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1ª PARTE: INTRODUÇÃO AO DIREITO FINANCEIRO

I. A atividade financeira do Estado


1. O Estado e as necessidades públicas
2. Conceito de atividade financeira do Estado
3. Características da atividade financeira do Estado
4. Fiscalidade e extrafiscalidade
5. Serviços Públicos
6. Fazenda Pública
II. Ciência das Finanças e Direito Financeiro
7. 1. Economia Política e Ciência das Finanças
8. 2. Direito Financeiro
9. 3. Noção de Finanças Públicas

- Marcus Abraham. Curso de Direito Financeiro Brasileiro. 3ª ed. Rio de Janeiro:


Forense, 2015. - Regis Fernandes de Oliveira. Curso de Direito Financeiro. 6ª
ed. São Paulo: RT, 2014. - Leituras de debate.

Leitura de debate: André Castro Carvalho. Uma Teoria de Direito Constitucional


Financeiro e Direito Orçamentário Substantivo no Brasil. In: José Mauricio Conti;
Fernando Facury Scaff (Coord.) Orçamentos Públicos e Direito Financeiro. São
Paulo: RT, 2011, p. 41-79.

Direito Financeiro passou a ser disciplina obrigatória na primeira fase da OAB.


Como o Estado obtém recursos e como o Estado gasta esses recursos. Isso
reflete o reconhecimento da importância da disciplina, que também mais
recentemente passou a ser obrigatória nos cursos de Direito.

Considero que as questões sociais e políticas agora em pauta, do orçamento


secreto e as alterações e discussões constitucionais sobre o regime de
precatórios, e o próprio tratamento governamental da COVID 19, os reflexos nas
contas públicas, relacionadas à EC que colocou teto aos gatos públicos,
mostram que um bom jurista, um bom advogado, operador do Direto precisa
entender e estudar o Direito Financeiro.

I. A atividade financeira do Estado


Como uma introdução à disciplina é importante a gente entender o que é o Direito
Financeiro, como ele se coloca historicamente dentro do direito público. A
faculdade de Direito da UERJ tem, desde o professor Ricardo Lobo Torres, que
é o grande nome, a grande referência da linha aqui na UERJ, uma devoção ao
Direito Financeiro que não era comum. Aqui na UERJ o direito financeiro é
disciplina obrigatória a bastante tempo, inclusive com 4 períodos chamando
Financeiro I, II, 3 e 4, e quando foi criada a linha de pesquisa específica na pós-
graduação, mais ou menos em 2009, ela já nasce como uma linha de Finanças
Públicas e Tributação. Isso porque a gente vai ver mais profundamente, houve
um percurso histórico científico que se inicia na Economia Política, passa pela
Ciência da Finanças, depois pelo Direito Administrativo, para se especializar em
Direito Fiannceiro e e aí sim em Direito Tributário.

Então a economia política vocês tiveram economia política 1 e 2, no 1º e 02º


período, direito administrativo no 05º e 06º, agora no 07º período até o final da
graduação vocês vão estudar Direito Financeiro e tributário. Então essa estrutura
da grade não é a toda, ela segue a evolução do pensamento científico pra que
vocês possam entender e apreender as disciplinas.

Sempre como ciência, então dentro de uma metodologia científica, com a


estruturação por conceitos, classificações, um processo descritivo e prescritivo,
na economia política se estuda os processos de produção, circulação e
distribuição de riquezas de acordo com as formas de organização social e
política do Estado. Então a economia política fornece a ideologia, e os dados
necessários pra formulação de políticas públicas. É lugar comum dizer que Adam
Smith quem deu cientificidade à Economia Política, com seu clássico dos
Clássicos que é a Riqueza das Nações, que é de 1776, mas já havia muitos
estudos científicos antes dele, no Cameralismo alemão do século XVII e com os
fisiocratas francesas no século XVIII.

Mas, de fato, em relação às Finanças Públicas foi Adam Smith quem


sistematizou, e aí no Livro V da Riqueza das Nações.. Riqueza das Nações que
tem 1400 páginas... e nesse Livro V Adam Smith trata dos gastos do soberano,
das fontes de arrecadação e das dívidas públicas.. e tem uma brincadeira que
se faz que é a única coisa que sempre foi pública é a dívida.

As Finanças Públicas se emancipam da economia política como uma ciência


jurídica, como um Direito Fiannceiro, apenas anos depois, já no final do século
XIX tá.. Na Itália na chamada Escola de Pavia, e na Alemanha com Otto Mayer,
onde se passou a estudar Dirieito Fiannceiro e Tributário dentro do Direito
Administrativo. E passa a ser considerada uma ciência específica e um ramo do
Direito...

O Direito administrativo, como ramo do direito público, regula toda a estruturação


jurídica que permite o funcionamento da máquina estatal, da burocracia estatal.
E daí o desprendimento da Ciência das Finanças, ou seja, do Direito Financeiro
como um ramo que estuda a atividade financeira do Estado.

Claro que dentro dessa atividade financeira, sempre estiveram os estudos sobre
a forma de arrecadação, formas de capitalização do Estado.. forma do Estado
conseguir riquezas, arrumar dinheiro... E como a gente vai ver mais pra frente, o
tributo sempre foi tão relevante como instrumento arrecadatório e como
instrumento político, que o Direito Tributário se tornou uma disciplina própria,
mas que deve ser enxergado dentro da ciência do Direito Financeiro..

Como a gente vai ver mas eu já vou dar um spoiler, os tributos estão ligados à
própria formação do estado Moderno, porque foi o objetivo de limitar o poder de
tributar que levou a promulgação da Carta Magna inglesa, em 1215, passando
pela revolução americana e independência dos Estados Unidos, revolução
francesa e posterior declaração de direitos o Homem e do Cidadão... No Brasil
a inconfidência mineira e a revolta com a aumento da tributação pela derrama, e
até pelo movimento sufragista feminino, movimento pelo direito de votar.. No
vote, no tax.. se eu não posso votar eu não posso pagar tributo. Então
intimamente ligado à cidadania como a gente vai ver...

O Direito Tributário também é considerado como tendo uma certidão de


nascimento, que é o Código Tributário do Reich Alemão de 1919, que codificou,
pela primeira vez as regras e princípios sobre a relação entre o Fisco, o Estado
Fiscal e os contribuintes. E aí se passou a tratar o direito tributário realmente
independente do direito administrativo. Então foi depois da 01ª Guerra mundial,
como um evento histórico que se pode imaginar gerador de uma grave crise
econômica nos países envolvidos, que se passou a sistematizar, a se normatizar
o dreito tributário.. Primeiro na Alemanha, seguindo aí pros demais países da
Europa, Itália, Ástria, Espanha, França e pros Estados Unidos.

No Brasil, a disciplina do Direito Financeiro foi sistematizada só a partir de 1964,


a partir da da publicação da Lei 4.320/64, que estabelece normas gerais pra
elaborar orçamentos públicos e até hoje está vigente .. Foi recepcionada pela
CF/88 como lei complementar, por ser norma geral de direito financeiro. Claro
que antes disso já se discutia em leis e academicamente a atividade financeira
do Estado, as constituições desde a constituição imperial de 1824 já previa
fontes de arrecadação,, mas essa foi a primeira sistematização normativa, em
lei, da matéria.

Então nesse momento de 64, a gente ainda não tinha a separação didática, não
havia separação científica entre direito direito financeiro e direito tributário. O que
se tinha era uma ciência das finanças. E sequer na Lei 4320/64 a gente tem
muita previsão tributária.. – o artigo 9o estabeleceu a definição de tributo e o
artigo 11 classificou as receitas entre correntes e de capital. Mas logo depois,
em 66 veio o Código Tributário Nacional, como decorrência da importante
Emenda Constitucional 18/65 à então Constituição de 46.

Feito esse histórico, o que a gente vê hoje é o expressivo desenvolvimento do


Direito Tributário.. mas ele ainda se mantém como um ramo do Direito
Financeiro, como uma parte do Direito Financeiro, então uma parte da ciência
do direito financeiro. Como se o direito financeiro fosse o corpo, e o direito
tributário uma parte desse corpo. A relação entre Direito financeiro e direito
tributário é de todo e parte.

A gente precisa compreender os princípios, a estrutura do direito financeiro pra


alcançar a parte que é o direito tributário.

Porque o que é o Direito Financeiro, como ciência jurídica, é o estudo da


atividade estatal que tem por objeto a obtenção de recursos voltados para o
funcionamento da maquina estatal, ou seja, o estudo da atividade de obtenção
de receitas públicas. E o tributo é apenas uma das espécies de receitas públicas.
Como eu já falei, a receita pública mais importante, é verdade, mas
cientificamente é apenas uma das fontes de receitas.. Nós temos outras receitas
como as receitas patrimoniais, receitas financeiras.

Essas são as formas de arrecadação para que o Estado tenha meios de financiar
sua atividade, financiar as atividades públicas.. financiar os serviços que visam
satisfazer essas necessidades públicas.

E ainda há uma divergência doutrinária se o Direito Financeiro é uma ciência


autônoma ou se é apenas o direito positivo inserido dentro da Ciência das
Finanças. Pra Rubens Gomes de Sousa, é uma disciplina que estuda o
ordenamento jurídico das finanças do Estado e as relações jurídicas por ele
criadas no desempenho de sua atividade financeira. Ou seja, é uma Ciência do
Direito que disciplina, que tem como objeto o direito positivo. Já pra Ricardo Lobo
Torres, em sentido contrário a isso, entende que o Direito Financeiro não é uma
ciência, a ciência é a Ciência das Finanças.. O Direito financeiro seria o conjunto
das normas. Ou seja, pra Lobo Torres o Direito financeiro não é um sistema
descritivo, de análise crítica das normas, é apenas o direito positivo em si, o
sistema prescritivo.

Aqui na nossa disciplina a gente vai tratar o Direito Financeiro como ciência,
como o conjunto de enunciados descritivos desse conjunto de normas e
princípios que compõem o Direito Financeiro Positivo. Mas o que é mais
importante mesmo é compreensão da chamada atividade financeira do Estado.

3. A atividade financeira do Estado

Bom primeiro a gente te que ter como premissa o que é Estado, né.. O que vocês
já estudaram lá em teoria geral do direito, em direito constitucional. É uma
premissa nuclear. Éstado como um território soberano, que tem um povo e um
governo.. e que existe exatamente pra satisfazer as necessidades desse povo.
Necessidade de proteção contra invasão de outros povos, proteção externa,
necessidade de proteção interna, segurança, e aí a depender do momento
histórico, as necessidades públicas evoluem, pros serviços públicos de
educação, saúde, infraestrutura de energia, de estrada... E isso também está
ligado à evolução histórica dos tipos de Estado e do papel do Estado na
economia.. mais ou menos intevencionaista. Porque obviamente toda atividade
do Estado, ou seja, das instituições que compõe o estado, e aí, legislativo,
executivo e judiciário, tanto da manutenção da máquina estatal quanto do efetivo
serviço prestado, tudo tem um custo.. os direitos não nascem em árvore.. que é
uma expressão muito boa da Teoria dos Custos dos Direitos, que é trazida pelo
professor Flávio Galdino, professor de processo civil aqui da UERJ .. Apesar do
que há autores que defendem numa Teoria Monetária mOderna que o Estado
tem o poder de imprimir moeda, independente de lastro econômico, pra
satisfazer as necessidades públicas.. O professor Ricardo Lodi é um defensor
dessa ideia.

Aliomar Baleeiro, que é um importantíssimo doutrinador do Direito Financeiro e


tributário, no seu clássico Uma Introdução ao Estudo das Finanças, o Estado
tem “além da função de órgão político, monopolizador do poder, o caráter de
sistema orgânico de serviços públicos para satisfazer as necessidades gerais da
população.

As atividades do Estado, através de seus agentes e órgãos e dotadas de


naturezas diversas – política, social, administrativa, econômica e financeira –
estão todas voltadas para a satisfação das necessidades públicas. Essa é a
atribuição essencial do Estado. E o Estado vai cumprir essas necessidades
públicas dentro de uma organização em funções estatais – legislativa,
administrativa e judicial – exercidas pelos órgãos e agentes de seus três poderes
constitucionalmente estabelecidos – Legislativo, Executivo e Judiciário.

No Brasil atualmente, as necessidades públicas devem ser alcançadas pela


União, Estados e Municípios, então são três esferas de repartição de poder de
repartição de competências para essa satisfação. E cumprem isso isoladamente
ou em regime de cooperação.

E o que seriam necessidades públicas, que é um conceito abstrato, como eu


falei, construído historicamente no tempo?

Bom, no Brasil contemporâneo é a Constituição Federal de 1988, que direciona


isso... A partir do objetivo constitucional trazido no artigo 3º da Constituição, os
três entes, atavés dos três poderes, devem, ou pelo menos deveriam, buscar
construir uma sociedade livre, justa e solidária.. Buscar o desenvolvimento
nacional, a erradicação da pobreza e da marginalização, a redução das
desigualdades sociais e regionais, a promoção do bem estar da coletividade (art.
3º, CF/88). Então necessidades públicas seria satisfazer os interesses mais
relevantes da sociedade. Mas isso continua muito abstrato, realmente. E existe
um campo de discricionariedade administrativa, discricionariedade legislativa de
eleição das políticas públicas, pra concretização desses objetivos. E como é
inerente à discricionariedade, esse limite tem como parâmetro a interpretação
constitucional. Então um gasto público, previsto em lei, que ao invés de contribuir
pra erradicar a pobreza ou a marginalização contribui pra aumentar a pobreza,
seria inconstitucional.

Pra gente saber o alcance do que seriam as necessidades públicas, é preciso


diferenciar de necessidades individuais de necessidades gerais e coletivas. Só
são necessidades públicas as necessidades gerais ou coletivas eleitas como
necessidades públicas. E devem ser eleitas como necessidades públicas as que
precisam da intervenção do estado pra satisfação, as que precisam de atuação
do Estado. Esse é o ponto central que diferencia.

O Aliomar Baleeiro afirma que “todas as necessidades públicas são coletivas,


mas a recíproca está excluída, pois existem necessidades de interesse geral ou
coletiva que não são necessidades públicas”.

E aí qual seria o critério de eleição das necessidades públicas? E aí a decisão é


dos agentes políticos.. que são as pessoas eleitas democraticamente
exatamente pra fazer essa escolha pela gente. É uma escolha, como eu disse,
discricionária, mas que deve ser estabelecida no Direito Positivo, tanto na
Constituição Federal quanto na legislação infraconstitucional.

Se estabelecida especificamente na Constituição Federal, sua satisfação torna-


se uma obrigação do Estado que independe de sua previsão pelo legislador
ordinário (saúde básica, educação infantil, etc). E outras necessidades não
previstas espeificadamente na constituição podem ser eleitas pelo legislador
ordinário se estiverem vinculadas aos objetivos constitucionais.

Então as necessidades eleitas pelo constituinte vinculam as gerações futuras,


porque seir,a em regra, cláusulas pétras, por terem seus núcleos vinculados a
direitos fundamentais, vida, saúde, segurança, prestação jurisdicional.. E
necessidades públicas eleitas pelo legislador ordinária seriam mais voláteis, com
alterações a depender da composição do congresso, do governo,
reestabelecendo a discussão a cada eleição.

E a eleição das necessidades públicas devem ser positivadas, devem estar


previstas em lei, e essas leis são as leis orçamentárias.. Porque como eu falei
os direitos tem um custo, e esses recursos financeiros são limitados.. Deve haver
uma previsão sistemática de quanto de recursos se tem, pra saber quanto se
pode gastar e aonde se quer gastar. Sem lei, não há que se falar em necessidade
pública a ser satisfeita pelo Estado. Essa é a máxima do princípio da legalidade
no dispêndio dos recursos públicos.

Então pra vocês definirem aí no caderno, “necessidade pública é aquela


necessidade coletiva ou geral que cabe ao Estado satisfazer, em decorrência de
uma decisão política e desde que seja veiculada por norma jurídica”.

Pra vocês definem aí no caderno: pra satisfazer as necessidades públicas, o


Estado precisa de recursos financeiros e precisa de atividades voltadas para a
obtenção, gestão e aplicação desses recursos. E atividade financeira do estado
é, então, essa atividade estatal, consistente em obter, gerir e despender os
recursos suficientes para custear a satisfação das necessidades públicas, é a
denominada atividade financeira do Estado e que vem a ser objeto de regulação
pelo conjunto de normas jurídicas e princípios que compõem o Direito Financeiro
como Direito Positivo.

De novo, porque isso é o que mais importa da aula de hoje, o conceito chave do
direito financeiro é a atividade financeira do Estado, que emana do poder ou da
soberania financeira do Estado. Então a atividade financeira é uma das
manifestações da soberania estatal.

E na perspectiva contemporânea do Estado democrático de direito, o Estado


Fiscal contemporâneo, como Estado fiscal democrático e de direito, é aquele que
pratica suas atividades financeiras em torno da melhor satisfação dos direitos
fundamentais – na vertente da arrecadação de receitas, ele deve impor tributos
aos cidadãos que sejam configurados e exigidos em respeito aos direitos
fundamentais; na vertente das despesas, deve buscar a melhor promoção
possível dos direitos fundamentais, inclusive dos direitos sociais e econômicos
que requerem prestações estatais positivas.

Características da atividade financeira do Estado

1) PESSOA JURPÍDICA DE DIREITO PÚBLICO – relacionado à soberania.


Para que seja caracterizada a atividade financeira do Estado, é
necessária a participação de um ente público em seu desenvolvimento;
2) CONTEÚDO ECONÔMICO. a atividade financeira do Estado é espécie
de atividade administrativa que possui conteúdo econômico. Isso que
diferencia a atividade financeira de outras atividades administrativas.
3) CONTEÚDO MONETÁRIO. OBJETO O DINJHEIRO - Atualmente, o
objeto da atividade financeira do Estado é o dinheiro. Porque pra prestar
os serviços públicos, as atividades públicas é preciso dinheiro.
4) INSTRUMNTAL – e outra característica importantíssima é a
instrumentalidade, porque se trata de uma atividade que é instrumental
para outras atividades, pra prestação de serviços pra promoção do bem
público. A atividade financeira não é um fim em si mesma. Mas apear
dessa característica ser muito importante, a gente não pode afirmar que
ela é sempre apenas instrumental. Porque nem sempre a atividade
financeira tem um cunho arrecadatório. Pode ter também um cunho
regulatório, de regular a economia, e um cunho comportamental, de
induzir comportamentos, induzir ações ou seja, uma finalidade extrafiscal.
Nesses casos, a atividade financeira produz, por si só, modificações
sociais e econômicas relevantes.

Então, a função intervencionista na economia da atividade financeira do


Estado é inegável, tanto do ponto de vista descritivo como normativo. E essa
intervenção não é puramente neutra, ela produz um impacto econômico e
social. Isso é um posicionamento ideológico, tá.. Há autores que defendem
que do ponto de vista arrecadatório a atividade financeira precisa ser neutra,
seria a Teoria do Fiscalismo.
Já a doutrina da extrafiscalidade, do extrafiscalismo, entende que a atividade
financeira do Estado não serve apenas para custear a satisfação das
necessidades públicas, mas também desempenha papel fundamental na
regulação da vida econômica e social do país através de intervenções que
provocam modificações nas estruturas econômicas e sociais existentes.
Desde Baleeiro, e a maioria dos doutrinadores, incluindo o professor Carlos
Alexandre.

O estado tem um papel de liderança no processo de redistribuição da renda


nacional, e isso parece claro da Constituição de 88.

Um intervencionismo que teria níveis, a depender dos projetos dos governos


eleitos.. Já se chegou numa economia planificada, que é quando o estado
estabelece preços de produtos e serviços, a modelos mais neoliberais, como
o atual de menos intervenção com privatizações, terceirizações.. mas é
impossível que não haja intervenção, porque a própria função do estado é
intervir.

É arrecadar pra de alguma forma redistribuir renda através dos serviços


públicos. Enbtão quando tributa pra custear a educação e a saúde, está
redistribuindo receita... e alguns tributos, como as contribuições sociais e
contribuição de intervenção no domínio econômico (CIDES0 são muito
evidentes nesse sentido de redistribuição de receitas, – CIDE, previstas no
art. 149 da CF/88. Como exemplo, temos a contribuição ao SEBRAE, onde
as médias e grandes empresas pagam um tributo cuja receita é destinada ao
financiamento de programas voltados ao desenvolvimento das micro e
pequenas empresas. Com isso, o Estado arrecada de um setor
economicamente mais forte para custear serviços em favor de setor
empresarial concorrente e economicamente mais frágil. A própria
Constituição Federal, em seus arts. 170, IX e 179, determina que essa
espécie de intervenção seja realizada.

Resumindo: A atividade financeira do Estado é, ao mesmo tempo e em diferentes


medidas, instrumental e intervencionista.

3.3. Serviços Públicos


É através dos serviços públicos que o Estado materializa esta satisfação das
necessidades públicas. Serviço público é, então, o conjunto de pessoas e bens,
sob a responsabilidade do Estado, através do qual ele satisfaz as necessidades
públicas. Fica a clara a relação íntima entre a atividade financeira do Estado e
os serviços públicos: através da atividade financeira, o Estado obtém os recursos
que irão custear os serviços públicos, com o objetivo de satisfazer as
necessidades públicas.

E, novamente, como as receitas são limitadas, ada momento histórico refletirá


as necessidades que prioritariamente serão satisfeitas.

Modernamente, como a gente sabe e já aprendeu em direito administrativo,


esses serviços também podem ser prestados por empresas particulares, desde
que devidamente concedidos pelo Estado. A concessão, ou permissão, só
poderá ocorrer se devidamente previsto na Constituição, como ocorre nos
incisos XI e XII do art. 21 da CF/88. E essa questão pacífica na doutrina doutrina,
porque alguns autores entendem que os serviços públicos são apenas aqueles
prestados diretamente pelo Estado, mas a maioria entende que os serviços
prestados por particulares mediante concessão ou permissão do Estado também
compreendem o conceito de serviços públicos, por que devem ser prestados sob
o regime de Direito Público.

3.4. Fazenda Pública

A Fazenda Pública representa a parcela do Estado responsável pela


administração, pela gestão, da atividade financeira do Estado. Na esfera federal,
estadual ou municipal,.. Fazenda federal, fazenda estadual e fazenda municipal.

Alguém tem ideia porque do nome Fazenda Pública?

Porque a riqueza no inciso do estado, que era um estado Patrimonial, um estado


proprietário de terras, vinha exatamente dessas terras, dessas fazendas. E com
isso na língua portuguesa, fazenda significa não só “propriedade rural”, como
também quer dizer “tesouro público” em português.

Do ponto de vista subjetivo, de pessoas e bens cuja finalidade é sevir a essa


atividade, estaria dentro de um conceito de Administração Pública Financeira.
Os órgãos, as instituições responsáveis por essa gestão da receitas,
arrecadação de receitas e de despesas. Outro sinônimo de Fazenda Pública é
ERÁRIO. E não se pode falar em erário público. É um erro comum, mas que
vocês não vão cometer. Porque Erário significa tesouro público.. é uma
redundância erada falar erário público. É só erário mesmo.

No âmbito da Fazenda Publica Nacional, nós temos o hoje chamado Ministério


da Economia...

Que era chamado de Ministério da Fazenda desde 1891, então com a


proclamação da República, e se tornou Ministério da Economia, pra reduzir o
número de ministérios pelo governo Bolsonaro, o que já tinha acontecido
também no governo Color, mas depois foi desfeito pelo FHC. NO governo
Bolsonaro se criaram alguns super ministérios, e entre eles a Economia que foi
a fusão do Mistério da Fazenda com o do Planejamento, Indústria, Comércio
Exterior e parte do Ministério do Trabalho.

Na área Federal nós temos órgãos como a Secretaria da Receita Federal como
órgão responsável pela arrecadação e fiscalização da maior parte dos tributos
de competência da União Federal, o CARF (conselho administrativo de recursos
fiscais), que é um tribunal administrativo paritário, formado por pessoas
indicadas pelo governo e pelos contribuintes, setores da economia, e a PGFN.
Nas Fazenda Pública Estadual e a Municipal temos as Secetarias estaduais e
Municipais de Fazenda, que a gente chama de SEFAZ. A maioria dos estados
tem conselhos de contribuintes e de recursos fiscais administrativos, e alguns
municípios tem seu próprio conselho de recursos, como é o caso do Rio de
Janeiro, Niterói e o Município de Serra no Espírito santos.

Alguns Municípios sequer tem secretaria de fazenda, não tem secretário de


fazenda, e aí o responsável é o próprio prefeito.

Isso é a perspectiva subjetiva. Na perspectiva objetiva, a definição é de Ricardo


Lobo Torres, pra quem Fazenda Pública corresponde ao “complexo dos recursos
e obrigações financeiras do Estado. Constitui-se pelos recursos públicos, que
compreendem assim os direitos criados pela legislação e consignados no
orçamento (créditos tributários, direitos derivados da emissão de títulos da dívida
pública, direitos patrimoniais) como os ingressos, isto é, os fundos que
efetivamente afluem ao Tesouro (prestações tributárias, produtos da dívida
pública, rendimentos patrimoniais). Abrange também as obrigações financeiras,
assumidas de acordo com a permissão da lei ou a prévia autorização do
orçamento. Então corresponde a todos os ingressos e previsão de despesas
públicas.

A relação do Direito Financeiro com outros ramos do Direito

O Direito é uma ciência subdividida em vários ramos que se inter-relacionam


considerando a hierarquia das normas jurídicas e critérios de especificidade. A
doutrina nacional, em sua maioria, inclina-se à unicidade do direito, enquanto
alguns poucos ainda enxergam a autonomia de diversos ramos do Direito. Nós
temos a Constituição, eo Direito Constitucional que irradia por todo o
ordenamento. Normas com status de lei complementar, que são normas
nacionais que trazem normas gerai, leis ordinárias e normas infralegais. Tudo se
interconectando nesse critério hierárquico e de especialidade.. Uma norma mais
específica de mesma hierarquia prevalece. Estão Financeiro relaciona-se com
os outros ramos do Direito.

Sendo possível ou não cogitar-se de autonomia de algum ramo do Direito, é certo


que o estudo isolado de qualquer ramo não se mostra aconselhável. A análise
de um ramo do Direito pressupõe seu estudo em conformidade com outros
ramos, como partes que se integram para a formação de um todo. Ademais, em
tempos de constitucionalização do Direito, não se pode cogitar, hoje, do
conhecimento de qualquer ramo do Direito sem antes termos a exata noção do
alcance do Direito Constitucional sobre o ramo estudado.

Com o Direito Financeiro não é diferente, e é na Constituição, mais


especificamente na Constituição Financeira que vamos começar a ver aula que
vem, que estão as regras fundamentais do Direito Financeiro.

O Direito Financeiro, que como vismo, pode ser tido como um ramo do Direito
Administrativo, no sentido de ser a atividade financeira do Estado típica atividade
administrativa. No Direito Administrativo encontraremos regras e princípios que
norteiam o administrador no desempenho da atividade financeira do Estado. No
concernente ao Direito Penal, algumas de suas normas de conduta são voltadas
para inibir os chamados crimes contra a Administração Pública. Portanto, é no
ordenamento jurídico penal que estão previstas as sanções para aquelas
condutas que contrariem o Direito Financeiro Positivo. Já o Direito Civil, apesar
de ramo do Direito Privado, possui princípios e institutos que são aplicados em
diversos ramos do Direito, inclusive em relação ao Direito Financeiro.

Ocorre inegável influência da atividade financeira do Estado no desempenho das


atividades desenvolvidas pelas sociedades mercantis, não se podendo negar a
interação entre o Direito Financeiro e o Direito Empresarial.

O Direito Tributário é ramo do Direito Financeiro que regula especificamente a


arrecadação tributária, uma das facetas da atividade financeira do Estado.

Há relação direta com Direito Econômico, previdenciário.

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