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“A doutrina de Cristo é mais excelente que a de todos os santos (…).” (Livro Primeiro, capítulo 1, parág. 2.)
A primeira frase selecionada de “Imitação” significa que devemos ir à fonte mais elevada possível.
Os Evangelhos constituem uma autêntica luz inspiradora, quando lidos adequadamente. Eles contêm um grande
número de ensinamentos pitagóricos, judaicos, confucionistas e budistas, e muitos princípios retirados de outras
religiões.
“… E quem tiver seu espírito encontrará nela [na doutrina de Cristo] um maná escondido.” (Livro Primeiro,
capítulo 1, parág. 2.)
Nenhuma leitura da letra morta pode ser eficiente em filosofia ou religião. O real significado está oculto, do ponto
de vista do mundo das aparências. Portanto o estudo filosófico deve combinar vários níveis de consciência. É
necessário decodificar as palavras para ver o ensinamento como um processo vivo e criativo.
“Quem quiser compreender e saborear plenamente as palavras de Cristo, é-lhe preciso que procure conformar à
dele toda a sua vida.” (Livro Primeiro, capítulo 1, parág. 2.)
Para realmente entender a teosofia, devemos testar e aplicar o seu ensinamento na vida diária. O mundo sagrado
está potencialmente presente em cada situação.
“Que te aproveita discutires sabiamente sobre a Santíssima Trindade, se não és humilde, desagradando, assim, a
essa mesma Trindade? Na verdade, não são palavras elevadas que fazem o homem justo; mas é a vida virtuosa
que o torna agradável a Deus. Prefiro sentir a contrição [arrependimento] dentro de minha alma, a saber defini-
la.” (Livro Primeiro, capítulo 1, parág. 3.)
“Deus” é a lei universal, e é a Natureza em sua totalidade e diversidade absolutas.
Nenhuma fala pode ser mais valiosa que a intenção que está na sua origem. Tampouco pode ser muito mais forte que
a prática diária da qual emerge.
“Se soubesses de cor toda a Bíblia e as sentenças de todos os filósofos, de que te serviria tudo isso sem a caridade
e a graça de Deus?” (Livro Primeiro, capítulo 1, parág. 3.)
Ainda que você saiba recitar de memória as escrituras religiosas de todos os povos e os ensinamentos de cada
filósofo clássico, oriental e ocidental, o fato será inútil se você não perceber a unidade de todos os seres, e não
enxergar o seu próprio dever para com a Vida Una da qual você faz parte.
A Imitação de Cristo ( Tomás de Kempis)
“Vaidade é, pois, buscar riquezas perecedoras e confiar nelas. Vaidade é também ambicionar honras e desejar
posição elevada. Vaidade, seguir os apetites da carne e desejar aquilo pelo que, depois, serás gravemente
castigado. Vaidade, desejar longa vida e, entretanto, descuidar-se de que seja boa. Vaidade, só atender à vida
presente sem providenciar para a futura. Vaidade, amar o que passa tão rapidamente, e não buscar, pressuroso, a
felicidade que sempre dura.” (Livro Primeiro, capítulo 1, parág. 4.)
Estar preocupado sobretudo com coisas de curto prazo, e desprezar o futuro de longo prazo – que eu mesmo estou,
em grande parte, preparando durante minha encarnação atual -; isso também é vaidade.
“Lembra-te a miúdo do provérbio: ‘Os olhos não se fartam de ver, nem os ouvidos de ouvir’ (Eclesiastes 1, 8).
Portanto, procura desapegar teu coração do amor às coisas visíveis e afeiçoá-lo às invisíveis: pois aqueles que
satisfazem seus apetites sensuais mancham a consciência e perdem a graça de Deus.” (Livro Primeiro, capítulo 1,
parág. 5.)
A verdadeira consciência é a voz sem palavras do nosso eu superior ou alma espiritual.
As palavras “graça de Deus” designam a energia sutil e impessoal do amor cósmico e indicam o sexto princípio da
consciência humana. A graça superior está em todas as partes. Não pertence a alguma divindade específica, muito
menos a um deus “pessoal”.
“Todo homem tem desejo natural de saber; mas que aproveitará a ciência, sem o temor de Deus? Melhor é, por
certo, o humilde camponês que serve a Deus, do que o filósofo soberbo que observa o curso dos astros mas se
descuida de si mesmo.” (Livro Primeiro, capítulo 2, parág. 1.)
Nosso Criador é o nosso eu superior, que fez com que nascêssemos na presente encarnação, mas também pode ser
descrito como a Lei Universal. Aquele que “teme a Deus”, ou “reverencia o mundo divino”, é quem vive em
harmonia com sua própria alma espiritual. Em teosofia, o astrônomo e o humilde camponês devem ser a
mesma pessoa. Não há oposição entre os dois: o real conhecimento é inseparável da pureza de coração.
A Imitação de Cristo ( Tomás de Kempis)
Dez: Autoconhecimento
“Aquele que se conhece bem despreza-se e não se compraz em humanos louvores. Se eu soubesse quanto há no
mundo, porém me faltasse a caridade, de que me serviria isso perante Deus, que me há de julgar segundo
minhas obras?” (Livro Primeiro, capítulo 2, mesmo parág. 1.)
“Desprezar-se” aqui significa desprezar o caminho falso do egoísmo e admitir sinceramente seus erros perante o
tribunal da sua própria consciência.
Neste trecho temos um princípio teosófico central. O “deus” que me irá julgar é o meu eu superior. Ao final
da minha encarnação atual, ele revisará cada ação feita, estabelecendo as linhas cármicas não só dos meus
estados pós-morte, mas do meu próximo nascimento.
“Quanto mais e melhor souberes, tanto mais rigorosamente serás julgado, se com isso não viveres mais
santamente. Não te desvaneças, pois, com qualquer arte ou conhecimento que recebeste.” (Livro Primeiro,
capítulo 2, parág. 3.)
O “Dia do Julgamento” é também individual e não necessariamente coletivo, conforme o pensador português
Antônio Vieira explicou no ano de 1652 em um dos seus sermões.
O “julgamento” individual é feito pelo nosso próprio eu superior de acordo com a Lei do Carma e acontece
ao final de cada encarnação. Os “julgamentos” coletivos são pontos cármicos de não-retorno na evolução
humana e planetária. Eles são examinados no livro “A Doutrina Secreta”, de Helena Blavatsky.
O conhecimento precisa ser confirmado e validado pela ação correspondente, e esta será necessariamente
imperfeita. A ação correta consiste na tentativa sincera de fazer o melhor que podemos. Nossos esforços nesse
sentido devem ser corrigidos e renovados periodicamente, à medida que as circunstâncias se alteram.
Gradualmente aprendemos a aprender com os erros, e a concentrar a mente e o coração na meta nobre livremente
escolhida por nós.
Nossos pensamentos devem ser honestos e verdadeiros. Seja o que for que disserem os que nem sequer tentam agir
com ética e com respeito pela verdade, eles são seres infelizes e estão muito longe do caminho correto. No entanto,
merecem nosso respeito impessoal. Colherão o que plantaram, e no futuro terão uma chance de corrigir seus erros.
Devemos ter como objetivo aprender com quem é mais sábio que nós. Não importa se o nosso contato com eles
é interno ou externo e se ocorre através de palavras escritas ou sem o uso de palavras. Para viver esta aprendizagem
superior, é preciso tratar de ajudar o trabalho das Almas que guiam a humanidade pelo caminho da luz.
“Nós todos somos fracos mas a ninguém deves considerar mais fraco que a ti mesmo.” (Livro Primeiro, capítulo
2, mesmo parág. 4.)
Cabe seguir o exemplo dos sábios, e manter à nossa frente o ideal de progresso e perfeição humanos.
Se parecemos mais fortes do que alguém, isso não tem importância. E se pensarmos que o fato é importante, este
pensamento vaidoso mostra fraqueza e ilusão.
O verdadeiro Mestre nunca se coloca acima da lei ou da verdade, mas trabalha humildemente a serviço delas.
“Toda a perfeição, nesta vida, é mesclada de alguma imperfeição, e todas as nossas luzes são misturadas de
sombras. O humilde conhecimento de ti mesmo é caminho mais certo para Deus que as profundas pesquisas da
ciência.” (Livro Primeiro, capítulo 3, parágrafos 3 e 4.)
O cristianismo que gira em torno de rituais não oferece um caminho para o esclarecimento e a iluminação. O estudo
da letra morta das escrituras é inútil, e a advertência inclui os escritos teosóficos. Para trilhar o caminho que
A Imitação de Cristo ( Tomás de Kempis)
leva à Verdade é necessário fazer pesquisas independentes, com um coração humilde e observando calmamente
nossas próprias fraquezas.
“Oh! como passa depressa a glória do mundo! Oxalá a sua vida tenha correspondido à sua ciência; porque,
destarte, terão lido e estudado com fruto. Quantos, neste mundo, descuidados do serviço de Deus, se perdem por
uma ciência vã! E porque antes querem ser grandes que humildes, se esvaecem em seus pensamentos (Romanos
1, 21). Verdadeiramente grande é aquele que tem grande caridade. Verdadeiramente grande é aquele que a seus
olhos é pequeno e avalia em nada as maiores honras. Verdadeiramente prudente é quem considera como lodo
tudo o que é terreno, para ganhar a Cristo (Filipenses 3, 8). E verdadeiramente sábio é aquele que faz a
vontade de Deus e renuncia à própria vontade.” (Livro Primeiro, capítulo 3, parágrafos 5 e 6.)
A “vontade de Deus” é o propósito da nossa alma espiritual; “Cristo” simboliza a consciência cósmica.
“Grande sabedoria é não ser precipitado nas ações, nem aferrado obstinadamente à sua própria opinião;
sabedoria é também não acreditar em tudo que nos dizem, nem comunicar logo a outros o que ouvimos ou
suspeitamos.” (Livro Primeiro, capítulo 4, parágrafos 1 e 2.)
Este ensinamento é teosófico e H. P. Blavatsky fez afirmações semelhantes.
são boas, estas coisas são erradas, estas coisas são censuradas pelos inteligentes, estas coisas, quando realizadas
e colocadas em prática, conduzem à perda e ao sofrimento’ – então as rejeitem.”
“Se, porém, alcança o que desejava, sente logo o remorso da consciência, porque obedeceu à sua paixão, que
nada vale para alcançar a paz que almejava. Em resistir, pois, às paixões, se acha a verdadeira paz do coração, e
não em segui-las. Não há portanto, paz no coração do homem carnal, nem no do homem entregue às coisas
externas, mas somente no daquele que é fervoroso e espiritual.” (Livro Primeiro, capítulo 6, parágrafos 1 e 2.)
O estudante bem informado mantém uma busca constante do ideal de progresso e perfeição humanos, e faz
experiências práticas de desapego em relação às coisas terrenas. O peregrino evita dois extremos. Ele não deve
obedecer cegamente aos apetites inferiores; de outro lado, é inútil seguir um tipo de disciplina que gera um
excesso de conflitos neuróticos. O equilíbrio é essencial. O esforço é de longo prazo, e cada um deve ser o seu
próprio mestre e discípulo.
Há também marés cármicas, que devem ser observadas e compreendidas nesse esforço de uma vida inteira.
O alicerce da autodisciplina vitoriosa está na compreensão da nossa interconexão pessoal com o Cosmo
inteiro. Quando o horizonte individual inclui o horizonte da galáxia, fica mais fácil aceitar a paz e a vida humilde
no plano físico.
“Insensato é quem põe sua esperança nos homens ou nas criaturas. Não te envergonhes de servir a outrem por
Jesus Cristo, e ser tido como pobre neste mundo.” (Livro Primeiro, capítulo 7, parág. 1.)
A ideia de que alguém não deve ter vergonha de servir a outrem pelo bem da sua própria alma espiritual está
presente em religiões mais antigas que o cristianismo.
Nos Vedas, por exemplo, o Brhad-aranyaka Upanixade afirma:
A Imitação de Cristo ( Tomás de Kempis)
“Não é pelo marido em si que o marido é amado, mas é pela presença do Ser [a inteligência universal] no
marido, que o marido é amado. Não é pela esposa em si que a esposa é amada, mas é pela presença do Ser [ a
inteligência universal] na esposa, que a esposa é amada. Não é pelos filhos em si mesmos que os filhos são
amados, mas é pela presença do Ser [a inteligência universal] nos filhos, que os filhos são amados.”
Há uma dimensão impessoal e divina nos afetos humanos, da qual podemos tornar-nos plenamente conscientes.