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Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário

SEMINÁRIO V – ICMS - SERVIÇOS

Luiza Purificação Socas

1. Construir a(s) regra(s)-matriz(es) de incidência tributária do ICMS –


Serviços.

Primeiramente, no que tange o antecedente da regra-matriz de


incidência tributária do ICMS – serviços, elenca-se o critério material, ou o
chamado “núcleo” pelo professor Paulo de Barros Carvalho1, posto que é a
condicionante central, dada pelo legislador, quando menciona os outros critérios.
Deste modo, o critério material do ICMS – serviços é formado por um verbo
seguido de seu complemento, quais sejam: prestar – verbo, e serviços de
comunicação ou de transporte (interestadual ou intermunicipal) – complemento.
Quanto ao critério espacial contido no antecedente da regra-matriz de
incidência tributária do ICMS – serviços, evidencia-se a territorialidade do ente
federado estadual e/ou distrital onde o serviço é efetivamente prestado, e
referente ao seu critério temporal aponta-se para o momento de execução ou
entrega do serviço a ser prestado, no primeiro caso, o de comunicação, no
segundo o de transporte.
No que tange o consequente da regra-matriz de incidência tributária
do ICMS – serviços, aduz-se ao critério pessoal, que é relativo ao sujeito ativo –
ente estadual e/ou distrital, responsável pela cobrança do tributo, e sujeito passivo
– o contribuinte que, no caso de serviços de comunicação, será o prestador do
serviço e, no caso de serviços de transporte, será o transportador.

1CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributário: Linguagem e método. 7ª Edição. São Paulo:
Noeses, 2018.
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Por fim, evidencia-se o critério quantitativo verificado no consequente


da regra-matriz de incidência tributária do ICMS – serviços, que é subdividido
entre a base de cálculo, qual seja, nos termos do art. 13, III, LC 87/19962, o preço
do serviço (de comunicação ou de transporte), e a alíquota que será
determinada pela legislação estadual/distrital.

2. Que é “prestação de serviços de comunicação”? É possível


determinar esse conceito por meio do texto constitucional? O que pode ser
tributado pelo ICMS: (i) a comunicação (onerosa) efetivamente realizada, ou;
(ii) a mera disponibilidade (onerosa) de meios físicos/canais aptos que
possibilitem que a comunicação aconteça? (Vide anexos I e II).

Importante diferenciar os significados de “comunicação” e “prestação


de serviços de comunicação”. Isto pois, conforme explica Paulo de Barros
Carvalho3, a prestação de serviço de comunicação ocorrerá quando houver a
figura de três elementos essenciais para seu efetivo exercício, quais sejam: o (1)
tomador do serviço, que mediante contraprestação, contrata do (2) prestador do
serviço, para que, por meio de canais próprios, possibilitará a transmissão da
mensagem ao (3) receptor – uma terceira pessoa:

Comunicação, entendida como o vínculo que se instaura com o ciclo formado pela
emissão, transmissão e recepção de mensagens, de modo intencionado ou não,
apresenta enorme amplitude, verificando-se sempre que houver dois ou mais sujeitos
em contingência de interação. Toda vez que alguém difundir informação, ainda que
não destinada a receptor determinado (porém, determinável) e mesmo que de forma
inconsciente, esse alguém estará realizando processo de comunicação. Prestar
serviço de comunicação, por seu turno, consiste na atividade de colocar à disposição
do usuário os meios e modos necessários à transmissão e recepção de mensagens,
distinguindo-se, nessa medida, da singela realização do fato comunicacional.
“Comunicação” e “prestação de serviços de comunicação” são realidades
distintas.

Tem-se, assim, que “comunicação” pode adotar caráter amplo no qual


o interlocutor transmite sua mensagem por meios próprios, situação na qual não
há que se falar em incidência do ICMS, e em um segundo cenário, no qual haverá

2
Art. 13. A base de cálculo do imposto é: [...] III - na prestação de serviço de transporte
interestadual e intermunicipal e de comunicação, o preço do serviço.
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CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributário: Linguagem e método. 7ª Edição. São Paulo:
Noeses, 2018.
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a transmissão da mensagem por intermediação, incorrendo, por sua vez, em


hipótese de incidência do ICMS.

Assim, entendo que, com base nas premissas acima estabelecidas,


“prestar serviço de comunicação” traduz-se no exercício da companhia de
comunicação (prestador) possibilitar, por meio de contrato oneroso e através de
equipamentos adequados, a transmissão da mensagem pretendida pelo usuário
(tomador) a um terceiro (receptor).

Neste sentido, em meu entendimento, não há, especificamente e


literalmente, um conceito determinado sobre “prestação de serviço” dado pelo
texto constitucional. No entanto, é preciso observância ao art. 155, II, CF/88 para
determinar a materialidade deste imposto, uma vez que, conforme exposto, só há
que se falar em “serviço de comunicação” para fins de incidência do ICMS o que
houver a intermediação realizada pelo prestador, mediante pagamento e
disponibilização dos meios necessários, entre o tomador do serviço e um terceiro
receptor.

Não obstante, pode ser tributado, pelo ICMS, a comunicação (onerosa)


efetivamente realizada e não a mera disponibilidade dos meios físicos/canais
aptos que possibilitem que a comunicação aconteça, uma vez que são
considerados “atividades-meio” para a “atividade-fim” que é a efetiva prestação
de serviço de comunicação.

Assim, na mesma linha de meu entendimento, remonta-se para a


decisão do STF exarada no RE n. 572.020/DF:

O ato de habilitação de aparelho móvel celular não enseja qualquer serviço efetivo
de telecomunicação, senão de disponibilização do serviço, de modo a assegurar
ao usuário a possibilidade de fruição do serviço de telecomunicações.
O ICMS incide, tão somente, na atividade final, que é o serviço de
telecomunicação propriamente dito, e não sobre o ato de habilitação do telefone
celular, que se afigura como atividade meramente intermediária.

Por fim, entendo que os meios que possibilitam a comunicação são


espécies de “serviço de valor agregado”, uma vez que dentre suas funções não
está a de, efetivamente, fornecer a comunicação, mas sim, de facilitar o serviço
comunicacional. E, considerando que tais serviços não constituem serviço de
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telecomunicações, nos termos do art. 61, §1º da Lei n. 9.472/974 , não há que se
falar em incidência do ICMS nestes casos, eis que distantes da materialidade
necessária à tal imposto.

3. Sobre a possibilidade de se cobrar ICMS, responda:

a) O termo “mercadoria” do artigo 155, II da CF/88 alcança os


denominados “bens e mercadorias digitais”? Fundamente.
Sim. Entendo que o termo “mercadoria” contido no texto constitucional
não diferencia sua modalidade ou meio disponível, de modo que poderá ser tanto
virtual quanto físico, desde que seja algo/objeto suscetível de venda – ou seja,
que tenha caráter/natureza mercantil, consoante entendimento de Luciano Garcia
Miguel5: “Mercadoria é espécie do gênero bem, cuja característica é a
necessidade de ser objeto de uma atividade mercantil, de venda ou revenda. [...],
em razão da evolução que se operou nas relações comerciais nas últimas
décadas, é necessário excluir desse conceito os bens imóveis, mas não os bens
virtuais.”

Neste sentido, também se pontua para o étimo do termo “mercadoria”,


que está no latim mercatura, ou seja, o que está suscetível à compra e venda,
conforme aludido por Paulo de Barros Carvalho6, de modo que não é
imprescindível que tal elemento seja físico.

Cabe esclarecer, no entanto, que tais mercadorias/bens digitais, caso


tributados, devem observância ao ICMS-mercadorias. Isto porque, a materialidade

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Art. 61. Serviço de valor adicionado é a atividade que acrescenta, a um serviço de
telecomunicações que lhe dá suporte e com o qual não se confunde, novas utilidades relacionadas
ao acesso, armazenamento, apresentação, movimentação ou recuperação de informações.

§ 1º Serviço de valor adicionado não constitui serviço de telecomunicações, classificando-se


seu provedor como usuário do serviço de telecomunicações que lhe dá suporte, com os direitos e
deveres inerentes a essa condição.

5
MIGUEL, Luciano Garcia. As alterações tecnológicas na internet e os conflitos de incidência entre
o ICMS e o ISS. In: CARVALHO, Paulo de Barros (Coord.). Direito Tributário entre a forma e o
conteúdo. São Paulo: Noeses, 2014.
6
CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributário: Linguagem e método. 7ª Edição. São Paulo:
Noeses, 2018.
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do referido imposto não se confunde com a do ICMS-serviços. O critério material


do ICMS – mercadorias é formado pelo um verbo realizar operações, e
complemento referente a circulação de mercadorias.

Assim, entendo que mercadorias, sejam elas físicas ou digitais, devem


respeitar as regras de incidência do ICMS-mercadoria e, quanto ao seu critério
espacial, vale destacar que este não será a mera saída física da mercadoria, e
sim, a circulação jurídica desta com a transferência de titularidade do bem,
sendo esta a concretização do fato imponível do ICMS – mercadorias.

b) Há possibilidade jurídica de se cobrar ICMS nas seguintes


situações: serviço de internet por acesso discado e banda larga;
software e transmissão de dados por streaming; NETFLIX.
Fundamentar. Se positiva sua resposta, quais espécies de ICMS
seriam de possíveis incidências nesses casos: ICMS-bens e
mercadorias ou ICMS-comunicação? Justifique.
Conforme exposto na questão número 2, a disponibilização, por si só,
dos meios que possibilitam a efetiva prestação de serviço de comunicação, não
geram incidência do ICMS. Dessa forma, entendo que o serviço de internet por
acesso discado/banda larga, constituem uma atividade-meio, realizada por meio
de provedor, para a efetivação da atividade-fim. Sobre isto, inclusive, ressalta-se
o entendimento do STJ que culminou na edição da súmula 334: “O ICMS não
incide no serviço dos provedores de acesso à Internet.”

Quanto ao software, em que pese a jurisprudência do STJ e do STF,


de que, os programas desenvolvidos sob encomendas geram incidência do ISS,
e os desenvolvidos em caráter genérico incidem ICMS, entendo que não seria o
caso de incidência em ambos os casos, isto pois, não há transferência de
titularidade jurídica do bem, e também, não há que se falar em serviço de
comunicação para fins de incidência do ICMS, eis que, considerando a resposta
dada na questão 2, a prestação de serviço de comunicação é atrelada ao liame
comunicacional do negócio, no qual o prestador intermedia a comunicação entre
tomador e receptor, situação esta não característica dos softwares.
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Em relação à transmissão de dados por streaming, a exemplo, a


NETFLIX, em consonância com o entendimento e premissas estabelecidos até
aqui, não há incidência do ICMS nessas hipóteses, uma vez que a atividade em
comento possui como finalidade agregar facilidade ao serviço de comunicação,
ou seja, seria caso de SVA - serviço de valor agregado, já que, novamente
invocando a questão comunicacional, não há o objetivo/finalidade de estabelecer
emissão de mensagens entre terceiros, inclusive, o streaming pode ser
desenvolvido e realizado por empresas não habilitadas na ANATEL para a
prestação do serviço de comunicação/telecomunicação.

Ainda, reforço que nos casos de transmissão de dados por streaming


(como a NETFLIX, spotify, dentre outros) não há transferência jurídica de
titularidade na situação, haja vista que se trata de cessão temporária de uso,
encerrando-se com a finalização do contrato firmado entre o assinante e provedor.
Além disso, aponto para a incidência do ISS sobre os serviços destacados, em
virtude de Lei Complementar que versa sobre sua cobrança – LC 116/2003 (p item
1.09 na lista anexa à LC 116/03, incluído pela LC 157/2016).

4. Que é “prestação de serviços de transporte”? Quais suas


modalidades? É necessária a efetividade da prestação de serviços para que
o ICMS incida? Analisar a tributação de transporte aéreo de passageiros e
cargas. Há a incidência do aludido imposto no caso de o transporte ser
efetuado por meio de veículo próprio da empresa, dirigido por motorista que
com ela possui vínculo empregatício? E se o motorista for terceirizado? E
se o veículo for locado?
A prestação de serviços de transporte traduz-se na iniciativa do
prestador que, com vistas a desenvolver ação em favor do tomador, através de
contrato oneroso, e da qual resulte o transporte intermunicipal ou interestadual de
passageiros, cargas, valores, bens, mercadorias, dentre outros.

Quanto suas modalidades, além de poder ser tanto intermunicipal


quanto interestadual, aponta-se para a indicação dada pela legislação federal (Lei
n. 6.288/75) que, embora revogada, demonstra-se útil quando da conceituação
das formas de transporte existentes, quais sejam:
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I – Modal – utilização de apenas um meio de transporte;

II – Segmentado – quando se utilizam veículos diferentes e serão


contratados separadamente os vários serviços e os diferentes
transportadores que terão a seu cargo a condução da mercadoria do
ponto de expedição até o destino final;

III – Sucessivo – quando a mercadoria, para alcançar o destino final,


necessita ser transportada para prosseguimento em veículo da mesma
modalidade de transporte;

IV – Intermodal – quando a mercadoria é transportada utilizando-se


duas ou mais modalidades de transporte.

Quanto à necessidade da efetividade da prestação dos serviços de


transporte para incidência do ICMS, entendo que sim, é preciso que, de fato, seja
devidamente executado o serviço com a entrega do bem para a cobrança de tal
imposto. Remonta-se, para tanto, o critério temporal contido na RMIT do tributo,
no qual se alude para o “átimo da entrega do serviço executado”. Assim, sem a
entrega realizada, não há configuração do critério temporal, logo, estaríamos
diante de causa de isenção, eis que mutilada parcialmente a regra matriz de
incidência, atacando, justamente, seu critério temporal.

A vista disso, importante salientar, também, que a tributação não incide


meramente sobre o transporte, mas sim, sobre a prestação do serviço de
transporte, de modo que, caso esta não se conclua, não há que se falar em
“prestação”, logo, também ausente o núcleo (verbo) do critério material da RMIT
do ICMS – serviços de transporte.

Em relação à tributação de transporte aéreo de passageiros, entendo,


em consonância ao entendimento exarado pelo STF quando do julgamento da
ADI 1600, de que não haverá incidência do ICMS no transporte aéreo de
passageiros, uma vez que, conforme sintetizado por Sacha Calmon7, eventual

7 COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de direito tributário brasileiro. 17ª Edição. Rio de
Janeiro: Forense, 2020.
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tributação, nestes casos, (a) “ofenderia ao princípio da não cumulatividade”, ante


a impossibilidade de a pessoa jurídica, adquirente do bilhete para o passageiro,
creditar-se do valor do imposto para abatimento futuro; (b) “ofenderia ao critério
de repartição do imposto na Federação” e há (c) “insuficiência dos aspectos
temporal, subjetivo e espacial da hipótese, em face da peculiaridade do transporte
de pessoas.”

Por outro lado, entendo ser possível tributação de transporte aéreo de


cargas uma vez que, do contrário aos aspectos acima, há possibilidade de
determinar os sujeitos da obrigação (contratante, o remetente/destinatário, os
Estados/Municípios envolvidos, o estabelecimento que receberá a carga).

Não obstante, entendo que não há incidência o imposto no caso de o


transporte ser efetuado por meio de veículo próprio da empresa, dirigido por
motorista que com ela possui vínculo empregatício, não importando, ainda, se o
motorista for terceirizado e/ou se o veículo for locado, porque, conforme explica
Paulo de Barros Carvalho8, seriam considerados autosserviços, já que,
independente da modalidade, a empresa contratada é a responsável pela efetiva
entrega ao cliente, não importando os meios que aduzirá para tanto, de modo que:
“Exclui-se, por inadmissível, o autosserviço ou serviço prestado a si mesmo, pela
reflexividade que lhe é própria e que acarreta a inexistência de caráter econômico
na atividade desenvolvida.”

Além disso, o que importa, ao contratante, é a efetiva


entrega/recebimento de sua encomenda, ou que o documento remetido seja
enviado ao destinatário solicitado, desde que isto seja executado pela empresa
contratada, independentemente dos meios utilizados para tanto.

5. Empresa de transporte internacional, contratada para trazer


documentos do exterior, subcontrata empresa brasileira que efetive o
transporte da entrada do documento em território nacional até o destinatário
local. Pergunta-se: (a) tal operação pode ser desmembrada para fins de

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CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributário: Linguagem e método. 7ª Edição. São Paulo:
Noeses, 2018.
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tributação pelo ICMS? (b) se positiva a resposta, qual seria o sujeito passivo
da relação tributária? (Vide anexo VI).

Não, entendo que não se pode desmembrar a operação para fins de


tributação pelo ICMS, pois, primeiro, já há incidência do ICMS na operação em
comento, uma vez que, segundo o art. 155, § 2º, II e IX, “a”, CF/88, preconiza que
haverá incidência do ICMS sobre a prestação de serviços ainda que as operações
e as prestações se iniciem no exterior:

Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre:
[...]
§ 2º O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte:
[...]
II - operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços
de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as
operações e as prestações se iniciem no exterior;
[...]
IX - incidirá também:

a) sobre a entrada de bem ou mercadoria importados do exterior por pessoa física


ou jurídica, ainda que não seja contribuinte habitual do imposto, qualquer que seja a
sua finalidade, assim como sobre o serviço prestado no exterior, cabendo o
imposto ao Estado onde estiver situado o domicílio ou o estabelecimento do
destinatário da mercadoria, bem ou serviço

Assim, no caso em tela – serviço de transporte internacional, já há


incidência do ICMS, não se fazendo necessário o desmembramento das
operações para fins de tributação quanto a esta prestação em específico.
Não obstante, a prestação de serviços de transporte internacional é
uma atividade-fim, de modo que a subcontratação (o chamado transbordo) de
empresa brasileira que efetive o transporte da entrada do documento em território
nacional até o destinatário local, é uma atividade-meio para a efetivação
atividade-fim. Esta subcontratação é uma continuidade do serviço e não tem
condão de alterar a natureza internacional do contrato celebrado.
Neste sentido, conforme explica Paulo de Barros Carvalho9:

Em consequência, sendo o alvo de tributação por via de ICMS apenas a prestação


de serviço de transporte estritamente nacional (entre Estados ou Municípios), aquele
serviço de transporte realizado em território nacional, mas, com o escopo de
cumprir contrato de transporte internacional, fica fora do âmbito de incidência

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CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributário: Linguagem e método. 7ª Edição. São Paulo:
Noeses, 2018.
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do citado imposto, por tratar-se de mera atividade-meio relativamente a um


serviço não passível de imposição pelo ICMS. Neste caso, o transporte efetuado
dentro do território nacional inclui-se, indissociavelmente, no transporte
internacional, não podendo ser considerado isoladamente, para fins de
tributação pelo ICMS.
Não teria fundamento, juridicamente, pretender desmembrar as várias
atividades-meio necessárias à prestação em tela, como se fossem serviços de
transporte “parciais”, pois o transporte praticado pela empresa contratada é
mera “fase” indispensável à consecução do contrato de transporte
internacional

Deste modo, considerando o exposto, entendo que não é possível o


desmembramento de várias etapas imprescindíveis à execução do serviço
(atividades-meio) para fins de tributação de cada uma delas.

6. Prestadora de serviço de transporte é contratada para efetuar


transporte de mercadoria de estabelecimento localizado em Osasco/SP para
uma trading estabelecida em São Bernardo do Campo/SP. O destino final da
mercadoria transportada é a exportação. Com base no art. 155, § 2º, X, “a”
da CF/88 e parágrafo único do art. 3º da LC 87/96, o Fisco paulista entende
que nesse trajeto interno há imunidade do ICMS somente com relação à
operação de circulação das mercadorias transportadas e não para o ICMS
relativo à prestação de serviços de transporte. Você concorda com esse
entendimento? (Vide anexo VII).

Quanto à imunidade do ICMS em relação à operação de circulação de


mercadorias transportadas com destino ao exterior está correto o Fisco paulista.
Por outro lado, quanto à cobrança do ICMS relativa à prestação de serviço de
transporte ocorrida no Estado (entre Osasco e São Bernardo) entendo que não
está correto a alegação do Fisco, pois, conforme esclarecido na questão anterior,
a atividade-fim é a prestação do serviço de transporte internacional, sendo que a
transferência da mercadoria entre os estabelecimentos é mera atividade-meio
para efetivação da atividade-fim.

Deste modo, é o que preceitua o comando constitucional ao aduzir que:

Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre:
[...]
§ 2º O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte:
[...]
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II - operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços


de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as
operações e as prestações se iniciem no exterior;
[...]
X - não incidirá:

a) sobre operações que destinem mercadorias para o exterior, nem sobre serviços
prestados a destinatários no exterior, assegurada a manutenção e o
aproveitamento do montante do imposto cobrado nas operações e prestações
anteriores;

Assim, em consonância com meu entendimento, de que o transporte


estadual (atividade-meio), neste caso, está estritamente ligado à finalidade/objeto
do contrato: transporte internacional (que é a atividade-fim), e que o ICMS não
incide sobre serviços prestados aos destinatários no exterior, não há que se falar
de cobrança do tributo no transporte realizado dentro do Estado de São Paulo,
com a finalidade de exportar a mercadoria em questão.

7. Os conceitos de transbordo e baldeação na prestação, utilizados na


prestação de serviços de transporte de cargas, são sinônimos? A mudança
de modal, utilizando-se de veículos de propriedade de mesmo titular, é caso
de transbordo ou prestação de serviço independente? Empresa X realiza
serviço de transporte entre os Munícipios Y e Z, ambos do Estado de São
Paulo, utilizando-se, para tanto, de caminhão e avião, tendo as mercadorias
sido acondicionadas, ou seja, permanecendo por tempo razoável em
estabelecimento da empresa quando da mudança de modal, haveria de se
falar em descontinuidade de transporte e, por consequência, nova cobrança
de ICMS? (Analisar a problemática à luz do Parecer PGFN/CAT nº 57/13).
Transbordo e baldeação, utilizados na prestação de serviços de
transporte de cargas, são sinônimos, uma vez que, em que pese terem conceitos10
distintos, sendo transbordo a transferência direta de mercadoria de um para outro
veículo e baldeação, a transferência de mercadoria descarregada de um veículo
e posteriormente carregada em outro, seus efeitos práticos são iguais, ou seja,

10
Decreto nº 6.759/2009 – Art. 335 As mercadorias em trânsito aduaneiro poderão ser objeto de
procedimento específico de controle nos casos de transbordo, baldeação ou redestinação.
Parágrafo único. Para efeito do disposto no caput, considera-se: I - transbordo, a transferência
direta de mercadoria de um para outro veículo; II - baldeação, a transferência de mercadoria
descarregada de um veículo e posteriormente carregada em outro
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não há uma nova prestação de serviço, e sim, a continuidade de um único serviço,


conforme explica Paulo de Barros Carvalho11:

É o chamado “transbordo”, cuja característica não é a de uma nova prestação de


serviço, mas de simples continuidade da prestação de serviço internacional. Não há,
portanto, dois contratos de transporte, mas apenas um, da espécie “intermodal”, em
que a carga é transportada em todo o percurso utilizando duas ou mais modalidades
de transporte, abrangidas por um único contrato de transporte.

Deste modo, entendo que a mudança de modal, utilizando-se de


veículos de propriedade do mesmo titular não pode ser considerada prestação de
serviço independente, mas, caso de transbordo, pois não há um novo contrato
celebrado para realização do negócio, e sim, uma continuação do transporte para
a efetiva prestação do serviço (atividade-fim do negócio jurídico celebrado).

Além disso, conforme aludido no Parecer PGFN/CAT nº 57/13:

Um dos elementos básicos do serviço para permitir a incidência de ICMS é tratar-se


de prestação de serviço, realizado numa operação negocial, portanto, a autonomia
dos estabelecimentos não gera personalidades jurídicas distintas, assim, não é
possível a incidência do ICMS sobre transporte interestadual e intermunicipal
nos serviços prestados por uma filial a sua matriz, haja vista a impossibilidade
de se considerar estabelecimento de terceiro para fins de realização de um
negócio jurídico a filial de uma empresa que está coberta pela mesma
personalidade jurídica.

Assim, a utilização de veículos de propriedade de mesmo titular não


pode ser caracterizada como prestação de serviço independente, pois não há
incidência do ICMS em serviços prestados para si mesmo, ou seja, os chamados
“autosserviços”.

Frente a isto, em análise ao caso da Empresa X que realiza transporte


entre Munícipios Y e Z, em São Paulo, utilizando-se, para tanto, de caminhão e
avião, tendo as mercadorias sido acondicionadas, ou seja, permanecendo por
tempo razoável em estabelecimento da empresa quando da mudança de modal,
não há que se falar em descontinuidade de transporte, e nem, portanto de nova

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CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributário: Linguagem e método. 7ª Edição. São Paulo:
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cobrança de ICMS, uma vez que, à luz do Parecer PGFN/CAT nº 57/13 e do que
expus anteriormente, a mudança de modal, ainda que a mercadoria fique por certo
tempo em estabelecimento da empresa, trata de questão logística da empresa
para prestação do serviço a que foi contratada, não havendo novo contrato
celebrado que albergue esta troca de modal.

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