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Ano 2017 | N.

º 106 | Mensal Tiragem 500 exemplares | Distribuição Gratuita


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As opiniões expressas pelos autores nos artigos aqui publicados, não veiculam necessariamente o posicionamento da SAL & Caldeira Advogados, Lda.

ÍNDICE NOTA DO EDITOR


Caro Leitor:

Breves Notas sobre o Licenciamento dos Nesta edição são abordados temas como “Breves Notas sobre o Licenciamento dos
Serviços de Telecomunicações no Âmbito Serviços de Telecomunicações no Âmbito da Nova Legislação de Telecomunicações”,
da Nova Legislação de Telecomunicações “Meios de Protecção do Consumidor Contra os Vícios de Produtos Alimentares” e
“Desafios Actuais à Implementação do Regime Jurídico da Insolvência e Recuperação
Meios de Protecção do Consumidor dos Empresários Comerciais”.
Contra os Vícios de Produtos Alimentares Pode ainda, como habitualmente, consultar o nosso Calendário Fiscal e a Nova
Legislação Publicada.
Desafios Actuais à Implementação do
Regime Jurídico da Insolvência e Recuper- Tenha uma boa leitura!
ação dos Empresários Comerciais
O INCM deve emitir a Importa referir que a Mostra-se certo que tal
Informação sobre a taxa de Novas licença por classe no prazo Constituição da República situação tem impossibilita-
Ligações Domiciliárias Domésticas de 30 dias a contar da protege os direitos do do, sobremaneira, que o
Legislação recepção da comunicação consumidor estabelecendo empresário comercial
feita pelo requerente, no no n.º 1 do seu artigo 92 mantenha o seu potencial
Obrigações Declarativas e Contributivas - entanto, o requerente que, “os consumidores têm através da continuação da
Calendário Fiscal 2017 - (Outubro) poderá prestar os serviços o direito à qualidade de sua função económica e
pretendidos imediata- bens e serviços consumi- social, materializada na
mente após a submissão da dos, à informação, à geração e preservação de
comunicação, sem prejuízo protecção da saúde, da empregos, renda, pagamen-
da...Cont. Pág. 2 segurança...Cont. Pág. 3 to de tributos,...Cont. Pág. 4

FICHA TÉCNICA
EDIÇÃO, GRAFISMO E MONTAGEM: SÓNIA SULTUANE - DISPENSA DE REGISTO: Nº 125/GABINFO-DE/2005
COLABORADORES: Humaira Alda Alberto, Nárcia Taalumba Walle, Vanessa Manuela Chiponde, Rute Nhatave, Sérgio Ussene Arnaldo, Sheila Tamyris da Silva.

SAL & Caldeira Advogados, Lda. é membro da DLA Piper Africa Group, uma aliança de firmas líderes de advocacia independentes que trabalham em conjunto com a DLA Piper em toda a África.

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BREVES NOTAS SOBRE O LICENCIAMENTO DOS SERVIÇOS DE TELECOMUNICAÇÕES
NO ÂMBITO DA NOVA LEGISLAÇÃO DE TELECOMUNICAÇÕES

Foi recentemente aprovada a nova Lei das Telecomunicações, Lei n.º 4/2016, de 03 de Junho pretende explorar, a data do início de actividades e outros elementos que permitam que
(adiante, a “Lei das Telecomunicações”), que trouxe alterações à anterior lei em vigor desde este inicie a sua actividade, devendo ainda anexar os documentos societários da sociedade
2004, bem como o respectivo Regulamento de Licenciamento de Telecomunicações e e o seu projecto técnico. Note-se que, conforme definição de “licença por classe” feita no
Recursos Escassos, aprovado pelo Decreto n.º 26/2017, de 30 de Junho (adiante, o “Regula- Regulamento, esta trata-se de uma permissão administrativa que não está dependente de
mento”). decisão prévia do INCM, mas apenas da referida comunicação a ser feita pelo requerente ao
INCM, sem prejuízo do pedido poder ser indeferido por falta ou insuficiência dos requisitos
A autoridade reguladora das comunicações em Moçambique é o Instituto Nacional das fixados na lei.
Comunicações de Moçambique, abreviadamente designado por “INCM”, uma instituição
pública dotada de personalidade jurídica, autonomia administrativa, financeira e patrimonial. O INCM deve emitir a licença por classe no prazo de 30 dias a contar da recepção da
Esta autoridade desempenha as funções de regulação, supervisão, fiscalização, sancionamento comunicação feita pelo requerente, no entanto, o requerente poderá prestar os serviços
e representação do sector de telecomunicações. pretendidos imediatamente após a submissão da comunicação, sem prejuízo da necessidade
deste obter as frequências de espectro ou de numeração. Não obstante, será necessário
A legislação de telecomunicações acima indicada aplica-se para o estabelecimento, gestão e confirmar após o início da implementação desta nova legislação, que aplicação prática será
exploração de redes e serviços de telecomunicações. Nestes termos, as telecomunicações dada ao INCM relativamente a este aspecto.
são classificados por lei em (i) serviços e (ii) redes, podendo ambos ser públicos ou
privativos. O licenciamento está sujeito ao pagamento de uma taxa que varia de acordo com o tipo de
licença, serviços e âmbito das actividades (i.e. local, provincial, nacional ou internacional),
Além dos serviços e das redes, o Regulamento aplica-se ainda ao licenciamento dos recursos conforme definida no Regulamento das Taxas Regulatórias de Telecomunicações, aprovado
escassos, que nos termos do Glossário do Regulamento, referem-se ao espectro de frequên- pelo Decreto n.º 68/2016, de 30 de Dezembro.
cias radioeléctricas, numeração de telecomunicações e posições orbitais.
Note-se que para efeitos de licenciamento, o objecto social do requerente deverá incluir o
O presente artigo pretende trazer uma breve análise das regras aplicáveis ao licenciamento exercício de prestação de serviços de telecomunicações.
no sector de telecomunicações, com enfoque às normas aplicáveis aos serviços de
telecomunicações. As licenças de Classes A e B têm validade de 15 (quinze) anos, sendo que a licença de Classe
C tem validade de 5 (cinco) anos. Importa referir que as licenças poderão ser revogadas a
Os serviços públicos de telecomunicações são definidos por lei como sendo aqueles todo tempo, caso se verifique qualquer das circunstâncias previstas no Artigo 38 do
oferecidos pelo operador ou prestador de serviços de telecomunicações, mediante Regulamento, incluindo a não utilização das licenças durante um período de 6 (seis) meses
remuneração, que consiste no envio e recepção de sinais (voz, dados, imagens), através de consecutivos e a falta de pagamento das taxas regulatórias. No caso de revogação, o titular
redes de telecomunicações. Conforme já ocorria no anterior regime, o estabelecimento, da licença perderá o direito de atribuição de uma nova licença pelo período de 1 (um) ano
gestão e exploração dos serviços públicos de telecomunicações está liberado, estando a contar da data da comunicação da revogação.
apenas condicionado nos casos especificamente previstos por lei, como é o caso de
disponibilidade de recursos de numeração de telecomunicações e por razões de segurança Importa referir que embora tenha sido aprovada nova legislação de telecomunicações, as
e ordem públicas. licenças e registos já obtidos nos termos da legislação anteriormente mantêm-se em vigor.
No entanto, O INCM deve proceder com a adequação das licenças e/ou registos emitidos
Por outro lado, os serviços privativos de telecomunicações são aqueles que se destinam, total ao abrigo do Decreto 33/2001, de 6 de Novembro, sendo que para o efeito os titulares de
ou principalmente, ao uso próprio ou a um grupo fechado de utilizadores, e que não estão tais licenças e registos deverão requerer INCM a emissão de uma licença unificada ou por
interligados a uma rede pública de telecomunicações. Estes serviços podem ser livremente classe, conforme seja o caso. Exceptuam-se os operadores e prestadores de serviços com
estabelecidos e explorados, desde que estes não envolvam recursos de numeração, espectro licenças para utilização de frequências e/ou numeração, cujas licenças continuarão em vigor
ou exploração para fins comerciais. até o termo da sua validade. Esta adequação deverá ser efectuado pelo INCM sem custos
adicionais para os titulares. Embora a lei não estabeleça um prazo para esta adequação,
Note-se que, embora exista a limitação de se fazer a exploração dos serviços privativos de entendemos que a mesma deverá ser efectuada com a maior brevidade possível.
telecomunicações para fins comerciais, a lei permite que o proprietário da rede privativa
possa revender a capacidade disponível das suas instalações ou de outra forma alienar os No que se refere às multas aplicáveis no caso de exercício da actividade sem a devida licença,
direitos das mesmas a favor de um operador de telecomunicações, desde que seja obtida importa referir que a nova legislação não traz uma previsão específica, contrariamente à
uma autorização do INCM para o efeito, e não se ponha em causa da privacidade e sigilo das anterior Lei das Telecomunicações, cujo estabelecimento de uma rede de telecomunicação
informações dos clientes e não se perigue a segurança do Estado. ou prestação de serviços sem a devida licença era punido com multa de 7.000.000,00 MT
(sete milhões de Meticais), podendo ainda o estabelecimento ser definitivamente encerrado,
No que diz respeito ao licenciamento, note-se que diferentemente do que ocorria na como pena acessória. Note-se, porém, que o Regulamento traz outras situações passíveis de
legislação anterior (onde a operação de serviços de telecomunicações estava sujeita à aplicação de multa, entre as quais é de se notar as disposições muito genéricas sobre
emissão de uma licença ou mero registo, dependendo dos serviços em causa), nos temos da incumprimento de instruções do INMC e incumprimento das directivas do INCM, puníveis
nova legislação, a prestação de serviços de uso público ou privado está sempre sujeita a com multas de 7.000.000,00 MT (sete milhões de Meticais) e 8.000.000,00 MT (oito milhões
emissão de uma licença, podendo esta ser unificada ou por classe. de Meticais), respectivamente.

Importa ainda ter em atenção as medidas acessórias que podem ser aplicadas pelo INCM
As licenças por classe estão dividas em Classe A, B ou C, sendo que a Classe A é referente
no decurso dos seus poderes de fiscalização, como é o caso de confisco do equipamento
às redes de telecomunicações e as Classes B e C são referentes à prestação de serviços. A
título de exemplo, a instalação, manutenção e importação de equipamentos e infra-estru-que estiver a ser usado pelos operadores não licenciados.
turas de telecomunicações está sujeita à aquisição da licença de Classe C, enquanto os Para além das medidas relativas às infracções administrativas, importa ter em atenção que a
serviços de acesso à internet (ISPs) estão sujeitos licença de Classe B. Lei das Telecomunicações prevê também situações que consubstanciam ilícitos criminais. A
título exemplificativo, note-se que, o Artigo 56 da Lei das Telecomunicações estabelece uma
Por sua vez, a licença unificada é constituída pelas redes e serviços previstos nas licenças das
Classes A. B e C. pena de prisão maior de 2 a 8 anos e multa de 300.000,00 MT (trezentos mil Meticais) a
2.000.000,00 MT (dois milhões de Meticais), no caso de instalação e uso fraudulento do
Para a aquisição de uma licença por classe, é necessário que o requerente submeta uma sistema de telecomunicações com a intenção de evitar o cumprimento de obrigações legais
comunicação ao INCM antes do início da actividade, contendo a descrição do serviço que ou obter fraudulentamente o controlo do serviço de telecomunicações.

empresarial, Assembleia
Vanessa Manuela Chiponde Por fim, é importante referir que a legislação de telecomunicações estabelece diversas
Consultora Sénior obrigações aplicáveis aos operadores de telecomunicações e prestadores de serviços de
Jurista telecomunicações (como exemplo, temos a obrigação de ter o modelo de contrato de
vchiponde@salcaldeira.com oferta de serviços públicos de telecomunicações aprovado pelo INCM). Notamos ainda
uma protecção acrescida aos direitos dos consumidores quer antes da celebração do
contrato como na vigência do mesmo.

Os operadores de telecomunicações e prestadores de serviços de telecomunicações


deverão familiarizar-se com estas disposições, por forma a garantir o cumprimento de todas
as obrigações estabelecidas por lei.

02 | SAL & Caldeira Advogados, Lda.


MEIOS DE PROTECÇÃO DO CONSUMIDOR CONTRA OS VÍCIOS
DE PRODUTOS ALIMENTARES

Numa conjuntura social e económica em que tem-se verificado um maior espécie; (ii) a restituição da quantia paga; e/ou, (iii) a redução proporcional do
crescimento de estabelecimentos comerciais e produtos a disposição dos preço. O consumidor pode fazer uso imediato das últimas alternativas caso, em
consumidores, é possível verificar situações em que os produtos alimentares razão da extensão do vício, a substituição das partes viciadas comprometa o
fornecidos apresentam vícios. Isto pode ocorrer pelo facto de os mesmos serem produto, nos termos do artigo 15 da LDC, conjugado com n.º 4 do artigo 11 do
comercializados com prazo de validade para o consumo vencido ou pela RLDC.
discrepância entre a informação descrita no recipiente e as características do
próprio produto, atentando assim, contra a saúde do consumidor. Tratando-se de defeito do produto, os fabricantes, comerciantes, vendedores,
produtores e importadores serão responsabilizados independentemente de
Com o propósito de defender os direitos do consumidor, uma vez que os vícios culpa pelos produtos defeituosos que coloquem no mercado. Sendo responsabi-
de qualidade acima referidos colocam em causa a saúde pública, foi criada a Lei lizado apenas o comerciante quando não tenha conservado adequadamente os
de Defesa do Consumidor, aprovada, pela Lei n° 22/2009, de 28 de Setembro produtos alimentares, ou os ter fornecido sem identificação do produtor, tendo o
(“LDC”), e o seu Regulamento, aprovado pelo Decreto n.º 27/2016 de 18 de consumidor o direito à indemnização pelos danos daí decorrentes (LDC, artigo 7
Julho (“RLDC”), instrumentos donde se pode extrair, entre outros, os meios de e n.º 4 do artigo 14 e n.º 1 do artigo 8 do RLDC).
protecção do consumidor contra os vícios de produtos alimentares. Tema sobre
o qual versará o presente artigo. Em termos práticos, a responsabilização dos infractores é encaminhada através
dos meios de tutela de defesa do consumidor. Estes podem ser exercidos através
Importa referir que a Constituição da República protege os direitos do consumi- de meios extrajudiciais, junto das entidades públicas e privadas com competências
dor estabelecendo no n.º 1 do seu artigo 92 que, “os consumidores têm o direito relevantes dependendo da matéria, como por ex.: o Ministério de Indústria e
à qualidade de bens e serviços consumidos, à informação, à protecção da saúde, Comércio; a Inspecção Nacional das Actividades Económicas (INAE); os serviços
da segurança dos seus interesses económicos, bem como a reparação de danos”. autárquicos competentes; a Associação de Defesa do Consumidor de Moçam-
Esta protecção é reforçada pelos artigos 5, 6, 7 e 14 da LDC. bique (ADECOM); o Provedor da Justiça; o Instituto Nacional de Normalização e
Qualidade (INNOQ) e também através de meios judiciais, com destaque particu-
De acordo com a LDC, entende-se como consumidor todo aquele a quem sejam lar para a acção inibitória, que nos termos do artigo 12 da LDC destina-se a
fornecidos bens, prestados serviços ou transmitidos quaisquer direitos, destinados prevenir, corrigir ou fazer cessar práticas lesivas aos direitos do consumidor.
ao uso não profissional, por pessoa que exerça com carácter profissional uma
actividade económica que vise a obtenção de benefícios. São também considera- De acordo com o critério de interesses protegidos, a acção inibitória é uma acção
dos como consumidores (equiparados) todos os lesados pelo facto danoso, colectiva, podendo também ser intentada individualmente. De acordo com o
mesmo que não os tenham adquirido, desde que haja nexo de causalidade entre critério do fim, trata-se de uma acção declarativa de condenação (pois, pressupõe
o facto danoso e a actuação do fornecedor (RLDC, Artigo 10). a violação de um direito), de prestação de facto negativo (abstenção da prática
lesiva), ou de facto positivo (cessação, correcção) de práticas lesivas dos direitos
Estamos perante um vício do produto alimentar quando existe um vício de dos consumidores. E quanto a forma, trata-se de um processo sumário, sendo da
qualidade e quantidade que torna o produto alimentar impróprio ou inadequado competência do Tribunal Judicial de Distrito de 1ª Classe e isento de custas,
para o consumo a que se destina, ou que lhe reduza o valor, ou quando haja conforme artigo 12, 13, 17 da LDC, n.º 2 do artigo 18 do RLDC, e artigo 4° do
disparidade entre as indicações constantes no recipiente ou a mensagem publici- Código de Processo Civil.
taria em relação ao produto (LDC, n.º 1 e 4 do artigo 15 e n.º 1 do artigo 11 da
RLDC). A acção inibitória assemelha-se às providências cautelares constantes no Código
de Processo Civil, porém, diferentemente destas, não vem apenas assegurar a
Estamos perante um defeito quando em decorrência do vício de qualidade ou eficácia da decisão final, mas também antecipar os efeitos desta decisão sem
quantidade que o torna o produto inapropriado ou inadequado para o consumo, prestar caução. A acção inibitória deve ser intentada pela parte lesada, com prova
o consumidor venha a sofrer danos de ordem patrimonial e/ou moral, nos ternos inequívoca da lesão (recibo da compra do produto, prova pericial, entre outros),
do 7 do RLDC conjugado com o artigo 14 da LDC. estando legitimados o consumidor (pessoa singular ou colectiva directamente
lesada), o Ministério Público e as associações de consumidores, nos termos do
O artigo 15 da LDC, conjugado com artigo 11 do RLDC, determina que os artigo 17 da LCD.
fornecedores de bens de consumo respondem solidariamente pelos vícios de
qualidade e quantidade do produto, podendo o consumidor exigir a subsituação Portanto, em caso de vício de produtos alimentares, o consumidor tem a prerrog-
das partes viciadas. Caso o vício não seja sanado no prazo de 30 dias, o consumi- ativa de accionar os mecanismos necessários para salvaguardar os seus direitos,
dor pode, alternativamente, exigir: (i) a substituição do bem por um da mesma por via das instituições e tribunais competentes.
empresarial, Assembleia
Nárcia Taalumba Walle
Tendo consciência de que com a produção em massa de produtos alimentares,
Consultora Júnior
Jurista os efeitos negativos envolvendo vícios de produtos alimentares atingem um
nwalle@salcaldeira.com grande número de pessoas, é pertinente aumentar a consciência dos consumi-
dores sobre os seus direitos, a possibilidade da sua protecção, e os meios
disponíveis para o efeito, em prol de uma sociedade mais atenta às questões de
segurança e saúde, assim como ética profissional.

www.salcaldeira.com | 03
DESAFIOS ACTUAIS À IMPLEMENTAÇÃO DO REGIME JURÍDICO DA INSOLVÊNCIA
E RECUPERAÇÃO DOS EMPRESÁRIOS COMERCIAIS

O actual Regime Jurídico da Insolvência e Recuperação dos Empresários tramitação do processo e salvaguarda dos demais interesses de crédito a
Comerciais (“RJIREC”) entrou em vigor em Outubro de 2013, através do ele adstritos.
Decreto-Lei n.º 1/2013, de 04 de Julho. Com a sua aprovação, criaram-se
inúmeras expectativas com relação à possibilidade de maior salvaguarda Outro factor, não menos relevante e que constitui um verdadeiro desafio à
dos interesses do empresário comercial enquanto unidade produtora e, efectiva implementação do RJIREC, tem sido a exiguidade de acções de
consequente, preservação dos demais interesses de crédito àquele formação realizadas para os aplicadores do regime (magistrados judiciais e
adjacentes. do ministério público, funcionários dos tribunais, administradores de
insolvência, entre outros).
Destarte, decorridos quase 4 (quatro) anos desde a sua entrada em vigor
e atendendo à situação que o País actualmente atravessa (desvalorização Todavia, não se pode negar que esforços têm sido evidenciados no sentido
cambial, aumento da taxa de inflação, discrepância na rácio da dívida pública de realizar algumas formações em torno do RJIREC, pese embora a regular-
sobre o Produto Interno Bruto (PIB), redução da capacidade produtiva em idade e a abrangência, no que tange à qualidade dos sujeitos e jurisdição a
certos sectores de exportação, de entre outros), seria expectável um que se encontram adstritos, revelem que muito ainda se têm por fazer com
cenário de maior adesão à implementação do RJIREC por parte das vista a capacitá-los e torná-los aptos a contribuir para a maior celeridade,
empresas em situação financeira deficiente e que, por conseguinte, se dinâmica e eficácia do processo.
registassem ganhos no nosso contexto socioeconómico, com a possibili-
dade de um número cada vez crescente de casos de recuperação de Tratando-se de uma realidade relativamente nova e desconhecida no
empresários comerciais considerados “recuperáveis” e retirada do merca- nosso ordenamento jurídico e visto que ainda nos encontramos em fase de
do de empresários comerciais cuja actividade ou administração sejam tidas “desafeição” com relação ao regime falimentar que ficou arreigado por
como inadequadas, ou seja, “não recuperáveis”. quase meio século, mostrar-se-ia necessário que as acções de formação
fossem realizadas com maior regularidade e abrangessem aplicadores de
Desafortunadamente, os contornos da realidade defraudaram grande todas as províncias do país, não apenas algumas, como tem ocorrido.
parte das expectativas geradas, porquanto, presentemente, muitos têm sido
os empresários comerciais que, encontrando-se em situação económica Aliás, foi também com base nesse espírito que, em Julho de 2016, foi criada
difícil, optam por retirar-se do mercado de forma irregular, sem apostar na a Associação Moçambicana dos Administradores de Insolvência (AMAIN),
segurança dos meios legalmente estatuídos para o efeito, com especial tendo esta traçado expressamente como um de seus objectivos a
enfoque para os meios previstos pelo RJIREC. promoção da formação dos administradores de insolvência e de outros
quadros no domínio da insolvência e recuperação de empresas, conforme
Mostra-se certo que tal situação tem impossibilitado, sobremaneira, que o disposto na alínea d) do artigo 3º dos Estatutos dessa Associação.
empresário comercial mantenha o seu potencial através da continuação da
sua função económica e social, materializada na geração e preservação de Decerto que a aposta na profissionalização da função de administrador de
empregos, renda, pagamento de tributos, produção de riqueza e propulsão insolvência, para além de contribuir para a operacionalização da legislação,
de desenvolvimento socioeconómico, facto que, de forma inelutável, oferecerá maior dinâmica para a celeridade desse tipo de processo através
remete a uma breve análise e consideração do conjunto de factores por da capacitação técnica e deontológica daqueles profissionais e elevará as
detrás do baixo índice de processos de insolvência e recuperação (judicial anteriores taxas de tempo e recuperabilidade de, respectivamente, 5
e extrajudicial) que estão a ser presentemente tramitados no país. (cinco) anos e 15 (quinze) cêntimos por cada dólar de activo declarado
para, conforme se almeja, pelo menos 10 (dez) meses e 80 (oitenta)
Em primeiro lugar e em cômputo geral, pode-se aferir que um dos motivos cêntimos por para cada dólar activo declarado.
subjacentes à fraca adesão ao RJIREC prende-se com a fraca divulgação do
mesmo no seio da comunidade empresarial do país que, por falta de Tendo em conta o esforço legislativo que se fez para a reforma do anterior
conhecimento da existência, benefícios e protecção advenientes da sistema falimentar e aprovação do novo regime de insolvência, desde a
aplicação do regime, recorrem ao encerramento irregular e ilegal das suas entrada em vigor deste, Moçambique teve uma avaliação positiva no
actividades comerciais, sem se dignar pautar pelos mecanismos legalmente ranking “Doing Business”, estando actualmente na posição 65 (sessenta e
estabelecidos para o efeito, quer seja por via dos meios do RJIREC, ou ainda cinco) no que tange à classificação referente à resolução de insolvência, não
por via do encerramento (temporário ou definitivo de estabelecimento obstante tenha apenas relevado para essa apreciação a reforma legislativa
comercial) ou da suspensão de actividades previstos no Código Comercial realizada e não necessariamente os resultados da implementação do
e no Regulamento de Licenciamento das Actividades Comerciais. regime.

Aliado a este facto, está a descrença dos que possuem legitimidade para Em suma, os factores acima referenciados, designadamente a falta de
requer os processos de insolvência e recuperação (à luz dos artigos 47º e divulgação do regime, a descrença no sistema judicial, a falta de capacitação
93º do RJIREC) na eficiência do sistema, judicial no que se refere à dos intervenientes no processo e o baixo índice de recuperabilidade dos
empresarial, Assembleia
Humaira Alda Alberto
créditos em curto espaço de tempo têm, indubitavelmente, constituído
verdadeiros desafios à implementação do RJIREC no nosso ordenamento
Consultora Júnior
Jurista jurídico, criando uma reacção em cadeia à estabilidade e desenvolvimento
halberto@salcaldeira.com socioeconómico do país, cujos efeitos negativos só poderão ser colmatados
através de uma acção conjunta e associação de esforços entre o Estado e
os demais intervenientes nesse processo, visando, sobretudo, obstar à
perda de créditos e paralisação de unidades produtoras, cuja operacional-
ização contribui para a geração de renda.

04 | SAL & Caldeira Advogados, Lda.


INFORMAÇÃO SOBRE A TAXA DE NOVAS LIGAÇÕES
DOMICILIÁRIAS DOMÉSTICAS

A Resolução nº 1/2017, publicada no dia 9 de Junho de 2017, actualiza a resolução nº


Sheila Tamyris da Silva    
Assistente 2/2010 de 22 de Setembro, que visava viabilizar maior acesso ao serviço de abastecimen-
ssilva@salcaldeira.com Taxas em vigor - 2016 Taxas em vigor - 2017
toNode água às famílias de baixa renda. Esta Normal
Províncias
actualização torna-se necessária
Remisso Normal para melhor
Remisso

se circunscrever o benefício ao grupo alvo e se puder sustentar a sua continuidade.

A presente Resolução estabelece que o pagamento de nova ligação domiciliária é manti-


do no valor de 2.000,00 MT (dois mil meticais) para ligações do tipo “torneira no quintal”,
cuja categorização é confirmada por vistoria pela Entidade Gestora, ou seja, para
habitações sem canalização interna, e pago nos seguintes termos:

1. Pagamento inicial na assinatura do contrato no valor de 650,00 MT;


2. Prestações mensais sucessivas, não superiores a 100,00 MT/cada do valor rema-
nescente de 1350,00 MT, até completar a amortização.

Estabelece também, que o valor total da taxa de nova ligação domiciliária doméstica a
cobrar aos clientes não abrangidos pela categorização “torneira no quintal” é de 4.300,00
MT (quatro mil e trezentos meticais), valor sujeito à actualização.

A presente Resolução entrou em vigor no dia 1 de Julho de 2017.

www.salcaldeira.com | 05
NOVA LEGISLAÇÃO PUBLICADA
Lei nº 10/2017 de 1 de Agosto de 2017- Aprova o Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes do Estado, abreviad-
Rute Nhatave    amente designado por EGFAE e revoga a Lei n.º 14/2009, de 17 de Março.
Arquivista / Bibliotecaria
rnhatave@salcaldeira.com Lei nº 9/2017 de 21 de Julho de 2017 - Aprova o Estatuto dos Oficiais de Justiça e de Assistentes de Oficiais de
Justiça dos Tribunais, Conselho Constitucional e do Ministério Público.

Lei nº 8/2017 de 21 de Julho de 2017 - Lei de Energia Atómica.

Decreto nº 40/2017 de 2 de Agosto de 2017 - Aprova o Regulamento da Exposição à Radiações Electromagnéti-


cas das Estações de Radiocomunicações.

Decreto nº 41/2017 de 4 de Agosto de 2017 - Aprova o Regulamento da Lei do Audiovisual e do Cinema.

Decreto nº 42/2017 de 10 de Agosto de 2017 - Aprova o Regulamento da Taxa de Exportação de Madeira


Processada e revoga o Decreto n.º 21/2011, de 1 de Junho.

Decreto nº 44/2017 de 16 de Agosto de 2017 - Aprova o Regulamento sobre as Regras de Aprovação de Marcas
e Modelos de Veículos Automóveis, Motociclos, Ciclomotores, Tractores Agrícolas ou Florestais, Máquinas Industri-
ais, Agrícolas ou Florestais, Tractocarros, Reboques e Semi-reboques e revoga o artigo 19 do Regulamento do
Código da Estrada, aprovado pela Portaria n.º 13.469, de 6 de Novembro de 1959.

Decreto nº 45/2017 de 16 de Agosto de 2017 - Altera os artigos 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7 e 11 do Regulamento sobre o


Sistema de Matrículas de Veículos Automóveis e Reboques, aprovado pelo Decreto n.º 51/2007, de 27 de Novem-
bro.

Decreto nº 46/2017 de 17 de Agosto de 2017 - Aprova o Estatuto Orgânico e o Organograma do Serviço


Nacional de Investigação Criminal, abreviadamente designado por SERNIC.

Resolução nº 15/2017 de 14 de Agosto de 2017 - Aprova a Informação da Comissão de Petições, Queixas e


Reclamações à V Sessão Ordinária da Assembleia da República.

Resolução nº 1/CSMMP/P/2017 de 18 de Agosto de 2017 - Aprova o Regulamento de Colocação e Transferência


dos Magistrados do Ministério Público.

Resolução nº 2/CSMMP/P/2017 de 18 de Agosto de 2017 - Aprova o Regulamento do Funcionamento do


CSMMP e revoga a Resolução n.º 1/2008/CSMMP/P/2008, de 25 de Julho.

Resolução nº 1/CJ/2017 de 25 de Agosto de 2017 - Aprova o Regulamento dos Serviços de Mediação nos
Tribunais Judiciais.

Resolução nº 2/CJ/2017 de 25 de Agosto de 2017 - Aprova o Código de Conduta dos Mediadores Judiciais.

Diploma Ministerial nº 55/2017 de 30 de Agosto de 2017 - Aprova Regulamento Interno do Instituto Nacional de
Minas.

Aviso nº 17/GBM/2017 de 24 de Agosto de 2017 -Exonera o Conselho de Administração Provisório designado


para gerir o Moza Banco, S.A., no âmbito das medidas extraordinárias de saneamento.

Despacho de 4 de Julho de 2017 - Cria e especializa secções no Tribunal Judicial da Província de Maputo e especial-
iza secções no Tribunal Judicial da Cidade de Tete.

OBRIGAÇŌES DECLARATIVAS E CONTRIBUTIVAS


CALENDÁRIO FISCAL 2017 OUTUBRO
INSS 10 Entrega das contribuições para segurança social referente ao mês de Setem-
Sérgio Ussene Arnaldo     bro de 2017.
Assessor Fiscal e Financeiro
sussene@salcaldeira.com IVA 15 Entrega da declaração periódica quando o sujeito passivo tenha créditos do
imposto.

IRPS 20 Entrega do imposto retido na fonte de rendimentos de 1ª, 2ª , 3ª , 4 ª e 5ª


categoria bem como as importâncias retidas por aplicação de taxas
liberatórias durante o mês de Setembro 2017.
IRPC 20 Entrega do imposto retido durante o mês de Setembro de 2017.
IS 20 Pagamento das importâncias devidas em documentos, contratos, livros e
actos designados na Tabela anexa ao Código de IS referente ao mês de
Setembro de 2017.
PEC 30 3ª Prestação do Pagamento Especial por Conta do IRPC.

IPM 30 Entrega do Imposto sobre a extracção mineira referente ao mês de Setem-


bro de 2017.

IPP 30 Entrega do Imposto sobre a produção de petróleo referente ao mês de


Setembro de 2017.
ICE 30 Entrega da Declaração, pelas entidades sujeitas a ICE, relativa a bens
produzidos em território nacional ou importados.
ISPC 30 Efectuar a entrega do Imposto devido relativo ao trimestre anterior (3º
trimestre).
IVA 30 Entrega da Declaração periódica referente ao mês de Setembro acompan-
hada do respectivo meio de pagamento (caso aplicável).

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