Você está na página 1de 45

Direito Fiscal - Prática

Caso prático nº1


No âmbito das medidas adotadas para fazer face ao COVID-19, o Município de Algures pelo
Sul emitiu um Regulamento, através do qual foi instituído o “imposto balnear”, cujo pagamento será
condição de acesso a qualquer praia do Município que integre o domínio público do Estado
português.
O “imposto balnear”, fixado no montante de 20€, deverá ser pago por cada dia de acesso à
praia, e será exigido a cidadãos estrangeiros, durante os meses de junho a setembro de 2022.
Aquando da respetiva cobrança, a cada banhista será entregue um documento denominado “Licença
de acesso à praia”.
Será o “imposto balnear” um verdadeiro imposto? Justifique adequadamente a sua resposta.
Este “imposto balnear” é uma imposição, sendo um tributo dado que é uma prestação coativa exigida
por quem exerce funções públicas para prosseguir o interesse publico amplamente considerado. Este
“imposto balnear” é uma prestação coativa, pois é uma exigência que parte de uma norma jurídica,
quanto à origem e conteúdo que, neste caso, provem de um regulamento. Para além de prosseguir
finalidades públicas aliadas à arrecadação de receitas, neste caso, por motivos de COVID-19, isto é, para
a proteção da saúde pública.
Assim, cabe determinar que tipo de tributo é: imposto, taxa, contribuições especiais ou contribuições
financeiras a favor de uma entidade pública.
Como este tributo tem a denominação de imposto, por isso a qualidade de imposto, importa aferir,
em primeiro lugar, se será um verdadeiro imposto.
O conceito de imposto, em abstrato, é composto por 3 dimensões: dimensão objetiva, subjetiva e
teleológica. Do ponto de vista objetivo é uma prestação patrimonial unilateral, coativa e definitiva; do
ponto de vista subjetivo é um tributo exercido por quem exerce funções públicas a quem detém
capacidade contributiva e do ponto de vista teleológico serve para a prossecução de fins públicos sem
uma natureza sancionatória.
Portanto, face a este conceito de imposto (art. 4.º/1 LGT), o “imposto balnear”, do ponto de vista
objetivo, é uma prestação patrimonial por se tratar de um comportamento de dare “fixado no montante
de 20 euros”, que reverte a favor dos cofres do Estado criada por via de regulamento, portanto coativa,
sendo também definitiva porque após o pagamento não há perspetiva de devolução ou reembolso. Em
relação à unilateralidade importa determinar que em termos abstratos corresponde a uma ausência de
sinalagmaticidade, ou seja, não há uma contraprestação associada. Neste caso não há unilateralidade,
uma vez que parece existir uma contraprestação, uma bilateralidade associada ao pagamento do tributo.

1
Ana Paula Pinto (A97320)
Do ponto de vista subjetivo é exercida pelo Município, logo uma identidade que exerce funções
públicas. A manifestação da capacidade contributiva é evidenciada pelo princípio da capacidade
contributiva, princípio basilar aos impostos, que está intimamente relacionado com o princípio da
igualdade (art. 13.º CRP) que pode assentar na prestação de rendimento, num ato de consumo ou despena
e/ou na obtenção de um património, portanto no limite manifesta-se através do consumo. Aqui poderá
existir uma utilização do rendimento disponível para determinado propósito, o acesso à praia.
Do ponto de vista teleológico, prossegue finalidades públicas e parece não assumir natureza
sancionatória, ou seja, não há intenção de penalizar o seu comportamento por ser contrário à ordem
jurídica, nem mesmo em contexto de pandemia.
Desta forma, o “imposto balnear” não é um verdadeiro imposto porque não há unilateralidade, um
componente central do imposto. Também não parece ser reconduzível o acesso à praia a um serviço de
limpeza ou de controlo. Para além de questionar a capacidade contributiva associada ao pagamento da
licença.
Podemos questionar se será este tributo uma taxa, art. 4.º/2 LGT. Uma taxa é um tributo devido pela
prestação de um serviço, utilização de um bem do domínio público ou pela remoção de um obstáculo
jurídico. Esta é dotada de bilateralidade, isto é, está associada a uma contraprestação específica pelo que
funciona pelo princípio da equivalência entre o valor pago e a contraprestação recebida, sendo
tendencialmente voluntárias, existência de uma utilidade divisível da forma como se usufrui da
contraprestação correspondente ao pagamento da taxa.
Neste caso em concreto, parece estar em causa um acesso a um bem de domínio público, bem como
parece respeitar o princípio da equivalência, ou seja, atendendo à burocracia exigida à emissão da licença
os 20 euros equivalem a um valor praticável. Assim, parece que se aproxima a uma taxa.
Como a designação é irrelevante, isto é, a designação, ter nome de imposto e ser uma taxa, não é
relevante para efeitos de qualificação jurídica.
Por fim, importa referir que não parece estar em causa uma contribuição financeira a favor de
entidade pública, nem propriamente uma contribuição especial, pois mesmo que se considere a
circunstância da praia ser utilizada por mais gente se vai traduzir num maior esforço do Estado no
combate à pandemia não, considero que, seria uma contribuição especial de maior despesa.
!!! Caso pedisse fundamento jurídico-tributários: princípio da igualdade pelo facto de só ser exigido
a estrangeiros, princípio da legalidade nos termos em que foi criado, dado que fosse um verdadeiro
imposto teria de obrigatoriamente ser criado por lei da AR ou decreto-lei autorizado do Governo, nos
termos do art. 165.º/1/i CRP.

2
Ana Paula Pinto (A97320)
Caso Prático nº2
Suponha que o Município de Braga, através de um regulamento, impôs aos respetivos
munícipes, que sejam casados e cujos rendimentos anuais sejam superiores a € 30.000, a obrigação de
pagar, em dezembro de cada ano, a assim designada “taxa extraordinária”, no valor de € 500. Esta
“taxa” será destinada a custear as despesas inerentes aos apoios sociais concedidos pelo Município de
Braga às famílias mais carenciadas.
Será a “taxa extraordinária” uma verdadeira taxa? Em que termos jurídico-tributários é que
poderá ser qualificada a imposição criada pelo Município?
A “taxa extraordinária” é uma imposição imposta a casados com rendimentos anuais superiores
a 30.000 €, portanto um tributo dado que é uma prestação coativa (criada por norma jurídica) exigida
por quem exerce funções públicas (Município) para prosseguir o interesse público amplamente
considerado.
Os tributos podem ser: impostos (art. 4.º/1 LGT), taxas (art. 4.º/2 LGT), contribuições especiais
(art. 4.º/3 LGT) ou contribuições financeiras a favor de entidades públicas (art. 165.º/1/i).
Como o enunciado se refere a este tributo como “taxa” importa aferir se é uma verdadeira taxa.
Uma taxa carateriza-se por ser uma prestação patrimonial (obrigação negativa que implica a entrega de
uma quantia de direito ou algo avaliável em dinheiro, 5000€) devida à utilização de bem do domínio
público, remoção de um obstáculo jurídico ou pela prestação de um serviço pelo que existe
silagmaticidade, ou seja, associada à prestação há uma contraprestação específica que se rege pelo
princípio da equivalência onde o valor e a contraprestação são tendencialmente equivalentes. Para além
de ser tendencialmente voluntárias, consignadas e com utilidade divisível, centrada no sujeito passivo.
Neste caso não existe uma verdadeira bilateralidade associada ao pagamento da prestação, dado
que a utilidade não é centrada nas pessoas casadas com um rendimento anual alto, pelo que o princípio
da equivalência não se aplica. Portanto não é uma taxa.
Podemos questionar se este tributo não será um imposto. Um imposto carateriza-se por ser uma
prestação patrimonial (obrigação de dare um valor pecuniário) unilateral (sem uma contraprestação
associada), definitiva (sem reembolso) e coativa (criada por lei) exigida por quem exerce funções
públicas a quem manifesta capacidade contributiva (capacidade de pagar manifestada através do
consumo, rendimento e património) para prosseguir fins públicos e sem natureza sancionatória.
Neste caso, temos uma prestação patrimonial unilateral, coativa e definitiva tal como referido.
Atenta à capacidade contributiva manifestada através do rendimento para prosseguir fins públicos
(apoios sociais), sem natureza sancionatória. Portanto é um imposto.
Por se tratar de um imposto este tem de obedecer ao princípio da legalidade e da tipicidade, que
são exigentes para proteger os contribuintes, sujeitos passivos.

3
Ana Paula Pinto (A97320)
Segundo Alberto Xavier, o princípio da legalidade tributária é composto por dois critérios:
critério da reserva da fonte produtiva (reserva de lei formal e reserva de lei material) e o critério da
reserva de intensidade (reserva de intensidade máxima e reserva de intensidade mínimo).
À luz do artigo 103.º CRP, apesar da sua ambiguidade, no que diz respeito aos impostos,
especialmente à sua criação e à alteração dos seus elementos essenciais existe reserva de lei formal e
reserva de intensidade máxima, sendo reforçado pelo art. 8.º/1 LGT.
Neste caso em concreto, tal como referido em cima, estamos perante a criação de imposto. Assim,
pelo art. 103.º CRP, art. 8.º/1 LGT e art. 165.º/1/i a criação tem de ser através de lei da AR ou decreto-
lei autorizado do Governo. Como refere o enunciado foi criado por um regulamento, portanto estamos
perante uma inconstitucionalidade orgânica e formal.
Já pelo princípio da tipicidade, inerente ao princípio da reserva de intensidade máxima, a lei
fiscal tem de obedecer a várias exigências: coativa, determinada, seletiva, exclusiva e numerus clausus,
isto é, as normas fiscais são normas jurídicas, com um elenco fechado e taxativo das situações, precisas
sem conceitos indeterminados ou cláusulas gerais, identifica os destinatários, sem margem interpretativa
no que diz respeito às obrigações fiscais, pelo que são as únicas que contém a incidência.

Caso Prático nº3


Perante o regresso da população, em massa, aos centros comerciais, um grupo de deputados
propõe a criação de uma nova taxa: a “taxa-shopping”, destinada a compensar os custos de
congestionamento gerados pelas deslocações aos centros.
A “taxa-shopping” será paga pelos utilizadores dos centros comerciais, aquando da respetiva
entrada nos centros, e será fixada no valor de 3€, por pessoa.
A “Associação dos Shoppings Unidos” teme que o pagamento desta nova imposição iniba a
população de continuar a frequentar os centros comerciais e, como forma de evitar este cenário,
encontra-se a preparar uma campanha publicitária, anunciando o seguinte: “Bombástico: esqueça o
IVA nas suas compras! Nós pagamos!”
Quid iuris?
A “taxa-shopping” é uma imposição imposta aos utilizadores dos centros comerciais, sendo
igualmente um tributo porque é uma prestação coativa exigida por quem exerce funções públicas para
prosseguir o interesse público amplamente considerado. Neste caso, no combate à pandemia do COVID-
19, pela não utilização dos centros comerciais.
Os tributos podem ser: impostos (art. 4.º/1 LGT), taxas (art. 4.º/2 LGT), contribuições especiais
(art. 4.º/3 LGT) ou contribuições financeiras a favor de entidades públicas (art. 165.º/1/i).
Como o enunciado atribui a este tributo a designação de “taxa-shopping” é necessário aferir se
este tributo é realmente uma taxa.
4
Ana Paula Pinto (A97320)
A taxa é um tributo devido pela prestação de um serviço, utilização de um bem do domínio
público ou pela remoção de um obstáculo jurídico, ou seja, é dotada de bilateralidade pelo que está
associada a uma contraprestação específica pelo que funciona pelo princípio da equivalência entre o
valor pago e a contraprestação recebida, sendo tendencialmente voluntárias, existência de uma utilidade
divisível da forma como se usufrui da contraprestação correspondente ao pagamento da taxa.
Neste caso, parece que não existe uma bilateralidade porque o pagamento da taxa não pressupõe
nem um serviço público, a utilização de bem de domínio público nem a remoção de um obstáculo
jurídico. O pagamento só é realizado para entrar no centro comercial que se presume ser uma entidade
privada, não se reconduzindo a nenhuma das contrapartidas enumeradas no art. 4.º/2 LGT.
Assim, a “taxa-shopping” não é uma verdadeira taxa.
Podemos questionar se este tributo não será um imposto. Um imposto carateriza-se por 3
dimensões: objetiva, subjetiva e teleológica pelo que é uma prestação patrimonial coativa, definitiva e
unilateral exercida por quem exerce funções públicas a quem manifesta capacidade contributiva para
prosseguir fins públicos e sem natureza sancionatória.
Neste caso existe unilateralidade porque o propósito é atenuar custos associados ao
congestionamento que se podem reconduzir a várias coisas, não há divisibilidade de resultados, sendo
que a capacidade contributiva é reconduzível à manifestação através do consumo. No entanto, não parece
ser suficiente.
Importa, assim, questionar se não é uma contribuição especial de maior despesa, isto é, se o
pagamento não está associado a uma atuação dos particulares que tem como consequências aumento da
despesa pública. Desta forma, parece que o pagamento está associado a um comportamento que poderá
uma situação de maior despesa do Estado com cuidados de saúde, por exemplo.
Neste caso ainda importa aferir se os particulares como os lojistas podem fazer publicidade no
sentido apresentado no caso dado que está em causa a incidência subjetiva de um imposto, o IVA. A
alteração de um elemento essencial como a incidência objetiva (sobre o que recai o imposto) é uma
matéria da competência relativa da AR pelo que só esta ou o Governo quando autorizado pode legislar.
Assim, a publicidade é enganadora porque continua a ser o consumidor a pagar o Iva no produto final,
apenas há um desconto nos produtos no valor do IVA.

5
Ana Paula Pinto (A97320)
Caso Prático nº4
Suponha que no passado dia 21 de fevereiro de 2022, por decreto-lei simples, foi criada a
“taxa sobre o digital”, que veio sujeitar a tributação todos os serviços digitalmente prestados em
Portugal. No seguimento da publicação do aludido diploma, foi emitido um ofício-circulado, que veio
definir os casos em que a “taxa sobre o digital” não será devida.
Diga se a “taxa sobre o digital” representa uma verdadeira taxa.
Estamos perante um imposição relativa à tributação dos serviços digitais, portanto um tributo
dado que é uma imposição coativa (criada por norma jurídica) exercida por quem exerce funções
públicas (Estado em latu sensu) para públicos amplamente considerados.
Os tributos podem ser: impostos (art. 4.º/1 LGT), taxas (art. 4.º/2 LGT), contribuições especiais
(art. 4.º/3) e contribuições financeiras a favor de entidades públicas (art. 165.º/1/i CRP).
Como este tributo tem a denominação de taxa, importa aferir se é uma verdadeira taxa. Uma taxa
é uma prestação patrimonial, isto é, uma obrigação de dare sobre uma quantia pecuniária ou objeto
suscetível de avaliação pecuniária (dação) devida à utilização de bem do domínio público, utilização de
serviço público ou remoção de obstáculo jurídico. Portanto, existe uma bilateralidade, ou seja, associado
ao pagamento está uma contraprestação específica que se rege pelo princípio da equivalência, pelo que
o valor pago e a contraprestação serão tendencialmente equivalentes. Para além dito, esta carateriza-se
pela consignação, por ser tendencialmente voluntárias e por uma utilidade divisível, sendo que a
contraprestação está centrada no sujeito passivo.
Neste caso, a “taxa sobre o digital” não parece ser uma verdadeira taxa dado que associado ao
seu pagamento não existe nenhuma contraprestação, ou seja, não existe silagmaticidade que se tenha de
reger pelo princípio da equivalência, pois a taxa tem por finalidade tributar um serviço, neste caso,
serviços digitais prestados em Portugal.
Assim, é necessário aferir se poderá ser um imposto. Um imposto é composto por 3 dimensões:
objetiva, subjetiva e teleológica, ou seja, uma prestação patrimonial (obrigação de dare numa quantia
pecuniária) unilateral (sem uma contraprestação associada ao pagamento), coativa (criada por lei) e
definitiva (depois de paga não há reembolso) exigida por quem exerce funções públicas a quem
manifesta capacidade contributiva (capacidade para pagar) para prosseguir fins públicos sem natureza
sancionatória.
Neste caso, este tributo tal como referido em supra tem unilateralidade, isto é, não tem associado
uma contraprestação específica, é uma prestação patrimonial, exigida pelo Estado a quem tem
capacidade contributiva revelada através do rendimento obtido pela prestação de um serviço digital em
Portugal, sem natureza sancionatório e com vista a prosseguir fins públicos. Assim, estão preenchidas
todas as caraterísticas de um imposto.

6
Ana Paula Pinto (A97320)
Em suma, a “taxa sobre o digital” não é uma verdadeira taxa, mas um imposto. No entanto, a
denominação atribuída pelo legislador do tributo não é relevante, tal como o TC tem afirmado nos
últimos anos.

Princípios jurídico-tributários
Neste caso, importa destacar de entre os princípios jurídico-tributários o princípio da
legalidade. Devido ao facto de o Direito Fiscal ser um direito de sobreposição tem por base o
princípio da legalidade nas suas duas vertentes positiva e negativa, isto é, a lei funciona como
limite à atuação da AP e como fundamento para infraconstitucionais.
No entanto, devido à autonomização do Direito Fiscal, este princípio é autonomizado,
ou seja, é o princípio da legalidade tributária que, segundo Alberto Xavier, é composto por
dois critérios: critério da reserva da fonte produtiva (reserva de lei formal e reserva de lei
material) e o critério da reserva de intensidade (reserva de intensidade máxima e reserva de
intensidade mínimo).
À luz do artigo 103.º CRP, apesar da sua ambiguidade, no que diz respeito aos
impostos, especialmente à sua criação e à alteração dos seus elementos essenciais existe
reserva de lei formal e reserva de intensidade máxima, sendo reforçado pelo art. 8.º/1 LGT.
Neste caso em concreto, tal como referido em cima, estamos perante a criação de
imposto. Assim, pelo art. 103.º CRP, art. 8.º/1 LGT e art. 165.º/1/i a criação tem de ser através
de lei da AR ou decreto-lei autorizado do Governo. Como refere o enunciado foi criado por um
decreto-lei simples, portanto estamos perante uma inconstitucionalidade orgânica e formal.
Para além de que é necessário considerar a norma jurídica que determina os casos em
que o imposto não será devido ser um oficioso-circular, pois estamos perante um benefício
fiscal, portanto um elemento essencial dos impostos que tem reserva de lei formal e reserva
de intensidade máxima (art. 8.º/1 LGT e art. 103.º/2 CRP).

21 de fevereiro de 2022
Suponha agora que, de acordo com o aludido decreto-lei, a “taxa sobre o digital” incidirá
sobre todos os serviços digitalmente prestados desde 19 de março de 2018. A “Publicidade Digital,
Lda.” é uma sociedade comercial que presta digitalmente serviços de publicidade em Portugal desde
janeiro de 2018.
O que diria ao gerente desta sociedade se este lhe perguntasse se deveria pagar esta “taxa
sobre o digital” relativamente aos serviços prestados no passado?

7
Ana Paula Pinto (A97320)
Tal como mencionado em supra, a “taxa sobre o digital” é um imposto. Este imposto é
um imposto de prestação/obrigação única, isto é, tem por base um facto tributário único e
instantâneo com uma obrigação única.
Como está em causa um caso de aplicação da lei fiscal no tempo este vai afetar o
princípio da segurança jurídica incito no princípio de Estado de Direito do art. 2.º CRP que
obriga ao Estado garantir a confiança dos particulares nele. Portanto, exige a clareza das
normas, proibição de pré-efeitos, emanação de informações vinculativas e de avaliações
prévias e proibição da retroatividade.
Neste caso em particular, está em causa a dimensão da proibição de efeitos retroativos
dado que a lei surge em 21/02/2022 e afetará todos os factos tributários desde 19/03/2018.
Devido ao facto de o Direito fiscal ser um direito de sobreposição, este vai adaptar a
classificação dos efeitos retroativos: retroatividade pura, retroatividade impura e
retrospetividade.
A retroatividade pura refere-se a uma lei que vai afetar factos tributários que nasceram
e se concluíram no passado. A retroatividade impura é quando a lei afeta factos tributários
que nasceram no passado, sobre os quais ainda não ocorreu a liquidação nem a cobrança. A
retrospetividade é quando a lei afeta factos tributários que nasceram no passado e ainda não
se formaram. Segundo a doutrina e jurisprudência maioritária, apenas é proibida a
retroatividade pura, sendo que nos outros tipos só será proibida caso viole o princípio da
proteção da confiança, contudo Vasques considera que a retroatividade impura também é
proibida.
Neste caso, estamos perante uma retroatividade pura porque os factos que ocorreram
entre 19/03/2018 e 22/02/2022 são factos instantâneos de obrigação única, portanto já
consolidados.
Assim, estamos perante uma inconstitucionalidade porque esta retroatividade é
expressamente proibida pelo art. 103.º/3 CRP, portanto uma violação do princípio da
segurança jurídica, uma inconstitucionalidade material.

8
Ana Paula Pinto (A97320)
Caso Prático nº5
Suponha que foi requerido, junto do TC, a fiscalização da constitucionalidade das normas do
Regulamento da Taxa Municipal de Proteção Civil de Aveiro que estavam na base da criação da Taxa
Municipal de Proteção Civil de Aveiro. Esta taxa seria devida pelas pessoas singulares que residissem
na área do Município de Aveiro e pelas pessoas coletivas que aí tivessem sede, agência, sucursal,
filial, delegação ou representação ou que aí desenvolvessem atividade profissional e industrial.
Nos termos do aludido Regulamento, e na parte dedicada à justificação da implementação
Taxa Municipal de Proteção Civil (TMPC), podia ler-se o seguinte: “[d]e acordo com a Lei de Bases da
Proteção Civil (Lei n.º 27/2006, de 3 de julho), a proteção civil é uma atividade desenvolvida pelo
Estado, Regiões Autónomas e Autarquias Locais, pelos cidadãos e por todas as entidades públicas e
privadas com a finalidade de prevenir riscos coletivos inerentes a situações de acidente grave ou
catástrofe, de atenuar os seus efeitos e proteger e socorrer as pessoas e bens em perigo quando
aquelas situações ocorram.
As taxas previstas no Anexo I do Regulamento da TMPC do Município de Aveiro referem -se
ao serviço público prestado pelos Bombeiros e pela Proteção Civil Municipal, no âmbito dos serviços
de:
a) Prevenção dos riscos coletivos e a ocorrência de acidente grave ou de catástrofe deles resultantes;
b) Atenuação dos riscos coletivos e limitação dos seus efeitos no caso de ocorrência de acidente grave
ou de catástrofe;
c) Socorrer e assistir as pessoas e outros seres vivos em perigo e proteger bens e valores culturais,
ambientais e de elevado interesse público;
d) Reposição da normalidade da vida das pessoas em áreas afetadas por acidente grave ou catástrofe.
O TC declarou a inconstitucionalidade, com força obrigatória geral, das normas consagradoras
da aludida Taxa Municipal de Proteção Civil de Aveiro.
Quid iuris? [caso baseado no Ac. TC n.º 775/2019]
A taxa municipal de proteção civil é uma imposição imposta a todos os cidadãos e pessoas
coletivas residentes em Aveiro, sendo que é um tributo, dado que é uma prestação coativa, criado por
um regulamento, exigida por quem exerce funções públicas, AL, para prosseguir fins públicos
amplamente considerados.
Os tributos podem ser: impostos (art. 4.º/1 LGT), taxas (art. 4.º/2), contribuições especiais (art.
8.º/3) ou contribuições financeiras a favor de entidades públicas (art. 165.º/1/i CRP).
Como a denominação do tributo é taxa é necessário perceber se é uma verdadeira taxa. Uma taxa
é um tributo devido pela prestação de um serviço, utilização de bem do domínio público ou a remoção
de um obstáculo jurídico, sendo dotada de bilateralidade pelo que tem uma contraprestação especifica
9
Ana Paula Pinto (A97320)
associada ao pagamento que funciona pelo princípio da equivalência, isto é, o valor pago e a
contraprestação recebida são equivalentes, sendo tendencialmente voluntária, consignada e existe uma
utilidade divisível da forma como se usufrui da contraprestação.
Neste caso não existe bilateralidade, uma vez que, apesar de parecer que existe bilateralidade por
existir uma contraprestação de usufruição de um serviço público de proteção civil, só existe
verdadeiramente uma relação de bilateralidade quando se pressupõe uma utilidade divisível, centrar o
pagamento da taxa na pessoa que o suporta. Aqui, esta individualização da utilidade não existe, todos os
cidadãos e pessoas coletivas que irão beneficiar da proteção civil mesmo que não tenham pagado a taxa,
por isso não é taxa.
Importa aferir, portanto, se será um imposto este tributo. O imposto é uma prestação patrimonial
definitiva, coativa e unilateral exercida por quem exerce funções públicas a quem manifesta capacidade
contributiva para prosseguir fins públicos, sem natureza sancionatória.
Neste caso, como em supra referido, existe unilateralidade, sendo uma obrigação de dare exigida
por lei e que depois de paga não é reembolsada, cumprida em dinheiro. No entanto não é exigida a quem
manifesta capacidade contributiva, ou seja, é cobrado independentemente do rendimento, património ou
consumo.
Por fim, o TC entendendo que é um imposto declarou a inconstitucionalidade formal e orgânica
da norma em sede de fiscalização da constitucionalidade abstrata sucessiva por força do incumprimento
das exigências de legalidade na criação, art. 165.º/1/i CRP + art. 8.º LGT, ou seja, por se tratar de um
imposto, pelo princípio da legalidade, só poderá ser criado por lei da AR ou decreto-lei autorizado do
Governo.

Caso Prático nº6


Tendo em consideração que os subprodutos animais constituem um risco potencial para a
saúde pública e animal e para o ambiente, foi criado o sistema de recolha e tratamento de animais
que assegura a recolha, processamento e eliminação ou utilização dos produtos derivados dos
cadáveres dos bovinos, ovinos, caprinos e suínos que morram nas explorações pecuárias,
entrepostos pecuários, centros de agrupamento, abegoarias de matadouro, sempre que
classificáveis como matérias da categoria 1 e 2 nos termos dos artigos 8.º e 9.º do Regulamento (CE)
n.º 1069/2009, de 21 de outubro.
Como forma de financiar este sistema, por via do Decreto-Lei n.º 33/2017, é cobrada uma
taxa (designada por taxa SIRCA) por espécie e tipo de animal, não devendo o valor da mesma
ultrapassar os custos relativos que cada espécie representa no sistema, incluindo os custos
associados, designadamente com a recolha, com o processamento e com a eliminação ou utilização
dos produtos privados, bem como os custos administrativos.
10
Ana Paula Pinto (A97320)
Por uma questão de praticabilidade, a taxa é liquidada, cobrada e retida pelos matadouros
ao apresentante dos animais para abate1, no momento da sua apresentação ou liquidada e cobrada
pela Direção Geral de Alimentação e Veterinária aquando da expedição dos animais de Portugal para
outros Estados-Membros ou Países Terceiros, simultaneamente com a certificação sanitária.
O valor desta taxa é fixado por Despacho dos membros do Governo responsáveis pelas áreas
das finanças e da agricultura, variando 0,12 para suínos-bovinos com 12 ou mais meses de idade,
aplicando-se estes valores tanto no abate como na certificação para comércio intracomunitário ou
exportação. Estes valores são determinados consoante a idade do animal da espécie em causa.
Não deixe de orientar as suas respostas à luz das bases principiológicas decorrentes da
respetiva qualificação jurídico-tributária.
a) Será a “taxa SIRCA” uma verdadeira taxa?
A “taxa SIRCA” é uma imposição aos apresentantes dos animais para abate, sendo um tributo,
isto é, uma prestação coativa, criada por norma jurídica (que resulta do D-L que cria o sistema e utiliza
a taxa para o financiar e não do regulamento da UE que vale por si no ordenamento interno que tem por
objetivo criar o sistema), exigida por quem exerce funções públicas, Direção Geral de Alimentação e
Veterinária, apesar de ser cobrada e retida pelos matadouros, para prosseguir fins públicos, saúde pública
e animal e o ambiente.
Os tributos podem ser impostos (art. 4.º/1 LGT), taxas (art. 4.º/2), contribuições especiais (art.
4.º/3) ou contribuições financeiras a favor de uma entidade pública (art. 165.º/1/i).
Como este tributo tem a denominação de taxa, é importante analisar se é uma verdadeira taxa. A
taxa é um imposição devida pela utilização de um bem do domínio público, prestação de um serviço
público ou remoção de um obstáculo jurídico, sendo dotada de bilateralidade, ou seja, perante a
obrigação de pagamento está associada uma contraprestação que funciona pelo princípio da
equivalência, isto é, o valor pago e a prestação recebida tem utilidade equivalente, para além de serem
consignadas, existe utilidade divisível na forma como se usufrui da contraprestação e é tendencialmente
voluntária.
Neste caso, existe bilateralidade, uma vez que existe uma contraposição, o interesse público é
uma finalidade indireta, pois visa-se assegurar a recolha do animal e esse pagamento financia o sistema
que vai financiar o sistema.

1
Considera-se apresentante dos animais para abate, qualquer pessoa, singular ou coletiva, responsável pela apresentação
dos animais das espécies referidas para abate, quer seja ou não o próprio detentor dos animais no estabelecimento
pecuário de onde são os animais provenientes, e quer atue em nome próprio, quer atue por conta de outrem (n.º 1 do
artigo 9.º do Decreto-Lei n.º 33/2017, de 23 de março).
11
Ana Paula Pinto (A97320)
Este tributo é cobrado a quem é o “apresentante do animal”, a pessoa que tem interesse no abate
do animal e na consequente recolha pelo que existe uma prestação de um serviço público. Para além de
não existir nenhuma capacidade contributiva do apresentante, ao contrário dos impostos.
Portanto é uma prestação patrimonial definitiva, bilateral exigida na sequência da prestação de
serviço.
Tal como já referido o sujeito ativo da relação jurídico-tributária é o Estado através da Direção
Geral de Alimentação e Veterinária, sendo que o matadouro funciona como substituto por questões de
praticabilidade.
Este tributo rege-se pelo princípio da equivalência dado que o valor é fixado consoante a idade
do animal (mais velhos, são maiores, portanto mais custos), assim o valor pagão tendencialmente
corresponde à contraprestação.
Assim, parece ser um taxa devido à existência de bilateralidade e equivalência.
Por fim, importa aferir se poderá ser uma contribuição especial o que não parece, pois não resulta
de uma atuação positiva do Estado ou negativo do sujeito passivo. Nem parece uma contribuição
financeira a favor de entidades públicas, pois não traz nenhuma vantagem ou benefícios porque paga-se
uma prestação que está a ser aproveitada pelo sujeito passivo.
A criação de uma taxa tem de obedecer ao regime geral criado pela AR ou decreto-lei autorizado
do Governo, de acordo com o art. 165.º/1/i CRP. Assim, se a Taxa SIRCA for criada por decreto-lei
simples não haveria inconstitucionalidade formal nem orgânica.
Em relação à fixação do valor por despacho não existe inconstitucionalidade porque um despacho
é um tipo de regulamento emanado pelo Governo, portanto uma fonte de Direito Fiscal.

b) A sua resposta seria a mesma se a taxa fosse exigida não aos apresentantes dos animais,
mas sim aos estabelecimentos de abate?
Se a taxa fosse paga pelos estabelecimentos de abate em vez de ser aos apresentantes dos animais,
os beneficiários da contraprestação, estes não teriam nenhum interesse, pelo que deixaria de existir uma
bilateralidade, pois a taxa estaria a ser paga por quem não seria beneficiário da contraprestação.
Assim, seria um imposto, portanto só poderia ser criado poe lei da AR ou decreto-lei do Governo,
art. 165.º/1/i CRP, pelo que a taxa do imposto não poderia ser fixada por regulamento, por se tratar num
elemento essencial do imposto, por isso haveria reserva de intensidade máxima, art. 103.º/2 CRP e art.
8.º/1 LGT.
Portanto, inconstitucionalidade formal e orgânica.
Ac. STA 08/11/2017 Proc. 1134/17: STA julgou inconstitucional o diploma em sede de fiscalização
concreta difusa.

12
Ana Paula Pinto (A97320)
Caso Prático nº7
Comente a seguinte afirmação:
“O legislador nacional, em matéria de impostos (sobretudo indiretos) conta com uma reduzidíssima
margem de inovação normativa, ao ponto de se poder considerar o disposto no artigo 104.º, n.º 4, da
Constituição, letra morta.”
A legislação fiscal muda constantemente com o objetivo de acompanhar todas as várias
alterações da conjuntura nacional e internacional.
Como estão em causa impostos indiretos, importa evidenciar a forma como como a tributação
indireta consegue internamente ser criado pelo legislador nacional e influenciada pelo legislador
europeu.
A expressão “reduzidíssima margem de inovação” releva a importância do DUE como fonte de
direito fiscal, em particular nos impostos indiretos.
Os impostos indiretos incidem sobre as manifestações indiretas da capacidade contributiva, o
consumo, mas também por via da repercussão fiscal ou transferência do ónus de pagamento noutra
pessoa como é o caso do IVA onde o montante final é repercutido dos operadores económicos para o
consumidor final.
A influência do DUE vai incidir sobretudo em relação aos impostos indiretos com destaque sobre
o consumo, pois é mais difícil harmonizar legislação em matéria de tributação de rendimento do que em
sobre o consumo, por ser de mais fácil consenso na forma como deve ser tributado o consumo, uma vez
que a tributação do rendimento implica a intervenção do Estado em sede de justiça social.
A disciplina europeia em matéria fiscal está regulada nos artigos 113.º e 115.º TFUE,
respetivamente sobre a tributação indireta e direta. Enquanto no art. 113.º TFUE se fala em
harmonização o art. 115.º TFUE refere uma aproximação, sendo que ambos exigem unanimidade entre
os EM’s nas alterações à legislação fiscal o que se torna um entrave à concretização do projeto europeu
e ao “federalismo fiscal”. Desta forma, os instrumentos relevantes na tributação indireta são a diretiva
do IVA, a diretiva do imposto especial sobre o consumo e o regulamento criador do Código aduaneiro
da União, pois o regulamento uniformiza e a diretiva harmoniza dado que nos regulamentos não há
margem, tem aplicabilidade direta. Em matéria fiscal a diretiva não vai no sentido do art. 288.º TFUE,
por exemplo, em sede da diretiva do IVA esta foi absorvida quase em toda a sua plenitude, não se limitou
a fixar os fins, quase é regulamento.
Pelo art. 8.º/4 CRP, o DUE tem aplicabilidade no ordenamento jurídico interno devido ao
primado do DUE, pelo que o legislador nacional fica com margem reduzida na tributação indireta.
No entanto, não existe fundamento para dizer que o art. 104.º/4 CRP é letra morta ou que a
constituição fiscal no seu todo é letra morta. A parte final do art. 104.º/4 não teria este alcance a não ser
pela influência do DUE. A CRP continua a ter relevância fiscal até porque não se consegue retirar

13
Ana Paula Pinto (A97320)
determinados princípios constitucionais do DUE como a igualdade, conceção fiscal da família, mesmo
que o DUE influencia significamente e alguns princípios percam relevo.
Para além de que há intervenção da AR nestas matérias fiscais, uma vez que esta participa ao
acompanhar e apreciar através de pareceres a forma como a matéria fiscal é desenvolvida na EU, art.
161.º/n e 163.º/f CRP.
Em suma não é possível retirar do DUE uma constituição fiscal pelo que a CRP tem relevância
principiológica.

Caso Prático nº8


“Finanças públicas à beira de um estado de emergência”: é esta a manchete de hoje, do
conceituado jornal “As boas notícias já lá vão”.
Tudo indica que a crise financeira está instalada em Portugal e, em declarações ao aludido
jornal, o Ministro das Finanças afirma que outra solução não lhe resta, se não recorrer ao aumento
imediato da tributação. Foi, por isso, enviado ontem, pelo Governo, ao Presidente da República, um
decreto para promulgação como Decreto-Lei, através do qual se consagram as seguintes medidas:
a) agravamento das taxas do IRS, a aplicar aos rendimentos auferidos desde janeiro de 2022;
b) revogação da isenção de IVA na prestação de serviços de saúde;
c) consagração de uma “contribuição extraordinária sobre os lucros”, a incidir sobre os lucros das
empresas que tenham sido auferidos desde 2020;
Pronuncie-se sobre a (des)conformidade destas medidas com os princípios jurídico-
constitucionais que estudou.
Neste caso em concreto está em causa um conjunto de medidas que afetam tributos já instalados
em Portugal como o IRS e IVA, que são impostos, e a criação de uma “contribuição extraordinária sobre
os lucros” que visam fazer face à crise financeira instalada.
No que se refere ao agravamento das taxas do IRS é necessário afirmar que está em elemento
essencial dos impostos (art. 8.º/1 LGT), portanto está sujeito ao princípio da legalidade tributária. O
princípio da legalidade tributária, segundo a categorização de Alberto Xavier, tem de obedecer a dois
critérios: o critério da reserva da fonte produtiva (reserva de lei formal e reserva de lei material) e o
critério da reserva de intensidade (reserva de intensidade máxima e reserva de intensidade mínima).
Pelo art. 103.º CRP, numa completação do art. 8.º LGT, os elementos essenciais e a criação de
impostos estão sujeito a reserva de lei formal e reserva de intensidade máxima evidenciada pelo art.
165.º/1/i CRP.
Portanto, o agravamento das taxas do IRS só podem, pelo art. 165.º/1/i, ser aplicadas por lei da
AR ou decreto-lei autorizado, o que não aconteceu no caso, logo existe inconstitucionalidade orgânica
e formal.
14
Ana Paula Pinto (A97320)
Ainda em relação ao agravamento, importa questionar a aplicação no tempo, dado que terá efeitos
retroativos até janeiro de 2022.
O princípio da segurança jurídica ínsito no princípio de Estado de Direito, art. 2.º CRP, com
objetivo proteger os particulares e neste contexto os contribuintes determina a clareza das normas,
proibição de pré-efeitos, emanação de informações vinculativas e avaliações prévias e a proibição de
efeitos retroativos. Sendo, que a única proibição expressa da proibição de efeitos retroativos em matéria
fiscal está presente no art. 103.º/3 CRP em relação à retroatividade pura. Assim, importa distinguir a
retroatividade pura que acontece quando a lei nova vai afetar um facto que se formou e consolidou,
produzindo todos os efeitos jurídicos no passado; da retroatividade impura quando a lei nova afeta factos
tributários que já se formou, no entanto sobre o mesmo falta a liquidação e a cobrança; e, por fim, da
retrospetividade quando a lei nova incide sobre factos tributários de formação sucessiva que ainda não
se consolidaram.
Neste caso como o IRC é um imposto periódico que assenta num facto de formação sucessiva
que apenas terminará em 31 de dezembro de 2022, portanto a lei tem efeitos retroativos desde janeiro
de 2022, logo é retrospetividade.
Estes efeitos retroativos não são proibidos diretamente o art. 103.º CRP, no entanto põe em causa
legitimas expectativas dos contribuintes. Neste sentido, a LGT no art. 12.º/2 apresenta uma solução
através da divisão do tempo entre o facto tributário anterior à lei nova e o facto posterior (Pro Rata
Temporis). Assim, aqui não há nenhuma inconstitucionalidade.
Contudo, é necessário equacionar a violação do princípio da proteção da segurança que vem
reforçar uma proteção aos cidadãos. Segundo a densificação do TC haverá inconstitucionalidade se o
Estado encetou expectativas de continuidade (na legislação fiscal é expectável que seja frequentemente
alterada, mas não no momento em que foi); os particulares têm expectativas legítimas e fundadas em
boas razões (o que sucede); fizeram planos de vida (sim, os particulares fizeram planos de vida em
função ao montante que iriam pagar); e não existe interesse público que prevaleça (aqui, atendendo que
é uma situação de emergência financeira, existe interesse público superior ao interesse dos particulares).
Assim, não há violação da proteção da confiança.
Tal como acontece com as taxas do IRS, a isenção do IVA é um elemento essencial do imposto
IVA, é um benefício fiscal contido no EBF, art. 103.º/2 CRP e art. 8.º/1 LGT. Assim, aplica-se o
princípio da legalidade tributária, sendo que só pode ser alterado os benefícios fiscais através de lei da
AR ou do Governo, art. 165.º/1/i CRP, logo há uma inconstitucionalidade orgânica e formal.
Ainda acabe equacionar a competência da AR dado que o IVA é um imposto de harmonização
plena no âmbito do DUE, sendo que a diretiva do IVA determina os termos em que os EM’s decidem
aplicar.

15
Ana Paula Pinto (A97320)
Por fim, no que diz respeito à “contribuição extraordinária”, que é uma imposição coativa exigida
por quem exerce funções públicas para prosseguir fins públicos, sendo um tributo que tem o propósito
de estabelecer um adicional ao IRC que é um imposto que recai sobre os lucros das pessoas coletivas.
Um imposto carateriza-se por ser uma prestação patrimonial unilateral, definitiva e coativa
exigida por quem exerce funções públicas a quem manifesta capacidade contributiva para prosseguir
fins públicos, sem natureza sancionatória. Neste caso é uma prestação patrimonial, definitiva, coativa
por ser criada através de norma jurídica e unilateral porque associado ao pagamento não existe uma
contraprestação específica. Para além de atender à capacidade contributiva dado que paga as empresas
com determinado lucro.
Tal como já referido pelo princípio da legalidade tributária, os impostos só podem ser criados
por lei (art. 165.º/1/i CRP), logo lei da AR ou decreto-lei autorizado do Governo e não um decreto-lei
simples. Igualmente aqui estamos perante uma inconstitucionalidade formal e orgânica.
Importa, igualmente referir, a aplicação da lei fiscal no tempo, dado que estamos perante um
facto tributário que já se formou e consolidou em 2020 e o IRC é um imposto periódico. Logo estamos
perante um caso de retroatividade pura que é proibida pelo art. 103.º/3 CRP. Portanto uma
inconstitucionalidade material.

Caso Prático nº9


O artigo 81.º do CIRC, sob a epígrafe «Taxas de tributação autónoma», na redação dada pela
Lei nº 55-B/2004, de 30 de dezembro, entretanto alterada pela Lei n.º 67-A/2007, de 31 de dezembro,
determinava, na parte relevante, o seguinte:
As despesas não documentadas são tributadas autonomamente, à taxa de 50%, sem prejuízo
da sua não consideração como custo nos termos do artigo 23.º
A taxa referida no número anterior é elevada para 70% nos casos em que tais despesas sejam
efetuadas por sujeitos passivos total ou parcialmente isentos, ou que não exerçam, a título principal,
atividades de natureza comercial, industrial ou agrícola.
São tributados autonomamente, à taxa de 5% os encargos dedutíveis relativos a despesas de
representação e os relacionados com viaturas ligeiras ou mistas, motos ou motociclos, efetuados ou
suportados por sujeitos passivos não isentos subjetivamente e que exerçam, a título principal,
atividade de natureza comercial, industrial ou agrícola.
São tributados autonomamente, à taxa de 15%, os encargos dedutíveis respeitantes a
viaturas ligeiras de passageiros ou mistas cujo custo de aquisição seja superior a € 40 000, quando
suportados pelos sujeitos passivos mencionados no número anterior que apresentem prejuízos
fiscais nos dois exercícios anteriores àquele a que os referidos encargos digam respeito.

16
Ana Paula Pinto (A97320)
Após a redação introduzida pela Lei n.º 64/2008, de 5 de dezembro, os n.ºs 3 e 4 do mesmo
preceito passaram a determinar o seguinte:
São tributados autonomamente, excluindo os veículos movidos exclusivamente a energia
elétrica:
À taxa de 10 %, os encargos dedutíveis relativos a despesas de representação e os
relacionados com viaturas ligeiras de passageiros ou mistas, motos ou motociclos, efetuados ou
suportados por sujeitos passivos não isentos subjetivamente e que exerçam, a título principal,
atividade de natureza comercial, industrial ou agrícola;
À taxa de 5 %, os encargos dedutíveis, suportados pelos sujeitos passivos mencionados no
número anterior, respeitantes a viaturas ligeiras de passageiros ou mistas cujos níveis homologados
de emissão de CO2 sejam inferiores a 120 g/km, no caso de serem movidos a gasolina, e inferiores a
90 g/km, no caso de serem movidos a gasóleo, desde que, em ambos os casos, tenha sido emitido
certificado de conformidade.
São tributados autonomamente, à taxa de 20%, os encargos dedutíveis, suportados pelos
sujeitos passivos mencionados no número anterior, respeitantes a viaturas ligeiras de passageiros
ou mistas cujo custo de aquisição seja superior a € 40 000, quando os sujeitos passivos apresentem
prejuízos fiscais nos dois exercícios anteriores àquele a que os referidos encargos digam respeito.
A Lei n.º 64/2008 entrou em vigor no dia seguinte ao da sua publicação, conforme prevê o
seu artigo 6º, mas a produção de efeitos retroage a 1 de janeiro de 2008, em função do que
estabelece o artigo 5º do mesmo diploma.
Quid iuris? [Ac. STA 1375/12, de 14/02/2013]
Neste caso de forma genérica está em causa a alteação sucessiva das taxas de atribuição autónoma
em relação ao IRC, ou seja, em sede de IRC são tributados os rendimentos, especialmente sobre lucros
das pessoas coletivas, no entanto o legislador presume que existem despesas que possivelmente não
foram declaradas noutra sede como em sede de IVA, portanto pretende evitar um comportamento
abusivo do sujeito passivo com uma tributação autónoma.
Neste contexto é importante aferir a questão da legalidade e da aplicação da lei no tempo, pois
há uma sucessão de leis no tempo 2004, 2007 e 2008 que irá retroagir os seus efeitos a uma data anterior
(06/12/2008) à data de entrada em vigor (01/01/2008)
O IRC é um imposto periódico que incide sobre um facto tributário de formação sucessiva e
reiterada, numa lógica de continuidade. Assim, com estes efeitos retroativos que a lei prevê, existirão
factos que vão ser afetados.
Os efeitos retroativos podem ser classificados como retroatividade pura quando a lei nova incide
sobre factos tributários que se formaram e consolidaram no passado; retroatividade impura quando a lei
17
Ana Paula Pinto (A97320)
nova incidirá sobre factos que se formaram no passado e sobre os quais ainda não ocorreu a liquidação
e cobrança; e retrospetividade quando a lei nova vai incidir sobre factos tributários que nasceram no
passado e não terminaram a sua formação.
Contudo, pelo princípio da segurança jurídica ínsito no princípio do Estado de Direito, art. 2.º
CRP, que visa proteger os particulares numa lógica de segurança, numa relação com o poder legislativo
estão proibidos os pré-efeitos, obrigatoriedade da clareza das normas, proibição dos efeitos retroativos
e a emanação de informações vinculativas e avaliações prévias.
Em relação da proibição da retroatividade em relação à matéria fiscal, segundo a doutrina e
jurisprudência maioritária, só se encontra proibida a retroatividade autêntica pelo art. 103.º/3.
Apesar do art. 12.º/2 LGT apresentar uma solução para os casos de retrospetividade através da
divisão do tempo, pro rata temporis, nos impostos de formação sucessiva/periódicos como o IRC, neste
caso, estamos perante uma lei nova que vai incidir sobre factos instantâneos de forma única como a
compra de veículos que ocorreram desde janeiro de 2008, sendo que são anteriores à entrada em vigor
da lei, portanto um caso de retroatividade pura.
Desta forma, pelo art. 103.º/3 CRP não é possível por violação do princípio da segurança jurídica,
inconstitucionalidade material.

Outras dimensões a considerar aquando da lei fiscal no tempo


Se nova lei retroativa for favorável ao contribuinte, acredita-se que não se aplica a proibição da
retroatividade, pois esta foi pensada para proteção do contribuinte. Portanto, esta é admissível.
Proibição retroatividade só se reporta a impostos e a contribuições especiais por serem equiparadas aos
impostos? Pela letra do art. 103.º/3, só se inclui os impostos e tal como a doutrina vai a determinar, pelo art. 11.º
LGT, deve-se fazer uma interpretação das normas fiscais, para além de o próprio legislador constituinte ter
conhecimento da existência de outros tributos, por isso não se pode descaracterizar o sistema. Nestes casos
recorre-se ao princípio da proteção da confiança.
Impostos periódicos e de obrigação única: os prazos de caducidade e de prescrição variam, art. 45.º e 48.º
LGT devido ao princípio da segurança jurídica.
O prazo-regra para a caducidade: 4 anos para a administração liquidar (determinar quem paga e quanto
paga), já em relação à prescrição o prazo-regra é 8 anos aplicado sobre a cobrança.

18
Ana Paula Pinto (A97320)
Caso Prático nº10
“Foi liquidado pela Câmara Municipal de Lisboa, à ora impugnante A- Publicidade na
Companhia B S.A., o montante de € 126.995,41 (cento e vinte e seis mil, novecentos e noventa e
cinco euros e quarenta e um cêntimos), a título de taxas devidas, pela renovação, para o ano de
2011, do licenciamento da publicidade instalada em espaços publicitários pertencentes à Companhia
de B, colocados em meios de transporte coletivos da cidade de Lisboa, cuja data limite de pagamento
voluntário se completava em 31/03/2011.
O valor em causa foi liquidado a várias viaturas de transporte coletivo, de cuja concessão a
impugnante é titular.
O montante global da liquidação foi apurado de acordo com o disposto no artigo 16.º, n.º1
do Regulamento de Publicidade em vigor, constante do Edital n.º 35/92, com as alterações
introduzidas pelos Editais n.ºs 42/95 e 53/95,em conjugação com o estabelecido no ponto n.º 4.1.9.
da Tabela de Taxas e outras Receitas Municipais do ano de 2011, publicada no 3.º Suplemento ao
Boletim Municipal n.º 883, de 20/01, anexo ao Regulamento Geral de Taxas, Preços e Outras Receitas
Municipais, publicado no DR., II Série, n.º 84 de 30 de Abril de 2010.”
Nos termos do artigo 20.º do Regulamento de Publicidade, a licença de publicidade é
renovada automática e sucessivamente, salvo comunicação prévia do particular ou da edilidade em
sentido contrário.
A impugnante considera que a taxa devida pela renovação do licenciamento para publicidade
não configura uma verdadeira taxa. Concorda?
Na sua resposta não deixe de ter em consideração que do artigo 6.º do Regime geral das taxas
deriva que as taxas, embora tenham como pressuposto certas prestações públicas das autarquias
locais, incidem sobre utilidades de que os munícipes ou outros sejam causadores ou beneficiários.
[Ac. STA 1711/11.0, de 14/10/2020]
Em apreço está uma questão de classificação de uma imposição tributária, sendo um tributo, isto
é, uma prestação coativa, criada por norma jurídica, exigida por quem exerce funções públicas, para
prosseguir fins públicos.
Os tributos podem ser impostos (art. 4.º/1 LGT), taxas (art. 4.º/2), contribuições especiais (art.
4.º/3) ou contribuições financeiras a favor de uma entidade pública (art. 165.º/1/i CRP).
Como este tributo tem a denominação de taxa, é importante analisar se é uma verdadeira taxa. A
taxa é um imposição devida pela utilização de um bem do domínio público, prestação de um serviço
público ou remoção de um obstáculo jurídico, sendo dotada de bilateralidade, ou seja, perante a
obrigação de pagamento está associada uma contraprestação que funciona pelo princípio da
equivalência, isto é, o valor pago e a prestação recebida tem utilidade equivalente, para além de serem
19
Ana Paula Pinto (A97320)
consignadas, existe utilidade divisível na forma como se usufrui da contraprestação e é tendencialmente
voluntária.
Neste caso, a taxa está a ser exigida para a renovação do licenciamento para a publicidade que é
feito de forma automática e sucessivamente, de acordo com o diploma aplicável, sendo que é
questionado o facto de ser uma renovação automática não poder ser reconduzida a alguma dos tipos
elencados no art. 4.º/2 LGT, pois não houve qualquer prestação por parte da CML.
A impugnante argumentava que não seria uma taxa porque não existe uma contraprestação, sem
qualquer contraprestação, falha a bilateralidade, então esta taxa seria um verdadeiro imposto (pelo que
o problema residiria na inconstitucionalidade orgânica e formal porque foi criada por via de
regulamento).
No entanto, a CML argumentou que a prestação de serviço seria no sentido de que possa haver
ações de fiscalização para verificar as condições em que pode fazer a publicidade.
O art. 6.º RGTAL veio alargar os tipos de taxas do art. 4.º/2 LGT, onde se passa a incluir taxas
devidas por utilidades de que os munícipes sejam causadores ou beneficiários. Sendo o RGTAL um alei
especial face à LGT, permite a consideração desta taxa.
Portanto, a impugnante não tem razão, é uma verdadeira taxa e não um imposto.

Caso Prático nº11


MK é residente fiscal em França.
Em 17 de janeiro de 2002, MK adquiriu um imóvel situado em Portugal, pelo preço de 79
807,66 euros.
Em 17 de julho de 2017, MK vendeu esse imóvel pelo preço de 180 000 euros.
Em 31 de maio de 2018, MK apresentou a sua declaração periódica de rendimentos, na qual,
além do rendimento do património imobiliário no montante de 8 800 euros, declarou a alienação do
referido imóvel, bem como as despesas de compra e venda do mesmo.
No rosto desta declaração, no quadro 8B, MK colocou uma cruz no campo 4 (correspondente
a «não residente»), no campo 6 (correspondente a «residência em país da UE»), no campo 7
(optando pela tributação aplicável aos não residentes), excluiu a opção do campo 9 (correspondente
à tributação pelas taxas gerais do artigo 68.° do CIRS) e a opção do campo 10 (opção pelas regras dos
residentes).
Em 5 de julho de 2018, a AT emitiu uma nota de liquidação no montante de 24 654,22 euros,
a título de imposto sobre o rendimento relativo ao ano de 2017, aplicando à totalidade do saldo
positivo da mais-valia imobiliária realizada a taxa única de 28 % aplicável aos não residentes com

20
Ana Paula Pinto (A97320)
base no artigo 72.º, n.º1, do CIRS, em conformidade com a opção efetuada por MK na sua declaração
de rendimentos.
Em 30 de novembro de 2018, MK contestou essa nota de liquidação alegando que esta nota
estava ferida de ilegalidade, por violação do Direito da União Europeia.
MK entende que os 18.º e 63.º a 65.º TFUE devem ser interpretados no sentido de que se
opõem à regulamentação de um Estado-Membro que, para permitir que as mais-valias provenientes
da alienação de imóveis situados nesse Estado-Membro, por um sujeito passivo residente noutro
Estado-Membro, não sejam sujeitas a uma carga fiscal superior à que seria aplicada, para esse
mesmo tipo de operação, às mais-valias realizadas por um residente do primeiro Estado-Membro,
faz depender da escolha do referido sujeito passivo o regime de tributação aplicável.
[Artigo 63.º TFUE]
1. No âmbito das disposições do presente capítulo, são proibidas todas as restrições aos movimentos de
capitais entre Estados-Membros e entre Estados-Membros e países terceiros.
2. No âmbito das disposições do presente capítulo, são proibidas todas restrições aos pagamentos entre
Estados-Membros e entre Estados-Membros e países terceiros.

[Artigo 65.º TFUE]


1. O disposto no artigo 63.o não prejudica o direito de os Estados-Membros:
a) Aplicarem as disposições pertinentes do seu direito fiscal que estabeleçam uma distinção entre
contribuintes que não se encontrem em idêntica situação no que se refere ao seu lugar de residência ou ao lugar
em que o seu capital é investido;
b) Tomarem todas as medidas indispensáveis para impedir infrações às suas leis e regulamentos,
nomeadamente em matéria fiscal e de supervisão prudencial das instituições financeiras, preverem processos de
declaração dos movimentos de capitais para efeitos de informação administrativa ou estatística, ou tomarem
medidas justificadas por razões de ordem pública ou de segurança pública.
2. O disposto no presente capítulo não prejudica a possibilidade de aplicação de restrições ao direito de
estabelecimento que sejam compatíveis com os Tratados.
3. As medidas e procedimentos a que se referem os nº 1 e 2 não devem constituir um meio de
discriminação arbitrária, nem uma restrição dissimulada à livre circulação de capitais e pagamentos, tal como
definida no artigo 63.o.
4. Na ausência de medidas ao abrigo do n.º 3 do artigo 64.º, a Comissão, ou, na ausência de decisão da
Comissão no prazo de três meses a contar da data do pedido do Estado-Membro em causa, o Conselho, pode
adotar uma decisão segundo a qual as medidas fiscais restritivas tomadas por um Estado-Membro em relação
a um ou mais países terceiros são consideradas compatíveis com os Tratados, desde que sejam justificadas por

21
Ana Paula Pinto (A97320)
um dos objetivos da União e compatíveis com o bom funcionamento do mercado interno. O Conselho delibera
por unanimidade, a pedido de um Estado-Membro.]
Atendendo à relevância que o Direito da União Europeia assume para o Direito Fiscal
produzido internamente, diga se concorda com MK.
[Ac. TJUE C-388/19, de 10/03/2021]
Neste caso está em causa o tratamento fiscal diferenciado entre residentes e não residentes no
que toca a mais-valias em sede de IRS, art. 72.º CIRS, uma vez que MK é residente em França e adquire
um imóvel em Portugal que mais tarde vende a um preço superior.
MK diz que o comportamento da lei fiscal portuguesa viola o DUE, mesmo que o legislador
permita ao não residente optar pelo regime de tributação.
O projeto da integração económica pressupõe a concretização de um mercado único interno
composto por 4 liberdades: liberdade de circulação de pessoas, bens, serviços e capitais através de uma
uniformização (regulamentos) e harmonização (diretivas). Neste caso, está em causa a restrição à
liberdade de circulação de capitais.
Pelo art. 63.º e 65.º TFUE, um tratamento diferenciado entre residentes e não residentes é
violador do DUE quando não existe razões que o justifiquem. O TJUE considerou que CIRS no art. 72.º
viola o disposto no art. 63.º TFUE, pois é uma restrição injustificada à livre circulação de capitais
À luz do art. 8.º/4 CRP, o DUE aplica-se no ordenamento jurídico interno como primado sobre
direito interno, este primado só impõe uma desaplicação do art. 72.º CIRS ao caso concreto (não impõe
que seja alterado para ir ao encontro do DUE, pelo que continua em vigor).

Caso Prático nº12


Imagine que o Governo decide aprovar, por Decreto-Lei publicado em DR na semana passada,
e na sequência da autorização concedida pela Assembleia da República na Lei do Orçamento de
Estado para 2020, um conjunto de medidas, de entre as quais se prevê a revogação de benefícios
fiscais respeitantes à aquisição de imóveis para habitação própria e permanente, com efeitos a partir
de 1 de agosto de 2022.
Quid iuris?
De forma genérica neste exercício está em causa o princípio da legalidade, uma vez que a AR
autorizou a publicação de um decreto-lei pelo governo para a revogação de benefícios fiscais.
O princípio da legalidade tributária presente no art. 8.º LGT e art. 103.º e 266.º/2 CRP é uma
adaptação do princípio da legalidade às especificidades da matéria fiscal. Segundo a categorização de
Alberto Xavier, o principio da legalidade fiscal é regido por dois critérios: o critério da fonte de produção
(reserva de lei formal onde apenas a AR e o Governo quando autorizado pela AR pode legislar e reserva
de lei material basta ser uma norma jurídica emanada pelo poder legislativo) e o critério da reserva de
22
Ana Paula Pinto (A97320)
intensidade (reserva de intensidade máxima quando a lei veda a atuação da Administração, pois é
exaustivo e determinado em relação a todos os elementos necessários para a tomada de decisão pelo que
é fundamento à ação e critério de decisão e reserva de intensidade mínima quando a Administração não
está totalmente regulada).
Neste caso como estamos perante a revogação de benefícios fiscais, um dos elementos essenciais
dos impostos, art. 8.º/1 LGT, pelo princípio da legalidade, existe reserva de lei formal e reserva de
intensidade máxima refletida no art. 165.º/1/i CRP, pelo que a revogação terá de ser através de lei da AR
ou decreto-lei autorizado do Governo.
A autorização da AR estão presentes no art. 165.º/4 e 5 CRP, sendo que, como o enunciado diz-
nos que a AR deu autorização ao Governo através da LOE de 2020, aplica-se o número 5, portanto a
autorização caduca no final desse mesmo ano, ou seja, na semana passada em 2022 a autorização já tinha
caducado.
Por fim, a questão de a lei ter efeitos a partir de agosto de 2022 não teria qualquer problema
porque a lei valeria para o futuro, tal como determina a proibição dos pré-efeitos do princípio da
segurança jurídica ínsito no princípio de Estado de Direito, art. 2.º CRP.

Caso Prático nº13


Suponha que a Assembleia da República, com o propósito de combater comportamentos
fiscais abusivos, aprovou uma lei através da qual:
- sujeita as empresas de grande dimensão, e independentemente dos lucros gerados, a uma coleta
mínima no valor anual de dois mil euros, a aplicar ao ano em curso.
- sujeita a uma taxa agravada de IRS todos os rendimentos provenientes de práticas ilícitas.
Quid iuris?
Nesta lei da AR é necessário aferir a questão da interpretação da lei fiscal. Segundo o princípio
da tipicidade que decorre do princípio da legalidade fiscal na categorização de Alberto Xavier no critério
da reserva de intensidade máxima, as leis fiscais devem vedar a atuação da administração e conter todos
os elementos essenciais para a tomada de decisão, a lei deve ser completa e exaustiva, servindo de
fundamento à ação e critério de decisão, sobretudo em relação aos elementos essenciais. Em suma, as
leis fiscais devem ser numerus clausus, coativas, determinadas, exclusivas e seletivas.
Desta forma, o art. 11.º LGT vem determinar a forma de interpretação das normas fiscais. No
número 1 determina que as normas fiscais devem ser interpretadas nos exatos termos das outras normas
jurídicas, mas atendendo às suas especificidades deve-se sempre fazer uma interpretação literal, pois
devido às exigências do princípio de tipicidade, ou seja, o legislador não foi exaustivo como devia.

23
Ana Paula Pinto (A97320)
Nesta lei existem conceitos indeterminados como “empresas de grande dimensão” e “práticas
ilícitas” que não são densificados pelo legislador nem são remetidos para legislação especial pelo que
não cumpre com as exigências de tipicidade, portanto inconstitucionalidade material.
No entanto, pelo art. 11.º/2 LGT os conceitos podem ser interpretados segundo a noção de outros
ramos de direito, caso estes sejam típicos dos mesmo. Neste caso, nem a sim é possível, porque estas
expressões não são totalmente especificas destes ramos, dado que o direito fiscal é um direito de
sobreposição.
Em suma, a interpretação deve ser literal por via do princípio da tipicidade, ínsito na legalidade
fiscal, principalmente quando em causa estejam elementos essenciais dos impostos (art. 11.º LGT),
sendo que a interpretação extensiva apenas é admissível no caso dos benefícios fiscais (art. 1º EBF), por
serem justificados por razões de ordem social, com a exceção das isenções do IVA.

24
Ana Paula Pinto (A97320)
25
Ana Paula Pinto (A97320)
Caso Prático nº14
Faustino Tomás tem 20 anos e sempre foi um apaixonado por moda, ambicionando tornar-se
um supermodel. Porém, e porque foi pai de Lili na altura da adolescência, assumindo as
responsabilidades que daí decorrem, desde os seus 17 anos que é empregado numa loja de pronto-
a-vestir. O salário que recebe é pouco simpático (700€ mensais) mas, na sua opinião, “acaba por
compensar”, perante o subsídio de guarda-roupa que lhe é atribuído. E Faustino Tomás é realmente
um bom funcionário: é com orgulho que se gaba de ter recebido, durante três meses consecutivos
em 2021, o prémio de empregado do mês, no valor de 500€, cada um.
Preocupado em conseguir manter um pé-de-meia para as eventualidades que a vida pode
trazer, desde maio de 2021 que Faustino Tomás arrenda a Lucrécia Eugénia, por 500€ por mês, um
dos quartos da moradia onde habita (herdada dos pais).
A sua atual namorada, Balbina América, bem mais velha que Faustino Tomás, fez carreira
como mediadora de seguros, e é hoje, nas palavras da própria, “paga para não trabalhar”, já que
recebe 5.000€ a troco do compromisso de não prestar consultoria a empresas do setor durante a
próxima década. Porém, como forma de acalmar a sua consciência perante uma vida de
procrastinação, faz todos os meses uma doação para a Igreja. O certo é que a ausência de ocupação
já lhe trouxe alguns problemas pessoais, que a levaram a receber, durante o ano de 2021, tratamento
psiquiátrico, o que lhe custou “uma pequena fortuna” (cada consulta ronda os 200€).
Tendo por base os elementos expostos, diga como se calcula, em relação a cada um dos
sujeitos em causa, o IRS devido, tendo como referência o ano de 2021.

O IRS é um imposto que tem um corpo comum apesar das suas especificidades que vão dar
origem a um sistema semi-dual que terá em conta as caraterísticas do sujeito passivo, desde a relevância
da família, a situação profissional, a saúde que estão presentes em vários artigos do CIRS como fatores
de personalização, porém sempre com taxas proporcionais para os rendimentos. Perante este imposto o
legislador deve obedecer ao princípio da tipicidade obedecendo às várias exigências como a coatividade,
exclusivismo e determinação para a proteção do sujeito passivo.
No âmbito da incidência subjetiva, isto é, sobre quem o IRS vai incidir é necessário aferir quais
são os sujeitos passivos.
Neste caso, FT e BA são, nos termos do art. 13.º/1, considerados sujeitos passivos de IRS, pois
auferem rendimentos tributáveis.
O enunciado ainda fala na LE, no entanto, esta surge como arrendatária, suportando uma despesa
de euros, não existindo mais dados não é possível determinar se será ou não um sujeito passivo.

26
Ana Paula Pinto (A97320)
Admite-se que FT e BA, namorados, pudessem estar em união de facto, formando um agregado
familiar, desde que tal suposição esteja devidamente sustentada, com base na premissa de que estariam,
há pelo menos dois anos, em partilha de teto, mesa e leito. Assim, o agregado familiar seria composto
por FT, BA e Lili (art. 13.º/4/a, e n.º 5/a), sendo esta última não considerada sujeito passivo nos termos
do CIRS.
A FT e BA só lhes serão aplicadas as regras de tributação conjunta caso se considere que formam
um agregado familiar e desde que seja exercida opção nesse sentido, isto é, rendimento ser a soma dos
rendimentos de cada pessoas que constituiu o agregado. Assim, por regra, serão aplicadas as regras da
tributação isolada ou singular (art. 13.º/2 e 3).
Nos termos do art. 16.º, FT e BA são considerados sujeitos passivos residentes, aos quais se
aplica uma obrigação de imposto de base alargada ou mundial (artigo 15.º/1).

No âmbito da incidência objetiva é necessário aferir os rendimentos de cada sujeito, uma vez
que a incidência objetiva é sobre o quê e quanto vai incidir o imposto.
Em relação aos rendimentos de FT, em primeiro lugar temos um salário enquanto empregado
numa loja de pronto-a-vestir, desta forma encaixa-se na categoria A (art. 2.º/1/a), dado que apesar de
não existir referencia a um contrato de trabalho é possível presumir a existência de um pela subordinação
jurídica e económica de FT face à entidade empregadora, isto é, é a entidade empregadora que determina
os meios, forma e horário em que é prestado trabalho bem como FB dependerá deste contrato de trabalho
para sobreviver.
Existe também um subsídio de guarda-roupa, que também se reconduz à categoria A (art. 2.º/2,
3/b que não possui um caráter taxativo), o subsídio de guarda-roupa seria aqui tributável: trata-se de uma
importância auferida devido à prestação de trabalho e em conexão com esta e constitui para FT uma
vantagem económica (“acaba por compensar”)
O prémio de empregado do mês também se reconduz à Categoria A, art. 2.º/2 e 3 por se tratar de
uma prestação acessória que surge em conexão com a atividade desenvolvida e representa para este uma
vantagem económica.
Por fim, a renda paga por LE pela utilização de um quarto do imóvel de FT reconduz-se à
categoria F, art. 8.º/1 e 2/a, sendo possível a tributação no âmbito da categoria B (art. 8.º/1 in fine).
Perante cada rendimento é necessário aferir a possibilidade de deduções específicas, isto é,
possibilidade de deduzir encargos que o sujeito passivo suporta para obter o rendimento.
As deduções especificas para os rendimentos da categoria A estão previstas no art. 25.º, sendo
que o legislador limita o máximo por considerar que não existe muitas despesas a suportar. Já as
deduções dos rendimentos da categoria F estão no art. 41.º ou, tendo havido opção pela tributação no
âmbito da categoria B, art. 28.º, neste caso não há informação detalhada para as deduções caso se opte

27
Ana Paula Pinto (A97320)
pela categoria F e no caso da categoria B devido à falta de dados seria pertinente o regime simplificada
de tributação.
Agora importa verificar se é possível ou não o englobamento ou é possível o englobamento (art.
22.º) para a aplicação das taxas gerais do art. 68.º para a obtenção da matéria coletável, ou seja, a soma
de todos os rendimentos líquidos das diversas categorias. Os rendimentos do trabalho dependente são
englobáveis pelo art. 22.º e os rendimentos prediais não serão englobáveis pelo art. 22.º/3/b e 72.º/1/e, a
não ser que exista opção do sujeito passivo nesse sentido, 72.º/13; ou, sendo categoria B, o rendimento
tributável (apurado por via da contabilidade organizada ou nos termos do regime simplificado) é
obrigatoriamente englobado, art. 22.º/3/b a contrário.
Desta forma, a partir das taxas de IRS, deve-se determinar qual a taxa para a obtenção da coleta,
do rendimento coletável. Assim, para o rendimentos do trabalho dependente, art. 68.º - sistema de
progressividade por escalões e para os rendimentos prediais, art. 72.º/1/e – taxa especial de 28% - ou
sujeição a englobamento, por opção do sujeito passivo – art. 72.º/13; sendo categoria B, o rendimento
líquido global será tributado às taxas gerais estabelecidas no art. 68.º.
Caso forem um agregado familiar e optem pela tributação em conjunto, aplica-se o art. 69.º
referente ao quocientes familiares.
De seguida realiza-se as deduções à coleta, ou seja, desta vez, ao contrário das deduções
específicas, são os encargos que o sujeito passivo suporta na sua esfera pessoal, art. 78.º que deve ser
aplicado pela ordem que apresenta.
Pelo art. 78.º/1, deveriam ser tidas em consideração as deduções dos descendentes (art. 78.º/1/a
e 78.º-A), as deduções das despesas gerais familiares (art. 78.º/1/b e 78.º-B); pelo nº2 as deduções
respeitantes aos adiantamentos fiscais com o possível reembolso de IRS, pois decorrentes da
desconfiança do legislador face ao sujeito passivo ao longo do ano ocorreram retenções na fonte dos
rendimentos da categoria A (art. 98.º e ss e tabelas de retenção na fonte) e dos rendimentos da categoria
F (art. 101.º/1/e), este não seria o caso, à partida, partindo do pressuposto que LE não dispõe nem deve
dispor de contabilidade organizada.
Atendendo à idade (20 anos) de FT e considerando que começou a trabalhar quando tinha 17
anos, este será o 3.º ano de obtenção de rendimento (não se sabe, porém, se é o 3.º ano após a conclusão
do ensino secundário), art. 2.º-B.
Por outro lado, os rendimentos de BA será o valor recebido pela assunção de obrigação de não
concorrência, portanto categoria G (art. 9.º/1/c) que impõe ao sujeito passivo uma obrigação de se abster
do exercício de certa atividade; sendo um incremento patrimonial que constitui rendimento do ano em
que é pago ou colocado à disposição. Não é objeto de quaisquer deduções específicas para efeitos de
determinação do rendimento coletável – art. 42.º.

28
Ana Paula Pinto (A97320)
Sendo BA residente, estas importâncias são objeto de englobamento, ficando sujeitas às taxas
gerais de IRS (art. 68.º).
As deduções à coleta passam pelo art. 78.º/1 no que se refere ao tratamento psiquiátrico (art.
78.º/1/c e 78.º-C) e pela doação para a igreja que seria dedutível para efeitos de IRS, nos termos do art.
63.º/2 EBF. Pelo art. 78.º/2: as importâncias recebidas pela assunção da obrigação de não concorrência
estão sujeitas a retenção na fonte, à taxa de 16,5%, partindo do pressuposto que o respetivo devedor
dispõe ou deve dispor de contabilidade organizada, art. 101.º/1/a, isto é, retenção com a natureza de
pagamento por conta do imposto devido em termos finais.

Caso Prático nº15


Mauro, jovem de 25 anos, trabalhador-estudante na Universidade do Minho, é empregado
de mesa num hotel em Braga, e vive no centro da cidade, num T0, arrendado, que quase só tem
espaço para si e para o seu hamster, a quem deu o nome de Godzilla.
Da sua atividade enquanto empregado de mesa, Mauro aufere 800€ mensais: 600€ de salário
e cerca de 200€ em gorjetas, por ser particularmente simpático.
Para além daqueles rendimentos, Mauro conta ainda com 500€ mensais, provenientes da
renda que cobra ao casal a quem arrendou o imóvel que herdara dos seus pais, desde 2017. Como
no ano passado o casal celebrou 25 anos de casados, Mauro decidiu oferecer-lhes, em setembro de
2021, um conjunto de eletrodomésticos para instalarem no apartamento, para substituir aqueles
que já lá estavam e que se encontravam em mau estado, o que lhe custou cerca de 2500€.
Em novembro de 2021, Mauro foi pai pela primeira vez, fruto de uma relação que mantem
com Letícia, uma jovem espanhola. Apesar de Letícia ter voltado temporariamente, em janeiro de
2022, para Espanha com o filho (tem a intenção de regressar ainda este ano para Portugal), Mauro,
de livre e espontânea vontade, envia-lhe, desde então, 200€ por mês, para ajudar com as despesas
do pequeno Pablo. (2022 – IRS é de 2021)
Mauro tem ainda de suportar, “a muito custo”, o valor integral das propinas da Universidade.
A sua situação financeira agravou-se consideravelmente quando, em dezembro de 2021, o
seu hamster teve de ser submetido a uma cirurgia, o que lhe custou 5000€ (sem emissão de fatura,
caso contrário seriam 6150€). Só conseguiu suportar essa despesa porque, em junho, havia vendido
a participação social que detinha numa sociedade por quotas, “por já não ter interesse no negócio”.
Tendo por base os elementos expostos, diga como se calcula o imposto devido, tendo como
referência o ano de 2021.

29
Ana Paula Pinto (A97320)
O imposto devido neste caso é o IRS, imposto sobre as pessoas singulares, que se trata de um
imposto sobre o rendimento e pessoal que apesar de ter um corpo único, apresenta elementos de
personalização que vão em encontro com as diversas as características pessoais de cada sujeito passivo
através de taxas progressivas e escalões. Pauta-se pelo princípio da legalidade e da tipicidade fiscal, art.
8.º LGT, que exige várias caraterísticas como a coatividade, exclusivismo e determinismo para maior
proteção dos cidadãos, sobretudo para efeitos de definição dos rendimentos sujeitos a tributação.

No âmbito da incidência subjetiva, sobre quem incide o imposto, é necessário aferir quem são
os sujeitos passivos para efeitos do IRS.
M é, nos termos do art. 13.º/1, considerado sujeito passivo de IRS, pois é uma pessoa singular
que aufere rendimentos tributáveis.
É possível admitir-se que M e L pudessem estar (até janeiro de 2021, altura que Letícia voltou
para Espanha) unidos pelo matrimónio ou em união de facto, formando um agregado familiar, desde que
tal suposição esteja devidamente sustentada, com base na premissa de que estariam (no caso de união de
facto), há pelo menos dois anos, em partilha de teto, mesa e leito. Assim, o agregado familiar seria
composto por M, L e P (art. 13.º/4/a), sendo P um dependente nos termos do art. 13.º/5/a.
Contudo, a regra geral é que aos agregados familiares só lhes serão aplicadas as regras de
tributação conjunta caso se considere que formam um agregado familiar e desde que seja exercida opção
nesse sentido. Assim, por regra, serão aplicadas as regras da tributação isolada ou singular (art. 13.º/2 e
3).
Nos termos do art. 16.º, M é considerado sujeito residente, ao qual se aplica uma obrigação de
imposto de base alargada ou mundial (art 15.º/1), isto é, será tributado por todos os rendimentos que
oferece independentemente do local de obtenção.

No âmbito da incidência objetiva é necessário identificar os rendimentos e reconduzi-los à sua


categoria de IRS.
Os rendimentos de M serão, em primeiro lugar, os €600 mensais a título de salário pela sua
atividade como empregado de mesa que estarão enquadrados nos rendimentos da categoria A, nos termos
do art. 2.º/1/a, pois apesar de não dito é possível presumir a existência de um contrato de trabalho,
havendo, por isso, uma subordinação jurídica e económica de M face à entidade empregadora, assim,
será esta a determinar as condições, horário e a forma de trabalho, estando M depende do salário para
sobreviver. Os €200 mensais de gorjetas serão qualificados como rendimentos da categoria A, nos
termos do art. 2.º/3/g.

30
Ana Paula Pinto (A97320)
Em segundo, os €500 mensais pelo arrendamento de um imóvel que é sua propriedade, serão
rendimentos da categoria F, nos termos do art. 8.º/1 e 2/a, podendo optar pela tributação no âmbito da
categoria B (art. 8.º/1, parte final).
Por fim, o montante arrecadado pela venda da quota que detinha numa sociedade será qualificado
como rendimento da categoria G, constituindo uma mais-valia nos termos dos art. 9.º/1/a e 10.º/1/b.

Agora é necessário determinar se existe ou não a possibilidade de deduções específicas, isto é,


deduzir encargos suportados pelo sujeito passivo para a obtenção do rendimento.
No que diz respeito aos rendimentos da categoria A, pelo art. 25.º, podem ser deduzidas as
despesas até ao valor máximo de 4104, dado que o legislador presume que não existe grandes despesas
para a obtenção do encargo.
Em relação aos rendimentos da categoria F há deduções especificas nos termos do art. 41.º, no
entanto exclui-se a despesa no valor de €2500 pela compra de eletrodomésticos, nos termos do art.
41.º/1/2ª parte.
Os rendimentos da categoria G só é possível fazer deduções especificas às mais valias art. 42.º.
No caso trata-se de uma mais-valia de partes sociais, pelo que pelo art. 43.º/1, 3 a 6; 44.º/1/d, f; 48.º e
51.º/b.
Ainda é necessário identificar as retenções na fonte. Os rendimentos da categoria A estão sujeitas
a retenção na fonte pela entidade devedora do salário, art. 98.º e ss e tabelas de retenção na fonte e art.
99.º-C para a retenção na fonte das gratificações. Os rendimentos da categoria F têm uma retenção na
fonte numa taxa de 20% caso as entidades disponham ou devam dispor de contabilidade organizada, art.
101.º/1/e. Por fim, perante rendimentos da categoria G não há lugar a retenções na fonte (perante o que
decorre do art. 101.º/1/a).

Desta forma, é imperioso determinar se há ou não possibilidade de englobamento ou de escolha


pelo englobamento (art. 22.º), sendo este a soma dos diversos rendimentos líquidos que o sujeito passivo
obteve para aplicação das taxas do art. 68.º e a obtenção da matéria coletável, onde vigora um sistema
de progressividade por escalões: ao rendimento situado no intervalo de cada escalão é aplicável a
respetiva taxa. Ou seja, a obtenção de novas unidades de rendimento, a implicar a “mudança de escalão”,
significará, apenas, uma tributação mais pesada do montante que exceder o limite do escalão anterior,
tal como resulta do n.º 2 do 68.º. Procura-se perceber qual é o montante de rendimento que pode ser
inserido em cada escalão.
Tal como referido no início, caso o casal opte pela tributação em conjunto será aplicado o art.
69.º dos quocientes familiares: o rendimento coletável é divido por dois; aplicam-se as correspondentes
taxas ao resultado dessa divisão; a coleta de imposto do agregado familiar é o dobro do valor assim

31
Ana Paula Pinto (A97320)
apurado. Assim, se optarem pela tributação conjunta é necessário somar os rendimentos totais de cada
um, naquele ano e, de seguida, divide-se por dois. Ao resultado são aplicadas as taxas do art. 68.º, sendo
necessário multiplicar o resultado por 2, a fim de ser obtida a coleta.
Por não ser possível englobar, aos rendimentos prediais e ao salto positivo entre a mais-valia e a
menos valia será aplicada uma taxa especial de 28%, art. 72.º/1/e, c. Por outro lado, às gratificações uma
taxa especial de 10%, art. 72.º/3.

Posteriormente, é necessário averiguar as deduções à coleta de natureza pessoalizante, isto é,


despesas e encargos que o sujeito passivo suporta na suas esfera privada, art. 78.º ipsis verbis. Portanto,
dedução pelo descendente, P (nº1/a e art. 78.º-A); dedução de despesas gerais familiares (nº1/b e artigo
78.º-B); propinas suportados por M na parte das dedução de despesas de formação e educação (n.º1/ d e
78.º-D); renda do apartamento T0 onde habita (nº1/e e 78.º-E); a não dedutibilidade dos gastos
suportados com a cirurgia do hamster, dada a ausência de emissão de fatura: artigos 78.º, n.º 1, alínea g)
e 78.º-F, n.º 1, alínea e); a irrelevância dos gastos suportados com Pablo, por terem sido concretizados
em já 2021. Em relação às deduções respeitantes aos adiantamentos fiscais, n.º 2, há por consequência,
quando em excesso o seu reembolso de IRS, pois são retenções a título provisório que só depois do
cálculo do IRS se tornam a título definitivo.

Caso Prático nº16


Desde os anos 80 que Xavier e Zulmira vivem em união de facto, mas apenas a 13 de maio de
2021 é que contraíram matrimónio. Atualmente, residem em Faro, com os seus dois filhos - Tomé,
de 17 anos, e Salomé, de 24 anos - e com uma amiga de longa data de Zulmira - Geraldina, reformada,
com 85 anos.
Xavier é baterista e, durante o ano de 2021, para além de ter dado algumas aulas particulares
de bateria (o que lhe permitiu auferir um rendimento de €5.000), criou a sua própria empresa de
animação para casamentos, nos quais fazia espetaculares exibições de bateria. Durante os meses de
julho e de agosto esteve em França para animar casamentos de emigrantes portugueses. Esta
atividade trouxe-lhe um rendimento de €20.000.
Zulmira é consultora fiscal numa renomada empresa do ramo, tendo auferido, no ano de
2021, €25.000. Apesar de esta sua profissão ocupar grande parte do seu tempo (de 2.ª a 6.ª feira,
das 9h às 18h), Zulmira participou em alguns leilões de obras de arte, tendo depois vendido, por
altura do Natal, por preços superiores, alguns dos quadros que ali comprou, o que lhe permitiu

32
Ana Paula Pinto (A97320)
receber a quantia de €10.000. Recebeu ainda €15.000 resultantes do arrendamento de vários
apartamentos de que é proprietária.
As maiores despesas do casal foram feitas com as propinas do mestrado em Contabilidade
que Salomé frequenta (€3.500), com a renda da casa onde habitam (€3.000 mensais) e com as obras
nos apartamentos arrendados (€5.000). Suportaram ainda despesas de condomínio (€1.500) e
pagaram o imposto municipal sobre imóveis (€500).
Tomé, aluno do 12.º ano numa escola pública, trabalha aos fins de semana numa cadeia de
fast food, auferindo €800 por mês, os quais são totalmente destinados a ajudar os pais no pagamento
de despesas correntes.
Salomé não auferiu quaisquer rendimentos.
Tendo por base os elementos expostos, diga como se calcula o imposto devido, referente ao
ano de 2021.
Aqui estamos a tratar do cálculo do IRS, que é um imposto sobre o rendimento das pessoas
singulares e um imposto pessoa que tem elementos de pessoalização que vão de encontro com as
circunstâncias económicas (ex: isenção do mínimo de existência) e familiares (casado ou não, com ou
sem dependentes) que se vão evidenciar ao longo das várias etapas do calculo que permite que cada
sujeito passivo beneficie de taxas e escalões progressivos. Pauta-se pelo princípio da legalidade e da
tipicidade fiscal, art. 8.º LGT, que exige ao legislador fiscal várias características como a coatividade e
numerus clausus, sobretudo em termos da definição de quais os rendimentos sujeitos a tributação, para
maior proteção dos cidadãos.
No âmbito da incidência subjetiva é necessário aferir quem são os sujeitos passivos para efeitos
de IRS.
Pelo art. 13.º/1, X será um sujeito passivo pois é uma pessoa singular que aufere rendimentos. E
pelos termos do art. 16.º, será um sujeito residente, uma vez que em Faro, pelo que terá uma obrigação
de imposto mundial, ou seja, será tributado por todos os rendimentos auferidos independentemente do
local de obtenção, art. 15.º/1.
Nos mesmos termos, Z e T também será um sujeitos passivo para efeitos de IRS. No entanto, S
por não auferir rendimentos não será considerado um sujeito passivo.
Dado que X e Z estavam em união de facto até 2021, data em que celebraram matrimónio, sendo
esta o que importa (art. 13.º/8), podemos considerar que são um agregado familiar, composto por X, Z,
T e S (art. 13.º/4/a), sendo estes dois últimos dependentes nos termos do art. 13.º/5/a + b respetivamente.
No entanto, por regra, aos agregados familiares só lhes serão aplicadas as regras de tributação
conjunta caso estes optem nesse sentido, assim, serão aplicadas as regras da tributação singular, art.
13.º/2 e 3.

33
Ana Paula Pinto (A97320)
G não pertencerá ao agregado familiar, no entanto, também será sujeito passivo para efeitos de
IRS, dado que é uma pessoa singular que aufere rendimentos, rendimentos estes da categoria H, por se
tratar de uma reforma. Nesta categoria de rendimentos haverá deduções especificas até ao montante de
4104, pois igualmente à categoria A, o legislador presume que não haverá elevados gastos para a
obtenção do rendimento. Igualmente à categoria A haverá retenção na fonte por parte da entidade
devedora da reforma. Estes serão englobáveis para a aplicação das taxas do art. 68.º para a obtenção da
meteria coletável para posteriormente ser deduzidas as despesas de carater pessoal.
No âmbito da incidência objetiva é necessário averiguar quais são os rendimentos sujeitos a
tributação e reconduzi-los à sua categoria de IRS.
Em relação aos rendimentos de X, primeiramente, temos o rendimento que advém das aulas
particulares, este reconduzir-se-á à categoria B, mais propriamente a rendimentos profissionais que
aufere por conta própria de uma atividade de prestação de serviços (Portaria 1011/2001), não havendo
uma subordinação económica e jurídica à entidade empresarial, art. 3.º/1/b.
Em segundo, o rendimento que obtém da sua empresa de animação de casamentos também se
reconduzir-se-á à categoria B, no entanto trata-se de rendimentos empresariais, art. 3.º/1/a. Estes
rendimentos serão tributados em Portugal mesmo sendo obtidos em França, no entanto será necessário
ter em atenção o facto de poder também ser tributado em França.
Em relação a Z, primeiramente, temos os rendimentos que aufere enquanto consultora fiscal
numa empresa o que reconduzir-se-á à categoria A, dado que existe uma subordinação económica (Z
depende do salário pago pela empresa para sobreviver) e jurídica (é a entidade empregadora que
determina a forma como o trabalho é prestado), o que pressupõe a existência de um contrato de trabalho,
art. 2.º/1/a.
Em segundo o rendimento que obtém da venda dos quadros em leilões tecnicamente é uma mais-
valia, pelo que seria reconduzido à categoria G (art. 9.º), no entanto, este rendimento não aparece no
elenco taxativo do art. 10.º, pelo que não está sujeito a tributação.
Em terceiro, o rendimento que obtém devido ao arrendamento de apartamentos reconduz-se à
categoria F, art. 8.º, no entanto, pode haver opção pela tributação na categoria B, sendo que passarão a
ser considerados rendimentos empresariais.
Em relação ao rendimento que T aufere por trabalhar aos fins de semana este será reconduzido à
categoria A por existir um contrato de trabalho e por consequente uma subordinação jurídica e
económica, art. 2.º/1/a.
Agora é necessário determinar a possibilidade de deduções especificas, isto é, deduzir encargos
e despesas suportadas pelo sujeito passivo para a obtenção do rendimento.

34
Ana Paula Pinto (A97320)
Em relação aos rendimentos da categoria A, caso de T e Z, estes terão nos termos do art. 25.º,
um limite máximo de 4104 euros, pois o legislador presume que para a obtenção destes rendimentos não
são suportadas elevadas quantias pelo sujeito passivo, mas sim pela entidade empregadora.
Em relação aos rendimentos da categoria B, rendimentos de X, pelo art. 28.º, é necessário aferir
a forma de determinação dos rendimentos: regime simplificado, contabilidade organizada, imputação
especial, tributação pelas regras da categoria A ou atos isolados. Neste caso, à partida, como os
rendimentos anuais são inferiores a 200000, haverá um cálculo indireto, terá um regime simplificado,
art. 31.º, pelo que em relação aos rendimentos relacionados com a prestação de serviço, animação de
casamentos, será aplicado o coeficiente de 0,15 (art. 31.º/1/a) e em relação aos rendimentos enquanto
professor um coeficiente de 0,75 (art. 31.º/1/).
Por fim, em relação ao rendimento da categoria F, caso não se opte pela tributação na categoria
B, será possível deduzir os gastos efetivamente suportados e pagos pelo sujeito passivo para garantir tais
rendimentos, art. 41.º/1, os encargos com o condomínio, art. 41.º/2 e o imposto municipal sobre imoveis,
art. 41.º/5. No caso os 5.000 das obras; 1.500 das despesas do condomínio e 500 de IMI.
Ainda é necessário identificar as retenções na fonte que possam acontecer, art. 98.º e ss e tabelas
de retenção. No âmbito da categoria A, as retenções na fonte são obrigatórias porque o legislador não
confia no sujeito passivo, por isso estabelece que a entidade devedora do salário retenha o valor
determinado. Assim, Z e T terão uma retenção na fonte de acordo com o art. 99.º e 99.º-C, de acordo
com a sua posição na tabela.
Na categoria B, pelo art. 101.º existirá uma retenção na fonte caso haja contabilidade organizada,
sendo uma retenção na fonte com natureza de pagamentos por conta do imposto devido a final. No caso,
como à partida haverá regime simplificado, não haverá retenção.
Pelo mesmo sentido, não se aplicará retenção na fonte para a categoria F, art. 101.º/1/e, por não
existir contabilidade organizada.
De seguida é necessário verificar a possibilidade de englobamento ou não, ou a opção por tal,
art. 22.º, isto é, possibilidade de somar todos os rendimentos líquidos que o sujeito passivo aufere para
a obtenção do rendimento coletável através da aplicação das taxas do art. 68.º, que representam um
sistema de escalões e taxas progressivos. Ao rendimento situado no intervalo de cada escalão é aplicado
a respetiva taxa, no entanto, a obtenção de novas unidades de rendimento, poderá implicar “a mudança
de escalão”, portanto uma tributação mais pesado do valor que excede o limite do escalão anterior, art.
68.º/2.
Os rendimentos da categoria A e B serão englobáveis, art. 22.º/3 à contrário. Os rendimentos da
categoria F caso não se opte pela tributação na categoria B, o que implicaria a tributação total dos
rendimentos, art. 22.º/5, não há opção pelo englobamento, por se aplicar a taxa autónoma de 28%, art.
72.º/1/e. Assim, ao rendimento englobado será aplicado as taxas do escalão correspondente, art. 68.º.

35
Ana Paula Pinto (A97320)
Como referido em supra, caso se opte pela tributação em conjunto deve-se aplicar o quociente
familiar, art. 69.º, ou seja, o rendimento coletável deve ser dividido por 2, ao resultado aplica-se as taxas
do art. 68.º e depois multiplica-se por 2 para se obter a coleta familiar.
Posteriormente é necessário aferir as deduções à coleta, isto é, ao contrário das deduções
especificas, aqui deduz-se as despesas e encargos suportados pelo sujeito passivo na sua esfera privada
pela aplicação do art. 78.º epsis verbis, art. 78.º/3.
Pela ordem: dependentes (nº1/a, 78.º-A), despesas gerais familiares (nº1/b e 78.º-B), educação
(nº1/d e 78.º-D), encargos com imoveis (nº1/e e 78.º-E), dupla tributação (nº1/j e 81.º, sendo neste caso
existir uma identidade de sujeito, facto tributário, período de tempo e imposição, sendo que é deduzido
o valor mais baixo). Pelo nº2, em relação às deduções respeitantes aos adiantamentos fiscais haverá em
consequência de um excesso o reembolso, dado que eram retenções a título provisório, assim passarão
a ser deduções a titulo definitivo.

Caso Prático nº17


Em 31 de dezembro de 2019, Abel casou com Berta com quem teve quatro filhos: Clara,
atualmente com 23 anos, Daniel com 7, Elvira com 2 e Filipe com 30.
Abel tem um gabinete de tatuagens e piercings, em Vila do Bispo, enquanto Berta é gestora
de conta, num banco em Lagos. (Em Portugal)
No ano passado, além de ter tido um rendimento resultante da atividade do seu gabinete de
€ 30 000, Abel auferiu igualmente € 9000 em virtude da venda dos direitos de autor sobre uma série
de desenhos para tatuagem que tinha adquirido ao seu antigo mestre, a uma empresa israelita.
Recebeu ainda € 10 000 de uma indeminização por danos corporais.
Berta recebeu um vendimento mensal de € 6000, mais € 3000 de senhas de abastecimento
de combustível e deu aulas particulares de massagem sueca, o que lhe proporcionou um rendimento
de € 7000.
As suas maiores despesas do casal foram feitas com a renda do apartamento onde habitam
(€ 2000 mensais), alimentação (€ 900 mensais), deslocações (€ 450, também por mês), pagamento
de despesas com lar de idosos onde se encontra a tia de Abel (€ 1000 mensais); pensão de alimentos
devida à pessoa com quem esteve casado anteriormente (€700 por mês) e uma operação plástica (€
5000) para reconstrução facial, necessária após grave acidente. Para fazer face às despesas Abel
vendeu uma valiosa joia de família por € 250 000.
Clara, além de estudar em horário pós-laboral, é DJ numa conhecida discoteca algarvia,
ganhando 400 euros por mês, montante administrado pelos pais. Todas as duas despesas com
estudos, alimentação, deslocações são suportadas pelos pais.

36
Ana Paula Pinto (A97320)
Daniel, Elvira e Filipe, vítima de uma deficiência profunda, vivem com os pais.
Tendo por base os elementos expostos, diga como se calcula o imposto devido.
O IRS é o imposto aqui devido, este carateriza-se por ser um imposto sobre o rendimento das
pessoas singulares, mas também um imposto pessoal que apesar de ter um corpo único, apresenta
elementos de personalização, pois atende às circunstâncias de cada sujeito passivo desde a situação
económica (por exemplo a isenção do mínimo de existência) à situação familiar (casado ou não,
dependentes ou não) refletidas nas taxas progressivas e nos escalões. Pauta-se pelo princípio da
legalidade e da tipicidade fiscal, art. 8.º LGT, que exige várias caraterísticas como a coatividade,
determinismo e exclusividade, sobretudo para efeitos de definição dos rendimentos sujeitos a tributação,
conferindo uma maior certeza e segurança aos sujeitos.
No âmbito da incidência subjetiva, sobre quem vai incidir o imposto, é necessário aferir quem
são os sujeitos passivos para efeitos do IRS.
Pelo art. 13.º/1, A será um sujeito passivo porque é uma pessoa singular que obtém rendimentos.
Para além de que nos termos do art. 16.º presume-se que será um residente em território nacional ao qual
se aplica uma obrigação de imposto de base alargada ou mundial, art. 15.º/1, isto é, será tributado por
todos os rendimentos que aufere independentemente do local de tributação.
No mesmo sentido, B será também considerada sujeito passivo residente já que é uma pessoa
singular que aufere rendimentos, art. 13.º/1, sendo que se presume que é residente, art. 16.º, pelo que
será também tributada por todos os rendimentos que aufere em Portugal ou fora, art. 15.º/1.
Como o enunciado nos diz que A e B são casados, estes podem constituir um agregado familiar,
nos termos do art. 13.º/4/a, sendo que os dependentes seriam D, E, C e F porque deficiente, art. 13.º/5.
Contudo, aos agregados familiares só lhes serão aplicadas as regras de tributação conjunta caso seja
exercida opção nesse sentido, isto é, ser tributado pelas soma dos rendimentos de cada pessoa que
constitui o agregado. Assim, por regra, serão aplicadas as regras da tributação isolada ou singular (art.
13.º/2 e 3). Neste caso não se enquadra a exceção no nº6 do art. 13.º.
No âmbito da incidência objetiva, sobre quais rendimentos vai incidir, é preciso identificar os
rendimentos e reconduzi-los à sua categoria de IRS.
Abel obtém um rendimento resultante da atividade do seu gabinete de € 30 000, pelo que se
reconduz à categoria B, art. 3.º/1, onde sobressai o elemento pessoal, em vez da estrutura empresarial,
sendo um rendimento profissional.
O rendimento que advém da venda dos direitos de autor será reconduzido à categoria G, art.
9.º/1/a, sendo uma mais-valia nos termos do art. 10.º/1/c, apesar de não dizer quando foram adquiridos
estes direitos de autor por A, este dado seria relevante devido à norma transitória do art. 5.º DL442-
A/88, dado que só serão tributadas mais-valias depois de 1999 ou que já fossem tributadas.

37
Ana Paula Pinto (A97320)
Os € 10 000 de uma indeminização por danos corporais será um rendimento que se reconduzirá
à categoria G, art. 9.º/1/b, caso não tenha havido uma decisão judicial.
Por fim, a venda da joia de família não é tributada, pois não é uma mais-valia prevista no elenco
taxativo do art. 10.º.
Agora é necessário determinar se existe ou não a possibilidade de deduções especificas, isto é,
deduzir encargos suportados pelo sujeito passivo para a obtenção do rendimento.
Em relação aos rendimentos da categoria B, a forma de tributação será, à partida, o regime
simplificado por se tratar de um valor inferior ao determinado por lei para a obrigação da contabilidade
organizada, art. 28.º/1 e 2. Portanto, aplicar-se-ia o coeficiente de 0,75, art. 31.º/1/b.
O rendimento que advém da mais-valia da venda será apenas considerado 50% do seu valor, isto
é, saldo apurado entre as mais-valias e as menos-valias realizadas no mesmo ano, art. 43.º/1 e 2/c. Ainda
é possível deduzir despesas e encargos para a determinação do valor de aquisição, art. 51.º, neste caso
não faz sentido.
Já o rendimento que advém da indeminização não apresenta possibilidade de deduções
especificas.

Em relação à B temos, em primeiro lugar, o vencimento mensal que advém da sua atividade
como gestora de conta que se reconduzirá à categoria A, art. 2.º/1/a, pois à uma subordinação jurídica e
económica à entidade empregadora que decorrerá de um contrato de trabalho, isto é, o Banco determina
em que condições, forma e horário que será prestado o trabalho e B depende do salário para sobreviver.
Em segundo lugar, as senhas serão remunerações acessórias, art. 2.º/3/b, pois são um benefício
não incluído na remuneração principal, que atribui a B uma vantagem e está em conexão com o trabalho.
Em terceiro, as aulas de mensagem já serão reconduzidas à categoria B, uma vez que são
rendimentos auferidos por conta própria na prestação de um serviço, art. 3.º/1/b.
Agora é necessário averiguar a possibilidade de deduções específicas em relação a estes
rendimentos.
Os rendimentos da categoria A tem um limite máximo de 4104, art. 25.º/1/a, pois o legislador
considera que não há elevados encargos para a obtenção deste rendimento.
Em relação aos rendimentos da categoria B estes podem ser tributados através do regime
simplificado, contabilidade organizada, imputação especial, tributação de acordo com as regras da
categoria A ou atos isolados, como os rendimentos não serão superiores ao montante máximo, à partida,
será tributado pelo regime simplificado num coeficiente de 0,75, art. 31.º/1/b.
Ainda é necessário identificar as possíveis retenções na fonte. Os rendimentos da categoria A
estão sujeitos a retenção na fonte pela entidade devedora do salário, art. 98.º a 99.º-C e tabelas de
retenção na fonte, no caso de B uma retenção de 0%. Os rendimentos da categoria B terão uma retenção

38
Ana Paula Pinto (A97320)
na fonte nos termos do art. 101.º que apenas acontecerá caso haja contabilidade organizada, sendo uma
retenção com natureza de pagamento por conta do imposto devido em termos finais, o que não será o
caso de A nem de B.

Desta forma é imperioso determinar se há ou não englobamento ou a opção pelo englobamento,


art. 22.º, sendo este a soma dos diversos rendimentos líquidos que o sujeito passiva obteve para a
aplicação das taxas do art. 68.º e obtenção da matéria coletável, onde vigora um sistema de
progressividade por escalões: ao rendimento situado no intervalo de cada escalão é aplicável a respetiva
taxa, ou seja, a obtenção de novas unidades de rendimento, a implicar a “mudança de escalão”,
significará, apenas uma tributação mais pesada do montante que exceder o limite do escalão anterior, tal
como resulta do art. 68.º/5. Procura-se saber qual o montante de rendimento que pode ser inserido em
cada escalão.
Assim, para o rendimento A e B será aplicado o sistema de progressividade para escalões, sendo
englobavel. No que se refere à mais-valia, está será tributada a uma taxa especial de 28%, art. 22.º/3/b e
72.º/1/a, porém com a opção de englobamento, art. 22.º/5.
Tal como referido supra, o casal pode optar pela tributação conjunta, nesse caso será aplicado o
art. 69.º do quociente familiar: o rendimento coletável é dividido por 2; aplicam-se as correspondentes
taxas do art. 68.º, sendo a coleta de imposto do agregado familiar o dobro valor apurado, multiplicar por
2.
Posteriormente, averigua-se as deduções à coleta que têm uma natureza persoalizante, isto é,
despesas e encargos que o sujeito passivo suporta na sua esfera privada, deve-se aplicar o art. 78.º epsis
verbis (art. 78.º/3). Em primeiro lugar, as deduções dos descentes (nº1/a e 78.º-A), depois despesas
familiares que deduz até 35% (nº1/b e 78.º-B), seguros de saúde 15%, assumindo que isenta de IVA ou
IVA em taxa mais baixa (nº1/c e 78.º-C); despesas com educação deduzível até 30% (nº1/d e 78.º-D);
encargos com imoveis (nº1/e e 78.º-E); exigências de faturas (nº1/g e 78.º-F).
Em relação às deduções respeitantes aos adiantamentos fiscais, nº2, há por consequência, quando
em excesso, o seu reembolso, pois são retenções a título provisório que só depois do cálculo do IRS se
tornam a título definitivo. Neste caso seria os rendimentos da categoria A de B e os rendimentos da
categoria B de A e B, que não são obrigatórios.
Por fim, é necessário ter em conta que os direitos de autores foram vendidos a uma empresa
israelita pelo que pode ocorrer dupla tributação, pelo que se aplica o art. 81.º, dedutível até ao limite das
taxas aplicáveis.

39
Ana Paula Pinto (A97320)
Caso Prático nº18
Abel vive com Belmira desde 2000, em Amares. O casal tem dois filhos: Carla, de 2 anos, e
Daniel, de 35. Abel é investidor e Belmira médica num hospital local.
Abel obteve durante o ano de 2021, os seguintes rendimentos: €190.000 de mais-valias
mobiliárias; €20.000 de dividendos distribuídos por sociedades nacionais e estrangeiras onde tem
ações; €10.000 de juros pagos pelo banco onde tem vários produtos financeiros; €1.250.000
resultantes da venda de um terreno para construção que comprou em 1988 pelo equivalente a
€100.000.
Belmira, para além do salário que auferiu como médica, de €20.000, obteve ainda: €10.000
pelas consultas ao domicílio que deu; €15.000 resultante do arrendamento de vários apartamentos
de que é proprietária.
As maiores despesas do casal foram feitas com a renda da casa onde habitam (€3 000
mensais), alimentação (€ 900 mensais), deslocações (€ 450, também por mês), obras nos
apartamentos arrendados, despesas de condomínio, seguros multirrisco e IMI.
Daniel teve recentemente um acidente, o que o impede de trabalhar.
Tendo por base os elementos expostos, diga como se calcula o imposto devido.
O imposto é em causa é o IRS que é um imposto sobre o rendimento das pessoas singulares e um
rendimento pessoal que tem elementos de pessoalização que aparecem nas várias etapas do cálculo do
IRS que permite ir em encontro às circunstâncias económicas (ex: isenção do mínimo para a existência)
e familiares (casado ou não, com ou sem dependentes) do sujeito passivo. Pauta-se pelo princípio da
legalidade e da tipicidade fiscal, art. 8.º LGT, pelo que se exige ao legislador fiscal várias características
das normas como numerus clausus e coatividade, sobretudo na definição dos rendimentos sujeitos a
tributação para maior proteção do cidadãos.
No âmbito da incidência subjetiva é necessário aferir quem são os sujeitos passivos em os efeitos
de IRS.
Pelo art. 13.º/1, A e B são sujeitos passivos para efeitos de IRS porque são sujeitos singulares
que auferem rendimentos. Pelo art. 16.º, são sujeitos residentes porque vivem em Amares, logo vão ser
sujeitos a uma obrigação de imposto mundial, art. 15.º/1, ou seja, vão ser tributados pela totalidade de
rendimentos que auferem independentemente do local.
Pode-se equacionar que A e B por viverem juntos a vários anos podem estar unidos pelo
matrimonio ou em união de facto, art. 14.º. Assim baseado na premissa de que A e B estão há pelo
menos 2 anos em partilha de cama, teto e leito, formam um agregado familiar composto por A, B C e D,
art. 13.º/4.º/1/a, estes últimos serão dependentes nos termos do art. 13.º/5/a + c, dado que D é inapto para
trabalhador devido ao acidente.

40
Ana Paula Pinto (A97320)
Contudo, os agregados familiares só lhes são aplicadas as regras de tributação conjunta caso haja
opção nesse sentido, logo, por regra, são aplicadas as regras de tributação singular, art. 13.º/2 e 3.
No âmbito da incidência objetiva é necessário aferir quais os rendimentos sujeitos a tributação e
a que categoria de IRS se reconduzem.
Em relação aos rendimentos de A, primeiramente, temos os rendimentos que advém das mais-
valias mobiliárias, da distribuição de dividendos e dos juros pagos pelo Banco que serão reconduzidos
à categoria E, por se tratarem rendimentos de vantagens económicas bem como capitais e frutos de
natureza mobiliária, art. 5.º.
Em segundo, temos a mais-valia que resulta da venda de um terreno para construção, este
rendimento reconduz-se à categoria G, art. 9.º/1/a, pois trata-se de uma mais-valia elencada no art.
10.º/1/a. No entanto, de acordo com a norma transitória do art. 5.º do DL 442-A/88, apenas serão
tributadas as mais-valias adquiridas depois da entrada em vigor ou aquelas que anteriormente já eram
tributadas, como é o caso.
Em relação ao rendimentos de B, primeiramente, temos o salário que aufere como médica, este
rendimento pressupõe a existência de um contrato de trabalho e, portanto, uma subordinação económica
(B depende deste salário para sobreviver) e jurídica (a forma como é prestado o trabalho é determinada
pela entidade empregadora, o hospital), pelo que é reconduzido à categoria A, art. 2.º/1/a.
Em segundo os rendimentos que aufere pelas consultas ao domicílio, neste caso são rendimentos
que advém da prestação de um serviço por conta própria não havendo uma subordinação, portanto
categoria B, art. 3.º/1/b.
Em terceiro, o rendimento resultante do arrendamento de vários apartamentos reconduz-se à
categoria F, por se tratar de rendimentos prediais, no entanto existe opção de serem englobados na
categoria B, passando a ser rendimentos empresariais, art. 4.º/1/n, art. 8.º/1.
Agora é necessário determinar se há a possibilidade de fazer deduções especificas, isto é, deduzir
encargos e despesas suportadas pelo sujeito passivo para a obtenção do rendimento.
Em relação à categoria A, o legislador presume que não existem grandes encargos a ser
suportados pelo sujeito passivo pelo que limita ao valor de 4104, art. 25.º/1/a.
Em relação aos rendimentos da categoria B, importa aferir a forma de tributação dos mesmos:
contabilidade organizada, regime simplificado, atos isolados, imputação especial ou tributação pelas
regras da categoria A. Neste caso, à partida, por não se ultrapassa o valor identificado no art. 28.º/2, pelo
que será o regime simplificado, art. 31.º, aplicando-se no caso o coeficiente de 0,75, art. 31.º/1/b.
Em relação aos rendimentos da categoria E não há deduções especificas, no entanto, por existir
dividendos de empresas estrangeiras é necessário depois ter em conta a dupla tributação económica, art.
40.º-A.

41
Ana Paula Pinto (A97320)
Em relação à categoria F, é possível deduzir os gastos efetivamente suportados e pagos pelo
sujeito passivo pelo que se inclui as obras dos apartamentos, as despesas de condomínio e o IMI, art.
41.º/1, 2 e 5.
Em relação à categoria G é possível deduzir despesas, art. 43.º e 51.º, sendo necessário uma
correção monetária, art. 50.º.
Desta forma, é imperioso determinar se há ou não englobamento ou se há opção pelo
englobamento, art. 22.º, isto é, se é possível somar todos os rendimentos líquidos que o sujeito passivo
obteve para a obtenção do rendimento coletável para aplicação das taxas do art. 68.º, onde vigora um
sistema de progressividade por escalões. Ao rendimento situado no intervalo de cada escalão aplica-se
a respetiva taxa, porém na obtenção de novas unidades de rendimento, a implicar “mudança de escalão”
para uma tributação mais pesada do montante que excede o limite do escalão superior, art. 68.º/2.
Os rendimentos da categoria A e B são englobáveis por aplicação do art. 22.º/3 a contrario. Os
rendimentos da categoria E não são englobáveis, pois há a aplicação da taxa liberatória de 28% do art.
71.º/1, no entanto podem ser englobáveis, pelo nº8, se forem obtidos fora do exercício da atividade
empresarial, sendo o caso há necessidade de englobar todos os rendimentos da mesma categoria, art.
22.º/5. Os rendimentos da categoria F a não ser que se opte pela tributação na categoria B, não são
englobáveis, pois há aplicação da taxa autónoma de 28% do art. 72.º/1/e. No mesmo sentido, também
não são englobáveis os rendimentos da categoria G, dado que se aplica a mesma taxa, art. 72.º/1/a.
Tal como referido em supra, caso se opte pela tributação em conjunto deve-se aplicar o quociente
familiar do art. 69.º, ou seja, somar os rendimentos líquidos, dividir por 2, aplicar as taxas do art. 68.º e
multiplicar por 2 para ter acesso à coleta.
Posteriormente é necessário fazer as deduções à coleta, os encargos e despesas que o sujeito
passivo suporta na sua esfera privada, na aplicação do art. 78.º epsis verbis, art. 78.º/8. Assim,
dependentes (nº1/a + 78.-A), despesas gerais familiares (nº1/b + 78.º-B), despesas de saúde (nº1/c + 78.º-
C) e dupla tributação (nº1/j e 40.º-A). Por fim, são deduzidos os pagamentos por conta, nº2, que quando
em excesso tem como consequência o reembolso no IRS.

Caso Prático nº19


Banderas, nascido e criado em Barcelona, vive há vários anos em Lisboa, numa casa arrendada
com a sua esposa Carmen, também espanhola. Banderas frequenta a licenciatura em Estudos
Africanos, cujas propinas têm sido pagas com os rendimentos que aufere pelas traduções português-
espanhol que tem vindo a fazer. Na verdade, o trabalho de Banderas tem vindo a ser amplamente
reconhecido, sobretudo entre colegas da Faculdade, tendo já atualizado a sua atividade profissional
nas redes sociais para “Tradutor português-espanhol”, cobrando 10€ por cada página traduzida.

42
Ana Paula Pinto (A97320)
Banderas conta ainda com os 1.000€ que mensalmente são depositados na sua conta, fruto
de um contrato de arrendamento que mantem com Pierre (cidadão francês), de um apartamento
situado numa zona privilegiada de Barcelona e que herdara de sua avó. A meio do ano investiu
10.000€ na renovação da decoração da sala. Os 200€ que recebeu pela venda de uma mesa antiga
foram diretamente para a conta poupança que mantem no banco, mas que tenciona cancelar,
considerando que pouco recebe de juros.
Quando regressava das suas férias em Barcelona, Banderas sofreu um acidente de automóvel.
Em tribunal apurou-se que o acidente foi da responsabilidade de um outro condutor, que foi
condenado a pagar a Banderas uma indemnização de 10.000€ pelos danos morais que Banderas
sofreu.
Em outubro, Banderas e Carmen foram pais de Alejandro, mas acabaram por se divorciar no
início de dezembro, tendo Carmen regressado imediatamente a Madrid, de onde é natural.
Tendo por base os elementos expostos, diga como se calcula, em relação a cada um dos
sujeitos em causa, o IRS devido, tendo como referência o ano de 2021.
O IRS é um imposto sobre o rendimento das pessoas singulares e é um imposto pessoal que
apesar de um corpo único, apresenta elementos de personalização que ao atender à situação económica
(exemplo da isenção do mínimo de existência) e à situação familiar (casado ou não, com ou sem
dependentes) vai ao encontro das diversas caraterísticas pessoais de cada sujeito passivo através de taxas
progressivas e escalões. Pauta-se pelo princípio da legalidade e da tipicidade fiscal, art. 8.º LGT, que
exige várias condições como a coatividade, determinismo e exclusivismo para maior proteção e
segurança do cidadão, sobretudo para efeitos de definição dos rendimentos sujeitos a tributação.

Em relação à incidência subjetiva, sobre quem vai incidir o imposto, é necessário aferir quem
são os sujeitos passivos para efeitos de IRS.
B é um sujeito passivo de IRS, nos termos do art. 13.º/1, dado que é um pessoa singular que
aufere rendimentos em Portugal. Nos termos do art. 16.º, B, apesar de ser cidadão espanhol, é residente
em Portugal, pois permanece em território português, art. 5.º CRP, mais de 183 dias num período de 12
meses, “reside em Lisboa a vários anos” pelo que será tributado pela totalidade dos rendimentos
auferidos independentemente do local de obtenção, art. 15.º.
C tal como B é irrelevante a nacionalidade, pois também reside a vários anos em Portugal, nada
nos é dito sobre os seus rendimentos.
Sendo que no início de dezembro B e C, que eram casados e formavam um agregado familiar
com A, nos termos do art. 13.º/4/a e art. 13.º/5/a, se divorciaram, o agregado familiar de B passa a ser
apenas constituído por ele e por seu depende A, art. 13.º/4/b, pois o que releva em termos de IRS, é a

43
Ana Paula Pinto (A97320)
situação a 31 de dezembro de 2021, art. 13.º/8. Desta forma, não há possibilidade de escolha pela
tributação em conjunto, art. 13.º/3 a contrário.

No âmbito da incidência objetiva, sobre o que vai incidir o imposto, é necessário aferir quais os
rendimentos e reconduzi-los à sua categoria de IRS, art. 1.º.
Primeiramente, os rendimentos que obtém como tradutor pertencem à categoria B, sendo
rendimentos profissionais que advém de uma prestação de serviços por conta própria, não havendo
subordinação jurídica nem económica a uma entidade empregadora, art. 3.º/1/b e Portaria 1011/2001.
Em segundo, os rendimentos que advém de um arrendamento são reconduzidos à categoria F,
art. 8.º, no entanto pode o sujeito passivo optar pela tributação no âmbito da categoria B, transformando
estes rendimentos em rendimentos frutos do trabalho empresarial, art. 4.º/1/n e 72.º/1/e. Apesar de o
apartamento se situar em Barcelona apenas é relevante para o caso de dupla tributação, pois por ser
residente, B vai ser tributado por todos os rendimentos que aufere.
Em terceiro, a venda da mesa antiga dá origem a uma mais-valia, no entanto, não está presente
no elenco taxativo das mais-valias relevantes do art. 10.º, não sendo relevante para o cálculo de IRS.
Em quarto, os juros da conta poupança são reconduzíveis à categoria E, por se tratar de
rendimentos de capitais, art. 5.º/2/b.
Em quinto, a indeminização por danos morais atribuída pelo tribunal aquando do acidente
automóvel não é tributada pelo art. 9.º/1/b, pois é a execução de uma decisão judicial.
Agora é necessário determinar se existe ou não a possibilidade de deduções especificas, isto é,
deduzir encargos e despesas suportadas pelo sujeito passivo para a obtenção do rendimento.
No que diz respeito à categoria B, pelo art. 28.º, a tributação poderá ser através do regime
simplificado, contabilidade organizada, atos isolados, imputação especial ou tributação pelas regras da
categoria A, à partida, neste caso será o regime simplificado que pressupõe que a matéria tributável seja
fixada de modo indireto através da aplicação dos coeficientes previstos no art. 31.º. no caso por ser
atividades profissionais do art. 31.º/1/b será um coeficiente de 0,75.
Em relação à categoria F, art. 41.º, caso não se opte pela tributação na categoria B, poderia
deduzir as despesas, não as despesas de decoração (art. 41.º/1), se já fosse as despesas de condomínio já
seria relevante (art. 41.º/2) do apartamento em Lisboa onde são arrendatários.
Por fim, na categoria E não há deduções especificas, pois, o legislador presume que não haverá
grandes despesas para a obtenção dos rendimentos.
Ainda é necessário identificar as retenções na fonte, neste caso os possíveis pagamentos por conta
no âmbito da categoria B, art. 101.º, porém, só ocorrerá caso haja contabilidade organizada.
Desta forma, é imperioso determinar se há ou não possibilidade de englobamento ou opção pelo
englobamento, art. 22.º, isto é, soma de todos os rendimentos líquidos que o sujeito passivo obteve para

44
Ana Paula Pinto (A97320)
a aplicação das taxas do art. 68.º e da matéria coletável, onde vigora um sistema de progressividade
através de escalões. Ao rendimento situado no intervalo de cada escalão é aplicável a respetiva taxa, ou
seja, a obtenção de novas unidades de rendimento, a implicar a “mudança de escalão”, significará, apenas
uma tributação mais pesada do montante que exceder o limite do escalão anterior, art. 68.º/2. Procura-
se perceber qual é o montante de rendimento que pode ser inserido em cada escalão e respetiva taxa.
Assim, os rendimentos da categoria B são englobáveis, art. 22.º/3 a contrário; os rendimentos da
categoria F não são englobáveis, art. 72.º/1/e (taxa autónoma de 28%), a não ser que se opte pela
tributação na categoria B; e os rendimentos da categoria E não são englobáveis pelo art. 71.º/1/a (taxa
liberatória de 28%), podendo ser englobáveis pelo art. 71.º/8, contudo teria de ser a totalidade, art. 22.º/5.
Aos rendimentos englobáveis aplica-se as taxas do art. 68.º.
Posteriormente, é necessário averiguar as deduções à coleta de natureza persoalizante, isto é,
despesas e encargos que o sujeito passivo suporta na sua esfera privada através da aplicação do art. 78.º
epsis verbis (nº8): dependentes (nº1/a + 78.º-A); despesas gerais familiares (nº1/b + 778.º-B); educação
(nº1/d + 78.º-D); possível dupla tributação, art. 78.º/1/j e 81.º, sendo necessário que entre os dois exista
uma identidade do sujeito, facto tributário, imposição e o mesmo período de tempo, sendo dedutível o
montante mais baixo do imposto.

45
Ana Paula Pinto (A97320)

Você também pode gostar