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A Imitação de Cristo ( Tomás de Kempis)

O termo “cruz” significa “Carma”.


As palavras “Cristo” e “Jesus” são termos lendários que designam o sexto princípio da consciência humana,
também conhecido como “eu superior” e “alma espiritual”.

Um: a Fonte Mais Alta

“A doutrina de Cristo é mais excelente que a de todos os santos (…).” (Livro Primeiro, capítulo 1, parág. 2.)

A primeira frase selecionada de “Imitação” significa que devemos ir à fonte mais elevada possível.
Os Evangelhos constituem uma autêntica luz inspiradora, quando lidos adequadamente. Eles contêm um grande
número de ensinamentos pitagóricos, judaicos, confucionistas e budistas, e muitos princípios retirados de outras
religiões.

Dois: um Maná Invisível

“… E quem tiver seu espírito encontrará nela [na doutrina de Cristo] um maná escondido.” (Livro Primeiro,
capítulo 1, parág. 2.)
Nenhuma leitura da letra morta pode ser eficiente em filosofia ou religião. O real significado está oculto, do ponto
de vista do mundo das aparências. Portanto o estudo filosófico deve combinar vários níveis de consciência. É
necessário decodificar as palavras para ver o ensinamento como um processo vivo e criativo.

Três: a Visão Correta

“Quem quiser compreender e saborear plenamente as palavras de Cristo, é-lhe preciso que procure conformar à
dele toda a sua vida.” (Livro Primeiro, capítulo 1, parág. 2.)
Para realmente entender a teosofia, devemos testar e aplicar o seu ensinamento na vida diária. O mundo sagrado
está potencialmente presente em cada situação.

Quatro: Além das Palavras

“Que te aproveita discutires sabiamente sobre a Santíssima Trindade, se não és humilde, desagradando, assim, a
essa mesma Trindade? Na verdade, não são palavras elevadas que fazem o homem justo; mas é a vida virtuosa
que o torna agradável a Deus. Prefiro sentir a contrição [arrependimento] dentro de minha alma, a saber defini-
la.” (Livro Primeiro, capítulo 1, parág. 3.)
“Deus” é a lei universal, e é a Natureza em sua totalidade e diversidade absolutas.
Nenhuma fala pode ser mais valiosa que a intenção que está na sua origem. Tampouco pode ser muito mais forte que
a prática diária da qual emerge.

Cinco: a Caridade e a Graça

“Se soubesses de cor toda a Bíblia e as sentenças de todos os filósofos, de que te serviria tudo isso sem a caridade
e a graça de Deus?” (Livro Primeiro, capítulo 1, parág. 3.)
Ainda que você saiba recitar de memória as escrituras religiosas de todos os povos e os ensinamentos de cada
filósofo clássico, oriental e ocidental, o fato será inútil se você não perceber a unidade de todos os seres, e não
enxergar o seu próprio dever para com a Vida Una da qual você faz parte.
A Imitação de Cristo ( Tomás de Kempis)

Seis: a Suprema Sabedoria


“Vaidade das vaidades, e tudo é vaidade (Eclesiastes, 1, 2), senão amar a Deus e só a ele servir. A suprema
sabedoria é esta: pelo desprezo do mundo tender ao reino dos céus.” (Livro Primeiro, capítulo 1, parág. 3.)
Tudo é vaidade, exceto a tarefa de cumprir nosso dever para com nosso eu superior e para com a lei do equilíbrio
universal.

Sete: uma Felicidade que Dura Sempre

“Vaidade é, pois, buscar riquezas perecedoras e confiar nelas. Vaidade é também ambicionar honras e desejar
posição elevada. Vaidade, seguir os apetites da carne e desejar aquilo pelo que, depois, serás gravemente
castigado. Vaidade, desejar longa vida e, entretanto, descuidar-se de que seja boa. Vaidade, só atender à vida
presente sem providenciar para a futura. Vaidade, amar o que passa tão rapidamente, e não buscar, pressuroso, a
felicidade que sempre dura.” (Livro Primeiro, capítulo 1, parág. 4.)
Estar preocupado sobretudo com coisas de curto prazo, e desprezar o futuro de longo prazo – que eu mesmo estou,
em grande parte, preparando durante minha encarnação atual -; isso também é vaidade.

Oito: Buscar o Invisível

“Lembra-te a miúdo do provérbio: ‘Os olhos não se fartam de ver, nem os ouvidos de ouvir’ (Eclesiastes 1, 8).
Portanto, procura desapegar teu coração do amor às coisas visíveis e afeiçoá-lo às invisíveis: pois aqueles que
satisfazem seus apetites sensuais mancham a consciência e perdem a graça de Deus.” (Livro Primeiro, capítulo 1,
parág. 5.)
A verdadeira consciência é a voz sem palavras do nosso eu superior ou alma espiritual.
As palavras “graça de Deus” designam a energia sutil e impessoal do amor cósmico e indicam o sexto princípio da
consciência humana. A graça superior está em todas as partes. Não pertence a alguma divindade específica, muito
menos a um deus “pessoal”.

Nove: o Valor do Conhecimento

“Todo homem tem desejo natural de saber; mas que aproveitará a ciência, sem o temor de Deus? Melhor é, por
certo, o humilde camponês que serve a Deus, do que o filósofo soberbo que observa o curso dos astros mas se
descuida de si mesmo.” (Livro Primeiro, capítulo 2, parág. 1.)
Nosso Criador é o nosso eu superior, que fez com que nascêssemos na presente encarnação, mas também pode ser
descrito como a Lei Universal. Aquele que “teme a Deus”, ou “reverencia o mundo divino”, é quem vive em
harmonia com sua própria alma espiritual. Em teosofia, o astrônomo e o humilde camponês devem ser a
mesma pessoa. Não há oposição entre os dois: o real conhecimento é inseparável da pureza de coração.
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Dez: Autoconhecimento

“Aquele que se conhece bem despreza-se e não se compraz em humanos louvores. Se eu soubesse quanto há no
mundo, porém me faltasse a caridade, de que me serviria isso perante Deus, que me há de julgar segundo
minhas obras?” (Livro Primeiro, capítulo 2, mesmo parág. 1.)
“Desprezar-se” aqui significa desprezar o caminho falso do egoísmo e admitir sinceramente seus erros perante o
tribunal da sua própria consciência.

Neste trecho temos um princípio teosófico central. O “deus” que me irá julgar é o meu eu superior. Ao final
da minha encarnação atual, ele revisará cada ação feita, estabelecendo as linhas cármicas não só dos meus
estados pós-morte, mas do meu próximo nascimento.

Onze: Evitar Distrações


“Renuncia ao desordenado desejo de saber, porque nele há muita distração e ilusão. Os letrados gostam de ser
vistos e tidos como sábios. Muitas coisas há cujo conhecimento pouco ou nada aproveita à alma. E muito
insensato é quem de outras coisas se ocupa e não das que tocam à sua salvação. As muitas palavras não
satisfazem à alma, mas uma palavra boa refrigera [renova] o espírito e uma consciência pura inspira grande
confiança em Deus.” (Livro Primeiro, capítulo 2, parág. 2.)
A demonstração externa de santidade ou de erudição não satisfaz à alma. “Éa bondade das nossas vidas que traz
conforto às nossas mentes”.

Doze: uma Vida Sagrada

“Quanto mais e melhor souberes, tanto mais rigorosamente serás julgado, se com isso não viveres mais
santamente. Não te desvaneças, pois, com qualquer arte ou conhecimento que recebeste.” (Livro Primeiro,
capítulo 2, parág. 3.)

O “Dia do Julgamento” é também individual e não necessariamente coletivo, conforme o pensador português
Antônio Vieira explicou no ano de 1652 em um dos seus sermões.

O “julgamento” individual é feito pelo nosso próprio eu superior de acordo com a Lei do Carma e acontece
ao final de cada encarnação. Os “julgamentos” coletivos são pontos cármicos de não-retorno na evolução
humana e planetária. Eles são examinados no livro “A Doutrina Secreta”, de Helena Blavatsky.

O conhecimento precisa ser confirmado e validado pela ação correspondente, e esta será necessariamente
imperfeita. A ação correta consiste na tentativa sincera de fazer o melhor que podemos. Nossos esforços nesse
sentido devem ser corrigidos e renovados periodicamente, à medida que as circunstâncias se alteram.
Gradualmente aprendemos a aprender com os erros, e a concentrar a mente e o coração na meta nobre livremente
escolhida por nós.

Treze: Para Aprender o que é Útil


“Se te parece que sabes e entendes bem muitas coisas, lembra-te que é muito mais o que ignoras. ‘Não presumas
de alta sabedoria’ (Romanos, 11, 20), antes confessa a tua ignorância. Como tu queres a alguém preferir-te,
quando se acham muitos mais doutos do que tu e mais versados na lei? Se queres saber e aprender coisa útil,
deseja ser desconhecido e tido por nada.” (Livro Primeiro, capítulo 2, mesmo parág. 3.)
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Nossos pensamentos devem ser honestos e verdadeiros. Seja o que for que disserem os que nem sequer tentam agir
com ética e com respeito pela verdade, eles são seres infelizes e estão muito longe do caminho correto. No entanto,
merecem nosso respeito impessoal. Colherão o que plantaram, e no futuro terão uma chance de corrigir seus erros.
Devemos ter como objetivo aprender com quem é mais sábio que nós. Não importa se o nosso contato com eles
é interno ou externo e se ocorre através de palavras escritas ou sem o uso de palavras. Para viver esta aprendizagem
superior, é preciso tratar de ajudar o trabalho das Almas que guiam a humanidade pelo caminho da luz.

Catorze: Permaneça Vigilante


“Ainda quando vejas alguém pecar publicamente ou cometer faltas graves, nem por isso te deves julgar melhor,
pois não sabes quanto tempo poderás perseverar no bem.” (Livro Primeiro, capítulo 2, parág. 4.)
Combata o crime e o egoísmo. Lute ainda mais contra as sementes deles e as suas fontes. Não lave as mãos diante
da injustiça de qualquer tipo. Encare a injustiça contra qualquer um como uma injustiça contra o seu pai, a
sua mãe ou seu mestre espiritual. Tenha piedade e compaixão diante das pessoas egoístas, mas não aceite as
suas ações daninhas. Os desinformados são parte da família humana, assim como você.

Quinze: Não Compare

“Nós todos somos fracos mas a ninguém deves considerar mais fraco que a ti mesmo.” (Livro Primeiro, capítulo
2, mesmo parág. 4.)
Cabe seguir o exemplo dos sábios, e manter à nossa frente o ideal de progresso e perfeição humanos.
Se parecemos mais fortes do que alguém, isso não tem importância. E se pensarmos que o fato é importante, este
pensamento vaidoso mostra fraqueza e ilusão.

Dezesseis: Ignorando Questões Obscuras


“Bem-aventurado aquele a quem a verdade por si mesma ensina, não por figuras e vozes que passam, mas como
em si é. Nossa opinião e nossos juízos muitas vezes nos enganam e pouco alcançam. De que serve a sutil
especulação sobre questões misteriosas e obscuras [7], por cuja ignorância não seremos julgados?” (Livro
Primeiro, capítulo 3, parág. 1.)
Agir de acordo com a Lei do Equilíbrio é melhor que estar limitado a explicações teóricas. No entanto, combinar as
duas coisas é necessário. O lema do movimento teosófico é “Não há religião mais elevada que a verdade”. A
Verdade transcende todas as suas descrições verbais, mas os enfoques limitados dela são úteis, quando
examinados de modo inteligente.

Dezessete: Olhar e Não Ver


“Grande loucura é descurarmos as coisas úteis e necessárias, entregando-nos, com avidez, às curiosas e nocivas.
Temos olhos para não ver. (Salmo 113, 13)” (Livro Primeiro, capítulo 3, mesmo parág. 1.)

A melhor defesa do peregrino é o cumprimento do seu dever maior.


A compreensão saudável da vida depende de olhar para ela desde um ponto de vista correto, e é a prática do
altruísmo que garante isso. As mentes egoístas distorcem tudo o que olham: a verdadeira inteligência é universal.
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Dezoito: o Coração Firme na Paz


“Aquele a quem fala o Verbo eterno se desembaraça de muitas questões. Desse Verbo único procedem todas as
coisas e todas o proclamam e esse é o princípio que também nos fala (João 8, 25). Sem ele não há entendimento
nem reto juízo. Quem acha tudo neste Único, e tudo a ele refere e tudo nele vê, poderá ter o coração firme e
permanecer em paz com Deus.” (Livro Primeiro, capítulo 3, parág. 2.)
O Verbo é o “Som” primordial, o Mantra da manifestação universal, a Música das Esferas.

Dezenove: Silêncio e Verdade


“Ó Deus de verdade, fazei-me um convosco na eterna caridade! Enfastia-me, muita vez, ler e ouvir tantas
coisas; pois em vós acho tudo quanto quero e desejo. Calem-se todos os doutores, emudeçam todas as criaturas
em vossa presença; falai-me vós só.” (Livro Primeiro, capítulo 3, mesmo parág. 2.)
A personalização simbólica do universo e de suas leis deve ser aceita como um processo cultural que ocorre em
todas as nações ao redor do mundo, e como uma forma de codificar e registrar o Mistério inefável. A tradição
esotérica ensina como interpretar as lendas relacionadas a Zeus e Saturno, ao deus cristão, ao Brahman e ao
Parabrahman hindus, aos Imortais taoistas, e assim por diante.
Quando a crença cega predomina, algo é considerado verdade porque “deus”, ou o Cristo, ou algum profeta
ou guru diz que é verdade. Em filosofia, ocorre o contrário. Algo não é verdade porque um sábio afirma que é,
mas o sábio diz que algo é verdadeiro porque essa é a verdade.

O verdadeiro Mestre nunca se coloca acima da lei ou da verdade, mas trabalha humildemente a serviço delas.

Vinte: Recolhimento Traz Compreensão


“Quanto mais recolhido for cada um e mais simples de coração, tanto mais sublimes coisas entenderá sem
esforço, porque do alto recebe a luz da inteligência.” (Livro Primeiro, capítulo 3, parág. 3.)

Vinte e Um: o Espírito Puro


“O espírito puro, singelo e constante não se distrai no meio de múltiplas ocupações porque faz tudo para honra
de Deus, sem buscar em coisa alguma o seu próprio interesse. O que mais te impede e perturba do que os afetos
imortificados do teu coração? O homem bom e piedoso ordena primeiro no seu interior as obras exteriores; nem
estas o arrasam aos impulsos de alguma inclinação viciosa, senão que as submete ao arbítrio da reta razão.”
(Livro Primeiro, capítulo 3, mesmo parág. 3.)

Nosso “Deus” ou “Senhor” é anônimo: é o nosso eu superior, e a ele devemos lealdade.

Vinte e Dois: Enxergando as Nossas Fraquezas


“Que mais rude combate haverá do que procurar vencer-se a si mesmo? E este deveria ser nosso empenho:
vencermo-nos a nós mesmos, tornarmo-nos cada dia mais fortes e progredirmos no bem.”

“Toda a perfeição, nesta vida, é mesclada de alguma imperfeição, e todas as nossas luzes são misturadas de
sombras. O humilde conhecimento de ti mesmo é caminho mais certo para Deus que as profundas pesquisas da
ciência.” (Livro Primeiro, capítulo 3, parágrafos 3 e 4.)
O cristianismo que gira em torno de rituais não oferece um caminho para o esclarecimento e a iluminação. O estudo
da letra morta das escrituras é inútil, e a advertência inclui os escritos teosóficos. Para trilhar o caminho que
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leva à Verdade é necessário fazer pesquisas independentes, com um coração humilde e observando calmamente
nossas próprias fraquezas.

Vinte e Três: a Vida Virtuosa


“Não é reprovável a ciência ou qualquer outro conhecimento das coisas, pois é boa em si e ordenada por Deus;
sempre, porém, devemos preferir-lhe a boa consciência e a vida virtuosa. Muitos, porém, estudam mais para
saber, que para bem viver; por isso erram a miúdo e pouco ou nenhum fruto colhem.” (Livro Primeiro, capítulo 3,
parág. 4.)
O propósito da vida é aprender. No entanto cada porção de conhecimento que obtemos vem até nós com uma
inevitável quota de deveres éticos.

Vinte e Quatro: a Pergunta Que Será Feita


“A , nem tanta relaxação nos claustros. De certo, no dia do juízo não se nos perguntará o que lemos, mas o que
fizemos; nem quão bem temos falado, mas quão honestamente temos vivido.” (Livro Primeiro, capítulo 3, parág.
5.)
O cristianismo místico sempre teve uma relação difícil com as igrejas autoritárias.
Um exemplo disso, entre milhares, é o fato de que Geert de Groote – o fundador da Irmandade da Vida em Comum
da qual fazia parte Tomás de Kempis -, denunciou e combateu os abusos sacerdotais.

Vinte e Cinco: o Verdadeiro Sábio


“Dize-me: onde estão agora todos aqueles senhores e mestres que bem conheceste, quando viviam e floresciam
nas escolas? Já outros possuem suas prebendas [posições de prestígio], e nem sei se porventura deles se
lembram. Em vida pareciam valer alguma coisa, e hoje ninguém deles fala.”

“Oh! como passa depressa a glória do mundo! Oxalá a sua vida tenha correspondido à sua ciência; porque,
destarte, terão lido e estudado com fruto. Quantos, neste mundo, descuidados do serviço de Deus, se perdem por
uma ciência vã! E porque antes querem ser grandes que humildes, se esvaecem em seus pensamentos (Romanos
1, 21). Verdadeiramente grande é aquele que tem grande caridade. Verdadeiramente grande é aquele que a seus
olhos é pequeno e avalia em nada as maiores honras. Verdadeiramente prudente é quem considera como lodo
tudo o que é terreno, para ganhar a Cristo (Filipenses 3, 8). E verdadeiramente sábio é aquele que faz a
vontade de Deus e renuncia à própria vontade.” (Livro Primeiro, capítulo 3, parágrafos 5 e 6.)

A “vontade de Deus” é o propósito da nossa alma espiritual; “Cristo” simboliza a consciência cósmica.

Vinte e Seis: Independência e Auto-responsabilidade


“Não se há de dar crédito a toda palavra nem a qualquer impressão, mas cautelosa e naturalmente se deve,
diante de Deus, ponderar as coisas.” (Livro Primeiro, capítulo 4, parág. 1.)
Com a exceção da palavra “Deus”, esta ideia pertence literalmente às filosofias de todos os povos, incluindo o
budismo, o pitagorismo e a teosofia.
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Vinte e Sete: Evite Falar Mal dos Outros


“Mas ai! que mais facilmente acreditamos e dizemos dos outros o mal que o bem, tal é a nossa fraqueza. As
almas perfeitas, porém, não creem levianamente em qualquer coisa que se lhes conta, pois conhecem a fraqueza
humana inclinada ao mal e fácil de pecar por palavras.”

“Grande sabedoria é não ser precipitado nas ações, nem aferrado obstinadamente à sua própria opinião;
sabedoria é também não acreditar em tudo que nos dizem, nem comunicar logo a outros o que ouvimos ou
suspeitamos.” (Livro Primeiro, capítulo 4, parágrafos 1 e 2.)
Este ensinamento é teosófico e H. P. Blavatsky fez afirmações semelhantes.

Vinte e Oito: Prudência e Humildade


“Toma conselho com um varão sábio e consciencioso, e procura antes ser instruído por outrem, melhor que tu, que
seguir teu próprio parecer. A vida virtuosa faz o homem sábio diante de Deus e entendido em muitas coisas.
Quanto mais humilde for cada um em si e mais sujeito a Deus, tanto mais prudente será e calmo em tudo.”
(Livro Primeiro, capítulo 4, parágrafo 2.)
Entre os degraus da Escada de Ouro dos ensinamentos teosóficos, podemos ver os seguintes:
“Afeto fraternal para com seu condiscípulo; presteza para dar e receber conselho e instrução; leal senso de
dever para com o Instrutor…”.
Os sábios ensinam que a ajuda mútua é essencial na busca da verdade.

Vinte e Nove: o Amor à Verdade


“Nas Sagradas Escrituras devemos buscar a verdade, e não a eloquência. Todo livro sagrado deve ser lido com
o mesmo espírito que o ditou. Nas Escrituras devemos antes buscar nosso proveito que a sutileza de linguagem.
Tão grata nos deve ser a leitura dos livros simples e piedosos, como a dos sublimes e profundos. Não te mova a
autoridade do escritor, se é ou não de grandes conhecimentos literários; ao contrário, lê com puro amor a
verdade. Não procures saber quem o disse; mas considera o que se diz.” (Livro Primeiro, capítulo 5, parág. 1.)
A ideia de Sagradas Escrituras inclui os livros clássicos que pertencem às religiões e filosofias de todos os povos e
todos os tempos, desde o Manuscrito Huarochirí, dos Andes, até o “Popol Vuh” da América Central e “A Doutrina
Secreta”, publicada no século 19.
Deve-se ler os livros sobre sabedoria divina desde o ponto de vista do coração e de acordo com a afinidade interior.

Trinta: a Verdade Fala de Muitos Modos


“Os homens passam, mas a verdade do Senhor permanece eternamente (Salmo 116, 2).
De vários modos nos fala Deus, sem acepção de pessoas.” (Livro Primeiro, capítulo 5, parág. 2.)
A anônima Lei Universal fala para nós de muitas maneiras.
Um Mestre de Sabedoria escreveu para uma discípula leiga: “Trate, filha, de aprender uma lição através de quem
quer que seja que ela estiver sendo dada. ‘Até mesmo as pedras podem pregar sermões’.”

A independência é fundamental, e o Buddha ensinou:


“Não se deixem desorientar por relatos, por tradição ou por ouvir dizer. Não se deixem desorientar pelo
conhecimento das Coleções (de Escrituras), nem por mera lógica e inferência, nem pela consideração de razões, nem
pela reflexão sobre algum ponto de vista e pela aprovação dele, nem pela conveniência, nem pelo fato de o recluso
(que defende o ponto de vista) ser o seu instrutor. Mas quando vocês souberem por si mesmos: ‘Estas coisas não
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são boas, estas coisas são erradas, estas coisas são censuradas pelos inteligentes, estas coisas, quando realizadas
e colocadas em prática, conduzem à perda e ao sofrimento’ – então as rejeitem.”

Trinta e Um: Lê com Humildade


“A nossa curiosidade nos embaraça, muitas vezes, na leitura das Escrituras; porque queremos compreender e
discutir o que se devia passar singelamente. Se queres tirar proveito, lê com humildade, simplicidade e fé, sem
cuidar jamais do renome do letrado.”
“Pergunta de boa vontade e ouve calado as palavras dos santos; nem te desagradem as sentenças dos velhos,
porque eles não falam sem razão.” (Livro Primeiro, capítulo 5, mesmo parág. 2.)
Lê os escritos dos homens e mulheres sábios de todos os tempos.
Escuta os teus condiscípulos, porque eles são corresponsáveis pelo teu bem-estar espiritual, e a responsabilidade é
mútua. Podes aprender com as ações corretas deles, e também podes aprender com os erros deles, assim como eles
aprendem com os teus erros e teus acertos.

Trinta e Dois: Aceita a Paz


“Todas as vezes que o homem deseja alguma coisa desordenadamente, torna-se logo inquieto. O soberbo e o
avarento nunca sossegam; entretanto, o pobre e o humilde de espírito vivem em muita paz. O homem que não é
perfeitamente mortificado facilmente é tentado e vencido, até em coisas pequenas e insignificantes. O homem
espiritual, ainda um tanto carnal e propenso à sensualidade, só a muito custo poderá desprender-se de todos os
desejos terrenos. Daí a sua frequente tristeza, quando deles se abstém, e fácil irritação, quando alguém o
contraria.”

“Se, porém, alcança o que desejava, sente logo o remorso da consciência, porque obedeceu à sua paixão, que
nada vale para alcançar a paz que almejava. Em resistir, pois, às paixões, se acha a verdadeira paz do coração, e
não em segui-las. Não há portanto, paz no coração do homem carnal, nem no do homem entregue às coisas
externas, mas somente no daquele que é fervoroso e espiritual.” (Livro Primeiro, capítulo 6, parágrafos 1 e 2.)
O estudante bem informado mantém uma busca constante do ideal de progresso e perfeição humanos, e faz
experiências práticas de desapego em relação às coisas terrenas. O peregrino evita dois extremos. Ele não deve
obedecer cegamente aos apetites inferiores; de outro lado, é inútil seguir um tipo de disciplina que gera um
excesso de conflitos neuróticos. O equilíbrio é essencial. O esforço é de longo prazo, e cada um deve ser o seu
próprio mestre e discípulo.
Há também marés cármicas, que devem ser observadas e compreendidas nesse esforço de uma vida inteira.
O alicerce da autodisciplina vitoriosa está na compreensão da nossa interconexão pessoal com o Cosmo
inteiro. Quando o horizonte individual inclui o horizonte da galáxia, fica mais fácil aceitar a paz e a vida humilde
no plano físico.

Trinta e Três: Vive Como um Pobre

“Insensato é quem põe sua esperança nos homens ou nas criaturas. Não te envergonhes de servir a outrem por
Jesus Cristo, e ser tido como pobre neste mundo.” (Livro Primeiro, capítulo 7, parág. 1.)
A ideia de que alguém não deve ter vergonha de servir a outrem pelo bem da sua própria alma espiritual está
presente em religiões mais antigas que o cristianismo.
Nos Vedas, por exemplo, o Brhad-aranyaka Upanixade afirma:
A Imitação de Cristo ( Tomás de Kempis)

“Não é pelo marido em si que o marido é amado, mas é pela presença do Ser [a inteligência universal] no
marido, que o marido é amado. Não é pela esposa em si que a esposa é amada, mas é pela presença do Ser [ a
inteligência universal] na esposa, que a esposa é amada. Não é pelos filhos em si mesmos que os filhos são
amados, mas é pela presença do Ser [a inteligência universal] nos filhos, que os filhos são amados.”
Há uma dimensão impessoal e divina nos afetos humanos, da qual podemos tornar-nos plenamente conscientes.

Trinta e Quatro: Faze o que Está a Teu Alcance


“Não confies em ti mesmo, mas põe em Deus [a Lei] tua esperança. Faze de tua parte o que puderes, e Deus [a
Lei] ajudará tua boa vontade. Não confies em tua ciência, nem na sagacidade de qualquer vivente, mas antes na
graça de Deus [a Lei], que ajuda os humildes e abate os presunçosos.” (Livro Primeiro, capítulo 7, mesmo parág.
1.)
A renúncia ao desejo pessoal conduz a uma vida de simplicidade voluntária, na qual a ética e a sabedoria são
possíveis.
A justiça é imparcial, e um dos Mahatmas dos Himalaias escreveu que, para os raja-iogues, “um lustrador de botas
honesto é tão bom quanto um rei honesto, e […] um varredor de ruas imoral é muito melhor e mais desculpável do
que um imperador imoral.” [13]
A recomendação “faze de tua parte o que puderes…” expressa a principal ideia dos ensinamentos de Epicteto. Ao
cumprir o seu dever espiritual interno, o peregrino evita desperdiçar energias com o que não depende dele.
Focando a atenção no que lhe diz respeito, ele aprende a cooperar não só com o seu próprio eu superior, mas
com outros seres, mais experientes e mais avançados.

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