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O MUNDO CONTEMPORÂNEO E AS SOCIEDADES
ATUAIS (PÓS 1945)
Compreender o mundo contemporâneo do ponto de vista histórico é uma tarefa bastante complicada.
Nesse período que se inicia no século XIX e vem até os dias de hoje, o historiador se depara com um
fluxo de acontecimentos muito mais intenso do que em qualquer outro momento da História. De fato,
tem-se a nítida impressão que a história começa a ficar mais acelerada e a função de refletir sobre os
acontecimentos acaba ficando bastante complexa.
Um primeiro fator que explica essa nova configuração tem a ver com o processo de urbanização que
se espalha em várias partes do mundo. A concentração de pessoas promove uma ampla cadeia de
inflexões na divulgação de informações, na produção de bens de consumo e no próprio ritmo de vida
de cada indivíduo. As horas e os dias começam a ser unidades de tempo cada vez mais frágeis, seja
em relação ao fluxo de coisas que acontecem ou sob as expectativas do homem para com o futuro.
Além disso, podemos também contabilizar um fator de ordem biológico bastante significativo. O
avanço da medicina e o aprimoramento das condições de vida estabeleceram o prolongamento da
nossa expectativa de vida. Com isso, o número de pessoas presentes no planeta se avolumou e,
consequentemente, o desenvolvimento de ações históricas também sofreu um visível incremento.
Isso sem levar em conta o avanço dos meios de comunicação que dinamizam a circulação de tais
acontecimentos.
As mudanças no cenário mundial têm se mostrado críticas nos últimos anos. Antigamente, as
empresas viviam a realidade da estabilidade, cujo ambiente organizacional preocupava-se com a
produtividade e lucratividade. Hoje, no entanto, a realidade é outra, recheada de dinamicidade,
instabilidade, informações e mudanças a todo instante.
Dentro deste cenário é crucial para o profissional e para as corporações aprender a acompanhar este
cenário e a agir dentro dele. O pensamento de ordem é a flexibilidade, simplicidade e busca de
informação. A própria Igreja tem buscado acompanhar esta realidade, principalmente com a escolha
do Papa Francisco.
Pode-se perceber que hoje as organizações precisam deixar de lado a burocracia excessiva, o
grande número de pessoal e de maquinário que pouco valor gera para seu cliente, deixar a
luxuosidade que apenas confere status e praticar a “política do necessário”, ou seja, perguntar “O que
realmente é necessário para entregarmos um produto de valor para meu cliente a fim de satisfazê-lo
e retê-lo por meio da qualidade? ”
Em uma análise nacional, o Brasil tem experimentado um momento onde as pessoas, frustradas pela
falta de vagas que atendam toda sua formação e experiência, têm procurado empreender. O
brasileiro, apesar da pouca educação voltada para o empreendedorismo - ou melhor, o pouco
investimento feito pelo governo para este tipo de educação -, tem feito jus ao termo “se virar”. E este
movimento intensificado pela crise brasileira demonstrou como a flexibilidade e a simplicidade são
mais importantes para os negócios diante de um cenário instável e repleto de mudanças.
Ainda analisando o cenário brasileiro à luz dos comentários de Ricardo Guimarães em vídeo sobre
mudanças gravado para a Natura, observamos como a tecnologia da informação tem ajudado os
novos empreendedores. Nunca o networking foi tão praticado pelas pessoas. Quando mais se
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conhece pessoas e se entrega um produto ou serviço de qualidade mais sua rede de contatos
aumente, principalmente por influência de clientes satisfeitos que indicam o empreendedor a outros
clientes. Assim, o envolvimento social tem sido importante para a sobrevivência dos negócios, tanto
na ótica do grande empresário quanto na ótica do microempresário.
Observando todo este cenário considera-se que as mudanças não são meramente matéria da
disciplina de globalização dos cursos das universidades. Podemos ver de fato estas mudanças e
participar das mesmas, principalmente no cenário brasileiro atual marcado pela crise econômica e
pelo desemprego.
O conceito de pós-modernidade tornou-se nos últimos anos, um dos mais discutidos nas questões
relativas à arte, à literatura ou à teoria social, mas a noção de pós-modernidade reúne rede de
conceitos e modelos de pensamento em “pós”, dentre os quais podemos elencar alguns: sociedade
pós-industrial, pós-estruturalismo, pós-fordismo, pós-comunismo, pós-marxismo, pós-hierárquico,
pós-liberalismo, pós-imperialismo, pós-urbano, pós-capitalismo. A pós-modernidade coloca-se
também em relação com o feminismo, a ecologia, o ambiente, a religião, a planificação, o espaço, o
marketing, a administração. O geógrafo Georges Benko afirma que o “pós” é incontornável, o fim do
século XX se conjuga em “pós”. Mal estar ou renovação das ciências, das artes, da filosofia estão em
uso.
No campo urbano, a cidade é vendida aos pedaços porque nela há caos, (des)ordem: padrões de
diferentes graus de complexidade: o efêmero, o fragmentário, o descontínuo, o caótico predomina.
Mudam-se valores: é o novo, o fugidio, o efêmero, o fulgaz, o individualismo, que valem. A aceleração
transforma o consumo numa rapidez nunca vivenciada: tudo é descartável (desde copos a
maridos/ou esposas). A publicidade manipula desejos, promove a sedução, cria novas imagens e
signos, eventos como espetáculos, valorizando o que a mídia dá ao transitório da vida. As
telecomunicações possibilitam imagens vistas em todas as partes do planeta, facilitando a
mercadificação de coisas e gostos. A informatização, o computador, o caixa-rápido 24 horas, a
telemática são compulsivamente disseminadas. As lutas mudam: agora não é contra o patrão, mas
contra a falta deles. Os pobres só dizem presente nos acontecimentos de massa, lugar de
deslocamento das energias de revolta.
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barras, “os cartões magnéticos multicoloridos que alimentam sonhos da era digital” (Mariano Neto,
2003, p.35).
Modelos geram replicantes. As pichações viram grafites. O corpo enxuto é exaltado pela TV e por
revistas. Juízos de autoridade ou defesa, na ausência de visão pessoal, são expressos em conceitos
opacos como: vanguarda atual, avançado, progressista, elitista, popular, conservador, moderno, pós-
moderno. Como o corpo enxuto, a garganta, os pulmões, a glote, os dentes, a língua, as cavidades
bucal e nasal devem produzir um único significado num único sentido: ser STAR.
Fantasmas e desvios nos rodeiam: no corpo – a doença (AIDS); na mente – a loucura; na natureza –
a catástrofe; na economia – a queda das bolsas; na paixão – a morte; no orgasmo – o desprazer; no
computador – o vírus.
Como assinala Otávio Lanni: “Ao lado da montagem, colagem, bricolagem, simulação e virtualidade”,
muitas vezes combinando tudo isso, a mídia parece priorizar o espetáculo vídeo-clipe. Tanto é assim
que guerras (como a do Iraque) e genocídios parecem festivais pop, departamentos do shopping
center global, cenas da Disneylândia mundial. Os mais graves e dramáticos acontecimentos da vida
de indivíduos e coletividades aparecem, em geral, como um vídeo-clipe eletrônico informático,
desterritorializado entretenimento em todo o mundo”.
Estamos vivendo um momento de fenômenos insólitos. Tudo se passa como se o futuro tivesse se
tornado um lugar vazio. O procedimento pós-moderno é antes uma paixão do “tecer das alteridades”
enquanto estamos diante da TV, bebendo um refrigerante Coca-cola, mastigando um Mcdonald´s
feliz ou experimentando um biscoito Nestlé, sem (des)entendimentos da Nova Ordem Mundial, nova
sociedade ou sociedade de consumo.
Hoje, especialistas, mestres e doutores são essenciais para o desenvolvimento veloz da sociedade,
exigido em todas as partes. Apesar dos malefícios gerados (como tempo demandado, ou o "saber
muito sobre pouco), a especialização na sociedade do conhecimento traz benefícios ineguláveis. A
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criação de novos empregos, o aprofundamento do saber e a qualidade dos serviços faz com que a
sociedade evolua ainda mais.
Assim, apesar do ser humano, na sua individualidade, não estar ampliando o seu modo de conhecer,
mas sim reduzindo-se à especifidade, a sociedade como um todo mergulha numa ampliação
profunda do conhecimento, trazendo isto para o cotidiano, do mais trivial ao mais complexo dos
trabalhos, a especialização é necessária e benéfica.
Há 60 anos terminava a Segunda Guerra Mundial. Foi um conflito que deixou um triste e vergonhoso
legado à humanidade: mais de 50 milhões de pessoas morreram em seis anos, dentre os quais 6
milhões de judeus assassinados pelo regime nazista. As imagens dos campos de concentração
nazistas - que, além dos judeus, mantinham em condições subumanas outras minorias, como
ciganos, homossexuais, testemunhas de Jeová - reveladas após as tropas aliadas conquistarem os
territórios até então dominados pelas forças militares alemãs mostraram ao mundo a face mais
terrível das atrocidades que o homem é capaz de cometer.
Apesar de tanta destruição, a história jamais parou. O homem tem grande capacidade de se reiventar
e reconstruir sua existência sobre escombros, dramas, catástrofes e dificuldades as mais diversas.
Então, afinal, o que vem sendo construído pela humanidade até os dias atuais sobre os alicerces
moldados a partir do fim da Segunda Guerra Mundial?
"Depois que os alemães invadiram a Rússia, o sentido da guerra modificou-se. Porque eles chegaram
basicamente às portas de Moscou, mais exatamente a uns 20 quilômetros de Moscou, a Rússia
conseguiu empurrar eles para trás, mais ou menos a uns 100 quilômetros de distância, e,
posteriormente, quando ocorreu a batalha de Estalingrado, em que o Exército Vermelho conseguiu
derrotar o Exército alemão, a guerra mudou de rumo, porque, a partir daí, era uma questão de tempo.
A partir dali, para mim, a Alemanha estava perdida. O Exército Vermelho conseguiu avançar em uma
velocidade relativamente elevada e o mundo socialista cresceu de forma significativa... O socialismo
propriamente dito, decorrente da vitória da União Soviética, chegou a dominar 30% dos países que
tinham influência no encaminhamento da vida da família humana", afirma Enildo Pessoa, professor
aposentado e ex-diretor do Instituto de Ciência Humanas da PUC-Campinas, autor de sete livros,
entre eles A Humanidade e o Futuro.
Desta forma, com a vitória da União Soviética na Europa Oriental e as conquistas da Aliança
capitaneada pelos Estados Unidos na parte Ocidental daquele continente, começava a se desenhar
um cenário em que as forças que dominariam a civilização atuavam em dois pólos opostos.
Nova ordem
"A primeira coisa que se destaca é uma nova ordem mundial que vai se formar naquele momento. A
gente vai ter o que chama de um mundo bipolarizado, porque, antes, era multipolarizado. Portanto, o
efeito maior da Segunda Guerra é criar uma ordem mundial girando em torno da União Soviética e
dos Estados Unidos. Esse efeito perdurou até recentemente, quando acabou a União Soviética, o que
já muda novamente a ordem mundial, que não é mais aquela que a Guerra deixou para a gente",
explica a professora do Departamento de História da UFPE (Unviersidade Federal de Pernambuco)
Suzana Cavani Rosas.
"A outra coisa é que a Segunda Guerra mudou a natureza da guerra. A guerra convencional cedeu
lugar à possibilidade de uma guerra nuclear (após o bombardeio nuclear de Hiroshima e Nagazaki, no
Japão). E, contraditoriamente, como essa guerra nuclear tem uma proporção de destruição muito
grande, e até mesmo a parte que seria vencedora teria muitas perdas, formou-se a Guerra Fria. Quer
dizer: a impossibilidade de um conflito armado entre as duas grandes potências. Elas têm tudo para
brigar, são inconciliáveis, mas a ameaça de uma guerra nuclear evita o confronto das grandes
potências. O que você vai ter são outros confrontos indiretos entre essas potências em diversos
países no mundo", acrescenta Suzana Cavani.
Dessa forma, o mundo passava das contradições internas ao próprio capitalismo (que deram origem
à Primeira e à Segunda Grande Guerra Mundial) para as contradições de duas ideologias diversas: o
capitalismo, defendido pelos Estados Unidos; e o socialismo, sob a égide da União Soviética. O
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embate dessas duas superpotências que emergem do pós-Guerra vai se dar não campo de batalha -
já que a guerra, agora, seria sinônimo de destruição da própria raça em razão da Corrida
Armamentista com a multiplicação dos arsenais atômicos de ambos os lados -, mas no terreno
nebuloso que passou a ser conhecido como Guerra Fria.
Outro efeito significado do pós-Guerra foi o processo de esfacelamento dos grandes impérios
coloniais, principalmente com a perda do poderio de duas grandes potências até a Segunda Guerra:
França e Inglaterra.ÿ
"A Europa vai ter que mudar completamente sua perspectiva. Quase todos os países europeus, pelo
menos os países centrais da Europa Ocidental, tinham grandes impérios. E eles vão passando por
um muito lento processo de desintegração dos Impérios, que às vezes acontece de forma, vamos
dizer assim, pacífica, e um pouco comandada pelo país dominante. A Inglaterra em alguns momentos
percebe que não tem condições de aguentar a luta e acaba de certa forma dizendo que concede a
independência: é o caso da Öndia. Ou você vai ter processos tremendamente violentos. Acho que um
dos exemplos mais claros é a guerra da Argélia, que deixa um milhão de pessoas mortas e vai se
processar na década de 60. Mas é um processo que vai continuando até os 70, entra nos anos 80, e
ainda existem pequenas coisinhas que não foram resolvidas. Então, isso é um resquício de guerra",
diz a professora de História Contemporânea da FFLCH-USP (Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas da Universidade de São Paulo) Maria Aparecida Aquino.
"E também houve a descolonização porque tanto os Estados Unidos quanto a União Soviética
sempre defenderam o fim do impérios coloniais. Os impérios formais, claro, porque o imperialismo vai
ainda existir", acrescenta Suzana Cavani.
Mas não houve apenas efeitos de desconstrução e reconstrução no legado do pós-Segunda Guerra.
A condição da mulher na sociedade Ocidental sofreu mudanças profundas e definitivas que
representaram verdadeiras conquistas à condição feminina.
"Por conta da guerra, a maioria dos países envolvidos tiveram que integrar cada vez mais a mão-de-
obra feminina à produção, porque essa Guerra mobiliza muitos homens, realmente numa proporção
muito grande, e, portanto, era preciso substituir a mão-de-obra masculina dentro da Guerra. Aí as
mulheres conseguiram conquistar um espaço que daí para a frente não houve mais retorno", destaca
a professora Suzana Cavani.
Crises e oportunidades
O período vivido durante a Guerra Fria foi repleto de graves crises que abalaram, em alguns
momentos, seriamente o equilíbrio de forças que era mantido sobreÿ um tênue fio que por pouco não
se desfez em um conflito atômico generalizado. Foi o caso da crise dos mísseis em Cuba, em 1962,
quando Estados Unidos e União Soviética por pouco não partiram para a solução do impasse na
base de um conflito atômico. Outras graves crises marcaram o pós-Guerra, como a Guerra da Coréia,
a Guerra do Vietnã, a invasão da Baía dos Porcos, em Cuba.
Neste meio tempo, o mundo conheceu um grande desenvolvimento do lado capitalista. "? a partir daí
que acontece o fenômeno que o (historiador britânico Eric) Hobsbawn chama de `Era de Ouro do
Capitalismoï. A partir do final da década de 50 até princípios da década de 70, mais ou menos 72, 73,
o mundo capitalista sofre um crescimento extraordinário, agora sob uma nova condição, que era
justamente aquela de que as contradições internas ao capitalismo não levariam a um conflito mundial
(já que as contradições principais eram direcionadas ao combate ao socialismo)... Por isso ele teve
todas as condições de ter um crescimento fenomenal atingindo um porte que até hoje continua a
existir... Simultaneamente a isso, o sistema socialista começava a indicar a suas situações de
fragilidade. Para mim, a pincipal fragilidade era a política. O sistema tinha conquistas sociais
significativas, mas tinha fragilidades políticas muito fortes porque não soube enfrentar o capitalismo
demonstrando ao mundo que ele seria capaz de resolver a situação social sem que houvesse a
prioridade do capital no encaminhamento da vida da sociedade", analisa o professor Enildo Pessoa.
No final dos anos 80, início dos 90, começa a derrocada do Império Soviético, com o primeiro grande
fato ocorrendo em 1989, que foi a queda do muro de Berlim, evento que abriu espaço para a
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reunificação das duas Alemanhas divididas após a partilha do espólio da Segunda Guerra entre os
mundos capitalista eÿ socialista.
Entre 1991 e 1992, ocorre a derrocada final da União Soviética, após o surgimento das políticas da
perestroika e glasnost (reestruturação e transparência, em russo), capitaneada pelo então líder
soviético Mikhail Gorbachóv. Apesar da tentativa de comandar a transição de forma pacífica,
Gorbachóv sofre um golpe, é derrubado, mas um contra-golpe encabeçado por Bóris Ieltsin liberta
Gorbachóv. Este último acaba deixando o poder, assumido pelo primeiro, que promove o
desmembramento da antiga União Soviética, com grande parte de suas Repúblicas se tornando
países independentes. A Rússia, que era o coração do Império, no entanto, passa a enfrentar uma
séria crise, tanto política como econômica, para se adaptar à nova realidade pós-socialismo.
Efeitos diretos
"Recentemente, na década de 90, você vai passar pelo processo de integração dessas duas
Alemanhas. Então, quer dizer, a Guerra se encerra em 1945, mas quase 50 anos mais tarde é que se
vai tentar retornar a uma situação que era a anterior. Só que existe um problema aí no meio: 45, 50
anos decorreram e acabaram formando situações muito diferentes. Então, você tem uma Alemanha
Ocidental que era considerada a segunda economia do mundo, pujante, extremamente desenvolvida,
que, num dado momento, acaba sendo obrigada a receber uma espécie de `presente de gregoï em
termos econômicos. Um pouco ela vai carregar uma Alemanha Oriental que tem não só um processo
de desenvolvimento histórico dos últimos 50 anos diferente do dela, como também tem um
desenvolvimento econômico completamente distinto. Você vai ter hoje, se alinhavando, embora ainda
forte, embora garantindo parte de sua pujança, mas, de certa forma, você tem a modificação de um
quadro muito contemporâneo, tentando encontrar seu rumo e que se relaciona, sem dúvida, com o
que a Segunda Guerra Mundial deixou", acrescenta Maria Aparecida Aquino
Mesmo estando hoje distantes 60 anos do fim da Segunda Guerra Mundial e tendo agregado à raça
humana uma série de elementos que determinaram novas realidades à existência do homem, ainda
hoje podemos dizer que os alicerces construídos ao fim daquele triste conflito seguem dando base
aos atores que determinam os caminhos por onde estamos a escrever nossa história.
O poder dos EUA como nação hegemônica é o elemento mais marcando do cenário construído
nesses últimos 60 anos. Além deste, há também o fortalecimento das bases da democracia,
especialmente no mundo Ocidental, o desenvolvimento das tecnologias que têm ajudado a salvar
vidas e a permitir que o ser humano viva mais e melhor e a constantação de que, mesmo diante da
crueza que reprensenta o poder das armas, principalmente as atômicas, as diversas sociedades têm
hoje buscado se integrar mais, se conhecer melhor, em busca de um futuro, se não perfeito, que seja
melhor para a maioria dos homens.
Que seja assim, portanto, no caminho do entendimento, que o homem construa sua trajetória nos
próximos anos e que a inteligência seja instrumento tanto da preservação de nossa espécie como do
mundo que nos sustenta.
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GLOBALIZAÇÃO
Globalização
Podemos dizer que é um processo econômico e social que estabelece uma integração entre os países
e as pessoas do mundo todo. Através deste processo, as pessoas, os governos e as empresas trocam
ideias, realizam transações financeiras e comerciais e espalham aspectos culturais pelos quatro cantos
do planeta.
O conceito de Aldeia Global se encaixa neste contexto, pois está relacionado com a criação de uma
rede de conexões, que deixam as distâncias cada vez mais curtas, facilitando as relações culturais e
econômicas de forma rápida e eficiente.
Muitos historiadores afirmam que este processo teve início nos séculos XV e XVI com as Grandes
Navegações e Descobertas Marítimas. Neste contexto histórico, o homem europeu entrou em contato
com povos de outros continentes, estabelecendo relações comerciais e culturais. Porém, a
globalização efetivou-se no final do século XX, logo após a queda do socialismo no leste europeu e na
União Soviética. O neoliberalismo, que ganhou força na década de 1970, impulsionou o processo de
globalização econômica.
Com os mercados internos saturados, muitas empresas multinacionais buscaram conquistar novos
mercados consumidores, principalmente dos países recém-saídos do socialismo. A concorrência fez
com que as empresas utilizassem cada vez mais recursos tecnológicos para baratear os preços e
também para estabelecerem contatos comerciais e financeiros de forma rápida e eficiente. Neste
contexto, entra a utilização da Internet, das redes de computadores, dos meios de comunicação via
satélite etc.
Bolsa de valores:
tecnologia e Investimentos, pagamentos e transferências bancárias, podem ser feitos em
negociações em nível questões de segundos através da Internet ou de telefone celular.
mundial.
Os tigres asiáticos (Hong Kong, Taiwan, Cingapura e Coreia do Sul) são países que souberam usufruir
dos benefícios da globalização. Investiram muito em tecnologia e educação nas décadas de 1980 e
1990. Como resultado, conseguiram baratear custos de produção e agregar tecnologias aos produtos.
Atualmente, são grandes exportadores e apresentam ótimos índices de desenvolvimento econômico e
social.
Dentro deste processo econômico, muitos países se juntaram e formaram blocos econômicos, cujo
objetivo principal é aumentar as relações comerciais entre os membros. Neste contexto, surgiram
a União Europeia, o Mercosul, a Comecom, o NAFTA, o Pacto Andino e a Apec. Estes blocos se
fortalecem cada vez mais e já se relacionam entre si. Desta forma, cada país, ao fazer parte de um
bloco econômico, consegue mais força nas relações comerciais internacionais.
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GLOBALIZAÇÃO
Como dissemos, a globalização extrapola as relações comerciais e financeiras. As pessoas estão cada
vez mais descobrindo na Internet uma maneira rápida e eficiente de entrar em contato com pessoas de
outros países ou, até mesmo, de conhecer aspectos culturais e sociais de várias partes do planeta.
Junto com a televisão, a rede mundial de computadores quebra barreiras e vai, cada vez mais, ligando
as pessoas e espalhando as ideias, formando assim uma grande Aldeia Global. Saber ler, falar e
entender a língua inglesa torna-se fundamental dentro deste contexto, pois é o idioma universal e o
instrumento pelo qual as pessoas podem se comunicar.
As principais beneficiadas pela globalização são as empresas transnacionais, haja vista que esse
fenômeno faz com que elas continuem com suas matrizes em um país (desenvolvido), mas atuem com
filiais em outros (em desenvolvimento), expandindo seu mercado consumidor. Elas se aproveitam da
mão de obra barata, além de benefícios (isenção de imposto, doação de terreno, etc.) proporcionados
pelos governos dos países em desenvolvimento, visando ao aumento da lucratividade.
Além de fatores econômicos e sociais, a globalização também interfere nos aspectos culturais de uma
determinada população. O grande fluxo de informações obtidas por meio de programas televisivos e,
principalmente, pela Internet, exerce influência em alguns hábitos humanos. A instalação de redes de
fast food é outro elemento que pode promover uma mudança nos costumes locais. Entretanto,
elementos da cultura local perduram em meio à população, promovendo, assim, a diferenciação entre
as culturas existentes.
A globalização pode ser compreendida como a fase de expansão que o capitalismo atingiu na
atualidade, impactando a economia, a política, a cultura e o espaço geográfico. Se no capitalismo
comercial iniciado no final do século XV, com as grandes navegações e o colonialismo, diferentes
partes do mundo passaram a estabelecer maiores relações, nos séculos seguintes essas relações se
intensificaram conforme as novas tecnologias possibilitaram o avanço da produção industrial e do
comércio mundial. A globalização é, sobretudo, econômica, e caracteriza-se pelo conjunto de
mudanças no processo de produção de riquezas, nas relações de trabalho, no papel do Estado, nas
formas de dominação sociocultural e pela facilitação dos fluxos de pessoas, capitais e informações ao
redor do mundo.
A base estrutural que possibilitou o aumento dos fluxos de informações nas últimas décadas é o
avanço das telecomunicações (satélites artificiais, centrais telefônicas, cabos de fibra óptica e telefonia
celular) e da informática. A evolução das tecnologias para computadores e internet permite um volume
e rapidez cada vez maiores na transmissão de dados, voz, texto e imagem em todo o planeta,
tornando-o cada vez mais conectado e integrado. Além das telecomunicações e informática, também
houve avanços da robótica, biotecnologia e dos meios de transporte, na etapa do desenvolvimento
industrial conhecida como Terceira Revolução Industrial, quando ciência, técnica e produção
adquiriram maiores vínculos. A revolução tecnológica dos meios de informação e comunicação
intensificou-se, possibilitando uma disputa cada vez maior entre países e empresas a partir da
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GLOBALIZAÇÃO
facilidade de circulação do capital de um país para outro, seja para a venda de mercadorias, para a
instalação de filiais de empresas ou para aplicações financeiras.
A derrocada do bloco socialista pós-Guerra Fria (1989) iniciou a chamada nova ordem mundial,
levando o capitalismo ao mundo todo e impulsionando o processo de globalização. Novos mercados
consumidores se abriram, ao passo que governos e grandes empresas intensificaram medidas e
políticas neoliberais (que favorecem a iniciativa privada), ampliando a circulação de capitais entre os
países.
Atualmente, mercados mundiais importantes são dominados por um pequeno número de corporações
multinacionais ou transnacionais, que concentraram capitais através de fusões e/ou aquisições.
Os protestos de rua de um país são vistos com facilidade pelos telespectadores de outro país.
“Globalizaram-se as instituições, os princípios jurídico-políticos, os padrões socioculturais e os ideais
que constituem as condições e produtos civilizatórios do capitalismo” (IANNI, 1995, p.47-
8 apud VICENTE, 2009, p. 128). Anthony Giddens fala de um mundo em transformação, que afeta tudo
o que fazemos, e que estamos sendo empurrados para uma ordem global cujos efeitos se fazem sentir
mas que ainda não compreendemos na sua totalidade. E neste processo de transformação a
globalização está por trás, inclusive, da expansão da democracia: “[...] vivemos numa época em que a
democracia está a estender-se a todo o mundo [...] Temos de democratizar ainda mais as estruturas já
existentes e de o fazer de forma a responder às exigências da era global” (2006, p. 17).
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GLOBALIZAÇÃO
processos de transnacionalização e globalização do final do século XX. Nos dias atuais podemos
mencionar a criação de organizações internacionais como a ONU (Organização das Nações Unidas),
Banco Mundial, FMI (Fundo Monetário Internacional) e a UE (União Européia) como um resultado
direto desse processo de globalização.
Anthony Giddens (2006) destaca como hoje o processo de globalização é marcado pela informação
digital, inclusive financeiramente. Um dinheiro que não raro só existe como informação digital e que
serve de base às transações econômicas que são operadas no mercado financeiro de vários países.
Milhões e bilhões de dólares são movimentados diariamente. Um volume de transações financeiras
inabitual para o mercado comum: “É um aumento maciço em relação aos finais da década de 1980,
sem falarmos de anos mais distantes. O valor do dinheiro que temos no bolso, ou nas nossas contas
bancárias, muda de momento a momento, de acordo com as flutuações registadas nestes mercados”
(2006, p. 22). Vivemos hoje em dia a era da mundialização do capital, usando o termo francês para
globalização (mondialisation): um processo de internacionalização do capital produtivo como um
conjunto dos processos que tecem relações de interdependência entre as economias nacionais,
incluindo aí as importações e exportações de bens e serviços, entradas e saídas de investimentos do
capital financeiro ou, ainda, de mundialização das operações do capital (CHESNAIS, 1994 e 1995).
Em vez de usar o termo “globalização” e, portanto, de fazer referência à “economia” de modo vago e
impreciso, parece então desde já preferível falar em “globalização do capital”, sob a forma tanto do
capital produtivo aplicado na indústria e nos serviços quanto do capital concentrado que se valoriza
conservando a forma dinheiro. Pode-se então dar mais um passo, aquele que consiste em falar de
“mundialização” em vez de “globalização” (CHESNAIS, 1995, p. 5).
Milton Santos (2000) destaca que as atividades hegemônicas do mundo globalizado estão todas
fundadas na técnica e na tecnociência. Há 150 anos era usado o Código Morse como meio de
comunicação. Hoje esse sistema foi substituído pela tecnologia dos satélites que permite localizar
qualquer pessoa, usando um GPS, por exemplo. A globalização foi favorecida pelo casamento entre a
ciência e a técnica, mas um casamento que é condicionado pelo mercado: a ciência e a técnica
passam a produzir aquilo que interessa ao mercado e não a humanidade em geral. O mundo da
técnica promoveu uma maior fluidez e rapidez nas relações sociais. Mas uma fluidez que não é para
todos, mas para os agentes que têm a possibilidade de utilizá-la. E a “compartimentação dos territórios
ganham esse novo ingrediente [...] tudo hoje está compartimentado; incluindo toda a superfície do
planeta” (SANTOS, 2000, p. 84). É dessa forma que se potencializa a força das grandes empresas em
detrimento de outras, que são forçadas em suas formas “de ser e agir” a adaptar-se ao “epicentro” das
empresas hegemônicas. “Com a globalização, o uso das técnicas disponíveis permite a instalação de
um dinheiro fluido, relativamente invisível, praticamente abstrato” (SANTOS, 2000, p. 100).
Do ponto de vista econômico se fala hoje em dia em uma economia mundial ou de uma economia
globalizada, onde as economias nacionais são rearticuladas no seio de um sistema de transações e
processos que operam em nível internacional. Transformações importantes ocorridas a partir da
década de 1970 na conjuntura política, econômica e social propiciaram o avanço da globalização com
a expansão de empresas transnacionais : a chamada transnacionalização. Uma nova economia se
afirmas estimualda pela ideia de um mercado livre global onde “as empresas, corporações e
conglomerados transnacionais adquiriram preeminência sobre as economias nacionais” (IANNI, 1995,
p.46 apud VICENTE, 2009, p. 127). “A globalização é, de certa forma, o ápice do processo de
internacionalização do mundo capitalista” (SANTOS, 2000, p. 23). Passamos da micro para a macro
economia, das regras de gestão privada para o estabelecimento de políticas econômicas que são
definidas e redefinidas por instituições internacionais.
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GLOBALIZAÇÃO
a) Defesa parcial da noção Estado-nação, uma vez que no processo de implantação da globalização
ainda é necessária a presença do Estado.
b) A relação entre Estado-nação e mercados globais tende a restringir as ações dos Estados, com a
consequente delimitação de sua atuação, pois os centros econômicos mundiais adotam medidas que
têm de ser incorporadas pelos países defensores desse processo da globalização. A propensão,
portanto, seria chegar ao fim dos Estados nacionais.
Existem também as críticas a esse modelo e visão de mundo, que consideram a ideia de globalização
como a fonte de inúmeros problemas, e não leva em consideração questões como a heterogeneidade,
a fragmentação, a desigualdade, a exclusão, a dominação, a exploração, as diferenças ideológicas e
das relações humanas, entre outras. Os oponentes da globalização estimam que a globalização seria
antes geradora de inquietações, de desgates do meio ambiente, de uma competitividade desumana.
Entre os seus críticos, estão aqueles que apontam para o fato de que a globalização tende a aumentar
ainda mais as desigualdades sociais, fazendo com que a concentração da riqueza mundial esteja cada
vez mais nas mãos de poucos, aumentando a situação de pobreza e miséria social.
A dinâmica tecnológica e econômica que se afirma como parte das tendências novas da globalização
não autorizam qualquer otimismo no que se refere à sua eventual contribuição para melhorar esse
quadro de desigualdade. Ao contrário, o que temos com ela, mesmo nos países economicamente mais
avançados, são o aumento da desigualdade social, níveis inéditos de desemprego, a "nova pobreza", o
aumento da violência urbana (REIS, 1997, p. 49).
Dentre os críticos do processo de globalização podemos destacar Milton Santos, autor da obra: Por
uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. O livro do Milton Santos tem
como objetivo principal discutir o atual processo de globalização, abordando questões que trata da
constituição da globalização: quais indivíduos de fato esta atual globalização beneficia? É possível dar
novos rumos a atual história social no período da globalização? Milton Santos entende a globalização
como algo perversa na forma como está: “fundada na tirania da informação e do dinheiro, na
competitividade, na confusão dos espíritos e na violência estrutural, acarretando o desfalecimento da
política feita pelo Estado e a imposição de uma política comandada pelas empresas” (2000, p. 15). A
obra de Milton Santos é bastante extensa e merece uma reflexão mais detalhada sobre as questões
analisadas pelo autor. Veja a este respeito o texto em nosso website: Uma outra globalização é
possível?
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GLOBALIZAÇÃO
O fim do socialismo
A criação do socialismo como regime político-econômico visava sufocar e extinguir o sistema que
vigorava no final do século XIX, o capitalismo. As ideias socialistas almejavam implantar uma
sociedade mais justa e igualitária.
Os principais idealizadores do socialismo foram os alemães Karl Marx e Friedrich Engels, após uma
profunda análise no sistema capitalista eles proporam a estruturação de uma sociedade alicerçada no
regime socialista.
A partir daí, as ideias do regime socialista se espalharam pelo mundo e muitos países as implantaram.
No entanto, tais nações não instituíram o socialismo aos moldes propostos por Karl Marx e Friedrich
Engels. Desse modo, o socialismo aplicado em diversas nacionalidades recebeu o nome pelos
estudiosos de “socialismo real”, ou seja, aquele que realmente foi colocado em prática.
Na União Soviética e todo Leste Europeu foi instaurado o socialismo real, marcado principalmente pela
enorme participação do Estado. Esse fato fez emergir, de certa forma, um sistema um tanto quanto
ditatorial, tendo em vista que as decisões políticas não tinham a participação popular. A liberdade de
expressão era reprimida pelos dirigentes, que concentravam o poder em suas mãos.
Com o excesso de centralização do poder, a classe de dirigentes, bem como os funcionários de alto
escalão do governo, passaram a desfrutar de privilégios que não faziam parte do cotidiano da maioria
da população; o que era bastante contraditório, pois o socialismo buscava a construção de uma
sociedade igualitária.
Em todo o transcorrer da década de 80, a União Soviética enfrentou uma profunda crise, atingindo a
política e a economia. Tal instabilidade foi resultado de diversos fatores, dentre os quais podemos
destacar o baixo nível tecnológico em relação aos outros países. Isso porque o país investiu somente
na indústria bélica, deixando de lado a produção de bens de consumo. Além, da diminuição drástica da
produção agropecuária e industrial.
Diante dos problemas apresentados, a população soviética ficava cada vez mais descontente com o
sistema socialista. A insatisfação popular reforçava o anseio de surgir uma abertura política e
econômica no país para buscar melhorias sociais. O desejo de implantar um governo democrático na
União Soviética consolidou a queda do socialismo no país. Fato que ligeiramente atingiu o Leste
Europeu, que buscou se integrar ao mundo capitalista.
Hoje, praticamente não existem países essencialmente socialistas, salvo Cuba. São ainda
considerados socialistas: China, Vietnã e Coréia do Norte. Aos poucos essas nações dão sinais de
declínio quanto ao sistema de governo, promovendo gradativamente abertura política e econômica.
O colapso da União Soviética foi para o Ocidente como um brinde ao triunfo da superioridade do
capitalismo sobre o socialismo. A Guerra Fria, que havia pairado sobre a bipolaridade das
superpotências desde o fim da II Guerra Mundial, havia finalmente dissipado alegrando os Estados
Unidos com o seu inimigo formidável trazido a seus joelhos e abrindo canteiros para introduzir a nova
ordem mundial. Conclusões e rupturas configuram novos rumos para a retomada da Globalização.
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GLOBALIZAÇÃO
Essas premissas indicam uma dificuldade na construção de uma ordem mundial que enfrentam novos
e velhos problemas complexos para a agenda internacional, relativos às questões universais dos
direitos humanos, desarmamento, população, saúde, segurança, educação, trabalho, meio ambiente,
terrorismo político e uma série de outros desequilíbrios regionais e socais.
Percebeu-se também uma grande mudança no tratamento dos países após o fim da Guerra Fria, como
a criação do conceito “Terceiro Mundo”, conjunto de países que enfrentam problemas sociais e
econômicos, substituindo o antigo “Norte-Sul”. Houve também uma queda na coesão entre os Estados
Unidos, Europa e Japão que passaram a ser mais nacionalistas e terem em mira os seus próprios
interesses. Os EUA, com o intuito de não arcar com a ordem mundial sozinho, convidou a Rússia para
fazer parte do principal grupo econômico mundial, o G-8.
A Rússia por sua vez, após o fim da URSS, abriu seu mercado principalmente para o ocidente e
enfrentou dificuldades em seu próprio terreno como as migrações, escassez de recursos naturais, entre
outros. O que levou o país a tomar decisões administrativas objetivando-se ao seu lançamento como
potência mundial.
No mundo atual, é difícil pensar em uma única ordem mundial, pois, partindo dos conceitos de alguns
estudiosos, o que há no mundo hoje é uma multipolarização, em outras palavras, uma hierarquia
flexível que desponta a ascensão de diversos países a cada momento.
A CRISE DA GLOBALIZAÇÃO
Os mesmos analistas que afirmavam ser o fim da União Soviética a comprovação de que os ideais de
uma sociedade igualitária não são viáveis na prática agora têm que admitir que a globalização
econômica pautada na livre concorrência, além de gerar milhões de excluídos em todo o planeta (fator
que por si só já é controverso), também não traz benefícios concretos para boa parte dos habitantes
dos países desenvolvidos.
Nas últimas décadas do século passado, a palavra globalização ultrapassou os muros da universidade
para invadir os mais diversos âmbitos da sociedade.
A partir dos avanços dos meios de comunicação e transporte, parecia que finalmente o “mundo era um
só”. O filósofo Marshall McLuhan falava em “Aldeia Global”.
Não havia mais obstáculos para a livre circulação de serviços e mercadorias. Com o colapso do
socialismo no Leste Europeu, o capitalismo despontaria como sistema econômico hegemônico.
As utopias estavam mortas. Era o “Fim da História” preconizado pelo cientista político Francis
Fukuyama. Enfim, a economia de mercado era confirmada como a derradeira etapa da história da
humanidade.
Tudo ia bem para os ideólogos da globalização até que surgiu a crise econômica de 2008, iniciada no
setor financeiro dos Estados Unidos e posteriormente espalhada para praticamente todo o planeta.
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GLOBALIZAÇÃO
É fato que na periferia capitalista, sobretudo na América Latina, a chegada ao poder de governos de
esquerda, antes de 2008, já representava o repúdio das populações desses países ao neoliberalismo,
um dos principais pilares da globalização.
Todavia, essa questão se tornou ainda mais complexa quando as populações das nações
desenvolvidas também começaram a rejeitar os preceitos da globalização, como são os casos da
eleição do protecionista Donald Trump nos Estados Unidos e do processo de saída do Reino Unido da
União Europeia após consulta popular.
Desse modo, os mesmos analistas que afirmavam ser o fim da União Soviética a comprovação de que
os ideais de uma sociedade igualitária não são viáveis na prática agora têm que admitir que a
globalização econômica pautada na livre concorrência, além de gerar milhões de excluídos em todo o
planeta (fator que por si só já é controverso), também não traz benefícios concretos para boa parte dos
habitantes dos países desenvolvidos.
Exceção feita, é claro, para aquele 1% da população que ganha astronômicas somas monetárias
explorando o trabalho alheio ou especulando em bolsas de valores mundo afora.
Em uma época de crise como a atual, em que a esquerda está perdida, levantando bandeiras
secundárias aos interesses do proletariado, ironicamente a extrema-direita é quem tem seduzido as
massas trabalhadoras, a partir de seus discursos com soluções simplistas para questões complexas.
Não obstante, as preposições xenófobas dos políticos conservadoras, que culpam imigrantes pelo
crescimento dos índices de desemprego, são extremamente perigosas.
A última grande combinação entre crise econômica e ascensão de ideias extremistas não traz boas
lembranças para a humanidade. Infelizmente, o fascismo é um fantasma que insiste em não nos
deixar.
Capitalismo e socialismo são dois conhecidos sistemas político-econômicos que são opostos.
O socialismo consiste em uma teoria, doutrina ou prática social que propõe a apropriação pública dos
meios de produção e a supressão das diferenças entre as classes sociais. Este sistema sugere uma
reforma gradual da sociedade capitalista, distinguindo-se do comunismo, que era mais radical e
defendia o fim do sistema capitalista e queda da burguesia através de uma revolução armada.
O socialismo científico, também conhecido como marxismo, tinha como um dos seus objetivos a
compreensão das origens do capitalismo, e anunciava o fim desse sistema. A luta proletária encorajada
pelo socialismo científico foi revestida do mesmo caráter internacional do capitalismo e necessitava de
uma organização partidária, centralizadora e coesa.
No final do século XIX, todos os partidos socialistas tinham como objetivo a luta por uma sociedade
sem classes e acreditavam na substituição do capitalismo pelo socialismo. No entanto, surgiram duas
tendências entre os partidos: uma revolucionária, que defendia o princípio da luta de classes e a ação
revolucionária, sem aceitar a colaboração com governos burgueses; e a reformista, que aceitava
integrar coligações governamentais (social-democracia).
Por outro lado, o capitalismo tem como objetivo o aumento de rendimentos e obtenção de lucro.
Muitas críticas foram feitas em relação a este sistema, pois a concentração e distribuição dos
rendimentos capitalistas dependem muito das condições particulares de cada sociedade.
No seu início, o capitalismo foi responsável por graves deformações e conflitos sociais, já que a
indústria, pouco desenvolvida, não foi capaz de incorporar organicamente os assalariados, assim como
também não foi capaz de minorar a sua insegurança econômica. Só mais tarde, quando houve um
incremento na produção de bens, é que se verificou uma elevação significativa no nível de vida dos
trabalhadores.
A dinâmica resultante da luta pelo aumento de salários e pela participação de todos os agentes de
produção no processo do próprio capitalismo é a principal característica econômica do século XX e
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GLOBALIZAÇÃO
originou várias posições. Entre elas está o comunismo radical (com a nacionalização de todos os meios
de produção) e a concentração social pelo acordo para a distribuição dos rendimentos entre gestores,
capitalistas, operários e serviços.
Diferenças
Estes dois sistemas apresentam muitas diferenças, porque são contrários. Enquanto no capitalismo o
governo intervém pouco na economia, no socialismo há uma grande intervenção do governo. O
capitalismo favorece quem tem dinheiro, e dá liberdade para criação de empresas por parte dos
indivíduos, mas cria classes sociais muito distintas e consequentes desigualdades sociais.
O socialismo tem como visão o bem comum de todos os indivíduos da sociedade, sendo que o governo
providencia o que é necessário para os cidadãos. Uma desvantagem desse sistema é que é difícil
estabelecer negócios quando tudo é controlado e limitado pelo governo. Outra limitação do socialismo
é que a sua implementação é muito complicada, e em vários países socialistas de hoje, as pessoas
são exploradas pelos seus governos.
Guerra fria
A Guerra Fria foi o conflito de países que representavam o capitalismo e o socialismo e que
procuravam dominar o mundo. Os dois principais intervenientes foram os Estados Unidos (capitalismo)
e URSS (União Soviética, atual Rússia). A designação "fria" foi dada porque não houve ataques
diretos, apesar do incrível poder bélico dos intervenientes. Um conflito bélico poderia ter consequências
catastróficas, podendo mesmo significar a destruição da Terra.
A Guerra Fria terminou no início da década de 90, com a vitória dos Estados Unidos e do capitalismo, o
que explica a predominância desse sistema político nos dias de hoje.
O que é Socialismo:
Socialismo é uma doutrina política e econômica que surgiu no final do século XVIII e se caracteriza
pela ideia de transformação da sociedade através da distribuição equilibrada de riquezas e
propriedades, diminuindo a distância entre ricos e pobres.
Noël Babeuf foi o primeiro pensador que apresentou propostas socialistas sem fundamentação
teológica e utópica como alternativa política.
Karl Marx, um dos principais filósofos do movimento, afirmava que o socialismo seria alcançado a partir
de uma reforma social, com luta de classes e revolução do proletariado, pois no sistema socialista não
deveria haver classes sociais nem propriedade privada.
O sistema socialista é oposto ao capitalismo, cujo sistema se baseia na propriedade privada dos meios
de produção e no mercado liberal, concentrando a riqueza em poucos.
A origem do socialismo tem raízes intelectuais e surgiu como resposta aos movimentos políticos da
classe trabalhadora e às críticas aos efeitos da Revolução Industrial (capitalismo industrial). Na teoria
marxista, o socialismo representava a fase intermediária entre o fim do capitalismo e a implantação do
comunismo.
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GLOBALIZAÇÃO
Socialismo Utópico
O socialismo utópico foi uma corrente de pensamento criada por Robert Owen, Saint-Simon e Charles
Fourier. De acordo com os socialistas utópicos, o sistema socialista se instalaria de forma branda e
gradativa.
O nome socialismo utópico surgiu graças à obra "Utopia" de Thomas More, sendo que a utopia é
referente a algo que não existe ou não pode ser alcançado. Os primeiros socialistas, que foram os
utópicos, tinham em mente a construção de uma sociedade ideal, através de meios pacíficos e da boa
vontade da burguesia.
Karl Marx se distanciou do conceito de socialismo utópico, visto que de acordo com essa corrente a
fórmula para alcançar a igualdade na sociedade não era discutida. O oposto do socialismo utópico é o
socialismo científico, que criticava o utópico porque este não tinha em conta as raízes do capitalismo.
Karl Marx classificava os métodos dos utópicos de "burgueses", porque eles se baseavam na
transformação súbita na consciência dos indivíduos das classes dominantes, acreditando que só assim
se alcançaria o objetivo do socialismo.
Socialismo científico
O socialismo científico, criado por Karl Marx e Friedrich Engels, era um sistema ou teoria que tinha
como base a análise crítica e científica do capitalismo.
O socialismo científico, também conhecido como marxismo, se opunha ao socialismo utópico, porque
não tinha a intenção de criar uma sociedade ideal. Tinha sim o propósito de entender o capitalismo e
suas origens, o acumular prévio de capital, a consolidação da produção capitalista e as contradições
existentes no capitalismo. Os marxistas anunciaram que o capitalismo eventualmente seria
ultrapassado e chegaria ao fim.
O socialismo marxista tinha como fundamento teórico a luta de classes, a revolução proletária, o
materialismo dialético e histórico, a teoria da evolução socialista e a doutrina da mais-valia. Ao
contrário do socialismo utópico e sua pacificidade, o socialismo científico previa melhores condições de
trabalho e de vida para os trabalhadores através de uma revolução proletária e da luta armada.
De acordo com o marxismo, uma sociedade baseada no capitalismo era dividida em duas classes
sociais: os exploradores (donos dos meios de produção, das fábricas, das terras), pertencentes à
burguesia, ou seja, os burgueses; e os explorados (aqueles que não tinham posses e tinha que se
sujeitar aos outros). Esse duelo entre as classes, é aquilo que transforma e propele a história.
Socialismo real
Socialismo real é uma expressão que designa os países socialistas que preconizam a titularidade
pública dos meios de produção.
No século XX, as ideias socialistas foram adotadas por alguns países, como: União Soviética (atual
Rússia), China, Cuba e Alemanha Oriental. Porém, em alguns casos, revelou-se um sistema comunista
constituído por regimes autoritários e extremamente violentos. Esse socialismo é também conhecido
como socialismo real - um socialismo colocado em prática, que causou uma deturpação semântica do
"socialismo", levando assim a esses regimes que demonstraram desrespeito pela vida humana.
O que é Capitalismo:
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GLOBALIZAÇÃO
Na lógica do capitalismo está o aumento de rendimentos. Estes tanto podem ser concentrados como
distribuídos, sem que isso nada tenha a ver com a essência do sistema. Concentração e distribuição
dos rendimentos capitalistas dependem muito mais das condições particulares de cada sociedade.
O capitalismo só pode funcionar quando há meios tecnológicos e sociais para garantir o consumo e
acumular capitais. Quando assim sucede, tem conservado e até aumenta a capacidade econômica de
produzir riqueza.
Dentro do capitalismo existem diversos tipos, como o capitalismo financeiro (também conhecido
como capitalismo monopolista), que corresponde a um tipo de economia capitalista em que o grande
comércio e a grande indústria são controlados pelo poderio econômico dos bancos comerciais e outras
instituições financeiras.
O capitalismo é caracterizado por várias fases, sendo a sua primeira fase designada como capitalismo
comercial, marcado pela busca de riquezas por parte da burguesia e nobreza durante a expansão
marítima, nos séculos XV e XVI.
Juntamente com o capitalismo financeiro, surgiu o capitalismo industrial, que é quando as empresas
evoluíram de manufatureiras para mecanizadas. Outro tipo foi o capitalismo informacional, que tem a
tecnologia de informação como o paradigma das mudanças sociais que reestruturaram o modo de
produção capitalista.
Capitalismo e globalização
Comunismo e socialismo
Muitas vezes as expressões comunismo e socialismo são usadas como sinônimos, o que não é
correto.
No entanto, os dois conceitos representam ideologias com algumas semelhanças, pois representam
uma forma de protesto ou uma alternativa ao capitalismo. Muitos autores a favor do comunismo
descrevem o socialismo como uma etapa para se chegar ao comunismo, que organizaria a sociedade
de forma diferente, eliminando as classes sociais e extinguindo o Estado opressor.
Comunismo primitivo
De acordo com alguns autores, o comunismo primitivo consiste na forma de vida que se verificava
desde a Pré-História. Quando foram formadas as primeiras tribos, as propriedades eram partilhadas
por todos os elementos, assim como os meios de produção e de distribuição. As atividades para
obtenção de comida eram feitas em comum.
Desta forma, o comunismo primitivo foi essencial para o desenvolvimento da sociedade humana,
criando laços na comunidade e facilitando a sobrevivência, que era essencial graças às condições
adversas existentes.
Além disso, o comunitarismo cristão da Igreja Primitiva (revelado na Bíblia no livro de Atos dos
Apóstolos) é por vezes visto como uma forma de comunismo, por apresentar alguns dos mesmos
princípios, como o desinteresse pelos bens materiais e um amor generalizado pelo próximo.
Comunismo no Brasil
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GLOBALIZAÇÃO
O Partido Comunista do Brasil, fundado no Rio de Janeiro em Março de 1922, foi de grande
importância para o Brasil, pois dele surgiram vários partidos que potenciaram a política brasileira. No
seu princípio e mais ou menos até 1935, o Partido Comunista teve que lutar contra o anarquismo pela
liderança sindical.
Durante muito tempo o Partido Comunista foi proibido de funcionar e por isso teve que funcionar de
forma clandestina. Por esse motivo, o Bloco Operário Camponês foi criado, com o objetivo de participar
nas eleições.
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NEOLIBERALISMO
O que é Neoliberalismo:
Neoliberalismo é uma redefinição do liberalismo clássico, influenciado pelas teorias econômicas neo-
clássicas e é entendido como um produto do liberalismo econômico clássico.
O neoliberalismo pode ser uma corrente de pensamento e uma ideologia, ou seja, uma forma de ver
e julgar o mundo social ou um movimento intelectual organizado, que realiza reuniões, conferências e
congressos.
Esta teoria, que foi baseada no liberalismo, nasceu nos Estados Unidos da América e teve como al-
guns dos seus principais defensores Friedrich A. Hayeck e Milton Friedman.
Esta teoria econômica propunha a utilização da implementação de políticas de oferta para aumentar a
produtividade. Também indicavam uma forma essencial para melhorar a economia local e global era
reduzir os preços e os salários.
Neoliberalismo no Brasil
No Brasil, o Neoliberalismo começou a ser seguido de uma forma aberta nos dois governos consecu-
tivos do presidente Fernando Henrique Cardoso. Neste caso, seguir o neoliberalismo foi sinônimo de
privatização de várias empresas do Estado. O dinheiro conseguido com essas privatizações foi na
sua maioria utilizado para manter a cotação do Real (uma nova moeda na altura) ao nível do dólar.
A estratégia de privatização encorajada por ideais neoliberais não foi seguida por todos os países. Ao
contrário do Brasil, a China e Índia (países que têm mostrado um crescimento enorme nas últimas dé-
cadas) adotaram tais medidas de forma restrita e gradativa. Nesses países, os investimentos de gru-
pos econômicos foram feitos em parceria com empresas nacionais.
Neoliberalismo e Globalização
Essa sociedade consumista fomentou a globalização da economia, para que os capitais, serviços e
produtos pudessem fluir para todo o mundo, um claro pensamento neoliberal.
Desta forma, o neoliberalismo abriu a liberdade econômica ordenada pelo mercado, sendo que em
algumas ocasiões o Estado tem que intervir em algumas negociações para evitar desquilíbrios finan-
ceiros.
Apesar disso, a doutrina neoliberal visa que a economia e política atuem de forma independente uma
da outra, e por isso não aprecia quando há uma intervenção política na economia.
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NEOLIBERALISMO
Neoliberalismo e Educação
O neoliberalismo vê a educação de forma específica, e estes são alguns itens fulcrais na área da
educação: qualidade total, modernização da escola, adequação do ensino à competitividade do mer-
cado internacional, nova vocacionalização, incorporação das técnicas e linguagens da informática e
da comunicação, abertura da universidade aos financiamentos empresariais, pesquisas práticas, utili-
tárias, produtividade.
É importante que de acordo com a vertente neoliberal, a educação não é incluída no campo social e
político, passando a ser integrada no mercado. Assim, alguns dos problemas econômicos, sociais,
culturais e políticos abordados pela educação são muitas vezes transformados em problemas admi-
nistrativos e técnicos. Uma escola modelo deve conseguir competir no mercado. O aluno passa a ser
um mero consumidor do ensino, enquanto o professor fica conhecido como um funcionário treinado
para capacitar os seus alunos a se integrarem no mercado de trabalho.
Contextualização do Neoliberalismo
O Estado Neoliberal tem efetivamente sua estruturação ainda na década de 1970, com Margareth
Thatcher, na Inglaterra, quando, a partir de suas políticas, Thatcher obteve sucesso em questões liga-
das à economia, como a estabilização da libra esterlina, bem como a recuperação da economia e da
produção da Inglaterra.
O ocorrido tem relação com o próprio enfraquecimento das políticas keynesianas, as quais tinham
como premissa uma forte intervenção do Estado nas questões econômicas. Não tardou para que es-
sas políticas neoliberais chegassem aos Estados Unidos, ainda na década de 1980, com o Presi-
dente Ronald Reagan, estendendo-se posteriormente também para vários outros países do globo.
De modo geral, as medidas adotadas por Margareth Thatcher na ocasião, e que depois se expandi-
ram para outros países foram a contração da emissão de moeda, bem como uma elevação das taxas
de juros, ainda a redução dos impostos sobre os altos rendimentos, a abolição sobre o controle dos
fluxos financeiros, ou seja, medidas que privilegiavam a imposição do capital, retirando de pauta das
possíveis intervenções estatais.
Reação Do Mercado
Com isso, houveram índices de desemprego muito altos, especialmente pelo enfraquecimento dos
amparos aos trabalhadores. Houve ainda a imposição de uma lei específica contra o sindicalismo, o
que enfraqueceu ainda mais os trabalhadores. Consequentemente ao menor poder do Estado nas
questões sociais, houve cortes de gastos com questões sociais, medidas estas acompanhadas
de massivos programas de privatizações em variadas áreas, desde industriais até habitacionais.
Assim, praticamente eximia-se a responsabilidade do governo diante das questões sociais, pas-
sando-as ao poder privado. Deste modo, quem tivesse dinheiro para usufruir dos serviços, por exem-
plo, poderia o fazer, mas que não detinha essa condição, infelizmente não era amparado pelo Es-
tado.
O que é Neoliberalismo?
Alguns autores defendem que não existe um “Neoliberalismo”, sendo essa terminologia apenas um
neologismo. O que existiria de fato seria uma continuação do Liberalismo, no entanto, adaptado ao
modo como o mundo está no contexto contemporâneo, especialmente quanto à globalização. A ideia
clássica do Liberalismo, e que é também central no Neoliberalismo, é a visão do indivíduo enquanto
portador da liberdade para seu desenvolvimento.
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NEOLIBERALISMO
uma mínima intervenção do Estado para que os indivíduos pudessem se desenvolver com liberdade,
mas não apenas estes, também o capital privado.
O Estado Neoliberal, ou Neoliberalismo, possui algumas características relevantes e que são suas
referências, como a presença de um governo mínimo, ou Estado mínimo, sendo que não caberia ao
Estado intervir nas questões econômicas, sendo que o capital privado poderia muito bem gerenciar
as questões de ordem econômica.
Atrelado a isso, no Neoliberalismo há também um corte em relação aos servidores públicos e, desta
forma, concursos públicos, programas governamentais, dentre outros. São marcas do Estado Neoli-
beral também as privatizações em detrimento das estatizações, já que não caberia ao Estado o en-
volvimento com questões econômicas.
Da mesma forma, no Neoliberalismo é medida comum a flexibilização das leis trabalhistas, já que o
Estado não teria mais o poder de organizar e criar leis que beneficiassem os trabalhadores. Deste
modo, o próprio capital privado gerenciaria as questões trabalhistas, inclusive, as precarizando em
detrimento do lucro.
Outro ponto relevante é a livre circulação de capitais internacionais, o que incentiva a livre concorrên-
cia entre as grandes empresas, mas também coloca em submissão os países subdesenvolvidos, nos
quais muitas multinacionais implantam suas atividades, explorando o trabalho das pessoas nestes
locais e ainda usufruindo dos recursos naturais. Muitas empresas destas recebem incentivos fiscais
para implantarem suas atividades em um dado país, mas quando recebem propostas melhores em
outro local, podem se deslocar facilmente, deixando uma parte da população desempregada, é a cha-
mada “guerra fiscal”.
O momento do sistema capitalista no qual vivemos atualmente está bastante articulado ao que se
convencionou chamar de neoliberalismo, uma corrente político-econômica que passou a ser sistema-
ticamente implantada nos países ocidentais em resposta à crise dos anos 1970. As premissas
da agenda neoliberal giram em torno de princípios como a desregulamentação da economia, a mí-
nima intervenção estatal, a privatização, a redução de impostos, o incentivo à competição e a obten-
ção de lucro.
O neoliberalismo, no entanto, não se reduz a pacotes econômicos, tendo grande influência na formu-
lação de políticas públicas de cunho social.
A Educação tem sido um dos seus alvos principais. Tal ideologia tem entrado nos ministérios, nas se-
cretarias e nas escolas com tal força que autores como Tomaz Tadeu da Silva (1994) escrevem que
estamos diante de uma “ofensiva neoliberal”.
A cartilha neoliberal tem subordinado a Educação aos interesses de mercado, do mesmo modo que
essa ideologia tem balizado os princípios e os valores educacionais, em todos os níveis e categorias.
A formação crítica, assim, é progressivamente substituída por uma formação tecnicista, com tendên-
cias à especialização e ao estreitamento curricular: disciplinas como Sociologia e Filosofia, por exem-
plo, são vistas como inúteis ou, quando não, veículos de propaganda ideológica.
Uma das características do neoliberalismo é advogar a neutralidade política. Sua intenção, contudo, é
dissimular a imensa carga de ideologia que se esconde sob currículos moldados por princípios como
competitividade, mérito e eficiência. A socióloga australiana Raewyn Connell (2010) afirma que as po-
líticas neoliberais têm instaurado um novo tipo de gerencialismo nas instituições educacionais: certas
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NEOLIBERALISMO
competências docentes, como a experiência prévia, são desvalorizadas em prol de práticas gerenci-
ais pouco específicas, como “inovação” e “empreendedorismo”.
Ainda, com efeitos preocupantes, a agenda neoliberal fez surgir uma “cultura de auditoria”, nos ter-
mos de Connell (2010), no qual as políticas educacionais se tornam alvo de avaliações sistemáticas
em larga escala, com especial atenção à produção de dados quantitativos.
Nessa linha, as instituições educacionais devem ser passíveis de auditoria, de avaliação. Tal “cultura”
se transparece em três políticas principais: os testes nacionais, o ranqueamento de escolas (entendi-
das como empresas que competem entre si) e a criação de instituições de certificação do trabalho do-
cente deliberadamente separadas das instituições de formação docente.
A avaliação docente, por sua vez, é frequentemente vinculada a políticas de gratificação salarial, vi-
sando fornecer bônus aos “melhores” professores e, assim, estimulando a competição dentro da cate-
goria.
O ofício docente é individualizado na figura de cada professor, não havendo menções ou estímulos
ao trabalho coletivo que se dá no interior da equipe escolar, tampouco a entidades como os sindica-
tos e os movimentos sociais, estes usualmente negligenciados ou reprimidos.
Em decorrência disso, tanto escolas quanto professores são estratificados a partir da lógica empresa-
rial de profissionais bem ou malsucedidos em função de seu próprio mérito. Instituições com melhor
desempenho recebem maior atenção, enquanto aquelas que passam por maiores dificuldades são
culpabilizadas pelo seu “fracasso”.
Cobra-se mais de docentes, mas investe-se menos em sua formação e capacitação. Verba pública
para formação de professores e expansão de matrículas, ao contrário, é repassada às instituições pri-
vadas, em sua grande parte interessadas no lucro a ser obtido sobre a mercadoria chamada “Educa-
ção” e sua “clientela”, antes conhecido como “alunado”, e mais imunes às diretrizes do Estado e à
opinião pública.
Vemos que a “ofensiva neoliberal” tende a reduzir drasticamente a qualidade intelectual da Educação,
em prol de uma qualidade mercadológica, visando resultados rápidos e direcionados aos interesses
empresariais, não é à toa que o ensino à distância é tão defendido neste contexto: seu alcance é ele-
vado, sua formação é estreita, seus custos são baixos.
Após este primeiro texto, fornecendo um panorama geral das políticas neoliberais em Educação, é
necessário olhar de perto para as políticas públicas formuladas no contexto brasileiro, seus efeitos,
suas críticas e por que devemos nos armar contra a implantação progressiva de tal agenda no Estado
brasileiro, para além da Educação. Este desafio está lançado e será empreendido, neste blog, ao
longo dos próximos meses.
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TRÊS PODERES
Três Poderes
O Poder Executivo é um dos poderes governamentais, segundo a teoria da separação dos pode-
res cuja responsabilidade é a de implementar, ou executar, as leis e a agenda diária do governo ou
do Estado.
De fato, o poder executivo de uma nação é regularmente relacionado ao próprio governo. O poder
executivo pode ser representado, em nível nacional, por apenas um órgão (presidência da república,
no caso de um presidencialismo), ou pode ser dividido (parlamento e coroa real, no caso de monar-
quia constitucional)
O poder executivo varia de país a país. Nos países presidencialistas, o poder executivo é represen-
tado pelo seu presidente, que acumula as funções de chefe de governo e chefe de estado. Nos paí-
ses parlamentaristas, o poder executivo fica dividido entre o primeiro-ministro, que é o chefe de go-
verno, e o monarca (geralmente rei), que assume o cargo de chefe de estado. Em regimes total-
mente monárquicos, o monarca assume, assim como o presidente, as funções de chefe do governo e
do Estado.
O executivo, porém, nem sempre se resume somente aos chefes. Em regimes democráticos, o presi-
dente ou o primeiro-ministro conta com seu conselho de ministros, assessores, secretários, entre ou-
tros.
Cargos do Executivo
Aplicar as leis. Para isso, fica a cargo do Executivo órgãos como a polícia, prisões etc., para punir cri-
minosos.
No sistema de três poderes proposto por Montesquieu, o poder legislativo é representado pelos legis-
ladores, homens que devem elaborar as leis que regulam o Estado.
O poder legislativo na maioria das repúblicas e monarquias é constituído por um congresso, parla-
mento, assembléias ou câmaras.
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TRÊS PODERES
O objetivo do poder legislativo é elaborar normas de direito de abrangência geral (ou, raramente, de
abrangência individual) que são estabelecidas aos cidadãos ou às instituições públicas nas suas rela-
ções recíprocas.
Em regimes ditatoriais o poder legislativo é exercido pelo próprio ditador ou por câmara legislativa no-
meada por ele.
Entre as funções elementares do poder legislativo estão as de fiscalizar o Poder Executivo, votar
leis orçamentárias e, em situações específicas, julgar determinadas pessoas, como o Presidente da
república ou os próprios membros do legislativo.
Você sabia que a divisão de poderes classicamente adotada no Brasil foi criada por Montesquieu? A
separação dos 3 poderes em executivo, legislativo e judiciário é uma teoria proposta por esse pensa-
dor iluminista em sua obra “O espírito das leis”, em que ele descreve e cria fundamentos sobre como
seria uma organização política liberal.
A premissa para esse modelo é a de que, para que não sejam criados governos absolutistas com ca-
racterísticas ditatoriais, cada um dos 3 poderes tem autonomia para exercer o seu papel e liberdade
para fiscalizar os outros poderes.
Agora que você já sabe a origem dos 3 poderes, vamos entender melhor a função de cada um deles.
Poder executivo: O poder executivo é responsável por administrar o país, realizar políticas públicas
que sejam de interesse da população e aplicar as leis.
O poder executivo pode ser dividido em 3 esferas, que são: federal, estadual e municipal. A federal é
representada pelo Presidente da República, a estadual pelo Governador e a municipal pelo Prefeito.
O acesso à essas posições são dadas pela eleição direta da população, por vivermos em um país de-
mocrático.
Um ponto importante no caso do executivo é que, cada representante tem autonomia suficiente para
nomear ministros e secretários para auxiliar o seu governo. Desta forma, esses cargos são de confi-
ança e não eleitos pela população e cumprem a função de elaborar e executar políticas públicas na
sua área de atuação.
Poder legislativo: O legislativo tem como função ordenar e criar leis para o país, além de julgar e fis-
calizar as políticas do Poder Executivo. O legislativo também pode ser dividido pelas 3 esferas (fede-
ral, estadual e municipal).
Na esfera federal, o poder legislativo é composto pela Câmara dos Deputado, que tem como obriga-
ção criar leis, e o Senado Federal, que também pode criar leis, mas tem como objetivo principal revi-
sar e analisar todas as propostas de leis trazidas pela Câmara.
Quando pensamos no âmbito estadual, o legislativo vem representado pelos deputados estaduais e
no municipal pelos vereadores, ambos têm como objetivo a criação de leis estaduais e municipais,
respectivamente, assim como a fiscalização do executivo.
Poder judiciário: O judiciário é o responsável por julgar através das leis criadas pelo legislativo e pela
constituição do país. Os órgãos que compõem o poder judiciário são:
Supremo Tribunal Federal (STF): é o órgão máximo do Judiciário, composto por 11 ministros indica-
dos pelo Presidente da República, que também devem ter aprovação do Senado.
Esses são os únicos ministros que fazem parte do judiciário e do executivo, por não ser um cargo
concursado e sim de confiança. O Supremo deve zelar pelo cumprimento da Constituição e dar a “voz
final” em conflitos que envolvam normas constitucionais.
Superior Tribunal de Justiça (STJ): está abaixo do STF e julga causas criminais que envolvam pes-
soas que estão em cargos com o “foro privilegiado”, são eles desembargadores, governadores esta-
duais, Juízes de Tribunais Regionais Federais, Eleitorais e Trabalhistas, Ministros e outras autorida-
des.
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TRÊS PODERES
Justiças Estaduais: cada estado é tem o seu Tribunal de Justiça (TJ) e os Juízes Estaduais. Os inte-
grantes do TJ são os chamados desembargadores (juízes de segunda instância) e podem contestar e
avaliar a decisão de juízes estaduais (primeira instância).
Ao longo da história diversos autores falaram sobre a corrente Tripartite (separação de governo em
três), tendo como pioneiro Aristóteles em sua obra “A Política” que contempla a existência de três ór-
gãos separados a quem cabiam as decisões de Estado, que eram eles: Poder Deliberativo, o Poder
Executivo e o Poder Judiciário.
Em seguida Locke com sua obra “Segundo Tratado Sobre o Governo Civil” defende um Poder Legis-
lativo superior aos demais, o Executivo com a finalidade de aplicar as leis e o Federativo mesmo
tendo legitimidade, não poderia desvincular-se do Executivo, cabendo a ele cuidar das questões inter-
nacionais de governança.
Posteriormente vem Montesquieu com a tripartição e as devidas atribuições do modelo mais aceito
atualmente, sendo o Poder Legislativo os que fazem as leis para sempre ou para determinada época,
bem como, aperfeiçoam ou revogam as já existentes, o Executivo que se ocupa o Príncipe ou Magis-
trado da paz e da guerra, recebendo e enviando embaixadores, estabelecendo a segurança e preve-
nindo invasões, por último o Judiciário, que dá ao Príncipe ou Magistrado a competência de punir os
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crimes ou julgar os litígios da ordem civil. Nessa tese, Montesquieu pensa em não deixar em uma
única mão as tarefas de legislar, administrar e julgar, pois a “experiência eterna” mostra que todo o
homem que tem o poder sem encontrar limites, tende a abusar dele.
– O Poder Executivo é exercido pelo Presidente da República (no caso do Executivo federal), junta-
mente com os Ministros que por ele são indicados.
É a ele que competem os atos de chefia de Estado, quando exerce a titularidade das relações inter-
nacionais e de governo, quando assume as relações políticas e econômicas assumidas no plano in-
terno, típico do sistema presidencialista adotado no Brasil, em outras palavras, cabe ao executivo a
administração do Estado, observando as normas vigentes no país.
– Ao Poder Legislativo cabe legislar e fiscalizar, sendo ambas igualmente importantes. Exerce tam-
bém alguns controles como: político-administrativo e o financeiro-orçamentário. Pelo primeiro con-
trole, cabe a análise do gerenciamento do Estado, podendo, inclusive, questionar atos do Poder Exe-
cutivo, pelo segundo controle, aprovar ou reprovar contas públicas.
– Ao Poder Judiciário cabe a função jurisdicional, que consiste na aplicação da lei a um caso con-
creto, que lhe é apresentado como resultado de um conflito de interesses.
Todo homem que detém o poder tende a abusar dele, afirma Montesquieu. Seguindo o pensamento
dessa corrente, tudo estaria perdido se o poder de fazer as leis, o de executar as resoluções públicas
e o de punir crimes ou solver pendências entre particulares, se reunissem num só homem ou associa-
ção de homens, com isso, freia-se o poder, pelo poder. Vamos exemplificar:
Adoção de Medidas Provisórias, com força de Lei, conforme determina o artigo 62 da Constituição
Federal de 1988 – “Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar Me-
didas Provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional”.
Observa-se o Art. 53. §1º “Os deputados e senadores desde a expedição do diploma serão submeti-
dos a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal”.
Esse mecanismo assegura que nenhum poder irá sobrepor-se ao outro, trazendo uma independência
harmônica nas relações de governança. Existem diversas outras medidas de relacionamento desses
poderes tendo sempre como escopo o equilíbrio.
Na nossa atual Constituição Federal a divisão dos Poderes entre Executivo, Legislativo e Judiciário
é Cláusula Pétrea (aquelas que não são objetos de deliberações/mudanças), disposto no Art. 60. §4º.
No último mês, milhares de jovens em todo Brasil levantaram placas exigindo mais educação, saúde
e segurança pública e e reivindicando melhoras no transporte público, com reduções de tarifas, entre
tantos outros assuntos que viraram pautas de discussões nacional. Muitos, no entanto, cobravam da
presidente Dilma Rousseff as resoluções por todos estes problemas.
História
Desde a antiguidade muitos estudiosos, pensadores e filósofos discutiam questões sobre a Política e
sua organização.
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TRÊS PODERES
Entretanto, foi o filósofo, político e escritor francês Charles-Louis de Secondat (1689-1755), mas co-
nhecido por Montesquieu, quem desenvolveu, no século XVIII, a “Teoria da Separação dos Poderes”.
Essa Teoria relatada em sua obra “O Espírito das Leis”, apresentava a divisão dos poderes políticos e
seus respectivos campos de atuação.
Vale lembrar que, antes de Montesquieu outros grandes filósofos já haviam feito referência sobre a
importância desse modelo de Estado. Como exemplo notório, temos o filósofo grego Aristóteles (384
a.C.-322 a.C.) e sua obra intitulada “Política”.
Desde aquela época, o objetivo central da divisão dos poderes no campo político era o de descentra-
lizar o poder. Isso porque ele estava concentrados nas mãos de um pequeno grupo.
A ideia central era de favorecer um Estado mais justo, democrático e igualitário para todos os cida-
dãos.
Poder Executivo
O Poder Executivo, como o próprio nome já pressupõe, é o poder destinado a executar, fiscalizar e
gerir as leis de um país.
No âmbito deste poder está a Presidência da República, Ministérios, Secretarias da Presidência, Ór-
gãos da Administração Pública e os Conselhos de Políticas Públicas.
Sendo assim, essa escala do poder decide e propõe planos de ação de administração e de fiscaliza-
ção de diversos Programas (social, educação, cultura, saúde, infraestrutura) a fim de garantir quali-
dade e a eficácia dos mesmos.
É válido destacar que no município, o Poder Executivo é representado pelo Prefeito enquanto a nível
estatal é representado pelo Governador.
Poder Legislativo
O Poder Legislativo é o poder que estabelece as Leis de um país. Ele é composto pelo Congresso
Nacional, ou seja, a Câmara de Deputados, o Senado, Parlamentos, Assembleias, cuja atribuição
central é de propor leis destinadas a conduzir a vida do país e de seus cidadãos.
O Poder Legislativo, além de desempenhar o papel de elaboração das leis que regerão a sociedade,
também fiscaliza o Poder Executivo.
Poder Judiciário
O Poder Judiciário atua no campo do cumprimento das Leis. É o Poder responsável por julgar as cau-
sas conforme a constituição do Estado.
É composto por juízes, promotores de justiça, desembargadores, ministros, representado por Tribu-
nais, com destaque para o Supremo Tribunal Federal – STF.
Essencialmente, o Poder Judiciário tem a função de aplicar a lei, julgar e interpretar os fatos e confli-
tos, cumprindo desta forma, a Constituição do Estado.
Curiosidades
A “Teoria dos Três Poderes” do Filósofo Montesquieu, influenciou na criação da Constituição dos Es-
tados Unidos. Com isso, a divisão dos três poderes da esfera política, tornou-se a base de qualquer
Estado Democrático Contemporâneo.
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TRÊS PODERES
Os mais antigos dos três poderes é o Poder Judiciário, uma vez que na cidade Grega de Atenas exis-
tiam tribunais formados pelo povo. Além de possuírem suas funções legislativas, tinham como princi-
pal intuito julgar as causas dos cidadãos atenienses.
No Brasil, o Poder Executivo e o Poder Legislativo são definidos a partir de votação direta, enquanto
o Poder Judiciário é direcionado por ministros indicados pelo Presidente da República e aprovados
pelo Senado.
O Brasil tem três poderes: o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. Juntos, eles garantem as bases
da democracia nacional. Entenda a função de cada um dos poderes brasileiros!
Poder Executivo
O Poder Executivo é governamental. Ele executa as leis, ou seja, coloca em prática a agenda do go-
verno e implementa as ações necessárias para que uma cidade, estado ou o próprio país tenha políti-
cas de desenvolvimento, obras executadas, saúde, educação, segurança, entre outras coisas.
O executivo é comandado por prefeitos, governadores e pelo presidente da república. A principal obri-
gação deste poder é aplicar corretamente as leis. Além disso, no âmbito nacional, o executivo se en-
carrega das relações com nações estrangeiras, com a manutenção das forças armadas e a adminis-
tração de todos os serviços e órgãos públicos que atendem às necessidades da população.
Poder Legislativo
O Poder Legislativo é o responsável pela criação das leis. Os políticos que fazem parte deste poder
têm a missão de legislar a favor do país, criando leis que garantam o desenvolvimento e sejam capa-
zes de suprir as necessidades da população.
O legislativo é responsável por elaborar as leis que regulam o Estado. Esse poder é exercido dentro
de um congresso, parlamento, assembleia ou câmara. O legislativo determina as normas de direito
para toda a sociedade.
Nos municípios, este poder está representado nas câmaras municipais. Existem ainda as assem-
bleias legislativas dos Estados, a Câmara dos Deputados e o Senado Federal (que formam o Con-
gresso Nacional).
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TRÊS PODERES
Uma função importante do poder legislativo é a de fiscalizar as ações do Poder Executivo. Além
disso, esse poder também vota leis orçamentárias.
No Brasil, o Poder Legislativo tem perfil bicameral, com duas Casas de Leis com autonomia: a Câ-
mara dos Deputados, composta por 513 membros; e o Senado, formado por 81 membros. Os políti-
cos se encarregam de votar emendas à Constituição, leis complementares, leis ordinárias, medidas
provisórias, decretos legislativos e resoluções.
Poder Judiciário
O Poder Judiciário é responsável por julgar e fazer valer as leis criadas pelo Poder Legislativo. Este
poder segue a constituição e é formado por ministros, desembargadores e juízes.
O poder judiciário tem uma hierarquia, composta por instâncias. Neste contexto, estão a Justiça Esta-
dual e a Justiça Federal. Também existem as Justiças do Trabalho, Eleitoral e Militar.
Os órgãos do Poder Judiciário são o Supremo Tribunal Federal, o Superior Tribunal de Justiça, os Tri-
bunais Regionais e os Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal.
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BRASIL NO TERCEIRO MILÊNIO
O BRASIL CARREGA a sina dos países atrasados, que constituem (pelo menos desde o início da
globalização, no século XV) a grande maioria.
Com o capitalismo industrial, a partir do fim do século XVIII, criou-se uma divisão internacional de tra-
balho que partiu o mundo, por quase dois séculos, entre um grupo de nações - o chamado núcleo or-
gânico - de exportadoras de produtos manufaturados e de capitais e outro - periférico - constituído pe-
las demais, exportadoras de produtos primários. O núcleo orgânico da economia mundial monopoli-
zava o progresso técnico e, por isso, era adiantado: tinha produtividade sempre mais elevada, ditava
os padrões de consumo nos países semiperiféricos e periféricos, transmitia suas teorias científicas e
ideologias políticas aos mesmos.
Obviamente, para os países excluídos do núcleo orgânico, o grande desafio era e continua sendo su-
perar o atraso mediante desenvolvimento acelerado, transformando-se de país importador de capi-
tais, tecnologia, modas e idéias em produtor e exportador dos mesmos.
Cumpre notar que, a partir do final do século XIX, um crescente número de países conseguiu vencer
este desafio: os Estados Unidos e a Alemanha primeiro, mas quase em seguida vários países da Eu-
ropa ocidental e central, além de Canadá, Austrália e Nova Zelândia. Após esta primeira leva, uma
segunda conseguiu superar o atraso na última metade do século XX, na qual se destacam Japão, Itá-
lia e Espanha e que inclui países asiáticos como Coréia do Sul, Taiwan e Singapura.
É interessante observar que, nos últimos 50 anos, o número de países que começou a se desenvol-
ver foi muito maior do que o dos que lograram superar inteiramente o atraso. A maioria das chama-
das economias em desenvolvimento ficou no meio do caminho. Alcançou níveis expressivos de in-
dustrialização e urbanização, formou uma burguesia nacional e uma classe média de assalariados
com renda relativamente elevada, mas nas últimas duas décadas seu ritmo de desenvolvimento arre-
feceu e a distância entre eles e o núcleo orgânico voltou a aumentar. São os países semidesenvolvi-
dos, nos quais uma parte importante da população permanece mergulhada na pobreza e no atraso.
A América Latina, liderada de certa maneira por Brasil, México e Argentina, seguiu esse percurso.
Tendo sido descolonizada muito antes da Ásia e da África, a América Latina pôde iniciar seu desen-
volvimento por substituição de importações antes da Primeira Guerra Mundial e já integrava a semi-
periferia em meados do século XIX.
Não por acaso, a mais sofisticada teoria do desenvolvimento, a da dependência, é em sua origem la-
tino-americana. Quando a teoria foi formulada, na CEPAL, o desafio de vencer o atraso estava bem
consciente no Brasil e nos países vizinhos. E até 1980, tudo levava a crer que pelo menos o Brasil (e
possivelmente o México) estava em vias de lográ-lo.
Mas, a partir de 1980, a economia mundial começou a entrar em uma série de crises, sinalizando pro-
fundas transformações em seus fundamentos. A maior de todas foi a desregulamentação, na verdade
a privatização, do mercado mundial de capitais, decisiva para que, a partir desta época, a hegemonia
na economia mundial passasse das mãos dos governos nacionais articulados a empresas produtivas
para as de multiempresas internacionais, capitaneadas pelo que se pode chamar de capital finan-
ceiro.
Não cabe, nos limites deste breve ensaio, discutir a etimologia de capital financeiro. Importa esclare-
cer que ele se refere ao capital dos intermediários financeiros (também chamado capital bancário), ou
seja, trata-se duma fração do capital especializado na prestação de serviços financeiros: emissão de
meios de pagamento, guarda e administração de valores, concessão de financiamentos, emissão de
contratos de seguros etc.
O capital financeiro é o principal arquiteto da acumulação de capital realizada pelos capitais produti-
vos, isto é, investidos em atividades produtoras de valores de uso (bens e serviços que satisfazem
direta ou indiretamente necessidades finais).
O capital financeiro representa os interesses - e em geral compartilha a visão de mundo - dos deten-
tores de riqueza financeira, ou seja, do capital aplicado em ativos financeiros: depósitos bancários,
ações, fundos de pensão, fundos de investimento, títulos de dívida pública ou privada etc.
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BRASIL NO TERCEIRO MILÊNIO
Os detentores de ativos financeiros não constituem uma classe, pois a maior parte da população está
nesta categoria, inclusive todos os beneficiários da previdência social e do fgts, no Brasil. Mas, há um
pequeno número de grandes detentores de ativos financeiros que exerce profissionalmente a especu-
lação financeira, contribuindo para reconfigurar a economia mundial periodicamente mediante a movi-
mentação de fluxos de capital.
Este grupo, que podemos chamar de burguesia rentista, até a década de 70 teve de se submeter,
conjuntamente com o capital financeiro, às diretrizes das autoridades monetárias nacionais e aos pla-
nos nacionais de desenvolvimento, liderados frequentemente pelas empresas de serviços de infra-
estrutura, inseridas em sua maioria no setor produtivo estatal.
A partir de então, a burguesia rentista passou a gozar cada vez de mais liberdade para movimentar
seus capitais entre países e setores, e assim adquiriu uma arma fatal - a fuga de capitais - para punir
os governos que contrariassem seus interesses e/ou ideais.
O interesse primordial da burguesia rentista está em apreciar o seu capital e evitar que ele seja de-
preciado por inflação. Como todos sabem, a inflação transfere renda dos credores aos devedores,
pois a subida dos preços diminui o poder aquisitivo dos créditos. Por definição, todos os rentistas são
credores.
Para a burguesia rentista, um governo que promove inflação é um inimigo mortal e governos que a
toleram ou são incompetentes em combatê-la devem ser substituídos. Além disso, é de interesse da
burguesia rentista que a taxa de juros seja alta, ao menos mais alta do que a inflação esperada, o
que contraria o interesse dos investidores de capital produtivo, pois estes financiam suas inversões a
juros e se obrigam a pagá-los a partir de seus lucros.
Assim, é para a nossa melhor vantagem reduzir a taxa de juros ... é provável que a taxa de juros caia
perenemente, se é para tornar viável manter condições mais ou menos contínuas de pleno emprego
o retorno deles [dos instrumentos de capital] teria de cobrir pouco mais do que seu desgaste pelo uso
e obsolescência junto com alguma margem para cobrir risco e o exercício de habilidade e julgamento.
(...) Bem, embora esta situação seja bastante compatível com individualismo em certa medida, ela
significaria a eutanásia do rentista e consequentemente a eutanásia do poder opressor cumulativo do
capitalista em explorar o valor de escassez do capital" (Keynes, 1936:375-376, sublinhado no original)
Mas, a rebeldia de estudantes e jovens operários em maio de 1968 e os choques do petróleo dos
anos 70 provocaram elevada inflação nos países adiantados, o que desmoralizou a política de desen-
volvimento e de pleno emprego e ensejou a reviravolta neoliberal. O essencial da mudança funda-
mental acima referida foi realizada durante a gestão de Paul Volker (1979-1987) no Fed, o banco cen-
tral dos EUA.
Volker adotou o monetarismo como doutrina da política monetária e durante quatro anos - de 1979 a
1983 - arrochou o crédito nos Estados Unidos, provocando assim a mais profunda e longa recessão
desde os anos 30.
Devido ao grande peso da economia norte-americana na economia mundial, os bancos centrais dos
outros países foram obrigados a imitar o Fed, de modo que a recessão os atingiu igualmente.
A taxa de juros subiu em um nível inédito em tempos de paz, o que impedia países fortemente endivi-
dados de servir seus débitos.
O debacle da moeda mexicana, em agosto de 1982, inaugurou a crise da dívida externa, que atingiu
toda a América Latina e os países da Europa Oriental, Ásia e África. O Brasil e outros países que até
então estavam superando o atraso foram violentamente arremessados de volta a ele.
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BRASIL NO TERCEIRO MILÊNIO
A contra-revolução de Volker foi esmiuçada por Greider (1987) em obra destinada a virar clássico, in-
titulada sugestivamente Segredos do templo. Greider mostra que desde sempre as finanças estive-
ram envolvidas em sacrossanto mistério, como algo importante demais e complexo demais para ser
julgado por leigos.
Por isso, a opinião pública dos EUA suportou o desemprego, as perdas de salário e os juros de Vol-
ker sem se revoltar. O mesmo aconteceu nos outros países. A nova hegemonia financeira alcançou
seu desígnio maior: a inflação caiu para não se levantar mais mediante a liquidação do poder de
pressão e barganha dos sindicatos operários, dos agricultores e do resto da pequena burguesia.
A partir desse período, nos países adiantados, o poder de decisão sobre a economia passou do mi-
nistro de economia ou de finanças para o chefe do banco central. Em termos sociais, a hegemonia
passou dos administradores públicos, aliados à burguesia industrial e dos serviços, para a burguesia
rentista, representada pelos banqueiros, administradores de fundos e operadores do mercado finan-
ceiro.
O Brasil demorou um pouco em aderir ao figurino político neoliberal. Em 1990, Collor começou a abrir
o mercado interno e provocou imensa recessão inútil para debelar a inflação, mas que serviu para de-
bilitar os setores organizados das classes sociais. Em 1995, fhc acabou com a inflação cavalgando
imensa onda de inversões externas, das quais boa parte de curto prazo.
Com o real sobrevalorizado, o saldo da balança comercial tornou-se cada vez mais negativo e o défi-
cit da balança de serviços inchou por causa da expansão das remessas de juros, lucros e outros ren-
dimentos, além da farra do turismo no exterior. O desenlace já era visível desde 1996, mas os espe-
culadores se deixaram cegar pela incessante demonstração de confiança no governo brasileiro dos ...
outros especuladores. É o conhecido comportamento de rebanho: para onde o grosso dos aplicado-
res vai, os demais são obrigados a ir também.
O Brasil acabou sendo colhido por todas as crises financeiras, pois é o país que mais se endivida e
que - depois da China, entre os semiperiféricos - mais recebe inversões diretas. Com isso, a década
de 90 revelou-se mais perdida que a dos 80.
Em termos relativos, o atraso do Brasil aumentou de 1980 para cá. E não apenas em termos quantita-
tivos, ou seja, pelo aumento da diferença de renda per capita entre o Brasil e os países adiantados. O
sucateamento de parte da infra-estrutura e a privatização do restante, ao lado da desnacionalização
de parcela significativa da grande indústria brasileira também reduzem a possibilidade de o Brasil su-
perar o atraso mediante desenvolvimento acelerado nos próximos anos.
Na tabela, os dados oferecem uma idéia de como cinco diferentes países, entre os quais o Brasil, au-
mentaram ou diminuíram o seu atraso em relação aos adiantados, aqui representados pelo G-7, o
grupo de países mais ricos do mundo, formado por Japão, Alemanha, Estados Unidos, França, Ca-
nadá, Itália e Reino Unido. Adotamos o PNB per capita médio desses sete países como representa-
ção da meta que os países atrasados desejam alcançar.
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BRASIL NO TERCEIRO MILÊNIO
A Rússia, em 1960, já era um país semidesenvolvido, com um PNB per capita de 45% da meta; 19
anos depois, a então urss havia se aproximado mais um pouco do G-7, tendo 46,2% do seu PNB per
capita.
Neste ritmo, a urss levaria ainda séculos para se juntar ao núcleo orgânico da economia mundial.
Mas, em 1991, no meio de pavorosa crise econômica, a urss se dissolveu e a maior parte dela for-
mou a atual Federação Russa, que ainda prossegue em regressão econômica. Em 1995, o seu
PNB per capita em dólares nominais tinha caído a quase a metade do nível de 1979, representando
apenas 8,9% do G-7.
O Brasil também era semidesenvolvido em 1960, com PNB per capita de 18,2% da meta; nas duas
décadas seguintes, conseguiu acelerar o seu desenvolvimento de modo que em 1979 seu PNB per
capita tinha chegado a 20% do do G-7. Neste ritmo, também o Brasil levaria ainda séculos para se
tornar adiantado.
E também no nosso caso, o desenvolvimento após 1980 quase cessou, de modo que em 1995 o
PNB per capita representava apenas 14,5% da meta. Em termos relativos, embora o nosso recuo te-
nha sido minúsculo perto do russo, estávamos em 1995 mais longe da meta (com 14,5%) do que esti-
véramos em 1960 (com 18,2%).
O país que obteve melhor desempenho, dos que constam da tabela, foi a Coréia do Sul. Em 1960, o
seu PNB per capita era apenas 12,2% da meta; em 1979 já alcançava 16,6% e em 1995 havia encur-
tado a distância ao chegar a 38,5% da meta. Tendo somado 21,9 pontos percentuais em 16 anos
(1979-1995), a Coréia do Sul alcançaria o PNB per capita do G-7 em mais 45 anos se pudesse conti-
nuar a adicionar 1,37 ponto percentual por ano ao seu índice. Não resta dúvida que a Coréia do Sul
esteve superando o atraso com um ritmo admirável de desenvolvimento durante os 35 anos abrangi-
dos pela tabela.
A Malásia também se desenvolveu, mas em ritmo apenas um pouco superior ao do núcleo orgânico
da economia mundial. Por isso o seu índice apresenta incrementos mínimos, passando de 15,1% em
1960 para 15,4% em 1979 e 15,5% em 1995. Não dá para dizer que a Malásia está superando o seu
atraso, mas sua posição em relação à meta em 1995 já era melhor do que a do Brasil.
O caso da China é o mais intrigante. Em 1979, seu PNB per capita era 2,9% do da meta, o que pres-
supõe nível muito baixo de desenvolvimento. A partir desse ano, a sua economia tem crescido a ta-
xas muito elevadas e suas exportações de manufaturados literalmente estouraram no mercado mun-
dial.
Não obstante, seu PNB per capitaem 1995 representava apenas 2,5% do da meta, tendo havido re-
gressão relativa. É provável que esse resultado paradoxal seja devido à desvalorização da moeda
chinesa, que deve ter ajudado a expandir suas exportações mas reduziu o valor de seu PNB em dóla-
res.
Os dados, embora sumários e baseados numa única variável, não deixam dúvida de que o desafio
com que o Brasil se defronta no limiar do terceiro milênio é extremamente difícil, basicamente porque
o núcleo orgânico da economia mundial não deixou de crescer também, embora a taxas modestas
durante as últimas décadas.
Os países adiantados estão desencadeando forte onda de inovação tecnológica, que revoluciona a
produtividade do trabalho e os padrões de consumo. Desse modo, os países do núcleo orgânico se
adiantam cada vez mais, obrigando as economias que visam vencer seu atraso a acelerar muito o
seu desenvolvimento.
Tal aceleração requer um esforço coordenado dos setores público e privado, no sentido de elevar a
eficiência dos segmentos já implantados no país e de implantar novos que não só incorporam tecno-
logias de ponta, mas também satisfazem necessidades básicas do povo. A meta do Brasil não se li-
mita a vencer o atraso, mas que o desenvolvimento beneficie a maioria do povo, até hoje marginali-
zada da maior parte dos ganhos já logrados.
Vencer o atraso é um desafio colocado pela história, mas ele só adquire sentido concreto se servir
para eliminar a pobreza do Brasil, o que exige políticas de geração de trabalho e renda que incorpo-
rem o quinto da força de trabalho que está involuntariamente ocioso e o rápido aumento da oferta de
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BRASIL NO TERCEIRO MILÊNIO
bens e serviços que os beneficiários da redistribuição da renda irão querer comprar. Tais políticas sig-
nificam investir em educação e saúde, habitação e alimentação, em transporte, energia, telecomuni-
cações entre demais serviços de infra-estrutura.
Diante deste desafio, o Brasil enquanto economia política tem se enfraquecido visivelmente. A privati-
zação de serviços de infra-estrutura, precedida por corte de subsídios e consequente elevação tarifá-
ria, implica menos acesso aos mesmos das camadas de baixa renda. Outro tanto se passa quando
bancos públicos, que deveriam servir à clientela de pouca renda, são privatizados e inclusive desnaci-
onalizados.
A grande vantagem do Brasil para vencer o atraso tem sido e continua sendo o seu vasto mercado
interno. As políticas de liberalização, privatização e desnacionalização negam tal vantagem. O mer-
cado interno foi aberto às importações, de forma açodada e impensada, permitindo-se o aniquila-
mento de ramos inteiros de produção e de milhares de empresas nacionais.
É claro que tem havido também avanços, em setores modernos e globalizados, como informática e
telecomunicações. Só que esses avanços dependem da política econômica das multiempresas glo-
bais, que encaram o Brasil como parte integrante de mercados globais, sem qualquer empatia com o
desafio de superar o atraso, que infelicita importante parcela do povo.
Dilemas
Diante deste desafio histórico, o Brasil se defronta com dois dilemas fundamentais. Um, quanto ao
modo de se inserir na economia mundial; outro, quanto ao regime de desenvolvimento a adotar.
Como vimos, a economia mundial está sendo crescentemente dominada pelo capital financeiro, o que
implica que as agências multilaterais, como o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial e a
Organização Mundial do Comércio tentem impor, aos países membros, políticas que subordinem a
economia ao livre funcionamento dos mercados. Tudo isso, patrocinado e estimulado pelos Estados
Unidos e demais grandes potências, que lideram politicamente o sistema mundial.
Uma das possibilidades abertas ao Brasil é procurar se inserir na economia mundial de acordo com
as novas regras, que exigem crescente abertura do mercado interno às importações de mercadorias
e de capitais e decrescente interferência estatal nos mercados internos, inclusive no de capitais e no
de trabalho. Isso significa abrir mão das políticas clássicas de industrialização, que se mostraram in-
dispensáveis a todos os países retardatários (inclusive os Estados Unidos) que, até o momento, fo-
ram capazes de penetrar no núcleo orgânico. Como por exemplo a preservação do mercado interno a
setores de indústrias novas, chamadas de infantes; o favorecimento das mesmas em termos de finan-
ciamento, incentivos fiscais, compras públicas e assim por diante.
Essa forma de inserção, que com toda justiça deve ser chamada de neoliberal, só deixa aberta uma
via de desenvolvimento. A que resulta da inversão externa, sobretudo a que provém de empresas
multinacionais (EMNs).
E não há dúvida que estas investem em países periféricos, sobretudo no Brasil, que tem sido um dos
maiores receptores de inversões externas diretas do Terceiro Mundo. Entre 1990 e 1998, a China re-
cebeu US$ 247 bilhões, vindo a seguir o Brasil e o México, com US$ 69 bilhões, Singapura com US$
61, a Malásia com US$ 38, a Argentina com US$ 36, Indonésia com US$ 26, Tailândia com US$ 25,
Coréia do Sul e Hungria com US$ 20 e Hong Kong com US$ 16 (Carta da sobeet n.13)
Por esta enumeração, fica evidente que as EMNs investem sobretudo em países periféricos semide-
senvolvidos.
Elas o fazem para aproveitar as vantagens comparativas que eles oferecem, tais como mão-de-obra
com alguma qualificação a baixo custo, imensos incentivos fiscais, acesso a mercados com potencial
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BRASIL NO TERCEIRO MILÊNIO
de crescimento. É duvidoso, para dizer o mínimo, que os investimentos das EMNs transfiram aos paí-
ses periféricos nos quais investem funções nobres como planejamento estratégico, pesquisa tecnoló-
gica ou o desenvolvimento de novos produtos.
Algumas EMNs estão globalizando seus grupos controladores, mas apenas entre países do núcleo
orgânico (como a nova Daimler-Chrysler, por exemplo). Por isso, deve-se supor que a EMN típica
mantém as funções mais nobres no país que abriga sua matriz, de modo que a inversão externa di-
reta em país periférico, como o nosso, em nada contribui para que supere seu atraso.
O resultado é a rápida deterioração das contas externas, seguida por fuga de capitais, ajustamento
estrutural, em geral monitorado pelo fmi e, em sequência por recessão que se prolonga até que as
contas públicas e externas do país receptor se reequilibrem. O Brasil passou por esta experiência
duas vezes nos últimos 18 anos. Apesar de abundantes inversões externas recebidas desde 1995, o
nosso desenvolvimento tem sido medíocre.
A outra opção aberta ao Brasil de como se inserir na economia mundial é centrar o esforço de supe-
ração do atraso no mercado interno e suscitar o surgimento de EMNs brasileiras (ou sul-americanas),
com competitividade suficiente para poder se defrontar com suas congêneres no mercado mundial.
Esta opção implica desafiar a dominação financeira da economia mundial e o paradigma neoliberal
imperante.
O desenvolvimento seria fomentado mediante políticas de industrialização que aliam um setor público
produtivo - energia elétrica, telecomunicações, saneamento básico, setores de alta tecnologia - a em-
presas controladas por residentes no país ou na região.
Essa forma de inserção deve ser chamada de intervencionista, pois entrega ao Estado o comando do
processo de desenvolvimento, subordinando o funcionamento dos mercados às suas prioridades, não
implicando isolamento da economia mundial, mas uma inserção na mesma que procura deliberada-
mente, para o Brasil, as vantagens usufruídas pelo núcleo orgânico. A inserção constitui a opção que
possibilitou a superação do atraso pelo Japão e pela Coréia do Sul e que está permitindo tal supera-
ção à China nos dias atuais.
A inserção intervencionista não é uma volta ao passado, pois as políticas de desenvolvimento que
funcionaram entre 1934 e 1980 dificilmente poderiam ser aplicadas de 2000 em diante. O protecio-
nismo, desta vez, teria de ser seletivo e combinado com planos de ganhos de competitividade que
permitissem reduzir as barreiras gradualmente.
As medidas de amparo fiscal e creditício teriam de ser negociadas em câmaras setoriais, com a parti-
cipação de representantes dos consumidores e dos trabalhadores, para que os ganhos sejam reparti-
dos democraticamente entre todos os participantes.
O Regime de Desenvolvimento
Este dilema se coloca diante da recente troca do regime de desenvolvimento, cujo comando foi sendo
transferido do Estado ao mercado, ou melhor, ao capital financeiro. O bndes e a Petrobrás são rema-
nescentes de um regime de desenvolvimento que está sendo deliberadamente destroçado por meio
da privatização das maiores empresas estatais, inclusive da Vale do Rio Doce, e da maioria dos ban-
cos estatais.
Hoje, o desenvolvimento é liderado por EMNs em setores estratégicos, como finanças, telefonia e
energia elétrica, monitorados passivamente pelo Banco Central e por novas Agências estatais, cuja
missão é garantir que os contratos de concessão sejam cumpridos.
Uma das consequências da opção escolhida é a renúncia do governo federal a reduzir a desigual-
dade regional, que ainda é imensa no Brasil. Em vez de promover investimentos nas regiões mais
atrasadas, ele tolera a guerra fiscal, da qual os únicos vencedores são as EMNs inversoras.
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BRASIL NO TERCEIRO MILÊNIO
O atual regime de desenvolvimento do Brasil, além de seu evidente fracasso em acelerar o desenvol-
vimento do país, consagrou o livre funcionamento dos mercados com sua propensão a concentrar
renda e a ampliar desigualdade econômica.
Como em outros países, também, ele suscita o desenvolvimento rápido da nova economia da infor-
mática e da telemática, gerando um número expressivo de postos de trabalho bem remunerados e
que são ocupados por jovens, melhor adaptados às tecnologias de ponta.
Ao mesmo tempo, ele libera pressões concorrenciais que expelem dos empregos grande número de
assalariados, em todos os níveis, produzindo uma nova pobreza, que se traduz por níveis inéditos de
desemprego, em termos de sua duração e de número de atingidos.
A alternativa ao regime neoliberal de desenvolvimento está sendo construída por governos municipais
e estaduais, que implantam programas de bolsa-escola pelos quais os filhos dos pobres conseguem
frequentar a escola pública em lugar de trabalhar; outros desenvolvem orçamentos participativos, que
permitem a representantes de diversas localidades e setores engajados discutir e negociar as priori-
dades de inversão dos recursos do orçamento público; e outros, ainda organizam desempregados em
cooperativas de trabalho ou de produção, possibilitando sua reintegração à produção social em bases
autogestionárias.
O regime alternativo de desenvolvimento toma por ponto de partida o enfrentamento da crise social.
Ele tem como estratégia a mobilização das vítimas da crise a partir do Estado, em parceria com igre-
jas, sindicatos, ongs e universidades. A Ação da Cidadania contra a Fome, de Betinho, que mobilizou
milhões de pessoas em todo o país, pode ser considerada sua experiência primordial.
A Ação não tem mais sua dimensão inicial, mas deixou frutos institucionais importantes, como a Rede
de Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares, hoje já atuantes em 15 universidades espa-
lhadas pelo Brasil e a Associação Nacional dos Trabalhadores de Empresas Autogeridas e de Partici-
pação Acionária - ANTEAG, que ajudou os trabalhadores de mais de 70 empresas em vias de falir ou
falidas a transformá-las em empreendimentos por eles possuídos e administrados coletivamente.
Atualmente, essas organizações e mais o mst (criando cooperativas nos assentamentos), os Bancos
do Povo municipais e estaduais (financiando microprodutores), os Clubes de Troca (utilizando moeda
comunitária para criar mercado) estão lançando as bases de uma economia de mercado regida não
pela busca do lucro mas pela geração de trabalho e renda, organizada solidariamente em mercados
locais e regionais.
Essas iniciativas são todas ainda muito recentes e poucas delas têm tido apoio efetivo de governos.
Mas, os do Rio Grande do Sul e de Mato Grosso do Sul estão começando a mudar este panorama,
ao lado de dezenas de prefeituras em todo o país.
O regime de desenvolvimento alternativo ao neoliberal só se viabilizará quando for assumido pelo go-
verno federal. Quando isso acontecer, as prioridades serão outras. O crescimento da economia será
condicionado pela demanda acrescida resultante de diversos programas nacionais de redistribuição
de renda e geração de trabalho e renda, o que exigirá novamente políticas de industrialização, mas
desta vez voltadas à satisfação de necessidades básicas de toda a população.
As políticas fiscal e monetária serão colocadas a serviço desses objetivos. A estabilidade dos preços
será preservada, mas não mediante a restrição ao crescimento e a manutenção do desemprego. Ela
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BRASIL NO TERCEIRO MILÊNIO
terá de ser defendida contrapressões altistas numa economia (no dizer de Keynes) "em condições
mais ou menos contínuas de pleno emprego". Isso exigirá a contratação coletiva de salários e preços,
ao longo de cadeias produtivas, por representantes de empresários, trabalhadores e consumidores,
servindo o governo de coordenador e árbitro do processo.
Este regime de desenvolvimento, que podemos chamar de solidário, poderá ser compatibilizado com
certo grau de globalização da economia, desde que os setores estratégicos, como a intermediação
financeira e os serviços de infra-estrutura estejam sob o controle de investidores, trabalhadores e
usuários representando o conjunto do país.
Multinacionais poderão continuar participando da economia, desde que aceitem a participação de tra-
balhadores e consumidores na tomada de certas decisões.
O que não deve ser encarado como improvável se considerarmos o elevadíssimo volume de investi-
mentos externos diretos na China, cuja economia tão pouco é dominada pelo capital financeiro.
O regime solidário de desenvolvimento é um projeto que vai sendo formulado a partir de novas práti-
cas sociais. As grandes experiências históricas de economia solidária sempre foram criadas como
respostas a grandes desafios.
No Brasil, não há de ser diferente. As novas práticas solidárias ainda estão dispersas e não são com-
pletamente conhecidas. Só agora começam a ser pesquisadas e sistematizadas, o que implica con-
fessar que o projeto ainda não está maduro. Mas, face à imensidade da crise social, é provável que
ele esteja pronto quando as condições políticas o tornarem o fulcro da esperança geral.
As condições básicas para um país ser independente, no mundo de hoje, são a auto-suficiência em
alimentos, energia e remédios. Um exemplo disto pode ser encontrado observando-se a atuação da
potência hegemônica, os EUA.
Possuem capacidade de produzir alimentos, não só para abastecer o mercado interno, como também
para exportarem para o Resto do Mundo, constituindo-se na maior nação vendedora de grãos. No
campo de medicamentos, também dominam a tecnologia de vanguarda, sendo capazes de prescindir
de auxílio externo, por intermédio da exploração de recursos naturais de todos os países do mundo,
em especial de nossa floresta amazônica.
Contudo, na área de energia são dependentes. Daí é explicável a ação dos EUA no Oriente Médio,
em especial no Golfo Pérsico, onde com o apoio de Israel conseguem controlar toda a região, ocu-
pando o Iraque e mantendo em permanente defensiva o Irã e outros países produtores de petróleo.
Entretanto, suas necessidades são tão grandes, que os obrigou agora a procurar outras fontes de
petróleo. O interesse dos EUA na região do Mar Cáspio é flagrante. A região é rica em ouro negro. A
ofensiva na Europa Central, com a destruição da Iugoslávia, é sinal claro de quais serão os próximos
passos dos EUA. O massacre no Afeganistão e o controle do Paquistão são outros indícios flagran-
tes. Até no Brasil, a quebra do monopólio estatal do petróleo é um exemplo das intenções dos nossos
irmãos americanos.
Os EUA importaram em 2001 da Venezuela, Colômbia e do Equador mais petróleo do que da Arábia
Saudita e do Kuwait. Daí entende-se a dolarização da economia no Equador, a implantação do Plano
Colômbia e a tentativa de um golpe branco na Venezuela.
A partir de mais dois ou três anos, o Brasil não precisará mais importar petróleo, passando a exporta-
dor em 2015. O nefasto Acordo de Alcântara objetivava, na realidade, criar um enclave americano no
território brasileiro, com a criação de uma base sob controle da potência hegemônica, fechando o
cerco sobre a região Amazônica, sem limite de tempo para sair. Afinal, quem se arriscaria a denunciar
o Acordo, caso assinado?
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BRASIL NO TERCEIRO MILÊNIO
da incúria, desídia e incompetência da administração FHC. Isto, em um país possuidor da maior re-
serva de água doce do mundo, com uma Matriz Energética baseada no insumo água, sem poluição e
de baixo custo. Razões incompreensíveis levaram a administração FHC a tentar mudar esta confortá-
vel situação, obrigando-nos a importar gás da Bolívia. E todos conhecemos a riqueza de URUCU.
Nossa maior vulnerabilidade reside justamente no setor medicamentos, pois somos muito dependen-
tes dos alienígenas. A grande maioria dos laboratórios existentes no Brasil é dominada, bem como a
tecnologia e a matéria prima também, pelos estrangeiros. Recentemente, foi descoberto que um alfa
bloqueador, medicamento bem barato, usado no controle da hipertensão arterial, possuía efeitos sig-
nificativos no combate à hiperplasia prostática. Foi retirado de mercado e relançado, com outro nome
fantasia, muito mais caro.
O mesmo aconteceu com o Regaine (minoxidil) e com o Lipofacton, do laboratório Organon. Será ne-
cessário um esforço gigantesco, mas não impossível, da sociedade brasileira, para, com base na rica
biodiversidade existente em particular na região Amazônica, aplicar investimentos vultosos em pes-
quisa, objetivando tornar a nação auto-suficiente em uma geração, pelo menos no tocante à medicina
curativa essencial.
Infelizmente, a conclusão extraída da atual conjuntura é a de que a Soberania Nacional corre cada
vez mais risco. A ordem jurídica não é mais respeitada no território nacional. As autoridades locais
submetem-se a diretrizes determinadas pelo Resto do Mundo. Burocratas de terceiro escalão do FMI
regulam até o volume de investimento na área social.
A famigerada Lei de Responsabilidade Fiscal foi adotada, por imposição do FMI.Os incautos não per-
ceberam que essa Lei limita as despesas de custeio, justamente para propiciar superávit fiscal primá-
rio, sem incluir o item juros. Como assegurar recursos para aplicação na infra-estrutura social?
Para mantermos nossos Objetivos Nacionais Permanentes, em especial a Soberania Nacional é in-
dispensável o urgente fortalecimento das nossas Instituições, em especial de nossas Forças Arma-
das, além da existência de um governo apto a enfrentar o que será talvez um dos maiores desafios
da nossa História. Preservar para os nossos filhos aquilo que foi tão duramente conquistado pelos
nossos antepassados.
Afinal, o Brasil é dos brasileiros! Caso permaneçamos indiferentes, ausentes, medrosos, nossos fi-
lhos terão o direito de cobrar-nos: Por que não fomos capazes de, além de doar nossas vidas em de-
fesa do que recebemos, dar-lhes razão para continuarem a viver dignamente? Nossos ascendentes
foram capazes de vencer desafios muitos maiores no passado, assegurando-nos este paraíso de
mais de oito milhões e quinhentos mil km2, praticamente todo aproveitável, possuidor de vastos re-
cursos naturais, com um só povo, uma só língua, sem conflitos étnicos, religiosos, raciais. Superar os
obstáculos existentes é nosso dever. É simplesmente uma questão de vontade política. Vamos agir
enquanto é tempo.
As condições básicas para um país ser independente, no mundo de hoje, são a autossuficiência em
alimentos, energia e remédios.
A EMRAPA, hoje prejudicada pela falta de recursos, deverá ser novamente fortalecida, a fim de cum-
prir seu nobre papel de agente de fomento à produção agropecuária, com a geração de tecnologia de
ponta. E ainda existe a possibilidade de expansão da área cultivada.
No setor de energia, o Brasil, não se encontra em situação confortável, apesar de contar com uma
matriz energética baseada no insumo de água, sem poluição e de baixo custo.
Isto devido, principalmente, à ação de inúmeras ONG, comandadas do exterior, que buscam impedir
o progresso do Brasil, criando problemas inexistentes, em especial no tocante
ao meio ambiente.
Nossa maior vulnerabilidade reside, justamente, no setor de medicamentos, pois somos muito depen-
dente do exterior. A grande maioria dos laboratórios existentes no Brasil é dominada, bem como a
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BRASIL NO TERCEIRO MILÊNIO
Foi retirado de mercado e relançado, com outro nome fantasia, muito mais caro. Será necessário um
esforço gigantesco da sociedade brasileira, para, com base na rica biodiversidade existente, em parti-
cular na região amazônica, aplicar investimentos vultosos em pesquisa, objetivando tornar a nação
autossuficiente em uma geração, pelo menos no tocante à medicina curativa essencial.
Infelizmente, a conclusão extraída da atual conjuntura é a de que a soberania nacional corre cada vez
mais risco. A demarcação irresponsável de vastos e ricos territórios como “áreas indígenas” e o reco-
nhecimento dos “quilombolas” pode ocasionar sérios riscos à integridade do Patrimônio Nacional,
com a perda de parte relevante do território nacional.
Para consecução dos nossos objetivos nacionais, é indispensável o urgente fortalecimento das nos-
sas instituições, em especial das forças armadas, além da existência de um governo apto a enfrentar
o que será, talvez, um dos maiores desafios da nossa História: preservar para os nossos filhos aquilo
que foi tão duramente conquistado pelos nossos antepassados.
Caso permaneçamos indiferentes, ausentes, medrosos, nossos filhos terão o direito de cobrar-nos:
Por que não fomos capazes de, além de doar nossas vidas em defesa do que recebemos, dar-lhes
razão para continuarem a viver dignamente? Nossos ascendentes foram capazes de vencer desafios
muitos maiores no passado, assegurando-nos este paraíso de mais de oito milhões e quinhentos mil
km², praticamente todo aproveitável, possuidor de vastos recursos naturais, com um só povo, uma só
língua, sem conflitos étnicos, religiosos, raciais. Superar os obstáculos existentes é nosso dever. É
simplesmente uma questão de vontade política. Vamos agir enquanto é tempo.
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Diretrizes Curriculares Nacionais
para a Educação das Relações
Étnico-Raciais e para o Ensino
de História e Cultura Afro-Brasileira
e Africana
Tarso Genro
Ministro da Educação
Matilde Ribeiro
Ministra Chefe da Secretaria Especial de Políticas
de Promoção da Igualdade Racial
I – RELATÓRIO
Este parecer visa a atender os propósitos expressos na Indicação CNE/CP 6/
2002, bem como regulamentar a alteração trazida à Lei 9.394/96 de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional, pela Lei 10.639/2000, que estabelece a obrigatoriedade do ensino de
História e Cultura Afro-Brasileira e Africana na Educação Básica. Desta forma, busca cum-
prir o estabelecido na Constituição Federal nos seus Art. 5º, I, Art. 210, Art. 206, I, § 1° do
Art. 242, Art. 215 e Art. 216, bem como nos Art. 26, 26 A e 79 B na Lei 9.394/96 de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que asseguram o direito à igualdade de condi-
ções de vida e de cidadania, assim como garantem igual direito às histórias e culturas que
compõem a nação brasileira, além do direito de acesso às diferentes fontes da cultura
nacional a todos brasileiros.
Juntam-se a preceitos analógicos os Art. 26 e 26 A da LDB, como os das
Constituições Estaduais da Bahia (Art. 275, IV e 288), do Rio de Janeiro (Art. 306), de
Alagoas (Art. 253), assim como de Leis Orgânicas, tais como a de Recife (Art. 138), de
Belo Horizonte (Art. 182, VI), a do Rio de Janeiro (Art. 321, VIII), além de leis ordinárias,
como lei Municipal nº 7.685, de 17 de janeiro de 1994, de Belém, a Lei Municipal nº
2.251, de 30 de novembro de 1994, de Aracaju e a Lei Municipal nº 11.973, de 4 de
janeiro de 1996, de São Paulo .(1)
Junta-se, também, ao disposto no Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei
8.096, de 13 de junho de 1990), bem como no Plano Nacional de Educação (Lei 10.172,
de 9 de janeiro de 2001).
Todos estes dispositivos legais, bem como reivindicações e propostas do
Movimento Negro ao longo do século XX, apontam para a necessidade de diretrizes que
orientem a formulação de projetos empenhados na valorização da história e cultura dos
afro-brasileiros e dos africanos, assim como comprometidos com a de educação de
relações étnico-raciais positivas, a que tais conteúdos devem conduzir.
(1)
Belém – Lei Municipal nº 7.6985, de 17 de janeiro de 1994, que “Dispõe sobre a inclusão, no currículo
escolar da Rede Municipal de Ensino, na disciplina História, de conteúdo relativo ao estudo da Raça Negra na
formação sócio-cultural brasileira e dá outras providências”.
Aracaju – Lei Municipal nº 2.251, de 30 de novembro de 1994, que “Dispõe sobre a inclusão, no currículo
escolar da rede municipal de ensino de 1º e 2º graus, conteúdos programáticos relativos ao estudo da Raça
Negra na formação sócio-cultural brasileira e dá outras providências.
São Paulo – Lei Municipal nº 11.973, de 4 de janeiro de 1996, que “Dispõe sobre a introdução nos currículos
das escolas municipais de 1º e 2º graus de estudos contra a discriminação”.
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais
9
e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana
Destina-se, o parecer, aos administradores dos sistemas de ensino, de
mantenedoras de estabelecimentos de ensino, aos estabelecimentos de ensino, seus
professores e a todos implicados na elaboração, execução, avaliação de programas de
interesse educacional, de planos institucionais, pedagógicos e de ensino. Destina-se,
também, às famílias dos estudantes, a eles próprios e a todos os cidadãos comprome-
tidos com a educação dos brasileiros, para nele buscarem orientações, quando preten-
derem dialogar com os sistemas de ensino, escolas e educadores, no que diz respeito
às relações étnico-raciais, ao reconhecimento e valorização da história e cultura dos
afro-brasileiros, à diversidade da nação brasileira, ao igual direito à educação de quali-
dade, isto é, não apenas direito ao estudo, mas também à formação para a cidadania
responsável pela construção de uma sociedade justa e democrática.
Em vista disso, foi feita consulta sobre as questões objeto deste parecer, por
meio de questionário encaminhado a grupos do Movimento Negro, a militantes individu-
almente, aos Conselhos Estaduais e Municipais de Educação, a professores que vêm
desenvolvendo trabalhos que abordam a questão racial, a pais de alunos, enfim a cida-
dãos empenhados com a construção de uma sociedade justa, independentemente de
seu pertencimento racial. Encaminharam-se em torno de mil questionários e o respon-
deram individualmente ou em grupo 250 mulheres e homens, entre crianças e adultos,
com diferentes níveis de escolarização. Suas respostas mostraram a importância de se
tratarem problemas, dificuldades, dúvidas, antes mesmo de o parecer traçar orienta-
ções, indicações, normas.
Questões introdutórias
(3)
FRANTZ, Fanon. Os condenados da terra. 2.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979.
(3)
§ 2°, Art. 26A, Lei 9.394/1996 : Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão minis-
trados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e
História Brasileiras.
(4)
Neste sentido, ver obra que pode ser solicitada ao MEC: MUNANGA, Kabengele (org): Superando o racis-
mo na escola. Brasília: Ministério da Educação, 2001.
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais
21
e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana
da memória histórica; – à história da ancestralidade e religiosidade africana; –
aos núbios e aos egípcios, como civilizações que contribuíram decisivamente
para o desenvolvimento da humanidade; – às civilizações e organizações polí-
ticas pré-coloniais, como os reinos do Mali, do Congo e do Zimbabwe; – ao
tráfico e à escravidão do ponto de vista dos escravizados; – ao papel de euro-
peus, de asiáticos e também de africanos no tráfico; - à ocupação colonial na
perspectiva dos africanos; – às lutas pela independência política dos países
africanos; – às ações em prol da união africana em nossos dias, bem como o
papel da União Africana, para tanto; – às relações entre as culturas e as histó-
rias dos povos do continente africano e os da diáspora; – à formação compul-
sória da diáspora, vida e existência cultural e histórica dos africanos e seus
descendentes fora da África; – à diversidade da diáspora, hoje, nas Américas,
Caribe, Europa, Ásia; – aos acordos políticos, econômicos, educacionais e
culturais entre África, Brasil e outros países da diáspora.
- O ensino de Cultura Afro-Brasileira destacará o jeito próprio de ser, viver e
pensar manifestado tanto no dia-a-dia, quanto em celebrações como congadas,
moçambiques, ensaios, maracatus, rodas de samba, entre outras.
- O ensino de Cultura Africana abrangerá: – as contribuições do Egito para a
ciência e filosofia ocidentais; – as universidades africanas Timbuktu, Gao,
Djene que floresciam no século XVI; – as tecnologias de agricultura, de
beneficiamento de cultivos, de mineração e de edificações trazidas pelos
escravizados, bem como a produção científica, artística (artes plásticas, lite-
ratura, música, dança, teatro), política, na atualidade .
- O ensino de História e de Cultura Afro-Brasileira, se fará por diferentes meios,
inclusive, a realização de projetos de diferentes naturezas, no decorrer do
ano letivo, com vistas à divulgação e estudo da participação dos africanos e
de seus descendentes em episódios da história do Brasil, na construção eco-
nômica, social e cultural da nação, destacando-se a atuação de negros em
diferentes áreas do conhecimento, de atuação profissional, de criação
tecnológica e artística, de luta social (tais como: Zumbi, Luiza Nahim, Aleija-
dinho, Padre Maurício, Luiz Gama, Cruz e Souza, João Cândido, André
Rebouças, Teodoro Sampaio, José Correia Leite, Solano Trindade, Antonieta
de Barros, Edison Carneiro, Lélia Gonzáles, Beatriz Nascimento, Milton San-
tos, Guerreiro Ramos, Clóvis Moura, Abdias do Nascimento, Henrique Antunes
Cunha, Tereza Santos, Emmanuel Araújo, Cuti, Alzira Rufino, Inaicyra Falcão
dos Santos, entre outros).
- O ensino de História e Cultura Africana se fará por diferentes meios, inclusive a
realização de projetos de diferente natureza, no decorrer do ano letivo, com
vistas à divulgação e estudo da participação dos africanos e de seus descen-
dentes na diáspora, em episódios da história mundial, na construção econômi-
ca, social e cultural das nações do continente africano e da diáspora, destacan-
22 Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais
e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana
do-se a atuação de negros em diferentes áreas do conhecimento, de atuação
profissional, de criação tecnológica e artística, de luta social (entre outros:
rainha Nzinga, Toussaint-L’Ouverture, Martin Luther King, Malcom X, Marcus
Garvey, Aimé Cesaire, Léopold Senghor, Mariama Bâ, Amílcar Cabral, Cheik
Anta Diop, Steve Biko, Nelson Mandela, Aminata Traoré, Christiane Taubira).
Para tanto, os sistemas de ensino e os estabelecimentos de Educação Bási-
ca, nos níveis de Educação Infantil, Educação Fundamental, Educação Média, Educação
de Jovens e Adultos, Educação Superior, precisarão providenciar:
- Registro da história não contada dos negros brasileiros, tais como em rema-
nescentes de quilombos, comunidades e territórios negros urbanos e rurais.
- Apoio sistemático aos professores para elaboração de planos, projetos, sele-
ção de conteúdos e métodos de ensino, cujo foco seja a História e Cultura
Afro-Brasileira e Africana e a Educação das Relações Étnico-Raciais.
- Mapeamento e divulgação de experiências pedagógicas de escolas, estabe-
lecimentos de ensino superior, secretarias de educação, assim como levan-
tamento das principais dúvidas e dificuldades dos professores em relação ao
trabalho com a questão racial na escola e encaminhamento de medidas para
resolvê-las, feitos pela administração dos sistemas de ensino e por Núcleos
de Estudos Afro-Brasileiros.
- Articulação entre os sistemas de ensino, estabelecimentos de ensino superi-
or, centros de pesquisa, Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros, escolas, co-
munidade e movimentos sociais, visando à formação de professores para a
diversidade étnico-racial.
- Instalação, nos diferentes sistemas de ensino, de grupo de trabalho para
discutir e coordenar planejamento e execução da formação de professores
para atender ao disposto neste parecer quanto à Educação das Relações
Étnico-Raciais e ao determinado nos Art. 26 e 26A da Lei 9.394/1996, com
o apoio do Sistema Nacional de Formação Continuada e Certificação de Pro-
fessores do MEC.
- Introdução, nos cursos de formação de professores e de outros profissionais
da educação: de análises das relações sociais e raciais no Brasil; de conceitos
e de suas bases teóricas, tais como racismo, discriminações, intolerância, pre-
conceito, estereótipo, raça, etnia, cultura, classe social, diversidade, diferença,
multiculturalismo; de práticas pedagógicas, de materiais e de textos didáticos,
na perspectiva da reeducação das relações étnico-raciais e do ensino e apren-
dizagem da História e Cultura dos Afro-brasileiros e dos Africanos.
- Inclusão de discussão da questão racial como parte integrante da matriz
curricular, tanto dos cursos de licenciatura para Educação Infantil, os anos
iniciais e finais da Educação Fundamental, Educação Média, Educação de
Jovens e Adultos, como de processos de formação continuada de professo-
res, inclusive de docentes no Ensino Superior.
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais
23
e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana
- Inclusão, respeitada a autonomia dos estabelecimentos do Ensino Superior,
nos conteúdos de disciplinas e em atividades curriculares dos cursos que
ministra, de Educação das Relações Étnico-Raciais, de conhecimentos de
matriz africana e/ou que dizem respeito à população negra. Por exemplo: em
Medicina, entre outras questões, estudo da anemia falciforme, da problemá-
tica da pressão alta; em Matemática, contribuições de raiz africana,
identificadas e descritas pela Etno-Matemática; em Filosofia, estudo da filo-
sofia tradicional africana e de contribuições de filósofos africanos e
afrodescendentes da atualidade.
- Inclusão de bibliografia relativa à história e cultura afro-brasileira e africana
às relações étnico-raciais, aos problemas desencadeados pelo racismo e por
outras discriminações, à pedagogia anti-racista nos programas de concur-
sos públicos para admissão de professores.
- Inclusão, em documentos normativos e de planejamento dos estabelecimen-
tos de ensino de todos os níveis – estatutos, regimentos, planos pedagógi-
cos, planos de ensino – de objetivos explícitos, assim como de procedimen-
tos para sua consecução, visando ao combate do racismo, das discrimina-
ções, e ao reconhecimento, valorização e respeito das histórias e culturas
afro-brasileira e africana.
- Previsão, nos fins, responsabilidades e tarefas dos conselhos escolares e de
outros órgãos colegiados, do exame e encaminhamento de solução para si-
tuações de racismo e de discriminações, buscando-se criar situações
educativas em que as vítimas recebam apoio requerido para superar o sofri-
mento e os agressores, orientação para que compreendam a dimensão do
que praticaram e ambos, educação para o reconhecimento, valorização e
respeito mútuos.
- Inclusão de personagens negros, assim como de outros grupos étnico-raci-
ais, em cartazes e outras ilustrações sobre qualquer tema abordado na esco-
la, a não ser quando tratar de manifestações culturais próprias, ainda que não
exclusivas, de um determinado grupo étnico-racial.
- Organização de centros de documentação, bibliotecas, midiotecas, museus,
exposições em que se divulguem valores, pensamentos, jeitos de ser e viver
dos diferentes grupos étnico-raciais brasileiros, par ticularmente dos
afrodescendentes.
- Identificação, com o apoio dos Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros, de fon-
tes de conhecimentos de origem africana, a fim de selecionarem-se conteú-
dos e procedimentos de ensino e de aprendizagens;
- Incentivo, pelos sistemas de ensino, a pesquisas sobre processos educativos
orientados por valores, visões de mundo, conhecimentos afro-brasileiros e
indígenas, com o objetivo de ampliação e fortalecimento de bases teóricas
para a educação brasileira.
24 Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais
e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana
- Identificação, coleta, compilação de informações sobre a população negra,
com vistas à formulação de políticas públicas de Estado, comunitárias e
institucionais.
- Edição de livros e de materiais didáticos, para diferentes níveis e modalida-
des de ensino, que atendam ao disposto neste parecer, em cumprimento ao
disposto no Art. 26A da LDB, e, para tanto, abordem a pluralidade cultural e
a diversidade étnico-racial da nação brasileira, corrijam distorções e equívo-
cos em obras já publicadas sobre a história, a cultura, a identidade dos
afrodescendentes, sob o incentivo e supervisão dos programas de difusão
de livros educacionais do MEC – Programa Nacional do Livro Didático e Pro-
grama Nacional de Bibliotecas Escolares (PNBE).
- Divulgação, pelos sistemas de ensino e mantenedoras, com o apoio dos
Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros, de uma bibliografia afro-brasileira e de
outros materiais como mapas da diáspora, da África, de quilombos brasilei-
ros, fotografias de territórios negros urbanos e rurais, reprodução de obras
de arte afro-brasileira e africana a serem distribuídos nas escolas da rede,
com vistas à formação de professores e alunos para o combate à discrimina-
ção e ao racismo.
- Oferta de Educação Fundamental em áreas de remanescentes de quilombos,
contando as escolas com professores e pessoal administrativo que se dispo-
nham a conhecer física e culturalmente, a comunidade e a formar-se para
trabalhar com suas especificidades.
- Garantia, pelos sistemas de ensino e entidades mantenedoras, de condições
humanas, materiais e financeiras para execução de projetos com o objetivo
de Educação das Relações Étnico-Raciais e estudo de História e Cultura Afro-
Brasileira e Africana, assim como organização de serviços e atividades que
controlem, avaliem e redimensionem sua consecução, que exerçam fiscali-
zação das políticas adotadas e providenciem correção de distorções.
- Realização, pelos sistemas de ensino federal, estadual e municipal, de ativi-
dades periódicas, com a participação das redes das escolas públicas e pri-
vadas, de exposição, avaliação e divulgação dos êxitos e dificuldades do
ensino e aprendizagem de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana e da
Educação das Relações Étnico-Raciais; assim como comunicação detalhada
dos resultados obtidos ao Ministério da Educação, à Secretaria Especial de
Promoção da Igualdade Racial, ao Conselho Nacional de Educação, e aos
respectivos Conselhos Estaduais e Municipais de Educação, para que enca-
minhem providências, quando for o caso.
- Adequação dos mecanismos de avaliação das condições de funcionamento
dos estabelecimentos de ensino, tanto da educação básica quanto superior,
ao disposto neste Parecer; inclusive com a inclusão nos formulários, preen-
chidos pelas comissões de avaliação, nos itens relativos a currículo, atendi-
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais
25
e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana
mento aos alunos, projeto pedagógico, plano institucional, de quesitos que
contemplem as orientações e exigências aqui formuladas.
- Disponibilização deste parecer, na sua íntegra, para os professores de todos
os níveis de ensino, responsáveis pelo ensino de diferentes disciplinas e ati-
vidades educacionais, assim como para outros profissionais interessados a
fim de que possam estudar, interpretar as orientações, enriquecer, executar
as determinações aqui feitas e avaliar seu próprio trabalho e resultados obti-
dos por seus alunos, considerando princípios e critérios apontados.
II – VOTO DA COMISSÃO
Face ao exposto e diante de direitos desrespeitados, tais como:
· o de não sofrer discriminações por ser descendente de africanos;
· o de ter reconhecida a decisiva participação de seus antepassados e da sua
própria na construção da nação brasileira;
· o de ter reconhecida sua cultura nas diferentes matrizes de raiz africana;
- diante da exclusão secular da população negra dos bancos escolares,
notadamente em nossos dias, no ensino superior;
- diante da necessidade de crianças, jovens e adultos estudantes sentirem-
se contemplados e respeitados, em suas peculiaridades, inclusive as étni-
co-raciais, nos programas e projetos educacionais;
- diante da importância de reeducação das relações étnico/raciais no Brasil;
- diante da ignorância que diferentes grupos étnico-raciais têm uns dos ou-
tros, bem como da necessidade de superar esta ignorância para que se
construa uma sociedade democrática;
- diante, também, da violência explícita ou simbólica, gerada por toda sorte
de racismos e discriminações, que sofrem os negros descendentes de
africanos;
- diante de humilhações e ultrajes sofridos por estudantes negros, em todos
os níveis de ensino, em conseqüência de posturas, atitudes, textos e mate-
riais de ensino com conteúdos racistas;
- diante de compromissos internacionais assumidos pelo Brasil em conven-
ções, entre outros os da Convenção da UNESCO, de 1960, relativo ao com-
bate ao racismo em todas as formas de ensino, bem como os da Confe-
rência Mundial de Combate ao Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia
e Discriminações Correlatas de 2001;
- diante da Constituição Federal de 1988, em seu Art. 3º, inciso IV, que ga-
rante a promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça,
sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação; do inciso 42
do Artigo 5º que trata da prática do racismo como crime inafiançável e
imprescritível; do § 1º do Art. 215 que trata da proteção das manifesta-
ções culturais;
- diante do Decreto 1.904/1996, relativo ao Programa Nacional de Direitos
Humanas que assegura a presença histórica das lutas dos negros na
constituição do país;
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais
27
e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana
- diante do Decreto 4.228, de 13 de maio de 2002, que institui, no âmbito da
Administração Pública Federal, o Programa Nacional de Ações Afirmativas;
- diante das Leis 7.716/1999, 8.081/1990 e 9.459/1997 que regulam os
crimes resultantes de preconceito de raça e de cor e estabelecem as penas
aplicáveis aos atos discriminatórios e preconceituosos, entre outros, de
raça, cor, religião, etnia ou procedência nacional;
- diante do inciso I da Lei 9.394/1996, relativo ao respeito à igualdade de
condições para o acesso e permanência na escola; diante dos Arts 26, 26
A e 79 B da Lei 9.394/1996, estes últimos introduzidos por força da Lei
10.639/2003, proponho ao Conselho Pleno:
a) instituir as Diretrizes explicitadas neste parecer e no projeto de Resolu-
ção em anexo, para serem executadas pelos estabelecimentos de ensino
de diferentes níveis e modalidades, cabendo aos sistemas de ensino, no
âmbito de sua jurisdição, orientá-los, promover a formação dos profes-
sores para o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, e para
Educação das Relações Ético-Raciais, assim como supervisionar o cum-
primento das diretrizes;
b) recomendar que este Parecer seja amplamente divulgado, ficando dispo-
nível no site do Conselho Nacional de Educação, para consulta dos pro-
fessores e de outros interessados.
Mensagem de veto
Desenvolvimento Sustentável
Essa definição surgiu na Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada pelas
Nações Unidas para discutir e propor meios de harmonizar dois objetivos: o desenvolvimento
econômico e a conservação ambiental.
Esse conceito representou uma nova forma de desenvolvimento econômico, que leva em conta o
meio ambiente.
Muitas vezes, desenvolvimento é confundido com crescimento econômico, que depende do consumo
crescente de energia e recursos naturais. Esse tipo de desenvolvimento tende a ser insustentável,
pois leva ao esgotamento dos recursos naturais dos quais a humanidade depende.
Atividades econômicas podem ser encorajadas em detrimento da base de recursos naturais dos
países. Desses recursos depende não só a existência humana e a diversidade biológica, como o
próprio crescimento econômico.
Junte-Se A Nós!
Sua colaboração é fundamental para conservarmos o meio ambiente e garantirmos qualidade de vida
para nós e nossas futuras gerações.
Afilie-se!
Pegada Ecológica
O desenvolvimento econômico é vital para os países mais pobres, mas o caminho a seguir não pode
ser o mesmo adotado pelos países industrializados. Mesmo porque não seria possível.
Caso as sociedades do Hemisfério Sul copiassem os padrões das sociedades do Norte, a quantidade
de combustíveis fósseis consumida atualmente aumentaria 10 vezes e a de recursos minerais, 200
vezes.
Os crescimentos econômico e populacional das últimas décadas têm sido marcados por
disparidades.
Embora os países do Hemisfério Norte possuam apenas um quinto da população do planeta, eles
detêm quatro quintos dos rendimentos mundiais e consomem 70% da energia, 75% dos metais e
85% da produção de madeira mundial.
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DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Desenvolvimento Sustentável
O conceito surgiu, em 1983, criado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento,
da Organização das Nações Unidas (ONU).
Ele foi criado para propor uma nova forma de desenvolvimento econômico aliado ao ambiental:
Princípios E Objetivos
• Desenvolvimento econômico
• Desenvolvimento social
• Conservação ambiental
Para isso, são priorizadas ações em prol de uma sociedade mais justa, igualitária, consciente, de
modo a trazer benefícios para todos. Ao mesmo tempo, deve-se reconhecer que os recursos naturais
são finitos.
Em 2015, foram definidos os objetivos do desenvolvimento sustentável (ODS). Eles deverão orientar
as políticas nacionais e as atividades de cooperação internacional até 2030.
O Brasil participou das negociações para a definição dos objetivos do desenvolvimento sustentável.
Após a definição dos ODS, o país criou a Agenda Pós-2015, para articular e orientar as atividades a
serem desenvolvidas.
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DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
1. Erradicar a pobreza
2. Erradicar a fome
3. Saúde de qualidade
4. Educação de qualidade
5. Igualdade de gênero
14.Vida na água
15.Vida terrestre
Além disso, teve papel determinante na aprovação dos seguintes documentos internacionais:
• Agenda 21
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DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
• Biodiversidade
• Mudanças Climáticas
• Desertificação
Exemplos
• Reciclagem
• Reflorestamento
Sustentabilidade
Desenvolvimento Sustentável
Este conceito foi apresentado ao mundo em um estudo realizado pela ONU em 1987, chamado
“Nosso futuro comum”. Entre dezenas de recomendações, apresenta duas preocupações
fundamentais:
• A preservação do meio ambiente para as futuras gerações – garantindo recursos naturais para a
subsistência da espécie humana e demais seres vivos.
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DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
• A diminuição da fome e da pobreza – que segundo o estudo, é causa, mas também é provocada
pelo desequilíbrio ecológico e pelo alto padrão de consumo.
Aqui compreendemos que o conceito de desenvolvimento sustentável não se limita apenas à noção
de preservação dos recursos naturais. Para construir sociedades sustentáveis é necessário ter por
princípio, a equidade econômica, a justiça social, o incentivo à diversidade cultural e defesa do meio
ambiente.
O entendimento que existe uma ligação entre pobreza e degradação ambiental, é uma das bases do
conceito de desenvolvimento sustentável. A promoção da melhoria da qualidade de vida das
populações pobres, a evolução nas políticas de saneamento, saúde e combate à fome são tão
importantes para as gerações futuras quanto a disponibilidade de recursos naturais.
Sustentabilidade
“Todos têm o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.”
No texto acima é possível notar que os aspectos sociais como a qualidade de vida dos cidadãos e a
necessidade de preservação dos recursos para o futuro não foram esquecidos, estando assim em
consonância com o conceito global de desenvolvimento sustentável.
Esse conceito de desenvolvimento sustentável, embora questionado por muitos especialistas da área
ambiental, foi elaborado durante os debates da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento, criada pela Assembleia Geral da ONU no ano de 1983.
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DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
da natureza, mas com a preocupação latente de manter a procura pelo atendimento das
necessidades básicas de todas as populações do mundo.
O debate sobre a questão da sustentabilidade em todo mundo está diretamente ligado à forma com
que os diferentes países se desenvolveram. O chamado “mundo desenvolvido”, formado pelo eixo do
norte, é composto pelos lugares que primeiro se industrializaram e se urbanizaram, instalando os
paradigmas da modernidade em suas estruturas sociais. Por outro lado, o grupo dos países
periféricos, composto pelo eixo do sul, é de recente desenvolvimento industrial ou ainda nem por
esse processo passou.
Diante desse panorama, há duas necessidades principais a serem atendidas: a) diminuir o elevado
nível de consumo e exploração dos recursos naturais pelos países ricos, que é extremamente
elevado; b) garantir que os países pobres também se modernizem, mas sem atingir os padrões de
agressão ao meio natural promovidos pelas principais potências econômicas do planeta.
Alguns estudos realizados tanto por instituições científicas quanto pela Organização das Nações
Unidas revelam que precisaríamos de vários planetas iguais à Terra em termos de recursos naturais
casos todos os países mantivessem o mesmo nível de consumo do mundo desenvolvido. Outros
dados apontam que o nosso planeta não aguentaria um nível econômico equivalente a quatro países
como os Estados Unidos, que são os que mais consomem e, consequentemente, mais poluem e
mais reduzem a oferta de bens naturais.
A questão de como realizar uma verdadeira política de sustentabilidade ambiental também é alvo de
profundos debates. Não há um consenso sobre quais seriam as medidas necessárias, havendo
grupos mais moderados, que garantem que apenas a contenção do consumo e a adoção de medidas
para reduzir a poluição seriam suficientes, e aqueles que afirmam que medidas mais radicais
precisam ser urgentemente implementadas.
- Reconhecer que mesmo os recursos renováveis são finitos e podem se esgotar a longo prazo;
- Redução ou fim do uso de combustíveis fósseis e sua substituição por combustíveis limpos;
- Redução do uso de fontes de energia que agridem o meio natural, com incentivo a produções de
energia a partir de usinas solares, eólicas e outras;
- Distribuição das terras e dos espaços agricultáveis para impedir o avanço da agropecuária sobre as
florestas;
- Incentivos públicos e privados para a realização de pesquisas científicas que ajudem a diminuir a
poluição e o consumo.
Como podemos ver, existem várias propostas, embora nem todas sejam consenso entre os líderes
mundiais e os especialistas da área. O que podemos dizer é que o sistema capitalista precisa, de
certa forma, frear a busca incessante pelo lucro sem a medição das consequências, em que países
são sempre pressionados a manterem superavit e crescimentos de seus Produtos Internos Brutos, o
que dificulta a realização de alguns dos itens acima elencados.
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DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Em suma, é preciso haver uma gestão ambiental para conter a exploração dos recursos e manter um
nível econômico socialmente justo e igualitário, uma vez que a proliferação da pobreza, da
desigualdade e da miséria também pode ser considerada como um problema para a contenção da
poluição e do uso indiscriminado dos meios naturais.
Sabemos que existem os recursos naturais não renováveis, ou seja, aqueles que não podem renovar-
se naturalmente ou pela intervenção humana, tais como o petróleo e os minérios; e que também
existem os recursos naturais renováveis. No entanto, é errôneo pensar que esses últimos sejam
inesgotáveis, pois o seu uso indevido poderá extinguir a sua disponibilidade na natureza, com
exceção dos ventos e da luz solar, que não são diretamente afetados pelas práticas de exploração
econômica.
Dessa forma, é preciso adotar medidas para conservar esses recursos, não tão somente para que
eles continuem disponíveis futuramente, mas também para diminuir ou eliminar os impactos
ambientais gerados pela exploração predatória. Assim, o ambiente das florestas e demais áreas
naturais, além dos cursos d'água, o solo e outros elementos necessitam de certo cuidado para
continuarem disponíveis e não haver nenhum tipo de prejuízo para a sociedade e o meio ambiente.
Em 1987, foi elaborado o Relatório “Nosso Futuro Comum”, mais conhecido como Relatório
Brundtland, que formalizou o termo desenvolvimento sustentável e o tornou de conhecimento público
mundial. Em 1992, durante a ECO-92, o conceito “satisfazer as necessidades presentes, sem
comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades” tornou-se o
eixo principal da conferência, concentrando os esforços internacionais para o atendimento dessa
premissa. Com esse objetivo, foi elaborada a Agenda 21, com vistas a diminuir os impactos gerados
pelo aumento do consumo e do crescimento da economia pelo mundo.
Medidas Sustentáveis
Dentre as medidas que podem ser adotadas tanto pelos governos quanto pela sociedade civil em
geral para a construção de um mundo pautado na sustentabilidade, podemos citar:
- preservação das áreas de proteção ambiental, como reservas e unidades de conservação de matas
ciliares;
- adoção da política dos 3Rs (reduzir, reutilizar e reciclar) ou dos 5Rs (repensar, recusar, reduzir,
reutilizar e reciclar);
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DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
- diminuição da emissão de poluentes na atmosfera, tanto pelas chaminés das indústrias quanto
pelos escapamentos de veículos e outros;
- opção por fontes limpas de produção de energia que não gerem impactos ambientais em larga e
média escala;
- adoção de formas de conscientizar o meio político e social das medidas acimas apresentadas.
Essas medidas são, portanto, formas viáveis e práticas de se construir uma sociedade sustentável
que não comprometa o meio natural tanto na atualidade quanto para o futuro a médio e longo prazo.
Em seu sentido mais amplo, a estratégia de desenvolvimento sustentável visa a promover a harmonia
entre os seres humanos e entre a humanidade e a natureza. No contexto específico das crises do
desenvolvimento e do meio ambiente surgidas nos anos 80 - que as atuais instituições políticas e
econômicas nacionais e internacionais ainda não conseguiram e talvez não consigam superar-, a
busca do desenvolvimento sustentável requer:
• um sistema político que assegure a efetiva participação dos cidadãos no processo decisório;
• um sistema social que possa resolver as tensões causadas por um desenvolvimento não-
equilibrado;
Segundo o Relatório Brundtland, uma série de medidas devem ser tomadas pelos Estados nacionais:
a) limitação do crescimento populacional; b) garantia de alimentação a longo prazo; c) preservação
da biodiversidade e dos ecossistemas; d) diminuição do consumo de energia e desenvolvimento de
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DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
tecnologias que admitem o uso de fontes energéticas renováveis; e) aumento da produção industrial
nos países não-industrializados à base de tecnologias ecologicamente adaptadas; f) controle da
urbanização selvagem e integração entre campo e cidades menores; g) as necessidades básicas
devem ser satisfeitas. No nível internacional, as metas propostas pelo Relatório são as seguintes: h)
as organizações do desenvolvimento devem adotar a estratégia de desenvolvimento sustentável; i) a
comunidade internacional deve proteger os ecossistemas supranacionais como a Antártica, os
oceanos, o espaço; j) guerras devem ser banidas; k) a ONU deve implantar um programa de
desenvolvimento sustentável.
No que tange ao privado, a ONG Roy F. Weston recomenda que o conceito de desenvolvimento
sustentável, assim que é assimilado pelas lideranças de uma empresa -e passa a ser almejado como
uma nova forma de se produzir sem trazer prejuízos ao meio ambiente e, indiretamente, à sociedade
em geral-, deve se estender a todos os níveis da organização, para que depois seja formalizado um
processo de identificação do impacto da produção da empresa no meio ambiente. Em seguida, é
necessário que se crie, entre os membros da empresa, uma cultura que tenha os preceitos de
desenvolvimento sustentável como base. O passo final é a execução de um projeto que alie produção
e preservação ambiental, com uso de tecnologia adaptada a este preceito (como empresas que
atingiram metas de aplicação de um projeto de desenvolvimento sustentável a ONG cita a 3M, o
McDonald’s, a Dow, a DuPont, a Pepsi, a Coca-Cola e a Anheuser-Busch).
A ONG prega que não se deve implementar estratégias de desenvolvimento sustentável de uma só
vez, “como uma revolução, mas como uma evolução”, de forma gradual, passo a passo. É preciso
ainda que haja uma integração entre indústria, comércio e comunidade, de forma que um programa
de melhorias sócio-ambientais numa região se dê de forma conjunta e harmoniosa. O poder público,
tanto no âmbito municipal como nos âmbitos estadual e nacional, deve atuar de maneira a
proporcionar adequadas condições para o cumprimento de um programa de tal proporção, desde a
feitura de uma legislação apropriada ao desenvolvimento sustentável até a realização de obras de
infra-estrutura, como a instalação de um sistema de água e esgoto que prime pelo não-desperdício e
pelo tratamento dos dejetos.
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DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
sistematicamente, num processo acelerado de degradação ambiental muito mais vigoroso do que o
poder da legislação voltada à sua contenção. Pior: o Brasil não está se aproximando da marca
dominante da inovação tecnológica contemporânea, cada vez mais orientada a colocar a ciência a
serviço de sistemas produtivos altamente poupadores de materiais, de energia, e capazes de
contribuir para a regeneração da biodiversidade.
Este texto apresenta dois exemplos em que os significativos progressos dos últimos anos são
ameaçados pela ausência do horizonte estratégico voltado ao desenvolvimento sustentável, tanto por
parte do governo como das direções empresariais: de um lado a redução no desmatamento da
Amazônia não é acompanhada por mudança no padrão dominante de uso dos recursos. Assim,
apesar da contenção da devastação florestal, prevalece entre os agentes econômicos a idéia central
de que a produção de commodities (fundamentalmente carne, soja e madeira de baixa qualidade),
minérios e energia é a vocação decisiva da região. Além disso, ao mesmo tempo em que se reduz o
desmatamento na Amazônia, amplia-se de maneira alarmante a devastação do cerrado e da
caatinga. De outro lado, o segundo exemplo aqui apresentado mostra que o trunfo representado pela
matriz energética brasileira não tem sido aproveitado para a construção de avanços industriais
norteados pela preocupação explícita em reduzir o uso de materiais e de energia nos processos
produtivos. A conseqüência e o risco é que o crescimento industrial brasileiro — ainda que marcado
por emissões relativamente baixas de gases de efeito estufa — se distancie do padrão dominante da
inovação contemporânea, cada vez mais orientada pela descarbonização da economia.
Avanços Significativos...
O ano de 2009 marca uma virada decisiva na postura do Brasil diante das mudanças climáticas. Até
então, a diplomacia brasileira recusava-se a assumir metas de redução de emissões. O argumento
era de que o Protocolo de Kyoto (assinado em dezembro de 1997 para entrar em vigor em fevereiro
de 2005) não estabelecia obrigação neste sentido. Além disso, os países responsáveis
historicamente pela maior parte da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera ou não
tinham assinado o protocolo (caso dos Estados Unidos até hoje) ou não conseguiam reduzir suas
emissões na proporção com a qual se comprometeram. Esta recusa brasileira, de certa forma,
legitimava como economicamente necessária a principal fonte de emissões do país, que era (e ainda
é) a destruição da superfície florestal na Amazônia e no cerrado. O cerrado brasileiro é encarado, até
hoje, como fronteira agrícola pronta para ser desmatada e não como um bioma portador de uma das
mais importantes biodiversidades do planeta. Entre 2002 e 2008 foi suprimida vegetação nativa em
21 quilômetros quadrados por ano, contra 10 mil na Amazônia, segundo a Procuradoria do Estado de
Goiás3.
Em primeiro lugar, destaca-se a ação vigorosa da polícia federal em coordenação com agências do
Ministério do Meio Ambiente, tanto durante a gestão de Marina Silva como no período em que Carlos
Minc esteve à frente da pasta. O rigor, o profissionalismo e, sobretudo, a independência da polícia
federal é uma das mais importantes conquistas recentes da sociedade brasileira e está na base da
ampliação da luta contra a criminalidade e a corrupção no país. Até hoje são freqüentes as operações
em que autoridades, empresários e técnicos são presos pela ocupação ilegal de terras públicas e
pela venda de madeira dali extraída, sem que a ação da polícia federal seja bloqueada pela pressão
dos interesses políticos ou econômicos por ela feridos.
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DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
O terceiro elemento positivo, que teve início de forma vigorosa durante o governo Fernando Henrique
Cardoso, é a expansão dos parques nacionais e estaduais e a demarcação de áreas indígenas.
Durante a primeira década do milênio, o Brasil é o país que mais aumenta áreas protegidas no
mundo: cerca de metade do que foi criado internacionalmente corresponde a áreas brasileiras5. Hoje,
dos 500 milhões de quilômetros quadrados da Amazônia, quase 8% correspondem a áreas de
proteção integral, 11% destinam-se à exploração sustentável (reservas extrativistas, por exemplo) e
21% são de terras indígenas, conforme informações do Instituto Socioambiental6.
Por fim, é importante assinalar também a formação de instâncias de negociação compostas por
atores diversos em setores cruciais como a soja, os biocombustíveis e, mais recentemente, a
pecuária7. Estas instâncias colegiadas formam-se, muitas vezes, a partir de denúncias feitas por
ONG's que adotam táticas conhecidas como naming and shaming8 com resultados significativos: na
origem da moratória da soja9 e das negociações em torno da pecuária sustentável está a
movimentação brasileira e internacional em que o Greenpeace apontava exatamente as empresas
que usavam produtos resultantes do desmatamento. Embora polêmicas e atravessadas por conflitos
quanto aos critérios com base nos quais avaliam as situações específicas que enfrentam, estas
instâncias de negociação têm um efeito muito importante na conduta dos atores locais.
Esses quatro fatores deram ao ministro Carlos Minc autoridade para que pudesse vencer as
resistências que impediam o comprometimento do Brasil, em Copenhague, com metas de redução
das emissões decorrentes da destruição florestal. Apesar de sua importância, não são, porém, nem
de longe, suficientes para marcar uma estratégia de desenvolvimento sustentável na Amazônia. Ao
contrário, há fortes indícios de que a dinâmica atual do comportamento dos atores vai numa direção
bem diferente da apontada por estes elementos positivos e contribui para distanciar a Amazônia de
uma estratégia de desenvolvimento sustentável.
A Amazônia compete no mundo por suas commodities e não por aquilo que lhe é único. Isso parece
absurdo. É como se você vendesse as chuteiras da seleção brasileira, sem ver que o principal valor
da seleção reside na competência individual dos jogadores, em sua interação orquestrada com a
equipe10.
Esta não é uma particularidade da Amazônia: a Forest Footprint Disclosure elaborou um questionário
submetido a 217 companhias internacionais voltado a compreender como as empresas encaravam o
uso de mercadorias de risco florestal (forest risk commodities): soja, óleo de palma, madeira, carne e
biocombustíveis. A primeira conclusão do texto mostra o quanto as empresas, até aqui, são pouco
sensíveis às oportunidades que o uso sustentável dos recursos representa: "a modesta taxa de
resposta a nosso questionário, neste primeiro ano, reflete o reconhecimento limitado de que o
desmatamento tem uma influência significativa na mudança climática"11. No mesmo sentido, "vários
negócios importantes em que se gasta muito no marketing de segmentos de produtos
ambientalmente amigáveis mostram a inexistência de compromissos com a sustentabilidade de suas
compras totais"12.
É verdade que a pressão social suscitou acordos para que se levasse adiante o rastreamento13 na
área de pecuária e desencadeou a importante moratória da soja, segundo a qual grandes empresas
processadoras e exportadoras deixam de comprar o produto vindo de áreas recentemente
desmatadas. Não é menos certo também que a ação repressiva do Estado teve efeito importante em
conter ao menos em parte o desmatamento. A pesquisa do Instituto de Pesquisa Ambiental da
Amazônia (Ipam), do WWF-Brasil, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e do Woods
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DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Hole Research Centre, em Massachusetts (Estados Unidos), mostra que 37% do desmatamento
evitado entre 2004 e 2006 no Brasil pode ser atribuído à criação de reservas florestais14.
Apesar desses avanços, o que predomina, entretanto, na Amazônia brasileira são coalizões de
interesses15, em que membros se organizam para usar os recursos sociais e naturais a partir da
contestação ou do franco desrespeito às leis vigentes. As organizações empresariais sinalizam a
seus membros, mais que tolerância, a mensagem de que a ocupação do solo voltada à expansão da
exploração madeireira predatória, da pecuária e da soja, bem como a ocupação de áreas indígenas
ou públicas podem ser vetores consistentes de crescimento econômico.
Por exemplo, grandes frigoríficos (entre eles os gigantescos Bertin e JBS) firmaram um acordo com o
Greenpeace e um Termo de Ajustamento de Conduta com o Ministério Público em julho de 2009 de
que não comprariam gado de fazendas onde houvesse desmatamento não autorizado, trabalho
escravo ou ocupação de áreas indígenas ou públicas. Ao final de fevereiro de 2010, porém, apenas
10% dos pecuaristas do Estado do Pará tinham feito o Cadastro Ambiental Rural, pelo qual poderiam
ser monitorados. O presidente da Federação de Agricultura e Pecuária do Pará foi taxativo: "nós não
participamos disso. Esse tipo de providência não se resolve de um dia para outro, vai demorar alguns
anos para se concretizar"16. A verdade é que a pecuária é uma atividade em que o uso ilegal da terra
(e obviamente tudo o que daí se segue em termos de sonegação de impostos) é uma prática
generalizada e amplamente consentida pelas elites locais.
Chama a atenção também a ampla participação de autoridades em crimes para "legalizar" madeira
extraída irregularmente de áreas indígenas ou de reservas florestais. No dia 20 de maio de 2010 a
polícia federal prendeu sessenta pessoas em Mato Grosso, entre as quais o chefe de gabinete do
governador do Estado, o ex-secretário de Meio Ambiente do Estado, além da esposa do presidente
da Assembléia Legislativa, proprietários de terra, engenheiros florestais e servidores públicos17.
Coalizões dominantes podem estabilizar suas relações e seu poder em torno de práticas
ultrapassadas, mas que ainda oferecem horizonte verossímil de ganhos econômicos. Essas coalizões
são abaladas não tanto pela perspectiva de catástrofe apocalíptica, mas pela demonstração da
viabilidade de alternativas que têm sempre uma dimensão político-cultural e não apenas puramente
mercadológica. Por mais que as oportunidades ligadas à economia verde na Amazônia sejam
teoricamente imensas, a verdade é que a grande maioria dos atores locais (e internacionais, como
bem mostram as informações do Forest Footprint Disclosure, citadas acima) concentra seus
conhecimentos, sua interação social e suas práticas reais em torno daquilo que já vêm fazendo há
décadas.
Este horizonte cultural que concebe algum tipo de proteção do meio ambiente, mas distancia-se da
idéia de desenvolvimento sustentável, é fortalecido também pela produção de conhecimentos
voltados a legitimá-lo. É o caso da pesquisa de Evaristo Eduardo de Miranda, da Embrapa, que
procura mostrar que a agricultura brasileira está limitada em sua expansão (e, portanto, em sua
possibilidade de contribuir para o crescimento) em virtude da supostamente excessiva restrição
decorrente da soma de áreas indígenas, reservas florestais, áreas de proteção permanente e
reservas legais dentro das propriedades. A Confederação Nacional da Agricultura fez ampla difusão
deste estudo (nunca publicado em revista científica internacional ou brasileira, mas acessível em
vários sites na internet18) como parte de uma campanha voltada a mostrar que suas bases estavam
ameaçadas por restrições ao uso da terra capazes de prejudicar o desenvolvimento brasileiro. Além
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DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
do absurdo de apresentar cálculos nacionais (não levando em conta que, ao se excluir a Amazônia,
nos outros biomas brasileiros a superfície agrícola útil no Brasil corresponde à de países com
importância agrícola equivalente à sua), o trabalho justamente não leva em conta que dentro de áreas
voltadas à preservação dos ecossistemas, as possibilidades de exploração econômica são inúmeras
com horizonte de ganho extraordinário. No entanto, são atividades empresariais distantes daquilo que
marca as práticas dominantes das elites que controlam o uso da terra na Amazônia.
Uma reserva extrativista, por exemplo, é um território em que a produção de soja não pode avançar,
mas onde os potenciais de uso, com base em produtos não madeireiros da floresta, são
extraordinários. Além dos produtos, os serviços ambientais das florestas podem ser uma fonte de
riqueza muito mais consistente do que as modalidades até aqui que predominam em seu uso e que,
na maior parte das vezes, conduzem à sua destruição. A pedido do International Institute for
Environment and Development, da Grã Bretanha, Landed-Mills e Porras19 estudaram 287 casos em
quase todo o mundo mostrando a existência de promissores mercados voltados à valorização dos
serviços ecossistêmicos prestados pelas florestas: conservação da biodiversidade, seqüestro de
carbono, proteção das bacias hidrográficas (água, solo, prevenção de secas e enchentes, controle da
salinização e manutenção dos ambientes aquáticos) e exploração das belezas naturais são os quatro
principais segmentos em que mercados podem ser explorados e, ao mesmo tempo, contribuir de
maneira decisiva tanto para a resiliência dos ecossistemas, como na luta contra a pobreza. A criação
desses mercados não é simples, mas uma das conclusões importantes deste estudo é que
"mercados são negócios levados adiante por múltiplos atores sociais" (multi-stakeholders affairs).
O empresário Roberto Waack fala do tema com a experiência de quem dirige a mais importante
organização mundial de certificação socioambiental, o Forest Stewardship Council, referindo-se
à proposta do manejo sustentável, que busca reproduzir o ciclo da natureza. Retiram-se algumas
árvores que já estão no final do seu ciclo de vida, deixando suas filhas e netas crescerem e
regenerarem. As toras colhidas são rastreadas até serrarias, que aproveitam ao máximo a madeira
com uso de tecnologias produtivas avançadas. Sementes, frutos, óleos e extratos são colhidos e
armazenados adequadamente, sendo depois transformados em matérias-primas para mercados
sofisticados, como o de cosméticos ou de alimentos. Modelos de remuneração de serviços
ambientais são desenvolvidos, assim como inovações nas formas de precificar e comercializar
certificados de crédito decorrentes do desflorestamento evitado20.
Aldo Rebelo exprime bem os interesses em torno dos quais a maioria do agronegócio se articula23. É
nítido o ambiente de contestação das próprias leis ambientais. É claro que a repressão inibe o que
essas práticas têm de pior: o problema é que o uso predatório dos recursos não é a expressão
episódica de grupos marginais e sim o procedimento habitual de parte majoritária do empresariado,
ou seja, é o modo dominante de se fazer negócios e de, supostamente, promover o crescimento
regional. Os efeitos sobre o conjunto do tecido social e econômico dos locais em que esses
procedimentos prevalecem acabam atingindo todos os setores sociais.
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quase impossíveis em um ambiente democrático. Mas uma rápida listagem de atitudes recentes
mostra que a utilização dos recursos na Amazônia obedece ao velho estilo: concebem-se os projetos
e, em seguida, elaboram-se medidas para atenuar seus impactos ambientais. Em outras palavras,
trata-se de uma estratégia de crescimento econômico em que o meio ambiente é uma externalidade e
será tratado como tal.
O licenciamento ambiental hoje sofre de dois grandes problemas. Em primeiro lugar, não houve um
processo de aprendizagem em que os critérios do licenciamento tenham se tornado mais rigorosos e
voltados aos reais impactos das iniciativas: o licenciamento é excessivamente focado nos efeitos
diretos das obras e não considera temas como os grandes deslocamentos populacionais e seus
resultados futuros previsíveis: a dimensão tópica do licenciamento existe, mas as conseqüências
territoriais dos empreendimentos são mal avaliadas.
O patrimônio natural Amazônico e os serviços ambientais por ele prestados devem ser vistos como
base para uma verdadeira revolução da fronteira da ciência, que deverá prover a harmonia entre o
desenvolvimento regional e a conservação ambiental. A utilização racional dos vastos recursos
naturais da Amazônia deve ser incorporada definitivamente às estratégias de desenvolvimento
nacional26.
Reprimir a ilegalidade, ampliar as áreas de reserva, não financiar quem não cumpre a lei e rastrear a
produção de soja e carne são conquistas fundamentais, mas às quais falta o essencial: oportunidades
de ganhos econômicos e de realização profissional com base em negócios voltados
fundamentalmente a fortalecer a resiliência dos mais importantes ecossistemas do país. O
fortalecimento desse horizonte empresarial permitiria (não sem tensões, é claro) que as atividades
econômicas de populações ribeirinhas, indígenas e extrativistas fossem valorizadas não sobre a base
da destruição da biodiversidade pela qual são hoje responsáveis, mas, ao contrário, a partir de sua
exploração sustentável. Porém até o momento, o setor privado e as políticas governamentais são
claramente dominados por um horizonte que enxerga nos mais importantes biomas brasileiros a
fronteira agrícola a ser desbravada, a jazida de recursos minerais ou um manancial de recursos
energéticos.
O desmatamento respondia em 2000 por 18% das emissões mundiais de gases de efeito estufa, nível
superior ao da indústria e dos transportes, com 14% cada (Gráfico 2).
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DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
No Brasil, as "mudanças no uso da terra e florestas" entram com nada menos que 57,5% das
emissões, segundo os valores preliminares expostos ao senado federal pelo ministro Sérgio Rezende
(Ciência e Tecnologia)27. A agricultura, como mostra a Tabela 1, soma outros 22,1%. O contraste com
a situação mundial é nítido: tanto nos países desenvolvidos, como na China, na Índia e na África do
Sul, a geração de energia é quase inteiramente dependente de fontes fósseis, petróleo, carvão e gás,
basicamente.
Pode-se dizer que, nestes países (onde o desmatamento não representa uma fonte importante de
emissão de gases de efeito estufa quanto no Brasil), a descarbonização das economias ocorre
basicamente em dois planos. Em primeiro lugar, é impressionante o avanço da energia solar, eólica e
geotérmica. Em poucos anos, no berço da indústria petrolífera, a energia eólica vai preencher as
necessidades domésticas de consumo de todo o Texas, como mostra Lester Brown28. Na China e na
União Européia as transformações são igualmente extraordinárias.
O Brasil, nesse sentido, tem um trunfo decisivo — 46% de sua oferta interna de energia vem de
fontes renováveis. A média mundial é de 12,9% e a dos países da OECD não chega a 7%. Na China,
as fontes renováveis entram com apenas 8% do total da oferta de energia29. Em São Paulo, o
horizonte para 2020 é que 57% da energia consumida tenha origem não fóssil. Esse desempenho
explica-se basicamente pelo etanol e pelo uso da energia hidrelétrica.
Não se pode dizer, entretanto que o trunfo da matriz energética brasileira represente por si só uma
estratégia de desenvolvimento sustentável. Em primeiro lugar porque pesa sobre as fontes brasileiras
de energia a dúvida a respeito dos impactos socioambientais de sua expansão: no último plano
decenal de energia da Empresa de Pesquisa Energética30 é previsto forte crescimento de usinas
hidrelétricas na Amazônia, onde, no entanto, é crescente a contestação socioambiental a esse tipo de
iniciativa, como mostram as manifestações recentes em torno da Usina de Belo Monte, no rio Xingu,
no Pará, próximo ao município de Altamira31. No que se refere ao etanol, cuja eficiência energética e
econômica é incontestável, há problemas sérios com relação tanto a suas áreas de preservação
permanente, como, sobretudo, aos impactos de sua expansão no cerrado32. O outro biocombustível
que entra na matriz energética brasileira, o biodiesel, e que deveria ter, quando seus planos de
produção foram concebidos, forte presença da mamona vinda do semi-árido nordestino, hoje é
produzido à base de soja (85% da oferta total), cuja eficiência energética é sabidamente baixa33.
Além disso, chama a atenção no caso brasileiro a dificuldade de diversificar as fontes alternativas de
energia, como, por exemplo, a conversão fotovoltaica de energia solar. Zilles e Rüther34 mostram que,
apesar de promissores, os sistemas fotovoltaicos são pouco estimulados no Brasil. Pior: eles
apontam o perigo de aprovação no Congresso Nacional da medida que isentaria de impostos a
importação de módulos fotovoltaicos, o que acabaria por inibir o desenvolvimento de um forte setor
nacional nesta área. No mesmo sentido, Feitosa35 indica o risco de que o país deixe de aproveitar os
benefícios da energia solar fotovoltaica, hoje mais cara, mas cuja curva de aprendizagem já permite
prever em pouco tempo condições competitivas com relação à convencional.
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O que mais chama a atenção, entretanto, é o contraste flagrante entre a tendência, certamente
positiva, de redução nas emissões de gases de efeito estufa por unidade de produto gerado pela
economia brasileira e, ao mesmo tempo, um aumento preocupante no uso total de energia por parte
da indústria. De forma geral, há fortes indicações de que, nacionalmente, está sendo adotado o que
Lucon e Goldemberg36 não hesitam em chamar de "modelo inercial", que consiste em utilizar o
potencial de hidreletricidade, promover a expansão do etanol, concluir Angra 3 e continuar
dependente do petróleo.
A maneira como se estimula a oferta de energia no Brasil tem o efeito perverso de beneficiar o menor
preço, mesmo que comprometa o meio ambiente. É o que ocorre com o barateamento (e a entrada
vigorosa na matriz energética) das usinas termelétricas, em contraste com a suposta inviabilidade
daquelas que se apóiam em energia solar ou eólica37. Juntando-se a isso a falta de estímulo para a
economia no consumo de energia e os pesados investimentos em petróleo anunciados com o pré-sal,
compreende-se o contraste entre o padrão brasileiro e o internacional quanto à intensidade
energética da economia (ou seja, a quantidade de energia necessária para produzir os bens e os
serviços de que o país depende). A Tabela 2, com dados da Agência Internacional de Energia e da
OECD, mostra que com exceção da Arábia Saudita, o Brasil é o país do G20 que menos reduziu a
intensidade energética de sua economia entre 1990 e 2005.
Na fronteira do avanço tecnológico contemporâneo estão tecnologias que permitem reduzir de forma
crescente a intensidade energética da produção industrial, dos transportes e do próprio consumo
doméstico. Friedman38mostra o avanço das redes elétricas inteligentes (smart grids), em que as
empresas fornecedoras serão remuneradas não em função da ampliação do consumo de seus
clientes, mas, ao contrário, por sua capacidade de promover sua redução. Ao mesmo tempo, os
próprios aparelhos que usam energia elétrica são e serão cada vez mais concebidos para que usem
a menor quantidade possível de energia. Produzir e consumir não apenas emitindo menos carbono,
mas usando menos energia e menos materiais: esta é a dimensão mais relevante das invenções e
das descobertas industriais recentes.
Chama a atenção, nesse sentido, um contraste flagrante entre a tendência, certamente positiva, de
diminuição nas emissões de gases de efeito estufa por unidade de produto gerado pela economia
brasileira e, ao mesmo tempo, um aumento preocupante no uso total de energia. Cai a intensidade de
carbono (pela presença de fontes energéticas pouco dependentes de energia fóssil), mas aumenta a
intensidade energética da indústria.
Estes dados estão claramente expostos no Balanço Energético do Estado de São Paulo, de 2008. De
forma agregada, a economia paulista apresenta uma redução notável da emissão total de CO2 por
queima de combustível, não só por habitante, mas também como razão do Produto Interno Bruto
(PIB) estadual (Gráficos 3 e 4).
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DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
O que há nesta questão, de um lado, é um processo positivo que corresponde ao uso da biomassa
(do etanol) por parte das próprias usinas de cana-de-açúcar e ao fornecimento de energia para a rede
elétrica, que se soma ao emprego de fontes vindas da hidreletricidade. No entanto, de outro lado, o
padrão geral de uso de energia não se altera de forma significativa, o que representa o risco de que a
indústria esteja em descompasso com os parâmetros globais que regem a inovação contemporânea
e onde a redução na intensidade energética é decisiva.
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DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
eficiência pode ser duplamente contestada. De um lado, apesar do avanço tecnológico representado
pelo etanol, seu uso destina-se a motores a explosão interna do qual há fortes indicações de que
corresponde a uma fase em plena superação (em benefício dos motores elétricos) por parte da
indústria automobilística. De outro lado, mesmo que o etanol seja neutro do ponto de vista das
emissões, não se pode dizer que os veículos que ele coloca em movimento são eficientes do ponto
de vista da utilização de energia. São Paulo corre o risco de o combustível limpo escamotear o fato
de que o transporte individual na mega metrópole ser cada vez menos compatível com um mínimo de
eficiência no emprego do tempo e dos recursos materiais.
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AS QUESTÕES AMBIENTAIS COMTEMPORÂNEAS
Todos nós já ouvimos falar a respeito da emissão de gases causadores do efeito estufa e dos
possíveis danos ao planeta. Entretanto, a maioria dos países não possui um plano adequado para
diminuir o impacto que será causado e nem estratégias eficientes para a diminuição da emissão de
gases poluentes na atmosfera.
Os maiores castigados pelas mudanças climáticas serão provavelmente os países tropicais, tais
como o Brasil. Segundo o relatório, poderão ocorrer uma série de inundações, em virtude da
intensificação das tempestades, e períodos longos de estiagem. Nessas duas situações, a pecuária e
a agricultura poderão ser prejudicadas, assim como a sobrevivência de diversas espécies.
Além disso, algumas regiões poderão sofrer com a grande quantidade de chuvas, o que ocasionará
deslizamentos contantes de terra e aumento das enchentes. Outro ponto alarmante diz respeito às
áreas costeiras, que sofrerão com o aumento do nível do mar, graças ao degelo das geleiras
ocasionado pelo aumento da temperatura média do planeta.
As áreas secas do planeta sofrerão ainda mais com a falta de água. Sendo assim, a água potável,
que já é escassa em algumas regiões, poderá ser motivo de mortes e de disputas políticas. Além
disso, com o aumento da seca, a ocorrência de incêndios poderá ser mais frequente, ocasionando
perda de biodiversidade e ameaçando a vida da população.
Diante desse quadro tão assustador, não é difícil concluir que diversas espécies de plantas e animais
entrarão em extinção. Fato esse que já é possível observar nos dias atuais. Além disso, a produção
de alimentos poderá diminuir, uma vez que qualquer mudança climática afeta diretamente o cultivo de
diversas espécies. Com isso, poderá ocorrer uma dificuldade de acesso à alimentação, não somente
aliada à baixa produção, mas também pela possível elevação dos preços.
Apesar de ser inevitável alguns dos problemas relatados, a diminuição da emissão de gases de efeito
estufa é necessária para que a intensidade desses problemas seja diminuída. Além disso, é
fundamental que todos os países estejam juntos para tomar atitudes que poderão ajudar a população
a enfrentar todos os problemas que estão por vir.
A camada de Ozônio é fundamental para a dinâmica do planeta Terra. Sua destruição provoca
diversos impactos para o meio ambiente.
O Ozônio é um gás composto por moléculas com três átomos de oxigênio (O 3). Esse gás encontra-se
distribuído na troposfera, que concentra cerca de 10% de todo o Ozônio, e na estratosfera, que
acumula a maior parte desse gás, cerca de 90%.
Embora seja muito nocivo em contato direto com os seres vivos, o Ozônio presente na estratosfera
exerce um papel fundamental para a manutenção da vida no planeta Terra. Distribuído em uma fina e
instável camada na estratosfera, entre 25 e 30 quilômetros do planeta Terra, esse gás absorve mais
de 95% dos perigosos raios ultravioleta emitidos pelo sol, protegendo a Terra de uma superexposição
a esses raios, o que poderia afetar toda a dinâmica ambiental do planeta.
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AS QUESTÕES AMBIENTAIS COMTEMPORÂNEAS
A partir da década de 1970, tornou-se bastante difundido em meio acadêmico e na mídia que a
quantidade desse gás na estratosfera estaria diminuindo em algumas partes do planeta, gerando
“buracos” na camada de ozônio. Assim, se nada for feito, essa diminuição da quantidade de
O3 poderá ocasionar a destruição total dessa camada tão vital para o nosso planeta. De acordo com o
INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais)1, a concentração desse gás já está 3% mais baixa,
o que resulta em um buraco de 31 milhões de quilômetros quadrados (15% da superfície terrestre) na
região da Antártica no final do inverno e durante toda a primavera.
A maioria dos cientistas atribuiu como principal causa para a destruição da camada de Ozônio as
atividades realizadas pelo ser humano desde a Revolução Industrial, que lançaram uma enorme
quantidade de CFCs e halogênios na atmosfera. Muito encontrados em espumas, aparelhos de
refrigeração e extintores, os CFCs e halogênios, em contato com o Ozônio, provocam a degradação
das moléculas desse gás. Isso acontece porque as moléculas de Ozônio ligam-se aos átomos dessas
substâncias, formando outro elemento, ocorrência que ocasiona a diminuição da concentração desse
gás na atmosfera.
Em virtude dessa constatação, vários países adotaram medidas visando à diminuição do uso dos
CFCs e halogênios. Em 1987, diversos países assinaram o Protocolo de Montreal, no qual se
comprometeram a erradicar o uso de substâncias que provocassem algum dano à Camada de
Ozônio e a implantar uma série de medidas para proteção dessa importante camada da atmosfera.
Atualmente esse protocolo é adotado por 197 países, sendo o único acordo multilateral com adoção
universal do mundo. O Protocolo de Montreal possui mais países adeptos que o Protocolo de Quioto,
que visava à implantação de uma série de medidas para a diminuição da emissão de gases que
aceleram o efeito estufa.
Assim, embora as causas para a destruição da camada de Ozônio ainda sejam contraditórias, sabe-
se que a concentração desse gás está diminuindo e que essa diminuição tem aumentado a
quantidade de raios UV na superfície terrestre, fato que tem causado diversos impactos para a vida
no planeta Terra. Assim, é fundamental que o ser humano adote medidas para evitar que essa
camada seja destruída e para se proteger dos efeitos de sua destruição. Entre as principais medidas
sugeridas para evitar os efeitos da radiação ultravioleta para os seres humanos, estão:
• Evitar a exposição ao Sol no período entre 10 e 16 horas, horário em que a quantidade de raios
ultravioleta é maior;
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AS QUESTÕES AMBIENTAIS COMTEMPORÂNEAS
A formação do conceito de sustentabilidade remonta ao final do século 18, quando em 1798, Thomas
Malthus, um economista, estatístico, pastor e demógrafo inglês publica a série de ideias que veio a se
denominar Teoria Populacional Malthusiana.
O estudioso anglicano, após observar o crescimento populacional entre os anos de 1650 e 1850,
observa que as melhorias na qualidade de vida, proporcionadas pelo aumento da produção de
alimentos, saneamento básico, desenvolvimento da medicina no combate a doenças e enfermidades
dentre outras melhorias urbanas daquele período, desequilibraram a correlação com os meios de
subsistência.
Sendo assim, segundo Malthus (1809) a população cresce em progressão geométrica, enquanto
queos meios de subsistência crescem em progressão aritmética. Portanto, o autor concluí que, caso
não fossem adotados métodos para limitar o crescimento da população a sociedade estaria em rumo
ao colapso.
Tal constructo que posteriormente veio a se chamar de Teoria Populacional Malthusiana, foi inclusive
reafirmado por Meadows (1972) quando afirma que o desenvolvimento econômico da forma como
ocorria não seria suportado pelo planeta.
Entretanto, após inúmeras conferências internacionais, e na tentativa de buscar uma via comum entre
o desenvolvimento a qualquer custo e o desenvolvimento zero, surgiu as primeiras inferências acerca
do conceito moderno de sustentabilidade, que foram depois compiladas e sintetizadas por Elkington
(1994).
Nesse ínterim é importante destacar a atuação das Organizações das Nações Unidas, e
principalmente, da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente, a qual publicou em 1987, uma série de
medidas, diretrizes e propostas, antecedentes a Agenda 21. Tal documento, intitulado de Relatório
Brundtland ou também como “Nosso Futuro Comum” foi um dos primeiros a reformular a tese de
desenvolvimento zero, para o que chamamos de desenvolvimento sustentável.
"O desenvolvimento que procura satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer a
capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades"
Chama atenção nesse conceito o uso da palavra necessidade, o que remonta a sua origem nas
teorias de limite propostas inicialmente por Malthus. É impossível definir com clareza qual o conceito
e abrangência da palavra necessidade, uma vez que, sua subjetivação é oriunda não somente de
fatores econômicos, mas sociais e culturais. Para uma tribo indígena isolada na Amazônia, o conceito
de necessidade é radicalmente diferente de um cidadão de Nova York, assim como, um indiano
classe média, tem necessidades claramente diferentes de um membro da elite sorocabana.
A definição de necessidades foi muito bem descrita e entendida por Maslow, e vale a pena a leitura
da sua Teoria da Motivação Humana, que resultou na definição da hierarquia das necessidades, que
será tratado em outra publicação.
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AS QUESTÕES AMBIENTAIS COMTEMPORÂNEAS
É possível perceber que uma evolução significativa do cenário visualizado por Meadows (1972) frente
a abordagem da sustentabilidade. Segundo Elkington (1994) a sustentabilidade deve ser vista de
forma tridimensional, ou seja, não se condena um modelo de desenvolvimento, ou a atividade em si,
mas sim a forma como é feita.
Elkington (1994) apresentou no célebre livro Canibais com garfo e faca, o famoso triple bottom line,
ou como chamamos em português, o tripé da sustentabilidade. Diferente do conceito inicial de
desenvolvimento sustentável, ainda muito focado na restrição e limitação, como é visto inclusive na
utilização da palavra necessidade. O conceito de Elkington (1994) apresenta uma integração maior
com as corporações, traduzindo o conceito para um novo modelo gerencial a ser adotado pelas
empresas.
O que chama atenção no tripé da sustentabilidade original, é sua menção clara e explícita ao lucro,
mostrando que as organizações somente serão capazes de alcançar a sustentabilidade, desde que
tenham atenção aos preceitos de performance nas três pontas. Tal forma de incentivo encontrou
muito mais aderência nas atividades empresariais, do que o velho conceito baseado em
necessidades.
Entretanto, um dos grandes desafios da sustentabilidade como modelo gerencial, estava e ainda está
na mensuração, ou seja, não era trabalhado até então como um indicador, e sim apenas como um
suporte de requisitos legais dentro das organizações.
Segundo Callado (2010) a sustentabilidade ainda é vista por alguns como um conceito ecológico
distante da realidade das organizações, que somente o adotam a fim de se atender aos princípios de
responsabilidade social, legal e de governança.
Para Alberton e Costa Jr (2007), a relação não se mostra de fácil mensuração e tampouco pode ser
simplesmente associada a desempenho financeiro, estando muito mais próxima de proporcionar a
ganhos operacionais e produtivos. Ainda assim, os autores identificaram que as empresas avaliadas
no estudo, apresentaram melhoria nos indicadores financeiros após a certificação ambiental.
Nos estudos conduzidos por Callado (2010), figura a tentativa de desenvolver indicadores que
realizem de maneira precisa a mensuração das dimensões da sustentabilidade. Para Callado (2010)
os indicadores podem ser considerados como ferramentas fundamentais no acompanhamento de
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AS QUESTÕES AMBIENTAIS COMTEMPORÂNEAS
No que tange aos indicadores de sustentabilidade, Veleva (2003) ressalta que a arquitetura
associada é simples, visto que, buscam apenas identificar de maneira objetiva a posição da
organização frente a tridimensionalidade da sustentabilidade.
Apesar da importância da utilização dos indicadores, Callado (2010), ressalta que a maioria das
organizações os utilizam apenas de forma quantitativa, reduzindo assim o potencial de análise e
descrição. Portanto, urge a utilização de indicadores também de caráter qualitativo, com visão mais
holística de todo o processo, bem como, de suas causas e efeitos.
Dessa forma, conclui-se que a evolução do conceito de sustentabilidade está associada a percepção
da necessidade de estabelecimento de limites, aos quais inicialmente foram concebidos para o
contexto macroeconômico. Desde Malthus em 1809 até Estocolmo em 1972, o cerne da questão era
associado principalmente ao ambiente macro, destacado como o desenvolvimento econômico das
nações.
Porém a abordagem proposta por Elkington (1994) é resultante de um constructo que se mostra
como um dos pilares de sustentação da teoria moderna da sustentabilidade. Conhecido pelo dito “agir
localmente pensando globalmente”, demonstra-se que as políticas macroeconômicas de governo,
não podem estar desalinhadas ou dessincronizadas do ambiente empresarial, visto que um é
resultante do outro.
A partir de tal construção é que a abordagem de Elkington (1994) abaixa o nível de atuação da
sustentabilidade das nações, para o ambiente empresarial, apresentando assim a necessidade de
que os conceitos e diretrizes da sustentabilidade sejam seguidos dentro do ambiente corporativo.
A ética profissional tem sido nos última dias muito discutida dentro da sociedade brasileira, vários
tipos de problemas sociais vêm acontecendo ligado aos trabalhos executados por profissionais de
diversas áreas, e a mídia vem divulgando de maneira óbvia para toda sociedade, e também condutas
de políticos e empresários, e de funcionários públicos, que denigrem a imagem do ser humano, e cria
um constrangimento publico inevitável, e desolador.
Muito me envergonha vê na mídia certos casos de policiais corrompidos e corrompendo-se uns aos
outros, e casos de políticos que por causa do dinheiro trazem para sociedade prejuízos incalculáveis.
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AS QUESTÕES AMBIENTAIS COMTEMPORÂNEAS
Profissionais liberais que praticam atos que desabonam uma boa conduta profissional, que lesa o
patrimônio público gerando prejuízos de natureza social irreparável, em alguns casos, e em outros
perdendo o conceito de moral e respeito.
Mas quando uma ação do homem atinge o seu próximo e o prejudica, gera toda uma situação de
injustiça e desconfortável, em que a própria sociedade irá julgar a maneira como se fez determinada
atitude injusta. A família também irá julgá-lo, e o individuo será forçado a refletir sobre o que praticou.
Há um`modus vivendi``, do latim que quer dizer modo de viver, conduta de vida em cada ser humano
que pratica no meio em que vive e atua, seja como profissional ou individuo dentro da comunidade ou
sociedade, e ambiente familiar.
A ética profissional estar pautada em normas estabelecidas por órgãos de classe ou associações de
profissionais, mas se o individuo não tiver uma base familiar bem estruturada e uma vida emocional
equilibrada, ele passa a transferir para profissão este desequilíbrio.
Pois bem, vejamos a natureza como funciona em equilíbrio, observe, pois tudo a sua volta, a
natureza, por exemplo, temos quatro estações do ano, e elas funcionam harmonicamente para dar
equilíbrio às necessidades humanas; imagina se não chovesse para que o camponês plantasse, e
depois colhesse os frutos da mãe terra, para dar sustento ao homem.
Deus assim criou tudo de forma equilibrada, mas homem com a sua ganância por desejar cada vez
mais, é que desequilibrou não só a natureza, mas também sua própria vida. Quando fazemos ou
praticamos atos, para adquirir recursos de maneira que é arbitrária, e que vai prejudicar o erário
público, e a vida da sociedade; por que funciona em cadeia, tudo que se faz tem um efeito dominó
dentro da sociedade, e veja bem se não vai cair sobre sua própria cabeça.
A ética profissional tem um leque enorme de temas que o envolve, podemos citar aqui uma vida
regrada dentro de padrões sociais; uma obediência a certas regras, mas quando temos isso tudo
dentro de nós, funciona com bastante harmonia e perfeição, não somos perfeitos, mas desejamos ou
devemos desejar fazer o certo, não seguir o errado, praticar um ato que aduza o bem comum, de
todos que estão a nossa volta.
A bíblia diz que `` tudo o que o homem semear, isso também ceifará `` em gálatas cap. 06: 07,
refletindo sobre esse texto da palavra de Deus você com certeza irá ter suas conclusões.
Nos dias atuais fala-se muito no mundo como aldeia global, como uma só casa, quer dizer que tudo o
que você fizer aqui irá refletir em qualquer lugar do planeta.
``Mundus est omnium communis pátria``, que do latim quer dizer o mundo é a pátria comum de todos.
Falam-se muito em globalização, o efeito estufa, e seus efeitos sobre o planeta; sabemos que isso
foi, e continua sendo conseqüências das ações desastrosas do homem sobre a terra, em busca de
riquezas e do progresso, sem, contudo pensar e planejar sobre o futuro, que é hoje as conseqüências
que o planeta estar sofrendo, tudo isso por falta da ética na vida do homem.
E para concluir reflita sobre seus atos, suas ações e atitudes tomadas hoje, pois com toda certeza ela
terá reflexos amanhã, ou na sua vida, ou na vida do planeta.
Ética reflete o que você é dentro de você, sua capacidade de ser e fazer, para você e seu próximo,
portanto cultive em você atitudes, que reflitam uma pessoa que é um ser humano, que pode ser
reconhecido como ser humano, que pensa no vai faz.
A má distribuição de renda é um dos aspectos que devem ser lembrados quando ética, cidadania e
moral forem conceituadas e refletidas. Moral seria a regra de conduta, a distinção que se faz entre o
que é bom ou ruim para nós e aos outros. Normalmente popularizado na assertiva cristã “fazer aos
outros somente o que queremos que nos façam”. A ética, estudos filosóficos dos valores e da
conduta moral, busca tratar de questões relevantes, como: o que é a vida boa para os homens? E
como deveríamos nos comportar?
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AS QUESTÕES AMBIENTAIS COMTEMPORÂNEAS
Ética Pessoal
Ethos – ética, em grego – designa a morada humana. O ser humano separa uma parte do mundo
para, moldando-a ao seu jeito, construir um abrigo protetor e permanente. A ética, como morada
humana, não é algo pronto e construído de uma só vez. O ser humano está sempre tornando
habitável a casa que construiu para si. Ética significa, segundo Leonardo Boff (2007), “tudo aquilo que
ajuda a tornar melhor o ambiente para que seja uma moradia saudável: materialmente sustentável,
psicologicamente integrada e espiritualmente fecunda”.
A) O que é ética?
A ética não se confunde com a moral. A moral é a regulação dos valores e comportamentos
considerados legítimos por uma determinada sociedade, um povo, uma religião, certa tradição
cultural, etc. Há morais específicas, também, em grupos sociais mais restritos: uma instituição, um
partido político. Há, portanto, muitas e diversas morais. Isto significa dizer que uma moral é um
fenômeno social particular, que não tem compromisso com a universalidade, isto é, com o que é
válido e de direito para todos os homens. Exceto quando atacada: justifica-se dizendo-se universal,
supostamente válida para todos.
Mas, então, todas e quaisquer normas morais são legítimas? Não deveria existir alguma forma de
julgamento da validade das morais? Existe, e essa forma é o que chamamos de ética. A ética é uma
reflexão crítica sobre a moralidade. Mas ela não é puramente teoria.
A ética pode e deve ser incorporada pelos indivíduos, sob a forma de uma atitude diante da vida
cotidiana, capaz de julgar criticamente os apelos críticos da moral vigente. Mas, a ética, tanto quanto
a moral, não é um conjunto de verdades fixas, imutáveis. A ética se move, historicamente, se amplia
e se adensa. Para entendermos como isso acontece na história da humanidade, basta lembrarmos
que, um dia, a escravidão foi considerada “natural”. Entre a moral e a ética há uma tensão
permanente: a ação moral busca uma compreensão e uma justificação crítica universal, e a ética, por
sua vez, exerce uma permanente vigilância crítica sobre a moral, para reforçá-la ou transformá-la.
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AS QUESTÕES AMBIENTAIS COMTEMPORÂNEAS
É preciso que cada cidadão e cidadã incorporem esses princípios como uma atitude prática diante da
vida cotidiana, de modo a pautar por eles seu comportamento. Isso traz uma consequência inevitável:
frequentemente o exercício pleno da cidadania (ética) entra em colisão frontal com a moral vigente...
Até porque, a moral vigente, sob pressão dos interesses econômicos e de mercado, está sujeita a
constantes e graves degenerações.
Não só no Brasil se fala muito em ética, hoje. Mas, temos motivos de sobra para nos preocuparmos
com a ética no Brasil. O fato é que, em nosso país, assistimos a uma degradação moral acelerada,
principalmente na política. Ou será que essa baixeza moral sempre existiu? Será que hoje ela está
apenas vindo a público? Uma ou outra razão, ou ambas, combinadas, são motivos suficientes para
uma reação ética dos cidadãos conscientes de sua cidadania.
Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: construir uma sociedade livre,
justa e solidária; garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a marginalização e
reduzir as desigualdades sociais e regionais; promover o bem de todos, sem preconceitos de origem,
raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (Art. 3º da CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL, 1988).
A falta de ética mais prejudica a quem tem menos poder (menos poder econômico, menos poder
cultural, menos poder político). A transgressão aos princípios éticos acontece sempre que há
desigualdade e injustiças na forma de exercer o poder. Isso acentua ainda mais a desigualdade e a
injustiça. A falta ou a quebra da ética significa a vitória da injustiça, da desigualdade, da indignidade,
da discriminação. Os mais prejudicados são os mais pobres, os excluídos.
A falta de ética prejudica o doente que compra remédios caros e falsos; prejudica a mulher, o idoso, o
negro, o índio, recusados no mercado de trabalho ou nas oportunidades culturais; prejudica o
trabalhador que tentar a vida política; prejudica os analfabetos no acesso aos bens econômicos e
culturais; prejudica as pessoas com necessidades especiais (físicas ou mentais) a usufruir da vida
social; prejudica com a discriminação e a humilhação os que não fazem a opção sexual esperada e
induzida pela moral dominante etc.
A atitude ética, ao contrário, é includente, tolerante e solidária: não apenas aceita, mas também
valoriza e reforça a pluralidade e a diversidade, porque plural e diversa é a condição humana. A falta
de ética instaura um estado de guerra e de desagregação, pela exclusão. A falta de ética ameaça a
humanidade.
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VIOLÊNCIA URBANA
Violência Urbana
A violência, considerada como um fenômeno social, é analisada como um filtro que permite esclare-
cer certos aspectos do mundo social porque denota as características do grupo social e revela o seu
significado no contexto das relações sociais.
Nas sociedades primitivas, promove os mais aptos para se tornarem os defensores do grupo. Nas so-
ciedades contemporâneas, consolida estruturas de poder, particularmente as fora da lei sob o con-
trole de grupos organizados como máfias, cartéis ou bandos paramilitares. Nas sociedades democrá-
ticas, reflete os limites jurídico-legais da ação determinada pelo pacto social. Quando a violência ul-
trapassa os parâmetros sociais, recebe as sanções correspondentes, de acordo com os instrumentos
institucionais disponíveis.
A violência é parte das relações que compõem a sociedade e, consequentemente, segundo Roberto
DaMatta (1982), sua condição de "normalidade" é precisamente o fato de ser reprimida e evitada. Se
é um fato universal, teremos que tomar como ponto de partida suas singularidades e seus modos es-
pecíficos de manifestação em cada sistema com seus valores, ideologias e configurações que se
combinam concretamente em situações históricas particulares. Dessa perspectiva, a violência é ine-
rente às relações sociais e varia de acordo com a particularidade dessas relações em diferentes gru-
pos e sociedades historicamente considerados.
A abordagem desse problema pode ser feita através da análise teórica que o considera como um pro-
cesso social, um mecanismo social que é a expressão da sociedade, uma resposta a um sistema que
se associa à forma de poder vigente onde a oposição entre dominante e dominado se reproduz de
acordo com o contexto das relações sociais que o grupo desenvolve e, consequentemente, desem-
boca em medidas legais e jurídicas do próprio sistema.
Por outro lado, a visão do senso comum ou popular aborda a violência como um mecanismo que re-
sulta da experiência diária das pessoas, isto é, dois seres em luta, tendo em vista uma perspectiva
moral, a injustiça dos destituídos e dos trabalhadores, algo concreto voltado contra um ser humano
palpável, real e não contra um grupo ou classe definidos por meio de critérios políticos e econômicos.
A abordagem desse fenômeno social analisado através da metodologia científica, cuja preocupação é
a de buscar explicações baseadas em dados empíricos levantados, selecionados e coligidos medi-
ante técnicas de observação e análise comuns a todo investigador, possui validade universal de
acordo com as condições comuns em que o fenômeno social é considerado.
Devido à complexidade dos fenômenos sociais, as uniformidades e regularidades variam de uma so-
ciedade para outra, daí os seus resultados se apresentarem como generalizações empíricas - menos
rígidas do que a formulação de "leis" do comportamento -, embora devido à sua natureza lógica se
configurem como uma representação conceitual da realidade.
Para ilustrar esse procedimento podemos citar o estudo de Eric J. Hobsbawn (1976) sobre o bandi-
tismo social, mostrando sua notável uniformidade em todas as épocas e continentes. A análise do
comportamento real do bandido corresponde a um papel social que lhe foi atribuído no drama da vida
camponesa e o caracteriza como um produto da sociedade rural.
São grupos de homens que atacam, roubam e matam, configurando um tipo de bandido que reflete
uma forma de rebelião minoritária na sociedade rural. São proscritos rurais, vistos como criminosos
pelo Estado, mas que fazem parte da sociedade rural onde são considerados heróis, campeões, vin-
gadores, paladinos da justiça ou até como líderes da libertação. Os exemplos variam desde Robin
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VIOLÊNCIA URBANA
Hood na Idade Média, passando por Pancho Villa no México colonial, Lampião no Brasil do início do
século, até Salvatore Giuliano nos anos 50 no sul da Itália.
1. um fenômeno universal da história que se apresenta com impressionante uniformidade nas socie-
dades que se baseiam na agricultura e, consequentemente, mobiliza principalmente camponeses e
trabalhadores sem terras, governados, oprimidos e explorados - suas principais formas de manifesta-
ção são o ladrão nobre, o combatente primitivo que luta pela resistência e o vingador impiedoso que
semeia o terror;
2. um reflexo de situações semelhantes típicas da sociedade rural e agrega um grupo médio surpre-
endentemente uniforme no decorrer do tempo, de dez a vinte homens;
3. parece ocorrer entre a fase evolutiva da organização social sanguínea (tribal ou clã) em desintegra-
ção e a transição para o capitalismo agrário;
b) a existência de homens que se encontram excluídos da carreira habitual que lhes é oferecida e,
consequentemente, são forçados a um comportamento proscrito e irregular, resíduo de uma popula-
ção rural excedente, devido à precariedade da economia agropastoril em áreas montanhosas ou de
difícil acesso, com solo relativamente pobre - são os sintomas de crise e tensão na sociedade em que
vivem;
c) a existência de indivíduos que se preocupam em restaurar uma ordem tradicional mítica daquilo
que deve ser "justo", podendo passar do objetivo modesto da reforma para a revolução camponesa
se se tornarem símbolos ou ponta de lança da resistência ou ao rejeitarem a submissão, sonhando
com um mundo de igualdade e liberdade.
Podemos, então, afirmar que o bandido social é um proscrito, um rebelde que se recusa a aceitar os
papéis normais da pobreza e que firma sua liberdade através da força, da bravura, da astúcia e da
determinação. Como grupo armado ou núcleo de força armada constitui uma força política, ou seja,
um reservatório de homens armados e descomprometidos à disposição de um chefe local como alia-
dos potenciais.
A transição de uma economia pré-capitalista para uma economia capitalista complexa provoca uma
transformação que altera a configuração social do bandido e a violência passa a ser um reflexo dessa
sociedade. A evolução dos bandos mafiosos, com seus códigos de honra, originários da tradição ru-
ral, mostra como esse tipo de violência se reorganiza num processo de transição que vem desde o
clã familiar e atinge as formas mais complexas das atividades que se desenvolvem no âmbito da eco-
nomia capitalista.
A análise da marginalidade como fenômeno social considera a complexidade de fatores que atribuem
ao comportamento real do marginal um papel social que lhe foi atribuído no drama da vida urbana. Os
grupos de homens que atacam, roubam e matam caracterizam um tipo de marginalidade que reflete
uma forma de resposta às contradições da sociedade urbana.
Esses marginais urbanos, vistos como criminosos pelo Estado, se encontram impossibilitados de inte-
gração na sociedade urbana porque são considerados perturbadores da ordem institucional. Formam
grupos, bandos ou gangs e geralmente habitam cortiços e favelas.
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VIOLÊNCIA URBANA
1. a existência de indivíduos que não têm condições de se adaptar ao processo de trabalho urbano-
industrial devido a problemas de formação, como os decorrentes da desorganização familiar, da falta
de orientação educacional e ocupacional, de condições precárias de moradia e que se encontram ex-
cluídos do mercado de trabalho;
4. as características da estratificação social na sociedade de classes onde a hierarquia social que es-
tabelece os limites legais que marcam a separação entre os estratos sociais dependem do status so-
cial ou posição determinada ou definida por critérios ou atributos sociais.
É composto de elementos políticos, econômicos e culturais como educação, modo de falar, de vestir,
estilo de vida, ocupações intelectuais, cultura, atividade ocupacional e riqueza. Numa sociedade es-
tratificada por ocupações, o status atribuído característico da tradição é substituído pelo status adqui-
rido característico da qualificação competitiva.
Dessa forma, pode atuar como estímulo para o pensamento reflexivo e prelúdio para a ação inteli-
gente ou como inibidor dessas características. Trata-se de um meio de dominação que varia desde a
informação até a propaganda como estereótipo de massa, criando uma nova ordem na distribuição
do poder. Os dominantes que controlam a produção da informação de forma empresarial e os domi-
nados que consomem o produto através da mensagem - a "industrialização da cultura".
Considerando a marginalidade social sob estes aspectos verificamos que ela pode se tornar fonte de
violência social porque:
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VIOLÊNCIA URBANA
c) intensifica as tensões ou insatisfações sociais capazes de gerar violência social como decorrência
de uma resposta variável da condição social que se expressa através do subemprego, do desem-
prego, da pobreza e da desigualdade manifestada nos diferentes níveis da cultura;
No caso particular das polícias militares cuja prática da violência é o seu cotidiano, podemos analisar
o comportamento de seus membros como decorrência da combinação de quatro fatores fundamen-
tais: concepção, ideologia, treinamento e impunidade.
As milícias estaduais passaram a desempenhar o papel de policias militares por força do decreto-lei
667, de 2 de julho de 1969, promulgado durante o regime autoritário instaurado a partir do golpe de
abril de 1964.
Transformaram-se em forças de controle dos estados por parte do governo central. Embora os gover-
nadores fossem escolhidos pelo governo central, as policias militares comandadas por membros do
exército, garantiam a ordem autoritária e evitavam possíveis desvios. Foram concebidas como instru-
mentos do poder autoritário e, portanto, imbuídas de força repressiva contra as manifestações popu-
lares indesejáveis.
Essa concepção repressiva desenvolveu nos comandantes a ideologia da repressão policial funda-
mentada na visão militar de ordem, respeito à autoridade, submissão à vontade do comando e puni-
ção exemplar.
As decisões emanadas da cúpula por força da formação baseada no prestígio e poder hierárquicos
se consolidaram como norma de ação reconhecida como adequada à atuação da instituição que se
expressam numa ênfase à preparação para o combate urbano em detrimento da atividade assisten-
cial de proteção ao cidadão.
Dessa perspectiva, todos os integrantes da instituição são adestrados sob a égide desses valores
que atingem com mais intensidade os jovens ingressantes nas categorias de soldado, cabo ou
mesmo sargento e subtenente, cuja formação social na Polícia Militar do Estado de São Paulo é reco-
nhecidamente deficiente porque, além de serem menos escolarizados, possuem baixo nível econô-
mico e moram em piores condições (20% de cabos e soldados masculinos possuem o 1° grau com-
pleto e 25% da mesma categoria possuem o 2° grau incompleto; 45% de cabos e soldados masculi-
nos possuem o nível econômico mais baixo e 30% de cabos e soldados moram em imóvel empres-
tado, vaga, pensão ou república, com parentes ou conhecidos ou no quartel, cf. Gullo, 1992).
Esses policiais militares são selecionados a partir de uma massa de candidatos pouco qualificados,
por força da elevada taxa de desemprego e dos salários pouco atraentes. Mais vulneráveis, tendem a
assumir os valores autoritário-repressivos através de treinamento onde se dá pouca ênfase a ques-
tões ligadas aos direitos humanos ou às diferenças inerentes às camadas sociais que compõem a so-
ciedade.
Apesar dessas deficiências, os policiais são imbuídos de autoridade e poder objetivados pelo uso da
farda como símbolo social e da arma como suporte da ação, embora não estejam preparados social e
psicologicamente para usá-las dentro dos limites da lei. Trata-se de, no mínimo, um convite ao exercí-
cio inadequado da atividade.
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VIOLÊNCIA URBANA
Do ponto de vista psicológico é a insegurança para assumir a ocupação que se manifesta na ativi-
dade ocupacional. Um sintoma disso é a tendência que constatei na pesquisa citada onde mostro que
27% dos cabos e soldados masculinos não usam a farda no percurso entre o local de residência e o
local de trabalho porque se sentem inseguros, não querem ser identificados e se sentem constrangi-
dos como PMs.
Do ponto de vista sociológico, considerando o fato de as classes subalternas, por aspirarem as posi-
ções de maior prestígio e poder das classes dominantes, assumirem os valores dessas classes e
passarem a se orientar por esses valores, mesmo contra os membros de sua própria classe social, é
de se esperar uma distorção na forma de perceber o suspeito na perspectiva do aparato policial. Sem
reconhecer as diferenças sociais, os policiais militares tendem a ter uma visão distorcida da popula-
ção.
O pobre, o negro, o desempregado, os malvestidos são vistos como suspeitos e, portanto, passíveis
de um tratamento repressivo. No trabalho citado, 19% dos cabos e soldados masculinos afirmaram
que não recebem boa instrução, formação e supervisão adequadas e 44% se julgam razoavelmente
preparados para o exercício da atividade.
A impunidade fica sendo o fator que consolida o desvio da ação policial militar porque, apesar de
existir uma justiça paralela e corporativa que tende a proteger os seus pares, a justiça comum,
quando atua de forma complementar, depende de inquéritos elaborados mediante graves distorções
e sofre pressões do aparato policial para evitar condenações que o desmoralizem.
A polícia civil apresenta desvios talvez até mais graves que a polícia militar, caracterizado pelo arbí-
trio inerente ao autoritarismo dos que assumem o papel de justiceiros por não compreenderem que a
sua ação institucional é a de instrumento da Justiça.
Acrescente-se a isso a corrupção institucionalizada que há muito contaminou o aparelho policial civil,
conforme foi demonstrado em análise sobre esse tipo de comportamento (cf. Mingardi, 1992). Veri-
fica-se que a violência institucional é inerente à sociedade que concebe e reforça a ideologia da re-
pressão em detrimento dos direitos humanos do cidadão.
Esse diagnóstico da violência institucional caracteriza uma sociedade cujos valores estão corroídos
pela hipocrisia que caracteriza a situação de classe. A violência só é lembrada quando atinge as clas-
ses dominantes, mas poucos se lembram da violência que atinge as classes dominadas. A sentença
do juiz José Ernesto de Mattos Lourenço, da 18a Vara Criminal de São Paulo, que condenou os as-
sassinos do famoso caso Bodega ocorrido em São Paulo lembra que o crime praticado contra "jovens
filhos de classe média, num bairro dos mais finos desta cidade, provocou até mesmo o nascimento de
um movimento que intitulou-se Reage, São Paulo" (Juiz condena 4 réus do caso Bodega, O Estado
de S. Paulo, Caderno Cidades, 25/03/97).
Porém, segundo o próprio juiz: "essa a face hipócrita da sociedade, sem embargo da necessidade de
reação contra a inoperância do Estado diante da violência crescente e assustadora", pois "essa
mesma sociedade, todavia, jamais reagiu quando os filhos de famílias miseráveis, nos confins da pe-
riferia regional e social, foram e continuam sendo assassinados".
O juiz afirmou ainda que o "Reage, São Paulo não reagiu em favor dos nove jovens que foram barba-
ramente acusados e sofreram para confessar um crime que não cometeram. Alguns desses jovens,
que de comum têm a vida infra-humana, a pobreza latente, a falta de esperança de dias melhores, a
miséria como companheira constante, a falta de ideal e perspectiva de futuro, a cor da pele, ainda so-
frem as consequências da perversidade.
A conclusão é dolorosa: matar filho de rico em bairro de classe média alta ou abastada dá notícia, re-
percute, revolta a sociedade, que reage; o mesmo fato, quando atinge o marginalizado da economia
não desperta reação". Lembra ainda os "métodos medievais para extorquir confissões de nove ino-
centes" utilizados pela polícia civil, que submeteu esses jovens a sessões de tortura para que confes-
sassem o crime. Entretanto, não foi designado um "promotor público para acompanhar o inquérito
destinado a apurar a responsabilidade dos policiais envolvidos na farsa".
A violência institucional se prolonga na situação sub-humana em que vive a população carcerária de-
nominada pelo aparato policial de "reeducandos", como se fosse possível a reeducação de alguém
nas terríveis cirscunstâncias em que se encontram. "Há 150 mil presos confinados num espaço total
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VIOLÊNCIA URBANA
com capacidade para 60 mil. As condições sanitárias são horríveis e muitos presos estão doentes,
sem tratamento; o Estado não garante a integridade física dos detentos, sendo comuns estupros e
assassinatos; não são devidamente separados criminosos perigosos de autores de pequenos delitos;
muitos estão presos irregularmente em celas de delegacias e aguardam julgamento por muito mais
tempo do que prevê a lei" (A Igreja e os presos. O Estado de S. Paulo, 15/02/97).
Nas prisões, as indignidades físicas e mentais chegam ao auge da humilhação através de rebaixa-
mentos e degradações que são responsáveis por uma deterioração moral irreversível. Os "reeducan-
dos" sofrem a violência de um aparato policial e prisional que compromete irremediavelmente as suas
possibilidades de reintegração à sociedade, tornando-os mais violentos.
Muitas vezes o indivíduo é atingido injustamente pelo aparato policial e é arremessado às prisões.
Comentando sobre a campanha da CNBB para o ano de 1997, que teve como tema os encarcerados,
um bispo afirmou que cerca de 15 a 20% dos encarcerados no Brasil são vítimas de flagrantes forja-
dos pelo aparato policial.
Desse embate entre a violência dos excluídos e a violência repressora institucional fica a evidência
de que o modelo da violência exprime as contradições plantadas pelo sistema político-econômico do
capitalismo industrial.
As relações sociais que caracterizam a violência contemporânea são desenvolvidas na sociedade ur-
bano-industrial e resultam de um processo de filtragem e discriminação que seleciona da população
os indivíduos mais qualificados para viverem em determinada região e em determinado meio, por
força de suas condições socioeconômicas que resultam das diferenças existentes entre as classes
sociais.
Dentre os símbolos sociais mais importantes na sociedade contemporânea (imóveis, roupas, eletro-
eletrônicos), o veículo de transporte (carros, motos, embarcações, aeronaves) desempenha um papel
fundamental no imaginário coletivo porque se transformou num referencial poderoso para a orienta-
ção do comportamento.
A representação do seu significado social é mais forte e definidora do comportamento do que o seu
valor intrínseco. Além de meio de transporte, é emoção, poder, prestígio, satisfação do desejo, res-
peito, conquista, sucesso, felicidade enfim. Não é o que ele oferece objetivamente que mais importa,
mas o que ele representa no imaginário coletivo que o torna tão atraente, um ser supremo e superior
como um deus ex machina que o indivíduo venera e se submete, na esperança de através dele atin-
gir a felicidade ideal.
Essa poderosa fantasia é alimentada pela máquina publicitária da propaganda mercadológica divul-
gada pelos meios de comunicação de massa - rádio, televisão, cinema, imprensa, discos e fitas, mi-
crocomputadores, forças poderosas de controle social comandadas por uma "elite" dirigente que
bombardeia os indivíduos através de comerciais, associando o objeto a sentidos simbólicos univer-
sais, valorizados pela sociedade contemporânea de classes sociais.
Aqueles de detêm o controle da tecnologia das comunicações e da informação, detêm o controle psi-
cossocial da população, que se transforma numa massa porque responde através de um comporta-
mento uniforme e, portanto, está sujeita às associações que a "elite" apresenta para atender aos seus
interesses político-econômicos e, consequentemente, culturais.
A associação ao veículo como símbolo social vai desde a boa recepção, passando pelo reconheci-
mento, até chegar ao respeito - é a consagração social. Através do veículo podem ser satisfeitos os
desejos de liberdade, de usufruto da velocidade, da conquista do prazer prometido, da descoberta da
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VIOLÊNCIA URBANA
Desde a força da audácia juvenil até o bem-estar do conforto da maturidade, tudo converge na dire-
ção do veículo e ele passa a ser a aspiração suprema no imaginário coletivo porque a motivação se
torna inevitável devido à articulação dos valores com os quais a publicidade trabalha.
Numa sociedade de classes sociais, que considera o status social ou posição determinada ou defi-
nida por critérios ou atributos sociais como fundamental para o reconhecimento do lugar em que indi-
víduos ou grupos se situam na hierarquia social, a associação do veículo ao status lhe confere impor-
tância fundamental.
A cada tipo de veículo corresponde um determinado status social e através do veículo se "reco-
nhece", na concepção da máquina publicitária, o nível socioeconômico, o nível educacional e o nível
cultural. O veículo como símbolo de status passa a ser um componente indispensável na formação da
ideologia na sociedade contemporânea.
2. Na sociedade contemporânea significa a passagem para o sucesso e a felicidade e por esse mo-
tivo é adorado e venerado como um deus;
3. A técnica publicitária divulgada pelos meios de comunicação de massa explora esse significado ao
extremo, desencadeando estímulos coletivos com grande intensidade;
4. Na sociedade de classes sociais essa associação adquire no imaginário coletivo força poderosa
capaz de promover simbolicamente a ascensão social.
O veículo, especialmente carros e motos, como objetos de consumo e fonte de lucro, é associado a
valores sociais e os representa no imaginário coletivo como símbolos de ascensão social, consti-
tuindo modelos de comportamento que simbolizam essa ascensão social. O processo se consolida
reforçado pela máquina publicitária, que utiliza os meios de comunicação de massa para a propa-
ganda da ideologia que justifica a mobilidade social.
Cabe assinalar que, além da tecnologia das comunicações, outras agências que promovem o apren-
dizado social também vêm sofrendo o impacto da ideologia da mobilidade social - a família, a escola,
o grupo de pares, as organizações políticas, ocupacionais, esportivas e religiosas.
A veiculação dessa propaganda é feita principalmente através de indivíduos eleitos que se destacam
pelas suas características físicas ou ocupacionais nas mais diversas esferas - no esporte, no cinema,
no rádio, no teatro, na televisão, nas artes plásticas, na política, nas letras, na religião, enfim, em to-
das as áreas da cultura que servem de matéria-prima para a produção industrial da cultura. Os heróis
da mídia se transformam em modelos de comportamento.
O indivíduo Ayrton Senna se transformou num herói nacional dirigindo um carro que se assemelhava
a um computador, a 300 km por hora, vencendo a corrida, associando essa atitude às cores da ban-
deira nacional e ganhando milhões de dólares. Numa sociedade que valoriza a competição, a habili-
dade pessoal para superar os limites, o vencedor, ao atingir o sucesso, que é transferido à nação, re-
cebe a suprema recompensa que é o prêmio milionário, transformando essa conquista num motivo de
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VIOLÊNCIA URBANA
adoração que é propagado pela tecnologia das comunicações, elevando o indivíduo à categoria de
semideus. O indivíduo foi transformado em um símbolo social, em um mito, em um modelo de com-
portamento que desencadeia a motivação necessária ao impulso coletivo que é incorporado pelo pro-
cesso de socialização.
Todos aspiram, e os menos afortunados com maior ansiedade, a reproduzir sob quaisquer condições
o comportamento do símbolo social, sintetizado na figura do eleito. O culto a esse herói permanece
nas inúmeras rodovias, avenidas, praças e ruas que pelo país afora foram denominadas pelos gover-
nantes de Ayrton Senna para preservar na memória o comportamento do ídolo.
A sociedade, portanto, cultua o herói, idolatra o seu comportamento e tudo o que ele significa objeti-
vamente, inclusive a audácia da alta velocidade como um valor supremo. Ora, a cultura da velocidade
incentivada pelos meios de comunicação de massa, dando plena divulgação às corridas de Fórmula
1, Indy ou rallys, socializa o imaginário coletivo que aprende a ver na forma com que o veículo (carros
ou motos) é utilizado o meio de conquistar associações que a ele são transferidas. Velocidade é sinô-
nimo de emoção, de poder, de prestígio, de auto-afirmação, de sucesso.
Como contrapor à força da cultura da velocidade a cultura do controle da velocidade que as agências
fiscalizadoras lutam para implantar através da sinalização, da orientação, da fiscalização e das san-
ções penais pela aplicação de multas ou reeducação? Estamos diante de uma contradição imposta
pela própria sociedade, onde o apelo mais atraente do ponto de vista emocional tende a prevalecer.
Vender velocidade dá lucro, controlar a velocidade significa economia.
São mercadorias com sentidos sociais diametralmente opostos, apenas equilibrados pelos interesses
político-econômicos do sistema capitalista. A violência no trânsito, decorrente da velocidade, deve ser
analisada como um reflexo da estrutura da sociedade contemporânea e passa a ser uma condição
dada para o sistema que varia apenas na medida da variação do desenvolvimento econômico da in-
dústria automobilística. O controle da velocidade tendo em vista diminuir seus efeitos violentos é a
norma ética que se contrapõe a essa condição do sistema.
A força que as associações atribuem ao veículo foram magistralmente apresentadas em dois filmes
recentes. Em Um dia de fúria (Falling down, 1993), de Joel Schumacher, o personagem central de-
sencadeia a sua fúria devastadora a partir das pressões a que se vê submetido, por força de um con-
gestionamento de trânsito onde sofre todo tipo de agonia e desespero, confinado em seu veículo, até
que o abandona e parte para a violência. Já em Estranhos prazeres (Crash, 1997), de David Cronen-
berg, o carro é a fonte da violência que gera o prazer. O prazer erótico, sensual que a violência do
desastre provoca.
É um filme sobre morte, sexualidade e tecnologia onde o carro é tratado como mito devido à fascina-
ção que exerce sobre o homem moderno. O carro representa potência sexual através do arranque do
motor levando a uma excitação sexual próxima da morte.
Já nos anos 60, Jean-Luc Godard apresentou Week-end, onde filmou acidentes numa auto-estrada
para expressar o polo negativo de uma sociedade em que o carro é elemento de massificação do
comportamento quando todos são compelidos a congestionar as estradas provocando terríveis aci-
dentes.
Na verdade é uma violência pavimentar auto-estradas sem sinalização ou fiscalização eficientes, en-
tregar avenidas sem lombadas ou valetas, deixar ruas e praças mal sinalizadas e sem qualquer tipo
de controle do tráfego. Reconhecemos que a fiscalização é insuficiente nos grandes centros urbanos,
e longas polêmicas jurídicas e legais sobre quem pode e deve aplicar multas de trânsito, como vem
ocorrendo em São Paulo, só servem para confundir os motoristas e incitá-los ao desrespeito das leis
do trânsito.
Não será apenas a regulamentação do novo Código de Trânsito Brasileiro que possibilitará um con-
trole mais efetivo sobre o respeito às leis do trânsito. O sentido social antecede ao princípio jurídico-
legal da punição.
A falta de uma política nacional para estabelecer os parâmetros sociais da ação dos motoristas
quanto ao sentido social dessa atividade, contribui mais para confundir sobre as normas de trânsito
do que para esclarecer sobre os direitos e deveres de quem sai dirigindo um veículo. Na ausência de
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VIOLÊNCIA URBANA
parâmetros gerais, cada um dá a sua interpretação do que é permitido e assiste-se ao triste espetá-
culo de motoristas abusando das normas mais elementares de respeito no trânsito.
Todavia, o ex-prefeito Paulo Maluf, mentor da medida, quando ocupava o cargo de prefeito, deu dois
exemplos, registrados pelas reportagens dos jornais Folha de S. Paulo, em 22/01/93 e de O Estado
de S. Paulo, em 30/05/94, de desrespeito às normas mais elementares do trânsito, explicando suas
infrações com as costumeiras evasivas de culpar terceiros por atitudes de sua inteira responsabili-
dade.
No primeiro caso, culpando o motorista que estava às suas ordens, por ter "costurado" e andado a
130 km/h, e no segundo caso, a falta de fiscalização nas ruas e avenidas por onde "pilotou" seu Ja-
guar Lister modelo Les Mans a mais de 160 km/h. É o caso da autoridade desprovida do sentido so-
cial de sua tarefa, apenas circunscrita a medidas legais político-eleitoreiras.
2. A publicidade reforça a ideologia do símbolo social atribuído ao veículo através da associação com
indivíduos eleitos pelas suas características pessoais e ocupacionais como modelos do sucesso so-
cial;
3. Quando no caso particular o comportamento do eleito se caracteriza pelo uso do veículo em alta
velocidade, os meios de comunicação se encarregam de reforçar no processo de socialização a cul-
tura da velocidade como um valor supremo que é incorporado simbolicamente pelos indivíduos.
4. Dessa forma, fica evidente uma contradição típica da sociedade urbano-industrial-capitalista: a pro-
moção da velocidade praticada pelos heróis da mídia se contrapondo aos esforços educativos das
agências sociais encarregadas do controle dos excessos da velocidade dos veículos.
Do que foi exposto podemos verificar que o automóvel e as motos são cada vez menos utilizados
como meio de transporte e cada vez mais como símbolos sociais que, além de expressarem seu valor
econômico, são também forma de poder, prestígio, força, habilidade, destreza, sucesso, beleza, ju-
ventude, felicidade enfim.
"As ditaduras exercem o totalitarismo mediante a prisão, a tortura, a censura, as máquinas de exter-
mínio. Já o totalitarismo democrático se dá por meio do consumo, que homogeneiza comportamen-
tos, padrões estéticos e de gosto".
Todas as outras agências sociais como a família, a escola, a igreja, a política, a cultura em geral, po-
dem ser contaminadas pelo poderio dessa força avassaladora que é a tecnologia das comunicações,
através da qual se pratica o totalitarismo democrático. Desenvolve-se uma verdadeira indústria do
consumo desses valores que se utilizam dos objetos ou elementos sociais mais atraentes, como os
eletroeletrônicos, as roupas, os imóveis e especialmente os carros e motos, para sintetizar esse pro-
cesso de consumo.
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VIOLÊNCIA URBANA
O uso de símbolos sociais recém ou mal-assimilados pelas classes emergentes na moderna socie-
dade de consumo distorce o valor a eles atribuído. Quando o uso do carro como transporte se con-
verte numa manifestação de poder, na ostentação da riqueza e, além das normas usuais estabeleci-
das para os mesmos, traduz-se no excesso de velocidade, no desrespeito às leis do trânsito, na su-
pervalorização do veículo em relação ao pedestre, essa distorção se transforma na agressividade que
caracteriza uma forma de violência.
Esse comportamento caracteriza o trânsito nas cidades, cujo desenvolvimento do tráfego se apre-
senta em expansão desordenada e descontrolada por força do consumo de objetos que simbolizam
ascensão social.
Acrescente-se a isso a insuficiência de meios institucionais para que os agentes fiscalizadores pos-
sam aplicar as sanções correspondentes às infrações, temos como resultado a tendência ao aumento
da violência urbana no trânsito.
Essa violência reflete as condições do sistema e varia apenas na medida da socialização da popula-
ção como decorrência dos referenciais do consumo capitalista descontrolado, orientado por símbolos
sociais que expressam valores contraditórios em relação ao comportamento moral vigente. A contra-
dição resulta do confronto entre a transgressão incitada pelo consumo e a repressão legal dos códi-
gos e normas de conduta.
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DEMOCRACIA BRASILEIRA
Democracia Brasileira
Embora nos últimos anos, no Brasil, tenha se institucionalizado uma linha de pensamento que argu-
menta que vivemos um ciclo virtuoso da democracia, com regras e procedimentos que regulam a vida
política, eleições regulares, pluripartidarismo e eleições transparentes, seria um equívoco sugerir que
uma teoria democrática, assentada em aspectos procedimentais, seja suficiente para explicar a com-
plexidade do processo político.
Embora novos padrões de participação política tenham emergido, a maior participação política formal
não tem se traduzido em participação social. Tal fato tem redundado no surgimento de uma produção
significativa sobre o tema democratização e política democrática, destacando-se, como uma questão
central desses estudos, o papel do apoio popular no futuro da democracia.
É inegável que os avanços na engenharia institucional são essenciais para a construção de uma cul-
tura política participativa, uma sociedade sem regras está fadada ao caos e a práticas políticas dele-
térias para a democracia.
Nessa linha de análise, de acordo com Morlino (2007, p.4), embora o regime democrático seja aceito
globalmente, o problema mais sério e importante diz respeito ao tipo de democracia, à qualidade de-
mocrática vigente nos países. Para esse autor, esta reside em três fatores: nos procedimentos, no
conteúdo e no resultado. Para Molino, uma democracia com qualidade é uma boa democracia, a qual
é, antes de mais nada, um regime amplamente legitimado e, portanto, estável, e com o qual os cida-
dãos estão plenamente satisfeitos.
Nesse tipo de democracia, os cidadãos mostram respeito e obediência às regras vigentes (the rule of
law). Outro elemento fundamental da qualidade da democracia é o grau de envolvimento dos cida-
dãos na política.
A democracia contemporânea requer uma cidadania ativa que se envolva na arena política via dis-
cussões, deliberações, referendos e plebiscitos, ou seja, por meio de mecanismos formais e infor-
mais, sem que isso comprometa as instituições convencionais de mediação política. Há um consenso
de que sem o envolvimento popular no processo de construção democrática ela perde em legitimi-
dade, mantendo simplesmente sua dimensão formal.
Organizações internacionais como as Nações Unidas têm manifestado preocupação pelo estado
atual da democracia em países em desenvolvimento como o Brasil. O Relatório do Programa das Na-
ções Unidas para o Desenvolvimento, divulgado em abril de 2004, sustenta que "a democracia não se
reduz ao ato eleitoral, mas requer eficiência, transparência e qualidade das instituições públicas, bem
como uma cultura que aceite a legitimidade da oposição política e reconheça e advogue pelos direitos
de todos" (p.23).
Nesse sentido, o Relatório propõe que a democracia seja examinada na sua dimensão social, na me-
dida em que os elevados índices de pobreza e desigualdade social têm gerado, segundo pesquisas
realizadas nos últimos anos (BAQUERO, 2000), o aumento da desconfiança dos cidadãos das insti-
tuições políticas e seus representantes, o que tem levado ao questionamento crescente de suas legi-
timidades. Isto está corroborado no referido Relatório, quando afirma que existe um "risco da estabili-
dade do próprio regime democrático" (p.23).
Esta preocupação não é surpresa para os que há muito tempo vêm alertando para a distorção da
compreensão do processo democrático fundado, única e exclusivamente, no enfoque da engenharia
institucional. Tal advertência ocorria em virtude da constatação de que, no período da democratiza-
ção, permaneceram vícios políticos tradicionais que contribuíram para a ineficiência das instituições
governamentais em responder às demandas da população, gerando predisposições das pessoas em
não acreditar, e muito menos confiar, nas regras do contrato social vigente.
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DEMOCRACIA BRASILEIRA
A este respeito, Carothers (2002) argumenta que as novas democracias são regimes híbridos que se
situam entre a democracia e o autoritarismo, materializados pela capacidade das elites em se apro-
priar progressivamente dos recursos estatais, mesmo com a existência de uma oposição e institui-
ções democráticas. Deste modo, as elites se afastam da sociedade e se encapsulam no poder.
Presentemente, na linha da reflexão sobre qualidade democrática, uma das principais preocupações
dos cientistas políticos se orienta no sentido de tentar explicar o mau funcionamento dos regimes de-
mocráticos considerando a dimensão social, pois, embora a economia mostre uma razoável estabili-
dade e avanços na redução da pobreza concomitantemente ao crescimento econômico tenhm sido
verificados, não se constata a criação de estruturas sociais mais justas.
Para Coraggio (2008), por exemplo, a pobreza e a indigência podem mudar seus números momenta-
neamente, porém, a tendência da degradação da qualidade de vida continua.
Ao contrário da situação na Europa, onde os dados indicam que houve uma redução dos níveis de
desigualdade e da pobreza nas últimas décadas, tal situação não se observa em países em desen-
volvimento como o Brasil, onde a situação material da maioria da população continua precária (Pieró,
2006, p.51), principalmente no que diz respeito àqueles segmentos localizados na extrema pobreza.
O crescimento econômico per se tem pouco potencial em reduzir a pobreza no contexto de elevados
índices de desigualdade que caracterizam o país.
De 1981 a 2004, o nível de desigualdade no Brasil manteve-se inalterado, embora com oscilações em
1989, mas, na média, o índice de Gini foi de 0,574, em 1981, para 0,564, em 2004 (FERREIRA,
LEITE, LITCHFILED e ULYSSEA, 2006) e 0,509, em 2007 (Pasta do Governo Brasileiro, 2008). Tal
situação tem produzido, segundo alguns autores, um preço elevado, que continua sendo pago pelos
brasileiros em nome da suposta modernização econômica com base no mercado (TAVARES, 2002).
A classe média tem assumido o ônus do pagamento da dívida social, por meio de uma carga tributá-
ria brutal que inviabiliza a mobilidade social via trabalho assalariado. De acordo com Neto e Coelho, a
classe média não se beneficia da maioria dos programas de Lula, centrados nos pobres (NETO e
COELHO, 2008, p.83).
Na média, pagam impostos elevados para o governo e recebem, em troca, serviços insuficientes. O
Estado tem se mostrado, portanto, ineficiente em proporcionar serviços sociais adequados, além de
não conseguir erradicar as práticas de corrupção e de falta de ética na distribuição de recursos públi-
cos.
Dentro deste cenário, o objetivo deste artigo é examinar o problema do desempenho democrático a
partir de uma perspectiva diferente da tradicional, a qual enfoca unicamente a dimensão institucional.
O artigo está estruturado em três secções: a primeira examina o estado atual da democracia brasi-
leira; a segunda seção discute as possibilidades de promover uma democracia plena em condições
de crise econômica e distributiva, e finaliza, na terceira seção, avaliando o conceito de capital social
como dispositivo complementar que poderia auxiliar a promoção democrática.
Nesta última seção, utilizamos dados das pesquisas dos Estudos Eleitorais Brasileiros (ESEB), reali-
zados em 2002 e 2006, e do Latin American Public Opinion Project (LAPOP), realizado em 2007, com
amostras probabilísticas, no Brasil.
A meta democrática seria uma democracia ideal. Tocqueville sugeria que o Estado ideal era uma de-
mocracia com perfeita igualdade e liberdade, porém, alertava para os problemas potenciais de uma
maior igualdade política sem o adequado ambiente econômico, o que poderia, segundo o autor, levar
à institucionalização de uma tirania da maioria. Em outras palavras, se as condições econômicas e
sociais são desiguais, as democracias que pretendem proporcionar maiores liberdade e igualdade po-
líticas poderiam gerar uma pressão redistributiva excessiva, reduzindo a proteção à propriedade pri-
vada e distorcendo os incentivos para empreendimentos individuais.
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DEMOCRACIA BRASILEIRA
A relação que tem se estabelecido entre democracia, crescimento econômico e bem-estar está longe
de ser conclusiva. Para alguns autores, não há evidencia empírica de que a democracia gere cresci-
mento econômico (PRZEWORSKI e LIMONGI, 1993).
Para outros, é a qualidade das instituições que influencia o desempenho econômico no longo prazo
(ACEMOGLU, JOHNSON e ROBINSON, 2001). Essas divergências podem ser atribuídas ao que
Dahl se referia como um problema de mensuração democrática, pois a democracia "tem diferentes
significados, para diferentes pessoas em diferentes contextos e lugares" (DAHL, 2000, p.3).
Existem, por exemplo, as chamadas teorias céticas sobre a democracia, as quais enfatizam as defici-
ências do governo representativo. Para Besley e Coate (1998), a democracia pode se mostrar defici-
ente quando permite que vários grupos compitam por influência política. Subjacente a este posiciona-
mento, está a idéia de que o crescimento econômico pode ser alcançado por sistemas não democráti-
cos, e os que defendem esta postura utilizam o sucesso econômico dos "tigres asiáticos" para respal-
dar esta tese (RODRIK, 2005).
North é contundente ao afirmar que "a estrutura institucional mais favorável e que se aproxima des-
sas condições (eficiência do mercado no modelo neoclássico) é uma sociedade democrática moderna
com sufrágio universal" (NORTH, 1990, p.87). Uma terceira linha de pensamento diz respeito à in-
fluência que as instituições coloniais têm no desenvolvimento econômico e político de uma sociedade
(ACEMOGLU, JOHNSON, ROBINSON e YARED, 2006). O problema desta perspectiva teórica diz
respeito à dificuldade em operacionalizar variáveis do tipo herança colonial bem como instituições co-
loniais.
Nessa direção, Robert Dahl, um dos principais representantes da teoria pluralista da democracia,
postula que a democracia é um ideal impossível de se realizar na prática. O que existe, segundo ele,
são "práticas reais" ou "poliarquias", ou seja, combinações de lideranças com controle dos não líderes
sobre os líderes, regimes cujos atos apresentam uma correspondência com os desejos de muitos de
seus cidadãos durante um longo período de tempo.
O termo poliarquia inclui uma grande variedade de organizações que, se diferenciando entre si, são
normalmente chamadas de democracias. Algumas das características são:
1) que o controle das decisões governamentais sobre as medidas oficiais corresponde aos funcioná-
rios eleitos;
7) têm direito a formar associações políticas que buscam influir no governo, competindo nas eleições.
Refletindo sobre este tema, Hayek (1960) já argumentava que é nos seus aspectos dinâmicos e não
estáticos que o valor da democracia é observado:
"Da mesma forma que é verdadeiro para a liberdade, os benefícios da democracia se mostram so-
mente a longo prazo, podendo seus benefícios imediatos serem inferiores aos de outros tipos de go-
verno" (HAYEK, 1960).
A proposta de Dahl sobre poliarquia constitui-se ponto de referência para compará-la com o funciona-
mento atual deste tipo de regime no Brasil. Ao mesmo tempo, me parece que somente desta forma é
possível identificar caminhos alternativos para direcionar a democracia em uma dimensão substan-
tiva, na medida em que o pressuposto de democracia ideal contemporânea costuma ser o mercado,
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DEMOCRACIA BRASILEIRA
ocidental e liberal, indo além da justificativa idealista de democracia que não consegue captar as rea-
lidades que as novas democracias enfrentam, sobretudo em um futuro incerto. Nas chamadas novas
democracias da terceira onda, dentro das quais o Brasil se insere, o mercado tem assumido papel
central nas relações econômicas, políticas e sociais.
Estes fatores incidem diretamente não só na qualidade da democracia, mas, sobretudo, colocam em
xeque a legitimidade e a credibilidade do sistema democrático vigente.
Problematizar esses fatores para o Brasil pode proporcionar uma compreensão mais realista da cul-
tura política e da forma como os cidadãos internalizam normas e crenças em relação à política. Uma
análise realista da democracia sugere que os cidadãos das novas democracias têm uma boa compre-
ensão dos ideais democráticos, porém têm predisposições negativas em relação ao desempenho dos
novos regimes, principalmente se comparados com os do passado.
Embora as questões sociais tenham assumido publicitação e os últimos governos tenham mostrado
preocupação, seus esforços ainda podem ser considerados incipientes, agravados por uma incon-
gruência entre o modelo econômico implementado e os anseios da sociedade.
Nessa nova arena política de articulação de interesses, a sociedade tem perdido espaço, pois a nova
ordem social tem conseguido construir um novo controle de dominação política que debilita as forças
sociais como catalisadoras de novas identidades coletivas com forças de pressão no atendimento às
suas reivindicações.
Tal situação leva a que o Estado se mostre incapaz de criar uma relação congruente entre os formu-
ladores das políticas públicas e os recipientes de tais políticas. Acrescente-se que falta ao Estado re-
descobrir sua relação com a sociedade em um contexto político mais amplo que vai do local ao nacio-
nal e ao global e entender que esses três níveis estão estreitamente vinculados.
A referida incongruência não tem possibilitado o surgimento e o fortalecimento de uma cultura política
cidadã ativa. Na verdade, a aparência externa de uma democracia processual estável no Brasil omite
um sistema político civil ainda frágil.
A este respeito, Ames (2001) caracteriza a democracia brasileira contemporânea como uma nação
onde a governabilidade se constitui em um problema permanente. Esta afirmação está respaldada
em duas dimensões:
(2) a inabilidade do governo em implementar os referidos programas e políticas públicas. Quando es-
sas dimensões não são resolvidas adequadamente, as atitudes e comportamentos políticos das pes-
soas podem se dar na direção contrária ao fortalecimento democrático. Parte deste comportamento
reside na herança patrimonialista e clientelística que se enraizou na cultura política brasileira (Faoro,
1989).
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DEMOCRACIA BRASILEIRA
A hipótese básica, portanto, é de que, no Brasil, atualmente, temos uma cultura política híbrida, que
mistura dimensões formais procedimentais e informais, de tradição histórica, onde as instituições polí-
ticas geralmente carecem de credibilidade e, em alguns casos, de legitimidade.
Para entender por quê prevalecem essas características, é necessário examinar a percepção dos
brasileiros a respeito dos principais problemas do país, tentando identificar se está em andamento
uma institucionalização de valores pós-materiais. Caso isso se observe, sinalizaria a solidificação da
construção democrática.
Desse modo, é imperativo compreender a lógica de formação de crenças a respeito da política, uma
vez que isto poderia gerar subsídios à compreensão do paradoxo que a democracia brasileira en-
frenta bem como superá-lo, por meio, essencialmente, da formatação de uma base normativa de
apoio à democracia e, ao mesmo tempo, criação de capital social.
O Contexto Atual
No entanto, a realidade tem mostrado que, longe das expectativas criadas pela globalização, na
maior parte dos países em desenvolvimento, como o Brasil, constata-se uma tendência ao empobre-
cimento, um debilitamento dos sistemas de apoio social, crescimento das desigualdades, insegurança
em relação ao futuro e o crescimento da violência. De acordo com Menon, "ao invés de eliminar ou
reduzir as diferenças, a integração das economias nacionais ao sistema global tem, ao contrário, tor-
nado essas diferenças mais aparentes e, de muitas formas mais inaceitáveis" (MENON, 2006, p.3).
Para muitos autores (TURNER, 1994), a dependência contemporânea dos países do mercado para
resolver os problemas políticos, econômicos e sociais constitui-se num ataque selvagem aos princí-
pios da cidadania. Desse modo, o Estado moderno se articula como unidade do mercado, influenci-
ado pela transnacionalização da economia, e sofre uma transformação radical de suas funções eco-
nômicas, fragiliza sua soberania e enfrenta a desfiguração da democracia como forma de governo li-
gada à sua condição nacional (CELI, 2007).
Isto ocorre em virtude de um paradoxo que se estabelece, não só no Brasil, e que diz respeito à cons-
tatação da solidificação de um discurso que privilegia a democracia formal, simultaneamente com a
precarização das condições de vida da população.
Tal paradoxo cria uma situação histórica única, na qual, parece-me, estamos assistindo a um pro-
cesso de deslegitimação ou desconsolidação democrática. Este processo se implanta em virtude do
aumento da violência, praticada tanto por agentes estatais como no âmbito privado, cujos responsá-
veis, apesar do restabelecimento democrático, continuam a se beneficiar da impunidade e da imparci-
alidade da lei.
Para Menendez-Carrión, por exemplo, a maioria das democracias na América Latina estão longe de
serem capazes de assegurar liberdade e justiça para todos, apesar da crescente incorporação de
normas legais sancionadoras da discriminação (MENENDEZ-CARRIÓN, 2003).
Nessas circunstâncias, o processo de redemocratização no país não tem conseguido eliminar vícios
antigos da política.
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DEMOCRACIA BRASILEIRA
história tem mostrado que apesar deste aspecto procedimental ser necessário para começar a forta-
lecer o processo democrático, não é suficiente para falar em justiça social, se por progresso democrá-
tico se entende a dimensão social.
Para falar de um regime desta natureza são necessários outros elementos, por exemplo, possuir prá-
ticas políticas participativas na cultura política da cidadania, simultaneamente com a construção de
uma rede institucional forte que regule a vida política e que se constitua no espaço por excelência da
tomada de decisões.
A questão subjacente a esta preocupação diz respeito ao poder dos cidadãos em desenhar as insti-
tuições que eles operam e não, simplesmente, reagir mais ou menos passivamente a situações da-
das e impostas.
Trata-se, em última análise, de avaliar se fatores culturais contribuem, ou não, para o fortalecimento
democrático, produzindo mudanças atitudinais.
Nesse sentido, penso que um dos principais problemas que enfrentamos na análise desta questão é
que, frequentemente, o conteúdo das reformas é importado e sua falta de relação com o cenário que
se examina gera distorções que, via de regra, se perpetuam, por não termos mecanismos de fiscali-
zação efetivos e eficazes que atribuem um peso exagerado à dimensão econômica, em detrimento do
progresso social.
Tais distorções ficam evidenciadas quando se analisa a evolução dos indicadores sociais no Brasil a
partir de 1994. Por exemplo, constata-se que os problemas sociais, a despeito do aumento da produ-
tividade e do crescimento econômico observados no país, não têm sido resolvidos. Esses indicadores
não têm conseguido produzir reduções significativas e duradouras da pobreza e da desigualdade so-
cial.
A análise de dados para o Brasil, no que diz respeito à mortalidade externa, revela que, de 1991 para
2000, a taxa de homicídios para a faixa etária de 15 a 24 anos aumentou em 95%. Igualmente, as de-
sigualdades por gênero não têm sido plenamente resolvidas, pois, apesar de avanços significativos,
as mulheres continuam a ter remunerações inferiores às dos homens, mesmo com níveis iguais de
escolaridade.
No que diz respeito à variável raça, de acordo com a Síntese de Indicadores do IBGE para 2003,
constatou-se que as mulheres negras brasileiras apresentam os piores indicadores sociais em qual-
quer aspecto que se analise.
É preciso ressaltar também que, apesar de o Brasil ter alcançado um índice de desenvolvimento hu-
mano (IDH) de 0,800, o país baixou sua posição no ranking mundial deste índice, indo da 69ª para a
72ª posição. De acordo com Neto e Coelho, isto sinaliza que outros países aproveitaram melhor a
conjuntura favorável da economia mundial (NETO e COELHO, 2008, p.81).
Tal fato é corroborado por Mussi e Afonso (2008), para quem, comparado com a América Latina, que
cresceu economicamente 26,5% no período de 2002 a 2007, o Brasil mostrou um crescimento menor.
De maneira geral, a situação social está longe de ser equacionada, pois o índice de crescimento eco-
nômico, embora tenha passado de 2,9%, em 2006, para 5,19%, em 2007, está longe de sanar o défi-
cit social histórico que se acumulou e não consegue garantir uma melhor qualidade de vida para as
pessoas, principalmente se leva em conta que também os índices de inflação deram um salto signifi-
cativo de 3,83%, em 2006, para 7,75%, em 2007 (IGP-M, 2008).
O retorno da inflação em escala internacional, em virtude do aumento dos preços dos comodities, não
somente está afetando o preço do petróleo, mas, sobretudo o preço dos alimentos, o que poderá ter
consequências negativas para o processo de construção democrática do país.
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DEMOCRACIA BRASILEIRA
Essa situação, de acordo com alguns autores (MUSSI e AFONSO, 2008, p.149), produz uma única
certeza em países como o Brasil: uma profunda incerteza. Atualmente, portanto, existe mais desigual-
dade social, precarização do trabalho, mais frustração e uma maior descapitalização. Mesmo que a
dívida externa tenha sido equacionada, a dívida interna tem crescido linearmente, produzindo os efei-
tos já conhecidos de empobrecimento e de exclusão social da população.
Embora os indicadores disponíveis para examinar a desigualdade social se dêem com base no coefi-
ciente de Gini, e as percentagens de riqueza que concentram grupos da população, o Brasil é o país
que, na segunda metade do século XX, aumentou a desigualdade (Gini, 6,6% no período 1960 a
1997) e a concentração de renda nos setores mais ricos (os 20% mais ricos concentraram renda no
período de 1960 a 1990 em uma média de 62%, enquanto para os 20% mais pobres foi de 2,7%) (PI-
ERÓ, 2006, p.35).
Nesse contexto, apesar de alguns avanços na economia e no campo da poliarquia, o Brasil continua
a experimentar uma situação precária nos campos social e econômico. No campo social, tal crise se
materializa na desigualdade de oportunidades na educação, saúde, moradia e qualidade de vida para
as pessoas.
Também se institucionalizou o que se denomina "pobreza dura", a qual caracteriza uma situação da
pobreza estrutural que exclui, permanentemente, um segmento da população que não dispõe de re-
cursos (saúde, educação e informação) exigidos para ter acesso às oportunidades geradas quando
existe crescimento econômico. Acrescente-se a essa situação o surgimento de uma nova categoria
de cidadãos que se incorpora aos excluídos.
Este segmento, oriundo da classe trabalhadora, tem experimentado um crescimento significativo, pois
inexistem mecanismos, via políticas públicas, que os requalifiquem para o novo contexto de mercado
e os protejam com salário-desemprego durante a época deste treinamento. Nessas condições, esca-
par da pobreza se torna uma tarefa difícil.
Presentemente, em virtude da não alteração do modelo de mercado que privilegia a estabilidade pro-
cedimental em detrimento da estabilidade societária, continuando, nesse cenário, a penalizar a classe
média, as possibilidades de construir uma democracia socialmente justa são remota. Para Solt, por
exemplo, a desigualdade econômica deprime o interesse, a discussão e a participação política, parti-
cularmente dos setores mais pobres (SOLT, 2008, p.48).
Essa situação, em minha opinião, tem agravado a crise política latente que o país vive atualmente,
camuflada pela ideia de que vivemos uma estabilidade econômica e política.
O que se observa é a solidificação de uma democracia mínima, a qual explicaria a situação que se
apresenta nas transições, desde regimes não democráticos até formas democráticas de governo, nas
quais justificar-se-ia a idéia do "mínimo indispensável" a considerar na hora de negociar com anteces-
sores que não têm feito da democracia sua prática de governo (DAHL, 1997).
Porém, conceber a democracia nessa dimensão pode gerar a idéia de que, uma vez estabelecida a
democracia formal, a sociedade resolverá todos seus problemas. No entanto, a realidade tem mos-
trado algumas questões, particularmente no âmbito social, que a democracia processual não tem
conseguido resolver, fazendo com que o poder invisível do Estado governe além da vontade popular.
Essa situação motivou a reintrodução da questão social na agenda da democratização no Brasil, co-
locada em posições privilegiadas nos índices que medem a democracia (PNUD, 2004; WEHR, 2007).
Porém, mesmo no relatório do PNUD (2004), constata-se que a ausência da dimensão social erode a
legitimidade democrática. No entanto, as análises e propostas continuam a ser dominadas pelo enfo-
que institucionalista (BURCHARDT, 2008).
A percepção das virtudes da democracia formal pode ser explicada pelo fato de que nas pesquisas
sobre os processos democráticos tem preponderado o estudo das democracias estabelecidas, onde a
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DEMOCRACIA BRASILEIRA
estrutura governamental e a natureza do regime não estão em questão para os cidadãos. Pode haver
desconfiança em relação às instituições políticas e oposição a políticas públicas, mas não existem
predisposições estruturais para mudar o regime democrático vigente.
No caso das novas democracias que estão em processo de construção e solidificação, ao contrário, a
natureza, a identidade e a sobrevivência do regime são questões essenciais. Tal requisito coloca, na
agenda da democracia brasileira, a necessidade de promover esforços que gerem o apoio dos cida-
dãos aos princípios democráticos e à reforma estrutural e permanente, como nas democracias conso-
lidadas.
Quando isso não ocorre, o Estado perde em transparência. Por exemplo, as decisões que se tomam
não são publicadas, persistem práticas clientelistas, a força das corporações e dos lobistas aumenta,
podendo, assim, debilitar o regime democrático até torná-lo pouco representativo do interesse geral.
Esta crise se materializa na medida em que o sistema político não consegue resolver, por meio de
ajustes e pelas instituições convencionais da democracia representativa, suas contradições. Neste
contexto, o quadro sócio-institucional mostra-se incapaz de resolver os dilemas que o sistema produz,
apesar das políticas de ajuste estrutural e das políticas sociais compensatórias que se implementam.
Desta forma, a crise está fundamentada em duas questões básicas. A primeira é a contradição entre
acumulação e democratização, a qual se inscreve na própria natureza do capitalismo periférico que
viabilizou uma retração da ação estatal nas inversões e no gasto social com um impacto muito forte
nas classes populares.
Isto ocorre porque no momento em que o Estado se retira do gasto social ninguém assume os servi-
ços de saúde, educação e a manutenção de uma infra-estrutura, piorando a qualidade destes. Assim,
a democracia reduz-se a um sistema de liberdades econômicas em benefício da acumulação privada.
Uma democracia concebida nesses termos acaba sendo compatível com a degradação das maiorias,
com a fome, com o desemprego, com a doença e com uma queda na qualidade de vida da maioria
dos cidadãos.
Um aspecto colateral deste tipo de democracia, como foi dito, é o impacto negativo nas classes mé-
dias, gerando sua diminuição quantitativa e qualitativa, a despeito da implementação de dispositivos
que tentam diminuir estes impactos negativos.
No caso brasileiro, por exemplo, a expansão de crédito foi facilitada por iniciativas do governo de am-
pliar o acesso e reduzir os custos dos empréstimos bancários. No entanto, apesar da economia de
crédito ter se institucionalizado de maneira significativa, atenuando, de alguma forma, a situação da
classe média, não se pode considerar que será algo permanente, em virtude da ainda presente fragili-
dade do país a oscilações do mercado internacional, que já começam a se manifestar no aumento
dos índices de inflação.
Desse modo, não por acaso, a dimensão social tem sido uma das características mais enfatizadas,
nos últimos anos, nas análises sobre a democracia no Brasil.
Embora tenha se constatado um avanço significativo no gasto social, principalmente oriundo do au-
mento da pressão tributária e de um bom momento econômico, mantendo a economia e o consumo
aquecidos, a percepção generalizada da população é de que isto é insuficiente.
O bom momento econômico revela também a falta de capacidade do Estado em atender às deman-
das de mais direitos econômicos, sociais e culturais, em virtude da falta de recursos, da regressivi-
dade de suas políticas ou da incapacidade de oferecer os serviços essenciais demandados pela soci-
edade.
Nessas circunstâncias, o tipo de cultura política que se instala no país tende a reproduzir vícios e prá-
ticas deletérias para o fortalecimento democrático e para uma coesão social mais sólida. Nesse con-
texto, torna-se necessário rever os conceitos tradicionais de democracia no país com o objetivo, se-
gundo Sen (2003), de fomentar mais democracia.
Em síntese, pode-se dizer que, em alguns aspectos, a democracia brasileira exibe ganhos significati-
vos, principalmente como modelo de transmissão de poder. Porém, é necessário pensar um modelo
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DEMOCRACIA BRASILEIRA
diferente, que incorpore as dimensões subjetivas com vistas a fortelecer a democracia. Dois desses
elementos são a cultura política e o capital social.
A base da discussão a respeito do estado atual da democracia brasileira reside na sua incapacidade
de materializar políticas públicas eficientes e eficazes. A maior parte das iniciativas de combate à de-
sigualdade social acaba se transformando em políticas assistencialistas que não alcançam o objetivo
inicial de geração de igualdade social.
Os programas e políticas focados diminuem a pobreza, mas não transformam a sociedade. É preciso
repensar os modelos de financiamento e de gasto público para que os setores mais necessitados dis-
ponham de um tratamento integral e não meramente uma assistência social.
Esta situação tem produzido a emergência de predisposições atitudinais de caráter negativo nos bra-
sileiros. Verificam-se elevados índices de ceticismo político sobre a política democrática. Surge,
nesse contexto, uma relação complexa entre as instituições políticas e suas práticas e o sentido e in-
terpretação que os cidadãos dão à vida política.
A incongruência entre a dimensão institucional e a prática política tem desembocado naquilo que se
convencionou chamar de informalização da vida política (PACHANO, 2003).
A informalização do campo político institucionalizou o debate normativo a respeito dos méritos relati-
vos da democracia representativa em relação à democracia direta (GERBER, 1999). Ao mesmo
tempo, a popularização da democracia direta deriva das deficiências e fragilidades dos mecanismos e
organizações convencionais de mediação política.
Nesse contexto, na política contemporânea, são mantidos velhos vícios de fazer política com institui-
ções "modernas" produzindo uma ambiguidade do significado do "fazer política", pois, em muitos ca-
sos, não se sabe se a crise de mediação política é fruto da prática política ou das instituições demo-
cráticas. De fato, tendo em vista a história do Brasil, essas duas dimensões estão interligadas.
Desse modo, a presença de crises políticas, e sua não solução definitiva, alimenta a longo prazo uma
crise da democracia que se manifesta no desapego dos cidadãos aos princípios democráticos e na
desconfiança em relação às instituições democráticas.
As instituições formais seguem e aplicam procedimentos democráticos, porém suas práticas lhes dão
outro sentido, indo de encontro às exigências normativas explicitadas na teoria. Nessas circunstân-
cias, se produz um paradoxo onde a institucionalidade democrática adquire estabilidade, mas geral-
mente carece de legitimidade.
No caso brasileiro, as instituições políticas geram incentivos que encorajam os políticos a maximizar
seus ganhos pessoais e a se concentrar em troca de favores, manchando sua imagem e, consequen-
temente, o regime, aos olhos dos cidadãos (AMES, 2001, p.4).
Na ausência de uma sociedade civil vibrante e participativa, os cidadãos geralmente recorrem a medi-
adores privados, à margem das instituições tradicionais de mediação política, principalmente os parti-
dos. Isto ocorre porque, de maneira geral, o Brasil pode ser caracterizado como uma sociedade de
massas, superimposta a uma configuração estrutural de caráter patrimonialista.
Em uma sociedade deste tipo, o Estado detém praticamente o poder absoluto na determinação das
políticas públicas e a sociedade tem um papel insignificante, decorrente de um processo histórico
onde aquele se estruturou antes desta. Ao refletir sobre este tema, Carvalho resgata a evolução do
Estado na estruturação da cidadania no Brasil, argumentando que a cidadania é formatada a partir do
Estado e não da sociedade civil, existindo, portanto, não uma cidadania, mas uma estadania (CAR-
VALHO, 2004, p.61).
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DEMOCRACIA BRASILEIRA
Nessa situação, não existe soberania doméstica, onde os cidadãos possam eficientemente influenciar
as decisões governamentais que os afetam. A este respeito, Petras e Veltmeyer afirmam que:
"(...) la influencia creciente de actores e instituiciones internacionales poderosos, como las agencias
de cooperación para el desarrollo, el Fondo Monetário Internacional (FMI) o los mercados financieros
globales debilitó el peso de los derechos locales de participación política" (PETRAS e VELTMEYER,
2001, p.88).
Em tal contexto, o Estado, mesmo sendo democrático, não está submetido a regras eficientes de fis-
calização e é muito mais responsivo às pressões externas do que às demandas internas, razão pela
qual os investimentos sociais não correspondem adequadamente às necessidades da população.
As instituições convencionais de mediação política não conseguem desempenhar tal função, tor-
nando-se alvos da hostilidade dos cidadãos. Salazar (2001), referindo-se ao caso mexicano, porém,
em minha opinião, aplicável ao Brasil, afirma que:
"Los partidos actuales se comportan como las empresas electorales de una vieja clase política que
sirven como arenas para el reparto del poder y gestión de intereses particulares. Postulan los atribu-
tos personales de los candidatos, no sus posiciones ni programas. La competencia se rige por las
reglas de la mercadotecnia, los candidatos se venden como productos no como portadores de pro-
yectos. La elevada inversión en las campañas publicitarias es requisito ineludible y factor de peso en
los resultados electorales. La demagogia y la propaganda son moneda corriente, inpunes, hasta el
momento. Los liderazgos personales cercanos al caudillismo son muy prolongados. Los partidos son
organizaciones verticales, corporativas, burocráticas, que no rinden cuentas a sus militantes ni a la
sociedad" (SALAZAR, 2001, p.2).
A partir dessa perspectiva, é possível conjeturar que o tipo de cultura política que tem se estabelecido
no Brasil ao longo de sua história se caracteriza pela internalização e naturalização, por parte dos ci-
dadãos, da ineficiência e da pouca importância atribuída às instituições da democracia representativa.
Se por cultura política se entende a existência de valores e crenças que predominam em uma socie-
dade (ALMOND e VERBA, 1965), então os dados, divulgados por pesquisas de opinião política
(ESEB, 2002; 2006; Latinobarômetro, 2004 - 2006), revelam uma dimensão estrutural de negação da
política na sua forma convencional e poliárquica.
Nesse sentido, é possível argumentar que existe uma relação causal recíproca permanente entre ins-
tituições deficientes que não produzem cidadãos com predisposições democráticas e estes, por sua
vez, distanciam-se e mostram desapego por essas instituições por não acreditarem nos seus objeti-
vos e desconfiarem de suas intenções.
De acordo com Neto e Coelho, as crises ligadas à corrupção, nos últimos três anos, mostram como o
desprezo, "por parte do Executivo, do Legislativo pode ser corrosivo para a democracia, na medida
em que deslegitima e desmoraliza esta instituição e sem a qual a própria noção de democracia perde
sentido" (COELHO e NETO, 2008, p.99).
Em síntese, o quadro atual da democracia brasileira sinaliza as dificuldades que o governo enfrenta
na aplicação de políticas públicas em um ambiente de desconfiança que significa distanciamento, in-
diferença, falta de reciprocidade e de solidariedade social. Um ambiente com essas características
dificilmente conduz ao fortalecimento e muito menos à consolidação de uma cultura política democrá-
tica (entendida na sua dimensão social). Nesse cenário, um componente postulado como mecanismo
ou instrumento para fortalecer a democracia é o capital social.
Capital Social
Uma dimensão que resultou do processo de redemocratização no Brasil foi a reformulação do Es-
tado, que, em virtude da grande dívida social, voltou-se para o estabelecimento de mecanismos para
sanar esse déficit.
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DEMOCRACIA BRASILEIRA
Entre os aspectos principais do novo perfil do Estado estão: um processo de descentralização, repas-
sando responsabilidades para estados e municípios a partir da Constituição de 1988; a tentativa de
melhorar a burocracia estatal; a implementação de dispositivos de fiscalização das instituições e ges-
tores públicos; combate a práticas de corrupção; o incentivo à participação política mais protagônica
dos cidadãos e uma sociedade plenamente mobilizada com capital social.
A crise econômica que se mantém nas novas democracias, caracterizadas pela pobreza e pela desi-
gualdade social, estimulou o interesse nas redes sociais informais como mecanismo complementar
para buscar soluções a estes problemas. As redes sociais passaram a ser vistas como dispositivos
estratégicos de soluções sociais.
Os pobres, principalmente, foram considerados o alvo principal do fortalecimento dessas redes na-
quilo que se convencionou chamar de capital social, na medida em que se considerava que a coesão
comunitária poderia assegurar um desenvolvimento social e econômico onde antes o Estado tinha
fracassado.
Nessa direção, as últimas décadas têm mostrado, por exemplo, a proliferação de organizações não-
governamentais, associações comunitárias, de proteção ao consumidor, de direitos humanos, muitas
delas criadas da base, por iniciativa dos próprios cidadãos.
De acordo com dados do Instituto de Serviço Global da Universidade de Washington (2004), há atual-
mente na América Latina cerca de um milhão de organizações da sociedade civil (OSC) que atuam,
principalmente, nos campos da dimensão social: moradia, saúde, educação, segurança, direitos hu-
manos, desenvolvimento comunitário, empoderamento cidadão, capacitação profissional dos excluí-
dos, meio ambiente, participação social e capital social.
Estas organizações são consideradas como catalisadoras de capital social, principalmente para as
camadas mais pobres, dotando-as de capacidade mobilizadora via ação coletiva para assegurar um
desenvolvimento social comunitário mais incidente nas suas vidas, particularmente onde o Estado
tem fracassado.
Essas redes podem ser ativadas para facilitar a ação coletiva que seja benéfica não somente para os
indivíduos, mas, sobretudo, para as comunidades. Dessa forma, o capital social é um fator chave
para explicar a persistência de economias locais num contexto de globalização, pois, em alguns ca-
sos, ele é mais importante do que a renda enquanto determinante de bem-estar.
A despeito das críticas que têm sido feitas ao conceito de capital social, este termo se institucionali-
zou com base em evidência empírica e com esforços que buscavam delimitá-lo. Nessa direção, três
formas de capital social têm sido identificadas, a saber: encapsulamento (bonding), de ponte (brid-
ging) e de conexão (linking). Estas dimensões têm sido úteis na compreensão das fontes e resultados
do capital social.
O primeiro tipo de capital social, de encapsulamento, diz respeito ao capital social que emerge das
relações intra-grupo. Este tipo de capital, segundo Putnam (2000), proporciona as bases sociais e
psicológicas que as pessoas desse grupo necessitam para enfrentar as dificuldades do cotidiano. No
lado negativo desta dimensão, pode-se gerar um processo de exclusão daqueles que não fazem
parte do grupo.
Por sua vez, o capital social entre-grupos (bridging) se refere aos esforços das comunidades em esta-
belecer comunicações horizontais para resolver o dilema da ação coletiva. Finalmente, o capital so-
cial do ponto de vista do estabelecimento de contatos verticais (linking) se refere às relações que se
produzem entre estratos diferentes de riqueza e status. Este tipo é fundamental para abrir canais de
comunicação com as instituições formais além da comunidade e que proporcionam, também, o de-
senvolvimento econômico e bem-estar comunitário.
Um dos aspectos fundamentais que dão tangibilidade ao conceito de capital social é o contexto em
que é utilizado.
Quer dizer, exige do pesquisador um tratamento mais estratégico do que abstrato do termo, pois é
preciso operacionalizar capital social em conexão com contextos específicos e que vão ao encontro
de políticas públicas e objetivos governamentais. Trata-se, fundamentalmente, de transformar o co-
nhecimento em ação.
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DEMOCRACIA BRASILEIRA
Por essa razão, o conceito de capital social é considerado o mais importante a emergir das ciências
sociais nos últimos cinquenta anos (HALPERN, 2005, p.1), na medida em que se constitui em um
meio para um fim e não um fim em si mesmo. Enquanto meio, facilita o acesso a várias formas de re-
cursos ou apoio através das redes de relações sociais. Este processo facilita alcançar os objetivos
mais amplos das políticas, tais como a redução da pobreza e da exclusão social.
O interesse a respeito de capital social deriva de duas dimensões. Em primeiro lugar, para os gesto-
res públicos, este conceito, de alguma maneira, resgata a dimensão social nas análises predominan-
temente econômicas da realidade contemporânea. Nessa perspectiva, capital social é visto como o
elo mais humano que faltava quando se aplicavam modelos econômicos de mercado.
A segunda fonte de interesse advém da proliferação de pesquisas sobre esta temática na comuni-
dade acadêmica. Capital social tem sido associado a uma melhor qualidade democrática (JEFF,
2003), a uma participação política mais protagônica (KLIKSBERG, 2006), ao desenvolvimento econô-
mico (ROBINSON, 2006) e à educação (BAQUERO, 2006).
Nesse contexto, as redes às quais um indivíduo pertence ou se envolve no cotidiano (amigos, cole-
gas, igreja, sindicatos, associações desportivas, partidos políticos, entre outros) são fatores que inci-
dem na identificação e produção de capital social.
Do ponto de vista do desenvolvimento democrático, uma participação mais consequente dos cida-
dãos é considerada essencial, a qual, pressupõe-se, deriva da intensidade com que um indivíduo se
envolve em associações formais ou informais e redes.
A hipótese básica é que quanto mais uma pessoa participa de redes e associações, maiores as pos-
sibilidades de desenvolver virtudes cívicas que tangibilizem o bem coletivo. Existe evidência empírica
que mostra a existência de capital social na promoção de cidadãos ou consumidores mais efetivos da
política, na medida em que mostram que a existência de estruturas comunitárias fortes está associ-
ada, não só à promoção do desenvolvimento e da participação comunitária, mas também ao apoio a
políticas públicas governamentais.
As experiências mais emblemáticas desse fenômeno na América Latina advêm das experiências de
Villa El Salvador no Peru; das feiras de consumo popular na Venezuela e do orçamento participativo
em Porto Alegre (KLIKSBERG, 2000).
Essas referências sugerem que capital social pode incidir na promoção de instituições mais confiá-
veis, mas isso não significa que o contrário não possa ser verdadeiro, ou seja, que ações governa-
mentais e instituições eficientes e eficazes não possam contribuir para a criação de capital social. O
problema é que, no caso brasileiro, o governo não parece disposto a abrir sua estrutura de oportuni-
dades políticas, desvalorizando, neste sentido, as suas próprias instituições e gerando, paradoxal-
mente, a necessidade de produzir capital social oriundo da sociedade lato sensu para melhorá-las.
O avanço democrático e a promoção do diálogo em bases equitativas pressupõem que os atores so-
ciais estejam em igualdade de condições político-jurídicas. Na medida em que na realidade isto não
se constata, o capital social emerge como categoria que capacita os setores mais desfavorecidos a
participar na arena política com mais eficácia na defesa dos seus interesses.
Capital social, nesta perspectiva, auxilia a garantir que a participação dos setores mais pobres seja
levada em conta pelos gestores públicos, fomentando a eficácia interna dos cidadãos. Segundo Co-
hen (1995), este processo atenua os efeitos das assimetrias de poder existentes.
A implicação deste processo na conceituação de democracia no país é que amplia sua abrangência
para além da igualdade político-jurídica, incorporando a inclusão social dos cidadãos. Trata-se, por-
tanto, segundo Cohen, de uma democracia social, que não tem apenas um caráter corretivo do sis-
tema existente, mas que dispõe de um importante potencial para realizar reformas destinadas a modi-
ficar os fundamentos básicos da ordem social.
Nessas circunstâncias, no caso de países como o Brasil, a questão de causalidade entre democracia
e capital social ou vice-versa está longe de ser conclusiva e, de fato, influenciam-se reciprocamente.
O valor da discussão de capital social reside na possibilidade de tangibilizar seus resultados para a
melhoria da governança democrática, onde instituições e valores culturais subjetivos precisam ser
avaliados e implementados concomitantemente.
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DEMOCRACIA BRASILEIRA
Assim, a despeito das diferentes definições de capital social, Halpern (2005) sugere que:
"Societies are not composed of atomized individuals. People are connected with one another trough
intermediate social structures - webs of association and shared understandings of how to behave.
This social fabric greatly affects with whom, and how, we interact and cooperate. It is this every day
fabric of connection and tacit cooperation that the concept of social capital is intended to cap-
ture" (HALPERN, 2005, p.3).
No Brasil, a idéia da necessidade de criar mecanismos que incidam em uma maior integração entre
Estado e sociedade e entre os cidadãos não é nova. Por exemplo, Celso Furtado (1982), na sua refle-
xão a respeito do desenvolvimento econômico no Brasil, defendia a necessidade de políticas de inclu-
são social e de dispositivos que estimulassem uma convivência mais pacífica e orgânica entre os ci-
dadãos.
Tal preocupação também estava dentro dos estudos de Milton Santos (2005), que defendia ser ne-
cessária uma maior participação dos cidadãos no processo de tomada de decisões e na fiscalização
dos gestores políticos. Talvez a principal referência a respeito da importância de criar mecanismos de
envolvimento mais protagônico dos cidadãos por meio de processos de mobilizações emancipatórias
tenha sido Paulo Freire (1970).
Desse modo, embora sem utilizar explicitamente o conceito de capital social, há, na tradição das ciên-
cias sociais brasileiras, o reconhecimento da imperatividade de se promover o fortalecimento dos la-
ços sociais entre os cidadãos na busca de benefícios coletivos no nível macro ou micro, bem como
para produzir uma melhor governança.
A natureza causal que conecta capital social e desempenho governamental é desenvolvida por Boix e
Posner (1995, 1998). Para os autores, o capital social pode:
1) tornar os cidadãos consumidores sofisticados da política e oferecer canais por meio dos quais suas
demandas possam ser articuladas;
3) promover a virtude na cidadania, saindo de uma dimensão individualista para uma orientação co-
munitária, produzindo cidadãos mais obedientes às leis e, portanto, facilitando a implementação de
políticas públicas, e;
Segundo os autores, culturas com níveis elevados de confiança facilitam a cooperação. Desse modo,
a confiança e o compartilhamento de normas tornam possível solucionar uma gama ampla de proble-
mas políticos.
Tal perspectiva encontra respaldo na idéia de que democracias eficientes se fortalecem quando há
uma congruência entre atitudes e comportamentos que valorizam a democracia. Nessa direção, para
Sullivan e Transue (1999), as democracias necessitam da tolerância dos cidadãos em relação aos
esforços de outras pessoas para participar da política.
No entanto, cabe indagar se o novo impulso ao envolvimento político com base na construção de ca-
pital social que se inicia na virada do milênio poderá se consolidar de forma permanente. Uma se-
gunda indagação busca avaliar se estarão crescendo as bases e precondições necessárias para que
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DEMOCRACIA BRASILEIRA
Estes três componentes básicos denominados de redes, normas e sanções, que são compartilhados
pelos membros de uma comunidade, existem para produzir capital social. As sanções, por exemplo,
para os que se desviam do contrato social, são fundamentais para mantê-lo. É este tópico que passa-
mos a examinar do ponto de vista empírico.
De maneira geral, argumenta-se que a democracia se fortalece quando os cidadãos mostram preocu-
pações que vão além da dimensão material, por exemplo, defesa do meio ambiente, qualidade de
vida e a dimensão subjetiva de bem-estar (NYE, 1997).
Uma das variáveis que têm assumido centralidade na questão da governabilidade é que tipos de pro-
blemas as pessoas consideram mais importantes.
No período examinado (2002 a 2007), o Gráfico 1 mostra, em primeiro lugar, que os brasileiros identi-
ficaram, como os principais problemas, aqueles de natureza material: desemprego, corrupção, po-
breza, violência, fome e educação.
Não foram mencionados problemas de caráter pós-materialista, sugerindo que a base material brasi-
leira está longe de estar resolvida.
No entanto, cabe notar que, do ponto de vista de uma avaliação pontual, o desemprego e a violência
parecem estar crescendo, enquanto os problemas da pobreza, fome e educação permanecem estag-
nados. A corrupção mostra uma oscilação significativa em 2006, fruto, provavelmente, das denúncias
do mensalão no parlamento brasileiro.
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DEMOCRACIA BRASILEIRA
Quando a percepção de que a dimensão material não é adequada, as instituições políticas desempe-
nham papel fundamental para criar as bases de uma legitimidade sólida que resista a tentações auto-
ritárias, criando um ambiente de onde a dimensão material está sendo equacionada favoravelmente
para a maioria da população. No entanto, como vários estudos têm mostrado (MOISÉS, 2005; BA-
QUERO, 2000), a avaliação das instituições políticas feita pelos brasileiros é preponderantemente ne-
gativa.
Nesse cenário, os grandes problemas estruturais do país continuam vigentes e a mão invisível da glo-
balização e do mercado não tem conseguido gerar as bases de uma legitimidade societária. Desse
modo, a democracia não se consolida em virtude de deficiências econômicas e sociais e da ausência
de instituições fortes e de uma cultura política que valorize tais instituições.
Esse processo tem criado oportunidades para o surgimento e o desenvolvimento de formas alternati-
vas de construção de identidades coletivas com base na solidariedade e reciprocidade, em outras pa-
lavras, com capital social. Nessa perspectiva, pressupõe-se que iniciativas de base que visam o forta-
lecimento democrático emanam de três fatores operando interdependentemente, sendo eles, as re-
des, as normas e as sanções.
Com base nos dados da pesquisa eleitoral realizada em 2002 no Brasil, tentou-se identificar a exis-
tência dessas dimensões conceituais. Através de análise fatorial, buscou-se aferir, basicamente, se
os brasileiros distinguem conceitualmente essas três dimensões de capital social. Os dados são apre-
sentados no Quadro 1.
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DEMOCRACIA BRASILEIRA
No entanto, o segundo fator ("normas") é preocupante, na medida em que se observa uma tendência
à aceitação de um comportamento por parte dos gestores públicos que não está de acordo com prin-
cípios administrativos éticos. Muitas das obrigações sociais compulsórias dos gestores públicos, con-
sequentemente do Estado, são vistas como dispositivos que funcionam simultaneamente com práti-
cas administrativas deletérias para o processo de construção democrática. Neste fator, embora as
normas sejam compartilhadas pelos brasileiros, elas produzem um conteúdo que vai de encontro à
produção de capital social positivo.
Finalmente, o terceiro fator, denominado "sanções", é incongruente com um processo positivo de de-
senvolvimento de hábitos democráticos. Nota-se que as variáveis que conformam este fator traduzem
duas dimensões já documentadas histórica (LEAL, 1976; NUNES, 1997; FAORO, 1989) e empirica-
mente (BAQUERO, 2000) e que dizem respeito a posturas de resignação e hostilidade em relação à
política. Os indicadores deste fator captam predisposições de caráter não republicano em relação a
medidas que deveriam ser adotadas para punir os políticos que se desviam de práticas políticas éti-
cas.
Em síntese, o fator "redes" se refere ao reconhecimento, por parte dos cidadãos, de que é necessário
participar em iniciativas formais e informais.
O segundo fator diz respeito a normas sociais. Existem regras que precisam minimamente ser com-
partilhadas. O terceiro fator se refere a como as pessoas vêem a possibilidade de introduzir sanções
a comportamentos deletérios dos gestores públicos.
Um dos princípios fundamentais que dão sustentação à democracia formal em relação a outras for-
mas de governo é que ela permite que os cidadãos periodicamente avaliem o desempenho dos seus
representantes, punindo-os (através de não reeleição) ou recompensando-os (pela reeleição) (PIT-
KIN, 1967; PRZEWORSKI, STOKES e MANIN, 1999).
Este princípio de fiscalização (accountability) dos gestores públicos é que garante o princípio da re-
presentação política. Em outras palavras, a fiscalização está relacionada com a possibilidade de re-
moção de funcionários ineficientes, incompetentes e desonestos de seus cargos. É por meio deste
mecanismo que o princípio da representação estaria assegurado.
Em outras palavras, sem fiscalização não haveria representação. Este princípio opera com base no
pressuposto de que os cidadãos têm acesso a níveis mínimos de informação que os permite exercer
a fiscalização dos seus representantes.
Tal situação, entretanto, se na sua dimensão teórica é inegável, na realidade, particularmente no Bra-
sil, deve ser vista com cautela, pois, nos últimos anos, o que se tem constatado é o funcionamento
formal da democracia, porém, sem mecanismos eficazes de fiscalização. Criou-se um consenso, ao
meu ver pernicioso, no meio acadêmico, de que o aumento do Produto Interno Bruto (PIB) é sinônimo
de bom governo, de um dinamismo empresarial, de mais salários, ou seja, de progresso social.
Se isto corresponde à realidade, por quê o país, apesar de ter aumentado seu crescimento econô-
mico, continua a evidenciar problemas sociais e políticos sérios? Penso que a resposta a esta per-
gunta reside, fundamentalmente, na compreensão de que não é suficiente "avançar", é necessário
saber para onde se está avançando.
Não é suficiente afirmar que se está produzindo mais ou que se está exportando mais ou que a arre-
cadação tributária tem aumentado, é essencial saber o que se está produzindo, para quem e como;
em outras palavras, avaliar o impacto redistributivo desses aumentos formais econômicos. Segundo
estudos realizados sobre como reduzir a pobreza no Brasil (SALAMA, 2006), estima-se que, para re-
duzir a pobreza pela metade no período de 1990 a 2015, é necessário que o país cresça a uma taxa
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DEMOCRACIA BRASILEIRA
anual de 3,44%. O problema, obviamente, está em manter esta média, pois, como se sabe, o cresci-
mento é volátil e irregular. Desse modo, um crescimento de 5% ao ano pode ser anulado por quedas
acentuadas nos anos seguintes, comprometendo a qualidade de uma democracia. Tal fato associado
a predisposições atitudinais preponderantemente de ceticismo, por parte dos brasileiros, sobre as ins-
tituições políticas constitui-se num risco para a construção de um sistema socialmente eficiente.
A despeito da existência desses fatores que não possibilitam o estabelecimento de uma democracia
social, grande parte da produção acadêmica na América Latina continua a defender a democracia mi-
nimalista como sendo suficiente para garantir a estabilidade política.
Em nome desta estabilidade que, de fato, beneficia as grandes corporações e grupos poderosos naci-
onais e internacionais em detrimento da população, se justificam ajustes econômicos que continuam
a promover a exclusão social e o crescimento da pobreza.
Em tal cenário, a demanda de consolidação democrática atualmente vai além da dimensão formal, e
inclui a redução da pobreza e da desigualdade social. Esses aspectos requerem um novo desenho
político que aumente a produtividade social por meio da fiscalização da gestão pública. É fundamen-
tal, portanto, problematizar a forma como os impostos são distribuídos entre a classes sociais e de
que forma são destinados a elas.
A incorporação dos aspectos socioeconômicos à teoria da democracia não se alcança por meio da
flexibilização das perspectivas teóricas existentes, mas sim repensando a própria democracia na sua
dimensão mais substantiva.
Se isto não for feito, todos os avanços sociais serão paliativos e estarão longe de se constituir em
mecanismos de emancipação democrática. Internamente, é necessário estabelecer mecanismos de
fiscalização societários, ou seja, que partam da base da cidadania e não impostos pelo regime que
está no poder.
Tornou-se moda, nos últimos anos, a criação de Conselhos de fiscalização em todas as instâncias,
mas que carecem de eficácia, pois seus componentes são designados por quem está no poder, limi-
tando sua autonomia de decisão. Na verdade, agem como fachadas de legitimidade das ações em
que a grande maioria da população fica excluída das políticas sociais.
Da análise feita até aqui, fica evidenciado que uma sociedade de massas que preserva condicionan-
tes histórico-estruturais deletérios para a construção democrática pode, no máximo, aspirar e susten-
tar uma democracia instável, na qual inexistem instituições sólidas, a maioria dos cidadãos não está
qualificada para agir num sentido protagônico na política, o comportamento político se caracteriza por
sua dimensão emocional e subjetiva, os partidos não são vistos como entidades realmente represen-
tativas das aspirações da população e os representantes eleitos não são fiscalizados, portanto, geral-
mente não prestam contas dos seus atos, caracterizando o que Burke (1942) denominava de "man-
dato livre".
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CRISE ECONÔMICA BRASILEIRA
É cada vez maior o número das opiniões convergentes a respeito da forma da crise pela qual vem
passando o Brasil. Tais concordâncias, quanto à natureza e à forma, não necessariamente implicam
em concordâncias a respeito das medidas que deveriam ser tomadas.
Todos concordam que há a necessidade do controle do déficit público, da abertura do País ao comér-
cio externo, da eliminação de reservas de mercado indiscriminadas, da retomada do crescimento, in-
clusive como forma de solução do problema do déficit externo, da reestruturação do mercado finan-
ceiro, como instrumento da política de estabilização e de qualificação do setor financeiro, face às exi-
gências da retomada do crescimento, entre outras (não tão) importantes questões.
Mas as concordâncias terminam no diagnóstico da forma e das medidas, em termos genéricos, a se-
rem tomadas. Quando se questiona mais de um analista da realidade nacional sobre como deve ser
encaminhada a abertura ao comércio internacional, as propostas que surgem são razoavelmente de-
sencontradas.
Para um, pode haver a necessidade da liberação do câmbio e de restringir ao mínimo (mínimo este
quase inexistente) a imposição de tarifas. Para o outro, pode ser que seja necessária a definição de
tarifas compatíveis com algum projeto de crescimento que favoreça determinados produtos, enquanto
que prejudique outros, sem que se abdique da possibilidade da utilização da taxa de câmbio como
instrumento de política econômica.
O exemplo do comércio externo é apenas um dentre muitos outros que podem ser apontados. Torna-
se um evidente paradoxo o fato de haver concordância quanto à forma da crise e às medidas genéri-
cas a serem adotadas, quando, simultaneamente, o mesmo não ocorre quanto à prática que deve ser
seguida.
É sempre possível argumentar tratar-se de divergências ideológicas, o que se pode traduzir por au-
sência de explicação melhor fundamentada. A instância ideológica deve aparecer na argumentação
com o parceiro, mesmo que privilegiado, das contradições existentes na sociedade, para que, ao con-
substanciar-se em idéias que orientam processos, o faça de forma eficiente. Deste modo, o "core" de
qualquer explicação deve estar sedimentado no diagnóstico dos conflitos existentes na sociedade,
por ser o que dinamiza e orienta qualquer processo.
Tendo como princípio o que foi colocado no parágrafo anterior, este texto vai se debruçar na questão
relativa à aparente concordância de diagnósticos existentes, hoje, a respeito da crise brasileira e da
incapacidade de sua administração que a nossa sociedade, tendo no Estado seu articulador principal,
vem demonstrando ao longo da década de 80.
Para tanto, em primeiro lugar, apresenta-se o que, hoje, considera-se ser, consensualmente, um di-
agnóstico da crise. Na sequência, é analisada a dinâmica das relações que se estabeleceram na se-
gunda metade da década de 60, observando como tais relações se alteraram ao longo do processo
de acumulação da década de 70.
Neste, o que deve ser analisado é como se formaram as alianças sociopolítico-econômicas, que de-
ram sustentação ao regime autoritário brasileiro, de 1964 a 1985, e como tais alianças vão sendo
transformadas, em função dos mais variados fatores, entre os quais as conjunturas externas e as al-
terações nas relações de poder entre os parceiros, de modo a alterar a trajetória preestabelecida. Fi-
nalmente, ensaia-se uma interpretação da atual crise nas esferas política e econômica da sociedade,
apontando-se para a importância da solução das questões centrais, sem a qual quaisquer medidas
estariam fadadas ao fracasso.
É importante, desde já, chamar a atenção para o fato de que " a solução das questões centrais" não
implica necessariamente a implementação de algum "plano de estabilização" ou "pacote econômico
contra a hiperinflação", quando o Estado toma algumas iniciativas e com isso desencadeia uma série
de reações que alteram o desenrolar dos acontecimentos.
Na verdade, o impasse criado pela situação econômica pode, muito provavelmente, ter sua solução
encaminhada pela própria crise. Ou, dito de outra forma, a omissão no combate à hiperinflação, por
parte das autoridades econômicas, pode ser planejada. Por outro lado, existindo condições políticas,
um combate preventivo à hiperinflação pode ser adotado, com grande sucesso. O governo Collor,
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CRISE ECONÔMICA BRASILEIRA
empossado no auge de uma crise hiperinflacionária, preferiu este último caminho. Não restam mais
dúvidas, agora, da falta de consciência política. Marchas e contramarchas ainda caracterizam a
nossa política de estabilização; este tema será assunto de especulação no final do artigo.
A Configuração Da Crise
O marco histórico inicial deste ensaio é a Revolução de 64, quando, com a formação de uma aliança
ampla, e sem compromisso, da burguesia nacional, internacional e do Estado brasileiro, foi descar-
tada a via populista de desenvolvimento econômico, que havia atingido seu auge no governo Jango
Goulart.
Não cabe neste texto, nem é seu propósito, adentrar as causas da mudança de trajetória política da
sociedade brasileira do populismo democrático para o elitismo autoritário, mesmo porque isto já foi
analisado cuidadosa e extensamente por competentes pesquisadores (Martins, 1985, O'Donnell,
1982, entre outros).
O ponto importante a ser retomado é que, em março de 1964, existiram condições materiais favorá-
veis à formação de tal aliança ampla, que permitiram a tomada do poder. A crise econômica, à época,
caracterizava-se por uma insuficiência de demanda efetiva que se refletia em uma alta taxa de ociosi-
dade produtiva das indústrias de bens de consumo duráveis, implantadas na etapa de substituição de
importações destes bens. Isto inviabilizava o retorno e a valorização do capital invertido naquele pro-
cesso.
As causas desta insuficiência de demanda efetiva são bem conhecidas e podem ser resumidas pelo
modelo de crescimento econômico concentrador seguido pelo País, que não permitia a ampliação do
mercado consumidor (Tavares, 1972, Serra, 1982).
Uma das formas de viabilização destas indústrias seria a incorporação, ao mercado de bens de con-
sumo duráveis, dos segmentos sociais que não tinham acesso a ele em função de um nível de renda
insuficiente para demandar tais bens.
Esta via, entretanto, segundo Tavares (1972), era economicamente incompatível com o modelo con-
centrador de desenvolvimento, pois a redistribuição funcional da renda, necessária para ampliar o
mercado, se efetuada no momento em que as indústrias enfrentam problemas de realização, não per-
mitiria manter a taxa de lucro em níveis compatíveis com o retorno exigido pelo capital.
O problema distributivo que se refletia na realização do capital, assim como apontado por Tavares, foi
resolvido pelo endividamento das famílias, no presente, através do comprometimento da renda futura.
Logicamente, esta alternativa de viabilização do capital, a curto prazo, supunha que o problema redis-
tributivo necessitaria ser solucionado no futuro.
Um outro problema que surgiu a partir do início da década de 60 foi o relativo à continuidade do pro-
cesso de substituição de importações. Tal processo havia progredido bastante até o final da década
de 50, mas faltava muito para se atingir um nível próximo da autarcia econômica. Este objetivo estava
implícito na forma como se processou a substituição de importações no País, especialmente na dé-
cada de 70.
Faltava toda a industria pesada de bens intermediários e a de bens de capital. Se nem ao menos a
valorização do capital invertido na indústria de bens de consumo duráveis estava sendo atingida,
como pensar em dar continuidade ao processo de substituição de importações, ainda mais levando-
se em consideração o esforço que deveria ser feito nesta nova etapa, que, relativamente às anterio-
res, era muito mais intensiva em capital? Em resumo, o que prevaleceu foi a alternativa concentra-
dora, mais uma vez. Em termos econômicos, qual foi a configuração da solução proposta?
Em primeiro lugar, promover um esquema de financiamento global do sistema. O que foi realizado
com a montagem de um sistema financeiro que executasse três grandes tarefas. A primeira, permitir
a utilização da capacidade ociosa da indústria implantada. A segunda, realizar a captação de pou-
pança necessária para a continuidade do processo de substituição de importações. A terceira, promo-
ver a modernização da agricultura através do financiamento subsidiado.
Em segundo lugar, não permitir que as reivindicações sociais barrassem a consecução dos objetivos,
ao exercer pressões por melhorias nas condições de trabalho e vida e, eventualmente, obtendo-as,
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CRISE ECONÔMICA BRASILEIRA
Em terceiro lugar, através de uma ampla reforma tributária, realizar grandes transferências intersetori-
ais de renda, como o crédito fiscal às exportações, em lugar de uma desvalorização real do câmbio e
o crédito subsidiado para as atividades elencadas como prioritárias à continuidade do processo de
crescimento. A administração destas transferências de renda tendia a aumentar, naturalmente, o po-
der central, uma vez que elas chegaram a concentrar um terço da poupança nacional em mãos do
Estado.
Entre 1968 e 1973, o País viveu o chamado milagre econômico, experimentando taxas de cresci-
mento econômico superiores às que a maioria dos países industrializados jamais havia tido. A indús-
tria de bens de consumo duráveis deixou de exibir capacidade ociosa, o setor financeiro apresentou
crescimento acelerado e consolidou-se como o agente financiador do sistema, e iniciou-se a nova
etapa do processo de crescimento econômico.
Em meio à euforia reinante, algumas vozes procuravam chamar a atenção do País para algumas con-
tradições inerentes ao modo de crescimento, sem, no entanto, obter grande audiência. Dentre estas
merece destaque Tavares, na sua série de artigos sobre o setor financeiro, especialmente o escrito
em 1971, onde apontava as contradições do crescimento acelerado e peculiar do sistema financeiro
brasileiro.
Resumindo, grosseiramente, o argumento de Tavares, apenas para chamar a atenção aos pontos de
interesse para este ensaio, naquele artigo a autora questionava a capacidade de o setor financeiro
arcar com a responsabilidade de sustentar financeiramente o projeto da nova etapa de substituição
de importações.
Além disso, e mais importante, a autora considerava que, na forma como havia sido montado, o setor
financeiro não teria condições de bancar os empréstimos necessários para os investimentos de longo
prazo, que a implantação das indústrias pesadas de bens intermediários e de capital necessitava. Isto
porque a estrutura do setor financeiro nacional havia sido montada e estava se tornando cada vez
mais rentável, com empréstimos de curto e médio prazo.
Este talvez tenha sido o principal determinante da elevação da captação externa, que no período acu-
mulou um montante de reservas superior a 6 bilhões de dólares (Cruz, 1980).
E interessante relembrar que os créditos externos captados anteriormente a 1974 possuíam prazo de
amortização de no mínimo 8 anos. Um último ponto interessante, colocado pela autora, ainda neste
artigo, era o relativo a possíveis conflitos entre os capitais produtivo e financeiro.
A argumentação era de que a proeminência que vinha sendo assumida pelo setor financeiro poderia
gerar choques de interesse com o capital industrial. As desconfianças de Tavares relativas ao setor
financeiro são materializadas pelo desenrolar dos acontecimentos pós-74.
A explicação para a afirmativa acima está na peculiaridade do mercado financeiro nacional, que Silva
qualifica como frágil perante as necessidades do País. Para este autor, as principais características
do mercado de capitais brasileiro, em 1974, estão associadas à coexistência de três tipos básicos de
contratos, que eram os seguintes:
Um sistema de contratos em termos reais, onde a correção monetária era a posteriori. A este mer-
cado estavam submetidas algumas operações fiscais e financeiras do governo;
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CRISE ECONÔMICA BRASILEIRA
Finalmente, um sistema que utiliza moeda estrangeira. Este tem as seguintes peculiaridades, se-
gundo Silva:
Contratos em moeda estrangeira só podem ser realizados com autorização do Banco Central, e este
assume o risco da existência ou não de reservas, à data de vencimento das parcelas contratadas;
Apenas instituições financeiras e grandes empresas podem operar neste mercado. Caso as institui-
ções financeiras não encontrem tomador doméstico, elas podem aplicar este recurso em LTN ou de-
volvê-lo ao Banco Central, que, então, se responsabiliza pelo pagamento de juros e outros encargos
do contrato.
Nestas condições, o mercado de capitais brasileiro apresentava uma dicotomia. De um lado, uma
parcela do governo operando em termos reais, na captação e com crédito subsidiado na aplicação.
De outro, o mercado privado recusando-se a captar recursos em termos reais.
Esta dicotomia se manifesta de forma contundente na fixação da taxa de juros, que em situação de
redução da atividade produtiva e, portanto, da demanda por crédito, não cai abaixo do patamar fixado
pelas captações reais. Ao mesmo tempo, existem oportunidades de obtenção de crédito à taxa de ju-
ros real negativa, pois o governo trabalha como se fosse possível operar com spread negativo.
O movimento que é produzido nesta situação é muito bem descrito por Silva, ao afirmar: " Isso, por
sua vez, provoca amplos movimentos de recursos financeiros entre instituições e instrumentos de
captação de poupança, a uma velocidade capaz de comprometer seriamente a liquidez das institui-
ções financeiras que operam primariamente no mercado de contratos em cruzeiros e das empresas
que mantêm débitos em termos reais" (Silva, 1979, p. 35).
O desequilíbrio provocado nos segmentos real e nominal do mercado de capitais é de molde a esta-
belecer um excesso de oferta, no lado real, e um excesso de demanda, no lado nominal. As autorida-
des monetárias passam a expandir a liquidez primária para impedir uma cadeia de insolvência. Em
função das inúmeras linhas de crédito e do acesso fácil aos recursos externos, esta expansão primá-
ria torna-se automática.
É interessante lembrar que tanto a criação das linhas de crédito subsidiado quanto o acesso facilitado
ao recurso externo são expedientes que foram introduzidos pelo Estado como forma de manter o sis-
tema financeiro, criado entre 1964 e 1967, funcionando.
O desajuste externo criado pelo choque do petróleo não foi sucedido de um ajuste interno; ao contrá-
rio, o governo iniciante resolve dizer não à recessão (Reis Velloso, 1986), e dar continuidade ao pro-
cesso de substituição de importação, partindo para o desenvolvimento da indústria de bens de capital
e de insumos pesados.
Porém, isto não poderia ser feito antes que se procedesse ao ajustamento externo e, para tanto, a
manutenção do sistema financeiro nacional funcionando, captando externamente, era condição sine
qua non. É certo que a estatização da dívida externa é um processo que se estende ao longo da dé-
cada de 70 como um todo mas, entre 1974 e 1975, a parcela de contribuição do setor privado ainda
era muito grande para que o Estado pudesse prescindir dela.
Pelo que foi discutido até este ponto, fica claro que em 1974 tinham sido solucionados os problemas
relativos à capacidade instalada ociosa, que fora iniciada na nova etapa de substituição de importa-
ções, mas havia indícios de que a montagem da estratégia de desenvolvimento possuía brechas, su-
ficientemente grandes, para colocar problemas complicados à sua consecução.
Sendo que estes eram: uma equação distributiva sem solução e uma organização do financiamento
interno que determinava uma inexorável tendência à elevação do déficit público. Este, por sua vez,
enquanto encontrava condições de financiamento externo favoráveis, não representava perigo imedi-
ato.
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CRISE ECONÔMICA BRASILEIRA
Um outro problema que se tornou cada vez mais claro, com a passagem do tempo, foi: qual é o papel
do capital produtivo no esforço de substituição de importações? Uma parceria com a qual se poderia
contar, com certeza, até o final da década de 60, era aquela entre o Estado e o setor produtivo nacio-
nal.
Já em 1970, Tavares e Serra (1972) chamavam a atenção de seus leitores para o seguinte aspecto: "
Na atual etapa de desenvolvimento capitalista da economia, o Estado brasileiro não tem, ao contrário
do que ocorria em épocas anteriores, maiores compromissos com a chamada burguesia nacional ou
com esquemas de tipo populista" (p. 178). Ou seja, já àquela época era visível a fraca incorporação
do capital produtivo nacional ao esforço de substituição de bens de capital da indústria pesada.
O capital industrial externo, por sua vez, até 1973, participou de tal esforço, mas as alterações do pa-
drão tecnológico e financeiro das economias industriais, pós-ajustamento ao choque do petróleo, vão
tornando cada vez menos atrativas as alternativas de investimento que compunham a nova etapa da
substituição de importações da economia brasileira.
A Legitimidade Perdida
O resultado concreto destas tendências é que a partir de certo momento, que didaticamente pode ser
localizado em torno do ano de 1974, o Estado brasileiro se vê praticamente só para executar o pro-
jeto programado para a década de 70 e que já se encontrava em andamento. O Estado brasileiro,
desde a Velha República, vinha, crescentemente, participando da orientação da economia nacional,
fomentando, organizando, apoiando.
Quando ele fica só para empreender um projeto de substituições de importações, ele vai se tornando
empresário. Esta é a característica peculiar do esquema de investimentos da segunda metade da dé-
cada de 70.
Tanto do capital produtivo, de qualquer fonte, quanto do trabalho. O Estado assume o papel de em-
presário porque, além de executar, de fato empreende os projetos. Mas não apenas um Estado em-
presário, um Estado empresário auto-suficiente.
A consciência da solidão, possivelmente, aflora entre os detentores do poder em 1974, com a retum-
bante derrota eleitoral da ARENA. O regime político consolidado em 68 vai para as eleições de 1974
certo de que sua vitória estava garantida em função do: (lº) excelente desempenho econômico obtido
entre 1967 e 1973; e (2°) firme propósito do presidente recém-empossado de realizar a abertura de-
mocrática, mesmo que de forma lenta, gradual e segura. Foram as eleições menos controladas desde
64. A propaganda eleitoral na televisão foi livre e não houve constrangimentos a eleitores como em
1970. A derrota obrigou o executivo a repensar sua estratégia de abertura e deu margem a um forta-
lecimento dos segmentos alinhados com a chamada " linha dura".
Duas alterações de rota principais podem ser atribuídas a esses acontecimentos. A primeira era a de
que o deslanchar do processo de abertura teria de aguardar a neutralização dos segmentos perten-
centes ao governo que eram contrários a sua realização. A segunda era a necessidade de cooptação
de determinados grupos da sociedade brasileira, para que a fase em que o processo de substituição
de importações se encontrava não sofresse solução de continuidade.
A engenharia política requerida para se atingir os objetivos governamentais era de fato complexa. A
política interna das Forças Armadas era favorável a um aprofundamento do processo de substituição
de importações, uma vez que aumentava o grau de autonomia da estrutura industrial-militar, porém
contrária a um processo de abertura acelerado. Os industriais nacionais eram favoráveis à abertura
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CRISE ECONÔMICA BRASILEIRA
democrática, pois com ela vislumbravam a possibilidade de poder influir mais nas decisões de investi-
mentos nacionais.
Os trabalhadores queriam a abertura, como meio de poder reivindicar livremente seus direitos traba-
lhistas e influir nas decisões de política salarial, o que seria incompatível com o projeto de investi-
mento do II PND, o qual requeria uma contenção do consumo, como meio de potencializar a capta-
ção de fundos necessários à realização dos investimentos planejados.
Porém, mesmo antes da crise do petróleo, nossa economia já começava a sentir os efeitos de uma
inversão da tendência das relações de troca internacionais (Malan e Bonelli, 1977). A crise do petró-
leo veio reforçar intensamente esta reversão da tendência. A eliminação da dependência externa re-
queria a produção interna dos produtos citados acima.
Encetar a produção de bens de capital e insumos pesados significava oferecer determinadas condi-
ções especiais para a produção de tais produtos. Desde meados da década de 50, os bens que ti-
nham proteção institucional, seja através de incentivos fiscais ou creditícios, proteção tarifária ou ex-
tra tarifária, eram os bens de consumo duráveis.
Havia a necessidade de substituir a proteção dos bens de consumo duráveis pela dos de capital e in-
sumos pesados. Isto significava introduzir profundas alterações em todo o arcabouço de medidas de
política econômica construída ao longo de mais de duas décadas.
Mais concretamente, isto significava destruir uma rede de compromissos baseados em interesses
econômicos específicos que permitiam as transferências de renda necessárias para a sustentação do
processo de substituição nos moldes em que ele havia sido arquitetado, na fase da substituição dos
bens de consumo duráveis.
Paralelamente a esta destruição, havia a necessidade da construção de uma outra rede de compro-
missos, que agilizasse as transferências de renda necessárias para a implantação da indústria de
bens de capital e de insumos pesados.
A indústria de bens de consumo duráveis implantada no final da década de 50, e expandida durante o
milagre, concentrava-se no eixo São Paulo-Rio de Janeiro. Certamente, esta seria a região que mais
veementemente protestaria contra eventuais eliminações de proteção à indústria de bens de con-
sumo duráveis.
A opção concreta do II PND por uma industrialização menos concentrada, em termos regionais, vinha
ao encontro de aspirações regionais antigas e atendia perfeitamente aos reclames de alguns dos crí-
ticos dos processos de industrialização pelos quais o País havia passado até então. Ela também pos-
sibilitava um apoio político mais sólido de segmentos da sociedade, que não possuíam compromissos
com a indústria instalada entre Rio de Janeiro e São Paulo.
Uma complicação adicional era a de que o montante de capital necessário para esta nova fase era
muito mais elevado do que o que foi necessário nas fases anteriores. Indústria siderúrgica, petroquí-
mica, energia nuclear eram projetos que requeriam um fôlego muito maior do que para tudo que havia
sido feito no País até este momento.
Retomando, o quadro de alianças políticas existente em 1974, grosso modo, poderia ser descrito
como sendo composto do capital externo, tanto de risco quanto de empréstimos, do capital financeiro
nacional, das grandes empreiteiras e do Estado.
O capital produtivo nacional, que havia sido beneficiado pelo milagre, certamente não seria aquele
que se beneficiaria da nova etapa de substituição de importações, visto a iniciativa privada não dispor
ou não se dispor a reunir os meios necessários para os empreendimentos previstos pelo II PND. Por
sua vez, o capital externo de risco retraía-se em face da crise internacional pós-choque do petróleo.
Nas palavras de Silva (1979): "À medida que a crise internacional ia se cristalizando em quedas da
demanda efetiva, de crescimento e de emprego e na elevação da inflação nas economias de nossos
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CRISE ECONÔMICA BRASILEIRA
parceiros internacionais, maior era a resistência desses parceiros para implantar projetos, maior o
prazo das negociações e maiores as frustrações das empresas que estavam se preparando domesti-
camente para fornecer materiais para aqueles projetos" (p. 47).
Na ausência do capital externo de risco e do capital externo produtivo nacional, o Estado apóia-se no
capital financeiro nacional e nas grandes empreiteiras, e forma-se uma nova aliança.
O pacote de abril de 1977 foi, claramente, uma tentativa de realinhamento das forças políticas, em
função de um projeto de abertura acoplado à decisão de seguir adiante na substituição de importa-
ções. Porém, tal realinhamento, diga-se de passagem, o único possível naquele momento, dados os
objetivos, era no essencial incompatível com o próprio projeto de substituição de importações que
ainda devia ser finalizado. Ao procurar forças políticas, representantes de oligarquias não-capitalistas,
o Estado potencializou o conflito do desenvolvimento.
O desequilíbrio regional da renda exacerba a pressão por uma modernização nas regiões não-indus-
trializadas, quando as oportunidades de investimento industrial são mínimas dentro do quadro exis-
tente de proteção. O segmento político que forma a base de sustentação do governo, para a transi-
ção lenta, gradual e segura, tem um conjunto de demandas inconsistentes com:
a) a necessidade de realização de lucro, que gera uma fonte autônoma de alimentação da inflação,
dado o estágio do ciclo de investimentos recente (excessivo endividamento das estatais e capacidade
ociosa no setor privado de bens de capital);
b) os interesses da indústria no Sul, contrária à redução dos níveis de proteção da indústria instalada
pelos projetos de substituição de importações anteriores;
c) a sobrevalorização cambial, instrumento tradicional usado pelo Estado para induzir o investimento
industrial, retira competitividade internacional de todos os setores exportadores;
Uma outra questão, não-solucionável no nível dos arranjos políticos do final da década de 70, foi a
questão da democratização. A sociedade brasileira, principalmente seus segmentos capitalistas, não
estava engajada no esforço estatal.
As consequências da situação descrita, são claramente perceptíveis no início da década de 80. Resu-
midamente, elas podem ser listadas da seguinte forma:
a) o elevado déficit público, que passa a ser financiado domesticamente por vias inflacionarias;
b) crise de valorização do capital investido nos projetos implantados na década de 70, em função da
não-realização da produção;
c) imobilização do Estado, no seu papel de agente principal da transformação produtiva do País, pe-
los grandes projetos do II PND, recém-terminados e com grande capacidade ociosa;
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e) nova onda de transformação tecnológica nos países desenvolvidos, deslocando o eixo de competi-
ção do controle das matérias-primas estratégicas para o controle
Como o Estado brasileiro enfrentou tal situação? Deve-se dizer, em primeira instância, o que todos
sabem, ou seja, que o Estado não conseguiu tratar a contento a situação, pois não estava instrumen-
talizado para tanto.
A situação se tornou insolúvel no marco político existente na década de 80, porque ela foi engen-
drada na própria costura das alianças que deram sustentação à continuidade do projeto de substitui-
ção de importações. Isto implica dizer que o rompimento da crise é sinônimo de realinhamento de for-
ças. Tais forças obviamente deveriam ser: os seguimentos trabalhadores e os setores dinâmicos do
empresariado nacional e internacional.
Novos fatos políticos vão complicar ainda mais a já precária situação de financiamento do setor pú-
blico federal. A posse dos governadores eleitos diretamente em 82 e 86 e a força do movimento mu-
nicipalista vão reforçar a federalização.
A federalização proposta pela nova Constituição tem, além do sentido tradicional de autonomia das
novas lideranças políticas, um novo sentido de contestação da distribuição de renda, implícita no úl-
timo ciclo de investimentos industriais.
O Estado Central não consegue impor uma estrutura de preços relativos capaz de realimentar sua
capacidade de investimento, perdendo assim a moeda de troca da aliança de 77, e consequente-
mente passa a enfrentar, também, o questionamento do apoio da liderança conservadora das regiões
menos desenvolvidas e dos empresários do último ciclo. A crise fiscal é inevitável.
A recomposição de uma nova base fiscal dentro da onda de federalização joga a classe política emer-
gente contra a indústria tradicional protegida, concentrada na região Centro-Sul, pelo aumento da tri-
butação indireta.
O que implica na criação de um outro foco de desagregação da nação. Outro aspecto de desagrega-
ção interna implícita na elevação do ICM, em especial sobre o setor agropecuário, está na sua inci-
dência regressiva agravando o conflito distributivo e a integração fiscal nacional.
O déficit público, dentro desta nova dimensão política, não pode ser tratado exclusivamente por tera-
pias econômicas.
Desconhecendo estas limitações políticas, os responsáveis pela política econômica propõem medi-
das insustentáveis, dado o acordo de poder em vigência. O pacote de medidas políticas tomadas em
abril de 77 parece ter sido subestimado pelos economistas, tão acostumados que estavam com o re-
gime autoritário, mas ao estabelecer um novo pacto de sustentação do governo central, com a ampli-
ação da representação parlamentar das regiões menos desenvolvidas, foi introduzida uma poderosa
força conservadora sobre as despesas do Orçamento Geral da União (OGU). Completando o quadro,
a representação regional, ampliada pelo pacote de 77 e ratificada pela constituinte, encontra na tec-
nocracia um parceiro afinado, tornando inviável qualquer proposta de controle fiscal pela via parla-
mentar.
Do que foi exposto, fica evidente que não existe nada de mais equivocado do que a expressão " falta
de vontade política do executivo" para explicar o insucesso das medidas de ajustamento econômico,
propostas pelos economistas nos últimos anos. O Estado sustentado por aquela aliança não poderia
cometer um ato de suicídio. Caberia à oposição, diante da abertura gradual, formular uma nova ali-
ança onde fossem trocados os exageros da proteção industrial pela abertura de novas oportunidades
de investimento. Estas teriam que ser coerentes com o cenário internacional atual, porque temos uma
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dívida externa a negociar e uma carência de recursos externos, que não são mais disponíveis no sis-
tema financeiro internacional (como poupança externa). A nova aliança teria que:
c) redistribuir a renda a favor dos assalariados, para ter um alargamento do mercado interno e uma
base de sustentação parlamentar suficiente para neutralizar o conservadorismo da estrutura herdada
(nova política de rendas).
Como a hiperinflação poderia ajudar a formação desta aliança? Ou, ao contrário, o controle da hipe-
rinflação depende da organização daquela aliança? Se há concordância no que tange à importância
da aliança formada entre o Estado, setor financeiro e oligarquias regionais conservadoras, fica auto-
mática a conclusão de que a única forma de ultrapassar a crise é a dissolução da aliança montada e
sua substituição por uma da qual façam parte os segmentos produtivos dinâmicos da sociedade. Ao
longo da década de 80, observamos o embate constante entre os defensores da ordem vigente e
aqueles que desejavam alterá-la.
O saldo líquido foi o recrudescimento da crise que assumiu a forma de hiperinflação, porque o conflito
estava dentro do acordo de sustentação do próprio Estado. Como já dizia Keynes, a inflação é uma
ameaça grave ao capitalismo, ao destruir a referência básica do funcionamento do sistema, que é a
moeda. Contudo, numa economia indexada, apesar de alterações nos preços relativos ocorrerem, a
inflação por si só não se torna um elemento de dissolução do sistema. Mas a hiperinflação pode acar-
retar tal efeito.
Cria-se, também, um impasse definitivo entre as relações do Estado com o setor financeiro, já que
este não possui mais capacidade de intermediar o financiamento da dívida pública a curto prazo. Ao
sabor das forças de mercado, o resultado mais provável é a diversificação das aplicações do capital
financeiro para ativos produtivos e a falência do Estado nas bases em que estava organizado, ou
seja, dissolução das bases de apoio de uma determinada forma de Estado. A fuga de capitais é a
forma mais radical deste processo, mas que no caso brasileiro não ameaça ainda a integridade do
sistema produtivo.
É dentro desta proposta de reorganização do capital produtivo que parece estar o caminho da forma-
ção de uma nova aliança que dê sustentação efetiva a um plano de estabilização.
Os casos mais recentes (Chile e México), assim como o mais antigo (Áustria), sugerem que maior
abertura comercial e integração produtiva sejam novas forças importantes na reestruturação das ali-
anças internas. Na Alemanha de 1923, foi de fundamental importância a ocupação francesa da Alsá-
cia e do Ruhr, desestruturando a poderosa indústria siderúrgica alemã, que dominava o aparelho es-
tatal, abrindo, então, a oportunidade para a reforma monetária no bojo de uma nova aliança política,
promovida pela social-democracia.
Caso contrário, seguiríamos o exemplo mais recente, da Argentina, ou, o mais antigo, da Hungria,
onde vários surtos hiperinflacionários não foram capazes de preparar o caminho para uma nova ali-
ança (no último país, ela foi imposta de fora com a ocupação soviética).
As tentativas de aliança política do atual governo, procurando construir uma base de sustentação su-
ficiente para o desenvolvimento de algum projeto, não têm conseguido sucesso. O que se observa é
o ressurgimento das antigas estruturas de alianças herdadas do pacote de 77. Apenas para citar al-
guns exemplos, podemos lembrar: os CIACs, as diversas iniciativas da Secretaria Regional de De-
senvolvimento e o tratamento privilegiado dado aos usineiros. Na retórica da formação do governo e
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na aproximação com as economias mais desenvolvidas, existem indícios de ruptura. Nas oportunida-
des, tais como as eleições de 90, onde o presidente poderia ter dado passos mais efetivos rumo à re-
estruturação política necessária, nada ocorreu. O resultado são ondas de isolamento, quase absoluto,
pelas quais recorrentemente o chefe do executivo passa, com a consequente paralisia do Estado.
Nesta situação, a hiperinflação não deixa espaço para a indefinição, neste sentido, ela pode ser pla-
nejada.
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