e a realizar o progresso, que se torna meritório de acor-
do com a intenção dada pelos seus construtores.

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8.4.1. OBSTÁCULOS À REPRODUÇÃO

A natureza é regulada por leis gerais, mas a acção inteligente do homem


pode alterá-las, desde que o faça de acordo com as suas necessidades e sem abuso.
Esta acção inteligente do homem é que o distingue dos animais, porque age
com conhecimento de causa, regulando os mecanismos da reprodução, conforme os
seus desejos e necessidades, provendo, com esta regulação, um bem-estar social,
económico e moral. Desde que o faça visando somente a sua sensualidade mostrará
quanto ainda é material, já que predominam os valores do corpo sobre os da alma.

8.4.2. CASAMENTO E CELIBATO

O
casamento é um
progresso na
marcha da
humanidade e a
sua abolição seria
uma regressão à
vida animal.
Através do
casamento os seres
estabelecem entre
si um vínculo de
solidariedade fra-
terna, aprendendo
a cooperar com o
seu semelhante,
abrindo mão de
interesses pessoais
e egoísticos.
A indissolubilidade do casamento é uma lei humana, que contraria a da natu-
reza, que pré-estabelece a união geral dos seres, sem a formação fechada, perma-
nente, de grupos que se enquistam e isolam dos demais. A estabilidade do casamen-
to é dada pela união dos interesses dos cônjuges e pela sintonia espiritual que deve
haver entre eles.
O celibato voluntário, procurado ou imposto a si mesmo como um estado
meritório e de perfeição espiritual, não passa de uma grande mentira egoísta, desa-
gradando às leis naturais e enganando o mundo, muitas vezes escondendo proble-
mas de desajustes pessoais de ordem moral e sexual. O celibato torna-se meritório
quando o seu móbil é o sacrifício pessoal, voltado para o bem da humanidade, mas
sem qualquer ideia egoísta de autopromoção. O celibato deve ser aceite quando é
espontâneo e não se reveste de qualquer tipo de compensação, elevando o homem
acima da sua condição material. Ele só é verdadeiro quando não pesa para quem o
vive e para quem não precisa de utilizar outros mecanismos de acção sexual para
justificá-lo.

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8.4.3. POLIGAMIA

A poligamia é uma lei humana, nascida muito mais da sensualidade do que


da afeição real, sendo a sua abolição um progresso.
Se fosse uma lei natural, deveria, com o tempo, ter-se universalizado, o que
não ocorreu, por diversas razões. Ainda é encontrada no nosso mundo como rema-
nescente de épocas passadas, estando sujeita a uma legislação especial, apropriada a
certos costumes tradicionais, que o aperfeiçoamento social irá, aos poucos, modifi-
cando.

8.5. DA LEI DE CONSERVAÇÃO

É uma lei da Natureza que todos os se-


res vivos possuem em diferentes graus, desde
o maquinal, instintivo, até ao nível raciocina-
do.
Porque os seres vivos têm necessidade
de viver para cumprimento dos desígnios da
Providência Divina, sentem instintivamente a
lei de conservação como parte natural da sua
constituição.
Os meios de conservação dados por
Deus ao homem nem sequer são entendidos,
principalmente os meios que a Terra lhe pro-
porciona, que devem ser utilizados na medida
do necessário, de forma sustentada, evitando
o supérfluo. Quando nem o necessário é al-
cançado pelo homem no trato da terra, isso
deve-se à imperícia do próprio homem, que
não respeita as leis naturais.
Os esbanjamentos dos recursos materi-
ais demonstram que o homem, no afã de
satisfazer as suas fantasias, se torna imprevidente no uso, caindo no abuso, tendo
que sofrer nos dias de penúria.
“A natureza não pode ser responsável pelos defeitos da organização social,
nem pelas consequências da ambição e do amor-próprio.”

8.5.1. GOZO DOS BENS TERRENOS

Os bens da Terra devem ser entendidos como tudo o que o homem pode go-
zar neste mundo e, quando o homem não alcança este gozo, não pode, nem deve
acusar a Natureza como imprevidente, mas reconhecer que é dele a responsabilidade
pelo seu sofrimento, por não saber regrar o seu viver.
Se uns têm tanto e outros têm pouco, ou nada, deve-se reconhecer, por um
lado, a existência do egoísmo que impede qualquer atitude altruísta e, por outro
lado, a indolência e a acomodação, pois quem realmente busca e se esforça, por

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pouco que tenha, sempre está


fadado a conseguir mais e melhor,
se não ficar apenas a reclamar sem
produzir. Os obstáculos e impedi-
mentos, a maioria das vezes, têm
apenas a finalidade de
experimentar a constância, a
paciência e a firmeza.
Se cada um aprender a
ocupar o seu lugar, não ocupando
o espaço do semelhante, a
organização social tende a
apresentar-se de forma equilibrada
e estável.
Os esforços dos vários povos
que se utilizam de técnicas científi-
cas para o aperfeiçoamento moral
provam que o homem, utilizando a inteligência, pode melhorar o seu padrão de vida,
desde que não caia em círculos egoístas e de opressão a terceiros. Estes, quando
existem, geram condições de sofrimento futuro, devido à infracção da lei.
A necessidade de subsistência gera no homem a exigência do trabalho, que
não deve ser escravo nem explorador. E qualquer tipo de malefício e crime que se
cometa contra o próximo sempre gerará uma falta do tipo lesa-natureza com as con-
sequências decorrentes. À medida que as sociedades e os mundos se diferenciam
evolutivamente, a alimentação está em relação directa com a sua natureza, havendo
ainda, nos mundos mais elevados, necessidade de alimentação, que não seria bas-
tante substanciosa para os nossos estômagos ainda grosseiros.
O gozo dos bens terrenos é um direito consequente à necessidade de viver e
serve para experimentar o homem, desenvolvendo-lhe a razão, preservando-o dos
excessos e abusos, educando-o desta forma. Todas as vezes que o homem ultrapassa
o limite do necessário cai no excesso, amargando o gosto da saciedade e perdendo o
estímulo do prazer, punindo-se, desta forma, automaticamente.

8.5.2. NECESSÁRIO E SUPÉRFLUO

O homem ponderado estabelece o limite do necessário pela intuição e pela


experiência, embora a própria natureza estabeleça a linha divisória do uso e do abu-
so, conhecendo-se este pelos resultados nefastos dele decorrentes.
Sem saúde e sem força, o homem não consegue desenvolver conveniente-
mente o seu trabalho, que tem como finalidade prover as necessidades do corpo,
sendo natural o seu desejo de bem-estar, desde que não conseguido à custa de ou-
trem.

8.5.3. PRIVAÇÕES VOLUNTÁRIAS – MORTIFICAÇÕES

Todo e qualquer esforço que se faça para a privação dos gozos inúteis des-
prende o homem das suas paixões materiais, elevando a sua alma, que se dignifica

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ainda mais quando o homem abdica dos seus prazeres para fazer a felicidade do
semelhante, através do auxílio fraternal.
A utilização de medidas simuladas, com a finalidade de apenas crescer peran-
te os olhos humanos, além de não trazer nenhum auxílio espiritual para o homem,
ainda o coloca como ser hipócrita que, com máscaras, procura impressionar o seu
semelhante.
A privação, por exemplo, de certos alimentos, é tomada como prova de supe-
rioridade, embora a constituição do homem exija, para a manutenção das suas for-
ças e da sua saúde, a ingestão de proteínas animais, sendo coerente esta privação
somente se for séria e útil, isto é, se não for apenas para sobressair, com o uso de
sentimentos de falsa superioridade.
Todo e qualquer sofrimento que não seja natural, portanto criado pelo pró-
prio homem com a finalidade de agradar a Deus, não leva a nada, porque, no fundo,
está apenas a atender ao seu egoísmo; mortifica-se inutilmente.
Melhor faria se usasse as suas energias para atender ao semelhante que sofre
dificuldades, exercitando o seu desprendimento em acções que resultassem em algo
útil para alguém e não apenas fustigando o seu corpo de maneira egoísta.

8.6. DA LEI DE DESTRUIÇÃO

8.6.1. DESTRUIÇÃO NECESSÁRIA E DESTRUIÇÃO ABUSIVA

Ao que chamamos
destruição nem sempre o é; não
passa de uma forma de rege-
neração, de transformação, pois
vivemos num Universo em que
“nada se cria, nada se perde,
tudo se transforma.”
Os seres vivos, para se
alimentarem, destroem-se
reciprocamente, seguindo esta
aparente destruição dois fins:
1. Manutenção do
equilíbrio na
reprodução, que poderia tornar-se excessiva, quebrando a dinâmica de
interdependência que existe entre os seres;
2. Utilização dos despojos do invólucro exterior que sofre a destruição.
Esse invólucro é simples acessório; a parte essencial do ser pensante é o
princípio inteligente, que não se destrói, mas se elabora nas metamorfo-
ses diversas por que passa.
Os meios de preservação de que a própria Natureza é dotada têm a finalidade
de evitar que a destruição se dê antes do tempo, o que inibiria o desenvolvimento do
princípio inteligente.
O medo inconsciente do homem pela morte é a manifestação do instinto de
conservação animal; é a manifestação inconsciente da necessidade que o seu espírito
tem de se desenvolver. Por isso, deve enfrentar as provações da vida sem apelar para

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a fuga das reclamações, das acusações indevidas, nem tão-pouco aspirar à morte
física como forma de resolver os problemas que o alcançam.
A necessidade de destruição, para estabelecer o equilíbrio ecológico e psico-
lógico, é proporcional à natureza dos mundos, cessando quando o físico e o moral se
acham mais depurados do que aqui na Terra; são características de mundos mais
adiantados que o nosso. Mesmo aqui na Terra, à medida que há uma maior depura-
ção, o sentimento de preservação sobrepuja o de destruição, dando ao homem me-
lhor posição no seu desenvolvimento intelectual e moral.
O direito de destruição sobre os animais, bem como sobre os vegetais, está
regulado pela sua necessidade, pagando o homem alto preço por qualquer abuso
que cometa, denotando apenas a predominância dos seus instintos bestiais destruti-
vos.
Quando a
destruição dos animais é
evitada, por excesso de
escrúpulo ou por
imposição religiosa, o
facto, louvável em si,
passa a ser, apenas,
manifestação supersticio-
sa, pois o homem excede-
se de outra maneira. Só é
válida quando aceite
interiormente, sem riscos
para o seu bem-estar ou
sobrevivência e sem
revolta.

8.6.1.1. Flagelos destruidores

Os flagelos destruidores são permitidos por Deus na medida em que os resul-


tados que deles advêm, e que nem sempre são vistos, admitidos e aceites pelo ho-
mem, os leva a uma regeneração moral, dando origem a uma melhor ordem, que se
realiza em poucos anos, em vez de alguns séculos.
São meios de aceleração do progresso da humanidade que, pelas dificulda-
des, se vê obrigada a mudar a maneira de agir. Tais meios, porém, são de excepção,
pois, regularmente, o homem tem, como meio de progredir, o conhecimento do
bem e do mal que, não sendo convenientemente usado, resulta em medidas de ex-
cepção, tomadas pela lei de equilíbrio que rege a vida das pessoas, dos grupos, das
sociedades, das nações e da humanidade.
Pelo facto dos espíritos preexistirem e sobreviverem a tudo, eles formam o
mundo real. Os seus corpos físicos e o meio físico no qual desenvolvem as suas po-
tencialidades espirituais são meros instrumentos de aperfeiçoamento do verdadeiro
eu espiritual. Portanto, quaisquer flagelos que nos atinjam, enquanto encarnados e
pelo tempo que for, nada mais serão que meios de educação para a eternidade.
Paciência, resignação, abnegação, desinteresse, amor ao próximo, são senti-
mentos que caracterizam o homem livre do egoísmo. A forma pela qual são conquis-
tados é secundária, tanto podendo ser pelo amor como pelo sofrimento, dependen-
do da nossa opção.

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Grande parte dos flagelos são resultantes da imprevidência e do abuso, como


se fossem um contragolpe às manifestações orgulhosas e cheias de vaidade do ho-
mem.

8.6.1.2. Guerras

As guerras, por exemplo,


são o resultado da predominância
da natureza animal sobre a
espiritual, pois nascem, e são
fomentadas pelos interesses
egoístas de grupos que lutam pelo
poder e escravizam e subjugam
para mantê-lo.
A guerra desaparecerá da
Terra quando os homens
compreenderem a justiça e
praticarem a lei de Deus – amar ao
próximo como a si mesmo e a Deus
acima de todas as coisas (Deus como símbolo da Harmonia e do Equilíbrio).
A guerra ainda existe na Terra como uma forma usada pelos segmentos da
sociedade discordantes e conflitantes entre si – mecanismo servo e senhor – para
haver uma libertação do que se encontra escravizado e explorado, dando-lhe possibi-
lidade de progresso e também manejo do mundo, colocando o que estava na posi-
ção de senhor como obrigado a sair da sua função de bem-estar para a de luta e
trabalho, que levarão todos ao progresso. A alternância destas duas posições –
mando e submissão – é que ensina o homem, na sua viagem pelas diversas encar-
nações, a desenvolver o equilíbrio e o amor ao semelhante.

8.6.1.3. Assassínio

No caso de assassínio, o mal está no facto de uma vida de expiação ou de


missão ter sido interrompida pela morte imposta, mas o grau de culpabilidade de
quem assim agiu está na intenção com que o cometeu; cada tipo tem a sua pena,
conforme a sua especificidade intencional. Nos casos de legítima defesa, só a neces-
sidade de assim agir, baseada na impossibilidade total de preservar a vida sem aten-
tar contra a vida do agressor, é que tem a escusa divina. Nas guerras, o homem não
é culpado quando constrangido à força, mas qualquer crueldade, como qualquer
gesto de bondade e humanidade, pesarão no seu julgamento.
O aborto, mesmo o protegido pela legislação humana, é considerado um cri-
me, variando a penalidade conforme a intenção que o motive.

8.6.1.4. Crueldade
A natureza ainda inferior do homem condu-lo à destruição e à crueldade, que
é a sua maneira de ser materialista, pois apenas experimenta as necessidades da vida
do corpo os que agem cruelmente, por não se darem conta da continuidade da vida

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em outros níveis. A crueldade deriva da falta de aplicação do senso moral que grada-
tivamente se desenvolve nos seres, cumprindo aos homens bons, já moralizados,
anularem pelas suas acções a influência dos maus e pelos seus exemplos auxiliarem a
transformação gradativa dessas criaturas.
O desenvolvimento moral enfraquece o domínio das faculdades puramente
animais que predominam nos homens inferiores. Assim se abafa e neutraliza a so-
breexcitação dos instintos materiais a favor do senso moral, ainda incipiente nos
pouco evoluídos. No meio dos bons, às vezes aparece uma ovelha desgarrada, que
nada mais é que um espírito inferior, disposto esperançosamente a melhorar, mas,
não tendo estrutura, deixa-se levar pela predominância da sua natureza primitiva.
Porém, com a sucessiva passagem em diversas experiências corporais, neste ou nou-
tros mundos, todos os espíritos estão fadados a desenvolver as suas potencialidades
divinas, que são atributos inalienáveis de todo o ser criado por Deus.

8.6.1.5. Pena de morte

Terá o homem o direito de tirar a vida de


outro homem, mesmo que este tenha tirado a
vida a alguém?
A pena de morte é contrária à lei de Deus,
e a sua manutenção é traço do atraso espiritual
dos povos que a mantêm e sustentam. Há outros
meios de evitar que um elemento perigoso ponha
em risco a vida de outras pessoas. De resto,
matando o seu corpo a sociedade não se está a
livrar da sua má influência, negativa e revoltada,
pois, como espírito, continuará associado ao
meio criminoso, inspirando criaturas frágeis, que
funcionam como instrumentos de acção em
busca de vingança e satisfação dos seus instintos
cruéis. Procurar, de todas as formas, regenerar o
criminoso, tentando reparar um mal que come-
çou a ser feito quando ele foi relegado ao
abandono e à marginalidade na infância, re-
conhecendo que a maior parte da criminalidade
surge por falta de educação e condições sociais
mínimas, em face do desequilíbrio existente na
má distribuição dos bens e da riqueza, que são
acumulados egoisticamente por pequenos
grupos, que passam a vida inteira preocupados
em fazê-los crescer e preservando-os como único
meio de satisfação e felicidade. A marginalidade é a cobrança social que a própria lei
de causa e efeito promove pela falta de investimento na educação e nas condições
básicas de sobrevivência.
Nota-se, igualmente, grande número de criminosos e assaltantes que agem
de maneira refinada e elegante, escapando quase sempre das malhas da lei humana,
mas que jamais poderão escapar das leis divinas, que estão presentes em todas as
situações de vida.
A pena de morte imposta a quem matou não encontra fundamento e justifi-
cação na lei divina, porque somente o Criador pode dispor da vida da criatura.

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Geralmente, quem foi causa de sofrimento para o seu semelhante virá a en-
frentar situações em que sofrerá o que tenha feito sofrer a outrem, pois as leis ma-
temáticas, inscritas nos mecanismos da consciência individual, ditam a essa mesma
consciência que qualquer equilíbrio rompido deve ser recomposto com o trabalho de
quem o desajustou. Quando a pena de morte é imposta em nome de Deus comete-
se um verdadeiro sacrilégio, pois, orgulhosamente, o homem autopromove-se a cria-
ção divina de distribuidor da justiça, colocando-se, assim, distante da compreensão
verdadeira de Deus. Vaidosamente, o homem coloca-se na condição de substituto de
Deus, sobrecarregando-se com todos os males que assim promover.

RESUMO

AS LEIS MORAIS

São regras constantes e invariáveis que emanam de Deus e que têm por finalida-
de auxiliar o desenvolvimento consciencial do espírito. O Espiritismo coloca-as numa
sequência crescente, tendo como início um ponto a partir do qual elas se desenvol-
vem em espiral (símbolo da evolução), fechando ciclos que as incluem, e a cada ciclo
o espírito as retoma num nível superior, desenvolvendo-as em si próprio, e assim su-
cessivamente, na direcção de um aperfeiçoamento infinito, que significa o alarga-
mento da consciência.

DA LEI DIVINA OU NATURAL

É o princípio imanente e transcendente do Universo – a presença de Deus na cri-


ação. Por ser eterna, é imutável e percebida pelas pessoas à medida que crescem
consciencialmente.
Ela está apropriada ao elemento que abrange – elemento material (leis físicas) e
elemento espiritual (leis morais) - e também ao nível de evolução do mundo em que
é aplicada. Para ajudar à sua dinamização nas consciências individuais, de tempos a
tempos, encarnam espíritos superiores no seio da humanidade, que a vivem de modo
integral, servindo de catalisadores para os homens que as mantêm ainda embrionári-
as. Tal fenómeno faz parte do mecanismo da lei de evolução.
Alguns, no entanto, não dão cumprimento integral à sua missão, misturando as
suas coisas pessoais com aspectos da lei maior, o que exige dos seus seguidores um
permanente estado de alerta e de análise crítica.
O modelo mais perfeito até hoje é Jesus - sublime catalisador da consciência hu-
mana.
O bem é a aplicação da lei divina na medida da consciência individual (de cada
um) e o mal é a sua ausência, após o seu conhecimento. Os níveis de responsabilida-
de moral decorrem do nível de consciência individual . O bem não se manifesta ape-
nas pelas acções grandiosas, mas pela singeleza de ser útil no momento adequado.
A vontade do homem, clareada pela sua consciência, é que o impele a buscar a
perfeição, através do amor a Deus (respeitando a lei natural) e ao semelhante, con-
cretizando o preceito: Faz aos outros o que gostarias que te fizessem.

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DA LEI DE ADORAÇÃO

Para o Espiritismo, a adoração a Deus significa acção constante no bem. Deixa,


assim, de ser atitude passiva, para tornar-se acção construtiva no caminho do próxi-
mo. Pode, no entanto, ser mistificada pela intenção vaidosa, mas o que assim a pra-
tica recebe de acordo com a lei de causa e efeito.
A linguagem da lei de adoração é a linguagem que sai do coração.
A oração é um acto dinâmico de sensibilização interior e de movimentação de
energias subtis, que tornam o homem mais senhor de si, vencendo os seus instintos
perturbadores, promovendo-se à condição de dínamo vivo de forças espirituais, que
fluem naturalmente dos seus actos.
A prece é um processo que a consciência humana usa para mergulhar nas fontes
inesgotáveis do Poder Maior, com vistas a desenvolver-se e equipar-se
convenientemente, a fim de resistir às influências negativas a que está sujeita pela
sua própria pequenez espiritual. Serve como estímulo para incentivar consciências a
deixarem as faixas inferiores do sofrimento, pois é veículo de transfusão energética à
distância.
A adoração a Deus é o acto da consciência transformado em acção útil a favor
do semelhante.

DA LEI DO TRABALHO

O trabalho é meio de desenvolvimento dos potenciais intelectual e moral do espí-


rito. Tem a finalidade de trazer o bem-estar e a felicidade à criatura humana.
Não deve ser encarado como um castigo, nem tão-pouco usado como meio de
exploração, mas deve ser, antes, meio de troca de benefícios recíprocos, auxiliando
ao entendimento e à fraternidade entre as sociedades, grupos e homens entre si. O
limite do trabalho está na aceitação do repouso como elemento de refazimento das
forças e no cuidado para não se cair no abuso, excedendo as próprias forças, que
será suicídio indirecto, quando auto-imposto, ou escravização ignóbil, quando aplica-
do por outrem.
Os mais velhos têm o direito de repouso no final da sua existência, pelo muito
que fizeram em prol das gerações novas, que devem aprender com eles e testemu-
nhar-lhes amor e reconhecimento, através dos cuidados que eles merecem.

DA LEI DE REPRODUÇÃO

É através dela que a humanidade se renova nos seus bens patrimoniais, sejam
materiais, culturais ou espirituais.
O crescimento geométrico da humanidade pode parecer uma ameaça ao cresci-
mento aritmético da produtividade e dos bens que o homem utiliza, mas a lei divina
provê o próprio homem de meios e recursos que, quando utilizados, instalarão na
Terra um novo modelo de relação entre os povos, baseado no respeito mútuo, na
fraternidade e no amor.
A lei de reprodução permite ao homem transmitir aos seus descendentes o seu
aprendizado, que ganhará novas dimensões a partir da contribuição criativa destes,

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os quais transmitirão os resultados das suas conquistas aos seus sucessores, e assim
sucessivamente, criando a história da humanidade.
Todo o embaraço à marcha da Natureza é contrário à lei geral. Todavia, a acção
inteligente do homem é um instrumento de que Deus dispõe para restabelecer o
equilíbrio, podendo regular a reprodução, quando necessário.
O casamento é veículo da reprodução ordenada e educativa, que tem por finali-
dade restabelecer as bases seguras de uma civilização activa e elevada, voltada para
os seus interesses espirituais de desenvolvimento moral.
O celibato, como medida defensiva da reprodução, é meio egoísta de vida e só é
louvável quando dele decorrem benefícios colectivos, quando é espontâneo, quando
não se reveste de qualquer tipo de fuga, sinais característicos de alma doente.

DA LEI DE CONSERVAÇÃO

Por terem que defender a sua vida material – instrumento de evolução do princí-
pio inteligente individualizado – os homens, seja instintiva seja racionalmente, desen-
volvem meios de conservação, caindo, no entanto, amiudadamente, em excessos.
A própria Terra oferece meios para a sua sobrevivência, desde que trabalhada
com respeito, medida e perícia.
Os defeitos da organização social e a ambição de grupos têm feito o homem to-
par com a infelicidade no trato das coisas da própria Terra. O uso abusivo de sub-
stâncias tóxicas, com vista a melhorar a qualidade e quantidade dos produtos da
Terra, tem trazido ao homem consequências nefastas no campo económico e da
saúde, fruto do egoísmo e da imprudência.
Os bens da Terra devem ser estendidos a todos os habitantes, e não a pequenas
minorias que se privilegiam graças à utilização de expedientes exploratórios, man-
tendo a grande massa em condições de subalternidade e sub-humanidade.
O egoísmo, por um lado, a indolência e a acomodação, por outro, formam triste
quadro de miséria e de fome em que a humanidade se submerge.
Tais obstáculos e impedimentos são meios de estimular os homens, primeiro para
o altruísmo e segundo para o trabalho e cooperação.
O trabalho deve ser visto e exercido como meio de desenvolvimento, e não como
instrumento de consumo. Trabalhando, o homem desenvolve o seu património inte-
lectual, moral e espiritual e deve produzir apenas o necessário para a sua subsistência
e conforto, não precisando de criar necessidades artificiais para consumir o que pro-
duziu, e que apenas dá lucro a uma pequena minoria de produtores gananciosos.
Toda as vezes que o homem ultrapassa o limite do necessário, ingressando no
campo do abuso e do excesso, desencadeia mecanismos dolorosos, que o conduzem
ao caminho do desequilíbrio.

DA LEI DE DESTRUIÇÃO

Toda e qualquer destruição é apenas aparente, pois no Universo tudo se


transforma.
Na vida animal e vegetal, a auto e a heterodestruição objectivam duas finali-
dades:
a) Manutenção do equilíbrio na reprodução;

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b) Possibilitar as diversas metamorfoses pelas quais todo o ser vivo deve


passar.
Na Natureza existem mecanismos reguladores que evitam os excessos que le-
variam à extinção.
A Natureza oferece meios de preservação e conservação aos seres vivos, a fim
de que a destruição não se dê antes do tempo, prejudicando, assim, o desenvolvi-
mento do princípio inteligente.
Paga alto preço aquele que se excede na destruição da vida, em qualquer ní-
vel de manifestação.
Os flagelos destruidores, que tanto afectam o homem, têm uma finalidade
que escapa à percepção do homem comum, que apenas enxerga em derredor; ge-
ralmente têm uma finalidade regeneradora moral colectiva, obrigando o homem a
realizar em poucos anos o que pela sua indolência habitual levaria séculos. É uma
forma de aceleração do progresso, na medida em que o homem abdica do seu livre-
arbítrio, buscando-o através do esforço, do trabalho e do bem ao semelhante. Os
flagelos são contragolpes que a própria natureza oferece ao homem que pauta as
suas atitudes pelo egoísmo e pela vaidade.
A guerra é um exemplo típico do mecanismo de crescimento pela dor; ela
deixará de existir quando os homens aprenderem a respeitar os direitos do seme-
lhante e quando as oligarquias escravagista cederem lugar a grupos dirigentes que
saibam usar a justiça social, utilizando o amor ao próximo. É pela guerra que a alter-
nância do poder se estabelece, dando hipótese a que o mecanismo servo-senhor se
inverta quantas vezes forem necessárias, até ao aprendizado completo da faculdade
de saber mandar e de saber obedecer.
Todo o assassínio é uma agressão à lei de conservação, mas as penas advin-
das são proporcionais ao móbil do acto e à sua intenção, cabendo às leis divinas a
avaliação definitiva. O aborto enquadra-se neste princípio.
A crueldade é um traço característico da inferioridade do espírito que a come-
te; identifica os espíritos ainda em estado embrionário, mas que um dia ainda assu-
mirão inteiramente o desenvolvimento das suas potencialidades divinas — património
comum a todas as criaturas.
A pena de morte é um resquício da mentalidade vingativa do homem, que
não se apercebeu ainda de que a marginalidade é fruto do seu descaso com o pró-
ximo. Não resolvendo as causas determinantes do mal – falta de educação, de saú-
de e de justiça social – sofre-lhes as consequências.
Como não se preocupa em atender convenientemente à criança (causa), tem
que tentar corrigir o adulto (efeito). Mas com a pena de morte essa correcção torna-
se impossível.
Somente a Deus cabe dispor da vida da criatura, não sendo correcto o ho-
mem matar o seu semelhante. A pena de morte torna-se hedionda quando o homem
a aplica em nome de Deus, intitulando-se seu representante; isso é uma forma mas-
carada de exteriorizar os seus instintos homicidas, escondendo-se sob a capa da reli-
gião.

BIBLIOGRAFIA
BIBLIOGRAFIA

Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Terceira Parte - Cap. 1 a 6 - 36.ª Edição (Popular)
da Federação Espírita Brasileira, traduzido do título original francês Le Livre des Es-
prits, editado em Paris em 18-4-1857

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