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A Doutrina da Salvação

Capítulo 1 - Criados para a Glória de Deus. Por Dorval Fagundes



Capítulo 2 - O Pecado. Por Marcos Pedrazas

Capítulo 3 - O Amor que atrai. Por Rodney Martins Silva

Capítulo 4 - Amor ao Pecador e Ódio ao Pecado. Por Davi Paes Silva

Capítulo 5 - O Arrependimento. Por Marcos Pedrazas

Capítulo 6 - Fé - O Firme Fundamento. Por Rodney Martins Silva
Capítulo 7 - A Justificação. Por Joraí Cruz.

Capítulo 8 - O Novo Nascimento. Por Davi Paes Silva

Capítulo 9 - A Santificação. Por Rômulo Borges

Capítulo 10 - O Poder da Palavra. Por Alexandre Araújo

Capítulo 11 - A Glorificação. Por Rômulo Borges

Capítulo 12 - A Nova Criação. Por Daniel Boarim

Objetivo
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No Seu conhecido sermão da Montanha, Jesus afirmou: “Buscai primeiro o Seu reino e a Sua justiça, e
todas estas coisas vos serão acrescentadas.” (Mateus 6:33). Ele estivera falando sobre a ansiedade humana
com a comida e com o vestuário, afirmando que estas coisas são secundárias em relação ao reino de Deus.
Ele deixou claro qual deve ser a nossa prioridade absoluta. Antes Ele afirmara que a condição básica para
entrar no reino de Deus é possuir uma justiça infinitamente superior à dos escribas e mestres da lei. (Mateus
5:20).
Nesta pequena obra você encontrara o mapa da salvação. Os assuntos fundamentais relacionados com a
salvação eterna são descritos de modo simples e objetivo, com linguagem de fácil acesso a todo leitor.
Embora este livro possa ser lido em apenas algumas horas, aconselhamos o leitor a que tome tempo para ler
de modo a assimilar e digerir a preciosa Palavra de Deus que serve de base para cada capítulo.
Sem dúvida, ao ler e meditar nas verdades encontradas nesta obra, você fará uma viagem que cobre todo o
período desde a entrada do pecado, quando o ser humano se separou de Deus pela desobediência, até a
segunda vinda de Cristo, quando os crentes fieis receberão o toque final da imortalidade.
Assuntos como o propósito da criação, a entrada do pecado e a natureza deste, o arrependimento, a
justificação pela fé, o novo nascimento, o processo da santificação, a importância do estudo da Palavra de
Deus, a necessidade de viver em harmonia com Deus, mediante a obediência aos Seus mandamentos e,
finalmente, a glorificação que ocorre por ocasião da segunda vinda de Cristo, tudo está exposto com sólida
base escriturística. Sugerimos a você que leia este livro tendo a Bíblia à mão para conferir os textos e
aprofundar-se nas verdades apresentadas.

O apóstolo Paulo afirma que aqueles que nasceram de novo e morreram para o mundo e o pecado, devem ter
sua atenção concentrada nas coisas de cima, onde Cristo está assentado à direita de Deus. Diz ele: “Pensai
nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra; porque morrestes, e a vossa vida esta escondida
com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é a nossa vida, Se manifestar, então também vós vos manifestareis
com Ele em glória.” (Colossenses 3:2-4).
Vale a pena fazer da nossa salvação, da nossa família e dos nossos semelhantes a prioridade absoluta da
nossa vida. O propósito deste livro e ajudá-lo a atingir este objetivo.

Após ler e reler todos os capítulos desta obra, sinto-me plenamente autorizado a recomendá-la a todos os
que estão sinceramente desejosos de possuir uma vida que estará totalmente livre de dores, sofrimentos,
separações e morte. Refiro-me à vida eterna em companhia da Divindade e de todos os seres sem pecado de
todo o universo e também dos salvos de todas as épocas e lugares.

Ao meditar no tremendo sacrifício que Jesus fez em favor da salvação, concluímos que tudo que deixarmos
deste mundo é praticamente nada em comparação do que foi feito por nos.

Sugiro que você inicie agora mesmo o estudo e a meditação nestes temas de interesse eterno. Você se sentirá
mais que compensado pelo tempo investido nessa gratificante ocupação.

Nas horas finais de sua vida, Paulo declarou: “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé.
Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não
somente a mim, mas também a todos os que amarem a Sua vinda.” (2 Timóteo 4: 7, 8).
Esta experiência está ao seu alcance e ao meu alcance.

Desejamos estar juntos no lar celestial. Pela graça de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Maranata!

Davi Paes Silva


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Capítulo 1 - Criados para a Glória de Deus
Por Dorval Fagundes
“[...] todo o que é chamado pelo Meu nome, a quem criei para a Minha glória, a quem formei e fiz
[...].” (Isaías 43:7).
A fé, a razão e a revelação concordam entre si que Deus é a causa básica da criação. No entanto, quando se
inicia o aprofundamento nos detalhes, descobrem-se inúmeros mistérios, para os quais não se encontram
soluções. Quando se compreende isso, entende-se com toda a facilidade que a teologia bíblica explica muito
bem o porquê da criação, e não o como. Mesmo a ciência não possui ainda uma ideia clara a respeito do
como da criação. N. R. Champlin, PhD., apresenta uma ilustração referente ao problema que introduz este
primeiro capítulo: “Digamos, por exemplo, que a ciência, mediante a Física e outras disciplinas, possa
explicar exatamente o que sucede em um jogo de bilhar. Não há ali movimentos físicos que não possam ser
explicados. Porém, uma vez chegado a essa explicação, ainda teríamos de levar em conta as regras do jogo,
com as estratégias e os propósitos dos jogadores. Mas, para esses tipos de problemas, a Física não conta com
qualquer explicação. Ora, se podemos dizer isso acerca de um simples jogo, quanto mais acerca do imenso e
misterioso universo no qual vivemos.” (1)
Não se deve buscar, no livro de Gênesis, um comentário ou uma fórmula sobre o aspecto físico da criação.
Se for feita essa tentativa, ela tropeçará em uma cosmologia que é inútil para esse tipo de comprovação. É
possível usar de desonestidade com os textos, distorcendo o que o autor sagrado escreveu ali, forçando suas
palavras a se ajustarem àquilo que a ciência conseguiu pesquisar e provar; mas isso é, no mínimo, desonesto.
O entendimento da criação começa pela base do conceito que criou e trouxe à existência o universo e os
seres materiais. Por causa disso, todas as coisas criadas precisam encontrar constantemente em Deus a razão
e o propósito de sua existência.
“No princípio Deus criou os Céus e a Terra” (Gênesis 1:1). Muitos veem nessas palavras um começo
absoluto de todas as coisas. Elas formam um coletivo para indicar “tudo, exceto Deus”. Nelas está incluída
toda forma física animada e inanimada, bem como os elementos químicos que compõem o universo. Esse
versículo também compreende toda criação espiritual à qual não temos acesso em nosso presente estado
pecaminoso. Obviamente, a humanidade está incluída nessa abrangência.
“E disse Deus: Produza a terra seres vivos de acordo com as suas espécies [...]. Então disse Deus:
Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança.” (Gênesis 1:24 e 26).
Os animais foram criados “de acordo com as suas espécies”, mas o homem foi criado “conforme a espécie
[imagem] de Deus”, de acordo com a Sua natureza, algo que compreende a participação humana na natureza
divina. Esse é o mais elevado conceito religioso que a humanidade pode ter de si mesma. Naturalmente, há
muitos mistérios ligados a ele. A imagem (no hebraico, selem) se refere à área mental, moral e espiritual de
Deus. O homem veio à existência compartilhando de algo da natureza divina.
É certo que os humanos, no presente estado, não terão acesso a uma ideia exata sobre a verdadeira forma
humana, sua força, beleza e condições de saúde; sobre o clima do planeta, e muito menos sobre o próprio
funcionamento da Natureza antes da entrada do pecado. Esse conhecimento aguarda a redenção completa
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para ser compartilhado com os salvos, mas isso não os impede de entender, mesmo hoje, que a humanidade
já esteve inserida em uma realidade completamente diferente da atual, muito mais sublime, muito mais
abrangente e muito mais próxima do reino espiritual de Deus. Quando se pensa sobre aquelas realidades
remotas, anteriores à queda do homem, é fácil entender que a humanidade despencou de um nível
extremamente alto. Por isso é recomendável o estudo dos propósitos e intenções de Deus ao criar a espécie
humana. Tal estudo revelará muitas coisas a respeito do projeto de Deus para a vida de cada ser humano.

O ambiente natural
O primeiro passo para compreender melhor o objetivo de Deus na criação é entender um pouco mais sobre o
ambiente natural onde a espécie humana foi posta. Muitos creem que Gênesis 1:1 abrange uma sucessão
criativa. O termo “Céus” envolveria o universo como um todo, em um estágio anterior à vida na Terra. Em
seguida viria o nosso planeta, “a Terra”, pois a própria Bíblia menciona que havia seres inteligentes e
estrelas do universo que precederam a existência humana.
“Onde estavas tu quando Eu [Deus] fundava a Terra? Faze-Me saber, se tens inteligência. Quem lhe pôs as
medidas, se tu o sabes? Ou quem estendeu sobre ela o cordel? Sobre que estão fundadas as suas bases, ou
quem assentou a sua pedra de esquina, quando as estrelas da alva juntas alegremente cantavam, e todos os
filhos de Deus rejubilavam?” (Jó 38:4-7).
Entre os vários milhões de milhões de sistemas solares espalhados pelas incontáveis galáxias da vastidão
celestial, em um dos braços da periferia da Via Láctea, encontrava-se o sistema solar que abrigava um
planeta escuro, coberto de água na forma líquida, talvez cheio de vapores condensados, que impediam a
entrada de qualquer luz externa, que tornavam esse corpo celeste “sem forma” e vazio. Futuro lar da espécie,
a Terra estava a cerca de 30 mil anos-luz do centro da Via Láctea, praticamente a meio caminho. Para o ser
que Ele havia planejado, a gravidade seria perfeita. A estrutura humana é completamente adaptada à força G
que opera sobre o planeta. Estudos recentes têm demonstrado, sem sombra de dúvida, que a exposição à
gravidade reduzida por períodos mais ou menos longos pode ocasionar alguns efeitos negativos à saúde. Os
seres humanos estão adaptados para a vida na superfície da Terra. Quando o efeito da gravidade é removido,
certos sistemas fisiológicos funcionam de maneira deficiente, influenciando de modo negativo todo o
organismo.
A condição inicial mais comum sentida pelos seres humanos em condições de ausência de peso é conhecida
como o “mal-estar espacial”. Os sintomas incluem enjoos gerais, náuseas, vertigens, vômitos e um mal-estar
generalizado. Seu primeiro caso foi documentado pelo cosmonauta Gherman Titov em 1961 (2). Cerca de
45% de todas as pessoas que passaram por uma experiência de flutuação livre sob condições de
microgravidade sofreram desse mal.
Os efeitos adversos mais significativos da exposição prolongada à microgravidade são o atrofiamento
muscular e a deterioração do esqueleto. Outros efeitos incluem a redistribuição dos fluidos, um atraso no
sistema cardiovascular, produção reduzida de células vermelhas no sangue, desordens de orientação, e um
enfraquecimento do sistema imunológico. Os sintomas menores incluem perda de peso, congestão nasal,
distúrbios no sono, flatulências excessivas, e enchimento da face. Estes efeitos são reversíveis com o retorno
à Terra.
Essa adaptação do ambiente ao homem e vice-versa pode ser observada em todos os aspectos. Por que o céu
não é cor-de-rosa em vez de azul? Por que podemos perceber cores, ao passo que alguns animais não podem
vê-las?
“Os que julgam a Deus pelas Suas obras, e não através de suposições de grandes homens, esses veem Sua
presença em tudo. Observam-Lhe o sorriso na alegre luz do Sol, e Seu amor e cuidado pelos homens nas
abundantes searas de outono. Mesmo os enfeites da terra, a verdejante relva, as belas flores de todos os
matizes, as altaneiras árvores das florestas, de tantas espécies, o rumorejante regato, o majestoso rio, o
plácido lago — tudo testifica do terno e paternal cuidado de Deus e de Seu desejo de tornar felizes os Seus
filhos.” (3)

Alimentação original
A Palavra de Deus ensina que a alimentação original dos primeiros humanos e da fauna primitiva era
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vegetariana (Gênesis 1:29 e 30). Os humanos e os animais receberam uma dieta semelhante (versículo 30).
Pesquisas antropológicas recentes têm comprovado que o regime dietético dos primeiros humanos era
composto principalmente de vegetais. Os antropólogos Donna Hart e Robert Sussman, no livro Man, The
Hunted (“Homem, o caçado”, sem versão brasileira) defendem a tese de que os primeiros seres humanos não
eram caçadores, e sim, presas. Segundo eles, nenhum homem anterior à chegada do fogo controlado caçou
em grande escala, e a espécie humana não possui anatomia e fisiologia próprias para ser caracterizada como
carnívora. (4)
As palavras usadas em Gênesis 1:29 e 30 demonstram que não era plano de Deus que o homem matasse
animais para usá-los como alimento, ou que a predação de alguns animais por outros devesse existir.
Consequentemente, a destruição violenta e muitas vezes dolorosa da vida por parte do ser humano e dos
animais é uma das terríveis consequências da entrada do pecado no mundo. Foi somente após o dilúvio que
Deus deu ao homem permissão para comer a carne de animais (Gênesis 9:3). Até as lendas pagãs antigas,
como aquelas dos persas e dos greco-romanos, desenhavam uma era áurea, quando os homens estavam em
paz com o reino animal, não se utilizando de animais para se alimentarem. O fato de nenhum animal de
qualquer tipo comer carne, no princípio da história do mundo, pode ser deduzido dos anúncios proféticos de
Isaías 11:6-9 e 65:25 sobre as condições da nova Terra, onde a interrupção do pecado e a completa
transformação do mundo no reino de Deus serão acompanhadas pelo fim da matança de qualquer das
criaturas de Deus.
O claro ensino das Escrituras de que a morte entrou no mundo pelo pecado mostra que o projeto original de
Deus era que nem o homem nem os animais tirassem a vida uns aos outros para sobreviver.
“É significativo que Jonas 4:11 nos mostre a preocupação de Deus com os animais. Há evidências em favor
do fato de que as civilizações mais avançadas mostram maior preocupação com os animais e menor
crueldade do que no caso das civilizações mais antigas. Os hindus exibem grande respeito pelos animais, e
isso os toma vegetarianos. Talvez isso seja realmente melhor para os homens, por motivos morais e de
saúde.” (5)

Criados para a glória de Deus?


Quando o ser humano entende e compreende algo do grande amor de Deus manifestado em toda a adaptação
original feita pelo Senhor para adequar um lugar de modo perfeito às necessidades humanas, quando
entende que o homem deveria viver em plena felicidade e harmonia com seu Criador, então percebe
vagamente o enorme abismo em que o pecado de Adão o jogou. Vida curta e infeliz, doenças, crime,
desordens sexuais, desigualdade social de todo tipo, enfim, tudo que existe atualmente de ruim pode ser
creditado à falha de Adão em cumprir os propósitos divinos. “Porque todos pecaram e destituídos estão da
glória de Deus.” (Romanos 3:23).
Neste caso, os próprios gentios haviam falhado miseravelmente. Eles tinham suas religiões, e havia vidas
nobres entre eles. Porém, Deus não Se deixava impressionar por qualquer bem que neles porventura
houvesse. Desse ponto de vista, mereciam apenas o juízo condenatório descrito no primeiro capítulo de
Romanos.
Os judeus, que se julgavam tão bons que, aos seus próprios olhos nada mereciam, a não ser o louvor de
Deus, eram sujeitos à mais severa condenação, e isso por duas razões: (1) Apesar das vantagens que tinham,
envolviam-se nos mesmos vícios que os gentios, ainda que de forma menos radical e com menor frequência.
(2) Ao levar-se em conta o pensamento de que eram “melhores”, continua sendo verdade que a ideologia de
se obter a vida eterna através da obediência à Lei era um engano grotesco (Romanos 7:11). Portanto, apesar
das vantagens que tinham, ficavam muito abaixo das exigências de Deus, e recebiam maior condenação por
terem maior luz e oportunidade.
Alguns opinam que “todos os homens pecaram em Adão”, tendo em vista não os pecados individuais, mas a
participação na transgressão original de Adão. Isso é verdade apenas em parte, pois os pecados individuais
dos homens também os condenam, embora sejam resultado da participação naquela primeira transgressão
adâmica. O princípio bíblico é que os homens são julgados de acordo com as suas obras (Romanos 2:6). Os
atos, positivos e negativos, entram na natureza do julgamento de cada um.
“[...] Destituídos estão [...]”, são palavras que podem ser traduzidas mais exatamente ainda por “ficam
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aquém da”, isto é, não conseguem atingir o alvo. Estão em falta nessa busca. Não estavam preparados sequer
para iniciar a corrida. A palavra “destituídos” dá a ideia de “continuar devendo” ou “ficando aquém”. E isso
quer dizer que, embora pensem os homens que continuam se esforçando de modo adequado em direção a
Deus, na verdade, como corredores, já estão desclassificados, embora ainda não saibam que o foram. Pelo
fato de o verbo estar no passado — “pecaram” —, indica que já estavam desclassificados e, mediante a
prática contínua do pecado, continuam muito aquém da glória de Deus, de Sua aprovação eterna.
Uma ilustração adequada seria levar a população de Salvador-BA à beira-mar e convidá-los a alcançarem
Lisboa de um salto. Alguns jovens vigorosos conseguiriam percorrer mais de três metros em um único pulo,
mas isso ainda estaria muito “aquém” de Lisboa. Algumas senhoras idosas talvez não conseguissem alcançar
nem um mísero metro. Tudo bem, isso não importaria, pois o fato é que todos fracassariam em alcançar a
costa portuguesa com esse método ridículo. E o pior é que aquele que conseguisse saltar mais longe chegaria
a águas mais profundas! Paulo, o “principal dos pecadores”, saltou a distância mais longa na corrida da
justiça própria, somente para chegar à conclusão: “Desventurado homem que sou!” (Romanos 7:24).
O homem foi criado a fim de trazer a imagem da glória de Deus, para ser uma criatura moralmente perfeita,
não somente no sentido de não se dedicar ao mal, mas também no sentido de participar da natureza moral de
Deus, isto é, possuidora do amor, da bondade, da justiça, da benignidade e do perfeito altruísmo do Criador.
Por causa dos efeitos destruidores do pecado, o homem vive continuamente “ficando aquém” dessa glória.
É verdade que os homens geralmente se orgulham de se sentirem menos maus do que outros, e é sempre
essa ilusão humana que os confirma ainda mais como merecedores do juízo divino. Pelo contrário, o padrão
do juízo é a santidade absoluta, e não a simples comparação entre indivíduos. Sem essa santidade absoluta
ninguém permanecerá na presença de Deus.

À imagem de Jesus, o segundo Adão


“Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora, e agora é, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de
Deus, e os que a ouvirem viverão. [...] Assim como o Pai, que vive, Me enviou, e Eu vivo pelo Pai, assim
quem de Mim se alimenta também viverá por Mim.” (João 5:25 e 26; 6:57).
O único caminho que nos pode restaurar à perfeita imagem de Deus, deixando-nos em condições de
manifestar Sua glória é somente através de Cristo. A transformação segundo a imagem de Cristo é um
processo gradual, produzido através da dedicação diária de todo o nosso ser, através do contato contínuo
com a Divindade, mediante o Espírito de Deus, que é a força ativa dessa transformação. Ela passa de glória
em glória, pois consiste na contemplação da elevada glória do Senhor, que é Cristo Jesus. O objetivo dessa
transformação é implantar no crente aquela mesma imagem, caráter essencial ou ser essencial que é
possuído pelo próprio Filho de Deus. Trata-se de uma operação divina que não pode ser igualada pela
reforma moral, pois se trata de um processo espiritual que afeta a natureza mais íntima, levando à perfeição;
e isso é realizado em termos exatos, através da transformação metafísica do ser essencial, partindo daquilo
que é comum aos seres humanos mortais, transformando-os em seres pertencentes à família divina, dotados
da mesma natureza do Irmão mais velho, que é Jesus Cristo.
“Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai, que está nos céus.” (Mateus 5:48).
Este versículo anuncia o grande alvo moral da humanidade. Os genuínos discípulos de Cristo estão sendo
aperfeiçoados em nível moral e, um dia, isso compreenderá mais do que simplesmente a “ausência de
pecado”. É um processo infinito que começa ainda nesta vida, mas não se esgota, mesmo na vida futura.
Enquanto ainda deste lado da eternidade, devem lutar contra o pecado até a vinda de Jesus, contudo, o
progresso dos santos rumo à perfeita imagem de Cristo deve ocorrer por toda a eternidade. Neste sentido,
todos deverão refletir a glória de Deus em estágio continuamente crescente.
“Que é o Seu corpo, a plenitude dAquele que cumpre tudo em todos.” (Efésios 1:23).
Cristo é Aquele que preenche tudo em todos, em torno do qual gira a criação inteira, encontrando o seu
significado. Porém, a plenitude de Cristo é a igreja, a Sua “noiva”. Isso expressa uma glorificação de
proporções inimagináveis, visto que nenhum anjo, por mais digno que seja, jamais foi chamado de
“plenitude de Cristo”. É óbvio que os crentes, transformados conforme a imagem de Cristo, serão erguidos
muito acima de todos os outros seres, tomando-se superiores aos grandes principados, poderes e domínios
— nomes que expressam a nobre graduação existente entre os seres angelicais. A plenitude de Cristo,
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entretanto, consiste na personalidade humana transformada. Há várias formas de vida e, na escala
descendente, temos de começar pela vida suprema de Deus Pai. O Filho de Deus participa dessa vida, como
os filhos de Deus também dela participam, ainda que, por enquanto, estes últimos não participem em
plenitude; mas, o fato de que essa plenitude é certa os coloca em nível muito acima de qualquer anjo. Neste
sentido, poderá dizer-se que mais do que cumprirão o propósito original da criação: foram formados para a
glória de Deus.

(1)
CHAMPLIN, N. R. “Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, vol. 1. São Paulo: Hagnos”, p. 1052, verbete
Criação.
(2)
BURGESS, Collin; HALL, Rex. “The First Soviet Cosmonaut Team: Their Lives, Legacy And Historical Impact.
Chichester, UK: Springer/Praxis, 2009”. Disponível em: <http://bit.ly/22sbVUJ> Acesso em 12 abr. 2016.
(3)
WHITE, Ellen. “Conselhos sobre educação”, p. 255.
(4)
HART E SUSSMAN, Man. “The Hunted, 2008”, p. 230.
(5)
CHAMPLIN, N. R. “O Antigo Testamento interpretado versículo por versículo. São Paulo: Hagnos. 2ª ed. 2001”,
p. 40.

Capítulo 2 - O que é o Pecado?


Por Marcos Pedrazas
O que é pecado?
“A fim de crescer na graça e no conhecimento de Cristo, é essencial que mediteis muito nos grandes
assuntos da salvação.” (1)
Um dos grandes assuntos da salvação é o pecado. Afinal, a salvação é oferecida apenas para quem é pecador.
“A ideia que temos do pecado determina, mais ou menos, nossa ideia de salvação. Errar, portanto, quanto à
compreensão da doutrina do pecado é errar também na da salvação. Um exemplo: Pessoas há que julgam
que o pecado seja devido ao meio em que o ser humano vive; logo, melhorando o meio, o pecado
desaparece. Se assim fosse, os homens não necessitariam de um salvador, mas de um benfeitor. Neste caso,
dinheiro e boa vontade poderiam salvar a humanidade. Sabemos, porém, que não é assim (...). Outros há que
julgam que o pecado é oriundo da ignorância. Os homens pecam, dizem, porque não conhecem coisa
melhor. Ora, se assim fosse, a educação seria a salvação da raça; o combate ao analfabetismo seria a melhor
pregação do evangelho, e naturalmente os mais instruídos e mais cultos seriam os mais santos. Os que
pensam assim estão longe da verdade.” (2).
Abordaremos o assunto do pecado sob quatro enfoques, que, somados, compõem um quadro amplo sobre as
suas causas e efeitos.

1) O Pecado é separação
“Mas as vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu
rosto de vós, para que não vos ouça.” (Isaías 59:2).
No Jardim do Éden a natureza era perfeita e bela, mas a razão da felicidade do homem consistia no
relacionamento que mantinha com o seu Criador. Deus !7 visitava Adão e Eva diariamente e passava o sábado
com eles. Desfrutavam da companhia um do outro e conversavam sobre assuntos variados. Havia harmonia
e felicidade; tudo ia bem.
Lembro-me da harmonia que existe numa família feliz. O ambiente é maravilhoso quando tudo vai bem.
Mas às vezes algo dá errado e as coisas mudam de cor. As crianças pequenas sempre são autênticas, pois
ainda não aprenderam a dissimular. Quando fazem alguma coisa errada, querem distância dos pais.
Foi o que aconteceu com Adão e Eva. A Bíblia não diz quanto tempo eles conviveram com Deus no Éden,
mas no dia em que fizeram algo errado, as coisas mudaram. Eles não mais se sentiram à vontade na presença
de Deus. Quando o Senhor veio visitá-los na viração do dia, se esconderam (Gênesis 3:8). A harmonia
desapareceu. O relacionamento se desfez.
O pecado produziu um rompimento na relação que existia entre o Criador e a criatura. O homem separou-se
de Deus. Perdeu o prazer de estar com Ele. Desde então, o estado natural de todos os homens é de alienação,
“sem Deus.” (Efésios 2: 12).

Ellen White afirma: “A corrente poluída representa aquele que está separado de Deus. O pecado não
somente separa de Deus, mas destrói no ser humano tanto o desejo como a capacidade de conhecê-lO.” (3).

O pecado opera um ciclo vicioso: ao tempo que nos separa de Deus, destrói em nós o desejo de voltar para
Ele. É um ciclo maligno que nos aprisiona. Por nós mesmos é impossível sair desse ciclo. Por isso, a nossa
libertação depende de um Agente externo.
“Tudo o que não provém de fé é pecado.” (Romanos 14:23).
A fé é o vínculo que une o homem a esse Agente externo, que é Cristo. Sem fé não existe relacionamento
com Cristo. E tudo que não provém de um relacionamento com Cristo é pecado.
Morris Venden diz o seguinte: “Você não precisa fazer coisas erradas para ser um indivíduo mau; tudo o que
você precisa fazer é boas obras separado de Cristo. Você pode profetizar, pode expulsar demônios, pode
realizar obras maravilhosas, mas Jesus disse: há um problema bem maior: não nos relacionamos, Eu não o
conheço, você não Me conhece. Aqui é onde reside todo o assunto. Portanto, vamos chegar a uma simples
definição de pecado. PECADO, no singular, É VIVER UMA VIDA SEPARADA DE JESUS. Não faz
diferença se for uma vida boa ou má. ... Qualquer pessoa que não tem tempo para Jesus diariamente,
está vivendo em pecado. E ISSO RESULTA NO QUE NÓS CHAMAMOS PECADOS, no plural: FAZER
COISAS ERRADAS, PRATICAR OBRAS MÁS” (Palestra “Pecado”, não publicada, disponível na
internet).
A causa inicial de todos os pecados é a separação de Deus. Esse é o primeiro ponto. É o ponto básico. A
partir daí surgem diversas consequências.
Por exemplo, quando o homem se separou de Deus, também se alienou do seu próximo, aí incluída a sua
própria família. Imaginem a harmonia de uma família sem pecado! Com certeza, Adão e Eva formavam um
casal perfeito antes do pecado, mas no mesmo dia em que comeu do fruto proibido, Adão colocou a culpa do
pecado em Eva: “a mulher que tu me deste como companheira, me deu da árvore, e comi.” (Gênesis 3:12).
Eva já não era mais o “amor da minha vida”, não era mais “a minha rainha”. Era simplesmente “a mulher
que tu me deste.” Aí se iniciaram os desentendimentos entre as pessoas.
Em terceiro lugar, o pecado separou o ser humano da criação de Deus. A harmonia entre o homem e a
natureza desapareceu. Animais se tornaram perigosos. Espinhos e plantas venenosas começaram a brotar da
terra. A verdadeira causa do desequilíbrio ecológico é o pecado, que quebrou a harmonia da criação de Deus
no planeta Terra. Mas como tudo começou?

2) O Pecado é Rebelião
Provavelmente, todos já ouvimos a história do passeio de Eva pelo Jardim do Éden, ocasião em que se
aproximou da árvore do fruto proibido e viu uma bela serpente, que falava e que a convenceu a comer do
fruto, e ela comeu e depois levou o fruto para Adão, que mesmo sabendo do risco, apaixonado, comeu
também. É uma história bastante conhecida.
Mas não se trata de uma historia qualquer. É a história real de como o pecado entrou no mundo. Deus criou
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o homem para viver eternamente, sob uma condição: obediência em apenas um ponto, mas esse ponto
significava muito, esse ponto era tudo. Deus disse: “não comam do fruto”(cf. Gênesis 2:17), mas Adão e
Eva comeram. O que temos aqui? Um ato de rebelião.
“Aquele, pois, que sabe fazer o bem e não o faz, comete pecado.” (Tiago 4:17). Adão sabia o que não
deveria fazer, mas optou por desobedecer, optou por não se submeter a Deus, acreditou que sabia o que era
melhor para si próprio. Em outras palavras, ele quis assumir o lugar de Deus.
É comum associarmos o pecado àquelas coisas grotescas, como assassinato, fornicação ou roubo. É verdade
que essas são ações gravíssimas, mas o pecado de Adão não teve nada a ver com elas. O pecado de Adão foi
mais simples, embora muito grave. Adão simplesmente não confiou em Deus. Não creu em Deus. Duvidou
de Deus.
“O fruto nada tinha propriamente de venenoso, e o pecado não consistiu meramente em ceder ao apetite. Foi
a desconfiança da bondade de Deus, descrença em Sua palavra, e a rejeição de Sua autoridade que tornaram
nossos primeiros pais transgressores, e que trouxeram a este mundo o conhecimento do mal. Foi isto que
abriu a porta para todas as espécies de falsidades e erros.” (4)
Adão não cometeu muitos pecados. Não se envolveu em prazeres, não olhou para coisas malignas, não
transgrediu o sábado. Ele apenas descreu de Deus. A partir daí vieram os demais pecados.
O pecado inicial, que deu origem aos demais pecados, foi um problema entre o homem e Deus. Uma quebra
de confiança, algo aparentemente simples. Mas, na verdade, o primeiro pecado foi o mais sério.
Jesus disse que o Espírito Santo viria para “convencer o mundo do pecado, da justiça e do juízo.” (João
16:8). Por que do pecado? O verso 9 responde: “do pecado, porque não crêem em Mim.”. Jesus não disse
“do pecado porque eles são homicidas, adúlteros ou mentirosos”. Não! Em outras palavras, Ele afirmou: “O
Espírito Santo vai fazer um trabalho muito importante: Ele vai mostrar a todas as pessoas, mesmo aos
ladrões, mesmo aos homicidas, que eles são pecadores porque não crêem em Mim.”
Se o pecado inicial consistiu em descrer, conclui-se que crer é o primeiro passo que o homem deve dar em
direção a Deus. A Bíblia afirma diversas vezes que o que crê em Jesus tem a vida eterna (João 3:15-16, 36;
5:24; 6:40, 47; 11:25). Por outro lado, João 3:18 diz que “quem não crê já está condenado.”
O pecado é basicamente um ato do homem contra Deus. Mesmo quando atinge outras pessoas, continua
sendo um ato contra Deus. O problema é que nós nos esquecemos disso! Falamos de pecados contra os
homens, de pecados contra nós mesmos, de pecados contra a natureza, os animais e as árvores etc;
entretanto, nos esquecemos que todo pecado é cometido principalmente contra Deus. Davi pecou contra seu
povo ao não representá-lo bem como rei; pecou contra Bate-Seba ao adulterar com ela; e pecou contra Urias
ao mandar matá-lo. Porém, no final, Davi disse a Deus: “pequei contra ti, contra ti somente.” (Salmo 51:4).
O pecado é terrível exatamente porque se dirige contra Deus. Não é algo cometido contra uma pessoa
qualquer. É um ato dirigido contra o Ser Supremo, Criador e Mantenedor de todo o universo.
Do pecado inicial derivam muitos outros pecados, que nós chamamos ‘transgressões.’
“Qualquer que comete pecado, transgride a Lei; porque o pecado é a transgressão da Lei.” (1 João 3:4).
Não é comum, mas às vezes a Bíblia dá definições. Por exemplo, a Bíblia define o que é fé - Hebreus 11:1.
Do mesmo modo, a Bíblia define o que é pecado - 1 João 3:4. De fato, o pecado sempre envolve uma
transgressão da Lei de Deus. A Lei de Deus é a norma divina que rege o universo. É a transcrição do caráter
de Deus. É o código determinado por Deus para reger o relacionamento entre Ele e nós.
Mas o relacionamento se rompeu e o homem se rebelou contra Deus. Então ele tornou-se transgressor da
Lei. A rebelião é expressa na transgressão e essa transgressão chama-se pecado.
Herman Ridderbos explica: “Em sua essência, o pecado é rebelião contra Deus, recusa em sujeitar-se a ele,
inimizade contra Deus. Pode-se definir o pecado como sendo o homem querendo ter o controle de si mesmo,
desejando ser como Deus. Essa inimizade contra Deus toma forma e é expressa na transgressão da Lei.
Portanto, a Lei é a norma determinada por Deus para o relacionamento do homem com Ele.” (5)
Quando pensamos em transgressão, o que nos vem à mente são os atos e ações. Pensamos assim porque a
nossa compreensão é condicionada pelo modo como funcionam as leis humanas. As leis humanas só se
aplicam aos atos e ações, ou seja, àquilo que é exteriorizado. As motivações e as intenções não são
alcançadas pelas normas dos homens, entretanto a Lei de Deus possui um campo de incidência muito mais
amplo do que as leis humanas.
!9
“Porque do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, prostituição, furtos, falsos
testemunhos e blasfêmias.” (Mateus 15:19).
Existem pessoas que sentem ódio mortal contra o seu próximo, entretanto, sabem conter-se e nada fazem
contra ele, embora no seu coração lhe desejem mal. Perante Deus tais pessoas são culpadas por homicídio
porque no coração se iraram contra o seu próximo.
Jesus disse em Mateus 5:27 que se um homem olha para uma mulher de modo impuro, já cometeu adultério.
A Lei de Deus alcança os segredos mais íntimos, as intenções mais secretas.
“É possível que nos tenhamos lisonjeado com a ideia de que nossa vida tem sido justa e nosso caráter moral
reto, julgando não termos necessidade de humilhar diante de Deus o coração, como o pecador vulgar.
Quando a luz de Cristo nos ilumina a alma, porém, vemos o quanto somos impuros. Discernimos o egoísmo
dos nossos motivos, nossa inimizade contra Deus, que tem maculado todos os atos da nossa vida. Então
reconheceremos que nossa justiça própria é, na verdade, como trapos imundos.” (6)

3) O Pecado é Escravidão
“Porque de quem alguém é vencido, do tal faz-se também servo.” (2 Pedro 2:19, ú.p.).
A liberdade é um valor muito apreciado, especialmente na cultura ocidental. Mas na vida espiritual a
liberdade só existe no momento da escolha de quem será o seu Senhor. No capítulo 25, verso 30, do livro de
Josué, a Bíblia diz: “escolhe hoje a quem servirás.”
“Não sabeis vós que a quem vos apresentardes por servos para lhe obedecer, sois servos daquele a quem
obedeceis, ou do pecado para a morte, ou da obediência para a justiça?” (Romanos 6:16).
Interessante! Temos liberdade para escolher a quem servir, mas depois da escolha, nos tornamos servos.
Ninguém gosta de ser chamado de escravo. Mas a Bíblia diz que o pecador é um escravo. Certa vez Jesus
disse aos judeus que criam nEle: “Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sereis meus
discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” (João 8:32).
Os fariseus, que assistiam à conversa, ficaram ofendidos.
“Responderam a Jesus: Somos descendência de Abraão, e nunca servimos a ninguém; como dizes tu: Sereis
livres? Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é servo
do pecado.” (João 8:33-34).
Adão e Eva escolheram não servir a Deus. Tornaram-se escravos do mal.
“Mas pela desobediência, suas faculdades [de Adão e Eva] foram pervertidas, e o egoísmo tomou o lugar do
amor. Sua natureza tornou-se tão enfraquecida pela transgressão que lhe era impossível, em sua própria
força, resistir ao poder do mal. Fez-se cativo de Satanás, e assim teria permanecido para sempre se Deus não
tivesse intervindo de modo especial.” (7)
Mais do que atos visíveis, o pecado revela uma corrupção arraigada no nosso interior. Uma maldade
profunda. Os atos maus que cometemos são manifestações exteriores de uma enfermidade invisível. São os
sintomas de uma doença moral. Por natureza, somos moralmente doentes. Somos escravos. Mas Jesus pode
transformar a nossa natureza!

4) O Pecado é Destruição
“Mas o que pecar contra Mim violentará a sua própria alma; todos os que me odeiam amam a
morte.” (Provérbios 8:36).
Eis um texto normalmente mal interpretado. Alguns entendem que há nele uma ameaça de Deus. Embora
existam situações em que Deus realmente determina a destruição, esta é uma obra estranha para Ele. O texto
não se refere à ação destruidora de Deus, mas fala sobre a consequência natural do pecado.
“Porque o salário do pecado é a morte.” (Romanos 6:23, p.p.).
O resultado final do pecado é a morte. Mas isso não é tudo. No percurso para a morte, o pecado causa a
destruição de tudo o que é bom. Primeiramente, o pecado destrói os bons princípios e valores. Depois,
destrói os bons hábitos e, por fim, o pecado produz a morte.
Deus havia dito a Adão e Eva que quando comessem do fruto proibido, iriam morrer. Eles comeram e não
morreram no mesmo dia, mas um cordeiro que simbolizava a Jesus morreu no lugar deles. Entretanto, eles
!10
mesmos perderam a vida eterna naquele dia e os seus anos de vida se transformaram num prenúncio da
morte que certamente viria. Nos anos em que viveram, Adão e Eva viram as consequências do pecado: a
maldade, a violência, a destruição e a morte.
“Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência. Depois, havendo a
concupiscência concebido, dá à luz ao pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte.” (Tiago 1:14 e
15).
Um caso típico da ação destruidora do pecado encontra-se na história de Acã, narrada no capítulo 7 do livro
de Josué. Num certo ponto, Acã admitiu o seu erro: “eu pequei mesmo: vi uma capa babilônica e duzentos
ciclos de prata. Cobicei-os e os tomei para mim.” (cf. o verso 21)
Primeiro Acã viu: “ah, que coisa bonita!”. Depois ele cobiçou: “sei que não é correto, mas eu a quero para
mim”. Por fim, ele furtou os objetos para si. Consumou o pecado.
Mas as coisas não acabaram aí. Acã tinha que esconder os objetos furtados. Ele os levou para a casa e os
escondeu na terra, debaixo da tenda. A esposa e os filhos viram. Eles sabiam que o pai não podia fazer
aquilo, mas por não reagirem contra o pecado tornaram-se partícipes dele. O pecado de Acã se tornou uma
maldição para a sua família.
Acã é um tipo do pecador impenitente. O pecado infestou a sua vida, tirou a sua paz, contaminou a sua casa
e corrompeu a sua família. Ele teve oportunidades para se arrepender, mas as deixou passar.
A Bíblia conta que, por fim, Acã, sua mulher e seus filhos foram levados para fora do arraial e apedrejados.
Tudo o que eles possuíam foi queimado no fogo. A destruição é o resultado natural do pecado.

Conclusão
Podemos concluir que o pecado é algo terrível, que nos separa de Deus, do nosso próximo e da natureza,
revela um estado de rebelião da criatura para com o Criador, nos escraviza nas trevas da corrupção moral e
produz a destruição de tudo o que é bom, operando, por fim, a morte.
O estudo do pecado e suas consequências tem o propósito de convencer-nos do pecado.
“A alma precisa primeiro convencer-se do pecado antes que o pecador sinta o desejo de ir a Cristo.” (8)
O primeiro passo para a salvação é dado pelo Espírito Santo, que nos convence de que somos pecadores.
Quando vemos a nossa profunda indignidade, percebemos que nada podemos fazer para nos salvar. Então o
mesmo Espírito nos conduz a Jesus.
Certa vez, li uma pregação de Charles Spurgeon intitulada "Um grande evangelho para grandes
pecadores" (Charles Spurgeon, “12 Sermones evangelicos”, vol. 3, 185 e ss.). No texto, o autor discorre
sobre o texto de 1 Timóteo 1:15, no qual Paulo afirma: “Fiel é esta palavra e digna de toda a aceitação: que
Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal.”
Paulo nunca negou ser um grande pecador, mas ele sabia que tinha um grande Salvador.
A má notícia é que somos pecadores, mas a boa é que existe salvação para nós.
“Se confessarmos nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda a
injustiça.” (1 João 1:9).
Quando confessamos nossos pecados, Cristo os perdoa nesse mesmo momento e, mais, Ele nos purifica e
regenera.
“Quando por meio de arrependimento e fé aceitamos a Cristo como nosso Salvador, o Senhor perdoa nossos
pecados, e suspende a punição prescrita para a transgressão da Lei.” (9).
O pecado traz resultados terríveis. Todos já sofremos em alguma medida as suas consequências, mas não
mais precisamos temer porque quando aceitamos a Jesus como Salvador, o nosso pecado é perdoado e a
punição, suspensa.

(1)
WHITE, Ellen. “Signs of the Times”, 1/12/1890.
(2)
A.B. Langston. “Esboço de Teologia Sistemática”, p. 148.
(3)
WHITE, Ellen. “Patriarcas e Profetas”, p. 118.
(4)
WHITE, Ellen. “Educação”, p. 25.
(5)
RIDDERBOS, Herman. “A Teologia do Apóstolo Paulo”, p. 114.
(6)
WHITE, Ellen. “Conflict and Courage”, p. 292.
(7)
WHITE, Ellen. “Caminho a Cristo”, p. 17. !11
(8)
WHITE, Ellen. “Fé e Obras”, pp. 26 e 27.
(9)
WHITE, Ellen. “Mensagens Escolhidas”, vol. 3, p. 191.

Capítulo 3 - O Amor que Atrai


Por Rodney Martins Silva

“'Mas Eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a Mim'. Ele disse isso para indicar o tipo de morte
que haveria de sofrer.” (João 12:32 e 33. NVI).
Muitas definições sobre o amor permeiam a sociedade contemporânea. Os conceitos sobre o amor estão
cada vez mais infectados pelo egoísmo, ofuscando o seu genuíno sentido. No Google encontramos milhares
de referências sobre o amor, a maioria delas equivocadas e mal dirigidas. Muitos associam o amor apenas
com paixão, emoção, afeição e sentimento. Se há uma palavra verdadeiramente mal compreendida pela
humanidade esta palavra é “amor”. Nós, ocidentais, !1temos
2 apenas uma palavra para representar o amor em
suas diversas formas. Os gregos foram mais detalhistas na tentativa de identificar o amor em pelo menos
seis diferentes tipos. São eles:
1) “Eros”: Esse tipo de amor era uma homenagem ao deus grego da fertilidade, e representava a ideia de
paixão e desejo sexual. O culto a “Eros” era regado pelas mais vis orgias e devassidão. Hoje, a mídia
ainda continua cultuando a “Eros” por meio de novelas, sites e filmes.

2) “Philia”: A segunda forma de amor para os gregos era “Philia”, que se aproximava da amizade. O termo
“Filadélfia” (amor fraternal) derivou desta palavra: “Philein”(amor), “adelphos”(irmãos).

3) “Ludus”: Era a ideia grega do amor brincalhão e do afeto entre amigos. A palavra “lúdico” significa
diversão, alegria.

4) “Pragma”: Este é o amor maduro, pragmático, prático. É o tipo de amor que se desenvolve nos
casamentos de longa duração, em que se estabelecem compromissos para ajudar a manutenção da
relação ao longo do tempo, com paciência e tolerância recíprocas.

5) “Philautia”: É um tipo de amor próprio regado de egoísmo, presunção e vaidade. Hoje, esse amor pode
ser visto na geração “selfie”, a geração mais narcisista da história universal. A propósito, você conhece a
biografia mitológica de Narciso? Segundo a mitologia grega, Narciso era um herói do território de
Téspias, famoso pela sua beleza e orgulho. Ele cresceu, e passou a despertar o amor tanto em homens
quanto em mulheres. Mas era muito orgulhoso e tinha uma arrogância que ninguém conseguia quebrar.
Para dar uma lição ao rapaz frívolo, a deusa Némesis o condenou a apaixonar-se pelo seu próprio
reflexo na lagoa de Eco. Encantado pela sua própria beleza, Narciso deitou-se no banco do rio e
definhou, olhando-se na água e se embelezando. Depois da sua morte, Afrodite o transformou numa
flor, narciso. Se Narciso vivesse em nossos dias, o lago que provocou sua morte seria um “smartphone”
equipado com um “pau de ‘selfie’”.

6) “Ágape”: O sexto tipo de amor definido pelos gregos era o amor Ágape ou altruísta. A palavra “Ágape”
mais tarde foi traduzida para o latim como “Caritas”, que é de onde se origina a palavra “caridade”.
Mas,foram os cristãos do primeiro século que deram o real sentido a este tipo de amor, ao lançar mão
dessa terminologia para representar o amor de Deus.

Entretanto, qual é a definição bíblica de amor? “Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor.
Foi assim que Deus manifestou o Seu amor entre nós: enviou o Seu Filho Unigênito ao mundo, para que
pudéssemos viver por meio dEle. Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em
que Ele nos amou e enviou Seu Filho como propiciação pelos nossos pecados.” (1 João 4:8-10).
Na gramática divina amor não é um sentimento, mas um Ser, o próprio Deus. Tal conceito amplia nosso
horizonte para compreendermos o autêntico amor. Segundo o apóstolo João, Deus é amor e a maior
manifestação deste princípio ocorreu por meio de Seu Filho Unigênito, Jesus Cristo. Este é o centro da
atração do amor de Deus e a iniciativa desta aproximação foi e sempre será da parte de Deus: “Nós O
amamos porque Ele nos amou primeiro.” (1 João 4:19).
“'Mas Eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a Mim'. Ele disse isso para indicar o tipo de morte
que haveria de sofrer.” (João 12:32 e 33). Para compreendermos a palavra amor não precisamos ir ao
dicionário, mas ao Calvário. Este evento cósmico e transcendental ocorreu há aproximadamente 2000 anos e
terá implicações por toda a eternidade. Nenhuma outra história criada pela literatura universal, nem mesmo a
criatividade presente nos anais da mitologia grega, foi capaz de superar a história da cruz de Cristo. Esse é o
ponto máximo de atração do amor de Deus por um mundo que não conhece sequer a definição desse
princípio.
!13
O amor de Deus só poderá ser sondado se a morte de Seu Filho sobre a cruz for compreendida e apreciada.
Nunca haverá sinergismo entre Deus e o homem, sem a atração da cruz. “Ninguém pode vir a Mim a menos
que o Pai, o qual Me enviou, o atrair.” (João 6:44).
Desejo analisar três aspectos relativos à cruz de Cristo que revelam o maior amor revelado aos homens. São
eles:
1) A história de amor;
2) Uma mensagem de amor;
3) O alcance do amor.

1) A história de amor
A história da cruz tem um contexto moral e histórico. Para a sociedade romana, a cruz era a representação
máxima da condenação por meio de uma tortura sem precedentes. Varus, general romano, no ano quarto
antes de Cristo crucificou 2000 dos seus compatriotas. No ano 70 d.C, Tito, outro general romano, liderou a
invasão e destruição de Jerusalém. Nessa ocasião, ordenou a crucifixão de tantos judeus que não se podia
encontrar "espaço para as cruzes, nem cruzes para os corpos". (1)
Para os gentios (gregos, bárbaros e romanos) a cruz era loucura e para os judeus era o maior de todos os
escândalos. “Pois a mensagem da cruz é loucura para os que estão perecendo, mas para nós, que estamos
sendo salvos, é o poder de Deus. Pois está escrito: ‘Destruirei a sabedoria dos sábios e rejeitarei a
inteligência dos inteligentes’. Onde está o sábio? Onde está o erudito? Onde está o questionador desta era?
Acaso não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo? Visto que, na sabedoria de Deus, o mundo não O
conheceu por meio da sabedoria humana, agradou a Deus salvar aqueles que creem por meio da loucura
da pregação.” (1 Coríntios 1:18-21).
Já para os gregos, amantes da filosofia e da sabedoria, a cruz era pura insensatez. Eles amavam a lógica, a
ciência e os descobrimentos intelectuais. A ideia de que poderiam ser salvos por um galileu sem expressão
social ou projeção na filosofia humana e que havia sido morto da forma mais humilhante pelos romanos
(crucifixão) era completamente desnecessária e, por isso, considerada loucura.
A cruz tornou-se escândalo para os judeus, pois esperavam um Messias que lutasse contra os seus
opressores, retirasse a bandeira romana que tremulava na cúpula do Sinédrio e restaurasse o reino de Israel.
Não queriam um Messias que os libertasse do jugo do pecado, apenas do jugo romano. Expectantes,
aguardavam um libertador que matasse seus inimigos, não que morresse por eles. Ansiavam por um líder
revolucionário, não um condenado à morte. Mas para os que creem, a cruz de Cristo é uma misteriosa e
cósmica combinação de tragédia e vitória, escândalo e honra, derrota e triunfo, vergonha e apreço. Essa é a
ironia da cruz, uma ironia que nos salva, transforma e liberta.
Por que o símbolo da cruz tem superado os demais símbolos do cristianismo, tais como o peixe ou até
mesmo o hexagrama presente na Estrela de Davi? O que é mais importante: a cruz ou Cristo? Nenhum dos
apóstolos exaltou a cruz acima de Cristo. Jamais falaram da cruz sem Cristo, nem tampouco elevaram o
símbolo mais que o simbolizado.
A cruz é a dramatização do maior sofrimento suportado pelo amor Ágape para a salvação de uma raça
condenada pelo pecado. Essa morte foi, sem dúvida, a maior combinação de propiciação e expiação
manifesta em todo o universo. Propiciação significa desviar a ira de Deus sobre o condenado e expiação
significa cobrir pecados, remover pecados. Estas duas obras Deus fez na cruz por meio da morte de Seu
Filho. A maior manifestação da ira de Deus contra o pecado e de Seu amor pela raça caída ocorreu
simultaneamente na cruz do Calvário e Cristo nela morrendo. Essa dupla transação atendeu tanto as
demandas da justiça quanto as necessidades do pecador para a sua redenção. O fato de se realizar tal
transação em uma só Pessoa, em um só evento, é uma questão de glória eterna! Jesus desceu ao Hades por
nós! Jesus veio para viver e morrer pelo homem.
Embora a vida de Cristo e Sua encarnação tenham dividido a história universal ao meio, não são nos
registros da história humana que encontramos as grandes revelações da cruz, mas em Sua Palavra. Os
evangelhos dedicam um espaço desproporcional à história de Sua morte vicária. A última semana de Sua
vida terrena e os eventos do Calvário receberam devida importância. Os evangelistas Mateus e Marcos
!14
dedicaram um terço de seus evangelhos para registrarem a última semana de Seu ministério. Lucas, o único
gentio a escrever um dos quatro evangelhos, dedicou um quarto de sua narrativa para descrever a paixão de
Cristo. E o último entre os evangelistas, o apóstolo João, dedicou a metade de seu evangelho para contar a
história da cruz.
A história da cruz de Cristo representa Sua obra em diversos aspectos; representa a união por Ele promovida
em uma linha horizontal, unindo todos os povos. E em uma linha vertical, a cruz de Cristo uniu o homem de
volta à Deus. “Portanto, lembrai-vos que outrora vós, gentios na carne, chamados circuncisão, feita pela
mão dos homens, estáveis naquele tempo sem Cristo, separados da comunidade de Israel, e estranhos aos
pactos da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo. Mas agora, em Cristo Jesus, vós, que
antes estáveis longe, já pelo sangue de Cristo chegastes perto. Porque Ele é a nossa paz, o qual de ambos
os povos fez um; e, derrubando a parede de separação que estava no meio, na Sua carne desfez a
inimizade... e pela cruz reconciliar ambos com Deus em um só corpo, tendo por ela matado a
inimizade.” (Efésios 2:11-14 e 16). “Pelo que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas
já passaram; eis que tudo se fez novo. Mas todas as coisas provêm de Deus, que nos reconciliou consigo
mesmo por Cristo, e nos confiou o ministério da reconciliação; pois que Deus estava em Cristo
reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões; e nos encarregou da
palavra da reconciliação.” (2 Coríntios 5:17-19).
Se houve alguém que tenha entendido o significado da cruz, esse Alguém foi Jesus. A cruz sempre esteve em
Seu caminho. Durante longos anos de silêncio biográfico, Jesus Se preparou para a Sua hora na carpintaria
de José. Todas as vezes que carregava uma tora ou golpeava o martelo, perfurando a madeira com pregos,
Ele se preparava para os sofrimentos que envolveriam a Sua morte.
É preciso falar sobre a centralidade da cruz de Cristo e exaltar o grande sacrifício feito para a nossa
salvação. Este foi o tema e a verdade presente para a igreja primitiva. A morte de Cristo encontra-se no
centro de Sua Missão. Esta deve ser a história central de nossa existência, pois é o maior de todos os
registros do mais puro amor.

2) Uma mensagem de amor


“Suspenso na cruz, Cristo era o evangelho. ... "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!" (João
1:29). Não conservarão nossos membros de igreja o olhar num Salvador crucificado e ressuscitado, no qual
se centralizam suas esperanças de vida eterna? Esta é nossa mensagem, nosso argumento, nossa doutrina,
nossa advertência ao impenitente, nosso encorajamento para os que choram, a esperança para todo crente. Se
pudermos suscitar um interesse na mente dos homens que os leve a fixar os olhos em Cristo, poderemos
afastar-nos, recomendando-lhes tão-somente que continuem a fixar o olhar no Cordeiro de Deus. Aquele
cujos olhos estão fixos em Jesus abandonará tudo. Morrerá para o egoísmo.” (2)
O Evangelho não é um conselho. Não é boas broncas, mas boas-novas; não é um convite para fazer algo,
mas uma declaração do que Deus fez; não uma exigência, mas uma oferta.
A mensagem da cruz foi composta de sete expressões. As sete últimas palavras de Jesus sobre a cruz não
foram palavras de queixa ou de amargura, mas expressões repletas de amor, coragem e entrega a uma raça
que dEle tanto necessitava. Foram sete sentenças, sete frases curtas, mas cheias de sentido. Os evangelhos
segundo Mateus e Marcos relatam apenas uma delas, Lucas por sua vez revelou três locuções, e João, em
seu evangelho, registrou outras três.
Jesus poderia ter gritado de dor, mas Sua primeira expressão foi uma oração pelos malfeitores e executores
de Sua morte. “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem!” (Lucas 23:34). Na cruz, Jesus colocou
em prática o sermão da montanha. Sua oração retardou o juízo de Deus sobre Jerusalém por 40 anos.
Em seguida, em Sua segunda expressão proferida sobre a cruz, Jesus prometeu o paraíso a um ladrão
arrependido. “Em verdade Te digo hoje, que estarás comigo no Paraíso.” (Lucas 23:43). Foi Agostinho de
Hipona que afirmou: “Há somente um exemplo de arrependimento na hora da morte presente nas Escrituras,
para que ninguém presuma e apenas um, para que ninguém se desespere”.
A terceira mensagem de amor deixada por Cristo na cruz foi dirigida a Sua mãe, aquela que se dedicou aos
Seus cuidados e que, apesar de suas falhas, O amava de todo o coração e de todas as suas forças. “Mulher,
eis ai o teu filho”... e “filho, eis ai tua mãe.” (João 19:26-27). Essa foi a maior manifestação de amor de um
!15
filho por sua mãe.
A crucificação ocorreu às nove horas da manhã (hora terceira no cômputo judaico), e as três primeiras
palavras parecem ter sido pronunciadas perto deste período. Então, houve silêncio e por volta do meio-dia
(hora sexta para os judeus) o sol, que estava em seu meridiano, miraculosamente desapareceu, uma
escuridão sobrenatural envolveu a Terra. Tal escuridão permaneceu por três horas. De repente, por volta das
três da tarde (hora nona em Israel), Jesus rompeu o silêncio e pronunciou as quatro últimas frases de amor e
redenção.
“Eloi, Eloi, lamá sabactâní." “Deus meu, Deus meu, por que Me desamparaste?” (Mateus 27:46 e Marcos
15:34). O que nos chama atenção é que esta expressão está registrada em Salmos 22. Davi, em visão
profética, descreveu os sofrimentos do Filho de Deus.
“Meu Deus! Meu Deus! Por que Me abandonaste? Por que estás tão longe de salvar-Me, tão longe dos
meus gritos de angústia?... Mas Eu sou verme, e não homem, motivo de zombaria e objeto de desprezo do
povo. Caçoam de Mim todos os que Me veem; balançando a cabeça, lançam insultos contra Mim, dizendo:
‘Recorra ao Senhor! Que o Senhor O liberte! Que Ele O livre, já que Lhe quer bem!’ Contudo, Tu mesmo
Me tiraste do ventre; deste-Me segurança junto ao seio de Minha mãe. Desde que nasci fui entregue a Ti;
desde o ventre materno és o Meu Deus. Não fiques distante de Mim, pois a angústia está perto e não há
ninguém que Me socorra... Como água Me derramei, e todos os Meus ossos estão desconjuntados. Meu
coração se tornou como cera; derreteu-se no Meu íntimo. Meu vigor secou-se como um caco de barro, e a
Minha língua gruda no céu da boca; deixaste-Me no pó, à beira da morte. Cães Me rodearam! Um bando
de homens maus Me cercou! Perfuraram Minhas mãos e Meus pés. Posso contar todos os Meus ossos, mas
eles Me encaram com desprezo. Dividiram as Minhas roupas entre si, e tiraram sortes pelas Minhas
vestes.” (Salmos 22:1-2, 6-18).
Em completo abandono espiritual, o Filho de Deus profere a quinta mensagem de amor: “Tenho
sede!” (João 19:28). Esta também era uma expressão profética de Davi: “Puseram fel na Minha comida e
para matar-Me a sede deram-Me vinagre.” (Salmos 69:21).
É difícil explicar que o Criador da molécula "H2O" tenha pedido água e recebido um entorpecente como
alternativa para mitigar a Sua sede. Aquele que acalmou as encapeladas ondas do mar e que havia destruído
o mundo por um dilúvio mediante Sua palavra, estava com sede. Temos aqui uma demonstração de Sua
humanidade e de Seu amor em derramar Sua alma na agonia da morte para nos salvar da maldição do
pecado.
“Naquela densa treva ocultava-Se a presença de Deus. Ele faz da treva o Seu pavilhão, e esconde Sua glória
dos olhos humanos. Deus e Seus santos anjos estavam ao pé da cruz. O Pai estava com o Filho. Sua
presença, no entanto, não foi revelada. Houvesse Sua glória irrompido da nuvem, e todo espectador humano
teria sido morto. E naquela tremenda hora não devia Cristo ser confortado com a presença do Pai. Pisou
sozinho o lagar, e dos povos nenhum havia com Ele. Na espessa escuridão, velou Deus a derradeira agonia
humana de Seu Filho.” (3)
O brado da sexta mensagem de amor repercutiu por todo o universo: “Está Consumado!” (João 19:30). Em
seguida, Sua sétima palavra, imortalizada no Salmo 31, versículo 5: “Nas Tuas mãos entrego o Meu
espírito; resgata-Me, Senhor, Deus da verdade.”. Até no ápice do sofrimento físico, psicológico e espiritual
Jesus tinha as Escrituras em Sua mente; por isso era vitorioso.
Lucas registrou a última prédica da seguinte forma: “Jesus bradou em alta voz: ‘Pai, nas tuas mãos entrego
o Meu espírito’. Tendo dito isso, expirou”. (Lucas 23:46).
Estas foram as sete expressões que construíram a maior mensagem de amor já proferida.
Qual foi a "causa mortis" de Cristo? “Não foi, porém, a lança atirada, não foi a dor da crucifixão, que
produziu a morte de Jesus. Aquele grito soltado ‘com grande voz’ (Lucas 23:46) no momento da morte, a
corrente de sangue e água que Lhe fluiu do lado, demonstravam que Ele morreu pela ruptura do coração.
Partiu-se-Lhe o coração pela angústia mental. Foi morto pelo pecado do mundo.” (4)
“Toda dor suportada pelo Filho de Deus sobre a cruz, as gotas de sangue que corriam de Sua fronte, Suas
mãos e pés, as convulsões de agonia que sacudiam Seu corpo, e a indescritível angústia que enchia Sua alma
quando o Pai ocultou dEle a face, falam ao homem, dizendo: Foi por amor de ti que o Filho de Deus
consentiu em levar sobre esses odiosos crimes; por ti Ele rompeu o domínio da morte, e abriu os portões do
!16
Paraíso e da vida imortal. Aquele que acalmou as encapeladas ondas pela Sua Palavra e andou sobre as
espumejantes vagas, que fez demônios tremerem e a doença fugir a Seu toque, que chamou os mortos à vida
e abriu os olhos dos cegos, ofereceu-Se a Si mesmo sobre a cruz como o último sacrifício pelo homem. Ele,
o portador de pecados, suportou uma punição judicial pela iniquidade e tornou-Se Ele mesmo pecado, pelo
homem.” (5)

3) O alcance do amor
A cruz deixou de ser uma forma de execução e tornou-se símbolo da nossa salvação; é o centro da história e
da teologia. A morte de Cristo não foi um acontecimento natural, mas penal. Morreu nossa morte, a morte do
pecado para expiação, resgate, justificação e reconciliação. Foi um ato simultâneo de castigo e anistia,
severidade e graça, justiça e misericórdia. A substituição de Cristo na cruz por nós não é apenas um fato
histórico, mas uma necessidade humana. Não havia outra forma de salvação. Na cruz, ao invés de nos
castigar, Deus em Cristo suportou nosso castigo e separou o inseparável: o pecado e a morte. No Calvário,
nós pecamos e Ele morreu.
Seu amor nos desperta e nos constrange. “Nós O amamos porque Ele nos amou primeiro”. Se Jesus não
morresse, o mundo teria morrido. Diante de Jesus a neutralidade é impossível; ou O aceitamos ou O
rejeitamos!
“Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na
carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e se entregou a Si mesmo por mim.” (Gálatas 2:20). A
cruz é o centro de nossa vida, ministério e fé. Ela deve absorver nossa atenção, preencher nosso horizonte e
dominar nossa mente, pois seu amor confronta toda a forma de autonomia humana.
“O significado da morte de Cristo será percebido por santos e anjos. Homens caídos não teriam um lar no
Paraíso de Deus sem o Cordeiro morto desde a fundação do mundo. ... Os anjos atribuem honra e glória a
Cristo, pois nem mesmo eles se encontram seguros, exceto ao contemplarem os sofrimentos do Filho de
Deus. É através da eficácia da cruz que os anjos do Céu são protegidos contra a apostasia. Sem a cruz eles
não se encontrariam em maior segurança contra o mal, do que os anjos estavam antes da queda de Satanás. A
perfeição angélica fracassou no Céu. A perfeição humana fracassou no Éden. ... O plano de salvação,
tornando manifesta a justiça e amor de Deus, provê eterna salvaguarda contra a rebelião dos mundos não
caídos. ... A morte de Cristo sobre a cruz do Calvário é a nossa única esperança neste mundo, e será o nosso
tema no mundo por vir.” (6)
A graça de Cristo oferecida gratuitamente na cruz não é um motor de partida, mas o combustível que deve
mover nossa vida e marcar nossa existência. “Tudo é de Deus; a única coisa minha mesmo com a qual eu
posso contribuir para minha própria redenção é o pecado do qual eu preciso ser redimido.” Willian Temple.
No final deste capítulo, creio que aprendemos um pouco mais das palavras de Jesus: “Mas Eu, quando for
levantado da terra, atrairei todos a Mim.” (João 12:32. NVI).

(1) Stott, John R. W. “A Cruz de Cristo”, p. 10.


(2)
WHITE, Ellen. “SDA Bible Commentary”, vol. 6”, p. 1.113.
(3)
WHITE, Ellen. “O Desejado de Todas as Nações”, p. 724.
(4)
WHITE, Ellen. “O Desejado de Todas as Nações”, p. 741.
(5)
WHITE, Ellen. “História da Redenção”, p. 225.
(6)
WHITE, Ellen. “Signs of the Times, 30 de dezembro de 1889”, p. 206.

!17
Capítulo 4- Amor ao Pecador e Ódio ao Pecado
Por Davi Paes Silva

Deus é amor, justiça, santidade e pureza absolutas. Assim era o caráter do homem ao sair das mãos do
Criador. Sendo criado à imagem e semelhança de Deus, o ser humano é alvo especial do amor de Deus. Ao
ser trazido à existência na criação, refletia no semblante a estampa do caráter divino. A criação do homem
foi um ato do amor divino. Quando consideramos o ato criador de Deus nos primeiros cinco dias descritos
em Gênesis capítulo 1, observamos que “Ele falou, e tudo se fez; Ele mandou, e logo tudo
apareceu.” (Salmo 33:9).
Moises registrou a criação em Gênesis 1 com as palavras: “Disse Deus: Haja luz. E houve luz...Haja um
firmamento no meio das águas...ajuntem-se num só lugar as águas...Produza a terra os vegetais...Haja
luminares no firmamento celeste...Produzam as águas cardumes de seres vivos...Produza a terra seres
vivos.” versos 3-24.
A respeito da criação do ser humano, encontramos uma descrição totalmente diferente. “Disse Deus:
Façamos o homem à Nossa imagem, conforme Nossa semelhança...E Deus criou o homem à Sua imagem; a
imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.” versos 26 e 27.
“E o Senhor Deus formou o homem do pó da terra e soprou-lhe nas narinas o fôlego de vida; e o homem
tornou-se alma vivente.” (Gênesis 2:7).
A maneira de Deus formar o homem foi uma obra da arte divina, e exigiu atenção especial do Criador à
criatura. Repetimos: a criação do homem foi um ato do soberano amor de Deus.
Imagine a tremenda dor que Deus sentiu quando o homem pecou. De fato, antes de consumar o seu pecado,
o homem rejeitou a soberania de Deus, submeteu-se ao controle do arqui-inimigo, desconsiderou a ordem do
seu Criador e aceitou as falsas sugestões de Satanás.
Deus havia dito ao casal recém-criado: “Podes comer livremente de qualquer árvore do jardim, mas não
comerás da árvore do conhecimento do bem e do mal; porque no dia em que dela comeres, com certeza
morrerás.” (Gênesis 2:16 e 17).
Já conhecemos a história relatada no terceiro capítulo do Gênesis: Eva separou-se do esposo, aproximou-se
da árvore proibida; travou um perigoso diálogo com o inimigo, descreu de Deus, creu em Satanás, tornou-se
instrumento do inimigo para levar o esposo ao pecado, e ambos desobedeceram a ordem divina.

Resultados do pecado
Após a desobediência, o casal tornou-se realmente nu na alma e no corpo, fizeram aventais de folha de
figueira (símbolo da justiça própria), esconderam-se de Deus. Sendo chamados pelo Criador, começaram a
acusar-se entre si e atribuíram a culpa ao Senhor que os criara.
As criaturas que estavam sob o seu domínio, rebelaram-se contra o ser humano. A própria natureza sofreu os
efeitos do pecado: “Ela (a terra) te produzirá espinhos e ervas daninhas; e terás de comer as plantas do
campo. Do suor do teu rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois dela foste tirado; porque es pó,
e ao pó tornarás.” (Gênesis 3:18 e 19).
Todavia, o resultado mais funesto do pecado foi a separação de Deus, que seria eterna caso Jesus não
houvesse tomado, no mesmo dia, o lugar do pecador, oferecendo-Se como sacrifício para livrar o homem
culpado da condenação eterna.
Um dos mais belos versos da Bíblia, memorizado por milhares de pessoas em todo o mundo, reza: “Porque
Deus amou tanto o mundo, que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que nEle cré não pereça,
mas tenha a vida eterna.” (João 3:16). !18
Pela Sua própria natureza e caráter, Deus não pode tolerar o pecado. O Criador é refratário ao pecado. Por
outro lado, uma das principais características de Deus é o amor. “Amados, amemos uns aos outros, porque o
amor é de Deus, e todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não
conhece a Deus, porque Deus é amor.” (1 João 4:7 e 8).
No mesmo dia em que o primeiro casal se separou de Deus mediante o pecado, Jesus Se colocou como
substituto do ser humano para receber a punição que este merecia. Diz o profeta messiânico:
“Verdadeiramente Ele tomou sobre Si as nossas enfermidades e levou sobre Si as nossas dores; e nós O
consideramos aflito, ferido de Deus e oprimido. Mas Ele foi ferido por causa das nossas transgressões e
esmagado por causa das nossas maldades; o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele, e por Seus
ferimentos fomos sarados. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas, cada um se desviava pelo seu
caminho; mas o Senhor fez cair a maldade de todos nós sobre Ele.” (Isaías 53:4-6).
“Cristo foi tratado como nós merecíamos, para que pudéssemos receber o tratamento a que Ele tinha direito.
Foi condenado pelos nossos pecados, nos quais não tinha participação, para que fôssemos justificados por
Sua justiça, na qual não tínhamos parte. Sofreu a morte que nos cabia, para que recebêssemos a vida que a
Ele pertencia. ‘Pelas Suas pisaduras fomos sarados’.” (1)
Paulo afirmou a mesma verdade com as seguintes palavras: “Aquele que não conheceu pecado (Cristo)
Deus O fez pecado por nós, para que nEle (Cristo) fôssemos feitos justiça de Deus.” (2 Coríntios 5:31).
Se queremos entender como Deus odeia o pecado e ama o pecador, olhemos o Calvário. Ali Jesus sofreu a
punição divina contra o pecado do ser humano, e ao mesmo tempo revelou como Deus ama o pecador.
“’Para santificar o povo pelo Seu próprio sangue’, Cristo ‘padeceu fora da porta’. Pela transgressão da Lei
divina, Adão e Eva foram banidos do Éden. Cristo, nosso substituto, devia sofrer fora dos limites de
Jerusalém. Ele morreu fora da porta, onde eram executados malfeitores e homicidas. Plenas de sentido são
as palavras : ‘Cristo nos resgatou da maldição da Lei, fazendo-Se maldição por nós.’ (Gálatas 3:13).” (2)
Pela desobediência à Lei de Deus, o homem tornou-se maldito. Cristo, em Sua natureza humana,
desenvolveu caráter perfeito, obedecendo plenamente a Lei. Sendo bendito, tornou-Se maldito, ao assumir
os pecados de toda a humanidade, a fim de que o maldito (homem desobediente) se tornasse bendito pela
justiça de Cristo que lhe é imputada quando ele crê no unigênito filho de Deus.
“Sobre Cristo como nosso substituto e penhor, foi posta a iniquidade de nós todos. Foi contado como
transgressor, a fim de que nos redimisse da condenação da Lei. A culpa de todo descendente de Adão
pesava-Lhe sobre a alma. A ira de Deus contra o pecado, a terrível manifestação de Seu desagrado por causa
da iniquidade, encheram de consternação a alma do Seu Filho. Toda a Sua vida anunciara Cristo ao mundo
caído as boas novas da misericórdia do Pai, de Seu amor cheio de perdão. A salvação para o maior pecador
fora Seu tema. Mas agora, com o terrível peso de culpas que carrega, não pode ver a face reconciliadora do
Pai. O afastamento do semblante divino, do Salvador, nessa hora de suprema angústia, penetrou-Lhe o
coração com uma dor que nunca poderá ser bem compreendida pelo homem.” (3)

A Cruz, Centro de Atração


Em sua primeira carta aos cristãos de Corinto, Paulo enfatiza a centralidade da cruz no plano da salvação.
Afirma ele: “Pois a palavra da cruz é insensatez para os que estão perecendo, mas para nós que estamos
sendo salvos, é o poder de Deus. Pois está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios e anularei a
inteligência dos inteligentes. Onde está o sábio? Onde está o instruído? Onde está o questionador desta
era? Por acaso Deus não tornou absurda a lógica deste mundo? Visto que, na sabedoria de Deus, o mundo
por sua própria sabedoria não O conheceu, foi do agrado de Deus salvar os que creem por meio do
absurdo da pregação. Pois, enquanto os judeus pedem sinais e os gregos buscam sabedoria, nós pregamos
Cristo crucificado, que é motivo de escândalo para os judeus e absurdo para os gentios. Mas para os que
foram chamados, tanto judeus como gregos, Cristo é poder de Deus e sabedoria de Deus.” (1 Coríntios
1:18-24).
Depois de aproximadamente dois mil anos desde que Cristo, o Deus-homem, foi pregado na cruz entre dois
criminosos, a cruz se tornou objeto de admiração e estima. Contudo, no tempo de Paulo, afirmar que alguém
que morreu no pior instrumento romano de tortura, entre dois criminosos, era o Salvador da humanidade
!19
provocava ódio dos judeus e ridículo dos gregos.
Os judeus, pervertendo as profecias que falavam de um Messias sofredor (Isaías 53), aguardavam um
Messias político que destronaria os odiados romanos e faria de Israel uma potência político-militar. O fato
de Jesus assumir a culpa humana e entregar Sua imaculada vida na cruz do Calvário não preenchia as
arrogantes expectativas dos líderes judeus.
Os gregos criam que a libertação da humanidade ocorreria por meio do conhecimento filosófico. Os deuses
da mitologia grega possuíam as mesmas paixões depravadas e natureza cruel e vingativa dos seres humanos
separados do verdadeiro Deus. Para eles, pregar que o Deus-homem Se humilhara a ponto de submeter-Se
aos escárnios, zombarias e degradante morte na cruz era considerado um tremendo absurdo.
Mas para Paulo, que tivera um encontro com o Salvador que transformara radicalmente sua vida e carreira, a
cruz estava revestida de profundo significado. Ali, no abjeto madeiro, Deus revelara Seu grande amor pelo
homem caído, e Seu tremendo ódio contra o pecado. Afirmou o apóstolo: “Mas longe de mim gloriar-me, a
não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu para o
mundo.” (Gálatas 6:14).
“Já estou crucificado com Cristo, portanto, não sou mais eu quem vive, mas é Cristo que vive em mim. E
essa vida que vivo agora no corpo, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e Se entregou por
mim.” (Gálatas 2:19 e 20).
E aos cristãos de Filipos, ele exortou: “Tende em vós o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus, que,
existindo em forma de Deus, não considerou o fato de ser igual a Deus algo a que devesse se apegar, mas,
pelo contrário, esvaziou-Se a Si mesmo, assumindo a forma de servo e fazendo-Se semelhante aos homens.
Assim, na forma de homem, humilhou a Si mesmo, sendo obediente até a morte, e morte de
cruz.” (Filipenses 2:5-8).
E qual era o tema central da sua mensagem? Declarou ele aos cristãos de Corinto: “Irmãos, quando fui até
vos, anunciando-vos o mistério de Deus, não fui com linguagem pomposa nem de sabedoria, pois resolvi
nada saber entre vós, a não ser Jesus Cristo, e este, crucificado.” (1 Coríntios 2:1 e 2).
Era inconcebível aos pagãos a ideia de um Deus humilhar-se a tal ponto, como o fez Jesus, sacrificando-Se a
Si mesmo pelo resgate da humanidade. A ideia de um Deus com tal caráter humilde era realmente
inaceitável diante da mentalidade pagã.
Na mente dos gentios, o homem deveria ser sacrificado para apaziguar um Deus irado. No Cristianismo,
Deus Se sacrifica para redimir a humanidade. No plano da salvação, Deus deixa Sua elevada posição de
comando, toma a forma humana, e oferece-Se como sacrifício pelo homem pecador.
O próprio Deus declarou: “A vida da carne está no sangue, e Eu o tenho dado a vós sobre o altar, para fazer
expiação por vós, porque é o sangue que faz expiação pela vida.” (Levítico 17:11).
No plano divino de salvação quem faz o sacrifício pelo transgressor da Lei é o próprio Deus. Cristo afirmou
que Ele tinha poder de depor Sua vida e de recuperá-la. Ele morreu no dia e hora previstos pela profecia e
pelo sistema de sacrifícios tipificado no santuário terrestre. Nenhum ser humano teria poder de matá-lO. Ele
mesmo Se ofereceu como expiação pelo pecado da humanidade.

Palavra dos Reformadores do Século XVI


Lefevre, reformador francês, declarou: “É Deus que dá, pela fé, a justiça que, somente pela graça, justifica
para a vida eterna.” Tratando dos mistérios da redenção, exclamou: ‘Oh! Que indizível grandeza a daquela
permuta----é condenado Aquele que não tem pecado, e o que e culpado fica livre; o Bem-aventurado suporta
a maldição, e o maldito recebe a benção; a Vida morre, e os mortos vivem; a Glória é submersa em trevas, e
é revestido de gloria aquele que nada conhecia além da confusão de rosto.’” (4)
Guilherme Farel, discípulo de Lefevre, afirmou: “’A salvação é de graça.’ ‘O inocente é condenado, e o
criminoso, absolvido.’ ‘É unicamente a cruz de Cristo que abre as portas do Céu e fecha as do inferno.’” (5)
Joao Calvino, também reformador francês, encontrou Cristo na Bíblia. “’Ó Pai’, exclamou ele, ‘Seu
sacrifício apaziguou Tua ira; Seu sangue lavou minhas impurezas; Sua cruz arrostou minha maldição; Sua
morte fez expiação por mim. Imaginávamos para nós muitas tolices inúteis, mas Tu colocaste Tua Palavra
diante de mim como uma tocha, e tocaste-me o coração a fim de que eu abominasse todos os outros méritos,
com exceção dos de Jesus.’” (6)
!20
Ellen G. White e a mensagem da cruz
“Se os que hoje estão ensinando a Palavra de Deus, exaltassem a cruz de Cristo mais e mais, haveria muito
maior sucesso em seu ministério. Se os pecadores forem levados a contemplar com fervor a cruz, se
alcançarem visão ampla do Salvador crucificado, reconhecerão a profundeza da compaixão de Deus e a
malignidade do pecado.
“A morte de Cristo prova o grande amor de Deus pelo homem. É o penhor de nossa salvação. Remover do
cristianismo a cruz, seria como apagar do céu o Sol. A cruz nos aproxima de Deus, reconciliando-nos com
Ele. Com a enternecedora compaixão do amor de um pai, Jeová considera o sofrimento que Seu Filho teve
de suportar para salvar a raça da morte eterna, e nos recebe no Amado.
“Sem a cruz não teria o homem união com o Pai. Dela depende toda a nossa esperança. Daí brilha a luz do
amor do Salvador; e quando ao pé da cruz o pecador contempla Aquele que morreu para salvá-lo, pode
rejubilar-se com grande alegria, pois seus pecados estão perdoados. Ao ajoelhar-se em fé junto à cruz,
alcançou ele o mais alto lugar que o homem pode atingir.
“Por intermédio da cruz aprendemos que o Pai celestial nos ama com amor infinito. Podemos admirar-nos
de haver Paulo exclamado: ‘Longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus
Cristo’?” (Gálatas 6:14). É nosso privilégio também nos gloriar na cruz, nosso privilégio dar-nos
inteiramente a Ele, como Ele Se deu por nós. Então, com a luz que jorra do Calvário a brilhar em nossa face,
podemos sair para revelar esta luz aos que estão em trevas.” (7)
“Para o entendimento de multidões que vivem no presente, a cruz do Calvário está cercada de sagradas
recordações. Santas associações estão relacionadas com as cenas da crucifixão. Mas nos dias de Paulo a cruz
era olhada com sentimentos de repulsa e horror. Exaltar como o Salvador da humanidade Aquele que havia
encontrado a morte sobre a cruz, poderia naturalmente despertar o ridículo e a oposição.
“Paulo bem sabia como sua mensagem seria considerada tanto pelos judeus como pelos gregos de Corinto.
‘Nós pregamos a Cristo crucificado’, admitiu ele, ‘que é escândalo para os judeus, e loucura para os
gregos.’ (1 Coríntios 1:23). Entre seus ouvintes judeus havia muitos que ficariam irados com a mensagem
que ele estava para proclamar. Na estimação dos gregos, suas palavras seriam absurda loucura. Ele seria
considerado como um débil mental ao tentar mostrar como a cruz poderia ter qualquer relação com o
reerguimento da raça ou a salvação da humanidade.
“Mas para Paulo, a cruz era o único objeto de supremo interesse. Desde que fora detido em sua carreira de
perseguição contra os seguidores do crucificado Nazareno, jamais cessara de se gloriar na cruz. Nesse tempo
fora-lhe dada uma revelação do infinito amor de Deus, como revelado na morte de Cristo; e maravilhosa
transformação tinha-se operado em sua vida, pondo em harmonia com o Céu todos os seus planos e
propósitos. Desde esse momento tornara-se um novo homem em Cristo. Ele sabia por experiência pessoal
que quando um pecador uma vez contempla o amor do Pai, como se vê no sacrifício de Seu Filho, e se rende
à divina influência, tem lugar uma mudança de coração, e desde então Cristo é tudo em todos.” (8)

(1)
WHITE, Ellen. “O Desejado de Todas as Nações”, p. 25.
(2)
WHITE, Ellen. “O Desejado de Todas as Nações”, p. 741.
(3)
WHITE, Ellen. “O Desejado de Todas as Nações”, p. 753.
(4)
WHITE, Ellen. “O Conflito dos Séculos”, p. 226.
(5)
WHITE, Ellen. “O Conflito dos Séculos”, p. 227.
(6)
WHITE, Ellen. “O Conflito dos Séculos”, p. 235.
(7)
WHITE, Ellen. “Atos dos Apóstolos”, pp. 209, 210.
(8)
WHITE, Ellen. “Atos dos Apóstolos”, p. 245.

!21
Capítulo 5 - O Arrependimento
Por Marcos Pedrazas

Na jornada rumo à salvação, existem passos que necessariamente devem ser dados. Entre eles está o
arrependimento. “O arrependimento é um dos primeiros frutos da graça salvadora.” (1)
Na Bíblia, o chamado ao arrependimento é encontrado em diversas ocasiões. Escrevendo aos judeus cativos
em Babilônia, o profeta Ezequiel disse: “Arrependei-vos, e convertei-vos de todas as vossas transgressões, e
a iniquidade não vos servirá de tropeço.” (Ezequiel 18:30).
João Batista, cumprindo a missão de preparar o caminho para a vinda do Messias, fez a mesma advertência:
“Arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos céus.” (Mateus 3:2).
Em seu ministério na Terra, Jesus também chamou o povo ao arrependimento: “Desde então começou Jesus
a pregar e a dizer: 'Arrependei-vos, porque o reino dos céus é chegado’.” (Mateus 4:17).
A mensagem dos apóstolos não foi diferente. Na pregação que resultou na conversão de milhares de pessoas,
Pedro afirmou: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para remissão de
vossos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo.” (Atos 2:38).
Em todas as épocas o Senhor ordenou aos Seus filhos que se arrependessem.
“Mas Deus, não levando em conta os tempos da ignorância, manda agora que todos os homens em todo
lugar se arrependam” (Atos 17:30). Deus manda aos homens que se arrependam. A ordem se dirige a todos.
Todos necessitam do arrependimento porque todos são pecadores.
Cristo disse: “Eu não vim chamar justos, mas pecadores ao arrependimento.” (Lucas 5:32).

O QUE É O ARREPENDIMENTO?
O arrependimento é uma parada obrigatória no início do caminho que conduz à salvação. O homem natural
anda sem Deus e é escravo do pecado, mas o arrependimento “prepara o coração para a aceitação de Cristo
como único Salvador, única esperança do pecador perdido.” (2)
No processo da salvação, o primeiro passo é dado por Deus. A iniciativa da salvação não foi e não é do
homem. O ato inicial da operação-resgate ocorreu quando a Divindade se reuniu na eternidade passada e
decidiu enviar Jesus para viver e morrer em nosso lugar. Nessa mesma ocasião, foi elaborado o plano da
salvação em todos os seus detalhes.
O ponto culminante da operação foi a morte de Jesus na cruz do Calvário. Desse fato decorrem todas as
!22
etapas do plano da salvação.
“Cristo atrai o pecador através da manifestação do Seu amor sobre a cruz, e isso subjuga o coração,
impressiona a mente e inspira contrição e arrependimento na alma.” (3)
É a revelação do precioso amor de Jesus na cruz que atrai o pecador. Ao corresponder à divina atração, o
pecador vê a sua própria pecaminosidade e sente tristeza pelos pecados que cometeu.

TRISTEZA PELO PECADO


“O arrependimento inclui a tristeza pelo pecado e o afastamento dele.” (4)
Em primeiro lugar, o arrependimento compreende a tristeza pelo pecado. Entristecer-se pelo pecado não é
algo comum em nossos dias. Muitos há que conscientemente cometem atos terríveis e, no entanto, seguem
de cabeça erguida, como se nada tivesse acontecido. São moralmente indiferentes. Não procuram agradar a
Deus. Não se preocupam em fazer o que é correto. Vivem apenas para satisfazer os seus prazeres. Na
verdade, não vivem, mas estão espiritualmente mortos em ofensas e pecados. A indiferença ao pecado é um
estímulo para que ele continue a ser cometido. Por outro lado, a tristeza é um passo necessário para que ele
seja abandonado.
A genuína tristeza pelo pecado somente pode ser alcançada através da atuação da Terceira Pessoa da
Divindade, o Espirito Santo. É ele o Agente que opera o arrependimento em nossos corações. A capacidade
para arrepender-se não é encontrada no ser humano. Podemos gastar horas buscando o arrependimento, mas
não o experimentaremos se não nos for dado pelo Espírito Santo. O arrependimento é um dom divino. Não o
possuímos, mas o Senhor nos dá, mediante o seu Espírito.
“Sem a operação divina, o homem não poderia fazer coisa boa. Deus chama todo homem ao
arrependimento, portanto o homem nem mesmo se pode arrepender sem que o Espírito Santo trabalhe em
seu coração”. (5)

Para nos conduzir ao arrependimento, o Espírito Santo realiza três operações na nossa mente:
• Convence-nos da gravidade do pecado;
• Impressiona-nos com a magnitude da justiça de Deus;
• Implanta em nós a convicção de que realmente somos pecadores.
O cuidadoso trabalho do Espírito Santo produz em nós a tristeza pelo pecado. Tal tristeza, porém, não é um
sentimento qualquer. A Bíblia menciona dois tipos de tristeza: uma segundo Deus e outra segundo o mundo.
“Porque a tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação, o qual não traz pesar; mas a
tristeza do mundo opera a morte.” (2 Coríntios 7:10).
O mundo gera uma tristeza, que produz desespero e depressão e cujo final é a morte. Diariamente, milhões
de vidas são ceifadas por doenças psicossomáticas ocasionadas pela “tristeza do mundo.” Alguns, para
escapar dessa tristeza, buscam refúgio em coisas que dão prazer passageiro, como, p/ex, as drogas, a bebida
e o sexo casual, que nada mais são do que uma fuga da realidade, uma forma de preencher o enorme vazio
que sentem.
No mundo a tristeza é um problema sem saída, mas a tristeza segundo Deus conduz ao arrependimento.

O FALSO E O VERDADEIRO ARREPENDIMENTO


“Muitas pessoas não compreendem a verdadeira natureza do arrependimento. Lamentam seus pecados e até
procuram fazer alguma mudança na sua forma de viver por medo de que seus erros lhes causem maiores
sofrimentos. Mas isso não é arrependimento, no sentido bíblico.”(6)
Suponhamos que alguém faça uma besteira enorme, mas inicialmente ninguém sabe ou desconfia de nada. O
autor da besteira pensa que tudo “está bem”. Entretanto, quando os fatos vêm à tona, a sua reputação se
arruína e ele sente-se envergonhado. Não consegue dormir. Fica triste. Chega a pensar que não deveria ter
feito a besteira. Mas se tivesse a segurança de que o erro permaneceria oculto, faria a mesma coisa de novo.
Não há nesse caso um verdadeiro arrependimento. Há apenas remorso - ou falso arrependimento. Um caso
clássico de remorso se vê na história de Judas. Embora tenha traído a Jesus, Judas não desejava a morte
dEle. Pensava que o Mestre usaria o Seu poder para escapar da prisão e do sofrimento. Mas quando o traidor
!23
percebeu que as coisas não sairiam como havia planejado, caiu em desespero, não por ter cometido o ato
pecaminoso, mas pela consequência do seu pecado.
O remorso resulta da percepção de que o erro produziu consequências indesejadas. Já o verdadeiro
arrependimento advém da tristeza pelo pecado ter ferido alguém que nos ama - Jesus, porque todo pecado
ofende a Ele - e nos casos em que o pecado atinge outra pessoa, também por haver ofendido ao próximo.
Na vida de Davi encontramos diversos exemplos de arrependimento. Ele temia a Deus, mas, eventualmente,
caía em pecado. Contudo, não permaneceu caído. Aceitou o chamado divino ao arrependimento. Chegou a
cometer pecados graves, mas se humilhou e voltou para Deus. As consequências do pecado permaneceram,
mas o Senhor o aceitou de volta.
Deus nunca rejeita um pecador arrependido! Não importa a gravidade ou a repercussão do erro, não importa
quanto dano foi causado ou quantas pessoas foram prejudicadas: Deus aceita imediatamente o pecador
arrependido, como se ele nunca houvesse pecado!
Davi cometeu um erro gravíssimo, algo que hoje seria considerado um crime hediondo. Ele desejava ocultar
o seu pecado, mas Deus não o permitiu. Houvesse o pecado permanecido oculto, provavelmente Davi não
teria se arrependido. Às vezes Deus permite que os nossos erros sejam revelados para que alcancemos o
arrependimento.
Ao ser confrontado pelo profeta do Senhor, Davi se arrependeu sinceramente. Nessa época, ele compôs o
Salmo 51, um texto clássico sobre o arrependimento e o perdão. Nos versos 2 e 3 do Salmo 51, Davi expõe
sem reservas a sua própria pecaminosidade.
“Lava-me completamente da minha iniqüidade, e purifica-me do meu pecado. Porque eu conheço as minhas
transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim.” (Salmo 51:2 e 3).
Perceber a própria pecaminosidade é um passo necessário para que se alcance o arrependimento.

O AFASTAMENTO DO PECADO
Imaginemos um homem perdido, que vive no pecado. Um dia ele ouve o Evangelho e vê a Deus de uma
maneira como nunca viu antes: um Ser Santo e Justo; e olha para si mesmo como nunca olhou: um pecador
radicalmente depravado. Essa percepção causa tristeza, mas não o deprime, porque o Espírito Santo mostra
o caminho para alcançar a verdadeira alegria: abandonar o pecado e viver para Deus.
O arrependimento compreende o afastamento do pecado. A mera tristeza, embora necessária, não enfrenta
toda a questão. De nada serve entristecer-se pelo pecado e continuar a praticá-lo. A tristeza do mundo leva
ao desespero exatamente porque o pecador não recebe força para vencer os seus defeitos. O problema
continua porque o pecador ainda permanece sob o poder do pecado. No arrependimento ocorre algo
diferente: ao mesmo tempo em que sente tristeza pelo pecado, o pecador conhece o amor de Deus e isso o
enche de alegria. Ele é perdoado e recebe poder para não mais pecar. O problema está resolvido. A provisão
divina é completa!
A pessoa arrependida não se deprime. Ela se arrependeu, e os seus erros ficaram para trás. Ela experimenta o
libertador perdão de Deus.
Charles Spurgeon escreveu o seguinte: “Arrependimento e perdão são colocados juntos na experiência de
todos os cristãos. Jamais houve alguém que, estando sinceramente arrependido dos seus pecados não tivesse
sido perdoado; e, por outro lado, jamais houve alguém que tivesse sido perdoado sem que se arrependesse
dos seus pecados. (...) Abandono do pecado e senso de perdão são coisas que chegam juntas à alma e
habitam nela eternamente. Há duas coisas que agem e reagem uma em relação à outra: a pessoa perdoada
terá sempre se arrependido; e aquela que se arrepende será sempre perdoada.” (7)
No caminho para a salvação, vários fenômenos importantes ocorrem próximos ao arrependimento. Ao
corresponder à atração divina, o pecador se arrepende, é perdoado e justificado, e experimenta a conversão.
“Na proporção que cremos no amor perdoador de Jesus, nos arrependemos; e na proporção que nos
arrependemos do pecado e rejeitamos o mal, nos alegramos na plenitude da justificação que Jesus nos
atribui. Você jamais avaliará o perdão até que sinta o arrependimento; e jamais provará o ato do
arrependimento até que conheça o perdão. Pode parecer estranho, mas é assim mesmo − o amargor do
arrependimento e a doçura do perdão se misturam no gosto gracioso da vida, produzindo felicidade
!24
incomparável.” (8)
O QUE É NECESSÁRIO PARA SE OBTER O ARREPENDIMENTO?
Muitos se desesperam porque não conseguem sentir tristeza pelos pecados que cometem. Reconhecem os
seus erros, mas continuam praticando-os. Desejam sinceramente vencer os seus defeitos, mas os seus
esforços são frustrados. Gostariam de alcançar o arrependimento mas não sabem o que fazer.
Existe um segredo para para se alcançar o arrependimento. “Quem deseja alcançar o verdadeiro
arrependimento? Que deve fazer? Deve ir a Jesus, tal qual está, sem demora. Deve crer que a palavra de
Cristo é verdadeira e, crendo na promessa, pedir, para que possa receber. Quando o desejo sincero leva os
homens a pedir, eles não orarão em vão. O Senhor cumprirá Sua palavra e dará o Espírito Santo para levar
ao arrependimento para com Deus e fé para com nosso Senhor Jesus Cristo.” (9)
O segredo para se alcançar o arrependimento é simplesmente ir a Jesus e pedir com fé, crendo que a
promessa do Senhor é verdadeira. Tal petição nunca será recusada. “O que vem a Mim, de maneira nenhuma
o lançarei fora”, disse Jesus (João 6:37).
Os judeus tinham uma concepção equivocada sobre o arrependimento. Eles ensinavam que o pecador
deveria arrepender-se antes de relacionar-se com Deus. Em sua opinião, o arrependimento era uma obra pela
qual os homens ganhavam o favor do Céu.
Da mesma forma, muitos atualmente imaginam que o arrependimento é uma tarefa que o pecador realiza por
si mesmo para depois ir a Cristo. Estão enganados. É impossível ao pecador por si mesmo alcançar o
arrependimento. Para arrepender-se, ele deve ir a Jesus no estado em que se encontra.
Entretanto, mesmo para ir a Jesus o pecador não possui forças. Somente conseguimos ir a Jesus através da
operação do Espírito Santo. “O primeiro passo em direção a Cristo acontece verdadeiramente através da
atração do Espírito de Deus; quando o homem corresponde a essa atração, ele avança em direção a Cristo,
para que se possa arrepender”. (10)

OS FRUTOS DO ARREPENDIMENTO
Ellen G. White com razão afirma: “O arrependimento ocasionado por intermitente provocação dos
sentimentos é um arrependimento de que nos precisamos arrepender; pois é ilusório. Uma violenta exaltação
dos sentimentos, que não produz em vós os pacíficos frutos da justiça, deixa-vos em estado pior do que
aquele em que vos encontráveis anteriormente”. (11)
Muitos crentes baseiam a sua vida cristã em sentimentos e emoções. Quando estão emocionados,
“experimentam” sensações fantásticas de arrependimento e conversão. Aparentam sentir grande ânimo e
fervor. Entretanto, em pouco tempo o “ânimo” se esvai e a depressão espiritual ocupa o cenário. De tempos
em tempos o arroubo sentimental retorna, para em seguida esvair-se novamente, criando um ciclo ilusório,
cuja principal característica é a ausência de resultados permanentes.
O arrependimento genuíno não funciona dessa forma. Ao contrário, o crente que verdadeiramente se
arrepende revela em sua vida frutos consistentes e duráveis.
Dirigindo-se aos fariseus e saduceus, João Batista disse: “Produzi, pois, frutos dignos de
arrependimento.” (Mateus 3:8).
Aqueles homens apresentavam elevada profissão de fé, entretanto as suas obras não correspondiam ao que
professavam. A advertência de João Batista tinha a finalidade de levá-los a reconhecerem a sua deplorável
situação espiritual e a se arrependerem.
O arrependimento constitui um divisor de águas: imediatamente após arrepender-se, o homem experimenta o
perdão e passa pela conversão. Uma mudança acontece na sua vida. Ele torna-se uma pessoa diferente:
começa a produzir frutos de obediência à vontade de Deus.
“É preciso que haja decisivas mudanças na vida; tudo que seja ofensivo a Deus tem de ser renunciado. Este
será o resultado da genuína tristeza pelo pecado.” (12)

CONCLUSÃO
Concluímos que o arrependimento é um passo essencial para a salvação; que não provém do homem mas é
dom de Deus, produzido em nós pelo Espírito Santo. O arrependimento compreende dois aspectos, a tristeza
!25
pelo pecado e o afastamento do mesmo, os quais somente podem ser alcançados quando o pecador vai a
Jesus na situação em que se encontra. Tendo alcançado o arrependimento, o pecador experimenta o perdão e
recebe força divina para produzir frutos de obediência.
A ordem dada pelo Senhor em todas as épocas para que os homens se arrependam continua válida hoje. O
Espírito Santo nos atrai ao arrependimento em todos os momentos, de muitas maneiras. Através de
diferentes meios, Ele nos impressiona e subjuga o nosso coração, levando-nos à tristeza pelo pecado e a uma
nova vida de obediência e santidade.
Quando sentirmos essa atração, lembremo-nos que é o Espírito que está operando. Não resistamos.
“Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações.” (Hebreus 4:7, ú.p.).

(1)
WHITE, Ellen. “Maravilhosa Graça”, p.138.
(2)
WHITE, Ellen. “Fé e Obras”, p. 99.
(3)
WHITE, Ellen. “The Review and Herald”, 01/04/1890.
(4)
WHITE, Ellen. “Caminho a Cristo”, p. 23.
(5)
WHITE, Ellen. “Testemunhos para a Igreja”, vol. 8, p. 64.
(6)
WHITE, Ellen. “Caminho a Cristo”, p. 23.
(7)
SPURGEON, Charles. “Graça, infinito amor de Deus”, p. 108.
(8)
SPURGEON, Charles. “Graça, infinito amor de Deus”, p. 112.
(9)
WHITE, Ellen. “Reavivamento e seus resultados”, p. 13.
(10)
WHITE, Ellen. “Mensagens Escolhidas”, vol. 1, p. 108.
(11)
WHITE, Ellen. “Mensagens Escolhidas”, vol. 1, p. 108.
(12)
WHITE, Ellen. “The Review and Herald”, 9/12/1896.

Capítulo 6 - O Firme Fundamento


Por Rodney Martins Silva

“Ora, a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos.” (Hebreus 11: 1 NVI).
A palavra fé tem sido muito usada em nossos dias. Diversos conceitos tentam definir fé como credulidade;
às vezes, fé assume o sentido de esperança e, em muitos casos, a definição de fé está ligada a algo mais
emocional do que racional.
A fé, porém, não deve ser fundamentada em nossos sentimentos e emoções, mas unicamente nas promessas
de Deus. Somos criaturas psicossomáticas: o ambiente e as circunstâncias determinam o nosso humor, o
comportamento e até mesmo os nossos sentimentos.
“Fé não é sentimento; fé não é visão... O sentimento de modo algum é digno de confiança. A religião
nutrida e avivada pelas emoções é destituída de valor. A Palavra de Deus é o fundamento sobre o qual
nossas esperanças podem repousar com segurança, e na confiança que temos na Palavra de Deus somos
estabelecidos, fortalecidos, fixados e firmados à Rocha eterna.” (1)
“Sentimento e fé são tão distintos um do outro como o Leste é do Oeste. A fé não depende do sentimento.”
(2)

Entretanto, qual é a definição bíblica de fé? Na carta aos Hebreus, o autor refere-se à fé como um firme
fundamento que alimenta a esperança, estabelece a verdade e assegura o cumprimento de todas as nossas
convicções e todas as promessas de Deus; “...foi por meio dela que os antigos receberam bom
testemunho.” (Hebreus 11: 2). !26
O que faz da fé o mais firme e sólido fundamento? O que há neste dom de Deus que o torna indispensável
na carreira cristã? Como entender o papel e o contexto da fé na salvação humana?
Em Hebreus, capítulo 11, encontramos diversas respostas a essas indagações. Nessa galeria temos uma
longa lista de heróis que fizeram da fé o firme fundamento da vida devocional, viveram por ela e por meio
dela. Os heróis da fé não eram guiados pela vista, já que para eles a fé era a certeza daquilo que esperavam e
a prova das coisas que ainda não viam.
“A fé e a razão caminham juntas, mas a fé vai mais longe.” Agostinho de Hipona.
Ter fé não significa cometer um suicídio intelectual, ou abolir nossa inteligência. Crença não é
irracionalidade, pois a fé não está em litígio com a razão, mas em complemento dela. Os maiores mistérios
são esclarecidos pela fé sob o peso das evidências. “Pela fé entendemos que o universo foi formado pela
palavra de Deus, de modo que o que se vê não foi feito do que é visível.” (Hebreus 11: 3). A fé será
fortalecida pelas evidências, ao passo que as demonstrações a enfraquecerão. Uma experiência cristã movida
por demonstrações será frágil e transitória.
“O Senhor nunca exige que creiamos em alguma coisa sem nos dar suficientes provas sobre que
fundamentemos nossa fé. Sua existência, Seu caráter, a veracidade de Sua Palavra, baseiam-se todos em
testemunhos que falam à nossa razão; e esses testemunhos são abundantes. Todavia Deus não afasta a
possibilidade da dúvida. Nossa fé deve repousar sobre evidências, e não em demonstrações. Os que
quiserem duvidar, hão de encontrar oportunidade; ao passo que os que desejam realmente conhecer a
verdade, encontrarão abundantes provas em que basear sua fé.” (3)
Hebreus capítulo 11 é um legado e um tratado sobre fé, onde tudo se inicia no ato de crer que Deus é o
criador do universo e do nosso mundo. A revelação da fé afirma que as coisas visíveis surgem do invisível.
Essa afirmação é uma evidência necessária diante das especulações cosmológicas da ciência que procuram
ofuscar a glória e a soberania de Deus. Se compreendemos, pelo peso das evidências, que o universo foi
criado por Deus, nossa visão de mundo será coerente e equilibrada.
A melhor visão é a do olho da fé, porque ele é capaz de ver o invisível. “Assim, fixamos os olhos, não
naquilo que se vê, mas no que não se vê, pois o que se vê é transitório, mas o que não se vê é eterno.” (2
Coríntios 4: 18). Foi esse tipo de visão que norteou a vida de diversos heróis descritos em Hebreus.
O primeiro herói da fé mencionado foi um jovem. “Pela fé Abel ofereceu a Deus um sacrifício superior ao
de Caim. Pela fé ele foi reconhecido como justo, quando Deus aprovou as suas ofertas. Embora esteja
morto, por meio da fé ainda fala.” (Hebreus 11: 4).
Ele é o primeiro exemplo de fidelidade presente na galeria dos heróis da fé. Em que ocasião viveu esse
jovem herói? O nome “Caim” significa “adquirido”. A expressão usada por Eva ao conceber seu primeiro
filho foi: “Alcancei do Senhor um varão.” (Gênesis 4: 1. JFA RC). Oh, vã esperança! Em seu ávido anelo de
um rápido cumprimento da promessa evangélica encontrariam nossos primeiros pais o mais amargo
desapontamento. Não sabiam que seu primeiro filho seria o primeiro assassino do mundo. Mas, quando o
segundo filho nasceu, o chamaram de Abel. O que significa o nome Abel? Significa “vaidade” ou “nada”.
Esse nome indica que as esperanças de Adão e Eva haviam sido frustradas com seu filho mais velho, e que
Abel personificava as calamidades da vida humana após o pecado. Estavam decepcionados. Mas pela fé,
Abel percebeu o valor expiatório no símbolo do Cordeiro. Caim, entretanto, cego pela presunção, não pôde
exercer fé nas promessas de Deus.
O segundo exemplo biográfico presente na galeria dos heróis da fé foi Enoque. Seu nome significa
“dedicado”. A visão deste herói foi destacada em o Novo Testamento nas seguintes palavras: “Enoque, o
sétimo a partir de Adão, profetizou acerca deles: ‘Vejam, o Senhor vem com milhares de milhares de Seus
santos, para julgar a todos e convencer a todos os ímpios a respeito de todos os atos de impiedade que eles
cometeram impiamente e acerca de todas as palavras insolentes que os pecadores ímpios falaram contra
Ele’” (Judas 14 e 15).
Sua fé e esperança no Redentor vindouro o levou a ver o invisível. “Pela fé Enoque foi arrebatado, de modo
que não experimentou a morte; ‘ele já não foi encontrado porque Deus o havia arrebatado’, pois antes de
ser arrebatado recebeu testemunho de que tinha agradado a Deus.” (Hebreus 11: 5). Enoque foi trasladado
não por mérito, mas por graça. Precisamos entender o papel e o contexto da fé na salvação humana. “Nada
!27
há na fé que a torne nossa salvadora. A fé não pode remover nossa culpa. Cristo é o poder de Deus para
salvar a todo aquele que crê. A justificação se dá através dos méritos de Jesus Cristo. Ele pagou o preço da
redenção do pecador. Entretanto, unicamente pela fé em Seu sangue é que Jesus pode justificar o crente.” (4)
Foi por meio da fé em Cristo que Enoque tornou-se o primeiro ser humano a ser reestabelecido ao seio do
Pai. Ele havia vivido 365 anos na Terra e andou todos os seus dias com Deus (essa é uma ótima sugestão
para andarmos com Deus todos os dias do ano). Sua transladação ocorreu cerca de 57 anos após a morte a de
Adão, por volta do ano 987 após a criação do mundo. Hoje, Enoque tem quase 5.400 anos de idade.

Prezado leitor: “Sem fé é impossível agradar a Deus, pois quem dEle se aproxima precisa crer que Ele
existe e que recompensa aqueles que O buscam.” (Hebreus 11:6).
O terceiro herói da fé foi o patriarca Noé. Outro jovem de 480 anos, pois quando foi chamado por Deus
estava apenas com a metade de seus dias. “Noé tinha seiscentos anos de idade quando as águas do dilúvio
vieram sobre a terra.” (Gênesis 7: 6). “Pela fé Noé, quando avisado a respeito de coisas que ainda não se
viam, movido por santo temor, construiu uma arca para salvar sua família. Por meio da fé ele condenou o
mundo e tornou-se herdeiro da justiça que é segundo a fé.” (Hebreus 11: 7).
O nome Noé significa “descanso, repouso” ou “consolo, consolação”. Realmente a fé de Noé, sua
consagração e total dependência de Deus consolaram o coração de Deus. “Noé, porém, achou graça aos
olhos do Senhor... Noé era varão justo e reto em suas gerações; Noé andava com Deus.” (Gênesis 6: 8 e 9.
JFA RC).
Foi a fé que capacitou Noé a crer no improvável: a vinda de um dilúvio. “Ainda não tinha brotado nenhum
arbusto no campo, e nenhuma planta havia germinado, porque o Senhor Deus ainda não tinha feito chover
sobre a terra, e também não havia homem para cultivar o solo. Todavia brotava água da terra e irrigava
toda a superfície do solo.” (Gênesis 2: 5 e 6).
O Senhor lhe anunciou o dilúvio vindouro e lhe deu instruções para construir um barco em que ele e sua
família pudessem ser salvos da iminente catástrofe mundial.
E Deus “não poupou o mundo antigo quando trouxe o dilúvio sobre aquele povo ímpio, mas preservou Noé,
pregador da justiça, e mais sete pessoas.” (2 Pedro 3: 20). A fidelidade de Noé condenou os infiéis. E o que
falar de sua paciência? Você já teve a curiosidade de calcular quanto tempo a fé de Noé o habilitou a ficar
dentro da arca com centenas de animais? Por incrível que possa parecer foram 377 dias, cerca de 1 ano e 12
dias.

!28
!

Nosso quarto herói da fé também era um jovem quando foi chamado por Deus: Abraão, aos 75 anos de
idade. “Partiu Abrão, como lhe ordenara o Senhor, e Ló foi com ele. Abrão tinha setenta e cinco anos
quando saiu de Harã.” (Gênesis 12: 4).
Dos 50 capítulos do Gênesis, 14 são dedicados à biografia desse herói da fé. Citando Gênesis 15, versículo
6, Tiago escreveu: “Cumpriu-se assim a Escritura que diz: ‘Abraão creu em Deus, e isso lhe foi creditado
como justiça’, e ele foi chamado amigo de Deus.” (Tiago 2: 23).
Sua confiança em Deus e em Suas promessas o levaram a viajar mais de 1600 quilômetros a partir de Ur dos
Caldeus até Canaã. Uma viagem com essa dimensão não poderia ser realizada, senão por meio da fé.

“Pela fé Abraão, quando chamado, obedeceu e dirigiu-se a um lugar que mais tarde receberia como
herança, embora não soubesse para onde estava indo. Pela fé peregrinou na terra prometida como se
estivesse em terra estranha; viveu em tendas, bem como Isaque e Jacó, coerdeiros da mesma promessa. Pois
ele esperava a cidade que tem alicerces, cujo arquiteto e edificador é Deus.” (Hebreus 11: 8-10).
Isaque é também mencionado com um herói da fé. Porém, qual foi o maior exemplo de fidelidade deixado
por Isaque? “Abraão pegou a lenha para o holocausto e a colocou nos ombros de seu filho Isaque, e ele
mesmo levou as brasas para o fogo, e a faca. E caminhando os dois juntos, Isaque disse a seu pai Abraão:
‘Meu pai!’ ‘Sim, meu filho’, respondeu Abraão. Isaque perguntou: ‘As brasas e a lenha estão aqui, mas
onde está o cordeiro para o holocausto?’ Respondeu Abraão: ‘Deus mesmo há de prover o cordeiro para o
holocausto, meu filho’. E os dois continuaram a caminhar juntos. Quando chegaram ao lugar que Deus lhe
havia indicado, Abraão construiu um altar e sobre!29ele arrumou a lenha. Amarrou seu filho Isaque e o
colocou sobre o altar, em cima da lenha. Então estendeu a mão e pegou a faca para sacrificar seu filho.
Mas o Anjo do Senhor o chamou do céu: ‘Abraão! Abraão!’ ‘Eis-me aqui’, respondeu ele. ‘Não toque no
rapaz’, disse o Anjo. ‘Não lhe faça nada. Agora sei que você teme a Deus, porque não Me negou seu filho, o
seu único filho.’ Abraão ergueu os olhos e viu um carneiro preso pelos chifres num arbusto. Foi lá, pegou-o
e sacrificou-o como holocausto em lugar de seu filho. Abraão deu àquele lugar o nome de ‘O Senhor
proverá’. Por isso até hoje se diz: ‘No monte do Senhor se proverá’”. (Gênesis 22: 6-18).
Esse dramático registro sagrado demonstra que a prova de fé não foi apenas para Abraão, mas para Isaque
também. Afinal de contas, quem seria morto? Mas a fé na ressurreição levou ambos a confiarem nas
promessas de Deus. “Abraão levou em conta que Deus pode ressuscitar os mortos; e, figuradamente,
recebeu Isaque de volta dentre os mortos.” (Hebreus 11: 19).
Jacó é o sexto herói da fé presente na galeria da carta aos Hebreus. “Pela fé Jacó, à beira da morte,
abençoou cada um dos filhos de José e adorou a Deus, apoiado na extremidade do seu bordão.” (Hebreus
11: 21). O bordão é um instrumento de viagem; podemos chamá-lo de cajado ou vara. A Palavra diz que
Jacó morreu segurando “seu bordão”. Isso demonstra que o patriarca viveu e morreu no exílio. Sua viagem
não havia terminado! Era um peregrino em Terra estranha, este mundo não era seu lar. Morreu abraçado ao
seu bordão. Manifestou fé nas promessas divinas até o último suspiro, quando pronunciou as bênçãos sobre
seus filhos e netos.
“Pela fé José, no fim da vida, fez menção do êxodo dos israelitas do Egito e deu instruções acerca dos seus
próprios ossos.” (Hebreus 11: 22).
O sétimo herói da fé foi José. Conhecido familiarmente como o “sonhador”, realmente nunca deixou de
sonhar. No fim de sua vida, fez menção da saída de Israel do Egito e deu instruções acerca de seus restos
mortais. Seu desejo era ressuscitar não no Egito, mas em Canaã, quando Jesus retornasse nas nuvens do céu.
Ele tinha fé, acreditava nas promessas do Deus de seus pais para a redenção de sua alma.
Moisés encabeça a lista como o oitavo herói da fé. “Pela fé Moisés, recém-nascido, foi escondido durante
três meses por seus pais, pois estes viram que ele não era uma criança comum, e não temeram o decreto do
rei. Pela fé Moisés, já adulto, recusou ser chamado filho da filha do faraó, preferindo ser maltratado com o
povo de Deus a desfrutar os prazeres do pecado durante algum tempo. Por amor de Cristo, considerou a
desonra riqueza maior do que os tesouros do Egito, porque contemplava a sua recompensa.” (Hebreus 11:
23-26).
A fé sempre esteve presente na vida de Moisés. Mesmo antes de seu nascimento, seus pais Anrão e
Joquebede exerceram uma fé inacreditável, escondendo o bebê de apenas 3 meses. Quando isso já não era
mais possível, colocaram-no em um cesto no rio Nilo, “habitat” natural dos maiores crocodilos. Se não fosse
a fé, os pais de Moisés jamais teriam arriscado tanto a segurança daquela criança incomum. A fé dissipa o
medo e as incertezas, por maiores que pareçam ser.
Quando adulto, Moisés fez escolhas radicais movido pela fé. O que ele preferiu? Diante dele estavam dois
caminhos: de um lado a glória do Egito, o trono de Faraó. Do outro, a opressão, humilhação e escravidão.
De que lado estaríamos? Qual seria nossa escolha? O cativeiro ou os tesouros do Egito?
Se Moisés tivesse escolhido o Egito, onde ele estaria hoje? Talvez, teria como residência uma pirâmide
egípcia ou fosse uma múmia no Museu do Cairo, capital do Egito, que abriga relíquias do passado glorioso
do império rejeitado por Moisés. Ele hoje está no céu, pois ressuscitou.
“Todavia, a morte reinou desde o tempo de Adão até o de Moisés, mesmo sobre aqueles que não cometeram
pecado semelhante à transgressão de Adão, o qual era um tipo daquele que haveria de vir.” (Romanos 5:
14).
Há quanto tempo o libertador de Israel mora no céu? Já se passaram mais de 3.500 anos que Moisés recebeu
seu galardão. Não entrou na Canaã terrestre por causa de seu pecado, mas pela graça de Cristo entrou na
Canaã celestial.
“Contudo, nem mesmo o Arcanjo Miguel, quando estava disputando com o diabo acerca do corpo de
Moisés, ousou fazer acusação injuriosa contra ele, mas disse: ‘O Senhor o repreenda!’" (Judas 9).
Moisés ressurreto e eternamente salvo conversou com Jesus por ocasião da transfiguração.
“Aproximadamente oito dias depois de dizer essas coisas, Jesus tomou consigo a Pedro, João e Tiago e
subiu a um monte para orar. Enquanto orava, a aparência de Seu rosto se transformou, e Suas roupas
!30
ficaram alvas e resplandecentes como o brilho de um relâmpago. Surgiram dois homens que começaram a
conversar com Jesus. Eram Moisés e Elias. Apareceram em glorioso esplendor, e falavam sobre a partida
de Jesus, que estava para se cumprir em Jerusalém.” (Lucas 9: 28-31).
Agora surge no cenário da galeria dos heróis da fé uma heroína, Raabe. Para os padrões machistas de sua
época o autor da carta aos Hebreus quebrou um enorme paradigma, citando uma mulher como referência de
fé e confiança em Deus, mesmo sendo essa uma ex-prostituta. Judeus e gregos eram extremante
conservadores em rejeitar o papel das mulheres em suas sociedades. Os judeus oravam assim: “Bendito seja
Deus por não me ter feito um gentio, um camponês ignorante ou escravo ou uma mulher”. Os gregos por sua
vez agradeciam da seguinte forma: “Agradeço por ter nascido humano e não animal, por ter nascido homem
e não mulher, por ter nascido grego e não bárbaro”. Em uma época que a mulher era desprezada, agredida e
rejeitada, Deus veio em defesa delas.
Raabe pertencia à escória da sociedade. Havia levado uma vida imoral e corrupta, pois era uma meretriz.
Mas o Espírito de Deus estava atraindo aquela pobre alma imersa no lamaçal do pecado para junto de Si.
Sua fé nas promessas de Deus salvou sua vida e de sua família.
“Pela fé a prostituta Raabe, por ter acolhido os espiões, não foi morta com os que haviam sido
desobedientes.” (Hebreus 11: 31).
“Que mais direi? Não tenho tempo para falar de Gideão, Baraque, Sansão, Jefté, Davi, Samuel e os
profetas, os quais pela fé conquistaram reinos, praticaram a justiça, alcançaram o cumprimento de
promessas, fecharam a boca de leões, apagaram o poder do fogo e escaparam do fio da espada; da
fraqueza tiraram força, tornaram-se poderosos na batalha e puseram em fuga exércitos estrangeiros. Houve
mulheres que, pela ressurreição, tiveram de volta os seus mortos. Alguns foram torturados e recusaram ser
libertados, para poderem alcançar uma ressurreição superior. Outros enfrentaram zombaria e açoites,
outros ainda foram acorrentados e colocados na prisão, apedrejados, serrados ao meio, postos à prova,
mortos ao fio da espada. Andaram errantes, vestidos de pele de ovelhas e de cabras, necessitados, afligidos
e maltratados. O mundo não era digno deles. Vagaram pelos desertos e montes, pelas cavernas e grutas.
Todos estes receberam bom testemunho por meio da fé; no entanto, nenhum deles recebeu o que havia sido
prometido. Deus havia planejado algo melhor para nós, para que conosco fossem eles
aperfeiçoados.” (Hebreus 11:32-40).
É importante reafirmar que sentimentos não são parâmetros seguros para definirem a fé ou para indicarem a
existência dela. Todos os heróis nomeados e anônimos presentes nessa galeria não confiaram em suas
emoções, não foram guiados pelo que sentiam, mas unicamente pelas promessas de Deus. Viviam pela fé,
não por vista. Acreditaram no impossível, no improvável, no invisível.
A existência do governo de Deus depende do cumprimento de Suas promessas. Se fosse possível Deus falhar
em cumprir uma de Suas promessas, todo o universo seria lançado em confusão. Ele não seria Soberano e
Onipotente. Sua regência chegaria ao fim, pois a confiança no governo celestial é o único terreno seguro
para a obediência. Quando um governo falha em cumprir suas obrigações, perde a confiança e o respeito de
seus súditos e gera uma condição de insegurança e instabilidade. Se tal coisa fosse possível, o cristão
perderia todas as suas expectativas e Deus perderia o Seu caráter, a estabilidade de Seu governo e o controle
do universo. Quanto mais poderoso for um governo, maior a será a confiança nele depositada. Este é o caso
do reino de Deus. Seu poder está no cumprimento de todas as Suas promessas.
Nossa fé deve ser baseada nas promessas de Deus e não em nossas emoções. Os sentimentos humanos são
voláteis, por outro lado as promessas de Deus são imutáveis. As promessas de Deus são como beijos que nos
asseguram Seu amor.
Acabamos de percorrer a galeria dos heróis da fé em Hebreus capítulo 11; se prosseguirmos a leitura dessa
carta, no capítulo 12 iremos ver o maior de todos os encontros: entre os heróis da fé e o Autor da fé.
“Portanto, também nós, uma vez que estamos rodeados por tão grande nuvem de testemunhas, livremo-nos
de tudo o que nos atrapalha e do pecado que nos envolve, e corramos com perseverança a corrida que nos é
proposta, tendo os olhos fitos em Jesus, autor e consumador da nossa fé. Ele, pela alegria que lhe fora
proposta, suportou a cruz, desprezando a vergonha, e assentou-se à direita do trono de Deus.” (Hebreus 12:
1-2).
Jesus é o Autor de nossa fé. Cristo é Quem nos capacita, por meio do Espírito Santo, a crer em Deus para
!31
nossa salvação. Todas as promessas de Deus estão nEle fundamentadas e asseguradas. Não se esqueça que fé
é uma manifestação da graça de Cristo em nossas vidas. Sem Jesus não haveriam heróis da fé, porque não
haveriam promessas para fundamentar nossa esperança. NEle está toda a nossa esperança de salvação e de
vida eterna.

(1)
WHITE, Ellen. “Este Dia com Deus”, p. 154.
(2)
WHITE, Ellen. “Nossa Alta Vocação”, p. 118.
(3)
WHITE, Ellen. “Caminho a Cristo”, p. 105.
(4)
WHITE, Ellen. “O Cuidado de Deus”, p. 325.

Capítulo 7 - A Justificação
Por Joraí Cruz

Como resultado da Operação Lava-jato, deflagrada pelo Ministério Público Federal e pela Polícia Federal,
sob a direção do juiz Sérgio Moro, em Curitiba, temos presenciado nos últimos dois anos, centenas de
denúncias, indiciamentos e consequentes prisões de nomes influentes, tanto da política, bem como de setores
privados da sociedade brasileira. Dezenas de delações premiadas, homologadas pela Justiça Federal, tem
conduzido ao indiciamento e prisão de um considerável número de outros acusados. Impressionante notar
que sempre que surgem novas denúncias, são contratados advogados por quantias milionárias, que fazem um
enorme esforço jurídico para justificar, isto é, provar a inocência dos seus clientes culpados, mesmo que
para isso tenham que fabricar provas e subornar testemunhas e magistrados.

1. DEFININDO O CONCEITO DE JUSTIFICAÇÃO


Percebe que usamos, no parágrafo anterior, o verbo “justificar” no sentido de provar a inocência de um
acusado, mesmo que muitas vezes este seja culpado. Essa definição é encontrada na maioria dos dicionários
da língua portuguesa. O Dicionário Aurélio “online” nos dá várias conotações do verbo “justificar”, entre
elas: “Declarar justo; provar que não podia deixar de ser; dar razão plausível de; fundamentar; demonstrar a
inocência de; provar a sua inocência; e provar que obrou
!32 como não podia deixar de obrar.” Considerando as
definições acima citadas, podemos afirmar que a que mais se aproxima do conceito bíblico, com ampla
fundamentação escriturística, é ‘declarar justo’.
A jurisprudência humana está fundamentada no princípio de que ‘todos são inocentes até prova ao
contrário.’ Um processo judicial só pode ser aberto através da formalização de uma denúncia com a
apresentação de provas criminais. Começa-se então a fase de investigação, quando novas provas podem ser
arroladas e testemunhas ouvidas. Os juízes encarregados das investigações devem seguir todo o rito
processual sem parcialidade antes de dar o veredito final. Só depois de finalizadas as investigações,
confirmadas as provas, ouvidas as testemunhas e comprovado o crime, o juiz pode então declarar que o
acusado é culpado. Falha em qualquer fase do rito processual pode comprometer o resultado final do
julgamento. Caso os promotores não possam confirmar a legitimidade das provas apresentadas, o juiz está
sob o juramentado dever de declarar a inocência do acusado. Necessário dizer que, na justiça humana,
sempre há margens para equívocos e injustiças, transformando, muitas vezes, inocentes em culpados e
culpados em inocentes.
A jurisprudência divina, diametralmente oposta à jurisprudência humana, está fundamentada no princípio de
que ‘todos são culpados até a prova ao contrário’. E essa prova só acontece quando Deus, o justo Juiz,
declara o culpado inocente com base em uma ação judicial de substituição e transferência que une e combina
os princípios de justiça e misericórdia que são as eternas bases do seu governo. Vemos, portanto, que a
jurisprudência divina não visa demonstrar ou provar a inocência ou culpabilidade do transgressor, com base
nos méritos de suas boas ou más ações, examinadas e escrutinadas sob as lentes da Lei; mas declarar a
inocência ou culpabilidade do transgressor com base nos méritos das ações do seu substituto.
Em Êxodo 34:7 e Números 14:18 lemos que “O Senhor é longânimo e grande em misericórdia, que perdoa
a iniquidade e a transgressão, ainda que não inocenta o culpado...”. Em Naum 1:3 a expressão é mais
enfática, quando diz que o Senhor “jamais inocenta o culpado”. Portanto, devemos entender que a
justificação divina não é o simples ato de Deus declarar que o culpado é inocente sem nenhuma base
jurídica, isto é, declarar por declarar, mas com toda autoridade, declarar que o culpado é inocente, com base
em um sólido princípio jurídico que, em vez de anular a justiça, enaltece-a, e ao mesmo tempo engrandece a
misericórdia.

2. O PRINCÍPIO DA SUBSTITUIÇÃO E TRANSFERÊNCIA


Deus na Sua justiça jamais inocenta o culpado, mas na Sua misericórdia aceita que o Inocente substitua o
culpado. É uma verdadeira troca de cadeiras. O Inocente se assenta na cadeira do réu, enquanto este toma a
cadeira do Inocente. Substituição até as últimas consequências com a punição de morte ao Inocente,
enquanto o culpado vive completamente livre da condenação da morte. O princípio da substituição não teria
nenhum valor sem o princípio da transferência. A culpa do transgressor é transferida vicariamente para o
Inocente, que é punido em seu lugar, enquanto a justiça do Inocente é transferida para o transgressor
culpado, que só então é declarado e tratado como justo.
A justiça de Deus, expressa na Sua Lei, exige obediência perfeita ou morte do transgressor. Deus foi enfático
em Sua Palavra: “a alma que pecar, essa morrerá.” (Ezequiel 18:4) e “o salário do pecado é a
morte.” (Romanos 6:23). Portanto, quando o homem pecou, transgredindo a Lei de Deus, foi condenado à
morte eterna, e assim deveria ser, se não fosse o plano da salvação e da justificação, baseado na transferência
e substituição. Esse plano foi exposto pela primeira vez no Éden quando Deus pronunciou os seus juízos
contra a serpente: “E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente; está te
ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.” (Gênesis 3: 15).
Todo o sistema de sacrifícios e ofertas, estabelecido no Éden logo após o pecado, e estruturado na
construção do santuário terrestre, tinha como objetivo ensinar a grande verdade da substituição e
transferência dentro do plano salvífico de Deus. O pecador culpado pela transgressão da Lei e condenado à
morte eterna, deveria tomar um cordeiro macho, sem defeito, e confessar seus pecados sobre a sua cabeça.
Assim, prefigurativamente, estava transferindo toda a sua culpa para o inocente cordeiro que era então morto
em seu lugar para que ele pudesse viver a vida a que o inocente cordeiro tinha direito.
Também em o Novo Testamento, a Palavra de Deus dá ampla e completa sustentação teológica para o
!33
conceito de justificação pela fé com base no princípio da substituição e transferência, através da vida e
morte vicária de Cristo. Somos justificados através de Sua vida de perfeita obediência, o que o apóstolo
chama de ‘justificados pela obediência de um só’, e somos justificados pela morte, chamada de ‘justificação
pelo Seu sangue’. Consideremos os seguintes textos:
“Porque, se pela ofensa de um só a morte reinou por esse, muito mais os que recebem a abundância da
graça, e do dom da justiça, reinarão em vida por um só, Jesus Cristo. Pois assim como por uma só ofensa
veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça
sobre todos os homens para justificação de vida. Porque, como pela desobediência de um só homem, muitos
foram feitos pecadores, assim pela obediência de um muitos serão feitos justos.”(Romanos 5: 17-19).
Nesses versos o apóstolo Paulo, o grande teólogo e amante do tema da justificação pela fé, é claro ao
explicar que nos tornamos pecadores, logo culpados e condenados, “por uma só ofensa” ou “pela
desobediência de um só homem”: indubitavelmente trata-se do pecado de Adão. E nos tornamos justos.
(entendido como declarados justos e tratados como justos) por “um só ato de justiça” ou “pela obediência
de um só”, indubitavelmente a perfeita obediência de Cristo.
O texto diz que “por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para a condenação”. Assim,
tornamo-nos pecadores condenados também pelo princípio da substituição e transferência. O pecado de
Adão é transferido para todos os seus descendentes, uma vez que ele era o pai e representante de toda a
humanidade. Potencialmente, todos estávamos em Adão quando ele pecou, assim o seu pecado, e
consequentemente a sua culpa, foi transferida a todos os seus descendentes.
E. G. White teve a mesma compreensão de Paulo quando escreveu: “Adão pecou, e os filhos de Adão partilham de sua
culpa e suas consequências.” (1)

Da mesma maneira que o pecado do primeiro Adão foi transferido ou imputado a todos os seus
descendentes, a perfeita obediência do segundo Adão também foi transferida ou imputada aos “que recebem
a abundância da graça e o dom da justiça”. “Assim também, por meio da obediência de um só, muitos se
tornarão justos.” Portanto o princípio da substituição e transferência aplica-se tanto na condenação, pelo
pecado do primeiro Adão, como na justificação, pela perfeita obediência ou justiça do segundo Adão, Jesus
Cristo.
A perfeita obediência de Cristo por si só resolveria o problema da reivindicação do caráter de Deus perante o
universo, mas, sem a Sua morte vicária no Calvário, todos estaríamos perdidos. Mas, graças a Deus, que o
princípio da substituição se deu também na sua morte, como vemos nos textos abaixo:
“Porque Cristo, estando nós ainda fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios. Porque apenas alguém
morrerá por um justo; pois poderá ser que pelo bom alguém ouse morrer. Mas Deus prova o seu amor para
conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores. Logo muito mais agora, tendo sido
justificados pelo Seu sangue, seremos por Ele salvos da ira.” (Romanos 5: 6-9).
“Porque o amor de Cristo nos constrange, julgando nós assim: que, se um morreu por todos, logo todos
morreram.” (1 Coríntios 5:14).
Nesses versos o apóstolo Paulo novamente aborda o princípio da substituição, aplicado no caso da morte de
Cristo: “um morreu por todos, logo todos morreram”. Portanto, é fundamental crer e aceitar a verdade de
que quando Cristo morreu no Calvário, sofrendo a punição da ira de Deus contra o pecado, Ele o estava
fazendo vicariamente por toda a humanidade, embora esse sacrifício se torne efetivo somente para aqueles
que O aceitam como o “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”. Assim, conclui Paulo, “considerai-
vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus.” (Romanos 6: 11).
O resultado imediato da justificação pela fé é a paz com Deus: “Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos
paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo.” (Romanos 5:1); “o amor de Deus é derramado em nosso
coração pelo Espírito Santo.” (Romanos 5:5). O crente justificado e perdoado, como fruto do amor de Deus
deseja imitar o Seu Senhor. Jesus Cristo Se torna o Modelo a quem ele ardentemente vai imitar, tanto no seu
relacionamento com Deus como com os seus semelhantes. Esse vai ser o grande objetivo de sua vida. Mas
ele entende que a sua justificação, o seu perdão, não é o resultado dessa imitação, mas da sua aceitação de
Jesus Cristo como o seu substituto e penhor.
Portanto, a justificação pela fé não está baseada no princípio da imitação do modelo perfeito de justiça, Jesus
Cristo, pelo pecador, mas no princípio da substituição!34do modelo perfeito de justiça, Jesus Cristo, pela vida
do pecador; e pelo princípio da transferência ou imputação das injustiças do pecador a Jesus Cristo, e da
perfeita justiça de Cristo ao pecador.

3. O CONCEITO PROTESTANTE DE JUSTIFICAÇÃO


Para os reformadores protestantes do século XVI, justificar é o ato da livre graça de Deus de declarar e
considerar o pecador justo com base no princípio da transferência e substituição e não no princípio da
transformação, isto é, justificar é sempre considerar o pecador justo e nunca torná-lo justo, como defendia o
catolicismo.
“A doutrina da justificação é de tal importância para a teologia luterana que ela é chamada articulus stantis
et cadentis ecclesiae (o artigo sobre o qual a Igreja permanece ou cai), sendo o artigo principal das
confissões luteranas, a espinha dorsal da teologia na qual todas as outras doutrinas estão apensas e da qual
todas dependem. Fé e obras são termos excludentes entre si. Nada poderia ser acrescentado à justiça de
Cristo. Nenhuma adição humana seria tolerada. No pensamento luterano, nunca as duas coisas, fé e obras,
andaram juntas soteriologicamente.
“Em seu comentário sobre a Carta de São Paulo aos Gálatas, Lutero diz que somos “justificados não pela fé
proporcionada pelo amor, mas pela fé unicamente e somente”. Segundo ele, a fé não justifica porque produz
o fruto do amor a Cristo (boas obras), mas porque ela recebe o fruto do amor de Cristo. Na teologia luterana,
“a justificação é um termo jurídico e significa pronunciar e tratar como justo, justificar”. Analisando o texto
de Romanos 2:13, a Apologia da Confissão de Augsburgo diz: “Ser justificado aqui não significa que o
ímpio é tornando justo, mas que ele é pronunciado justo num sentido forense.” Lutero usou a famosa frase
simul justus et peccator (ao mesmo tempo justo e pecador), referindo-se à condição simultânea do pecador,
em que ele é contado, ao mesmo tempo, como justo judicialmente, em virtude da imputação da justiça de
Cristo e, todavia, permanecendo pecador em si e de si mesmo. Por causa do aspecto forense da doutrina,
todo pecador é visto como justificado coram Deo.
A teologia luterana diz ainda que a “justiça concedida ao pecador não é sua própria, produzida por ele
mesmo, mas uma justiça que vem de fora, pertencente a Jesus Cristo. A justiça não é uma qualidade do
homem. Ela consiste antes em ser justo somente através da imputação graciosa da justiça de Cristo, isto é,
uma justiça ‘fora’ do homem. Para o luteranismo, a fé tem um papel muito diferente, sendo ela
preponderante na justificação. “A fé que justifica, contudo, não é um mero conhecimento histórico, mas uma
aceitação firme da oferta de Deus de prometer o perdão dos pecados e a justificação. (…) Fé é aquela
adoração que recebe as bênçãos que são oferecidas por Deus.” (2)
“Calvino seguiu os passos dos reformadores de primeira geração, como Lutero, Melanchton,
Oecolampadius, Zwinglio, no aspecto forense da justificação. Reid disse que “semelhantemente aos outros
reformadores, Calvino foi um advogado que pensava muito em termos forenses.” Calvino diz que
“justificado pela fé é aquele que, excluído da justiça das obras, agarra-se à justiça de Cristo através da fé e,
vestido com ela, aparece na vista de Deus não como um pecador, mas como um homem justo.” A
justificação, portanto, segundo Calvino, “acontece quando Deus declara o pecador justo; ele é aceito e
perdoado por causa de Cristo somente.” Este é o seu conceito forense de justificação.
“Calvino enfatizou ainda a iustitia aliena, isto é, a justiça que vem de outro, que vem de fora. Embora
Calvino use a frase “pela fé somente”, ele é cuidadoso em dizer também que a fé não efetua de si mesma a
justificação, mas entende que a fé é o meio pelo qual nos apropriamos da justiça de outro, que é transferida a
nós. Ele diz: “Não há nenhuma dúvida de que aquele que é ensinado a procurar justiça fora de si próprio é
destituído de justiça em si mesmo.” Mais adiante, Calvino diz: “Você pode ver que nossa justiça não está em
nós, mas em Cristo, e que a possuímos somente sendo participantes em Cristo; de fato, com ele possuímos
todas essas riquezas”. Para o Calvinismo, é pela fé somente que o homem é justificado, mas a fé em si
mesma não justifica. Através dela o homem abraça a Cristo, por cuja graça somos justificados. “É dito da fé
que ela justifica porque ela recebe e abraça a justiça oferecida no Evangelho.” (3)

4. O CONCEITO CATÓLICO DE JUSTIFICAÇÃO


“O Concílio de Trento, que foi a grande expressão da Contra-Reforma, ensinava que a justiça merecida por
!35
Cristo deveria ser apoiada pela justiça do próprio pecador que cooperava com a graça através das boas
obras. Na visão de Trento, a justificação é um processo, no qual o pecador é tornado justo, misturando a
justificação com a santificação. Estes dois termos são virtualmente sinônimos em Trento. Na visão católica,
a justiça é infusa (e não imputada), causando mudança na vida interior do pecador. A justiça é antes
transformadora do indivíduo do que creditada a ele. Segundo esta perspectiva, o pecador é justificado com
base numa justiça interna (iustitia in nobis ou iusticia infusa) do que por uma justiça que vem de fora. Em
resumo, na teologia católica, a justiça é dada ao justo antes que ao pecador, sendo por isso a justificação o
resultado da justiça infusa de Cristo.”
“A partir destes ensinamentos do Concílio de Trento, a Igreja Católica ensina que o pecador é justificado
pela fé em Cristo, mas é uma fé informada e fundamentada pelo amor e motivada pela graça divina. A
justificação tornar-se-ia na semente e na força criadora de uma nova vida cristã assente na fé, na esperança e
na caridade (e também nas boas obras). Essa fé em Cristo é infusa no coração do homem quando do
Batismo, de forma que ela perdoe o pecado original.” (4)

5. O CONCEITO ADVENTISTA DE E.G WHITE A RESPEITO DA JUSTIFICAÇÃO


Ellen G. White compartilhava do pensamento protestante sobre justificação quando escreveu: “É a justiça de
Cristo que torna o pecador penitente aceitável a Deus e opera sua justificação. Por mais pecaminosa que
tenha sido sua vida, se ele crê em Jesus como seu Salvador pessoal, permanece diante de Deus nas
imaculadas vestes da justiça imputada de Cristo.” (5)
Em outra definição sobre justificação, Ellen White escreveu: “O que é justificação pela fé? – É a obra de
Deus ao lançar a glória do homem no pó e fazer pelo homem aquilo que ele por si não pode fazer.” (6)
No livro “Caminho a Cristo”, seu melhor tratado sobre soteriologia, ela escreveu: “Se vos entregardes a Ele
e O aceitardes como vosso Salvador, sereis, por pecaminosa que tenha sido a vossa vida, considerados justos
por Sua causa. O caráter de Cristo substituirá o vosso caráter e sereis aceitos diante de Deus exatamente
como se não houvésseis pecado.” (7)
Em sua outra grandiosa obra sobre salvação, “O Desejado de Todas as Nações”, e em muitos outros livros,
ela escreveu sobre o princípio da substituição e transferência: “Cristo foi tratado como nós merecíamos, para
que pudéssemos receber o tratamento a que Ele tinha direito. Foi condenado pelos nossos pecados, nos quais
não tinha participação, para que fôssemos justificados por Sua justiça, na qual não tínhamos parte. Sofreu a
morte que nos cabia, para que recebêssemos a vida que a Ele pertencia. ‘Pelas Suas pisaduras fomos
sarados.’ (Isaías 53:5)”. (8)
“Justiça é obediência à Lei. A Lei requer justiça, e esta o pecador deve à Lei; mas é ele incapaz de a
apresentar. A única maneira em que pode alcançar a justiça é pela fé. Pela fé pode ele apresentar a Deus os
méritos de Cristo, e o Senhor lança a obediência de Seu Filho a crédito do pecador. A justiça de Cristo é
aceita em lugar do fracasso do homem, e Deus recebe, perdoa, justifica a alma arrependida e crente, trata-a
como se fosse justa, e ama-a tal qual ama Seu Filho.” (9)
Os reformadores entendiam a justificação como sendo somente um ato forense que acontece quando Deus,
no seu tribunal, declara o pecador justo através da imputação graciosa da justiça de Cristo, isto é, uma
justiça ‘fora’ do homem. Se bem que também entendesse a justificação como um ato forense, Ellen G. White
teve uma leve discordância em relação aos reformadores quando escreveu: “O perdão de Deus não é
meramente um ato judicial pelo qual Ele nos livra da condenação. É não somente perdão pelo pecado, mas
livramento do pecado. É o transbordamento de amor redentor que transforma o coração.” (10)
Nesse texto, E.G White não discorda que a justificação ou perdão de Deus seja um ato judicial, isto é,
forense, mas ela discorda que seja meramente forense. Ela entendeu que a consequência imediata do perdão
é o livramento do pecado ou a santificação, e que a justificação estava atrelada à santificação, como Lei de
causa e efeito. Se bem que a justificação não esteja fundamentada nos resultados do perdão na vida dos
crentes, mas na imputada justiça de Cristo ao pecador arrependido, não se pode negar que os seus efeitos
sejam vistos numa vida de vitória contra o pecado.

CONCLUSÃO
!36
Para Lutero, a permanência ou queda de uma igreja depende da sua compreensão e aceitação da doutrina da
justificação pela fé. Para ele e outros reformadores, essa doutrina era a espinha dorsal em torno da qual
giravam todas as doutrinas. Ellen G. White teve a mesma compreensão quando escreveu:
“Reiteradas vezes me tem sido apresentado o perigo de nutrir, como um povo, falsas ideias da justificação
pela fé. Durante anos tem-me sido mostrado que Satanás trabalharia de maneira especial para confundir a
mente quanto a esse ponto. Tem-se alongado sobre a Lei de Deus e ela tem sido apresentada às
congregações quase de modo tão destituído do conhecimento de Jesus Cristo e de Sua relação para com a
Lei como a oferta de Caim. Foi-me mostrado que muitos se conservam longe da fé devido às ideias
embaralhadas e confusas acerca da salvação, e porque os pastores têm trabalhado de maneira errônea para
alcançar os corações. O ponto que durante anos tem sido recomendado com insistência à minha mente é a
justiça imputada de Cristo. Tenho estranhado que este assunto não se tenha tornado o tema de sermões em
nossas igrejas em todas as partes do país, sendo que tão constantemente é realçado perante mim e eu o tenho
tornado o assunto de quase todo sermão e palestra que hei proferido para o povo.” (11)
Na história do adventismo há pontos altos e baixos na compreensão e apresentação dessa mensagem tão
vital para a vida da igreja. É ponto pacífico que o ano de 1888 foi um marco histórico da mensagem da
justificação pela fé. Dois anos depois, em 1890, E. G. White escreveu que Satanás trabalharia de maneira
especial para confundir as mentes quanto a esse ponto, e sobre o perigo de nutrir, como povo, falsas ideias a
respeito da justificação pela fé. Mais de 120 anos são passados: será que ainda estamos confundidos quanto
a esse ponto? Será que ainda nutrimos falsas ideias com a relação à justificação pela fé? Essas perguntas
devem ser examinadas e respondidas com humildade e sinceridade. A conclusão da obra de Deus e nossa ida
ao Lar dependem da nossa resposta.

Bibliografia:
(1)
Ellen G. White, Fé e Obras, Página 88
(2)
Wikipédia, enciclopédia livre. Teologia Luterana, Justificação. https://pt.wikipedia.org/wiki/Justifica%C3%A7%C3%A3o_(teologia)
(3)
Wikipédia, enciclopédia livre. Teologia Calvinista. https://pt.wikipedia.org/wiki/Justifica%C3%A7%C3%A3o_(teologia)
(4)
Wikipédia, enciclopédia livre. Concílio de Trento. https://pt.wikipedia.org/wiki/Justifica%C3%A7%C3%A3o_(teologia)
(5)
WHITE, Ellen. “Fé e Obras”, p. 107.
(6)
WHITE, Ellen. “Testemunhos para Ministros”, p. 456.
(7)
WHITE, Ellen. “Caminho a Cristo”, p. 62.
(8)
WHITE, Ellen. “O Desejado de Todas as Nações”, p. 25.
(9)
WHITE, Ellen. “Mensagens Escolhidas”, vol. 1, p. 367.
(10)
WHITE, Ellen. “O Maior Discurso de Cristo”, p. 114.
(11)
WHITE, Ellen. “Fé e Obras”, p. 18.

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Capítulo 8 - O Novo Nascimento
Por Davi Paes Silva

No interior de um ônibus urbano de Chicago ocorreu uma experiência incomum. Uma senhora cristã tocou
no ombro de um sacerdote católico e lhe perguntou: “O senhor já nasceu de novo?" O sacerdote, um tanto
aborrecido com a pergunta incômoda, respondeu: “Sou sacerdote católico”. A senhora procurou esclarecer a
pergunta, dizendo: “A minha pergunta não é se o senhor é um sacerdote, mas se já nasceu de novo”. Aquela
pergunta perturbou a mente do sacerdote. Ao chegar em casa, abriu a Bíblia em João capitulo três e,
ajoelhado à beira da sua cama, entregou seu coração ao Senhor Jesus, que o transformou em uma nova
criatura.
Ao criar seres inteligentes - anjos, homens, habitantes de outros mundos - Deus colocou em suas mentes a
Sua Lei. Os princípios do reino celestial foram implantados no coração de Suas criaturas, formadas à
imagem do Criador.
Cada ser criado era um santuário em cujo interior estavam gravados os princípios do reino celeste. O
apóstolo Paulo afirma, a respeito dos filhos de Deus: “Não sabeis que sois santuário de Deus e que o
Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; porque o
santuário de Deus, que sois vós, é sagrado.” (1 Coríntios 3:16 e 17).
“Acaso, não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em vós, o qual tendes da parte
de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus
no vosso corpo.” (1 Coríntios 6:19 e 20).
Considerando a afirmação “se alguém destruir o santuário de Deus”, vem a pergunta: Como podemos
destruir o santuário de Deus? Mediante a transgressão das leis de Deus.
Quando o homem pecou, separou-se de Deus, deixou de ser santuário do Espírito Santo, e tornou-se
habitação de demônios. O santuário de Deus foi profanado por maus espíritos.
“Desde os séculos eternos era o desígnio de Deus que todos os seres criados, desde os luminosos e santos
serafins até ao homem, fossem um templo para morada do Criador. Devido ao pecado, a humanidade cessou
de ser o templo de Deus. Obscurecido e contaminado pelo pecado, o coração do homem não mais revelava a
glória da Divindade. Pela encarnação do Filho de Deus, porém, cumpriu-se o desígnio do Céu. Deus habita
na humanidade, e mediante a salvadora graça, o coração humano se torna novamente um templo. O Senhor
tinha em vista que o templo de Jerusalém fosse um testemunho contínuo do elevado destino franqueado a
toda alma. Os judeus, no entanto, não haviam compreendido a significação do edifício de que tanto se
orgulhavam. Não se entregavam como templos santos para o divino Espírito. Os pátios do templo de
Jerusalém, cheios do tumulto de um tráfico profano, representavam com exatidão o templo da alma,
contaminado por paixões sensuais e pensamentos profanos. Purificando o templo dos compradores e
vendilhões mundanos, Jesus anunciou Sua missão de limpar a alma da contaminação do pecado - dos
desejos terrenos, das ambições egoístas, dos maus hábitos que a corrompem. ‘De repente virá ao Seu templo
o Senhor, a quem vós buscais, o anjo do concerto, a quem vós desejais; eis que vem, diz o Senhor dos
Exércitos. Mas quem suportará o dia da Sua vinda? E quem subsistirá quando Ele aparecer? Porque Ele será
como o fogo dos ourives e como o sabão dos lavandeiros. E assentar-Se-á, afinando e purificando a prata; e
purificará os filhos de Levi, e os afinará como ouro e como prata'. (Malaquias 3:1-3). ‘Não sabeis vós que
sois o templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o templo de Deus, Deus
o destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós, é santo'. (1 Coríntios 3:16 e 17). Homem algum pode de
si mesmo expulsar a turba má que tomou posse do coração. Unicamente Cristo pode purificar o templo da
alma. Não forçará, porém, a entrada. Não vem ao templo do coração como ao de outrora; mas diz: ‘Eis que
estou à porta, e bato; se alguém ouvir a Minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa’. (Apocalipse.
3:20). Ele virá, não somente por um dia; pois diz: ‘Neles habitarei, e entre eles andarei: ... e eles serão o
Meu povo’. (2 Coríntios 6:16).” (1)
!38
Quando o pecador corresponde à atração do Espírito Santo, é levado ao pé da cruz, onde o Senhor nele
produz o arrependimento - tristeza pelo pecado e abandono do mesmo. Arrependido é ele perdoado, ou
justificado (declarado justo mediante a imputada justiça de Cristo). Quando o pecador arrependido é
justificado, o Espírito Santo cria nele um novo ser - o homem é recriado à imagem divina.
Consideremos as promessas do novo concerto, contidas na mensagem do profeta Jeremias, capítulo
31:31-35:
“Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o Senhor: Na mente,
lhes imprimirei as Minhas leis, também no coração lhas inscreverei; Eu serei o seu Deus, e eles serão o
Meu povo. Não ensinará jamais cada um ao seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece ao
Senhor, porque todos Me conhecerão, desde o menor até ao maior deles, diz o Senhor. Pois perdoarei as
suas iniquidades e dos seus pecados jamais Me lembrarei.”
Quais as promessas incluídas no concerto da graça?
1. Deus, mediante o Espírito Santo, imprime Sua Lei na mente e no coração dos pecadores
arrependidos, contritos e crentes, quando ocorre a justificação.
2. Quando o pecador é justificado pela fé, ele se torna membro da família de Deus: “Eu serei o seu
Deus”, diz o Senhor “e eles serão o Meu povo”.
3. O crente justificado conhece o Senhor (João 17:3) e se torna conhecido de Deus.
4. Seus pecados são perdoados, e Deus promete esquecê-los.
Não são essas grandes e maravilhosas promessas?
Quando, então, ocorre o novo nascimento?
Em João 1:12, 13, lemos: “A todos quantos O receberam [a Jesus] deu-lhes o poder de serem feitos filhos
de Deus, a saber, aos que creem no Seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne,
nem da vontade do homem, mas de Deus.”
No momento em que o pecador chega à cruz do Calvário, arrepende-se e crê no Senhor Jesus, ele nasce do
alto para uma nova vida em Cristo.
“Por este simples ato de crer em Deus, o Espírito Santo gerou em vosso coração uma nova vida. Sois agora
uma criança nascida na família de Deus, e Ele vos ama como ama a Seu próprio Filho.” (2)
A um príncipe de Israel, professor da Lei, membro do Sinédrio, pessoa dedicada à igreja, e doador liberal
para a manutenção dos serviços do templo, Jesus afirmou: “Em verdade, em verdade te digo que, se alguém
não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.” (João 3:3). Nicodemos, experiente membro da igreja,
ficou chocado com as palavras de Cristo, às quais Ele respondeu com ironia: “Como pode um homem nascer,
sendo velho? Pode, porventura, voltar ao ventre materno e nascer segunda vez? Respondeu Jesus: Em
verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de
Deus.” (João 3:5).
“A figura do novo nascimento, empregada por Jesus, não deixava de ser familiar a Nicodemos. Os conversos
do paganismo à fé de Israel eram muitas vezes comparados a crianças recém-nascidas. Portanto, devia ter
percebido que as palavras de Cristo não se destinavam a ser tomadas em sentido literal. Em virtude de seu
nascimento como israelita, entretanto, considerava-se seguro de um lugar no reino de Deus. Achava não
precisar de nenhuma mudança. Daí sua surpresa ante as palavras do Salvador. Ficou irritado por sua íntima
aplicação a si próprio. O orgulho do fariseu lutava contra o sincero desejo do pesquisador da verdade.
Admirava-se de que Jesus lhe falasse da maneira por que falou, não respeitando sua posição de príncipe em
Israel.” (3)
“Mas o Salvador não enfrentou argumento com argumento. Erguendo a mão em solene e calma dignidade,
acentuou a verdade com mais firmeza: ‘Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água
e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus.’ (João 3:5). Nicodemos sabia que Jesus Se referia aí ao
batismo de água e à renovação da alma pelo Espírito de Deus.” (4)
“Jesus continuou: ‘O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito". João 3:6. O
coração, por natureza, é mau, e ‘quem do imundo tirará o puro? Ninguém". (Jó 14:4). Invenção alguma
humana pode encontrar o remédio para a alma pecadora. ‘A inclinação da carne é inimizade contra Deus;
pois não é sujeita à Lei de Deus, nem em verdade o!3pode9 ser". (Romanos 8:7). ‘Do coração procedem os
maus pensamentos, mortes, adultérios, prostituições, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias’. (Mateus
15:19). A fonte do coração se deve purificar para que a corrente se possa tornar pura. Aquele que se esforça
para alcançar o Céu por suas próprias obras em observar a Lei, está tentando o impossível. Não há segurança
para uma pessoa que tenha religião meramente legal, uma forma de piedade. A vida cristã não é uma
modificação ou melhoramento da antiga, mas uma transformação da natureza. Tem lugar a morte do eu e do
pecado, e uma vida toda nova. Essa mudança só se pode efetuar mediante a eficaz operação do Espírito
Santo.” (5)
Várias verdades mencionadas no parágrafo acima são dignas de destaque:
1. Além do nascimento da carne, para entrarmos no reino de Deus, necessitamos nascer do Espírito
(novo nascimento) e da água (batismo). O novo nascimento ocorre no momento em que cremos em
Jesus (João 1:12, 13).
2. Somos maus, pecaminosos e corruptos por natureza. O rei Davi, em sua confissão pública, declarou:
“Eu nasci em iniquidade, e em pecado me concebeu minha mãe.” (Salmos 51:5).
3. Nada que façamos, apesar das melhores intenções, pode nos transformar de seres pecaminosos em
filhos de Deus.
4. Não é suficiente esforçar-nos por melhorar nossa vida mediante a obediência à Lei de Deus.
Necessitamos nascer de novo (ou do alto) pela operação do Espírito Santo.
O apóstolo Pedro menciona a experiência dos crentes recém-nascidos, quando escreve: “Despojando-vos,
portanto, de toda maldade e dolo, de hipocrisias e invejas e de toda sorte de maledicências, desejai
ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno leite espiritual, para que, por ele, vos seja dado
crescimento para salvação, se é que já tendes a experiência de que o Senhor é bondoso.”(1 Pedro 2:1 e 2).
O profeta Ezequiel também fala das promessas do novo concerto aos que, pelo arrependimento e fé, se
tornaram novas criaturas:
“Então, aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados de todas as vossas imundícias e de todos os
vossos ídolos vos purificarei. Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o
coração de pedra e vos darei coração de carne. Porei dentro de vós o Meu Espírito e farei que andeis nos
Meus estatutos, guardeis os Meus juízos e os observeis (...). Vós sereis o Meu povo, e Eu serei o vosso
Deus.” (Ezequiel 36: 25-28).
Mateus 5:20 e João 3:3 e 5 são textos paralelos que mencionam condições especiais para entrarmos no reino
de Deus.
No primeiro texto mencionado, Jesus afirma que se a nossa justiça não superar em muito a justiça dos
escribas e fariseus, de modo nenhum entraremos no reino de Deus (Mateus 5:20). Em Seu diálogo com
Nicodemos (João 3:3 e 5), Jesus declarou que se não ocorrer o novo nascimento, não podemos de modo
algum entrar no reino de Deus.
Ao aceitarmos a justiça de Cristo mediante a fé, o Espírito Santo opera em nós o novo nascimento,
produzindo em nós uma nova vida.
“Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo; por
intermédio de quem obtivemos igualmente acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos firmes; e gloriamo-
nos na esperança da glória de Deus. E não somente isso, mas também nos gloriamos nas próprias
tribulações, sabendo que a tribulação produz perseverança; e a esperança, experiência; e a experiência,
esperança. Ora, a esperança não confunde, porque o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo
Espírito Santo, que nos foi outorgado.” (Romanos 5:1-5).
Escrevendo a Tito, Paulo declarou: “Porquanto a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os
homens, educando-nos para que, renegadas a impiedade e as paixões mundanas, vivamos, no presente
século, sensata, justa e piedosamente, aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso
grande Deus e Salvador Cristo Jesus, o qual a Si mesmo Se deu por nós, a fim de remir-nos de toda
iniquidade e purificar, para Si mesmo, um povo exclusivamente Seu, zeloso de boas obras.” (Tito 2: 11-14).
“Pois nós também, outrora, éramos néscios, desobedientes, desgarrados, escravos de toda sorte de paixões
e prazeres, vivendo em malícia e inveja, odiosos !4e0 odiando-nos uns aos outros. Quando, porém, se
manifestou a benignidade de Deus, nosso Salvador, e o Seu amor para com todos, não por obras de justiça
praticadas por nós, mas segundo Sua misericórdia, Ele nos salvou mediante o lavar regenerador e
renovador do Espírito Santo, que Ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso
Salvador, a fim de que, justificados por graça, nos tornemos Seus herdeiros, segundo a esperança da vida
eterna.” (Tito 3: 3-7).
Resumindo o que foi dito com as palavras inspiradas de Ellen G. White, lemos:
“Como, então, nos havemos de salvar? – ‘Como Moisés levantou a serpente no deserto’, assim foi levantado
o Filho do homem, e todo aquele que tem sido enganado e mordido pela serpente, pode olhar e viver. ‘Eis o
Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.’ (João 1:29). A luz que irradia da cruz revela o amor de
Deus. Seu amor atrai-nos a Ele mesmo. Se não resistirmos a essa atração, seremos levados ao pé da cruz em
arrependimento pelos pecados que crucificaram o Salvador. Então o Espírito de Deus, mediante a fé, produz
uma nova vida na alma. Os pensamentos e desejos são postos em obediência à vontade de Cristo. O coração,
o espírito, são novamente criados à imagem dAquele que opera em nós para sujeitar a Si mesmo todas as
coisas. Então a Lei de Deus é escrita na mente e no coração, e podemos dizer com Cristo: ‘Deleito-Me em
fazer a Tua vontade, ó Deus Meu’. (Salmos 40:8).” (6)
1. O amor de Deus revelado na cruz nos atrai;
2. Se não resistirmos à atração divina, seremos levados ao pé da cruz. Ali o Espírito Santo produz em
nós genuíno arrependimento. Arrependidos, somos justificados.
3. O Espírito Santo produz nova vida na alma. Ocorre o novo nascimento.
4. O mesmo Espírito Santo inscreve a Lei de Deus em nosso coração quando nos arrependemos e
somos justificados.
5. Vivemos, pela graça, uma vida em harmonia com a vontade de Deus, pois a Lei divina não é um
código escrito fora de nós, mas em nosso coração.
Como vimos, o novo nascimento está intimamente associado à justificação pela fé. Quando cremos em
Jesus, somos perdoados (ou justificados) e nesse momento nascemos de novo.
“O perdão de Deus não é meramente um ato judicial pelo qual Ele nos livra da condenação. É não somente
perdão pelo pecado, mas livramento do pecado. É o transbordamento de amor redentor que transforma o
coração.” (7)
Perguntamos ao nosso leitor: Você já nasceu de novo? Se a resposta for positiva, congratulamo-nos com
você. Se não, por que não aproveitar o momento, entregando sua vida ao Senhor Jesus para que Ele o
transforme em nova criatura hoje mesmo?

(1)
WHITE, Ellen. “O Desejado de Todas as Nações”, p. 161.
(2)
WHITE, Ellen. “Caminho a Cristo”, pp. 51, 52.
(3)
WHITE, Ellen. “O Desejado de Todas as Nações”, p. 171.
(4)
WHITE, Ellen. “O Desejado de Todas as Nações”, pp. 171, 172.
(5)
WHITE, Ellen. “O Desejado de Todas as Nações”, p. 172.
(6)
WHITE, Ellen. “O Desejado de Todas as Nações”, pp. 175, 176.
(7)
WHITE, Ellen. “O Maior Discurso de Cristo”, p. 114.

!41
Capítulo 9 - A Santificação
Por Rômulo Borges
Há um fato triste em nossa história: o progenitor da humanidade escolheu pecar, rebelar-se contra Deus, e se
tornou inimigo de Deus. Como descendentes da raça humana, nascemos em pecado, em rebelião contra
Deus. Essa verdade é destacada nas palavras de Davi: “Eis que em iniquidade fui formado, e em pecado me
concebeu minha mãe.” (Salmo 51:5). O apóstolo Paulo também deixou claro o assunto da nossa herança
pecaminosa quando disse: “Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a
morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram.” (Romanos 5:12). Em
resumo, as Escrituras afirmam que “o salário do pecado é a morte.” (Romanos 6:23).
Mas, acima desse fato, existe algo concreto que nos alegra: Deus escolheu perdoar o ser humano, fazer dele
uma nova criatura e salvá-lo para o Seu reino. “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu
Filho unigênito, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16). O
amor divino se revelou em sua plenitude. O preço que Deus pagou pela nossa salvação transcende toda a
computação finita e vai além da compreensão do homem. Nós jamais poderemos pagar a Deus pela Sua
misericórdia, pela Sua benignidade e pelo Seu amor. Assim, fica claro que a salvação é dom de Deus; não é
realização humana, é realização de Deus na manifestação de Sua misericórdia e de Seu amor.
Enfatizando o grande tema da salvação, o apóstolo Paulo declarou: “Todos pecaram e destituídos estão da
glória de Deus, sendo justificados gratuitamente pela Sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus, ao
qual Deus propôs para propiciação pela fé no Seu sangue, para demonstrar a Sua justiça pela remissão dos
pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus; para demonstração da Sua justiça neste tempo
presente, para que Ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus.” (Romanos 3:23-26).

A Relação entre a justificação e a santificação


Podemos resumir todo o tema da justificação em uma só palavra: perdão. Justificação é o ato de Deus em
perdoar o ser humano sem que haja um único mérito de sua parte, nada que o leve a merecer o amor
perdoador de Deus. Portanto, para que a justificação aconteça, o Senhor lança a glória humana no pó, e
realiza por ele o que ele não pode fazer por si mesmo.!42É claro que a única maneira pela qual o homem pode
se apoderar da provisão divina da justificação é a fé: “Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com
Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo.” (Romanos 5:1). A justificação vem pela fé, a fé é dom de Deus e
unicamente a faculdade de exercê-la cabe ao homem.
A santificação é o caminhar com Deus todos os dias. É o processo diário da restauração da imagem divina
no homem. É o viver de Cristo na vida do pecador arrependido. O apóstolo enfatizou essa experiência
quando usou as palavras: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e
a vida que agora vivo na carne, vivo-a pela fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a Si mesmo
por mim.” (Gálatas 2:20).
Existe uma relação entre a justificação e a santificação. O propósito da justificação é a santificação. Deus
nos salva a fim de restaurar em nós a Sua imagem. Isso pode ser comparado a uma árvore frutífera carregada
de bons frutos. A justificação se torna a raiz da árvore e a santificação, os frutos. A raiz não é o fruto e o
fruto não é a raiz. A raiz está escondida no solo, mas os frutos são visíveis e testificam de que a raiz está
viva. Assim se revela a santificação como uma consequência da justificação. E não existe santificação sem
justificação. Justificação viva é sinônimo de santificação real.
É importante notar que tudo procede da justiça de Cristo, porque tanto nosso título ao Céu, como nossa
idoneidade para ele, encontram-se unicamente na justiça de Cristo. Quando falamos de título e idoneidade,
estamos nos referindo à salvação que Deus propõe ao homem: Uma salvação completa. E a santificação é
um processo que integra o plano de Deus para o ser humano. A justiça pela qual somos justificados é
creditada a nós, ou seja, creditada em nosso favor. Ela constitui nosso passaporte para o Céu: isso é
justificação. A justiça pela qual somos santificados é comunicada a nós. Isso quer dizer que essa justiça atua
no coração humano, transformando-o à imagem e à semelhança de Jesus: isso é santificação. Na justificação
somos filhos de Deus e na santificação somos novas criaturas; na justificação Cristo é o Salvador e na
santificação Cristo é o Senhor.

A santificação envolve uma separação


A palavra santificação vem de santo, que no original hebraico é a palavra kadosh. O principal significado de
kadosh no hebraico é separado para um fim específico. Portanto, a santificação está relacionada com o
sentido de kadosh: separado para a salvação. Uma pessoa separada para salvação vive segundo a vontade do
Senhor. Sua vida, sua indumentária, sua alimentação e sua conversação estão separadas do mundo. Também
fica claro que essa separação compreende o ser inteiro: corpo, alma e espírito. “E o mesmo Deus de paz vos
santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis
para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.” (1 Tessalonicenses 5:23).

A santificação faz parte da salvação que existe para o homem


A libertação do povo de Israel do cativeiro egípcio pode ser usada como uma ilustração no processo da
santificação. Após dezenas de anos de servidão, Deus realizou o milagre da libertação. A maneira pela qual
Deus atuou foi surpreendente e, em um curto espaço de tempo, os israelitas saíram do Egito para desfrutar a
liberdade. Mas, o Senhor levou 40 anos para tirar o Egito do coração de Israel. Ou seja, a saída dos israelitas
do Egito foi rápida, mas a retirada do Egito do coração de Israel foi um processo diário e demorado, que
durou todo o tempo da sua peregrinação no deserto. De maneira idêntica, o cristão deixa o mundo, mas a
retirada das tendências do mundo de seu coração é um processo diário que perdura por toda a sua
peregrinação nesta vida.
“A conversão tira o cristão do mundo, a santificação tira o mundo do cristão.” Esse pensamento de John
Wesley condensa dois pontos interessantes: Ao aceitar a Cristo, o homem renuncia o mundo, deixa o
exército do inimigo e ingressa nas fileiras dos soldados do Rei. Então, ele passa a enfrentar diariamente uma
luta interna contra as ações e os hábitos da antiga natureza. E para que esses elementos do mal sejam
eliminados da vida é necessária a graça da santificação.
“Uma transformação de caráter (...) é sempre o resultado da comunhão com Cristo. Pode haver marcados
defeitos na vida de alguém; contudo, quando ele se torna um verdadeiro discípulo de Cristo, o poder da
divina graça o transforma e o santifica.” (1)
!43
Na justificação, o pecador recebe a salvação da condenação do pecado e, então, na santificação ele desfruta
a salvação do poder do pecado. “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o
Senhor.” (Hebreus 12:14).
Há um pensamento muito profundo que projeta luz sobre o verdadeiro sentido da santificação: “Santificação
é o resultado de morrer constantemente para o pecado, e viver constantemente para Cristo.” (2)
A morte e a vida acontecem a cada dia. É uma experiência diária com Cristo. Morte para o pecado e uma
ressurreição para novidade de vida. Assim, a santificação é o resultado de uma obediência que dura a vida
toda. Paulo declarou: “Morro todos os dias.” (1 Coríntios 15:31).
“A santificação não é obra de um momento, de uma hora, de um dia, mas da vida toda. Não se alcança com
um feliz voo dos sentimentos, mas é o resultado de morrer constantemente para o pecado, e viver
constantemente para Cristo. Não se pode corrigir os erros nem apresentar reforma de caráter por meio de
esforços débeis e intermitentes. Só podemos vencer mediante longos e perseverantes esforços, severa
disciplina e rigoroso conflito. Não sabemos quão terrível será nossa luta no dia seguinte. Enquanto Satanás
reinar, teremos de subjugar o próprio eu e vencer os pecados que nos assaltam. Enquanto durar a vida não
haverá ocasião de repouso nenhum.” (3)

A santificação e a obra do Espírito Santo


Pense em um novo homem, nascido em Cristo e medite nas palavras de Paulo: “Que, quanto ao trato
passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe pelas concupiscências do engano, e vos renoveis
no espírito do vosso sentido, e vos revistais do novo homem, que, segundo Deus, é criado em verdadeira
justiça e santidade.” (Efésios 4:22-24); “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas
velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.” (2 Coríntios 5:17). Quando abordamos o tema da
santificação, da nova criatura, não podemos esquecer que o Agente divino na santificação é o Espírito Santo.
Falando sobre o Espírito Santo, Jesus disse: “Quando vier o Consolador, que Eu da parte do Pai vos hei de
enviar, aquele Espírito de verdade, que procede do Pai, Ele testificará de Mim.” (João 15:26). O Espírito
Santo veio como Representante de Cristo na Terra. É o Ser divino que torna eficaz o que foi realizado pelo
Redentor do mundo em favor do homem. Também é por meio do Espírito Santo que o coração humano é
purificado de toda mancha do pecado. Ele leva o cristão a se tornar participante da natureza divina e o
capacita a vencer toda tendência hereditária e cultivada para o mal e igualmente concede poder ao homem
para que ele tenha uma vida vitoriosa sobre o pecado. Também cabe a Ele gravar o caráter de Cristo em Sua
igreja.
“Quando o Espírito de Deus toma posse do coração, transforma a vida. Os pensamentos pecaminosos são
afastados, renunciadas as más ações; o amor, a humildade e a paz tomam o lugar da ira, da inveja e da
contenda. A alegria substitui a tristeza e o semblante passa a refletir a luz do Céu. Ninguém vê a mão que
suspende o fardo, nem a luz que desce das cortes celestiais. A bênção vem quando, pela fé, a pessoa se
entrega a Deus. Então, aquele poder que olho algum pode discernir, cria um novo ser à imagem de Deus.” (4)

A fé e as obras
Muitos dos que estudam o tema da santificação entram em dificuldades sobre a conciliação entre fé e obras.
Ao analisarem a fé se esquecem das obras e, ao atentarem para as obras, se esquecem da fé. “Há dois erros
contra os quais os filhos de Deus devem precaver-se de maneira especial, particularmente os que só há
pouco vieram a confiar na graça divina. O primeiro (...) é o de tomar em consideração suas próprias obras,
confiando em qualquer coisa que possam fazer, a fim de pôr-se em harmonia com Deus. Aquele que procura
tornar-se santo por suas próprias obras, guardando a Lei, está tentando o impossível. O erro oposto, e não
menos perigoso, é o de que a crença em Cristo isente o ser humano da observância da Lei de Deus; que,
visto como somente pela fé nos tornamos participantes da graça de Cristo, nossas obras nada têm que ver
com nossa redenção.” (5)
Fé e obras não estão combatendo uma contra a outra, mas em perfeita harmonia. Quando o apóstolo Paulo
falou da fé (Romanos 3:28), destacou a causa da salvação: a fé em Cristo. E quando o apóstolo Tiago
enfatizou as obras (Tiago 2:24), falou do efeito da mesma salvação. Paulo não combateu as obras e Tiago
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não combateu a fé. É a fé que revela as obras e são as obras que demonstram a fé. “É a fé, e ela só, que, em
vez de dispensar-nos da obediência, nos torna participantes da graça de Cristo, a qual nos habilita a prestar
obediência.” (6)
Então, compreendemos pela revelação sagrada que as boas obras são condenadas quando praticadas visando
a salvação. Porém, são necessárias e aceitas por Deus como resultado da salvação que Cristo oferece ao ser
humano gratuitamente. “A justiça de Cristo consiste em ações corretas e boas obras provenientes de motivos
puros e altruístas.” (7)

A cooperação humana
Há um pensamento muito interessante no livro “Fé e Obras” que destaca esse ponto: “Deus deu aos homens
faculdades e aptidões. Deus trabalha e coopera com os dons que Ele comunicou ao ser humano e este, sendo
participante da natureza divina e fazendo a obra de Cristo, pode ser um vencedor e obter a vida eterna. O
Senhor não Se propõe a fazer a obra que Ele deu ao ser humano capacidade para efetuar. A parte humana
precisa ser realizada. Ele deve ser cooperador de Deus, unindo-se a Cristo, e aprendendo de Sua mansidão e
de Sua humildade. Deus é o poder que domina sobre tudo. Ele concede os dons; o ser humano os recebe e
age com o poder da graça de Cristo como instrumento vivo.” (8)
De maneira clara, pode-se dizer que a cooperação humana acontece no plano divino da salvação total,
evidenciando que o que Deus pode fazer o homem não faz e o que o homem pode fazer Deus não faz: “O
Senhor não Se propõe a fazer a obra que Ele deu ao ser humano capacidade para efetuar.” O homem coopera
com o Céu no processo da santificação. “O poder divino e a atuação humana combinados serão um êxito
total, pois a justiça de Cristo cumpre tudo.” (9)
Na obra de cooperação podem ser destacados alguns elementos indispensáveis, a saber:

O Estudo da Palavra de Deus


A vida de Cristo, que dá vida ao mundo, acha-se em Sua Palavra. A Palavra de Deus é alimento espiritual.
Como a vida física se mantém pela comida, assim é a espiritual mantida pela Palavra de Deus. “Achando-se
as Tuas palavras, logo as comi, e a Tua Palavra foi para mim o gozo e alegria do meu coração” (Jeremias
15:16). Um programa sistemático de estudo da Bíblia, absorvendo o ensino do Senhor, pendurando na
galeria da memória as porções do santo livro, faz com que o cristão adquira força e vigor espirituais.
“Escondi a Tua Palavra no meu coração, para eu não pecar contra Ti.” (Salmo 119:11). “Com que
purificará o jovem o seu caminho? Observando-o conforme a Tua Palavra.” (Salmo 119:9).

O Batismo
Trata-se do nascimento da água. Jesus, ao falar com Nicodemos, enfatizou a importância do batismo, a
grande necessidade de nascer da água e não somente do Espírito (João 3). O nascimento do Espírito
representa nossa conversão e o nascimento da água, o batismo. Isso quer dizer que a verdadeira conversão é
testificada pelo ato público do batismo. Não existe mérito nesse sacramento, mas, ao descer às águas
batismais, o cristão está cumprindo as condições estabelecidas por Deus para o ingresso no Seu reino:
“Jesus respondeu, e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode
ver o reino de Deus.” (João 3:3).

A oração
É o abrir do coração a Deus como a um amigo. Na oração, o cristão entra na sala de audiência de Deus. Uma
vida de oração é uma vida de poder. Os santos homens do passado deixaram para todos nós esse digno
exemplo. Sendo assim, compreendemos que muita oração é sinônimo de muito poder e pouca oração é
sinônimo de pouco poder. “Se o Salvador dos homens, com Sua força divina, sentia a necessidade de oração,
quanto mais deviam os fracos mortais, pecadores, sentir a necessidade de oração fervorosa e constante!” (10)

A vigilância
Jesus enfatizou: “Vigiai e orai para que não entreis em tentação” (Mateus 26:41). A vigilância inclui o
olhar, os pensamentos, as palavras e as ações. Nenhuma pessoa será colocada fora do alcance da tentação e
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todo ser humano tem pontos frágeis que estão em perigo quando é assediado pelo inimigo. Diante disso,
todos devem sentir a necessidade de se manter em constante vigilância, guardando as avenidas da alma sem
vacilar por um único momento. “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele
procedem as fontes da vida.” (Provérbios 4:23).

O louvor
A vida cristã é de alegria e não de tristeza. O cristão expressa sua alegria por meio do canto. O louvor a
Deus proporciona um anelo de alma e serve de conforto nos momentos tristes e de refrigério nos momentos
de tribulação. O louvor faz parte da santificação. “Louvarei ao Senhor em todo o tempo; o Seu louvor estará
continuamente na minha boca” (Salmos 34:1). “Portanto, ofereçamos sempre por Ele a Deus sacrifício de
louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o Seu nome.” (Hebreus 13:15).

A beneficência sistemática
Devemos cooperar na Causa de Deus devolvendo nossos dízimos e ofertas voluntárias como um ato de
adoração. Também devemos ajudar os menos favorecidos, auxiliando aqueles que necessitam do nosso
amparo. Assim cooperamos no plano de Deus e desfrutamos um crescimento espiritual. “Então, dirá o Rei
aos que estiverem à Sua direita: Vinde, benditos de Meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está
preparado desde a fundação do mundo. Porque tive fome, e Me destes de comer; tive sede, e Me destes de
beber; era forasteiro, e Me hospedastes; estava nu, e Me vestistes; enfermo, e Me visitastes; preso, e foste
ver-Me.” (Mateus 25:34-36).

A pregação do Evangelho
É no afã de salvar os outros que operamos nossa salvação. O cristão compartilha as boas-novas do
evangelho: a salvação gratuita em Cristo. Uma vez que a pregação do evangelho não foi confiada aos anjos,
mas sim aos homens, recai sobre todo o cristão a grande e solene responsabilidade de anunciar o evangelho.
“Se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois sobre mim pesa essa obrigação; porque ai de
mim se não pregar o evangelho!” (1 Coríntios 9:16).

Obediência aos Mandamentos


A vontade de Deus é revelada em Sua Lei. A Lei eterna de Deus, que é transcrição do Seu caráter, está
registrada em Êxodo 20:3-17. Esses dez mandamentos estão revelados na Santa Bíblia. Portanto, a
submissão à Palavra de Deus em obedecer ao conjunto da revelação divina constitui o dever e o privilégio
de todo cristão. Não há santificação enquanto ocorre desobediência à Lei do Senhor. “Aquele que tem os
Meus mandamentos e os guarda, esse é o que Me ama; e aquele que Me ama será amado por Meu Pai, e Eu
também o amarei e Me manifestarei a Ele.” (João 14:21).
Além do estudo da Palavra de Deus, o batismo, a oração, a vigilância, o louvor, a beneficência sistemática, a
pregação do evangelho e a obediência aos mandamentos de Deus, podemos acrescentar outros pontos
importantes da cooperação humana como a participação nos cultos de adoração a Deus, a comunhão cristã
com os irmãos, e a participação na santa ceia.

Conclusão
Todas as obras são condenadas como meio de salvação, mas destaca-se o fato de que as obras cristãs
realizadas em harmonia com a vontade de Deus são aceitáveis diante do Senhor, porque são motivadas
unicamente pelo amor. São as obras de Cristo realizadas na vida de Seus seguidores. “Senhor, Tu nos darás
a paz, porque Tu és o que fizeste em nós todas as nossas obras.” (Isaías 26:12). “Pois somos feitura dEle,
criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas.”
(Efésios 2:10). A obra em si não tem nenhum mérito como causa de salvação, mas como consequência da
salvação. “Todas as suas boas obras não podem salvá-los; no entanto, é impossível que vocês sejam salvos
sem boas obras.” (11)
Além da fé e das obras no contexto da santificação, também podemos dizer que à luz das Escrituras, a
verdadeira santificação ocorre com a atuação divina e a resposta da cooperação do homem. Essa cooperação
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humana tem por base a vontade rendida ao Senhor e no exercício da escolha, mas, embora haja a cooperação
humana, não existe nenhum mérito humano. “Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o
efetuar, segundo a Sua boa vontade.” (Filipenses 2:13).
Santificação vem de ‘SANTO’ que significa separado... E não se esqueça caro leitor: você é convidado a
participar dessa experiência. O Senhor deseja separá-lo para um fim específico. Ele deseja separá-lo para
que você viva segundo a vontade de Deus. Ele deseja separá-lo para a salvação.“Mas, agora,” (diz o
apóstolo), “libertados do pecado e feitos servos de Deus, tendes o vosso fruto para santificação, e por fim a
vida eterna.” (Romanos 6:22).
Portanto, desfrute hoje o privilégio de viver em santificação e no futuro próximo você desfrutará a bênção
final da glorificação.

(1)
WHITE, Ellen. “Atos dos Apóstolos”, p. 559.
(2)
WHITE, Ellen. “Atos dos Apóstolos”, p. 560.
(3)
WHITE, Ellen. “Atos dos Apóstolos”, p. 561.
(4)
WHITE, Ellen. “O Desejado de Todas as Nações”, p. 173.
(5)
WHITE, Ellen. “Caminho a Cristo”, p. 59-60.
(6)
WHITE, Ellen. “O cuidado de Deus”, p. 80.
(7)
WHITE, Ellen. “Testemunhos para a Igreja”, vol. 3, p. 528.
(8)
WHITE, Ellen. “Fé e Obras”, p. 26.
(9)
WHITE, Ellen. “Fé e Obras”, p. 27.
(10)
WHITE, Ellen. “Testemunhos Para a Igreja”, vol. 2, p. 203.
(11)
WHITE, Ellen. “Review and Herald”, 21 de março de 1878.

Capítulo 10 - O Poder da Palavra


Por Alexandre de Araújo

No mundo cristão existem alguns mitos que se perpetuam sobre o poder da Palavra de Deus. Alguns veem a
Bíblia apenas como uma espécie de oráculo. Esses crentes recorrem a Palavra de Deus quando estão com
dúvida sobre a melhor decisão a tomar, sobre qual o caminho a seguir. Eles oram e depois a abrem em
qualquer parte, acreditando que Deus vai comunicar a Sua vontade no trecho que vão ler. Outra variação
desse método é o uso da “caixinha de promessas”. Nesse caso, o crente também ora e então tira um dos
!47ele desse modo.
papeletes. Ele acredita que Deus vai se comunicar com
Outros tratam a Bíblia como uma espécie de talismã. Essas pessoas costumam colocar a Bíblia aberta na
sala, para proteger a casa e os seus moradores contra a violência ou algo que coloque em risco a segurança
da família. Alguns chegam a levá-la na boleia do caminhão ou ônibus para proteger o veículo de acidentes.
Poderíamos continuar citando outros exemplos de relações supersticiosas que o mundo cristão alimenta a
respeito do poder da Palavra de Deus. É verdade que ela tem poder. Milhões de vidas transformadas por ela
testemunham disso. Contudo é preciso corrigir o modo equivocado de nos relacionarmos com ela para
podermos usufruir do benefício de sua leitura. Para isso precisamos entender que o poder da Palavra de
Deus está na sua mensagem, no seu conteúdo, e não na sua forma.

A Palavra encarnada
Em grego existem duas expressões que podem ser traduzidas por “Palavra”: logos e rhema. Enquanto a
primeira refere-se ao pensamento, aquilo que está na mente, a segunda refere-se à expressão desse conceito.
Uma é a palavra pensada e a outra é a dita. A expressão “Palavra de Deus” está mais relacionada com o
primeiro conceito.
Para os escritores do Novo Testamento, o conceito “Palavra de Deus” é mais amplo do que o uso que
costumamos fazer dela. Uma rápida leitura do texto neotestamentário revela pelo menos três aplicações
possíveis: a Palavra encarnada, a Palavra pregada e a Palavra revelada.
A Palavra encarnada é a segunda pessoa da divindade que Se fez homem. O Prometido do Antigo
Testamento é identificado com a Sabedoria de Deus. Falando sobre a Sabedoria, Provérbios diz: “O
SENHOR me possuía no início de Sua obra, antes de suas obras mais antigas.” (Provérbios 8:22). Ela foi o
grande Arquiteto que projetou todas as obras de criação. Esse conceito aplicado ao Messias é ampliado em
o Novo Testamento. Nele, Cristo também é chamado de a “Sabedoria” de Deus (1 Coríntios 1:30).
Contudo, no Apocalipse o apóstolo João denomina Jesus de Cristo de “o Verbo de Deus” (Apocalipse
19:11-13). A NVI traduz essa expressão como “Palavra de Deus.”
O apóstolo amado aprofunda este conceito na abertura do evangelho que recebeu o seu nome: “No princípio
era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.” (João 1:1). O princípio a que o escrito se
refere é anterior ao de Gênesis 1:1 (“No princípio, criou Deus os céus e a terra.”). Ele vai até a própria
eternidade. João está dizendo que o Verbo sempre existiu. Ellen G. White concordou com esse conceito
quando escreveu: “O Senhor Jesus Cristo, o divino Filho de Deus, existiu desde a eternidade, como pessoa
distinta, mas um com o Pai.” (1)
Nesse mesmo artigo, dois parágrafos acima, ela O chama de “o eterno Filho de Deus”.
João ainda explica que “o Verbo estava com Deus”. Ele revela assim a íntima comunhão que sempre existiu
entre Eles. Isso revela a igualdade de natureza entre o Filho e o Pai. Por fim, a passagem conclui: “e o Verbo
era Deus”. É possível perceber uma progressão do pensamento nessa passagem até a chegada ao clímax,
quando ele conclui que Cristo é Deus.
Os filósofos pré-socráticos estavam preocupados com a origem de todas as coisas. Havia uma discussão
interminável sobre o “princípio” de tudo, ou seja, do que são feitas todas as coisas. Nesse debate havia a
corrente dos quatro elementos: fogo, água, terra e ar. Outros acreditavam que tudo era composto de um
elemento indivisível, chamado de átomo. Para João o princípio era o Verbo. Ele é a origem de tudo (João
1.3).
O conceito de que Cristo é o Verbo é usado por João na introdução da sua primeira epístola: “O que era
desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos próprios olhos, o que
contemplamos, e as nossas mãos apalparam, com respeito ao Verbo da vida (e a vida se manifestou, e nós a
temos visto, e dela damos testemunho, e vo-la anunciamos, a vida eterna, a qual estava com o Pai e nos foi
manifestada), o que temos visto e ouvido anunciamos também a vós outros, para que vós, igualmente,
mantenhais comunhão conosco.” (1 João 1:1-3).
Ao afirmar que Jesus é o Verbo, a Palavra de Deus, o apóstolo está dizendo que Ele é o pensamento da
divindade. Esse conceito ecoa aquilo que o salmista escreveu sobre a criação do mundo: “Pois Ele falou, e
tudo se fez; Ele ordenou, e tudo passou a existir.” (Salmo 33:9). Deus criou todas coisas por meio de Sua
Palavra, Cristo. E Ele mantém tudo no seu devido lugar por meio dela (Hebreus 1:1-3). Por meio dessa
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Palavra vivemos, nos movemos e existimos (Atos 17:28). Devemos a nossa existência ao poder dessa
Palavra.

O Evangelho pregado
O segundo uso da expressão Palavra de Deus em o Novo Testamento tem o sentido de pregação do
evangelho. Os cristãos primitivos referiam-se à divulgação das boas novas em Jesus Cristo como sendo “a
Palavra de Deus: “Agora, Senhor, considera as ameaças deles e capacita os teus servos para anunciarem a
Tua palavra corajosamente.” (Atos 4:29). “Depois de orarem, tremeu o lugar em que estavam reunidos;
todos ficaram cheios do Espírito Santo e anunciavam corajosamente a Palavra de Deus.” (Atos 9:31).
“Assim, a palavra de Deus se espalhava.” (Atos 6:7). Veja também Atos 8:4, 14, 25; 11:1; 12: 24; 16:5, 32,
etc. Para os apóstolos a “palavra da verdade” era “o evangelho da vossa salvação.” (Efésios 1:13).
O apóstolo Paulo também se referia à pregação do evangelho como sendo a anunciação da Palavra de Deus.
Para ele, proclamar a Cristo era anunciar a Palavra que estava oculta na eternidade e que se tornou realidade
na manifestação do Filho ao mundo: “Paulo, servo de Deus e apóstolo de Jesus Cristo, para promover a fé
que é dos eleitos de Deus e o pleno conhecimento da verdade segundo a piedade, na esperança da vida
eterna que o Deus que não pode mentir prometeu antes dos tempos eternos e, em tempos devidos,
manifestou a Sua palavra mediante a pregação que me foi confiada por mandato de Deus, nosso
Salvador.” (Tito 1:1-3).
A pregação de Cristo era a Palavra de Deus que levava a pessoa a desenvolver a fé (Romanos 10:14-17).
Permanecer nessa Palavra pode levar à salvação (1 Coríntios 15:2). Ela opera no crente (2 Tessalonicenses
2:13), gera uma nova vida (Tiago 1:18) através da santificação (Efésios 5.26; 1 Timóteo 4:5), alimenta (1
Timóteo 4:6) e o faz crescer na graça (Hebreus 5:13). Quando a pessoa auferia lucro com a pregação do
Evangelho, Paulo o condenava como alguém que estava “mercadejando a Palavra de Deus” (2 Coríntios
2:17). Se o crente distorcia as boas novas era acusado pelo apóstolo como alguém que estava “adulterando a
Palavra de Deus” (2 Coríntios 4:2).

A Palavra escrita
Sem Jesus a Bíblia é apenas um livro de moral e ética. Se perdermos esse foco de vista, de que o centro da
Bíblia é o Senhor Jesus, cairemos no erro dos fariseus que conheciam a letra da Palavra de Deus mas não
tinham encontrado a sua essência. Jesus aponta para esse erro quando acusa os líderes religiosos do seu
tempo de não conhecerem “as Escrituras nem o poder de Deus.” (Mateus 22:29).
Concordamos com E. J. Waggoner quando ele comenta que: “Homens nos dias de Platão, Sêneca e Marco
Aurélio ensinaram o que chamavam ciência moral; Confúcio ensinava preceitos morais. Mas no que todos
falharam, era em dizer aos homens como podiam cumprir o que ensinavam ser justo. Mesmo estes homens
que ensinavam ciência moral e virtude, praticavam as coisas que condenavam, falhando assim no que
apresentavam como dever moral.
“Enquanto estes instrutores nos dizem o que devemos fazer, falhando em nos dar o poder de o fazer, a
religião de Jesus Cristo não só nos ensina o que é justo, mas também nos habilita a efetuar o que é bom. Por
conseguinte, se Cristo não está entrelaçado no ensino, o esforço de ensinar moral é somente a ciência antiga
e pagã da moral, que é imoralidade.” (2)

Ao lermos as Escrituras sem encontrarmos a Cristo no texto, estamos perdendo a oportunidade de sentir o
seu poder em nossa vida. Sem Cristo, a Bíblia é apenas um livro de ética e moral, sem poder de transformar
vidas. Apenas quando encontramos a Cristo nela, temos contato com a fonte de vida. Por isso, muitos
cristãos que já a leram durante vários anos não estão vivendo a vida plena que Cristo prometeu ao crente. Ou
pior, usam a Bíblia apenas como forma de provar que estão certos em suas convicções religiosas. Eles não
sabem usufruir do poder da Palavra.
Os escritores do Novo Testamento costumavam citar os textos do Antigo Testamento para defender que
Jesus era o cumprimento das profecias referentes ao Messias. Para eles o texto veterotestamentário era a
Palavra de Deus. Mas eles entendiam que o sentido das Escrituras era revelar a Cristo e que um estudo do
texto sagrado sem levar em conta esse aspecto era sem !49 sentido. O texto antigo só tem sentido quando lido à
luz da revelação de Deus através de Cristo: “Também não tendes a Sua palavra permanente em vós, porque
não credes nAquele a quem Ele enviou. Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e
são elas mesmas que testificam de Mim. Contudo, não quereis vir a Mim para terdes vida." (João 5: 38-40).
Os judeus cometiam o erro de não saber o verdadeiro propósito do texto bíblico. Eles acreditavam que a
memorização de passagens bíblicas seria suficiente para santificar a alma e garantir a vida eterna. Eles
perderam o foco e não compreendiam que o poder da Palavra estava no Cristo que ela anunciava. Se lermos
a Bíblia e não encontrarmos a Cristo nela, cairemos no mesmo engano.

Considerações finais
Quando encontrarmos o Evangelho nas Escrituras, vai se cumprir a promessa encontrada no Salmo 119,
versículos 9 e 11: “De que maneira poderá o jovem guardar puro o seu caminho? Observando-o segundo a
Tua palavra. [...]Guardo no coração as Tuas palavras, para não pecar contra Ti.” Alguns cristãos
acreditam que seguir certos usos e costumes, que os distinguem do mundo, protegem a alma da
contaminação do pecado. Eles acreditam que se orarem de determinado modo, realizarem o culto matutino e
vespertino, deixarem de comer isso ou aquilo, não usarem determinado tecido, ou modelo de roupa, estão se
santificando. Paulo condena esse grupo com as seguintes palavras: “Então, por que é que vocês estão
vivendo como se fossem deste mundo? Não obedeçam mais a regras como estas: ‘Não toque nesta coisa’,
‘não prove aquela’, ‘não pegue naquela’. Todas essas proibições têm a ver com coisas que se tornam inúteis
depois de usadas. São apenas regras e ensinamentos que as pessoas inventam. De fato, essas regras
parecem ser sábias, ao exigirem a adoração forçada dos anjos, a falsa humildade e um modo duro de tratar
o corpo. Mas tudo isso não tem nenhum valor para controlar as paixões que levam à
imoralidade.” (Colossenses 2:20-23. NTHL).
Por outro lado, a Palavra de Deus estabelece princípios do viver saudável e modesto. Paulo afirma:
“Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para a glória de Deus” 1
Coríntios 10:31.
A santificação não ocorre de fora para dentro, mas de dentro para fora. Ela é a ação direta do Espírito Santo
(1 Pedro 1: 2; Tito 3: 5 e 6), que utiliza a Palavra de Deus para realizar essa obra no homem: “Para que a
santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela Palavra.” (Efésios 5:26). Contudo,
apenas quando ela é estudada à luz do Evangelho é que o poder dela se manifesta.

(1)
WHITE, Ellen. “Mensagens Escolhidas”, vol. 1, p. 247.
(2)
Waggoner, E. J. “Cartas ao Romanos”, p. 2.

Capítulo 11 - A Glorificação
Por Rômulo Borges

Existe um caminho bem definido que mostra a ordem no processo da salvação total: Chamado,
Arrependimento, Justificação, Santificação, Glorificação e Eternidade. Só existe eternidade para aqueles que
foram glorificados, só existe glorificação para os que foram santificados, só existe santificação para os que
foram justificados, só existe justificação para os que se arrependeram, só existe arrependimento para os que
corresponderam ao chamado do Espírito Santo. Então a salvação tem início quando alguém diz "sim" ao
chamado do Espírito Santo. Por isso, a Palavra de Deus nos diz: “Portanto, como diz o Espírito Santo, se
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ouvirdes hoje a Sua voz, não endureçais o vosso coração.” (Hebreus 3:7-8). Deus trabalha com o presente,
ao passo que o nosso inimigo trabalha com o passado e com o futuro. Com o passado ele tenta amargurar
nossa vida e em relação ao futuro ele tenta nos levar ao medo e à ansiedade. Trabalhando com o passado e o
futuro, o objetivo de Satanás é nos levar a esquecer o presente e a nos tornar alheios ao convite divino da
salvação que nos é apresentado como um presente eterno. “Porque diz: Ouvi-te em tempo aceitável e
socorri-te no dia da salvação; eis aqui agora o tempo aceitável, eis aqui agora o dia da salvação.” (2
Coríntios 6:2).
Em sua primeira carta, João, o discípulo amado, escreveu: "Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda
não é manifesto o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando Ele Se manifestar, seremos semelhantes a
Ele; porque assim como é O veremos. E qualquer que nEle tem esta esperança purifica-se a si mesmo,
como também Ele é puro.” (1 João 3: 2 e 3). Em poucas palavras o apóstolo simplificou o grande tema da
salvação. Ele abordou a salvação completa em apenas dois versículos. Ele falou da salvação da condenação
do pecado, da salvação do poder do pecado e da salvação das consequências do pecado. Ou seja:
Justificação, santificação e glorificação. Na justificação aceitamos a Cristo como nosso Salvador; na
santificação aceitamos a Cristo como Senhor da nossa vida; na glorificação aceitamos a Cristo como Rei,
que compartilha conosco Sua imagem, Sua glória e a Sua imortalidade.
Quando ele disse: “Amados, agora somos filhos de Deus”, falava da justificação, pois o pecador é salvo da
condenação do pecado e se torna filho de Deus quando alcança a justificação. Na expressão “qualquer que
nEle tem esta esperança purifica-se a si mesmo, como também Ele é puro”, o apóstolo destaca a
santificação. Na santificação o homem tem uma nova vida e é salvo do poder do pecado. A glorificação é
mencionada nas palavras: “Sabemos que, quando Ele Se manifestar, seremos semelhantes a Ele; porque
assim como é O veremos.” Na glorificação o homem participa da glória do Senhor e é salvo das
consequências e da presença do pecado.
Essa mesma verdade também é enfatizada por Paulo em sua carta aos Romanos: “Porque os que dantes
conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de Seu Filho, a fim de que Ele seja o
primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a
esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou.” (Romanos 8:29 e 30).

O ensino de Jesus sobre o reino da glória


O ensino de Jesus de que o reino de Deus chegara no primeiro advento do Messias ficou claro para Seus
ouvintes (Lucas 17: 20 e 21). Mas, Jesus também ensinava e enfatizava a vinda do reino de Deus no futuro,
por ocasião do segundo advento de Cristo. “Quando o Filho do homem vier em Sua glória, e todos os santos
anjos com Ele, então Se assentará no trono da Sua glória; e todas as nações serão reunidas diante dEle, e
apartará uns dos outros, como o pastor aparta dos bodes as ovelhas; e porá as ovelhas à Sua direita, mas
os bodes à esquerda. Então dirá o Rei aos que estiverem à Sua direita: Vinde, benditos de Meu Pai, possuí
por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo.”(Mateus 25:31-34).
A palavra “reino”, referindo-se ao reino da glória, aparece em muitos ensinamentos de Jesus como um
descritivo futuro do estabelecimento do reino universal de Deus.
O cristão não somente vive na bendita certeza de sua redenção no presente, mas também na esperança de sua
redenção final no reino da glória. Essa esperança foi assegurada pessoalmente por Jesus Cristo: “Não se
turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em Mim. Na casa de Meu Pai há muitas moradas; se
não fosse assim, Eu vo-lo teria dito, pois vou preparar-vos lugar. E, se Eu for e vos preparar lugar, virei
outra vez e vos levarei para Mim mesmo, para que, onde Eu estiver, estejais vós também.” (João 14:1-3).
Jesus disse: “Vou preparar-vos lugar”. Que lugar é esse? São as moradas de glória no paraíso celestial. Ele
também declarou: “Virei outra vez e vos levarei para !51Mim mesmo, para que, onde Eu estiver, estejais vós
também.” Essa promessa é a segurança de que Ele voltará, estabelecerá o Seu reino de glória e todos os
remidos desfrutarão as suas delícias eternas. Esta é a esperança da glorificação: Ver Jesus e ser recebido na
cidade celestial, o lugar que Jesus preparou para os vencedores.
Com grande entusiasmo, o apóstolo Paulo, escrevendo aos crentes de Filipos, destacou a mais sublime
esperança de todo seguidor de Jesus: “A nossa cidade está nos Céus, donde também esperamos o Salvador,
o Senhor Jesus Cristo, que transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o Seu corpo glorioso,
segundo o Seu eficaz poder de sujeitar também a Si todas as coisas.” (Filipenses 3: 20 e 21).

O que é glorificação?
Há um pensamento muito interessante no livro Mensagens aos Jovens que diz: “A justiça interior é
testificada pela exterior. Quem é justo interiormente, não é insensível nem incompassivo, mas dia a dia
cresce na imagem de Cristo, indo de força em força. O que está sendo santificado pela verdade, exerce
domínio próprio e segue os passos de Cristo até que a graça se perca na glória.” (1)

A experiência cristã culmina quando a graça alcança a glória. Que glória é essa? É a glorificação que será
alcançada quando o toque de Deus transformar a estrutura mortal do homem em uma estrutura imortal;
quando o corpo corruptível se transformar em um corpo incorruptível e o homem tornar-se glorioso.
Glorificação é o toque divino que transforma o ser humano, que o liberta das consequências do pecado e o
torna imortal. “Eis aqui vos digo um mistério: Na verdade, nem todos dormiremos, mas todos seremos
transformados; num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta
soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados. Porque convém que isto que é
corruptível se revista da incorruptibilidade, e que isto que é mortal se revista da imortalidade. E, quando
isto que é corruptível se revestir da incorruptibilidade, e isto que é mortal se revestir da imortalidade, então
cumprir-se-á a palavra que está escrita: Tragada foi a morte na vitória.” (1 Coríntios 15: 51-54).
O atual corpo de um crente em Cristo não é próprio para a vida celestial, pois é mortal, desonroso e frágil.
Ainda que o crente alcance a plenitude do Espírito em sua vida, seu corpo não tem substância celestial, pois
ainda contém o aguilhão da morte. Por isso um novo corpo será concedido a ele quando soar a última
trombeta, exatamente no segundo advento de Cristo. Assim ,o novo corpo, imperecível, glorioso, isento de
pecado e imortal, estará adaptado para a vida eterna. O corpo natural do cristão vai se transformar em um
corpo espiritual que suportará a glória de Deus e estará preparado para a trasladação.
Há outro aspecto interessante relacionado à glorificação. Deus toca em cada redimido (os santos por ocasião
da ressurreição e os fiéis vivos) com o toque artístico da transformação. Ele corrige todos os defeitos da
estrutura humana e mantém a identidade pessoal de cada um, de maneira que os redimidos se conhecerão.
“Nossa identidade pessoal se preserva (...). Os últimos traços da maldição do pecado serão removidos, e os
fiéis de Cristo aparecerão ‘na beleza do Senhor nosso Deus’, refletindo no espírito, na alma e no corpo, a
imagem perfeita de seu Senhor.” (2)

Uma glorificação diária e progressiva


Quando falamos de glorificação, não podemos nos deter somente na glorificação final, mas em uma
experiência progressiva na carreira cristã em que diariamente recebemos raios da glória de Deus. A citação
do apóstolo projeta luz sobre esse ponto: “Mas todos nós, com o rosto descoberto, refletindo, como um
espelho, a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória, na mesma imagem, como pelo
Espírito do Senhor.” (2 Coríntios 3: 18). Esse texto declara que a glorificação é uma experiência diária,
progressiva e culmina na glorificação final, no segundo advento de Cristo. Assim como necessitamos da
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experiência diária da justificação para o perdão dos nossos pecados e da justiça comunicada de Cristo no
processo da santificação, também participamos diariamente da experiência da glorificação. Em resumo,
podemos dizer que a glorificação começa agora, continua por toda a nossa vida e será aperfeiçoada e
completada quando Cristo Se manifestar nos Céus com poder e grande glória.
Quando Moisés desceu do monte, trazia em sua face os raios da glória de Deus (Êxodo 34:29-35). Seu rosto
reluzia a luz do Céu e os israelitas não podiam olhar para a sua face. Requereu-se dele o uso de um véu.
Aqueles dias em comunhão direta com Deus o levaram a receber uma porção especial da glória do Senhor.
Na experiência futura dos filhos de Deus haverá momentos em que porções especiais de glória serão
comunicadas a eles. Mas isso não significa que eles necessitarão usar um véu como Moisés usou. Dessas
ocasiões especiais podem ser destacadas duas: A Chuva Serôdia e o Concerto de Paz.
Na Chuva Serôdia os filhos de Deus serão revestidos do poder do Espírito Santo e isso será evidente na
proclamação da derradeira mensagem de advertência aos habitantes do planeta, quando o mundo for
iluminado pela glória de Deus na pessoa de Seus seguidores. “Ao fazerem sua luz brilhar, recebem mais e
mais do poder do Espírito. A Terra está iluminada da glória de Deus. Servos de Deus, dotados de poder do
alto, com rosto iluminado e resplandecendo com santa consagração, saíram para proclamar a mensagem
provinda do Céu.” (3)
No Concerto de Paz, a intensidade da glorificação será maior. Deus fará um concerto com todos os santos
vivos, que foram fiéis e guardaram Sua Lei, e nesse momento a glória do Senhor vai revestir Seus filhos.
Isso vai acontecer um pouco antes do segundo advento de Cristo, quando ocorrer a ressurreição especial:
“Abrem-se sepulturas, e ‘muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e
outros para vergonha e desprezo eterno.’ (Daniel 12: 2). Todos os que morreram na fé da mensagem do
terceiro anjo saem do túmulo glorificados para ouvir o concerto de paz, estabelecido por Deus com os que
guardaram a Sua lei” (4)

Acontecimentos escatológicos relacionados com a glorificação.


Muitos eventos relacionados com a glorificação ocorrem dentro de uma ordem cronológica. Desses futuros
acontecimentos podem ser destacados os seguintes:

1. A manifestação de Cristo em glória


“Então verão vir o Filho do homem numa nuvem, com poder e grande glória.” (Lucas 21:27). Cristo Se
manifesta nas nuvens dos céus de uma forma corpórea, pessoal e visível a todos os olhos. “Eis que vem com
as nuvens, e todo o olho O verá, até mesmo os que O traspassaram; e todas as tribos da terra se lamentarão
sobre Ele.” (Apocalipse 1:7). A Sua manifestação será gloriosa, Ele virá na Sua glória, na glória de Seu Pai
e na glória dos santos anjos (Mateus 24:7; 16:27; 25:31-34).

2. A ressurreição dos justos


“O mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que
morreram em Cristo ressuscitarão primeiro.” (1 Tessalonicenses 4:16). Na vinda de Jesus ocorrerá a
primeira grande ressurreição. Nela, todos os filhos de Deus que desceram à sepultura serão ressuscitados
para a vida eterna. “O Rei dos reis desce sobre a nuvem, envolto em fogo chamejante... Por entre as
vacilações da Terra, o clarão do relâmpago e o ribombo do trovão, a voz do Filho de Deus chama os santos
que dormem. Ele olha para a sepultura dos justos e, levantando as mãos para o céu, brada: "Despertai,
despertai, despertai, vós que dormis no pó, e surgi!" Por todo o comprimento e largura da Terra, os mortos
ouvirão aquela voz, e os que ouvirem viverão” (5)
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3. A glorificação dos salvos
Na vinda gloriosa de Jesus, no momento em que ocorrer a grande ressurreição dos justos ocorrerá também o
toque da glorificação final. Assim é finalizada a obra da salvação em favor dos filhos de Deus. Naquele dia,
o grande dia do Senhor, os mortos ressuscitados e os santos vivos serão transformados em um momento.
Deixarão de ser mortais e se tornarão imortais. “Porque convém que isto que é corruptível se revista da
incorruptibilidade e que isto que é mortal se revista da imortalidade.” (1 Coríntios 15:51-54).

4. A morte dos ímpios


“E, então, será revelado o iníquo, a quem o Senhor desfará pelo assopro da Sua boca e aniquilará pelo
esplendor da Sua vinda.” (2 Tessalonicenses 2:8). A volta gloriosa de Jesus ao mundo provoca um incêndio
de dimensão universal, ou seja, toda a Terra se envolverá em densas chamas (Salmos 50:3) e todos os ímpios
serão fulminados com o esplendor da glória de Cristo. “E os reis da Terra, e os grandes, e os ricos, e os
tribunos, e os poderosos, e todo servo, e todo livre se esconderam nas cavernas e nas rochas das montanhas
e diziam aos montes e aos rochedos: Caí sobre nós e escondei-nos do rosto dAquele que está assentado
sobre o trono e da ira do Cordeiro, porque é vindo o grande dia da Sua ira; e quem poderá
subsistir?” (Apocalipse 6:15-17).

5. O arrebatamento dos salvos


“Depois, nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o
Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor.” (1 Tessalonicenses 4:15-17). Todos os santos
serão levados pelos anjos ao encontro de Jesus. Ocorrerá a grande ceifa para o reino celestial. “Ele enviará
os Seus anjos com rijo clamor de trombeta, os quais ajuntarão os Seus escolhidos.” (Mateus 24:31). Após o
grande ajuntamento dos salvos, será iniciada a viagem intergaláctica em direção ao Paraíso de Deus. “Todos
nós entramos na nuvem, e estivemos sete dias ascendendo para o mar de vidro, aonde Jesus trouxe as coroas,
e com Sua própria destra as colocou sobre nossa cabeça. Deu-nos harpas de ouro e palmas de vitória” (6)

6. A recepção dos salvos no reino celestial


Os remidos entrarão pelos portais da cidade celestial e desfrutarão as delícias eternas que o Senhor preparou
para todos os vencedores. “E afinal serão abertas portas do Céu para dar entrada aos filhos de Deus, e dos
lábios do Rei da glória brotarão as palavras que lhes soarão aos ouvidos qual música inefável: ‘Vinde,
benditos de Meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do
mundo.’ (Mateus 25:34). Então os remidos receberão as boas-vindas às moradas que Jesus lhes está
preparando.” (7)

7. Uma eternidade sem pecado


Não haverá mais o tentador, nem risco algum para o mal. O Universo terá sido testemunha da rebelião de
Satanás e de suas consequências. A justiça divina será reivindicada e o vasto Universo de Deus proclamará:
“justos e verdadeiros são os Teus caminhos, ó Rei das nações.” (Apocalipse 15: 3).
“E vi um novo céu, e uma nova Terra. Porque já o primeiro céu e a primeira Terra passaram, e o mar já
não existe. E eu, João, vi a santa cidade, a nova Jerusalém, que de Deus descia do céu, adereçada como
uma esposa ataviada para o seu marido. E ouvi uma grande voz do céu, que dizia: Eis aqui o tabernáculo
de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o Seu povo, e o mesmo Deus estará com eles, e
será o seu Deus. E Deus limpará de seus olhos toda !5a4lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem
clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas. E o que estava assentado sobre o trono disse:
Eis que faço novas todas as coisas. E disse-me: Escreve; porque estas palavras são verdadeiras e
fiéis.” (Apocalipse 21: 1-5). Apesar dos recursos insuficientes da linguagem humana para descrever o Céu, é
possível ler o que os profetas escreveram e deixar que a imaginação flua em direção ao Paraíso de Deus.

Conclusão
Na mensagem divina é manifesto o grande desejo de Deus: que todos as pessoas sejam salvas. “Porque a
graça salvadora de Deus se há manifestado a todos os homens.” (Tito 2:11). Sendo a salvação uma
realidade, foram tomadas todas as providências para que o pecador alcance a vida eterna: “Visto como o Seu
divino poder nos deu tudo o que diz respeito à vida e piedade, pelo conhecimento daquele que nos chamou
pela Sua glória e virtude.” (2 Pedro 1: 3). Sendo a graça um atributo de Deus exercido para com as indignas
criaturas humanas, a grande necessidade do homem constitui seu único direito à misericórdia do Senhor.
Como a manifestação salvadora na vida do pecador tem início no momento em que ele diz “sim” ao
chamado divino, as experiências subsequentes vão acontecer à medida que ele avançar pela fé e
experimentar o genuíno arrependimento. Após o arrependimento Ele passará pela experiência da
justificação, seguirá o caminho da santificação e o crescimento na graça vai levá-lo ao grande privilégio da
glorificação.
À luz da Palavra de Deus, essa glorificação é progressiva e acontece à medida em que o homem comunga
com Deus, anda nos caminhos de Deus e recebe a graça de Cristo em seu coração. Também haverão
momentos especiais na experiência do povo de Deus, como a Chuva Serôdia e o Concerto de Paz, mas a
glorificação final vai acontecer somente no segundo advento de Cristo. Naquele dia o cristão estará livre das
consequências do pecado e da presença do pecado.
Diante dessas maravilhosas promessas, surge a significativa pergunta: Quem herdará o Reino da Glória e
desfrutará as delícias do paraíso de Deus? A resposta é clara: Os vencedores! “Quem vencer, herdará todas
as coisas.” (Apocalipse 21:7). Quem são os vencedores? Os santos glorificados. Quem são os santos
glorificados? Os que foram justificados e santificados pelos méritos de Cristo. Portanto, fica claro que
somente Cristo e Sua justiça obterão para o crente um passaporte para o Céu.

(1)
WHITE, Ellen. “Mensagens aos Jovens”, p. 35.
(2)
WHITE, Ellen. “A Fé Pela Qual Eu Vivo”, p. 185.
(3)
WHITE, Ellen. “O Cuidado de Deus”, p. 50.
(4)
WHITE, Ellen. “O Grande Conflito”, p. 637.
(5)
WHITE, Ellen. “Maranata”, p. 297.
(6)
WHITE, Ellen. “Maranata”, p. 303.
(7)
WHITE, Ellen. “Maranata”, p. 317.

!55
Capítulo 12 - A Nova Criação
Por Daniel Boarim

Agora pare um pouco e exercite sua imaginação. Se possível, sente-se confortavelmente, feche os olhos e,
recorrendo a toda sua criatividade, idealize o mundo ideal. Sem imperfeições nem poluição. O lugar mais
lindo e pacífico que você puder imaginar. Deixe suas ideias fluírem com leveza. Respire fundo e devagar.
Como seria? Como você pintaria um cenário assim?
A seguir, arriscamos algumas sugestões para ajudá-lo a meditar e idealizar. Siga bem devagar. Logo você
verá aonde queremos chegar e concluirá que valeu a pena seguir lendo e meditando.

Como seria o mundo ideal?


Que tal uma planície a perder de vista, com um tapete de grama verde-viva? Uma imensa área totalmente
preservada, ainda virgem, intocada. Natureza exuberante, como nunca você viu, repleta de vida selvagem.
Ladeando o vasto corredor verdejante, seus olhos se deleitam com a infinidade de flores de fragrância
adocicada, dos mais variados matizes, convergindo para um imenso bosque de árvores frutíferas,
generosamente carregadas de frutas maduras e coloridas. Lá no fundo do vale, um lago espelhado toma
conta do horizonte, refletindo a beleza calma e majestosa do sol nascente. Como pano de fundo, uma
aquarela de tons, variando do azulado ao vermelho, pintada sobre nuvens e delineada por colinas de silhueta
suave.
O paraíso? Sim, ou algo parecido. Mas a viagem continua. Agora povoe com animais o seu jardim das
maravilhas. Poderíamos sugerir uma longa lista de aves belíssimas, com plumagem vistosa. Bandos
numerosos alçam voo, rasgam o vasto céu multicolorido, enquanto cisnes nadam serenamente no lago.
Próximo ao bosque, pavões exibem garbosamente a obra de arte da sua extravagante cauda. Saudando a
alvorada, um interminável coral de irrequietos passarinhos. Ao longe, pode-se avistar uma manada de
elegantes gazelas deixando calmamente a mata em busca de relva.

Imaginação sem limites


Se quiser, continue embelezando a paisagem. Sua imaginação não precisa ter fim. Coloque em cena mais
animais, mais sons, mais aromas, mais cores. Tente deixá-la o mais esplêndida possível. Replaneje e
redesenhe, se preferir. O importante é que fique impecável e deslumbrante.
Então, que acha de construir e visualizar pouco a pouco cenas assim - majestosas, belas e inspiradoras?
Tente agora congelar a melhor imagem, o melhor momento. Não deixe escapar a mais inusitada de suas
imaginações, tentando ainda imprimir dinamismo a tudo. Um lugar de paz, cheio de vida e incomparável
beleza.

Não falta algo?


Magnífico, não? Mas será que não falta algo para completar? O ambiente perfeito idealizado, equilibrado e
saudável não pede mais um personagem? Quem seria? Digamos que falta exatamente, surpreendentemente,
o ser humano.
Por favor – por mais difícil que pareça pedir algo assim - coloque ali pessoas. Muitas delas, de diferentes
!56
povos, idades e raças.
E - como não podia deixar de ser - uma paradinha para reflexão. Chegando nesse ponto, o que lhe ocorre?
Soa-lhe como boa ideia povoar um lugar tão raro e formidável com um monte de gente? Seres humanos, que
se autodenominam racionais e inteligentes?

Ideia ruim?
Talvez não seja uma boa ideia – bem provavelmente lhe ocorra. Surge imediatamente a preocupação de que
o paraíso logo comece a se deteriorar. As pessoas caçariam os bichos, poluiriam o lago, arrancariam as
flores, derrubariam a mata, fariam queimadas, construiriam desordenadamente suas casas e acabariam
brigando pelo melhor lugar.
Quero crer que você até pensasse numa ordem social mínima, mas, conhecedor como é da natureza humana,
talvez lhe tenha passado pela cabeça a possibilidade quase certa de uma convivência complicada, que
terminasse em muita confusão, com disputas encarniçadas, traições, até mortes.

Do paraíso ao inferno
E o sonho, o paraíso, o lugar maravilhoso, chega ao fim, completamente desolado, num inferno de
destruição. Ou há outro destino possível?
Sabe o que você acaba de imaginar? O resumo da história da humanidade. Isso mesmo, como as coisas
poderiam ser, de acordo com o plano maior, do supremo Artista e Projetista do universo, e como as coisas
ficaram hoje, por causa de um elemento intruso que transformou o ser humano e o tornou um predador, um
destruidor. 

O problema não é bem o ser humano, pelo menos considerando a humanidade como Deus originalmente a
criou e gostaria que continuasse a ser. O problema se resume nas escolhas erradas que fizemos, e o que nos
tornamos por causa disso. Não somos melhores nem piores que a soma das nossas escolhas.

Estamos ficando insensíveis?


Qual é o prognóstico para o paciente chamado “planeta terra”? Remanescem ainda, cada vez mais raros,
saudáveis redutos de beleza natural. Mas nada escapa ao assombro de ameaças que rapidamente se
agigantam: aquecimento global, poluição, extinção de espécies. Muitas doenças, ligadas à própria crise
civilizatória, crescem sem parar. Nações, povos, etnias e religiões guerreiam entre si. Os seres humanos se
degladiam, não se entendem, odeiam-se e traem-se uns outros.
O que vemos e lemos nos noticiários todos os dias transformam tragédia em rotina e vulgarizam o mal. Para
chamar atenção e virar manchete, não basta ser notável; é preciso ser trágico, hediondo, inusitado,
sanguinário, em outras palavras, um “mal grandioso”.
A triste verdade é que estamos ficando insensíveis. Aprendemos a conviver com o mal. Será que não nos
tornamos também maus, sem nos dar conta da sutileza e da gravidade disso?

Humanidade inconformada
Nossa viagem chega a um ponto de inflexão. Começou pelo perfeito, ordenado, belo e pacífico, e convergiu
rapidamente para o caos, onde prevalecem contenda, corrupção, destruição e desordem. Obviamente,
ninguém que um dia viveu dias prósperos, se conformará com a miséria. Claro que esgotará suas forças para
recuperar pelo menos parte do que perdeu. Conhece algum exemplo? Creio que o maior de todos é a
humanidade inconformada.

Valores invertidos
Como chegamos nesse ponto, em que os valores se invertem, e que a instituição familiar agoniza e a
honestidade se extingue? Como disse o profeta Isaías: “Pelo que o direito se tornou atrás, e a justiça se pôs
longe; porque a verdade anda tropeçando pelas ruas, e a equidade não pode entrar.”(Isaías 59:14).
Rui Barbosa também disse: “De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver
crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a
desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha
!57 de ser honesto.”
(1)
Miniatura da grande história
Num breve ensaio da imaginação, o que fizemos foi tentar esboçar a miniatura de um conflito secular entre o
bem e o mal, em que alguém sabotou o belo plano original do Criador.
Uma história real, muito real, em que eu você somos protagonistas. Como assim? Inegavelmente, parece
haver dentro do homem, impregnando seu DNA, algo muito forte, que domina a vontade e puxa para o lado
do mal.
Por melhores que sejam as intenções de alguém, em dado momento se deixa iludir e corromper pelos apelos
do poder, dinheiro e prazer, deixando-se dominar pelo egoísmo. Valores como honestidade, moralidade e
altruísmo são atropelados. Esses valores são hoje a verdadeira “espécie em extinção”.

Vilão intruso
Quando Deus criou o mundo e seus habitantes, tudo era impecável. Como um coral de vozes perfeitamente
afinadas, tudo era beleza e harmonia. O vilão intruso que nos afoga até hoje numa inundação de infelicidade,
é o pecado. Isso mesmo: pe-ca-do.
Pior que uma nota destoante ou voz desafinada, o pecado não apenas maculou o lindo panorama da Criação,
mas trouxe sofrimento e dor. Quebrou o delicado equilíbrio. Acabou com a paz, deixando nosso interior em
conflito, nossas emoções confusas e nossos corpos doentes.
Aliás, por falar em “interior”, essa briga cósmica tem como palco central a mente. É no território da mente
que os pensamentos maus viram escolhas erradas, que finalmente são canalizadas para ações erradas.

Só a Lei de Deus garante harmonia


Não adianta desafiar as leis de Deus. Elas são perfeitas. Só elas garantem a paz e a harmonia do universo.
Por isso, o pecado trouxe desgraça, inaugurou a era da morte, sofrimento e tragédias. Vivemos em tempos de
total insegurança. Onde está a felicidade verdadeira? Alguém pode dizer que é verdadeiramente feliz, com
tanta coisa ruim acontecendo ao seu lado?
O pecado é definido como “transgressão da Lei” (1 João 3:4). A palavra de Deus é objetiva. Vai direto ao
ponto. Quando transgredimos a Lei de Deus, pecamos. E se pecamos, trazemos sobre nós consequências
inevitáveis, que vão da tristeza à doença, passando pelo remorso, sofrimento e terminando na morte.
“Porque o salário do pecado é a morte.” (Romanos 6:23).

A grande chance
E o homem quer culpar Deus por suas escolhas erradas! Deus sempre nos deu livre arbítrio. Mas Ele sempre
avisou. Sua palavra está aí, disponível para todos, traduzida em centenas de línguas. O que acontece é que as
pessoas não dão a mínima. E quando leem a Bíblia, querem acomodar os bons ensinos às suas conveniências
pessoais. E ainda chamam isso de religião! Religião às avessas do que Deus ensina. Religião que prega a
prosperidade em detrimento da verdade. Não vem de Deus e jamais pode levar de volta a Ele.
Cuidado, amigo leitor, para não ser enganado e perder a grande chance!

Você não estaria no caminho errado, achando que é o certo?


Repito: Não perca a grande oportunidade de sua vida!
Só a religião que se baseia na Bíblia, e nela apenas, sem mistura de tradições humanas, de doutrinas
humanas, pode mostrar o caminho certo, o caminho da verdadeira felicidade.
Foi Jesus – o próprio Mestre - quem disse enfaticamente: “Mas em vão me adoram, ensinando doutrinas
que são preceitos de homem.” (Mateus 15:9). Como assim, tradições humanas? Como assim, preceitos de
homem? É quando alguém ensina alguma coisa baseada no conveniente, no costume, no pensamento
humano, contrariando o que Deus ensina. Pode ser cômodo e popular, mas se está em oposição à Lei do
Criador e Sua palavra, não pode trazer harmonia e paz. Só produzirá resultados desastrosos.
Cuidado! A maioria das religiões que têm lindos nomes cristãos não estão ensinando verdades bíblicas, mas
ideias humanas. Pregam sermões agradáveis para atrair multidões, como o tal do evangelho da prosperidade,
totalmente descontextualizado da Bíblia. Pegam um texto aqui, outro ali, para tentar apoiar seus frágeis
!58
argumentos. Ensinam uma verdade ao lado de uma mentira. A doutrina não é pura! Não leva a parte alguma.
Ou melhor, leva à perdição!

Exemplo claríssimo do “em vão me adoram ensinando doutrinas que são preceitos de homens”
Um exemplo claríssimo de falsa doutrina – por sinal muito disseminada - , baseada em tradições humanas é
o ensino de que o dia de repouso de Deus é o domingo. Onde isso está escrito na Bíblia? Pergunto
novamente: Em que parte da Bíblia está escrito que o ser humano deve guardar o domingo como dia santo?
O pseudo-mandamento “guardai domingos e festas” foi inventado por homens. Repito: foi inventado por
homens, sem autorização divina! Espere aí: Não acredite em mim. Confira você mesmo! Pegue sua Bíblia,
qualquer que seja a tradução (Católica, Almeida, King James, etc.) e leia em Êxodo capítulo 20 verso 8. Ali
você vai encontrar os dez mandamentos de Deus, sobre os quais Jesus disse: “Porque em verdade vos digo
que, até que o céu e a terra passem, de modo nenhum passará da Lei um só i ou um só til.” (Mateus 5: 18).
Leia agora mesmo com atenção e oração, e tire suas próprias conclusões. Não acredite em seres humanos
falíveis, por mais célebres e veneráveis que sejam. Acredite na Palavra de Deus. Não siga o tropel da
multidão, pois Jesus disse que o caminho da salvação é estreito, e poucos o acertam (Mateus 7:14).
Geralmente, historicamente, biblicamente, a maioria, os detentores do poder e da fama, não estão ao lado de
Deus, mas em oposição ao Seu Reino.

E por isso o mundo vai de mal a pior, a maldição consome a terra


O mundo está indo de mal a pior porque as próprias religiões, que deveriam ser guardiães da Lei de Deus, da
Palavra de Deus, em vão O adoram, ensinando preceitos que são doutrinas de homens. Como disse
sabiamente o profeta Isaías – leia com toda atenção, de coração aberto, e você vai entender a causa das
tragédias que assolam o mundo: “Na verdade a terra está contaminada por causa dos seus moradores;
porquanto têm transgredido as leis, mudado os estatutos, e quebrado a aliança eterna. Por isso a maldição
tem consumido a terra; e os que habitam nela são desolados.” (Isaías 24:5 e 6).
Verdade chocante? Impactante? Mas é verdade! E Deus traz até você não para condená-lo, mas para salvá-
lo!

A maior de todas as incoerências


Afinal de contas, nós somos seres finitos e limitados. Pouco enxergamos além do nosso nariz. Por que
contrariar o ensino de um Deus eterno, que tudo sabe, tudo vê, e que já provou querer o melhor para nós?
Por que questionar suas verdades? Por que duvidar de Seu amor e justiça? Por que duvidar de Sua coerência
ao nos dar Suas leis, como a Lei moral dos dez mandamentos, e querer mudar ou inventar algo diferente do
que Deus disse?
E a humanidade está do jeito que está por que faz tudo errado, afasta-se de Deus seu Criador, transgride
Suas leis perfeitas, quando não as muda a seu bel-prazer; não dá importância a Seus ensinos de amor,
preferindo seguir seus próprios caminhos de egoísmo. E no final, ainda quer lançar sobre Deus a culpa de
toda tragédia! Incoerência maior, impossível.

Boa notícia, afinal


Mas, chegou a hora da boa notícia, a melhor de todas! Quando dissemos que o salário do pecado é a morte,
não completamos o texto. Deixamos para fazê-lo agora. Pecado leva à morte sim, mas “o dom gratuito de
Deus é a vida eterna em Cristo Jesus nosso Senhor.” (Romanos 6:23).
Somos impotentes para guardar uma Lei santa, mas se formos a Cristo, arrependidos e totalmente dispostos
a mudar, Ele não só nos perdoa, mas nos dá poder para obedecer! E essa é a fantástica obra da Redenção -
levar-nos de volta ao paraíso perdido. E esse paraíso, muito mais que um lugar belíssimo, é uma condição
renovada, um interior transformado. Os valores de justiça, paz e amor voltarão a dominar, expulsando os
vilões que habitam nosso coração e transformaram o mundo no caos existencial que é hoje.

Algo muito maior está por vir


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Nessa altura, tudo nos leva a crer que precisa acontecer algo muito maior e mais profundo, mais essencial
que meros discursos. Algo muito mais poderoso que iniciativas por reformas políticas, sociais ou
econômicas.
Muita gente bem intencionada tenta remendar aqui, consertar ali, mudar acolá. Mas o implacável elástico da
maldade humana mais cedo ou mais tarde arrasta tudo de volta à lama da corrupção.
Sim, prezado amigo, Deus o convida para uma mudança radical para melhor! Ele vai construir tudo de novo:
“E o que estava assentado sobre o trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E acrescentou: Escreve;
porque estas palavras são fiéis e verdadeiras.” (Apocalipse 21:5). E mais: “Ele enxugará de seus olhos
toda lágrima; e não haverá mais morte, nem haverá mais pranto, nem lamento, nem dor; porque já as
primeiras coisas são passadas.” (Apocalipse 21:4).
Deus convida você, prezado leitor, para povoar o lugar mais lindo que você jamais imaginou. Ele diz: “As
coisas que olhos não viram, nem ouvidos ouviram, nem penetraram o coração do homem, são as que Deus
preparou para os que o amam.” (1 Coríntios 2:9). Lugar maravilhoso, povoado por gente também
maravilhosa, eternamente transformada pela graça de Cristo!
E para terminar o capítulo e o livro, nada mais contundente que as últimas palavras da Bíblia, que não
poderiam exprimir melhor o mais profundo de todos os anseios, a maior de todas as necessidades. É o mais
poderoso anseio - consciente ou inconsciente - de cada ser humano que já viveu, vive e viverá neste mundo.
O que, em todos os tempos, todos os sofredores mais poderiam desejar? O planeta clama por isso! A criação
clama por isso! Eu e você esperamos a vida toda por esse desfecho! A renovação de todas as coisas, que se
assim se exprime:
“Vem Senhor Jesus!” (Apocalipse 22:20).

(1)
BARBOSA, Rui. “Oração aos Moços”.

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