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Andréia Gripp
Consagrada na Comunidade de Aliança
Doutora em Teologia Sistemática-Pastoral pela PUC-Rio
Professora no Setor Cultura Religiosa, do Departamen-
to de Teologia da PUC-Rio
Membro do Instituto Parresia
SUMÁRIO
Introdução
Pág. 04
1- O homem contemporâneo: imagem e semelhança de quem?
Pág. 05
2- Um Deus que se humaniza para revelar ao homem o valor da
sua humanidade
Pág. 08
3- O Deus da Encarnação nos envia em missão
Pág. 12
4- Conclusão
Pág. 14
5- Referência Bibliográfica
Pág. 15
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Introdução
“Quem és Tu Senhor, e quem sou eu?”
Esta jaculatória preferida de São Francisco ganha especial força quando
refletimos sobre o ser humano à luz do Deus da Encarnação, neste tempo
histórico em que vivemos. É a oração que exprime o sincero desejo de co-
nhecer a Deus e conhecer-se em Deus. Porque somente Deus dá sentido
pleno à existência humana.
O percurso que seguiremos terá três etapas. Como as paradas dos que
peregrinam no deserto, quando podem descansar, alimentar e hidratar o
corpo; refletir e meditar as experiências vividas no caminho; planejar e viver
a expectativa pelo restante da peregrinação.
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E-BOOK PARRESIA - “Quem és Tu Senhor, e quem sou eu”
O ser humano à luz do Deus da Encarnação
1- O homem contemporâneo:
imagem e semelhança de quem?
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Pensar o homem como fruto do acaso, traz junto uma visão do mundo, da
vida e do próprio ser humano na qual a imagem de Deus criador já não tem
lugar. O homem nesta perspectiva é imagem de si mesmo e se autodeter-
mina ao longo da história. Só depende de si mesmo e de suas capacidades.
Isto foi anunciado por Nietzsche, ao afirmar que Deus morreu e, com ele,
toda referência ao divino na sociedade.
Sendo assim, não é aceito um sentido para a vida do homem que lhe seja
dado de fora, por alguém ou algo que esteja fora da sua realidade imanen-
1NIETZSCHE, F. W. Assim Falou Zaratustra. In: _____. O prólogo de Zaratustra, 3. 12. ed. Rio
de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003, p. 36.
2Ibidem.
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O ser humano à luz do Deus da Encarnação
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te, cujas formas ideais o homem deve se esforçar para alcançar. E aqui se
entende o pedido de Zaratustra aos homens: “permanecei fiéis à terra e não
acrediteis nos que vos falam de esperanças ultraterrenas!”2
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O ser humano à luz do Deus da Encarnação
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Castillo afirma que o Deus que se revelou a nós em Jesus pode ser en-
contrado antes de tudo no humano mais que no sagrado, no religioso ou
no espiritual11, e se assim não acontece podemos estar diante de uma ido-
latria, ou seja, podemos estar prestando culto não ao Deus verdadeiro, mas
a uma imagem de Deus criada por nós mesmos, à nossa imagem e à nossa
semelhança.
⁹CASTILLO, José M. Jesus – A humanização de Deus. Rio de Janeiro: Vozes, 2015, p. 288.
1⁰Idem, p.295.
11CASTILLO, José M. Jesus – A humanização de Deus. Rio de Janeiro: Vozes, 2015, p.300.
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Anunciar que Deus se encarnou por amor aos homens, portanto, é reve-
lar ao homem o sentido da sua humanidade, de sua dignidade, de sua li-
berdade, ou seja, de sua transcendência. Em Jesus de Nazaré temos acesso
a Deus, pois ele nos encontra na fraqueza e nós podemos encontrá-lo em
nossa fraqueza e fragilidade.
12GESCHÉ, Adolphe. A invenção cristã do corpo. In: O Corpo, Caminho de Deus. São Paulo:
Loyola, p. 46.
13Idem, p. 51.
1⁴MOINGT, J. Faire bouger, p. 131, citado em Miranda, Mario de França. Evangelizar ou hu-
manizar?, in REB 2014.
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O ser humano à luz do Deus da Encarnação
3- O Deus da Encarnação
nos envia em missão
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Jesus Cristo, Deus que se humanizou, nos revela o sentido da nossa huma-
nidade. Por sua vida e pregação, gestos e opções, Jesus mostrou que para ele
o sagrado era o próprio ser humano. E fez isso em diversas ocasiões em que
não titubeou em relegar a segundo plano as normas religiosas em favor de
um indivíduo que sofria, que necessitava ver elevada sua condição humana.
Neste movimento, deslocou muitas vezes o lugar do sagrado da lógica reli-
giosa (externa) para a vida cotidiana, real, humana (interna), vide parábola do
bom samaritano (Lc 10,25-37).
“Quem não ama não descobriu a Deus” (1Jo 4,8) e “quem ama
chega ao conhecimento de Deus” (1Jo 4,7). É no sinal do amor que
Ele nos reconhecerá como seus discípulos (Jo 13,35). Assim, a pro-
cura de Deus não pode ser apenas mental. No amor ao próximo,
algo se manifesta a nós, algo se propõe a nós, Deus se epifaniza15.
E se podemos afirmar que o verdadeiro cristianismo está identificado com
o assumir o projeto de Cristo, que é o projeto de Deus para a humanidade,
a saber, a instauração do Reino de Deus, podemos da mesma forma afirmar
que aí também encontramos o verdadeiro humanismo: o cuidado com a vida
humana, com o meu próximo; o compromisso com a justiça; a preocupação
com as condições sociais para que permita o desenvolvimento humano; a res-
ponsabilidade para com a casa comum, para que não falte a esta geração, nem
a futura, os bens naturais necessários para sobrevivência digna.
E como ser humano, não me contento apenas em ter nascido, mas, como diz
Guesché, quero algo para minha vida, que parta de mim e seja bom para mim.
Porque todo ser humano quer “dar-se um destino”, que dê singularidade à sua
vida. Quer encontrar o “para quê” de sua existência, um resultado dos seus atos
que supere a simples imanência deles. E vai encontrar esse sentido na alteridade1⁶.
____, Adolphe. Deus para pensar: O sentido. São Paulo: Paulinas, 2012.
MIRANDA, Mario de França. Evangelizar ou humanizar?, in REB 2014.
NIETZSCHE, F. W. Assim Falou Zaratustra. 12. ed. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2003.
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Instituto Parresia e Akathistos Comunicação