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Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (FD-USP)

DEF0429 - Direito Tributário I

Voto do Julgador
Seminário V

Nome: Alice Conceição do Nascimento


Nº USP: 12510908
Trata-se de Ação Declaratória de Inexistência de Relação Jurídico-Tributária movida
por Memes do Brasil Ltda contra o Estado da Bahia, com o objetivo de contestar a tributação
sobre a divulgação de outdoors físicos pelo Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços
(ICMS), alegando que tal atividade se enquadra como serviço sujeito ao Imposto sobre Serviços
de Qualquer Natureza (ISSQN), de competência municipal.

É o breve relatório. Decido.

Inicialmente, é fundamental esclarecer o que é comunicação, sobretudo no contexto


tributário, pois a controvérsia reside justamente na abrangência do conceito de comunicação para
fins de tributação pelo ICMS

Pois bem. É crucial destacar que a comunicação, no conceito constitucional, precisa


atender a dois requisitos fundamentais. Primeiramente, a comunicação pressupõe um receptor
determinado, ou seja, um destinatário específico da mensagem transmitida. Em segundo lugar, a
comunicação implica na capacidade de interação entre o emissor e o receptor, ou seja, na
possibilidade de resposta ou feedback por parte do destinatário.

No caso dos outdoors físicos utilizados para veicular publicidade, não encontramos
essas características essenciais da comunicação para fins de incidência do ICMS. A mensagem
publicitária exibida em outdoors atinge um público amplo e indeterminado, não havendo um
receptor determinado da mensagem. Além disso, não há interação direta entre o emissor da
mensagem (anunciante) e os potenciais receptores (público-alvo), uma vez que a comunicação é
unidirecional e não permite a resposta imediata ou interação entre as partes.

Portanto, considerando que a divulgação de outdoors para fins publicitários não atende
aos requisitos constitucionais para ser classificada como comunicação sujeita ao ICMS, conclui-
se que essa atividade se enquadra na categoria de publicidade, sujeita ao ISSQN, conforme
previsto no artigo 156, inciso III, da Constituição Federal e na Lei Complementar nº 116/03. Dessa
forma, a tentativa de tributação pelo ICMS sobre a prestação de serviços de publicidade por
outdoors é inadequada e viola os princípios constitucionais e legais que regem a tributação no
Brasil
Assim, a tentativa do Estado da Bahia de tributar a publicidade por outdoors através do
ICMS viola a competência tributária municipal estabelecida na Constituição Federal, que atribui
aos municípios a instituição de impostos sobre serviços de qualquer natureza. A Lei
Complementar nº 116/03 reforça essa competência ao listar explicitamente a publicidade como
um serviço sujeito ao ISSQN no item 17.06 da lista anexa à Lei Complementar n.º 116/03,

Ademais, a legislação estadual que busca alargar a base de incidência do ICMS para
incluir a publicidade por outdoors contraria as disposições da Lei Complementar nº 116/03, que
estabelece as normas gerais em matéria de legislação tributária. Tal ato legislativo configura uma
violação ao princípio da legalidade estrita no âmbito tributário, estabelecido pelo artigo 110 do
Código Tributário Nacional.

Diante do exposto, em vista da distinção entre comunicação e publicidade, da invasão à


competência tributária municipal e da violação ao princípio da legalidade tributária, julgo
procedente a presente ação, declarando a inexistência de relação jurídico-tributária quanto
à incidência de ICMS sobre a prestação de serviços de publicidade por outdoors,
determinando que o Estado da Bahia se abstenha de efetuar qualquer cobrança ou exigência
tributária nesse sentido.

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