Você está na página 1de 2

PORTFÓLIO - CICLO 2 - ANTROPOLOGIA, ÉTICA E CULTURA

Ao longo da história humana e desde a antiguidade, é possível observar a importância do


desenvolvimento tecnológico para o desenvolvimento da humanidade. Aspectos culturais,
econômicos e sociais foram sendo alterados por meio da introdução de novas tecnologias, que
estimularam diferentes práticas e hábitos. Na Idade Moderna observamos o nascimento da imprensa,
além do desenvolvimento de grandes embarcações e tecnologias de direcionamento para a navegação.
As principais dificuldades neste período estavam relacionadas às doenças, uma vez que eram
desconhecidas as causas da maior parte delas e à lentidão dos meios de transporte.
Na Idade Contemporânea temos uma série de tecnologias inovadoras disponíveis: veículos,
aviões, computadores e internet. Hoje, nosso desafio está associado, principalmente, à manutenção
da paz global, à superação da miséria e ao combate às doenças, principalmente em épocas de
pandemia. A cooperação e o diálogo, também trazem dificuldades às relações humanas, basta
analisarmos todo o curso da história, marcado por infinitos conflitos, guerras e violência, além disso
também podemos citar ideias políticas, disputas por poder, ideologias e crenças conflitantes e a
intolerância de forma geral.
Nesse contexto, a questão da pós-verdade pode ser considerada como algo que também trava
de alguma forma um bom relacionamento em sociedade. Resumidamente, o termo se refere ao
fenômeno através do qual a opinião pública reage mais a apelos emocionais do que a fatos objetivos.
Segundo este conceito, a verdade dos fatos é colocada em segundo plano quando uma informação
recorre às crenças e emoções das massas, resultando em opiniões públicas manipuláveis.
Diferenciada em alguns pontos das fake news, a pós-verdade traz muitas informações que são
colocadas em circulação de forma intencional com o objetivo de desacreditar instituições e teorias já
consolidadas, misturando saberes científicos e do senso comum em suas narrativas, envolvendo
propósitos econômicos, como também políticos por trás da sua disseminação.
Como exemplo, podemos citar a pandemia da COVID-19, uma enxurrada de notícias falsas
desqualificou e questionou conhecimentos científicos, causando a desinformação da população e,
consequentemente, dificultando as medidas de cuidado e prevenção da contaminação pelo vírus.
Devido a fragilidade dessas relações sociais, como também das econômicas, foi desenvolvido
o conceito da modernidade líquida pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman. O conceito opõe-se à
modernidade sólida, quando as relações eram solidamente estabelecidas, tendendo a serem mais
fortes e duradouras. Bauman definiu como modernidade líquida um período que se iniciou após a
Segunda Guerra Mundial, ficando mais perceptível a partir da década de 1960.
A modernidade sólida era caracterizada pela rigidez e solidificação das relações humanas, das
relações sociais, da ciência e do pensamento. A busca pela verdade era um compromisso sério para
os pensadores da modernidade sólida. As relações sociais e familiares eram rígidas e duradouras, e o
que se queria era um cuidado com a tradição. Apesar dos aspectos negativos reconhecidos por
Bauman da modernidade sólida, o aspecto positivo era a confiança na rigidez das instituições e na
solidificação das relações humanas.
A modernidade líquida é totalmente oposta, as relações econômicas ficaram sobrepostas às
relações sociais e humanas e isso abriu espaço para que cada vez mais houvesse uma fragilidade de
laços entre pessoas e de pessoas com instituições. A lógica do consumo entrou no lugar da lógica da
moral, assim, as pessoas passaram a ser fortemente analisadas não pelo que elas são, mas pelo que
elas possuem. A ideia de compra também adentrou nas relações sociais e as pessoas passaram a
“comprar” afeto e atenção.
As relações humanas ficaram extremamente abaladas, Bauman usa o termo “conexão” para
nomear as relações na modernidade líquida no lugar de relacionamento, pois o que se passa a desejar
a partir de então é algo que possa ser acumulado em maior número, mas com superficialidade
suficiente para se desligar a qualquer momento. A amizade e os relacionamentos amorosos são
substituídos por conexões que a qualquer momento podem ser desfeitas, na modernidade líquida, o
sujeito torna-se objeto.
As pessoas buscam um número grande de conexões, pois isso se tornou motivo de ostentação,
pois quanto mais conexões, mais importante a pessoa é. Basta fazer uma breve análise das relações
sociais em redes sociais como o Facebook e Instagram: quanto mais “amigos” e “seguidores” (que na
verdade, são apenas contatos virtuais) a pessoa tem, mais requisitada ela se torna.
O consumo também se tornou um imperativo na modernidade líquida, para assim o
capitalismo poder crescer desenfreadamente por meio do consumo irracional. O desejo pelas marcas,
diminuiu o valor do produto em si, e exaltou o fabricante e o preço. Consumo sempre foi sinônimo
de status, mas na modernidade líquida, o consumo e o status são expressivamente dotados de uma
carga simbólica muito mais intensa do que era na modernidade sólida. O sujeito é objetificado pelo
capitalismo, tornando-se apenas o que ele consome e não mais quem ele é. Na lógica da modernidade
líquida, o sujeito é aquilo que ele consome.

Você também pode gostar