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RESUMO: O artigo aborda a tributação, pelo ICMS, dos contratos de licenciamento de uso de
software obtidos por meio de download. A partir das duas correntes de intepretação das regras
de competência tributária, analisou-se a possiblidade de se identificar o referido fato com a mate-
rialidade tributável prevista no art. 155, II da Constituição. Configurando o fato aqui analisado
como constituindo a exploração de direitos autorais, afigura-se impossível, quer pelo raciocínio
conceitual ou tipológico, seu enquadramento na referida regra de competência tributária. Ade-
mais, apenas para o desenvolvimento do debate, é impossível também amoldá-lo às definições da
LC 87/96, o que faz com que seja inviável a tributação.
1. INTRODUÇÃO
2
GARCÍA NOVOA, César. Fiscalidad del comercio electrónico. Artigo in Revista de Direito Tributário.
São Paulo, n. 80, p. 85-121.
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Passa-se então a analisar se e como esses fatos se amoldam à competência
tributária dos entes federativos.
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Exceção se faz ao imposto federal sobre grandes fortunas, que tem fato gerador discriminado mas para
o qual foi excepcional e expressamente exigida lei complementar (art. 153, VII).
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Essa a posição, por exemplo, de Humberto Ávila (ÁVILA, Humberto. Competências tributárias. São
Paulo: Malheiros, 2018). O tema relativo aos tipos e conceitos e a posição pela prevalência dos concei-
tos no direito tributário foram pioneiramente explorados por Derzi (DERZI, Misabel Abreu Machado.
Direito Tributário, direito penal e tipo. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1988).
5
SCHOUERI, Luís Eduardo. Discriminação de competências e competência residual. In: SCHOUERI,
Luís Eduardo; ZILVETI, Fernando Aurélio (coordenadores). Direito tributário: estudos em homenagem
a Brandão Machado. São Paulo: Dialética, 1998.
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=( ' "!+>?"%(@são atos jurídicos; atos regulados pelo Direito como produtores de
determinada eficácia jurídica; são atos juridicamente relevantes; circulação e
mercadoria são, nesse sentido, adjetivos que restringem o conceito substantivo
de operações”.6. Essa expressão “garante, assim, que a circulação de merca-
doria é adjetivação, consequência. Somente terá relevância jurídica aquela
operação mercantil que acarrete a circulação da mercadoria, como meio e
forma de transferir-lhe a titularidade”7;
=( +(5,!5/-+>&'(A(5'$5",#/+)+( "-+()'/#!,$+8 e jurisprudência9 como “cir-
5/-+>&'(B/!C),5+D9('/(%"B+9(+(2/)+$>+()"()'2C$,'()+(2"!5+)'!,+1
6
ATALIBA, Geraldo e GIARDINO, Cléber. Núcleo da definição constitucional do ICMS. RDT vol.
25/26, pag. 105
7
DERZI, Misabel de Abreu Machado. Nota de atualização à BALEEIRO, Aliomar. Direito tributário
brasileiro. 11. ed., Rio de Janeiro: Forense, 2001, p. 375
8
Souto Maior Borges, (cf. O Fato Gerador do ICM e os Estabelecimentos Autônomos, in Revista de
Direito Administrativo, São Paulo, vol. 103, pp. 33-48; Geraldo Ataliba (cf. ICM sobre a Importação
de Bens de Capital para uso do Importador, Revista Forense, vol. 250, pp. 114-120); Paulo de Barros
Carvalho (Hipótese de incidência do ICM, in Revista de Direito Tributário, jan/jun de 1980 nº 11-12p.
256. São Paulo: RT, 1980, p.257-262); José Eduardo Soares de Melo (cf. ICMS. Teoria e Prática. São
Paulo. Dialética. 1995); Roque Antonio Carraza (cf. ICMS. São Paulo. Malheiros Ed. 1994); Alberto
Xavier (cf. Direito Tributário e Empresarial - Pareceres. Rio de Janeiro, Forense, 1982, p. 294.
9
Ver Súmula 166 do STJ e 573 do STF. Em sede de repercussão geral no STF: RE 540.829, Pleno, Rela-
tor Min. Gilmar Mendes, Relator p/ Acórdão: Min. Luiz Fux, Tribunal Pleno, julgado em 11/09/2014).
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=( 2"!5+)'!,+10 é categoria especial de bens econômicos: bens móveis11
postos à venda, ou seja, cuja existência é destinada à sua colocação
no comércio12.
Em sede de recursos repetitivos no STJ: REsp 1.125.133/SP, 1ª Seção, Rel. Ministro Luiz Fux, julgado
em 25/08/2010, DJe 10/09/2010)
10
ATALIBA, Geraldo e GIARDINO, Cleber. Hipótese de incidência do ICM, in Revista de Direito Tribu-
tário, jan/jun de 1980nº 11-12. São Paulo: RT, 1980, p. 256.
11
ÁVILA, Humberto. Sistema Constitucional Tributário. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 202.
12
Conceito constante do art. 191 do Código Comercial então vigente: “É unicamente considerada mercantil
a compra e venda de efeitos móveis ou semoventes, para os revender por grosso ou a retalho, na mesma
espécie ou manufaturados, ou para alugar o seu uso; compreendendo-se na classe dos primeiros a moeda
metálica e o papel moeda, títulos de fundos públicos, ações de companhias e papéis de crédito comerciais,
contanto que nas referidas transações o comprador ou vendedor seja comerciante”. Vale notar que, parte
dos bens equiparados pelo dispositivo às mercadorias foram expressamente excluídos do âmbito do ICMS
em razão da definição do fato gerador do imposto federal sobre operações financeiras, o IOF, no art. 153, V
da Constituição. Na jurisprudência, a existência do conceito de mercadoria como bem móvel destinado ao
comércio é confirmada pelos julgados que rejeitam a incidência sobre operações com bens do ativo imobi-
lizado, que não têm essa destinação (v.g. RE 194300/SP e AI-AgR 177698/SP).
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