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Ensaio crítico sobre a identidade e os seus desenvolvimentos, mediante

a influência da Internet.

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA


FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA
INTRODUÇÃO À SOCIOLOGIA II

Discentes: Matheus Batista Braga e Vivian de Assis Soares dos Santos

Resumo
Este ensaio tem como foco tanto analisar o livro de Stuart Hall: A identidade cultural na
pós-modernidade, quanto discutir a influência da Internet na sua formação. Para tanto,
utilizaremos como base passagens do livro citado acima, bem como pensamentos de
outro sociólogo.

1. Identidade segundo Stuart Hall

A questão da identidade, nos tempos atuais, ainda é um tópico complexo de se


abordar, visto que por conta dos padrões moldados pela sociedade no passado, a
identificação do indivíduo era bastante plastificada. Isto, pois os moldes sociais
eram bastante predefinidos, porquanto o sistema patriarcal não permitia o
surgimento de novas identidades, estabilizando o mundo social em estruturas
rígidas. No entanto, esse contexto social está em declínio, o que, por conseguinte
fragmenta o individuo.

1. A Internet

Segundo Hall as transformações sociais modernas ocorridas no final do século


XX gerou: “a fragmentação de paisagens culturais de classe, gênero,
sexualidade, etnia, raça e nacionalidade” (HALL,1992, p. 9). Desse modo, é
inegável afirmar que as transformações sociais e tecnológicas foi um grande
marco para a sociedade, a exemplo a Internet, também influenciando fortemente
na caracterização do homem e a forma como ele se identifica na sociedade.
Além disso, o advento da Internet possibilitou o intercâmbio de informações,
contatos, culturas etc. incorporando novos sentidos nas sociedades. Tal
desenvolvimento, indiscutivelmente, auxiliou na “descentração” (Conceito
criado pelo Stuart Hall) do sujeito, revelando novos lugares no mundo social e
cultural, solidificando a “crise de identidade”.

2. Concepções de identidade

Hall propôs três concepções que se diferem pelo contexto histórico e as suas
características, relacionando o período em que o indivíduo esta inserido com as
suas distinções de identidade. Dito isso, têm-se:

3.1 Sujeito do Iluminismo

O Sujeito do Iluminismo, primeira categoria de identidade atribuída ao sujeito


por parte do Hall, evidencia uma pessoa unificada, voltada para o
antropocentrismo, no qual o sujeito nascia e se desenvolvia com ele.

2.2 Sujeito Sociológico

Com as relações sociais evoluindo e, sobretudo, as ciências sociais, em especial,


o positivismo, o sujeito sociológico era formado na relação com outras pessoas,
evidenciando a importância do ecossistema social, no desenvolvimento do
sujeito. Fato importante é que essas relações criaram a atribuíam valor aos
sentidos e símbolos, em síntese, a cultura. Começa-se então a inferir que a
formação do sujeito, dependia da sua interação com a sociedade, interação que
irá ser desenvolvida e amplificada, posteriormente, com a internet.

2.3 Sujeito Pós-moderno

O sujeito pós-moderno surge do processo de identificação, na projeção das


identidades culturais. Desse modo, resulta em uma identidade, diametralmente
oposta ao Sujeito do Iluminismo, isto é, fixa, essencial etc., tal essência desse
sujeito percebe-se na frase:
“A identidade torna-se uma ‘celebração móvel’: formada e
transformada continuamente em relação às formas pelas quais somos
representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos
rodeiam.”(HALL apud HALL, 1992, p. 13)

Nesse viés, é possível perceber a fragmentação, de forma gradual do sujeito, em


paralelo ao desenvolvimento da sociedade e as suas ciências, seja as ciências
humanas, seja as ciências tecnológicas digitais.

3. A relação entre a Internet e a formação das identidades.

É imperioso evidenciar os benefícios tanto sociais, quanto econômicos, advindos da


Internet, isto é, a diminuição ficta da distância, possibilitando a comunicação entre
pessoas em grande distância - fato que beneficia os dois cenários dito anteriormente.
Além disso, outro dos inúmeros benefícios é a propagação contínua de conteúdo
informacional. De modo que haja duas óticas: o lado benéfico, que auxilia a
disseminação de conteúdos úteis para a sociedade; e o lado penoso, que cria uma
massa de consumo, a qual, muitas vezes, padroniza o indivíduo, fazendo-o existir
não na condição imposta por ele, mas na condição imposta pelo mercado. Nesse
sentido, criam-se identidades de vidro, tendo suas atribuições estabelecida pelo
consumo, estimulando cada vez mais a propagação de moldes identitários.

4. A problemática manipulação da identidade na atualidade

É possível perceber a padronização de comportamento e, especialmente, a de pensar


na atualidade. Tal fenômeno fica muito evidente, quando se analisa as “trends” em
plataformas sociais, como Tik Tok e Instagram. Essas “tendências” - traduzindo
para o Português - são enviadas aos usuários, por meio de algoritmos que
identificam as suas propensões de gostos, encaminhando vídeos, comentários e
opiniões de outras pessoas que pensam igual ao sujeito. Dessa forma, a extensão do
poder desses instrumentos tecnológicos são:

“Derrubar os antigos costumes, apagar os estilos de vida rurais e


particularista, expulsar os velhos preconceitos, a aposta é educar as massas
no dispêndio consumidor, homogeneizar as mentalidades e as práticas,
racionalizar os gostos e atitudes.” (LIPOVETSKY, 2007, p. 174)
Percebe-se que a Internet apresenta a capacidade de definir culturas às massas,
atrelando, os gostos aos produtos, seja roupas, estilos de vida etc., por meio da
criação de laços emocionais, estimulando necessidades e reflexos condicionados ao
que são vistos digitalmente. Assim, as manifestações de comportamentos,
aparentemente inofensivas na Internet, a exemplo danças, são potencialmente
capazes de homogeneizar a forma de como o indivíduo se identifica na sociedade.

5. Crise das identidades na internet.

A crise de identidade desenvolvida por Stuart Hall é a mudança de identidade, com


base nos quadros que referenciam uma situação em que há a possibilidade de existir
diversas identidades conflitantes. No que se refere ao mundo digital, a Internet
amplifica, justamente, essa diversidade de identidades conflitantes. Nesse sentido,
por causa da aculturação da massa, e a necessidade de suprir as suas ambições
políticas sociais o indivíduo se afasta ainda mais da sua autonomia, no que tange à
escolha de sua identidade. Evitando, portanto, o que na atualidade chama-se de
“cultura do cancelamento”, isto é, as punições tecnológicas que reverberam na vida
social e econômica do sujeito.

6. Conclusão

Sendo assim, é possível afirmar imenso poder da Internet de influenciar as


identidades do sujeito na atualidade, por meio da divulgação de vídeos, fotos,
músicas que compõem as “trends”. Sob essa luz, é evidente que o homem na
atualidade não é uno, no entanto, é fundamental reconhecer as vontades próprias,
evitando se moldar em identidades de vidro, criado pelo mercado para fomentar o
consumo.

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