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Curso Introdutório de

Gestalt-terapia

2008
Índice

1–Histórico da Gestalt-terapia.........................................................................................03

2–O que é Gestalt-terapia................................................................................................09

3 – A Concepção de Homem na Gestalt-terapia..............................................................12

4–Gestatalt-terapia e Humanismo...................................................................................14

5–Gestalt-terapia e Existencialismo................................................................................16

6–Gestalt-terapia e Fenomenologia.................................................................................18

7–Gestalt-terapia e Relação Dialógica............................................................................21

8–Teorias de Fundo.........................................................................................................22

9–Alguns Conceitos na Gestalt-terapia...........................................................................31

10–Saúde em Gestalt-terapia...........................................................................................35

11– Os Experimentos na Gestalt-terapia.........................................................................38

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1- HISTÓRICO DA GESTALT-TERAPIA

A Árvore genealógica da Gestalt-terapia ergue-se sobre várias raízes, algumas


mais, outras menos evidentes. A Gestalt nutriu-se da contribuição de correntes
filosóficas e terapêuticas de diversas fontes: européias, orientais, e americanas. É difícil,
portanto, definir os fundadores teóricos de forma precisa. Existem duas versões quanto
a sua fundação, alguns alegam que Fritz Perls seria o fundador da abordagem, e outros
alegam ser o grupo dos sete, a saber; Fritz Perls, Laura Perls, Paul Goodman, Isadore
Fron, Paul Weisz, Eliot Shapiro Silvester Eastamam. O que podemos ter certeza é que
todos foram importantes para o desenvolvimento da Gestalt-Terapia e não há dúvida
que a pessoa que mais ficou evidente na história da Gestalt-Terapia foi de fato Perls;
sendo que a sua história pessoal é de fundamental importância na retomada do histórico
da Gestalt-terapia.
Perls se viu mergulhado em banho ideológico, que teve influência preciosa no
seu trabalho. Conviveu com a psicanálise de Freud, o holismo de Smuls e o psicodrama
de Moreno. Foi influenciado pela Terapia Centrada na Pessoa de Rogers, a Análise
Transacional de Berne, a Dinâmica de Grupo de Lewin, os grupos de encontros de
Schutz e Bioenergética de Lowen. Perls leu essas obras e teve contato com a maioria de
seus criadores. Tomou emprestadas teorias, métodos e técnicas, reformulando-as e
trazendo-as para seu estilo pessoal. Ao fazer suas formulações teóricas recebeu
importantes contribuições de Laura Perls, Goodman e vários outros.
É importante ainda ressaltar que a Gestalt se desenvolveu às avessas. A obra
inicial de Perls e seus colaboradores, não teve divulgação e repercussão necessária à
consolidação de um suporte teórico indispensável para o exercício cuidadoso e
criterioso de uma abordagem psicoterápica florescente, e, embora em menor medida,
não tem até hoje.
Por outro lado, o estilo de Perls nos seus últimos anos de vida, aplicando suas
técnicas e seminários, filmes, vídeo- tapes, oração da Gestalt, espalharam-se pelos
Estados Unidos. No Brasil não tivemos os filmes e vídeos, mas o livro “Tornar-se
Presente” foi o nosso primeiro referencial. A conseqüência disso é que a Gestalt passou
a ser aplicada como uma modalidade puramente técnica.
Em contrapartida surgiu uma tendência de enfatizar o diálogo, deixando de lado
as técnicas e hoje alguns terapeutas utilizam-se da técnica engajada na relação dialógica,
uma vez que em nossa abordagem os conceitos básicos são mais filosóficos do que
técnicos.
Depois dessa breve introdução passaremos a remontar os passos da Gestalt-Terapia,
inicialmente através da História de Perls e depois sua chegada ao Brasil e
particulamente em Maringá.

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• FRIEDRICH SALOMOM PERLS

Nasceu em oito de julho de 1893, após um parto difícil a fórceps, num gueto
judeu do subúrbio de Berlim. Era o terceiro filho de um casal obscuro. Seu pai era
negociante de vinhos e depois negociante de Rotschild, estava sempre viajando. Era
charmoso, sedutor, irritadiço, violento e orgulhoso. Sua mãe era judia praticante,
apaixonada por teatro e ópera. O casal vivia em meio de conflitos e brigas violentas. O
pai afastou-se da família tanto física como psicologicamente.
Aos 10 anos (1903), Perls tornou-se cada vez mais insuportável, fazia bagunça
na escola, recusava-se a fazer os deveres, falsificava boletins, etc. Posteriormente, aos
13 anos, foi expulso da escola.
Perls matriculou-se em uma escola mais liberal, onde pôde desenvolver seu
gosto pelo teatro, que influenciou por toda a sua vida. Durante toda sua adolescência fez
curso de arte dramática e atuou como figurante, mesmo quando mais tarde passou a
estudar medicina. Foi profundamente influenciado por Max Reinhardt que desenvolveu
sua incrível habilidade de detectar sutilezas de entonação de voz e linguagem corporal,
tão explorado posteriormente em seu trabalho terapêutico.
Em, 1914, quando da declaração da guerra, Perls não foi aceito por má formação
cardíaca, porém, no ano seguinte, inscreveu-se como voluntário na cruz vermelha.
Participou da guerra nas trincheiras, onde presenciou pessoas sendo mortas a golpes de
martelo. Conservou por muito tempo seqüelas desse trauma, manifestando sinais de
despersonalização e indiferença total pelo meio.
Retornou seus estudos de medicina e em 1920, aos 27 anos, obteve seu
doutorado em medicina. Tornou-se neuropsiquiatra. Nessa época associaram-se a
políticos, filósofos, artistas, etc.; dissidentes da ordem estabelecida. Aí, encontrou
Salomon Friedlander, filósofo que escreveu ensaio tentando superar o dualismo
Kantiano, que desenvolve o conceito de “vazio fértil”, que influenciou decisivamente o
pensamento de Perls.
Aos 33 anos começou a fazer análise com Clara Happel, que durou um ano. Sua
análise foi interrompida de forma inesperada pela terapeuta, a qual sugeriu a Perls que
se instalasse como psicanalista imediatamente. Perls foi para Viena, onde recebeu seus
primeiros clientes.
Em 1928, já em Viena como psicanalista, retorna sua análise com Eugen
Harnick. Tal analista recomendava ao cliente para que não tomasse nenhuma decisão
importante durante o período de análise. Contrariando essa orientação, casou-se com
Laura, em 23 de agosto de 1929, ele tinha 36 anos e ela 24 anos.
Aconselhado por Karen Horney, iniciou em 1930 análise com Willian Reich.
Enfim sentiu-se compreendido e energizado.
Em 1933, fugiu da Alemanha, onde as perseguições aos judeus já haviam
começado. Escapou para a Holanda, abandonando todos os seus bens. Obteve permissão
para trabalhar em Amsterdã. Foi então que Ernest Jones lhe propôs emprego na África
do Sul.

ÁFRICA DO SUL
Instalou-se em Joannesburgo, em 1934 onde fundou o instituto Sul-Africano de
Psicanálise. Frietz e Lore tinham muitos clientes em tratamento, e outros em formação
didática para psicanalista. Logo se tornaram ricos e celebres.

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Em 1936, aconteceu um Congresso Internacional de Psicanálise de Praga. Perls
preparou uma comunicação sobre as “Resistências Orais”. Esperava submetê-la a
apreciação de Freud, porém a acolhida fria deste se transformou em um trauma do qual
nunca se recuperou.
A segunda decepção do congresso foi o encontro com Reich, onde este mal o
reconheceu e não se interessou pela sua trajetória. O terceiro choque foi a acolhida
glacial de seus colegas psicanalistas de sua comunidade.
Em 1940, desenvolveram-se suas teses e terminou a redação em seu primeiro
livro Ego, Hunger and Agression, escrito com colaboração de sua esposa. Desde esse
primeiro livro começou a esboçar noções que desembocariam nove anos mais tarde no
nascimento da Gestalt-Terapia.
Por ocasião da Segunda Guerra, alistou-se como oficial médico, onde
permaneceu durante quatro anos. Desinteressou-se cada vez mais da família, não
hesitava em agredi-los, reproduzindo assim o comportamento de seu próprio pai.

NOVA YORK

Aos 53 anos (1946), decidiu abandonar sua família, sua luxuosa mansão, sua
clientela e partiu para Nova York.
Em Nova York não foi bem acolhido pelos psicanalistas ortodoxos. Obteve
apoio de Karen Horney, Erich From e Clara Thopson; podendo assim refazer sua
clientela, e anos depois, sua família reuniu-se a ele.
O nascimento da Gestalt-Terapia deu-se em 1951, data do aparecimento da obra
coletiva Gestal-Therapy, que marcou o início oficial da nova prática. Em 1952, Fritz e
Laura criam o primeiro instituto de Gestalt-The Gestalt Instituto of New York,
seguindo em 1954, pelo de Cleveland. Logo Perls entregou a direção dos mesmos a
Laura, Goodman e Weiss, dando início a sua interminável peregrinação pelos EUA,
para divulgar o novo método, que por mais de 15 anos teve repercussão modesta.
Nos institutos citados acima nasceu a segunda geração de Gestaltistas, dentre
eles;Isadore From, Joseph Zinker e Miriam Pôster, etc.

FLÓRIDA
Aos 63 anos estava desanimado e cansado. Sua relação com Laura estava
desgastada. Sonhava em aposentar-se e terminar seus dias em Miami, Instalou-se aí,
triste e deprimido. Dirigiu alguns grupos esporádicos.
No ano seguinte recobrou o gosto pela vida ao apaixonar-se novamente,
romance esse que terminou algum tempo depois.

VIAGENS
Inicia um novo período errante. Em 1959 e 1960 foi várias vezes a Califórnia, a
São Francisco, a convite de Van Dusen; e a Los Angeles, a convite de Jim Slimkin. Nos
anos 70, ficou 18 meses em Israel numa pequena aldeia de jovens artistas, onde ficou
fascinado pela forma que viviam. Em seguida, foi ao Japão, onde permaneceu num
mosteiro Zen.

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ESALEN
Em 1963, encontrou-se com Michael Murphy, que herdara uma propriedade no
sul de São Francisco, ao qual dera o nome de Esalen. Murphy juntamente com seu
colega Richard Prince sonharam em criar ali um centro de desenvolvimento do
Potencial Humano. Convidaram Perls para realizar alguns laboratórios . Instalou-se
nesse local como residente, onde além dos laboratórios realizava um programa de
formação em Gestalt. Dois anos depois, seus laboratórios continuavam monótonos e
contava com pouco número de pessoas.
Começou a redigir suas memórias em 1967, e as publicou em 1969. Em 1968,
no auge da guerra do Vietnã e do movimento hippie, já aos 75 anos viveu seu apogeu.
Sua foto apareceu nos grandes seminários americanos, foi capa da life e eleito o Rei dos
Hippies.
Todos os fins de semana, Perls apresentava seu trabalho em grupo, onde
centenas de pessoas se aglomeravam para ver o seu número, não se tratava de terapia
profunda, mas demonstrações espetaculares.

COWICHAN (CANADÁ) I
Em 1969 adquiriu um velho hotel em cowichan, onde todos viviam em
comunidade, participavam do trabalho coletivo e faziam sessões de terapia ou de
formação. Ele declarou nessa época, que pela primeira vez na vida estava em paz.
No inverno seguinte, voltando de uma viagem à Europa, passou em Chicago
para dirigir um laboratório e faleceu em 14 de março de 1970, aos 77 anos.
Assim viveu Perls, o principal porta voz da Gestalt-Terapia, mesmo não tendo
sido propriamente o seu teórico.

• CONSIDERAÇÃO A RESPEITO DA EVOLUÇÃO DA GESTALT.

Segundo Jean Clark Juliano, nesses vinte anos de Gestalt-Terapia, a abordagem


desenvolveu-se de dois modos diferentes. A chamada “Gestalt da cabeça”; que se
praticava em New York e a “Gestalt visceral”; o estilo californiano, reproduzindo uma
antiga rivalidade entre o pensar e fazer. No estilo Gestalt visceral, o foco era o trabalho
com a awareness do cliente. Outro elemento que caracteriza este estilo era uma dureza
na linguagem e no uso da frustração do cliente.
Com o passar dos anos a primeira geração de Gestalt terapeutas elabora uma
outra perspectiva, chamada “Gestalt do coração”. Nesse estilo a proposta é integrar a
focalização da awareness do cliente com a sua maneira de entrar em contato,
especialmente na sua interação do grupo. Uma atenção particular é dada à ação, não só
como instrumentos da awareness, mas também como representante da ligação do
sistema sensorial e do motor. “As expressões significativas deste terceiro momento são
os textos: “Gestalt Terapia Integrada” de Erving e Mirian Polster (1973), e os de Joseph
Zinker,” O processo criativo da Gestalt Terapia” (1977), com a colaboração de Sônia
Nevis.

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O casal Polster foi para San Diego, na Califórnia e posteriormente surgiram mais
dois grupos importantes para a Gestalt: o de São Francisco e o de Los Angeles, que irão
influenciar diretamente aqui no Brasil.

• GESTALT TERAPIA NO BRASIL

Thérèse A. Tellegen vai a Londres, em 1972, para uma reciclagem. Entusiasma-


se com o Workshop feito nesta ocasião e escreve a primeira publicação nacional,
intitulada – “Elementos de Psicoterapia Gestáltica” (Boletin de psicologia da Sociedade
de Psicologia de São Paulo). No ano seguinte traz Silvia Peters para workshop de doze
horas no Brasil.
Em 1976 um grupo formado pelos seguintes profissionais Thérèse A. Tellegen,
Walter Ribeiro, Paulo Barros, Abel Guedes, Lílian Frazão e Jean Clark Juliano,
convidam um Gestalt Terapeuta dos Estados Unidos, Robert Martins, do Instituto de
Los Angeles, para Workshops em São Paulo. A partir daí, passou-se por uma fase de
aculturação necessária, tentando extrair do modelo importado, aquilo que era
compatível com o modo de ser brasileiro. Instalou-se uma fase em que esse grupo
recebia inúmeros convites para falar sobre Gestal-Terapia.
Nos anos de 1976 e 1977, são publicados no Brasil os primeiros livros da Gestalt
Terapia “tornar-se presente” e “Gestalt Terapia Explicada”.
Em 1977 surge o primeiro grupo de treinamento em Brasília, dirigido por Walter
Ribeiro, no ano seguinte Selma Ciornai fez treinamento no instituto Gestalt Terapia de
São Francisco, além de participar de Workshops e mini-treinamentos com gestaltistas
de renome. Em 1981 Thérése A. Tellegen, Lílian Frazão, Abel Guedes e Jean Clark
Juliano fundam o Centro de Estudos de Gestalt de São Paulo.
Em 1984 Théresè A. Tellegen publica o primeiro livro brasileiro de Gestalt
“Gestalt e Grupos: Uma Perspectiva Sistêmica”. E no ano seguinte, Jorge Ponciano
Ribeiro publica “Gestalt Terapia Refazendo um Caminho”, e a partir daí seguem várias
publicações de autores brasileiros.
Em 1987 o grupo de São Paulo trouxe Yontef, um dos maiores teorizadores da
Gestalt Terapia atual, para um grupo de pesquisa avançada.
E a história continua...

*Texto elaborado por Marta Carmo e revisado por Marisete Malaguth Mendonça.

Referência Bibliográfica

GINGER, S E GINGER, A “Gestalt uma Terapia do Contato”, São Paulo: Summus


Editorial, 1995.

JULIANO, J C “Gestalt Terapia Origens e Tendências Atuais”, III Encontro


Nacional de Gestalt Terapia - Brasília: 1991.

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DESENVOLMENTO DA GESTALT TERAPIA EM MARINGÁ

Em 1995 a psicóloga e professora universitária Helen Messias da Silva Guzmán


muda-se para a cidade de Maringá. A Abordagem Gestáltica sempre orientou os
trabalhos de Helen que aos poucos vai introduzindo a Gestalt-terapia em nossa cidade.
Em 1998 um grupo de alunas do 5º ano de Psicologia da UEM (Universidade Estadual
de Maringá) procura a professora interessadas em conhecer a Gestalt. Forma-se então o
primeiro grupo de estudos de Gestalt em nossa cidade. Posteriormente, algumas destas
alunas comporão a diretoria do Instituto Maringaense de Gestalt-terapia já como
profissionais.
Em 1996 a Helen começa a dar aulas de psicologia no CESUMAR ( atual
Centro Universitário de Maringá). Aos poucos o interesse pela Gestalt vai crescendo
entre os alunos que começam a organizar-se em grupos de estudos.
Em 2003 surge no CESUMAR o primeiro grupo de estágio supervisionado em
Psicologia Clínica com orientação em Gestalt-terapia. Neste mesmo ano, as psicólogas
Helen Messias S. Guzmán, Patrícia Daniele Constatin e Sueli Aparecida Sperandio,
juntamente com o psiquiatra Hélio Borges de O. Passos realizam o I Fórum Norte-
Paranaense de Abordagem Gestáltica com o tema “Novos Paradoxos em Psicologia” em
22 e 23 de agosto de 2003.
No ano de 2005 já como Instituto Maringaense de Gestalt-Terapia, as psicólogas
Helen Messias S. Guzmán (presidente) e os (membros da diretoria): Kelly C. F.
Shimoriro, Patrícia D. Constantin e Sueli A Sperandio, promovem a primeira formação
em Abordagem Gestáltica e o primeiro Curso Introdutório da Abordagem. O curso de
formação em Abordagem Gestáltica tem como aula inaugural uma palestra aberta ao
público com o tema “O Amor na Relação Terapêutica,” ministrado pela professora
Beatriz Helena Paranhos Cardella, autora dos livros “O Amor na Relação Terapêutica e
a Construção do Psicoterapeuta – uma abordagem gestestáltica.
Em 2008, o Instituto Maringaense de Gestalt-Terapia forma a 1º turma de
gestalt-terapeutas e inicia a segunda turma de formação. Como aula inaugural, em forma
de palestra aberta ao público, o convidado desta vez foi o professor e psicólogo Hugo
Elidio Rodrigues do Instituto de Psicologia Gestalt em Figura, do Rio de Janeiro, com o
tema: “Introdução a Gestalt-terapia: conversando sobre os fundamentos da abordagem
gestáltica”, tema este que é o título de seu livro que já encontra-se em 4º edição.
Atualmente, o Instituto Maringaense de Gestalt-terapia encontra-se em
atividades de formação da segunda turma de Gestalt-terapeutas.
Além dos cursos de formação, o instituto promove palestras, grupos de estudos e
supervisão e grupos de psicoterapia. Temos também uma missão social, uma vez que
nossos alunos ao encontrarem-se no último ano de formação atendem clientes da
comunidade por preços bastante acessíveis.
O Instituto tem a intenção de ser uma referência aos nossos alunos. Desejamos
também oferecer aos nossos ex-alunos; aos jovens gestalt-terapeutas apoio às ações que
possam promover a Gestalt-terapia e sua prática de forma responsável e ética,
contribuindo para a humanização da Psicologia e para a promoção da saúde humana.

Texto elaborado pelas psicólogas: Helen Messias Guzmán, Kelly C. F. G. Shimohiro,


Patrícia Daniele Constantin e Sueli Aparecida Sperandio

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2 - O QUE É GESTALT-TERAPIA

Marisete Malaguth Mendonça

O que é Gestalt?

O que é Terapia?

O que é Gestalt-Terapia?

Gestalt é uma palavra alemã. Essa informação preliminar é encontrada em toda


definição da Gestalt-Terapia. Receio estar sendo repetitiva. E não sei como não sê-l0,...
Ao prosseguir dizendo: Gestalt significa o todo, a configuração total de um evento
percebido... ou de um evento vivido, testemunhado, pensado ou intuído. A visão
completa: eis a Gestalt. O nascimento, desenvolvimento e completo mento de qualquer
acontecimento... rápido e breve...lento e duradouro. Está completo, completou-se; eis a
Gestalt. Simples ou composta de pequenas gestalten inter-relacionadas...
A unidade perceptiva é uma gestalt: vejo uma cadeira, uma árvore, uma pessoa,
um cachorrinho. Vejo um todo completo em si mesmo.
Vejo um acontecimento complexo, cheio de elementos individuais, inter-
relacionados; capto-lhe o sentido, dou-lhe uma denominação: é uma briga, ou uma festa,
ou luta pelos direitos individuais ou, mais modernamente, pela preservação do meio
ambiente. Eis a Gestalt percebida e nomeada. O sentido completo em si mesmo, que
dispensa qualquer referência ao que é exterior a ele.
O sentido é imposto pela inter-relação específica dos elementos. Os mesmos
elementos podem configurar diferentes gestalten (ou diferentes sentidos). Por isso se diz
que o todo significativo (aquele que tem significado, como no caso do cachorrinho, da
festa, da preservação ecológica ou da briga) é mais que a soma das partes. O todo
significativo depende da natureza da inter-relação das partes: da qualidade de seus
elementos, da posição de cada elemento, da influência funcional recíproca entre os
elementos.
“O todo determina suas partes” _ ouvimos isso com muita freqüência nas
explicações holísticas.
Pessoalmente, considero essa posição autoritária.
As Partes também determinam o seu todo. As partes constroem o seu todo,
serve ao seu todo e o constroem de modo que este possa servi-las. É uma relação
circular. Não vertical.
O Todo é o resultado da inter-relação das partes. Essa inter-relação é
determinada pela natureza do todo. Certo. Porém, essa natureza é originária da inter-
relação das partes, e tem que servir às partes. Sob pena do todo se desagregar... em
fragmentos. Perde a unidade ao perder a integração.
Gestalt é isso: a integração das partes num todo significativo. Configurando uma
determinada forma ou um determinado sentido. Servindo sempre ao principio
primordial de sobrevivência e evolução.

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Terapia é a arte do cuidado. De restabelecer a unidade ameaçada ou abalada. De
escutar o grito da parte delatora... porta voz da agonia do todo...de reconhecê-la como
indivíduo das comunidade organísmica, cuja FORMAÇÃO faz referência inevitável à
comunidade total.
De reconhecer a artificialidade de isolá-la ou retirá-la (o que às vezes acontece),
sob pena do Todo ser alterado e empobrecido (o que às vezes não conseguimos evitar).
Terapia é solidarizar o homem consigo mesmo. É apaziguar suas lutas internas,
de modo que cada aspecto seu possa enriquecer sua totalidade e ser enriquecido por ela.
Que para isso estamos neste mundo: para nos construímos em existência cada vez mais
complexa e mais completa.
O que é Gestalt-Terapia? É a arte de intervir naquilo que está fragmentando a
unidade. E de facilitar a solidarizarão com a unidade.
Mas toda terapia pretende a unidade da pessoa.
Em que se pode legitimar a identidade (ou originalidade) da Gestalt-Terapia?
Talvez na sua própria denominação: Gestalt.
No principio sob o qual é operacionalizada sua metodologia.
Que princípio? O de que a unidade é a inter-relação das partes e que estas
servem à unidade, e que a unidade serve a cada parte. De modo que nenhuma parte é
vista independente da totalidade na qual se insere o que essa totalidade está toda afetada
quando uma parte aparece em descompasso. Que esta denuncia, foi escolhida pelo todo
para levar ao mundo o seu pedido de socorro... ou a denúncia do seu descontentamento.
E a Gestalt-Terapia vai escutá-la. Atentamente. Minuciosamente. Sabendo que
ela tem todas as informações necessárias à compreensão da situação da sua comunidade.
O que aparece como queixa ou sintonia é levada em consideração incondicional,
examinado e explorado de todas as formas possíveis (via contato focalizado na queixa
ou sintoma). Porque sabemos que os escutarmos a queixa, ou “a parte afetada”, a
totalidade vai-se revelando, o sentido da queixa se elucida, e podemos ver como a
queixa foi a denuncia mais adequada possível, às vezes dramática, do risco de
desintegração (de formação), em condições caóticas, do campo. Na Gestalt-Terapia
pretende que a pessoa descubra formas mais eficazes (o mesmo que mais autenticas) de
integração. Que ouse arriscar, experimentar novo comportamento integrador, antes de
abandonar sob a relativa segurança do suporte terapêutico.
Por isso, consideramos o evento terapêutico como uma “situação emergencial
segura” – onde emergem necessidades e experiências de novos comportamentos sob a
relativa segurança do suporte terapêutico.
Por isso, consideramos o evento terapêutico como uma “situação emergencial
segura” – onde emergem necessidades e experiências de novos comportamentos sob a
relativa segurança do suporte terapêutico.
Aí está à originalidade da Gestalt-Terapia. Ela é fundamentalmente experiêncial.
Através de sua metodologia dialógica e experimental, orienta o cliente, durante todo o
tempo, a dar-se conta de suas experiências (de suas sensações, sentimentos, idéias,
posturas corporais). E de arriscar uma experiência nunca antes arriscada, e de avaliar os
resultados via sua própria informação organísmica.
A capacidade de cliente de se auto-regular é uma confiança firmada no gestalt-
terapeuta. Por isso o incentivo a se experienciar. De todas as formas possíveis no
momento. Às vezes contando a sua história.
Para esse experienciar? Porque acreditamos que toda perturbação da unidade
solidária do funcionamento humano provém das interrupções do experienciar.
Interrompemos a formação das gestalten, dos todos sensóriais, perceptivos,
emocionais, intelectuais, que o organismo necessita formar para captar o sentido e a

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adequação de sua atuação no meio... E nos tornamos confusos, perdidos, sem saber o
que fazer como fazer, se fazer... Ou fazemos de forma inadequada (deformada).
Perdemos o referencial; as informações organísmicas que nos dariam todo o
suporte necessário às nossas decisões... À nossa atuação ou não atuação no mundo.
Na Gestalt-Terapia trabalha no sentido de restabelecer o contato que foi
interrompido, primeiro consigo mesmo...depois com o outro (fenômeno também de
natureza circular).
Tentamos restabelecer o diálogo. Através do próprio diálogo-que em si é uma
nova experiência restauradora-e dos experimentos emergidos ou sugeridos pelo diálogo,
que visam apenas restabelecer o contato, examinar as interrupções, avaliar sua
pertinência, ou sua nocividade. Abandonar algumas, conservar outras, agora com plena
consciência, autonomia e responsabilidade pelo que se está fazendo.
Dito de outro modo apropria-me de mim, e ao fazê-lo, aproprio-me da coragem
de ser-que é idêntica à experiência da Unidade.

Revista do VII Encontro Goiano de Abordagem Gestáltica Pgs 15.16.17.18

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3 - A CONCEPÇÃO DE HOM EM GESTALT-TERAPIA

O Homem como ser digno de confiança: o homem é tomado como fim porque ele está
sempre por se fazer. Não há outro legislador além dele próprio. “As coisas são, só o
homem existe” (Heidegger, 1979). Profunda crença nas potencialidades e possibilidades
humanas.

O Homem como ser responsável: o homem é o que faz de si mesmo, pois


inexoravelmente se escolhe ser o que é. “Não há desculpa para o ser humano” (Sartre,
1978). Idéia da não prescrição: nada prescrever para os outros, pois eles sabem de si e se
fazem como podem.

O Homem como ser de totalidades: o homem não é composto por partes, mas é uma
Gestalt. É um ser biopsicossocial e só pode ser entendido se o conhecemos como um
todo. O conhecimento de apenas partes deste homem leva os inúmeros enganos. O
homem só pode ser entendido como uma Gestalt. Perceber o homem como uma
totalidade implica tanto em estar atento para a figura, quanto ao fundo e à articulação de
ambas. Há uma parte vivida que prende nossa atenção – a ela denominamos figura.
Além dela, há as partes restantes, denominadas de fundo.

O Homem como ser voltado para a consciência: o homem pode estar


permanentemente ligado ao aqui-e-agora através de uma tomada de consciência
continuada (awareness continuum/awareness: qualidade ou estado que é um ser
permanentemente à cata da consciência. Uma luta constante no processo psicoterápico
contra a alienação.

O Homem como ser auto-regulado: o homem possui um impulso dominante de auto-


regulação pelo qual é permanentemente motivado e tende, portanto ao equilíbrio. A
saúde corresponde a um equilíbrio energético e a doença a um momento de
desequilíbrio energético.

O Homem como ser em permanentemente energia de auto-realização: o homem


possui uma força que o movimenta na direção da satisfação de suas necessidades que,
em última instância, é a auto-reralização do ser, ou seja, o princípio orgânico pelo qual o
organismo se desenvolve plenamente. Cada ser guarda sua singularidade e de que não
há possibilidade de generação. A idéia da não interpretação.

O Homem como ser de presentificação: o homem está em busca permanente e


contínua do seu momento existencial. Pode obter esta presentificação de várias formas,
mas particularmente, através do próprio corpo que constitui um discurso completo sobre
ele mesmo. O aqui-e-agora se refere ao momento existencial do cliente (quer ele se
refira ao passado, ao futuro ou ao momento presente) e não ao tempo cronológico.

O Homem como ser em busca do sentido para sua existência: o homem em


permanente busca de iluminação, isto é, em se integrar para se entregar à vida através da
contextualização das suas percepções, suas experiências, sua existência. O sentido da
existência pode ser melhor captado através do exame da maneira como eu vivo, do
modo como e me faço.
Referências Bibliográficas

12
CAMON, V. A. A Existencialismo e Psicologia. São Paulo: Taco, 1084

CARDELA, B. H. P. A Construção do Psicoterapeuta: uma abordagem gestáltica.


São Paulo: Summus. 2002.

GINGER, S e GINGER, A Gestalt: uma terapia do contato. São Paulo: Summus,


1995.

HYCNER, R. De pessoa a Pessoa: uma psicoterapia dialógica. São Paulo: Summus,


1995.

RIBEIRO, J. P. Gestalt Terapia: refazendo um caminho. São Paulo: Summus, 1985.

RIBEIRO, J. P. Gestalt-terapia de Curta Duração. Summus, 1999.

YONTEF, G. M. Processo Dialógico e Awareness: ensaio em gestalt-terapia. São Paulo:


Summus, 1998.

Texto elaborado pelas psicólogas:


Helen Messias Guzmán
Kelly C. F. G. Shimohiro
Patrícia Daniele Constantin
Sueli Aparecida Sperandio

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4 - GESTALT-TERAPIA E HUMANISMO

A teoria Gestalt foi inicialmente formulada no final do século XIX na Alemanha


e Áustria. Desenvolveu-se como protesto contra a tentativa de compreender a
experiência através de uma análise atomista onde a pessoa é vista como um feixe de
forças ou um conjunto de instintos.
Fundamentou-se na filosofia de reflexão humanista no momento que esta define
o ser humano como um padrão único de potencialidades individuais que são
compartilhadas com outros.
O humanismo tem como principal valor o enfoque na relação no qual toda
existência humana se realiza em um contexto interpessoal. Acredita no potencial da
pessoa que ultrapassa sua existência. Trata-se de um impulso para o crescimento, para o
processo de individualização em que o homem é o responsável pela sua atualização. A
meta humana fundamental é a auto-realização ou individualização.
A Gestalt-Terapia se coloca ao lado da psicoterapia humanista, no momento que
esta contém e promove a idéia de homem como centro, com valor positivo, capaz de se
autogerir e regular-se, assumira sua coisas e administrar-se,
Segundo RIBEIRO (1985), a postura humanística que, sem esquecer os limites
pessoais, os fracassos e impossibilidades de mudança, aqui e agora, procura fazer uma
reflexão a partir do positivo, do criativo, do que é ainda potencialmente transformador:
enfim, daquilo que, talvez sem perceber, o cliente tem à sua disposição, como o
principal e, às vezes, única porta de saída para sua recuperação e renascimento.
Confere ao homem um status de sujeito responsável por sua vida, dada forma de
transformação do homem.
Acredita que é a partir de si próprio que o homem caminha para compreender o
mundo. Ao colocar-se como humanista contém e promove a idéia do homem como
centro, como capaz de gerir-se e regular-se.
O terapeuta deve explorar o sentimento de liberdade do cliente, enfatizando a
importância da relação interpessoal, pois o cliente só se percebe através do outro. É
preciso fazê-lo compreender que ele é responsável pelas suas escolhas e que tem
potencial para desenvolver-se.
O terapeuta, a partir de sua habilidade, mostrará ao cliente que ele é o centro de
tudo, as coisas correm com ele e dependendo dele, sendo um reflexo de suas atitudes,
reforçando seus aspectos positivos e impulsionando as suas potencialidades.
Para RIBEIRO (1999), o humanismo tem como significado o resgate do
humano, do belo, do positivo, da espontaneidade perdida e criatividade.
O homem é capaz de encontrar a si mesmo, de conhecer-se cada vez mais, saber
que existe um impulso natural para o crescimento. Além de o terapeuta ter esta visão e
este pensamento, é necessário que ele leve o cliente a conhecer o seu potencial, a
creditar em si mesmo; ele deve despertar no cliente este impulso para o crescimento que
às vezes pode estar adormecido.
A Gestalt-Terapia é mais do que uma psicoterapia centrada na pessoa é uma
psicoterapia que tem a pessoa como centro. Nesse sentido acredita no homem criando a
si mesmo, existindo, tomando posse de si e do mundo.
Enfocando a valorização do humano, é, portanto, uma psicoterapia que procura
lidar diretamente com o que a pessoa tem de positivo, com seus aspectos saudáveis, lida
com o potencial de vida, procura fazer com que o cliente tome posse de si e do mundo,
atualiza o potencial da pessoa, compreendendo as limitações. É uma postura que
compreendendo os fracassos e limitações da pessoa, procura fazer uma reflexão a partir
do positivo, do criativo, do que ainda é potencial transformador.

14
A psicoterapia humanista lida com que o homem sente, pensa e faz, com o todo,
cliente e psicoterapeuta fazem vínculo através da relação.
A relação em si torna possível conhecer o ser, e de dar vazão ao vir a ser. Cada
instante traz em si a possibilidade de vir a ser, o ponto de começar ou de recomeçar é
aqui e agora. Onde se está é o começo e este começo me revela a providência buscada.
Partindo da teoria humanista essa relação, considerando que o terapeuta é
humano como o cliente, este não deve dar respostas prontas e acabadas, mas deve
mostrar que a pessoa deve conhecer e saber o melhor caminho para ela.
Dessa forma, fica claro que o terapeuta ajuda o ciente a reorganizar sua vida,
acreditando que ele é capaz de gerir-se e auto-regular-se. Ajuda o cliente a ver seus
pontos positivos, ou seja; que ele sabe qual é o melhor caminho a seguir.
Para GINGER E GINGER (1995), o humanismo “é uma forma de devolver ao
homem toda sua dignidade, seu direito ao respeito em todas as suas dimensões”.
Na reflexão humanista faz-se necessário completar “o todo” do pressuposto
filosófico, atentando-se a visão existencial e fenomenológica, fechando esse ciclo.

Referência Bibliográfica

CARDELA, B. H. P. A Construção do Psicoterapeuta: uma abordagem gestáltica.


São Paulo: Summus. 2002.

GINGER, S e GINGER, A Gestalt: uma terapia do contato. São Paulo: Summus,


1995.

HYCNER, R. De pessoa a Pessoa: uma psicoterapia dialógica. São Paulo: Summus,


1995.

RIBEIRO, J. P. Gestalt Terapia: refazendo um caminho. São Paulo: Summus, 1985.

RIBEIRO, J. P. Gestalt-terapia de Curta Duração. Summus, 1999.

Texto elaborado pelas psicólogas:


Helen Messias Guzmán
Kelly C. F. G. Shimohiro
Patrícia Daniele Constantin
Sueli Aparecida Sperandio

15
5 - GESTALT-TERAPIA E EXISTENCIALISMO

O existencialismo moderno surgiu na França e na Alemanha há mais de quarenta


anos. Não se trata de uma única doutrina, pois cada filósofo defende uma idéia que lhe é
própria, porém, há uma preocupação comum a todos e no se refere à compreensão
comum a todos e a explicação da existência humana.
O existencialismo moderno advém das meditações de Kierkegaard, Heidgger,
Sartre, Jasper. Eles expressam com convicção que a realidade última somente pode ser
encontrada na existência individual concreta.
Kierkegaard se opõe ao ponto de vista de homem como uma idéia universal.
Segundo ele a categoria central da existência humana é o homem. A essência de uma
coisa é o que lhe resta despojando-lhe de todo contingente.
No existencialismo o foco é o ser particular e concreto em que a liberdade e a
responsabilidade se fazem presente. Que todo ato humano é intencional e deve se
compreendido através de si próprio. A intencionalidade é o ato, é a figura, o desejo onde
se faz presente a vontade e a liberdade.
Tanto para o existencialismo como para a Gestalt-Terapia o homem é a
expressão de uma experiência individual singular. Trata diretamente da existência
humana, referindo-se a subjetividade, na tentativa de entender o indivíduo na sua
singularidade conhecer-se e fazer um apelo à consciência.
O homem como ser particular, concreto, com vontade e liberdade pessoal,
consciência e responsável;
Segundo RIBEIRO (1985), o existencialismo prega que o homem por si só não
existe, ele só existe enquanto ser em relação com o mundo e/ou com outros homens.
A Gestalt-Terapia promove o encontro individual entre sua subjetividade e sua
singularidade. Uma inquietação um não acomodamento à procura da realidade própria e
pessoal.
A visão existencialista vai além, ao considerar a relação profunda existente entre
ato humano e intenção. O ato psíquico é intenção e deve ser entendido a partir de si
próprio. A intencionalidade do ato é a figura-desejo, no qual estão presentes vontade e
liberdade.
O existencialismo diz que cada ser humano tem a sua capacidade. Que a
individualidade é básica, é a proposta de assumir-se totalmente na liberdade
responsável. O conhecer-se implica em conhecer-se no mundo e a si próprio.
O Gestalt-Terapia, em relação ao manejo parte do pressuposto de que o homem
parte do particular como um ser concreto, não abstrai, com vontade e liberdade pessoal,
é consciente e responsável.
O terapeuta deve estar atento ao cliente ao que se refere a sua capacidade de
lidar com os componentes da vida e como ele está aceitando a responsabilidade por seus
atos, desenvolvendo no cliente o sentido da importância de assumir o controle sobre sua
vida, entendendo que a mesma é um projeto inacabada e que a construção depende dele.
Que a experiência é singular e intransferível e dá responsabilidade ao homem. Ele é o
melhor intérprete de si mesmo, embora possa ter desviado de si, e perdido a habilidade.
A pessoa deve ser vista na sua totalidade, ou seja, em suas limitações e possibilidades.
O homem é o único ser capaz de projetar-se, ele pode antecipar a si mesmo, criar
o próprio mundo na medida em que atualiza as suas potencialidades. Percebe que apesar
dos conflitos vividos no momento, só ele tem a capacidade de resolvê-los, mesmo que
temporariamente ele não se sinta habilitado para o mesmo e necessite de ajuda,
aprendendo também que sua consciência é intencional, e que a cada minuto ele define o
que será no momento seguinte, mesmo que isto lhe cause dor e medo.

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A abordagem Gestáltica também faz um apelo constante à liberdade humana, a
individualidade, a responsabilidade pessoal e coerente. Ela vai além dos sentimentos de
massa, dos valores introjetados e não assumidos. Assim, o terapeuta encontra seu cliente
através de relações sinceras e imediatas e desafia as manifestações do mesmo, sem
rejeitá-las como pessoa.
Para os Gestalt-terapeutas, a relação terapêutica é um encontro existencial, onde
o psicoterapeuta é convidado a liberar sua espontaneidade e atribuir maior peso na
relação com o cliente, sendo sempre ativo, porém não diretivo e disposto a acompanhá-
lo na difícil tarefa de fechar suas gestalten abertas.
O terapeuta se insere nesse quadro, como consultor desse projeto que é a vida de
seu cliente. Na medida que o indivíduo toma consciência do seu projeto, da forma como
o realiza, como leva adiante, até que este experiêncie o conceito de si mesmo. No
processo terapêutico vai obtendo resposta, onde as figuras se configuram e as gestalten
se fecham.

Referência Bibliográfica

CAMON, V. A. A Existencialismo e Psicologia. São Paulo: Taco, 1084.

CARDELA, B. H. P. A Construção do Psicoterapeuta: uma abordagem gestáltica.


São Paulo: Summus. 2002.

GINGER, S e GINGER, A Gestalt: uma terapia do contato. São Paulo: Summus,


1995.

HYCNER, R. De pessoa a Pessoa: uma psicoterapia dialógica. São Paulo: Summus,


1995.

RIBEIRO, J. P. Gestalt Terapia: refazendo um caminho. São Paulo: Summus, 1985.

RIBEIRO, J. P. Gestalt-terapia de Curta Duração. Summus, 1999.

YONTEF, G. M. Processo Dialógico e Awareness: ensaio em gestalt-terapia. São Paulo:


Summus, 1998.

Texto elaborado pelas psicólogas:


Helen Messias Guzmán
Kelly C. F. G. Shimohiro
Patrícia Daniele Constantin
Sueli Aparecida Sperandio

17
6 - GESTALT-TERAPIA E FENOMENOLOGIA

Para Buber (1975), a fenomenologia também utilizada como metodologia, é


incorporada a abordagem de Perls, como uma forma de buscar o singular, o particular e
o concreto dentro do ser aí, através das reduções fenomenológicas.
Convém deixar claro (afim de contextualização), a intencionalidade de Hursserl
ao criar a Fenomenologia.
Segundo MARQUES (1997), o ideal de Husserl, à semelhança de outros grandes
filósofos, era fazer da filosofia uma ciência primeira que servisse de base para toda e
qualquer ciência. Ao encontro desse ideal surge a fenomenologia husserliana que,
apesar de inovar incessantemente os meios pra efetivar o ideal proposto, teve um
desenvolvimento uniforme e sistemático na incansável busca por um conhecimento
absolutamente verdadeiro. É nesse sentido que, gradativamente, Husserl estruturou o
método fenomenológico enquanto caminho para a construção da ciência filosófica e
primeira em si.
Com a influência de sua formação –matemático- Husserl busca critérios
sistemáticos para dar à filosofia o (status) de ciência primeira, ciência das ciências. E
nesta busca, desenvolveu o método fenomenológico. Este é um método de análise da
realidade; propõe-se a busca pelas coisas mesmas, tal qual se apresentam para a
consciência, este é o fenômeno: como o objeto/ação/ato se apresenta à consciência.
A fenomenologia husserliana é a descrição (e não interpelação e/ou explicação)
da estrutura do fenômeno que se revela à consciência. É o caminho traçado por Husserl
para se chegar ao fenômeno mesmo, é a epochê ou redução fenomenológica.
Segundo ALMEIDA (1998), o método fenomenológico propõe colocar o mundo
entre parênteses, isto é, suspender por um momento todas as conquistas culturais, no
tempo e no espaço. Não significa negar a realidade do mundo exterior, mas tão somente
manifesto, sendo que o autentica mento manifesto não é apenas o ser pensado ou o ser
pensante, mas ambos. Redução é o colocar todo o “mundo natural”, o mundo fatídico e
suas teses à parte, deixando de usar como recurso didático, qualquer julgamento espaço-
temporal, desse mundo nada se afirma, nada se nega.
A redução fenomenológica procura ir às coisas mesmas, ou seja, contatar o
subjetivo no aqui-e-agora da experiência imediata, através do resgate da
intencionalidade da consciência, descrevendo, investigando e não explicando.
A redução fenomenológica de Husserl priva pela suspensão de tudo que não for
consciência naquele momento, colocando-nos em contato direto com o objetivo em si,
livre para experiência.
Segundo GINGER & GINGER (1995), a relação direta entre consciência e
fenômeno é o que é chamada dinamismo intencional, robusto elo que torna sujeito e
objeto inseparáveis, sem o qual consciência e mundo, separadamente, não podem ser
compreendidos.
A consciência se dá conta de que é consciência em relação a um objeto. O objeto
só é enquanto objeto de uma consciência. Não existe consciência do nada e o objeto não
existe se não for para uma consciência. A consciência é sempre consciência de algo e o
objeto é sempre objeto para uma consciência.
A Gestalt-Terapia é permeada em muitos dos seus pontos pela influência sofrida
da Fenomenologia de Husserl, quando, observa-se que a Gestalt-Terapia não dispõe de

18
uma teoria repleta de pressupostos e modelos acabados e fechada em si mesma,
percebe-se a influência da epochê (suspensão de valores, a priori), que deixa o território
livre para experiência imediata que se dá, afastando qualquer ideal de homem: o homem
é aquilo que se apresenta.
Para RIBEIRO (1985), fazer redução é encontrar-se com o cliente nele, com ele
e através dele, fazendo epochê, ou seja, colocando entre parênteses os preconceitos,
aprioris e pré-julgamentos. Com isso, levamos o cliente a atomar posse de si mesmo, de
suas sensações, percepções, de sua existência individualizada.
No enfoque ao material presente, a ênfase dada ao como de cada
comportamento, processo, sentimento e não no porquê destes, há de se notar a
influência da busca pelo fenômeno em si mesmo (que somente acontece no momento
presente) e no método descritivo (o como de cada fenômeno). É importante dizer que a
Gestalt_Terapia descarta a importância do porquê, pois entende que explicações e
detectar razões não têm efeito curativo, não modifica a experiência do cliente, não lhe
fornece self-suporte aumentando, não lhe contribui para ser mais autêntico no momento,
não lhe dá possibilidade de modificar ou se expropriar de comportamentos fixos
neuróticos.
A Gestalt-Terapia é uma terapia do aqui-e-agora, ou terapia do presente, entende
que é neste tempo e somente nele, que o homem é que o homem existe que o homem
cria que o homem se relaciona que o homem constrói a si e ao mundo. Portanto, é neste
tempo que o homem tem possibilidades de experenciar-se, de rever-se, de observar-se,
de sentir-se, de ter awarenes, de vivenciar-se e de transformar-se. É neste tempo
“presente” e tudo que ele implica (passado e futuro presentificados) que o homem vive
toda a sua vida. Logo a terapia somente pode existir também, se neste tempo. Este ponto
é justamente tão salientado nas entrelinhas do método fenomenológico de Husserl,
experiência imediata, abertura para o que ocorre no momento que se dá-fenômeno.
A redução fenomenológica procura ir às coisas mesmas, ou seja, contatar o
subjetivo no aqui-e-agora da experiência, através do resgate da intencionalidade da
consciência, investigando e não explicando.
A redução fenomenológica de Husserl priva pela suspensão de tudo que não for
consciência naquele momento, colocando-nos em contato direto com o objeto em si,
livre para a experiência.
E ainda, um postulado vital à fenomenologia é a intencionalidade da
consciência. A este respeito ALMEIDA (1998) afirma,

“A relação direta entre consciência e fenômeno é o


que é chamado dinamismo intencional robusto elo
que torna sujeito e objeto inseparáveis, sem o qual
a consciência e mundo: separadamente, não”.
Podem ser compreendidos”.

Na terapia do encontro que é Gestalt-Terapia está implícito o método


fenomenológico que traz para a atitude do terapeuta uma forma de descrever o
fenômeno ao invés de interpretar e a investigação, é feita através do “o que” acontece e
não pelo porquê, pois o porque leva a explicação fugindo do processo fenomenológico
não dando vazão às coisas mesmas ao fenômeno de ser de cada um a cada momento.

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Referência Bibliográfica

ALMEIDA, W.C. Psicoterapia Aberta- formas de encontro. São Paulo: Agora, 1988.

BULHER, C. Psicoterapia Existencial Humanista. Rio de Janeiro: Zahar: 1995.

GINGER, S e GINGER, A Gestalt: uma terapia do contato. São Paulo: Summus,


1995.

HUSSERL, E. Investigações Lógicas. São Paulo: Nova Cultura, 1988.

PERLS, F. S. A Abordagem Gestáltica e Testemunha Ocular da Terapia. Rio de


Janeiro: LTC-Livros Técnicas e Científicos Editora S.A, 1988.

MARQUES, J, Método fenomenológico em Husserl e em Heidegger: Filósofos


Goiânia. UFG. V2, Nº1, 1007.

RIBEIRO, J. P. Gestalt Terapia: refazendo um caminho. São Paulo: Summus, 1985.

Texto elaborado pelas psicólogas:


Helen Messias Guzmán
Kelly C. F. G. Shimohiro
Patrícia Daniele Constantin
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7 - GESTALT-TERAPIA E RELAÇÃO DIÁLOGICA

Relação é a terra firme e sólida onde se constroem o processo terapêutico na


Gestalt-Terapia. É esta é fundamentada na relação diálogo proposta por Martin Buber.
O diálogo se dá no domínio do “entre” (que abrange tanto o terapeuta quanto o
cliente). Quando duas pessoas se rendem ao entre, a possibilidade de relação Eu-Tu
emerge.
Segundo Buber há dois modos de existência Eu-Tu e o Eu-Isso.
O modo Eu-Isso envolve funções como o julgamento orientação e reflexão. O
homem não pode viver sem o Eu-Isso, mas se ele vive apenas no Eu-Isso ele não se
humaniza, pois só a relação Eu-Tu traz a realidade humana pessoal.
Essencialmente, a relação Eu-Tu ou diálogo pode ser vista como uma forma
específica do processo entre duas pessoas, através do qual cada pessoa realiza mais
plenamente suas distintas humanidades.
Para que o diálogo ocorra, certos elementos do inter-humano precisam estar
presentes. São eles:
1-Presença: alguém está presente quando não faz tentativa para influenciar o
outro ao vê-lo de acordo com a sua imagem. Se o terapeuta cura primariamente em
função de ser apreciado como um curador então o processo dialógico está interrompido.
O outro se torna um meio apenas, não um fim também.
2-Comunicação genuína e sem reserva é disposição para estar honestamente
envolvido e para dizer o que se acredita que servirá para criar condições para o diálogo
ou facilitar o processo, mesmo se está receoso de como elas serão recebidas. Sem
reserva não quer dizer que tudo deve ser dito e não possa haver silêncio. O silêncio deve
ser uma genuína resposta e não baseado na proteção de si mesmo ou do outro da própria
expressão. Em Gestalt-Terapia, a comunicação sem reserva surge da presença autêntica
do terapeuta e se espera que estas atitudes influenciem o cliente. É cura pelo encontro.
3-Inclusão: o terapeuta coloca-se respeitosamente e empaticamente no mundo
fenomenológico do cliente, onde tenta experiencia-lo como tal e aceitando-o como é.
Segundo Buber, o terapeuta deve sentir o outro lado, o lado do cliente no
relacionamento, como um toque corporal para saber como o cliente o sente. Inclusão é a
capacidade de se colocar no mundo do outro, com os olhos do outro sem perder a
própria individualidade.
4-Confirmação: O ato de confirmação requer que a pessoa entre no mundo
fenomenológico da outra sem julgamento. É a aceitação do outro tal qual ele é.

Referência Bibliográfica
JACOB, L- Diálogo na Teoria e na Terapia da Gestalt. The Gestalt Journal. Vol XII
nº01:1979.

Texto elaborado pelas psicólogas:


Helen Messias Guzmán
Kelly C. F. G. Shimohiro
Patrícia Daniele Constantin
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8 - TEORIAS DE FUNDO

As teorias que serão abordadas a seguir compreendem fontes que influenciaram


Perls na construção da Gestalt-terapia. Sendo portanto, por este motivo chamadas de
teorias de fundo: Psicanálise; Teoria de Reich; Psicologia da Gestalt; Teoria de Campo;
Teoria Organísmica e Filosofia Oriental.

• PSICANÁLISE

A influência da Psicanálise para a Gestalt-terapia é inegável, já que Perls além


de realizar análise por vários anos (como paciente), tornou-se ele próprio um
psicanalista, chegando mesmo a fundar o Instituto Sul-Africano de Psicanálise, em
Joannesburo, no ano de 1934.
No entanto, sua trajetória pessoal e profissional não ficou restrita à Psicanálise.
Ao contrário, não encontrando respostas que o tranqüilizasse (e muitas vezes, encontrou
decepção) nesta abordagem, caminhou até o nascimento da Gestalt-terapia, oficialmente
fundada em 1951.
A tabela a seguir trata das principais divergências entre Psicanálise e Gestalt-
terapia.

GESTALT-TERAPIA PSICANÁLISE
- ênfase no material óbvio – utilização do - ênfase no material recalcado – utilização
método fenomenológico (atenção ao do método da associação livre (atenção ao
fenômeno que se apresenta); passado);
- ênfase no presente – o fenômeno que se - ênfase no passado – material recalcado,
apresenta no aqui-e-agora (passado e experiências infantis primárias;
futuro presentificados);
- ênfase no como – que possibilita a - ênfase no porque – busca pela
investigação, a descrição, como o explicação, causa que determina os
fenômeno se apresenta singularmente sintomas;
àquele indivíduo;
- ênfase nas necessidades – todo indivíduo - ênfase na teoria dos instintos e da libido
possui um número enorme de – instinto de vida e de morte, energia
necessidades, que não necessariamente sexual: movido por esta energia e na
coincidem com as do outro, sendo que o busca pelo equilíbrio destes dois instintos,
organismo se organiza afim de equilibrar o organismo se move e se estrutura;
cada uma destas necessidades;
- terapia da concentração: concentração de - técnicas de interpretação e associação
terapeuta e cliente no fenômeno do aqui-e- livre – ênfase no passado e material
agora, percepção e conscientização intelectual;
(intelectual, afetiva e corporal) no
momento, o que dá condições para a
tomada da consciência – awareness;
- ênfase à forma de fuga da - análise da resistência (conteúdo) – a
conscientização – conscientização de resistência é apontada como um
como o cliente busca figir de si próprio, empecilho ao processo terapêutico;
respeito pela necessidade de fuga do
cliente;

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- valorização da relação EU-TU – o ponto - valorização da relação transferencial –
fundamental da terapia é a relação cliente- esta ocupa papel central para a eficiência
terapeuta, pautada no aqui-e-agora e na do processo terapêutico: não favendo uma
totalidade da pessoa, admite a projeção, relação de envolvimento pessoa-pessoa
mas não a coloca como papel de destaque entre terapeuta-cliente;
no processo;
- visão de mundo – pautada no - visão de mundo – pautada no
existencialismo, humanismo e racionalismo do século XIX, privilegiando
fenomenologia, resultando em uma visão o racional sobre quaisquer outros aspectos
global, que busca a totalidade de coisas e do homem.
de homem, não prevalecendo um aspecto
sobre o outro.

• TEORIA DE REICH

Perls também fez análise com Reich, na qual identificou-se enormemente com a
ênfase dada por este à linguagem corporal. Considerando a maior descoberta de Reich, a
de indentificar as resistências psíquicas em termos de couraça muscular.
Sendo esta a principal influência reichiana para a Gestalt-terapia: valorização da
linguagem e manifestação corporal. E assim, diferentemente da Psicanálise que
considera somente o material intelectual, a Gestalt-terapia considera como igualmente
importantes: mente e corpo (ambos são manifestações do indivíduo e portanto, merecem
atenção).

• GESTALT-PSICOLOGIA
A teoria da psicologia da Gestalt teve seu início no século XIX, na
Alemanha e Áustria, sendo gestalt uma palavra alemã, sem uma tradução
correspondente em português, mas que tem como seu significado forma, configuração,
reunião de partes de determinada forma, o que forma o todo.
Por si só este significado já sugere um conceito defendido pela teoria da Gestalt
Psicologia: as partes formando um todo. No entanto, não um todo dicotomizado que
seja resultado da soma das suas sub-partes; ao contrário, esta teoria veio a se contrapor à
análise atomística preponderante em sua época, onde o todo é analisado separadamente
de suas partes. Sendo este, o conceito fundamental da Psicologia ou Escola da Gestalt.
Um trabalho publicado em 1912 por Max Wertheimer e dois colegas –
Wolfgang Kohler e Kurt Kofka – representa o fundamento da Escola Gestáltica. E se
reporta à percepção de movimento: dois pontos de luz eram apresentados próximos um
do outro, variando o intervalo de tempo (movimento aparente); o que foi então
constatado é que o movimento que as pessoas percebiam dependiam das características
relacionadas dos estímulos e da sua organização neuronial e perceptiva num único
campo, e não de suas partes isoladas.
Como resultado de tal experimento houveram algumas reformulações a respeito
do processo perceptivo. Nas décadas de 20 a 40, a teoria da Escola Gestáltica foi
aplicada ao estudo da aprendizagem, resolução de problemas, motivação, psicologia
social e teoria da personalidade (Teoria de Campo de Kurt Lewin).

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A partir dos experimentos realizados acerca da percepção, pelos gestaltistas já
citados, chegou-se ao estabelecimento de determinadas leis para o fenômeno perceptivo,
sendo elas:
1. Lei Gestáltica da dinâmica entre figura e fundo: toda percepção ocorre em
figura e fundo. O que é percebido é a figura, o fundo não é percebido, embora
seja elemento estruturante do todo. O caráter da eleição do que seja figura e
fundo é reversível, ou seja, o que compõe figura num dado momento, em outro
compõe fundo (e vice-versa). Portanto, a percepção é seletiva, tentado dar a
melhor forma possível, promovendo o fechamento de estímulos ou de gestalten.
Assim, a seletividade da percepção ocorre em nome da busca por atender e
satisfazer as próprias necessidades, uma vez satisfeita, a percepção figura-fundo
tende a se modificar. No entanto, a dinâmica figura-fundo não é simples e linear,
muitas vezes uma necessidade não é satisfeita, não havendo o fechamento desta
gestalt, o que incorre na conseqüência que a dinâmica dessa gestalt aberta se
misturará com outras tendências neste campo, tomando o aspecto de um
“negócio não resolvido” e, interferindo em percepções posteriores. Denomina-se
de ponto cego, quando uma necessidade nunca assume o caráter de figura,
mantida sempre como fundo, também interferindo o processo perceptivo.
2. Lei Gestáltica da Semelhança: na percepção, os estímulos que possuem maior
semelhança, terão também maior possibilidade de serem agrupados.
3. Lei Gestáltica da Proximidade: nas mesmas condições, estímulos com maior
proximidade (temporal e/ou espacial) possuem maior possibilidade de serem
agrupados em nossa percepção.
4. Lei Gestáltica da Pregnância ou Boa Forma: os estímulos que formam uma boa
figura, terão a tendência de serem agrupados. A conclusão de uma tarefa
interrompida tem preponderância sobre a execução de outra tarefa da mesma
natureza, ou seja, a pessoa tende a buscar por fechar suas gestalten
interrompidas. Já que se abertas, interferem nas outras.

Estas leis da Escola da Gestalt são utilizadas por Perls na Gestalt-terapia. O que
deve ficar claro é que Gestalt Psicologia não é Gestalt-terapia. A primeira é anterior e
fica restrita ao campo da teoria e investigação, enquanto a foca a relação terapêutica.

O Campo Conceitual da Gestalt Psicologia:


Os comportamentos de uma pessoa estão vinculados ao campo que a mesma
percebe; mas muitas vezes, a percepção deste campo ocorre de maneira defeituosa,
gerando comportamentos não bem-sucedidos.
Perls também utiliza deste conceito elaborado pela Gestalt Psicologia, quando
propõe como objetivo central da Gestalt-terapia ajudar o cliente a perceber, sem
distorções, a si próprio e o campo. Este campo comportamental (o campo no qual o
comportamento se desenrola) é a relação entre o eu e o meio; existindo nesta relação
uma tendência à homeostase.

O Conceito de Homeostase da Gestalt Psicologia:


A homeostase entre o eu e o meio, pode ser perturbada por tensões que ocorram
em uma das partes, ou em ambas. Ou mesmo, o indivíduo agir voltado apenas a si,
ignorando o meio. E aí, dizem os psicólogos gestaltistas, a homeostase entre em
colapso, ou seja, o indivíduo está desequilibrado.
Este conceito também é utilizado por Perls, que baseia seu trabalho na auto-
regulação: o homem agem em nome da auto-regulação, sendo a saúde o equilíbrio e a

24
doença o desequilíbrio. E assim, o objetivo terapêutico é buscar a auto-regulação
inerente ao organismo humano.

A Ênfase ao Presente da Gestalt Psicologia:


A Gestalt Psicologia considerou que o comportamento era condicionado ao
campo de estimulação presente. O que, não significa que ignorou o passado e futuro,
mas vê que estes influenciam o comportamento através de suas presentificações
(passado e futuros vistos e sentidos através da ótica do presente).
Perls também concorda com esta idéia e propõe que a ênfase terapêutica deva
ser dada ao aqui-e-agora do comportamento, do fenômeno. Para ajudar o cliente a entrar
em contato com o momento presente, o gestaltista faz perguntas do tipo “o que” e
“como”, buscando promover uma consciência do agora. Estimula-se um diálogo no
tempo presente: o que está acontecendo neste momento? Como você está vivendo o seu
medo agora? O que está havendo agora?

• TEORIA DE CAMPO

A Teoria de Campo utilizada pela ciência da Psicologia tem forte influência do


conceito de campo da física. Sendo sua grande e primeira influência na Psicologia com
Max Wertheimer, Wolfgang Kohler e Kurt Kofka – representante da Psicologia da
Gestalt – que se ativeram à percepção e aprendizagem.
Kurt Lewin, outro psicólogo alemão, associou-se a Wertheimer e a Kohler, nos
anos pós primeira guerra mundial, na Universidade de Berlim. Entrando então em
contato com o que estes já haviam produzido acerca do campo perceptivo. Logo, fica
evidente a influência que Lewin recebeu deste na formulação de sua Teoria de Campo.
Para se ter uma melhor apreensão desta teoria é necessário averiguarmos suas
partes e então, seu todo. Já que esta é composta por muitos conceitos, todos interligados
entre si.

Estrutura da Personalidade
Levando-se em consideração a influência da física e química para o pensamento
de Lewin, este opta por representar a pessoa espacialmente, já que propõe ou acredita
que as representações espaciais possam ser tratadas matematicamente e as verbais,
podem ser inexatas e ambíguas.
Vemos aí, a tentativa de Lewin em “matematizar” os conceitos psicológicos,
afim de que estes fossem tratados como científicos.
Lewin representa a pessoa como um círculo: sendo esta entidade separada de
todo o resto que existe. O limite da pessoa é o limite do círculo (figura fechada).
Portanto, a pessoa é diferenciada de todo o resto do mundo, mas continua fazendo parte
de um todo, está inserida no resto do mundo.
Este sustenta que a estrutura da pessoa é heterogênea, isto é, composta por partes
separadas, mas interdependentes e intercomunicantes. Estas partes são: região percepto-
motora (parte mais externa, definida como parte que recebe as informações do meio e
também devolve a este) e região intrapessoal (esta está circundada pela percepto-motora
e é divida em células periféricas e células centrais). Nesta última, estão todas as
necessidades do indivíduo.

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Meio Psicológico
Lewin representa o meio psicológico através de uma elipse, sendo que dentro
desta está a pessoa. Faz parte deste, todo o fato que diz respeito à pessoa. Portanto, este
meio é subdividido em regiões, onde cada uma é formada por uma dado fato (como por
exemplo, eu tenho uma região do meu eu aluna, uma outra do meu eu mãe, outra de
minhas expectativas, etc...).
Lewin diz que todas as regiões do meio estão intercomunicadas, podendo
comunicar-se entre si. As regiões podem ter delimitações fracas ou fortes (conforme o
conteúdo, ou a forma como a pessoa se relaciona como ele); ter seu conteúdo rígido ou
flexível (isto é o conteúdo ser de fácil ou difícil acesso); serem distantes ou próximos.
Sabe-se que estas propriedades valem tanto para o meio quanto para a pessoa e também,
para a relação de ambos. Faz-se ainda importante ressaltar que tudo pode mudar a
qualquer momento, uma delimitação fraca pode tornar-se forte, um conteúdo rígido
pode tornar-se fluído, uma região próxima de outra pode afastar-se...
O meio tem suas regiões em número modificadas de acordo com os fatos
psicológicos que tem significado para a pessoa no momento. Ele se modifica tanto de
acordo com as necessidades do indivíduo, quanto com os acontecimentos que cercam
este indivíduo.
Os fatos principais da região intrapessoal são chamados de necessidades e os
fatos do meio, de valências.
A pessoa se locomove no meio a respeito de suas necessidades e valências.
Lewin salienta que para que um meio psicológico possa compreender uma situação
concreta de uma pessoa, faz-se essencial o conhecimento da posição desta pessoa em
seu meio psicológico.
A locomoção e comunicação são ocorrências da interação dos fatos. Mas hã de
se ter a consciência de que são fenômenos diferentes: locomoção – a pessoa move-se
através do meio; comunicação – as regiões da pessoa podem se comunicar. Locomoção
e comunicação obedecem três princípios: da conexão (ocorrência é sempre resultante da
interação de um ou mais fatos) da concreção (só os fatos que existem atualmente no
espaço vital podem ter efeito sobre a pessoa) e da contemporaneidade (só os fatos
presentes podem influenciar o comportamento da pessoa hoje).

Espaço Vital
Lewin define como espaço vital a somatória do meio e pessoa. Assim, o espaço
vital de cada pessoa é único e diferenciado. A elipse que delimita o meio é também
chamada de invólucro, ou seja, é o que separa o espaço vital do restante do mundo
(espaços não psicológicos).
O que determina ou influencia o comportamento da pessoa é o seu espaço vital.
E a tarefa do psicólogo, segundo Lewin, é deduzir o comportamento de determinada
pessoa da totalidade dos fatos psicológicos que existem no espaço vital dela, naquele
momento. É importante frisar que é “naquele momento” pois o espaço vital não é uma
constante e sim, está em contínua modificação. O espaço vital pode ainda comunicar-se
com o mundo físico (o que está fora do espaço vital daquela pessoa naquele momento).

Níveis de Realidade
Existem dois níveis de realidade: realidade (quando ocorre uma locomoção
verdadeira – como ir ao supermercado, caso você identifique a necessidade de comprar
alguma coisa que se venda lá) e irrealidade (quando ocorre locomoção imaginária – em
regiões da pessoa ou do meio, ou mesmo do invólucro externo).

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Dimensão de Tempo ou Perspectiva
Lewin coloca que só o tempo presente (portanto, o que existe no espaço vital no
momento) pode influenciar ou determinar o comportamento presente. No entanto,
ressalta que o passado e o futuro podem influenciar o comportamento presente a medida
que este forem entendidos passado e futuro psicológicos.

Dinâmica da Personalidade
Os principais conceitos dinâmicos da personalidade são: energia (sistema que
estrutura a pessoa, é o que lhe dá sustentação, liberada na busca pelo equilíbrio); tensão
(encontra-se na região intrapessoal e logo, é totalmente interna); necessidade (também
está na região intrapessoal, sendo ela que faz com que ocorra o aumento de tensão ou
liberação de energia na região intrapessoal; é o motivo da pessoa, pode ser físico, desejo
ou intenção de fazer algo; as necessidades são infinitas, cada homem tem necessidades
particulares); valência (é a propriedade que os fatos do meio psicológico possuem,
como sendo positivos ou negativos; é importante lembrar que as valências positivas
atraem e as negativas repelem); força ou vetor (estando sempre conectada com a
necessidade, é o que impulsiona, que fornece energia suficiente para que uma pessoa
realize locomoção).

Retorno ao Equilíbrio
Todos os processos psicológicos que ocorrem com o organismo tendem a um
objetivo: que a pessoa retorne ao estado de equilíbrio.

• TEORIA ORGANÍSMICA

Esta teoria tem como seu precursor filosófico Jan Smuts, o qual construiu a
palavra holismo da raiz grega holo: completo, inteiro, todo. Sendo que esta teoria tem
como seu princípio fundamental a consideração do organismo como um todo. E assim,
o organismo é visto sendo um unidade, qualquer parte afeta o todo e o todo afeta as
partes.
Fica então evidente que a Teoria Organísmica adota conceitos da psicologia
gestaltista. Diz-se que há de se considerar a Psicologia da Gestalt como uma Teoria
Organísmica, já que a primeira limita-se aos processos de aprendizagem e percepção e a
segunda, abrange o indivíduo como um todo: suas funções e relações.
E a Gestalt-terapia também pode ser considerada uma Teoria Organísmica, por
comungar de seus princípios e ater-se a totalidade do homem, nos seus mais variados e
possíveis aspectos.
Os principais expoentes da Teoria Organísmica são: Kurt Goldstein (1878-
1965), Andras Angyal (1902-1960) e Abraham Maslow (1908-1970).

Kurt Goldstein
Neuropsiquiatra, concluiu a partir de observações de soldados com lesões
cerebrais, da I Guerra Mundial, que um sintoma não podia ser compreendido a partir
apenas de uma lesão orgânica, senão a partir da consideração do organismo como um
todo, as partes influenciando o todo e o todo influenciando as partes. E assim, para que
seja possível a compreensão do funcionamento das partes do organismo, há de se

27
compreender como o organismo todo funciona enquanto totalidade – este é o principal
conceito da Teoria Organísmica.

Características
- Considera o organismo como um todo organizado, a desorganização é patológica,
sendo uma conseqüência do impacto do meio ambiente agressivo ou de anomalias
intrapsíquicas.
- Um elemento do todo nunca é considerado como parte diferenciada, mas sim
integrante do todo. Portanto, o funcionamento do todo não é igual o funcionamento de
suas partes, mas o funcionamento das partes integradas.
- É inerente ao homem a auto-realização e este, luta para realizar suas potencialidades, é
isto que o motiva.
- Dá ênfase nas potencialidades de crescimento do organismo em detrimento da
influência primária e diretiva do meio externo sobre o desenvolvimento deste. Assim, se
o meio for adequado, todo organismo se desenvolve de forma a construir uma
personalidade sã e integrada.
- A Teoria Organísmica transcende as bases da Psicologia da Gestalt, para além dos
processos de aprendizagem e percepção, generalizando para a compreensão do
organismo total.
- Acredita que seja possível um aprendizado maior tendo como objeto um organismo
em sua totalidade, ao invés de ter como objeto, a investigação de uma função isolada em
várias pessoas.

Estrutura do Organismo
A organização do organismo ocorre através do funcionamento de figura e fundo.
Figura: ocupa o centro de nossa atenção e de nossa ação, a principal atividade do
organismo. A figura tem um limite, um contorno bem definido. O fundo não, ele é o que
dá sustentação à figura, tornando possível que ela se sobressaia naquele momento. A
necessidade da pessoa é que faz com que ela eleja esta ou aquela figura.
Goldstein distingue as figuras como sendo naturais e não-naturais. A figura
natural apresenta uma preferência da própria pessoa e resulta em um comportamento
adequado, ordenado e flexível. Já a figura não-natural é algo imposto à pessoa,
resultando em um comportamento rígido e mecânico.
Goldstein também distingue três classes de comportamento: realização –
atividades voluntárias e conscientes; atitudes – sentimentos, humor e outras
experiências internas; processos – funções orgânicas experimentadas indiretamente.
Sendo que os comportamentos podem ser de duas naturezas: concreto – reagir a um
estímulo de maneira automática e direta; abstrato – reagir a um estímulo após pensar a
respeito dele.

A Dinâmica do Organismo
Para Goldstein há um energia constante e distribuída uniformemente por todo o
organismo, sendo este o estado normal do organismo.
Equalização/Centralização é o retorno da energia ao seu estado normal, após o
organismo ter sofrido um estímulo que mudou sua tensão. Um organismo saudável
busca sempre distribuir a tensão por ele todo.
O organismo funciona sempre de modo a buscar a auto-realização, para tanto
procura satisfazer suas necessidades. Este é um princípio orgânico, afim do
desenvolvimento pleno do mesmo. As motivações conscientes do indivíduo para a auto-
realização são mais importantes que a inconscientes, estas se caracterizam como fundo

28
para ao qual flui o material consciente, quando não necessário à auto-realização naquele
momento.
É importante ressaltar que para Goldstein, o organismo está em constante
interação com o meio, este podendo promover as condições adequadas à auto-realização
ou, opostamente, dificultá-la.

O Desenvolvimento do Organismo
Neste ponto, Goldstein defende a idéia de que a medida que o organismo se
desenvolve (o indivíduo envelhece), seu comportamento se torna mais uniforme,
ordenado e adequado ao ambiente.

Visão de Goldstein sobre o Sintoma


O sintoma é visto como uma forma de ajustamento .

• FILOSOFIA ORIENTAL

Taoísmo
A concepção de homem subjacente ao Taoísmo é a de um ser que para realizar-
se deve tornar-se integrado, isto é, suas forças conflitantes devem ser trazidas a
harmonia. Assim, ele passa a ser centrado, o que resulta em um estado espiritual de
esclarecimento: a unidade com todas as coisas para qual o homem flui. O Taoísmo
valoriza o inacabado, considerando que tudo o que é imperfeito é mobilizador de
transformação, mudança. Os contrários são fundamentalmente complementares (yin –
feminido; yang – masculino).

Zen-budismo
A concepção de homem implícita no Zen é a de um ser em busca de iluminação.
É a de alguém que precisa aprender ou reaprender a lidar consigo e com o mundo, de
uma maneira mais plena e total. Para que possa de fato, ser e encontrar a si mesmo e ao
mundo mesmo.
A busca da iluminação consiste em simplesmente viver a vida com a consciência
do aqui-e-agora.
“Um discípulo impaciente pela iluminação mais uma vez pergunta ao mestre,
na ocasião de uma refeição noturna: Mestre, qual o caminho da iluminação? O mestre
olhou e perguntou ao discípulo: Já acabou de tomar a sopa? O discípulo disse sim e o
mestre completou: então vá lavar a sua louça. O discípulo saiu irritado e sem
compreender. Nesta ocasião, o discípulo não entendeu que o mestre lhe havia
respondido, de uma maneira mais natural a sua questão.” De fato, para os zen-budistas
o caminho da iluminação é viver o seu aqui-e-agora.
No Zen dizemos que o homem só conhece o frio e o calor pelo contanto com as
coisas. Aqui tudo se explica pela experiência vivida.
Valoriza-se também a importância da não ação e passar sem cessar de uma coisa
a outra, a cada instante, com total despego.
É célebre a frase de Barry Stevens: “Nada é permanente: só a impermanência é
permanente.”
Aceitar a realidade – que é essencialmente impermanente – é também um
princípio fundamental e uma experimentação do Zen na prática do cotidiano. Observar a
emergência de seus próprios pensamentos, não fugir de nada e nada procurar.

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Referência Bibliográfica

BUROW, O. Gestaltpedagogia – um caminho para a escola e a educação. São Paulo:


Summus, 1985, cap. 2.

HALL, C.S. e LINDZEY, G. Teorias de Personalidade. São Paulo: EPEU, 1973.

Texto elaborado pelas psicólogas:


Helen Messias Guzmán
Kelly C. F. G. Shimohiro
Patrícia Daniele Constantin
Sueli Aparecida Sperandio

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9 - ALGUNS CONCEITOS IMPORTANTES EM GESTALT-TERAPIA

Self-Suporte
O self-suporte significa recursos próprios que o indivíduo desenvolve para
estabelecer contatos plenos na relação com o outro e com o mundo.
Segundo Carmo (2002) a psicoterapia deve desenvolver no cliente meios com
os quais ele possa lidar com problemas atuais e futuros e portanto, o desenvolvimento
do seu self-suporte. A cada problema ou situação “resolvida” a pessoa pode
desenvolver seu self-suporte.
Segundo Yontef (1998) o suporte mobiliza recursos para o contato ou para o
afastamento no meio, tornando-se essencial para um contato saudável.
No processo de psicoterapia ocorrerá o desenvolvimento gradativo do self-
suporte. O terapeuta será um facilitador desse ampliar, dessa passagem do apoio
ambiental para o auto-apoio, ou seja, o cliente irá aprender a desenvolver recursos
próprios para atender as suas necessidades, buscando no meio aquilo que necessita e
afastando-se do que lhe é tóxico.

Ajustamento Criativo
O ajustamento criativo acontece na fronteira de contato entre o indivíduo e o
meio, caracterizando a interação ativa e não a adaptação passiva da pessoa ao mundo. O
indivíduo irá reconhecer e lidar com o mundo, assumindo a responsabilidade pela busca
das condições que levarão ao seu bem estar.
Segundo Cardella (2002) quando a auto-regulação organísmica acha-se
prejudicada, ocorrerão ajustamentos criativos mal-sucedidos, surgirão dificuldades da
pessoa em sua relação com o meio, neste momento surge a necessidade da psicoterapia.
Na psicose, a pessoa está “cortada da realidade”. Nela não há mais ajustamento
criativo do organismo ao meio. A pessoa não responde claramente ao mundo exterior
nem às suas próprias necessidades.
Na neurose, o mundo exterior e as necessidades são percebidas, mas a resposta
do “eu” não é satisfatória. O ajustamento criativo não está de acordo com a necessária
hierarquia de necessidades. As respostas não são atualizadas (Ginger & Ginger, 1995).

Necessidades Emergentes: formação e destruição de Gestalt


Quando uma necessidade não está satisfeita, a gestalt torna-se incompleta,
inacabada, pressionando por fechamento, criando assim uma tensão. Portanto, quando
há situações de gestalten abertas, há necessariamente a interferência na capacidade do
indivíduo em responder a novas situações.
Só através da experiência é possível completar uma gestalt. Uma necessidade
surge e desaparece na medida que recebe atenção e é satisfeita.
Segundo Rodrigues (2003) toda experiência fica suspensa até que a pessoa a
conclua. O ser humano é capaz de tolerar certa quantidade de situações inacabadas,
porém toda a gestalt incompleta clama por um fechamento, cria uma tensão, de modo
que essas situações mal resolvidas interferem em seu momento atual, impedidno o seu
pleno crescimento e bem estar.
Para obter uma boa formação e destruição de gestalt o indivíduo deve eleger a
figura que represente sua maior necessidade atual. Porém, percebe-se que muitas vezes,
elegemos uma figura, mas é uma formação distorcida, sua real necessidade não foi
valorizada e atendida, a gestalt não foi fechada (Perls, Hefferlline e Goodman, 1997).

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O homem saudável identifica sem esforço a necessidade dominatne no
momento, sabe fazer escolhas para satisfazê-las e está sob o elfeito de um fluxo
permanete de formações e destruições de gestalten, movimento ligado a hierarquia de
suas necessidades. Haverá um processo dinâmico de aparecimento sucessivo de figuras,
em um primeiro plano, sobre o fundo da personalidade.

Awareness
Segundo Cardella (2002), outro conceito básico da abordagem gestáltica é o
conceito de awareness, ou numa tradução aproximada, presentificação, tornar-se
presente, concentração, conscientização, já que a palavra apresenta dificuldades de
tradução para o português.
A awareness refere-se a um fluxo de conscientização do principal evento do
campo indivíduo-meio com suporte sensório-motor-emocional-cognitivo.
Segundo a autora acima citada, é a awareness e a hierarquia de necessidades que
possibilitam ao indivíduo perceber e responder a sua necessidade predominante no
momento presente, ou seja, fechar uma gestalt para que novas se abram e o processo
homeostático flua dinamicamente.
A awareness é um processo que se modifica continuamente, pois é sempre
presente e portanto, fluida e dinâmica.
No processo terapêutico por meio da awareness, o cliente pode perceber como
impede, dificulta ou bloqueia sua comunicação e expressão; pode dar-se conta de
relações e significações até então desconhecidas, e assim, fechar gestalten inacabadas,
que podem ter resultado em sintomas.
A awareness é acompanhada por aceitação, ou seja, o processo de conhecimento
do próprio controle, a escolha e a resonsabilização pelo próprio sentimento e pelo
comportamento.
A awareness é experienciar e saber o que estou fazendo agora (e como). O agora
muda a cada momento – é um processo de orientação que se renova a cada instante.

Contato
Segundo Polster (2001), a função que sintetiza a necessidade de união e de
separação é o contato. Através desse contato, as pessoas podem encontrar o mundo
externo de uma maneira nutritiva. O contato só pode acontecer quando existe dois seres
separados. O contato é o reconhecimento do outro, é lidar com o outro que não é o eu, é
lidar com o novo, como o estranho.
O contato é todo tipo de relação viva que se estabelece na fronteira, na interação
entre o organismo e o ambiente.
A autora coloca que o contato é um dos processos fundamentais (além da
formação de gestalt e da awareness) que serve ao processo de auto-regulação
organísmica e ao ajustamento criativo.
O indivíduo precisa aproximar-se ou retrair-se na fronteira de contato afim de
satisfazer suas necessidades.

“O modo como uma pessoa faz contato consigo e com o mundo


expressa igualmente o grau de individuação, maturidade e
entrega com que alguém vive, em um dado momento. Sem
contato, tudo na natureza perde sentido, agoniza e morre.”
Ribeiro, 1995.

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A Gestalt-terapia está centrada no conceito de contato, na natureza das relações
de contato da pessoa consigo mesma e com o mundo.

Teoria Paradoxal da Mudança


A Gestalt-terapia estimula a pessoa a se conhecer priemiro e depois a se aceitar
tal como é, não buscando mudar para se adaptar a um modelo idealizado.
Segundo Yontef (1998), a identificação com seu próprio estado significa
conhecer a si mesmo, sua experiência, comportamento e situação presente.
Para o autor, quando um terapeuta lidera ou cura um paciente, na verdade ele
está conduzindo ou pressionando o paciente a ser diferente; e quanto mais o paciente é
posicionado em direção a um objetivo, mais ele permanecerá fundamentalmente o
mesmo. Forçar ou direcionar leva à resistência, então o paciente não só apresenta a
resistência ao seu funcionamento organísmico, mas agora também apresenta a
resistência à intrusão do terapeuta, esta última resistência é geralmente saudável.
Se a pessoa muda de acordo com o empurrão do terapeuta, não será com base
em autonomia e self-suporte e a pessoa não terá adquirido as ferramentas de como agir.
Esta situação pode levar a descobertas, mas geralmente sem ferramentas para
fazê-lo sem o terapeuta. No máximo, pode dar ao paciente a capacidade de fazer o que o
terapeuta induziu-o a fazer, o que tem um poder de generalização muito limitado.
Quando uma pessoa procura terapia ela quer mudanças, está se movimentando
entre “o que deveria ser” e “o que pensa que é”, nunca se identificando com nenhuma
das duas. Assim, o gestalt-terapeuta solicita para que a pessoa assuma totalmente os
seus papéis, quaisquer que eles sejam, para depois mudar para o outro.

Aqui e Agora
A Gestalt-terapia não preocupa-se em investigar o passado, mas leva o cliente a
experienciar situações inacabadas do passado no presente, no aqui e agora, afim de
completá-las e assimilá-las. (Fadman e Frager, 1986)
A Gestalt-terapia trabalha com o passado presentificado. A focalização do
passado é considerada por Perls como uma forma de evitar a confrontação com a
experiência completa do presente. O passado não é ignorado. Na Gestalt-terapia
acredita-se que os idnivíduos tendem a se agarra no passado, de modo a sustificar sua
falta de vontade em relação a assumirem a responsabilidade por si mesmos e por seu
crescimento.

Referências Bibliográficas

CARDELLA, B.F. A construção do psicoterapeuta: uma abordagem gesltáltica. São


Paulo: Summus, 2002.

FADIMAN, J. e FRAGER, R. Teorias da Personalidade. São Paulo: Ed. Haper and


Row do Brasil, 1979.

GINGER, S. & GINGER, A. Gestalt – Uma terapia do Contato. São Paulo: Summus,
1995.

PERLS, F. A Abordagem Gestáltica e a Testemunha Ocular da Terapia. Rio de


Janeiro: Guanabara, 1988.

33
PERLS, F. ; HEFFERLINE, R.; GOODMAN. P. Gestalt-terapia. São Paulo: Summus,
1997.

PERLS, F. Ego, Fome e Agressão. São Paulo: Summus, 2002.

POLSTER, E. & M. Gestalt-terapia Integrada. São Paulo: Summus, 2001.

RIBEIRO, J.P. Gestalt-terapia: Refazendo um Caminho. São Paulo: Summus, 1985.

RIBEIRO, J.P. Gestalt-terapia de curta duração. São Paulo: Summus, 1999.

RIBEIRO, J.P. Ciclo do Contato: gestalt temas básicos. Brasília: Ed. Ser, 1995.

YONTEF, G.M. Processo, Diálogo, Awareness: ensaios em Gestalt-terapia. São


Paulo: Summus, 1998.

Texto elaborado pelas psicólogas:


Helen Messias Guzmán
Kelly C. F. G. Shimohiro
Patrícia Daniele Constantin
Sueli Aparecida Sperandio

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10 - SAÚDE EM GESTALT-TERAPIA

Resumidamente saúde em Gestalt-terapia pode ser definido como: ser capaz de


identificar as necessidades, selecionar no meio os objetos capazes de sanar tais
necessidades e então agir afim de solucionar ou resolver a gestalt que ser formou, dentro
das possibilidades reais, da maneira que mais satisfaça o indivíduo e o meio.
No entanto, faz-se de suma importância examinar tal tema mais detalhadamente,
já que isto (a saúde) é o que busca o ser humano quando vai até a terapia e em
contrapartida, possibilitá-la é função nossa como terapeutas.
O homem possui de forma inata em seu organismo uma sabedoria, como está
salientado na teoira organísmica. Isto significa que no funcionamento livre do
organismo, a saúde flui para todos de forma espontânea e natural. Isto ocorreria caso
não houvesse limitações do meio que impusessem ao homem gratificações outras;
gratificações estas que, na maioria das vezes, vão contra o que o ser humano necessita
ou deseja para adaptar-se ao meio e suas exigências.
Há no senso comum conceitos estabelecidos para o que se cosntitui um
comportamento normal. Na modalidade estatística, normalidade significa aquilo que é
habitual, mais comum; já na normativa, normalidade significa aquilo que é feito
conforme as normas preestabelecidas como comportamentos “bons, desejáveis e
aceitáveis”.
Sobre este aspecto, o conceito que comoeçamos discutir a respeito de saúde, não
se encaixa em nenhuma de tais formulações, pois, não é pelo simples fato de um ato ser
habitual que este seja saudável para quem o pratica (modalidade estatística). Se assim o
fosse, poderíamos considerar saudável o ato de roubar para quem o pratica
corriqueiramente. Da mesma maneira, não podemos considerar um ato saudável por ser
praticado dentro das normas comumente aceitas ou consideraríamos saudável sob
quaisquer circunstâncias e para todas as pessoas, o ato de fumar e beber. Percebe-se
então que o conceito de saúde (e portanto, normalidade) não é de fácil construção, nem
simplista; requer em si uma análise profunda e detalhada.
Para nós, terapeutas, esta questão interessa em particular, jáque o
comportamento saudável e normal deve acontecer em psicoterapia. Porém, em Gestalt-
terapia não falamos em uma normalidade estanque que responde a um padrão único e
fechado; mas sim que possui um caráter de processo, que é individual (cada um vai
encontrar o ponto onde seu self possui o seu melhor funcionamento), que sta em
constante mudança e que leve o indivíduo a experiências de crescimento,
amadurecimento e aprendizagem.
Como parâmetro para comportamento normal em Gestalt-terapia encontra-se:
atualização constante do self, reintegração das estruturas neuróticas e crescimento
através da prática de novos comportamentos, aumentando as possibilidades do
indivíduo de ser mais autêntico.
Se estas são as bases para podermos verificar um comportamento saudável, o
que seria um comportamento neurótico? Seria aquele que em seu lugar evidentemente o
indivíduo poderia realizar comportamentos mais ajustados ao momento presente. É bom
lembrar que esta análise deve ser sempre criteriosa, levando-se em consideração o
homem concreto que se apresenta e o contexto no qual ele está inserido, assim como o
tempo.
Como já foi explicitado anteriormente, em Gestalt-terapia o conceito de saúde
está vinculado ao conceito holístico do self (integração entre o pensar, sentir e agir), o
que implica em várias habilidades por parte do indivíduo, sendo as principais:

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capacidade de discriminação figura e fundo, capacidade da melhor resolução possívell
das gestalten, capacidade de viver no presente.
Ilusoriamente poder-se-ia pensar que o estado de saúde requereria a ausência de
problemas. Logo seria impossível atingi-lo. No entanto, o indivíduo saudável pode estar
com vários problemas, porém o que realmente importa é a forma com que ele lida com
suas dificuldades. Ser flexível e buscar a satisfação possível são indícios de
comportamentos saudáveis. Os problemas podem existir, mas o que se faz com eles é a
grande diferença entre a neurose e a saúde. Lidar com eles de forma fixa, unilateral e
repetitiva faz parte da neurose; ao contrário, ser flexível, analisar o presente, buscar
respostas adequadas à situação experienciada, no momento e espaço definidos faz parte
da saúde.
Outra ilusão seria pensar que quem é saudável não erra. Quem age erra mais
cedo ou mais tarde. Na busca pelo acerto, pode-se errar e então procurar outra forma
mais adequada e satisfatória. Isto significa flexibilidade e, portanto, saúde. Não admitir
erros é radicalmente ser rígido, o que denota distância da saúde.
Ainda em relação a rigidez, pode-se afirmar que um outro aspecto da saúde é a
boa convivência, a aceitação da diferença. Assim uma pessoa mais saudável é capaz de
aceitar as diferenças em seu meio, lidando bem com elas.
Convivendo com as diferenças, sendo flexível, buscando adequar-se ao meio,
resolvendo bem suas gestalten. Um outro aspecto é a capacidade do indivíduo saudável
de arriscar-se. Isto significa que, em estado de saúde, a pessoa tem menos medo de
“embarcar” em uma nova situação, conhecer o novo, disponobilizar-se para diferentes
experiências. Mas, é preciso lembrar que saudável também é aquele que sabe vislumbrar
perigos, seus próprios limites e saber dizer não. Os aspectos da saúde e doença não
podem ser analisados indiscriminadamente, há sempre de ser realizada uma
contextualização para cada pessoa.
Há ainda dois aspectos da saúde que precisam ser explicitados, mas que se
encontram nas entrelinhas dos demais já levantados. Um deles é a capacidade de viver
no presente. A vida somente ocorre no tempo presente. O passado já nos fugiu das mãos
e o futuro é apenas suposição até que aconteça. Outro aspecto é a capacidade de estar
awareness (contato e consciência mais profunda de si mesmo, do meio e do campo),
sabendo que esta se dá no momento em que a pessoa se encontra. A awareness promove
crescimento, desenvolvimento e maturidade para o indivíduo.
Atendo-se um pouco mais a discussão dos aspectos da saúde, pode-se constatar
que todos têm estreita ligação entre si, ou seja: um reflete no outro, um depende do
outro para existir. A capacidade de ser criativo, a arte e o ato criativo em si são fortes
indícios de saúde.
Concluindo, podemos dizer que saúde é a integração do organismo com o meio,
através de ajustamentos criativos, de forma que isto satisfaça o indivíduo e este esteja
integrado ao meio. Sabemos que isto se dá pela destruição e formação de gestalt. E mais
uma vez reiteramos que os conflitos existentes não extinguem as possibilidades de
saúde para o indivíduo, mas requer dele mais criatividade para obter sua satisfação.
Quanto à sociedade, restrições nos são impostas por ela, porém isto não isenta a
possibilidade de uma vida autêntica e saudável, já que o homem – um ser de
possibilidades – pode utilizar de sua capacidade de ajustamentos criativos para
satisfazer da maneira que lhe é possível, a si e ao meio.

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Referência Bibliográfica
LATNER, J. The Gestalt-Therapy Book. Cap. 03
LATNER, J. Fundamento de la Gestalt. Chile: Quatro Vientos Editorial, 2004.

Texto elaborado pelas psicólogas:


Helen Messias Guzmán
Kelly C. F. G. Shimohiro
Patrícia Daniele Constantin
Sueli Aparecida Sperandio

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11 - OS EXPERIMENTOS NA ABORDAGEM GESTÁLTICA

Em Gestalt-terapia os experimentos ou técnicas não devem estar pré-


determinados, mas emergir das necessidades presentes na relação terapeuta-cliente. Isto
significa que os experimentos representam um instrumento de trabalho para o terapeuta,
que poderá valer-se destes no momento oportuno para facilitar que aflorem a vivência
de cada fenômeno e não o costumeiro “falar sobre”.
É importante que o terapeuta tenha familiaridade com os experimentos da
Gestalt-terapia, sabendo que estes podem ser criados ali, no momento do encontro.
Tendo em suspenso este arsenal do qual pode valer-se conforme as necessidades do
processo terapêutico.
O que seria incompatível à filosofia gestáltica é o terapeuta planejar
antecipadamente e de maneira cristalizada experimentos a serem utilizados com
determinado cliente. Uma palavra importante ao se reportar aos experimentos em
Gestalt-terapia é a emergência, o que significa atenção e cuidado no uso dos
experimentos para que estes sejam empregados de forma espontânea e fluída no
processo terapêutico.

Referência Bibliográfica

GINGER, S. Gestalt: Uma Terapia do Contanto. São Paulo: Summus Editorial, 1995.

Texto elaborado pelas psicólogas:


Helen Messias Guzmán
Kelly C. F. G. Shimohiro
Patrícia Daniele Constantin
Sueli Aparecida Sperandio

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