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FISCAL
PARTE GERAL
Por opção da autora o texto foi redigido não tendo em conta o novo acordo ortográfico.
Porto, aos 02 de Setembro de 2022
Maria Odete Oliveira
FACULDADE DE DIREITO E CIÊNCIA POLÍTICA- ULP - Ano lectivo 2022/2023 Maria Odete Oliveira 2
Plano do curso – Parte geral
Notas prévias
Abreviaturas
Capítulo I
Direito Financeiro. Direito Tributário. Direito Fiscal. Noção e conteúdo
1 . Introdução. A actividade financeira do Estado
2 . O Direito Financeiro
3 . O Direito Tributário e o Direito Fiscal
4 . Natureza e autonomia do Direito Fiscal
5 – Relações do Direito Fiscal com outros ramos do Direito
5.1 – Direito Fiscal e Direito Constitucional
5.2 – Direito Fiscal e Direito Administrativo
5.3 – Direito Fiscal e Direito Penal
5.4 – Direito Fiscal e Direito Processual
5.5 – Direito Fiscal e Direito Civil
5.6 – Direito Fiscal e Direito Internacional
5.7 – Direito Fiscal e outros ramos de Direito
6 – Direito Fiscal, Ciência Fiscal e Política Fiscal
Capítulo II
O imposto. Conceito. Distinção de figuras afins. Tipologias dos impostos. Principais
impostos do sistema fiscal português.
1 . O imposto – elementos essenciais do conceito.
2 . O imposto – distinção de figuras jurídicas afins
2.1 – Imposto e taxas
2.2 – Imposto e contribuição especial
2.3 – imposto e outras contribuições financeiras a favor de entidades públicas
2.4 – As Contribuições para a Segurança Social
2.5 – Imposto e empréstimo público forçado. Imposto e sanções patrimoniais. Imposto
e requisição. Imposto e apropriação pública.
CAPÍTULO III
As fontes do Direito Fiscal. Categorias de normas fiscais
1. A Lei constitucional. Os princípios constitucionais do Direito Fiscal. Outros aspectos
conexos.
1.1 . O princípio da legalidade tributária e princípio da tipicidade
1.2 . O princípio da igualdade tributária
1.3 . O princípio da segurança jurídica
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1.4 . O princípio proporcionalidade. A neutralidade, a eficiência e a eficácia do sistema
fiscal.
2. O Tratado da União Europeia e outras fontes produtoras de normas tributárias
comunitárias. O Direito Comunitário Fiscal.
3. A Lei
4. O decreto-lei
5. Os tratados internacionais
6. O Regulamento
7. A doutrina e a jurisprudência
8. O costume
9. O contrato.
CAPÍTULO III
A interpretação das normas fiscais
1. Introdução
2. Aspectos relevantes na interpretação das normas tributárias
2.1 . A interpretação literal
2.2. A interpretação restritiva
2.3. A interpretação económica
2.4. A interpretação funcional
3. Os critérios interpretativos constantes da Lei Geral Tributária
4. A integração das lacunas da lei
CAPÍTULO IV
A aplicação das leis fiscais no tempo e no espaço
1. A aplicação das normas fiscais no tempo
2. a aplicação das normas fiscais no espaço
CAPÍTULO VI
O procedimento tributário
1. Introdução
2. O início do procedimento tributário. As acções preparatórias e a liquidação
3. Revisão da liquidação
4. Cobrança. Extinção da obrigação fiscal
CAPÍTULO VII
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As garantias dos contribuintes
CAPÍTULO VIII
As infracções fiscais
ABREVIATURAS UTILIZADAS
CA – Contribuição Autárquica
CC – Código Civil
CIRC – Código do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas
CIRS – Código do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares
CISSD – Código do Imposto sobre Sucessões e Doações
CIVA – Código do Imposto sobre o Valor Acrescentado
CPPT – Código de Procedimento e Processo Tributário
CRP – Constituição da República Portuguesa
CAV – Contribuição Áudio Visual
IMI – Imposto Municipal sobre Imóveis
IMT – Imposto Municipal sobre Transmissões Onerosas de Imóveis
IRC – Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas
IRS – Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares
IS . Imposto de Selo
ISSD – Imposto sobre Sucessões e Doações
IVA – Imposto sobre o Valor Acrescentado
LGT – Lei Geral Tributária
OCDE – Organização de Cooperação e Desenvolvimento Económico
RCPIT – Regime Complementar do Procedimento de Inspecção Tributária
RGIT – Regime Geral das Infracções Tributárias
RJIFA – Regime Geral das Infracções Aduaneiras
RJIFNA – Regime Jurídico das Infracções Fiscais não Aduaneiras
Sisa – Imposto Municipal de Sisa
UE – União Europeia
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CAPITULO I
Direito Financeiro. Direito Tributário. Direito
Fiscal. Noção e conteúdo
"No government can exist without taxation. This money must necessarily be levied on the
people; and the grand art consists of levying so as not to oppress.'' —
Nenhum governo pode existir sem impostos. Esse dinheiro tem, necessariamente, de ser
cobrado às pessoas ; a grande arte consiste em cobrá-lo de forma razoável e sem oprimir os
cidadãos
1
Jorge Miranda, Manual de Direito Constitucional”, Tomo I, 1, 10.ª Edição, Coimbra:
Coimbra Editora, 2014, pág. 52
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Trata-se, como sabemos, duma actividade mediadora ou instrumental, que
não se traduz de uma forma directa na satisfação de necessidades dos
cidadãos, antes se posicionando a montante, ou seja, assegurando as
condições para que a satisfação de tais necessidades possa ser realizada.
2- O Direito Financeiro
2
Maria Eduarda Azevedo, “Manual de Finanças Públicas e Direito Financeiro”, Sociedade
Editora Quid Juris, 2018, pp 13 e ss.
3
António de Sousa Franco, “Dez anos de evolução do Direito Financeiro português”, 1983,
disponível em https://portal. oa.pt
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recursos públicos, todos eles girando em torno de um instituto
fundamental do Direito Financeiro que é o Orçamento do Estado. Neste se
afectam os recursos às várias necessidades colectivas, de acordo com as
opções (sobretudo de carácter político) presentes no órgão de
representação dos cidadãos (Assembleia da República), o qual é
responsável pela sua aprovação, competindo depois a respectiva execução
à Administração Pública.
Uma definição assim tão ampla não dará porém a exacta noção do âmbito
desta disciplina jurídica.
De facto, e se, pelo lado das despesas que incumbem ao Estado, o seu
carácter público é manifesto, algumas questões devem ser equacionadas
pelo lado das receitas. Será que a realidade é a mesma quando o Estado
obtém receitas através dos impostos, ou quando tais receitas são obtidas
por via de empréstimos públicos internos ou internacionais, ou até quando
as receitas do Estado resultam, por hipótese, da sua qualidade de
senhorio de imóveis arrendados, ou de sócio de empresas produtoras de
bens ou de serviços?
É que, não obstante a principal fonte das receitas públicas ser a
resultante da arrecadação de impostos, existem muitas outras cuja
natureza se apresenta bem diferente, natureza essa que não difere
substancialmente das receitas dos particulares.
Assim sendo, variados são os autores que distinguem dois tipos de
receitas estaduais: as receitas de Direito Privado, em que o Estado se
apresenta como se fora um particular, as quais ficarão sujeitas à tutela
jurídica do Direito comum, e as receitas de Direito Público, em que, pelo
facto de o Estado se apresentar como tal (munido dos seus poderes de
autoridade e não em pé de igualdade com os particulares) se justifica uma
tutela jurídica própria, basicamente resultante da necessidade de limitar
os seus poderes de actuação.
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Direito do Crédito Público, a regular o conjunto das operações de crédito
Público.
De facto, seja qual for o critério que utilizemos para a distinção, sempre
resultará a sua qualificação como direito público. Se o critério for o do
interesse subjacente, o carácter público do Direito Fiscal é patente, já
que são interesses colectivos ou públicos que justificam a obrigação de
imposto. Se o critério for o da posição jurídica dos sujeitos da relação
tributária, ou da qualidade em que os mesmos intervêm, neste caso na
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relação jurídica fiscal, também ressalta a natureza pública deste ramo de
direito, uma vez que Estado e contribuinte não actuam em pé de igualdade,
como acontece no direito privado, antes aparecendo o Estado não como um
simples particular mas sim como ente de direito público, revestido dos
seus poderes de autoridade e soberania ou seja de ius imperii.
4
Segundo Saldanha Sanches, citando Marcelo Caetano, a crescente importância do
Direito Fiscal teve as suas consequências na reforma do ensino do direito realizada pela
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No plano legislativo formal, podemos dizer hoje que existem, codificadas,
um conjunto de normas específicas do Direito Fiscal, de que assume
relevância digna de realce a Lei Geral Tributária, aprovada pelo Decreto-
Lei n.º 398/98, de 17 de Dezembro.
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A título exemplificativo abordaremos, de forma breve, algumas das
relações entre o Direito Fiscal e outros ramos de direito.
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Claro que se pode discutir se em tais situações estaremos perante um
Direito Penal Fiscal, um sector especial do Direito Penal, ou antes perante
um Direito Fiscal Penal como sector especial do Direito Fiscal.
Entendemos dever optar por esta segunda abordagem, ou seja considerar
que as normas relativas à previsão e punição das infracções fiscais devem
ser consideradas como Direito Fiscal. Isso resulta desde logo do actual
Regime Geral das Infracções Tributárias (RGIT), recentemente aprovado
pela Lei n.º 15/2001, de 5 de Junho, que abordaremos no final desta
primeira parte do curso.
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Quanto às contraordenações e respectivo processamento, o regime
geral do ilícito de mera ordenação social;
Quanto à responsabilidade civil, as disposições do Código Civil e
legislação complementar;
Quanto à execução das coimas, as disposições do Código de
Procedimento e Processo Tributário.
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Quando esteja em causa a tributação dos rendimentos do trabalho, haverá
certamente que lançar mão dos ensinamentos, normas e princípios do
Direito Laboral. Do mesmo modo, o recurso ao Direito Comercial, etc., etc.
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tributar o rendimento ou o consumo, ou se deve tributar rendimentos
reais ou normais, está a pôr-se questões de política fiscal.
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