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17/03/2010 http://astro.if.ufrgs.

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Astrometria
Astrometria é o ramo da astronomia relacionado à medida precisa da posição e movimento dos corpos
celestes.

A astrometria inicia com a composição do primeiro catálogo de estrelas. Hiparco de Nicéia


(c.190-c.120 a.C.), considerado o maior astrônomo da era pré-cristã, construiu um observatório
na ilha de Rodes, onde fez observações durante o período de 147 a 127 a.C. Como resultado, ele
compilou um catálogo com a posição no céu e a magnitude de 850 estrelas. A magnitude, que
especificava o brilho da estrela, era dividida em seis categorias, de 1 a 6, sendo 1 a mais brilhante, e 6 a mais
fraca visível a olho nu. Hiparco deduziu corretamente a direção dos pólos celestes, e até mesmo a precessão,
que é a variação da direção do eixo de rotação da Terra devido à influência gravitacional da Lua e do Sol,
que leva cerca de 26 000 anos para completar um ciclo. Para deduzir a precessão, ele comparou as
posições de várias estrelas com aquelas catalogadas por Timocharis de Alexandria (c.320-c.260 a.C.) e
Aristyllus de Alexandria 150 anos antes (cerca de 283 a.C. 260 a.C.).

A astrometria teve grande desenvolvimento nos países árabes. Em 850, Alfraganus (Ahmad ibn Muhammad
ibn Kathir al-Farghani) escreveu Kitab fi Jawani (Um compendium da ciência das estrelas), com valores
revisados da obliqüidade da eclíptica, do movimento de precessão dos apogeus do Sol e da Lua, e da
circunferência da Terra. Albatenius (Abu Abdallah Muhammad ibn Jabir ibn Sinan ar-Raqqi al-Harrani as-
Sabi al-Batani) (853-929), na Síria, calculou os tempos de lua nova e a duração do ano solar (365 d 5 h 46
m 24s) e sideral, e a precessão dos equinócios (54,5" por ano). Seu trabalho mais importante são as tabelas
al-Zij al-Sabi, traduzidas para o latim por Plato Tiburtinus como De Motu Stellarum.

No século X, Azophi (Abd al-Rahman al-Sufi) (903-986), da Pérsia, realizou observações das estrelas,
determinando suas posições, magnitudes, cores e fez desenhos de cada constelação, em seu Livro de
Estrelas Fixas. Ibn Yunus (Abu al-Hasan 'Ali abi Sa'id 'Abd al-Rahman ibn Ahmad ibn Yunus al-Sadafi al-
Misri) (c. 950-1009) observou mais de 10 000 vezes a posição do Sol durante muitos anos, usando um
astrolábio de 1,4 de diâmetro, em Cairo, Egito. Suas observações dos eclipses foram utilizadas séculos mais
tarde pelo astrônomo canadense-americano Simon Newcomb (1835-1909), diretor do The Nautical
Almanac Office do United States Naval Observatory, para investigar o movimento da Lua. Outras
observações de Ibn Yunus foram utilizadas pelo matemático e astrônomo francês Pierre-Simon, marquês de
Laplace, (1749-1827), no Obliqüidade da Eclíptica e Inequalidades de Júpiter e Saturno. O iraniano Abu-
Mahmud al-Khujandi (c.940-1000), de suas observações do Sol com um sextante, calculou a obliqüidade
da eclípica em 23°32'19" (23,53°), comparado com a estimativa atual da obliqüidade no século X de 23º35'.

No século XV, o príncipe e astrônomo persa Ulugh Beg (Mirza Mohammad Taregh bin Shahrokh) (c.1393-
1449) construiu um sextante com 36 m de raio com o qual compilou o Zij-i-Sultani, onde catalogou 1019
estrelas. No século XVI, o otomano Taqi al-Din (Taqi al-Din Muhammad ibn Ma'ruf al-Shami al-Asadi)
(1526-1585) construiu o observatório de Istambul e inventou um relógio mecânico, com molas, com o qual
mediu com precisão a ascensão reta das estrelas, revisando o Zij-i-Sultani de Ulugh Beg.

A primeira estimativa correta do valor da


Unidade Astronômica ocorreu entre 5 de
setembro e 1o de outubro de 1672,
quando o planeta Marte, com magnitude=-
2,3, estava muito próximo da estrela
brilhante ψ2 Aquarii de magnitude=4, e
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próximo da oposição de Marte, portanto
próximo do perigeu.

Com as observações simultâneas de Jean


Richer (1630-1696) em Cayenne, na
Guiana Francesa, Jean Picard (1620-
1682) e Olaus Rømer (1644-1710) em
Paris, Giovanni Domenico Cassini (1625-
1712) estimou a paralaxe de Marte como
15" entre Cayenne e Paris (7200 km de
distância, 25" total, 2RTerra) e,
considerando que Marte está a 1,52 UA
do Sol, estimou o valor da UA como 140
milhões de km. O valor correto é de 149,597870691 milhões de km. Para comparação, o olho humano só
consegue detectar ângulos maiores que cerca de 4'=4×60".
A primeira tentativa de medir a paralaxe das estrelas pelo astrônomo inglês James Bradley (1693-1762)
ocorreu em 1729, e embora o movimento das estrelas fosse insignificante para seu telescópio, ele descobriu
a aberração da luz (1729, Philosophical Transactions of the Royal Society, XXXV, 637), e a nutação do
eixo da Terra (1748, Philosophical Transactions of the Royal Society, XLV, I), após observar seu período
completo, de 18,6 anos. Seu catálogo de 3222 estrelas foi refinado em 1807 por Friedrich Wilhelm Bessel
(1784-1846), o pai da astrometria moderna, medindo a primeira paralaxe estelar: 0,3" para a estrela binária
61 Cygni. Bessel recebeu o prêmio Lalande do Instituto da França por sua tabela de refração, baseada nas
observações de Bradley. Bessel foi o primeiro astrônomo a considerar que antes de poder usar uma medida
ele precisa determinar todos os tipos de incertezas que pudessem afetar a medida. Ele também calculou os
movimentos próprios das estrelas observadas por Bradley.

Como a paralaxe das estrelas é pequena, somente 60 estrelas tiveram sua paralaxe medida até o fim do
século XIX. Somente com a automação das medidas de placas fotográficas, na década de 1960, foi possível
compilar com eficiência grandes catálogos.

Observatório Abrahão de Moraes, em Valinhos, SP, do Instituto Astronômico e Geofísico da USP, com
círculo meridiano e astrolábio impessoal Danjon.
As medidas das posições precisas das estrelas são feitas com instrumentos dedicados, como o círculo
meridiano, que se move somente sobre o meridiano local (linha passando pelos polos e pelo zênite) e registra
quando um astro cruza este meridiano, o tubo zenital, que mede somente as estrelas que passam muito
próximas do zênite do local, e os astrolábios, que observam o meridiano próximo de uma altitude de 60°,
como o astrolábio impessoal de Danjon, em honra do astrônomo francês André-Louis Danjon (1890-1967),
um telescópio horizontal onde um prisma é montado com uma face em frente a objetiva do telescópio.
Abaixo do prisma existe um espelho formado por um prato com mercúrio líquido. A imagem da estrela, e sua
reflexão do espelho de mercúrio, são refletidas internamente no prisma e coincidem no plano focal do
telescópio quando a sua distância zenital é exatamente o meio ângulo do prisma (30° para um prisma de
60°).

Nos anos 1980 os CCDs (Charged Coupled Devices) substituíram as placas fotográficas e reduziram as
incertezas óticas para a faixa de alguns milisegundo de arco. É importante notar que 1 mili-segundo de arco
(msa) é equivalente ao tamanho angular de uma pessoa na superfície da Lua vista da Terra. Para atingir esta
precisão, foi necessário corrigir pelo efeito de desvio da luz pelo Sol previsto pela relatividade geral, e que é
de 1,7 segundos de arco na borda do Sol, e 4 mili-segundos de arco a 90° do Sol. De 1989 a 1993, o
satélite da Agência Espacial Européia (ESA) Hipparcos (High-Precision Parallax Collecting Satellite) obteve
astrometria em órbita, escapando das distorções da atmosfera da Terra, medindo a posição, paralaxe e
movimento próprio de 118 218 estrelas, com precisão de miliseguindos de arco. O catálogo Tycho incluiu
dados de 1 058 332 estrelas, com precisão de 20 a 30 msa. O catálogo Tycho 2, de 2000, soma 2 539 913
estrelas, e inclui 99% de todas as estrelas mais brilhantes que magnitude 11. Atualmente o catálogo do US
Naval Observatory, USNO-B1.0, de todo o céu, mantém a posição, magnitude e movimento próprio de

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mais de um bilhão de estrelas. Durante os últimos 50 anos, 7435 placas Schmidt foram utilizadas pra
completá-lo, com precisão de 0,2 msa.

A posição de uma fonte astronômica no céu é uma de suas características mais importantes, pela necessidade
prática de distinguir de maneira inequívoca a fonte e poder observá-la. A posição de uma fonte é definida
através de coordenadas celestes. Estas coordenadas não levam em conta a distância da estrela, somente sua
posição aparente na esfera celeste. O sistema equatorial, por ser baseado em um plano de referência comum
e reconhecido para todos os observadores na superfície da Terra, o equador celeste, é o mais utilizado para
definir a posição de uma fonte. As coordenadas são ascensão reta (α), medida no equador a partir do ponto
vernal, isto é, do ponto que representa a intersecção do equador celeste com a eclíptica, e declinação (δ),
medida perpendicalar ao equador, no meridiano do objeto. Outros sistemas, também compartilhados por
todos, são o sistema de coordenadas Eclípticas (λ,ε) e as coordenadas Galáticas (l,b). As coordenadas
eclípticas (λ,ε) tomam como referencia o plano da eclíptica, ou seja, o plano orbital terrestre em torno do
Sol. A latitude eclíptica (λ) é o ângulo da direção considerada em relação ao plano da eclíptica, enquanto
que a longitude eclíptica (ε) é o ângulo medido ao longo da eclíptica, com origem no ponto vernal.

O sistema Galático toma como plano de referência o plano do disco da Via-Láctea, nossa Galáxia, que
corresponde à latitude Galática b=0°. A direção ao longo desse plano que corresponde à longitude Galática
l=0° é a do centro da Galáxia.

Mas como obter as coordenadas de um objeto astronômico a partir de sua posição numa imagem? A
astrometria consiste na conversão de uma posição em coordenadas planas projetadas (x,y) de uma
imagem para um sistema de coordenadas celestes. Normalmente a astrometria é feita simultaneamente
para todos os pontos da imagem, através de equações de transformação do tipo:

α= α0+a(x-x0)+b(y-y0)+c
e
δ= δ0 + d(x- 0)+e(y-y0)+f
onde (α,δ) são as coordenadas equatoriais de um ponto (x,y) numa imagem e (α0,δ0) são as coordenadas
nominais correspondentes ao ponto de referência da imagem (x0,y0).

Se o apontamento do telescópio fosse perfeito, as coordenadas do ponto de referência da imagem


corresponderiam exatamente às coordenadas (α0,δ0). Nesse caso teríamos, c=f=0. Em geral, o apontamento
inicial é feito colocando o telescópio no zênite e informando ao sistema de controle do telescópio as
coordenadas geográficas (latitude λ e longitude φ) do local e a data e hora local da observação. Com essas
informações, é possível determinar as coordenadas equatoriais que correspondem ao zênite naquele instante
(αz=tempo sideral local; δz=latitude do local), e o telescópio pode ser apontado para qualquer outra
coordenada equatorial. Como o apontamento tem falhas, faz-se necessário incluir os termos c e f de
correção na astrometria.

Os demais coeficientes (a, b, d e e) também são teoricamente conhecidos, pela escala de placa do
telescópio, mas sempre há necessidade de correções. Por exemplo, seja um telescópio cuja câmara CCD
está orientada no plano focal de tal forma que a direção de y crescente corresponde ao norte e a
direção de x crescente ao leste. Nesse caso teríamos

onde ds/dp é a escala da imagem, que em geral é expressa em "/pix. O termo cos(δ) na expressão do
coeficiente a se deve ao fato de que a ascensão reta (α) varia ao longo de um paralelo celeste, que só
corresponde a um arco de grande círculo no caso do equador celeste (δ=0°). Nos outros casos, a
transformação do arco sobre a imagem em um arco em α exige o termo de correção: quanto maior a
declinação, menor o arco de círculo sobre o qual α varia e, portanto, mais rápida a variação desta
coordenada para uma mesma variação em x.

Assim como no caso da centragem (apontamento) do telescópio, certa flexibilidade é necessária para
acomodar variações na orientação do CCD com relação aos pontos cardeais, até porque efeitos de
deformação gravitacional sobre os componentes ópticos do detector podem induzir variações nos
coeficientes de conversão astrométrica em função da direção de apontamento.

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Por vezes, a conversão de coordenadas retangulares (x,y) em coordenadas equatoriais (α,δ) é afetada por
deformações da imagem no plano focal. Sabemos que nem sempre a superfície onde se forma a imagem de
um telescópio, e onde colocamos o detector, é plana, havendo por vezes efeitos de curvatura. Essas
curvaturas em geral afetam mais as posições de objetos longe do centro da imagem.

Assim, termos quadráticos em x e y podem ser necessários e precisam ser determinados empiricamente.

Necessariamente a aplicação das transformações dadas acima, ou de outras que incluam termos quadráticos
e cruzados, exige que os coeficientes sejam bem determinados, caso a caso. Isso, em geral, é feita pelo uso
de estrelas de referência astrométrica nos campos imageados. Essas estrelas têm suas coordenadas
equatoriais bem conhecidas. As medidas da suas posições (xi,yi) na imagem, portanto, permitem que sejam
determinados empiricamente os coeficientes. Em geral usa-se um conjunto de estrelas de referência e
determinam-se os coeficientes por ajuste por mínimos quadrados.

Uma vez obtidas as coordenadas equatoriais dos pontos da imagem, a conversão para o sistema de
coordenadas eclípticas ou Galáticas se dá por meio de transformações matemáticas conhecidas, já que essas
conversões equivalem a uma mudança de plano e eixos de referência., que são equivalentes a aplicar
rotações de um sistema para chegar ao outro.

Para finalizar, há ainda que se distinguir astrometria relativa (a um dado sistema) de astrometria absoluta. O
processo descrito acima é o de obtenção de valores de coordenadas com relação a um conjunto de estrelas
cujas posições são conhecidas em um dado sistema, em geral o sistema equatorial de coordenadas. O
problema com esse sistema é que nem o plano do equador, nem a direção do ponto vernal, que lhes servem
de referência, constituem um referencial inercial, já que o equador e o eixo de rotação da Terra variam de
orientação no espaço, pois a Terra sofre perturbações gravitacionais dos outros objetos do Sistema Solar,
em especial do Sol e da Lua. Essas perturbações dão origem aos efeitos de precessão e nutação do eixo.
Esses efeitos podem ser descritos por modelos de dinâmica gravitacional, mas ainda há termos de
deslocamento dos pólos celestes que não são bem descritos pelos modelos, já que envolvem os campos
gravitacionais de vários corpos não esféricos. Assim, o sistema equatorial sofre constante degradação,
precisando ser continuamente redefinido. É importante notar que não faz sentido falar de coordenadas
equatoriais sem especificar a que equinócio (ou seja, onde estava o ponto vernal) elas se referem.

Além disso, a própria órbita da Terra em torno do Sol é perturbada em função das interações gravitacionais
interplanetárias. Tanto o plano da órbita quanto sua excentricidade sofrem perturbações. E novamente, essas
são apenas em parte modeladas com precisão.

Assim, o ponto vernal, que é uma das direções de coincidência entre o plano equatorial e o plano orbital,
também varia, mesmo que o plano equatorial fosse fixo. Essa variação do plano orbital então também exige
que o sistema de coordenadas eclípticas seja descartado como um sistema inercial, posto que está sempre
sofrendo variações.

E para finalizar, as estrelas sofrem de movimentos próprios, causados pela aceleração induzida pelo potencial
gravitacional dentro da Galáxia. Assim sendo, qualquer sistema de coordenadas baseado no uso de um
conjunto de estrelas de referência, também é não inercial e sofre de degradação com o passar do tempo.

A definição de um sistema inercial de coordenadas, para o qual possamos atribuir um caráter de sistema em
repouso com relação à complicada dinâmica dos objetos locais do Sistema Solar e da Galáxia, é a de um
sistema baseado em fontes distantes, quasares e rádio-fontes. Estes estão entre os objetos mais distantes que
conhecemos no Universo. Suas posições relativas são totalmente desvinculadas da dinâmica interna do
Sistema Solar e da Galáxia. Assim um sistema de coordenadas baseado nesses objetos como referência
pode ser tido como absoluto, ou seja, não sofrera uma degradação ao longo do tempo. Atualmente a União
Astronômica Internacional recomenda o International Celestial Reference Frame II (ICRFII, ver
http://rorf.usno.navy.mil/ICRF2/), baseado em 323 radio fontes distantes como sistema de coordenadas de
referência mais confiável, atingindo uma precisão de 0,02 milissegundos de arco.

Refração

Um dos fatores que precisamos levar em contas nas


observações é a refração atmosférica. Seja z a distância
zenital de um objeto celeste. Partindo de sen(z)=n sen(z'),
onde n é o índice de refração da atmosfera, z' é a distância
zenital aparente, a refração média, R=z-z', é dada por
R=A tan z' + B tan3 z'
onde A=58,16" e B=-0,067" são valores médios para
10 C e 760 mm de pressão, por exemplo.

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O Astronomical Almanac propõe A=16.27" P/T, para
pressão em millibars e T em K.

A correção na ascensão reta e declinação, para um astro


com ângulo horário H em um local de latitude φ é dada
por

onde aproximamos A=k e B=0.

O ângulo paralático, η de um objeto é o ângulo entre o


polo e o zênite, medido no objeto. Não confunda com a
paralaxe. Como o ângulo de posição é medido a partir do
polo, um ângulo de posição igual ao ângulo paralático é
perpendicular ao horizonte. O ângulo paralático pode ser
calculado de:

sen(η) = sen(A)×cos(φ)/cos(δ)
cos(η) = [sen(φ) - sin(δ)×cos(z)]/[cos(δ)×sen(z)]
cos(η) = [sen(φ)×sen(z) - cos(φ)×cos(z)×cos(A)]/cos(δ)
onde φ é a latitude do observador, δ a declinação do
objeto, z a distância zenital (altitude = 90°-z), e A o
azimute do objeto.
δ-δ'= k tan z' cos η
α-α'= k tan z' sec δ' sen η

Aberração

A aberração da luz descoberta por James Bradley em 1728 ocorre por que a posição de uma estrela no céu
é deslocada por uma quantidade devido ao movimento da Terra. O deslocamento depende da razão entre a
velocidade orbital da Terra e a velocidade da luz, e a posição da estrela, já que enquanto a luz atravessa a
distância focal do telescópio, a Terra moveu-se um pequeno ângulo. É o mesmo efeito que faz a chuva
parecer cair em um ângulo quando estamos caminhando. A constante de aberração é dada por
vorbital/c×cosec 1"=20,5", e corresponde ao deslocamento ângular máximo devido ao movimento da Terra.

Referências: William Marshall Smart, Textbook on Spherical Astronomy, 6th edition, 1977, Cambridge
University Press, p. 67-73; Basilio Santiago, texto Astrometria.

Sistema de Coordenadas Globais - World Coordinate System (WCS)

O World Coordinate System (WCS) define a relação entre as coordenadas em píxeis com as
coordenadas celestes. Nos cabeçários das imagens astronômicas, normalmente escritas nos sistema de
transporte de imagens flexível - FITS (Flexible Image Transport System), as indicações das coordenadas
para cada pixel da imagem são escritas em palavras chaves (keywords) do WCS. As coordenadas são
globais (world) porque permitem identificar cada pixel em um sistema multi-dimensional de parâmetros,
sejam as coordenadas celestes em um dado sistema e projeção, sejam as informações sobre um
determinado espectro. Por convenção, no FITS todos os ângulos devem ser expressos em graus. Note
que tipos de projeções planas diferentes divergem em coordenadas diferentes. Por exemplo, a projeção tipo

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Mercartor diverge nos polos, enquanto as projeções gnômicas divergem no equador. A projeção TAN, de
tangencial, é a projeção da esfera celeste no plano do detector.

As palavras chaves principais, com valores de exemplo, são:

CTYPE1 = 'RA---TAN' / Tipos de Coordenadas do eixo 1


CTYPE2 = 'DEC--TAN' / Tipos de Coordenadas do eixo 2
CRVAL1 = 1.497921667 / Valor da coordenada 1 no ponto de referência
CRVAL2 = -10.310828889 / Valor da coordenada 2 no ponto de referência
CRPIX1 = 537.75 / Pixel de referência da coordenada 1
CRPIX2 = 0.5 / Pixel de referência da coordenada 2
CD1_1 = -8.56E-05 / Matriz de transformação das coordenadas
CD2_2 = -8.56E-05 / Matriz de transformação das coordenadas
CDELT1 = -8.56E-05 / Valor da derivada da coordenada 1
CDELT2 = -8.56E-05 / Valor da derivada da coordenada 2

Por exemplo, uma imagem atual do SOAR tem no header:

RAPANGL = -90. / Position angle of RA axis (deg)


DECPANGL= 0. / Position angle of DEC axis (deg)
NAXIS = 2 / Number of axes
NAXIS1 = 256 / Axis length
NAXIS2 = 1024 / Axis length
RA = 265.257417 / 17:41:01.7 RA (J2000) pointing (deg)
DEC = -53.74644 / -53:44:47.1 DEC (J2000) pointing (deg)
RADECSYS= 'FK5 ' / Deafult coordinate system
RADECEQ = 'unavail ' / Default equinox
CTYPE1 = 'RA---TNX' / Coordinate type
CTYPE2 = 'DEC--TNX' /Coordinate type'
CRVAL1 = 1.497921667 / Coordinate reference value
CRVAL2 = -10.310828889 / Coordinate reference value
CRPIX1 = 537.75 / Coordinate reference pixel
CRPIX2 = 0.5 / Coordinate reference pixel
CD1_1 = -8.56E-05 / Coordinate matrix
CD2_2 = -8.56E-05 / Coordinate matrix
CDELT1 = -8.56E-05
CDELT2 = -8.56E-05
WAT0_001= 'system=image' / Coordinate system
WAT1_001= 'wtype=tnx axtype=ra unavail=system'
WAT2_001= 'wtype=tnx axtype=dec unavail=system'

Uma imagem do VLT:

NAXIS = 2 /
# of axes in frame
NAXIS1 = 2048 /
# pixels/axis
NAXIS2 = 1034 /
# pixels/axis
CRVAL1 = 265.25740 /
value of ref pixel
CRPIX1 = 1023.0 /
Ref pixel in x-axis
CTYPE1 = 'RA---TAN' /
Coordinate system of x-axis
CRVAL2 = -53.74644 /
value of ref pixel
CRPIX2 = 119.7 /
Ref pixel in y-axis
CTYPE2 = 'DEC--TAN' /
Coordinate system of y-axis
RA = 265.257417 /
17:41:01.7 RA (J2000) pointing (deg)
DEC = -53.74644 /
-53:44:47.1 DEC (J2000) pointing (deg)
EQUINOX = 2000. /
Standard FK5 (years)
RADECSYS= 'FK5 ' /
Coordinate reference frame
CD1_1 = -7.000333000E-05 /
Translation matrix element.
CD1_2 = -0.000000000E+00 /
Translation matrix element.
CD2_1 = -0.000000000E+00 /
Translation matrix element.
CD2_2 = 7.000333000E-05 /
Translation matrix element.
HIERARCH ESO DET CHIP1 X = 1 / X location in array
HIERARCH ESO DET CHIP1 Y = 2 / Y location in array
HIERARCH ESO DET CHIP1 NX = 4096 / # of pixels along X
HIERARCH ESO DET CHIP1 NY = 2048 / # of pixels along Y
HIERARCH ESO DET CHIP1 PSZX = 15.0 / Size of pixel in X
HIERARCH ESO DET CHIP1 PSZY = 15.0 / Size of pixel in Y
HIERARCH ESO DET CHIP1 XGAP = 30.000000 / Gap between chips along x
HIERARCH ESO DET CHIP1 YGAP = 480.000000 / Gap between chips along y

e do HST:

NAXIS = 2 / Number of axes


NAXIS1 = 4096 / Axis length
NAXIS2 = 2048 / Axis length
/ World Coordinate System and Related Parameters
WCSAXES = 2 / number of World Coordinate System axes
CRPIX1 = 2048.0 / x-coordinate of reference pixel
CRPIX2 = 1024.0 / y-coordinate of reference pixel
CRVAL1 = 265.2912834051976 / first axis value at reference pixel
CRVAL2 = -53.73758959227231 / second axis value at reference pixel

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CTYPE1 = 'RA---TAN' / the coordinate type for the first axis
CTYPE2 = 'DEC--TAN' / the coordinate type for the second axis
CD1_1 = -4.918872670979227E-07 / partial of first axis coordinate w.r.t. x
CD1_2 = -1.396917954171559E-05 / partial of first axis coordinate w.r.t. y
CD2_1 = -1.384084948439698E-05 / partial of second axis coordinate w.r.t. x
CD2_2 = -4.648150629445651E-07 / partial of second axis coordinate w.r.t. y
LTV1 = 0.0000000E+00 / offset in X to subsection start
LTV2 = 0.0000000E+00 / offset in Y to subsection start
LTM1_1 = 1.0 / reciprocal of sampling rate in X
LTM2_2 = 1.0 / reciprocal of sampling rate in Y
ORIENTAT= -91.89333046290683 / position angle of image y axis (deg. e of n)
RA_APER = 2.652613785123E+02 / RA of aperture reference position
DEC_APER= -5.373888553233E+01 / Declination of aperture reference position
PA_APER = -92.0979 / Position Angle of reference aperture center (deg)
VAFACTOR= 1.000099395635E+00 / velocity aberration plate scale factor
TELESCOP= 'HST' / telescope used to acquire data
INSTRUME= 'ACS ' / identifier for instrument used to acquire data
EQUINOX = 2000.0 / equinox of celestial coord. system
RA_TARG = 2.652612333333E+02 / right ascension of the target (deg) (J2000)
DEC_TARG= -5.373910833333E+01 / declination of the target (deg) (J2000)
ECL_LONG= 266.753944 / ecliptic longitude of the target (deg) (J2000)
ECL_LAT = -30.353201 / ecliptic latitude of the target (deg) (J2000)
GAL_LONG= 338.133470 / galactic longitude of the target (deg) (J2000)
GAL_LAT = -12.035856 / galactic latitude of the target (deg) (J2000)
/ OTHER COORDINATE SYSTEM INFORMATION
APER_REF= 'JWFC ' / aperture used for reference position
ELON_REF= 266.754033 / ecliptic longitude at reference position (deg)
ELAT_REF= -30.352975 / ecliptic latitude at reference position (deg)
GLON_REF= 338.133712 / galactic longitude at reference position (deg)
GLAT_REF= -12.035819 / galactic latitude at reference position (deg)

O sistema de coordenadas FK5 ( Fifth Fundamental catalogue) é anterior ao ICRS (International Celestial
Reference System, de 1998), e foi adotado pela IAU em 1984. O FK5 foi baseado na posição de 1535
estrelas fundamentais do FK4 e FK3 (Kopff A., 1937, Dritter Fundamentalkatalog des Berliner
Astronomischen Jahrbuchs. I. Die Auwers-Sterne für die Epochen 1925 und 1950, Veröff. Astron. Rechen-
Institut Berlin-Dahlem, 54, 117; Kopff A., 1938, Dritter Fundamentalkatalog des Berliner Astronomischen
Jahrbuchs. II Die Zusatzsterne für die Epoche 1950, Abh. Preuß. Akad. Wiss. Phys.-math. Kl., 3), com
3117 novas estrelas fundamentais, com magnitudes entre 5,5 e 9,7. O ICRS2 só foi adotado em 2009. Por
definição, o FK5 usa o equinócio de 2000, juliano, enquanto que o FK4 usa o de 1950, besseliano. A
projeção TAN é um sistema de perspectiva gnomônica zenital [Tales de Miletus (c.624-547 a.C.], de plano
tangente sem distorções. As projeções zenitais mapeiam toda a esfera em um plano.

A projeção TNX não é padrão. Ela segue a convenção para uma projeção no plano tangente, mas adiciona
um terno de distorção não linear.

1. Calcule as coordenadas de primeira ordem xi e eta usando a parte linear indicada em CRPIX e pela
matriz CD:

xi = CD1_1 * (x - CRPIX1) + CD1_2 * (y - CRPIX2)


eta = CD2_1 * (x - CRPIX1) + CD2_2 * (y - CRPIX2)

2. Adicione a parte não linear da projeção usando os coeficientes dados pelas palavras chaves WAT:

astro.if.ufrgs.br/telesc/astrometria.htm 7/8
17/03/2010 http://astro.if.ufrgs.br/telesc/astromet…

xi' = xi + lngcor (xi, eta)


eta' = eta + latcor (xi, eta)

3. Use a transformação padrão da projeção plana tangencial para transformar xi' e eta' usando os valores
de CRVAL como o ponto tangencial para obter a ascensão reta e a declinação.

As funções nã0-lineares lngcor(xi,eta) e latcor(xi,eta) são funcões polinomiais cujos coeficientes são dados
nas palavras chaves WATj_nnn, onde j indica o eixo e nnn os coeficientes.

O dia juliano modificado, MJD (Modified Julian Date, corresponde a (JD - 2 400 000.5).

A página do observatório virtual do NOAO (National Optical Astronomy Observatories) tem uma
ferramenta para analisar e corrigir distorções nestas indicações de coordenadas.

Astrometry.net permite determinar as coordenadas equatoriais de qualquer imagem, calculando os triângulos


existentes na imagem e comparando-os com os calculados para todo o céu, desde escalas de vários graus
até de alguns minutos de arco. Não é necessário informar qualquer escala ou posição (astroph0910.2233L.)

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Astronomia e Astrofísica

© Kepler de Souza Oliveira Filho


Modificada em 18 out 2009

astro.if.ufrgs.br/telesc/astrometria.htm 8/8

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