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Introdução à Astronomia

Observacional

Módulo 1. Civilizações antigas


e sua visão do Cosmos

Prof. Rodrigo Felipe Raffa


Prof. Dr. James Alves de Souza
Introdução à Astronomia Observacional1,2

Módulo 1. Civilizações antigas e sua visão do Cosmos

O universo sempre encantou a humanidade. A curiosidade cativou a mente humana


para criar explicações do mundo ao seu redor. É sempre muito difícil descrever a visão do
Cosmos dos povos mais primitivos devido à falta de registros, traduções imprecisas e
diferenças culturais. O melhor método é através da interpretação dos achados antigos,
monumentos e escritos. Cada povo construiu sua própria visão de Universo, com explicações
características de sua cultura. A explicação do desconhecido acontecia pelo mito, de maneira
que forças além da compreensão humana regeriam todo o Cosmos.
Essa relação colaborou para o desenvolvimento da civilização e das relações de poder
que foram e são praticadas até hoje. Alguns registros astronômicos antigos datam de 3000
anos antes de Cristo (a.C.) e especulações sobre a natureza do universo fazem do estudo dos
astros a ciência mais antiga da humanidade.
Nos primórdios, a astronomia era utilizada como instrumento para medir o tempo
(calendário), se localizar no espaço (mapa) e para a prática da agricultura definindo o melhor
período para o plantio e a colheita.
Os registros astronômicos encontrados sugerem que os chineses já mensuravam o
tempo com precisão, adotando um calendário de 365 dias. Além disso, registros de
meteoros, meteoritos e cometas também foram encontrados.

1
Rodrigo Felipe Raffa é licenciado em Física pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). É membro
aspirante da Sociedade Astronômica Brasileira (SAB), fundador e atual presidente do Clube de Astronomia
Centauri de Itapetininga.
2
James Alves de Souza é professor da UFSCar, campus Sorocaba, desde 2014, com formação em Bacharelado e
Licenciatura em Física, Mestrado em Física na área de simulações computacionais por dinâmica molecular,
Doutorado em Ciência na área de óptica quântica, todos pela UFSCar de São Carlos, com doutorado sanduíche
realizado no Instituto Max Planck de Óptica Quântica, Garching, Alemanha, e é o líder do Grupo de Óptica
Quântica e Ensino de Física (GOQEF) da UFSCar de Sorocaba.
Os povos antigos como os Babilônicos, Assírios, Egípcios e os Maias na América
possuíam um vasto conhecimento astronômico prático. Isso é evidenciado através de
registros e monumentos encontrados.

1.1. Mapeamento do céu


Para utilizar o céu como ferramenta, foi necessário mensurar o movimento dos
corpos celestes. Dessa forma os antigos astrônomos ligaram pontos no céu para que
facilitasse o seu mapeamento.
Os pontos brilhantes ligados deram origem às constelações. Estas são provenientes
da criatividade humana e da nossa facilidade em reconhecer padrões na natureza. A relação
entre as estrelas de uma mesma constelação é aparente, não necessariamente elas
apresentam-se juntas no mesmo plano.
Constelações são um conjunto aparente de estrelas que os astrônomos da
antiguidade, com muita criatividade, imaginavam objetos, pessoas e coisas do cotidiano para
dividir o céu em pequenas partes. Cada civilização possuía um conjunto de constelações
diferentes, com suas especificidades culturais. No ano de 1930, Eugène J. Delporte propôs
um novo conceito de constelação, determinando que constelação é a divisão geométrica da
esfera celeste em 88 regiões ou partes. Essa definição foi adotada pela União Astronômica
Internacional e vigora até hoje.
As constelações que ficam no caminho aparente do Sol no Céu são conhecidas, na
cultura ocidental, como Constelações do Zodíaco. Este conjunto é formado por 13
constelações.
É importantíssimo destacar que os padrões observados na natureza foram
imprescindíveis para a compreensão dos fenômenos astronômicos. Se a natureza se
comportasse de forma totalmente aleatória seria muito difícil prever ou obter qualquer dado
experimental.
1.2. Esfera Celeste
Os gregos introduziram o conceito de esfera celeste acreditando que estávamos
envolvidos por uma esfera repleta de estrelas. Isso porque vendo da Terra, as estrelas
parecem estar no mesmo plano. Na figura 1 são apresentadas as coordenadas celestes
dadas pelos polos norte e sul celestes, dados pelo prolongamento do eixo de rotação da
Terra, os quais interceptam a esfera celeste nos hemisférios norte e sul, respectivamente.

Figura 1: Esfera Celeste apresentando as coordenadas celestes. No plano do horizonte um observador pode
localizar uma estrela no céu a partir das coordenadas celestes, como o zênite (Z), e das coordenadas geográficas
Norte (N), Sul (S), Leste (L) e Oeste (O).

Fonte: OLIVEIRA FILHO, K. S.; SARAIVA, M. F. O. A Esfera Celeste. Disponível em: http://astro.if.ufrgs.br/esf.htm.
Acesso em: 21 jul. 2021.

A extensão do círculo delimitado pela linha do equador da Terra até a esfera celeste
define o equador celeste. A posição em que se encontra o observador define um plano
tangente à Terra chamado de horizonte. Os pontos perpendiculares ao plano do horizonte e
que intercepta a esfera celeste acima e abaixo da cabeça do observador são o zênite e o
nadir, respectivamente.
Aliado a esse conceito estão as coordenadas geográficas, que auxiliaram a subdividir
a esfera celeste. Dessa forma, a astronomia pôde se desenvolver rapidamente na Grécia
Antiga, sendo muito útil para facilitar a compreensão do movimento dos astros.
Para medir a posição de uma pessoa, objeto ou evento qualquer sobre a superfície da
Terra necessitamos de sua latitude e longitude.

 longitude geográfica (λ): é o ângulo medido ao longo do equador da Terra,


tendo origem em um meridiano de referência (o meridiano de Greenwich), e
extremidade no meridiano do lugar. Na Conferência Internacional Meridiana,
realizada em Washington em outubro de 1884, a longitude geográfica foi
definida como um ângulo que varia de 0 a +180° (Leste de Greenwich) e de 0 a
-180° (Oeste), ou seja,
-180° ≤ λ ≤ +180°
 latitude geográfica (φ): ângulo medido ao longo do meridiano do lugar, com
origem no equador e extremidade no zênite do lugar. Este varia entre -90° e
+90°. O sinal negativo indica latitudes do hemisfério sul e o sinal positivo
latitudes do hemisfério norte.
-90° ≤ φ ≤ +90°

É comum também expressar a longitude sem o sinal negativo como sendo de 0 a 180°
para Leste e de 0 a 180° para Oeste, a partir de um ponto de origem. O mesmo é verificado
para a latitude, podendo ser expressa de 0 a 90° para o Norte e de 0 a 90° para o Sul, a partir
de uma origem.
Na figura 2 apresentamos os ângulos λ e ϕ medidos, respectivamente, a partir do
primeiro meridiano, dado pelo meridiano de Greenwich, linha vertical, e da linha do
equador, linha horizontal.
Para determinar a posição de um astro no céu utilizamos os dois sistemas de
coordenadas, o sistema geográfico e o sistema celeste horizontal. Adicionalmente são
utilizadas as coordenadas definidas no plano horizontal do observador dadas pelo azimute
(A), que é o ângulo medido sobre o horizonte, no sentido horário (NLSO), com origem no
Norte geográfico e extremidade no círculo vertical do astro. O azimute varia entre 0° e 360°.
A altura (h), que é o ângulo medido sobre o círculo vertical do astro, com origem no
horizonte e extremidade no astro. A altura varia entre -90° e +90°. Estas coordenadas estão
ilustradas na figura 3.
Figura 2: Longitude, dada pelo ângulo λ, medida a partir do meridiano de Greenwich, linha vertical, e latitude,
dada pelo ângulo φ, medida a partir da linha do equador (linha horizontal). A localização de qualquer ponto A
sobre a superfície terrestre é dada pelas coordenadas A(φ; λ).

Fonte: REIS, F. Escola Náutica. Disponível em: http://escolanautica.com.br/. Acesso em: 18 nov. 2018.

Figura 3: Altura, dada pelo ângulo h, medida a partir do horizonte até o ponto da estrela na esfera celeste, o
azimute (A) é um ângulo com origem no ponto cardeal Norte (N) até a linha da estrela no horizonte. O
complemento de h é a distância zenital (z). Note que h + z = 90°.

Fonte: OLIVEIRA FILHO, K. S.; SARAIVA, M. F. O. Sistema de Coordenadas. Disponível em:


http://astro.if.ufrgs.br/coord.htm. Acesso em: 21 jul. 2021.

O complemento da altura se chama distância zenital (z). Assim, a distância zenital é o


ângulo medido sobre o círculo vertical do astro, com origem no zênite e extremidade no
astro. A distância zenital varia entre 0 e 180°. O sistema horizontal é um sistema local, no
sentido de que é fixo na Terra. As coordenadas azimute e altura (ou azimute e distância
zenital) dependem do lugar e do instante da observação e não são características do astro.
Neste primeiro módulo apresentamos os fundamentos da Astronomia Observacional,
seu desenvolvimento na história e o conceito de esfera celeste, concebida com o propósito
de estabelecer sistemas de coordenadas para definir as posições de corpos celestes. No
próximo módulo introduziremos o mais importante sistema de coordenadas astronômicas,
conhecido como Sistema Equatorial de Coordenadas Celestes. Este pode ser utilizado de
maneira independente por qualquer observador na Terra.

Antes de avançar para o módulo


2, tente identificar os pontos
cardeais em sua residência.
Referências

BOCZKO, R. Conceitos de Astronomia. Edgard Blücher, 1984.

CARDOSO, W. ABC da astronomia. Apresentação e conteúdo: Walmir Cardoso, Direção:


Alexandre Fischgold, Roteiro: Cleston Teixeira e Walmir Cardoso, Produção executiva: David
Dominowski et al. São Paulo (SP): TV Cultura; Brasília (DF): TV Escola, 2011, 30 episódios.
Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=0JfksHOJX5U&list=PL786495B96AB0CC3C. Acesso em:
27 agosto 2019.

DE FREITAS MOURÃO, R. R. Livro de Ouro do Universo. Ediouro Publicações, 2000.

MORAIS, A. M. A. Gravitação e Cosmologia: Uma Introdução. Editora Livraria da Física, São


Paulo, 2009.

OLIVEIRA FILHO, K. S.; SARAIVA, M. F. O. Astronomia e Astrofísica. Editora Livraria da Física,


São Paulo, 2004.

SAGAN, C. Cosmos. Universidad de Barcelona, 2006.

O material Módulo 1: Civilizações antigas e sua visão do Cosmos, de autoria de Rodrigo Felipe Raffa e
James Alves de Souza, está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial 4.0
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