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Família: projeto de Deus

Leandro Benedito Ferreira

Jesus Cristo revela Deus aos homens e ao mesmo tempo revela quem é o homem.
Tanto o mistério de Deus quanto o mistério do homem só se esclarecem verdadeiramente
no mistério do Verbo encarnado (GS 22).

A fé Cristã não conta com uma definição abstrata a respeito de Deus ou a respeito
da realidade humana; o que Deus é, nos é explicado perfeitamente na realidade de Cristo;
o que o homem é, nos é explicado na realidade concreta de Cristo, que sendo “imagem
de Deus”, é também o homem perfeito.

Quem é Deus? Uma Família!

Para nos revelar Deus e o seu projeto em relação a nós Jesus Cristo utilizou
propositadamente uma série de metáforas religiosas de diversas atividades e elementos
que fazem parte do dia a dia como a agricultura, esporte, leis, ações militares, construção
civil, etc., no entanto palavras como pai, filho, irmão, irmã, mãe, crianças, casa,
primogênito, herança, casamento, nascimento, etc. predominam no discurso de Jesus, ou
seja, as ideias centrais do cristianismo, a revelação a respeito de Deus, vem da
terminologia que diz respeito á família.

Em nenhum lugar fica tão claro quanto no momento em que Jesus revelou o nome
de “Deus”. O “nome” na sagrada escritura não é um rótulo qualquer, mas exprime a
essência, a identidade de uma um ser, ou seja, quando Jesus pronuncia o nome de Deus
está revelando sua Identidade, sua Essência.

No fim do Evangelho de São Mateus, antes de subir/voltar para o céu, Jesus


revelou, de modo surpreendente, a seus seguidores o nome de Deus. Até então o povo de
Israel tratava o “nome” de Deus como algo inefável, algo que não se podia pronunciar.
Jesus, porém pronunciava como algo íntimo, como um nome de família: “o nome do Pai,
do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28, 19).

Um atento “amante” da gramatica ao ouvir as palavras de Jesus poderia supor um


erro de linguagem, afinal de contas Ele usa o termo “nome” no singular e logo em seguida
trás outras três expressões: Pai, Filho e Espírito Santo. Um suposto “amante” da gramatica
poderia dizer que Jesus deveria ter utilizado a expressão “nomes” no plural para falar
corretamente.

Não se trata de um erro de linguagem, Jesus está revelando um aparente paradoxo:


uma pluralidade que é una, ou seja, há um Único Deus que não é uma solidão, mas uma
comunhão. O Catecismo da Igreja Católica assim atesta (233): Os cristãos são batizados
“em nome” do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e não “nos nomes” deles porque não há
senão um só Deus – o Pai Omnipotente, o Seu Filho Unigénito e o Espírito Santo: a
Santíssima Trindade.
Jesus revelou o nome de Deus como uma família que é Pai, Filho e Espírito Santo.
Em uma homilia São João Paulo II afirmou afirma que Deus é uma família: “nosso Deus,
no seu mistério mais íntimo, não é solidão, mas uma família, dado que tem em Si mesmo
paternidade, filiação e a essência da família, que é o amor”, este amor é a terceira Pessoa
da Santíssima Trindade, o Espírito Santo. (Puebla homilia 1979).

Devemos estar bem atentos para não inverter as coisas. São João Paulo II apoiado
na revelação divina não está ensinando que Deus é como uma família, aqui não se trata
de uma metáfora. Ele afirma que Deus é uma família! Na verdade as famílias humanas é
que devem se parecer com Deus, a “coisa” é de cima para baixo e não de baixo para cima.

O que é o homem? Uma pessoa feita para viver em família!

Jesus Cristo além de revelar que Deus é uma família, também revela o que é o
homem. Com a revelação de si mesmo Jesus descortina o significado das palavras que
descrevam a criação do ser humano: “Então Deus disse: ‘Façamos o homem à nossa
imagem e semelhança [...] Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus,
criou o homem e a mulher ’(Gn 1, 26-27)”.

O ser humano foi criado para ser a imagem de Deus, pois possui certa semelhança
de Deus nele. No homem deve encontrar-se uma imagem, um “reflexo” de Deus. Se Deus
é uma Família e o ser humano feito para ser semelhante a Ele isso quer dizer que o ser
humano foi criado atrelado à ideia de família. Deus criou o ser humano não para viver
isolado, mas para uma comunhão de amor, ou seja, para viver em família.

São João Paulo II na carta as Famílias escreve a respeito desta grandiosa


revelação: “À luz do Novo Testamento, é possível vislumbrar como o modelo originário
da família deve ser procurado no próprio Deus, no mistério trinitário da sua vida. O “Nós”
divino constitui o modelo eterno do “nós” humano; e, em primeiro lugar, daquele “nós”
que é formado pelo homem e pela mulher, criados à imagem e semelhança de Deus”.

Jesus não revelou esse mistério apenas de modo teórico, mas de modo prático. Ao
assumir a natureza humana a primeira coisa que o Filho de Deus assume para sua vida é
uma família, a família de Nazaré (Maria e José), que por sua vez faz parte da grande
família de Israel (Mt 1, 1-16).

O conceito de família apresentado pela sagrada escritura e assumido por Cristo


durante sua vida não é apenas o conceito de núcleo familiar (as diversas pessoas que
partilham um lar, que vivem de baixo do mesmo teto) na cultura do Antigo Testamento a
ideia de tribos, a “família estendida” é muito forte. A família de cada pessoa incluía os
descendentes de determinado patriarca que às vezes havia vivido séculos antes.

Não por acaso o Evangelho de Mateus além de narrar Jesus nascendo no meio de
um núcleo familiar apresentam a genealogia de Jesus para revelar que Jesus assumiu para
si a grande família que é o povo de Israel.
É necessário afirmar que até mesmo a “família estendida”, a família tribal ficou
pequena para o projeto de Deus, era preciso avançar: “Quem é minha mãe, e quem são
meus irmãos?” E olhando para os que estavam sentados ao seu redor, disse: “Aqui estão
minha mãe e meus irmãos. Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e
minha mãe” (Mc 3, 31-35).

No meio da multidão que caminhava com Jesus não estavam apenas os que
pertenciam a sua “família estendida”, mas Jesus os tinha tão próximos que os concedeu a
mesma condição de família de sangue. “Os que fazem a vontade de Deus”, ou seja, os
que vivem a santidade (isso é graça é dom do Espírito Santo) são acolhidos por Jesus
como seus familiares.

O que Jesus veio fazer com sua obra salvífica é retirar cada ser humano
independentemente de sua etnia, ou lugar geográfico do estado de distanciamento de Deus
gerado pelo pecado para inserir o ser humano na vida de Deus, ou seja, na família divina
que é a Trindade.

Projeto de Deus é Família

O plano de Deus para nós é este: núcleos familiares santos tendo como modelo de
santidade a família de Nazaré. Homem e mulher unidos por um amor sobrenatural que é
dado gratuitamente no sacramento do matrimonio e nutrindo esse amor diariamente. Pais
que eduquem os filhos principalmente para santidade.

Esse núcleo familiar não pode ser um núcleo isolado, mas deve constantemente
fazer o movimento de se relacionar na grande família de Deus, a grande família estendida
que é a Igreja, a Comunidade, a grande família dos santos.

O projeto de Deus é família, uma comunhão de pessoas que vivam a partir do


amor de modo a refletir a imagem da Trindade. O projeto de Deus é que vivamos numa
família humana e que essa família humana viva inserida na Família Divina!

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