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Na primeira parte destas NOTAS DE AULA abordaremos a resposta dada pelos gregos antigos às
três seguintes perguntas:
(1) Qual o tamanho da Terra?
(2) Quão alta está a Lua? e
(3) A que distância está o Sol?
Ou seja, mostraremos como os gregos realizaram as primeiras medições de distâncias astronômicas:
as duas primeiras medições foram determinadas com bastante precisão, comparando-se com as
medidas atuais. Por outro lado, a medida da distância até o Sol teve a sua melhor estimativa aquém
da medida atual por um fator de dois.
Na segunda parte veremos como os gregos lançaram os fundamentos necessários à construção da
estrutura de grande parte da Matemática Moderna.
É digno enfatizar o esforço e a dedicação de muitos matemáticos que realizaram um trabalho
fabuloso durante suas vidas. Contudo, foram necessários três séculos de esforço cumulativo, em que
cada um que vinha posteriormente se baseava no trabalho de seus antecessores. Tal esforço e
dedicação exigiu uma cultura estável e letrada durante muitas gerações. Afinal, é muito difícil
transmitir a geometria de forma oral; pois era na areia que os mestres transmitiam aos discípulos a
geometria. Arquimedes e Hipátia são exemplos eternizados no cinema daqueles que ensinavam seus
alunos em “lousas de areia” em praças.
Não há como comparar o que foi produzido pelos babilônios ou egípcios com as conquistas e a
análise das ciências Física, Matemática e Biologia, por exemplos, alcançados por Aristóteles,
Arquimedes, Euclides, Aristarco e tantos outros gregos!
Figura 1.
Agora ele só precisava saber a distância entre as duas cidades, ou o arco da circunferência, uma vez
que a Terra era esférica. A distância de Alexandria a Siene foi medida em 5.040 estádios (um
estádio tem 157,7 m), com Siene “quase exatamente” ao sul.
A partir desta medida e do valor do ângulo dos raios solares ao meio-dia de 21 de junho, em
Alexandria, Eratóstenes foi capaz de descobrir a distância para dar uma volta na Terra, ou a sua
circunferência,
Circunferência Terra = (360º/7,2º)(5.040 estádio) =
= 252.000 estádio = 39.740.400 m
= 39.740 km!
Veja um vídeo curto mostrando um eclipse lunar, clicando a seguir (clique aqui).
Aristarco mediu a distância da Terra a Lua (DTL). O método por ele utilizado consiste em
primeiramente em determinar o diâmetro da Lua (D L). Fez-se isso a partir do tamanho angular que
ela apresenta vista por um observador na Terra (ver figura abaixo).
Figura 3.
Este ângulo foi encontrado como sendo igual a 0,50. Assim, por regra de três, obtemos o seu valor
em radiano, ou seja, = 0,5/180 = 0,0087 rad.
Utilizando a equação para o cálculo do comprimento do arco de uma circunferência (ver figura)
temos,
S = R DL = DTL. DTL = DL/ 0,0087 = 114,6 DL. (1)
Naquela época era conhecido que, durante o eclipse, a Lua avançava uma distância equivalente ao
seu diâmetro a cada hora e que a duração de um eclipse era de, no máximo 3,5 horas, ou seja, a Lua
percorre um caminho igual a 3,5 vezes o seu diâmetro. (ver figura a seguir)
Desta figura é possível verificar que o diâmetro da Terra é aproximadamente igual a 3,5 diâmetros
da Lua.
Dessa forma, conclui-se então que o diâmetro da Terra é 3,5 vezes maior que o da Lua. Desde que,
já se sabia que o raio da Terra valia 6.324 km, o seu diâmetro será 12.648 km, então:
DL = DT/3,5 DL = 2x6.324 km/3,5
DL = 3.614 km,
Então com o uso de (1),
DTL = 114,6 DL, DTL = 114,6 x 3.614 km
DTL = 414.164 km.
Figura 4.
O diâmetro da Lua e a distância Terra-Lua encontrados por Aristarco têm a mesma ordem de
grandeza dos valores encontrados atualmente na literatura (3.474,2 km e 384.400 km), com erros de
4 e 7,7%, respectivamente.
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Vamos tentar entender o método grego experimentando provocar um eclipse utilizando moedas de
centavos de real.
Assim, para visualizar um eclipse lunar, imagine você segurando uma moeda de R$ 0,25 (vinte e
cinco centavos, com 25 mm de diâmetro) a certa distância do olho onde ela apenas bloqueia os raios
solares de um dos olhos. Como disse no início, imagine apenas, pois é perigoso e pode haver dano
ao olho, ou então use um bom protetor ocular.
Também é possível realizar esta experiência com Lua Cheia, que tem aproximadamente o mesmo
tamanho aparente no céu que o do Sol, completamente bloqueado; se estiver mais próximo, a moeda
bloqueará totalmente a luz solar e de mais alguma pequena área circular ao redor do Sol. (ver figura
abaixo)
A distância que você deve posicionar a moeda é de aproximadamente 2,75 metros, que é 110 vezes o
diâmetro da moeda. Se a moeda estiver mais longe que 2,75 m o Sol não será
Figura 5.
Iniciando no olho teremos um cone até a moeda, com altura 2,75 m. Com esta distância a moeda é
cercada por uma área mais difusa de luz, chamada de “penumbra”, onde a luz do Sol é parcialmente
bloqueada. A área em que a luz é totalmente bloqueada pela moeda é chamada de sombra. Se você
prender uma moeda na ponta de uma vara fina e segurá-la apontando para o Sol de maneira
adequada, poderá ver as áreas de sombra e penumbra.
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Questão 1. Descreva o que ocorreria se você usasse uma moeda de R$ 0,10 (dez
centavos), com diâmetro de 20 mm, ao invés de R$ 0,25. O que mudaria?
Agora imagine que você está no espaço, a alguma distância da Terra, olhando para o cone de
sombra da Terra. Claramente, a sombra da Terra deve ser cônica, assim como a da moeda. E
também deve ser semelhante à moeda no sentido geométrico --- essa sombra deve ter cerca de
110 vezes o diâmetro da Terra de comprimento! Isso ocorre porque a ponta do cone é o ponto
mais distante no qual a Terra pode bloquear toda a luz solar, e a proporção dessa distância para
o diâmetro é determinada pelo tamanho angular do Sol que está sendo bloqueado. Isso significa
que o cone tem 110 diâmetros da Terra de comprimento.
Agora, durante um eclipse lunar total, a Lua se move para dentro deste cone de escuridão.
Observe que, mesmo quando a lua está completamente dentro da sombra, ela ainda pode ser
vista vagamente, por causa da luz espalhada pela atmosfera da Terra. Observando a Lua
cuidadosamente durante o eclipse e vendo como a sombra da Terra caía sobre ela, os gregos
descobriram que o diâmetro da sombra cônica da Terra na distância da Lua era cerca de três
vezes e meia o diâmetro da própria Lua (ver figura 4).
Questão 2. Os gregos já sabiam qual era o tamanho da Terra (a Terra era uma
esfera de 12.648 km de diâmetro encontrado no item 1) e, portanto, o comprimento
da sombra cônica da Terra era de 110x12.648 km = 1.391.280 km. Eles sabiam que
quando a Lua passava pela sombra, o diâmetro da sombra naquela distância era três
vezes e meia o diâmetro da Lua. Estas informações são suficientes para descobrir a
que distância a Lua se encontrava?
Este cálculo mostrou aos gregos que a Lua não estaria mais distante que 1.391.280 km. Caso
contrário, a Lua nem passaria pela sombra da Terra. Dessa forma, pergunta-se: poderia uma
pequena Lua, a quase 1,4 milhão de quilômetros de distância, passando pela sombra já perto do
ápice do cone causar um eclipse solar?
A verdade é que os gregos sabiam que a Lua tem o mesmo tamanho aparente no céu que o Sol.
E isto é um fato crucial que eles usaram para determinar a distância entre a Lua e a Terra. A
solução foi geométrica com a utilização de a figura a seguir.
Figura 6.
Desde que o Sol e a Lua têm tamanhos aparentes iguais no céu os gregos inferiram que o ângulo GEF é igual
ao ângulo BAG (ângulo de visada). Na figura o comprimento BG é o diâmetro da sombra da Terra à distância
da Lua, e o comprimento GF é o diâmetro da Lua. Como os gregos sabiam pela observação de eclipses
lunares que a razão de BG para GF era de 2,5 para 1, então olhando para os triângulos isósceles semelhantes
FGE e BAG, deduzimos que AG é 2,5 vezes mais longo que GE. Mas eles também sabiam que AD deve ter
110 diâmetros da Terra de comprimento e, considerando o diâmetro da Terra como sendo de 12.648 km, o
ponto mais distante da sombra cônica, A, está a 1.391.280 km da Terra. Pelos argumentos acima, está
distância está 3,5 vezes mais longe da Terra do que a Lua da Terra, portanto a distância até a Lua é 1.391.280
km/3,5 = 397.508 km. Este valor difere 4% do valor encontrado anteriormente (414.164 km) e apenas 3% do
valor atual (DL= 3.474,2 km e dTL = 384.400 km).
A maior fonte de erro é, possivelmente, a estimativa da proporção do tamanho da Lua em relação à sombra da
Terra à medida que ela passa.
Figura 7.
Desta forma, se um observador na Terra enxergar uma meia Lua à luz do dia, e mede
cuidadosamente o ângulo entre a direção da Lua e a direção do Sol, o ângulo na figura, ele deve
ser capaz de construir um triângulo retângulo longo e fino, com sua linha de base sendo a linha Lua-
Terra, com o ângulo de 90º em uma extremidade e na outra e, dessa forma, determinar a razão
entre a distância do Sol e a distância da Lua.
O problema com esta abordagem é que o ângulo difere de 90º em apenas 1º/6 (um sexto de grau),
muito pequeno para ser medido com precisão com o equipamento disponível à época.
Como visto anteriormente a primeira tentativa foi de Aristarco, que estimou o ângulo em 87º. Isso
colocaria o Sol a apenas 7.817.226 km (sete milhões, oitocentos e dezessete mil, duzentos e vinte e
seis quilômetros) de distância, bem menor que os cerca de 150 milhões de quilômetros entre a Terra
e o Sol.
Entretanto, este valor foi suficiente para que Aristarco sugerisse que o Sol era muito maior que a
Terra e que ele estivesse no centro do universo, e não a Terra.
Tentativas posteriores de medir esta distância pelos gregos levaram a valores melhores que 90% da
distância real.
Depois de observar esta relação de números por um bom tempo, o padrão emergiu: 3 + 2 = 5 e 7 + 5
= 12, então o número na coluna da direita, após a primeira linha, é a soma dos dois números em uma
linha acima. Além disso, 2 + 5 = 7, 5 + 12 = 17. Portanto, o número na coluna da esquerda é a soma
do número à sua direita e o número imediatamente acima daquele.
A questão é: esse padrão continua? Para descobrir, nós o usamos para encontrar o próximo par. O
número do lado direito deve ser 17 + 12 = 29, o do lado esquerdo 29 + 12 = 41. Agora 41 2 = 1681 e
292 = 841, então 412 = 292 - 1. Repetir o processo resulta em 41 + 29 = 70 e 70 + 29 = 99. É fácil
verificar que 992 = 2 × 702 + 1. Portanto, 992/702 = 2 + 1/702. Em outras palavras, a diferença entre a
raiz quadrada de 2 e o número racional 99/70 é menor que a magnitude 1/702. (Você pode verificar
isso com sua calculadora).
O padrão completo agora é evidente. A receita para os números é fornecida acima, e os + 1 e – 1 se
alternam no lado direito. Na verdade, os gregos conseguiram provar (isso pode ser feito com álgebra
elementar) que pares de números podem ser adicionados indefinidamente, e sua proporção dá uma
aproximação cada vez melhor da raiz quadrada de 2.
Paradoxos de Zenão
Diz-se que Zenão de Elea (495-435 a.C.) foi um menino autodidata do interior, sem educação
formal. Ele era amigo de um filósofo conhecido, Parmênides, e visitou Atenas com ele, onde deixou
Sócrates perplexo, entre outros, com um conjunto de paradoxos. (Platão dá conta disso em
Parmênides.) Vamos examinar dois deles aqui.
Aquiles e a tartaruga.
Uma corrida de duzentas jardas é organizada entre Aquiles, que pode correr a 10 jardas por segundo,
e a tartaruga, que pode correr a uma jarda por segundo (talvez um tanto rápido para uma tartaruga,
mas estou tentando manter os números simples)
Para dar uma chance à tartaruga, ela tem uma vantagem de cem jardas.
Agora, quando Aquiles percorreu os primeiros 100 metros, para chegar onde a tartaruga estava, a
tartaruga está 10 metros à frente.
Quando Aquiles percorreu aqueles 10 metros, a tartaruga está 1 metro à frente.
Quando Aquiles cobre aquele 1 metro, a tartaruga está 1/10 de metro à frente.
Agora, Zeno diz, não há fim para essa sequência! Podemos continuar para sempre dividindo por 10!
Então, Zeno conclui, Aquiles tem que cobrir um número infinito de intervalos cada vez menores
antes de pegar a tartaruga. Mas fazer um número infinito de coisas leva um tempo infinitamente
longo - então ele nunca vai alcançá-lo.
O que há de errado com esse argumento? Tente pensar bem antes de continuar a ler!
O ponto essencial fica mais claro se você descobrir quanto tempo leva para Aquiles cobrir a
sequência de intervalos cada vez menores. Ele leva 10 segundos para cobrir as primeiras 100 jardas,
1 segundo para cobrir as próximas 10 jardas, 1/10 de segundo para a próxima jarda, 1/100 de
segundo para o próximo 1/10 de jarda e assim por diante. Se anotarmos os totais corridos de tempo
decorrido para cada um desses pontos, obteremos 10 segundos, 11 segundos, 11,1 segundos, 11,11
segundos e assim por diante. É aparente que o tempo total decorrido para todo o número infinito de
intervalos cada vez menores será 11.1111111 ..., com o 1 acontecendo para sempre. Mas este
decimal recorrente, 0,1111111 ... é apenas 1/9, como você pode verificar facilmente.
O ponto essencial é que é possível somar um número infinito de intervalos de tempo e ainda obter
um resultado finito. Isso significa que há um tempo definido - 11 1/9 segundos - em que Aquiles
alcança a tartaruga e, após esse instante, ele ultrapassa a tartaruga.
Instantes e intervalos
Por outro lado, é obviamente útil na análise do movimento da flecha observar o movimento um
pouco de cada vez - em outras palavras, dividir o tempo de alguma forma, para obter uma noção de
como a posição, ou a rapidez da flecha pode estar variando durante todo o voo. Então, como
devemos proceder? A divisão do tempo de Zenão em instantes não foi muito fácil de entender, como
vimos.
É muito mais fácil visualizar a divisão do tempo em intervalos, limitados por instantes de tempo.
Não o instante de tempo de Zenão, mas o instante de tempo como registro do tempo – uma foto do
relógio mostra o instante de tempo em que a foto foi realizada. Assim, o instante de tempo não tem
duração. Por exemplo, os dois segundos em que a flecha está no ar podem ser divididos em duzentos
intervalos, cada um com a duração de um centésimo de segundo. Então, poderíamos encontrar sua
velocidade média em cada um desses intervalos medindo a distância que ela percorria no centésimo
de segundo e multiplicando por cem. Isto é, se ele andasse dois pés no centésimo de segundo de
intervalo, estaria viajando a duzentos pés por segundo durante esse intervalo. (Claro, ele pode não
estar nessa velocidade durante todo o voo - é por isso que o dividimos em intervalos bem pequenos,
para que possamos monitorar a velocidade o tempo todo). Caso a flecha acerte algum obstáculo ou
objeto, ela poderá variar sua rapidez (velocidade) muito rapidamente – podendo haver uma grande
mudança na velocidade em um centésimo de segundo. Se quisermos descrever o movimento da
flecha nesta situação, devemos dividir o tempo em intervalos ainda menores, digamos milésimos de
segundo, ou mesmo dez milésimos de segundo, dependendo de quão precisamente queremos seguir
a mudança na velocidade.
Velocidade instantânea
Ainda há um problema que ainda não enfrentamos. Até aqui temos dividido o tempo em pequenos
intervalos e encontrando a velocidade média em cada intervalo o que nos dá uma boa ideia do
progresso da flecha, mas ainda há uma questão razoável a ser feita: qual é a velocidade da flecha no
instante um segundo após o voo ter começado?
Como respondemos a essa pergunta? Pense nisso antes de continuar a ler.
O ponto essencial sobre a velocidade é que é uma taxa de mudança de posição - isso é óbvio quando
você pensa em medir a velocidade que é dada em unidades tais como milhas por hora, ou metros por
segundo, etc. Isso implica que, para fazer qualquer afirmação sobre a velocidade, temos que dizer a
que distância a flecha se moveu entre dois instantes de tempo especificados. Portanto, para encontrar
a velocidade no momento um segundo após a decolagem, precisaríamos encontrar onde a flecha
está, digamos, 0,995 segundos após a decolagem e, a seguir, 1,005 segundos após a decolagem.
Escolhi aqui dois instantes com um centésimo de segundo de diferença. Se a flecha se mover 45 cm
durante esse intervalo de tempo período, ela vai a 45 metros por segundo.
Você pode objetar, porém, que isso ainda não é muito preciso. Provavelmente, 45 metros por
segundo é muito próximo da velocidade da flecha um segundo após a decolagem, mas é realmente
uma média em um intervalo de tempo de um centésimo de segundo, então pode não ser exatamente
a velocidade no meio do intervalo de tempo. E isso é verdade. O que devemos fazer, pelo menos em
princípio, é tomar um intervalo de tempo ainda menor, digamos um décimo de milésimo de
segundo, novamente centrado no instante de tempo um segundo, como antes (0,99995s até
1,00005s). Agora medimos o quão longe a flecha se move no décimo de milésimo de segundo e
multiplicamos essa distância por dez mil vezes para obter a velocidade média da flecha nesse curto
período de tempo.
Claro, você pode dizer que ainda não está satisfeito. Você querer saber a velocidade precisa na
marca de um segundo, não com alguma aproximação baseada na média ao longo de um intervalo de
tempo. Mas, como acabamos de dizer, todas as medições de velocidade necessariamente envolvem
algum intervalo de tempo, que, no entanto, pode ser tão curto quanto se queira. É assim que
devemos definir o que sugerimos por velocidade em um instante de tempo - pegamos uma sequência
de intervalos de tempo cada vez mais curtos, cada um deles centrado no momento em questão, e
encontramos a velocidade média em cada um. Esta série de medições de velocidade se aproximará
da velocidade exata no instante um segundo.
Isso deve lembrá-lo da discussão sobre a raiz quadrada de dois. Lá nós tínhamos uma sequência de
números racionais tais que, se você obtivesse algum número pequeno, como um milionésimo de um
trilionésimo, poderíamos sempre encontrar um racional dentro dessa distância da raiz dois. Aqui,
estamos dizendo que se você quiser que a velocidade tenha alguma precisão pré-atribuída, podemos
encontrá-la tomando um intervalo de tempo suficientemente pequeno em torno do tempo em questão
e calculando a velocidade média nesse intervalo.
Na verdade, isso pode não ser tão difícil quanto parece. Por exemplo, imagine uma flecha se
movendo para longe no espaço a uma velocidade constante, sem resistência do ar ou gravidade para
enfrentar. Então, ele irá a uma velocidade constante e a velocidade média em todos os intervalos de
tempo será a mesma. Isso significa que podemos encontrar (em princípio) a velocidade exata em
qualquer momento, sem ter que nos preocupar com intervalos de tempo indefinidamente pequenos.
Outro caso bastante simples é uma flecha ganhando velocidade em um ritmo constante. Sua
velocidade no meio de um intervalo de tempo acaba sendo exatamente igual à sua velocidade média
no intervalo. Discutiremos mais este caso quando chegarmos a Galileu.
O início do cálculo
Devemos enfatizar que a discussão acima sobre intervalos e instantes de tempo e assim por diante
não foi a resposta dos atenienses a Zenão. Somente com o trabalho posterior de Eudoxus, Euclides e
Arquimedes é que a maneira de lidar com essas pequenas quantidades tornou-se gradualmente
aparente. A contribuição de Zenão foi que ele iniciou a discussão que finalmente levou ao cálculo.
Na verdade, de acordo com Bertrand Russell (História da Filosofia Ocidental), Zenão ensinou a
Sócrates o método socrático - o método de buscar conhecimento por meio de perguntas e respostas
sistemáticas. Infelizmente, a abordagem de Zenão não lhe rendeu amigos poderosos e "ele
finalmente perdeu a cabeça por traição ou algo do tipo" (Bell, Men of Mathematics).
Quadrando o círculo
Esta frase refere-se ao famoso problema de encontrar uma área com limites de linha reta iguais em
área a um círculo de determinado diâmetro. Arquimedes provou que a área de um círculo é igual à
de um triângulo retângulo com os dois lados mais curtos iguais ao raio do círculo e sua
circunferência, respectivamente, ou seja, Acirc = (1/2)(R)(2R).
A ideia de sua prova é a seguinte. Considere primeiro um quadrado inscrito no círculo. O quadrado é
feito de quatro triângulos, cada um com altura h, digamos, e comprimento de base b. (Na verdade, b
= 2h, mas vamos mantê-los separados.) (Verifique que b = 2 h.)
A área total do quadrado é igual à área total dos 4 triângulos, que é 4 vezes (1/2)(h.b) ou
(1/2)(h)(4b). Observe que esta é a área de um triângulo longo e fino, com altura igual à distância h
do meio do lado do quadrado ao centro do círculo, e base igual ao comprimento do perímetro 4b do
quadrado.
A área do quadrado não é uma boa aproximação com a do círculo, mas podemos melhorá-la
substituindo o quadrado por um octógono regular, com todos os seus pontos vértices no círculo.
Agora, este octógono pode ser dividido em oito triângulos, seguindo o mesmo procedimento do
quadrado. A altura de cada um desses triângulos é igual à distância do centro do círculo até o meio
de um lado do octógono. Assim como no caso do quadrado, a área total desses oito triângulos é igual
à de um triângulo longo e fino da mesma altura e com comprimento de base igual ao perímetro do
octógono.
É evidente que a altura dos triângulos do octógono está mais próxima do raio do círculo do que a
altura dos triângulos do quadrado e também que o perímetro do octógono está mais próximo da
circunferência do círculo do que o perímetro do quadrado estava.
Este paralelo é uma linha que percorre todo o globo a uma distância constante ao Equador (paralela
ao Equador). Agora considere a parte da superfície do globo entre este paralelo 0º e o paralelo 1º.
Esta é uma faixa de superfície em torno de todo o globo e é muito semelhante a uma fatia de um
cone, isto se escolhermos um cone do tamanho e ângulo corretos. A estratégia de Arquimedes foi
dividir toda a superfície da esfera em fitas como esta e encontrar a área de cada fita tomando-a como
parte de um cone. Ele então somava todas estas áreas das fitas. Por último, ele pegou fitas cada vez
mais finas para obter um resultado mais preciso, usando o método da exaustão para provar que a área
da esfera era (4)(pi)(R2). Isso é precisamente equivalente a uma solução moderna de cálculo integral
do mesmo problema, e tão rigorosa quanto (porém muito mais difícil de obter.)