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Deus não existe. Deus é!

Leandro Benedito Ferreira


Analista de Sistemas e Pós Graduado em Filosofia da Educação
Comunidade Javé Nissi

Desde os tempos mais remotos a humanidade tem se debruçado sobre questões


relevantes a respeito da vida. Uma das mais questionadoras e intrigantes perguntas se
mantém viva ao longo do tempo: Se Deus existe quem Ele é?

A existência de Deus pode ser afirmada mediante o uso da razão. Ao longo dos
anos inúmeros homens observaram a natureza, o universo e as mais diversas matérias
visíveis e raciocinaram a existência de um Criador. Amplamente aceita pela ciência, a
teoria do “Big-bang” (grande explosão) que foi desenvolvida pelo padre George
Lamaitre, nasce de estudos acerca do universo e busca explicar a criação/expansão do
universo. Tal teoria, por exemplo, acaba evidenciando que só um poder infinito (Deus)
poderia gerar tudo isso1.

A sagrada escritura afirma que se pode conhecer a Deus mediante a razão ao


observar as coisas visíveis que Deus criou (Rm 1, 18-23). A Igreja também reafirma que
um dos os caminhos para o conhecimento de Deus é a través da observação do mundo:
A partir do movimento e do devir, da contingência, da ordem e da beleza do mundo,
pode chegar-se ao conhecimento de Deus: como origem e fim do universo (CIC 32).

Há quase 300 anos A.C Aristóteles utilizou da razão e evidenciou ao mundo a


existência de Deus. Em uma de suas teses, chamada Motor Imóvel, ele analisa o
movimento existente nas coisas e chega à conclusão de Deus. Ao observar o ciclo da
natureza formado por um continuo movimento de nascimento, crescimento e morte vai
afirmar que tudo o que se move é também movido por algo, pois este é o princípio do
movimento. Conclui dizendo que todo o movimento da natureza tem um princípio
único, um primeiro movimento que não está, ele mesmo, sujeito ao movimento, caso
contrário, ele também iria perecer. Por isso Aristóteles afirmou que esse motor é imóvel,
pois move todas as coisas, mas não move a si mesmo. Como não está submetido às leis
do movimento, ele é eterno e imutável e imaterial 2. A esse primeiro motor imóvel que é
o princípio de todo o movimento chamamos hoje de Deus.

Apesar da razão ser um caminho capaz de evidenciar a existência de Deus não é


um caminho completamente seguro ao ponto de nos levar a um conhecimento sem
erros. O próprio Aristóteles que é um dos Gênios do pensamento humano e que
raciocina a existência de Deus chega a essa afirmação sem firmeza e cercado de erros.
Diz ele que o motor imóvel não ama o mundo nem conhece sua existência, embora o
motor imóvel seja o objeto do mundo ele não sabe que o mundo existe e está na eterna e
beatífica contemplação de si mesmo se amando e se comprazendo consigo mesmo.

1
http://cleofas.com.br/a-criacao-de-deus-e-o-boson-de-higgs/
2
http://www.netmundi.org/pensamentos/2012/aristoteles-e-o-motor-imovel/
Deus conhece e se relaciona com o mundo (Mt 1,23)! Portanto esse raciocínio
aristotélico não apresenta exatamente quem é Deus.

A luz natural da razão pode com certeza levar o homem a afirmar a existência
divina e um certo conhecimento de Deus, mas não pode ausentar o homem de
equívocos. Para conhecer a Deus de forma segura e sem mistura de erros é necessário ir
para além da inteligência ao ponto de permitir que a lógica venha a se “inverter”. Ao
invés do homem por si mesmo raciocinar Deus é Deus que age se revelando a
humanidade. O dom da razão é então utilizado para acolher aquilo que Deus mostra de
Si (Dei Verbum 7).

Quando queremos conhecer uma pedra, ela é toda passividade, e nós pura
atividade. Quando queremos conhecer um animal, ele é um pouco ativo, pode fugir e se
esconder. Quando queremos conhecer outra pessoa, dependemos da liberdade dela para
deixar-se conhecer e da nossa para querer conhecer: os dois papéis são equivalentes. Por
fim quando queremos conhecer Deus, toda a atividade começa, necessariamente, por
Ele3.

Foi a partir dessa lógica “invertida” que Moisés conheceu a Deus. Quando sai da
agitação e das pompas do Egito para o silêncio e a vida humilde em Madiã a lógica se
“inverte”. Não foi Moisés com seu esforço que raciocinou Deus, mas Deus que tem a
iniciativa de o atrair na forma de uma sarça ardente. Quando Moisés pergunta sobre o
nome de Deus uma resposta intrigante: "Deus respondeu a Moisés: “EU SOU AQUELE
QUE SOU” (Ex 3, 17).

Moisés é atraído para perceber que Deus não existe, Deus É! A palavra existir
implica em: ser num dado momento; viver. As coisas existem, pois ganham existência,
mas Deus simplesmente é. Ele é o motor Imóvel que tudo movimenta sem ser
movimentando por nada. Mas não um motor imóvel que desconhece o mundo, e sim
Aquele que tudo gerou, que sustenta, governa e se relaciona inteiramente em amor.
Conhecemos Deus sem erro, pois Ele se revelou a nós em Cristo, e no Cristo
descobrimos que Deus é amor (1 Jo4, 16)!

Por revelação acolhemos: Deus é Amor! E podemos raciocinar: o Amor não existe o
Amor é!

3
Peter kreeft – Três filosofias de Vida

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