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CURSO LIVRE TEOLÓGICO ONLINE – NÍVEL BÁSICO: MÓDULO I

TEOLOGIA SISTEMÁTICA I

AULA 2: A Doutrina de Deus nas Escrituras

INTRODUÇÃO

A doutrina de Deus1 apresenta uma coloração especial dentro do estudo


teológico, especialmente em referência ao estilo de ministério e à filosofia de vida
da pessoa. Crer em Deus é a verdade primeira que perpassa o mais íntimo da
pessoa. Logicamente precede e condiciona toda a observação e raciocínio. Assim,
é fato reconhecido que a grande maioria das pessoas na verdade tem reconhecido
a existência de um ser ou seres espirituais de quem elas supõem depender, porque
foi o próprio Deus quem inseriu o senso de divindade no coração do homem (Ec
3.11).
O que é possível dizer antes da identificação de Deus certamente deve ser
dito, de conformidade com o que está contido em Ex 6.1-13. Com que finalidade
as pessoas usam esta palavra DEUS, para que perguntemos com tanta urgência a
quem ou a que ela se aplica verdadeiramente?
A ideia de se procurar saber quem é Deus é a pergunta por sua verdade
libertadora, como está registrado em Jo 8.32. Em culturas pré-modernas, as
palavras “Deus” e “deuses” tinham seu lugar mais ou menos claramente
determinado em conexão com o mundo de vida cultural. Com isso, também,
tinham seu lugar no mundo linguístico dos homens, ou seja, em geral ali onde se
trata dos últimos fundamentos da ordem tanto social quanto cósmica.
Infelizmente, nas culturas seculares da era moderna, a palavra “Deus” perdeu mais
e mais essa função e esse sentido, em todo caso na consciência pública. Tudo se
apoia na autoridade da ciência, por exemplo. Até mesmo para certos teólogos a
palavra “Deus” pode obstaculizar o diálogo com as pessoas. Caso seja assim,

1 Cf. Sugestão das seguintes obras: DECLARAÇÃO DE FÉ DAS ASSEMBLEIAS DE DEUS


NO BRASIL. CGADB – Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil. (Org. Esequias
Soares da Silva) Rio de Janeiro: CPAD, 2017; BERGSTÉN, Eurico. Teologia Sistemática. Rio de
Janeiro CPAD, 2016; HORTON, Stanley M. Teologia Sistemática: uma perspectiva Pentecostal.
pp.125-187; STRONG, A. H. Teologia Sistemática, Vol. 1. Teológica; São Paulo: Hagnos 2002.

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haverá uma tremenda dificuldade de se falar de Jesus. Assim, o ponto a ser


observado é que a palavra “Deus” é imprescindível no discurso concreto de Jesus
de Nazaré.

1. A DOUTRINA DE DEUS NA TEOLOGIA SISTEMÁTICA

O horizonte da vida e suas preocupações tem a ver com o que é temporal, ou


seja, o inescapável já existencial. Todo ato humano se movimenta daquilo que era
em direção daquilo que haverá de ser. Isso quer dizer que a vida humana e tudo o
que se movimenta, só tem sentido em Deus, e não nas coisas efêmeras
unicamente. O apóstolo Paulo fez esse registro em 1 Co 15.19.
A doutrina de Deus é parte integrante e fundamental inserida no campo da
tradição cristã, porque Deus é o fundamento de todo ser e de toda a realidade. Esta
premissa está arraigada no mais íntimo dos seres racionais, ainda que alguns não
queiram aceitar. É por isso que a Teologia Sistemática trata do estudo sobre Deus
e suas relações com a sua criação. Empreende-se o estudo da Teologia
Sistemática sobre Deus com as pressuposições que seguem.

Deus existe

A existência de Deus2 é a grande pressuposição da teologia. Por isso, não


tem sentido tratar do conhecimento de Deus, a menos que se admita que ele
exista. Deus é um ser pessoal de quem se originam todas as coisas, que transcende
a toda a criação, e que por sua vez é imanente em cada parte dela. A existência de
Deus se aceita pela fé, que encontra sua fidedignidade na Palavra inspirada de
Deus. A aproximação mais parecida com uma declaração está em Hb 11.6. A
Bíblia pressupõe a existência de Deus desde a sua primeira declaração em Gn 1.1.
A Bíblia diz que Deus criou todas as coisas segundo o conselho de sua vontade, e
revela a realização gradual de seu grande propósito de redenção. Deus se tem
revelado através de sua Palavra. É por esta razão que não é impossível tratar sobre

2 HORTON, Stanley M. Teologia Sistemática: uma perspectiva Pentecostal. pp. 125 ss.

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Deus, uma vez que ele se revelou e se interpretou ao ser humano, através de sua
Palavra. Assim, é preciso consultar a sua revelação para saber o que ele nos tem
revelado de si mesmo, e para conhecer a relação que guarda a suas criaturas.
A existência de Deus é um fato incontestável, e a Bíblia no Livro do
Gênesis 1.1, não tem a preocupação de tratar da existência de Deus, porém inicia
apresentado Deus, mostrando o Criador como personagem principal em todo o

universo.3
Em livre autodeterminação para a autocomunicação, Deus se revelou na
história como um Deus de amor (Jo 3.16), a fim de redimir a sua criação, e
principalmente o ser humano pecador (At 3.21; Gl 4.4-7). Assim, a teologia, que é
o discurso humano sobre Deus, está possibilitada, segundo a compreensão cristã,
pelo próprio discurso de Deus, por sua palavra dirigida a nós seres humanos.
As formas como Deus falou outrora ao povo de Israel, e a fé que dali surgiu
neste povo, por este testificada nos escritos do Antigo Testamento, continuam
sendo fontes também do nosso conhecimento de Deus. Além disso, elas
constituem o pano de fundo que permitirá reconhecer como tais ênfases colocadas
por Jesus de Nazaré.
Experiências com Deus que possam ser testificadas em palavras por
pessoas, sempre estão em veiculação histórica; estão ligadas a lugares bem
concretos e épocas bem específicas. Uma descrição adequada da experiência de
Deus por Israel, por isso, somente pode ser prestada se, nos pontos adequados da
revelação, também se fizer referência ao contexto histórico.
Sendo a existência de Deus uma primeira verdade, é fundamental refletir
sobre algumas premissas:

1. Que o conhecimento da existência de Deus responde ao primeiro

critério da universalidade (At 17.23, 27; Rm 1.19).4 É fato


reconhecido, que a grande maioria dos seres humanos na verdade

3 BERGSTÉN, Eurico. Teologia Sistemática. pp. 20 ss.


4 _________________. Teologia Sistemática. p. 21.

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tem reconhecido a existência de um ser ou seres espirituais de


quem eles supõem depender.

2. Que o ser humano, sob circunstâncias adequadas à manifestação


deste conhecimento, não pode deixar de reconhecer a existência
de Deus. A contemplação da existência finita, inevitavelmente
sugere a ideia de um ser infinito como seu correlato. Quando a
mente humana percebe a sua finitude, dependência,
responsabilidade, imediata e necessariamente percebe a existência
de um ser infinito e incondicionado de quem ela depende e
perante o qual ela é responsável.

3. Que o ser humano, em virtude da sua humanidade, tem capacidade


para religião. Tal reconhecida capacidade é a prova de que a ideia
de Deus é necessária. Se a mente, na ocasião própria, não
desenvolvesse esta ideia, não haveria nada no ser humano para o
que a religião pudesse apelar.

4. Que aquele que nega a existência de Deus deve tacitamente assumir


tal existência em seu próprio argumento, empregando processos
lógicos cuja validade se apoia no fato da existência de Deus.

2. DEUS É UMA TRIUNIDADE: DEUS, O PAI; DEUS, O FILHO; E DEUS,


O ESPÍRITO SANTO

Segundo Eurico BERGSTÉN,5 esta é uma das grandes doutrinas da Bíblia,


embora se reconheça que a palavra “Trindade” não existe registrada na Escritura.
Mas a verdade sobre o único Deus, que é o Pai, o Filho e o Espírito Santo,
encontra-se em toda a Escritura, desde os primeiros versículos do Livro do
Gênesis (Gn 1.-1-3), até o último capítulo do Apocalipse (Ap 22.3, 17).

5 BERGSTÉN, Eurico. Teologia Sistemática. p. 27.

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Na natureza de Deus há três distinções eternas que se nos representam sob a


figura de pessoas e estas três são iguais.6 A tripessoalidade de Deus é uma
verdade exclusiva da revelação. Faz-se claramente, apesar de não formalmente
conhecida no Novo Testamento e podem achar-se indicações dela no Antigo

Testamento.7
A doutrina da Trindade pode expressar-se nas seguintes seis afirmações:

1. Há na Escritura três que são reconhecidos como Deus ;


2. Estes três são descritos de tal modo que somos compelidos a
concebê-los como pessoas distintas;
3. Esta tripessoalidade da natureza divina não é simplesmente
econômica e temporal, mas imanente e eterna;
4. Esta tripessoalidade não é triteísmo; pois, conquanto haja três
pessoas, há apenas uma essência;
5. As três pessoas, Pai, Filho e Espírito Santo são iguais;
6. Inescusável, embora não autocontraditória, esta doutrina fornece a
chave de todas outras doutrinas.

A doutrina de um só Deus, Pai e criador, constituiu o pano de fundo e a


premissa inquestionável da fé da Igreja. Sendo assim, há três pessoas na Bíblia
chamadas “Deus”: o Pai é chamado Deus (1 Co 8.6; Ef 4.6)); o Filho é Deus (1 Jo
5.20; Is 9.6; Hb 1.8); o Espírito Santo é Deus (At 5.3, 4).
Com base nestes dados da refelação, formaram-se, portanto, as convicções
de que Deus se havia dado a conhecer na Pessoa de Jesus, o Messias,
ressuscitando-o dos mortos e oferecendo salvação aos homens por seu intermédio,
e que ele havia derramado seu Santo Espírito sobre a Igreja.
Mesmo através de uma apressada observação da vida da Igreja deve mostrar
que “Pai, Filho e Espírito Santo” de fato ocupa nela o lugar que em Israel era

6 STRONG, A. H. Teologia Sistemática, p. 452 ss.


7 BERGSTÉN, Eurico. Teologia Sistemática: bibliologia, doutrina de Deus e Cristo. p. 31.

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ocupado por “Javé” ou, posteriormente, “Senhor”.8 “Em nome do Pai, do Filho e
do Espírito Santo” são palavras com que começam nossos cultos e que neles se
inserem.
O uso do nome trinitário é um hábito universal ao longo da vida da Igreja.
Não podemos dizer até que ponto do passado ele remonta. Certamente remonta a
uma época ainda mais remota que os traços fracos da reflexão trinitária, e parece
ter sido uma expressão imediata da maneira como os crentes experimentaram
Deus.
Foi na liturgia, no ambiente cúltico da Igreja Primitiva, que nasceu uma
nova experiência de Deus.9 E, quando falamos sobre Deus, mas a ele e por ele,
que precisamos do nome de Deus e o usamos, e é aqui que aparecem as fórmulas
trinitárias, tanto no princípio quanto até o dia de hoje.

3. A IMANÊNCIA E A TRANSCENDÊNCIA DE DEUS

Um importante par de ênfases que devemos preservar com toda certeza é a


doutrina da imanência de Deus em sua criação e de sua transcendência em relação
a ela.10
Ambas as verdades são ensinadas na Escritura. Em Jeremias 23.24, por
exemplo, destaca-se a presença de Deus em todas as partes do universo. Nesse
contexto, entretanto, tanto a imanência como a transcendência aparecem juntas:
“Acaso, sou Deus apenas de perto, diz o Senhor, e não também de longe”?
Conferir também o que Paulo disse aos filósofos no Areópago em Atenas (At
17.27b, 28) e Is 55.8-9; 6.1-5.
O significado de imanência. Significa que Deus está presente e ativo
dentro de sua criação e dentro da raça humana, mesmo naqueles membros que não
creem nele ou não lhe obedecem. Sua influência está em toda parte. Ele age nos
processos naturais e por meio deles.

8 BRAATEN, C. E. Dogmática Cristã, p. 108.


9 BRAATEN, C. E. Dogmática Cristã, p. 109.
10 ERICKSON, M. J. Introdução à Teologia Sistemática. p. 100 ss.

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O significado de transcendência. Significa que Deus não é uma mera


qualidade da natureza ou da humanidade; ele não é simplesmente o mais elevado
dos seres humanos. Ele não é limitado à nossa capacidade de compreendê-lo. Sua
santidade e bondade vão muito além, infinitamente além das nossas, e isso
também é verdade em relação a seu conhecimento e poder.
É importante manter juntas essas duas doutrinas, mas nem sempre é fácil
fazê-lo, pois há problemas em saber como entendê-las.

 Implicações da Imanência

1. Deus não se limita a agir diretamente para cumprir seus objetivos;


2. Deus pode usar pessoas e organizações que não sejam declaradamente
cristãs;
3. Devemos ter apreço por todas as coisas criadas por Deus;
4. Podemos obter algum conhecimento acerca de Deus por meio de sua
criação;
5. A imanência de Deus significa que há pontos em que o evangelho pode
fazer contato com o descrente.

 Implicações da Transcendência

1. Existe algo mais elevado que os seres humanos;


2. Deus nunca pode ser completamente determinado pelos conceitos
humanos;
3. Nossa salvação não é conquista nossa;
4. Sempre haverá uma diferença entre Deus e os seres humanos;
5. A reverência é adequada em nosso relacionamento com Deus;
6. Buscaremos a obra genuinamente transcendente de Deus.

Assim como na questão da imanência de Deus, também no caso da


transcendência precisamos cuidar contra os perigos da ênfase excessiva. Não
buscaremos a Deus apenas no ato religioso ou no ato devocional; também o
buscaremos nos aspectos “seculares” da vida. Não buscaremos exclusivamente os

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milagres, mas também não os desconsideraremos. Alguns dos atributos divinos,


tais como a santidade, a eternidade e a onipotência são expressões do caráter
transcendente de Deus. Outros, como a onipresença, são expressões de imanência.
Se todos esses aspectos da natureza de Deus receberem a ênfase e a atenção que a
Bíblia lhes confere, o resultado será um entendimento plenamente harmonioso da
pessoa de Deus.
Embora Deus nunca seja totalmente compreendido por nós por estar muito
além de nossas ideias e formas, ele está sempre ao nosso alcance quando nos
voltamos para ele.

4. A NATUREZA DOS ATRIBUTOS DE DEUS

Da simplicidade de Deus se segue que ele e seus atributos são um só. Os


atributos não podem ser considerados como outras tantas partes que entram na
composição de Deus, porque Deus não é composto de várias partes como os seres
humanos. Tão pouco podem se considerar como algo agregado ao ser de Deus,
por mais que o vocábulo derivado de ad e tribuere pareçam apontar nessa direção;
posto que jamais pudesse referir-se ao ser de Deus, sendo que é eternamente
perfeito.

Os atributos são qualidades da Deidade inteira

Não se deve confundi-los com propriedades11 que, em termos técnicos, são


as características distintivas das várias pessoas da Trindade. As propriedades são
funções (gerais), atividades (mais específicas) ou atos (extremamente específicos)
de cada membro da Divindade.

Os atributos são qualidades permanentes da Deidade

11 Cf. com mais profundidade: DECLARAÇÃO DE FÉ DAS ASSEMBLEIAS DE DEUS.


(Esequias Soares da Silva, Org.). pp. 32-33; STANLEY, Horton (Ed.). Teologia Sistemática. pp.
128-140.

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Não podem ser adquiridos ou perdidos. São intrínsecos. Portanto, a


santidade não é um atributo (uma característica permanente, inseparável) de Adão,
mas é um atributo de Deus. Os atributos de Deus são dimensões essenciais e
inerentes de sua própria natureza. Embora nossa compreensão de Deus seja
filtrada por nossa estrutura mental, seus atributos não são nossas concepções
projetadas sobre ele. São características objetivas de sua natureza.

Os atributos são inseparáveis do ser ou da essência de Deus

É melhor pensar nos atributos de Deus como sua natureza, não como uma
coleção de partes fragmentadas nem como algo que se adiciona à sua essência.
Portanto, Deus é seu amor, santidade e poder.

5. CLASSIFICAÇÃO DOS ATRIBUTOS DE DEUS

O homem pode elevar-se, por meio de sua inteligência, até o conhecimento


da natureza divina. Para isso, utiliza-se dos efeitos dessa natureza na realidade
universal. Como os efeitos apresentam sempre alguma semelhança com a causa
que os produziu, nosso conhecimento da natureza divina é, sem dúvida, real. Mas
permanece incompleto e imperfeito, uma vez que uma coisa só pode ser conhecida
perfeitamente quando considerada em si mesma. Como Deus é perfeição absoluta
e infinita e nossa inteligência relativa é limitada, jamais poderemos apreender a
natureza divina na plenitude dos seus atributos.

Os Atributos Naturais de Deus12

“Digno és, Senhor, de receber glória, e honra, poder, porque Tu criaste todas
as coisas, e por tua vontade foram criadas” (Ap 4.11). Diante desse fato, pode-se
observar algumas das qualidades de Deus manifestadas na existência humana.

12 STANLEY, Horton (Ed.). Teologia Sistemática. pp. 128-140.

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Sendo assim, percebe-se que o Senhor é soberano, não depende de nada e nem de
qualquer criatura dele.
Seguem alguns pontos que não devem ser esquecidos, quando se trata da
temática dos atributos de Deus:

 Deus é Espírito. Em Jo 4.24 está escrito que “Deus é Espírito”.


Significa que Deus é livre; ninguém pode contê-lo ou prendê-lo dentro
certos conceitos ou ideologias. Como espírito Deus é imortal, invisível e
eterno, digno de receber toda honra e glória para sempre (1 Tm 1.17).
 Deus é cognoscível. Deus jamais foi visto (Jo 1.18). Deus não pode ser
plenamente conhecido pela razão humana (Jó 11.7), porém, revelou-se
em ocasiões diferentes e de várias maneiras (Hb 1.1-4). Esse agir de
Deus indica que é da sua vontade que o conheçamos e tenhamos um
relacionamento com Ele (Jo 1.18; 5.20; 17.3; Rm 1.18-20). Mas, ao
mesmo tempo em que Ele se revela, e se oculta (Is 45.15).
 Simplicidade. Deus não é composto de partes, pois toda composição
implica imperfeição. O composto depende, necessariamente, dos
elementos que o constituem. Deus é, portanto, perfeitamente simples.
 Infinidade. Deus é infinito, isto é, sem limite em seu ser, pois é o ser
por si, o ser que existe por sua própria essência. Nada existe além e
acima de Deus, que de nada depende e ao qual tudo está subordinado.
 Unicidade. Sendo infinitamente simples, Deus é infinitamente uno e
indivisível. Mas é também absolutamente único. Supor dois ou mais
Deuses igualmente perfeitos, seria absurdo. Dois Deuses seriam
idênticos e então se confundiriam, ou seriam diferentes e então não
poderiam ser ambos infinitamente perfeitos.
 Imensidade. Sendo infinito, Deus não pode ser circunscrito ou limitado
por qualquer coisa. A imensidade é a perfeição infinita pela qual Deus,
sem ser extenso, ou ocupar algum espaço, porque é absolutamente
simples, o enche integralmente com a sua presença e onipotência.

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 Imutabilidade. Toda mudança constitui um progresso ou uma


decadência. Só mudam e se transformam os seres imperfeitos. Sendo
necessariamente perfeito, Deus é imutável, isto é, permanece idêntico a
si mesmo, sem nenhuma mudança ou variação (Nm 23.19).
 Eternidade. Sendo necessário e infinito, Deus não tem começo nem
fim. Só possuem duração limitada os seres imperfeitos. Deus, sendo
infinitamente perfeito, é eterno. Não tem passado, futuro e nem presente.
Medimos a nossa existência pelo tempo: o passado, o presente e o futuro.
Mas Deus não está limitado por nenhum destes tempos (Sl 90.2; 1 Tm

1.17; Nm 23.19; Sl 33.11; 102.27; Is 57.15).13


 Onipotente. Deus é poderoso. Sendo assim, o seu poder é ilimitado,
porque ele é o único e verdadeiro Deus, e jamais poderá ser resistido,
impedido ou anulado pelo ser humano (Is 14.27; @Cr 29.6; Sl 147.5; Is
43.13; Dn 4.35). O ser humano em seu estado de egoísmo, muitas vezes
pensa que pode medir foças contra Deus, mas basta apenas um pequeno
vírus para atacar o poderio dos que pensam que estão de pé, e tudo se
desmorona. Não têm para quem apelar, senão para o Deus único e
poderoso.
 Onipresente. No Antigo Testamento consta que o rei Salomão, homem
cheio de sabedoria dada por Deus, reconheceu que Deus é onipresente (1
Rs 8.27). Os seres humanos têm dimensões físicas limitadas do universo.
Assim, não há absolutamente lugar nenhum para onde se possa fugir da
presença de Deus (Sl 139.7-10; Jr 23.23, 24).
 Onisciente. Deus conhece todas as coisas, até mesmo os pensamentos e
as intenções das pessoas (Hb 4.13; Sl 139.1-4; Is 40.28). De acordo com
o conteúdo da Sagrada Escritura, não se pode adentrar o conhecimento e
à sabedoria de Deus (Rm 11.33).
 Inteligência. Sendo tudo, em Deus, infinito, sua inteligência e sua
ciência são também infinitas. Para saber, Ele não precisa raciocinar.

13 Cf. HORTON, Stanley M. Teologia Sistemática – Uma perspectiva pentecostal. pp. 130-131.

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Tudo vê e conhece por intuição direta e imediata (Sl 147.5; 102.24; Dn


2.25).
 Vontade. A vontade divina é boa, agradável e perfeita (Rm 12.2), não
possui limites e é livre de todo obstáculo. A Deus basta querer para
fazer. Age com absoluta independência e sem contradição. Deus é
onipotente.

Os Atributos Morais de Deus:

 Fidelidade. Deus é fiel na sua natureza e nas suas ações (Is 25.1). Deus
não é fiel aos seres humanos, mas à sua Palavra e suas ações. O Senhor
comprova a sua fidelidade em cumprir as suas promessas. O Deus que
promete é o Deus que cumpre (Dt 7.9; Js 23.14; Sl 89.2). Assim, pelo
fato de Deus ser fiel, haveria uma impossibilidade de pensar que Ele
abandonaria seus filhos, quando eles estivessem passando por tentações
ou provações (1 Co 10.13). Quando Deus faz uma aliança com alguém,
a sua promessa é selo e garantia suficiente de sua imutável natureza e de
seus propósitos (Hb 6.17). A fidelidade de Deus é absoluta por causa
daquilo que ele é: fiel e verdadeiro (Dt 32.4; Sl 89.8; 1 Ts 5.23, 24; Hb
10.23; 1 Jo 1.9).
 Verdadeiro. “Deus não é homem, para que minta” (Nm 23.19). A
veracidade de Deus contrasta com a desonestidade do ser humano. Deus
é fiel às suas promessas e aos seus mandamentos (Sl 33.4; 119.151). Os
homens são mentirosos e Deus verdadeiro. Jesus, em sua oração
sacerdotal, fez uma petição inconteste: “Santifica-os na verdade; a tua
palavra é a verdade” (Jo 17.17). Mais do que nunca, hoje e em qualquer
tempo, as pessoas precisam atentar para esta verdade, a fim de serem
melhores a cada dia.
 Bondade. Deus é amor infinito e perfeito. Ama as coisas segundo seu
valor e na proporção do seu mérito. Sendo o Bem supremo, ama a si
mesmo e a todos os seres criados, na medida em que participam da sua

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infinita perfeição, isto é, que imitam sua essência divina (Sl 110.5;
145.8, 9).
 Paciente. “O Senhor é longânimo e grande em beneficência, que perdoa
a iniquidade e a transgressão” (Nm 14.18). Isso significa que Deus é
tardio em se irar, pois ele é paciente e cheio de compaixão e graça (Sl
86.15). Vive-se num grande dilema: que a vinda do Senhor seja breve
quanto à sua segunda vinda, mas ao mesmo tempo ele exerce a sua
paciência. No entanto é preciso aprender com o que está escrito em 2 Pe
3.9).
 Justiça. Sendo em grau infinito, inteligente, sábio e bom, Deus é justo.
Possuindo santidade absoluta que é ordem do amor, Ele age com justiça
infinitamente perfeita. Por isso, pune o mal e recompensa o bem (Sl
72.2). Através da sua justiça, Deus exerce o seu governo (Is 61.8). Os
governantes que exercem a justiça, nem se comparam com a justiça e os
atos da justiça de Deus. Existem leis que somente servem para oprimir.
Mas, o padrão que Deus apresenta em sua Palavra a nós é perfeito e reto
(Dt 32.4).
 Amor. Em João 3.16 consta a afirmação de que “Deus amou o mundo de
tal maneira, que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê
não pereça, mas tenha a vida eterna”. Deus se revelou como alguém que
tem um amor específico; um amor incondicional. Deus nos amou e
enviou o seu Filho para a propiciação pelos nossos pecados (1 Jo 4.10).
 Gracioso e misericordioso. Os termos “graça” e “misericórdia”
representam aspectos do caráter e da atividade de Deus; são distintos e
também se correlacionam. Os seres humanos não são merecedores da
graça de Deus; não se pode adquirir por conta própria. A graça de Deus
é favor imerecido; é puro amor que se manifesta em prol da nossa
salvação (Ef 2.8-9). Quanto à misericórdia divina, significa que somos
preservados do castigo que esta sobre os seres humanos. Deus ao nos
perdoar, significa que recebemos, concomitantemente, o dom da vida (Sl
103.8).

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 Santo. Deus é santo, porque ele é diferente, ele não se confunde com o
que é falso, mundano, injusto ou qualquer ato idolátrico. Sendo Deus
santo, há uma exigência dele para também sermos santos (Lv 11.44). A
santidade de Deus não é uma temática que sirva de motivo para
especulação, mas é um convite para se viver uma vida tal qual
estabelecida pelo Senhor (1 Pe 1.15), a fim de termos um procedimento
conforme o que está em Gl 5.22-26. E, para que se possa viver desta
maneira, o texto que segue é de profundo interesse de quem foi
alcançado pela graça e pela misericórdia de Deus.

CONCLUSÃO

O que de Deus pode-se conhecer, aquilo que foi revelado nas Sagradas
Escrituras, os seus atributos, podem dar a noção de que o Criador é pleno em sua
graça, profundo em seu amor e extenso em sua misericórdia.
Segundo Norman GEISLER, toda verdade teológica básica depende dos

atributos de Deus.14 Esta afirmativa demonstra que, pelos seus atributos, Deus
mostrou quem ele é. Isso não quer dizer que Deus se revelou de modo total. E,
ainda mais, é preciso saber que Deus não é reduzido apenas aos seus atributos,
bem como também, saber que seus atributos não estão separados de sua Deidade.
Para finalizar esta parte deste estudo, no que concerne à adoração a Deus,
esta deve ser integral, considerando que todos os atributos de Deus estão em sua
essência concentrados.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BERGSTÉN, Eurico. Teologia Sistemática. Rio de Janeiro: CPAD, 2016.

BRAATEN, C. E. & JENSON, R. W. Dogmática Cristã. São Leopoldo, RS:


Sinodal e IEPG. Volumes 1 e 2.

14 GEISLER, N. Teologia Sistemática, Vl 1. p. 559 ss.

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DECLARAÇÃO DE FÉ DAS ASSEMBLEIAS DE DEUS. (Esequias Soares da


Siva, Org.). Rio de Janeiro: CPAD. 2017.

ERICKSON, M. J. Introdução à Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova,


1999.

GEISLER, Norman. Teologia Sistemática. Vl. 1. Rio de Janeiro: CPAD, 2015.

PACKER, J. I. O conhecimento de Deus. São Paulo: Cultura Cristã, 2014.

STANLEY, Horton (Ed.). Teologia Sistemática. Rio de Janeiro: CPAD, 1996.

STRONG, A. Teologia Sistemática. Vol. I. São Paulo: Teológica, 2002.

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