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Psicologia cognitiva

A psicologia cognitiva estuda a


cognição, os processos mentais que
estão por detrás do comportamento. É
uma das disciplinas da ciência cognitiva.
Esta área de investigação cobre diversos
domínios, examinando questões sobre a
memória, atenção, percepção,
representação de conhecimento,
raciocínio, criatividade e resolução de
problemas. Pode-se definir cognição
como a capacidade para armazenar,
transformar e aplicar o conhecimento,
sendo um amplo leque de processos
mentais.[1]

Ao longo da história, filósofos,


matemáticos, biólogos e outros
pesquisadores se interessaram pelas
capacidades mentais que os seres
humanos possuem, constituindo várias
teorias a respeito de porquê elas existem
e como elas funcionam. Platão e
Aristóteles, por exemplo, já teorizavam
sobre o pensamento e a memória,
partindo de sua base empírica.[2] Assim,
o problema do conhecimento humano
sempre esteve intimamente relacionado
com os temas estudados pela psicologia
cognitiva.
A psicologia cognitiva é um dos mais
recentes ramos da investigação em
psicologia, tendo se desenvolvido como
uma área separada desde os fins dos
anos 1950 e princípios dos anos 1960.
Pode-se dizer, entretanto, que foi desde a
segunda metade do século XIX que as
funções mentais humanas deixaram o
terreno da filosofia e começaram a se
tornar objeto legítimo de investigação
científica.[2] O termo começou a ser
usado com a publicação do livro
Cognitive Psychology de Ulrich Neisser
em 1967. No entanto a abordagem
cognitiva foi divulgada por Donald
Broadbent no seu livro Perception and
Communication em 1958. Desde então o
paradigma dominante na área foi o do
processamento de informação, modelo
defendido por Broadbent. Neste quadro
de pensamento, considera-se que os
processos mentais são comparáveis a
software a ser executado num
computador que neste caso seria o
cérebro. As teorias do processamento de
informação têm como base noções
como: entrada; representação;
computação ou processamento e
saídas.

Uma das mais relevantes correntes em


termos de estruturação da psicologia
enquanto ciência, a psicologia cognitiva
ascendeu em oposição à teoria
comportamental e sua lógica de
naturalização da ciência psicológica.
Desse modo, a abordagem passou a
conter novas perspectivas de estudo do
comportamento, avançando
paulatinamente em direção à
subjetividade e discutindo questões
relacionadas à percepção, memória,
inteligência, emoção e cognição.

Nesse contexto, os conceitos passaram


a buscar estabelecer conexões entre o
comportamento e os aspectos por ele
desencadeados, sendo a singularidade
cognitiva do indivíduo não só
amplamente considerada, como também
concebida como a causa pela qual um
ser estrutura o mundo à sua maneira. Em
outras palavras, a teoria cognitiva
passou a legitimar que a forma como
cada indivíduo estrutura e percebe o
mundo está totalmente arraigada a seus
processos mentais e cognitivos. Na
psicologia cognitiva, o conceito
behaviorista do S-R (estímulo-resposta)
agora tem um novo elemento: as crenças
do individuo. Fatores externos ainda
causam uma resposta no individuo, mas,
antes, passam por variáveis ligadas a
como ele interpreta e vê a si mesmo, o
outro e o mundo em que vive, seguindo
um modelo S-O-R, onde O são as
crenças.
O estudo dos processos mentais tinha já
sido abordado de uma forma geral pela
psicologia, especialmente pelos
pioneiros Wilhelm Wundt, Gustav Teodor
Fechner, Ernst Heinrich Weber e Francis
Galton. Encontramos teorias cognitivas
na psicologia social, personalidade,
psicopatologia e na psicologia do
desenvolvimento. Aplicações de teorias
cognitivas na psicologia comparada
conduziram a muito estudos recentes
sobre a cognição animal.

No século XX, a psicologia cognitiva


recebeu um grande impulso através de
estudos sobre inteligência artificial, que
permite relacionar e comparar, em certa
medida, o processamento humano e
animal da informação com processos
eletrônicos, como o computador. Como
teoria do comportamento humano, a
psicologia cognitiva surgiu como uma
alternativa. A fisiologia não alcançava os
níveis superiores do comportamento, e o
behaviorismo não colocava sob foco de
sua análise os processos cognitivos,
visto que estes eram apenas um
comportamento dentre vários.

Grandes áreas de
investigação em psicologia
cognitiva

Percepção
A percepção refere-se às funções que
permitem captar os estímulos do
ambiente, para posterior processamento
de informação.

Os órgãos dos sentidos são


responsáveis pela captação das
informações do ambiente, que podem
ser de natureza visual, olfativa, tátil,
gustativa, auditiva e cinestésica
(equilíbrio e movimento do corpo). O
processamento cerebral depende
bastante das informações fornecidas
pelas estruturas sensoriais, sendo estas
a base de nossa compreensão do
mundo.
Existe uma grande quantidade de
pesquisas sobre os processos
perceptivos na psicologia cognitiva que
são utilizadas para compreender o
comportamento. Um exemplo disso são
os estudos sobre as ilusões,
especialmente as ilusões de óptica.

A atenção também é tópico de estudo


relacionado ao processo cognitivo,
embora vários autores a considerem
função derivada da consciência. Através
da atenção é possível que a mente
selecione os estímulos recebidos, dando
prioridade a uns enquanto outros são
minimizados ou mesmo excluídos do
processamento. Exemplos de estudos
sobre a atenção incluem alguns
controversos, como os de estímulos
subliminares. Portanto, embora a
atenção possa ser estudada no tópico da
percepção, ela seria considerada um
nível inicial de processamento dos
estímulos.

Da mesma forma, o reconhecimento de


padrões depende de um nível básico de
processamento de informação. Os vários
estímulos sensoriais recebidos do
ambiente são organizados de maneira
ativa por vários sistemas perceptivos do
cérebro, de maneira a constituir um
"padrão que faça sentido". Assim, muitas
vezes aquilo que chamamos de
percepção não é o que os órgãos
sensoriais identificaram inicialmente,
mas é uma organização, um arranjo que
passa a fazer um sentido para o cérebro.

Por exemplo, no desenho abaixo

...

...

identificamos "dois conjuntos de três


pontos" distribuídos de forma horizontal.
Mas se o arranjo de pontos fosse
modificado
. . .

. . .

diríamos que são "três conjuntos de dois


pontos". Mesmo que o estímulo
sensorial seja o mesmo (seis pontos), a
distância entre eles acaba gerando uma
organização perceptiva diferente, e isto
dá um novo significado àquilo que está
sendo percebido.

Mais do que estudar a maneira como


captamos os estímulos visuais, a
psicologia cognitiva se interessa em
conhecer como o cérebro organiza as
informações captadas pela visão e
permite que reconheçamos o ambiente.
Existem vários modelos explicativos para
este processo. David Marr [3] coloca três
fases no processo de interpretação dos
estímulos visuais:[4]

1. Esboço primário: é o primeiro nível de


organização perceptiva visual. Aqui são
organizados os estímulos como luz e
sombra, que permitem identificar dados
como textura e as bordas da figura, que
são os elementos que dão as
características básicas do objeto
percebido. O esboço primário contém,
segundo este modelo, somente
informações bidimensionais.
2. Esboço 2½D (bi-e meio-dimensional):
segundo nível de organização. Aqui é
"montada" uma imagem que contém
dados referentes à profundidade do
objeto ou cena, e dados mais complexos,
como concavidades e saliências, através
da combinação de dados do esboço
primário.

3. Modelo em 3D (tridimensional):
consiste na construção de um modelo
estável, que permite "rotações mentais"
da figura. Nestas rotações, as
informações do objeto percebido não
variam conforme o observador vai se
deslocando, porque é construída a
imagem mental do objeto percebido, que
pode ser manipulada mentalmente.

Como exemplo, a percepção de um cubo


poderia ser dada da seguinte maneira:
primeiro, são captadas e organizadas as
informações sobre a direção da luz e a
sombra que o cubo projeta, bem como a
textura de sua superfície (esboço
primário). Em seguida, são observadas
como as bordas, ângulos e outros
elementos estão posicionados, dando a
forma da figura (esboço 2½D).
Finalmente, há a elaboração da
representação do cubo, que pode ser
visualizada e rodada mentalmente
(modelo em 3D).
Memória

A memória é a capacidade de registrar,


armazenar e evocar as informações
recebidas e processadas pelo
organismo. Ela é provavelmente uma das
funções mentais mais estudadas pela
psicologia cognitiva, juntamente com a
linguagem e a inteligência. Talvez isso se
deva ao fato de que é relativamente
simples solicitar a memorização e
recordação de informações através das
experiências. Contudo, existe um número
expressivo de modelos de memória,
categorizando-as de várias formas.
Resumidamente, a memória pode ser
dividida em três processos:[5]

Codificação: processo de entrada e


registro inicial da informação. A
codificação diz respeito à capacidade
que o aparato cognitivo possui de captar
a informação e mantê-la ativa por tempo
suficiente para que ocorra o processo de
armazenamento, segunda etapa da
memória.

Armazenamento: capacidade de manter


a informação pelo tempo necessário
para que, posteriormente, ela possa ser
recuperada e utilizada
Evocação ou reprodução: capacidade de
recuperar a informação registrada e
armazenada, para posterior utilização
por outros processos cognitivos
(pensamento, linguagem, afeto, etc.).

Abaixo estão algumas das


possibilidades de classificação da
memória:

Memória de curto prazo e memória de


longo prazo
Memória autobiográfica
Memória episódica
Memória sensorial

A perda ou dificuldade de armazenar


e/ou recuperar a informação é chamada
de amnésia. É uma situação clínica
relativamente comum em casos de lesão
cerebral, seja por patologias ou por
traumas de diversas espécies.

Representação de conhecimento

Imagem Mental
Codificação preposicional
Modelos mentais

Linguagem

A linguagem refere-se à capacidade de


receber, interpretar e emitir informações
para o ambiente. Dentre os temas
estudados pela psicologia cognitiva, a
linguagem é um dos mais pesquisados,
junto com a memória e a inteligência,
porque é área de interesse de várias
ciências, como a antropologia, a
sociologia, a filosofia e a comunicação.

Dentre as habilidades que caracterizam a


espécie humana, a linguagem tem sido
aquela mais apontada pela maioria dos
autores. Através da linguagem,
conseguimos manipular de forma
abstrata os símbolos linguísticos,
permitindo desta forma a troca de
informações entre as pessoas. A
linguagem reflete, em boa medida, a
capacidade de pensamento e abstração,
embora seja uma função mental distinta
do pensamento: uma pessoa pode ter
transtornos na linguagem (por exemplo,
uma afasia) e manter a função do
pensamento preservada, mas se tiver um
transtorno de pensamento (como pode
ocorrer, por exemplo na esquizofrenia), a
linguagem será mais ou menos
prejudicada.

A habilidade linguística é desenvolvida


de forma integrada com os processos
cognitivos. À medida que as funções
mentais vão se desenvolvendo e
tornando-se mais complexas, a
linguagem vai ampliando seus recursos.

Gramática e Linguística
fonética e fonologia
aquisição de linguagem

Pensamento

O pensamento é a capacidade de
compreender, formar e organizar
conceitos, representando-os na mente.
Diz respeito à habilidade em manipular
conceitos mentalmente, estabelecendo
relações entre eles ligando-os e
confrontando-os com elementos
oriundos de outras funções mentais
(percepção, memória, linguagem, afeto,
atenção, etc.) e criando outras
representações (novos pensamentos).

Ao contrário do que muitas pessoas


acreditam, o pensamento não é uma
habilidade cognitiva exclusiva da espécie
humana. Pode-se dizer que os animais,
como um todo (exceção feita aos que
não possuem sistema nervoso como as
esponjas e, talvez, dos cnidários),
possuem algum tipo de estruturação de
pensamento (compreendido no sentido
lato, ou seja, a capacidade de processar
informação através de um sistema
nervoso organizado), mas obviamente
sem ter o nível de complexidade
alcançado pelos seres humanos.

O pensamento está geralmente


associado com a resolução de
problemas, tomadas de decisões e
julgamentos.[6]
Lógica e raciocínio formal ou natural
Formação de conceitos
Resolução de problemas
Julgamento e tomada de decisão

Terapia Cognitiva
A Terapia Cognitiva foi fundada por
Aaron Beck, psiquiatra estadunidense, na
década de 60. O professor da
Universidade da Pensilvânia propôs,
inicialmente, um “modelo cognitivo da
depressão” e que posteriormente evoluiu
para a compreensão e tratamento de
outros transtornos.

Embasada nos conceitos da psicologia


cognitiva, a terapia cognitiva tem por
princípio fundamental que a maneira
como os indivíduos percebem e
processam a realidade influencia a
maneira como eles se sentem e se
comportam. Como, segundo Beck, os
pensamentos, sentimentos e
comportamento estão conectados, os
indivíduos podem superar certas
dificuldades identificando e alterando
fatores indesejáveis ou prejudiciais,
buscando produzir uma forma mais
realista de percepção do ambiente e
gerando esquemas de comportamento
que sejam mais bem adaptados.

É muito comum o uso de técnicas


derivadas de outras áreas do
conhecimento, como a dialética, técnica
da seta descendente, registro de
pensamentos disfuncionais e outras
técnicas psicológicas especialmente
desenvolvidas para esse fim.

A Terapia cognitiva se destina tanto ao


tratamento dos diferentes transtornos
psicológicos e emocionais como a
depressão, ansiedade, transtornos
psicossomáticos, transtornos
alimentares, fobias, traumas,
dependência química, entre outros.

Além disso, a Terapia Cognitiva


comportamental auxilia nas diversas
questões que envolvem nossa vida como
um todo, como: dificuldades nos
relacionamentos, escolhas profissionais,
luto, separações, perdas, estresse,
dificuldades de aprendizagem,
desenvolvimento pessoal e muitos
outros.

Sabendo que o objetivo principal da


Terapia Cognitivo Comportamental é
mudar os sistemas de significados dos
pacientes para alterar suas emoções e
comportamentos com relação às
situações, o primeiro passo da terapia é
entender esses sistemas. Para isso,
durante as sessões, o psicólogo vai
identificando sentimentos, pensamentos
e comportamentos de determinadas
situações descritas pelo paciente. A
partir disso, alguns padrões vão sendo
identificados. São esses padrões que
determinam crenças e percepções para
cada experiência vivida. Diante dos
padrões mal adaptativos ou
disfuncionais de pensamentos, cabe ao
terapeuta auxiliar o paciente a encontrar
novas possibilidades de pensamentos
alternativos e mais funcionais que
possibilitem uma boa adaptação à sua
realidade social. Isso é feito a partir da
determinação de um foco e de metas
para que, com o tempo, o paciente
adquira sua autonomia e possa lidar com
as questões por conta própria. Esta é a
reestruturação cognitiva e
comportamental que dá nome à
abordagem.

Psicólogos cognitivos
famosos
Aaron Amos David
Beck Tversky Rumelhar
Alan Angélica t
Baddeley Quadros Donald
Albert Anne Broadben
Ellis Treisman t

Allan Daniel Eleanor


Paivio Kahnema Rosch

Allen n Elizabeth
Newell Daniel Loftus
Schacter
Elizabeth Herbert Judith
Spelke Simon Beck
Endel Hermann Keith
Tulving Ebbingha Holyoak
Fergus us Ken
Craik James Nakayam
Frederic McClellan a
Bartlett d Kenneth
George A. Jean Craik
Miller Piaget Larry
George Jeffrey Squire
Sperling Young Marcia K.
Henry L. Jerome Johnson
Roediger Bruner Michael
III John R. Posner
Anderson
Neville Roger Ulrich
Moray Shepard Neisser
Paulo Saul William
Knapp Sternberg Estes
Philip Steven Morgana
Johnson- Pinker
Laird

Ver também
Cognição Animal
Cognição
Ciência cognitiva ou Cognitivismo
Terapia cognitivo-comportamental
Conecionismo
Neurociência cognitiva
Neurociência Computacional
Neuropsicologia

Ligações externas
Artigos famosos sobre a história da
cognição
Portalpsicologia.org

Referências
1. MATLIN, Margareth W. Psicologia
cognitiva. 5 ed. Rio de Janeiro: LTC,
2004.
2. ANDERSON, John R. A ciência da
cognição. In: Psicologia Cognitiva e
suas implicações experimentais. 5
ed. São Paulo: LTC, 2004. cap. 1, p. 1-
20.
3. Outros dados biográficos de David
Marr podem ser encontrados aqui
4. EYSENCK, Michael W.; KEANE, Mark
T. Reconhecimento de objetos. In:
Manual de Psicologia Cognitiva. 5
ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. cap.
3, p. 74-113.
5. MYERS, David G. Memória. In: ______.
Explorando a Psicologia 5 ed. Rio de
Janeiro: LTC, 2003. cap. 8, p. 230-
263.
6. MYERS, David G. Pensamento,
linguagem e inteligência. In: ______.
Explorando a Psicologia 5 ed. Rio de
Janeiro: LTC, 2003. cap. 9, p. 264-
303.
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title=Psicologia_cognitiva&oldid=58945363"

Última modificação há 5 meses por Tschis

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