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27/08/2021 Rudolf Steiner: A videncia visionária e o conhecimento

A vidência visionária e o conhecimento


Rudolf Steiner

Palestra proferida em Stuttgart em 13/11/1909 (1), do ciclo Die tieferen Geheimnisse des Menscheitswerdens im Lichte der Evangelien
[Os segredos mais profundos do devir humano à luz dos evangelhos], GA 117, Dornach: Verlag der Rudolf Steiner
Nachlassverwaltung, 1966.

Tradução: Valdemar e Sonia Setzer - versão de 15/2/05

Os ciclos de sete anos sobre os quais tenho falado freqüentemente em minhas diversas palestras não são uma fórmula desprovida de
realidade: eles correspondem realmente a uma lei da existência. Nosso movimento da Ciência Espiritual acaba de completar um ciclo
de sete anos; parece-me oportuno lembrarmo-nos de nossas aspirações, de todo nosso trabalho. Este último não é possível de ser
realizado a não ser que as leis internas do movimento espiritual tenham um certo relacionamento com as leis da grande ordem
cósmica, que se desenrola em ciclos baseados sobre o número sete. Contamos sete estados planetários (2), sete etapas dentro dos
mundos planetários (3), etc. Também num movimento como o nosso o número sete tem um certo papel. De certo modo, ao cabo de
sete anos as aspirações retornam a seu ponto de partida, depois de se terem incorporado nesse intervalo de tempo com o que foi
trabalhado. As aspirações retornam ao seu ponto de partida, mas em um grau superior. Só se consegue alcançar isto considerando a lei
interior mais profunda que rege esse tipo de fenômeno.

Se os senhores lançarem um olhar retrospectivo sobre a maneira como trabalhamos no decorrer desses sete anos, poderão observar
uma coisa: houve realmente uma certa regularidade nesse trabalho. Naturalmente, os senhores não podem observar as coisas que estão
sendo ditas agora na data exata dos sete anos, mas considerando sua essência verão que elas são como as descrevo. Durante os
primeiros quatro anos de nosso trabalho estabelecemos, por assim dizer, as sua bases. Neles, adquirimos um certo conhecimento sobre
a essência do ser humano e sobre os caminhos que conduzem aos mundos superiores, conquistamos algum conhecimento sobre os
grandes relacionamentos cósmicos, sobre aquilo que se pode denominar a verificação de fatos, fornecidos pela Crônica do Akasha (4),
relativos aos mistérios cósmicos.

Para aqueles de nossos membros que se ligaram a nós mais tarde é necessário, e sempre o será, adquirir a posteriori essa base sólida,
que é indispensável. Pois, a fim de possibilitar ao movimento um progresso correto, não basta de modo algum assimilar simplesmente
o que aconteceu durante os últimos três anos. Se fizerem uma retrospectiva, verão que nesses três últimos anos foram desenvolvidos,
em certo contexto, até mesmo as verdades e conhecimentos com os quais se defrontaram nos anos precedentes, talvez de uma maneira
mais surpreendente. Se procurarem estabelecer uma ligação com o que foi cultivado nos primeiros quatro anos de nosso trabalho,
dentro do que por assim dizer é o fundamento quadrimembrado de todo o conjunto, verão que mesmo o que foi surpreendente, as
grandes verdades abrangentes, tem uma relação íntima com o que se passou durante os quatro primeiros anos. Os senhores poderão
convencer-se disso se tomarem algum tempo para refletirem a respeito. Os membros que chegaram recentemente deveriam levar
muito a sério não negligenciar uma autêntica fundamentação. Em todos os locais onde um trabalho foi efetuado deve-se cuidar cada
vez mais para que todo novo membro possa inteirar-se do que foi trabalhado aqui em profundidade durante os primeiros anos . Em
qualquer local em que se faz o nosso trabalho, está se cuidando cada vez mais para que aquele que chega depois possa recuperar o que
foi conquistado. Sem essa recuperação não é realmente possível seguir os estudos correntes. Devemos tomar extremamente a sério o
que significa um movimento de Ciência do Espírito. De acordo com isso, podemos talvez abordar hoje um tema – relacionado
justamente com este período tão importante em que vivemos – que se relaciona mais com a atitude e a maneira totalmente espiritual
de se ter representações mentais: qual é o modo correto para o antropósofo colocar-se em relação à Ciência do Espírito propriamente
dita?

Aquilo que quero dizer com isso parecerá ainda mais claro se formularem a questão de maneira um pouco diversa, como segue: por
que se ensina Antroposofia, da maneira como é feita em geral hoje em dia? Por que são feitas comunicações sobre os mundos
superiores, comunicações resultantes da pesquisa espiritual, da consciência clarividente? Não seria possível proceder de uma maneira
totalmente diferente, começando talvez por dar a cada um certas indicações para que ele possa desenvolver suas próprias faculdades
interiores, latentes na alma, para que por meio dessas indicações ele pudesse adquirir a possibilidade de elevar-se gradualmente por si
mesmo aos mundos espirituais, antes de receber informações, como é o caso nos dias de hoje, sobre fatos dos mundos espirituais? É
necessário dizer que antigamente, em certo sentido, este era o hábito. Era assim antes do nosso movimento de Ciência Espiritual, no
sentido moderno da palavra. Durante muito tempo dizia-se: de fato, não é de grande valia se alguém vem apresentar-se ao grande
público e comunica os resultados da pesquisa espiritual. Observava-se a maior reserva sobre esse gênero de comunicação. Limitava-se
de fato a dar às pessoas certas regras, indicando-lhes como elas deveriam desenvolver as faculdades dormentes em sua alma e, no
fundo, não se lhes fazia saber mais do que haviam adquirido lentamente pela sua visão pessoal do mundo espiritual. Eis a questão que
poderia surgir neste momento: por que não se trilha essa via hoje em dia, excluindo-se qualquer outra? Por que a Antroposofia é
difundida a partir de resultados da pesquisa espiritual?

Isso não é conseqüência da preferência pessoal de um indivíduo ou de sua arbitrariedade, mas de razões bem precisas.
Compreenderemos melhor o que deveríamos compreender muito bem, se nos perguntarmos sem cessar o seguinte: o que essa Ciência
do Espírito revela de fato? Ela comunica fatos, verdades do domínio dos mundos superiores, dos mundos supra-sensíveis; ela
comunica o que a consciência clarividente pode pesquisar nesses mundos superiores.

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É verdade que a pessoa que não é ela própria um clarividente e à qual são feitas tais comunicações não pode, de início, convencer-se
desses fatos pela visão imediata. É certo que ela recebe essas comunicações e não as pode verificar por meio de um exame
clarividente. Mas seria absolutamente falso acreditar que a pessoa que não é clarividente não tem condições de verificar nem de
compreender os conhecimentos que lhe são comunicados hoje em dia. Seria absolutamente falso acreditar nisso e seria uma opinião
falsa afirmar que se deveria aceitar cegamente, em virtude de um princípio de autoridade, aquilo que é comunicado a partir da
consciência clarividente. Francamente, haveria qualquer coisa de extremamente imperfeito nessas comunicações, qualquer coisa de
insuficiente, se elas pretendessem impor-se pela autoridade, por mera fé.

O que é comunicado de uma maneira correta não pode ser verificado a não ser pela consciência clarividente – temos repetido isso
freqüentemente. Mas, tendo sido pesquisado, mesmo que por um só pesquisador, tendo uma vez sido contemplado e comunicado,
qualquer um pode reconhecê-lo por meio de seu juízo desprovido de preconceitos, por meio do que é acessível no plano físico. Pode-
se porém afirmar o seguinte: mesmo se não é possível, a cada um dos que aqui estão sentados, logo verificar tudo da maneira mais
abrangente possível, cada um poderia ao menos criar essa possibilidade, se tivesse tempo e habilidade para tanto – mas apenas as
habilidades desse plano físico.

Tomemos mesmo coisas tão difíceis quanto as que tratamos no decorrer das últimas palestras, a propósito das encarnações de
Zaratustra, coisas complexas que tratam da passagem do corpo astral de Zaratustra para Hermes, a passagem do corpo etérico de
Zaratustra para Moisés (5); ninguém pode afirmar que quem conhece essas coisas a partir da pesquisa espiritual ensina-as fazendo
apenas apelo à fé cega. Não, não é absolutamente o caso! Se alguém dissesse: "Bem, eu não tenho nada de um clarividente. Aí está
alguém que afirma esses fatos relativos a Zaratustra e suas encarnações. Eu quero agora servir-me de tudo o que está à disposição do
ser humano no plano físico, tudo o que a história transmite, tudo o que nos foi legado pelos vestígios que se encontram em
documentos gravados em pedra, tudo o que se encontra em textos religiosos antigos; vou examinar tudo isso com o maior cuidado."
Então essa pessoa acrescentaria: "Suponhamos que aquilo que ele esteja dizendo esteja correto; isso confere com os fatos que podem
ser constatados exteriormente?" Se ela examinasse em detalhe tudo o que pode ser constatado exteriormente veria que, quanto mais
efetuar suas pesquisas com precisão, tanto mais encontraria a confirmação dos fatos sobre os quais fala o clarividente.

Se a palavra medo tivesse aqui um significado, poder-se-ia dizer que a pesquisa da Ciência espiritual pode eventualmente ter medo de
um exame ao qual falta precisão, mas de maneira alguma o tem em relação a pessoas que desejam dispor de tudo o que a pesquisa
física lhes coloca à disposição. Estas verão que, tanto mais efetuarem suas pesquisas com minúcia, mais claramente elas encontrarão a
confirmação dos fatos contados pelo clarividente. Para os assuntos menos distantes e menos árduos, que se relacionam com o carma
(6) e a reencarnação, à vida entre a morte e um novo nascimento, é suficiente observar sem preconceitos o que nos oferece a vida.
Quanto mais se observar isso com precisão, mais se verá confirmar o que diz o clarividente; isso quer dizer que existem possibilidades
suficientes de se convencer que os conhecimentos adquiridos nos mundos supra-sensíveis vejam-se confirmados pelo mundo físico
exterior. Trata-se de algo que não deve ser simplesmente aceito, mas algo que devemos considerar uma necessidade imprescindível.
Devemos comprovar pela vida os fatos que de início apenas alguns poucos conseguem pesquisar. Não deveríamos repetir sempre de
novo a fórmula: "É preciso aceitá-lo cegamente!" Não, aceitem cegamente o mínimo possível e verifiquem, verifiquem mesmo, porém
somente sem preconceitos, ao contrário, com um espírito aberto! É a primeira coisa que é necessário salientar.

Mas é também um fato que, ao empreender um exame desse gênero este exige, de certa maneira, um esforço. Exige que se exercite o
pensar, exige que se trabalhe, por assim dizer, que se admita e busque no mundo físico as confirmações do que diz a pesquisa
clarividente. Chegamos aqui a um ponto que seria bom desenvolver alguma vez, e que corresponde à nossa verdadeira questão, a
saber: é necessário ou conveniente para o ser humano atual, além do esforço justificado que ele realiza para penetrar por si mesmo no
mundo espiritual, é-lhe necessário, ou ao menos benéfico, ocupar-se energicamente e em profundidade com os meios de conhecimento
e os métodos de pensar que ele utiliza normalmente no plano físico? Em outras palavras: o estudante da Ciência do Espírito faz bem
em superar essa posição confortável que hoje em dia ele traz sobejamente do mundo desprovido de espiritualidade, faz bem em
superar o comodismo e edificar seriamente o mundo de suas idéias, apoderando-se realmente dos meios por cujo intermédio
reconhece-se o ser humano, inclusive a partir do plano físico, e servir-se dos mesmos? Ele faz bem em, antes de tudo, aprender muitas
coisas, notadamente o que concerne à maneira de pensar? É bem difícil explicar à consciência atual, de maneira bem clara e precisa, o
que se entende por isso.

Certa vez uma pessoa, desejosa de avançar no campo antroposófico, mas que queria formar-se de tal modo a refletir sobre os
pensamentos espirituais de modo cada vez mais preciso, pediu-me para lhe indicar uma leitura. Eu lhe recomendei o estudo da Ética
de Spinoza (7), para treinar seu pensamento a desenhar em contornos precisos os pensamentos que lhe eram transmitidos. Passaram-se
poucas semanas e essa mesma pessoa escreveu-me que, na verdade, não compreendia por que devia estudar isso, pois era um livro
relativamente espesso e consistia apenas em provar a existência de Deus. Ora, ela jamais havia duvidado disso e portanto não tinha
necessidade de seguir longos raciocínios para provar essa existência. Vejam os senhores, esse é um exemplo típico da comodidade
com que muitas pessoas aproximam-se da Ciência do Espírito. Elas satisfazem-se rapidamente, por assim dizer, com a aquisição de
uma crença e recuam diante do esforço de adquirir, de elaborar as representações, que não são cômodas, elemento por elemento.
Dessa forma pode resultar apenas uma fé cega; os senhores notarão que a coisa cessa de ser uma fé cega se impuserem uma real
disciplina a seu pensar e não aspirarem simplesmente com avidez a desenvolver as forças que conduzem a um grau elementar de
clarividência.

De fato, não se trata de criticar hoje a aspiração de desenvolver as forças ocultas da alma. É uma aspiração bela e boa. Porém, por
outro lado, é necessário salientar que, paralelamente, é necessário desenvolver as forças do pensar dirigido ao mundo físico, essas
faculdades de conhecimento que inicialmente nos são dadas no plano físico, mesmo que isso tenha de ser feito de maneira pouco
cômoda, afim de que fiquemos aptos a nos fazer representações mentais e conceitos bem precisos daquilo que nos é comunicado a

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partir dos mundos superiores. Poder-se-ia crer facilmente que o menor grau de clarividência é ainda preferível ao fato de se ouvir
falar, mesmo que seja muito, por meio de conceitos sensatos dos acontecimentos dos mundos superiores. Alguém poderia dizer: "Não
tenho idéia por que estou nessa Sociedade. Aí sempre relatam-se coisas relativas aos mundos superiores; isso é muito bonito, mas eu
preferiria ser capaz de ver, mesmo que fosse um pouquinho só, por meio da contemplação clarividente."

Conheço um teósofo (8) bastante culto, que exprimiu da seguinte maneira a sua profunda nostalgia de um dia ultrapassar a mera
erudição à contemplação: "Se eu pudesse ver apenas uma vez a pontinha da cauda de um ser elemental!" (9) De fato, isso é bem
compreensível. Esse teósofo jamais teria afirmado que renunciaria aos conhecimentos das verdades espirituais para esse fim. Mas
também pode acontecer que alguém renunciasse a eles se em troca obtivesse apenas um pouco de clarividência. Entretanto, quando
alguém tem esse tipo de sensação, esta é terrivelmente errônea, enganosa em todos os sentidos, pois vivemos numa época que é,
dentro da evolução global, a idade do pensar consciente. Como freqüentemente salientamos, a antiga época hindu (10) cultivava uma
forma totalmente diferente de consciência, que lembra a clarividência crepuscular, embotada. As faculdades atuais desenvolveram-se
progressivamente; somente nós, com o verdadeiro desenvolvimento da alma da consciência (11), introduzimos o pensar humano no
ciclo da evolução terrestre. Por isso hoje a Ciência do Espírito deve descer do mundo supra-sensível ao mundo sensível e apelar ao
pensar humano baseado na razão.

Temos de ter bem clara a seguinte diferença: enquanto se trata de mera clarividência visionária, uma pessoa não tem necessidade de
ser um pensador notável. Ela pode ter um pensar bem primitivo e entretanto estar relativamente avançada quanto à visão no plano
astral e, em certo grau, até mesmo no plano devacânico (12). Ou seja, ela pode estar bem avançada, ver muitas coisas. O outro caso
possível é que alguém conheça muitas, muitas verdades espirituais e ainda não veja nada, não tenha a menor condição de ver o que
quer que seja, mesmo, como citado, a pontinha da cauda de um ser elemental. Perguntemo-nos então: como se comportam essas
faculdades diferentes da alma humana, uma em relação à outra?

Temos de sublinhar, antes de tudo, que não se deve confundir 'ter algo' e 'ter consciência daquilo que se tem'. É extremamente
importante de se discernir bem isso. Os senhores compreenderão corretamente essa questão se a colocarmos de maneira um pouco
diferente. Vejam, todos os senhores foram clarividentes em períodos muito remotos. Pois todos os seres humanos eram clarividentes.
Houve épocas onde os seres humanos conseguiam ter uma visão retrospectiva longínqua, bem longínqua em relação à transição dos
tempos no início da era cristã (13). Os senhores poderiam então perguntar-se: ora, por que não nos lembramos de nossas encarnações
precedentes, já que nós éramos capazes de ter uma visão retrospectiva ainda na época da transição dos tempos no início da era cristã?

Para os senhores, uma prova desse fato, deveria ser que a faculdade, por exemplo, de atualmente poderem lembrar-se de coisas
passadas, não lhes adianta de modo algum para conseguirem contemplar retrospectivamente suas encarnações precedentes. Assim, os
senhores poderiam colocar a seguinte questão: "Será que, tendo em vista uma encarnação seguinte, será inicialmente de alguma
utilidade se agora nos tornamos visionários por clarividência, considerando a lembrança retrospectiva?" Os senhores já podem gravar
o seguinte fato: a clarividência antiga de nada serve hoje em dia para uma visão retrospectiva, pois todos os senhores tiveram essa
faculdade. Por que há tantas pessoas hoje que não se lembram de suas encarnações precedentes? Esta questão é de uma importância
capital. Há tantas pessoas que não se lembram de suas encarnações precedentes, apesar de terem sido mais, ou menos, clarividentes
em tempos passados, porque naquela época elas não tinham desenvolvido aquelas faculdades que são justamente as faculdades do Eu,
do self. Pois não se trata de ter desenvolvido certas faculdades de clarividência, mas de realmente já ter desenvolvido algo que deve
ser contemplado.

Por mais clarividentes que antigamente tenham sido os seres humanos, se eles não cuidaram de desenvolver justamente aquelas
capacidades que são as faculdades do Eu, a saber, a capacidade de pensar, de discernir, ou seja, as faculdades específicas do self
humano nesta Terra; isso é devido ao fato de que o Eu não estava presente nas encarnações precedentes. A egoidade não existia.
Assim, do que era então possível lembrar-se? Era preciso cuidar nas encarnações precedentes de que houvesse a presença de um Eu
centrado em si próprio. É disso que se trata! Portanto, hoje só conseguem lembrar-se de suas encarnações precedentes as pessoas que
trabalharam naquelas encarnações com o pensar, a lógica, o discernimento. Essas conseguem lembrar-se. Alguém pode ter uma
clarividência muito bem desenvolvida: se nas encarnações precedentes essa pessoa não trabalhou utilizando o discernimento, o
pensamento lógico, ela não consegue lembrar-se de uma encarnação precedente. Naquela época ela não colocou o sinal do qual
deveria lembrar-se. Então os senhores vêem que, em compreendendo a Antroposofia, deve-se conquistar o mais cedo possível essas
faculdades, especialmente a de pensar com um extremo rigor.

Os senhores poderiam dizer: se eu me torno clarividente, a conquista dessa faculdade do pensar lógico far-se-á por si própria. Isso é
falso. Por que os seres divinos criaram os seres humanos? Pelo motivo de conseguirem desenvolver nos seres humanos faculdades as
quais eles mesmos não podiam desenvolver: a capacidade de pensar, de representar qualquer coisa em pensamentos, de tal modo que
esses pensamentos estejam vinculados ao discernimento. Essa faculdade só pode ser desenvolvida em nossa Terra; antigamente ela
nem existia, ela tinha de surgir pelo fato de o ser humano aparecer.

Se quisermos recorrer a uma comparação, podemos dizer o seguinte: suponhamos que os senhores tenham uma semente, por exemplo
um grão de trigo. Por mais tempo que o observarem, ele não se transformará num pé de trigo. Os senhores precisam colocá-lo na terra
e deixá-lo crescer, deixarem agir sobre ele as forças de crescimento. O que as entidades divino-espirituais possuíam antes da formação
do ser humano pode ser comparado ao grão de trigo. Para que pudesse brotar sob a forma de pensamentos, ele deveria primeiramente
ser cultivado por meio de seres humanos no plano físico. Não há outra possibilidade de se cultivar pensamentos a partir dos mundos
superiores, a não ser fazendo-os brotar em encarnações humanas. De modo que aquilo que seres humanos pensam aqui no plano físico
é algo único, devendo juntar-se ao que é possível nos mundos superiores. O ser humano realmente foi necessário, caso contrário os
deuses não o teriam criado. Os deuses fizeram aparecer o ser humano para receber, sob a forma do pensamento elaborado pelo ser

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humano, o que eles possuíam anteriormente. Se o ser humano não conseguisse dar essa forma de pensamento, aquilo que desce dos
mundos espirituais não receberia jamais a forma de pensamentos. Portanto quem, na Terra, não quer pensar, subtrai dos deuses aquilo
com o qual eles contaram, e não consegue portanto realizar de modo algum a missão do ser humano e atingir aquilo que é destinado a
ser na Terra. Ele somente conseguirá atingi-lo na encarnação na qual consente em efetuar um verdadeiro trabalho de pensar.

Refletindo sobre isso, todo o resto é decorrência. Revelações, fatos reais concernentes ao mundo espiritual, podem penetrar de modos
bem diversos na alma humana. Obviamente é possível, e até bem freqüente, que pessoas atinjam uma experiência visionária, sem
serem pensadores rigorosos. Muito mais pessoas que não são pensadores rigorosos alcançam a clarividência do que pensadores
rigorosos. Há, porém, uma grande diferença entre as experiências feitas no mundo espiritual pelos pensadores rigorosos e aquelas
feitas pelos que não são pensadores rigorosos. Há uma diferença que posso formular da seguinte maneira: o que se revela dos mundos
superiores impregna-se mais adequadamente naquelas formas de representações mentais que levamos de encontro a esses mundos
espirituais sob a forma de pensamentos; estes constituem o melhor receptáculo.

Se não somos pensadores, as revelações têm de procurar outras formas, por exemplo a forma de imagem, a forma de símbolo. É a
maneira mais freqüente pela qual aquele que não é um pensador recebe as revelações. Os senhores podem ouvir daqueles que são
visionários, sem ser ao mesmo tempo pensadores, como eles relatam as revelações por meio de símbolos. Estes são bastante belos,
mas ao mesmo tempo devemos ter a consciência de que a vivência subjetiva é diferente se os senhores têm as revelações sendo um
pensador ou um não-pensador. Se os senhores têm revelações na qualidade de não-pensadores, o símbolo está lá; têm diante de si esta
ou aquela figura, que se manifesta a partir do mundo espiritual. Suponhamos que os senhores vêem uma figura angelical, expressa por
meio deste ou aquele símbolo, digamos uma cruz, um ostensório, um cálice – são coisas presentes no campo supra-sensível, os
senhores as vêem como imagem pronta. Os senhores têm certeza: não se trata de algo real, mas é uma imagem.

Mesmo para a consciência subjetiva as experiências do mundo espiritual são vivenciadas em relação ao pensador de modo diferente,
não exatamente como no não-pensador. Para aquele elas não são dadas de uma vez, como que instantaneamente; neste caso os
senhores as têm diante de si de maneira diversa. Tomem, por assim dizer, um clarividente visionário que não pensa e um que pensa.
Suponham que o clarividente visionário que não pensa e o clarividente visionário que pensa recebessem ambos as mesmas
experiências. Consideremos um caso preciso: o clarividente visionário que não pensa, vê este ou aquele fenômeno do mundo
espiritual, o clarividente visionário que pensa, não o vê ainda, mas somente um pouco mais tarde, e no momento em que o vê, este já
foi captado por seu pensar. Ele já consegue discerni-lo imediatamente, ele já consegue saber se se trata de uma verdade ou de uma
inverdade. Ele o vê um pouco mais tarde. No entanto, por vê-lo um pouco mais tarde, o fenômeno do mundo espiritual apresenta-se-
lhe de tal maneira que ele o permeou com o pensamento e consegue distinguir se é uma ilusão ou uma realidade de modo que, por
assim dizer, ele já está de posse de alguma coisa, mesmo antes de vê-la. Naturalmente ele recebe o fenômeno no mesmo momento que
o clarividente visionário que não pensa, mas ele apenas o vê um pouco mais tarde. Mas quando o vê, o fenômeno já está impregnado
de seu julgamento, do pensamento, e ele pode saber precisamente se se trata de uma ilusão, se ele representa a objetivação de seus
próprios desejos, ou se constitui uma realidade objetiva (14). Essa é a diferença no âmbito da vivência subjetiva. O clarividente
visionário que não pensa vê o fenômeno imediatamente, o que pensa o vê um pouco mais tarde. É por isso que o fenômeno permanece
no primeiro da maneira como ele o viu, e é assim que ele o descreverá. O pensador, porém, conseguirá integrá-lo totalmente naquilo
que existe no mundo físico habitual. Ele conseguirá relacioná-lo com esse último, pois o mundo físico, assim como aquele fenômeno,
também é uma manifestação do mundo espiritual.

Disso os senhores podem concluir que, pelo fato de abordarem o mundo espiritual munidos do instrumento do pensamento, os
senhores têm segurança para julgar o que lhes é dado. Porém, uma questão ainda vem ajuntar-se: poder-se-ia colocar em dúvida o
valor das comunicações feitas sobre o mundo espiritual se não se viu por si próprio os fenômenos correspondentes. Coloquemos ao
lado desses dois personagens já caracterizados um terceiro, que não é de modo algum clarividente, mas que recebe somente os
resultados da pesquisa espiritual, enquanto obtida pela via do pensar rigoroso aliado à visão clarividente. Essa terceira pessoa os
recebe e entende que são sensatos. Sim, trata-se de fatos do mundo espiritual. O clarividente visionário que pensa, os possui, e
qualquer um que os tenha entendido de maneira sensata também os possui, mesmo que não tenha consciência disso. Os senhores não
têm absolutamente necessidade de serem clarividentes e mesmo assim têm dentro de si, com seu pleno valor, as comunicações
recebidas.

Há uma diferença entre "ter alguma coisa" e "ter consciência daquilo que se tem". Consegue-se ter uma boa idéia da relação entre um
discípulo da Ciência do Espírito que não seja clarividente e outro que seja clarividente. Suponham que os senhores ganharam uma
herança, mas ainda não foram informados do fato. Se esse fosse o caso, se tivessem ganhado a herança, mas ainda não tivessem
conhecimento do fato, ela já seria válida para os senhores desde hoje. Os senhores poderiam ficar sabendo somente mais tarde que
hoje ganharam essa herança, mesmo assim já a possuem. O mesmo ocorre com aquele que toma conhecimento de fatos do mundo
espiritual por meio da Antroposofia. Ele os possui desde que consiga entendê-los racionalmente, ele os possui e pode aguardar agora o
momento onde os perceberá por si próprio conscientemente. Mas essa tomada de consciência não se equipara de modo algum à posse
dos fatos. Isto se revela particularmente após a morte. O que seria mais útil – se quisermos utilizar esse termo trivial para tornar o
assunto mais claro – ao ser humano após a morte: ter percebido algo de maneira visionária, sem pensamentos, ou ter recebido
comunicações puramente espirituais, sem essa percepção visionária?

Poder-se-ia crer facilmente que a percepção visionária é uma preparação melhor para a morte do que simplesmente ouvir falar dos
fatos do mundo espiritual. Nada disso! Depois da morte o ser humano aproveita muito pouco do que percebeu de maneira meramente
visionária. Ao contrário, se ele defronta-se com algum fato, logo começa a tomar consciência daquilo que recebeu como
comunicações, desde que as tenha entendido racionalmente.. É justamente isso que tem valor após a morte: o que se compreendeu,
pouco importa se foi visto ou não. Tomem o maior iniciado: por sua clarividência ele consegue ver todo o mundo espiritual; isso,

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contudo, não aumenta sua importância depois da morte, se ele não é capaz de exprimir esses fatos por meio de conceitos humanos.
Depois da morte somente lhe servirão as coisas que ele possui aqui de forma conceitual. Essas constituem as sementes para a vida
depois da morte. Naturalmente, aquele que é clarividente visionário e ao mesmo tempo pensador, consegue tornar fecundas as suas
visões. Mas duas pessoas não voltadas ao pensar, das quais uma é clarividente e a outra somente ouve falar o que a primeira vê, depois
da morte encontram-se exatamente na mesma situação, pois o que levamos para a vida depois da morte é o que nós adquirimos aqui
com a ajuda de um pensar rigoroso. Isto brota como uma semente, e não aquilo que retiramos dos mundos onde penetramos. Nós
recebemos o que nos vem dos mundos superiores não como um presente destinado a nos facilitar o caminho quando deixamos o plano
físico, mas para aqui convertê-lo em moeda corrente dessa Terra. A ajuda que nos beneficia após a morte é proporcional ao que
conseguimos converter em moeda terrestre. Aí está o essencial.

É assim o que se refere à relação do que ocorre depois da morte. Mas também aqui, no plano físico, a relação é distinta no caso de um
clarividente visionário e um clarividente visionário que pensa. Certamente é interessante e bonito ter uma visão dos mundos
espirituais; apesar disso há uma diferença quando se vê esse mundo espiritual de maneira meramente visionária, sem falar do fato que,
sem compreender essas coisas pelo pensar, não se está protegido de ilusões. Não há outra maneira de proteger-se contra eventuais
ilusões a não ser pensar claramente sobre o que se vê. Mais ainda, independentemente disso, suponhamos que um clarividente
visionário tenha visto isso ou aquilo; a forma como ele o vê – os senhores podem deduzi-lo de suas descrições – está permeada de
elementos do plano físico. Ou será que alguém lhes descreveu um anjo qualquer, que não estivesse permeado de elementos do plano
físico? Ele possuía asas, mas os pássaros também têm asas; a parte superior de seu corpo era humana, como de todo ser humano no
plano físico. Certamente, as imagens de que fala o clarividente visionário não existem no plano físico. No entanto, os elementos que
constituem essa imagem são encontradas no plano físico. As imagens são totalmente compostas por elementos do plano físico. Isso
não é destituído de fundamento. Mesmo assim os senhores podem constatar que tal imagem contém resíduos terrestres. As formas, as
imagens emprestadas do plano físico, que os senhores encontram nas visões de um clarividente visionário, não pertencem ao mundo
espiritual, são apenas uma simbolização do mundo espiritual com meios retirados do mundo físico. Expus isso claramente em A
Ciência Oculta (15): para a clarividência atual, há uma primeira fase de desenvolvimento na qual está justificado o caráter imagético,
mas que não se deve permanecer na mesma; é preciso evoluir até o ponto em que se deixa de lado o último resíduo terrestre do que é
contemplado. Em realidade o clarividente passa por um certo perigo quando se despoja de todos os resíduos terrestres. Quando, por
exemplo, ele vê o anjo e deixa de lado tudo que é terrestre, quando deixa de lado os símbolos que levou consigo, ele corre o risco de
não ver mais nada. O que preserva de se perder totalmente o objeto da visão quando se penetra realmente no mundo espiritual, é a
semente que pode germinar a partir do pensar. Os pensamentos fornecem a substância necessária para a compreensão, quando se está
no mundo espiritual. Adquirimos a faculdade de viver totalmente dentro do mundo espiritual quando captamos em nosso mundo
sensório o que não está mais impregnado de elementos sensíveis, e mesmo assim encontra-se aqui no plano físico. Trata-se
unicamente dos pensamentos, e nada mais. Não podemos levar nada ao mundo espiritual a não ser os pensamentos; de uma
circunferência desenhada, por exemplo, nada do giz, mas somente os pensamentos da circunferência. Com estes os senhores
conseguem ascender aos mundos espirituais. Da imagem, porém, os senhores nada podem levar.

Agora posso descrever com maior precisão ainda o processo subjetivo mencionado anteriormente. Suponhamos ainda uma vez que se
veja uma coisa qualquer no domínio espiritual, por exemplo, um ostensório. Quero agora caracterizar os dois clarividentes, o
meramente visionário e o que pensa, supondo que esteja em a e o outro, o clarividente que pensa, em b.

a _______________________ b

Somente a partir desse momento o clarividente torna-se consciente de sua visão. Ele a recebe, contudo, junto com os pensamentos,
conseguindo permeá-la com eles. No momento em que o clarividente que pensa impregna a imagem com pensamentos, esta torna-se
indistinta para o clarividente visionário; para este último, tudo aqui em b, nesse lugar, fica negro e indistinto. Ela volta a aparecer
apenas depois de algum tempo. Justamente onde o pensamento consegue unir-se à imagem, tudo fica indistinto para o clarividente
visionário. Em realidade ele jamais conseguirá unir o pensamento com a imagem. Por isso ele nunca tem a vivência: "Você estava
presente com seu Eu." Essa vivência falta ao clarividente meramente visionário.

Essas considerações descrevem os fatos de maneira mais íntima; o que é extremamente importante levar em conta, concluir, é que é
verdadeiramente necessário desenvolver seu pensar, superar o comodismo que consiste em não querer adquirir um saber
fundamentado no conhecimento. É mil vezes melhor ter captado por meio do pensamento as representações espirituais, e conseguir
ascender por si próprio ao mundo espiritual mais cedo ou mais tarde, segundo seu carma, do que primeiro ver, sem ter entendido por
meio de pensamentos aquilo que é comunicado pelo movimento conhecido por antroposófico (16). É mil vezes melhor conhecer a
Ciência do Espírito e ainda não ver, do que ver algo sem ter a possibilidade de permear os fatos por meio do pensamento, porque
dessa maneira abrem-se as portas à incerteza.

Contudo, os senhores ainda podem expressar tudo isso com maior precisão dizendo o seguinte: há hoje pensadores muito rigorosos,
capazes de admitir pela via da razão a concepção de mundo transmitida pela Ciência do Espírito. Mas por que justamente estes às
vezes têm tanta dificuldade de atingir a clarividência? É relativamente fácil, aos que não são pensadores rigorosos, atingir a
clarividência visionária e então eles facilmente tornam-se altivos diante do pensar, ao passo que para os pensadores rigorosos é difícil
alcançar a clarividência. Aqui está-se nitidamente diante do perigo de um certo orgulho disfarçado fazer-se valer. Não há nada como
uma clarividência não esclarecida pelos pensamentos para alimentar esse sentimento de orgulho e a razão pela qual isto é
particularmente perigoso, é que a pessoa em questão em geral ignora que seja orgulhosa, considerando-se até mesmo humilde. Ela
nem consegue julgar quanto orgulho é necessário para fazer pouco caso do trabalho mental dos seres humanos e atribuir importância
capital a certas inspirações. Essa atitude contém um extraordinário orgulho disfarçado.

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Coloca-se então a seguinte questão: por que justamente tantos pensadores têm tanta dificuldade – a experiência no-lo ensina – em
atingir a clarividência? Isso está ligado a um fato importante. O que se denomina discernimento humano, a faculdade de julgar,
desenvolvido particularmente pelo pensador, ou seja, o pensar lógico, provoca de fato uma modificação bem determinada de toda a
estrutura cerebral. O instrumento físico é transformado pelo pensar rigoroso. Certamente a pesquisa física sabe muito pouco a esse
respeito, mas é assim; um cérebro físico utilizado por um pensador apresenta um aspecto distinto do que o que pertenceu a um não
pensador. O fato de alguém ser clarividente não o transforma muito. Numa pessoa que não pensa os senhores encontrarão no cérebro
circunvoluções muito complexas, enquanto no pensador rigoroso o cérebro é relativamente simples, sem complicações especiais. O
pensar expressa-se justamente na simplificação das circunvoluções cerebrais. A pesquisa atual nada sabe sobre isto.

O pensar rigoroso é o que consegue formar uma visão de conjunto, e não aquele que exerce a análise. Isso explica a maior
simplicidade das circunvoluções cerebrais do pensador rigoroso. Quando a investigação física se digna a investigar de alguma forma o
pensar rigoroso, aquele que vale para as condições físicas, mostra-se logo que a pesquisa física comprova o que a Ciência do Espírito
afirma. O exame do cérebro de Mendeleiev (17), a quem a ciência deve o estabelecimento da tabela periódica dos elementos, confirma
o que diz a Ciência do Espírito: suas circunvoluções cerebrais eram mais simples. Dentro de certos limites seu pensar era abrangente,
e a investigação física de fato trouxe como resultado a verdade referente ao que eu disse. Isso não é tão importante, eu queria apenas
mencioná-lo de passagem. Portanto, como eu já disse, ocorre uma transformação do instrumento do pensar. A própria atividade
mental deve provocar essa modificação. Afinal, ninguém já nasce com todas as faculdades que apresenta mais tarde, talvez nasça com
as predisposições; as faculdades têm de ser desenvolvidas primeiro, de modo que realmente ocorre uma transformação no cérebro
durante a vida. Depois de uma vida dedicada a pensar, o cérebro torna-se diferente do que era antes.

O que acontece é o seguinte: nosso corpo etérico, o qual devemos emancipar de nosso cérebro físico para a consciência clarividente, é
acorrentado ao cérebro físico por meio da atividade pensante. Essa atividade de pensar acorrenta intensamente o corpo etérico ao
cérebro. Se, devido a seu carma, alguém ainda não possui as forças para soltá-lo no momento adequado, pode ocorrer que nesta
encarnação essa pessoa não alcance muita coisa no campo da clarividência. Suponhamos que, devido a seu carma, ela tenha sido um
pensador rigoroso numa encarnação precedente. Então, o pensar não vai fazer com que o corpo etérico se ocupe agora tão fortemente
com o cérebro e a pessoa conseguirá libertar o corpo etérico com relativa facilidade. Justamente pelo fato de os pensamentos serem as
melhores sementes para a ascensão ao mundo espiritual, ela poderá investigar da maneira mais sutil possível os segredos dos mundos
espirituais. Naturalmente ela precisa primeiro conseguir libertar o corpo etérico do cérebro. Se, no entanto, o corpo etérico enroscou-
se tanto no cérebro físico enquanto no último foi impressa a atividade resultante do pensar, de modo a extenuar o corpo etérico, pode
ser que o carma deixe essa pessoa esperar por muito tempo até ela conseguir desvencilhá-lo novamente. Mas se então ela se eleva, ela
transpôs o ponto do pensar lógico. Então isso não se perde mais, ninguém pode tirar-lhe o que obteve e isso é tremendamente
importante, caso contrário a clarividência sempre se perderia novamente. Chamo mais uma vez sua atenção ao fato de que em tempos
passados todos os senhores foram clarividentes. Por que não possuem mais a faculdade da clarividência? Porque naquele tempo os
senhores ainda não estavam ligados e vinculados com a existência terrena, porque os senhores estavam enlevados no mundo
espiritual, porque os senhores ainda não tinham trazido este último até para dentro de suas capacidades, porque a clarividência
visionária estava fundamentada num enlevamento.

É isto o que temos de focalizar. É preciso que essas sutilezas se inscrevam na alma. Deve-se ter bem claro que uma verdadeira Ciência
do Espírito tem a tarefa, hoje em dia, de comunicar aqueles resultados da pesquisa espiritual que estejam permeados de um teor obtido
por meio do pensar, de tal modo que sempre se expressam os resultados da investigação clarividente de maneira que uma pessoa não
clarividente possa compreendê-los mediante o seu pensar. Para tanto, porém, eles primeiro têm de estar vinculados ao pensamento.
Isso explica a dificuldade diante de livros antigos, nos quais se trata de manifestações dos mundos superiores. Se os senhores
estudarem tais livros segundo o costume da Ciência do Espírito moderna, em toda parte encontrarão aspectos insuficientes. Talvez os
senhores encontrem comunicações grandiosas nesses livros antigos, mas o ser humano dos dias de hoje não consegue fazer muito com
seu conteúdo se não for clarividente e retificar esse conteúdo; por outro lado, com o que a Ciência do Espírito oferece hoje em dia,
qualquer pessoa que se esforce consegue fazer algo com o conteúdo apreendido, pois consegue permeá-lo com os elementos dos
pensamentos passíveis de serem obtidos no plano físico. Pois os mesmos conceitos captam o que existe no mundo espiritual e no
mundo físico. A Ciência Natural moderna fala de evolução e a Ciência Espiritual fala de evolução. Se os senhores entenderam o
conceito de evolução os senhores conseguem compreender o que é comunicado pela Ciência do Espírito. Os senhores conseguem
obter um conceito de carma porque os senhores conseguem obter uma imagem mental do mesmo. Naturalmente, se os senhores
afirmarem simplesmente o que alguns teósofos afirmam, ou seja, que qualquer causa espiritual tem um efeito espiritual, e isto seria o
carma. os senhores não têm qualquer conceito referente a carma. Numa bola de bilhar os senhores igualmente podem encontrar a lei
da causa e efeito, mas os senhores não têm então a comparação correta com carma. Tomem, em contrapartida, uma bola de ferro e
joguem-na em um recipiente com água. Se a bola estiver fria, a água permanece como está. Se, no entanto, os senhores aquecerem a
bola e em seguida a jogam na água, esta fica mais morna. Devido ao ocorrido com a bola, a água amornou. Isto pode ser comparado
ao carma: quando um acontecimento posterior é a conseqüência de uma ocorrência anterior (18).

Portanto, devemos ter clareza que qualquer pessoa que permeia os fatos do mundo espiritual com o pensamento também consegue
comunicá-los de tal modo que, quem tenha adquirido os pensamentos aqui, no plano físico, consegue aplicá-los igualmente ao que é
relatado a partir dos mundos espirituais. Então essa última pessoa consegue entendê-lo. Todos devem levar isso a sério. Qualquer um
deve compreender que o importante não é receber comunicações dos mundos superiores, o importante é recebê-las de maneira que
correspondam às nossas condições terrenas. Todos devem cuidar para não receberem as comunicações dos mundos superiores de
modo distinto deste. Obviamente há o comodismo de simplesmente acreditar no que é comunicado. Pois quando alguém quer
acreditar, é aproximadamente como se ele quisesse que lhe contassem que existe uma luz, enquanto ele deveras necessita essa luz para
iluminar um cômodo. Para tanto ele precisa da luz, não lhe adianta a mera fé. Assim, é importante primeiro alcançar a forma de
refletir profundamente, conscienciosamente, para receber, de início por meio dessa forma, as comunicações do mundo espiritual. Elas
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somente podem ser investigadas quando se possui a faculdade da clarividência, mas qualquer pessoa que as receba de maneira correta
pode compreendê-las, depois de terem sido pesquisadas.

Pensando dessa forma, consegue-se afastar em maior ou menor grau todos os perigos que de outro modo realmente estão vinculados
ao que se denomina movimento antroposófico. Contudo, os riscos apresentam-se imediatamente, quando as pessoas desenvolvem
faculdades clarividentes sem cuidar, ao mesmo tempo, de enriquecer seu pensar e, particularmente, sua capacidade de cognição
utilizando os meios do pensar. Muitos cobiçam agarrar um pouco que seja do mundo espiritual, sem proceder cuidadosamente,
realmente conhecendo o que precisa ser conquistado no plano físico. Nenhum deus consegue captar o mundo em pensamentos se não
estiver encarnado nessa Terra física. Ele consegue compreender o mundo de outra forma; mas para entendê-lo dessa forma ele precisa
encarnar-se nessa Terra. Tendo isto em vista, qualquer pessoa consegue notar que o desenvolvimento de faculdades que depois não são
utilizadas adequadamente está ligado a certos riscos. Quem desenvolve uma certa clarividência visionária e não a emprega
corretamente, por cortar a possibilidade de por seu intermédio convencer o mundo, quem apenas permanece no plano astral sem trazer
suas experiências para o plano físico, expõe-se ao risco de que se abra um abismo entre suas visões e o plano físico.

Suponhamos que alguém tenha visões muito significativas, pertinentes ao plano astral. Do meu ponto de vista estas até podem ser
verdadeiras – afinal, podem sê-lo também em se tratando de um clarividente visionário não pensador –, mas então se abre um abismo
entre ele e aquilo que constitui o fundamento do plano físico. Pensem que esse lenço fosse o plano físico. Agora o clarividente
visionário está diante disso; ele enxerga sua visão. Por trás do plano físico, todavia, está o verdadeiro mundo espiritual. O plano físico
é maia (19), ilusão. Quem tem a faculdade da clarividência visionária não consegue eliminar esse plano físico; este desaparece
somente para quem o elimina por meio do pensamento. Só então os senhores conseguem penetrar por trás do plano físico, quando o
compreenderem mediante a clarividência permeada pelo pensar. O plano físico está presente, mas os senhores não vêem o mundo
espiritual, o verdadeiro mundo espiritual. É ali que se abre o abismo, pois o plano físico permanece como maia. A impossibilidade de
permear o plano físico deve-se ao fato de o cérebro não ser capaz de desconectar-se. Uma vez que tenham aprendido a pensar
corretamente, os senhores não necessitam mais diretamente de seu cérebro para pensar. O que constitui o pensar trabalha junto ao
cérebro, mas a atividade pensante não precisa diretamente do cérebro. É um absurdo alguém afirmar que o cérebro pensa. Certa vez,
há cerca de trinta e cinco anos atrás, eu estava andando na rua com um jovem estudante, o qual na época estava no melhor caminho de
tornar-se totalmente materialista. Ele disse que, quando pensava, lá dentro vibravam os átomos cerebrais; cada pensamento
determinado teria uma forma determinada; descreveu que em realidade seria um absurdo pressupor algo como alma, que pensasse,
pois o que pensa é o cérebro. Eu retruquei-lhe: "Diga-me, pois, por que você é tão mentiroso? Se for como você está afirmando, você
não pode dizer: 'Eu penso.' Você deve dizer: 'Meu cérebro pensa.' Então você tem de dizer igualmente: 'Meu cérebro come, meu
cérebro enxerga o sol.' Isso corresponderia então à verdade." Aí ele logo veria que absurdo carrega consigo.

Portanto, não é o cérebro que pensa. Como exposto, consegue-se ter certeza disso por meio de reflexões bastante triviais, desde que
não se seja um materialista bem moderno. Em princípio, a atividade pensante não depende de se utilizar do cérebro como sendo, por
assim dizer, seu instrumento. Onde o pensamento torna-se puro não há participação do cérebro. Ele participa apenas quando ocorre a
simbolização.

Quando os senhores representam uma circunferência com giz, isto se faz apenas por intermédio do cérebro; se, no entanto, os senhores
pensam uma circunferência pura, sem caráter simbólico, a própria circunferência é o elemento ativo que então dá forma ao cérebro.
Quando, porém, o ser humano possui clarividência visionária, ele permanece em seu corpo etérico e nem chega a alcançar o cérebro
físico. Pode-se viver toda a vida em clarividência visionária. Isso não provoca mudanças no cérebro; isso produz uma elaboração do
corpo etérico, mas não do cérebro. Então os senhores jamais conseguirão permear aquele abismo, os senhores não conseguem permear
realmente a ilusão, a maia. Isso somente é possível se os senhores permearem-no com os pensamentos.

Quem despreza o procedimento mental desenvolve capacidades que não captam, por assim dizer, seu objeto, que não conseguem
realmente penetrar no mundo espiritual. A conseqüência é uma desproporção entre aquilo que essa pessoa desenvolve continuamente
em seu corpo etérico e o que ela é enquanto ser humano. Resulta uma total desproporção: seu cérebro não condiz com as suas
faculdades de clarividência. O cérebro é grosseiro, pois a pessoa em questão não se esforçou em enobrecê-lo por meio do pensar.
Configura-se algo que lhe impede a passagem, que se lhe torna um obstáculo para alcançar a verdade espiritual mediante suas visões.
Ele se distancia da verdade, ao invés de aproximar-se dela. Nessa situação fica excluída qualquer possibilidade de decisão referente ao
mundo espiritual. Tal pessoa certamente consegue ver muita coisa, mas nela nunca haverá garantia de que isso corresponda à
realidade. Somente pode decidir quem consegue distinguir entre mera visão e realidade, pois somente o discernimento consegue
distinguir. Quando ele não existe, não se consegue distinguir uma mera visão da realidade. Apenas mediante trabalho no plano físico
consegue-se conquistar o discernimento. Portanto, quando se despreza o trabalho mental, um tanto dificultoso de ser conquistado,
acaba-se por ficar flutuando sem se ter uma base firme.

Isto é que deve ser considerado. Então não surgirão as coisas que, de outra forma, surgem com tanta facilidade e que sempre podem
ocorrer novamente, ou seja, pelo fato de as pessoas desenvolverem a clarividência visionária, elas erigem uma muralha que as separa
do mundo real e passam a viver em seus sonhos. Isto é o mesmo que não ter mais conhecimento do mundo físico, é o mesmo que não
estar totalmente consciente. Consegue-se conquistar circunspeção trabalhando a única maneira de se formar essa circunspeção:
mediante o pensar no plano físico. Quando se despreza a aquisição dessa circunspeção, flutua-se no engano. É isto que temos de
adquirir, caso contrário, aparecem todos os danos que necessariamente têm de estar vinculados ao que se denomina o movimento
antroposófico. Quem apenas quer acreditar cegamente, isto é, aceita todas as comunicações dos mundos superiores seguindo a
autoridade de alguém outro, sem um pensar sensato, age de modo muito cômodo, embora assuma um risco. Ao invés de elaborar os
assuntos em seu íntimo, em vez de refletir a partir de si mesmo, acolhe dentro de si o conhecimento de uma outra pessoa, as coisas
que outra pessoa viu. Renuncia a comprovar por meio do pensar o que essa outra comunica. Isto gera os danos que podem surgir por

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meio do movimento antroposófico. Naturalmente ninguém deve sentir-se desencorajado e por isso deixar de voltar-se a ele. Pode
ocorrer de uma pessoa que acredita cegamente perder-se, não conseguir distinguir entre o que é verdadeiro e o que é falso.

Não há nada que possa cultivar tanto o caráter de mentira quanto uma certa clarividência meramente visionária, a qual não se apóia no
pensamento, não sendo controlada pelo mesmo. Por outro lado, uma tal clarividência ainda vai cultivar uma outra característica, isto é,
uma certa arrogância, um certo orgulho, que pode chegar até à megalomania. Isso é ainda mais perigoso porque não é percebido. O
perigo de sentir-se melhor que o outro é muito grande, pois se vêem coisas que o outro não vê. Então, via de regra, nem se sabe que
aquilo já é quase megalomania, está profundamente arraigado na alma. Isso oculta-se de certa maneira, particularmente pelo fato de se
confiar cegamente, com absoluta certeza, nas próprias visões, sem tolerar qualquer tipo de objeção; pode-se assim ter a vivência de as
pessoas acreditarem nos maiores absurdos, desde que lhes sejam comunicados a partir do plano astral. Nem lhes ocorreria acreditar
em tais coisas se relatadas por uma pessoa do plano físico, mas acreditam-no com uma credulidade servil quando lhes é comunicado a
partir do plano astral. Quem se desacostuma disso não vai deixar-se levar por qualquer mentira e disparate. Contudo, acaba-se por
deixar-se lograr quando não se desenvolve o impulso de comprovar e quando se quer chegar à convicção de maneira cômoda.
Levando isto em conta, não devem ser poupados esforços para se trabalhar seriamente e não apenas acatarem-se comunicações
sensacionalistas. De fato, temos, por assim dizer, realmente muitas comunicações do mundo espiritual, mas também é preciso adquirir
a maneira de pensar adequada e a maneira correta de fazer representações mentais, para comportar-se de modo correspondente diante
dessas coisas.

Era isto que eu queria expressar hoje. Não pretendia dizê-lo como exortação, como um sermão, mas trazê-lo com todos os
fundamentos. Por isso acompanhar esse conteúdo com o pensar talvez já tenha consistido por si mesmo um trabalho mental mais
difícil. Pois em meu método eu sempre procuro observar aquilo que se pode exigir como sendo correto no movimento da Ciência
Espiritual. Muito querem receber exortações patéticas. Eu renuncio a isto. Procuro apresentar as coisas de tal modo que possam
revestir-se com verdadeiras formas de pensamentos. Quando se debatem as coisas do plano físico, como o fizemos hoje, isso às vezes
constitui, naturalmente, um trabalho mental difícil, pois elas não são tão sensacionalistas, nem tão agradáveis como as coisas dos
mundos superiores; entretanto, são muitíssimo importantes. Os senhores não subestimarão a importância dessas coisas se
considerarem o seguinte: se quisermos que realmente aconteça o que deve ocorrer, isto é, que nas próximas encarnações haja um
número suficiente de pessoas que se lembre da encarnação presente, é preciso tomar providências. Portanto, desenvolvam seu
discernimento; então os senhores serão candidatos a se lembrarem da encarnação presente na próxima encarnação. Cuidem de
acompanhar o mundo com pensamentos. Pois, por mais que consigam ver de maneira visionária, isto de nada lhes servirá para uma
recordação da encarnação atual. A Antroposofia existe para preparar aquilo que deve acontecer como uma determinação: que haja um
número suficientemente grande de pessoas capazes de olhar retrospectivamente, a partir de um verdadeiro conhecimento próprio, para
esta encarnação.

O número de pessoas que ainda nesta encarnação conseguirá acompanhar o conhecimento da Ciência do Espírito com a faculdade de
clarividência depende do carma de cada um. Muitos dos que aqui estão sentados possuem um carma tal, que nesta encarnação não
chegarão a contemplar o mundo com clarividência. Contudo, todos os que se apropriarem do que é dado pela verdadeira Ciência do
Espírito, de modo a revesti-lo com as formas do pensar, colherão os frutos disso na próxima encarnação, pois adquiriram as bases para
isto. O ser humano pode ser, por assim dizer, um clarividente sem saber que o é; quem estudou seriamente a Ciência Espiritual possui
a vidência e consegue esperar até que seu carma permita-lhe também contemplar as coisas.

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(1) N. dos T.: Empregamos o título dado em uma tradução para o francês; a tradução do título original em alemão é: "Sobre a relação
correta com a Antroposofia".

(2) N. dos T.: Estados evolutivos da Terra; antes do atual, houve três desses estados, denominados Antigo Saturno, Antigo Sol e
Antiga Lua. Entre um estado e outro há uma dissolução total por um largo período. Para maiores detalhes, veja-se Rudolf Steiner, A
Ciência Oculta, GA (Gesamtausgabe, obra completa) 13, São Paulo: Editora Antroposófica, 5a. ed. 2001.

(3) N. dos T.: No atual estado planetário da Terra, estamos no quinto período. Steiner denomina os anteriores de períodos hiperboreu,
polar, lemúrico, atlântico e o atual de pós-atlântico. Cada um destes é também dividido em sete subperíodos, denominados por Steiner
de 'épocas culturais'; estamos na quinta época pós-atlântica, que se iniciou no começo do século XV; a anterior, denominada por
Steiner também por 'época greco-romana', iniciou-se no século VII a.C. Pode-se notar que o início de uma nova época produz grandes
mudanças na cultura e na história. Ver o cap. "A época pós-atlântica", em A Ciência Ocultai (nota 2).

(4) N. dos T.: A Crônica do Akasha (denominação usada na antiga Índia) consiste de uma memória universal, onde ficam registrados
todos os fatos ocorridos no universo, assim como na vida de cada pessoa todas as suas percepções e atividades interiores ficam
gravadas em sua memória (apesar de apenas algumas serem acessíveis em estados normais de consciência). A Crônica do Akasha é
acessível aos clarividentes com um alto grau de desenvolvimento de suas percepções supra-sensoriais. Veja-se o livro de Steiner A
Crônica do Akasha – A gênese da Terra e da humanidade: uma leitura esotérica, GA 11, São Paulo: Ed. Antroposófica, 1994. Esse
livro contém, de outra forma, a parte da cosmogonia de A Ciência Oculta (ver nota 2).

(5) N. dos T.: Steiner refere-se aqui à constituição supra-sensorial do ser humano: além de seu corpo físico, ele tem um 'corpo' etérico,
responsável por todas as suas atividades vitais, bem como crescimento, regeneração dos tecidos, reprodução, forma orgânica, etc.; tem
um 'corpo' astral, responsável por suas sensações, sentimentos, instintos, consciência, etc.; tem um Eu, responsável pela sua postura
ereta, fala, pensamento consciente, auto-consciência, consulta consciente à memória, etc. Depois da morte, desfaz-se o corpo físico,
pois sem o etérico ele fica entregue às forças da natureza (de certo modo, o corpo etérico está permanentemente lutando contra a
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morte), sobrando os outros, ainda unidos, em um estado puramente supra-sensível. Depois de algum tempo desfaz-se o corpo etérico,
sobrando um resto do mesmo; depois de um período bem maior desfaz-se o corpo astral, sobrando também um resto do mesmo, e
permanece o Eu que, após um longo período, agrega um novo corpo astral, depois um novo corpo etérico, e finalmente os 3
encarnam-se em um novo corpo físico dando origem a uma nova reencarnação daquele Eu. Para maiores detalhes, ver o artigo de
V.S.Setzer "Uma introdução antroposófica à constituição humana", disponível em http://www.sab.org.br, seção de Antroposofia.
Steiner refere-se nesse trecho aos corpos etérico e astral de Zaratustra os quais, após sua morte, devido à grandeza e perfeição do seu
Eu, mantiveram sua integridade, não deixando os restos citados (ver a palestra da manhã de 18/4/09 em Geistige Hierarchien und ihre
Widerspiegelung in der physischen Welt - Tierkreis, Platenten, Kosmos [Hierarquias espirituais e seu reflexo no mundo físico –
zodíaco, planetas e cosmos], GA 110, 10 palestras dadas em Düsseldorf de 12-18/4/10, Dornach: Verlag der Rudolf Steiner-
Nachlassverwaltung, 1960); assim, ele pôde doá-los respectivamente a Moisés e a Hermes quando estes formaram os seus corpos,
durante o processo de encarnação (a esse respeito, ver também as palestras de 2-3/9/10 do ciclo O Evangelho Segundo Mateus, GA
123, 12 palestras dadas em Berna, 1-12/9/10, São Paulo: Ed. Antroposófica, 1997).

(6) N. dos T.: Steiner emprega a palavra hindu carma (cr’ma) no sentido da predisposição com que nasce cada pessoa no sentido de
orientar sua vida para certas situações pelas quais ela poderá aperfeiçoar seu Eu. Essa predisposição fá-la encaminhar-se para essas
situações; no entanto, o que ela faz em cada uma delas depende de sua própria decisão, se tomada em plena consciência. Portanto, as
leis do carma não excluem a liberdade individual. Para maiores detalhes, veja-se por exemplo, As Manifestações do Carma, GA 120,
11 palestras dadas em Hamburgo, 16-28/5/10, São Paulo: Editora Antroposófica, 1991.

(7) B. Spinoza, 1632-1677; Ética, 1677.

(8) N. dos T.: Nessa época (1909) Steiner ainda era membro da Sociedade Teosófica, de fato, Secretário-Geral da mesma na
Alemanha; isso se deveu ao fato de, segundo suas palavras em sua autobiografia, ter sido o único grupo de pessoas interessadas em
transmissões conceituais dos resultados de sua própria pesquisa clarividente nos mundos espirituais. Ele jamais usou os escritos
teosóficos em suas comunicações. Foi somente em 1912 que ele abandonou a Sociedade Teosófica, devido a conflitos relativos à idéia
de seus dirigentes de então, de que o jovem hindu Jiddu Krishnamurti era uma reencarnação do Cristo, coisa que Steiner não pode
aceitar (e foi negada posteriormente pelo próprio Krishnamurti, que em 1929 abandonou a Sociedade Teosófica). Steiner dizia e
justificava que o evento do ser cósmico Cristo foi um fato único na história da humanidade. Em 1913, Steiner fundou a Sociedade
Antroposófica. Nas edições recentes de livros e ciclos de conferências de Steiner, os editores muitas vezes trocam a palavra 'Teosofia',
usada por ele até 1912, por 'Antroposofia', devido aos conteúdos formarem o todo coerente conhecido hoje como Antroposofia. Nesta
tradução, conservamos sempre a notação do original alemão.

(9) N. dos T.: Seres elementais são seres que estão abaixo do ser humano em sua constituição supra-sensorial, isto é, não tem um Eu,
não tendo também um corpo físico. São classificados em gnomos (ligados aos minerais), ondinas (aos líquidos), elfos (aos gases) e em
salamandras (ao fogo). Ver, por exemplo, a segunda palestra do ciclo GA 110 (nota 5).

(10) N. dos T.: A antiga época hindu é a primeira época pós-atlântica, cf. nota 3. Remonta a tempos pré-históricos.

(11) N. dos T.: A alma da consciência é uma componente supra-sensorial do ser humano que foi desenvolvida justamente a partir do
início da época cultural atual, a quinta época pós-atlântica (ver nota 3); é ela que permite ao ser humano ser autoconsciente por meio
do pensar, sentir-se e reconhecer-se como indivíduo isolado de seu ambiente e em liberdade. Note-se, por exemplo, que as obras de
arte anteriores ao advento da alma da consciência não eram assinadas, sendo muitas atribuídas a uma escola, não se sabendo
precisamente qual o autor . Ver, por exemplo, os artigos referidos na nota 5, bem como A Ciência Oculta (nota 2) e Teosofia, GA 9,
São Paulo: Ed. Antroposófica, 1966 (há uma nova edição mais recente)..

(12) N. dos T.: O mundo espiritual é estruturado em vários níveis; por exemplo, já mencionamos os níveis etérico e astral. O nível
devacânico (palavra usada na antiga Índia) corresponde a um nível muito alto dentro dessa estrutura. Ver, por exemplo, o capítulo "Os
três mundos", em Teosofia (nota 11).

(13) N. dos T.: Steiner refere-se a 'transição dos tempos' pois o advento do ser cósmico Cristo na Terra provocou profundas mudanças
na constituição humana, por exemplo a possibilidade do fim da consciência tribal, revertendo ainda uma tendência materializante que
iria acabar por destruir a humanidade; representa, ainda, a ênfase no verdadeiro progresso individual como sendo o desenvolvimento
do amor altruísta.

(14) N. dos T.: O fenômeno da percepção sensorial é análogo: ao vermos algo, por exemplo as diferentes cores que vêm da entrada da
sala, logo em seguida associamos a essa percepção interior, por meio do pensamento, um conceito, no caso o conceito "porta".

(15) V. nota 2.

(16) N. dos T.: Na verdade, para aquela época, tratava-se do movimento teosófico (ver nota 8).

(17) Dimitri Ivanovitch Mendeleiev, 1834-1907, químico russo.

(18) N. dos T.: Em outras obras, Steiner diz ainda que uma condição essencial para a atuação do carma é que o efeito reflita sobre o
próprio sujeito da causa. Ver, por exemplo, As Manifestações do Carma (nota 6).

(19) N. dos T.: Para os antigos hindus, pré-históricos, todos possuidores de uma clarividência atávica mas embotada, sonhadora, e
cujos sentidos físicos não eram tão desenvolvidos quanto os nossos, o mundo espiritual era uma realidade maior do que o mundo
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físico, que consideravam maia, ilusão. Ver, por exemplo, o cap. "A evolução do universo e do homem", seção "A época pós-atlântica -
primeiro período: a antiga cultura hidu", em A Ciência Oculta (nota 2).

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