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Gestalt-terapia
2008
Índice
1–Histórico da Gestalt-terapia.........................................................................................03
4–Gestatalt-terapia e Humanismo...................................................................................14
5–Gestalt-terapia e Existencialismo................................................................................16
6–Gestalt-terapia e Fenomenologia.................................................................................18
8–Teorias de Fundo.........................................................................................................22
10–Saúde em Gestalt-terapia...........................................................................................35
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1- HISTÓRICO DA GESTALT-TERAPIA
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• FRIEDRICH SALOMOM PERLS
Nasceu em oito de julho de 1893, após um parto difícil a fórceps, num gueto
judeu do subúrbio de Berlim. Era o terceiro filho de um casal obscuro. Seu pai era
negociante de vinhos e depois negociante de Rotschild, estava sempre viajando. Era
charmoso, sedutor, irritadiço, violento e orgulhoso. Sua mãe era judia praticante,
apaixonada por teatro e ópera. O casal vivia em meio de conflitos e brigas violentas. O
pai afastou-se da família tanto física como psicologicamente.
Aos 10 anos (1903), Perls tornou-se cada vez mais insuportável, fazia bagunça
na escola, recusava-se a fazer os deveres, falsificava boletins, etc. Posteriormente, aos
13 anos, foi expulso da escola.
Perls matriculou-se em uma escola mais liberal, onde pôde desenvolver seu
gosto pelo teatro, que influenciou por toda a sua vida. Durante toda sua adolescência fez
curso de arte dramática e atuou como figurante, mesmo quando mais tarde passou a
estudar medicina. Foi profundamente influenciado por Max Reinhardt que desenvolveu
sua incrível habilidade de detectar sutilezas de entonação de voz e linguagem corporal,
tão explorado posteriormente em seu trabalho terapêutico.
Em, 1914, quando da declaração da guerra, Perls não foi aceito por má formação
cardíaca, porém, no ano seguinte, inscreveu-se como voluntário na cruz vermelha.
Participou da guerra nas trincheiras, onde presenciou pessoas sendo mortas a golpes de
martelo. Conservou por muito tempo seqüelas desse trauma, manifestando sinais de
despersonalização e indiferença total pelo meio.
Retornou seus estudos de medicina e em 1920, aos 27 anos, obteve seu
doutorado em medicina. Tornou-se neuropsiquiatra. Nessa época associaram-se a
políticos, filósofos, artistas, etc.; dissidentes da ordem estabelecida. Aí, encontrou
Salomon Friedlander, filósofo que escreveu ensaio tentando superar o dualismo
Kantiano, que desenvolve o conceito de “vazio fértil”, que influenciou decisivamente o
pensamento de Perls.
Aos 33 anos começou a fazer análise com Clara Happel, que durou um ano. Sua
análise foi interrompida de forma inesperada pela terapeuta, a qual sugeriu a Perls que
se instalasse como psicanalista imediatamente. Perls foi para Viena, onde recebeu seus
primeiros clientes.
Em 1928, já em Viena como psicanalista, retorna sua análise com Eugen
Harnick. Tal analista recomendava ao cliente para que não tomasse nenhuma decisão
importante durante o período de análise. Contrariando essa orientação, casou-se com
Laura, em 23 de agosto de 1929, ele tinha 36 anos e ela 24 anos.
Aconselhado por Karen Horney, iniciou em 1930 análise com Willian Reich.
Enfim sentiu-se compreendido e energizado.
Em 1933, fugiu da Alemanha, onde as perseguições aos judeus já haviam
começado. Escapou para a Holanda, abandonando todos os seus bens. Obteve permissão
para trabalhar em Amsterdã. Foi então que Ernest Jones lhe propôs emprego na África
do Sul.
ÁFRICA DO SUL
Instalou-se em Joannesburgo, em 1934 onde fundou o instituto Sul-Africano de
Psicanálise. Frietz e Lore tinham muitos clientes em tratamento, e outros em formação
didática para psicanalista. Logo se tornaram ricos e celebres.
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Em 1936, aconteceu um Congresso Internacional de Psicanálise de Praga. Perls
preparou uma comunicação sobre as “Resistências Orais”. Esperava submetê-la a
apreciação de Freud, porém a acolhida fria deste se transformou em um trauma do qual
nunca se recuperou.
A segunda decepção do congresso foi o encontro com Reich, onde este mal o
reconheceu e não se interessou pela sua trajetória. O terceiro choque foi a acolhida
glacial de seus colegas psicanalistas de sua comunidade.
Em 1940, desenvolveram-se suas teses e terminou a redação em seu primeiro
livro Ego, Hunger and Agression, escrito com colaboração de sua esposa. Desde esse
primeiro livro começou a esboçar noções que desembocariam nove anos mais tarde no
nascimento da Gestalt-Terapia.
Por ocasião da Segunda Guerra, alistou-se como oficial médico, onde
permaneceu durante quatro anos. Desinteressou-se cada vez mais da família, não
hesitava em agredi-los, reproduzindo assim o comportamento de seu próprio pai.
NOVA YORK
Aos 53 anos (1946), decidiu abandonar sua família, sua luxuosa mansão, sua
clientela e partiu para Nova York.
Em Nova York não foi bem acolhido pelos psicanalistas ortodoxos. Obteve
apoio de Karen Horney, Erich From e Clara Thopson; podendo assim refazer sua
clientela, e anos depois, sua família reuniu-se a ele.
O nascimento da Gestalt-Terapia deu-se em 1951, data do aparecimento da obra
coletiva Gestal-Therapy, que marcou o início oficial da nova prática. Em 1952, Fritz e
Laura criam o primeiro instituto de Gestalt-The Gestalt Instituto of New York,
seguindo em 1954, pelo de Cleveland. Logo Perls entregou a direção dos mesmos a
Laura, Goodman e Weiss, dando início a sua interminável peregrinação pelos EUA,
para divulgar o novo método, que por mais de 15 anos teve repercussão modesta.
Nos institutos citados acima nasceu a segunda geração de Gestaltistas, dentre
eles;Isadore From, Joseph Zinker e Miriam Pôster, etc.
FLÓRIDA
Aos 63 anos estava desanimado e cansado. Sua relação com Laura estava
desgastada. Sonhava em aposentar-se e terminar seus dias em Miami, Instalou-se aí,
triste e deprimido. Dirigiu alguns grupos esporádicos.
No ano seguinte recobrou o gosto pela vida ao apaixonar-se novamente,
romance esse que terminou algum tempo depois.
VIAGENS
Inicia um novo período errante. Em 1959 e 1960 foi várias vezes a Califórnia, a
São Francisco, a convite de Van Dusen; e a Los Angeles, a convite de Jim Slimkin. Nos
anos 70, ficou 18 meses em Israel numa pequena aldeia de jovens artistas, onde ficou
fascinado pela forma que viviam. Em seguida, foi ao Japão, onde permaneceu num
mosteiro Zen.
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ESALEN
Em 1963, encontrou-se com Michael Murphy, que herdara uma propriedade no
sul de São Francisco, ao qual dera o nome de Esalen. Murphy juntamente com seu
colega Richard Prince sonharam em criar ali um centro de desenvolvimento do
Potencial Humano. Convidaram Perls para realizar alguns laboratórios . Instalou-se
nesse local como residente, onde além dos laboratórios realizava um programa de
formação em Gestalt. Dois anos depois, seus laboratórios continuavam monótonos e
contava com pouco número de pessoas.
Começou a redigir suas memórias em 1967, e as publicou em 1969. Em 1968,
no auge da guerra do Vietnã e do movimento hippie, já aos 75 anos viveu seu apogeu.
Sua foto apareceu nos grandes seminários americanos, foi capa da life e eleito o Rei dos
Hippies.
Todos os fins de semana, Perls apresentava seu trabalho em grupo, onde
centenas de pessoas se aglomeravam para ver o seu número, não se tratava de terapia
profunda, mas demonstrações espetaculares.
COWICHAN (CANADÁ) I
Em 1969 adquiriu um velho hotel em cowichan, onde todos viviam em
comunidade, participavam do trabalho coletivo e faziam sessões de terapia ou de
formação. Ele declarou nessa época, que pela primeira vez na vida estava em paz.
No inverno seguinte, voltando de uma viagem à Europa, passou em Chicago
para dirigir um laboratório e faleceu em 14 de março de 1970, aos 77 anos.
Assim viveu Perls, o principal porta voz da Gestalt-Terapia, mesmo não tendo
sido propriamente o seu teórico.
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O casal Polster foi para San Diego, na Califórnia e posteriormente surgiram mais
dois grupos importantes para a Gestalt: o de São Francisco e o de Los Angeles, que irão
influenciar diretamente aqui no Brasil.
*Texto elaborado por Marta Carmo e revisado por Marisete Malaguth Mendonça.
Referência Bibliográfica
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DESENVOLMENTO DA GESTALT TERAPIA EM MARINGÁ
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2 - O QUE É GESTALT-TERAPIA
O que é Gestalt?
O que é Terapia?
O que é Gestalt-Terapia?
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Terapia é a arte do cuidado. De restabelecer a unidade ameaçada ou abalada. De
escutar o grito da parte delatora... porta voz da agonia do todo...de reconhecê-la como
indivíduo das comunidade organísmica, cuja FORMAÇÃO faz referência inevitável à
comunidade total.
De reconhecer a artificialidade de isolá-la ou retirá-la (o que às vezes acontece),
sob pena do Todo ser alterado e empobrecido (o que às vezes não conseguimos evitar).
Terapia é solidarizar o homem consigo mesmo. É apaziguar suas lutas internas,
de modo que cada aspecto seu possa enriquecer sua totalidade e ser enriquecido por ela.
Que para isso estamos neste mundo: para nos construímos em existência cada vez mais
complexa e mais completa.
O que é Gestalt-Terapia? É a arte de intervir naquilo que está fragmentando a
unidade. E de facilitar a solidarizarão com a unidade.
Mas toda terapia pretende a unidade da pessoa.
Em que se pode legitimar a identidade (ou originalidade) da Gestalt-Terapia?
Talvez na sua própria denominação: Gestalt.
No principio sob o qual é operacionalizada sua metodologia.
Que princípio? O de que a unidade é a inter-relação das partes e que estas
servem à unidade, e que a unidade serve a cada parte. De modo que nenhuma parte é
vista independente da totalidade na qual se insere o que essa totalidade está toda afetada
quando uma parte aparece em descompasso. Que esta denuncia, foi escolhida pelo todo
para levar ao mundo o seu pedido de socorro... ou a denúncia do seu descontentamento.
E a Gestalt-Terapia vai escutá-la. Atentamente. Minuciosamente. Sabendo que
ela tem todas as informações necessárias à compreensão da situação da sua comunidade.
O que aparece como queixa ou sintonia é levada em consideração incondicional,
examinado e explorado de todas as formas possíveis (via contato focalizado na queixa
ou sintoma). Porque sabemos que os escutarmos a queixa, ou “a parte afetada”, a
totalidade vai-se revelando, o sentido da queixa se elucida, e podemos ver como a
queixa foi a denuncia mais adequada possível, às vezes dramática, do risco de
desintegração (de formação), em condições caóticas, do campo. Na Gestalt-Terapia
pretende que a pessoa descubra formas mais eficazes (o mesmo que mais autenticas) de
integração. Que ouse arriscar, experimentar novo comportamento integrador, antes de
abandonar sob a relativa segurança do suporte terapêutico.
Por isso, consideramos o evento terapêutico como uma “situação emergencial
segura” – onde emergem necessidades e experiências de novos comportamentos sob a
relativa segurança do suporte terapêutico.
Por isso, consideramos o evento terapêutico como uma “situação emergencial
segura” – onde emergem necessidades e experiências de novos comportamentos sob a
relativa segurança do suporte terapêutico.
Aí está à originalidade da Gestalt-Terapia. Ela é fundamentalmente experiêncial.
Através de sua metodologia dialógica e experimental, orienta o cliente, durante todo o
tempo, a dar-se conta de suas experiências (de suas sensações, sentimentos, idéias,
posturas corporais). E de arriscar uma experiência nunca antes arriscada, e de avaliar os
resultados via sua própria informação organísmica.
A capacidade de cliente de se auto-regular é uma confiança firmada no gestalt-
terapeuta. Por isso o incentivo a se experienciar. De todas as formas possíveis no
momento. Às vezes contando a sua história.
Para esse experienciar? Porque acreditamos que toda perturbação da unidade
solidária do funcionamento humano provém das interrupções do experienciar.
Interrompemos a formação das gestalten, dos todos sensóriais, perceptivos,
emocionais, intelectuais, que o organismo necessita formar para captar o sentido e a
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adequação de sua atuação no meio... E nos tornamos confusos, perdidos, sem saber o
que fazer como fazer, se fazer... Ou fazemos de forma inadequada (deformada).
Perdemos o referencial; as informações organísmicas que nos dariam todo o
suporte necessário às nossas decisões... À nossa atuação ou não atuação no mundo.
Na Gestalt-Terapia trabalha no sentido de restabelecer o contato que foi
interrompido, primeiro consigo mesmo...depois com o outro (fenômeno também de
natureza circular).
Tentamos restabelecer o diálogo. Através do próprio diálogo-que em si é uma
nova experiência restauradora-e dos experimentos emergidos ou sugeridos pelo diálogo,
que visam apenas restabelecer o contato, examinar as interrupções, avaliar sua
pertinência, ou sua nocividade. Abandonar algumas, conservar outras, agora com plena
consciência, autonomia e responsabilidade pelo que se está fazendo.
Dito de outro modo apropria-me de mim, e ao fazê-lo, aproprio-me da coragem
de ser-que é idêntica à experiência da Unidade.
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3 - A CONCEPÇÃO DE HOM EM GESTALT-TERAPIA
O Homem como ser digno de confiança: o homem é tomado como fim porque ele está
sempre por se fazer. Não há outro legislador além dele próprio. “As coisas são, só o
homem existe” (Heidegger, 1979). Profunda crença nas potencialidades e possibilidades
humanas.
O Homem como ser de totalidades: o homem não é composto por partes, mas é uma
Gestalt. É um ser biopsicossocial e só pode ser entendido se o conhecemos como um
todo. O conhecimento de apenas partes deste homem leva os inúmeros enganos. O
homem só pode ser entendido como uma Gestalt. Perceber o homem como uma
totalidade implica tanto em estar atento para a figura, quanto ao fundo e à articulação de
ambas. Há uma parte vivida que prende nossa atenção – a ela denominamos figura.
Além dela, há as partes restantes, denominadas de fundo.
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CAMON, V. A. A Existencialismo e Psicologia. São Paulo: Taco, 1084
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4 - GESTALT-TERAPIA E HUMANISMO
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A psicoterapia humanista lida com que o homem sente, pensa e faz, com o todo,
cliente e psicoterapeuta fazem vínculo através da relação.
A relação em si torna possível conhecer o ser, e de dar vazão ao vir a ser. Cada
instante traz em si a possibilidade de vir a ser, o ponto de começar ou de recomeçar é
aqui e agora. Onde se está é o começo e este começo me revela a providência buscada.
Partindo da teoria humanista essa relação, considerando que o terapeuta é
humano como o cliente, este não deve dar respostas prontas e acabadas, mas deve
mostrar que a pessoa deve conhecer e saber o melhor caminho para ela.
Dessa forma, fica claro que o terapeuta ajuda o ciente a reorganizar sua vida,
acreditando que ele é capaz de gerir-se e auto-regular-se. Ajuda o cliente a ver seus
pontos positivos, ou seja; que ele sabe qual é o melhor caminho a seguir.
Para GINGER E GINGER (1995), o humanismo “é uma forma de devolver ao
homem toda sua dignidade, seu direito ao respeito em todas as suas dimensões”.
Na reflexão humanista faz-se necessário completar “o todo” do pressuposto
filosófico, atentando-se a visão existencial e fenomenológica, fechando esse ciclo.
Referência Bibliográfica
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5 - GESTALT-TERAPIA E EXISTENCIALISMO
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A abordagem Gestáltica também faz um apelo constante à liberdade humana, a
individualidade, a responsabilidade pessoal e coerente. Ela vai além dos sentimentos de
massa, dos valores introjetados e não assumidos. Assim, o terapeuta encontra seu cliente
através de relações sinceras e imediatas e desafia as manifestações do mesmo, sem
rejeitá-las como pessoa.
Para os Gestalt-terapeutas, a relação terapêutica é um encontro existencial, onde
o psicoterapeuta é convidado a liberar sua espontaneidade e atribuir maior peso na
relação com o cliente, sendo sempre ativo, porém não diretivo e disposto a acompanhá-
lo na difícil tarefa de fechar suas gestalten abertas.
O terapeuta se insere nesse quadro, como consultor desse projeto que é a vida de
seu cliente. Na medida que o indivíduo toma consciência do seu projeto, da forma como
o realiza, como leva adiante, até que este experiêncie o conceito de si mesmo. No
processo terapêutico vai obtendo resposta, onde as figuras se configuram e as gestalten
se fecham.
Referência Bibliográfica
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6 - GESTALT-TERAPIA E FENOMENOLOGIA
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uma teoria repleta de pressupostos e modelos acabados e fechada em si mesma,
percebe-se a influência da epochê (suspensão de valores, a priori), que deixa o território
livre para experiência imediata que se dá, afastando qualquer ideal de homem: o homem
é aquilo que se apresenta.
Para RIBEIRO (1985), fazer redução é encontrar-se com o cliente nele, com ele
e através dele, fazendo epochê, ou seja, colocando entre parênteses os preconceitos,
aprioris e pré-julgamentos. Com isso, levamos o cliente a atomar posse de si mesmo, de
suas sensações, percepções, de sua existência individualizada.
No enfoque ao material presente, a ênfase dada ao como de cada
comportamento, processo, sentimento e não no porquê destes, há de se notar a
influência da busca pelo fenômeno em si mesmo (que somente acontece no momento
presente) e no método descritivo (o como de cada fenômeno). É importante dizer que a
Gestalt_Terapia descarta a importância do porquê, pois entende que explicações e
detectar razões não têm efeito curativo, não modifica a experiência do cliente, não lhe
fornece self-suporte aumentando, não lhe contribui para ser mais autêntico no momento,
não lhe dá possibilidade de modificar ou se expropriar de comportamentos fixos
neuróticos.
A Gestalt-Terapia é uma terapia do aqui-e-agora, ou terapia do presente, entende
que é neste tempo e somente nele, que o homem é que o homem existe que o homem
cria que o homem se relaciona que o homem constrói a si e ao mundo. Portanto, é neste
tempo que o homem tem possibilidades de experenciar-se, de rever-se, de observar-se,
de sentir-se, de ter awarenes, de vivenciar-se e de transformar-se. É neste tempo
“presente” e tudo que ele implica (passado e futuro presentificados) que o homem vive
toda a sua vida. Logo a terapia somente pode existir também, se neste tempo. Este ponto
é justamente tão salientado nas entrelinhas do método fenomenológico de Husserl,
experiência imediata, abertura para o que ocorre no momento que se dá-fenômeno.
A redução fenomenológica procura ir às coisas mesmas, ou seja, contatar o
subjetivo no aqui-e-agora da experiência, através do resgate da intencionalidade da
consciência, investigando e não explicando.
A redução fenomenológica de Husserl priva pela suspensão de tudo que não for
consciência naquele momento, colocando-nos em contato direto com o objeto em si,
livre para a experiência.
E ainda, um postulado vital à fenomenologia é a intencionalidade da
consciência. A este respeito ALMEIDA (1998) afirma,
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Referência Bibliográfica
ALMEIDA, W.C. Psicoterapia Aberta- formas de encontro. São Paulo: Agora, 1988.
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7 - GESTALT-TERAPIA E RELAÇÃO DIÁLOGICA
Referência Bibliográfica
JACOB, L- Diálogo na Teoria e na Terapia da Gestalt. The Gestalt Journal. Vol XII
nº01:1979.
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8 - TEORIAS DE FUNDO
• PSICANÁLISE
GESTALT-TERAPIA PSICANÁLISE
- ênfase no material óbvio – utilização do - ênfase no material recalcado – utilização
método fenomenológico (atenção ao do método da associação livre (atenção ao
fenômeno que se apresenta); passado);
- ênfase no presente – o fenômeno que se - ênfase no passado – material recalcado,
apresenta no aqui-e-agora (passado e experiências infantis primárias;
futuro presentificados);
- ênfase no como – que possibilita a - ênfase no porque – busca pela
investigação, a descrição, como o explicação, causa que determina os
fenômeno se apresenta singularmente sintomas;
àquele indivíduo;
- ênfase nas necessidades – todo indivíduo - ênfase na teoria dos instintos e da libido
possui um número enorme de – instinto de vida e de morte, energia
necessidades, que não necessariamente sexual: movido por esta energia e na
coincidem com as do outro, sendo que o busca pelo equilíbrio destes dois instintos,
organismo se organiza afim de equilibrar o organismo se move e se estrutura;
cada uma destas necessidades;
- terapia da concentração: concentração de - técnicas de interpretação e associação
terapeuta e cliente no fenômeno do aqui-e- livre – ênfase no passado e material
agora, percepção e conscientização intelectual;
(intelectual, afetiva e corporal) no
momento, o que dá condições para a
tomada da consciência – awareness;
- ênfase à forma de fuga da - análise da resistência (conteúdo) – a
conscientização – conscientização de resistência é apontada como um
como o cliente busca figir de si próprio, empecilho ao processo terapêutico;
respeito pela necessidade de fuga do
cliente;
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- valorização da relação EU-TU – o ponto - valorização da relação transferencial –
fundamental da terapia é a relação cliente- esta ocupa papel central para a eficiência
terapeuta, pautada no aqui-e-agora e na do processo terapêutico: não favendo uma
totalidade da pessoa, admite a projeção, relação de envolvimento pessoa-pessoa
mas não a coloca como papel de destaque entre terapeuta-cliente;
no processo;
- visão de mundo – pautada no - visão de mundo – pautada no
existencialismo, humanismo e racionalismo do século XIX, privilegiando
fenomenologia, resultando em uma visão o racional sobre quaisquer outros aspectos
global, que busca a totalidade de coisas e do homem.
de homem, não prevalecendo um aspecto
sobre o outro.
• TEORIA DE REICH
Perls também fez análise com Reich, na qual identificou-se enormemente com a
ênfase dada por este à linguagem corporal. Considerando a maior descoberta de Reich, a
de indentificar as resistências psíquicas em termos de couraça muscular.
Sendo esta a principal influência reichiana para a Gestalt-terapia: valorização da
linguagem e manifestação corporal. E assim, diferentemente da Psicanálise que
considera somente o material intelectual, a Gestalt-terapia considera como igualmente
importantes: mente e corpo (ambos são manifestações do indivíduo e portanto, merecem
atenção).
• GESTALT-PSICOLOGIA
A teoria da psicologia da Gestalt teve seu início no século XIX, na
Alemanha e Áustria, sendo gestalt uma palavra alemã, sem uma tradução
correspondente em português, mas que tem como seu significado forma, configuração,
reunião de partes de determinada forma, o que forma o todo.
Por si só este significado já sugere um conceito defendido pela teoria da Gestalt
Psicologia: as partes formando um todo. No entanto, não um todo dicotomizado que
seja resultado da soma das suas sub-partes; ao contrário, esta teoria veio a se contrapor à
análise atomística preponderante em sua época, onde o todo é analisado separadamente
de suas partes. Sendo este, o conceito fundamental da Psicologia ou Escola da Gestalt.
Um trabalho publicado em 1912 por Max Wertheimer e dois colegas –
Wolfgang Kohler e Kurt Kofka – representa o fundamento da Escola Gestáltica. E se
reporta à percepção de movimento: dois pontos de luz eram apresentados próximos um
do outro, variando o intervalo de tempo (movimento aparente); o que foi então
constatado é que o movimento que as pessoas percebiam dependiam das características
relacionadas dos estímulos e da sua organização neuronial e perceptiva num único
campo, e não de suas partes isoladas.
Como resultado de tal experimento houveram algumas reformulações a respeito
do processo perceptivo. Nas décadas de 20 a 40, a teoria da Escola Gestáltica foi
aplicada ao estudo da aprendizagem, resolução de problemas, motivação, psicologia
social e teoria da personalidade (Teoria de Campo de Kurt Lewin).
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A partir dos experimentos realizados acerca da percepção, pelos gestaltistas já
citados, chegou-se ao estabelecimento de determinadas leis para o fenômeno perceptivo,
sendo elas:
1. Lei Gestáltica da dinâmica entre figura e fundo: toda percepção ocorre em
figura e fundo. O que é percebido é a figura, o fundo não é percebido, embora
seja elemento estruturante do todo. O caráter da eleição do que seja figura e
fundo é reversível, ou seja, o que compõe figura num dado momento, em outro
compõe fundo (e vice-versa). Portanto, a percepção é seletiva, tentado dar a
melhor forma possível, promovendo o fechamento de estímulos ou de gestalten.
Assim, a seletividade da percepção ocorre em nome da busca por atender e
satisfazer as próprias necessidades, uma vez satisfeita, a percepção figura-fundo
tende a se modificar. No entanto, a dinâmica figura-fundo não é simples e linear,
muitas vezes uma necessidade não é satisfeita, não havendo o fechamento desta
gestalt, o que incorre na conseqüência que a dinâmica dessa gestalt aberta se
misturará com outras tendências neste campo, tomando o aspecto de um
“negócio não resolvido” e, interferindo em percepções posteriores. Denomina-se
de ponto cego, quando uma necessidade nunca assume o caráter de figura,
mantida sempre como fundo, também interferindo o processo perceptivo.
2. Lei Gestáltica da Semelhança: na percepção, os estímulos que possuem maior
semelhança, terão também maior possibilidade de serem agrupados.
3. Lei Gestáltica da Proximidade: nas mesmas condições, estímulos com maior
proximidade (temporal e/ou espacial) possuem maior possibilidade de serem
agrupados em nossa percepção.
4. Lei Gestáltica da Pregnância ou Boa Forma: os estímulos que formam uma boa
figura, terão a tendência de serem agrupados. A conclusão de uma tarefa
interrompida tem preponderância sobre a execução de outra tarefa da mesma
natureza, ou seja, a pessoa tende a buscar por fechar suas gestalten
interrompidas. Já que se abertas, interferem nas outras.
Estas leis da Escola da Gestalt são utilizadas por Perls na Gestalt-terapia. O que
deve ficar claro é que Gestalt Psicologia não é Gestalt-terapia. A primeira é anterior e
fica restrita ao campo da teoria e investigação, enquanto a foca a relação terapêutica.
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doença o desequilíbrio. E assim, o objetivo terapêutico é buscar a auto-regulação
inerente ao organismo humano.
• TEORIA DE CAMPO
Estrutura da Personalidade
Levando-se em consideração a influência da física e química para o pensamento
de Lewin, este opta por representar a pessoa espacialmente, já que propõe ou acredita
que as representações espaciais possam ser tratadas matematicamente e as verbais,
podem ser inexatas e ambíguas.
Vemos aí, a tentativa de Lewin em “matematizar” os conceitos psicológicos,
afim de que estes fossem tratados como científicos.
Lewin representa a pessoa como um círculo: sendo esta entidade separada de
todo o resto que existe. O limite da pessoa é o limite do círculo (figura fechada).
Portanto, a pessoa é diferenciada de todo o resto do mundo, mas continua fazendo parte
de um todo, está inserida no resto do mundo.
Este sustenta que a estrutura da pessoa é heterogênea, isto é, composta por partes
separadas, mas interdependentes e intercomunicantes. Estas partes são: região percepto-
motora (parte mais externa, definida como parte que recebe as informações do meio e
também devolve a este) e região intrapessoal (esta está circundada pela percepto-motora
e é divida em células periféricas e células centrais). Nesta última, estão todas as
necessidades do indivíduo.
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Meio Psicológico
Lewin representa o meio psicológico através de uma elipse, sendo que dentro
desta está a pessoa. Faz parte deste, todo o fato que diz respeito à pessoa. Portanto, este
meio é subdividido em regiões, onde cada uma é formada por uma dado fato (como por
exemplo, eu tenho uma região do meu eu aluna, uma outra do meu eu mãe, outra de
minhas expectativas, etc...).
Lewin diz que todas as regiões do meio estão intercomunicadas, podendo
comunicar-se entre si. As regiões podem ter delimitações fracas ou fortes (conforme o
conteúdo, ou a forma como a pessoa se relaciona como ele); ter seu conteúdo rígido ou
flexível (isto é o conteúdo ser de fácil ou difícil acesso); serem distantes ou próximos.
Sabe-se que estas propriedades valem tanto para o meio quanto para a pessoa e também,
para a relação de ambos. Faz-se ainda importante ressaltar que tudo pode mudar a
qualquer momento, uma delimitação fraca pode tornar-se forte, um conteúdo rígido
pode tornar-se fluído, uma região próxima de outra pode afastar-se...
O meio tem suas regiões em número modificadas de acordo com os fatos
psicológicos que tem significado para a pessoa no momento. Ele se modifica tanto de
acordo com as necessidades do indivíduo, quanto com os acontecimentos que cercam
este indivíduo.
Os fatos principais da região intrapessoal são chamados de necessidades e os
fatos do meio, de valências.
A pessoa se locomove no meio a respeito de suas necessidades e valências.
Lewin salienta que para que um meio psicológico possa compreender uma situação
concreta de uma pessoa, faz-se essencial o conhecimento da posição desta pessoa em
seu meio psicológico.
A locomoção e comunicação são ocorrências da interação dos fatos. Mas hã de
se ter a consciência de que são fenômenos diferentes: locomoção – a pessoa move-se
através do meio; comunicação – as regiões da pessoa podem se comunicar. Locomoção
e comunicação obedecem três princípios: da conexão (ocorrência é sempre resultante da
interação de um ou mais fatos) da concreção (só os fatos que existem atualmente no
espaço vital podem ter efeito sobre a pessoa) e da contemporaneidade (só os fatos
presentes podem influenciar o comportamento da pessoa hoje).
Espaço Vital
Lewin define como espaço vital a somatória do meio e pessoa. Assim, o espaço
vital de cada pessoa é único e diferenciado. A elipse que delimita o meio é também
chamada de invólucro, ou seja, é o que separa o espaço vital do restante do mundo
(espaços não psicológicos).
O que determina ou influencia o comportamento da pessoa é o seu espaço vital.
E a tarefa do psicólogo, segundo Lewin, é deduzir o comportamento de determinada
pessoa da totalidade dos fatos psicológicos que existem no espaço vital dela, naquele
momento. É importante frisar que é “naquele momento” pois o espaço vital não é uma
constante e sim, está em contínua modificação. O espaço vital pode ainda comunicar-se
com o mundo físico (o que está fora do espaço vital daquela pessoa naquele momento).
Níveis de Realidade
Existem dois níveis de realidade: realidade (quando ocorre uma locomoção
verdadeira – como ir ao supermercado, caso você identifique a necessidade de comprar
alguma coisa que se venda lá) e irrealidade (quando ocorre locomoção imaginária – em
regiões da pessoa ou do meio, ou mesmo do invólucro externo).
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Dimensão de Tempo ou Perspectiva
Lewin coloca que só o tempo presente (portanto, o que existe no espaço vital no
momento) pode influenciar ou determinar o comportamento presente. No entanto,
ressalta que o passado e o futuro podem influenciar o comportamento presente a medida
que este forem entendidos passado e futuro psicológicos.
Dinâmica da Personalidade
Os principais conceitos dinâmicos da personalidade são: energia (sistema que
estrutura a pessoa, é o que lhe dá sustentação, liberada na busca pelo equilíbrio); tensão
(encontra-se na região intrapessoal e logo, é totalmente interna); necessidade (também
está na região intrapessoal, sendo ela que faz com que ocorra o aumento de tensão ou
liberação de energia na região intrapessoal; é o motivo da pessoa, pode ser físico, desejo
ou intenção de fazer algo; as necessidades são infinitas, cada homem tem necessidades
particulares); valência (é a propriedade que os fatos do meio psicológico possuem,
como sendo positivos ou negativos; é importante lembrar que as valências positivas
atraem e as negativas repelem); força ou vetor (estando sempre conectada com a
necessidade, é o que impulsiona, que fornece energia suficiente para que uma pessoa
realize locomoção).
Retorno ao Equilíbrio
Todos os processos psicológicos que ocorrem com o organismo tendem a um
objetivo: que a pessoa retorne ao estado de equilíbrio.
• TEORIA ORGANÍSMICA
Esta teoria tem como seu precursor filosófico Jan Smuts, o qual construiu a
palavra holismo da raiz grega holo: completo, inteiro, todo. Sendo que esta teoria tem
como seu princípio fundamental a consideração do organismo como um todo. E assim,
o organismo é visto sendo um unidade, qualquer parte afeta o todo e o todo afeta as
partes.
Fica então evidente que a Teoria Organísmica adota conceitos da psicologia
gestaltista. Diz-se que há de se considerar a Psicologia da Gestalt como uma Teoria
Organísmica, já que a primeira limita-se aos processos de aprendizagem e percepção e a
segunda, abrange o indivíduo como um todo: suas funções e relações.
E a Gestalt-terapia também pode ser considerada uma Teoria Organísmica, por
comungar de seus princípios e ater-se a totalidade do homem, nos seus mais variados e
possíveis aspectos.
Os principais expoentes da Teoria Organísmica são: Kurt Goldstein (1878-
1965), Andras Angyal (1902-1960) e Abraham Maslow (1908-1970).
Kurt Goldstein
Neuropsiquiatra, concluiu a partir de observações de soldados com lesões
cerebrais, da I Guerra Mundial, que um sintoma não podia ser compreendido a partir
apenas de uma lesão orgânica, senão a partir da consideração do organismo como um
todo, as partes influenciando o todo e o todo influenciando as partes. E assim, para que
seja possível a compreensão do funcionamento das partes do organismo, há de se
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compreender como o organismo todo funciona enquanto totalidade – este é o principal
conceito da Teoria Organísmica.
Características
- Considera o organismo como um todo organizado, a desorganização é patológica,
sendo uma conseqüência do impacto do meio ambiente agressivo ou de anomalias
intrapsíquicas.
- Um elemento do todo nunca é considerado como parte diferenciada, mas sim
integrante do todo. Portanto, o funcionamento do todo não é igual o funcionamento de
suas partes, mas o funcionamento das partes integradas.
- É inerente ao homem a auto-realização e este, luta para realizar suas potencialidades, é
isto que o motiva.
- Dá ênfase nas potencialidades de crescimento do organismo em detrimento da
influência primária e diretiva do meio externo sobre o desenvolvimento deste. Assim, se
o meio for adequado, todo organismo se desenvolve de forma a construir uma
personalidade sã e integrada.
- A Teoria Organísmica transcende as bases da Psicologia da Gestalt, para além dos
processos de aprendizagem e percepção, generalizando para a compreensão do
organismo total.
- Acredita que seja possível um aprendizado maior tendo como objeto um organismo
em sua totalidade, ao invés de ter como objeto, a investigação de uma função isolada em
várias pessoas.
Estrutura do Organismo
A organização do organismo ocorre através do funcionamento de figura e fundo.
Figura: ocupa o centro de nossa atenção e de nossa ação, a principal atividade do
organismo. A figura tem um limite, um contorno bem definido. O fundo não, ele é o que
dá sustentação à figura, tornando possível que ela se sobressaia naquele momento. A
necessidade da pessoa é que faz com que ela eleja esta ou aquela figura.
Goldstein distingue as figuras como sendo naturais e não-naturais. A figura
natural apresenta uma preferência da própria pessoa e resulta em um comportamento
adequado, ordenado e flexível. Já a figura não-natural é algo imposto à pessoa,
resultando em um comportamento rígido e mecânico.
Goldstein também distingue três classes de comportamento: realização –
atividades voluntárias e conscientes; atitudes – sentimentos, humor e outras
experiências internas; processos – funções orgânicas experimentadas indiretamente.
Sendo que os comportamentos podem ser de duas naturezas: concreto – reagir a um
estímulo de maneira automática e direta; abstrato – reagir a um estímulo após pensar a
respeito dele.
A Dinâmica do Organismo
Para Goldstein há um energia constante e distribuída uniformemente por todo o
organismo, sendo este o estado normal do organismo.
Equalização/Centralização é o retorno da energia ao seu estado normal, após o
organismo ter sofrido um estímulo que mudou sua tensão. Um organismo saudável
busca sempre distribuir a tensão por ele todo.
O organismo funciona sempre de modo a buscar a auto-realização, para tanto
procura satisfazer suas necessidades. Este é um princípio orgânico, afim do
desenvolvimento pleno do mesmo. As motivações conscientes do indivíduo para a auto-
realização são mais importantes que a inconscientes, estas se caracterizam como fundo
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para ao qual flui o material consciente, quando não necessário à auto-realização naquele
momento.
É importante ressaltar que para Goldstein, o organismo está em constante
interação com o meio, este podendo promover as condições adequadas à auto-realização
ou, opostamente, dificultá-la.
O Desenvolvimento do Organismo
Neste ponto, Goldstein defende a idéia de que a medida que o organismo se
desenvolve (o indivíduo envelhece), seu comportamento se torna mais uniforme,
ordenado e adequado ao ambiente.
• FILOSOFIA ORIENTAL
Taoísmo
A concepção de homem subjacente ao Taoísmo é a de um ser que para realizar-
se deve tornar-se integrado, isto é, suas forças conflitantes devem ser trazidas a
harmonia. Assim, ele passa a ser centrado, o que resulta em um estado espiritual de
esclarecimento: a unidade com todas as coisas para qual o homem flui. O Taoísmo
valoriza o inacabado, considerando que tudo o que é imperfeito é mobilizador de
transformação, mudança. Os contrários são fundamentalmente complementares (yin –
feminido; yang – masculino).
Zen-budismo
A concepção de homem implícita no Zen é a de um ser em busca de iluminação.
É a de alguém que precisa aprender ou reaprender a lidar consigo e com o mundo, de
uma maneira mais plena e total. Para que possa de fato, ser e encontrar a si mesmo e ao
mundo mesmo.
A busca da iluminação consiste em simplesmente viver a vida com a consciência
do aqui-e-agora.
“Um discípulo impaciente pela iluminação mais uma vez pergunta ao mestre,
na ocasião de uma refeição noturna: Mestre, qual o caminho da iluminação? O mestre
olhou e perguntou ao discípulo: Já acabou de tomar a sopa? O discípulo disse sim e o
mestre completou: então vá lavar a sua louça. O discípulo saiu irritado e sem
compreender. Nesta ocasião, o discípulo não entendeu que o mestre lhe havia
respondido, de uma maneira mais natural a sua questão.” De fato, para os zen-budistas
o caminho da iluminação é viver o seu aqui-e-agora.
No Zen dizemos que o homem só conhece o frio e o calor pelo contanto com as
coisas. Aqui tudo se explica pela experiência vivida.
Valoriza-se também a importância da não ação e passar sem cessar de uma coisa
a outra, a cada instante, com total despego.
É célebre a frase de Barry Stevens: “Nada é permanente: só a impermanência é
permanente.”
Aceitar a realidade – que é essencialmente impermanente – é também um
princípio fundamental e uma experimentação do Zen na prática do cotidiano. Observar a
emergência de seus próprios pensamentos, não fugir de nada e nada procurar.
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Referência Bibliográfica
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9 - ALGUNS CONCEITOS IMPORTANTES EM GESTALT-TERAPIA
Self-Suporte
O self-suporte significa recursos próprios que o indivíduo desenvolve para
estabelecer contatos plenos na relação com o outro e com o mundo.
Segundo Carmo (2002) a psicoterapia deve desenvolver no cliente meios com
os quais ele possa lidar com problemas atuais e futuros e portanto, o desenvolvimento
do seu self-suporte. A cada problema ou situação “resolvida” a pessoa pode
desenvolver seu self-suporte.
Segundo Yontef (1998) o suporte mobiliza recursos para o contato ou para o
afastamento no meio, tornando-se essencial para um contato saudável.
No processo de psicoterapia ocorrerá o desenvolvimento gradativo do self-
suporte. O terapeuta será um facilitador desse ampliar, dessa passagem do apoio
ambiental para o auto-apoio, ou seja, o cliente irá aprender a desenvolver recursos
próprios para atender as suas necessidades, buscando no meio aquilo que necessita e
afastando-se do que lhe é tóxico.
Ajustamento Criativo
O ajustamento criativo acontece na fronteira de contato entre o indivíduo e o
meio, caracterizando a interação ativa e não a adaptação passiva da pessoa ao mundo. O
indivíduo irá reconhecer e lidar com o mundo, assumindo a responsabilidade pela busca
das condições que levarão ao seu bem estar.
Segundo Cardella (2002) quando a auto-regulação organísmica acha-se
prejudicada, ocorrerão ajustamentos criativos mal-sucedidos, surgirão dificuldades da
pessoa em sua relação com o meio, neste momento surge a necessidade da psicoterapia.
Na psicose, a pessoa está “cortada da realidade”. Nela não há mais ajustamento
criativo do organismo ao meio. A pessoa não responde claramente ao mundo exterior
nem às suas próprias necessidades.
Na neurose, o mundo exterior e as necessidades são percebidas, mas a resposta
do “eu” não é satisfatória. O ajustamento criativo não está de acordo com a necessária
hierarquia de necessidades. As respostas não são atualizadas (Ginger & Ginger, 1995).
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O homem saudável identifica sem esforço a necessidade dominatne no
momento, sabe fazer escolhas para satisfazê-las e está sob o elfeito de um fluxo
permanete de formações e destruições de gestalten, movimento ligado a hierarquia de
suas necessidades. Haverá um processo dinâmico de aparecimento sucessivo de figuras,
em um primeiro plano, sobre o fundo da personalidade.
Awareness
Segundo Cardella (2002), outro conceito básico da abordagem gestáltica é o
conceito de awareness, ou numa tradução aproximada, presentificação, tornar-se
presente, concentração, conscientização, já que a palavra apresenta dificuldades de
tradução para o português.
A awareness refere-se a um fluxo de conscientização do principal evento do
campo indivíduo-meio com suporte sensório-motor-emocional-cognitivo.
Segundo a autora acima citada, é a awareness e a hierarquia de necessidades que
possibilitam ao indivíduo perceber e responder a sua necessidade predominante no
momento presente, ou seja, fechar uma gestalt para que novas se abram e o processo
homeostático flua dinamicamente.
A awareness é um processo que se modifica continuamente, pois é sempre
presente e portanto, fluida e dinâmica.
No processo terapêutico por meio da awareness, o cliente pode perceber como
impede, dificulta ou bloqueia sua comunicação e expressão; pode dar-se conta de
relações e significações até então desconhecidas, e assim, fechar gestalten inacabadas,
que podem ter resultado em sintomas.
A awareness é acompanhada por aceitação, ou seja, o processo de conhecimento
do próprio controle, a escolha e a resonsabilização pelo próprio sentimento e pelo
comportamento.
A awareness é experienciar e saber o que estou fazendo agora (e como). O agora
muda a cada momento – é um processo de orientação que se renova a cada instante.
Contato
Segundo Polster (2001), a função que sintetiza a necessidade de união e de
separação é o contato. Através desse contato, as pessoas podem encontrar o mundo
externo de uma maneira nutritiva. O contato só pode acontecer quando existe dois seres
separados. O contato é o reconhecimento do outro, é lidar com o outro que não é o eu, é
lidar com o novo, como o estranho.
O contato é todo tipo de relação viva que se estabelece na fronteira, na interação
entre o organismo e o ambiente.
A autora coloca que o contato é um dos processos fundamentais (além da
formação de gestalt e da awareness) que serve ao processo de auto-regulação
organísmica e ao ajustamento criativo.
O indivíduo precisa aproximar-se ou retrair-se na fronteira de contato afim de
satisfazer suas necessidades.
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A Gestalt-terapia está centrada no conceito de contato, na natureza das relações
de contato da pessoa consigo mesma e com o mundo.
Aqui e Agora
A Gestalt-terapia não preocupa-se em investigar o passado, mas leva o cliente a
experienciar situações inacabadas do passado no presente, no aqui e agora, afim de
completá-las e assimilá-las. (Fadman e Frager, 1986)
A Gestalt-terapia trabalha com o passado presentificado. A focalização do
passado é considerada por Perls como uma forma de evitar a confrontação com a
experiência completa do presente. O passado não é ignorado. Na Gestalt-terapia
acredita-se que os idnivíduos tendem a se agarra no passado, de modo a sustificar sua
falta de vontade em relação a assumirem a responsabilidade por si mesmos e por seu
crescimento.
Referências Bibliográficas
GINGER, S. & GINGER, A. Gestalt – Uma terapia do Contato. São Paulo: Summus,
1995.
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PERLS, F. ; HEFFERLINE, R.; GOODMAN. P. Gestalt-terapia. São Paulo: Summus,
1997.
RIBEIRO, J.P. Ciclo do Contato: gestalt temas básicos. Brasília: Ed. Ser, 1995.
34
10 - SAÚDE EM GESTALT-TERAPIA
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capacidade de discriminação figura e fundo, capacidade da melhor resolução possívell
das gestalten, capacidade de viver no presente.
Ilusoriamente poder-se-ia pensar que o estado de saúde requereria a ausência de
problemas. Logo seria impossível atingi-lo. No entanto, o indivíduo saudável pode estar
com vários problemas, porém o que realmente importa é a forma com que ele lida com
suas dificuldades. Ser flexível e buscar a satisfação possível são indícios de
comportamentos saudáveis. Os problemas podem existir, mas o que se faz com eles é a
grande diferença entre a neurose e a saúde. Lidar com eles de forma fixa, unilateral e
repetitiva faz parte da neurose; ao contrário, ser flexível, analisar o presente, buscar
respostas adequadas à situação experienciada, no momento e espaço definidos faz parte
da saúde.
Outra ilusão seria pensar que quem é saudável não erra. Quem age erra mais
cedo ou mais tarde. Na busca pelo acerto, pode-se errar e então procurar outra forma
mais adequada e satisfatória. Isto significa flexibilidade e, portanto, saúde. Não admitir
erros é radicalmente ser rígido, o que denota distância da saúde.
Ainda em relação a rigidez, pode-se afirmar que um outro aspecto da saúde é a
boa convivência, a aceitação da diferença. Assim uma pessoa mais saudável é capaz de
aceitar as diferenças em seu meio, lidando bem com elas.
Convivendo com as diferenças, sendo flexível, buscando adequar-se ao meio,
resolvendo bem suas gestalten. Um outro aspecto é a capacidade do indivíduo saudável
de arriscar-se. Isto significa que, em estado de saúde, a pessoa tem menos medo de
“embarcar” em uma nova situação, conhecer o novo, disponobilizar-se para diferentes
experiências. Mas, é preciso lembrar que saudável também é aquele que sabe vislumbrar
perigos, seus próprios limites e saber dizer não. Os aspectos da saúde e doença não
podem ser analisados indiscriminadamente, há sempre de ser realizada uma
contextualização para cada pessoa.
Há ainda dois aspectos da saúde que precisam ser explicitados, mas que se
encontram nas entrelinhas dos demais já levantados. Um deles é a capacidade de viver
no presente. A vida somente ocorre no tempo presente. O passado já nos fugiu das mãos
e o futuro é apenas suposição até que aconteça. Outro aspecto é a capacidade de estar
awareness (contato e consciência mais profunda de si mesmo, do meio e do campo),
sabendo que esta se dá no momento em que a pessoa se encontra. A awareness promove
crescimento, desenvolvimento e maturidade para o indivíduo.
Atendo-se um pouco mais a discussão dos aspectos da saúde, pode-se constatar
que todos têm estreita ligação entre si, ou seja: um reflete no outro, um depende do
outro para existir. A capacidade de ser criativo, a arte e o ato criativo em si são fortes
indícios de saúde.
Concluindo, podemos dizer que saúde é a integração do organismo com o meio,
através de ajustamentos criativos, de forma que isto satisfaça o indivíduo e este esteja
integrado ao meio. Sabemos que isto se dá pela destruição e formação de gestalt. E mais
uma vez reiteramos que os conflitos existentes não extinguem as possibilidades de
saúde para o indivíduo, mas requer dele mais criatividade para obter sua satisfação.
Quanto à sociedade, restrições nos são impostas por ela, porém isto não isenta a
possibilidade de uma vida autêntica e saudável, já que o homem – um ser de
possibilidades – pode utilizar de sua capacidade de ajustamentos criativos para
satisfazer da maneira que lhe é possível, a si e ao meio.
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Referência Bibliográfica
LATNER, J. The Gestalt-Therapy Book. Cap. 03
LATNER, J. Fundamento de la Gestalt. Chile: Quatro Vientos Editorial, 2004.
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11 - OS EXPERIMENTOS NA ABORDAGEM GESTÁLTICA
Referência Bibliográfica
GINGER, S. Gestalt: Uma Terapia do Contanto. São Paulo: Summus Editorial, 1995.
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