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24/02/2023, 09:24 · Justiça Federal da 1ª Região

 APELAÇÃO CÍVEL (198) 0009127-54.2015.4.01.3400


RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL SOUZA PRUDENTE
APELANTE: ARCÍSIO BARBOSA LIMA
Advogado do APELANTE: LEONARDO DA COSTA - PR23493-A
 

APELADO(A): FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA

VOTO

O EXMO. SR. DESEMBARGADOR FEDERAL SOUZA PRUDENTE


(RELATOR):

Na hipótese dos autos, a pretensão recursal deduzida nestes autos é


no sentido de que a FUNASA seja condenada ao pagamento de indenização por
dano moral por ano de exposição desprotegido, decorrente da alegada
contaminação pela substância diclorodifeniltricloretano – DDT e outros produtos
químicos correlatos que passaram a substituir o DDT, sem equipamento de
proteção individual, em virtude de exposição do autor durante o exercício de suas
funções laborais no combate a endemias.

Como visto, o recurso de apelação inicialmente apresentado pelo


autor já fora examinado pela colenda Quinta Turma deste egrégio Tribunal, por
meio do v. Acórdão de fls. 523, que anulou a sentença singular inicialmente
proferida, às fls. 495/498, determinando o retorno dos autos de origem, para a
produção da prova pericial da mencionada contaminação, sobrevindo nova
sentença monocrática, objeto do atual recurso de apelação, novamente pelo
autor, que julgou improcedente o pedido formulado na exordial.

O autor foi intimado pelo magistrado a quo acerca do retorno dos


autos a origem (fls. 620), ocasião em que foi concedido o prazo de 60 (sessenta)
dias para que a parte juntasse aos autos o resultado do exame que comprove a
exposição com inseticidas (DDT e BHC), sobrevindo a petição de fls. 623/627, no
qual o demandante postula a juntada do Resultado de Análise Toxicológica,
datado de 04/11/2016, bem assim o esclarecimento do Centro de Assistência
Toxicológica (Ceatox), da Unesp.

Feitas tais considerações, antes da análise do mérito propriamente


dito, passo ao exame das preliminares sustentadas pela FUNASA, em
contrarrazões.

Inicialmente, no tocante a alegada incompetência da Justiça Federal


para reconhecer o pedido fundado em fatos anteriores ao advento da Lei nº
8.112/90, entendo que não merece prosperar a pretensão da FUNASA, na medida
em que esta Corte tem reiteradamente decidido demandas idênticas a presente,

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nas quais a FUNASA figura no polo passivo, não havendo que se fracionarem os
fatos que sustentam o pedido em período anterior e posterior à vigência da Lei nº
8.112/90.

Ademais, no caso dos autos, não se discute obrigações decorrentes


de eventual relação trabalhista, mas, sim, a responsabilidade civil do Estado
quanto aos danos causados ao postulante pela exposição aos agentes químicos
utilizados durante a execução da mencionada função laboral.

Nesse sentido, confiram-se, dentre outros, os seguintes julgados


proferidos por este egrégio Tribunal acerca da matéria, in verbis:

PROCESSUAL CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. CONTAMINAÇÃO DECORRENTE DE


MANIPULAÇÃO DE INSETICIDA (DDT). COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL.
PRESCRIÇÃO. PRELIMINAR REJEITADA. DANOS MORAIS RECONHECIDOS. I - Afigura-
se cabível, na espécie, a aplicação do princípio da actio nata, eis que o prazo
prescricional somente tem início com a ciência da contaminação. Preliminar
rejeitada. II - Na espécie dos autos, comprovada a exposição dos autores à
substância diclorodifeniltricloretano - DDT, ainda que não seja possível afirmar que
os autores sofrem "males físicos e/ou psíquicos decorrentes da manipulação,
desprotegida e sem treinamento adequado, do DDT em suas atividades, com
certeza sofreu [sofreram] (...), no mínimo, a angústia causada pela contaminação e
pelo pânico produzido em torno da questão, com reflexo em suas relações sociais,
a começar pelas relações familiares" (AC 0015286-87.2004.4.01.3500 / GO, Rel.
DESEMBARGADOR FEDERAL JOÃO BATISTA MOREIRA, QUINTA TURMA, e-DJF1 p.56
de 19/09/2013), passível de reparação por danos morais. III- Na fixação do valor da
indenização por danos morais inexiste parâmetro legal definido para o seu
arbitramento, devendo ser quantificado segundo os critérios de proporcionalidade,
moderação e razoabilidade, submetidos ao prudente arbítrio judicial, com
observância das peculiaridades inerentes aos fatos e circunstâncias que envolvem
o caso concreto. Portanto, o quantum da reparação não pode ser ínfimo, para não
representar uma ausência de sanção efetiva ao ofensor, nem excessivo, para não
constituir um enriquecimento sem causa em favor do ofendido. Em sendo assim,
mostra-se razoável e adequado o valor de R$ 3.000,00 (três mil reais), por ano de
exposição desprotegida ao DDT, merecendo reforma a sentença neste ponto. IV -
Apelação dos autores parcialmente provida. Apelação da FUNASA desprovida.

(AC 0019611-20.2013.4.01.3200, DESEMBARGADOR FEDERAL SOUZA PRUDENTE,


TRF1 - QUINTA TURMA, e-DJF1 18/04/2016 PAG.)

PROCESSUAL CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. CONTAMINAÇÃO DECORRENTE DE


MANIPULAÇÃO DE INSETICIDA (DDT). COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL.
PRESCRIÇÃO AFASTADA. DANOS MORAIS RECONHECIDOS. VALOR CONDENATÓRIO.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. ARBITRAMENTO. JUROS DE MORA. I - Não há que se
falar em incompetência absoluta da Justiça Federal, na medida em que esta Corte
tem reiteradamente decidido demandas idênticas a presente, nas quais a FUNASA
figura no polo passivo, não havendo que se fracionarem os fatos que sustentam o
pedido em período anterior e posterior à vigência da Lei nº 8.112/90. II -
Relativamente à prescrição, afigura-se cabível, na espécie, a aplicação do princípio
da actio nata, eis que o prazo prescricional somente tem início com a ciência da
contaminação. III - Devidamente comprovado, como no caso dos autos, a

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exposição dos autores à substância diclorodifeniltricloretano - DDT, ainda que não


seja possível afirmar que os autores sofrem "males físicos e/ou psíquicos
decorrentes da manipulação, desprotegida e sem treinamento adequado, do DDT
em suas atividades, com certeza sofreu (...), no mínimo, a angústia causada pela
contaminação e pelo pânico produzido em torno da questão, com reflexo em suas
relações sociais, a começar pelas relações familiares" (AC 0015286-
87.2004.4.01.3500 / GO, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL JOÃO BATISTA MOREIRA,
QUINTA TURMA, e-DJF1 p.56 de 19/09/2013), passível de reparação por danos
morais. IV - Na fixação do valor da indenização por danos morais inexiste
parâmetro legal definido para o seu arbitramento, devendo ser quantificado
segundo os critérios de proporcionalidade, moderação e razoabilidade,
submetidos ao prudente arbítrio judicial, com observância das peculiaridades
inerentes aos fatos e circunstâncias que envolvem o caso concreto. Portanto, o
quantum da reparação não pode ser ínfimo, para não representar uma ausência
de sanção efetiva ao ofensor, nem excessivo, para não constituir um
enriquecimento sem causa em favor do ofendido. Em sendo assim, mostra-se
razoável e adequado o valor arbitrado na instância de origem. V - Ademais, não
prospera a irresignação quanto ao valor arbitrado a título de verba honorária, eis
que se encontra em conformidade com a regra do § 4º do art. 20 do CPC, com
vistas nos parâmetros previstos nas alíneas a, b e c do aludido dispositivo legal,
atentando-se para a importância da causa, a natureza da demanda, o princípio da
razoabilidade, bem como respeitando o exercício da nobre função e o esforço
despendido pelo ilustre Procurador da parte autora, no caso. VI - "Os juros de
mora devem corresponder aos juros da poupança e a correção monetária deverá
ser calculada com base no IPCA, conforme decidido no julgamento do Recurso
Especial n. 1.270.439/PR, em regime de recurso repetitivo, e pelo Supremo Tribunal
Federal (STF), na Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 4.357/DF, oportunidade
em que foi declarada a inconstitucionalidade parcial, por arrastamento, do art. 5º
da Lei n. 11.960/2009, que deu nova redação ao art. 1º-F da Lei n. 9.494/1997." (AC
0047257-89.2010.4.01.3400 / DF, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL DANIEL PAES
RIBEIRO, SEXTA TURMA, e-DJF1 p.535 de 19/09/2014). VII - Apelação da FUNASA
parcialmente provida para determinar a incidência sobre a condenação em
honorários advocatícios de juros da poupança e a correção monetária calculada
com base no IPCA.

(AC 0000231-60.2014.4.01.3819, JUIZ FEDERAL MÁRCIO BARBOSA MAIA (CONV.),


TRF1 - QUINTA TURMA, e-DJF1 17/07/2015 PAG 1106.)-grifei

RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. ANTIGOS SERVIDORES DA SUCAM.


COMBATE A ENDEMIAS. MANIPULAÇÃO DE DDT. INTOXICAÇÃO/CONTAMINAÇÃO.
LIMITE DE TOLERÂNCIA DE 3 UG/DL OU 30 PPB NÃO ULTRAPASSADO.
CONFIRMAÇÃO POR DOCUMENTOS JUNTADOS À INICIAL. PÂNICO CRIADO EM
TORNO DAS CONSEQÜÊNCIAS DA UTILIZAÇÃO DE DDT. ANGÚSTIA E APREENSÃO,
QUALIFICADAS, DAQUELES SERVIDORES. DANO MORAL. INDENIZAÇÃO.
IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.

1. Na sentença, o pedido foi julgado procedente, “com resolução de mérito, nos


termos do art. 269, I, do CPC”, para condenar “a FUNASA a pagar a cada um dos
Autores a título de danos morais o valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), corrigido
monetariamente a partir desta data até a data do efetivo pagamento pela taxa
SELIC”.

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2. A preliminar de incompetência da Justiça Federal para o processo e julgamento


de ação em que se objetivou reparação por danos morais em razão da exposição
dos autores ao DDT e intoxicação por este pesticida enquanto trabalharam junto à
então SUCAM, sob o regime celetista, deve ser afastada, uma vez que não se
discutem obrigações decorrentes da relação de trabalho.

3. Em processo, não se decretam nulidades se do ato praticado e que se reputa


inválido não resultaram prejuízos à defesa. Afasta-se alegação de cerceamento de
defesa ante a ausência de intimação para apresentar quesitos e indicar assistente
técnico, antes da realização da perícia, por isso, se não demonstrados os prejuízos
efetivamente suportados, sobretudo quando, à vista do laudo pericial, teve
oportunidade de a ele se contrapor e nada se mostrou ilegal ou prejudicial.

4. Esta Quinta Turma tem entendido que para se viabilizar pedido de reparação
por danos morais formulado por servidores da FUNASA em razão da exposição e
intoxicação ao agente químico DDT, é necessário que se comprove que o nível
encontrado no organismo ultrapasse o Limite de Tolerância Biológica
correspondente a 3 ug/dl – microgramas por decilitro – (ou 30 ppb – partes por
bilhão).

5. A prova documental nos autos produzida mostra que os valores encontrados


nos autores para inseticida do grupo organoclorado PP-DDE foram de,
respectivamente, 18,04 ppb, 4,07 ppb, 16,01 ppb, 12,07 ppb, 3,05 ppb, 29,06 ppb,
5,08 ppb, 4,05 ppb e 11,02 ppb.

6. Na perícia foi constatado problema de saúde relacionado com essa


contaminação, anotando-se que “a simples presença de resíduos de inseticidas
organoclorados no sangue não indica intoxicação; a história clínica e ocupacional e
a concentração é que confirma o resultado” (fl. 334).

7. Na ausência de prova de atuais patologias físicas ou psíquicas resultantes de


suas atividades e tendo em vista que os valores encontrados mostram-se, ao que
tudo indica, dentro da faixa esperada para a população ocupacionalmente
exposta, é improcedente o pedido de reparação por danos morais.

8. Prejudicado o recurso adesivo dos autores por versar apenas sobre majoração
do quantum indenizatório.

9. Apelação da FUNASA provida.

(AC 2007 41 01 002023-7, JUI7 federai Evaldo de OIiveira Femandes F1lho (conv ),
Trf1-QUinta Turma, E-Dfl data 15/07/2015)-grifei

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÕES SANADAS EM


RELAÇÃO AO QUESTIONAMENTO DO EMBARGANTE SEM ALTERAÇÃO NO
RESULTADO DO JULGAMENTO. SERVIDOR. AVERBAÇÃO DE TEMPO ESPECIAL.
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. PRESCRIÇÃO.

1. A pretensão inicial visa ao reconhecimento de tempo especial de trabalho, à


época celetista, para fins de aposentadoria estatutária. O autor não está
pleiteando parcelas trabalhistas, mas sim contagem de tempo para fins de
aposentadoria que será custeada pela União Federal, sobressaindo-se a
competência da Justiça Federal . Ademais, a superveniência da Lei nº 8.112/90
estanca a competência da Justiça do Trabalho para dirimir questões afetas ao
vínculo de emprego anteriormente mantido com a Administração, ainda que se

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cuide do reconhecimento de parcela de trato sucessivo, nascida desse contrato,


dada a impossibilidade de a Justiça Especial vir a executar o adimplemento de
obrigação que se torne devida já sob a égide do regime estatutário.

2. É imprescritível o direito ao reconhecimento de tempo de serviço para fins de


aposentadoria.

3. Omissões do acórdão sanadas para tecer considerações, sem alteração no


resultado do acórdão.

4. Embargos Declaratórios providos, sem alteração no resultado do julgado.

(EDAC 0003758-07.2001.4.01.4100 / RO, Rel. JUIZ FEDERAL MIGUEL ÂNGELO DE


ALVARENGA LOPES, 3ª TURMA SUPLEMENTAR, e-DJF1 p.157 de 30/01/2013)-grifei

ADMINISTRATIVO. CONSTITUCIONAL. SERVIDOR PÚBLICO FEDERAL.


RECONHECIMENTO DE TEMPO DE SERVIÇO. COMPETENCIA DA JUSTIÇA FEDERAL.
PROVA MATERIAL E TESTEMUNHAL ROBUSTAS. RELAÇÃO EMPREGATÍCIA
DEMONSTRADA . AUSÊNCIA DE TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO. RESPONSABILIDADE
TRIBUTÁRIA DO EMPREGADOR.

1. "Compete à Justiça Federal processar e julgar as causas propostas por servidor


público federal, buscando a contagem do tempo de serviço prestado
anteriormente sob o regime celetista (antes do advento da Lei nº 8.112/90) para
fins de percepção do anuênio. Precedentes" (REsp 258.604/PB, Rel. Ministro
EDSON VIDIGAL, QUINTA TURMA, julgado em 21/11/2000, DJ 18/12/2000, p. 230).

2. Quanto ao reconhecimento de atividade urbana, estabelece a legislação (art. 55,


§ 3º, da Lei 8.213/91) que a comprovação do tempo de serviço só produzirá efeito
quando baseada em início de prova material, não sendo admitida prova
exclusivamente testemunhal, salvo na ocorrência de motivo de força maior ou caso
fortuito, conforme disposto no Regulamento.

3. Do conjunto probatório dos autos, verifica-se a existência de prova documental


apta a comprovar que o requerente efetivamente trabalhou como empregado para
a FMTM, a partir de 1972, na condição de professor, prova que veio aliada a
harmônica prova testemunhal.

4. A ausência de recolhimento de contribuição pelo empregador não prejudica o


trabalhador quanto ao seu direito de averbar o respectivo tempo de serviço
comprovadamente prestado em atividade abrangida obrigatoriamente pela
Previdência Social. Precedentes deste Tribunal (AC 0023343-98.2006.4.01.9199/BA,
Rel. Desembargador Federal JosÉAmilcar Machado, Primeira Turma,e-DJF1 p.119 de
25/05/2010). 5. Os honorários advocatícios foram fixados em 10% do valor da
causa, percentual que atende ao grau de labor da demanda, bem assim aos
requisitos do art. 20, § 4º do CPC, retribuindo proporcionalmente o trabalho
desenvolvido pelo Il. causídico.

(AC 0000391-98.1998.4.01.3802 / MG, Rel. JUÍZA FEDERAL ROSIMAYRE GONCALVES


DE CARVALHO, 2ª TURMA SUPLEMENTAR, e-DJF1 p.697 de 09/03/2012)-grifei

***

Acerca da alegação de ilegitimidade passiva ad causam da FUNASA,


de acordo com informações contidas nos autos, o demandante exerceu, desde
ingresso na Superintendência de Campanhas de Saúde Pública – SUCAM, a
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função de Guarda de Endemias/Agente de Saúde Pública, manuseando


inseticidas e pesticidas empregados no controle de pragas e insetos nocivos.
Posteriormente, passou a integrar o quadro de pessoal da FUNASA, em razão do
quanto disposto na Lei 8.029/90 e Decreto nº 100/91, sendo que, desde
24/02/2005, o postulante encontra-se aposentado, não tendo, portanto, sido
redistribuído, ex officio, do Quadro de Pessoal Permanente da Fundação Nacional
de Saúde para o Ministério da Saúde, por força da Portaria nº 1.659/2010, datada
de 29/06/2010.

Nesse sentido, somente a FUNASA deve permanecer no polo passivo


da presente lide, na medida em que, conforme afirmado, a indenização pretendida
abrange o período em que o autor laborou vinculada apenas junto à FUNASA,
portanto, patente o interesse público de mencionada ré no deslinde da presente
feito.

***

Quanto à prescrição quinquenal, arguida também em contrarrazões,


esta egrégia Corte Regional tem entendimento consolidado no sentido de que
deve ser aplicado ao caso o princípio da actio nata, tendo em vista que somente
a partir da ciência dos danos da contaminação, tornar-se-ia possível o início do
prazo prescricional e não da data que foi formalmente abolido o uso do pesticida
DDT no Brasil.

Com efeito, o instituto da prescrição deve ser analisado e


compreendido na dimensão do suporte fático da demanda. Prescrição não é
matéria só de Direito, mas, sobretudo, é matéria atrelada aos fatos que embasam
os autos judiciais.

Ademais, não há que se falar em necessidade de suspensão do


presente feito, a fim de se aguardar a conclusão do julgamento do Tema 1.023,
como representativo da controvérsia, conforme alegado pela FUNASA, tendo em
vista que já houve a apreciação da matéria relativa à prescrição quinquenal pelo
colendo Superior Tribunal da Justiça, em sede de recurso repetitivo, conforme se
extrai do julgado abaixo colacionado, em sentido desfavorável a ora apelada, in
verbis:

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE


CONTROVÉRSIA. TEMA REPETITIVO Nº 1023. SERVIDOR PÚBLICO. PRELIMINAR DE
NULIDADE DO ACÓRDÃO RECORRIDO POR SUPOSTA OFENSA AOS ARTS. 10 E 487,
PARÁGRAFO ÚNICO, DO CPC/2015. ANÁLISE. INVIABILIDADE. PRECLUSÃO E
AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULAS Nº 282 E 356 DO STF. VIOLAÇÃO
AO ART. 1º DO DECRETO Nº 20.910/32. PRESCRIÇÃO. TERMO INICIAL. AÇÃO DE
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. AGENTE DE COMBATE A ENDEMIAS. ANGÚSTIA
E SOFRIMENTO DECORRENTES DA EXPOSIÇÃO DESPROTEGIDA E SEM A DEVIDA
ORIENTAÇÃO AO DICLORO-DIFENIL-TRICLOROETANO - DDD. OMISSÃO DO ENTE
PÚBLICO. FUNDADO TEMOR DE PREJUÍZOS À SAÚDE DO AGENTE. TERMO INICIAL.
CIÊNCIA DOS MALEFÍCIOS QUE PODEM SURGIR DA EXPOSIÇÃO DESPROTEGIDA À
SUBSTÂNCIA QUÍMICA. TEORIA DA ACTIO NATA. VIGÊNCIA DA LEI Nº 11.936/09.
PROIBIÇÃO DO DDT EM TODO TERRITÓRIO NACIONAL. IRRELEVÂNCIA PARA A
DEFINIÇÃO DO TERMO INICIAL. RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE CONHECIDO E,
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NESSA EXTENSÃO, PROVIDO PARA DETERMINAR NOVO JULGAMENTO DO RECURSO


DE APELAÇÃO.
Preliminar de nulidade do acórdão recorrido

1. Quanto à preliminar de nulidade do acórdão recorrido, por suposta ofensa dos


arts. 10 e 487, parágrafo único, do CPC/2015, verifica-se que referida nulidade não
foi oportunamente alegada nos embargos de declaração opostos pelo recorrente
junto ao Tribunal de origem, os quais trataram apenas da prescrição. Vale dizer, o
recorrente não levantou a nulidade na primeira oportunidade após a ocorrência do
vício, restando configurada a preclusão da matéria, nos termos do art. 278 do
CPC/2015. Ademais, por não ter sido alegada perante a Corte Regional, a matéria
também não foi apreciada pelo Tribunal de origem, atraindo a incidência, por
analogia, das Súmulas nº 282 e 356 do STF.
Delimitação da controvérsia

2. O recorrente ajuizou a presente ação de indenização por danos morais em razão


de angústia e sofrimento decorrente de sua exposição prolongada a diversos
produtos químicos, dentre eles o dicloro-difenil-tricloroetano (DDT), utilizados no
desempenho das funções de agente de combate a endemias na extinta
Superintendência de Campanhas de Saúde Pública (SUCAM) e, posteriormente, na
Fundação Nacional de Saúde (FUNASA), sem o adequado treinamento para
manuseio e aplicação das substâncias, bem como sem o fornecimento de
equipamentos de proteção individual (EPI). Sustenta que possui fundado temor de
que referida exposição possa causar danos a sua saúde ou mesmo de sua família,
ante os malefícios provocados pelas substâncias químicas às quais esteve exposto,
especialmente o dicloro-difenil-tricloroetano (DDT).
3. A jurisprudência desta Corte Superior firmou-se no sentido de que o termo
inicial da prescrição para as ações de indenização por dano moral é o momento da
efetiva ciência do dano em toda sua extensão, em obediência ao princípio da actio
nata, uma vez que não se pode esperar que alguém ajuíze ação para reparação de
dano antes dele ter ciência.
4. O dano moral alegado, consistente no sofrimento e na angústia experimentados
pelo recorrente, apenas nasceu no momento em que o autor teve ciência
inequívoca dos malefícios que podem ser provocados por sua exposição
desprotegida ao DDT.
5. A Lei nº 11.936/09 não traz qualquer justificativa para a proibição do uso do DDT
em todo o território nacional, e nem descreve eventuais malefícios causados pela
exposição à referida substância. Logo, não há como presumir, como
equivocadamente firmado pelo Tribunal de origem, que a partir da vigência da Lei
nº 11.936/09 os agentes de combate a endemias que foram expostos ao DDT
tiveram ciência inequívoca dos malefícios que poderiam ser causados pelo seu uso
ou manuseio.
Fixação da tese 6.

Nas ações de indenização por danos morais, em razão de sofrimento ou angústia


experimentados pelos agentes de combate a endemias decorrentes da exposição
desprotegida e sem orientação ao dicloro-difenil-tricloroetano - DDT, o termo inicial
do prazo prescricional é o momento em que o servidor tem ciência dos malefícios
que podem surgir da exposição, não devendo ser adotado como marco inicial a
vigência da Lei nº 11.936/09, cujo texto não apresentou justificativa para a
proibição da substância e nem descreveu eventuais malefícios causados pela
exposição ao produto químico.
DO JULGAMENTO DO CASO CONCRETO

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7. O Tribunal de origem reconheceu a prescrição da pretensão indenizatória,


aduzindo que o termo inicial do prazo prescricional para as ações em que se busca
indenização pela exposição ao DDT seria o dia 14/5/2009, data de início de vigência
da Lei nº 11.936/09, que proibiu o uso da substância em todo o território nacional.
Aduziu que, excepcionalmente, poderia ser fixada data posterior se demonstrado,
ab initio litis, que o autor obteve ciência inequívoca do fato causador do dano em
momento posterior à vigência de referida lei.
8. Nota-se que o entendimento do Tribunal Regional está em confronto com a tese
firmada no presente tema, devendo ser fixado como termo inicial o momento em
que o servidor, ora recorrente, teve ciência dos malefícios que podem surgir de sua
exposição desprotegida e sem orientação ao dicloro-difenil-tricloroetano - DDT,
sendo irrelevante a data de vigência da Lei nº 11.936/09.
9. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa extensão, provido para
determinar a reapreciação do recurso de apelação, afastando-se a data de vigência
da Lei nº 11.936/09 como marco inicial do prazo prescricional.
(REsp 1809204/DF, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, PRIMEIRA SEÇÃO,
julgado em 10/02/2021, DJe 24/02/2021)

Sobre a matéria, não é outro o entendimento desta egrégia Quinta


Turma deste Tribunal Regional Federal, conforme os seguintes precedentes:

PROCESSUAL CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. CONTAMINAÇÃO DECORRENTE DE


MANIPULAÇÃO DE INSETICIDA (DDT). DANOS MORAIS. PRESCRIÇÃO. PRODUÇÃO
DE PROVAS. NECESSIDADE. NULIDADE DA SENTENÇA. RETORNO DOS AUTOS À
ORIGEM PARA NOVO JULGAMENTO. LEGITIMIDADE PASSIVA DA UNIÃO FEDERAL E
DA FUNASA.

I - Afigura-se cabível, na espécie, a aplicação do princípio da actio nata, eis que o


prazo prescricional somente tem início com a ciência da contaminação e não da
data em que foi formalmente abolido o uso do pesticida DDT no Brasil, conforme
entendeu o juízo recorrido.

II - A União Federal e a FUNASA têm legitimidade para ocupar o pólo passivo da


presente lide, pois, consoante o próprio autor admite em sua petição inicial, muito
embora tenha sido admitido, em 06/06/1983, na Superintendência de Campanhas
de Saúde Pública - SUCAM, para exercer a função de Agente de Saúde Pública, no
ano de 1990, passou a integrar o quadro de pessoal da FUNASA, em razão do
quanto disposto na Lei 8.029/91 e Decreto nº 100/91, sendo que, desde
29/06/2010, o demandante foi redistribuído, exofficio, do Quadro de Pessoal
Permanente da Fundação Nacional de Saúde para o Ministério da Saúde, por força
da Portaria nº 1.659/2010.

III - Na espécie dos autos busca-se o pagamento de indenização por dano moral,
decorrente da alegada contaminação e intoxicação pela substância
diclorodifeniltricloretano - DDT e outros produtos químicos correlatos que
passaram a substituir o DDT, em virtude de exposição dos autores durante o
exercício de suas funções laborais no Programa do Combate de Endemias, sem o
uso de equipamento de proteção individual.

IV - Dessa forma, impõe-se a produção da prova pericial da mencionada


contaminação, na linha determinante do direito constitucional da ampla defesa,
atraindo, por consequência, a anulação da sentença recorrida e o retorno dos

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autos ao juízo de origem para a devida instrução probatória. V - Apelação


parcialmente provida. Sentença anulada, com determinação do retorno dos autos
ao juízo de origem. Determinada a reinclusão da União Federal na lide.

A Turma, à unanimidade, deu parcial provimento à apelação.

(ACORDAO 00263147520154013400, DESEMBARGADOR FEDERAL SOUZA


PRUDENTE, TRF1 - QUINTA TURMA, e-DJF1 DATA:15/03/2017 PAGINA:.)  - grifei

Registre-se, por oportuno, que, em casos que tais, não há que se


falar que tal prazo prescricional iniciaria após o acesso do servidor ao resultado
do exame toxicológico ou, ainda, que tal marco iniciaria a partir da data do
comprovado fornecimento de Equipamento de Proteção Individual, na medida em
que o cômputo do prazo prescricional quinquenal inicia-se, como visto, quando o
titular do direito lesionado tomou ciência da contaminação, o que, segundo
afirmado, ocorreu quanto da realização do exame laboratorial que constatou a
presença de DDT, ou outro produto tóxico pertencente ao Grupo Organo-Clorado,
derivado do DDT, no sangue do autor, presumindo-se, a partir daquele momento,
ou seja, a partir da data da realização do exame laboratorial a efetiva ciência da
contaminação pelo dicloro-difenil-tricloroetano (DDT) ou por outro produto químico
correlato ao DDT, repita-se.

A propósito, confiram-se, ainda, os recentes julgados deste Tribunal


sobre a matéria:

PROCESSUAL CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. CONTAMINAÇÃO DECORRENTE DE


MANIPULAÇÃO DE INSETICIDA (DDT). DANOS MORAIS. CERCEAMENTO DE DEFESA.
PRESCRIÇÃO. NULIDADE DA SENTENÇA. RETORNO DOS AUTOS À ORIGEM PARA
NOVO JULGAMENTO. LEGITIMIDADE PASSIVA DA FUNASA E DA UNIÃO FEDERAL.

I - A UNIÃO FEDERAL e a FUNASA têm legitimidade para ocupar o polo passivo da


presente lide, pois, consoante o próprio autor admite em sua petição inicial, muito
embora tenha sido admitido na função de agente de saúde pública na
Superintendência de Campanhas de Saúde Pública - SUCAM, passou,
posteriormente, a integrar o quadro de pessoal da FUNASA, em razão do quanto
disposto na Lei 8.029/91 e Decreto nº 100/91, sendo que, desde o ano de 2010, o
demandante foi redistribuído, exofficio, do Quadro de Pessoal Permanente da
Fundação Nacional de Saúde para o Ministério da Saúde, por força da Portaria nº
1.659/2010.

II - Afigura-se cabível, na espécie, a aplicação do princípio da actio nata, eis que o


prazo prescricional somente tem início com a ciência da contaminação e não da
data em que foi formalmente abolido o uso do pesticida DDT no Brasil, conforme
entendeu o juízo recorrido.

III - Na espécie dos autos, busca-se o pagamento de indenização por dano moral,
decorrente da alegada contaminação pela substância diclorodifeniltricloretano -
DDT e outros produtos químicos correlatos que passaram a substituir o DDT, em
virtude de exposição do autor durante o exercício de suas funções laborais no
Programa do Combate de Endemias, sem o uso de equipamento de proteção
individual.

https://pje2g.trf1.jus.br/consultapublica/ConsultaPublica/DetalheProcessoConsultaPublica/documentoSemLoginHTML.seam?ca=9d670fd9a93c… 9/20
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IV - Nesse contexto, impõe-se a produção da prova da mencionada contaminação,


na linha determinante do direito constitucional da ampla defesa, atraindo, por
consequência, a anulação da sentença recorrida e o retorno dos autos ao juízo de
origem para a devida instrução probatória.

V - Apelação parcialmente provida. Sentença anulada, com determinação do


retorno dos autos ao juízo de origem. Determinada a reinclusão da União Federal
na lide.A Turma, à unanimidade, deu parcial provimento à apelação.
(ACORDAO 00090565220154013400, DESEMBARGADOR FEDERAL SOUZA
PRUDENTE, TRF1 - QUINTA TURMA, e-DJF1 DATA:21/05/2018 PAGINA:.) - grifei

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RESPONSABILIDADAE CIVIL. DANOS MORAL E


MATERIAL. FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE (FUNASA). EXPOSIÇÃO DE AGENTES
DE SAÚDE AO DICLORO-DIFENIL-TRICLOROETANO (DDT) SEM O FORNECIMENTO DE
EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO. AÇÃO INDENIZATÓRIA. PRESCRIÇÃO ACOLHIDA.
SENTENÇA CONFIRMADA. 

1. Este Tribunal já decidiu reiteradas vezes que o lapso prescricional tem início a
contar do momento que o autor passa a conhecer seu estado de saúde, resultante
da contaminação pelo pesticida, aplicando-se, na espécie, o art. 1º do Decreto n.
20.910/1932, conforme entendimento sedimentado neste Tribunal (AC n. 0003263-
79.2008.4.01.3400/DF, Relator Desembargador Federal Kassio Nunes Marques, e-
DJF1 de 30.03.2015, p. 2.040). 

2. No caso, o exame laboratorial de amostra de sangue foi realizado em 27.04.1998


e a ação proposta somente em 1º.02.2011, quando já decorrido integralmente o
prazo referente à prescrição. 

3. Sentença mantida. 

4. Apelação desprovida.

(AC 0003911-09.2011.4.01.3900 / PA, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL DANIEL PAES


RIBEIRO, SEXTA TURMA, e-DJF1 de 11/05/2016)-grifei

RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. CONTAMINAÇÃO DE AGENTE DE SAÚDE


POR DDT. OMISSÃO NEGLIGENTE DA FUNASA NO FORNECIMENTO DE
EQUIPAMENTOS DE SEGURANÇA. DANO MORAL. INDENIZAÇÃO DEVIDA. 1. O prazo
prescricional somente tem início com a ciência da contaminação e não da data em
que o servidor deixou de ser exposto ao produto químico, em homenagem ao
princípio da actio nata. Precedentes desta Corte. Os exames laboratoriais que
constataram a presença de DDT no sangue do autor foram concluídos em 2009,
presumindo-se, a partir daquele momento, a ciência acerca das situações. Ajuizada
a ação em 2013, não se fala em prescrição.  2. Os exames laboratoriais
apresentados pelo demandante, com indicações de contaminação por DDT, de
30,56 µg/dl, por si só, são suficientes ao acolhimento dos pedidos de indenização
por danos morais. 3. A jurisprudência da Corte tem acolhido indenizações por
danos morais em casos de agentes de saúde que tiveram contaminação sanguínea
com DDT por motivo da exposição desprotegida com o pesticida em razão de suas
atividades laborais, independentemente do desenvolvimento de patologias
associadas ao produto. 4. Como Estado Democrático de Direito, o Brasil se vincula,
jurídica e moralmente, por expressa disposição constitucional, art. 1º, inciso III,
CF/1988, ao princípio da dignidade da pessoa humana. Daí resulta, conforme
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doutrina e jurisprudência absolutamente consagradas no Direito Comparado, o


seu dever de tratar os seres humanos, especialmente seus cidadãos, como fim e
não como instrumentos da ação estatal. 5. A angústia vivida por tais agentes diante
da ciência de uma situação potencialmente causadora de graves
comprometimentos da saúde justifica a condenação do Estado ao pagamento de
indenização por danos morais. 6. Nos termos da Súmula 54 do STJ, os juros de
mora devem incidir a partir do evento danoso nos casos de responsabilidade
extracontratual. 7. Nos casos em que há pretensão de reparação de danos
biológicos, deve o interessado apresentar prova pericial, ou mesmo indícios,
quanto à existência de patologias que possam, pelo menos em tese, estar
relacionadas à exposição não protegida a agentes químicos. Nem mesmo um
receituário médico, um parecer ou declaração médica de consulta, um atestado
sequer, o autor juntou aos autos, a fim de comprovar minimamente as alegadas
consequências danosas de seu contato com pesticidas. 8. Remessa oficial e
apelação da FUNASA a que se dá parcial provimento para fixar a indenização por
danos morais em R$ 3.000,00 (três mil reais) por ano de exposição desprotegida a
pesticidas organoclorados. 9. Recurso adesivo da parte autora a que se nega
provimento.

(AC 0006692-85.2011.4.01.3000 / AC, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL NÉVITON


GUEDES, QUINTA TURMA, e-DJF1 p.1098 de 30/07/2015)-grifei

Na hipótese dos autos, a parte ré não se desincumbiu do ônus de


comprovar quando o autor teve ciência do fato invocado na inicial, bem como da
extensão de suas consequências, sendo, portanto, incabível o reconhecimento da
prescrição, neste momento processual, na espécie.

Ademais, não consta dos autos algum exame laboratorial realizado


antes da propositura da inicial, apto a comprovar a ciência da contaminação
decorrente do manuseio do Dicloro-Difenil-Tricloroetano (DDT) ou outro inseticida,
mas tão somente após o ajuizamento da presente demanda, mais precisamente
na segunda fase de instrução probatória, quando foi anexado pelo autor, o
Resultado de Análise Toxicológica, datado de 04/11/2016, bem assim o
esclarecimento do Centro de Assistência Toxicológica (Ceatox), da Unesp, a fim
de comprovar a presença de inseticidas organoclorados no sangue do autor,
sendo, portanto, incabível o reconhecimento da prescrição, na espécie.

Não há que se falar, ainda, que tal prazo prescricional iniciaria desde
o ano da Portaria nº. 11/1998, ou seja, ao tempo em que suspendeu o uso de
DDT, ou da edição da Lei nº 11.936, de 14 de maio de 2009, proibindo a
importação, fabricação, exportação, manutenção em estoque, comercialização e
uso do diclorodifeniltricoletrano em todo o território nacional, na medida em que o
cômputo do prazo prescricional quinquenal deve iniciar-se, como visto, quando o
titular do direito lesionado tomar ciência da contaminação, e não da data em que
foi formalmente abolido o uso do pesticida DDT no Brasil, o que, conforme
afirmado, não restou comprovada nestes autos.

Isso porque, a simples vedação legal em relação à utilização do


aludido produto, por si só, não afasta a possibilidade de que este tenha sido
utilizado após a edição da referida lei, a revelar, também sob esse viés, a
manifesta imprestabilidade desse parâmetro para fins de definição do início do

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prazo prescricional na espécie. Não se pode olvidar por último que, no caso em
exame, se trata de pleito indenizatório a título de danos morais, supostamente
decorrentes da manipulação do DDT sem treinamento, sem especiais cuidados,
do que resulta ser presumível a permanente angústia do pânico criado em torno
da possibilidade de contaminação e dos efeitos do aludido produto no organismo
e que somente a prova pericial imprescindível poderá apaziguar os ânimos
desses demandantes hipossuficientes financeiros e, também, poderá sim permitir
que o Poder Judiciário lhes faça justiça.

Diga-se, ainda, que não há que se falar em aplicação do prazo bienal


ou trienal, eis que são relativos às causas trabalhistas.

Conclui-se, portanto, pelo afastamento da prejudicial de prescrição.

***

Posta a questão nestes termos, em que pesem os fundamentos da


sentença recorrida, a verificação do dano moral, decorrente da exposição
desprotegida a pesticidas em campanhas de saúde pública, depende de instrução
probatória mínima, na qual se assegure ao demandante a possibilidade de
comprovar a presença de DDT, ou outro produto tóxico, em seu organismo, ainda
que não desenvolvida qualquer doença relacionada.

Com efeito, não há dúvida de que se já se poderia cogitar de dano


moral pelo simples conhecimento de que esteve exposto a produto nocivo.
Entretanto, o sofrimento psíquico surge induvidosamente a partir do momento em
que se tem laudo laboratorial apontando a efetiva contaminação do corpo pela
substância nociva, em qualquer grau de contaminação.

Acerca do tema, o colendo Superior Tribunal de Justiça pronunciou-se


sobre a matéria, no sentido de que “se já se poderia cogitar de dano moral pelo
simples conhecimento de que esteve exposto a produto nocivo, o sofrimento
psíquico surge induvidosamente a partir do momento em que se tem laudo
laboratorial apontando a efetiva contaminação do próprio corpo pela
substância.”(REsp 1684797/RO, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA
TURMA, julgado em 03/10/2017, DJe 11/10/2017)-grifei

Na hipótese dos autos, o autor apresentou o exame laboratorial


realizado pelo Centro de Assistência Toxicológica (Ceatox), da Unesp, indicando a
presença de inseticidas do Grupo Organoclorado Heptacloro (Metabólitos do
DDT) no organismo do autor, a razão de 1,4 ppb (partes por bilhão), deixando
clara, conforme nova regulamentação de que trata a matéria (Portaria nº 24, de
24/07/1994, a qual conferiu novos parâmetros para controle biológico da
exposição ocupacional a alguns agentes químicos, suprimindo totalmente os
valores de referência anteriormente fixados para o DDT, por exemplo, antes
constante no seu Anexo II da NR-7), a contaminação do postulante pelo uso e
manuseio de pesticidas e também porque demonstrados os demais pressupostos
da responsabilidade civil do Estado.

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Assim, muito embora o autor, eventualmente, não sofra de patologias


relacionadas à atividade laboral mencionada, entendo que faz jus a mencionada
indenização por dano moral, isso porque, se não sofre de males físicos e/ou
psíquicos decorrentes da manipulação, desprotegida e sem treinamento
adequado pelo manuseio de produtos tóxicos, como o DDT, em suas atividades
laborais, com certeza sofreu e continua sofrendo, no mínimo, a angústia causada
pela contaminação e pelo pânico produzido em torno da questão, com reflexo em
suas relações sociais, a começar pelas relações familiares, em casos que tais.

Quanto ao valor da condenação a ser imposta em desfavor da


FUNASA e da União Federal a título de danos morais, observa-se que inexiste
parâmetro legal definido para o seu arbitramento, devendo ser quantificado
segundo os critérios de proporcionalidade, moderação e razoabilidade,
submetidos ao prudente arbítrio judicial, com observância das peculiaridades
inerentes aos fatos e circunstâncias que envolvem o caso concreto. Portanto, o
quantum da reparação não pode ser ínfimo, para não representar uma ausência
de sanção efetiva ao ofensor, nem excessivo, para não constituir um
enriquecimento sem causa em favor do ofendido. Em sendo assim, tenho por
razoável e adequado, na espécie dos autos, o valor de R$ 3.000,00 (três mil
reais), por ano de exposição desprotegida aos pesticidas, a exemplo do DDT, cujo
montante deverá ser apurado na fase de liquidação de sentença, ante a ausência
de dados suficientes para se atestar todo o período laborado pelo autor
manuseando as referidas substancias tóxicas.

***

Quanto à forma de cálculo dos juros de mora e da correção


monetária, em consulta à jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, foi possível
constatar que aquela Corte, em julgamento, perante o Tribunal Pleno do Recurso
Extraordinário nº 870.947/SE, realizado em 20/09/2017, assim decidiu, verbis:

DIREITO CONSTITUCIONAL. REGIME DE ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA E JUROS


MORATÓRIOS INCIDENTE SOBRE CONDENAÇÕES JUDICIAIS DA FAZENDA
PÚBLICA. ART. 1º-F DA LEI Nº 9.494/97 COM A REDAÇÃO DADA PELA LEI Nº
11.960/09. IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DA UTILIZAÇÃO DO ÍNDICE DE
REMUNERAÇÃO DA CADERNETA DE POUPANÇA COMO CRITÉRIO DE
CORREÇÃO MONETÁRIA. VIOLAÇÃO AO DIREITO FUNDAMENTAL DE
PROPRIEDADE (CRFB, ART. 5º, XXII). INADEQUAÇÃO MANIFESTA ENTRE MEIOS
E FINS. INCONSTITUCIONALIDADE DA UTILIZAÇÃO DO RENDIMENTO DA
CADERNETA DE POUPANÇA COMO ÍNDICE DEFINIDOR DOS JUROS
MORATÓRIOS DE CONDENAÇÕES IMPOSTAS À FAZENDA PÚBLICA, QUANDO
ORIUNDAS DE RELAÇÕES JURÍDICO-TRIBUTÁRIAS. DISCRIMINAÇÃO
ARBITRÁRIA E VIOLAÇÃO À ISONOMIA ENTRE DEVEDOR PÚBLICO E DEVEDOR
PRIVADO (CRFB, ART. 5º, CAPUT). RECURSO EXTRAORDINÁRIO
PARCIALMENTE PROVIDO. 1. O princípio constitucional da isonomia (CRFB, art. 5º,
caput), no seu núcleo essencial, revela que o art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a
redação dada pela Lei nº 11.960/09, na parte em que disciplina os juros moratórios
aplicáveis a condenações da Fazenda Pública, é inconstitucional ao incidir sobre
débitos oriundos de relação jurídico-tributária, os quais devem observar os mesmos
juros de mora pelos quais a Fazenda Pública remunera seu crédito; nas hipóteses de

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relação jurídica diversa da tributária, a fixação dos juros moratórios segundo o índice
de remuneração da caderneta de poupança é constitucional, permanecendo hígido,
nesta extensão, o disposto legal supramencionado. 2. O direito fundamental de
propriedade (CRFB, art. 5º, XXII) repugna o disposto no art. 1º-F da Lei nº 9.494/97,
com a redação dada pela Lei nº 11.960/09, porquanto a atualização monetária das
condenações impostas à Fazenda Pública segundo a remuneração oficial da
caderneta de poupança não se qualifica como medida adequada a capturar a variação
de preços da economia, sendo inidônea a promover os fins a que se destina. 3. A
correção monetária tem como escopo preservar o poder aquisitivo da moeda diante da
sua desvalorização nominal provocada pela inflação. É que a moeda fiduciária,
enquanto instrumento de troca, só tem valor na medida em que capaz de ser
transformada em bens e serviços. A inflação, por representar o aumento persistente e
generalizado do nível de preços, distorce, no tempo, a correspondência entre valores
real e nominal (cf. MANKIW, N.G. Macroeconomia. Rio de Janeiro, LTC 2010, p. 94;
DORNBUSH, R.; FISCHER, S. e STARTZ, R. Macroeconomia. São Paulo: McGraw-
Hill do Brasil, 2009, p. 10; BLANCHARD, O. Macroeconomia. São Paulo: Prentice Hall,
2006, p. 29). 4. A correção monetária e a inflação, posto fenômenos econômicos
conexos, exigem, por imperativo de adequação lógica, que os instrumentos destinados
a realizar a primeira sejam capazes de capturar a segunda, razão pela qual os índices
de correção monetária devem consubstanciar autênticos índices de preços. 5. Recurso
extraordinário parcialmente provido.

Acórdão

O Tribunal, por maioria e nos termos do voto do Relator, Ministro Luiz Fux, apreciando
o tema 810 da repercussão geral, deu parcial provimento ao recurso para,
confirmando, em parte, o acórdão lavrado pela Quarta Turma do Tribunal Regional
Federal da 5ª Região, (i) assentar a natureza assistencial da relação jurídica em
exame (caráter não-tributário) e (ii) manter a concessão de benefício de prestação
continuada (Lei nº 8.742/93, art. 20) ao ora recorrido (iii) atualizado monetariamente
segundo o IPCA-E desde a data fixada na sentença e (iv) fixados os juros moratórios
segundo a remuneração da caderneta de poupança, na forma do art. 1º-F da Lei nº
9.494/97 com a redação dada pela Lei nº 11.960/09. Vencidos, integralmente o
Ministro Marco Aurélio, e parcialmente os Ministros Teori Zavascki, Dias Toffoli,
Cármen Lúcia e Gilmar Mendes. Ao final, por maioria, vencido o Ministro Marco
Aurélio, fixou as seguintes teses, nos termos do voto do Relator: 1) O art. 1º-F da Lei
nº 9.494/97, com a redação dada pela Lei nº 11.960/09, na parte em que disciplina os
juros moratórios aplicáveis a condenações da Fazenda Pública, é inconstitucional ao
incidir sobre débitos oriundos de relação jurídico-tributária, aos quais devem ser
aplicados os mesmos juros de mora pelos quais a Fazenda Pública remunera seu
crédito tributário, em respeito ao princípio constitucional da isonomia (CRFB, art. 5º,
caput); quanto às condenações oriundas de relação jurídica não-tributária, a fixação
dos juros moratórios segundo o índice de remuneração da caderneta de poupança é
constitucional, permanecendo hígido, nesta extensão, o disposto no art. 1º-F da Lei nº
9.494/97 com a redação dada pela Lei nº 11.960/09; e 2) O art. 1º-F da Lei nº
9.494/97, com a redação dada pela Lei nº 11.960/09, na parte em que disciplina a
atualização monetária das condenações impostas à Fazenda Pública segundo a
remuneração oficial da caderneta de poupança, revela-se inconstitucional ao impor

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restrição desproporcional ao direito de propriedade (CRFB, art. 5º, XXII), uma vez que
não se qualifica como medida adequada a capturar a variação de preços da economia,
sendo inidônea a promover os fins a que se destina. (Grifo nosso)

Com efeito, o colendo STJ, em sede de Recurso Especial nº


1.495.144/RS, na sessão realizada no dia 22/02/2018, apreciou a referida matéria,
sob o regime de recurso repetitivo, adotando entendimento diverso daquele
defendido por esta egrégia Turma, in verbis:

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. SUBMISSÃO À REGRA PREVISTA NO


ENUNCIADO ADMINISTRATIVO 02/STJ. DISCUSSÃO SOBRE A APLICAÇÃO DO
ART. 1º-F DA LEI 9.494/97 (COM REDAÇÃO DADA PELA LEI 11.960/2009) ÀS
CONDENAÇÕES IMPOSTAS À FAZENDA PÚBLICA. CASO CONCRETO QUE É
RELATIVO A CONDENAÇÃO JUDICIAL DE NATUREZA ADMINISTRATIVA EM
GERAL (RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO)." TESES JURÍDICAS FIXADAS.

1. Correção monetária: o art. 1º-F da Lei 9.494/97 (com redação dada pela Lei
11.960/2009), para fins de correção monetária, não é aplicável nas condenações
judiciais impostas à Fazenda Pública, independentemente de sua natureza.

1.1 Impossibilidade de fixação apriorística da taxa de correção monetária.

No presente julgamento, o estabelecimento de índices que devem ser aplicados a


título de correção monetária não implica pré-fixação (ou fixação apriorística) de taxa de
atualização monetária. Do contrário, a decisão baseia-se em índices que, atualmente,
refletem a correção monetária ocorrida no período correspondente. Nesse contexto,
em relação às situações futuras, a aplicação dos índices em comento, sobretudo o
INPC e o IPCA-E, é legítima enquanto tais índices sejam capazes de captar o
fenômeno inflacionário.

1.2 Não cabimento de modulação dos efeitos da decisão.

A modulação dos efeitos da decisão que declarou inconstitucional a atualização


monetária dos débitos da Fazenda Pública com base no índice oficial de remuneração
da caderneta de poupança, no âmbito do Supremo Tribunal Federal, objetivou
reconhecer a validade dos precatórios expedidos ou pagos até 25 de março de 2015,
impedindo, desse modo, a rediscussão do débito baseada na aplicação de índices
diversos. Assim, mostra-se descabida a modulação em relação aos casos em que não
ocorreu expedição ou pagamento de precatório.

2. Juros de mora: o art. 1º-F da Lei 9.494/97 (com redação dada pela Lei
11.960/2009), na parte em que estabelece a incidência de juros de mora nos débitos
da Fazenda Pública com base no índice oficial de remuneração da caderneta de
poupança, aplica-se às condenações impostas à Fazenda Pública, excepcionadas as
condenações oriundas de relação jurídico-tributária.

3. Índices aplicáveis a depender da natureza da condenação.

3.1 Condenações judiciais de natureza administrativa em geral.


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24/02/2023, 09:24 · Justiça Federal da 1ª Região

As condenações judiciais de natureza administrativa em geral, sujeitam-se aos


seguintes encargos: (a) até dezembro/2002: juros de mora de 0,5% ao mês; correção
monetária de acordo com os índices previstos no Manual de Cálculos da Justiça
Federal, com destaque para a incidência do IPCA-E a partir de janeiro/2001; (b) no
período posterior à vigência do CC/2002 e anterior à vigência da Lei 11.960/2009:
juros de mora correspondentes à taxa Selic, vedada a cumulação com qualquer outro
índice; (c) período posterior à vigência da Lei 11.960/2009: juros de mora segundo o
índice de remuneração da caderneta de poupança; correção monetária com base no
IPCA-E.

3.1.1 Condenações judiciais referentes a servidores e empregados públicos.

As condenações judiciais referentes a servidores e empregados públicos, sujeitam-se


aos seguintes encargos: (a) até julho/2001: juros de mora: 1% ao mês (capitalização
simples); correção monetária: índices previstos no Manual de Cálculos da Justiça
Federal, com destaque para a incidência do IPCA-E a partir de janeiro/2001; (b)
agosto/2001 a junho/2009: juros de mora: 0,5% ao mês; correção monetária: IPCA-E;
(c) a partir de julho/2009: juros de mora: remuneração oficial da caderneta de
poupança; correção monetária: IPCA-E.

3.1.2 Condenações judiciais referentes a desapropriações diretas e indiretas.

No âmbito das condenações judiciais referentes a desapropriações diretas e indiretas


existem regras específicas, no que concerne aos juros moratórios e compensatórios,
razão pela qual não se justifica a incidência do art. 1º-F da Lei 9.494/97 (com redação
dada pela Lei 11.960/2009), nem para compensação da mora nem para remuneração
do capital.

3.2 Condenações judiciais de natureza previdenciária.

As condenações impostas à Fazenda Pública de natureza previdenciária sujeitam-se à


incidência do INPC, para fins de correção monetária, no que se refere ao período
posterior à vigência da Lei 11.430/2006, que incluiu o art. 41-A na Lei 8.213/91.
Quanto aos juros de mora, incidem segundo a remuneração oficial da caderneta de
poupança (art.

1º-F da Lei 9.494/97, com redação dada pela Lei n. 11.960/2009).

3.3 Condenações judiciais de natureza tributária.

A correção monetária e a taxa de juros de mora incidentes na repetição de indébitos


tributários devem corresponder às utilizadas na cobrança de tributo pago em atraso.
Não havendo disposição legal específica, os juros de mora são calculados à taxa de
1% ao mês (art. 161, § 1º, do CTN). Observada a regra isonômica e havendo previsão
na legislação da entidade tributante, é legítima a utilização da taxa Selic, sendo
vedada sua cumulação com quaisquer outros índices.

4. Preservação da coisa julgada.

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Não obstante os índices estabelecidos para atualização monetária e compensação da


mora, de acordo com a natureza da condenação imposta à Fazenda Pública, cumpre
ressalvar eventual coisa julgada que tenha determinado a aplicação de índices
diversos, cuja constitucionalidade/legalidade há de ser aferida no caso concreto.

" SOLUÇÃO DO CASO CONCRETO.

5. Não havendo no acórdão recorrido omissão, obscuridade ou contradição, não fica


caracterizada ofensa ao art. 535 do CPC/73.

6. Quanto aos demais pontos, cumpre registrar que o presente caso refere-se a
condenação judicial de natureza administrativa em geral (responsabilidade civil do
Estado). A União pugna pela aplicação do disposto no art. 1º-F da Lei 9.494/97, a título
de correção monetária, no período posterior à vigência da Lei 11.960/2009.

Alternativamente, pede a incidência do IPCA-E. Verifica-se que a decisão exequenda


determinou a aplicação do INPC desde a sua prolação "até o efetivo pagamento" (fl.
34).

7. No que concerne à incidência do art. 1º-F da Lei 9.494/97 (com redação dada pela
Lei 11.960/2009), o artigo referido não é aplicável para fins de correção monetária, nas
condenações judiciais impostas à Fazenda Pública, independentemente de sua
natureza.

Quanto à aplicação do IPCA-E, é certo que a decisão exequenda, ao determinar a


aplicação do INPC, NÃO está em conformidade com a orientação acima delineada.
Não obstante, em razão da necessidade de se preservar a coisa julgada, não é
possível a reforma do acórdão recorrido.

8. Recurso especial não provido. Acórdão sujeito ao regime previsto no art. 1.036 e
seguintes do CPC/2015, c/c o art. 256-N e seguintes do RISTJ.

(REsp 1495144/RS, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, PRIMEIRA


SEÇÃO, julgado em 22/02/2018, DJe 20/03/2018)

Há de se destacar que a escolha do IPCA-E como parâmetro para o


cálculo do valor condenatório, está fundamentada no julgamento do referido REsp
nº 1.495.144/RS, em regime de recurso repetitivo, sendo que recentemente, após
a concessão de efeito suspensivo aos Embargos Declaratórios no RE nº 870.947,
pelo Supremo Tribunal Federal, o Superior Tribunal de Justiça reafirmou a
vigência daquele julgado, até que haja expressa determinação de sobrestamento
dos demais processos que tratam da matéria, nas letras seguintes:

PROCESSUAL CIVIL. ART. 1º-F DA LEI N. 9.494/1997 COM A REDAÇÃO DADA


PELA LEI N. 11.960/2009. CORREÇÃO MONETÁRIA DAS CONDENAÇÕES
IMPOSTAS À FAZENDA PÚBLICA. MATÉRIA DECIDIDA SOB O RITO DO ART. 543-C
DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL (TEMA 905/STJ) E REGIME DA REPERCUSSÃO
GERAL NO RE N. 870.947/SE (TEMA 810/STF). PEDIDO DE SOBRESTAMENTO EM

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FACE DA INTERPOSIÇÃO DE EMBARGOS DE DECLARAÇÃO OBJETIVANDO A


MODULAÇÃO DE EFEITOS. AUSÊNCIA DOS VÍCIOS DO ART. 1.022 DO CPC/15.
EMBARGOS REJEITADOS.

1. Nos termos do art. 1.022 do CPC/2015 (vigente na data da publicação do


provimento jurisdicional impugnado), são cabíveis embargos de declaração com
fundamento na existência de obscuridade, contradição, omissão e/ou erro material no
julgado embargado. Não constituem, portanto, instrumento adequado para
demonstração de inconformismos da parte com o resultado do julgado e/ou para
formulação de pretensões de modificações do entendimento aplicado, salvo quando,
excepcionalmente, cabíveis os efeitos infringentes, o que, contudo, não configura a
hipótese dos autos.

2. O acórdão embargado foi claro e expresso ao consignar que a Primeira Seção do


Superior Tribunal de Justiça, sob o rito de recursos especiais representativos da
controvérsia, no REsp n. 1.495.144/RS, de relatoria do Ministro Mauro Campbell
Marques, observando a repercussão geral firmada pelo Supremo Tribunal Federal no
RE n. 870.947/SE, assentou as seguintes diretrizes quanto à aplicabilidade do art. 1º-F
da Lei n. 9.494/1997, com redação dada pela Lei n. 11.960/2009, em relação às
condenações impostas à Fazenda Pública: "3.1.1 Condenações judiciais referentes a
servidores e empregados públicos. As condenações judiciais referentes a servidores e
empregados públicos sujeitam-se aos seguintes encargos: (a) até julho/2001: juros de
mora: 1% ao mês (capitalização simples); correção monetária: índices previstos no
Manual de Cálculos da Justiça Federal, com destaque para a incidência do IPCA-E a
partir de janeiro/2001; (b) agosto/2001 a junho/2009: juros de mora: 0,5% ao mês;
correção monetária: IPCA-E; (c) a partir de julho/2009: juros de mora: remuneração
oficial da caderneta de poupança; correção monetária: IPCA-E".

3. A pendência de julgamento de tema com repercussão geral reconhecida pelo


Supremo Tribunal Federal não enseja o sobrestamento de recurso que tramita no STJ,
salvo expressa determinação da Suprema Corte.

4. Embargos de declaração rejeitados.

(EDcl nos EDcl nos EDcl no AgRg no REsp 1173988/RS, Rel. Ministro ANTONIO
SALDANHA PALHEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 04/12/2018, DJe 18/12/2018)
(grifo nosso)

Sobre a matéria, este egrégio Tribunal possui entendimento


jurisprudencial na dicção de que, “quanto à incidência dos juros de mora, a qual
deverá ser calculada da seguinte maneira: (i) 0,5% (meio por cento) ao mês, a
partir da citação até a vigência do Código Civil de 2002, de acordo com o art.
1.062, CC/16; (ii) taxa SELIC, desde a entrada em vigor do CC/02 até a
promulgação da Lei 11.960/2009, sendo vedada a sua cumulação com correção
monetária; e (iii) os índices aplicáveis à correção dos depósitos em caderneta de
poupança, observado o atual regramento estipulado pelo Superior Tribunal de
Justiça relativamente à alteração introduzida no artigo 1º-F da Lei nº 9.494/97,

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pela Lei nº 11.960/2009.” (AGRAC 0011638-59.2000.4.01.3300 / BA, Rel.


DESEMBARGADORA FEDERAL SELENE MARIA DE ALMEIDA, QUINTA
TURMA, e-DJF1 p.188 de 27/06/2013) .

Assim, na espécie dos autos, a partir da vigência da Lei nº 11.960, de


30/06/2009, o crédito deverá ser monetariamente corrigido pelo Índice de Preços
ao Consumidor Amplo Especial (IPCA-E). 

Nesse mesmo sentido, decidiu recentemente esta egrégia Turma


Cível:

PROCESSUAL CIVIL EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO. JUROS


MORATÓRIOS. JUROS COMPENSATÓRIOS. EXPURGOS INFLACIONÁRIOS.
JUROS E CORREÇÃO MONETÁRIA NOS TERMOS DO STF. EMBARGOS
CONHECIDOS, EM PARTE E, NA PARTE CONHECIDA, ACOLHIDOS. 1. Nos termos
do art. 1.022 do CPC, os embargos de declaração são cabíveis para se afastar
omissão, obscuridade ou contradição e ainda para a correção de erro material. 2. O
Supremo Tribunal Federal, ao disciplinar a matéria, adotou novo entendimento,
quando do julgamento do RE 870947, pelo afastamento da TR como índice de
correção monetária dos débitos judiciais da Fazenda Pública, de modo que a correção
monetária deverá adotar o Índice de Preços ao Consumidor Amplo Especial (IPCA-E),
mesmo para o período anterior à expedição do precatório, considerando que tal índice
foi eleito o mais adequado para recomposição do poder de compra. 3. O julgador não
está obrigado a analisar pormenorizadamente todos os argumentos apresentados
pelas partes, tendo por obrigação apresentar os fundamentos que motivaram a sua
conclusão. 4. Embargos de declaração conhecidos parcialmente e, na parte
conhecida, acolhidos.

(EDAC 0026363-68.2005.4.01.3400 / DF, Rel. DESEMBARGADORA FEDERAL


DANIELE MARANHÃO COSTA, QUINTA TURMA, e-DJF1 de 12/03/2018) (grifo
nosso)

Por outro lado, no período entre a vigência do Código Civil de 2002 e


a vigência da Lei nº 11.960/2009, deve incidir a redação original do art. 1º-F da Lei
nº 9.494/97, aplicando-se a taxa SELIC e para o período posterior à vigência da
Lei 11.960/2009: juros de mora segundo o índice de remuneração da caderneta
de poupança; correção monetária com base no IPCA-E, mesmo para o período
anterior à expedição do precatório.

***

Com estas considerações, dou provimento à apelação, para,


reformando a sentença singular, julgar procedente o pedido autoral, condenando a
FUNASA ao pagamento de indenização por danos morais, no importe de R$
3.000,00 (três mil reais), por ano de exposição desprotegida aos produtos tóxicos,
a exemplo do DDT, acrescidos de correção monetariamente pelo IPCA-E, a partir
do arbitramento, ou seja, da data da prolação deste julgado (Súmula nº 362/STJ).
Quanto aos juros de mora, o mesmo deve incidir a partir da data do evento
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danoso (Súmula nº 54 do STJ), a saber, a data de realização do exame


toxicológico, atendendo-se, ainda, quanto à forma de fixação dos juros de mora e
da correção monetária, as decisões do Supremo Tribunal Federal (RE 870.947 –
TEMA 810) e do Superior Tribunal de Justiça em regime de recurso repetitivo
(REsp 1.495.144/RS). Invertido o ônus da sucumbência. Honorários advocatícios
pela FUNASA, conforme percentual definido na sentença ora recorrida.

Honorários advocatícios arbitrados em desfavor da FUNASA ficam


acrescidos em 2% (dois por cento) sobre o valor da condenação corrigida,
considerando o disposto no § 11, do art. 85, do CPC vigente.

Este é meu voto.

Assinado eletronicamente por: ANTONIO DE SOUZA PRUDENTE


09/09/2021 18:26:22
http://pje2g.trf1.jus.br:80/consultapublica/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam
ID do documento: 153281052

210909182622099000001
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