Você está na página 1de 3

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO


DISCIPLINA: CULTURA E MUDANÇA NAS ORGANIZAÇÕES
PROFESSOR: FERNANDO GOMES DE PAIVA JÚNIOR
MESTRANDA: JOICIANE RODRIGUES DE SOUSA

RESENHA CRÍTICA: REGULAMENTAÇÃO, DESREGULAÇÃO E


REREGULAÇÃO.

RECIFE-PE
2023
Resenha por Joiciane Rodrigues de Sousa

Esta resenha foi feita a partir do capítulo "Regulation, De-Regulation and Re-
Regulation", do livro "Media and Cultural Regulation", de Kenneth Thompson, no qual
discorre sobre teorias de regulação, regulação cultural e política do lazer, patrimônio e cultura
empresarial, mídia de massa e a esfera pública. As tendências econômicas e políticas podem
levar a desregulamentação, porém, com a globalização torna necessário à regulamentação.
As mudanças na cultura refletem diretamente nas mudanças econômicas, visto que os
interesses das classes dominantes são privilegiados. Nesse contexto, a regulação do Estado
tende a favorecer esse grupo seleto. Assim, Gramsci enfatizou a necessidade de compreender
as complexas relações entre economia, política e ideologia em cada época histórica particular,
isso porque a cultura possui certa autonomia local diante de suas lutas e significados.
Focando na questão das regulamentações, é possível compreender que certas políticas
de desregulamentação podem ser mais bem descritas como realmente reregulamentações, uma
vez que atuam somente com a mudança dos princípios regulatórios. Estas mudanças
costumam serem baseadas nas noções de interesse público nacional e de cidadania,
destacando a ideia das pessoas como clientes e do público como mercados consumidores.
Na sociedade de mídia e consumo da pós-modernidade, com a apresentação de
espetáculos na televisão e imprensa sensacionalista, fez surgir uma preocupação da
sociologia. Isso ocorreu devido à possibilidade de distorção quanto às práticas de massa, que
pode reproduzir uma ordem social desigual. Nessa lógica ao invés da comunicação racional,
abriu-se ao entretenimento e sensacionalismo, podendo desencadear em pânicos morais.
A regulação moral tenta normalizar formas históricas e socialmente específicas de
comportamento. Logo onde é bem sucedida, as pessoas aceitam certas formas de identidade,
prática e associação como naturais ou inevitáveis e rejeitam outras como desviantes ou
impossíveis. O movimento de recreação racional do século impuro na Grã-Bretanha e nos
Estados Unidos é um exemplo de tentativa de o Estado exercer influência civilizadora sobre
as classes mais baixas, identificado como um mecanismo regulador central, contudo, existem
outras relações de poder, que podem ser aprofundadas a partir da abordagem de Foucault.
Políticas de regulamentação nos diversos campos da cultura e da atividade de lazer,
foram concebidos por órgãos públicos ou privados, visando fomentar ou controlar as práticas,
exercendo força sobre o comportamento da sociedade. O caso da Grã-Bretanha é interessante
porque foi o primeiro país a iniciar o processo de industrialização, envolvendo a paralisação
do trabalho e do lazer, e a mercantilização das atividades de lazer em sucessivos esforços para
regular essas atividades. Talvez por ter sofrido pressões para mudar de indústrias
manufatureiras envelhecidas e processos de produção fordistas para serviços pós-industriais.
Mesmo o neoliberalismo dependendo de uma visão de liberdade sem interferência,
devido aos valores conservadores e noções de comunidade e autoridade, políticos
conservadores foram encontrados em lados opostos da discussão, alguns defendendo um
aspecto particular do património, outros o vendo com indiferença ou como um obstáculo à
modernização. Tais tensões ocorrem não apenas na direita política, mas também na esquerda.
Capital periodicamente entra em conflito com o lobby da preservação, mesmo que o conflito
possa ser ocultado por trás da serenidade publicamente mantida do patrimônio nacional.
O problema de buscar exercer a regulação cultural com uma ideologia que combina
empreendimento e patrimônio, é que os dois elementos são difíceis de articular por muito
tempo, porque estão inerentemente em tensão. O compromisso com a empresa e os rigores
das forças do mercado global não se coadunam com o desejo de preservar os símbolos da
herança nacional. Muitas vezes, as instituições culturais que preservam a herança cultural são
consideradas obstáculo ao empreendimento e à reconstrução econômica. Esse foi o destino
das universidades, do Arts Council, do British Council e da BBC, na década de 1980.
A aceitação normativa ocorre quando grupos sociais dominantes conseguem mobilizar
o consentimento para legitimar sua posição social. A aceitação pragmática é onde as pessoas
obedecem porque não conseguem ver uma alternativa realista. Da mesma forma, pode-se
argumentar que a estabilidade nas sociedades modernas é mais provável de ser produzida
através do atomismo cultural e fragmentação do que por consenso induzido externamente.
A teoria da indústria cultural retrata os indivíduos como consumidores meramente
passivos, e não protagonistas ativos em um campo cultural contestado. No entanto, seria ir
longe demais esses argumentos se excluíssemos a possibilidade de que os meios de
comunicação de massa tenham efeitos ideológicos significativos. Políticos como Margaret
Thatcher e Ronald Reagan claramente acreditavam que sim. Existe a colonização do mundo,
isto é, a dominação da esfera cultural pela economia e pelo Estado. Mas é relevante admitir o
futuro dos meios de comunicação de massa e sua potencialidade no fórum público para
comunicação e debate racionais, aproximando-se mais da comunicação não distorcida.
O argumento de defesa de a radiodifusão pública dar-se pelo fato de a
desregulamentação ser uma ameaça à cidadania democrática, na medida em que entrega o
controle das informações à banda dos conglomerados internacionais. Assim, isso pode levar a
erosão de um serviço universal de qualidade a que todos tenham acesso e ao abandono da
programação de interesse especial que não pode garantir o apoio dos anunciantes.
Organizações de radiodifusão como a BBC foram acusados de serem condescendentes e
arrogantes, dirigido por uma elite com valores que não correspondem aos da maioria.
O caso do Tik Tok apresenta essa questão da regulamentação por parte do governo da
China, pelo fato de necessitar ter um controle maior no que se refere ao acesso de crianças e
adolescentes. Todavia, mesmo com a censura no país, a relação de poder entre a mídia e a
empresa não equivale a um controle total de aceitação dos usuários, sobretudo na era digital.
Logo, o Estado não pune mais a plataforma por questões de conteúdo, e a mídia oficial estatal
não levanta onda de crítica social na opinião pública, demonstrando o poder da massa.
As sociedades estão sujeitas a períodos de pânico moral, no qual uma condição,
episódio, pessoa ou grupo emergem como uma ameaça aos valores e interesses sociais. Sua
natureza é apresentada de forma estilizada e estereotipada pelos meios de comunicação de
massa, em que aparecem as barricadas morais guarnecidas por editores, bispos, políticos e
outras pessoas de pensamento correto. Especialistas credenciados socialmente pronunciam
seus diagnósticos, em seguida soluções e formas de enfrentamento são utilizadas.
Diante das discussões destaca-se a importância da regulação da comunicação em
massa a fim de que possa controlar de forma positiva o que vai ser divulgado pelas mídias
sociais, sobretudo, a TV. Contudo, é nesse contexto que os grupos hegemônicos podem usar o
seu poder para manipular os telespectadores com pequena capacidade de consciência crítica,
assim, escolhe quem vai ser colocado como vilão ou como bonzinho em uma história.
Portanto, a partir deste texto resenhado, profissionais e estudantes que trabalham com
comunicação podem obter um conhecimento mais profundo acerca da regulação e como esta
pode influenciar no circuito cultural, principalmente na hélice do consumo.

REFERÊNCIAS

THOMPSON, K. ‘‘Regulation, De-Regulation and Re-Regulation’’ In: THOMPSON, K.


(ed.). Media and Cultural Regulation. Londres: Sage, 1997.
ZHANG, Z. Infrastructuralization of Tik Tok: transformation, power relationships, and
platformization of vídeo entertainment in China. Media, Culture & Society, v. 43, n. 2,
p. 219-236, 2021.

Você também pode gostar