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Dourados 2021
CENTRO UNIVERSITÁRIO DA GRANDE DOURADOS
Dourados 2021
3
ABSTRACT: This article seeks to analyze the possibility of increasing the tax called Tax on
Transmission Cause Mortis and Donation (ITCMD), which applies to the cases of free transfer
of movable and immovable property. Thus, it will be the object of study in the current scenario
of a given tax, as social and legal imputed on the possibility of its increase, and the likely
reduction of social and regional inequalities in Brazil, since the increase in its social rates can
consolidate the principles of constitutional equality and contributory capacity, which are in
compliance with the Federal Constitution of Brazil, and must be respected. As a methodology,
bibliographic research, judgments of Brazilian courts, law compared to developed countries
and research on internet sites were used.
1
Acadêmico do Curso de Direito do Centro Universitário da Grande Dourados – UNIGRAN. Turma do Ano de 2018.
E-mail: 12.9350@alunos.unigran.br
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1. INTRODUÇÃO
Este limite foi instituído pela Resolução n. 9/92 do Senado Federal, órgão competente
para fixar a alíquota máxima do ITCMD. Sendo assim, apenas o próprio Senado Federal
poderá aumentá-la ou reduzi-la.
Não obstante, há projetos em trâmite para o debate no Senado Federal, como exemplo,
o projeto elaborado em 2019 pelo Senador Cid Gomes, que visa majorar para 16% a alíquota
do ITCMD.
No entanto, há resistência para aprovar a majoração dessa alíquota, posto que entra
em discussão direito a herança, que é constitucional, em contraste com o princípio da
capacidade contributiva e isonomia, que estão positivados na Constituição de 1988 e que
possuem força normativa.
2. CONCEITO DE TRIBUTO
A definição de tributo tem sede legal no artigo 3º do Código Tributário Nacional, que
traz o conceito “oficial de tributo”2:
“Art. 3º. Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se
possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante
atividade administrativa plenamente vinculada”3.
2
ALEXANDRE, Ricardo. Direito tributário / Ricardo Alexandre - 15. ed. rev., atual, e ampl. - Salvador - Ed.
JusPodivm, 2021, pág. 43.
3
Lei nº 5. 172, de 25 de Outubro de 1966. Disponível em
http://www.receita.fazenda.gov.br/Legislacao/CodTributNaci/ctn.htm. Acesso em: 6 de dezembro.
5
Quanto ao início da redação do dispositivo, a doutrina majoritária entende que a
expressão “em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir” se refere à hipótese de pagamento
dos tributos por outros meios que não sejam pecúnia.
A prestação que não constitui sanção de ato ilícito é justamente o que diferencia o tributo
da multa. Sendo assim, multa não tem finalidade arrecadatória, apesar de ser tributo
derivado5.
Esse fato decorre do brocardo pecunia non olet (dinheiro não cheira)6, que advém da
história de um dos mais importantes imperadores de Roma, Vespasiano. Seu filho, Tito,
estava inconformado com o fato de que seu pai cobrava taxas sobre mictórios públicos.
Foi então que Vespasiano deu uma moeda de ouro para seu filho cheirar: Olet? (Cheira?).
Pecunia non olet (dinheiro não cheira). Eis a origem da legalidade da cobrança de tributos
sobre quaisquer fatos geradores, inclusive criminosos, que por consequência, obedece ao
princípio da isonomia tributária.
Outro ponto importante, é o fato de que tributo não pode constituir confisco, justamente
por que o confisco decorre de ato ilícito, e o tributo não. Isso porque, a constituição Federal
permite tão somente a perda de bens, no art. 5º, XLVI, “b”7, apenas como punição.
Por esse motivo, ao se tratar do Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação
4
ALEXANDRE, Ricardo. Direito tributário / Ricardo Alexandre - 15. ed. rev., atual, e ampl. - Salvador - Ed.
JusPodivm, 2021, pág. 45
5
ALEXANDRE, Ricardo. Direito tributário / Ricardo Alexandre - 15. ed. rev., atual, e ampl. - Salvador - Ed.
JusPodivm, 2021, pág. 47.
6
ALEXANDRE, Ricardo. Direito tributário / Ricardo Alexandre - 15. ed. rev., atual, e ampl. - Salvador - Ed.
JusPodivm, 2021, pág. 47.
7
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.
6
(ITCMD), há uma linha tênue entre majorar a alíquota (o percentual que recai sobre o fato
gerador), consolidando a isonomia tributária, e evitar o efeito de confisco sobre o contribuinte.
Uma das maiores (se não a maior) discussões em âmbito de direito tributário, recai nas
classificações dos tributos. São várias correntes com diferentes posicionamentos, mas para
fins deste artigo, serão tratadas duas classificações: a tripartida e a pentapartida.
O CTN dispõe no art. 5º que tributos são impostos, taxas e contribuições de melhoria, ou
seja, adota a teoria tripartida das espécies de tributos. Há quem entende que a constituição
também partilha desse entendimento, visto que o art. 145 dispõe as mesmas espécies
tributárias para serem instituídas pelos Estados, Municípios, DF e a União.
Tanto que, no art. 148 a Constituição Federal11 prevê a competência exclusiva da União
para instituir o empréstimo compulsório. Além disso, o art. 149 também prevê a competência
da União para contribuições especiais, e a competência dos municípios e DF para instituir a
contribuição para custeio do serviço de iluminação pública12.
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ALEXANDRE, Ricardo. Direito tributário / Ricardo Alexandre - 15. ed. rev., atual, e ampl. - Salvador - Ed.
JusPodivm, 2021, pág. 51.
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ALEXANDRE, Ricardo. Direito tributário / Ricardo Alexandre - 15. ed. rev., atual, e ampl. - Salvador - Ed.
JusPodivm, 2021, pág. 52.
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ALEXANDRE, Ricardo. Direito tributário / Ricardo Alexandre - 15. ed. rev., atual, e ampl. - Salvador - Ed.
JusPodivm, 2021, pág. 52.
11
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.
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ALEXANDRE, Ricardo. Direito tributário / Ricardo Alexandre - 15. ed. rev., atual, e ampl. - Salvador - Ed.
JusPodivm, 2021, pág. 53.
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A classificação dos tributos tem como objetivo agrupar, de forma didática, determinadas
características comuns dos tributos, para tornar mais fácil a compreensão do fenômeno
tributário. Nesse sentido, não há critério certo ou errado para as classificações, apenas
adequadas ou inadequadas ao fim proposto13.
Desse modo, neste artigo serão tratadas cinco classificações, de acordo com o objetivo
aqui proposto, que é a possibilidade de majoração do ITCMD.
Quando se depara com essa classificação pela primeira vez, podemos entender que se´ra
abordada a incidência do tributo sobre pessoas e coisas. Mas não é esse o intuito.
De outro lado, os tributos pessoais tem como base de cálculo condutas ou negócios
jurídicos. Como exemplo, do esforço do labor de um trabalhador, será auferido o Imposto de
Renda e as contribuições previdenciárias.
Os tributos indiretos podem ser definidos como aqueles que incidem uma única vez sobre
o fato gerador. De forma simplificada, ocorrendo o fato gerador, será pago o tributo de forma
integral pelo contribuinte. A maioria dos tributos são integrantes dessa classificação, como
exemplo o ITCMD e o Imposto de Renda.
Os tributos indiretos tem incidência fracionada. Ou seja, diversas vezes o mesmo tributo
recai sobre uma atividade econômica. Como exemplo, o IPI e o ICMS. No entanto, para não
tornar a carga tributária elevada, e evitar a dupla tributação sobre a mesma cadeia econômica,
a Constituição Federal estabeleceu o princípio da não cumulatividade (Arts. 153, § 3º, II, e
13
CAPARROZ, Roberto. Direito tributário esquematizado / Roberto Caparroz ; coordenador Pedro Lenza. – 3. ed. –
São Paulo: Saraiva Educação, 2019, pág. 63.
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CAPARROZ, Roberto. Direito tributário esquematizado / Roberto Caparroz ; coordenador Pedro Lenza. – 3. ed. –
São Paulo: Saraiva Educação, 2019, pág. 65.
8
155, § 2º, I)15.
Para melhor compreensão, vale citar o exemplo dado por Roberto Caparroz16, que cita a
cadeia econômica da fabricação e venda de um sapato, na qual incide 18% de ICMS sobre o
valor da venda.
Na venda de R$ 20,00, o fabricante pagou 18% sobre esse montante (R$ 3,60). Em
seguida, o distribuidor vendeu por R$ 50,00 ao lojista, e teve de pagar 18% igualmente (R$
9,00), no entanto, desses R$ 9,00, poderá descontar os R$ 3,60 já pagos pelo fabricante, ou
seja, o total devido é R$ 9,00 – R$ 3,60, que é igual a R$ 5,40.
Em seguida, o lojista vende ao consumidor final pelo preço de R$ 100,00, cujo ICMS de
18% traduz em R$ 18,00. Desse valor, poderá ser descontado R$ 9,00 a título de ICMS já
pagos pelo distribuidor e o fabricante, ou seja, restam R$ 9,00 para o lojista pagar antes de
realizar a venda ao consumidor final.
Roberto Caparroz17 afirma, ainda, que os tributos indiretos, como o ICMS, não são
capazes de atender o principio constitucional da capacidade contributiva, que é o princípio
basilar do direito tributário, que impõe ao Estado a obediência à capacidade econômica do
contribuinte.
Nesse sentido, com relação aos tributos diretos, podemos identificar o contribuinte, e a
incidência recai de forma individual, de modo que as pessoas com maior capacidade
econômica podem sofrer maiores tributações, e pessoas com menor capacidade, pagam
menores alíquotas, de acordo com seu rendimento financeiro. Desse modo, a título de
exemplo, países desenvolvidos utilizam alíquotas do Imposto de Renda e ITCMD que chegam
a 50% do valor da base de cálculo, sem que a população fique indignada ou cause
desobediência civil18.
15
CAPARROZ, Roberto. Direito tributário esquematizado / Roberto Caparroz ; coordenador Pedro Lenza. – 3. ed. –
São Paulo: Saraiva Educação, 2019, pág. 67.
16
CAPARROZ, Roberto. Direito tributário esquematizado / Roberto Caparroz ; coordenador Pedro Lenza. – 3. ed. –
São Paulo: Saraiva Educação, 2019, pág. 68.
17
CAPARROZ, Roberto. Direito tributário esquematizado / Roberto Caparroz ; coordenador Pedro Lenza. – 3. ed. –
São Paulo: Saraiva Educação, 2019, pág. 70.
18
CAPARROZ, Roberto. Direito tributário esquematizado / Roberto Caparroz ; coordenador Pedro Lenza. – 3. ed. –
São Paulo: Saraiva Educação, 2019, pág. 70.
9
Os tributos vinculados quanto a hipótese de incidência se refere a uma atividade ou
contraprestação do Estado como fato gerador do tributo. Como exemplo, o alvará de
funcionamento de um comércio concedido pela prefeitura de um município, é um tributo
vinculado à uma atividade do Estado (que é a expedição do alvará)19.
Desse modo, a doutrina costuma dar a nomenclatura aos tributos vinculados de “não
contributivos”, e os tributos não vinculados de “contributivos”, visto que este tem a finalidade
exclusiva de arrecadação sem qualquer contraprestação estatal, e aqueles, a finalidade de
arrecadação a partir de uma atividade do Estado.
Há quem já se perguntou: “por que o IPVA que eu pago não é destinado à melhoria das
ruas da minha cidade?”. Aqui está o motivo, o IPVA não é tributo vinculado quanto ao destino
de sua arrecadação.
Tributos de arrecadação vinculada são aqueles cujo valor arrecadado é destinado aos fins
pelo qual foi instituído, como as contribuições da seguridade social, em que o produto da
arrecadação é direcionado aos cofres da própria seguridade social20.
Por outro lado, os tributos não vinculados ao destino da arrecadação têm finalidade de
abastecer os cofres públicos para aplicação em diversas esferas. Nesse caso, fica a critério do
poder público a escolha do destino do montante arrecadado, podendo tanto ser aplicado nas
ruas de sua cidade, como no custeio de parques, agentes públicos ou obras.
Os impostos são tributos não vinculados ao destino de sua arrecadação, visto que, como
citado acima, tributos como IPVA, ITCMD ou IR, não possuem um destino específico, pois
são destinados aos cofres gerais do Estado, que, a seu critério, aplicará onde achar necessário.
19
CAPARROZ, Roberto. Direito tributário esquematizado / Roberto Caparroz ; coordenador Pedro Lenza. – 3. ed. –
São Paulo: Saraiva Educação, 2019, pág. 73.
20
CAPARROZ, Roberto. Direito tributário esquematizado / Roberto Caparroz ; coordenador Pedro Lenza. – 3. ed. –
São Paulo: Saraiva Educação, 2019, pág. 74.
21
CAPARROZ, Roberto. Direito tributário esquematizado / Roberto Caparroz ; coordenador Pedro Lenza. – 3. ed. –
São Paulo: Saraiva Educação, 2019, pág. 80.
10
“A ideia natural do sistema tributário é a de proporcionalidade, ou seja, a manutenção de
alíquotas fixas (em termos percentuais, conhecidas como ad valorem) para todas as
manifestações econômicas atinentes a dado tributo, de modo que seria a variação da base de
cálculo o fator de impacto no montante da arrecadação.
Tal é o caso, entre muitos outros, do IPVA (Imposto sobre a Propriedade de Veículos
Automotores): pouco importa se o automóvel vale “X” ou dez vezes esse valor, pois, em
qualquer hipótese, a alíquota será exatamente a mesma, desde que sob circunstâncias
semelhantes.
Nesse cenário, quanto maior a base de cálculo, maior o valor arrecadado, muito embora
a alíquota se mantenha constante.”
Tributos regressivos, no entanto, mantem alíquotas fixas, como o ICMS e o IPI, o que
traz diversas problemáticas relacionadas a capacidade contributiva e a isonomia. Veja, uma
pessoa que recebe um salario mínimo, e outra pessoa que ganha dez salários mínimos devem
ambas pagar o mesmo percentual sobre o arroz, o feijão, a televisão, o celular, entre outros.
Perceba que este tipo de tributo não diferencia o contribuinte que ganha pouco e o
contribuinte que recebe muito. Por esse motivo, pessoas que possuem menor capacidade
contributiva acabam destinando parte de sua renda para produtos essenciais, sem qualquer
reserva financeira, e as pessoas que possuem maior capacidade contributiva não tem qualquer
comprometimento da sua renda com o indispensável para sobrevivência.
Para melhor compreensão da extensão desses problemas, Maria Helena Zockun, coletou
dados que revelaram, em 2004, que quem ganhava até dois salários mínimos comprometia
cerca de 48% de sua renda para pagar tributos, enquanto famílias que possuíam renda superior
a 30 salários mínimos pagavam apenas 26,3%22.
O Estado tem a prerrogativa de instituir tributos previstos em lei, a isso dá-se o nome de
principio da legalidade. Mas há limites que o Legislador deve respeitar ao aplica-los. Esses
limites são previstos na Constituição Federal, e visam evitar a liberdade do legislador de criar
22
ZOCKUN, Maria Helena, Simplificando o Brasil: propostas de reforma na relação econômica do governo com o
setor privado, passim.
11
quaisquer tributos, hipóteses de incidência e alíquotas exorbitantes ou tributos surpresa.
Os “princípios são o início de tudo, o que vem primeiro, a primeira parte de qualquer
estrutura”23. Sendo assim, mediante princípios e imunidades, a Constituição limita o poder
dos entes federados de tributar o contribuinte.
O art. 150 da Constituição Federal24 dispõe a respeito das vedações (limites) que devem
ser obedecidos pelos Estados, a União, Municípios e Distrito Federal:
23
CAPARROZ, Roberto. Direito tributário esquematizado / Roberto Caparroz ; coordenador Pedro Lenza. – 3. ed. –
São Paulo: Saraiva Educação, 2019, pág. 80.
24
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.
25
BARBOSA, Rui. Rio de Janeiro: Casa de Rui Barbosa. 1956, p. 32.
26
CAPARROZ, Roberto. Direito tributário esquematizado / Roberto Caparroz ; coordenador Pedro Lenza. – 3. ed. –
São Paulo: Saraiva Educação, 2019, pág. 271.
27
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.
12
equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por
eles exercida, independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou
direitos;”
O melhor exemplo de isonomia constitucional é a progressividade das alíquotas do
Imposto de Renda, que estipula o aumento gradativo do tributo de acordo com a renda
auferida. Mesmo assim, como bem esclarece o ilustre professor Roberto Caparroz, os tributos
progressivos no Brasil merecem críticas28:
“De acordo com a tabela, qualquer pessoa que receba durante dado mês valor inferior a R$
1.903,98 estará isenta do imposto de renda no período.
Isso não significa que, em termos econômicos, todos aqueles considerados isentos estejam
em situação de igualdade. Se, por exemplo, encontrássemos nossos amigos João, que
recebeu R$ 900,00 no mês, e Maria, que teve renda de R$ 1.800,00, e lhes disséssemos que
desfrutam de igual condição, certamente teríamos problemas.
Na prática, Maria recebeu o dobro de João, embora, juridicamente (para fins de tributação),
as rendas sejam equivalentes e mereçam igual tratamento, posto que ambos estariam na
mesma “gaveta”.
Se analisarmos o outro extremo da tabela, mais visíveis ainda serão as distorções.”
Acrescenta o autor, ainda, que a maior faixa de tributação, com alíquota de 27,5%, irá
incidir sobre contribuintes com renda superior a R$ 4.664,68, no entanto, acima desse
montante, não há qualquer critério de distinção, de modo que contribuintes que recebem R$
50.000,00 ou R$ 5.000.000,00 terão idêntica tributação, em todos os casos29.
Apesar da boa intenção do constituinte, o legislador ordinário não conseguiu (ou não
quis), estabelecer critérios que obedeçam a o princípio da igualdade, de forma a efetivar a
justiça social e economia que tanto aflige a população do Brasil.
28
CAPARROZ, Roberto. Direito tributário esquematizado / Roberto Caparroz ; coordenador Pedro Lenza. – 3. ed. –
São Paulo: Saraiva Educação, 2019, pág. 273.
29
CAPARROZ, Roberto. Direito tributário esquematizado / Roberto Caparroz ; coordenador Pedro Lenza. – 3. ed. –
São Paulo: Saraiva Educação, 2019, pág. 80
30
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.
13
sobremaneira a vitalidade do princípio no ordenamento brasileiro”31.
Se interpretado no sentido literal, tornaria o comando legal inócuo, mas devemos dar o
sentido que nos parece incontroverso, de que o legislador quis dar maior efetividade ao
instituto.
Para esclarecer, pode-se citar o exemplo de duas pessoas que recebem R$ 5.000,00
mensais. A pessoa “A” é solteira, e a pessoa “B” é casada, e possui dois filhos. Ambas terão
de pagar o mesmo percentual do Imposto de Renda, qual seja 27,5%. No entanto, como a
pessoa “B” possui mais responsabilidades e ônus dentro de casa, ela poderá abater as custas
com escolas, insumos médicos e relacionados, para não pagar a integralidade do Imposto de
Renda, isso porque a capacidade contributiva de “B “é menor que a capacidade econômica
de “A”.
“Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre:
31
CAPARROZ, Roberto. Direito tributário esquematizado / Roberto Caparroz ; coordenador Pedro Lenza. – 3. ed. –
São Paulo: Saraiva Educação, 2019, pág. 274.
32
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.
33
CASTRO, Eduardo de; LUSTOZA, Helton Kramer; GOUVÊA, Marcus de Freitas. Tributos em Espécie. 2ª Ed.
Salvador: Juspodvim, 2015, pág. 582.
14
Antes da Constituição de 1988, o ITBI e o ITCMD se confundiam, pois inexistia a figura
do ITBI, de modo que tanto as transmissões gratuitas e onerosas compunham o mesmo
tributo34.
Quanto a transmissão onerosa de bens móveis, os arts. 35, 38, 39, 41 e 42 do CTN, que
tratavam da matéria, não foram recepcionados pela Constituição Federal, e por esse motivo
que os Estados possuem competência plena para legislar sobre a matéria 35.
Caso o ITCMD tenha por fato gerador a morte, o lançamento se dará por declaração, e
nas demais hipóteses será por homologação, no entanto, no caso concreto, nada impede que
o tributo seja lançado pelos fiscais de oficio.
No âmbito tributário, a doutrina cita duas funções que os tributos podem ter: fiscal e
extrafiscal. A função fiscal se refere a finalidade de os tributos carrearem recursos aos cofres
públicos. Já a função extrafiscal traduz o objetivo que alguns tributos possuem de, além de
arrecadar dinheiro aos cofres públicos, de regular a economia, ou situações sociais
importantes, como o desemprego ou o preço dos produtos no mercado interno.
Sendo assim, o ITCMD possui a finalidade precípua fiscal. Ou seja, tem como objetivo
principal a arrecadação do imposto para carrear os cofres públicos. No entanto, quando
Estados determinam a progressividade (o aumento do valor da alíquota de acordo com o valor
do bem transmitido), pode-se falar em extrafiscalidade36.
O Imposto sobre Transmissão Causa Mortis ou Doação tem previsão legal no art. 35 do
Código Tributário Nacional, que dispõe:
“Art. 35. O imposto, de competência dos Estados, sobre a transmissão de bens imóveis e
de direitos a eles relativos tem como fato gerador:
I- a transmissão, a qualquer título, da propriedade ou do domínio útil de bens imóveis por
natureza ou por acessão física, como definidos na lei civil;
II - a transmissão, a qualquer título, de direitos reais sobre imóveis, exceto os direitos reais
de garantia;
III - a cessão de direitos relativos às transmissões referidas nos incisos I e II.
Parágrafo único. Nas transmissões causa mortis, ocorrem tantos fatos geradores distintos
quantos sejam os herdeiros ou legatários.”
Apesar de o dispositivo não citar bens móveis, por autorização expressa da
34
CASTRO, Eduardo de; LUSTOZA, Helton Kramer; GOUVÊA, Marcus de Freitas. Tributos em Espécie. 2ª Ed.
Salvador: Juspodvim, 2015, pág. 582.
35
CASTRO, Eduardo de; LUSTOZA, Helton Kramer; GOUVÊA, Marcus de Freitas. Tributos em Espécie. 2ª Ed.
Salvador: Juspodvim, 2015, pág. 583.
36
CASTRO, Eduardo de; LUSTOZA, Helton Kramer; GOUVÊA, Marcus de Freitas. Tributos em Espécie. 2ª Ed.
Salvador: Juspodvim, 2015, pág. 582.
15
Constituição Federal, os Estados podem instituir ITCMD sobre doações de bens móveis.
Sendo assim, o ITCMD, de competência dos Estados e Distrito Federal tem como fato
gerador a transmissão gratuita, exclusivamente, de bens móveis e imóveis, e aos municípios
e Distrito Federal cabe a competência de tributar a transmissão onerosa de bens moveis e
imóveis, por meio do ITBI.
A hipótese de incidência recai apenas sobre bens moveis e imóveis dotados de valor
econômico, e que sejam suscetíveis de apropriação pelo homem, sejam corpóreos ou
incorpóreos. Como exemplo: “Não incidirá o ITCMD, por exemplo, sobre a doação de alguns
litros da água do mar ou mesmo sobre alguns gramas de areia da praia” 37.
Por fim, o ITCMD também incide sobre o usufruto. Como leciona o professor Carlos
Roberto Gonçalves:
"Usufruto é o direito de usar uma coisa pertencente a outrem e de perceber-lhe os frutos,
ressalvada sua substância (usus fructus est ius alienis rebus utendi fruendi, salva rerum
substancia)”38.
Nesse caso, haverá a incidência por se tratar de uma doação, ou seja, a transmissão a
titulo gratuito de um bem imóvel. Sendo assim, o fato gerador cumpre os requisitos para
aplicação ao do respectivo imposto.
“Art. 538. Considera-se doação, o contrato em que uma pessoa, por liberalidade,
transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o de outra”40.
37
CASTRO, Eduardo de; LUSTOZA, Helton Kramer; GOUVÊA, Marcus de Freitas. Tributos em Espécie. 2ª Ed.
Salvador: Juspodvim, 2015, pág. 584.
38
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 5: direito das coisas. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2010,
pág. 476.
39
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil.
40
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil.
16
A obrigação surge no momento da morte, quando se tratar do ITCMD causa mortis,
momento do qual todos os bens do de cujus, são transmitidos aos herdeiros e legatários
(ESPECIES 588). Se ocorrer a morte presumida, a incidência terá inicio no momento em que
a lei civil considerar ocorrida a morte.
Nesses casos, o valor é venal, ou seja, será procedida uma avaliação pela Fazenda do
Estado competente para cobrar o ITCMD, conforme dispõe o art. 38 do Código Tributário
Nacional.
Alguns Estados fixam como base de cálculo, para doações oriundas de usufruto ou
usufruto com reserva, a metade do valor venal do bem, para evitar que o bem seja tributado
41
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil.
42
CASTRO, Eduardo de; LUSTOZA, Helton Kramer; GOUVÊA, Marcus de Freitas. Tributos em Espécie. 2ª Ed.
Salvador: Juspodvim, 2015, pág. 590.
17
duas vezes 43.
Não obstante, o ITCMD tem suas alíquotas máximas fixadas pelo Senado Federal.
Sendo assim, a Resolução nº 09/92 do Senado dispõe sobre a alíquota máxima do imposto em
8%. Por esse motivo, os Estados devem evitar fixar alíquotas superiores a 8%, reduzindo
assim, a possibilidade de percentuais confiscatórios.
43
CASTRO, Eduardo de; LUSTOZA, Helton Kramer; GOUVÊA, Marcus de Freitas. Tributos em Espécie. 2ª Ed.
Salvador: Juspodvim, 2015, pág. 592.
44
STF, RE 218.086-AgR, Primeira Turma, julgado em 8-2-2000. No mesmo sentido: STF, RE 225.956, Segunda
Turma, julgamento em 1º-12-1998
45
MACHADO SEGUNDO, Hugo de Brito. Manual de direito tributário / Hugo de Brito Machado Segundo – 11. ed. –
São Paulo: Atlas, 2019, pág. 424.
18
configurar confisco46 .
Sendo assim, a discussão recai sobre a alíquota do referido imposto, visto que no
Brasil, o contraste da desigualdade social é expressivo, e o percentual que recai sobre o
respectivo tributo é irrisório, o que constitui problemática que deve ser superada
imediatamente pelo Senado Federal e pelos legisladores estaduais.
Ricardo Lobos 48 (2007) cita como exemplo a Alemanha, que varia a alíquota do
respectivo imposto (Erbschaftsteuer – Und Schenkungsteuergestz) entre 3% e 70%, de acordo
com o valor do bem a ser transmitido e o grau de parentesco do donatário.
46
MACHADO SEGUNDO, Hugo de Brito. Manual de direito tributário / Hugo de Brito Machado Segundo – 11. ed. –
São Paulo: Atlas, 2019, pág. 424.
47
MACHADO SEGUNDO, Hugo de Brito. Manual de direito tributário / Hugo de Brito Machado Segundo – 11. ed. –
São Paulo: Atlas, 2019, pág. 425.
48
TORRES, Ricardo Lobo. Tratado de direito constitucional financeiro e tributário, vol. IV – Os tributos na
Constituição / Ricardo Lobo Torres – Rio de Janeiro: Renovar. 2007, pág. 241.
49
https://bettencourt.jusbrasil.com.br/noticias/840460937/projeto-de-lei-visa-aumentar-cobranca-do-itcmd. Acessado
em 13.07.2021, as 20:28.
19
residentes no exterior50.
6. CONCLUSÃO
50
https://www.conjur.com.br/2021-jun-10/opiniao-reflexoes-doacao-itcmd-contexto-covid-19. Acessado em
13.07.2021, as 20:36.
51
MACHADO SEGUNDO, Hugo de Brito. Manual de direito tributário / Hugo de Brito Machado Segundo – 11. ed. –
São Paulo: Atlas, 2019, pág. 425.
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alíquota que deve ser fixada. Assim, é preciso evitar algo inexpressivo, bem como afastar o
excesso, sob pena de incorrer em tributo confiscatório, limitando o direito a herança.
Nessa linha, sustentou a suprema corte, que o respectivo tributo é de natureza direta,
e seu caráter progressivo não poderia configurar confisco, visto que seu teto é regulado pelo
Senado Federal.
Nessa linha de raciocínio, imprescindível a discussão sobre o teto imposto pelo Senado
Federal, posto que limita a aplicação do princípio da capacidade contributiva ao parâmetro de
8%.
7. REFERÊNCIAS
ALEXANDRE, Ricardo. Direito tributário / Ricardo Alexandre - 15. ed. rev., atual, e
ampl. - Salvador - Ed. JusPodivm, 2021
https://bettencourt.jusbrasil.com.br/noticias/840460937/projeto-de-lei-visa-
aumentar-cobranca-do-itcmd. Acessado em 13.07.2021, as 20:28.
https://www.conjur.com.br/2021-jun-10/opiniao-reflexoes-doacao-itcmd-contexto-
covid-19. Acessado em 13.07.2021, as 20:36.