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SEBENTA DE
F I N
A N Ç A S
PÚBLICAS
Guilherme Alexandre
Com os apontamentos de
Iara Nóbrega
Índice
Nota Introdutória ........................................................................................................................3
Abreviaturas ................................................................................................................................4
Legislação.....................................................................................................................................6
Distinção entre impostos, taxas, preços, tarifas, «rendas sociais» e contribuições ......27
Classificação de impostos..................................................................................................29
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Nota Introdutória
A presente sebenta, disponibilizada pela Comissão de Curso dos alunos do
2º ano da licenciatura em Direito para o mandato de 2021/2022, foi
elaborada pelo estudante Guilherme Alexandre e revista pelo estudante José Santos, tendo
por base as aulas lecionadas pelos docentes Diogo Feio e Glória Teixeira, bem como a
obra bibliográfica Manual de Direito Fiscal, 6ª edição da Professora Glória Teixeira e
diversos recursos do Governo e Direção Geral do Orçamento.
Para além disso, também foram utilizados apontamentos semanais da estudante Iara
Nóbrega.
Esta sebenta constitui somente um complemento de estudo, não dispensando, por isso, a
leitura das obras obrigatórias e a frequência às aulas teóricas e práticas.
Bom estudo!
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Abreviaturas
Todas as expressões aparecem, na sua primeira ocorrência, por extenso.
Aqui podes consultar as várias abreviaturas, e também alguns termos em latim:
Abv. – Abreviatura
Ad valorem – sobre o valor
ALRs – Assembleias Legislativas Regionais.
Também ALRAA (Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores) e ALRAM
(Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira).
ALs – Autarquias Locais
AP - Administração Pública
AR – Assembleia da República
Art. – Artigo
AT – Autoridade Tributária
BCE – Banco Central Europeu
CAPF – Conselho de Acompanhamento das Políticas Financeiras
CC – Código Civil
CM – Conselho de Ministros
CRP – Constituição da República Portuguesa
De facto – realmente, no plano dos factos
De iure – de direito, no plano jurídico
DF – Direito Fiscal
DGO – Direção Geral do Orçamento
DL – Decreto-Lei
DLR – Decretos Legislativos Regionais
DR – Diário da República
FCM – Fundo de Coesão Municipal
FEF – Fundo de Equilíbrio Financeiro
FGM – Fundo Geral Municipal
FL – Finanças Locais
FP – Finanças Públicas
FR – Finanças Regionais
FSM – Fundo Social Municipal
i.e. – id est, “isto é”, antecede explicações
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IECs – Impostos Especiais sobre o Consumo
IMI – Imposto Municipal Sobre Imóveis
IMT – Imposto Municipal sobre as Transmissões Onerosas de Imóveis
Infra – referência a algo posterior (para baixo)
IRC – Imposto sobre os Rendimentos (de pessoas) Coletivas
IRS – Imposto sobre os Rendimentos (de pessoas) Singulares
IVA – Imposto de Valor Acrescentado
LEO – Lei de Enquadramento Orçamental
LFL – Lei das Finanças Locais
LFR – Lei das Finanças Regionais
LGT – Lei Geral Tributária
LTC – Lei de Organização e Processo do Tribunal de Contas
MF – Ministro das Finanças
N.B. – Nota Breve
ORs – Orçamentos Regionais
PE – Programa de Estabilidade
PEC – Pacto de Estabilidade e Crescimento
PM – Primeiro-Ministro
RAs – Regiões Autónomas
ss – seguintes, utilizado para abreviar enumerações de artigos
SS – Segurança Social
Supra – referência a algo anterior (acima)
TContas – Tribunal de Contas
UEM - União Económica e Monetária
v.g. – verbi gratia, “por exemplo”, antecede exemplos
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Legislação
Constituição da República Portuguesa
Lei de Enquadramento Orçamental
Lei das Finanças Regionais
Lei das Finanças Locais
Lei de Organização e Funcionamento do Tribunal de Contas
Lei Geral Tributária
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Finanças Públicas
Introdução às Finanças Públicas
Algumas das fontes de receita do Estado são preços, por exemplo, através de
empresas públicas, sendo prestado um serviço ao consumidor. Existem também os
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O OE deve cumprir com uma previsão quantitativa (v.g. atribuir 500 milhões de
euros para apoios à floresta) de quanto será gasto na atividade do Estado e entidades
públicas e com uma previsão qualitativa (i.e., prever que impostos pretenderá cobrar,
visto que não sabemos ao certo qual será resultado) das receitas.
É importante porque nos permite relacionar ambas e perceber se está prevista uma
situação de défice, equilíbrio ou excedente.
Falamos de Orçamento de Gerência quando nos queremos referir a uma lógica
de tesouraria: a entrada e saída efetiva de dinheiro do cofre do Estado; relaciona-se com
a execução orçamental.
Falamos de Orçamento de Exercício quando nos queremos referir às despesas e
receitas que irão ser efetuadas devido a créditos e dívidas previstos pelo Estado,
independentemente da altura em que irão acontecer.
No final do ano, é feita a Conta, uma avaliação concreta de natureza financeira
sobre as despesas e receitas que aconteceram no ano a que se refere, e o Balanço, de
natureza patrimonial, listando tudo o que for património e ativos do Estado.
Os cidadãos e contribuintes serão os verdadeiros afetados pelo OE, visto que serão
eles a ver as suas necessidades melhor ou pior satisfeitas, e que irão financiar tudo o que
isso implica. Assim, dada a modalidade representativa da nossa democracia, é no
Parlamento que se concentra a capacidade de escrutínio e a legitimidade para aprovar ou
chumbar a proposta do Governo.
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Controlo e fiscalização:
É feito pelo Parlamento no plano político e pelo Tribunal Constitucional e
Tribunal de Contas (TContas) no plano jurisdicional. Será desenvolvido em
capítulo próprio infra.
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Princípios Orçamentais:
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4. Equilíbrio
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Visto em conjunto com os arts. 11º, 12º e 27º, pretende uma ideia de
equilíbrio no conjunto das administrações públicas, que devem apresentar um
saldo global nulo ou positivo nas suas previsões orçamentais, sendo necessário
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justificar caso tal não aconteça (27º/5 LEO). Tem o objetivo de que, ainda que à
custa de alguma autonomia financeira, as FP possam ser sustentáveis.
N.B.: Todos os critérios enunciados são critérios clássicos com exceção dos
últimos dois. A principal diferenciação é que os primeiros dizem respeito à previsão
orçamental, sendo importantes também para o controlo de cumprimento dessa previsão,
e dizem respeito à política orçamental estadual, enquanto os princípios da transparência
e equidade intergeracional existem mais propriamente numa lógica de organizações
internacionais e da participação de Portugal na UEM, além de se relacionarem mais com
a execução orçamental.
Procedimento Orçamental
Um procedimento é uma série de atos que se encadeia e repete segundo uma lógica
definida. A principal pessoa responsável para este procedimento é o Ministro das
Finanças (MF), coordenando os projetos orçamentais no interior do Governo, gerindo e
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limitando as expetativas dos outros Ministros, e o trabalho mais técnico, por parte da
Direção Geral do Orçamento (DGO). A proposta de lei do OE só está pronta para ser
apresentada à AR após ser aprovada pelo Governo em Conselho de Ministros (CM).
A primeira fase do processo orçamental está prevista nos arts. 32º e ss da LEO:
• Deve existir a apresentação da atualização anual do PE, até dia 15 de abril, na AR,
para efeios de apreciação – não confundir com aprovação.
• O Governo envia o PE à Comissão Europeia (CE) até ao final de abril.
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Em situações especiais, como transições de Governo como a que vivemos, que cumpram
certos critérios (no caso, o critério verificado é o presente na alínea c) do 39º/1 da LEO),
existem prazos especiais para a apresentação e votação da proposta de lei do OE: deve
ser apresentada à AR e enviada à CE no prazo de 90 dias da tomada de posse do novo
Governo, sendo antecedida pela apresentação dos documentos previstos no art. 32º.
Cavaleiros orçamentais
Lei-travão
A lei (ou dipositivo) travão determina a regra geral de que o Parlamento não pode
alterar o OE durante o ano orçamental em que este vigora, por razões de estabilidade e
por ser uma competência confiada ao Governo.
De facto, está presente no artigo 167º/2,3 da CRP que entidades extragovernamentais
não podem apresentar projetos de lei ou referendo que envolvam um aumento das
despesas ou diminuição das receitas no ano económico em curso.
É possível que sejam apresentados projetos, se visarem aumentar a receita, diminuir
a despesa ou se apenas visarem vigência a começar no ano económico seguinte. Caso as
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Execução Orçamental
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São mantidas duas contabilidades diferentes, sendo que uma diz respeito
às despesas realmente efetivadas e outra às despesas que estão autorizadas.
Por exemplo, para um investimento a prazo de 3 anos, será normal existir
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Controlo Orçamental
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Finanças Regionais
Receitas
Além de terem participação nas receitas gerais do Estado, administram o seu património
e dispõem das receitas fiscais nelas geradas: o IRS dos residentes das RA
(independentemente do lugar onde o recebam), do IRC das empresas na RA e do IVA das
operações efetuadas que sejam feitas na respetiva RA, além das demais receitas já
abordadas em contexto das ALs.
As transferências do Estado central para as RAs são trimestrais e obedecem ao artigo 48º
da LFR, que indica a fórmula pela qual são calculados os montantes devidos.
Existe ainda o Fundo de Coesão para as Regiões Ultraperiféricas (49º) que visa apoiar
exclusivamente a execução dos «planos anuais de investimento das regiões autónomas»
perseguindo o fim de «convergência económica com o restante território nacional».
Coordenação e controlo
Observa-se o princípio de subsidiariedade (6º CRP): os órgãos regionais, estando mais
próximos dos problemas, devem ser competentes para definir e executar as medidas que
os resolvem. Devem, na sua atuação, respeitar o princípio da estabilidade orçamental,
mantendo uma relação estável e solidária com o Estado central, cumprindo princípios de
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Quanto à dívida:
Relevam-se os arts. 37º e ss. da LFR. Podemos estar perante:
• Dívida fundada, cujo propósito é financiar investimentos, regularizar
necessidades de execução do Orçamento e pagar outros empréstimos;
• Dívida flutuante, cujo objetivo é fazer face a necessidades mais imediatas
de tesouraria e tem limite de 1,35 vezes em relação à média da receita
corrente liquida, que é cobrado nos últimos 3 exercícios.
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Até ao séc. XVIII os impostos não eram bem aceites pela população, estando mais
presentes taxas – é mais fácil aceitar pagamentos quando recebemos algo em troca. Mais
ainda, a maioria dos impostos eram sobre o consumo e mercadorias sujeitas a obrigações
aduaneiras, sendo os impostos sobre o rendimento uma invenção relativamente recente,
com o objetivo de financiar guerras e defesa nacional dos séculos XVIII, XIX e XX –
tendo, claramente, permanecido após as guerras. Além destes, criaram-se também os
impostos sobre o património e as contribuições obrigatórias – que não deixam, na prática,
de corresponder a impostos. São excessivos, segundo a Professora, e resultam de um
despesismo resultante do Estado Social, pois retiram os rendimentos da sociedade.
No caso português, semelhante também ao espanhol, e devido ao Estado Novo, vimos
com bons olhos um conjunto de reformas em razão da adesão a organizações
internacionais que promoviam o comércio livre e empreendemos várias reformas
económicas, simplificando o nosso sistema fiscal e, por exemplo, reformando o IRS e o
IRC, mas também criando o IVA e harmonizando estes diversos impostos com a EU.
Surgiram também preocupações com a harmonização dos benefícios fiscais e com a sua
transparência, pelo que surgiu o Estatuto dos Benefícios Fiscais – ainda que existam
alguns avulsos. Criaram-se também os impostos municipais (IMI e IMT).
N.B.: A Professora preocupa-se com a carga tributária excessiva no IRS, que considera
poder ser diminuída se existir um aumento no IRC – sendo que, à partida, as pessoas
coletivas terão mais capacidades de suportar esses custos. Aponta ainda que, ao contrário
de outros países, em Portugal os impostos mais eficientes são o IVA e o IRS.
Por fim, relevam-se os IEC’s que, apesar de contrariarem o princípio da neutralidade, que
estudaremos, procuram incentivar mudanças no comportamento dos consumidores em
sentidos de mais ecologia e mais saúde individual, a par de arrecadarem receita fiscal.
Para o nosso estudo, importa ter consciência de que a carga fiscal tem vindo a
aumentar, tendo já ultrapassado os 35% da riqueza nacional na década passada. Em
qualquer transação nos termos da lei estamos perante impostos, desde que nascemos até
que desnascemos. Atualmente, fazendo parte da UE e outras organizações internacionais,
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a nossa legislação deve ser conforme à legislação comunitária e aos seus princípios
fundamentais, como a neutralidade, proporcionalidade e não discriminação – que
veremos mais à frente.
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Atualmente, as tarifas são preços, tendo sido esta equiparação feita no art. 21º da
LFR, aplicando-se em serviços do domínio público e local como abastecimento de água,
tratamento de resíduos, distribuição de energia, etc.
Questiona-se ainda a figura das «rendas sociais», visto que continuam a exigir
um pagamento, mas que é definido abaixo dos valores do mercado concorrencial, de
modo a possibilitar habitação digna a pessoas carenciadas.
As contribuições são obrigatórias e também obedecem ao princípio da dualidade.
Quanto ao critério da existência de uma contraprestação, é questionável. Note-se o
exemplo das contribuições para a SS: as contribuições presentes, por parte dos
trabalhadores dependentes e entidades patronais, servem para pagar as pensões de quem
contribuiu no passado, e as nossas pensões serão pagas por quem pagar as contribuições
no futuro. No entanto, como este sistema, atendendo à situação demográfica do país, se
revela pouco sustentável, fala-se numa crise da SS, e é incerto se haverá, ou em que
medida haverá, esta contraprestação no futuro. O valor relativo destas contribuições
totaliza 34,75% do salário do trabalhador, sendo 11% pago pelo trabalhador e 23,75%
retido na fonte pelo empregador, pagando diretamente ao Estado. Têm sido criadas cada
vez mais contribuições, como uma contribuição criada em 1991 a incidir na valorização
de prédios provocada pela realização de obras públicas em áreas adjacentes, ou a
contribuição extraordinária na indústria farmacêutica no Orçamento do Estado de 2015.
Algumas contribuições parecem fazer sentido, como aquelas que visam corrigir
externalidades negativas – por exemplo, com pesado impacto ambiental, com o intuito de
forçar as empresas a adotar melhores processos de produção – enquanto que outras não
encontram explicações plausíveis, como a contribuição sobre embalagens de plástico
(visto que não levará a alterações práticas e o custo será passado aos consumidores via
aumento do preço), ou ainda contribuições sobre dispositivos médicos – desincentivando
o investimento em bens essenciais à garantia de direitos constitucionalmente previstos.
Importa notar que, não só por cumprimento dos critérios de «imposto», mas
também pelo reconhecimento internacional, nomeadamente pela Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), as contribuições se configuram
como verdadeiros impostos.
N.B.: A Professora argumenta que, considerando este peso das contribuições para
a SS e a carga de IRS com que somos tributados, a manutenção da empregabilidade e dos
bons salários é insustentável. Mais ainda, note-se que, mesmo estando as exceções
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Classificação de impostos
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A interpretação mais competente é a autêntica, feita pelo próprio legislador que criou
a norma, mas têm também valor a interpretação doutrinal, jurisprudencial e a
interpretação administrativa feita pela AT – cujas circulares estão disponíveis online. As
normas fiscais seguem o regime-regra de interpretação disposto no Código Civil (CC).
É exigida cautela na interpretação extensiva em matéria fiscal, apenas se admitindo
em sede de benefícios, e não é admitida a analogia. Tal como no Direito Penal, a
Professora advoga que, se as normas forem de caráter operacional (visarem
procedimentos necessários ao funcionamento dos impostos) e essas favorecerem os
contribuintes, deve ser admitida a aplicação analógica. Remete-se ao princípio da
tipicidade e legalidade fiscal, que emana do art. 103º da CRP.
Aponta-se uma novidade do DF: a interpretação económica, também presente em
outros ramos do Direito ligados à economia e finanças, consiste em analisar os aspetos
económico-financeiros das transações. Para efeitos fiscais, o que importa é o pagamento
do preço, enquanto para o Direito Privado poderia ser a celebração de um contrato. Esta
interpretação releva especialmente quando são utilizados conceitos definidos em outros
ramos do Direito, como sociedade comercial ou instituição financeira, cabendo ao
intérprete recorrer ao sentido definido nesses ramos.
No que respeita a normas internacionais, é feita a remissão para a Convenção de Viena
sobre o Direito dos Tratados e para a boa-fé como parte de pacta sunt servanda.
Técnica Fiscal
1. Incidência
2. Taxa de imposto
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Já adiantamos que a taxa pode ser regressiva (quanto maior a base tributável,
menor a taxa – não existem em Portugal, mas podemos vê-las nos Países Baixos),
progressiva (quanto maior a base tributável, maior a taxa) ou proporcional (a taxa é igual
para todos os casos).
Distingue-se taxa nominal de taxa efetiva, no sentido de que a primeira
corresponde ao afixado em lei e a segunda corresponde ao que é efetivamente pago,
conhecendo o objeto do imposto, as deduções e benefícios aplicáveis.
Podemos ainda falar de taxa marginal para referir o quanto cada contribuinte paga
num determinado escalão progressivo/regressivo, e taxa média para referir a média de
todas essas taxas marginais efetivamente cobradas.
Outra distinção é entre taxas específicas – consideram não só o valor dos bens mas
também a quantidade transacionada (tributar-se-ia de forma diferente a compra de 100
garrafas de Cacho Fresco e a compra de 1000 das mesmas) – e taxas ad valorem – importa
o valor do bem, como nos impostos aduaneiros e IECs.
Distingue-se ainda a generalidades das taxas, que são pagas pelos contribuintes ao
Estado, das taxas sujeitas a retenção na fonte: a entidade empregadora retém desde logo
parte do salário do trabalhador que seria usada no cumprimento de obrigações tributárias,
servindo como um adiantamento ao Estado – visto como algo injusto para trabalhadores
dependentes e pensionistas.
Por fim, note-se que existem taxas mais favoráveis que outras, como na tributação
do IVA, em que determinados produtos vistos como mais essenciais são tributados com
taxas reduzidas ou intermédias, diferente da taxa regular.
3. Liquidação
4. Pagamento
O pagamento pode ser final, se for imposto com um prazo final, como os
periódicos, ou pode ser feito de forma faseada, em determinados casos. Existe ainda o
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pagamento por conta, tendo por base os rendimentos do ano anterior e servindo também
como um adiantamento da receita ao Estado.
O pagamento pode ainda ser feito tempestiva e voluntariamente. Por outro lado,
se existir uma situação de incumprimento (que pode ser do contribuinte ou da AT), pode
existir um processo executivo para obrigar o contribuinte a pagar o que deve, com juros
de mora, ou o pagamento de uma indemnização, também com juros, ao contribuinte, por
parte da AT. Em situações de processo executivo contra o contribuinte, este pode evocar
argumentos de incapacidade financeira para pedir que o pagamento a que está obrigado
seja feito por prestações.
Responsabilidade fiscal
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Representação Fiscal
Direito à Informação
Princípios Fiscais
Estudaremos aqueles com maior relevância para as Finanças Públicas. Note-se que a sua
efetivação em Portugal é escassa, mas o sistema deve procurar guiar-se neste sentido.
1. Neutralidade
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Todo o sistema fiscal deve almejar ser neutro: não alterar o comportamento dos
contribuintes, não tratar de forma diferente situações iguais e não penalizar mais um
contribuinte que outro. Formas de efetivar este princípio são a redução de taxas
progressivas – dando prioridade a taxas proporcionais, a criação de uma base tributária
geral e o fim dos benefícios fiscais. Existia, anteriormente, proporcionalidade em sede de
IRC, mas cessou com a introdução de derramas estaduais. Existem ainda perspetivas
internacionais a considerar neste princípio, como a neutralidade nas importações e
exportações, não favorecendo o investimento dentro ou fora do território para nacionais
ou estrangeiros, e a afirmação deste princípio na Diretiva do IVA, da União Europeia,
que consagra também a proibição da dupla tributação.
2. Equidade
3. Simplicidade
Este princípio pressupõe leis claras, objetivas e, tanto quanto possível, sem exceções.
Idealmente, existiria um único documento com todas as leis fiscais organizadas. Tal
torna-se especialmente difícil de executar dado que os Estados sofrem de «euforia
legislativa», levando a leis avulsas, especiais, extraordinárias. Mais ainda, Smith defende
que deviam ser reduzidas ao mínimo as obrigações acessórias – declarações sobre os
rendimentos e contabilidade, taxas, etc.
4. Eficiência
É um princípio que tem vindo a ser desprezado e que compreende diversas dimensões.
Na vertente económica, o sistema será tão eficiente quanto seja simples e neutral.
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5. Não-retroatividade
Este prende-se com o princípio da legalidade, no sentido de que os impostos devem ser
previstos na lei, ser conformes com esta e nenhum imposto pode ser cobrado sem existir
previsão legal. Isto resulta do art. 103º da CRP.
A questão da retroatividade importa especialmente com atos e contratos que se prolongam
no tempo visto que os gatilhos e os seus efeitos podem mudar com a lei nova, enquanto
uma transação comercial cria e imediatamente cumpre as obrigações fiscais em causa
(v.g., o pagamento do IVA).
A doutrina maioritária considera que, no DF, não existe qualquer tipo de retroatividade,
mesmo que estabeleça um regime mais favorável. Correntes minoritárias, que a
Professora acompanha, defendem que pode existir alguma retroatividade para normas
operacionais (relativas à liquidação e pagamento) se forem mais favoráveis ao
contribuinte. A única situação que parece poder causar retroatividade das leis fiscais em
Portugal seria a necessidade dessa para compatibilizar situações com convenções
internacionais, se essas assim dispuserem, dada a hierarquia das normas.
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