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CAPITULO II

O imposto. Conceito. Distinção de figuras afins.


Tipologias dos impostos. Principais impostos do
sistema fiscal português.

"Taxes are what we pay for civilized society”

Os impostos são o preço a pagar pela civilização

Oliver Wendell Holmes, Jr., Supremo Tribunal de Justiça dos EUA

Constituindo o imposto o objecto do Direito Fiscal, justificar-se-á, em


primeiro lugar, conceituar esta figura jurídica, definindo as suas
características mais relevantes, distinguindo-a de figuras que lhe são
afins e apresentando ainda as tipologias mais relevantes dos impostos. A
fechar esta abordagem referir-se-á, posto que sumariamente, quais os
principais impostos do sistema fiscal português.

1 – O imposto – elementos essenciais do conceito

Sem prejuízo de posteriores precisões, podemos definir o imposto como


uma prestação, pecuniária, assente essencialmente na capacidade
contributiva, exigida com base na lei, pelo Estado ou outros entes públicos
menores, a favor de entidades que exerçam funções públicas, sem
qualquer contrapartida directa para quem a paga, e exigida de forma
definitiva, com carácter contributivo para o financiamento de despesas
públicas.

Ou seja,

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Trata-se de uma prestação em dinheiro 1, como aliás decorre do teor do
artigo 40º da Lei Geral Tributária, aprovada pelo Decreto-Lei n.º 398/98,
de 17 de Dezembro:

As prestações tributárias são pagas em moeda corrente ou por cheque, débito em


conta, transferência conta a conta e vale postal ou por outros meios utilizados
pelos serviços dos correios ou pelas instituições de crédito que a lei
expressamente autorize.

Ou seja, são cinco as formas através das quais se pode pagar o imposto:
Débito direto, MB way, Multibanco, Homebanking. ...Outros locais:
serviços de Finanças, CTT e bancos2.

O débito directo permite efetuar pagamentos regulares, de forma


automática, através da conta bancária que o contribuinte possui,
devidamente registada, na Autoridade Tributária e Aduaneira (AT). A
adesão a este serviço não tem quaisquer custos e pode ser feita
diretamente no Portal das Finanças ou em qualquer Serviço Local de
Finanças. É efetuada por imposto e pode definir o montante máximo que
autoriza a ser debitado em conta, bem como uma data limite até à qual a
adesão se mantém válida.

O MB Way permite efetuar pagamentos através da aplicação Sit.Fiscal-


Pagamentos ou do Portal das Finanças, com a possibilidade de poder ser
feito em qualquer lugar com acesso à internet, a partir do telemóvel ou de
outro dispositivo. A apresentação do ícone MB Way nas cobranças a
pagamento, indica a possibilidade do pagamento ser efetuado através
desse meio.

O Multibanco permite efetuar pagamentos em qualquer ATM, com a


referência do documento de cobrança disponibilizada pela AT.

1
Em tempos passados já foi o pagamento do imposto em espécie, a qual todavia foi sendo
abandonada, nomeadamente pela incomodidade, quer para os contribuintes quer para o
Estado. Hoje a referência à modalidade de impostos que possam ser pagos em espécie
tem apenas relevância histórica. Para maior desenvolvimento ver Manuel Henrique de
Freitas Pereira Fiscalidade. (3.ª edição), (2009), Almedina, Coimbra.

2
Ver folheto informativo da AT - Como pagar os seus impostos? em:
https://cutt.ly/BQQNUtm

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O homebanking permite efetuar pagamentos com a referência do
documento de cobrança disponibilizada pela AT, com a possibilidade de
poder fazer-se através do smartphone, tablet ou PC.

Finalmente, pode o devedor optar por efetuar o pagamento dos seus


impostos através dos canais tradicionais serviços de Finanças, CTT e
bancos.

Assenta essencialmente na capacidade contributiva

O imposto pressupõe necessariamente a capacidade contributiva do


respectivo devedor, variando no seu quantum de acordo com ela. De
acordo com o principio da capacidade contributiva, o imposto deve ser
repartido na medida da capacidade que cada um mostre para o suportar: a
contribuintes economicamente mais fortes deve corresponder imposto
maior, a contribuintes com menor forca económica deve corresponder
imposto mais pequeno.

A capacidade contributiva revela-se, nos termos da lei, através do


rendimento auferido, da sua utilização no consumo, e do património detido
(n.º 1 do artigo 4º da LGT), factos que justificam, como veremos, que a
incidência do imposto utilize, essencialmente, na sua formulação legal
critérios de natureza económico-financeira.
A expressão mais relevante deste princípio é feita nos impostos sobre o
rendimento das pessoas singulares, os rendimentos pessoais. Aliás, de um
ponto de vista histórico é exactamente por referência ao personal income
tax que o conceito é construído e explorado. Previsto expressamente na
Constituição de 1933, foi Teixeira Ribeiro que dele fez uma “a analise
exauriente do sentido desse principio e do seu possível alcance jurídico-
normativo, no quadro da Constituição de 1933”.3

Mas, e como realça Sérgio Vasques, “o critério que se nos impõe como
conforme à “natureza das coisas” é o da capacidade contributiva, ainda
que esse critério seja objecto de consagração constitucional apenas
implícita, como ocorre com a Constituição da República portuguesa de

3
J.J. Teixeira Ribeiro, “Os princípios constitucionais da fiscalidade portuguesa”, 1966,
Boletim da Faculdade de Direito, vol. XLII , e em separata. Para maior desenvolvimento
José Manuel Cardoso da Costa, “O principio da capacidade contributiva no
constitucionalismo português e na jurisprudência do Tribunal Constitucional”, Homenagem
ao Prof. Doutor António José Avelãs Nunes, Boletim de Ciências Económicas, Volume
LVII, Tomo I, 2014, Universidade de Coimbra, Faculdade de Direito, em

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1976 (artigos 103º e 104º)” 4. Opinião a que António Sousa Franco
contrapunha o argumento de que, apesar da falta de referência expressa
no respectivo texto, não podia deixar de concluir-se que a Constituição
acolhia o principio da tributação segundo a «capacidade contributiva» ou
as «faculdades contributivas», dado que «toda a filosofia subjacente ao
sistema fiscal» dela constante, para isso apontava em geral e
nomeadamente, na «forte personalização do imposto sobre o rendimento,
com consideração da situação do agregado familiar» 5.

O estudo mais detalhado a propósito deste tema, é, cremos, o de J.


Casalta Nabais, que conclui que mesmo que não expresso
constitucionalmente, o principio da «capacidade económica» ou da
«capacidade de pagar», não deixar de considerar-se acolhido pela
Constituição vigente, enquanto princípio conformador dos impostos, como
«teste jurídico-constitucional material dos impostos»6.

E isto porque, contraposta a esta ideia ou concepção perfila-se uma outra,


que é a do principio do benefício, segundo o qual a incidência do imposto
deverá antes assentar na utilidade que os contribuintes auferem das
despesas que o Estado realiza com a receita dos impostos que as
financiam.

Todavia, e como bem realça Casalta Nabais 7 :"hoje em dia, quando se apela
à ideia da capacidade contributiva como critério da imposição fiscal,
pretende-se, antes do mais excluir o critério do beneficio, equivalência,
troca, seguro, etc.". Parece-nos, no entanto, que a afirmação seria mais
verdadeira no passado do que o é nos nossos dias. De fato, no momento em
que se afirma o Direito Fiscal como ciência autónoma, a equivalência ou o
benefício já́ tinham sido há́ muito afastados pela Ciência Financeira como

4
Sérgio Vasques, Capacidade Contributiva, Rendimento e Património, Business and
Economics School, Instituto Superior de Gestão, em https://.isg.pt
5
António Sousa Franco, Finanças Públicas e Direito Financeiro, 4.ª ed., vol. II, Coimbra,
1992, p. 186
6
José Casalta Nabais, Direito Fiscal (lições), 7.º ed., Coimbra, 2012, p. 155 e ss. Segundo
o autor, e aceite pela doutrina, em geral, o princípio tem o seu âmbito de aplicação
limitado aos impostos (com exclusão dos impostos extra fiscais), não se estendendo
assim a outros tributos como as taxas e, dentro deles, unicamente aos «impostos
fiscais».

7
José Casalta Nabais, O Dever Fundamental de Pagar Impostos, Tese de doutoramento
em Direito (Ciências Jurídico- Políticas) apresentada à Fac. De Direito da Univ. de
Coimbra, Coimbra, 1998, pp 449-450

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critérios de repartição do imposto, por incompatíveis com a sua estrutura
e propósitos fundamentais. O que as Finanças Publicas legam ao Direito
Fiscal nas décadas fundadoras de vinte e trinta é um corpo de ideias já́
largamente depurado da equivalência, não se sentindo os cultores do novo
Direito Fiscal na necessidade de justificar o seu afastamento nem de
lançar mão da capacidade contributiva para o combater. E isto que se diz
vale em trabalhos da época, como os de Bühler, como vale em trabalhos
posteriores, como os de Weber-Fas ou Kruse, para dar algum exemplo
avulso. No discurso moderno da ciência jurídico-fiscal, a capacidade
contributiva vem portanto ocupar uma "terra de ninguém", mais do que
disputá-la à equivalência. Bem pelo contrario, é à capacidade contributiva
que a equivalência tem agora de disputar uma ou outra áreas do sistema
tributário.

Razões de ordem político-social poderão emprestar ao imposto outras


motivações que não a estrita obtenção de receita em função da
capacidade económica (caso dos impostos extrafiscais), e daí o
essencialmente contido naquele preceito legal.

Não deve ser confundida a noção de capacidade contributiva com a de


capacidade tributária de que falaremos mais tarde a quando do estudo da
relação jurídica fiscal, a qual significa a capacidade jurídica (e não
económico-financeira) para se ser sujeito passivo de tributação;

Prestação exigida com base na lei

Significa isto que a obrigação de imposto não decorre de qualquer acordo


estabelecido pelas partes envolvidas, antes derivando expressamente da
lei, ou seja, é independente da vontade do obrigado (obrigação ex lege). É
a lei que confere ao Estado o poder de tributar. H á́ lugar a imposto quando
surge uma norma que confere ao Estado a faculdade de exigir ao individuo
o dever de prestar. Podemos então dizer, e como adiante
desenvolveremos, que toda a disciplina do imposto desde a sua criação à
respectiva extinção do imposto, são definidos por lei.

Com base nesta natureza defendem alguns


autor
e

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s tratar-se de uma prestação coactivamente exigida ao devedor. Entendemos, no entanto, que não obstante a origem legal do

imposto, a exigência do mesmo ao devedor dependerá frequentemente de um acto voluntário por este praticado, acto esse a que

a lei fará corresponder, se esse for o caso, o pressuposto de uma obrigação tributária. Daí a preferência pela sua

caracterização como prestação estabelecida por lei em detrimento da de prestação coactivamente exigida
s tratar-se
de uma prestação coactivamente exigida ao devedor. Entendemos, no
entanto, que não obstante a origem legal do imposto, a exigência do mesmo
ao devedor dependerá frequentemente de um acto voluntário por este
praticado, acto esse a que a lei fará corresponder, se esse for o caso, o
pressuposto de uma obrigação tributária. Daí a preferência pela sua
caracterização como prestação estabelecida por lei em detrimento da de
prestação coactivamente exigida.

Exigida pelo Estado ou outros entes públicos sem qualquer


contrapartida directa

O imposto como prestação devida ao Estado ou outros entes públicos é o


chamado elemento subjectivo8 do imposto (artigo 103.º n.º 1 da
Constituição da República Portuguesa). É ao Estado e às autarquias locais a
quem são devidos a maior parte dos impostos.
Salientamos, ainda, que o elemento subjectivo da definição de imposto se
reporta apenas ao sujeito activo. Quanto aos sujeitos passivos, atenta a
sua diversidade, nenhuma característica especial reveste a noção de
imposto.

Ou seja, o pagamento do imposto não concede a quem o paga o direito a


exigir que lhe seja fornecida uma contraprestação directa. É o carácter
unilateral do imposto, a característica que utilizaremos, por exemplo, para
o distinguir de outras figuras afins (taxas e empréstimos públicos
forçados, aos quais está associada uma relação bilateral ou sinalagmática).

Embora as receitas fiscais se destinem à satisfação de despesas públicas


que revertem a favor da sociedade em geral, incluindo as pessoas e
entidades que pagam os impostos, não se pode estabelecer qualquer
ligação directa entre aquilo que se paga e a contrapartida em troca
recebida. Trata-se de bens ou serviços fornecidos em geral, e de forma
s tratar-se de uma prestação coactivamente exigida ao devedor. Entendemos, no entanto, que não obstante a origem legal do
imposto, a exigência do mesmo ao devedor dependerá frequentemente de um acto voluntário por este praticado, acto esse a que a lei fará corresponder, se esse fo
8
O elemento subjectivo da definição de imposto reporta-se apenas ao sujeito activo.
Quanto aos sujeitos passivos, atenta a sua diversidade, nenhuma característica especial
integra a noção de imposto.

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indivisível, de que beneficiam mesmo os cidadãos não sujeitos ou isentos
de imposto.

A favor de entidades que exerçam funções públicas,

De facto, nem sempre a prestação tributária reverte a favor de pessoas


colectivas de direito público, havendo situações em que entidades não
qualificadas como tal são sujeitos activos de determinadas receitas
fiscais (empresas privadas concessionárias e certas comunidades e
organismos não qualificados como pessoas colectivas de direito público ); );

Exigida de forma definitiva

Isto é, uma vez paga, e desde que o cálculo do respectivo valor não
contenha quaisquer erros ou omissões, ela não será devolvida a quem a
pagou pelo respectivo credor, o mesmo é dizer, não é susceptível de
reembolso, restituição, retribuição ou indemnização, contrariamente ao
que acontece, por exemplo, com os empréstimos públicos, tanto em geral
como nos empréstimos públicos forçados em particular. A restituição de
imposto apenas poderá ocorrer em virtude de anulação do acto tributário,
por este ser total ou parcialmente inválido, com a consequência de que
aquilo que foi pago para cumprimento de divida consequente de acto
tributário que veio a ser declarado nulo ou anulado (ou que se não verificou
depois9), deve ser restituído.

Com carácter contributivo para o financiamento de despesas públicas

Reside neste carácter contributivo a razão de ser do imposto (e do


tributo em geral como o próprio nome significa), característica que o
distingue de outras prestações pecuniárias, como é o caso das multas ou
coimas que apenas se apresentam como sanções por ilícitos cometidos. É a
designada finalidade fiscal dos impostos10.
);
9
O que poderá ocorrer, como veremos mais tarde, no âmbito do Imposto Municipal sobre
Transmissões Onerosas de Imóveis.
10
A par com as finalidades extrafiscais, de que já tratamos na disciplina de Finanças
Públicas, como é o caso da redistribuição da riqueza, da estabilização da economia e da
influência na alocação dos recursos.

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Reconhece-se, contudo, a existência de impostos exigidos com outros
propósitos ou finalidades, habitualmente designados por impostos
extrafiscais, no sentido de que o seu objectivo primeiro não é a obtenção
de receitas para o financiamento de despesas públicas mas antes a
realização de outros fins públicos (repartição equitativa dos encargos
públicos, penalização de determinados consumos nocivos ou prejudiciais –
imposto sobre o tabaco e bebidas alcoólicas, p.e. – ou mesmo protecção
económica de bens internamente produzidos – certos impostos
aduaneiros), razões que justificam, para alguns autores, como
fundamentação do imposto a prossecução de fins públicos em geral e não o
financiamento de despesas públicas.

Entendemos todavia que não obstante a justeza daqueles argumentos, o


que realmente caracteriza o imposto como instituição é o seu carácter de
contributo para o financiamento das despesas públicas em geral, sendo tal
característica que modela, desde logo, todos os princípios e critérios que
regem a sua criação e definição dos seus elementos essenciais.
Surgiu entre nós, e pela primeira vez, na Constituição de 1822, e na Carta
Constitucional de 1826, de forma expressa 11. Na Constituição de 1911
verifica-se uma total omissão a este respeito, situação que se alterou
depois na Constituição de 1933 onde artigo 26º (mais tarde artigo 28º)
estabelecia que «todos os cidadãos são obrigados [...] a contribuir,
conforme os seus haveres, para os encargos públicos» .

2 – O imposto – distinção de figuras jurídicas afins

Sendo o imposto um tributo, existem paralelamente outros tributos que


com ele não devem ser confundidos. É o caso, designadamente, das taxas e
demais contribuições financeiras a favor de entidades públicas, cujo
regime, constando de lei especial, não será abordado neste curso (artigo
3º n.º 2 da LGT), não obstante a caracterização que delas faremos em
seguida.

2.1 – Imposto e taxas.

Resulta do artigo 4º n.º 2 da LGT que:

11
Artigo 145, § 14 da Carta: «ninguém será́ isento de contribuir para as despesas do
Estado, em proporção dos seus haveres».

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2 - As taxas assentam na prestação concreta de um serviço público,
na utilização de um bem do domínio público ou na remoção de um
obstáculo jurídico ao comportamento dos particulares .

Paralelamente, o artigo 3.º do Regime Geral das Taxas das Autarquias


Locais (Lei n.º 53-E/2006 de 29 de Dezembro) define-as da seguinte
forma: “As taxas das autarquias locais são tributos que assentam na
prestação concreta de um serviço publico local, na utilização privada de
bens do domínio público e privado das autarquias locais ou na remoção de
um obstáculo jurídico ao comportamento dos particulares, quando tal seja
atribuição das autarquias locais, nos termos da lei”.

Trata-se pois de receitas públicas, também elas estabelecidas por lei


(artigo 165º n.º 1 alínea i) da CRP), que apresentam como contrapartida
qualquer uma das três situações referidas naquele artigo 4º da LGT (e
também no Regime Geral das taxas das Autarquias Locais):
- prestação de um serviço público;
- utilização de um bem do domínio público ou semipúblico;
- remoção de um obstáculo jurídico ao comportamento dos
particulares.

Revestem um carácter individualizado, contrariamente ao que vimos


suceder com o imposto, sendo o seu âmbito restringido aos serviços
públicos divisíveis (em sentido amplo, abarcando todas as situações
referidas). Subjacente a todas as situações apontadas está um vínculo
obrigacional sinalagmático, ou seja, uma contraprestação individualmente
fornecida ao devedor em resultado ou consequência do montante pago. É
este carácter bilateral da taxa que fundamentalmente a distingue do
imposto que definimos com uma prestação unilateral.

Nas taxas, o princípio informador não é o da capacidade contributiva mas


antes o princípio da equivalência, entendendo o seu objectivo de adequar a
repartição dos encargos tributários em função de dois vectores, fazendo
com que cada individuo contribua na medida do custo que provoca à
comunidade ou na medida do beneficio que a comunidade lhe proporciona.
Devem contribuir aqueles que causam ou aproveitam de prestações
administrativas, deixando de fora o resto da comunidade, mas sem
esquecer alguns matizes que, embora sejam mais apropriados numa análise
casuística de cada um dos tributos – taxas, devem ser referidos numa
abordagem geral. Como bem salienta Suzana Tavares da Silva quando

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existe uma combinação do critério do beneficio com o critério da
cobertura dos custos, isto quanto às taxas que têm por base uma ideia de
equivalência assente na cobertura dos custos, é necessário distinguir,
como faz a doutrina espanhola, entre os custos trasladáveis que
correspondem aos custos respeitantes à utilidade do serviço de que
apenas os destinatários das taxas beneficiam, devendo ser estes a
suportá-los por inteiro, dos custos imputáveis que apenas podem ser
colocados a cargo dos utentes na medida da utilidade do beneficio
especifico por eles recebido, partilhando assim, os custos com a
comunidade que instituiu o serviço de interesse geral. Ou seja, é de
evitar que o Estado possa repercutir sobre os utentes dos serviços
públicos enquanto contribuintes das correspondentes taxas todos os
custos de todos os serviços públicos. Significa isto na opinião da autora
que a solução mais adequada é esta: em primeiro lugar, o montante da taxa
deve ser determinado em concordância com a sua finalidade e de acordo
com o custo efetivo do serviço prestado. S ó́ subsidiariamente é que o
valor da taxa deverá ser apurado em referência ao beneficio auferido pelo
sujeito passivo 12.

Exemplos de taxas enquanto associadas à prestação de um serviço público,


são as propinas pagas pela frequência de estabelecimentos de ensino
público ou as custas processuais nos processos judiciais de justiça, pelo
acesso e recurso aos tribunais.

Já enquanto utilização de um bem do domínio público ou semipúblico,


podem referenciar-se as portagens pagas pela circulação em determinadas
vias rodoviárias, bem como as taxas devidas pela utilização de portos,
aeroportos, praias, parques de estacionamento, etc.

Finalmente, na vertente ligada à remoção de um obstáculo jurídico ao


comportamento dos particulares, temos as licenças pagas para remover
um limite jurídico à utilização de um bem público de que pode ser exemplo
a licença para ocupação transitória da via pública, as quantias cobradas
para permissão de uso e porte de arma ou posse de animais domésticos.
Ou ainda as quantias cobradas pela autorização de afixação de publicidade
em propriedade particular.

12
Suzana Tavares da Silva, ““As taxas e a coerência do sistema tributário”, 2.a ed.,
Cejur, Coimbra Editora, 2013 p. 119, 121 e 122

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Note-se, a propósito, que não deve ser confundida a noção de taxa com a
de tarifa, dado que esta apresenta uma equivalência económica (não
administrativa) com o serviço fornecido pelos entes públicos ou
concessionados (ex. distribuição de água e luz, recolha de lixo, etc., etc.).
Ou seja, enquanto a taxa não tem natureza de preço a tarifa pretende, em
princípio, cobrir o custo do serviço prestado 13.

Uma referência final para salientar que nem sempre a terminologia


utilizada está de acordo com a verdadeira natureza do tributo. Por vezes,
aparecem designadas por taxas prestações que rigorosamente devem ser
qualificadas como impostos e vice-versa. Era o que até à bem pouco
sucedia com o imposto de justiça, que contrariamente ao que o nome
sugere tem a natureza de taxa, sendo agora já designado de taxa judicial,
e com a taxa militar (já extinta), cuja natureza era a de um verdadeiro
imposto.
A antiga taxa de radiodifusão, hoje contribuição audiovisual, ainda em
vigor, habitualmente considerada uma taxa utilizada para financiar a
televisão pública e a rádio pública, ou seja, a Rádio e Televisão de Portugal
(RTP), deve, também ela, ser considerada como um imposto, uma vez que o
seu pagamento é independente da utilização do serviço de radiodifusão e
mesmo da posse efectiva dos respectivos aparelhos, sendo devida
inclusivamente por pessoas que não habitam as casas (é paga, como é
sabido, juntamente com o consumo de energia ). ). Seguimos aqui
doutrina e jurisprudência consagrada: “Transpondo estes conceitos para a
caracterização da CAV, vemos que esta é obrigatória e o seu montante é
definido pelo Governo, no entanto, do seu pagamento não resulta nenhuma
contraprestação directa de bens ou serviços. Na realidade, a CAV é
devida por quem consome eletricidade, não estando associada, de forma
alguma, ao visionamento da RTP, o que é um requisito essencial numa taxa.
Mesmo que essa contraprestação não se verifique, uma taxa ter á́ sempre
de, pelo menos, possibilitar o seu consumo. Uma taxa está, no mínimo,
associada à possibilidade de consumo de um bem, tal como acontecia com a
extinta taxa de radiodifusão (cobrada aos detentores de aparelhos
televisivos), pois esta, não estando ligada directamente ao consumo do
SPT, estava associada à sua possibilidade. Uma vez que a actual CAV é
13
Para um maior desenvolvimento sobre a temática veja-se Suzana Tavares da Silva,
“Ainda a distinção entre taxas e preços a propósito da internalização dos serviços
públicos locais”, Cedipre, Observatório de Taxas e Contribuições, Escritos Breves 2,
disponível em www.cedipre.fd.uc.pt/observatorio .

).

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devida apenas pelo consumo de electricidade, esta não encaixa na
definição de taxa e é, pois, um imposto”14 .

2.2 – Imposto e contribuição especial

Designam-se na doutrina por tributos especiais ou contribuições especiais,


as prestações pecuniárias exigidas pelo Estado aos contribuintes em
virtude de uma vantagem particular e concreta que estes retiram da
realização de determinados empreendimentos públicos ou da criação e
funcionamento de serviços públicos de interesse geral ou ainda em virtude
das especiais despesas que a sua actividade provoca.
Não se trata de cobrir despesas correntes da Administração, mas antes
de compensar verdadeiros gastos de investimento.

Quanto à primeira das fundamentações invocadas, deverá dizer-se que,


embora exista uma utilidade individualizada nestas contribuições, não
deve falar-se de taxas uma vez que tal utilidade é meramente reflexa – o
contribuinte aproveita-se dela, mas não a solicita individualizadamente,
contrariamente ao que vimos acontecer com as taxas -. Por outro lado,
verifica-se que concomitantemente com os sujeitos especialmente
beneficiados, a actuação pública aproveita ainda à colectividade como um
todo. O exemplo clássico (não exclusivo, obviamente) é o do aumento de
valor de bens imóveis em resultado da abertura de uma nova estrada ou da
construção de uma ponte. Exemplo das situações invocadas como a outra
das motivações da contribuição especial é o particular desgaste provocado
nas vias públicas por veículos com características específicas (com maior
peso, p.e.), a poder significar a exigência de uma tributação com esse
pressuposto.

Já quanto à conceituação das contribuições especiais e sua confrontação


com impostos devem acentuar-se duas vertentes:
- O plano económico-financeiro, em que as duas figurais se contrapõem,
embora ambas geradoras de receitas públicas;
- O plano jurídico, em que a distinção não deve estabelecer-se por
reconhecimento nas primeiras de todas as características que
apresentamos na definição do conceito de imposto.

14
Acórdão no 354/98 do Tribunal Constitucional, e Cláudio Silva, “A Contribuição para o
Audiovisual e o Serviço Público de Televisão”, Dissertação de Mestrado em Economia e
Politicas Públicas, Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), Ano lectivo
2010/2011, disponível em https://www.repository.utl.pt

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Actualmente, com a entrada em vigor da LGT em 1 de Janeiro de 1999,
esta qualificação resulta expressamente do teor do seu art.º 4º n.º 3 onde
se refere:

3- As contribuições especiais que assentam na obtenção pelo


sujeito passivo de benefícios ou de aumentos de valor dos seus bens em
resultado de obras públicas ou da criação ou ampliação de serviços
públicos ou no especial desgaste de bens públicos ocasionados pelo
exercício de uma actividade são consideradas impostos .

As contribuições especiais incidem sobre alguma melhoria que tenha


trazido benefício direto ao contribuinte, como por exemplo, sobre o
aumento do valor de uma habitação, após a realização de obras de
melhoria pública, como vias rodoviárias; pela possibilidade de construção
em determinados terrenos, que anteriormente estariam classificados
como zona agrícola. Podem também incidir no especial desgaste de bens
públicos ocasionados pelo exercício de uma atividade.

As contribuições especiais devidas pela realização de obras públicas


foram especialmente relevantes no final do século XIX e em parte do
século XX. Em Portugal, nas últimas décadas, instituíram-se contribuições
especiais por obras públicas, com natureza clara e evidente de impostos –
v.g., contribuição especial devida pela nova travessia do Tejo (Decreto-Lei
n.º 51/95, de 20/3); contribuição especial devida pela construção da Expo
98 (Decreto-Lei n.º 54/95, de 22/3); contribuição especial devida pela
construção das vias circulares nas cidades de Lisboa e Porto, da travessia
ferroviária do Tejo e da extensão das linhas de metropolitano instituída
pelo Decreto-Lei n.º 43/98, de 3/3.
Para além destas contribuições especiais, que são, repete-se,
juridicamente, verdadeiros impostos, a Lei Geral Tributária faz ainda
referência a contribuição por maiores despesas (“especial desgaste de
bens públicos ocasionados pelo exercício de uma atividade”), que são
também, juridicamente, verdadeiros impostos já que, e como concluem
Casalta Nabais e Sérgio Vasques, as mesmas têm como critério de
igualdade a capacidade contributiva, critério que as aproxima do imposto.

2.3 – Imposto e Outras contribuições financeiras a favor de entidades


públicas

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Além das contribuições especiais que acabamos de tratar, importa referir
as designadas de outras contribuições financeiras a favor de entidades
públicas.

Foi a Revisão Constitucional de 1997 que veio dar uma nova redação ao
anterior artigo 168º da Constituição da República Portuguesa, passando a
alínea i) do nº 1 do atual artigo 165º a atribuir à Assembleia da República a
competência para, salvo autorização ao Governo, legislar sobre a criação
de impostos e sistema fiscal, bem como sobre o regime geral das taxas e
demais contribuições financeiras a favor das entidades públicas.

Afastou-se assim a divisão dicotómica dos tributos – impostos e taxas, em


as contribuições especiais se integram na qualificação de impostos -,
passando a ser admitida a existência de outras figuras designadas
genericamente no texto constitucional por “demais contribuições
financeiras a favor de entidades públicas” ( artigo 165.º, n.º 1, alínea i), da
CRP e o artigo 3.º, n.º 2, da Lei Geral Tributária, com o nº 3 do mesmo
artigo a esclarecer também que o regime geral das taxas e das demais
contribuições financeiras está sujeito a lei especial.

Fala-se, em consequência, de um novo tipo de tributo que seriam agora as


“demais contribuições financeiras a favor das entidades públicas” 15.

Verificou-se, de facto, o aparecimento de um novo conjunto de entes


infraterritoriais descentralizados – em particular, entidades reguladoras
e institutos públicos com funções de regulação e supervisão – cujo quadro
de funções se projeta sobre grupos sectorialmente delimitados e cujos
membros se presumem ser marginal ou especialmente beneficiados em
virtude dos serviços por aqueles prestados. As contrapartidas pagas pela
prestação desses mesmos serviços fez surgir a necessidade de
reponderar os pressupostos conceptuais e de regime aplicáveis à tipologia
dos tributos, já que deixa de poder considerar-se que estão em causa
simples taxas16.

15
CANOTILHO, J.J; MOREIRA, Vital - Constituição da República Portuguesa Anotada,
Volume I, Coimbra, 2014, p. 1095 e ss
16
Contribuições Financeiras. Natureza Jurídica e Consequências para as Empresas Camila
Gomes Sávio, dissertação de mestrado em
https://repositorio.iscte-iul.pt/bitstream/10071/22323/1/master_camila_gomes_savio.
pdf

FACULDADE DE DIREITO E CIÊNCIA POLÍTICA- ULP - Ano lectivo 2022/2023 Maria Odete Oliveira 14
Como bem salienta CARDOSO DA COSTA “à luz do direito constitucional
português vigente, e para os correspondentes efeitos, não é possível
manter uma classificação dos tributos reduzida à alternativa imposto ou
taxa, se a Constituição passou a estender a reserva de lei da Assembleia
da República, àquilo que designa de demais contribuições financeiras a
favor das entidades públicas17.

Todavia, o regime geral das taxas e demais contribuições financeiras a


favor das entidades públicas ainda não se encontra consagrado, daí
resultando a inexistência, além do seu conceito, de um estatuto normativo
dentro do sistema fiscal português. Jurisprudencialmente, o Tribunal
Constitucional elencou já os pressupostos exigíveis para que um dado
tributo seja qualificado como contribuição financeira 18.

Determinante para a qualificação parece dever ser, como bem realça


SUZANA TAVARES DA SILVA19, a respectiva conexão a uma determinada
ação material por parte das entidades públicas, sejam elas entidades
reguladoras, institutos públicos ou até mesmo associações profissionais,
razão pela qual refere, que “em qualquer caso, é o benefício que serve de
parâmetro material ao tributo”.

Certo é que a contribuição financeira dirige-se ao grupo a que o sujeito


passivo pertence, sendo que a finalidade compensatória da contribuição
tem por base uma presunção de que um ou mais elementos do grupo podem
dela beneficiar (mas não deixa de ser uma presunção já que nada obriga a
que dela venham a beneficiar ou aproveitar). Por outras palavras, é
correcto afirmar que as prestações são dirigidas especificamente ao
grupo que as integra, mas apenas é presumível que aproveitem aos
indivíduos que integram o referido grupo.

Para CASALTA NABAIS20, estas contribuições devem ser consideradas


impostos especiais com o fundamento de que “apresentam a
particularidade de terem por base manifestações de capacidade
contributiva de determinados grupos de pessoas resultantes do exercício

17
COSTA, José Manuel Cardoso da - Sobre o Princípio da legalidade das taxas (e das
demais contribuições financeiras)”, Estudos em Homenagem ao Professor Doutor
Marcello Caetano no Centenário do seu Nascimento, Faculdade de Direito da
Universidade de Lisboa, Volume I, Coimbra Editora, 2006, p. 805.
18
Acórdãos nº 365/08, 613/08, 152/2013 , 80/2014 e Acórdão nº 539/2015
19
Suzana Tavares da Silva - As Taxas e a Coerência do Sistema Tributário, 2ª Edição,
CEJUR, 2013, p. 90
20
José Casalta Nabais, “Direito fiscal”, 3ª ed., Almedina, Coimbra

FACULDADE DE DIREITO E CIÊNCIA POLÍTICA- ULP - Ano lectivo 2022/2023 Maria Odete Oliveira 15
de uma atividade administrativa pública e não, ou não exclusivamente, do
exercício de uma atividade do respetivo contribuinte como acontece nos
impostos.” No caso das contribuições financeiras, não está em causa
qualquer tipo de valoração de capacidade contributiva, ainda que em
termos diferenciais, porquanto existe um serviço ou atividade pública que
lhe dão causa, na medida em que se projetam sobre benefícios ou
utilidades para os respetivos sujeitos passivos e que estes aproveitam em
face daquela que é a sua própria circunstância como membros de um
determinado grupo. Deste modo, estão reunidas as condições para
estabelecer uma distinção muito clara entre as contribuições especiais -
que repousam essencialmente num propósito de valorar uma manifestação
diferencial de capacidade contributiva e, por isso, seguem o regime dos
impostos – e as contribuições financeiras, figura historicamente associada
ao reduto dos tributos parafiscais e que hoje alberga um número
considerável de realidades - com especial relevo para os tributos
regulatórios, fiéis ao denominador comum de uma estrutura ancorada no
princípio da equivalência, ainda que projetado sob uma ótica
eminentemente grupal”.
Lançando mão de um critério material de imposição, realçando que o
mesmo, embora assente em termos globais no principio da
proporcionalidade e da equidade, poderá́ sofrer variações em função de
cada uma das três subespécies fundamentais identificáveis nesta terceira
categoria tributária, Casalta Nabais distingue 21:

1) «contribuições especiais parafiscais» que se destinam a sustentar


os custos da regulação independente nos sectores económicos onde
se optou pela instituição de autoridades reguladoras independentes
e cujo critério material há́ -de ser a repartição dos custos de
funcionamento da regulação pelos seus beneficiários (empresas
reguladas e/ou utentes e consumidores dos bens e serviços de
actividades reguladas) como garantia de independência dessas
entidades;
2) «contribuições especiais financeiras» que visam sustentar (ainda
que de forma parcial) financeiramente os custos das obrigações de
serviço público impostas a empresas no contexto da garantia de
serviços de interesse geral e o funcionamento de sistemas públicos
de garantia de serviços de interesse geral através da tributação de

21
José Casalta Nabais, “Sobre o Regime Jurídico das taxas”, Revista de Legislação e de
Jurisprudência. Coimbra: Coimbra Editora. Ano 145: (2015), n.º 3994, Setembro –
Outubro, 20, p. 25-45, e “Por um Estado Fiscal Suportável” - Estudos de Direito Fiscal,
Volume IV, Coimbra: Livraria Almedina, S.A., 2015.

FACULDADE DE DIREITO E CIÊNCIA POLÍTICA- ULP - Ano lectivo 2022/2023 Maria Odete Oliveira 16
factos e comportamentos que consubstanciam manifestações de
aproveitamento das utilidades geradas para além do aproveitamento
correspondente ao mínimo indispensável à subsistência condigna,
correspondendo a tributação a essa diferença;
3) «contribuições especiais extrafiscais» que se destinam a orientar
condutas através da tributação de comportamentos que determinam
um risco acrescido ou esforço especial sobre recursos naturais ou
bens comuns ou colectivos, desde que exista um comportamento
alternativo valido, podendo a sua medida ser muito variada
consoante a intenção seja instituir sistemas de financiamento
cruzado ou apenas impedir determinados comportamentos.

2.4 – As Contribuições para a Segurança Social

Trata-se de importâncias pagas, tanto pelos trabalhadores como pelas


respectivas entidades patronais, com base numa percentagem (diferente
para aqueles e para estas) aplicável às remunerações efectivamente
recebidas ou presumidas, importâncias pagas para o financiamento da
Segurança Social.
A designada Taxa Contributiva Global atualmente corresponde a 34,75%:
11% da qual suportada pelo trabalhador e os restantes 23,75% pela
entidade empregadora.

São disciplinadas pelo Código dos Regimes Contributivos do Sistema


Previdencial de Segurança Social, aprovado pela Lei no 110/2009, de 16 de
Setembro.

Tem sido muito discutida a verdadeira natureza destas contribuições, com


divergências doutrinais e, até́ jurisprudenciais, sobre a matéria.

Sendo certo que o critério informador nas taxas é o principio da


equivalência e nos impostos o da capacidade contributiva, as contribuições
para a segurança social são determinadas por um misto de equivalência e
solidariedade social 22, havendo de considerar-se que o sistema de
contribuição para a segurança social um sistema híbrido, a questão é a de
saber as contribuições para a segurança social devem ser qualificadas
como impostos, como taxas ou como contribuições financeiras, afastada
que está a de contribuições especiais.

22
José Luís Saldanha Sanches, “Manual de Direito Fiscal”, LEX, Lisboa, 1998 1998, pg
26-27

FACULDADE DE DIREITO E CIÊNCIA POLÍTICA- ULP - Ano lectivo 2022/2023 Maria Odete Oliveira 17
Quanto às contribuições pagas pelos trabalhadores, é certo existirem
alguns benefícios decorrentes do seu pagamento (ou pelo menos a
expectativa do seu recebimento). Todavia, o carácter aleatório destes
benefícios exclui a sua consideração como taxas, as quais, como vimos,
exigem uma contrapartida directa aqui não presente. É neste sentido que
Sérgio Vasques afirma que as contribuições pagas pelos trabalhadores
assentam em “prestações pecuniárias e coativas exigidas por uma entidade
pública em contrapartida de uma prestação administrativa
presumivelmente provocada ou aproveitada pelo sujeito passivo” e conclui
que as mesmas se traduzem em contribuições financeiras 23 .

Quanto às contribuições pagas pelas entidades patronais, e dado que tais


entidades não retiram delas quaisquer benefícios, directos ou indirectos
em resultado do pagamento, as mesmas preenchem todos os requisitos
apresentados para o conceito de imposto, pelo que assim deverão ser
entendidas.

Actualmente, a doutrina maioritária, tendo em conta as características


apontadas, sem esquecer que cabe ao Estado subsidiar parte do
orçamento do sistema de segurança social, para fazer face aos custos e
benefícios que o sistema de segurança social tem com aqueles que não
participam no custeio, entende as contribuições para a segurança social,
globalmente consideradas, como um imposto por atenderem a
necessidades genéricas, uma vez que revertem num beneficio
indiferenciado dirigido à comunidade, alheio a qualquer finalidade
compensatória.

2.5 – Imposto e empréstimo público forçado. Imposto e sanções


patrimoniais (coimas, multas, juros sancionatórios). Imposto e
requisição. Imposto e apropriação pública.

Se o elemento mais importante da distinção entre imposto e taxa é a


unilateralidade do imposto versus bilateralidade da taxa, na contraposição
entre imposto e empréstimo público forçado subsiste, para além desse, um
outro factor de distinção. É que enquanto o imposto, como referimos, é
definitivo, o empréstimo público forçado é reembolsável ou amortizável .

23
Sérgio Vasques, “O Princípio da Equivalência como Critério da Igualdade Tributária”,
Almedina, 2008, p. 189-190.
.

FACULDADE DE DIREITO E CIÊNCIA POLÍTICA- ULP - Ano lectivo 2022/2023 Maria Odete Oliveira 18
Como é sabido, o empréstimo público é forçado quando os particulares são
forçados a subscrevê-lo24, não existindo, pois, para estes, liberdade na
decisão de o fazer ou não, contrariamente ao que acontece nos vulgares
empréstimos públicos ( a voluntariedade , destes justifica a irrelevância
de qualquer abordagem por totalmente diferenciados da figura do
imposto).

No empréstimo público forçado, além de existir uma contraprestação


devida pelo Estado e consubstanciada no pagamento periódico de juros
(carácter bilateral), existe também para o devedor a obrigação de
proceder ao seu reembolso posterior (carácter não definitivo), de uma só
vez ou pela via de amortizações escalonadas no tempo. Esta figura não é
habitual, tendo, todavia, já ocorrido no passado quando o Estado pagou
determinadas remunerações aos funcionários públicos através da entrega
de títulos da dívida pública, que teriam de ser mantidos obrigatoriamente
durante um certo número de anos, acontecendo no fim do prazo o
respectivo reembolso acrescido dos juros correspondentes 25.

Coimas, multas ou juros sancionatórios são importâncias pagas pela prática


de infracções, apresentando, pois, um carácter punitivo que as diferencia
do imposto. Multas são sanções pecuniárias por ilícitos criminais, enquanto
as coimas se reportam aos ilícitos de mera ordenação social (contra-
ordenações). Quanto aos juros sancionatórios, eles são devidos quer por
atraso no cumprimento de obrigações legalmente estabelecidas, quer como
indemnização a uma entidade pública com o fim de reconstituir o seu
património em resultado dum facto ilícito.

Na requisição e na apropriação pública existe, como contrapartida directa,


a indemnização devida aos requisitados ou aos proprietários dos bens, não
devem estas figuras ser confundidas com a do imposto. Quanto à
apropriação pública dos meios de produção determina o artigo 83º da CRP
que os respectivos meios, formas e critérios de indemnização sejam
fixados por lei, o mesmo acontecendo quanto ao regime geral da
24
Associada a esta temática aparece uma outra figura – a do imposto reembolsável -
figura que ocorreu em França, em 1974. Resultando o reembolso da própria disciplina do “
denominado imposto”, tende este a ser considerado como um empréstimo público forçado
quando a obrigação de reembolsar é assumida como tal pelo Estado, revestindo, porém,
carácter de imposto se o reembolso corresponder a uma mera faculdade do Estado. Os
seus contornos serão analisados e debatidos nas aulas práticas.
25

FACULDADE DE DIREITO E CIÊNCIA POLÍTICA- ULP - Ano lectivo 2022/2023 Maria Odete Oliveira 19
requisição, habitualmente definida como o acto pelo qual, em situações
excepcionais e expressamente previstas na lei (art.º 165º n.º 1 alínea e da
CRP), se pode exigir aos particulares, a prestação de determinados
serviços, a cessão de bens móveis ou a utilização de certos bens, sempre
para ocorrer a necessidades urgentes e sempre com a justa indemnização.

3 – O imposto – algumas classificações

Os impostos que integram um sistema fiscal em concreto apresentam


sensíveis diferenças quanto a variados aspectos do seu regime jurídico,
nomeadamente:
Diferentes objectos;
Diferentes sujeitos activos;
Diferentes processos de lançamento, liquidação e cobrança;
Diferentes âmbitos territoriais.

Sendo possíveis várias classificações, classificações estas que nem


sempre recorrem a critérios jurídicos mas sobretudo a critérios de
natureza económico-financeira, político-financeira ou até administrativa,
iremos apresentar apenas as classificações mais comummente utilizadas.

3.1 – Impostos directos e indirectos

É a distinção mais antiga, frequentemente utilizada pela doutrina e


referenciada tanto na CRP (artigo 254º- Participação dos municípios nas
receitas dos impostos directos), no Código Civil (artigo 736º n.º 1 –
Privilégios fiscais), como na sistematização orçamental das receitas
públicas. A LGT adopta-a expressamente no artigoº 6º nºs 1 e 2 –
(Características da tributação e situação familiar).

Esta classificação não tem por base um critério único, sendo antes
propostos vários critérios de distinção, tanto os económico-financeiros
como os jurídico-administrativos, os quais em síntese podem ser
agrupados do seguinte modo:

Classificações baseadas em critérios económico-financeiros ou


político-financeiros

Serão directos os impostos que incidem sobre manifestações directas ou


imediatas da capacidade contributiva (rendimento ou património), como é

FACULDADE DE DIREITO E CIÊNCIA POLÍTICA- ULP - Ano lectivo 2022/2023 Maria Odete Oliveira 20
o caso, entre outros do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas
Singulares (IRS) ou do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas
Colectivas (IRC), e indirectos os que incidem sobre manifestações
mediatas ou indirectas dessa capacidade, ou seja, nas utilizações em
consumo dessa mesma capacidade (de que é exemplo marcante o Imposto
sobre o Valor Acrescentado – IVA). É o critério das manifestações da
riqueza, sendo aliás o mais aceite na matéria.

Segundo o critério da repercutibilidade jurídica, serão directos impostos


não obrigatoriamente repercutíveis (IRS, IRC), etc.) e indirectos aqueles
em que o legislador impõe a sua repercussão ou seja a transferência do
encargo fiscal respectivo para o cliente (exemplo disto é o IVA).
Trata-se de critério jurídico e não económico. Em termos económicos, a
faculdade que um sujeito passivo tem ou não de transladar o encargo do
imposto para outrem depende de inúmeros factores (elasticidade da
procura e da oferta por exemplo), questão estudada pelas ciências
económicas mas cuja apreciação e discussão está fora do âmbito deste
curso.

Classificações fundadas em critérios jurídico-administrativos

Segundo o critério do rol administrativo, ou simplesmente critério


administrativo, serão impostos directos os que são lançados com base
numa lista prévia de contribuintes, de que dispõem os serviços tributários,
que assim conhecem antecipadamente a quem irá ser exigida a prestação
do imposto (o Imposto Municipal sobre Imóveis, por exemplo), e indirectos
aqueles em que tal conhecimento não é possível (v.g. impostos aduaneiros).
O critério não é exacto porquanto existem impostos indirectos em que a
Administração Fiscal possui rol dos contribuintes (ficheiro informático
elaborado a partir da declaração de início de actividade que os
contribuintes devem obrigatoriamente apresentar em data prévia à do
início de actividade - IVA) e há impostos que se devem qualificar de
directos em que o rol não existe (imposto de selo e IRS de sujeitos
passivos que não sejam profissionais independentes nem exerçam
actividades comerciais, industriais ou agrícolas).

Critério próximo deste é o que se fundamenta no diferente processo de


lançamento e cobrança dos impostos. Quando o processo de determinação
dos elementos tributários (lançamento do imposto) compete aos serviços
fiscais estaríamos perante impostos directos (IRS, IRC). Quando esse
processo é realizado pelo próprio contribuinte (auto lançamento) os

FACULDADE DE DIREITO E CIÊNCIA POLÍTICA- ULP - Ano lectivo 2022/2023 Maria Odete Oliveira 21
impostos classificar-se-iam como indirectos (IVA). Todavia, também este
critério não se apresenta compatível com a técnica tributária actual – os
impostos aduaneiros, cujo lançamento compete aos serviços alfandegários
(directos pelo critério em apreciação) constituem tributação indirecta, ao
mesmo tempo que se exige a autoliquidação pelo sujeito passivo num
imposto directo como é o IRC.

Finalmente aparecem ainda autores que apresentam um outro critério de


distinção elaborado a partir da recorrência ou não do próprio imposto.
Impostos directos seriam os periódicos, a cumprir continuadamente, findo
que seja cada período de tributação e indirectos os de obrigação única. A
distinção não pode ser aceite perante a existência de impostos periódicos
que são indirectos (IVA) ao lado de impostos directos (IRS ou IRS) que
são de obrigação única sempre que a tributação não decorra do exercício
de uma actividade mas antes da prática de actos isolados contidos na
respectiva incidência.

3.2 – Impostos reais e impostos pessoais

Tão ou mais antiga que a anterior, datando já dos


roman
o

s, é a distinção entre impostos reais e impostos pessoais. Os impostos reais tributam o rendimento ou património em termos

objectivos, sem ter em conta a situação pessoal e familiar dos contribuintes (IRC), enquanto que os impostos pessoais têm, em

alguns aspectos do seu regime jurídico, atenção a tais realidades (IRS p.e.).
s, é a distinção entre impostos
reais e impostos pessoais. Os impostos reais tributam o rendimento ou
património em termos objectivos, sem ter em conta a situação pessoal e
familiar dos contribuintes (IRC), enquanto que os impostos pessoais têm,
em alguns aspectos do seu regime jurídico, atenção a tais realidades (IRS
p.e.).

É óbvio que não existem, em geral, tipos puros de impostos reais ou


pessoais, antes se devendo recorrer neste critério de classificação ao
aspecto da predominância dos aspectos objectivos ou subjectivos do
imposto, pese embora a fonte de imprecisão que, no concreto, origina.

s, é a distinção entre impostos reais e impostos pessoais. Os impostos reais tributam o rendimento ou património em termos
objectivos, sem ter em conta a situação pessoal e familiar dos contribuintes (IRC), enquanto que os impostos pessoais têm, em alguns aspectos do seu regime juríd

FACULDADE DE DIREITO E CIÊNCIA POLÍTICA- ULP - Ano lectivo 2022/2023 Maria Odete Oliveira 22
O IVA, assumido como um imposto real sobre a despesa dos contribuintes,
acaba por apresentar preocupações com a capacidade contributiva
traduzida na diferenciação de taxas a que estão sujeitos os diferentes
bens ou serviços. Por outro lado, sendo embora o IRS um imposto pessoal,
como aliás impõe o artigo 104º n.º 1 da CRP e o artigo 6º n.º 1 alínea a) da
LGT, há rendimentos sujeitos e tributados em IRS que o são de uma
forma objectiva sem ter em conta aspectos pessoais – v.g. rendimentos
sujeitos a taxas liberatórias pelo artigo 74º do Código do IRS.

3.3 – Impostos periódicos e impostos de obrigação única

Sempre que a capacidade contributiva, que constitui um pressuposto do


imposto, permanece no tempo, tende a tributação a ser repetida ou
continuada, dando lugar a impostos periódicos, cuja obrigação se renova
em cada período (geralmente o ano). É o caso, desde logo, do IRS, do IRC
ou do IMI.

Contrariamente, sempre que tal permanência não se pode presumir que


ocorra, como será o caso do Imposto de Selo ou do Imposto Municipal
sobre a Transmissão Onerosa de Imóveis, estaremos perante impostos de
obrigação única, a significar que a respectiva obrigação apenas existe
quando sejam verificados os factos que a lei elegeu como dando origem à
obrigação do imposto (incidência ou facto gerador do imposto).

3.4 – Impostos de prestação fixa e impostos de prestação variável

Os impostos podem ser de prestação fixa ou de prestação variável. Nos


primeiros, o imposto a pagar por cada contribuinte pode ser fixado na lei
através da indicação de uma importância fixa. Nos segundos, vai-se
indicando uma taxa ou taxas expressas em percentagem, que aplicadas à
matéria colectável determinam o imposto a pagar. Nos impostos de quota
variável a taxa pode ser proporcional, progressiva ou regressiva.

Era geralmente referenciado como de prestação fixa o já abolido e


designado por taxa
milita r. Tratava-se de um imposto cuja prestação era fixa, não dependendo de qualquer matéria colectável.
r.
Tratava-se de um imposto cuja prestação era fixa, não dependendo de
qualquer matéria colectável. O conhecido Poll Tax instituído pelo governo

r. Tratava-se de um imposto cuja prestação era fixa, não dependendo de qualquer matéria colectável.

FACULDADE DE DIREITO E CIÊNCIA POLÍTICA- ULP - Ano lectivo 2022/2023 Maria Odete Oliveira 23
de Margaret Thatcher em 1989 na Escócia, e em 1990 no restante do
Reino Unido, o qual custearia os governos locais por meio de uma taxa
única a ser cobrada por habitante, independentemente da sua renda ou
capacidade económica era um imposto de prestação fixa, a que a população
britânica resistiu fortemente, recusando-se a fornecer os dados
necessários ao governo e a pagar o tributo e dificultando a punição dos
incumpridores, o que conduziu à impossibilidade de o implantar e, de certo
modo, à derrota do governo e queda de Margaret Thatcher como
Primeira-Ministra.

Hoje em dia os impostos existentes devem classificar-se como de


prestação variável já que o seu montante depende quer das variações da
matéria colectável (sendo fixa a taxa de tributação- impostos de taxa
proporcional), quer das variações da taxa, geralmente concomitantes com
as variações da matéria colectável (impostos progressivos ou de taxa
progressiva).

3.5 – Impostos proporcionais, progressivos, degressivos e regressivos

Dentro dos impostos de prestação variável que acabamos de conceituar,


distinguem-se, segundo o tipo de taxas aplicáveis, os impostos
proporcionais, progressivos, degressivos e regressivos.

São impostos proporcionais, aqueles cuja taxa é fixa, não variando pois
com o valor da matéria colectável. Como exemplo temos o IRC. Nestes
impostos o montante de imposto a pagar cresce na mesma proporção que a
matéria colectável. Têm uma taxa fixa, única e constante, qualquer que
seja o valor da matéria colectável. Assim, o imposto aumenta
proporcionalmente ao aumento da matéria colectável.

São impostos progressivos, aqueles cuja taxa aumenta à medida que for
aumentando a matéria colectável, podendo a progressividade ser contínua
(a maior taxa aplica-se a toda a maior matéria colectável) ou por escalões,
sendo exemplo destes últimos o IRS. A colecta de imposto cresce mais do
que proporcionalmente em relação à matéria colectável. Em relação aos
impostos progressivos, importa salientar que não h á́ impostos que sejam
indefinidamente progressivos, pois em dado momento, atingia-se uma taxa
de cem por cento e o imposto consumia toda a matéria colectável. Deste
modo, as taxas do imposto progressivo são crescentes at é́ determinado
limite, a partir do qual a taxa passa a ser única. Sirva de exemplo aquele

FACULDADE DE DIREITO E CIÊNCIA POLÍTICA- ULP - Ano lectivo 2022/2023 Maria Odete Oliveira 24
IRS, em que a taxa máxima em 2022 é de 48%, que irá ser aplicada aos
grupos de maiores rendimentos.
O sistema de progressividade actual não é o da progressividade global em
que toda a matéria colectável é tributada à taxa mais elevada, mas sim, e
como se disse, o da progressividade por escalões, pois o sistema da
progressividade global comporta, injustiças. O sistema da progressividade
por escalões resulta mais justo, uma vez que, a matéria colectável
concretamente apurada é dividida por um determinado número de partes,
as necessárias para corresponder ao leque de taxas a que pertence. Em
seguida aplica-se a taxa mais elevada, não à totalidade da matéria
colectável, mas apenas aquela parte que excede o limite máximo do escalão
anterior que proporcionalmente em relação à matéria colectável, mas
evita-se a possibilidade de a um rendimento bruto superior corresponder,
uma vez pago o imposto, um rendimento liquido inferior. Voltaremos a esta
temática na segunda parte deste curso quando especificamente
analisarmos a disciplina do IRS.

Impostos degressivos serão aqueles em que se estabelece uma taxa


proporcional para a matéria colectável que se situe acima de um
determinado quantitativo, fixando-se taxas que diminuem para matérias
colectáveis inferiores a esse limite. Não é senão uma forma diferente de
definir os impostos progressivos.

Finalmente, entendem-se como impostos regressivos aqueles em que a


taxa diminui à medida que aumenta a matéria colectável. No tipo puro
estes impostos não existem actualmente. Contudo, costuma apontar-se ao
IVA, ou em geral a qualquer imposto sobre a despesa ou consumo, um
carácter regressivo, a significar que sendo a propensão ao consumo maior
nos estratos de mais fraco poder económico (sendo exíguo o valor do
rendimento auferido, ele tem de ser gasto na sua totalidade em consumo),
tal facto implicaria que a tributação sobre eles incidente, em decorrência
do imposto, seria muito maior que a incidente sobre os contribuintes que
disponham de um maior rendimento (uma vez que sendo o rendimento alto,
uma parte mais ou menos significativa do mesmo pode ser aforrado,
escapando por isso à tributação nesse imposto).
Esta característica, mais sentida se o imposto funcionar por referência a
uma única taxa de tributação, tem justificado a defesa para a utilização
de taxas múltiplas – taxas reduzidas para consumos básicos ou essenciais
e taxas agravadas para consumo supérfluos ou de luxo, a acrescer a uma
taxa dita normal e que abrange todos os restantes consumos. O objectivo

FACULDADE DE DIREITO E CIÊNCIA POLÍTICA- ULP - Ano lectivo 2022/2023 Maria Odete Oliveira 25
é então o de personalizar a tributação e de atenuar, como se disse, o seu
carácter regressivo.

3.7 – Impostos estaduais e não estaduais

Para distinguir estes dois tipos de impostos deve atender-se ao sujeito


activo.
Nos termos do artigo 18º nºs 1 e 2 da LGT, o sujeito activo da relação
tributária é o ente público titular do direito de exigir o cumprimento das
obrigações tributárias, quer directamente quer através de representante.

Impostos estaduais serão aqueles que têm como sujeito activo o Estado
central. Impostos não estaduais têm por sujeito activo um outro ente de
direito público, seja ele uma região autónoma, uma autarquia local ou um
instituto público.

3.8 – Impostos fiscais e impostos extrafiscais

Existem impostos que se caracterizam pelo facto de a sua principal função


não visar directamente a obtenção de receitas, mas sim por apresentarem
objectivos não financeiros – fazer face a custos sociais derivados de
determinados consumos, defender o meio ambiente, desincentivar
acuações lesivas para o interesse público. São pois orientados por
interesses políticos, econômicos, sociais ou ambientais. Para eles tem sido
utilizada a designação de impostos extrafiscais.

Trata-se de figuras cuja importância tem vindo a crescer, fruto do facto


de se entender que a via tributária tem maiores potencialidades para a
respectiva gestão do que a via sancionatória tradicionalmente utilizada.

Alguns autores discutem se ainda estaremos perante verdadeiros


impostos com respeito pelos princípios constitucionais na matéria. Não são
todos os impostos fiscais? E assim sendo, como entender a existência de
impostos fiscais extrafiscais?

A questão é a de saber:
- primeiro se os impostos podem, segundo a lei fundamental, apresentar
outros objectivos que não a arrecadação de receitas;
- em segundo lugar, se os impostos extrafiscais respeitam o princípio da
capacidade contributiva, também ele constitucionalmente imposto, e,

FACULDADE DE DIREITO E CIÊNCIA POLÍTICA- ULP - Ano lectivo 2022/2023 Maria Odete Oliveira 26
finalmente se, nas situações em que esses impostos recaiam sobre
actos lesivos e rotulados de ilícitos, não há uma contradição, devendo a
situação ser tratada no direito sancionatório e não no direito fiscal. Ou
seja, em vez de impostos extrafiscais deveriam ser aplicadas coimas ou
multas?

O exemplo mais actual desta temática reside nos chamados impostos


ambientais, considerando como tais aqueles cuja finalidade primeira ou
principal é a da preservação do equilíbrio ambiental, ficando relegada para
segundo plano, embora obviamente nunca afastada, a respectiva
arrecadação de receita. Vejamos com base neles a abordagem das
referidas questões, tanto mais quanto é certo que esta é, hoje, uma
temática actual 26.

Em termos de política ambiental, que constitui uma preocupação


importante das sociedades modernas, pretende-se que os impostos
ambientais incidam sobre bens ou comportamentos aos quais esteja
associado um custo externo e por vezes uma procura inelástica, com os
seguintes objectivos:
- Possibilitar ao Estado financiar-se de modo menos distorcivo da
economia, permitindo a constituição de fundos ecológicos
destinados a financiar a recuperação do equilíbrio ambiental e a
eventual indemnização das vítimas da poluição;
- Actuar sobre o comportamento dos poluidores, promovendo a sua
alteração para moldes compatíveis com o ambiente, constituindo
também alertas aos agentes económicos para a evolução
tecnológica e para o aproveitamento que a sociedade pretende
que esta tenha na temática em análise.

São, ao mesmo tempo, instrumentos da actividade administrativa do


Estado (que pretende evitar ou pelo menos obstaculizar determinadas
condutas ou situações, sem o recurso a medidas de coacção) e verdadeiros
impostos, sujeitos ao regime comum, mas servindo, simultaneamente, para
a obtenção de receitas. Ou seja, estes impostos visam fazer chegar aos
cofres públicos recursos originários do sector privado, os quais serão
utilizados em benefício de fins de política económica e social, em que se
inclui a política ambiental. Trata-se de recorrer os instrumentos
26
Para maior desenvolvimento, José Casalta Nabais, “Tributos com fins ambientais”, Instituto
de Ciências Jurídico-Políticas e Centro de Investigação de Direito Público, disponível em
https://www.icip.pt

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tributários como meios ao serviço da protecção do meio ambiente ou, por
outras palavras, do direito tributário ambiental. A extra fiscalidade
aparece pois utilizada como instrumento na funcionalização da actividade
financeira ou seja como ferramenta intervencionista do Estado na
correcção das externalidades negativas.

Claro que sempre se poderá dizer que, pedindo-se ao imposto que


arrecade receita mas não distorça (ou distorça o mínimo possível) as
condutas dos agentes económicos, o requisito da neutralidade fiscal leva
nos impostos extrafiscais um rude golpe. Se a sua finalidade é
exactamente incentivar os agentes económicos contaminadores a
modificarem as suas condutas isso parece por em causa a neutralidade.
Esta deve, porém, ser vista, neste contexto, como a correcção de uma
falha do mercado, possibilitando estes impostos a busca da eficiência
social, e permitindo, em complemento, a obtenção de recursos para que o
sector público cumpra com a sua função de protecção ambiental.

Atentas as finalidades que hoje se pedem aos impostos, para além da


obtenção de receita, pode dizer-se que não há tributos puramente fiscais
nem tributos puramente extrafiscais. Os primeiros destinam-se
sobretudo à arrecadação de receitas, mas sempre implicam outras
consequências; os segundos destinam-se primordialmente a produzir
consequências não fiscais, mas sempre materializarão a obtenção dum
montante de receita por menor que ele seja. Aliás, há até quem considere
que a pura fiscalidade ou extra fiscalidade não existem, produzindo-se
apenas variações entre esses dois limites, sendo em qualquer caso muito
difícil de estabelecer a fronteira entre uns e outros. Há também quem
entenda que não deve falar-se em impostos extrafiscais, já que sendo os
impostos fiscais estaríamos perante uma contradição – tributos fiscais
extrafiscais, pelo que correcto seria falar em impostos ou tributos com
funções não fiscais ou extrafiscais.

Todavia, e pelo menos em sede de discussão teórica, podem suscitar-se


algumas dúvidas. Se se pretende, efectivamente, fazer recair o encargo
sobre quem polui, de acordo com o princípio do poluidor-pagador, a dúvida
é saber se estaremos perante um imposto ou antes perante uma sanção.
Mas a conclusão não pode deixar de ser a de que os impostos ambientais
não têm carácter sancionatório, uma vez que são pensados para situações
lícitas (muitas vezes até essenciais ou pelo menos necessárias para a
sociedade), visando, mais do que a eliminação de um determinado
comportamento, a sua modificação, no sentido de minorar as

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consequências indesejáveis que ele provoca. Ou seja, sempre se deverá
entender que o princípio do poluidor-pagador tem um carácter
essencialmente preventivo e não sancionatório. Enquanto que numa sanção
o Estado exerce a sua função de autoridade-polícia, nos impostos
ambientais o Estado apresenta-se numa função de defensor dos direitos
fundamentais dos cidadãos nos termos constitucionais já referidos.
Deve ainda referir-se que, enquanto que na sanção a reacção punitiva
envolve a eliminação total do benefício auferido com a infracção, nos
tributos ambientais apenas será captada uma parte do benefício obtido,
sob pena de estarmos perante um imposto confiscatório,
inconstitucionalmente proibido.

E que dizer do seu comportamento face aos imperativos constitucionais


em matéria fiscal - princípio da capacidade económica e fundamentação
do dever de contribuir?

O tributo ambiental tem, como é óbvio, natureza claramente tributária, e


como tal, nele tem de existir uma materialização do dever de contribuir,
sendo este dever orientado, não para a satisfação das necessidades
públicas em geral, mas para necessidades públicas específicas que são a
defesa do ambiente. Ora, sendo assim, o tributo ambiental deve ser
conformado com base na ideia de justiça que inspira esse dever de
contribuir. Todavia, é forçoso considerar que a justiça tributaria não se
identifica exclusivamente com o princípio da capacidade contributiva,
devendo este princípio relativizar-se para respeitar a necessidade de ser
coordenado com o resto dos princípios constitucionais que conformam a
ideia de justiça subjacente ao dever de contribuir, e sobretudo com o
princípio da igualdade.

Não pode esquecer-se que os impostos ambientais obedecem à intenção de


tornar realidade tanto o dever de contribuir como o mandato ambiental de
repartir os encargos públicos entre os cidadãos. Os objectivos são dois:
- Obter recursos monetários para restaurar o meio ambiente;
- Modificar os comportamentos económicos da sociedade
contrários ao meio,

devendo o tributo articular-se com o princípio de que «quem contamina


paga». subordinar o tributo apenas ao princípio da capacidade económica
significaria renunciar ao poder desincentivador dos tributos ambientais,
tão necessário hoje em dia.

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Alguma doutrina e jurisprudência têm-se manifestado no sentido de que,
sobretudo em sede de impostos extrafiscais, o princípio da capacidade
económica não constitui critério de justiça exclusivo e excludente na
prefiguração do pressuposto do imposto. Atender apenas à capacidade
económica faria desvirtuar a caracterização do imposto como tributo
ambiental: o imposto relacionar-se-ia apenas com a obtenção de
rendimento ou com a propriedade de um património, sem qualquer outra
relação com a degradação do meio, e fazendo com que o tributo perdesse
toda a sua função incentivadora da qualidade do meio ambiente. Neste
contexto haveria de entender-se que, se com o tributo ambiental se actua
sobre o desenvolvimento económico, actuando como meio de pressão sobre
ele, aí deve ser encontrada a fundamentação económica a considerar como
substrato da tributação, o que tornará então o tributo constitucional i.e.
respeitador ainda do princípio da capacidade económica.
Em matéria de capacidade económica deve concluir-se, pois, que o
princípio constitui, nos impostos ambientais, um mínimo lógico exigível do
dever de contribuir (a manifestar-se no desenho do pressuposto de facto,
na estrutura do tributo e na quantificação da obrigação), com negação de
que o tributo recaia sobre situações em que o sujeito passivo esteja
privado de força económica para responder ao respectivo pagamento.
Podendo o legislador desenhar o imposto tendo em atenção considerações
extrafiscais, isso não deve significar que o facto tributário, do qual se faz
depender o nascimento da obrigação tributária, não se articule com
manifestações objectivas de força económica que revelem aptidão
subjectiva para contribuir para a satisfação das despesas públicas. Essa
capacidade económica, contudo, não esgota o conteúdo do princípio (nem
toda a força económica é susceptível de ser tributada, devendo ser
excluída a parte da riqueza que se destine às necessidades vitais do
sujeito passivo e membros do agregado familiar (mínimo vital), ao mesmo
tempo que se exige que o tributo não possa esgotar a riqueza tributável
sobre a qual incide (princípio de não confiscatoriedade).

O estabelecimento de novos tributos – os ambientais – pode tornar


vulnerável o princípio da capacidade contributiva ao supor um aumento da
pressão fiscal que incide sobre a mesma matéria tributável. Os tributos
ambientais devem respeitar o princípio da capacidade económica como
qualidade objectiva do pressuposto de facto, mas a questão que se suscita
é, se também devem respeitar esse princípio entendido como qualidade
subjectiva do obrigado tributário. Com a tendência para a criação de
tributos ambientais, estaduais e locais, há sempre que ter em atenção o

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respeito pelo princípio da capacidade económica na sua vertente de
qualidade subjectiva, sob pena de tornar o sistema fiscal injusto, afastado
da contribuição justa de todos para o financiamento das despesas
públicas.

Pode então concluir-se que, não obstante a sua finalidade


predominantemente extra fiscal, os tributos ambientais respeitam a
configuração constitucional do dever de contribuir. A protecção do meio
ambiente (actividade que beneficia o interesse geral) gera um gasto
público para o qual devem contribuir mais intensamente aqueles que mais
participam na deterioração. Produz-se por via tributária uma cooperação
para fins de interesse colectivo que constitui a essência do princípio da
solidariedade, fundamento comum do dever de contribuir e da protecção
ambiental. O dever de contribuir, visto como manifestação do princípio da
solidariedade, significa nestes tributos ambientais que se consegue, por
via tributária, uma cooperação entre os vários agentes económicos ou
entre os vários cidadãos, destinada ao interesse colectivo, solidariedade
essa que implica um sacrifício dos interesses dos mais favorecidos frente
aos mais desamparados, que é a essência do princípio da solidariedade.
Para além disso, a deterioração do meio ambiente como consequência de
actividades produtivas supõe um índice potencial de capacidade económica
(o aforro que implica prescindir de tecnologias limpas), pelo que os citados
tributos não parecem entrar em colisão com aquele princípio.

Uma outra temática susceptível de apreciação é a da capacidade para


gerar receita deste particular tipo de impostos.
Trata-se, atenta a definição que antes se aceitou, de impostos
extrafiscais. Impostos extrafiscais proibitivos, estatuídos para
contrariar determinados comportamentos dos contribuintes, sendo tanto
mais eficazes quanto menor for a receita que produzam, destinando-se a
actuar, indirectamente como motivação desincentivadora do exercício do
acto, facto, situação ou actividade tributados.
Tendo associada, como impostos que são, a obtenção de receitas, poder-
se-á dizer que os impostos ambientais são aptos a recolher um volume
constante de receitas ao longo do tempo? Ou antes, e porque se trata de
impostos sem finalidade de arrecadação de receitas, estamos perante
impostos com manifesta incapacidade de obtenção de um nível estável de
receitas?

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Sendo certo que, em princípio estamos perante impostos qualificados
como tanto mais eficazes quanto menor for a receita que produzam,
sempre poderemos dizer que deles não podem ser esperados grandes
objectivos em termos de arrecadação de receita. Agora o saber se a
evolução será no sentido de a receita por eles arrecadada ser constante,
crescente ou decrescente, isso depende de muitos e variáveis factores:

- O carácter mais ou menos útil ou necessário dos bens ou


actividades oneradas pelo imposto;
- A maior ou menor possibilidade da substituição dos poluentes por
antipoluentes;
- O avanço tecnológico na vertente de técnicas ou tecnologias mais
limpas e mais eficientes;
- O grau de consciência dos cidadãos sobre o conteúdo do direito a
um bom ambiente como direito fundamental.

A temática é tanto mais importante em termos de planificação, quanto o


sejam os objectivos pretendidos com a sua criação – se se pretende com
esta nova tributação apenas criar um novo imposto ou antes reestruturar
o sistema fiscal, abolindo, substituindo ou adaptando os restantes
impostos, de forma a que a sua implementação (a dos impostos ambientais)
não aumente a carga fiscal global.

4 – Os principais impostos do sistema fiscal português

O sistema fiscal português actualmente em vigor é o resultado de várias


reformas e é constituído por um conjunto de impostos estaduais e locais
que incidem sobre o rendimento, o património e a despesa. Para além
destes impostos existem outros que tributam actos ou situações
específicas e ainda as contribuições para a Segurança Social.

No que respeita à tributação directa, e após a respectiva reforma


ocorrida em 1989, ela é operada através da tributação única sobre o
rendimento, distinguindo nesta a das pessoas singulares e a das pessoas
colectivas. Quanto às pessoas singulares temos o Imposto sobre o
Rendimento das Pessoas Singulares (IRS) e quanto às colectivas o
Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas (IRC).
Trata-se de impostos directos sobre o rendimento, estaduais, de
obrigação periódica.

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O IRS visa tributar, de forma progressiva e global, os rendimentos
detidos pelas pessoas singulares residentes no território português e por
não residentes que obtenham rendimentos sujeitos a tributação em
Portugal. Segundo o art.º 104.º do n.º 1 da CRP, “ o imposto sobre o
rendimento pessoal visa a diminuição das desigualdades e ser á́ único e
progressivo, tendo em conta as necessidades e os rendimentos do
agregado familiar”. Em algumas situações a progressividade do imposto é
afastada , como acontece com os rendimentos sujeitos à aplicação de
taxas liberatórias e taxas especiais, que apresentam natureza
proporcional.

O IRC é um imposto sobre o lucro tributável das pessoas colectivas de


direito publico ou privado, que exerçam, a título principal, uma actividade
comercial, industrial ou agrícola, com sede ou direcção efectiva em
território português, bem como sobre os rendimentos de pessoas
colectivas não residentes, mas com rendimentos tributáveis gerados no
território português.

Ambos estes impostos resultaram da Reforma Fiscal que entrou em vigor


em 1 de Janeiro de 1989, mas foram objecto de remodelações nos últimos
anos.

A tributação directa é ainda complementada pela existência de um


imposto, também periódico, cuja receita é afectada aos municípios, que é o
Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI).

O IMI incide sobre o valor patrimonial tributário dos prédios rústicos e


urbanos situados no território nacional, constituindo receita dos
municípios onde os mesmos se localizam, visto o seu pagamento como uma
“contrapartida” dos benefícios que os proprietários recebem com obras e
serviços que o município proporciona. O valor da prestação a pagar
depende, pois, não do rendimento que o prédio rústico ou urbano pode
proporcionar, mas do seu valor patrimonial.

Sobre o património incidem também o Imposto de Selo (algumas das suas


verbas) no respeitante à tributação das aquisições a título gratuito, por
acto entre vivos (doações) ou mortis causa (heranças) e o Imposto
Municipal sobre Transmissões Onerosas (IMT) no respeitante à
tributação das aquisições a título oneroso, incidindo sobre as transmissões
onerosas de imóveis expressamente definidas (transmissão do direito de
propriedade ou de figuras parcelares desse direito), qualquer que seja o
título por que se operem, sendo o conceito de imóvel um conceito

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específico definido no respectivo código. Trata-se, em ambos os casos, de
impostos de obrigação única.

Em sede de tributação indirecta, do consumo ou da despesa, o papel


fundamental cabe ao Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) como
imposto de âmbito geral, e aos impostos aduaneiros, existindo ainda
Impostos Especiais sobre alguns Consumos (IEC), como é o caso dos que
incidem sobre álcool e bebidas alcoólicas, tabacos, e óleos minerais.
O IVA é um imposto de matriz comunitária (a sua introdução, com uma
disciplina harmonizada, resulta do processo de integração de Portugal na
União Europeia), plurifásico (envolve todas as fases ou estádios do
processo de produção e distribuição dos bens), que atinge
tendencialmente todos os actos de consumo através do método do crédito
do imposto. Este método assegura que a carga fiscal do imposto recaia, a
final, sobre os consumidores, já que os operadores económicos, obrigados
a liquidar o IVA a jusante, nas suas vendas e prestações de serviços,
podem deduzir o montante do imposto suportado pelos respectivos
fornecedores, sendo entregue ao Estado por cada operador, apenas a
parte relativa ao “valor acrescentado” em cada fase.

O imposto sobre o álcool e as bebidas alcoólicas, também designado pela


sigla IABA, incide sobre a cerveja, o vinho, outras bebidas fermentadas,
os produtos intermédios e as bebidas espirituosas – genericamente
chamados bebidas alcoólicas – e ainda sobre o álcool etílico –
genericamente designado por álcool. A definição material dos produtos
mencionados é remetida para documentos harmonizadores de natureza
comunitária. O imposto sobre o tabaco incide sobre cigarros, charutos,
cigarrilhas e quaisquer outros tabacos de fumar. O imposto sobre
produtos petrolíferos e energéticos objectiva, incide sobre 4 categorias
de bens: óleos minerais aí considerados; produtos para fins de venda ou
utilização como carburantes; demais hidrocarbonetos que visem a venda ou
uso como combustível (com excepção da turfa e do gás natural) e alguns
tipos de electricidade .

O Imposto de Selo, com uma natureza híbrida suscitando muitas dúvidas e


reservas de conceituação, costuma ser apresentado como um imposto
indirecto, incidindo sobre os atos, contratos, documentos, títulos, livros,
papéis e outros factos, previstos na Tabela Geral, ocorridos em Portugal e
não sujeitos ou isentos de IVA, tendo vindo, vindo após a reforma da
tributação do património a abranger também as transmissões gratuitas
para outros herdeiros que não cônjuges, ascendentes e descendentes.

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Como impostos de menor importância, também eles difíceis de conceituar
por vezes, apresentam-se, entre outros, o ISV - Imposto Sobre Veículos,
o IUC - Imposto Único de Circulação e a Contribuição audiovisual

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