Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A ESSÊNCIA DO CRIACIONISMO
Introdução
A Essência
Para aqueles familiarizados com a teologia básica cristã não é difícil perceber que o
texto diz que o ser humano foi feito para viver para sempre, hoje está sujeito à morte
por causa do pecado, mas há uma esperança pela graça divina e pela obra de Jesus
Cristo.
em dores de parto. E não só isso, mas nós mesmos, que temos os primeiros
frutos do Espírito, gememos interiormente, esperando ansiosamente nossa
adoção como filhos, a redenção do nosso corpo. Pois estou convencido de que
nem morte nem vida, nem anjos nem demônios, nem o presente nem o futuro,
nem quaisquer poderes, nem altura nem profundidade, nem qualquer outra
coisa na criação será capaz de nos separar do amor de Deus que está em
Cristo Jesus, nosso Senhor.
A salvação pela graça é a base para a nova criação que é a esperança maior de todos
os crentes.
As ideias expostas nesses textos contém a base da visão de mundo cristã definindo o
que o ser humano deveria ter sido, qual é o seu estado atual e por que meio pode ser
restaurado à situação inicial. Essa visão de mundo cristã está então interligada com o
conceito de Deus criador, do ser humano criado originalmente à imagem de Deus
mas agora em necessidade de redenção e da esperança de nova criação. Essa é a
essência do criacionismo.
Ligada a essa essência está a narrativa bíblica que fala do início em Gênesis 1-3, e a
promessa do novo recomeço está descrita em Apocalipse 21:1-6. Esses dois textos se
encontram no início e no fim da Bíblia. Tudo o que está no meio, fala do processo que
estamos vivendo. Resumindo, a criação original de Deus se perdeu pelo pecado do
ser humano, criado originalmente à imagem de Deus. Deus em Cristo está
trabalhando para resgatar o ser humano e promete uma nova criação ao final do
processo.
A essência do criacionismo assim apresentada é basicamente a visão de mundo cristã
e tem então uma natureza inteiramente religiosa.
A Essência e a Ciência
Mas se a essência do criacionismo é religiosa, o que isso tem a ver com a ciência?
4
Vamos ver alguns exemplos dessa relação entre o conhecimento individual e os temas
discutidos no criacionismo.
O tempo
1
Por exemplo: Howlett, James. "Biblical Chronology." The Catholic Encyclopedia. Vol. 3. New
York: Robert Appleton Company, 1908. Disponível online 13 de Agosto de 2015
<http://www.newadvent.org/cathen/03731a.htm>
2
Ilustração da estrutura do universo por Bartolomeu Velho (1568).
<https://en.wikipedia.org/wiki/Geocentric_model#/media/File:Bartolomeu_Velho_1568.jp
g>
5
A história da vida.
3
Ver uma breve história da descoberta das galáxias e suas distâncias em:
<http://ircamera.as.arizona.edu/NatSci102/NatSci102/lectures/galaxies.htm>
4
Alguns ao saber que Jason Lisle tem um doutorado em Astrofísica podem pensar que seus
argumentos no capítulo da referência bibliográfica citada são autoritativos e corretos. Na
realidade o texto da referência apresenta de forma popular idéias que precisam elaboração
técnica profunda.
5
Reasons to Believe <www.reasons.org>
6
6
Ver Georges Cuvier (1769-1832) <http://www.ucmp.berkeley.edu/history/cuvier.html>
7
Ver Carl Linnaeus (1707-1778) <http://www.ucmp.berkeley.edu/history/linnaeus.html>
8
DARWIN, C. (1859) On the Origins of Species. Or the Preservation of Favoured Races
in the Struggle For Life. Disponível online em
<https://www.gutenberg.org/ebooks/1228> Acesso em 22 de Agosto de 2015.
9
DOBZHANSKY, T. (1937) Genetics and the Origin of Species. Columbia University
Press. New York.
10
MAYR, E. (1941) Systematics and the Origin of Species from the Viewpoint of a
Zoologist. Columbia University Press. New York.
11
SIMPSON, G.G. (1944) Tempo and Mode in Evolution. Columbia University Press. New
York.
12
STEBBINS, G.L. (1950) Variation and Evolution in Plants. Columbia University Press.
New York.
7
A Geologia estuda as rochas. Rochas são objetos sólidos, em alguns casos muito
duros. São as estruturas constituintes da superfície da Terra, incluindo as montanhas.
Tendo crescido no meio da Serra dos Órgãos no estado do Rio de Janeiro num vale
estreito entre montanhas de rochas graníticas eu tinha pouca noção de que aquelas
montanhas podiam ter uma história. A dureza das rochas sugeria que elas só
poderiam ser modificadas pela ação da dinamite usada pelos construtores da rodovia
BR-040. Em minha imaginação infantil o elemento histórico vinha da narrativa bíblica
do dilúvio em Gênesis 7 e 8. Eu ficava imaginando tudo aquilo sendo moldado pela
catástrofe bíblica de proporções indescritíveis e surgindo ao fim dela de uma forma
não muito diferente daquela que eu via na minha infância e que ainda hoje pode ser
vista pelos visitantes da região.14
Entretanto ao conversar com geólogos ou ler suas obras descobrimos que eles falam
de história de formação dos aspectos geológicos à mostra em afloramentos ou
trazidos à tona por sondagens em trabalhos de prospecção. Essas histórias
construídas pelos geólogos envolvem deposições de sedimento, a litificação desses
sedimentos, a erosão dos mesmos, a intrusão ou derrame de massas de rocha
fundida, a elevação de montanhas e até a movimentação de continentes inteiros. Os
processos envolvidos podem ser lentos ou catastróficos. A semelhança dos processos
envolvidos com fenômenos atuais, em alguns casos podem ser inferidos pelos seus
resultados. Além disso essas histórias são entremeadas com a história da vida (ou da
morte) pois em alguns lugares é possível encontrar vestígios de seres vivos nas
rochas sedimentares. Esses vestígios, denominados fósseis, envolvem restos
mineralizados de partes duras de animais ou plantas, e vestígios, que podem ser
pegadas, perfurações, impressões de folhas, cascas de ovos, excrementos, moldes,
etc. Muitos fósseis são de animais e plantas que não existem atualmente.
13
Ver por exemplo os capítulos 8 e 9 de: BRAND, L. (2009) Faith, reason, and earth
history: a paradigm of earth and biological origins by intelligent design. 2nd ed. Andrews
University Press. Berrien Springs, Michigan.
14
Vale na Serra dos Órgãos, Petrópolis, RJ.
<http://www.panoramio.com/photo/51777660>
8
composition, dissolution, and restoration of land upon the Globe”15 ele afirma que em
seu trabalho pode “... reconhecer uma ordem, não indigna da sabedoria Divina, num
assunto que, numa outra visão, teria parecido como o trabalho do acaso, ou como
absoluta desordem e confusão.”
Nessa mesma obra, Hutton também observa que o solo é formado pela “destruição”
da terra sólida e que o solo é continuamente levado pela erosão. Ao observar esses
processos ele conjectura sobre o tempo envolvido e sobre a necessidade de um ciclo
que regenere as rochas sólidas e o solo. Ao considerar o tempo ele faz referência ao
fato de que a “história Mosaica coloca a origem do homem a uma distância não muito
grande”, mas que ao observar vestígios de outros seres vivos o tempo deve ser muito
maior. O ciclo que ele procura então entender envolveria a deposição de materiais
soltos, em geral no fundo dos oceanos, sua consolidação em rocha sólida e o
levantamento dessas rochas acima do nível do mar onde são observadas hoje e onde
recomeça o processo de erosão dessas rochas. Dentro do limitado conhecimento de
geoquímica e dos afloramentos rochosos que tinha a seu alcance, Hutton elaborou
uma justificativa para o conceito de ciclo de rochas e continentes e procurou estimar o
tempo necessário para formar tudo o que ele conhecia. Na última frase do trabalho
citado ele afirma: “O resultado, portanto, de nossa pesquisa atual é que não
encontramos nenhum vestígio de um começo nem prospecto de um fim.”
Outra contribuição para o entendimento das rochas sedimentares foi feita por William
Smith (1769-1839) com sua obra composta por mapa geológico da Inglaterra16 e o
livro Strata Identified by Organized Fossils containing Prints on Colored Paper of the
Most Characteristic Specimens in Each Stratum. 17 O livro complementa o mapa
descrevendo as camadas sedimentares e listando os fósseis característicos
encontrados em cada uma. Ao fazer este trabalho sistemático Smith observa que
esses fósseis característicos que ele chama de “fósseis organizados” permitem
identificar as rochas em lugares diferentes. Posteriormente suas ideias foram usadas
para correlacionar estratos em lugares bem distantes muitas vezes até em continentes
diferentes e essa organização dos fósseis foi interpretada como resultado de uma
sucessão temporal de seres vivos na Terra.
Por seu estudo sistemático de fósseis Georges Cuvier (1769-1832) ajudou consolidar
a ideia de Smith em sua obras: Théorie de la Terre (1821) 18 e Discours sur les
révolutions de la surface du globe, et sur les changements qu'elles ont produits dans le
règne animal (1825)19.
15
HUTTON, JAMES (1788) Theory of the Earth; or an investigation of the laws observable
in the composition, dissolution, and restoration of land upon the Globe. Disponível online
em <http://records.viu.ca/~johnstoi/essays/Hutton.htm> Acesso em 5 de Novembro de 2015.
16
William Smith 1815 geological map of England, Wales & part of Scotland.
17
SMITH, WILLIAM (1816) Strata Identified by Organized Fossils, Containing Prints on
Colored Paper of the Most Characteristic Specimens in Each Stratum. London: Printed by
W Arding, 21 Old Bosvell Court, Carey Street.
18
Versão inglesa: G. Cuvier (1827) On the Theory of the Earth. William Blackwood,
Edimburg and T. Cadell, Strand London.
19
Versão inglesa: G. CUVIER (1831) A Discourse on the Revolutions of the Surface of
the Globe and the Changes Thereby Produced in the Animal Kingdom. Carey & Lea,
Philadelphia.
9
Na introdução dessas obras Cuvier já observa que o estudo das formações geológicas
e dos fósseis permite o estudo da história da Terra anterior à existência da
humanidade. Observa também que esse estudo mostra que a história da Terra ocorre
por meio de “revoluções”. Cuvier também afirma que vai procurar analizar, quanto é
possivel, a correspontência entre os resultados de suas observações e a história civil e
religiosa das nações.
Para “provar” que houveram “revoluções” na história da Terra Cuvier descreve o que
se observa nas rochas sedimentares encontradas nos lugares planos, nas encostas
das montanhas e os fósseis que elas contém. A descrição sugere a deposição in situ
de organismos marítmos em camadas horizontais, posteriormente consolidadas,
movidas para posições inclinadas por grandes forças,20 em alguns casos cobertas por
novas camadas sedimentares horizontais, além de mudanças no ambiente que
provocaram a extinção de espécies e repovoação com novas classes e novos gêneros
de animais. Observa também que depósitos mais antigos são mais extensos e
uniformes do que os mais recentes. A alternância em alguns lugares de fósseis de
origem terrestre com fósseis de origem marítima sugere a Cuvier a alternância de terra
seca com o mar em algumas localidades ao longo do tempo. Cuvier então com base
em algumas observações procura argumentar que essas mudanças não aconteceram
de forma gradual e lenta, mas catastrófica. Ao descrever os mecanismos observados
que atualmente modificam a superfície da Terra. Cuvier conclui: “Portanto, repetimos,
em vão procuramos entre os poderes que agora agem na superfície da Terra, por
causas suficientes para produzir as revoluções e catástrofes, cujos traços são exibidas
na sua crosta.”
científico de sua época. Ao fazer isso ele acaba considerando que os dias da criação
são períodos indefinidos de tempo “necessários” para acomodar as transformações do
universo (como concebido no final do século 19) para formar o sistema solar, o planeta
Terra e para acomodar as transformações da crosta terrestre com suas rochas e
fósseis.
Uma outra ideia usada para tentar acomodar os novos resultados da Geologia e da
Paleontologia foi imaginar que a Terra teria possivelmente sido criada há muito tempo
atrás e posteriormente passado por destruição, de forma que o relato de Gênesis 1 a
partir do verso 3 seria um último processo de criação. Algumas referências 22 citam
como divulgadores da ideia Thomas Chalmers, William Buckland e outros mas é difícil
encontrar trabalhos escritos desses autores discutindo essa ideia.
BRAND (2009) afirma que somente há cerca de três décadas alguns cientistas
começaram a fazer pesquisa séria de campo usando um paradigma intervencionista
de tempo curto. Uma parte desses trabalhos podem ser vistos na revista Origins24 e
livros como Origin by Design de Harold Coffin25 e Faith, Reason, & Earth History de
Leonard Brand. 26 (A lista não é completa e omite artigos publicados em revistas
científicas reconhecidas.) Como esse tipo de pesquisa pode ser sujeita a tendências
características e crenças do pesquisador, BRAND (2009) recomenda no capítulo 5,
três procedimentos para minimizar essas tendências: 1) Planeje bem a pesquisa e
faça uma coleta de dados cuidadosa; 2) Discuta os resultados específicos com
colegas e apresente trabalhos em encontros científicos; 3) Submeta trabalhos para
publicação em revistas com árbitro.
22
Gap creationism em: <https://en.wikipedia.org/wiki/Gap_creationism>, Acesso em 27/12/2015.
HAM, KEN, (2007) What About the Gap & Ruin-Reconstruction Theories? Capítulo 5 do
livro The New Answers, Book 1. disponível online em:
<https://answersingenesis.org/genesis/gap-theory/what-about-the-gap-and-ruin-reconstruction-theories/>
Acesso em 28/12/2015.
23
PRICE, GEORGE McREADY (1906) Illogical Geology - The Weakest Point in the
Evolution Theory. The Modern Heretic Company, Los Angeles. Disponível online em:
<https://www.gutenberg.org/ebooks/42043>. Acesso em 22/12/2015.
24
Revista Origins publicada pelo Geoscience Research Institute. Disponível online em:
<http://grisda.org/resources/origins/>. Acesso em 23/12/2015.
25
COFFIN, HAROLD, (1983) Origin by Design. Review and Herald Publishing Association,
Hagerstown.
26
BRAND, LEONARD. (2009) Faith, Reason, and Earth History. Andrews University
Press, Berrien Springs.
11
Observações finais
Essa diversidade pode ocorrer inclusive para cada pessoa individualmente. Uma
pessoa passa por várias etapas na formação de sua visão de mundo à medida que ao
longo da vida aprende linguagens de comunicação, toma consciência do mundo à sua
volta, tem um processo de desenvolvimento espiritual e um processo de aprendizado
acadêmico. Não é então de admirar que pessoas diferentes pensem diferentemente
sobre vários pontos discutidos aqui.
O que devemos fazer então? Em primeiro lugar identifique com clareza quais são os
pontos mais fundamentais de sua visão de mundo. Se eles dão significado e sentido à
sua vida, mantenha esses pontos mesmo quando um conhecimento novo parecer
desafiá-los. Se você é um pesquisador ou apenas curioso em alguma área do
conhecimento faça a pesquisa com afinco e honestidade. Novos conhecimentos
podem ser acomodados aos pontos vitais de sua visão de mundo. A forma de como
proceder essa acomodação pode não ser trivial.
Referências Bibliográficas
ABER, J.S. (2013) Jean Louis Rodolphe Agassiz, History of Geology. Disponível
online em: <http://academic.emporia.edu/aberjame/histgeol/agassiz/agassiz.htm>
Acesso em 17 de Agosto de 2015.
BRAND, LEONARD. (2009) Faith, Reason, and Earth History. Andrews University
Press, Berrien Springs.
LISLE, JASON (2007) Does Distant Starlight Prove the Universe Is Old? Disponível
online em: <https://answersingenesis.org/astronomy/starlight/does-distant-starlight-
prove-the-universe-is-old/>. Acesso em 13 de Abril de 2015.
LISLE, J. (2013). The Two-Book Fallacy. Acts & Facts. 42 (1): 9.
MARSH, FRANK LEWIS (1950) Studies in Creationism. Review and Herald
Publishing Association, Washington, D.C.
RITLAND, R. (1981) Historical Development of the Current Understanding of the
Geologic Column: Part 1. Origins 8(2) pp. 59-76 (Disponível online em:
<http://grisda.org/origins/08059.pdf>, acesso em 17de Agosto de 2015)
RITLAND, R. (1982) Historical Development of the Current Understanding of the
Geologic Column: Part 2. Origins 9(1) pp. 28-50 (Disponível online em:
<http://grisda.org/origins/09028.pdf>, acesso em 17de Agosto de 2015)
ROSS, HUGH (2000) Big Bang - The Bible Taught It First! Disponível em:
<http://www.reasons.org/articles/big-bang---the-bible-taught-it-first>. Acesso em 14 Mai
2015.
ROSS, HUGH (2004) A Matter of Days - Resolving a Creation Controversy.
NavPress, Colorado Springs.
SMITH, WILLIAM (1816) Strata Identified by Organized Fossils, Containing Prints
on Colored Paper of the Most Characteristic Specimens in Each Stratum. London:
Printed by W Arding, 21 Old Bosvell Court, Carey Street.