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A FILOSOFIA

CRISTÃ (PARTE 1)

A PATRÍSTICA (séc. I ao X d.C)


A FILOSOFIA
CRISTÃ
◦ Denomina-se filosofia cristã, em sentido
histórico, a filosofia que influenciada pelo
cristianismo, predominou no Ocidente
principalmente na Europa, no período que
vai do século I ao século XIV de nossa era.
◦ O problema central da filosofia cristã é o
da conciliação das exigências da razão
humana com a revelação divina.
◦ Há dois momentos da Filosofia Cristã:
1) A Patrística (séc.I ao VII -X)
2) A Escolástica (séc. X ao XIV)
DEFINIÇÃO

PATRÍSTICA
Período de formação e estruturação da Igreja Católica.
Época de debates entre os “pais fundadores” da Igreja

PATER - PAI/ PADRE


1.1 – SÃO JUSTINO (165 d.C.)
• Representante dos cristãos primitivos, de cultura grega, em relação à filosofia.
• Partindo do conceito de logos, estabelece uma ponte entre a filosofia pagã e o cristianismo.
• O logos para ele é a Sabedoria Divina que se revelou plenamente em Cristo, o logos ou o Verbo Encarnado.
• Entretanto, defende que já existia uma semente desse logos difundido na humanidade antes de Cristo, pois cada ser
humano através da razão participava do mesmo.
• Tanto os profetas do Antigo Testamento como os filósofos pagãos tiveram em si a presença desse logos, todavia de
forma incompleta e parcial.
• Perfeita e acabada existiria apenas na pessoa de Cristo.
• O cristianismo é visto por São Justino como a continuação e o complemento natural da filosofia grega.
1.2 – TERTULIANO (155 d.C)

• Atitude filosófica oposta à de São Justino.


• Para Tertuliano, de cultura latina, existe uma oposição radical entre a razão que atua nos filósofos e a fé que
caracteriza o cristão.
• Não pode haver concordância alguma entre a razão humana e a revelação divina.
• A primeira é fonte de todo erro, a segunda de toda a verdade.
• A primeira tudo perde e corrompe, a segunda tudo salva e purifica.
• Afirma que apesar de a filosofia grega possuir alguns vestígios da verdade divina (estoicos), isso se deveu a uma
apropriação indevida, por parte deles, do Antigo Testamento, que, como fonte de revelação, pertence por direito aos
cristãos.
1.3 – Agostinho de
Hipona

“Quem conhece a Verdade, conhece a Luz


Imutável, e quem a conhece, conhece a
Eternidade”. (Santo Agostinho, Confissões).
• Foi professor de retórica antes de sua conversão ao cristianismo e seu profundo humanismo o fez escrever sobre
grandes temas humanos: o bem e o mal, a liberdade, o destino humano, a história e a sociedade.

• Entre suas obras mais importantes no contexto da literatura universal, podemos citar: os Solilóquios, as Confissões
e a Cidade de Deus.

• Decide acolher a filosofia antiga ao cristianismo (influencia das ideias de São Justino).

• Manifesta sua preferência pelo platonismo, considerando-o s mais pura e luminosa filosofia da antiguidade. (Timeu e
Fédon/ releituras platônicas de Plotino).

• Antes do cristianismo foi iniciado no Maniqueísmo (Maní/ Síria) e influenciado pelo ceticismo helênico acaba
rumando para o platonismo.

• PLATONISMO CRISTÃO: Adaptação das ideias de Platão ao Cristianismo.

• Este platonismo pode ser compreendido como uma mistura das ideias de Plotino (neoplatonismo) com os
ensinamentos de São Paulo.
• Ao pensar a problemática dessa relação, Santo Agostinho inicia o
caminho que mais tarde será retomado pela escolástica medieval.
• Ao escrever sobre a fé, Agostinho deseja entender e penetrar
nela através da razão humana.

• Tenta inicialmente responder à seguinte questão: como pode a


mente humana (falível, limitada etc.) atingir uma
verdade eterna com certeza infalível?

• Sua resposta gera a chamada Teoria da Iluminação baseada na


teoria platônica da reminiscência. (Mênon)

• O homem só descobre a verdade olhando para seu interior (in


interiore homine habitat veritas), uma vez que nem todos os
conhecimentos podem derivar do mundo sensível, da
materialidade.

• Essa interioridade é capaz de entender a verdade pela iluminação


divina.(lúmen naturale, a Luz Natural) que incide sobre o intelecto
humano deixando-o ativo para o conhecimento das verdades
eternas.
A TEORIA DA ILUMINAÇÃO DIVINA
DEUS
LUZ DIVINA

SER HUMANO

CONHECIMENTO
“Então, formou o SENHOR Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas (BUSCA INTERIOR)
o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente.” (Gn 2:7)
• A mente humana possui uma centelha do intelecto divino, uma vez que o
homem foi criado à imagem e semelhança de Deus.

• Iluminando nossa mente, Deus depositaria em nós muitos conhecimentos que


seriam posteriormente utilizados pela alma, à medida que os mesmos
fossem recordados pela ação da luz divina sobre o intelecto
humano.

• A teoria da iluminação explica o ponto de partida do processo de


conhecimento, abrindo caminho para a fé.

“Tu acreditas porque não compreendes, mas, acreditando,


tornas-te capaz de compreender. Porquanto, se não acreditas,
nunca compreenderás, porque permanecerás menos apto.
Venha pois purificar-te a fé, para que te encha o entendimento.”
AGOSTINHO. Comentário ao Evangelho de São João: Luz, Pastor e Vida. 2ª ed. Trad. José Augusto Rodrigues Amado.
Coimbra: Gráfica de Coimbra, 1960. v. III. XXXVI, 7
A BUSCA PELA INTERIORIDADE (ILUMINAÇÃO DIVINA) FAZ COM QUE
NOS AFASTEMOS DAS VONTADES HUMANAS. DESSA FORMA,
CONSEGUIMOS SEGUIR AS VONTADES DE DEUS.

A ESCOLHA DE QUAL VONTADE SEGUIR DEPENDE DO LIVRE ARBÍTRIO

“O próprio nosso Senhor, tanto por suas palavras quanto por seus atos, primeiramente exortou a crer àqueles a quem
chamou à salvação. Mas em seguida, no momento de falar sobre esse dom precioso que havia de oferecer aos fiéis, ele
não disse: “A vida eterna consiste em crer, mas sim: “A vida eterna é esta: que eles te conheçam a ti, o único Deus
verdadeiro e aquele que tu enviaste, Jesus Cristo (Jo 17, 3). Depois disse àqueles que já eram crentes: “Procurai e
encontrareis” (Mt 7, 7). Pois não se pode considerar encontrado aquilo em que se acredita sem entender.”

AGOSTINHO. O Livre-Arbítrio.
SENTIDOS RAZÃO INFERIOR RAZÃO SUPERIOR

QUALIDADE DOS CORPOS LEIS NATURAIS VERDADES ETERNAS


(CORES/SONS/CHEIROS) (TEORIAS/ INTELECTO)

MUNDO SENSÍVEL/ OPINIÃO EPISTEME/ CIÊNCIA DIVINO/ SAGRADO


CIDADE DE DEUS
CIDADE DOS HOMENS
ILUMINAÇÃO/
(DESEJOS/ PECADOS)
SALVAÇÃO
A CRONOLOGIA HUMANA NA TERRA E A CIDADE DE DEUS

• A Cidade de Deus foi a obra que promoveu o influxo mais profundo na cultura medieval. (Baseada na Cidade
Justa de Platão)

• Escrito por conta do processo da queda de Roma em poder dos bárbaros, a história da humanidade coincide
com o desenvolvimento de duas cidades oriundas de dois princípios opostos.

• A cidade terrena, criada pelo egoísmo, e a cidade celeste, criada pelo amor a Deus.

• Essas duas cidades ou reinos coexistem e se misturam nas vicissitudes da história humana e encarnam a luta
entre o Bem e o Mal, entre Deus e o Demônio.

• Essa luta terminará no Juízo Final, que realizará a separação definitiva dos dois reinos, assegurando o triunfo
definitivo de Deus sobre o Demônio, do Bem sobre o Mal.

• O homem que era uno com Deus, voltará a ser uno mais uma vez. (CRONOLOGIA HISTÓRICA DE
ACORDO COM AS ESCRITURAS) – As coisas ocorrem no tempo de Deus.
ÉDEN TERRA
PARAÍSO
(HOMEM + DEUS) (HOMEM x DEUS)
(HOMEM + DEUS)
HARMONIA PECADO/ DESEJO
SALVAÇÃO/ CONSCIÊNCIA
INOCÊNCIA

)
O JUÍZO FINAL (STEFAN LOCHNER, 1435)
A ÉTICA DIVINA E O PROBLEMA DA EXISTÊNCIA DO MAL

• Associação entre a ideia de livre-arbítrio e a compreensão da natureza do mal.

• Contrariando a doutrina maniqueísta que afirma a existência do mal, Santo Agostinho a nega como entidade.

• Inspirando-se em Platão, afirma que só existe uma entidade: o Bem.

• Como só há o bem, podemos afirmar que o mal não é senão resultado da escolha que os homens fazem ao
optarem por se privar do bem.

• Deus não poderia ter nos criado determinados completamente ao bem, senão não haveria aprendizado, nem
escolhas e portanto, não haveria responsabilidade por nossos atos.

• A ausência de livre-arbítrio (liberum arbitrium), impossibilitaria a existência da Justiça Divina, uma vez que Deus não
poderia recompensar nem punir os homens por suas escolhas.

• Sem tal possibilidade, seríamos incapazes de discutir sobre a ética e seus preceitos, ou seja, não poderíamos pensar
no outro.

• Preceito ético: “O que deve prevalecer na minha relação com o outro para bem conduzir minhas ações?”
INDICAÇÃO DE FILME

O mal é o resultado da criatura se afastar dos mandamentos


de Deus para buscar um bem menor: a vontade da criatura,
do homem. É o homem, não Deus, quem é o autor do
pecado.

O mal não existe em substância, ou seja, o mal não possui


existência plena. É como a ferrugem que atinge o ferro.

https://www.youtube.com/watch?v=7iII9pPrUUA

A CABANA (2016)

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