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AS MEDIDAS ASTRONÔMICAS E AS IDEIAS BÁSICAS DA MATEMÁTICA GREGA(*)

(Notas de Aula 5, História da Física, DEFIMAT, IFCE – Campus Fortaleza)


(*)
Notas de aula não revisadas e baseadas em páginas da Internet, em diversas ocasiões.

por José Carlos Parente de Oliveira, Dr

Na primeira parte destas NOTAS DE AULA abordaremos a resposta dada pelos gregos antigos às
três seguintes perguntas:
(1) Qual o tamanho da Terra?
(2) Quão alta está a Lua? e
(3) A que distância está o Sol?
Ou seja, mostraremos como os gregos realizaram as primeiras medições de distâncias astronômicas:
as duas primeiras medições foram determinadas com bastante precisão, comparando-se com as
medidas atuais. Por outro lado, a medida da distância até o Sol teve a sua melhor estimativa aquém
da medida atual por um fator de dois.
Na segunda parte veremos como os gregos lançaram os fundamentos necessários à construção da
estrutura de grande parte da Matemática Moderna.
É digno enfatizar o esforço e a dedicação de muitos matemáticos que realizaram um trabalho
fabuloso durante suas vidas. Contudo, foram necessários três séculos de esforço cumulativo, em que
cada um que vinha posteriormente se baseava no trabalho de seus antecessores. Tal esforço e
dedicação exigiu uma cultura estável e letrada durante muitas gerações. Afinal, é muito difícil
transmitir a geometria de forma oral; pois era na areia que os mestres transmitiam aos discípulos a
geometria. Arquimedes e Hipátia são exemplos eternizados no cinema daqueles que ensinavam seus
alunos em “lousas de areia” em praças.
Não há como comparar o que foi produzido pelos babilônios ou egípcios com as conquistas e a
análise das ciências Física, Matemática e Biologia, por exemplos, alcançados por Aristóteles,
Arquimedes, Euclides, Aristarco e tantos outros gregos!

PRIMEIRA PARTE - Medindo o Sistema Solar


1. Qual o tamanho da Terra?
Eratóstenes, matemático e geógrafo grego, nasceu em 276 a.C. e morreu em 194 a.C., em
Alexandria (antigo Egito). Por volta do ano de 240 a.C., ele era o Diretor da biblioteca do Museu de
Alexandria, tendo assim acesso a catálogos de dados astronômicos. Assim, Eratóstenes conhecia as
datas dos solstícios e equinócios registrados em manuscritos da biblioteca e que no Solstício de
Verão, em 21 de junho, na cidade de Siena (atualmente Assuão), ao meio dia, o Sol ficava quase
exatamente no zênite (o Sol fica bem na vertical no topo do céu, e forma um ângulo reto com a
tangente ao solo), de modo que o Sol podia ser observado na superfície da água no fundo de um
poço lá existente. Ele também sabia que em Alexandria, na mesma data e mesma hora, isso não
ocorria, pois o Sol não se encontrava no zênite.
É evidente que Eratóstenes admitia plenamente que a Terra era esférica e que os raios solares
chegavam paralelos na superfície terrestre. Assim, ele sabia que "verticalmente para baixo" em
qualquer lugar da superfície da Terra significa apenas que essa direção passaria no centro a partir
desse ponto na superfície. Portanto, as varas verticais, uma em Alexandria e uma em Siene, não
eram realmente paralelas: a vara vertical em Siene não apresentaria sombra, enquanto que em
Alexandria haveria uma sombra. Dessa forma, se ele pudesse determinar o ângulo que os raios
solares faziam com a vertical em Alexandria ele poderia determinar o tamanho da Terra.
Eratóstenes mediu o ângulo da sombra com a vara com o auxílio de um astrolábio encontrando o
valor de 7,2º ou 1/50 avos da circunferência terrestre – outra maneira de determinar o ângulo era
medindo os comprimentos da sombra e da vara. Ele também conhecia o teorema sobre a igualdade
de ângulos em retas paralelas cortadas por uma reta transversal: se duas retas paralelas interceptam
uma reta transversal, então os ângulos correspondentes são iguais.
Portanto, o paralelismo dos raios solares em Alexandria e Siena determinava que os ângulos
formados pela vara e sua sombra e pelos raios da Terra verticais nas duas cidades, mas que
convergiam para o seu centro, determinavam ângulos correspondentes. (ver figura a seguir)

Figura 1.

Agora ele só precisava saber a distância entre as duas cidades, ou o arco da circunferência, uma vez
que a Terra era esférica. A distância de Alexandria a Siene foi medida em 5.040 estádios (um
estádio tem 157,7 m), com Siene “quase exatamente” ao sul.
A partir desta medida e do valor do ângulo dos raios solares ao meio-dia de 21 de junho, em
Alexandria, Eratóstenes foi capaz de descobrir a distância para dar uma volta na Terra, ou a sua
circunferência,
Circunferência Terra = (360º/7,2º)(5.040 estádio) =
= 252.000 estádio = 39.740.400 m
= 39.740 km!

O valor atual da circunferência da Terra é de 40.075


km de comprimento, valor que difere de 335 km
daquele encontrado por Eratóstenes – um erro de
apenas 0,8%!
Para calcular o raio da Terra Erastóstenes utilizou a
equação relacionando o arco de circunferência com o
raio, considerando o ângulo em radianos, ou seja,

(arco) = (raio).(ângulo em radiano), S = R


5040 estádio = R (7,2ºx2x3,14/360º)
R = 40.107 estádio = 40.107 estádio (0,1577
km/estádio)
R = 6.324 km. Figura 2.
As medidas recentes do raio da Terra afirmam ser de 6.370 km, o que nos diz que Eratóstenes
determinou um valor muito próximo do atual raio da Terra.

Problemas (?) com as medidas de Eratóstenes:


1. a tecnologia dos equipamentos disponível à época não permitiam a precisão necessária, em
particular, as medidas em linha reta não era uma tarefa fácil;
2. a cidade de Siene não ficava exatamente a sul de Alexandria, portanto o arco de circunferência
usado não estava no mesmo meridiano. (ver figura da página anterior)

2. Quão alta está a Lua?


Os astrônomos gregos, começando com Aristarco de Samos (310-230 a.C., aproximadamente),
descobriram um método inteligente de encontrar a distância da Lua à Terra, por meio da observação
cuidadosa de um eclipse lunar, que acontece quando a Terra fica entre a Lua e o Sol, protegendo-a
da luz solar.

Veja um vídeo curto mostrando um eclipse lunar, clicando a seguir (clique aqui).

Aristarco mediu a distância da Terra a Lua (DTL). O método por ele utilizado consiste em
primeiramente em determinar o diâmetro da Lua (D L). Fez-se isso a partir do tamanho angular que
ela apresenta vista por um observador na Terra (ver figura abaixo).

Figura 3.

Este ângulo foi encontrado como sendo igual a 0,50. Assim, por regra de três, obtemos o seu valor
em radiano, ou seja,  = 0,5/180 = 0,0087 rad.
Utilizando a equação para o cálculo do comprimento do arco de uma circunferência (ver figura)
temos,
S = R DL = DTL. DTL = DL/ 0,0087 = 114,6 DL. (1)

Portanto, Aristarco determinou a distância Terra-Lua em termos do diâmetro da Lua.

Naquela época era conhecido que, durante o eclipse, a Lua avançava uma distância equivalente ao
seu diâmetro a cada hora e que a duração de um eclipse era de, no máximo 3,5 horas, ou seja, a Lua
percorre um caminho igual a 3,5 vezes o seu diâmetro. (ver figura a seguir)
Desta figura é possível verificar que o diâmetro da Terra é aproximadamente igual a 3,5 diâmetros
da Lua.
Dessa forma, conclui-se então que o diâmetro da Terra é 3,5 vezes maior que o da Lua. Desde que,
já se sabia que o raio da Terra valia 6.324 km, o seu diâmetro será 12.648 km, então:
DL = DT/3,5 DL = 2x6.324 km/3,5
DL = 3.614 km,
Então com o uso de (1),
DTL = 114,6 DL, DTL = 114,6 x 3.614 km
DTL = 414.164 km.

Figura 4.

O diâmetro da Lua e a distância Terra-Lua encontrados por Aristarco têm a mesma ordem de
grandeza dos valores encontrados atualmente na literatura (3.474,2 km e 384.400 km), com erros de
4 e 7,7%, respectivamente.

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Vamos tentar entender o método grego experimentando provocar um eclipse utilizando moedas de
centavos de real.
Assim, para visualizar um eclipse lunar, imagine você segurando uma moeda de R$ 0,25 (vinte e
cinco centavos, com 25 mm de diâmetro) a certa distância do olho onde ela apenas bloqueia os raios
solares de um dos olhos. Como disse no início, imagine apenas, pois é perigoso e pode haver dano
ao olho, ou então use um bom protetor ocular.
Também é possível realizar esta experiência com Lua Cheia, que tem aproximadamente o mesmo
tamanho aparente no céu que o do Sol, completamente bloqueado; se estiver mais próximo, a moeda
bloqueará totalmente a luz solar e de mais alguma pequena área circular ao redor do Sol. (ver figura
abaixo)
A distância que você deve posicionar a moeda é de aproximadamente 2,75 metros, que é 110 vezes o
diâmetro da moeda. Se a moeda estiver mais longe que 2,75 m o Sol não será

Figura 5.
Iniciando no olho teremos um cone até a moeda, com altura 2,75 m. Com esta distância a moeda é
cercada por uma área mais difusa de luz, chamada de “penumbra”, onde a luz do Sol é parcialmente
bloqueada. A área em que a luz é totalmente bloqueada pela moeda é chamada de sombra. Se você
prender uma moeda na ponta de uma vara fina e segurá-la apontando para o Sol de maneira
adequada, poderá ver as áreas de sombra e penumbra.
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Questão 1. Descreva o que ocorreria se você usasse uma moeda de R$ 0,10 (dez
centavos), com diâmetro de 20 mm, ao invés de R$ 0,25. O que mudaria?

Agora imagine que você está no espaço, a alguma distância da Terra, olhando para o cone de
sombra da Terra. Claramente, a sombra da Terra deve ser cônica, assim como a da moeda. E
também deve ser semelhante à moeda no sentido geométrico --- essa sombra deve ter cerca de
110 vezes o diâmetro da Terra de comprimento! Isso ocorre porque a ponta do cone é o ponto
mais distante no qual a Terra pode bloquear toda a luz solar, e a proporção dessa distância para
o diâmetro é determinada pelo tamanho angular do Sol que está sendo bloqueado. Isso significa
que o cone tem 110 diâmetros da Terra de comprimento.
Agora, durante um eclipse lunar total, a Lua se move para dentro deste cone de escuridão.
Observe que, mesmo quando a lua está completamente dentro da sombra, ela ainda pode ser
vista vagamente, por causa da luz espalhada pela atmosfera da Terra. Observando a Lua
cuidadosamente durante o eclipse e vendo como a sombra da Terra caía sobre ela, os gregos
descobriram que o diâmetro da sombra cônica da Terra na distância da Lua era cerca de três
vezes e meia o diâmetro da própria Lua (ver figura 4).

Questão 2. Os gregos já sabiam qual era o tamanho da Terra (a Terra era uma
esfera de 12.648 km de diâmetro encontrado no item 1) e, portanto, o comprimento
da sombra cônica da Terra era de 110x12.648 km = 1.391.280 km. Eles sabiam que
quando a Lua passava pela sombra, o diâmetro da sombra naquela distância era três
vezes e meia o diâmetro da Lua. Estas informações são suficientes para descobrir a
que distância a Lua se encontrava?

Este cálculo mostrou aos gregos que a Lua não estaria mais distante que 1.391.280 km. Caso
contrário, a Lua nem passaria pela sombra da Terra. Dessa forma, pergunta-se: poderia uma
pequena Lua, a quase 1,4 milhão de quilômetros de distância, passando pela sombra já perto do
ápice do cone causar um eclipse solar?
A verdade é que os gregos sabiam que a Lua tem o mesmo tamanho aparente no céu que o Sol.
E isto é um fato crucial que eles usaram para determinar a distância entre a Lua e a Terra. A
solução foi geométrica com a utilização de a figura a seguir.

Figura 6.

Desde que o Sol e a Lua têm tamanhos aparentes iguais no céu os gregos inferiram que o ângulo GEF é igual
ao ângulo BAG (ângulo de visada). Na figura o comprimento BG é o diâmetro da sombra da Terra à distância
da Lua, e o comprimento GF é o diâmetro da Lua. Como os gregos sabiam pela observação de eclipses
lunares que a razão de BG para GF era de 2,5 para 1, então olhando para os triângulos isósceles semelhantes
FGE e BAG, deduzimos que AG é 2,5 vezes mais longo que GE. Mas eles também sabiam que AD deve ter
110 diâmetros da Terra de comprimento e, considerando o diâmetro da Terra como sendo de 12.648 km, o
ponto mais distante da sombra cônica, A, está a 1.391.280 km da Terra. Pelos argumentos acima, está
distância está 3,5 vezes mais longe da Terra do que a Lua da Terra, portanto a distância até a Lua é 1.391.280
km/3,5 = 397.508 km. Este valor difere 4% do valor encontrado anteriormente (414.164 km) e apenas 3% do
valor atual (DL= 3.474,2 km e dTL = 384.400 km).
A maior fonte de erro é, possivelmente, a estimativa da proporção do tamanho da Lua em relação à sombra da
Terra à medida que ela passa.

A que distância está o Sol?


Esta foi uma pergunta mais difícil de ser resolvida pelos astrônomos gregos e, como esperado, eles
não se saíram bem. Eles criaram um método muito engenhoso para medir a distância do Sol, mas ele
se mostrou mais exigente do que os gregos esperavam, pois a medida de um ângulo fundamental aos
cálculos não foi realizada com a precisão necessária (vimos este problema nas NOTAS DE AULA
sobre físicos e matemáticos posteriores a Aristóteles).
Contudo, com esta abordagem eles concluíram que o Sol estava muito mais longe do que a Lua e
que, em consequência, como ele tem o mesmo tamanho aparente da Lua, o Sol deve ser muito maior
do que a Lua ou a Terra.
A ideia deles para medir a distância do sol era muito simples em princípio. Eles sabiam, é claro, que
a Lua brilhava refletindo a luz do Sol. Portanto, eles raciocinaram, quando a Lua parece estar
exatamente pela metade, a linha da Lua ao Sol deve ser exatamente perpendicular à linha da Lua ao
observador na Terra (veja a figura a seguir).

Figura 7.

Desta forma, se um observador na Terra enxergar uma meia Lua à luz do dia, e mede
cuidadosamente o ângulo entre a direção da Lua e a direção do Sol, o ângulo  na figura, ele deve
ser capaz de construir um triângulo retângulo longo e fino, com sua linha de base sendo a linha Lua-
Terra, com o ângulo de 90º em uma extremidade e  na outra e, dessa forma, determinar a razão
entre a distância do Sol e a distância da Lua.
O problema com esta abordagem é que o ângulo  difere de 90º em apenas 1º/6 (um sexto de grau),
muito pequeno para ser medido com precisão com o equipamento disponível à época.
Como visto anteriormente a primeira tentativa foi de Aristarco, que estimou o ângulo  em 87º. Isso
colocaria o Sol a apenas 7.817.226 km (sete milhões, oitocentos e dezessete mil, duzentos e vinte e
seis quilômetros) de distância, bem menor que os cerca de 150 milhões de quilômetros entre a Terra
e o Sol.
Entretanto, este valor foi suficiente para que Aristarco sugerisse que o Sol era muito maior que a
Terra e que ele estivesse no centro do universo, e não a Terra.
Tentativas posteriores de medir esta distância pelos gregos levaram a valores melhores que 90% da
distância real.

SEGUND PARTE - Ideias Básicas em Matemática Grega


Aproximação da Raiz Quadrada de 2
Em nossa discussão anterior sobre a irracionalidade da raiz quadrada de 2, apresentamos uma lista
de quadrados dos primeiros 17 inteiros e observamos que havia vários “quase-erros” nas soluções da
equação m2 = 2n2. Especificamente, 32 = 2 × 22 + 1, 72 = 2 × 52 - 1, 172 = 2 × 122 + 1. Esses
resultados também foram anotados pelos gregos e apresentados na forma tabular da seguinte forma:
3 2 32 = 9 2x22 + 1
7 5 72 = 49 2x52 – 1
17 12 172 =289 2x122 + 1
41 29 412 = 1681 2x292 – 1
99 70 992 = 9801 2x702 + 1
239 169. 2392 = 57121 2x1692 – 1

Depois de observar esta relação de números por um bom tempo, o padrão emergiu: 3 + 2 = 5 e 7 + 5
= 12, então o número na coluna da direita, após a primeira linha, é a soma dos dois números em uma
linha acima. Além disso, 2 + 5 = 7, 5 + 12 = 17. Portanto, o número na coluna da esquerda é a soma
do número à sua direita e o número imediatamente acima daquele.
A questão é: esse padrão continua? Para descobrir, nós o usamos para encontrar o próximo par. O
número do lado direito deve ser 17 + 12 = 29, o do lado esquerdo 29 + 12 = 41. Agora 41 2 = 1681 e
292 = 841, então 412 = 292 - 1. Repetir o processo resulta em 41 + 29 = 70 e 70 + 29 = 99. É fácil
verificar que 992 = 2 × 702 + 1. Portanto, 992/702 = 2 + 1/702. Em outras palavras, a diferença entre a
raiz quadrada de 2 e o número racional 99/70 é menor que a magnitude 1/702. (Você pode verificar
isso com sua calculadora).
O padrão completo agora é evidente. A receita para os números é fornecida acima, e os + 1 e – 1 se
alternam no lado direito. Na verdade, os gregos conseguiram provar (isso pode ser feito com álgebra
elementar) que pares de números podem ser adicionados indefinidamente, e sua proporção dá uma
aproximação cada vez melhor da raiz quadrada de 2.

Questão 3. Utilizando o binômio de Newton com aproximação de segunda ordem pode


ser mostrado que a raiz de 2 é dada por (2)1/2 ≈ (m/n) ± (1/2)(1/m.n), em que m e n são
os números relacionados pelo padrão descrito nos parágrafos anteriores e o ± se refere aos
quadrados de m e n diferem de –1 ou +1. A aproximação se torna melhor à medida que m
e n crescem de acordo com o padrão descrito.
Por exemplo: a) 32=2x22+1, fornece (2)1/2 ≈ 1,4166666666666666
b) 412=2x292–1, fornece (2)1/2 ≈ 1,4142136248948696
c) 992=2x702+1, fornece (2)1/2 ≈ 1,4142135642135642
d) 2392=2x1692–1 fornece (2)1/2 ≈ 1,4142135624272734
(2)1/2 ≈ 1,4142135623730950 (valor correto com 16 decimais).
A descoberta essencial aqui é que, embora esteja estabelecido que a raiz quadrada de 2 não seja um
número racional, podemos pela receita encontrar um número racional o mais próximo que você
quiser da raiz quadrada de dois. Isso às vezes é expresso como "há números racionais infinitamente
próximos da raiz quadrada de 2", mas isso não é realmente uma maneira útil de fazê-lo. É melhor
pensar em um tipo de jogo - você nomeia um número pequeno, digamos, um milionésimo, e eu
posso encontrar um número racional (usando a tabela acima e encontrando os próximos conjuntos de
números) que está dentro de um milionésimo do quadrado raiz de 2. Por menor que seja o número
que você nomear, posso usar a receita acima para encontrar um racional próximo da raiz quadrada
de 2. É evidente pode levar uma vida inteira calculando, mas o método é claro!

Paradoxos de Zenão
Diz-se que Zenão de Elea (495-435 a.C.) foi um menino autodidata do interior, sem educação
formal. Ele era amigo de um filósofo conhecido, Parmênides, e visitou Atenas com ele, onde deixou
Sócrates perplexo, entre outros, com um conjunto de paradoxos. (Platão dá conta disso em
Parmênides.) Vamos examinar dois deles aqui.

Aquiles e a tartaruga.
Uma corrida de duzentas jardas é organizada entre Aquiles, que pode correr a 10 jardas por segundo,
e a tartaruga, que pode correr a uma jarda por segundo (talvez um tanto rápido para uma tartaruga,
mas estou tentando manter os números simples)
Para dar uma chance à tartaruga, ela tem uma vantagem de cem jardas.
Agora, quando Aquiles percorreu os primeiros 100 metros, para chegar onde a tartaruga estava, a
tartaruga está 10 metros à frente.
Quando Aquiles percorreu aqueles 10 metros, a tartaruga está 1 metro à frente.
Quando Aquiles cobre aquele 1 metro, a tartaruga está 1/10 de metro à frente.
Agora, Zeno diz, não há fim para essa sequência! Podemos continuar para sempre dividindo por 10!
Então, Zeno conclui, Aquiles tem que cobrir um número infinito de intervalos cada vez menores
antes de pegar a tartaruga. Mas fazer um número infinito de coisas leva um tempo infinitamente
longo - então ele nunca vai alcançá-lo.
O que há de errado com esse argumento? Tente pensar bem antes de continuar a ler!
O ponto essencial fica mais claro se você descobrir quanto tempo leva para Aquiles cobrir a
sequência de intervalos cada vez menores. Ele leva 10 segundos para cobrir as primeiras 100 jardas,
1 segundo para cobrir as próximas 10 jardas, 1/10 de segundo para a próxima jarda, 1/100 de
segundo para o próximo 1/10 de jarda e assim por diante. Se anotarmos os totais corridos de tempo
decorrido para cada um desses pontos, obteremos 10 segundos, 11 segundos, 11,1 segundos, 11,11
segundos e assim por diante. É aparente que o tempo total decorrido para todo o número infinito de
intervalos cada vez menores será 11.1111111 ..., com o 1 acontecendo para sempre. Mas este
decimal recorrente, 0,1111111 ... é apenas 1/9, como você pode verificar facilmente.
O ponto essencial é que é possível somar um número infinito de intervalos de tempo e ainda obter
um resultado finito. Isso significa que há um tempo definido - 11 1/9 segundos - em que Aquiles
alcança a tartaruga e, após esse instante, ele ultrapassa a tartaruga.

Questão 4. Determine o instante de tempo em que Aquiles alcança a tartaruga utilizando


a Cinemática Unidimensional.
A flecha
Considere o voo de uma flecha no ar. Vamos dividir o tempo em instantes, onde um instante é um
tempo indivisivelmente pequeno. Agora, durante um instante, a seta não pode se mover de forma
alguma, porque se o fizesse, poderíamos dividir o instante originalmente escolhido usando a
mudança de posição da seta para indicar em qual “parte do instante original” estamos.
No entanto, uma duração finita de tempo - como um segundo - é composta de instantes. Logo, se a
seta não se move durante um instante, ela não se move em uma soma de instantes. Portanto, ele não
pode se mover em um segundo!
O que há de errado com esse argumento?
Certamente existe algo como um instante de tempo: por exemplo, se a flecha está no ar do tempo
zero ao tempo de dois segundos, digamos, então há um instante em que ela esteve no ar por
exatamente um segundo.
O problema é que não há como dividir o tempo nesses instantes. Imagine o tempo de zero a dois
segundos representado por uma linha geométrica de cinco centímetros de comprimento em um
pedaço de papel. Por linha geométrica, queremos dizer uma linha ideal, não uma que seja realmente
uma coleção de pedaços microscópicos de grafite de lápis, mas uma linha contínua verdadeira do
tipo que os gregos imaginaram. O tempo tem esse tipo de continuidade - não há pequenas lacunas no
tempo (pelo menos, nenhuma que tenhamos encontrado até a atualidade). Agora tente imaginar a
linha feita de instantes. Você poderia começar colocando pontos a cada milionésimo de segundo,
digamos. Mas então você pode imaginar colocar um milhão de pontos entre cada um desses pares de
pontos, para ter um ponto a cada trilionésimo de segundo. E por que parar aí? Você poderia
continuar indefinidamente com esta divisão. Mas se você passar o resto de sua vida nesse exercício
mental, nunca colocará um ponto no instante correspondente ao tempo que é a raiz quadrada de
dois! E foi provado pelos matemáticos que existem infinitamente mais números irracionais do que
números racionais.
Portanto, realmente não há como dividir o tempo em instantes. Se você ainda não tiver certeza,
pense no seguinte problema: qual é o próximo instante após o instante em que o tempo é igual a um
segundo?

Instantes e intervalos
Por outro lado, é obviamente útil na análise do movimento da flecha observar o movimento um
pouco de cada vez - em outras palavras, dividir o tempo de alguma forma, para obter uma noção de
como a posição, ou a rapidez da flecha pode estar variando durante todo o voo. Então, como
devemos proceder? A divisão do tempo de Zenão em instantes não foi muito fácil de entender, como
vimos.
É muito mais fácil visualizar a divisão do tempo em intervalos, limitados por instantes de tempo.
Não o instante de tempo de Zenão, mas o instante de tempo como registro do tempo – uma foto do
relógio mostra o instante de tempo em que a foto foi realizada. Assim, o instante de tempo não tem
duração. Por exemplo, os dois segundos em que a flecha está no ar podem ser divididos em duzentos
intervalos, cada um com a duração de um centésimo de segundo. Então, poderíamos encontrar sua
velocidade média em cada um desses intervalos medindo a distância que ela percorria no centésimo
de segundo e multiplicando por cem. Isto é, se ele andasse dois pés no centésimo de segundo de
intervalo, estaria viajando a duzentos pés por segundo durante esse intervalo. (Claro, ele pode não
estar nessa velocidade durante todo o voo - é por isso que o dividimos em intervalos bem pequenos,
para que possamos monitorar a velocidade o tempo todo). Caso a flecha acerte algum obstáculo ou
objeto, ela poderá variar sua rapidez (velocidade) muito rapidamente – podendo haver uma grande
mudança na velocidade em um centésimo de segundo. Se quisermos descrever o movimento da
flecha nesta situação, devemos dividir o tempo em intervalos ainda menores, digamos milésimos de
segundo, ou mesmo dez milésimos de segundo, dependendo de quão precisamente queremos seguir
a mudança na velocidade.

Velocidade instantânea
Ainda há um problema que ainda não enfrentamos. Até aqui temos dividido o tempo em pequenos
intervalos e encontrando a velocidade média em cada intervalo o que nos dá uma boa ideia do
progresso da flecha, mas ainda há uma questão razoável a ser feita: qual é a velocidade da flecha no
instante um segundo após o voo ter começado?
Como respondemos a essa pergunta? Pense nisso antes de continuar a ler.
O ponto essencial sobre a velocidade é que é uma taxa de mudança de posição - isso é óbvio quando
você pensa em medir a velocidade que é dada em unidades tais como milhas por hora, ou metros por
segundo, etc. Isso implica que, para fazer qualquer afirmação sobre a velocidade, temos que dizer a
que distância a flecha se moveu entre dois instantes de tempo especificados. Portanto, para encontrar
a velocidade no momento um segundo após a decolagem, precisaríamos encontrar onde a flecha
está, digamos, 0,995 segundos após a decolagem e, a seguir, 1,005 segundos após a decolagem.
Escolhi aqui dois instantes com um centésimo de segundo de diferença. Se a flecha se mover 45 cm
durante esse intervalo de tempo período, ela vai a 45 metros por segundo.
Você pode objetar, porém, que isso ainda não é muito preciso. Provavelmente, 45 metros por
segundo é muito próximo da velocidade da flecha um segundo após a decolagem, mas é realmente
uma média em um intervalo de tempo de um centésimo de segundo, então pode não ser exatamente
a velocidade no meio do intervalo de tempo. E isso é verdade. O que devemos fazer, pelo menos em
princípio, é tomar um intervalo de tempo ainda menor, digamos um décimo de milésimo de
segundo, novamente centrado no instante de tempo um segundo, como antes (0,99995s até
1,00005s). Agora medimos o quão longe a flecha se move no décimo de milésimo de segundo e
multiplicamos essa distância por dez mil vezes para obter a velocidade média da flecha nesse curto
período de tempo.
Claro, você pode dizer que ainda não está satisfeito. Você querer saber a velocidade precisa na
marca de um segundo, não com alguma aproximação baseada na média ao longo de um intervalo de
tempo. Mas, como acabamos de dizer, todas as medições de velocidade necessariamente envolvem
algum intervalo de tempo, que, no entanto, pode ser tão curto quanto se queira. É assim que
devemos definir o que sugerimos por velocidade em um instante de tempo - pegamos uma sequência
de intervalos de tempo cada vez mais curtos, cada um deles centrado no momento em questão, e
encontramos a velocidade média em cada um. Esta série de medições de velocidade se aproximará
da velocidade exata no instante um segundo.
Isso deve lembrá-lo da discussão sobre a raiz quadrada de dois. Lá nós tínhamos uma sequência de
números racionais tais que, se você obtivesse algum número pequeno, como um milionésimo de um
trilionésimo, poderíamos sempre encontrar um racional dentro dessa distância da raiz dois. Aqui,
estamos dizendo que se você quiser que a velocidade tenha alguma precisão pré-atribuída, podemos
encontrá-la tomando um intervalo de tempo suficientemente pequeno em torno do tempo em questão
e calculando a velocidade média nesse intervalo.
Na verdade, isso pode não ser tão difícil quanto parece. Por exemplo, imagine uma flecha se
movendo para longe no espaço a uma velocidade constante, sem resistência do ar ou gravidade para
enfrentar. Então, ele irá a uma velocidade constante e a velocidade média em todos os intervalos de
tempo será a mesma. Isso significa que podemos encontrar (em princípio) a velocidade exata em
qualquer momento, sem ter que nos preocupar com intervalos de tempo indefinidamente pequenos.
Outro caso bastante simples é uma flecha ganhando velocidade em um ritmo constante. Sua
velocidade no meio de um intervalo de tempo acaba sendo exatamente igual à sua velocidade média
no intervalo. Discutiremos mais este caso quando chegarmos a Galileu.

O início do cálculo
Devemos enfatizar que a discussão acima sobre intervalos e instantes de tempo e assim por diante
não foi a resposta dos atenienses a Zenão. Somente com o trabalho posterior de Eudoxus, Euclides e
Arquimedes é que a maneira de lidar com essas pequenas quantidades tornou-se gradualmente
aparente. A contribuição de Zenão foi que ele iniciou a discussão que finalmente levou ao cálculo.
Na verdade, de acordo com Bertrand Russell (História da Filosofia Ocidental), Zenão ensinou a
Sócrates o método socrático - o método de buscar conhecimento por meio de perguntas e respostas
sistemáticas. Infelizmente, a abordagem de Zenão não lhe rendeu amigos poderosos e "ele
finalmente perdeu a cabeça por traição ou algo do tipo" (Bell, Men of Mathematics).

Arquimedes começa a calcular o pi ()


Tanto os babilônios quanto os egípcios usavam
aproximações para pi (letra grega, ), a razão
entre a circunferência de um círculo e seu
diâmetro. Os egípcios usaram um valor de 3,16,
dentro de um por cento do valor verdadeiro. (Mais
detalhes podem ser encontrados em Neugebauer,
The Exact Sciences in Antiquity, Dover, página
78.) Na verdade, esse valor segue de sua regra
para a área de um círculo, [(8/9)d]2, mas é
razoável supor que eles poderiam ter construído
um círculo e medido a circunferência com essa
precisão. Não há indicações de que eles tentaram
calcular o pi (), usando argumentos geométricos
como Arquimedes fez.
Seguindo Arquimedes, primeiro desenhamos um círculo de raio igual a um (então o diâmetro é 2) e
inscrevemos nele um hexágono regular (isto é, todos os lados de comprimento igual). É evidente que
o hexágono é composto de seis triângulos equiláteros, já que o ângulo de 360 graus no centro do
círculo é dividido igualmente em seis, e os ângulos de um triângulo somam 180 graus.
Portanto, cada lado de cada triângulo é igual ao raio do círculo, ou seja, igual a um. Assim, o
perímetro do hexágono é exatamente 6. É claro pela figura que a circunferência do círculo – a linha
curva equidistante do centro – é maior do que o perímetro do hexágono, porque o hexágono pode
ser visto como uma série de atalhos que tocam pontos da circunferência.
Portanto, concluímos que pi (), a razão entre o comprimento da circunferência do círculo e seu
diâmetro, é maior que 3, mas não muito - o hexágono parece muito próximo. (Por exemplo, muito
mais perto do que, indo ao redor de um quadrado encaixotado ao redor do círculo, o que seria uma
distância de 4(2)1/2 ≈ 5,65694 raios. Se aproximarmos a circunferência do círculo por este quadrado,
obteríamos pi = 2,82847!)
Portanto, o primeiro passo – comparar o círculo com o hexágono – nos diz que pi é maior do que
três. O próximo movimento de Arquimedes foi encontrar um polígono inscrito no círculo que
estivesse mais próximo do círculo do que do hexágono, de modo que seu perímetro ficasse mais
próximo da circunferência do círculo. Sua estratégia foi dobrar o número de lados do polígono, ou
seja, substituir o hexágono por um polígono regular de doze lados, um dodecágono. Obviamente,
pela figura, o perímetro do dodecágono é muito mais próximo do círculo do que o hexágono (mas
ainda é obviamente menos, já que, como o hexágono, é uma série de atalhos para contornar o
círculo).
Calcular o perímetro do dodecágono não é tão simples
como era para o hexágono, mas tudo que requer é o
teorema de Pitágoras. Olhe a figura ao lado.
Precisamos encontrar o comprimento de um lado,
como AB, e multiplicá-lo por 12 para obter o
perímetro total. AB é a hipotenusa do triângulo
retângulo ABD. Sabemos que o comprimento AD é
apenas ½ (lembre-se do raio do círculo = 1). Não
sabemos o outro comprimento, BD, mas sabemos que
BC deve ser igual a 1, porque é apenas o raio do
círculo novamente. Voltando nossa atenção para o
triângulo retângulo ACD, vemos que sua hipotenusa é
igual a 1 e um lado (AD) é igual a ½. Portanto, do
Teorema de Pitágoras, o quadrado de CD é 3/4, então
CD = (1/2)(3)1/2, ou seja, CD é metade da raiz
quadrada de 3.
Uma vez encontrado CD, podemos determinar DB, pois CD + DB = CB = 1, ou seja, DB = 1 –
(1/2)(3)1/2. Portanto, conhecemos os dois lados mais curtos do triângulo retângulo ADB e podemos
encontrar a hipotenusa usando novamente o Teorema de Pitágoras.
O dodecágono acabou tendo um perímetro de 6,21, dando pi maior que 3,1. Não é tão próximo
quanto os egípcios, mas Arquimedes não parou por aqui. Em seguida, ele foi para um polígono
regular de 24 lados inscrito no círculo. Novamente, aplicamos o teorema de Pitágoras duas vezes,
exatamente como na etapa anterior. O perímetro do polígono regular de 24 lados acaba sendo 6,26,
dando pi maior que 3,13. (Estamos dando uma versão um pouco desleixada de seu trabalho: ele
sempre trabalhou com racionais, e onde a raiz quadrada de 3 entrou, ele usou 265/153 < (3)1/2
<1351/780. Esses limites vieram de um algoritmo originado pelos babilônios.)
Na verdade, Arquimedes foi até o polígono regular de 96 lados inscrito no círculo. Ele então
começou tudo de novo com polígonos regulares circunscritos ao círculo, de modo que o círculo
toque o meio de cada lado do polígono e seja completamente contido por ele. Esse polígono
claramente tem um perímetro maior do que o do círculo, mas chegando mais perto dele à medida
que consideramos polígonos com mais e mais lados. Arquimedes também considerou um polígono
circunscrito com 96 lados.
Assim, com uma série de polígonos dentro do círculo e outra série fora dele, consegui colocar o
comprimento da circunferência entre dois conjuntos de números que gradualmente se aproximavam.
Isso é novamente uma reminiscência da estratégia grega em aproximar a raiz quadrada de 2. O
resultado de todos os seus esforços foi a desigualdade: 3+(10/71) < pi < 3+(1/7). Se tomarmos a
média desses dois números, encontraremos 3,14185. O valor correto de pi é 3,1415926535897...

Quadrando o círculo
Esta frase refere-se ao famoso problema de encontrar uma área com limites de linha reta iguais em
área a um círculo de determinado diâmetro. Arquimedes provou que a área de um círculo é igual à
de um triângulo retângulo com os dois lados mais curtos iguais ao raio do círculo e sua
circunferência, respectivamente, ou seja, Acirc = (1/2)(R)(2R).
A ideia de sua prova é a seguinte. Considere primeiro um quadrado inscrito no círculo. O quadrado é
feito de quatro triângulos, cada um com altura h, digamos, e comprimento de base b. (Na verdade, b
= 2h, mas vamos mantê-los separados.) (Verifique que b = 2 h.)
A área total do quadrado é igual à área total dos 4 triângulos, que é 4 vezes (1/2)(h.b) ou
(1/2)(h)(4b). Observe que esta é a área de um triângulo longo e fino, com altura igual à distância h
do meio do lado do quadrado ao centro do círculo, e base igual ao comprimento do perímetro 4b do
quadrado.

A área do quadrado não é uma boa aproximação com a do círculo, mas podemos melhorá-la
substituindo o quadrado por um octógono regular, com todos os seus pontos vértices no círculo.
Agora, este octógono pode ser dividido em oito triângulos, seguindo o mesmo procedimento do
quadrado. A altura de cada um desses triângulos é igual à distância do centro do círculo até o meio
de um lado do octógono. Assim como no caso do quadrado, a área total desses oito triângulos é igual
à de um triângulo longo e fino da mesma altura e com comprimento de base igual ao perímetro do
octógono.
É evidente que a altura dos triângulos do octógono está mais próxima do raio do círculo do que a
altura dos triângulos do quadrado e também que o perímetro do octógono está mais próximo da
circunferência do círculo do que o perímetro do quadrado estava.

O processo é repetido: o octógono é substituído por um polígono regular de 16 lados


(hexadecágono) inscrito no círculo. A área do hexadecágono é igual à soma dos 16 triângulos
formados pelo desenho de linhas do centro do círculo até seus pontos na circunferência. Todos esses
triângulos têm a mesma altura, então eles têm área total igual a um triângulo longo e fino com a
mesma altura e comprimento de base igual ao perímetro do hexadecágono. Para estes triângulos a
altura está mais próxima do raio da circunferência que esta a altura dos triângulos do octógono.
Neste ponto, o padrão deve estar claro – conforme vamos para os polígonos de 32, 64, ... lados, a
área total do polígono é a mesma de um triângulo retângulo com um lado longo igual ao perímetro
do correspondente polígono, que se aproxima da circunferência do círculo à medida que os
polígonos têm cada vez mais lados, e a altura dos triângulos se aproximam do raio da circunferência.
Portanto, a área dos polígonos se aproxima de ½ × base × altura = (1/2)(2.pi.R)(R) = pi.R2.

Questão 5. Repita o procedimento de Arquimedes para um polígono de 16 lados


(hexadecágono.)

Método de exaustão de Eudoxus


Na verdade, o relato dado acima não faz justiça à rigidez dos argumentos geométricos dos gregos. A
abordagem do limite de mais e mais polígonos laterais aproximando-se cada vez melhor do círculo é
um pouco vaga. Não está muito clara a rapidez com que isso está acontecendo.
Eudoxus esclareceu a situação, ao colocar um
procedimento de limite inferior em quanto mais da
área total do círculo era coberta pelo novo
polígono criado em cada etapa. Vamos começar
com o quadrado. Na figura, mostramos o
quadrado inscrito EFGH, e também um quadrado
circunscrito ABCD. Claramente, a área do
quadrado EFGH é exatamente a metade daquela
do quadrado ABCD. Uma vez que o círculo está
inteiramente dentro de ABCD, segue-se que o
quadrado EFGH cobre mais da metade da área do
círculo.
Agora, considere quanto mais da área total do
círculo é coberta quando passamos do quadrado
para o octógono. Adicionamos áreas triangulares
como EPF a cada lado do quadrado. Agora, observe que o triângulo EPF tem área exatamente a
metade da área retangular ELKF. Se tivéssemos adicionado
áreas retangulares como essa aos quatro lados do quadrado, a área do círculo teria sido
completamente contida. Isso implica que, ao adicionar apenas os triângulos, ou seja, indo do
quadrado ao octógono, nós estamos cobrindo mais da metade da área do círculo que fica fora do
quadrado.
Este mesmo argumento funciona em cada etapa: então, o quadrado inscrito cobre mais da metade da
área do círculo, indo para o octógono acrescentamos mais da metade da área restante do círculo,
então o octógono cobre mais de três quartos da área do círculo, o hexadecágono (polígono com 16
lados) inscrito cobre mais de sete oitavos da área do círculo e assim por diante.
Somente para exemplificar: vamos supor que iniciando com o quadrado, a cada inscrição de
polígonos como dobro de lados cobrisse exatamente a metade da área restante do círculo teríamos
com o polígono com 64 lados uma área equivalente a (63/64) da área do círculo coberta
[1/2+1/4+1/8+1/16+1/32+1/64=63/64=0,984375].
Arquimedes usou a abordagem de Eudoxus para provar que a área de um círculo era igual à do
triângulo retângulo com lados mais curtos iguais ao raio e à circunferência do círculo. Suponha,
disse ele, que a área do triângulo seja menor que a do círculo. Então, na sequência de polígonos com
4, 8, 16, 32, ... lados, chegaremos a um com área maior que a do triângulo retângulo especificado.
Mas este polígono terá uma área igual a um número de triângulos igual ao seu número de lados e,
como argumentamos acima, a soma de suas áreas é igual à de um triângulo com altura e
comprimento de base iguais para o perímetro do polígono, mas sua altura é menor que o raio do
círculo e o perímetro é menor que a circunferência do círculo. Portanto, sua área total deve ser
menor que a do triângulo retângulo especificado que tem como altura o raio do círculo e como base
o comprimento da circunferência. Isso dá uma contradição, de modo que o triângulo não pode ter
área menor que a do círculo.
Supondo que a área do triângulo seja maior do que o círculo leva a outra contradição ao considerar
uma sequência de polígonos circunscritos ao círculo - então os dois devem ser exatamente iguais.

Arquimedes faz um Integral


Arquimedes percebeu que, ao encontrar a área de um círculo,
outro problema foi resolvido, o de encontrar a área da
superfície curva de um cone (como uma casquinha de sorvete
tradicional). Se tal cone for aberto cortando-se uma linha reta
de seu vértice até a borda, ele terá a forma de um leque, isto
é, uma seção de um círculo, cujo raio . Sua área será então
aquela fração da área do círculo completo que sua borda
curva coincide com a circunferência do círculo completo. Ele
também mostrou como encontrar a área curva de uma "fatia"
de um cone, obtido ao cortar paralelamente a partir de sua
abertura máxima, obtendo um pedaço do cone em forma de
“anel”. Ele então conseguiu calcular a área de superfície de
uma esfera. Sua abordagem foi a seguinte: imagine onde
Fortaleza aparece em um globo, no paralelo 0 (0o45’47’’).

Este paralelo é uma linha que percorre todo o globo a uma distância constante ao Equador (paralela
ao Equador). Agora considere a parte da superfície do globo entre este paralelo 0º e o paralelo 1º.
Esta é uma faixa de superfície em torno de todo o globo e é muito semelhante a uma fatia de um
cone, isto se escolhermos um cone do tamanho e ângulo corretos. A estratégia de Arquimedes foi
dividir toda a superfície da esfera em fitas como esta e encontrar a área de cada fita tomando-a como
parte de um cone. Ele então somava todas estas áreas das fitas. Por último, ele pegou fitas cada vez
mais finas para obter um resultado mais preciso, usando o método da exaustão para provar que a área
da esfera era (4)(pi)(R2). Isso é precisamente equivalente a uma solução moderna de cálculo integral
do mesmo problema, e tão rigorosa quanto (porém muito mais difícil de obter.)

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