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IXO A SOCIOLOGIA COMO DISCIPLINA CIENTÍFICA AUTÔNOMA

TEMÁTICO I:
Tópico: A Desnaturalização das Definições de Realidade Implicadas pelo
Senso Comum
Temas O Vocabulário Científico
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Porque ensinar
Quando, em 1969, o homem pisou pela primeira vez no solo lunar, houve quem não acreditasse e houve quem se perguntasse se não era perigoso
o astronauta “despencar lá de cima”. Poucas pessoas, em nossos dias, têm dúvidas a respeito da chegada do homem à lua, e chega a ser motivo
de galhofa o fato de alguém imaginar que um astronauta pudesse cair “lá de cima”. Afinal de contas, ao contrário do que parece, a lua não está
“lá em cima”. Em se tratando do espaço, não há “lá em cima” nem “lá em baixo”. Qualquer estudante secundarista sabe que não faz sentido
pensar que um astronauta possa cair da lua e, se o sabe, é porque também sabe que, ao contrário do que parece, a lua não está “acima” da Terra.
Mas, para saber isto, é necessário haver uma ciência que desfaça a noção de que no espaço há “lá em cima” e “lá em baixo”. Esta ciência é a
física moderna, que surgiu somente no século XVII. Até então, o que havia era a física aristotélica e, de acordo com ela, nada haveria de
impróprio em imaginar que um homem pudesse cair da lua se algum dia lá chegasse.
Estas considerações apontam para o fato de que a física moderna “desnaturalizou” todo um conjunto de concepções, dentre as quais, as de “em
cima” e “em baixo”. Qualquer ciência, para merecer este nome, precisa ser capaz de fazer uma coisa semelhante. Ela precisa mostrar que
conceitos perfeitamente aplicáveis em certas situações (conceitos como os de “em cima” e “em baixo”) não se aplicam a outras. Ela precisa
mostrar, em outras palavras, que o entendimento de certos fenômenos requer a formação de conceitos que não se aplicam ao uso cotidiano.

Condições Prévias Para Ensinar – nenhuma.

O que ensinar
Ensinar que na sociologia, tanto quanto na física, o entendimento de certos fenômenos requer a formação de conceitos que não se aplicam ao uso
cotidiano. Mas esta “desnaturalização” não basta. É necessário também que as explicações sociológicas não tenham um caráter a posteriori,
conforme se esclarecerá na Orientação Pedagógica da aula seguinte (ainda neste mesmo tópico).

Como Ensinar
Para ensinar que a sociologia teve que forjar um vocabulário próprio, é necessário o Professor dar exemplo de situações em que as concepções
de senso comum não se aplicam às disciplinas científicas. Por exemplo, não faz sentido algum, do ponto de vista da física moderna, dizer que a
lua está “acima” da terra, embora na linguagem de senso comum possamos dizer tal coisa. Explicar “Como ensinar”, neste caso, é indissociável
de mostrar o Roteiro de Atividades e, portanto, passemos a ele.

EIXO TEMÁTICO I: A SOCIOLOGIA COMO DISCIPLINA CIENTÍFICA AUTÔNOMA


Tópico: A Desnaturalização das Definições de Realidade Implicadas pelo Senso Comum
Temas O Vocabulário Científico
Complementares:

Sugerimos duas aulas para este Tópico. Para a primeira, sugerimos explorar exemplos como o acima mencionado, a respeito da lua.
Mencionamos que é equivocado pensar que a lua está “acima da terra”. Isto equivale a dizer que para compreender “onde” a lua está, o conceito
de “acima”, tal como entendido cotidianamente, tornou-se inútil. A física teve que deixá-lo de lado e operar com outros conceitos. Posto que o
professor irá lidar com alunos do ensino médio, ele pode pedir aos próprios alunos que expliquem por que é uma tolice imaginar que um homem
pode cair da lua. Uma vez entendido isto, o professor pode perguntar aos alunos se da mesma forma que o desconhecimento de física pode levar
alguém ao erro de imaginar que um homem possa cair da lua, o desconhecimento em sociologia pode conduzir alguém a um erro semelhante. Na
verdade, o professor pode explicar aos alunos que dois sociólogos da virada do séc. XIX para o séc. XX, Émile Durkheim e Max Weber, os dois
principais pilares do pensamento sociológico, dedicaram boa parte de suas vidas a explicar que por falta de conhecimento em sociologia as
pessoas poderiam ser conduzidas a erros - é verdade que não a erros tão bizarros quanto pensar que um homem pode cair da lua, mas, não
obstante, a erros. Weber argumentou que por falta do conhecimento de sociologia as pessoas não poderiam ter um entendimento adequado a
respeito de, por exemplo, a natureza da burocracia ou do capitalismo moderno. Em um parêntese pode-se dizer que se o professor tiver alguma
familiaridade com a obra de Weber A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, ele poderá explorar este ponto mencionando que, para
Weber, ao contrário do que usualmente se pensa, o que caracteriza o capitalismo moderno não é a busca do lucro a qualquer preço, pois esta
existiu em todas as épocas e em todos os lugares. O que, para Weber, caracteriza o capitalismo moderno, é justamente o oposto: é uma disciplina
jamais vista antes da Reforma. Seja como for, da mesma forma que os físicos ensinaram que o conceito de senso comum de “em cima” não nos
ajuda a entender a posição da lua em relação à Terra, Weber ensinou que o conceito de senso comum de “burocracia” não nos ajuda a entender a
importância das grandes organizações privadas e públicas na vida moderna. Semelhantemente, Durkheim se esforçou por mostrar que o conceito
de senso comum de suicídio não nos ajuda a entender as verdadeiras causas do suicídio. Como o livro O Suicídio, de Durkheim, representa um
primeiro esforço sistemático no sentido de mostrar o que seria uma abordagem propriamente sociológica de um fenômeno – de mostrar em que
uma abordagem sociológica se distingue tanto de uma abordagem de senso comum quanto de uma abordagem psicológica – sugerimos que pelo
menos duas aulas sejam dedicadas a ele (isto é assunto para o segundo tópico deste mesmo Eixo Temático).

Como avaliar
Após a primeira aula não há propriamente o que avaliar. Este item será devidamente contemplado ao final da
Orientação Pedagógica da Aula 2. (Em seguida)
EIXO TEMÁTICO I: A SOCIOLOGIA COMO DISCIPLINA CIENTÍFICA AUTÔNOMA
Tópico: A Desnaturalização das Definições de Realidade Implicadas pelo Senso Comum
Temas A natureza das explicações sociológicas
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Porque ensinar
Na aula anterior ensinou-se que a sociologia, como qualquer ciência, teve que forjar seu vocabulário próprio. Nesta aula deve-se ensinar que as
explicações sociológicas não podem ter um caráter a posteriori, do contrário elas não se distinguiriam de explicações oferecidas no plano do
senso comum ou, até mesmo, de explicações oferecidas na esfera religiosa.

Condições Prévias Para Ensinar – não há

Como ensinar
Para explicar o que significa dizer que a explicação sociológica não pode ter um caráter a posteriori, vamos recorrer a um exemplo recente. Há
alguns meses nasceram duas gêmeas xifópagas em Belo Horizonte. Uma emissora de TV resolveu então explorar o assunto, promovendo uma
“mesa redonda”, da qual fizeram parte um médico, um padre e um kardecista. O médico abordou o fenômeno em termos embriológicos: ele
explicou o que ocorre com os embriões humanos quando gêmeos não se separam completamente no útero materno a ponto de nascerem presos
um ao outro por alguma parte do corpo. O kardecista escutou-o atentamente e, ao final da exposição, argumentou que a explicação do médico era
incompleta porque deixou sem explicação o seguinte fato: por que o fenômeno em questão ocorreu com aquelas gêmeas em particular, e não
com quaisquer outras? A razão, ele argumentou, é a de que em uma vida passada elas se odiavam e, agora, para compensar, teriam que viver
grudadas uma na outra. Note-se que o kardecista reivindicou estar oferecendo uma explicação não só correta, mas mais profunda que a do
médico. O médico explicava como gêmeos podem tornar-se xifópagos. O espírita pretendia estar explicando por que o fenômeno aconteceu com
aquelas gêmeas e não com outras.
Dificilmente alguém diria que a explicação do kardecista é aceitável em termos científicos. Admitindo-se que a explicação do kardecista não é
científica, há de se perguntar: por que não? O que há de insatisfatório em relação a seu argumento? Seria o fato de evocar a existência, não
comprovada empiricamente, de vidas passadas? Ou pode ter mais alguma coisa de insatisfatório? Sim, há: o fato de ter sido dada a posteriori. É
isto que uma explicação sociológica deve evitar. No Roteiro de Atividades deixaremos isto mais claro.
EIXO TEMÁTICO I: A SOCIOLOGIA COMO DISCIPLINA CIENTÍFICA AUTÔNOMA: CONHECENDO NOSSO MUNDO
SOCIAL
Tópico: A Desnaturalização das Definições de Realidade Implicadas pelo Senso Comum
Temas A natureza das explicações sociológicas
Complementares:

Sugerimos que se debata o que há de errado em relação ao argumento, acima mencionado [ver OP: A Desnaturalização das Definições de
Realidade Implicadas pelo Senso Comum - A natureza das explicações sociológicas], do kardecista. Note-se que o kardecista pretendia estar
dando um passo a mais em relação ao médico: enquanto o médico explicava em termos gerais como gêmeos podem não se separar
completamente no útero, o kardecista pretendia estar explicando por que com certos gêmeos acontece isto.
O professor pode perguntar aos alunos: vocês concordam com o argumento levantado pelo kardecista? Esperar pela reação dos alunos. Seja qual
for a reação, a resposta que sugerimos é a seguinte: independentemente de se acreditar ou não em vidas passadas, o argumento que o kardecista
formulou na citada mesa redonda não tem validade científica porque não há possibilidade de submetê-lo a qualquer teste. Não temos como testar
se há vidas passadas, nem se pessoas que se odiaram em vidas passadas estão sujeitas a nascerem grudadas umas nas outras em uma vida
posterior. Por outro lado, o mais grave deste argumento é seu caráter a posteriori. Uma disciplina científica não pode se basear em argumentos
formulados a posteriori porque, neste caso, os argumentos nunca podem ser criticados. Sempre que nascerem gêmeos xifópagos podemos dizer
que isto ocorreu porque em vidas passadas eles se odiavam. Predições nunca podem ser feitas, erros nunca podem ser apontados, e não pode
haver ciência se erros não puderem ser produzidos e corrigidos. Permitam-nos mais um exemplo. Havia um psicanalista em Minas Gerais que
dizia que toda doença é uma forma inconsciente de protesto social. Se alguém tivesse, por exemplo, uma crise de apendicite, isto seria um
resultado de sua insatisfação (inconsciente) com a sociedade em que vive, o mesmo valendo para câncer, AVC etc. Ora, uma teoria como esta
não nos permite fazer qualquer previsão nem pode ser submetida a qualquer controle: sempre que uma pessoa tem qualquer doença grave temos
que aceitar que esta pessoa está inconscientemente protestando contra alguma coisa. O argumento do kardecista é exatamente da mesma
natureza: em ambos os casos estamos diante de um argumento a respeito do qual nada se pode fazer a não ser acreditar no que está nos sendo
dito ou não. Não temos como derivar alguma predição deste argumento nem como dizer em que circunstâncias teríamos que abandoná-los. Para
que um argumento possa ser considerado científico, é necessário podermos especificar as condições em que ele deve ser considerado errado.
Quando, nas aulas seguinte, referentes ao segundo Tópico deste mesmo Eixo Temático, o professor mostrar a teoria de Durkheim a respeito de,
por exemplo, o suicídio anômico, ele pode mostrar o contraste entre a posição de Durkheim e uma posição como a do kardecista ou do
psicanalista acima mencionado. A teoria de Dukheim requer que várias coisas aconteçam: que protestantes se matem mais que católicos, que em
épocas de prosperidade econômica os índices de suicídio aumentem, ao invés de diminuir, que os que mais se matem no exército sejam
justamente aqueles que se acham em melhores condições etc. As “teorias” do psicanalista e do kardecista acima mencionadas, em contraste, não
requerem nada. Elas só explicam retrospectivamente. O professor, se quiser, pode explorar esta linha de raciocínio para falar sobre o debate entre
criacionismo e teoria da evolução. Se um fóssil humano da cinco milhões de anos for encontrado, a teoria da evolução estará em perigo, pois de
acordo com ela o ser humano não pode ter mais que algumas centenas de milhares de anos. Já o criacionismo não faz demanda alguma: nenhuma
descoberta, seja qual for, pode contrariá-la. Explicar que não pode haver ciência sem que teorias possam ser contrariadas por fatos constatados.

Como avaliar
Sugere-se uma prova na qual o aluno é exposto a um conjunto de afirmações. O exercício constituiria em agrupar afirmações que encerram um
conhecimento, quer verdadeiro ou falso, que pode ser considerado científico e afirmações que, ainda que se acredite serem verdadeiras, nada têm
a ver com o conhecimento científico.

Exemplos de afirmações a serem apresentadas aos alunos:


1: “Toda doença é a manifestação de um protesto inconsciente contra os problemas sociais”
2. “A presença de estreptococos na pele em grande quantidade predispõe esta pele ao aparecimento de brotoejas”
3. “Fumar provoca câncer”
4. “Fumar não provoca câncer”
5. “Nada acontece por acaso”
6. “Tudo acontece por acaso”
7. “Rezar diminui a pressão arterial”

No caso acima, as afirmações 1, 5 e 6 formariam um grupo e as proposições 2, 3, 4 e 7 formariam o outro grupo. As


afirmações 2, 3, 4 e 7 podem ser testadas e contestadas através de resultados experimentais ao passo que em
relação às demais nada se pode fazer a não ser acreditar nelas ou não.
EIXO A SOCIOLOGIA COMO DISCIPLINA CIENTÍFICA AUTÔNOMA
TEMÁTICO I:
Tópico: Senso-comum e conhecimento sociológico
Temas O objeto de estudo da sociologia
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Porque ensinar
Até os anos 1980 as pessoas de um modo geral mal tinham uma idéia sobre o que pudesse ser esta área do conhecimento a que chamamos de
sociologia. Nas últimas décadas, este nome foi gradativamente sendo conhecido pelas pessoas e, em nossos dias, fala-se em “sociologia” e em
“sociólogo” como se esses termos se referissem a algo bem conhecido. Ocorre, entretanto, que se antes não se tinha idéia do que era a sociologia,
agora se tem, de um modo geral, uma idéia equivocada. A sociologia é com freqüência confundida com outras áreas de atividade, notadamente a
assistência social. Vejamos alguns exemplos dessa confusão. Há médicos que esperam de um sociólogo que este lhe aconselhe sobre como
informar a um paciente a respeito da gravidade de sua enfermidade. Há engenheiros que supõem que um sociólogo saberá orientá-lo em relação
a como se relacionar de forma mais satisfatória com operários. Ora, sociologia nada tem a ver com demandas dessa natureza. Por outro lado, de
um modo geral, tem-se a expectativa de que um sociólogo é um profissional capaz de solucionar problemas como o da criminalidade,
desigualdade social ou preconceito racial. O objetivo deste Tópico é esclarecer que a sociologia não tem qualquer relação com a assistência
social e que, embora ela se relacione com a engenharia social (isto é, com a busca de solução para problemas como desemprego, criminalidade
etc.) ela não se resume a isto. Trata-se de esclarecer que a sociologia é uma disciplina científica que procura explicar certos fenômenos da
mesma maneira que um biólogo, um físico ou um químico o fazem. Para que tal esclarecimento seja dado, entretanto, é fundamental ensinar que
a sociologia surgiu, na virada do século XIX para o século XX, em resposta a um desafio específico: o de explicar o comportamento humano de
uma forma como nenhuma ciência do comportamento até então existente fora capaz de fazer.

Condições prévias para ensinar


Dada a natureza introdutória deste tópico, o professor não deve pressupor nenhum conhecimento prévio do aluno.

O que ensinar
1. Sugerimos que o aluno seja exposto a uma obra exemplar de sociologia, para assim ter uma idéia de o que um sociólogo pretende e como ele
trabalha. Uma obra que cumpriria muito bem este papel seria o livro de Émile Durkheim O Suicídio, de 1897. Este livro ilustra particularmente
bem o tipo de desafio que a sociologia teve que enfrentar para se estabelecer como mais uma ciência do comportamento humano, quando já
existiam a economia, a psicologia, sem falar na história e nas ciências jurídicas.
2. Na época de Durkheim, o suicídio era explicado como um resultado de fatores como a imitação, a loucura, decepção amorosa, receio de
condenação, falência financeira, dores físicas etc. Para Durkheim, fatores como estes só explicam o suicídio de uma forma muito superficial.
Recorramos a um exemplo de uma outra área para explicar melhor o raciocínio de Durkheim. Suponha que alguém tenha, na pele, a presença
excessiva de uma bactéria chamada estreptococos. Quando isto acontece, qualquer pequeno arranhão pode precipitar o aparecimento de brotoeja
na pele. Pois muito bem: para Durkheim, dizer que alguém se matou porque do dia para a noite se viu na miséria, ou porque descobriu que a
mulher a quem tanto amava tinha um amante ou porque não tem como pagar suas dívidas é tão insatisfatório quanto dizer que alguém teve uma
brotoeja porque sofreu um arranhão. É verdade que se não tivesse havido o arranhão, não teria havido também a brotoeja, mas o arranhão só
pôde ocasionar a brotoeja porque ocorreu em uma pele na qual já havia um excesso de estreptococos. A verdadeira causa foi então o excesso de
estreptococos na pele, e não o arranhão. Para Durkheim, este mesmo raciocínio se aplicava para a explicação do suicídio. Pode-se dizer que o
desafio que ele se colocou foi o de descobrir o que poderia corresponder, como causa profunda do suicídio, a este excesso de estreptococos. Ele
postulou que seriam as correntes de egoísmo, de altruísmo e de anomia (No livro O Suicídio, há dois capítulos dedicados ao suicídio egoísta, um
ao suicídio altruísta e um ao suicídio anômico).
3. Antes de explicar o que são as correntes de egoísmo, altruísmo e anomia, explicar o que sejam as “correntes sociais” (uma vez que correntes
de egoísmo, altruísmo e anomia são nada mais que exemplos daquilo que Durkheim chamou de correntes sociais). Assim como a botânica estuda
as plantas e a zoologia os animais, a sociologia, na visão de Durkheim, estudaria o que ele chamou de “fatos sociais”, os quais podem ser de dois
tipos: fatos sociais cristalizados e correntes sociais. Exemplos de fatos sociais cristalizados são: a língua portuguesa, as leis e costumes vigentes
no Brasil (ou em qualquer país do mundo) e certas regras de convívio. Exemplos de correntes sociais são a moda e correntes de preferência por
certos nomes. Assim, houve época em que era comum uma sala de aula ter vários alunos chamados José e Maria. Houve outras em que em cada
turma havia pelo menos duas Adrianas ou Andréas. E assim por diante. Da mesma forma em que há épocas nas quais há uma clara preferência
por certos nomes e outras nas quais a preferência recai sobre outros, há épocas e lugares em que o índice de suicídio é superior ao índice de
outras épocas e lugares. Eram estes índices que interessavam a Durkheim. Era estes índices que constituíam o que Durkheim chamou de
“correntes suicidógenas”. Durkheim se perguntava: por que os protestantes se matam mais que os católicos em qualquer lugar do mundo (exceto
na Inglaterra), por que os solteiros se matam mais que os casados, por que, em qualquer país do mundo, os militares se matam mais que os civis,
por que os militares do exército que mais se matam são justamente aqueles das mais altas patentes, e não aquele “soldado raso” sujeito a toda
sorte de privações e humilhações”?. Perguntas dessa natureza, raciocinava Durkheim, não podem ser respondidas nem por um psicólogo, nem
por um economista, nem por um historiador, nem por um jurista. É necessário um outro tipo de estudioso para respondê-las, e este novo
estudioso é o sociólogo. Desta forma, o livro O Suicídio é excelente para mostrar aos estudantes qual é o conjunto de indagações peculiar a um
sociólogo. O estudante deve ser informado de que para Durkheim a sociologia só se justificaria como uma nova disciplina científica na medida
em que fosse capaz de oferecer respostas satisfatórias para perguntas como as acima.
4. Sugerimos que não se fale na sociologia como uma ciência que pretende romper com concepções comumente aceitas na vida cotidiana
enquanto não mostrar como Durkheim procurou romper com concepções comumente aceitas a respeito das causas do suicídio.
5. (Opcional) Uma vez tornado isto claro, mostrar como Weber também se propôs a romper com concepções comumente aceitas ao postular que
o capitalismo, em si, nada tem a ver com a busca irrefreada pelo lucro (como usualmente se supõe). O professor deve no mínimo conhecer o
segundo e o quinto capítulos de A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo para acatar esta sugestão.

Como avaliar
Sugerimos que o aluno seja convidado a dissertar sobre a seguinte questão: por que Durkheim se interessou em
comparar o índice de suicídios entre protestantes e católicos e não, entre, por exemplo, ricos e pobres, ou negros e
brancos?
EIXO TEMÁTICO I: A SOCIOLOGIA COMO DISCIPLINA CIENTÍFICA AUTÔNOMA: CONHECENDO NOSSO MUNDO
SOCIAL
Tópico: Senso-comum e conhecimento sociológico
Temas O objeto de estudo da sociologia
Complementares:

A tarefa que se impõe ao Professor é explicar o que distingue o conhecimento sociológico do conhecimento de senso comum. Sugerimos que a
melhor maneira de cumprir esta missão seja comparar o modo como um sociólogo e uma pessoa sem qualquer treinamento sociológico
abordariam um tema como o suicídio. A escolha deste tema se deve ao fato de ter sido o tema eleito por Durkheim para mostrar a necessidade da
sociologia como uma nova disciplina.
Sugerimos que o Professor inicie com a página do livro O Suicídio que dá início ao capítulo 2.
Citando Durkheim:
“Examinando o mapa dos suicídios europeus, reconhecemos que nos países puramente católicos, como Espanha, Portugal e Itália o suicídio é
raríssimo ao passo que se eleva ao máximo nos países protestantes: Prússia, Saxônia, Dinamarca”.
Chamar atenção para isto: Durkheim constata que nos países protestantes as pessoas se matam mais que nos países católicos. Mas Durkheim não
se satisfaz com isto: ele quer examinar, dentro de um mesmo país, quem se mata mais. Então ele mostra, como em um mesmo Estado da
Alemanha, a Baviera dos anos 1867-1875, há uma região (o Alto Palatinado) na qual o índice de suicídio é de 64 por milhão de habitantes e
outra (o Palatinado do Reno) na qual o índice é de 167 por milhão. O que há de diferente entre uma província e outra? Eis a resposta: no Alto
Palatinado, mais de 90% da população é católica. No Palatinado do Reno, menos de 50% são católicos. Então, conclui Durkheim, o catolicismo
exerce uma ação profilática sobre o suicídio. Nas páginas 114 e 115 há três pequenos quadros comparando o índice de suicídios entre católicos e
protestantes. O professor pode utilizar qualquer um dos três: todos eles mostram como o índice de suicídio aumenta na medida em que a
proporção de católicos em uma região diminui.
Eis então uma pergunta que somente uma abordagem sociológica levaria alguém a fazer: por que em regiões de maioria católica há sempre uma
menor incidência de suicídios do que em regiões onde os católicos são maioria?
Sugerimos que se explique da seguinte maneira: para Durkheim a sociedade age sobre o indivíduo de duas maneiras:
ou suscitando sentimentos e atividades, ou fornecendo esquemas de classificação. Quando a sociedade suscita
sentimentos de menos, ou seja, quando um tipo de sociedade não é muito eficaz em fazer com que o indivíduo se
sinta um membro dela, o indivíduo se sentirá menos comprometido com ela e, portanto, menos comprometido com
sua própria vida. Neste caso, ele estará predisposto ao que Durkheim chamou de suicídio egoísta. Quando, por outro
lado, a sociedade suscita sentimentos em exagero, isto é, quando uma sociedade torna o indivíduo tão
comprometido com ela que ele acaba por considerar sua própria vida sem importância em comparação com o bom
funcionamento da sociedade em que ele vive, como é o caso entre os fundamentalistas religiosos que se explodem
para defender uma causa, ou entre os kamikazes japoneses na II Guerra, os indivíduos estarão predispostos ao que
Durkheim chamou de “suicídio altruísta”. O raciocínio é o seguinte: o compromisso que um indivíduo mantém
consigo mesmo depende da intensidade com que ele se mantém preso aos grupos dos quais faz parte: seja a família,
a confissão religiosa, ao grupo profissional e até mesmo ao time de futebol de sua preferência. Assim, quanto menos
intensa for sua ligação ao grupo, isto é, quanto mais destacado o indivíduo estiver em relação ao meio em que vive,
mais predisposto ele estará ao suicídio. Durkheim acreditava que um católico está mais preso, ou está mais
comprometido, com o catolicismo do que um protestante está com o protestantismo. Em outras palavras, para
Durkheim, o laço que une um católico aos outros católicos é mais forte que o laço que une um protestante aos
outros protestantes. Um católico da mais distante cidade do interior de Minas Gerais, por exemplo, está
subordinado a uma autoridade central situada em Roma: o papa. No protestantismo não acontece isto: cada
protestante pode ler sua Bíblia, chegar às conclusões que quiser e transitar de uma seita para outra. Durkheim
acreditava, então, que um protestante é mais individualizado que um católico, isto é, ele está menos preso à religião
protestante do que um católico está preso à religião católica e, portanto, o protestantismo, embora exerça (como
qualquer religião) uma ação profilática contra o suicídio, ele não o faz de forma tão eficiente quanto o catolicismo.
Daí, segundo ele, os protestantes se matarem mais.
IXO A SOCIOLOGIA COMO DISCIPLINA CIENTÍFICA AUTÔNOMA
TEMÁTICO I:
Tópico: Senso-comum e conhecimento sociológico
Temas A questão do método
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Porque ensinar
Entendemos que não é possível entender a relação entre senso comum e conhecimento sociológico a menos que o aluno seja exposto a uma obra
em que este tema seja abordado de forma exemplar. Posto que o livro O Suicídio, anteriormente citado, é uma dessas obras, a segunda aula deste
tópico pode ser inteiramente dedicada ao esforço realizado por Durkheim para mostrar que o suicídio não pode ser explicado em termos de
motivações individuais.

Condições prévias para ensinar


Dada a natureza introdutória deste tópico, o professor não deve pressupor nenhum conhecimento prévio do aluno.

O que ensinar
No tópico anterior foi mencionado que uma sociedade age sobre o indivíduo não só suscitando sentimentos e atividades destes últimos, mas,
também, provendo-lhes esquemas de classificação. Chegou o momento de explicar o que é isto. Em qualquer sociedade os indivíduos têm um
horizonte de expectativas: eles sabem o que é possível e o que não é, o que é legítimo esperar e o que não é. Por exemplo: um professor, por
mais bem remunerado que seja, sabe que jamais poderá ter um helicóptero, ou uma ilha, ou um jatinho particular. Ele sabe, por outro lado, que
pode ter um automóvel razoável e sabe calcular os meios de obter este automóvel. Em resumo, Durkheim chama a atenção para o fato de que
toda sociedade tem que ser capaz de prover seus membros de uma espécie de horizonte de expectativas. Há momentos, entretanto, que a
sociedade perde esta capacidade: ela deixa seus membros sem referência, sem saber o que podem ou não esperar. Nessas situações, ou seja,
quando as sociedades tornam-se anômicas (anomia = ausência de normas) as pessoas tornam-se mais predispostas ao suicídio.
Sugerimos que o Professor se valha do exemplo de Durkheim referente a suicídios que ocorrem após crises financeiras. Durkheim descobriu que
quando há crises financeiras o índice de suicídio aumenta enormemente (o Professor encontrará isto no capítulo “O Suicídio anômico” do
livro O Suicídio – são 6 páginas apresentando dados). De um modo geral, tendemos a pensar que, nesses casos, as pessoas se matam porque se
viram subitamente falidas. Convenhamos que esta é uma explicação que faz todo sentido: imagine-se uma situação em que um indivíduo
riquíssimo se veja, da noite para o dia, falido e endividado por causa de, por exemplo, uma grande queda na bolsa (como ocorreu em 1929). O
que se espera que ele faça em tal situação? Caso ele opte por suicidar, ninguém hesitaria em dizer que ele o fez por se ver subitamente arruinado
financeiramente. Mas Durkheim não aceita esta explicação. Ele diria: esta é uma explicação superficial. Como Durkheim fez para mostrar que
esta não é uma boa explicação? Mostrando que em épocas de grande prosperidade econômica o índice de suicídios também aumenta. Então ele
concluiu: o suicídio decorre da ruptura brusca dos laços que mantêm as pessoas ligadas uma às outras. Esta ruptura pode ser causada tanto por
uma depressão quanto por uma prosperidade econômica. Quando esta ruptura ocorre, a sociedade perde sua capacidade de prover os indivíduos
de esquemas classificatórios (de saber o que é possível e o que é impossível; do que é legítimo e do que não é legítimo esperar) e, portanto, ela
torna seus membros mais predispostos ao suicídio. Tudo isto pode ser ensinando lendo-se o já mencionado capítulo do livro O
Suicídio intitulado “O Suicídio Anômico”. Este é então um excelente exemplo da distância entre o conhecimento sociológico e o conhecimento
de senso comum: onde o conhecimento de senso comum diz: “estes suicídios ocorreram por causa do empobrecimento súbito”, o conhecimento
sociológico diz: “estes casos ocorreram por causa de uma brusca ruptura dos laços sociais”. No primeiro caso, explica-se o suicídio em época de
depressão econômica, mas não se explica o suicídio que ocorre em época de prosperidade. No segundo caso, ambos os fenômenos tornam-se
igualmente explicáveis.

Como avaliar
Sugerimos que o aluno seja convidado a dissertar sobre a seguinte questão: por que Durkheim se interessou em
comparar o índice de suicídios em épocas de prosperidade e em épocas de crise econômica.
EIXO TEMÁTICO I: A SOCIOLOGIA COMO DISCIPLINA CIENTÍFICA AUTÔNOMA: CONHECENDO NOSSO MUNDO
SOCIAL
Tópico: Senso-comum e conhecimento sociológico
Temas A questão do método
Complementares:

Na página 188 da Edição aqui citada [ver OP: Senso-comum e conhecimento sociológico - A questão do método] de O Suicídio, Durkheim
afirma:
“A sociedade não é apenas um objeto que suscita, com intensidade desigual, sentimentos e atividades dos indivíduos. É também um poder que os
regula. Há uma relação entre a maneira pela qual se exerce essa ação reguladora e a taxa social de suicídios.”
O Professor pode dedicar a aula à explicação da passagem em itálico, acima, pois ela resume todo o pensamento de Durkheim a respeito da
anomia. “Anomia”, a propósito, é um dos conceitos que a sociologia criou para interpretar fenômenos sociais. Na página 190 deste mesmo livro,
Durkheim afirma:
“Não é o aumento da miséria a causa do aumento dos suicídios; tanto assim que até mesmo crises de prosperidade cujo efeito é aumentar
bruscamente a riqueza de um país atuam sobre o suicídio exatamente como as catástrofes econômicas”
Eis um exemplo de situação em que laços sociais podem se romper bruscamente acarretando, com isto, um aumento do número de suicídios:
“A conquista de Roma por Vitor-Emanuel em 1870, estabelecendo definitivamente a unidade da Itália, foi, para esse país, o ponto de partida
para um ponto de renovação que está em vias de transformá-lo numa das grandes potências da Europa. O comércio e a indústria aquiriram vivo
impulso e produziram-se ali transformações com extraordinária rapidez. Enquanto em 1876, 4459 caldeiras a vapor, num total de 54000 cavalos-
força bastavam para as necessidades industriais, em 1887 o número de máquinas era de 9983 e a sua potência elevava-se a 167000 cavalos-
vapor, isto é, o triplo. Evidentemente, o volume dos bens aumentou, durante a mesma época, na mesma proporção. As trocas comerciais
acompanharam o aumento; desenvolveram-se a marinha mercante, as vias de comunicação e transporte, além do que duplicou o volume de
artigos e pessoas transportadas. Como essa aceleração das atividades levou a aumento de salários (calcula-se em 35% o aumento de 1873 a
1889), a situação material dos trabalhadores melhorou, tanto mais que, na mesma época, o preço do pão estava em baixa. Por fim, segundo os
cálculos de Bodio, a riqueza privada teria passada de 45 bilhões e meio em média, durante 1875-80, a 51 bilhões e meio entre 1885-90. Ora,
paralelamente a este renascimento coletivo, verifica-se um aumento excepcional no número de suicídios. De 1886 a 1870 eles permaneceram
quase constantes; de 1871 a 1877 aumentaram em 36%” (p. 190)
Sugere-se que o Professor discuta este texto com os alunos, mostrando, inclusive, o que seria para Durkheim uma
corrente social: os 36% no aumento da taxa de suicídio que ele constatou ter ocorrido entre 1871 e 1877. Chamar
atenção para os tipos de fatores que Durkheim associa ao suicídio: o grande impulso sofrido pelo comércio e pela
indústria. Tanto quanto depressões econômicas, estas são situações em que a sociedade pode falhar em sua função
de prover os indivíduos de um horizonte de expectativas a respeito de o que é legítimo e o que não é legítimo
esperar.
EIXO ANÁLISE SOCIOLÓGICA DO MUNDO MODERNO: A SOCIEDADE
TEMÁTICO II: EM QUE VIVEMOS
Tópico: Tipos de sociedade - A sociedade tradicional e a sociedade
moderna
Temas A natureza do mundo moderno na visão de Karl Marx
Complementar Baixe o módulo original em
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Porque ensinar
Os livros didáticos de História já incorporaram o vocabulário marxista sem mencionar suas origens. O estudante secundarista é
permanentemente exposto a conceitos como “modo de produção”, “luta de classes”, “exército industrial de reserva” sem qualquer referência aos
escritos marxistas. Como esses conceitos são fundamentais para o estudo da transição da sociedade tradicional para a moderna, este tópico será
importantíssimo como auxiliar para o estudo de História. Ademais, há certas obras que qualquer adulto supostamente instruído deve, senão ter
lido integralmente, pelo menos ter alguma noção de seu conteúdo. Pela extraordinária caracterização da sociedade moderna que, já em 1848, nos
proporcionava, oManifesto do Partido Comunista é uma dessas obras.
Condições prévias para ensinar
Este tópico requer um conhecimento prévio a respeito das grandes mudanças ocorridas nos séc. XVII e XVIII, sobretudo das Revoluções Inglesa
e Francesa. Seria importante que ele já tivesse também estudado a Reforma.

O que ensinar
1. As idéias de Karl Marx a respeito da urbanização e industrialização na transição da sociedade tradicional para a sociedade moderna. Estas
idéias encontram-se resumidas no Manifesto do Partido Comunista de 1848 – na verdade, este Manifesto é um dos primeiros documentos a
teorizar sobre a transição para a sociedade moderna. Explicar que o Manifesto Comunista contem:
a) uma caracterização da sociedade capitalista moderna, cujo traço central se resume na frase “tudo que é sólido desmancha no ar” (veja-se o
próximo item).
b) a postulação da inviabilidade a longo prazo da sociedade capitalista. Explicar que Marx caracterizou muito bem a sociedade capitalista apenas
para propor que esta sociedade encerra contradições que a tornarão inviável. Nesse sentido, o professor poderá mostrar que a visão de mudança
de Marx tem uma conotação de progresso, mas não é a de um progresso linear – tal como a visão amplamente aceita em nossos dias segundo a
qual os países emergentes tendem a tornar-se como os chamados países desenvolvidos. A transição para uma sociedade mais evoluída, que na
visão de Marx, seria a sociedade não cindida em classes sociais, ocorreria através de um processo conflituoso no qual a classe dominada
derrubaria a classe dominante. As lutas de classe teriam, assim, uma centralidade em toda a história. No caso do surgimento da modernidade,
com a predominância gradativa do capitalismo, a burguesia desempenhou um papel revolucionário. Assim, Marx escreveu no Manifesto
Comunista: “Onde quer que tenha assumido o poder, a burguesia pos fim a todas as relações feudais, patriarcais e idílicas. Destruiu
impiedosamente os vários laços feudais. A burguesia não pode existir sem revolucionar constantemente os meios de produção e, por
conseguinte, as relações de produção e, com elas todas as relações sociais. Tudo o que era sólido se evapora no ar, tudo o que é sagrado é
profanado.”
c) uma verdadeira teoria do conhecimento, isto é, a idéia, fundamental para todo o pensamento marxista, que a posições sociais diferentes
correspondem modos diferentes de ver o mundo. A burguesia e a classe média vêem o mundo de uma forma estática e a classe operária, de
acordo com Marx, deveria vê-lo de uma forma dinâmica. Explicar que, para Marx, se a classe operária do séc. XIX não via ainda o capitalismo
como um estágio de desenvolvimento em direção ao socialismo, isto é, se ainda não tinha uma concepção dinâmica do mundo, é porque,
segundo ele, as contradições da sociedade burguesa ainda não haviam se acirrado. Explicar a contradição: o burguês não pode existir enquanto
tal a não ser em sua relação com o proletário, e esta relação é irremediavelmente antagônica. Explicar que embora Marx tenha se equivocado em
relação a isto sua caracterização da sociedade capitalista pode permanecer atual.
d) uma teoria a respeito de como a classe operária deve se organizar para tomar o poder quando o momento for apropriado e que medidas este
governo que fará a transição entre o capitalismo e a sociedade sem classes devem tomar. Chamar a atenção para o fato de que muitas das
medidas que Marx propunha (imposto progressivo, taxação sobre riqueza, taxação sobre herança) são hoje adotadas pelos países capitalistas sem
que isto comprometa as relações capitalistas de produção.

Como Avaliar
Veja-se o Roteiro de Atividades
IXO TEMÁTICO II: ANÁLISE SOCIOLÓGICA DO MUNDO MODERNO: A SOCIEDADE EM QUE VIVEMOS
Tópico: Grandes Mudanças da Sociedade Moderna
Temas Industrialização, Urbanização e Burocratização - A natureza do mundo moderno nas visões de Karl
Complementares: Marx e Max Weber

1. Leitura Obrigatória: O Manifesto do Partido Comunista – pelo menos a Parte I, intitulada “Burgueses e Proletários”. Dividir a sala em
grupos que debaterão os seguintes temas:
a) como Marx caracterizava a sociedade moderna
b) o que permanece atual no modo como Marx caracterizava a sociedade moderna e o que tornou-se ultrapassado.
Os alunos podem ser avaliados pela participação em tal debate ou, alternativamente, para aqueles que são tímidos,
através de uma dissertação com o seguinte tema: “a descrição que Marx faz da sociedade moderna permanece
atual? Justifique.”
EIXO ANÁLISE SOCIOLÓGICA DO MUNDO MODERNO: A SOCIEDADE
TEMÁTICO II: EM QUE VIVEMOS
Tópico: Tipos de sociedade - as sociedades tradicionais e a sociedade
moderna, características básicas
Temas A natureza do mundo moderno nas visões de Max Weber e de Emile
Complementar Durkheim
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Porque ensinar
É importante que os alunos entendam que a sociologia possui uma tradição, que vem desde os clássicos, que procura demonstrar como as
características da sociedade moderna possuem suas origens no processo mais amplo de transformação do mundo ocidental, transformação essa
manifesta concretamente com a eclosão da revolução industrial, com o processo de migração do campo para as cidades, e a conseqüente
intensificação da urbanização, e todos os efeitos bons e ruins dela decorrentes. Tudo isto por contraste com o desmoronamento das estruturas
próprias do mundo feudal.
Para o entendimento dessa oposição marcante entre estes dois mundos, a sociologia propõe um modelo conceitual que fala de sociedades
tradicionais e sociedades modernas. Entender as dimensões básicas de um e outro pólo deste modelo poderá facilitar a compreensão das
características mais amplas do mundo em que vivemos hoje. Uma possibilidade inicial para a abordagem do tema poderia ser a descrição de
como os clássicos da sociologia perceberam as características e os problemas decorrentes da modernização.

O que ensinar
Os principais clássicos da sociologia (Marx, Weber e Durkheim) se preocuparam centralmente, em suas teorias, em desvendar as grandes
características presentes na modernidade. Eles estiveram preocupados em descrever, em primeiro lugar, os aspectos mais gerais e universais do
processo de modernização. E, em segundo lugar, sua preocupação maior foi apresentar quais seriam os graves problemas sociais daí decorrentes.
O professor poderá optar por enfatizar individualmente as contribuições de cada um dos três maiores clássicos da sociologia, ou por trazer aos
alunos um conjunto de informações, conjugando de forma integrada as suas contribuições. A seu critério, poderá lidar de forma mais detalhada
com apenas uma ou duas das abordagens teóricas.
Poderá, por exemplo, recorrer ao Manifesto Comunista, principalmente à sua I parte. Ali, o professor poderá mostrar a visão de mudança de
Marx que, se tem conotação de progresso, não é, entretanto, a de um progresso linear. O avanço para uma sociedade sem classes ocorre através
de um conflito dialético pelo qual uma classe subordinada derruba sua classe dominante, tal como ele demonstra exemplarmente
no Manifesto. As lutas de classe têm, assim, uma centralidade em toda a história. No caso do surgimento da modernidade, com a predominância
gradativa do capitalismo, a burguesia desempenhou um papel revolucionário. Assim, Marx escreveu no Manifesto Comunista: Onde quer que
tenha assumido o poder, a burguesia pos fim a todas as relações feudais, patriarcais e idílicas...Destruiu impiedosamente os vários laços
feudais...A burguesia não pode existir sem revolucionar constantemente os meios de produção e, por conseguinte, as relações de produção e,
com elas todas as relações sociais...Tudo o que era sólido se evapora no ar, tudo o que é sagrado é profanado...(Manifesto,96).
Ao demonstrar a forma com que a luta de classes se desdobra no capitalismo (ao se impor como classe revolucionária e hegemônica, a burguesia
cria necessariamente uma classe antagônica), na verdade Marx está nos esclarecendo que a luta de classes não é o natural das coisas, ela é o
resultado de um processo histórico em que as classes, ao se constituírem, são o sujeito de sua própria configuração. E que isto pode e, na sua
visão, deve mudar. O destino do proletariado, tomando consciência deste processo histórico maior, será destruir-se, ao destruir a burguesia, para
inaugurar a história sem a luta de classes. Marx era, sem dúvida, um otimista em relação ao futuro da humanidade.
O professor poderá ainda, como Weber, argumentar que a tônica da modernidade se manifesta no caráter racionalizado da atividade econômica,
social, política, cultural, etc, possibilitado pelo surgimento histórico ocasional de uma ética religiosa particular.
Max Weber procurou demonstrar que essa racionalização se dá de forma evidente no campo da economia. O capitalismo moderno teria todas as
outras condições para o seu desenvolvimento, por exemplo, a produção de excedente, que outras formas de capitalismo tiveram. Mas o
capitalismo moderno se distingue dos demais pela presença do caráter racionalizado da ação.
Também poderá ser enfatizada a visão weberiana do processo de racionalização em sua manifestação nas relações de poder, através da
burocracia, em contraste com as formas tradicionais de exercício desse mesmo poder. (o professor poderá encontrar um bom resumo da visão de
modernidade em Weber em Quintaneiro et al.2003, 138-144).
A principal crítica de Weber a Marx nos leva a perceber também a sua grande crítica ao capitalismo moderno no qual vivemos. Ela diz respeito
à suposta ideologização por este autor do valor-trabalho. Em contraste com a visão marxiana, Weber quer enfatizar sua concepção mais realista
de que ocorre uma inevitável degradação do trabalho na produção moderna, uma vez perdida a valorização deste por critérios religiosos. Em
outras palavras, ele quer mostrar que a tragédia do capitalismo moderno é de que nele somos obrigados a trabalhar duro, de forma racional, sem
que demos a isso algum sentido maior, enquanto os puritanos originais queriam assim fazê-lo, por motivações religiosas. Weber era, pode-se
dizer, um pessimista em relação ao futuro da humanidade. Difícil será, segundo Weber, desvencilharmo-nos da trágica jaula de ferro da
racionalização. A menos que apareça um grande profeta a nos guiar...
O professor poderá, ainda, recorrer a Durkheim, com seu modelo de integração social marcado por diferentes tipos de solidariedade. Em
Durkheim, o contraste entre tradição e modernidade se expressa através da predominância de uma coesão social marcada pela predominância de
uma igualdade nas crenças e valores ou de uma coesão marcada, contrariamente, pela diversidade nessas crenças e valores: o conhecido
contraste entre solidariedade mecânica e solidariedade orgânica.
Aqui, poderá ser mostrado aos alunos como a modernidade, segundo Durkheim, se expressa, por exemplo, no campo da economia, pela divisão
de trabalho. A divisão de trabalho, na sociedade industrial moderna, promove a solidariedade. É bem verdade que ele teve que explicar que,
através da divisão “forçada” do trabalho, tal como realizada na fábrica, ocorre um desvio da solidariedade, realizada, isto sim, de forma
exemplar, no exercício das profissões. Ou no campo da política, em que democracia seria a expressão maior da diversidade de valores, ao
contrário de outras formas de se fazer política, em que predomine a igualdade de valores. Ou no campo da estética, em que predomine a
diversidade de gostos livremente exercidos. Ou, ainda, no campo religioso, em que a tolerância seria a marca maior, com a convivência de
crenças diferenciadas. Ou, no âmbito social, em que, por exemplo, formas diferenciadas de configurações familiares convivam em harmonia
umas com as outras, ao contrário de uma situação em que o padrão patriarcal de família seja hegemônico. (O professor poderá encontrar um bom
resumo do pensamento de Durkheim a esse respeito em Quintaneiro et al. 2003,77-98).
Com este modelo de solidariedade, Durkheim demonstra uma preocupação central com a liberdade do indivíduo em sociedade. Sabendo de que é
impossível à humanidade viver fora de um estado moral, num retorno ao estado natural, a sua preocupação fundamental é de como imaginar uma
sociedade em que as normas sociais possam, de forma bem próxima ao paradoxo da liberdade kantiano, promover a liberdade do indivíduo, mais
do que cerceá-la. Fica latente, apenas nas entrelinhas, a sua preferência por uma sociedade (a moderna) em que a solidariedade orgânica
prevaleça de forma principal. Ele chega a falar de umindividualismo moral , para expressar o tipo de sociedade em que o indivíduo
possa ter maiores chances de que seus valores e suas crenças pessoais possam coincidir com aquelas exigidas pela
sociedade para se reproduzir no tempo e no espaço. Durkheim, pode-se dizer, era um otimista em relação ao futuro
da humanidade.
EIXO TEMÁTICO II: ANÁLISE SOCIOLÓGICA DO MUNDO MODERNO: A SOCIEDADE EM QUE VIVEMOS
Tópico: Tipos de sociedade: as sociedades tradicionais e a sociedade moderna, características
básicas
Temas A Visão dos Clássicos
Complementares:

Habilidades a serem desenvolvidas


Nesta, bem como na próxima unidade, é preciso que os alunos entendam que todas as características sobre as quais se irá chamar a atenção,
como próprias do processo de modernização do mundo ocidental, são o resultado de um processo histórico elaborado pela própria humanidade,
não sendo o resultado nem de um fatalismo guiado por valores transcendentais, nem de um processo natural das coisas. Tal entendimento deve,
portanto, conter em si o outro lado da moeda, qual seja, o de que somente a própria humanidade poderá ter a prerrogativa de mudar tais
características. Na mesma linha, saibam identificar as principais características bem como os problemas da modernidade que a teoria sociológica
clássica aponta.

Providências necessárias
Os textos aqui indicados deverão ser lidos pelos professores. Da mesma forma, poderão estar disponíveis aos alunos. Eventualmente o professor
poderá indicar partes das referências indicadas para leitura dos alunos, em sala ou em casa.

Indicação dos prerrequisitos


Conhecimento a respeito das origens, desenvolvimento, características e conseqüências mais gerais da Revolução Industrial.

Procedimentos a serem desenvolvidos pelo professor da disciplina como pelos seus alunos
Inicialmente, o professor poderá fazer um exercício nos seguintes termos: pede-se que os alunos descrevam, em um máximo de 10 linhas, o que
entendem pela palavra modernidade. Isto poderia ser feito em sala de aula, ou como exercício prévio em casa, a critério do professor. A partir
daquilo que o professor encontrar em tais depoimentos, pode-se aproveitar, positivamente, algumas referências que apontem de fato para o
fenômeno histórico da modernidade, para introduzir, oportunamente, os conteúdos propostos para a unidade. Outra possibilidade seria pedir aos
alunos para trazerem figuras recortadas de revistas que pudessem indicar tanto uma situação de modernidade, quanto de tradicionalismo. O
professor explicaria que a escolha do material se faria a partir do que eles entendessem por modernidade e tradicionalismo. Algumas figuras
seriam escolhidas pelo professor para fazerem parte de um painel. Perguntas seriam feitas sobre o porque fulano(a) teria escolhido aquela
particular figura. Da mesma forma, a partir da dinâmica das respostas, elementos do conteúdo proposto para a unidade seriam eventualmente
introduzidos. O professor deverá, ao expor as categorias presentes nas teorias, ter o cuidado de sempre exemplificar com elementos da realidade
vivenciada pelos alunos. A título de exemplo: para introduzir o entendimento de Durkheim sobre solidariedade orgânica, o professor poderia
perguntar aos alunos sobre suas preferências religiosas. Não encontrando uma situação de pluralidade, pergunta-se sobre quais religiões eles
sabem que têm templos em seu bairro, ou próximo dele. Ficando claro a existência de uma pluralidade de religiões, o professor mostraria que
isto indica diversidade de crenças (no que tange à religião) e mais, de como é importante, para o funcionamento da sociedade atual, essa
convivência de muitas religiões. Para demonstrar essa importância, uma pergunta poderia ser feita: já pensaram se houvesse um decreto de que
todos, naquela cidade, só poderiam ter uma única religião? Seria possível, hoje, tal situação? Haveria uma convivência harmônica das pessoas
numa situação absurda dessas? Da religião, se passaria para a diversidade de ideologias políticas, de gostos musicais, etc. Essa seria uma forma
didática para se introduzir o que Durkheim entende por solidariedade orgânica, ou seja, primeiro eles devem entender, na sua própria realidade, o
que Durkheim quis dizer com seu conceito. Essa preocupação deve nortear a exposição de todos os principais conceitos contidos nas teorias
dessa unidade. Outro exemplo: antes de se falar da noção de racionalidade weberiana, pode-se fazer uma pergunta aos alunos: o que vocês estão
fazendo aqui e agora? Por que razão vocês estão fazendo isto agora? Não seria melhor estar num clube, numa piscina, passeando num parque ou
namorando? No entanto, vocês não estão lá, e estão aqui. Pode-se fazê-los perceber que o que estão fazendo ali, naquele momento, é um meio
para se alcançar um fim. Isto daria ensejo pra explicar a noção de racionalidade de Weber. Leituras recomendadas: 1. Laski, Harold J. O
Manifesto Comunista de Marx e Engels, Rio de Janeiro, 2ª. Edição, 1978 (principalmente a parte I do Manifesto, intitulado Burgueses e
Proletários). 2. Quintaneiro, Tânia et al. Um Toque de Clássicos, Belo Horizonte, Editora UFMG, 2ª. Edição, 2003 (principalmente as partes
dedicadas a Weber e Durkheim: p. 138-144 e 77-98).

Alerta para dificuldades


Os conteúdos propostos na unidade possuem uma evidente densidade teórica. Isto sugere que o professor deverá
realizar suficientes leituras a respeito, para que alcance a seguran
EIXO ANÁLISE SOCIOLÓGICA DO MUNDO MODERNO: A SOCIEDADE
TEMÁTICO II: EM QUE VIVEMOS
Tópico: As grandes mudanças do período moderno e as conseqüências
para a vida social
Temas As Características do Mundo Moderno
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Porque ensinar
Em um curso de sociologia é necessário que os alunos percebam quais são as grandes características da sociedade em que vivem hoje.. Ao lado
das características econômicas, a sociologia chama a atenção para os seus correlatos propriamente sociais, como o surgimento da ciência
positiva, da democracia moderna, a reestruturação das relações sociais, o aparecimento de novas formas de crenças e valores, em suas
expressões tanto estéticas quanto religiosas, jurídicas e culturais.
De forma mais específica, buscar a compreensão dos contrates ainda hoje pontuados na realidade brasileira, em termos de sua aproximação
maior ou menor com os pólos de tal dicotomia tradicionalismo/modernidade, ajudaria na compreensão de forma mais específica da realidade
vivenciada pelos alunos em sua cotidianidade.

O que ensinar
A modernização deve ser entendida como um processo global, no qual é preciso distinguir uma série de sub-processos que o compõem. Países
que a experimentaram, assim o fizeram, dando ênfases diferenciadas a cada um desses componentes. Da mesma forma, tiveram transições
diferentes ao passarem do modelo tradicional de sociedade para o moderno. Tiveram, ainda, formatos também diferenciados de sociedades
tradicionais, das quais emergiram.
A despeito disso, entretanto, a sociologia atual propõe um modelo geral para o entendimento da modernização, cujas características básicas são
descritas a seguir. È necessário que o professor explique aos alunos que este modelo se configura como um tipo-ideal, de tal forma que cada
realidade, para ser dita como moderna, se aproximará mais ou menos dessa tipificação em termos de idéias.
1. A primeira dimensão diz respeito ao desenvolvimento econômico. Este se define como uma transformação estrutural da economia. Uma
economia tipicamente desenvolvida se caracteriza por: A). Emprego de fontes de energia de alto potencial tecnológico. B). Uma dinâmica que
permita a incessante criação ou absorção de inovações tecnológicas. C). Diversificação da produção. D). Predomínio da produção industrial
sobre a produção primária. E). Uma combinação de industrias de bens de capital e de consumo de forma adequada. F). Alta produtividade. G).
Gradual aumento da taxa de investimento em relação ao Produto Interno Bruto (será necessário o professor explicar o que é o PIB). H).
Predomínio das atividades intensivas de capital sobre as intensivas de trabalho. I). Menor dependência do comércio exterior. J). Distribuição
mais igualitária da riqueza produzida.
2. A segunda dimensão de modernidade se refere ao desenvolvimento político. Para se entender o que seja a modernização no campo político,
apresentam-se três grandes características. A). Uma organização racional do Estado. Weber foi um dos sociólogos que melhor explicou o Estado
moderno. Este se caracteriza por uma alta eficiência no cumprimento das funções estatais. Estas funções, em contraste com o exercício de poder
nas sociedades tradicionais, se expandem, são cada vez mais diversificadas,especializadas e centralizadas. B). A capacidade do Estado
de originar, fomentar e absorver as mudanças estruturais tanto no próprio campo político, quanto no econômico e social. Esta capacidade do
Estado deve ser combinada com a capacidade de manter, ao mesmo tempo, o mínimo de integração entre todos os elementos que compõem o
sistema social como um todo, componentes estes também necessários para o bom funcionamento deste sistema social. Isto significa não permitir
que mudanças que ocorram, por exemplo, no campo econômico afetem de forma negativa o sistema social, ou vice-versa. C). Graus mais
acentuados de participação política de toda a população adulta ou da grande maioria dela, de forma organizada e institucionalizada. A
democracia moderna, onde ela se encontra desenvolvida, certamente estará bem próxima dessa modernização política ideal.
3. A terceira nos remete à modernização social. Aqui, como no caso da modernização política, a característica marcante da sociedade moderna é
sua constante produção e incorporação de mecanismos e de instituições adequados para gerar e absorver um fluxo contínuo de mudanças
estruturais, mantendo, ao mesmo tempo o grau necessário de integração sistêmica. Isto é o que se pode chamar de mudanças sociais e
políticas auto-sustentadas. Os subprocessos aqui, são: A). A concentração demográfica cada vez maior nos centros urbanos, em detrimento da
zona rural. É o chamado processo de urbanização. B). Outras mudanças demográficas, tais como o declínio nas taxas de mortalidade e de
natalidade (a chamada transição demográfica), com a conseqüente transformação na estrutura de idade, ficando a população cada vez mais
velha. C). A secularização de valores religiosos. Isto significa que outras esferas sociais além da religião – a econômica, a política, a científica,
a jurídica, a cultural e a estética – se estabelecem e se reproduzem sem serem guiadas por valores religiosos, mas por valores próprios. Os
valores guiando essas demais esferas não são mais sancionados por crenças religiosas mas por uma racionalidade autônoma. A moderna
separação entre Igreja e Estado é a demonstração clara deste processo. D). Mudanças na estrutura familiar, e também nas relações internas
da família nuclear. Mais recentemente, essas mudanças nas relações dentro da família nuclear têm se manifestado de forma mais evidente com
os novos papéis desempenhados pela mulher. E). Mudanças no sistema de estratificação: primeiro, pela redução proporcional dos estratos
médios tradicionais (por exemplo, artesãos) e aumento proporcional significativo dentro da população dos estratos médios modernos (por
exemplo, profissionais como médicos, engenheiros, advogados, etc e técnicos qualificados). Em segundo lugar, o aumento da mobilidade social,
ou seja, a passagem de pessoas de um estrato para outro. De um modo geral, as sociedades modernas se caracterizam por um acentuado processo
de mobilidade vertical ascendente, principalmente dos estratos inferiores para os estratos médios, o que explicaria o fenômeno do crescimento
proporcional deste. F). Extensão dosdireitos civis e sociais aos estratos médios e baixos, de forma correspondente com a extensão dos direitos
políticos, através da participação política, já mencionada. Isto significa, por exemplo, a extensão de formas modernas de consumo a estes
estratos, bem como a extensão da educação, da saúde, do lazer, etc. G). A ênfase na individualidade como valor moral, ocorrendo uma
acentuação concomitante da dignidade do indivíduo.
Fique claro que toda a discussão de modernidade deverá desaguar em uma reflexão sobre o que há de convivência
entre o tradicional e o moderno no caso brasileiro, qualquer que seja a embocadura teórica enfatizada. Por exemplo:
como se manifesta concretamente, no Brasil, o contraste entre o estilo de vida rural e urbano? Quais as decorrências
negativas da urbanização no Brasil? Que formas políticas predominam num e noutro destes dois universos, o rural e
o urbano? Que orientações valorativas se manifestam numa e noutra realidade em relação aos padrões familiares?
EIXO TEMÁTICO II: ANÁLISE SOCIOLÓGICA DO MUNDO MODERNO: A SOCIEDADE EM QUE VIVEMOS
Tópico: As grandes mudanças do período moderno e as conseqüências para a vida social
Temas As Características do Mundo Moderno
Complementares:

Habilidades a serem desenvolvidas


Com as aulas sobre o mundo moderno, os alunos deverão adquirir a capacidade de identificar os indicadores econômicos, políticos e sociais que
o caracterizam, sabendo, ao fazê-lo, perceber, por contraste, as características do mundo tradicional. A alguém que lhes indague sobre a
modernidade, eles deverão ter a capacidade de descrevê-la através da explicação daqueles diversos indicadores. Tal capacidade poderá lhes ser
útil, servindo como uma referência na sua inserção pessoal nesse mundo moderno.

Providências necessárias
Os textos aqui indicados deverão ser lidos pelos professores. Da mesma forma, poderão estar disponíveis aos alunos. Eventualmente o professor
poderá indicar partes das referências indicadas para leitura dos alunos, ou em sala ou em casa.

Indicação dos prerrequisitos


Conhecimento a respeito das origens, desenvolvimento e características mais gerais da Revolução Industrial. Quais as manifestações históricas
do fenômeno da industrialização no Brasil? Como se deu esse processo de industrialização no Brasil? Que dimensões correlatas vieram com esse
processo?

Procedimentos a serem desenvolvidos pelo professor da disciplina como pelos seus alunos
Uma peça de motivação que poderá ser utilizada ao início do desenvolvimento do tópico temático, caso seja a escola localizada em um centro
urbano (o oposto do que será proposto aqui poderá ser feito em uma realidade rural), é uma dinâmica nos seguintes termos: o professor pergunta
aos alunos se alguém teria algum tipo de contato com um vilarejo do interior. Selecionados dois ou três alunos com tal experiência, pode-se
pedir a eles para descrever tal realidade, facilitada tal descrição por algumas perguntas indutivas do professor. Este irá anotando num dos cantos
do quadro as características descritas. A um outro grupo de alunos, pede-se que tentem, no outro lado do quadro, propor, a cada característica, o
seu contraste encontrado na realidade urbana em que vivem. As questões de indução do professor serão organizadas a partir, por exemplo, das
seguintes dimensões: como as pessoas trabalham lá? Que tipos de instrumento de trabalho elas utilizam? A quem pertencem tais instrumentos? O
que elas fazem com o produto de seu trabalho? Onde elas trabalham? Como elas se deslocam de casa para o trabalho? Qual a distância da casa
dos locais de trabalho? Quem da família trabalha? Qual o tipo de trabalho de cada um? São trabalhos iguais ou distintos? Qual ou quais as
religiões das pessoas lá? Como elas percebem o grau de influência da religião nas vidas daquelas pessoas? Como é a relação daquelas pessoas
com a vizinhança ou demais pessoas da comunidade? Qual o grau de preocupação delas com a própria segurança?...........A partir do painel
estabelecido no quadro, o professor inicia uma discussão a respeito dos constrastes apresentados, buscando oportunidades para introduzir as
dimensões de conteúdo acima apresentadas. Leituras recomendadas: 1. Germani, Gino Sociologia de La Modernizacion, Buenos Aires, Paidós.
Há Edição em Língua Portuguesa. (principalmente o capítulo I). 2. Eisenstadt, Shmuel.N. Modernização, Protesto e Mudança, Rio de Janeiro,
Zahar, 1969. (principalmente capítulo I). 3. Eisenstadt, Shmuel N. Modernização e Mudança Social, Belo Horizonte, Editora do Professor, 1968.
(principalmente o último capítulo: Modernização, Crescimento e Diversidade). 4. Black, C.E. Dinâmica da Modernização, Rio de Janeiro,
Apec Editora, 1971 (Principalmente Capítulo I).

Alerta para dificuldades


Os sub-itens que permitem uma caracterização mais global da modernidade são muito variados. O professor poderá,
a seu critério, privilegiar alguns desses sub-itens em detrimento de outros, dando-lhes um aprofundamento maior.
EIXO ANÁLISE SOCIOLÓGICA DO MUNDO MODERNO
TEMÁTICO II:
Tópico: As grandes mudanças do período moderno e as conseqüências
para a vida social
Temas Os efeitos da industrialização e da urbanização sobre o
Complementar comportamento humano Baixe o módulo original em
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Porque Ensinar
Nas aulas de geografia os alunos estudam que o advento da sociedade moderna é indissociável de dois fenômenos: a industrialização e a
urbanização (sem falar na explosão demográfica). Com efeito, uma sociedade não pode ser dita moderna se um grande contingente de sua
população dedica-se às atividades primárias. Nos Estados Unidos, para dar um único exemplo, a proporção da população economicamente ativa
absorvida pelo setor primário não é superior a 4%. A sociologia pode lançar luz sobre alguns dos efeitos acarretados por esses fenômenos.
Durante muito tempo associou-se a vida nas grandes cidades à comportamentos como “atitude de reserva” em relação aos outros, isolamento,
solidão etc, em contraposição à vida comunitária das pequenas cidades, caracterizada pelo envolvimento mútuo. Esta visão foi posteriormente
revista. Neste tópico, o aluno deverá ser exposto à discussão: que efeitos a urbanização e a sociedade industrial acarretam sobre o
comportamento humano? Teria mesmo os efeitos que usualmente se lhes atribui?

Condições Prévias Para Ensinar


O estudante deve estar familiarizado com os conceitos de setor primário, secundário e terciário, como também com informações a respeito de
como em todos os países ditos desenvolvidos a proporção de pessoas absorvidas pelo setor primário é sempre pequena. De preferência ele deve
estar informado como a distribuição da população economicamente ativa do Brasil se alterou nos últimos 50 anos. Tudo isto se aprende nos
cursos de geografia.

O que ensinar
Ensinar as várias teorias a respeito do desenvolvimento das cidades e seus efeitos. A idéia de que a cidade é o local por excelência da
impessoalidade, egoísmo, individualismo foi desenvolvida pela chamada Escola de Chicago: um conjunto de pesquisadores da Universidade de
Chicago, notadamente Robert Park, Ernest Burgess e Louis Wirth. A aula pode se limitar a expor as principais teses da Escola de Chicago, as
críticas que lhe foram feitas e a atualidade de alguns de seus conceitos – especialmente a noção do urbanismo como um modo de vida.

Como Ensinar
Sugere-se a leitura das páginas 474 a 477 do livro: Sociologia, Sua Bússola Para um Novo Mundo, de Robert J. Brym et all. Nessas três páginas
são apresentadas as idéias centrais da Escola de Chicago e as críticas mais pertinentes. São elas: 1) a teoria de que as cidades crescem em
círculos concêntricos que estão sempre em expansão – como um resultado de quatro processos: a diferenciação, a competição, a sucessão
ecológica e a segregação e 2) a idéia de que o urbanismo é, sobretudo, “um estado de espírito, um conjunto de costumes (...), tradições (...)
atitudes e sentimentos”. Este tema foi desenvolvido por Louis Wirth, para quem a vida urbana, em contraposição à rural, envolve a ausência de
comunidade e de relações sociais estreitas. A interação nas cidades, devido ao grande número de habitantes, seria superficial, impessoal e
concentrada em fins específicos. As pessoas se tornam mais individualistas e um controle social fraco leva a uma alta incidência de
comportamento desviante e de criminalidade. Pesquisas posteriores mostraram que o isolamento social, o retraimento emocional, o estresse e
outros problemas podem ser tão comuns nas áreas rurais quanto nas urbanas. A teoria das zonas concêntricas foi também posteriormente
desafiada no plano empírico. Argumenta-se que elas se aplicam apenas a algumas cidades americanas e são incapazes de explicar um fenômeno
típico de cidades de países em desenvolvimento: o aparecimento de favelas.

Como Avaliar
Através de uma prova na qual seria demandado do aluno um entendimento das idéias principais do texto acima
mencionado.
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Tópico: As grandes mudanças do período moderno e as conseqüências para a vida social
Temas Os efeitos da industrialização e da urbanização sobre o comportamento humano
Complementares:

Posto que o texto sugerido acima [OP: As grandes mudanças do período moderno e as conseqüências para a vida social - Os efeitos da
industrialização e da urbanização sobre o comportamento humano] é de apenas três páginas, sugere-se que uma cópia seja distribuída a cada
aluno e que cada aluno possa lê-lo durante a aula – individualmente ou em grupo. A sala pode ser dividida em grupos e cada grupo expõe aquilo
que lhe pareceu mais interessante no texto. Alternativamente, o Professor pode fazer uma exposição do referido texto. O importante é que os
alunos tomem conhecimento da existência da Escola de Chicago e de como o conhecimento de senso comum a respeito da vida nas cidades está
impregnado das concepções desenvolvidas por esta Escola há quase um século.

EIXO ANÁLISE SOCIOLÓGICA DO MUNDO MODERNO: A SOCIEDADE


TEMÁTICO II: EM QUE VIVEMOS
Tópico: As grandes mudanças do período moderno e as conseqüências
para a vida social - a industrialização, a urbanização, as classes
sociais, grupos étnicos e a desigualdade
Temas Desigualdade social e as classes sociais - o entendimento de suas
Complementar condições no século XIX Baixe o módulo original em
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Porque ensinar
As desigualdades sociais, no mundo ocidental, sempre estiveram presentes em todas as sociedades, desde a antiguidade até a Idade Média. Na
modernidade, entretanto, essa questão não apenas se tornou mais evidente, como se tornou central com o advento das classes sociais. Se é
importante para o aluno do Ensino Médio conhecer a realidade social na qual vive, o entendimento a respeito das classes sociais se torna crucial,
pois a sociologia tem demonstrado não apenas que grande parte dos grandes conflitos na sociedade urbano-industrial gira em torno das
desigualdades e das classes sociais mas também que os esforços da democracia contemporânea para atenuar esses problemas sociais incluem
alianças de classes, e de outros grupos sociais, institucionalizando aqueles conflitos, como parte de sua solução. Dentro deste quadro mais geral,
torna-se importante o conhecimento das condições do agravamento dos conflitos de classe no século XIX e da primeira grande tentativa de
entendê-los sociologicamente.

O que ensinar
Um bom começo para o entendimento das origens e da dinâmica do desenvolvimento das classes, principalmente no século XIX, são os
ensinamentos de Marx.
Para ele, classe, no capitalismo, pode ser definida de forma genérica - já que Marx faz uso do termo de forma variada – em termos da relação de
grupamentos sociais com os meios de produção. Isto quer dizer que, basicamente, existem no capitalismo duas classes, uma, que detém os
meios de produção (matérias primas, maquinário, as fábricas, e o capital que pode comprá-los) e outra que não possui estes meios. Isto é o que
ele chama de relação de produção.
O capitalismo se caracteriza fundamentalmente pelo fato de os meios de produção, os produtos e, principalmente, a força de trabalho serem
uma mercadoria, vendida e comprada no mercado. Embora Marx inicie a sua obra mais famosa, O Capital, falando da mercadoria, ele está
mais preocupado, na realidade é com o processo de produção. A alienação, isto é, o fato do produto (ou mercadoria) se desvencilhar, se tornar
alheia (alienus em latim) ao produtor que o produz – aí, incluída a força de trabalho – serve apenas de mote para a descrição do processo de
produção capitalista, gerando as condições objetivas da reprodução e das relações de classe.
Essa divisão intensa do trabalho gera as condições para a criação de um produto excedente, que é apropriado pelo grupo que detém os meios de
produção. Esse produto excedente, no capitalismo, ele chama de mais-valia. Ao outro grupo, que se relaciona com o primeiro pela venda de
sua força de trabalho, cabe apenas uma parcela da riqueza produzida, que vai corresponder apenas àquilo de que precisa para se reproduzir, ou
seja, o seu salário. A primeira dessas classes é a burguesia, que compra essa força de trabalho. A outra é o proletariado. Essa relação de
produção gera assim a exploração de uma classe sobre a outra.
Desenvolve-se, a seguir, o axioma clássico de que a dominação política deriva-se dessa dominação econômica. Assim, em sua visão
dicotômica básica de classes, a uma relação de exploradores/ explorados, no plano econômico, segue-se outra deopressores/oprimidos, no
plano político. Nessa visão dicotômica, estabelece-se uma reciprocidade de dependência, muito embora essa dependência não seja simétrica.
Assim, o conflito de classes surge, inevitavelmente, dessa dependência recíproca assimétrica. Em cima dessas condições objetivas ele trabalha
as condições necessárias de consciência e ação. São as circunstâncias em que a classe “em si” se torna classe “para si”. A burguesia e o
proletariado passam a ser classe para si quando elas têm consciência de sua própria existência, ou, quando têm consciência de classe. (todas
essas considerações podem ser encontradas principalmente no primeiro volume de O Capital, na Introdução à Critica da Economia Política, e
no Manifesto Comunista. Os termos básicos de sua teoria de classe podem também ser encontrados no Dicionário do Pensamento
Marxista. Serão úteis também consultas ao livro de GIDDENS,1972, e GIDDENS,1975, e de QUINTANEIRO, 2003.

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Tópico: As grandes mudanças do período moderno e as conseqüências para a vida social: a
industrialização, a urbanização, as classes sociais, grupos étnicos e a desigualdade
Temas Desigualdade social e as classes sociais - a pluralidade de classes no século XX e XXI
Complementares:

a. Habilidades a serem desenvolvidas – Os alunos deverão adquirir a capacidade de perceber que as desigualdades no mundo capitalista atual
se mantêm, mas adquirem novas configurações. Os segmentos sociais se diversificam, há maior distribuição da riqueza produzida e novos
formatos de distribuição desses segmentos na população se configuram. Esta capacidade deve incluir, portanto, a percepção da pluralidade das
classes sociais como elemento fundamental para o entendimento dessas desigualdades. E que percebam que um modelo dicotômico de classes
sociais não permite alcançar a complexidade dessa realidade atual.
b. Providências necessárias – Os textos de referência deverão se encontrar disponíveis para leitura prévia pelos professores. A acessibilidade
dos mesmos textos aos alunos pode ser uma providência importante, para que o professor, a seu critério, selecione partes deles para leitura pelos
alunos.
c. Indicação dos prerrequisitos – Os alunos deverão ter clareza a respeito dos conceitos básicos que Marx utilizou para o entendimento do
surgimento e das relações de classe no século XIX. Isto se faz importante, porque a teoria de Weber e os sociólogos que o sucederam e que se
preocupam com as relações de classe, são um claro contra-ponto àquelas teorias. Supõe-se que tais conceitos tenham sido esclarecidos
devidamente na unidade anterior.
d. Procedimentos a serem desenvolvidos pelo professor da disciplina como pelos seus alunos – Um exercício inicial de motivação poderia
ser o seguinte: uma vez que, na unidade anterior, os alunos já tenham tido uma noção do que sejam as classes sociais, a partir das discussões
propostas por Marx para a situação no século XIX, pede-se a eles que distribuam as seguintes figuras públicas dentro de um esquema dicotômico
de classes sociais:
1. Um jogador de futebol de um grande clube de Minas, Rio ou São Paulo que ganhe R$ 150.000,00/mês.
2. Um outro jogador de um pequeno clube de um time da terceira divisão do futebol mineiro, que ganhe R$ 1.000,00/mês.
3. Um juiz de direito que ganhe R$ 15.000,00/mês.
4. Um pipoqueiro da esquina de seu bairro, que ganhe R$ 500,00/mês.
5. Um DJ que ganhe R$ 8.000,00/mês.
6. Um dono de uma fábrica de brinquedos que ganhe em média R$ 45.000,00/mês.
7. Um médico que ganhe em seu consultório em média R$ 25.000,00/mês.
8. Outro médico que ganhe R$ 3.000,00/mês.
9. Uma auxiliar de enfermagem que ganhe R$ 700,00/mês.
10. Um balconista de uma loja de calçados que ganhe R$ 800,00/mês.
11. Um dono de uma loja de departamentos que ganhe 13.000,00/mês.
12. Um funcionário público federal que ganhe R$ 2.500,00/mês409240.
13. Um funcionário público municipal que ganhe R$ 1.000,00/mês.
14. Um dono de um bar de bairro, que ganhe R$ 1.500,00/mês.
15. Um representante comercial que ganhe R$ 4.000,00/mês.
O professor poderá incluir várias outras imaginárias pessoas públicas na lista. A partir das classificações apresentadas pelos alunos, e das
dificuldades daí decorrentes, ele poderá usar as discrepâncias encontradas para chamar a atenção para a complexidade da situação de
diferenciação entre as pessoas em uma sociedade capitalista atual, introduzindo, oportunamente, os conceitos propostos na unidade. O professor
poderá sempre utilizar recursos áudio-visuais, como filmes e documentários como peças de motivação, a seu critério.
Bibliografia de apoio: 1. GIDDENS, Anthony, A Estrutura de Classes das Sociedades Avançadas, Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1975. 2.
GIDDENS, Anthony Sociologia, Porto Alegre: Artmed, 2005. 3. BRYM, Robert. J. et al.Sociologia, sua Bússola para um Novo Mundo, São
Paulo, Thomson Learn
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industrialização, a urbanização, as classes sociais, grupos étnicos e a desigualdade
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PORQUE ENSINAR
A realidade das classes sociais no século XX se torna bem mais complexa do que aquela com a qual Marx se deparou no século XIX. As
sociedades industriais não se polarizaram em apenas duas classes opostas, como ele previra. Ao contrário, quanto mais se desenvolvem estas
sociedades, mais aparece como um imperioso aspecto da realidade o fenômeno das classes médias. Essas classes médias se apresentam de forma
espetacular tanto em sua magnitude – cada vez mais nestas sociedades é proporcionalmente maior o número de pessoas a elas pertencentes –
quanto em sua heterogeneidade – cada vez mais suas manifestações empíricas se mostram mais e mais diferenciadas, a ponto de não se poder
falar de uma classe média, tornando-se imperioso falar-se de classes médias. A sociologia necessita, então, de dar conta, teoricamente, dessa
nova realidade. Não é possível um entendimento adequado da realidade atual das desigualdades sem se levar em conta o fenômeno dos estratos
médios.

O QUE ENSINAR
O modelo dicotômico abstrato, fortemente articulado teoricamente por Marx, encontra aplicação em formas históricas específicas de sociedades
capitalistas de forma muito problemática. O próprio Marx já admite a pluralidade de classes em todas as formas históricas de capitalismo. Ele
mesmo sentiu essa dificuldade em seu livro O 18 Brumário: analisando o golpe de estado bonapartista, o livro aparece como um honesto
esclarecimento conceitual das dificuldades de se fazer conexões entre propostas teóricas universais e fatos concretos aparecendo como
manifestações particulares da realidade.
Porém, foi Weber quem, de forma mais contudente, percebeu essas dificuldades na teoria de Marx, chamando a atenção para o significado
profundo do crescimento das classes médias. Além disso, o mercado, que para Marx, servia apenas de mote para o entendimento do processo de
produção capitalista, passa a ter uma centralidade maior no pensamento de Weber. A dinâmica do consumo passa a ter uma importância cada
vez maior, desde final do século XIX, mas principalmente no século XX, para o entendimento correto do processo capitalista como um todo.
Para Weber, a teoria marxiana do valor trabalho – ou seja de que é o trabalho que dá valor ao que é produzido no capitalismo – não encontra
base na história empírica. Ao contrário, no capitalismo moderno, o valor é atribuído às coisas pelo desejo que delas se tem no mercado, aí
incluindo o que ele chamou de habilidades vendáveis. Em seu estudo Classe, Estamento e Partido, ele enfatiza fortemente um modelo pluralista
de classes. Assim como Marx, Weber percebia as classes como categorias econômicas...Entretanto, ele não achava que um critério único –
posse ou falta de propriedade – determinasse a posição de classe. A posição de classe, escreveu, é determinada pela situação de mercado da
pessoa, o que inclui posse de bens, o nível de educação e o grau de habilidade técnica. Nessa perspectiva, Weber definiu quatro classes
principais: grandes proprietários; pequenos proprietários; empregados sem propriedades, mas altamente educados e bem pagos; e
trabalhadores manuais não-proprietários (GRYM, 2006: 192)
Dessa forma, empregados de colarinho branco e profissionais especializados surgem como um fundamento para uma variada gama de
possibilidades empíricas de grupos de classe média. Mesmo entre os operários, os artífices profissionalizados conseguem salários mais altos do
que os semi ou não-profissionalizados. (Uma discussão pertinente a respeito do contingente de White-collars nas sociedades desenvolvidas
encontra-se em GIDDENS, 1975, cap. X, p. 215-241. Ver também GRYM, 2006 p. 193-203 e GIDDENS, 2005, p. 237-247).
Seria necessário ainda lembrar que Weber propõe um outro critério para avaliar as desigualdades: a sua noção de grupos destatus. Aqui, os
grupos se diferenciam quanto à honra ou ao prestígio social conferido pelos demais. Nas sociedades tradicionais, osatus era determinado com
base no conhecimento que as pessoas tinham diretamente umas das outras. Nas sociedades modernas, ao contrário, ele passou a ser expresso
por estilos de vida: sinais de status é que moldam a posição social das pessoas aos olhos de outras, tais como o modo de falar, de vestir, a
moradia, o tipo de carro, e a ocupação. As pessoas que compartilham de um mesmo status formam uma comunidade. Imagine um
grupo étnico minoritário que imigrou recentemente a um país. Pode até ser que que seus membros tenham uma
renda elevada, mas gozem, entretanto, de um prestígio relativamente baixo. Os membros da comunidade étnica
maior, que recebeu estes migrantes, podem olhá-los com desdém, se suas práticas culturais forem diferentes das
daqueles. Assim, o lugar que este grupo minoritário terá na hierarquia social daquela sociedade não terá origem em
sua posição econômica, mas no nível de prestígio de que desfruta. (Uma boa referência encontra-se em GRYM,
2006, p.192-193: GIDDENS, 2005 p.236-237 e GIDDENS, 1975, cap. II, p. 45-59).
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industrialização, a urbanização, as classes sociais, grupos étnicos e a desigualdade
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Complementares:

Habilidades a serem desenvolvidas


Perceber que as sociedades complexas atuais, como a brasileira, são marcadas por grande desigualdade de acesso às riquezas nelas produzidas,
e que o processo industrial agravou tais condições. Perceber, também, nesse sentido, que as características do desenvolvimento do capitalismo
no século XIX ainda se desdobram em grande medida nas formas atuais dos processos de produção, gerando novos formatos de desigualdade de
acesso à riqueza. Tendo como pano de fundo tais questões, uma competência indispensável é saber avaliar a contribuição do pensamento de
Marx para o seu correto entendimento.

Providências necessárias
Os textos de referência indicados deverão ser previamente consultados pelo(a) professor(a). Eventuais excertos de tal bibliografia poderão ser
utilizados para leitura pelos alunos, a critério do(a) professor(a).

Indicação dos pré-requisitos


Os alunos deverão ter conhecimento da Revolução Industrial e das suas grandes conseqüências. Portanto, é altamente desejável que eles já
tenham conhecimentos históricos anteriores a respeito do assunto..

Procedimentos a serem desenvolvidos pelo professor da disciplina como pelos seus alunos
Um bom começo para a discussão de desigualdade seria a apresentação e discussão de dados que possam mostrar tais condições no Brasil. Como
exemplos, poder-se-ia tomar, primeiramente, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), publicado pela ONU por meio do Programa da
Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), em seus relatórios anuais(www.pnud.org/idh) .
O Brasil é o oitavo país em desigualdade social, na frente apenas da Guatemala e de seis países africanos, segundo o coeficiente de Gini. O
coeficiente de Gini varia de zero a 1,00. Zero significando que todos os indivíduos teriam a mesma renda e 1,00, que apenas um indivíduo teria
toda a renda. O índice brasileiro em 2003 foi de 0,593. No Brasil, 46,9% da renda nacional concentram-se nas mãos dos 10% mais ricos. Os 10%
mais pobres ficam com apenas 0,7% da renda.
O quadro é ainda mais desalentador, ao se verificar que tal situação vem se agravando no tempo. Segundo os censos de 1960 e 2000, do IBGE,
em 1960, os 20% mais pobres detinham 3,5% da renda nacional. Em 2000, os mesmos 20% mais pobres detinham 1,7% da renda. Em 1960, os
20% mais ricos se apropriavam de 54,4% da renda. Em 2000, eles se apropriavam de 67,41%.
Outra possibilidade, entrando no site do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (www.mds.gov.br), seria buscar o Catálogo
de Indicadores e, por exemplo, trabalhar com a tabela 1: Taxa de Cobertura do Programa Bolsa Família, de março de 2005. Também, através da
PNAD, encontra-se uma infinidade de dados que mostram, nas mais diversas dimensões, a questão da desigualdade.
A partir da exibição de dados como estes, poder-se-ia estabelecer uma dinâmica com a classe, com perguntas do tipo: por que vocês acham que
existem essas diferenças? Como se podem perceber essas desigualdades na cidade em que vivem? Em quais dimensões essas desigualdades
aparecem em sua cidade? Vocês acham que as coisas têm que ser assim? Haveria alguma determinação nisso?
A própria dinâmica da discussão com os alunos permitiria entrar na parte expositiva sobre as classes sociais, tal como delineada acima, sempre
com a preocupação de se ter a realidade brasileira como referência.
Algumas sugestões podem ser apontadas, visando se perceber se os objetivos relacionados a esta unidade foram alcançados. O professor poderá
se utilizar de uma charge que contenha uma referência à desigualdade e pedir que os alunos, individualmente ou em grupo, escrevam um
pequeno texto relacionando a charge ao conteúdo discutido. Uma proposta interessante neste sentido é apresentada por Nelson Tomazi em seu
livro Sociologia para o Ensino Médio, à pagina 93. Outra forma possível de avaliação poderia ser uma dinâmica em que o professor pediria aos
alunos para trazerem recortes de revistas mostrando pessoas em diferentes condições sociais: situações de clara opulência contrastadas com
outras de pobreza. Com tais recortes em mãos, eles seriam divididos em grupos de discussão, em que se pediria a eles para descrever as duas
situações relacionando tais descrições com o conteúdo apresentado na unidade. Outra possibilidade seria a retomada dos dados antes
mencionados sobre o Programa Bolsa Família, agora reproduzidos e distribuídos aos alunos. Em grupos eles iriam discutir o significado da
intervenção do Estado contemporâneo visando diminuir as diferenças sociais. Bibliografia sugerida: 1. TOMAZI, Nelson Sociologia para o
Ensino Médio,São Paulo, Atual Editora, 2007. 2. GIDDENS, Anthony Capitalismo e Moderna Teoria Social, Lisboa, Editorial Presença, 1972,
Primeira Parte. 3. GIDDENS, Anthony A estrutura de Classes das Sociedades Avançadas, Rio de Janeiro, 1975, Parte I, p. 25-44. 4. Laski,
Harold J. O Manifesto Comunista de Marx e Engels, Rio de Janeiro, 2ª. Edição, 1978 (principalmente a parte I do Manifesto,
intituladoBurgueses e Proletários). 5. Quintaneiro, Tânia et al. Um Toque de Clássicos, Belo Horizonte, Editora UFMG, 2ª. Edição, 2003. parte
1. 6. BOTTOMORE, Tom Dicionário do Pensamento Marxista, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1988.
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PORQUE ENSINAR
Pelas duas unidades anteriores, fica claro que, desde o início, duas grandes questões ganham importância no estudo das classes sociais. A
primeira é que o pano de fundo, o que de fato preocupa os estudiosos de classes sociais, desde Marx, é a questão da desigualdade nas sociedades
capitalistas. A segunda é a questão, que vai se tornando cada vez mais obrigatoriamente presente nas agendas políticas modernas, de como lidar
com essa desigualdade, buscando, se não eliminá-la, pelo menos, atenuá-la. Muito se discute se esta seria apenas uma estratégia capitalista para
atenuar e manter o conflito de classes em patamares institucionalmente suportáveis, ou se seria uma conquista gradual e histórica das classes
trabalhadoras. Independentemente de se tomar partido nessa querela, o certo é que não há como não reconhecer a importância da busca por mais
igualdade. Não há Estados democráticos modernos que não se preocupem com a questão política do combate às desigualdades. Este dado da
realidade não poderia permitir à sociologia deixar de se preocupar teoricamente com a questão. Um curso de sociologia não poderia deixar de
apresentar a seus alunos tais preocupações, levando a um entendimento mais adequado das situações de classe no chamado capitalismo
democrático, ou democracia social, prevalecente, em maior ou menor grau, em um grande número de países desenvolvidos da atualidade.

O QUE ENSINAR
Uma das manifestas características das sociedades que vivem em uma democracia social é que grande parte do conflito de classe se torna
institucionalizado, isto é, o conflito entre as classes não se dá de forma direta, como previra Marx, mas através de mecanismos institucionais, em
grande parte localizados no aparelho de Estado. Por exemplo, os procedimentos de arbitramento relativos a decisões sobre que parcelas da
riqueza produzida vai para a classe trabalhadora. O reconhecimento do direito de greve em conjunto com a existência de métodos mutuamente
aceitos de resolução de diferenças têm tido o efeito de confinar os conflitos à esfera da própria indústria, impedindo-os de ramificarem-se em
conflitos de classe (GIDDENS, 1975, p. 65, resumindo o pensamento de Ralf Dahrendorf a respeito da questão).
Mais importante, porém, o Estado passa a ter uma forte presença no mercado, no sentido de assegurar às classes menos favorecidas ganhos de
remuneração indireta, através de bens públicos, tais como saúde, previdência, educação, lazer, etc, O Estado atua no mercado, através de
mecanismos fiscais, buscando fontes de recursos na riqueza produzida e aplicando-os a favor das classes menos favorecidas, atenuando assim,
os conflitos que poderiam advir da situação extremamente assimétrica percebida por Marx no século XIX. Tal situação tem sido conhecida como
Estado de Bem Estar Social (Welfare State). Numa tal sociedade os movimentos sindicais e políticos dos trabalhadores e as reformas
propiciadas por tais movimentos permitem aos partidos trabalhistas chegar ao poder. Uma vez no poder, eles buscam um equilíbrio entre a taxa
de investimentos por parte dos capitalistas e uma taxação sobre os lucros tal que permita um fluxo de transferências e serviços governamentais às
classes trabalhadoras. (Um bom tratamento dessa questão encontra-se em PRZEWORSKI 1995, principalmente parte III. Também vale a pena
ler PRZEWORSKI, 1989, principalmente o capítulo 1. Também GIDDENS, 2005, p.272-279).
Uma terceira característica da democracia social pode ser vista como sendo os efeitos decorrentes do aumento nas taxas de mobilidade (a
respeito de mobilidade social, veja-se GRYM, 2006, p. 196-202; GIDDENS, 2005, p. 248-253). Dahrendorf tem opinião bastante polêmica a
respeito: Os efeitos da mobilidade inter e intrageracional generalizada são bipartidos. Em primeiro lugar, atuam no sentido de reduzir as
fronteiras entre as classes, e assim de desgastar quaisquer barreiras rígidas que possam, de outra forma, crescer entre elas. Em segundo lugar,
a existência de altas taxas de mobilidade social serve para “traduzir” os conflitos de classes em competição individual. Os antagonismos de
grupos – conflito de classes – diluem-se numa luta competitiva entre indivíduos por posições valorizadas dentro do sistema ocupacional ( in
GIDDENS, 1975, p. 65).
Tais características da social-democracia têm levado tanto sociólogos quanto políticos a preferirem a noção de exclusão social no lugar de
empregar o conceito de classes baixas (para se referir às classes menos favorecidas na sociedade). A idéia da exclusão social foi adotada por
políticos, mas foi introduzida inicialmente por autores da sociologia para se referirem às novas fontes de desigualdade. A exclusão social diz
respeito às formas pelas quais os indivíduos podem acabar isolados, sem um envolvimento integral na sociedade mais ampla. Mais abrangente
do que o conceito de classe baixa, tem ainda a vantagem de enfatizar osprocessos – mecanismos de exclusão...Também é diferente da pobreza
propriamente dita, concentrando sua atenção sobre uma ampla variedade de fatores que impedem que os indivíduos ou os grupos tenham as
mesmas oportunidades que estão abertas para a maioria da população...o conceito de exclusão social levanta a questão da ação. Afinal, a
palavra exclusão implica que alguém ou algo está sendo alijado por outro.(GIDDENS, 2005 p.265. Recomenda-se a leitura da p. 265 à p. 271).
A exclusão social pode assumir uma série de formas, tais como exclusão do consumo, do emprego, exclusão política, exclusão da leitura, do
lazer, os sem-teto, os sem-terra, exclusão digital. A exclusão pode também ser sentida no domínio da vida comunitária: áreas com ausência de
parques, quadras de esportes, centros culturais, teatros, bibliotecas.
Qualquer que seja a embocadura teórica adotada – uma visão marxista ou não marxista de classe ou o conceito de exclusão social – o certo é que
elas informam cada vez mais as chamadas políticas sociais, que vêm ganhando mais e mais centralidade na democracia atual. Cada vez mais
programas e políticas sociais visando a diminuição das desigualdades sociais são peças indispensáveis em planejamentos políticos responsáveis.
(Sobre as políticas sociais, veja-se GRYM, 2006, p. 203-210).
Estas seriam as referências teóricas que informariam uma parte expositiva sobre o tema. Mas, que fique claro que o
que se deve ensinar terá como preocupação central o entendimento de que existem claras desigualdades na
realidade social brasileira e que os alunos percebam com maior clareza tais características da realidade em que
vivem. E não apenas isso. Que essa percepção possa despertar neles, enquanto cidadãos, a ousadia do desejo de
mudança.
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Complementares:

Habilidades a serem desenvolvidas


A capacidade de entendimento das características básicas da social-democracia, aí incluídas as formas atuais das relações entre as classes, que
passam necessariamente pelo Estado. A capacidade de perceber com clareza os processos de exclusão social, bem como a importância das
políticas sociais visando a inclusão social.

Providências necessárias
A leitura dos textos de referência aqui indicados por parte do professor é indispensável. Bom seria que fosse providenciado para que essa
bibliografia fizesse parte da biblioteca da escola, para que eventualmente, a critério do professor, partes dela pudessem ser reproduzidas para
leitura pelos alunos.

Prerrequisitos
Toda a discussão anterior sobre classes sociais terão que estar presente na memória do professor e dos alunos. A discussão sobre a social-
democracia não pode prescindir daquelas discussões.

Descrição dos procedimentos


Um bom começo para se introduzir a temática desta unidade poderia ser um exercício em que fosse pedido aos alunos que entrassem
nos sites dos ministérios que lidam com a área social (por exemplo, Ministério do Desenvolvimento Social, Ministério da Educação, Ministério
da Saúde, Ministério da Justiça) e buscassem identificar em cada um deles pelo menos uma política ou programa social que estejam sendo
implantados que tenham a ver com o propósito de alcançar cidadãos menos favorecidos. A idéia é que o professor pergunte depois aos alunos
sobre as razões de tais políticas ou programas. Dependendo das respostas, o professor poderá encontrar oportunidades de introduzir as temáticas
aqui propostas. Outra iniciativa poderia ser a exibição de algum filme ou documentário que evidencie a problemática da desigualdade no Brasil.
Uma peça interessante para avaliação seria a utilização do quadro 6.1 em GRYM, 2006, p. 206. O exercício exigiria a explanação aos alunos da
distinção clara entre políticas sociais universalistas e políticas sociais focalizadas, que são bem explicadas no texto que antecede o exercício.
Bibliografia de apoio: 1. GIDDENS, Anthony, A Estrutura de Classes das Sociedades Avançadas, Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1975. 2.
GIDDENS, Anthony Sociologia, Porto Alegre: Artmed, 2005. 3. BRYM, Robert. J. et al. Sociologia, sua Bússola para um Novo Mundo, São
Paulo, Thomson Learning, 2006. 4. PRZEWORSKI, Adam Estado e Economia no Capitalismo, Rio de Janeiro, Relume-Dumará,1995. 5.
PRZEWORSKI, Adam Capitalismo e Social-Democracia, São Paulo, Companhia das Letras, 1989.
EIXO ANÁLISE SOCIOLÓGICA DO MUNDO MODERNO: A SOCIEDADE
TEMÁTICO II: EM QUE VIVEMOS
Tópico: Valores, normas e a diversidade cultural
Temas Valores e Normas sociais
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Porque ensinar
O conceito de cultura é um dos mais usados nas ciências sociais. Embora diferenciado do conceito de sociedade, está claro que nenhuma cultura
poderia existir sem sociedade assim como toda sociedade desenvolve uma cultura própria. Todos nós adquirimos nossas características
específicas humanas em um contexto social e cultural também específico. O estudo dos aspectos e questões envolvidos na construção de
identidades culturais e sociais é importante para a compreensão de diferenças nas orientações valorativas, nas normas sociais e nos
comportamentos de indivíduos e grupos em sociedade, assim como para o entendimento dos contrastes entre culturas de diferentes populações
em sociedades de diversos tempos e lugares. O conhecimento sobre tais aspectos da realidade social contribui significativamente para a
convivência mais ampla e a maior tolerância quanto às diferentes orientações de natureza cultural e social.

Condições prévias para ensinar


O ensino deste tópico requer uma visão geral prévia sobre diferentes tipos de sociedade – sociedades tradicionais e modernas (tópicos anteriores
do programa) - assim como conhecimentos básicos de História Geral e Geografia Humana. O estudo dos conceitos de cultura e natureza,
desenvolvido na disciplina de Filosofia, também pode facilitar a compreensão do tema e das questões envolvidas.

O que ensinar
O núcleo do tema deste tópico gira em torno da noção de cultura compreendida como a construção coletiva característica dos seres humanos
enquanto construtores de um mundo propriamente “humano”. É o mundo em que vivemos e que não está “dado” pela natureza em sua forma
original, biológica e instintiva. Esse mundo, resultante das atividades criadoras dos humanos, é cheio de significados, devendo ser analisado e
compreendido como produto das transformações que os homens operam sobre a natureza e resultante das interações humanas em um
determinado tempo e lugar, em um contexto social específico. As formas de cooperação e de comunicação entre os membros da sociedade são
elementos constitutivos da sua cultura. Para a Sociologia, o termo cultura possui um sentido muito amplo envolvendo todas as práticas, idéias,
valores, normas de comportamento, organismos sociais e objetos materiais que criamos para lidar com os problemas da vida prática e resolver as
questões da vida em comum.
A diversidade cultural também deve ser enfatizada como uma característica das sociedades humanas que se manifesta não apenas nas mudanças
valorativas e comportamentais através dos tempos mas também entre diferentes sociedades de uma mesma época. Por outro lado, podemos
encontrar grupos que se distinguem, dentro de uma cultura maior, por seus padrões culturais. Esses grupos desenvolvem subculturas ou podem
até mesmo promover “contraculturas” ao rejeitar os valores e as normas dominantes em uma sociedade com o objetivo de provocar mudanças.
São exemplos de tais grupos: os hippis, os naturalistas, os fãs de hip-hop ou torcedores de times de futebol. Esses grupos, assim como os
movimentos sociais que promovem estilos e padrões de vida diferenciados podem constituir-se em forças significativas de mudança dentro da
sociedade. Os movimentos estudantis e operários da segunda metade da década de 60 do século passado, por exemplo, realizaram o que ficou
conhecido como“ a revolução de 1968” e que sacudiu as sociedades da Europa ocidental, dos Estados Unidos e de alguns países da América
Latina, inclusive a brasileira, com sua passeatas, barricadas ( no caso da França) e greves, provocando um grande debate cultural em todas essas
sociedades. Tais movimentos ainda são estudados na busca de se entender a influência real que tiveram nas mudanças comportamentais das
últimas décadas do século XX, chegando até os nossos dias.
Idéias e conceitos básicos:
- O conceito de cultura: aspectos “intangíveis” como valores, crenças, idéias, teorias e normas sociais; aspectos “tangíveis” como os objetos e os
produtos do trabalho, das artes, da ciência e da tecnologia. Esses elementos constitutivos da cultura são compartilhados pelos membros da
sociedade, formam o contexto comum em que vivem, tornando possível a cooperação e a comunicação.
- Valores e normas: definem o que é considerado fundamental, importante e desejável para a orientação da vida das pessoas e para os
comportamentos de indivíduos e grupos nas interações sociais. As normas são entendidas como regras de comportamento que refletem os
valores de uma cultura.
- Diversidade cultural, subculturas, etnocentrismo: é grande a diversidade das práticas e dos comportamentos humanos. Formas aceitáveis de
comportamento variam muito de cultura para cultura e, muitas vezes, contrastam com o que nós consideramos “normal”. ( ver glossário)

Como ensinar
Para introduzir o tema o professor pode utilizar filmes, reportagens de revistas e/ou jornais que tratam de casos que descrevem costumes e/ou
comportamentos contrastantes em relação aos de nossa cultura e com os quais estamos acostumados a conviver.
É importante para a compreensão do conceito de cultura que os alunos sejam estimulados a refletir sobre sua forma e estilo de vida, de seus
familiares, de seu grupo de amigos, das pessoas em geral, procurando entender que aspectos em sua vida e em seus comportamentos são
compartilhados e o que elas possuem em comum, a começar pela língua que falam e outras linguagens (como a dos gestos e sinais) que utilizam
para se comunicar, assim como as formas de cooperação que são capazes de identificar como características do contexto e da sociedade em que
vivem.
Uma estratégia interessante para a discussão das questões referentes ao tema é explorar as diferenças marcantes entre o ambiente cultural de
sociedades orientadas pelos costumes e valores de tipo tradicional, ainda hoje comuns em pequenas cidades do interior, e o ambiente em
contextos sociais modernos como o das grandes metrópoles contemporâneas. Por outro lado, é importante chamar a atenção pra a
universalização de comportamentos e estilos de vida, especialmente entre os jovens, e que são difundidos e estimulados pelos meios de
comunicação de massa e pelo uso cada vez maior da internet.
Os alunos devem ser estimulados a refletir e pesquisar sobre as diferenças culturais entre diversas sociedades e/ou diferentes grupos em nossa
sociedade, tanto do presente quanto do passado. Nas análises e comentários sobre os costumes, as idéias e estilos de vida de outras culturas o
professor deve expor os estudantes às questões relacionadas com o etnocentrismo (ver glossário). Se outras culturas nos parecem estranhas,
pouco racionais e, às vezes, inferiores, é porque tendemos a percebê-las e avaliá-las a partir do nosso ponto de vista cultural e influenciados pelas
nossas concepções. Nós olhamos os outros e o que é exterior ao nosso mundo, marcados pela experiência pessoal em nosso ambiente cultural e
social. Ao tratar dessa questão o professor pode, mais uma vez, enfatizar a exigência de distanciamento que a análise sociológica requer, neste
caso, para considerar e compreender o “ponto de vista” e o significado de outras culturas. São necessários uma observação mais apurada e um
trabalho intelectual de interpretação para “isolar”, na medida do possível, as influências de nossa própria visão e formação cultural específica.

Como avaliar
Para a avaliação deste tópico o professor poderá solicitar aos alunos a apresentação de um pequeno relatório indicando algumas práticas sociais e
normas de comportamento que hoje são aceitas como normais e que para seus pais, ou outros adultos mais idosos, não eram reconhecidas
socialmente há poucas décadas passadas (por exemplo: costumes relativos ao comportamento sexual e às relações afetivas entre os jovens). O
aluno poderá também comentar a que atribui tal mudança cultural. Esse relatório poderá ser produzido a partir de entrevistas realizadas pelos
estudantes com pessoas idosas ou baseado em algum texto jornalístico ou de outra fonte que apresente casos referentes à mudança em costumes
ou regras sociais.
Outra forma de avaliar poderá ser através da apresentação de um relato de aspectos culturais contrastantes em diferentes grupos ou setores da
sociedade brasileira e que indicariam manifestações de identidades sociais distintas da maioria da população. Neste caso, os alunos devem
indicar com clareza em que reside o contraste com os modos culturais predominantes.
Uma terceira maneira de avaliar: - costumes, valores ou hábitos e estilos de vida (como na culinária, na moda, nas
festividades, nas práticas religiosas, etc.) de países de culturas não ocidentais podem ser investigados pelos alunos
utilizando informações e conhecimentos transmitidos pelas disciplinas de História e de Geografia Humana. (Por
exemplo: o caráter sagrado das vacas na Índia. Como podemos explicar tal culto do ponto de vista da cultura
indiana?)
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Tópico: Valores, normas e a diversidade cultural
Temas Valores e Normas sociais
Complementares:

Objetivos:
As atividades devem propiciar aos alunos distinguir com clareza o significado do termo culturapossibilitando compreender, pelo esforço de
reflexão e análise, os aspectos importantes da vida cultural e que estão diretamente associados aos processos históricos que criam e desenvolvem
ambientes próprios a cada e qualquer sociedade.
 Exposição inicial pelo professor: esclarecimentos sobre o sentido que o termo cultura possui para a Sociologia utilizando o seguinte
texto que procura resumir alguns aspectos básicos referentes ao tema. Este texto poderá também ser lido previamente pelos estudantes em
preparação para o estudo do tópico.
O conceito de cultura está entre os mais usados na Sociologia e refere-se às formas de vida dos membros de uma sociedade ou de grupos dentro
da sociedade – inclui a arte, a literatura e a pintura, as várias formas de expressão como o modo de vestir das pessoas, seus costumes, padrões de
trabalho e cerimônias religiosas. (Ver o cap. 2, em Giddens, A., Sociologia, pp. 38-58) Deve-se dar especial atenção para a complexidade da
trama dos elementos que integram os ambientes culturais: os costumes que são praticados de maneira espontânea, as crenças adotadas e que
servem para as pessoas darem sentido às suas vidas nas circunstâncias(lugar e tempo histórico) em que lhes é dado viver (como as doutrinas
religiosas e as ideologias), os modos de organização da vida produtiva com seus instrumentos de trabalho, os mecanismos sociais desenvolvidos
para a resolução dos problemas da vida coletiva, as idéias das teorias científicas, as várias formas de expressão e de manifestação das artes, os
estilos da vida familiar, as igrejas, as formas de funcionamento do Estado e da vida política, as leis que regem a vida social, além dos valores e
normas incorporados socialmente. O mundo da cultura é constituído do vasto campo que abrange as idéias abstratas que traduzem a vida da
imaginação e do pensamento, as várias formas de linguagem, os arranjos sociais que permitem e favorecem a cooperação entre as pessoas e,
ainda, as formas de organização da produção e reprodução da vida material com seus instrumentos e técnicas que contribuem para melhorar
nossa habilidade em extrair da natureza aquilo que queremos.

 Levantamento de exemplos de componentes culturais:


Após a apresentação introdutória do tópico o professor solicita aos estudantes que apresentem exemplos de elementos característicos de nossa
cultura: valores, crenças, costumes, tecnologias (maneiras de fazer as coisas), formas de lazer e outros que integram e caracterizam nosso
ambiente de convivência e forma de vida. O professor deve pedir aos alunos que identifiquem componentes de outras culturas diferentes da
nossa e que nos parecem estranhos. O propósito dessa atividade é identificar e contrastar elementos de diversos ambientes culturais visando a
esclarecer o conceito sociológico de cultura.
Essa atividade poderá ser desenvolvida com o conjunto dos alunos ou em pequenos grupos. A partir das sugestões dos estudantes o professor
deve ajudá-los no reconhecimento dos aspectos de natureza cultural que divergem de nossas idéias e concepções sobre o modo e organização da
vida social, nossos comportamentos e costumes assumidos pela maioria da população. Ao comparar e comentar diferentes culturas deve-se
prestar atenção para eventuais manifestações de etnocentrismo. (Ver glossário) Os problemas envolvidos nas comparações e avaliações culturais
levantam uma questão que tem se tornado fonte de grande debate transformando-se em foco de tensão no mundo da política global,
especialmente para os que lidam na esfera internacional dos direitos humanos. Trata-se do significado e abrangência do relativismo cultural no
mundo contemporâneo. Para lidar com essa questão o professor pode reproduzir o pequeno texto abaixo e, após a leitura feita pelos alunos,
promover uma discussão em torno das perguntas sugeridas abaixo.
A questão é a seguinte: é possível avaliarmos os valores e normas de uma outra cultura? Baseados em que critérios podemos julgar uma outra
forma de vida cultural como melhor ou inferior à nossa? Essa é uma questão polêmica que provoca grandes debates nas ciências sociais.
Considere o caso a seguir relatado por Anthony Giddens em seu livro Sociologia, (2001, p.42) e discuta os aspectos envolvidos na avaliação do
caso.
No Afeganistão,” sob o domínio do Talibã, as mulheres afegãs foram submetidas a normas rígidas que governam todos os aspectos de suas
vidas, incluindo o modo como elas se vestem, seus movimentos em público e seus assuntos particulares. Ao aparecer fora de casa, as mulheres
precisam estar completamente cobertas, da cabeça aos pés, e usar um pano para esconder os rostos. As mulheres perderam o direito de trabalhar
fora de casa e de serem educadas. A versão da lei islâmica Sharia praticada pelo Talibã é considerada rígida por muitos eruditos muçulmanos. A
despeito das críticas da comunidade internacional e de acaloradas campanhas em benefício das mulheres afegãs, o Talibã afirma que suas
políticas em relação As mulheres são essenciais para a construção de uma sociedade casta, em que as mulheres sejam completamente respeitadas
e sua dignidade seja reverenciada.”
O sociólogo Giddens, autor do texto acima, pergunta: “As políticas do Talibã para as mulheres são aceitáveis no início do século XXI?” O
relativismo cultural –“ou seja, suspender suas próprias crenças culturais profundamente sustentadas e examinar uma situação de acordo com os
padrões de outra cultura – pode ser repleto de incerteza e desafio”.( ...) “ Questões preocupantes são levantadas. O relativismo cultural significa
que todos os costumes e comportamentos são igualmente legítimos? Haveria padrões universais aos quais todos os humanos deveriam aderir?”
Giddens acrescenta, “não há soluções simples para esse dilema e para dúzias de outros casos nos quais normas e valores culturais não
coincidem.” ... “O papel do sociólogo é evitar “respostas automáticas” e examinar questões complexas cuidadosamente a partir de tantos ângulos
diferentes quanto possível.”

Glossário:
- valores: idéias que definem o que é considerado importante e desejável dando sentido e direção às ações humanas.
- normas: são regras de comportamento que refletem ou incorporam os valores de uma cultura.
- linguagens: sistemas de símbolos que se relacionam possibilitando a comunicação do que pensamos (como as notações matemáticas).
- etnocentrismo: é a tendência de julgar elementos de outras culturas com base nos padrões de nossa própria
cultura, o que torna difícil simpatizar com as idéias ou com os comportamentos das pessoas de um cultura
diferente.
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TEMÁTICO II: EM QUE VIVEMOS
Tópico: Valores, normas e a diversidade cultural
Temas Processo de Socialização e identidades sociais
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Porque ensinar
Ao aprender o significado que a Sociologia atribui ao processo de socialização e as maneiras como este processo se desenvolve, o estudante
poderá ampliar sua visão e consciência sobre os mecanismos que operam na sociedade e que dizem respeito à vida cultural. Através desse
processo aprendemos o modo de vida da sociedade em que nascemos e no qual nossas identidades, pessoal e de grupo, se desenvolvem.
Através do processo de socialização nos tornamos, gradualmente, pessoas auto- conscientes e capazes de lidar de forma competente com o
mundo a nossa volta.
O estudo deste tópico pode contribuir para uma melhor compreensão da identidade pessoal (auto-identidade) e da identidade dos grupos sociais a
que pertencemos como a família, o gênero, o grupo religioso, o grupo de convivência social, o grupo profissional e outros.

Condições prévias para ensinar


Este tópico deve ser ensinado após o estudo do tema referente à noção de cultura (valores e normas sociais), tratada no tópico anterior.
O que ensinar
Idéias básicas:
- O processo de socialização é o principal mecanismo que uma sociedade possui para a transmissão da cultura através do tempo e das gerações.
A socialização está diretamente relacionada com as construções das identidades sociais e deve ser vista como um processo que dura a vida toda
na medida em que as nossas idéias e o nosso comportamento são continuamente influenciados pelos relacionamentos sociais e pelo ambiente em
que vivemos.
- A socialização como o processo através do qual as pessoas apreendem os hábitos, os costumes, valores e normas de uma determinada cultura.
Os vários aspectos envolvidos nesse processo na infância, na adolescência e na vida adulta, indicando o caráter contínuo da socialização. As
identidades e a aprendizagem de papéis sociais.
- A natureza complexa do processo de socialização na medida em que as influências culturais e sociais que recebemos são confrontadas com
reações e orientações de caráter propriamente individuais.
- Mudanças culturais no mundo contemporâneo: um mundo em contínua mudança. O desenvolvimento da ciência e a secularização. As
tecnologias da informação, a mídia e a socialização dos jovens. As identidades culturais nos dias atuais. Os efeitos da globalização no mundo
cultural.

Como ensinar
O professor poderá iniciar o estudo deste tópico pedindo aos alunos que identifiquem formas de comportamento e regras que lhes foram
transmitidas e são exigidas em suas casas e na escola. É importante reconhecer como desde o nascimento somos socializados na cultura de nossa
família e como a infância é um período de intensa aprendizagem cultural. Aprendemos a falar com aqueles que cuidam de nós na primeira
infância. Nesse primeiro período da vida é quando as crianças aprendem a língua e os padrões básicos de comportamento que formam a base
para toda a socialização posterior. Aqui, o professor pode ilustrar a importância de uma família nessa fase primária da socialização relatando os
casos estudados de crianças que vivenciaram o isolamento social e, assim, foram incapazes de adquirir as habilidades humanas básicas e
tenderam a se parecer mais com os animais. É o caso de um menino encontrado em um bosque no sul da França, em 1800. “Ele estava sujo, nu,
era incapaz de falar e não aprendera a usar o sanitário ... Nenhum pai ou mãe jamais o procurou. Tornou-se conhecido como “o menino selvagem
de Aveyron”. Um exame médico completo não encontrou quaisquer anormalidades físicas ou mentais importantes. Por que, então, o menino
parecia mais animal que humano?” (caso citado no livro, de vários autores, Sociologia – sua Bússola para um Novo Mundo, p. 106) São vários
os casos semelhantes, relatados na literatura de ciências sociais. O filme alemão O enigma de Kaspar Hause apresenta outro caso de isolamento
social na infância e que acarretou sérios danos para o desenvolvimento pessoal de um ser humano, aparentemente, com capacidades normais.
Deve-se mencionar Freud como um dos principais estudiosos da formação da identidade pessoal (do self) que, há mais de cem anos, reconheceu
na família o agente mais importante da socialização primária. Algumas questões importantes têm sido levantadas em relação à transformação das
famílias nas últimas décadas e o crescimento das taxas de divórcio que podem estar afetando o cuidado com as crianças e, portanto, sua
socialização.
Para tratar de outro agente importante de socialização, as escolas, o professor pode solicitar a seus alunos que indiquem os aspectos em relação
aos quais eles reconhecem o papel socializador da educação escolar. Alguns pontos básicos estão relacionados com a preparação para o mundo
do trabalho, com a formação intelectual e cultural das novas gerações no sentido de prepará-las para a vida social mais ampla. Esse aspecto da
educação escolar tem sido analisado criticamente por alguns estudiosos que identificam no sistema escolar uma organização devotada
principalmente a reproduzir o sistema de valores e padrões de vida estabelecidos. O professor pode propor aos estudantes um debate sobre as
maneiras com que a escola e o sistema de ensino, de um modo geral, podem desenvolver atividades mais críticas visando a superação das
limitações identificadas no processo de socialização.

Como avaliar
As questões formuladas para orientar o estudo dirigido do texto no RA, poderão ser utilizadas para a avaliação.

Glossário: papel –
é o comportamento esperado de uma pessoa que ocupa uma determinada posição na sociedade.
(por ex. papel de mãe, de filho, de médico, de deputado, de estudante,etc)
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Tópico: Valores, normas e a diversidade cultural
Temas Processo de Socialização e identidades sociais
Complementares:

Objetivo: As atividades desenvolvidas em relação ao tema deste tópico visam a capacitar os alunos para compreender a importância do processo
de socialização para o funcionamento e desenvolvimento das sociedades, para as interações sociais e a vida pessoal de seus membros.
 Inicialmente, como introdução ao tema, o professor poderá relatar o caso do “menino selvagem de Aveyron”, mencionado na OP e que
ilustra o grande problema decorrente da ausência de socialização de uma criança. O caso sugere questões referentes ao sentido fundamental que
o processo de socialização desempenha em relação à condição eminentemente social da vida humana e que o professor poderá debater com seus
alunos.
 .Estudo dirigido do seguinte texto que resume algumas das principais idéias e conceitos sobre o processo de socialização.
Trechos selecionados e extraídos do capítulo “Cultura e Sociedade” do livro de Anthony Giddens, Sociologia. (editora Artmed, 2005, pp. 42 a
44.)

Socialização
“O processo pelo qual as crianças, ou outros novos membros da sociedade, aprendem o modo de vida de sua sociedade é chamado
desocialização. A socialização é o principal canal para a transmissão da cultura através do tempo e das gerações.
Os animais que estão mais abaixo na escala evolutiva são capazes de se defender logo depois de terem nascido, com pouca ou nenhuma ajuda
dos adultos. Os animais mais acima na escala, contudo têm que aprender formas apropriadas de comportamento – os jovens são, com
freqüência, completamente indefesos no nascimento e têm que ser cuidados pelos mais velhos. As crianças humanas são as mais indefesas de
todas; uma criança humana não pode sobreviver sem ajuda pelo menos durante os primeiros quatro ou cinco anos de vida. A socialização,
portanto, é o processo por meio do qual a criança indefesa gradualmente se torna uma pessoa autoconsciente e instruída, hábil nos modos da
cultura na qual ela nasceu. A socialização não é um tipo de “programação cultural”, em que a criança absorve passivamente as influências
com as quais ela entra em contato. Mesmo os recém-nascidos têm necessidades e exigências que afetam o comportamento daqueles
responsáveis pelo seu cuidado: a criança é, desde o início, um ser ativo.” ... “Os cuidados dos pais comumente ligam as atividades dos adultos
às crianças para o restantes de suas vidas. As pessoas mais velhas, é claro, permanecem pais quando se tornam avós, produzindo então outro
conjunto de relações, ligando diferentes gerações umas com as outras. A socialização, portanto, deveria ser vista como um processo que dura a
vida inteira , em que o comportamento humano é continuamente modelado pelas interações sociais. Ela permite que os indivíduos desenvolvam
a si mesmos e a seu potencial, a aprender e a fazer ajustes.” ... “Os agentes de socialização são grupos ou contextos sociais em que ocorrem
processos significativos de socialização. A socialização primária ocorre na primeira infância e na infância é o mais intenso período de
aprendizagem cultural. É o tempo em que as crianças aprendem a língua e os padrões básicos de comportamento que formam a base para o
aprendizado posterior. A família é o principal agente de socialização durante essa fase. A socialização secundária tem lugar mais tarde na
infância e na maturidade. Nessa fase, outros agentes de socialização assumem algumas das responsabilidades que antes eram da família. As
escolas, os grupos de iguais, as organizações, a mídia e finalmente o lugar de trabalho se tornam formas socializantes para os indivíduos. As
interações sociais nesses contextos ajudam as pessoas a aprenderem os valores, as normas e as crenças que constituem os padrões de sua
cultura.”

Papéis sociais e Identidade


A socialização é o processo através do qual as pessoas aprendem a sua cultura. Elas o fazem (1) adotando e abandonando uma série de papéis
e (2) tornando-se conscientes de si próprias enquanto interagem com os outros.
“Através do processo de socialização, os indivíduos aprendem sobre os papéis sociais – expectativas socialmente definidas que uma pessoa
segue numa dada posição social.” Entretanto, não se deve supor “que os indivíduos simplesmente assumem papéis, mais do que os criam ou
negociam. ... eles não são simplesmente sujeitos passivos esperando para serem instruídos ou programados. Os indivíduos passam a entender e
a assumir papéis sociais por meio de um processo progressivo de interação social.”
“O fato de que, do nascimento até a morte, estejamos em interação com outros certamente condiciona nossas personalidades, os valores que
sustentamos e o comportamento em que nos engajamos. Além disso, a socialização está também na origem de nossa própria individualidade e
liberdade. No decorrer da socialização, cada um de nós desenvolve um sentido de identidade e a capacidade para o pensamento e a ação
independentes. (...) De um modo geral, a identidade se relaciona ao conjunto de compreensões que as pessoas mantêm sobre quem elas são e
sobre o que é significativo para elas. (...) Algumas das principais fontes de identidade incluem gênero, orientação sexual, nacionalidade ou
etnicidade e classe social. (...) Dois tipos de identidade são em geral mencionados pelos sociólogos: a identidade social e a auto-identidade (ou
identidade pessoal). Essas formas de identidade (...) são intimamente relacionadas entre si. A identidade social refere-se às características que
são atribuídas a um indivíduo pelos outros. (o católico, o sem-teto, a mãe, o asiático, o casado...). Muitos indivíduos têm identidades sociais que
compreendem mais do que um atributo.” (por exemplo, uma mãe, engenheira, muçulmana e vereadora)
“Se as identidades sociais marcam as formas pelas quais os indivíduos são “o mesmo” que os outros, a auto-identidade (ou identidade pessoal)
nos separa como indivíduos distintos. A auto-identidade se refere ao processo de autodesenvolvimento através do qual formulamos um sentido
único de nós mesmos e de nossa relação com o mundo à nossa volta. (...) É a negociação constante do indivíduo com o mundo exterior que
ajuda a criar e a moldar seu sentido de si mesmo.”
“ Os processos de crescimento urbano, de industrialização e o colapso de formações sociais antigas enfraqueceram o impacto de regras e de
convenções herdadas. Os indivíduos se tornaram social e geograficamente móveis. Isso libertou as pessoas das comunidades relativamente
homogêneas e estreitamente interligadas do passado, nas quais os padrões eram transmitidos de um modo fixo de geração a geração.”
“No mundo atual, temos oportunidades sem precedentes de moldar a nós mesmos e de criar nossas próprias identidades. (...) Por meio de nossa
capacidade como seres humanos autoconscientes, constantemente criamos e recriamos nossas identidades.”

Questões para orientar a leitura do texto acima:


. Qual a importância mais geral do processo de socialização?
. De que forma a socialização difere da doutrinação ou da “lavagem cerebral”?
. Qual a diferença entre identidade social e identidade pessoal? Como se relacionam?
EIXO ANÁLISE SOCIOLÓGICA DO MUNDO MODERNO: A SOCIEDADE
TEMÁTICO II: EM QUE VIVEMOS
Tópico: Estado de Direito e a Democracia Moderna
Temas O problema da ordem social - a autoridade política e a legitimidade
Complementar do poder
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Porque ensinar
A introdução ao estudo de temas e questões da sociologia política contribui para uma melhor compreensão da esfera política, ajudando a
esclarecer alguns elementos fundamentais envolvidos no jogo político. Ao mesmo tempo esse estudo estará preparando o aluno para os próximos
tópicos, os que tratam da democracia, seus principais aspectos e problemas. Compreendendo o significado dos conceitos e sendo capaz de
utilizá-los corretamente o estudante será capaz de contribuir para a discussão de questões que dizem respeito às atribuições e funções da
autoridade política.

Condições prévias para ensinar


Sugere-se que o professor trate esse tópico na sequência apresentada no CBC. Os alunos familiarizados com o tema relativo ao processo de
socialização (valores e normas sociais, identidades grupais) e com o tópico sobre as características básicas das sociedades modernas, não
encontrarão maiores dificuldades no presente estudo.

O que ensinar
O aspecto central a ser estudado nesse tópico refere-se ao problema da ordem social, sua relação com o poder e o papel da autoridade superior
exercida pelo Estado. O professor deverá tratar das questões relativas ao reconhecimento da autoridade do Estado para exigir obediência por
parte dos membros integrantes da comunidade política. Por que razões devemos obedecer as ordens do Estado? A resposta a esta pergunta
envolve esclarecer a relação entre governantes e governados, os fundamentos do poder político e da autoridade, sua legitimidade e sua
manutenção.
O tema inicial é o das regras gerais que orientam as pessoas em suas ações e definem os comportamentos nas interações sociais. A sequência de
questões a serem discutidas pode ser a seguinte: reconhecendo que existem regras socialmente aceitas que definem o que podemos e o que não
podemos fazer na convivência social, qual o sentido dessas regras? Uma vez definido o que é permitido e o que é proibido nas várias esferas da
vida social como garantir que os membros da coletividade sigam, em suas interações, as regras reconhecidas pela maioria dos membros da
sociedade? Tais questões devem permitir conduzir a discussão e a análise para o nível mais amplo do poder das organizações sociais para
influenciar nossos comportamentos assim como o da esfera de atuação das instituições que fazem parte do Estado e exercem o poder e a
autoridade sobre os indivíduos e as organizações que integram a sociedade. O que distingue o poder e a autoridade do Estado? E, como o poder
central e soberano que caracteriza o Estado pode controlar e garantir a submissão dos governados e dos diversos setores da sociedade aos
princípios gerais que regem a vida coletiva?
A análise dos elementos de natureza cultural que formam os membros da sociedade para a convivência social (leis,valores, costumes e normas
sociais) deve ser combinada com a análise das características do Estado enquanto legislador e administrador da justiça, possuindo, para tanto, o
monopólio do uso da força física (o aparato policial). No exercício do poder e da autoridade o Estado precisa contar com o consentimento dos
membros da comunidade política o que envolve o reconhecimento da legitimidade de suas ações, inclusive no uso do aparato policial e militar
(de controle e uso exclusivo pelo Estado).
Idéias e conceitos básicos:
 a idéia de que existe um vínculo social básico por trás de toda associação humana inspirou várias teorias sociais ( a noção de
identidade coletiva). A noção de que toda organização social é sustentada por um acordo, produzido através de processos históricos, em torno de
valores ou objetivos que estão na origem e constituem o fundamento da confiança que sustenta aquela coletividade ((componentes da identidade
cultural).
 a perda de eficácia e/ou rejeição de valores, costumes e modos de organização da vida coletiva podem gerar discordância e produzir
formas variadas de conflito social e/ou político. As classes sociais, os diferentes grupos sociais e a distribuição do poder na sociedade e as
conseqüências para a vida política. O consenso e o conflito como dois componentes da vida social. povo. A política como o exercício do poder
sobre a vida coletiva de um povo.
 poder e autoridade: o problema da legitimidade. Tipos de autoridade em Max Weber: tradicional, carismática e racional-legal.

Como ensinar
O professor poderá orientar o desenvolvimento inicial deste tópico sugerindo algumas questões que motivam nossa reflexão sobre o problema da
ordem social. As perguntas seriam: o que mantém a sociedade coesa? O que torna a ordem social possível e duradoura mesmo em sociedades
onde persistem significativas desigualdades sociais?
Como os conflitos sociais que emergem nas sociedades costumam ser controlados ou resolvidos? Por outro lado, o que caracteriza o estado
social que consideramos anárquico? Como podemos entender, nesse contexto, o crime como uma ameaça social? Aqui, os alunos devem ser
estimulados a refletir sobre as situações cotidianas em que agimos com naturalidade sem pensar que podemos correr riscos maiores em relação
ao nosso bem-estar e às nossas vidas. Quando vamos à padaria, ao cinema, para a escola ou para o trabalho, não pensamos, ordinariamente, que
seremos assaltados ou mortos. Como podemos explicar essa confiança? E, quando ela começa a faltar, o que está ocorrendo?
Há duas dimensões a serem consideradas na discussão dessas questões. Deve-se reconhecer, por um lado, o papel das normas ou regras sociais
que são compartilhadas pelos membros da sociedade e que são produto de um longo processo histórico na busca das condições que tornam a
vida social possível e, ao mesmo tempo, a criação e o funcionamento de instituições sociais e políticas que garantem a manutenção da ordem
instituída socialmente. As instituições que fazem parte do Estado têm, aqui, um papel principal, especialmente no que diz respeito às ações que
devem garantir a ordem e a justiça. Por sua vez, as ações desenvolvidas pelo Estado possuem legitimidade quando as regras e os princípios que
as orientam e em que se baseiam são considerados corretos e compartilhados pela maioria daqueles que a elas devem se submeter. Havendo
consentimento por parte dos governados, os governantes encontram legitimidade para o exercício do poder. Essa concordância, pela maioria da
população, em relação aos princípios, regras e normas que devem orientar as ações do poder político na esfera da vida social é o que, em um
sentido amplo, constitui o direito. Entretanto, a noção de poder não se confunde com a de autoridade legítima. Em relação ao poder político
discute-se, tradicionalmente, não só o problema da sua definição e das características que o diferenciam das outras formas de poder, mas também
o problema da sua justificação.
O poder, de um modo geral, é a capacidade de influir sobre os comportamentos e atingir objetivos mesmo diante da resistência dos outros,
podendo envolver o simples uso da força. Um governante pode exercer o poder sem gozar de legítima autoridade, considerando o ponto de vista
daqueles que se submetem ao seu poder. As pessoas podem se submeter pelo medo ou pela insegurança sem concordar com os motivos e os
princípios que determinam as ordens de quem exerce o poder. A resposta à pergunta – basta a força para fazer quem exerce o poder político ser
aceito por aqueles sobre os quais se exerce, para induzir os seus destinatários a obedecê-lo? – pode ser interpretada como uma pergunta sobre o
que é de fato o poder ou como uma pergunta sobre o que deve ser. Quando Weber analisou os tipos de autoridade a partir das ocorrências
históricas, ele procurou retirar da realidade dos fatos o que encontrou e considerou como tipos de autoridade em geral, na medida em que são
capazes de obter a obediência dos governados.
As análises de Max Weber sobre os tipos de autoridade podem ser apresentadas aos alunos na conclusão do estudo deste tópico servindo, ao
mesmo tempo, de introdução para o próximo tema. Max Weber, em seus estudos sobre as formas sociais da autoridade e seus fundamentos,
identificou três tipos básicos: a autoridade tradicional, a autoridade carismática e a autoridade racional-legal.
Esses tipos podem aparecer na realidade não de forma pura mas em combinações diversas caracterizando casos concretos. (Ver texto no RA,
abaixo)

Como avaliar
As respostas às questões de um dos dois textos sugeridos no RA podem servir como objeto de avaliação.
EIXO TEMÁTICO II: ANÁLISE SOCIOLÓGICA DO MUNDO MODERNO
Tópico: Estado de Direito e a Democracia Moderna
Temas O problema da ordem social - a autoridade política e a legitimidade do poder
Complementares:

Objetivo: Analisar e compreender as relações entre a existência das normas sociais, as condições para a convivência social, civilizada e pacífica,
os fundamentos do poder político e suas bases de legitimidade.

Questões sugeridas para provocar um debate inicial em torno do tema.


 O que permite o funcionamento normal, com regularidade, da vida em sociedade (por exemplo, acordar e ir à escola diariamente,
voltar para casa, ir ao super-mercado, estudar em uma biblioteca ou ir à casa de uma colega, encontrar com os amigos,voltar para casa, mais uma
vez, dormir e recomeçar no dia seguinte)? O que pode provocar a quebra da regularidade cotidiana na vida das pessoas? De que forma o
comportamento de outros indivíduos pode prejudicar ou mesmo impedir o funcionamento daquilo que consideramos a normalidade dos dias?
Como você explica esses fatos?
 As sociedades humanas necessitam da existência do Estado? Porque?
 Até onde as pessoas, individualmente, precisam das ações do Estado?
Ao longo do debate dessas questões o professor poderá solicitar aos alunos que procurem imaginar um jogo (por exemplo, uma partida de
futebol) em que, no ato de realização do jogo, os jogadores passam a ignorar as regras estabelecidas e a desenvolver lances segundo suas
vontades sem qualquer respeito para com as leis que regem aquele jogo. O que provavelmente ocorreria nessa situação? Os alunos podem anotar
suas principais observações e conclusões para um pequeno debate. O objetivo inicial é levar os estudantes a identificar, sob certos aspectos, a
vida política com um jogo onde equipes em disputa pelo poder representam diferentes grupos de interesses, como ocorre na luta política. As
questões que aparecem nessa situação (em que regras não são respeitadas) dizem respeito à impossibilidade de qualquer jogo desenvolver-se
tanto na ausência de normas e regras pré-estabelecidas, ou nas tentativas de mudança das regras no decorrer da partida, quanto na ausência de
um juiz com a função de resolver conflitos e desacordos quanto ao cumprimento dessas regras pelos jogadores, ao longo da realização do jogo.
Da mesma forma, no “jogo político” as negociações e os acordos entre as partes que participam (os atores políticos) devem submeter-se às
normas existentes, respeitando as leis. No caso das democracias modernas as leis que regem os comportamentos e gozam do reconhecimento dos
membros da coletividade são aquelas estabelecidas pelo poder legislativo enquanto poder representativo dos cidadãos. Disso decorre a
legitimidade das ações do poder exercido pelo Estado em uma sociedade democrática.

1) Após o debate inicial o professor poderá solicitar a leitura e o estudo do seguinte texto reproduzido do livro Lições de Sociologia, de Emile
Durkheim, Quinta Lição – Moral Cívica, Relação entre Estado e Indivíduo.(Editora da USP, SP, 1983, pp. 56-58)

Estudo dirigido:

“E, com efeito, o homem não é homem senão porque vive em sociedade. Retiremos do homem tudo quanto é de origem social, e só ficará um
animal, análogo aos outros animais. Foi a sociedade que o elevou a esse ponto acima da natureza física; e chegou a esse resultado porque, com
agrupar as forças psíquicas individuais, a associação as intensifica e as leva a um grau de energia e de produtividade infinitamente superior ao
passível de ser por elas atingido se permanecessem isoladas umas da outras. Brota, assim vida psíquica de novo gênero, infinitamente mais
rica, mais variada do que aquela da qual poderia ser teatro o indivíduo solitário; e a vida assim brotada, embebendo o indivíduo dela
participante, vem a transformá-lo. Mas, por outro lado, ao mesmo tempo que a sociedade alimenta, e dessa forma enriquece a natureza
individual, tende, inevitavelmente, a sujeitá-la, e pela mesma razão. Precisamente porque o grupo é uma força moral a tal ponto superior à das
partes, tende, necessariamente, a subordinar as partes, as quais não lhe podem escapar à dependência. Eis aí uma lei mecânica moral, tão
inelutável quanto as leis da mecânica física. (...) Desde que o indivíduo foi criado, educado, pela coletividade, dessa forma, quer naturalmente
aquilo que ela quer, e aceita sem dificuldade o estado de sujeição ao qual está reduzido. Para ter consciência disso, e resistir, cumpre
apareçam aspirações individuais, e essas aspirações não podem aparecer em semelhantes condições. (...) (A sociedade) quando pequena, como
cerca todo indivíduo, sempre e por toda parte, não lhe permite desenvolver-se em liberdade. Sempre presente, sempre agente, não lhe abre
espaço algum à iniciativa. Já não é, porém, o mesmo, quando vem a atingir proporções suficientes. Quando compreende uma multidão de
indivíduos, não pode exercer, em cada um, controle tão seguido, tão atento, e tão eficaz quanto exerce quando sua vigilância se concentra em
uns poucos indivíduos. Somos muitos mais livres no seio de uma multidão que no seio de uma igrejinha. Por conseqüência, podem aparecer
mais facilmente as diversidades individuais, diminui a tirania coletiva, o individualismo vem a estabelecer-se de fato e, com o tempo, o fato vem
a tornar-se o direito. (...) Sociedade formada de clãs justapostos, de cidades, ou de aldeias, mais ou menos independentes, ou de grupos
profissionais autônomos entre si, será quase tão compressora de toda individualidade quanto se fora feita de um clã único, de uma cidade só, só
de uma corporação. Ora é inevitável a formação de grupos secundários desse gênero; pois numa vasta sociedade, haverá sempre interesses
particulares locais, profissionais, naturalmente propensos a aproximar as pessoas envolvidas. Cabem aí associações particulares, corporações,
panelinhas de toda ordem; e se nenhum contrapeso vier a neutralizar-lhes a ação, cada qual tenderá a absorver os próprios membros. (...) A
fim de prevenir semelhante resultado, a fim de reservar possibilidade ao desenvolvimento individual, não basta, pois, seja vasta uma sociedade;
cumpre possa o indivíduo mover-se com certa liberdade em ampla extensão; cumpre não venha a ser contido e empolgado pelos grupos
secundários; cumpre não possam, esses grupos, tornar-se senhores de seus membros, e afeiçoá-los à vontade. Cumpre, portanto,haja, acima de
todos esses poderes locais, familiais, secundários numa palavra, um poder geral que estabeleça a lei para todos, e lembre, a cada qual, que
cada qual não é o todo, mas parte do todo, e não deve reter para si aquilo que, em princípio, pertence ao todo. O meio único de evitar esse
particularismo coletivo, e as conseqüências para o indivíduo, é um órgão especial encarregado de representar, junto dessas coletividades
particulares, a coletividade total, seus direitos e seus interesses. E esses direitos e esses interesses se confundem com os do indivíduo. Eis como
a função essencial do Estado é liberar as personalidades individuais. (...) Mas, haverá quem diga: não poderá o Estado vir a tornar-se
despótico, por sua vez? Sim, sem dúvida, se nada o contrabalançar. (...) E a compressão exercida (pelo Estado) tem algo de mais insuportável
que a proveniente de pequenos grupos, por ser mais artificial. Em nossas grandes sociedades, o Estado está tão longe dos interesses
particulares que não pode levar em conta condições especiais, locais, etc., nas quais se encontram esses interesses. (...) Escapam-lhe, em parte,
esses indivíduos; e não pode impedir, no seio de uma vasta sociedade, o aparecimento da diversidade individual. Daí toda sorte de resistências
e de conflitos dolorosos. A conclusão, contudo, extraída dessa observação, é, simplesmente, esta: a força coletiva que é o Estado, para ser
liberatriz do indivíduo, tem necessidade, ela própria, de contrapeso, deve ser contida por outras forças coletivas, isto é, por esses grupos
secundários. Se não é bom que existam sós, cumpre que existam. E é desse conflito de forças sociais que nascem as liberdades individuais.”

Questões para orientar o estudo do texto:


- O que são as associações secundárias (ou grupos secundários), para Durkheim?
- Como Durkheim entende a necessidade do Estado?
- Como a sociedade se relaciona com o Estado? e como pode evitar o poder despótico do Estado?
- Durkheim fala do conflito de forças sociais de onde nascem as liberdades individuais. Procure analisar essa afirmação usando conceitos que
foram aprendidos em tópicos anteriores ( como os de classe social, movimentos sociais, sindicatos, grupos religiosos, etc.).

Outro texto (alternativo ao anterior) para a leitura e o debate em sala de aula. Do livro Estado, Governo, Sociedade ; de Norberto Bobbio ,
editora Paz e Terra, 1987. (pp. 92-93)

Sobre os três tipos de autoridade, segundo a teoria de Max Weber.

“Weber pôs-se o problema não de elencar os vários modos com os quais toda classe política procurou a todo tempo justificar o próprio poder,
mas de individuar e descrever as formas históricas do poder legítimo, uma vez definido o poder legítimo – distinto da mera força – como o
poder que consegue condicionar o comportamento dos membros de um grupo social emitindo comandos que são habitualmente obedecidos na
medida em que o seu conteúdo é assumido como máxima para o agir. Os três tipos puros ou ideais de poder legítimo são, segundo Weber, o
poder tradicional, o poder racional-legal, o poder carismático. Descrevendo estes três tipos de poder legítimo, Weber não pretende de fato
apresentar fórmulas políticas (...) mas propõe-se a compreender quais são os diversos motivos pelos quais se forma, em determinadas
sociedades, aquela relação estável e contínua de comando-obediência que diferencia o poder político. Os três tipos de poder representam três
diversos tipos de motivações: no poder tradicional, o motivo da obediência (ou, o que é o mesmo, a razão pela qual o comando é obedecido) é a
crença na sacralidade da pessoa do soberano, sacralidade essa que deriva da força daquilo que dura há tempo, daquilo que sempre existiu e,
desde que sempre existiu, não conhece razões para ser alterado; no poder racional, o motivo da obediência deriva da crença na racionalidade
do comportamento conforme a lei, isto é, a normas gerais e abstratas que instituem uma relação impessoal entre governante e governado; no
poder carismático, deriva da crença nos dotes extraordinários do chefe. Em outras palavras, com a teoria dos três tipos de poder legítimo
Weber desejou mostrar quais foram até agora na história os fundamentos reais, não os presumidos ou declarados, do poder político. O que não
exclui que possa existir uma relação entre uns e outros.”

Questões para refletir e debater a partir do texto acima:


1) Qual o objetivo de Weber ao estudar os casos históricos de exercício e controle do poder político?
2) Com suas palavras diga qual a base da legitimidade que caracteriza cada um dos tipos de autoridade política identificados por Weber.

Glossário: carisma – conjunto de qualidades especiais de liderança.


IXO ANÁLISE SOCIOLÓGICA DO MUNDO MODERNO: A SOCIEDADE
TEMÁTICO II: EM QUE VIVEMOS
Tópico: Estado de Direito e a Democracia Moderna
Temas A Relação entre a Democracia e o Estado de Direito
Complementar
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Porque ensinar
O sistema democrático precisa ser entendido e analisado como um processo contínuo de avanços e possíveis recuos, dependendo, em grande
parte, das ações dos membros da sociedade - os cidadãos -, das autoridades constituídas, assim como da qualidade no funcionamento das
instituições que fazem parte do Estado e da sociedade.
Para analisar e compreender de forma apropriada algumas das principais características e dificuldades das sociedades democráticas é importante
reconhecer aspectos que históricamente tornaram-se indissociáveis no desenvolvimento da democracia moderna, como é o caso do Estado de
Direito.

Condições prévias para ensinar


Os alunos tenham conhecimentos básicos da História das Sociedades Modernas e da Sociedade Brasileira que permitam fazer comparações entre
as principais formas de organização da vida social, distinguindo características de sistemas tradicionais e modernos, assim como dos diferentes
regimes políticos em contextos culturais e sociais diversos.

O que ensinar
Nesse tópico o professor deverá caracterizar o Estado de direito democrático como resultante de um processo histórico em que lutas sociais e
transformações institucionais de várias origens, em tempos diversos e ao longo do período moderno, ocorreram nos países europeus. Tal
processo modificou de maneira definitiva o funcionamento da vida social e política até os nossos dias.
Embora existiram e ainda existam diferentes concepções do direito, modernamente, uma concepção em especial veio a adquirir relevância e
passou a predominar entre as sociedades ocidentais: o direito como sistema legal ou ordem jurídica que pretende ser geral e autônomo (universal,
vale para todos igualmente,), público e positivo (afirmado em leis e garantido pelo Estado), é a forma característica das sociedades modernas que
se organizam juridicamente pela noção de Estado de direito.
(- as várias formas de direito e de sociedade. O direito consuetudinário, baseado nos costumes (exemplo: nas sociedades tradicionais); o direito
administrativo, baseado em regras explícitas estabelecidas e impostas por um governo central que regula os poderes dos diferentes grupos, um
sobre os outros (exemplo: os impérios antigos).
Idéias e conceitos básicos:
. Estado-nação: mecanismo político de governo com controle de determinado território, exercendo autoridade soberana e com a capacidade de
utilizar, de forma exclusiva, a força militar para colocar em prática as suas decisões, sobre uma dada população. A nacionalidade como
identidade cultural e social de um povo. As noções de esfera pública e esfera privada.
. a democracia como um conjunto de regras fundamentais que definem quem está autorizado a tomar as decisões coletivas e com quais
procedimentos. Em uma democracia as decisões coletivas devem ser tomadas por um número muito elevado de membros do grupo social
(quanto maior o número mais democracia) e, quanto ao modo de decidir, elas devem submeter-se à regra da maioria para que ganhem
legitimidade obrigando a todos os membros do grupo. (Ver sobre a definição mínima de democracia em Norberto Bobbio, O Futuro da
Democracia, capítulo 1, pp. 18-20)
. a noção de “direitos” como limites à imposição de poderes externos à pessoa ou aos grupos sociais. O conceito moderno de indivíduo ( o
indivíduo como fonte de poder) e a luta social e política pelos direitos civis, políticos e sociais. A garantia jurídica das liberdades e direitos
fundamentais e o funcionamento da democracia.
. a autoridade legítima e o Estado de Direito: o “governo das leis”e a representação popular.– os direitos da cidadania e as obrigações políticas e
sociais: direito e dever como verso e reverso de uma mesma moeda.
. a divisão do poder e o equilíbrio entre as partes que exercem o poder político no Estado democrático: legislativo, executivo e judiciário. A
independência dos três poderes.

Como ensinar
Três processos devem ser relacionados no ensino deste tema: 1) alguns aspectos históricos que ilustram a trajetória das transformações político-
sociais; 2) os princípios que passam a definir modernamente o regime democrático; 3) as exigências colocadas pela população a um Estado que
deve sempre mais ampliar e garantir a esfera dos direitos dos membros da sociedade.
Sugere-se que o professor recorde com seus alunos as principais características que marcam o início dos tempos modernos quando, a partir do
amplo desenvolvimento da agricultura, das novas formas de organização da produção, do comércio, das cidades e da ciência e tecnologia
modernas, a capacidade de trabalho, criativa e inovadora, dos indivíduos, assumiu papel de destaque na maneira de se compreender a base do
poder social. As mudanças ocorridas acabaram por colocar o indivíduo, e não mais um grupo social ou classe, no centro da cena política. O
movimento cultural do Renascimento é uma importante expressão desse processo. A esse fenômeno chamamos
de individualismo. Diferentemente do egoísmo, o individualismo afirma o valor primordial de natureza moral do sujeito particular, o que teve
repercussão nas várias formas de interação social e na base da organização do poder político: considere a reforma protestante e suas
conseqüências históricas que foram, em grande parte, fruto desse fenômeno.
Ao ensinar, é importante fazer referência ao longo processo histórico das lutas dos movimentos sociais e políticos pelo reconhecimento legal dos
direitos dos indivíduos – os direitos civis (as liberdades fundamentais), políticos (o direito de votar e de ser votado) e sociais (condições sociais
básicas para uma vida digna) que contribuíram significativamente para a revolucionária transformação da sociedade moderna: as chamadas
“revoluções burguesas”, as lutas liberais e operárias do século XIX, os movimentos pela universalização do direito do voto que ampliou a
participação política para todos os membros adultos da nação.
Ao tratar das lutas e dos movimentos que transformaram os estados absolutistas europeus em estados de direito e que caminharam na direção de
regimes democráticos, o professor pode retomar a distinção weberiana entre os tipos de autoridade que gozam de legitimidade em diferentes
bases. A autoridade de base legal fundada no respeito às leis segundo os princípios de impessoalidade e universalidade caracteriza o Estado de
Direito e faz o poder legislativo ter um papel central nos regimes democráticos na medida em que, concentrando a representação popular,
instituído pelo voto dos cidadãos, ele é responsável pela formulação e aprovação do conjunto das leis, especialmente, a Constituição. Além de
reger a vida dos indivíduos e das organizações integrantes da sociedade, esse arcabouço jurídico determina as várias funções políticas,
estabelecendo as competências e os limites dos vários poderes e instituições que compõem o Estado. Em uma democracia, é escolhendo seus
representantes de forma livre e informada, através de eleições periódicas regulares e competitivas que os cidadãos podem, em grande parte,
controlar o Estado. Isso seria suficiente para um real controle do Estado pelos cidadãos? Essa é uma questão que cada vez mais ocupa os debates
sobre as condições necessárias e favoráveis aos avanços da democracia. (Questão que poderá ser discutida no tópico seguinte.) Os direitos
fundamentais assegurados em lei visam a proteger os indivíduos do poder avassalador das formas tradicionais e autoritárias do poder político
assim como garantir o acesso aos bens básicos que a própria sociedade é capaz de produzir.
Ao discutir com os alunos o significado fundamental de democracia como “governo do povo, pelo povo e para o povo” deve ser considerado que
as diferentes formas existentes são resultantes de processos históricos diversos, ocorridos em épocas e em contextos culturais e sociais distintos.
Nessa perspectiva, o próprio termo “povo” adquiriu significados contrastantes na medida em que inclui, no processo de escolha dos governantes,
mais, ou menos, da população adulta do país. Em algumas sociedades, a versão aceita de democracia limita-se à esfera política e a eleições
periódicas, enquanto que em outras, estende-se a outros aspectos da vida social. No caso brasileiro, a trajetória política de nossa história é
marcada por avanços e recuos com longos períodos de regimes autoritários e ditatoriais. O caminho de nosso desenvolvimento econômico e
social com a inicial e marcante experiência da escravidão, a forma da colonização e exploração pela Metrópole, o tardio e lento desenvolvimento
industrial até a primeira metade do século XX, são aspectos que contribuíram significativamente para marcar as dificuldades em consolidar um
regime democrático no país. Vários autores mostraram como as democracias ocidentais que ganharam estabilidade e se consolidaram tiveram
lugar em países onde o crescimento econômico avançou junto com a industrialização, com forte crescimento da classe média, acelerando a
urbanização, ampliando a educação, superando os altos índices de desigualdade social e integrando a maioria da população no estilo de vida da
sociedade moderna.
Ao considerar a sociedade brasileira procurando analisar o seu desenvolvimento como sociedade democrática, é preciso levar em conta não
apenas a existência da livre organização partidária e da ocorrência periódica de eleições mas, também, os comportamentos dos cidadãos e das
autoridades em relação ao cumprimento das leis e a realização da justiça para todos, governantes e governados. Deve-se notar que altos índices
de corrupção na esfera pública e a impunidade no desrespeito às leis, são um indicador da fragilidade da atuação do Estado como Estado de
Direito, enfraquecendo a democracia.

Como avaliar
Um pequeno relatório com resumo dos principais aspectos discutidos a partir do texto e das questões presentes no RA deste tópico poderá servir
para aavaliação.

IXO TEMÁTICO II: ANÁLISE SOCIOLÓGICA DO MUNDO MODERNO


Tópico: Estado de Direito e a Democracia Moderna
Temas A Relação entre a Democracia e o Estado de Direito
Complementares:

1. Objetivos: As atividades devem contribuir para o desenvolvimento da capacidade do aluno


1) identificar as principais características da democracia como um sistema político;
2) reconhecer a ligação íntima entre o Estado de direito e a democracia;
3) identificar dificuldades marcantes para o avanço da democracia. No caso da sociedade brasileira, relacionar, por exemplo, os problemas que
afetam a distribuição de renda entre as camadas da população, as seqüelas deixadas pela experiência da escravidão e os longos períodos de
ditadura e de regimes políticos autoritários, com as fragilidades da nossa democracia.
4) identificar traços de natureza autoritária em certos hábitos comportamentais comuns em nossa sociedade (como o de querer “levar vantagem”
em todas as situações desconsiderando o direito dos outros; o de desrespeitar regras de trânsito; o de“furar” filas).

2. Após uma exposição pelo professor sobre o significado e a trajetória da democracia moderna e dos movimentos sociais pelos direitos (ver
OP), os alunos devem ler o texto abaixo e discutir as questões propostas ao final.
a) Leitura do seguinte texto: (Trechos do capítulo III do livro de Norberto Bobbio, Estado, Governo e Sociedade, editora Paz e Terra, 1987)

O governo das leis


Há um aspecto histórico importante na consideração do problema dos limites do poder, problema que geralmente é apresentado como problema
das relações entre direito e poder (ou direito e Estado). Norberto Bobbio define um Estado da seguinte maneira: “Do ponto de vista de uma
definição formal e instrumental, condição necessária e suficiente para que exista um Estado é que sobre um determinado território se tenha
formado um poder em condição de tomar decisões e emanar os comandos correspondentes, vinculatórios para todos aqueles que vivem naquele
território e efetivamente cumpridos pela grande maioria dos destinatários na maior parte dos casos em que a obediência é requisitada. Sejam
quais forem as decisões. Isto não quer dizer que o poder estatal não tenha limites.”
“Desde a antiguidade o problema da relação entre direito e poder foi apresentado com esta pergunta: É melhor o governo das leis ou o governo
dos homens? (...) Na tradição jurídica inglesa o princípio da subordinação do rei à lei conduz à doutrina do rule of law, ou governo da lei,
fundamento do Estado de direito entendido, na sua acepção mais restrita, como Estado cujos poderes são exercidos no âmbito de leis
preestabelecidas.”
Coloca-se, então, uma questão fundamental: “já que as leis são geralmente postas por quem detém o poder, de onde vêm as leis a que deveria
obedecer o próprio governante?” Ao longo das monarquias absolutistas do continente europeu a conduta dos soberanos não é entendida como
limitada pelas leis que ele próprio ditava para o seus súditos. Os limites que se buscou impor ao poder do príncipe não eram os das leis postas
pela própria vontade do soberano mas, sim, aquelas a que, enquanto homem, como todos os humanos, estava submetido – as leis naturais e
divinas.” Mas existe um terceiro limite: “o poder do rei não se estende ao ponto de invadir a esfera do direito privado (que é considerado um
direito natural)”. A esfera da vida privada se contrapõe à da vida pública, onde o Estado age.
“Uma fase posterior do processo histórico de limitação jurídica do poder político é a que se afirma na teoria e na prática da separação dos
poderes. (...) a disputa sobre a divisibilidade ou indivisibilidade do poder diz respeito ao processo de concentração das típicas funções que são de
competência de quem detém o supremo poder num determinado território, o poder de fazer as leis, de fazê-las cumpridas e de julgar, com base
nelas, o que é justo e o que é injusto.” Históricamente dois processos bem diferenciados ocorrem. “O primeiro tem a sua plena realização na
divisão do poder legislativo entre rei e parlamento, como ocorre antes de todos os demais na história constitucional inglesa, e o segundo
desemboca na separação e na recíproca independência dos três poderes – legislativo, executivo, judiciário -, que tem sua plena afirmação na
constituição escrita dos Estados Unidos da América. (...) separação dos poderes quer dizer não que os três poderes devam ser reciprocamente
independentes, mas que se deve excluir que quem possua todos os poderes de um determinado setor possua também todos os poderes de um
outro, de modo a subverter o princípio sobre o qual se baseia uma constituição democrática, e que portanto é necessária uma certa independência
entre os três poderes para que a cada um seja garantido o controle constitucional dos demais.”
“A última luta pela limitação do poder político foi a que se combateu sobre o terreno dos direitos fundamentais do homem e do cidadão, a
começar dos direitos pessoais, já enunciados na Magna Carta de Henrique III (1225) até os vários direitos de liberdade, de religião, de opinião
política, de imprensa, de reunião e de associação, que constituem a matéria dos Bill of Rights dos Estados americanos e das Declarações dos
direitos do homem e do cidadão emanadas durante a revolução francesa. Seja qual for o fundamento dos direitos do homem (...) são eles
considerados como direitos que o homem tem enquanto tal, independentemente de serem postos pelo poder político e que portanto o poder
político deve não só respeitar mas também proteger.”
O Estado representativo
“Com o advento do Estado representativo – sob a forma de monarquia primeiro constitucional e depois parlamentar, na Inglaterra após a “grande
rebelião”, no resto da Europa após a revolução francesa, e sob a forma de república presidencial nos Estados Unidos da América após a revolta
das treze colônias contra a pátria-mãe -, tem início uma quarta fase da transformação do Estado, que dura até agora. (...) Entre o Estado absoluto
de uma parte, e o Estado representativo de outra, há a afirmação dos direitos naturais do indivíduo – direitos que cada indivíduo tem por natureza
e por lei e que, precisamente porque originários e não adquiridos, cada indivíduo pode fazer valer contra o Estado inclusive recorrendo ao
remédio extremo da desobediência civil e da resistência. O reconhecimento dos direitos do homem e do cidadão, primeiro apenas doutrinário
através dos jusnaturalistas, depois também prático e político através das primeiras Declarações de direitos, representa a verdadeira revolução
copernicana na história da evolução das relações entre governantes e governados. (...) O indivíduo vem antes do Estado. O indivíduo não é pelo
Estado mas o Estado pelo indivíduo. (...) O pressuposto ético da representação dos indivíduos considerados singularmente e não por grupos de
interesse, é o reconhecimento da igualdade natural dos homens. Cada homem conta por si mesmo e não enquanto membro deste ou daquele
grupo particular. (...) O desenvolvimento do Estado representativo coincide com as fases sucessivas do alargamento dos direitos políticos até o
reconhecimento do sufrágio universal masculino e feminino.” É a regra da maioria, considerada “a regra áurea para a formação de decisões
coletivas em corpos constituídos por sujeitos considerados, de início, iguais”.

· Questões para debate: O que deve ser destacado na definição do que caracteriza a democracia como regime político? .
· O que significa “Estado de Direito”, e qual a sua relação com a democracia na forma de Estado Representativo?
· Que aspectos da nossa realidade política indicariam fraqueza da democracia? Citar pelo menos três problemas.

EIXO ANÁLISE SOCIOLÓGICA DO MUNDO MODERNO: A SOCIEDADE


TEMÁTICO II: EM QUE VIVEMOS
Tópico: Estado de Direito e a Democracia Moderna
Temas Problemas da democracia
Complementar
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Porque ensinar
Após estudar aspectos e idéias importantes que nortearam o desenvolvimento da democracia moderna, e que a transformaram no principal
padrão da legitimidade política no mundo atual, os estudantes devem considerar e debater sobre algumas das principais barreiras e dificuldades
que as “democracias reais” enfrentam nos dias presentes. Esse estudo poderá contribuir para a formação de uma maior consciência cívica e para
uma participação política mais esclarecida.

Condições prévias para ensinar


As questões a serem estudadas serão melhor compreendidas se introduzidas na sequência dos tópicos como está proposto no CBC.

O que ensinar
Os problemas e as dificuldades das “democracias reais” são o tema deste tópico e devem ser discutidos considerando as análises dos estudiosos
das ciências sociais.
Principais problemas:
O contraste entre o que se espera da democracia (segundo o modelo ideal) e o que efetivamente tem sido realizado – “as promessas não
cumpridas da democracia”- segundo a expressão de Norberto Bobbio. (Ver em seu livro O Futuro da Democracia,editora Paz e Terra, 1986,
capítulo1)
- As sociedades democráticas contemporâneas possuem vários centros de poder o que obriga os governos, para funcionar, a desenvolver
constantes negociações e compromissos entre os grupos e organizações que exercem algum tipo de poder.
- Os governos vivem uma situação meio paradoxal. Como observou o sociólogo norte-americano Daniel Bell, o governo nacional tornou-se
“pequeno demais para responder às grandes questões” – como a influência da concorrência econômica global ou a destruição do meio ambiente;
porém “grande demais para lidar com as pequenas questões” – problemas que afetam cidades ou regiões específicas. (citado por A.
Giddens, Sociologia; p. 347)
- Como democracia representativa, a democracia moderna implica que o representante eleito deveria perseguir os interesses da nação, da
população como um todo, e, por isso, o seu mandato não poderia estar vinculado à representação de interesses de apenas uma parcela da
população. Nesse sentido o mandato do representante não poderia estar vinculado ao interesse específico do representado. (Pergunta Bobbio: “
onde podemos encontrar um representante que não represente interesses particulares?”)
- A representação dos interesses de setores e grupos sociais mais do que a representação dos interesses do povo em sua totalidade está expressa
no tipo de relação que se instaurou na maior parte dos estados democráticos entre os grandes grupos de interesses opostos (como, por exemplo,
representantes respectivamente dos industriais e dos operários – as grandes organizações sindicais) e o Parlamento. Essa é uma relação que
gerou um tipo de sistema que alguns analistas chamam de neo-corporativo, onde o governo tornou-se mais um mediador entre as partes do que
um representante dos interesses nacionais.
- A persistência de oligarquias (o domínio exercido por poucos) e a “lei de ferro da oligarquia”: a análise de Robert Michels sobre o processo de
burocratização das organizações e a democracia.
- As barreiras para a clara visibilidade das ações e decisões do governo, dos órgãos e funcionários que integram o Estado de um modo geral: a
fraqueza do caráter público da vida política. A publicidade, a transparência nos atos políticos, como uma forma de controle do poder pela
sociedade civil e pelos cidadãos.
- O baixo nível educacional da maioria da população, em muitos países que se dizem democráticos, compromete significativamente a
participação consciente, o exercício da cidadania e favorece o voto clientelista (apoio político em troca de favores pessoais) e a apatia política.
- Muitas democracias atuais são democracias formais no sentido de que realizam eleições competitivas periódicas. Entretanto, não podem ser
consideradas democracias liberais na medida em que não há liberdade plena para os indivíduos, os partidos e para os meios de comunicação de
massa e faltam proteções constitucionais que tornem significativas a participação e a competição política – como é o caso da Rússia.

Como ensinar
O professor pode iniciar com a apresentação, de forma expositiva, dos principais problemas que são apontados nas sociedades democráticas da
atualidade ou, ainda, solicitando aos estudantes que enumerem os principais problemas que eles observam no funcionamento das sociedades
reconhecidas como democráticas, começando pela própria experiência brasileira. Ao comentar e analisar com os alunos os vários problemas e
dificuldades que a democracia enfrenta, os seguintes pontos devem ser mencionados e considerados:
Em primeiro lugar, o projeto político democrático foi idealizado para uma sociedade muito menos complexa que a dos nossos dias. Muitos dos
obstáculos que hoje se apresentam não eram previsíveis e surgiram em decorrência das grandes transformações da sociedade nesses mais de dois
séculos de experiência democrática.
Na medida em que as populações aumentaram e as economias cresceram na direção de uma economia de mercado, exigindo maior proteção,
regulamentos, planificação e, hoje, tornando-se globalizada, cada vez mais os problemas políticos requerem competências técnicas, com pessoal
especializado, para suas resoluções. Dessa forma, o governo dos técnicos tendeu a crescer podendo comprometer o caráter democrático das
decisões políticas fundamentais.
Outro obstáculo que surgiu foi o crescimento contínuo do aparato burocrático. As burocracias são organizadas hierarquicamente e, portanto,
agem de maneira oposta a do regime democrático que supõe relações igualitárias. O paradoxo reside no fato de que o processo de burocratização
dos governos e do Estado foi, em boa parte, conseqüência do processo de democratização. O Estado que presta serviços à população (as políticas
públicas), o Estado social, foi resposta a uma demanda da própria população, uma demanda democrática no sentido pleno. Mas não é apenas nos
governos e no Estado que o processo de burocratização tende a se expandir. Para Robert Michels, aluno de Max Weber, as organizações, de um
modo geral e, entre elas, as organizações políticas, estão submetidas à “lei de ferro” da oligarquia. De acordo com Michels, as organizações são
necessárias para a democracia, pois são o único caminho possível pelo qual uma grande quantidade de pessoas podem participar do processo
político e fazer com que suas opiniões sejam ouvidas. Porém, uma vez estabelecidas, passa a ser impossível, em termos práticos, ter diversas
pessoasdirigindo uma organização. Esse é o ponto em que se acelera o processo de “perda de poder em direção ao topo”. As democracias,
através das organizações, como os partidos, abrem caminho para líderes e burocracias em tempo integral, os queis, por sua vez, abrem caminho
para o dompinio de elites, ou oligarquia. Essas lideranças passam a investir mais e mmanter seu próprio poder do que em agir sobre os objetivos
e os valores de seus defensores democratas. Michels acreditava que essa dinâmica era inevitável tanto dentro das organizações quanto nas
sociedades democráticas como um todo. (Ver pp. 292 e 293 – Burocracia e Democracia,em A. Giddens; Sociologia, editora Artmed, 2005))
Relacionado ao problema anterior é comentado por Norberto Bobbio o obstáculo conhecido como a “ingovernabilidade” da democracia. Nas
palavras de Bobbio, “trata-se do fato de que o estado liberal primeiro, e o seu alargamento no estado democrático depois contribuíram para
emancipar a sociedade civil do sistema político. Tal processo de emancipação fez com que a sociedade civil se tornasse cada vez mais uma
inesgotável fonte de demandas dirigidas ao governo, ficando este, para bem desenvolver sua função, obrigado a dar respostas sempre adequadas.
Mas como pode o governo responder se as demandas que provêm de uma sociedade livre e emancipada são sempre mais numerosas, sempre
mais urgentes, sempre mais onerosas?” Gozando de liberdades civis, protegidas pelo próprio Estado, os cidadãos possuem vários instrumentos e
organizações para dirigir-se aos governantes solicitando vantagens, benefícios, facilidades, uma mais justa distribuição de recursos. “A
quantidade e a rapidez destas demandas, no entanto, são de tal ordem que nenhum sistema político, por mais eficiente que seja, pode a elas
responder adequadamente.” Diante do acúmulo de demandas o governo deve fazer opções o que acaba provocando descontentamentos. (Ver em
Norberto Bobbio, O Futuro da Democracia, editora Paz e Terra, 1986, capítulo 1, pp. 33-36)
Uma importante questão deve ainda ser considerada. Se olharmos para o panorama mundial dos países que se afirmam como democracias
veremos que o sucesso limitado da alguns deles sugere a seguinte questão: quais condições sociais devem existir para que um país possa se
tornar mais democrático? Diversos autores apontam que as democracias liberais costumam se desenvolver quando ocorre o crescimento
econômico de maneira sustentável, junto com a industrialização, a urbanização, o aumento da alfabetização e a queda da desigualdade
econômica. “O desenvolvimento econômico possibilita o surgimento de classes trabalhadoras e médias grandes e bem organizadas, alfabetizadas
e com boa condição social. Quando essas classes se tornam suficientemente poderosas, suas reivindicações por direitos civis e pelo direito de
votar e ser votado têm de ser reconhecidas.” (Ver em Sociologia: Sua Bússola para um Novo Mundo. Editora Thomson, 2006, p. 343)
Algumas contribuições teóricas importantes para a análise da vida política devem ser mencionadas para auxiliar na compreensão do
funcionamento das democracias no mundo contemporâneo. 1) As teorias “pluralistas” mostram que a democracia diz respeito a acordos e à
colaboração visando os interesses de todos os grupos. Em sociedades complexas e heterogêneas, com muitos interesses e centros de poder rivais,
nenhum deles pode dominar de forma consistente. Para os pluralistas, interesses conflitantes existem até no seio de um mesmo grupo. Com mais
frequência, a política envolve negociação e compromisso entre grupos rivais. Dessa maneira, a democracia estaria garantida em sociedades
heterogêneas. Por outro lado, deve-se observar em relação a essa teoria que é evidente que os grupos que se encontram na faixa mais alta da
hierarquia econômica de uma sociedade têm mais poder que os que se encontram na base. (idem, p.338-9) 2) A teoria das elites ensina que o
poder se concentra nos grupos de maior “status” e cujos interesses tendem a determinar o sistema político. As “elites” são pequenos grupos que
ocupam postos de comando nas instituições mais influentes no país (como as grandes corporações, o poder executivo do governo, os militares).
Para Charles Wright Mills, um dos cientistas sociais que formularam essa teoria, “as pessoas que controlam essas instituições tomam decisões
que afetam profundamente todos os membros da sociedade. Além disso, elas o fazem sem se preocupar com as eleições ou a opinião pública”.
(idem, p.326) 3) A teoria dos recursos de poder mostra que, a despeito da concentração de poder na sociedade, ocorrem mudanças substanciais
na distribuição do poder e essas mudanças têm grande influência nos padrões de voto e nas políticas públicas. Por fim, a teoria centrada no
Estado ensina que, embora a distribuição do poder na sociedade influencie a vida política, as estruturas do Estado também exercem um
importante papel na política podendo contribuir significativamente para a mudança.
(Para um resumo comentado dessas teorias ver no livro citado acima o capitulo 10, pp. 325 a 339)

Como avaliar
O RA apresenta algumas questões para análise e comentários que podem ser utilizadas para avaliar a aprendizagem do tema.

IXO TEMÁTICO II: ANÁLISE SOCIOLÓGICA DO MUNDO MODERNO


Tópico: Estado de Direito e a Democracia Moderna
Temas Problemas da democracia
Complementares:

Objetivo
Esclarecer os principais problemas que a democracia enfrenta nos dias atuais possibilitando a discussão de aspectos críticos para o seu
desenvolvimento e aprimoramento.
1. Sugere-se que ao iniciar a aula o professor solicite que os alunos indiquem os problemas e dificuldades que eles percebem como os mais
importantes e os mais urgentes a serem considerados e enfrentados pelas sociedades democráticas, inclusive, pelo Brasil. Deve-se procurar tratar
essas questões relacionamdo-as com os problemas e obstáculos à democracia apontados nas análises dos cientistas sociais e mencionados no
texto da OP do tópico ( “o que ensinar” e “como ensinar”).
2. O professor poderá reproduzir o trecho da OP acima que trata das teorias que procuram explicar o funcionamento das “democracias reais” e
discutir com seus alunos o que elas apresentam.
3. Leitura e produção de um pequeno texto (uma página) com comentário crítico das seguintes passagens e idéias de diferentes autores e
pensadores políticos:

a) Alexis de Tocqueville, pensador francês e analista da sociedade de seu tempo, publicou em 1835 o primeiro volume de sua grande obra Da
Democracia na América. Nessa obra Tocqueville reconhee nos Estados Unidos da América a forma autêntica da democracia dos modernos
contraposta à democracia dos antigos . Ele escreve no Prefácio da edição de 1848: “Há sessenta anos o princípio da soberania do povo, que
tínhamos introduzido ontem em nosso país, reina soberano na América, posto em prática do modo mais direto, mais ilimitado, mais absoluto.
(...) Às vezes é o próprio povo que faz as leis, como em Atenas; às vezes são os deputados, eleitos por sufrágio universal, que o representam e
agem em seu nome, sob a sua vigilância quase direta”. Ao lado desse reconhecimento, Tocqueville previu as tensões políticas e as revoltas que
resultariam da busca por igualdade por parte dos americanos descendentes de africanos.
Norberto Bobbio, pensador político italiano, comenta em um de seus livros: “mais que pela igualdade das condições, a sociedade americana
impressionou Tocqueville pela tendência que têm os seus membros de se associarem entre si com o objetivo de promover o bem público”. Sobre
isso, Tocqueville escreveu: “Independentemente das associações permanentes, criadas pela lei sob o nome de comunas, cidades e condados, há
uma multidão de outras, que devem o seu surgimento e o seu desenvolvimento tão somente a vontades individuais. (...) Nas democracias todos
os cidadãos são independentes e ineficientes, quase nada podem sozinhos e nenhum dentre eles seria capaz de obrigar seus semelhantes a lhe
emprestar sua cooperação. Se não aprendem a se ajudar livremente, caem todos na impotência”.
b) Em 1787, Thomas Jefferson escreveu: “Uma pequena rebelião de vez em quando é uma boa coisa” para a democracia, pois ajuda o governo
a ficar atento aos desejos dos cidadãos. (citado no livro Sociologia – Sua Bússola para um novo Mundo; p. 325) Esses protestos que mobilizam
grupos sociais de forma mais ampla são chamados pelos cientistas sociais de movimentos sociais. São esforços coletivos para mudar aspectos
importantes da ordem social ou política, fora das organizações instituídas. Jefferson considerava o povo como a base mais segura para o governo
e defendia que o presidente do país não devia ser reeleito com a freqüência com que ele poderia ser capaz de alcançar, o que contribuiria para
não haver demasiada concentração de poder.
c) Na conclusão do capitulo sobre o futuro da democracia, Bobbio resume o que considera essencial para nossa reflexão e pergunta: como a
democracia (que é predominantemente um conjunto de regras de procedimento) “pode pretender contar com cidadãos ativos? Para ter os
cidadãos ativos será que não são necessários alguns ideais? É evidente que são necessários os ideais. Mas como não dar-se conta das grandes
lutas de idéias que produziram aquelas regras?” A seguir, Bobbio enumera esses ideais. Primeiro, “legado por séculos de cruéis guerras de
religião, o ideal da tolerância. Se hoje existe uma ameaça à paz mundial, esta vem ainda uma vez do fanatismo, ou seja, da crença cega na
própria verdade e na força capaz de impô-la. (...) Em segundo lugar, temos o ideal da não-violência.(...) As tão frequentemente ridicularizadas
regras formais da democracia introduziram pela primeira vez na história as técnicas de convivência, destinadas a resolver os conflitos sociais
sem o recurso à violência. Apenas onde essas regras são respeitadas o adversário não é mais um inimigo (que deve ser destruído), mas um
opositor que amanhã poderá ocupar o nosso lugar. Terceiro: o ideal da renovação gradual da sociedade através do livre debate das idéias e da
mudança das mentalidades e do modo de viver: apenas a democracia permite a formação e a expansão das revoluções silenciosas, como foi por
exemplo nestas últimas décadas a transformação das relações entre os sexos – que talvez seja a maior revolução dos nossos tempos. Por fim, o
ideal da irmandade (a fraternité da revolução francesa). Grande parte da história humana é uma história de lutas fratricidas. (...) Em nenhum
país do mundo o método democrático pode perdurar sem tornar-se um costume. Mas pode tornar-se um costume sem o reconhecimento da
irmandade que une todos os homens num destino comum?” ( do livro O Futuro da Democracia, editora Paz e Terra, 1986, pp. 39-40)

Questões para a reflexão e o debate em sala de aula


- A democracia enfrenta problemas. Levantamentos mostram que cada vez mais pessoas estão insatisfeitas com o sistema político, ou expressam
indiferença em relação a ele. Porque há tantas pessoas descontentes quando o sistema democrático parece ser universalmente reconhecido como
o melhor sistema político?
- Comente a afirmação de que são necessárias certas liberdades básicas para o exercício do poder democrático assim como, reciprocamente, é
necessária a existência do poder democrático para que haja garantia da existência e da permanência das liberdades fundamentais.
- Quais são essas liberdades fundamentais?
- A democracia é um processo contínuo e permanente na busca da aproximação de um modelo ideal e não um estado definitivamente acabado.
Procure explicar a relação desse processo com o nível educacional da população, os instrumentos de informação de que dispõe a sociedade e o
acesso a eles por parte da população. O que você entende por consciência cívica?

EIXO TEMÁTICO II: ANÁLISE SOCIOLÓGICA DO MUNDO MODERNO


Tópico: Estado de Direito e a Democracia Moderna
Temas Partidos políticos e participação política
Complementares:

Objetivo:
Através do debate os alunos terão oportunidade de esclarecer problemas centrais da vida política democrática e ter consciência da importância e
das dificuldades reais para a participação e mobilização políticas.
. Após uma breve introdução em que o professor poderá falar do significado dos partidos políticos e da participação dos indivíduos-cidadãos
para a democracia, os estudantes deverão ler e discutir os textos abaixo e que levantam alguns problemas apontados por analistas e estudiosos da
política contemporânea.
“O ideal democrático supõe cidadãos atentos à evolução da coisa pública, informados dos acontecimentos políticos, ao corrente dos principais
problemas, capazes de escolher entre as diversas alternativas apresentadas pelas forças políticas e fortemente interessados em formas diretas e
indiretas de participação” (Giacomo Sani. Participação política. In: Norberto Bobbio; Nicola Matteucci; Gianfranco Pasquino. Dicionário de
política, Brasília:UNB,1986)
Mas a intensidade e a forma de participação política dos cidadãos nas sociedades democráticas variam muito. Em geral são poucas as
oportunidades de participação política direta e é pequena a parcela da população que tem participação no sentido estrito do termo: contribui
direta ou indiretamente para uma decisão política que vincula toda a sociedade.
Pesquisas realizadas em diversos países democráticos atuais mostram, em geral, baixos graus de interesse por política, de informação sobre
questões políticas e de envolvimento e participação política. Mesmo a participação por meio do voto, a forma mais simples e que envolve menos
custos, é muitas vezes baixa nos países em que o voto não é obrigatório. Resultados de pesquisas indicam tendências que mostram que “os níveis
de participação política são mais elevados entre os homens, nas classes altas, nas pessoas de mais elevado grau de instrução, nos centros urbanos
mais que nas zonas agrícolas, entre pessoas educadas em famílias onde a política ocupa um lugar de relevo, entre os membros de organizações
ligadas mesmo indiretamente à política, entre os que estão mais facilmente expostos a contatos com pessoas ou ambientes politizados, etc.”
(Giacomo Sani, 1986).
Nos últimos anos, tem-se denunciado o problema da baixa participação dos eleitores nos períodos entre as eleições; muitos afirmam que nas
sociedades democráticas atuais a participação política tem-se restringido somente ao processo eleitoral. Em resposta a esse problema, diversos
mecanismos de participação direta dos eleitores no processo político têm sido propostos e implementados. No Brasil são exemplos desses
instrumentos, entre outros: os orçamentos participativos, as audiências públicas sobre temas específicos e os seminários legislativos.
- a Internet como meio de participação. “A internet é uma poderosa força de democratização que transcende as fronteiras nacionais e culturais,
facilita a difusão de idéias pelo mundo e permite que pessoas que compartilham das mesmas opiniões se encontrem no domínio do ciberespaço.
Em todos os países, é cada vez maior o número de pessoas que acessam a internet regularmente e a consideram um instrumento importante para
seus estilos de vida.” (A.Giddens; Sociologia, p. 351) Exemplo recente do uso da internet na política foi o papel de instrumento mobilizador que
ela desempenhou entre os jovens na campanha eleitoral americana que elegeu Barack Obama.
Como candidato, Obama comunicou-se com o público divulgando suas idéias através da rede e conclamando o eleitorado para votar. (o voto não
é obrigatório nos Estados Unidos da América).
A internet também foi utilizada para a arrecadação dos recursos necessários para financiar a campanha, que contou com a colaboração de amplas
camadas da população.
A tecnologia da informação está se tornando um poderoso instrumento de organização para muitos dos novos movimentos sociais. Os
movimentos sociais envolvem tentativas coletivas de promover interesses comuns através de uma ação colaborativa fora da esfera de instituições
estabelecidas. Eles geralmente surgem com o objetivo de provocar mudanças em uma questão pública, como a expansão dos direitos civis, a
questão da poluição ambiental, a violência nas grandes cidades, etc.

Debater e comentar a seguinte afirmação:


- “A possibilidade de os partidos serem instrumento de democracia está dependente do controle direto e da participação das massas.” (Anna
Oppo, Partidos políticos, em Dicionário de Política; Norberto Bobbio e outros, UNB, 1986)

Texto para leitura dos estudantes: um pequeno histórico dos partidos no Brasil.
- No Brasil existem partidos políticos organizados desde o segundo império (no final da década de 1830 organizaram-se o Partido Conservador e
o Partido Liberal). Na Primeira República, de 1889 a 1930, os partidos políticos tinham caráter principalmente estadual: organizaram-se, por
exemplo, o Partido Republicano Mineiro, o Partido Republicano Paulista, etc. Nas décadas de 1920 e1930 surgiram os primeiros partidos de
cunho ideológico no Brasil: o Partido comunista e o integralista. Com o golpe de 1937, os partidos foram extintos e deixaram de existir até o fim
da ditadura Vargas (1945). A redemocratização do país, em 1945, introduziu no Brasil uma novidade importante: com o decreto n. 7.586, de
maio de 1945, os candidatos passaram a ser apresentados somente por meio de partidos políticos. Os partidos passaram, assim, a ter o monopólio
da representação.
No período que vai de 1945 a 1965, organizou-se um sistema de tipo multipartidário no Brasil, com variações nos
Estados da Federação. O país teve, nesse período, 13 legendas partidárias. Em 1965, esse sistema partidário foi
extinto pelo golpe militar de 1964 e foi imposta a criação de somente dois partidos, um da situação e outro da
oposição, a Aliança Renovadora Nacional (ARENA) e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Com a reforma
partidária de 1979, ainda durante a ditadura militar, houve um retorno ao pluripartidarismo no Brasil, no início
controlado, com 5 a 6 partidos políticos. A partir da Emenda Constitucional de 1985, ocorreu uma expansão grande
da tendência pluripartidária no país. Houve bastante mudança das siglas partidárias desde então, com pequenos
partidos sendo criados, mudando de nomes, fundindo-se com outros. O atual sistema partidário brasileiro conta com
27 partidos registrados no Tribunal Superior Eleitoral (dado de 2008).
EIXO ANÁLISE SOCIOLÓGICA DO MUNDO MODERNO: A SOCIEDADE
TEMÁTICO II: EM QUE VIVEMOS
Tópico: Estado de Direito e a Democracia Moderna
Temas Partidos políticos e participação política
Complementar
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Porque ensinar
Os partidos políticos fazem parte, historicamente, das instituições democráticas e são mecanismos por meio dos quais se procura realizar e
organizar, no mundo real, os ideais da democracia. A participação política é fundamental para o desenvolvimento e fortalecimento do regime
democrático.

Condições prévias para ensinar


Os estudantes devem estar familiarizados com o significado, a importância e os problemas da democracia. (temas dos tópicos anteriores)

O que ensinar
Idéias e conceitos fundamentais:
- partidos políticos: “Um partido político é uma organização voltada para a conquista do controle legítimo do governo por meio de um processo
eleitoral”. (A. Giddens; Sociologia, p. 351) Ospartidos são instrumentos que colaboram para a formação dos governos e para a tomada de
decisão sobre que políticas adotar e implementar. São organizações criadas para articular e somar interesses de grupos de pessoas e representar
esses interesses nos governos. Nas democracias contemporâneas, os partidos políticos procuram chegar ao poder e participar dos governos por
meio do processo eleitoral; para vencer as eleições tratam de procurar o apoio no voto dos cidadãos.
- aspectos históricos: Os partidos políticos, na sua acepção moderna, surgiram nas sociedades ocidentais a partir dos séculos XVIII e XIX,
quando, com as revoluções constitucionalistas, deu-se o fim dos estados absolutistas e o desenvolvimento dos estados liberais modernos. Marco
decisivo nesse processo ocorreu com a separação entre os poderes executivo, legislativo e judiciário. Com a extensão do direito de voto a uma
parcela cada vez mais alargada de cidadãos, desde o início do século XX, os partidos tornaram-se essenciais ao processo eleitoral nas
democracias contemporâneas que são, fundamentalmente, sociedades complexas com uma pluralidade de grupos de interesses.
- Nas sociedades ocidentais os partidos políticos tiveram origem e base social em interesses que dividiam as sociedades de formas variadas
(clivagens sociais), como, por exemplo, interesses regionais em contraposição aos nacionais, interesses de grupos religiosos e étnicos distintos,
de camadas ou classes sociais com opiniões e ideologias diferentes. Formaram-se, assim, sistemas partidários com traços específicos nos
diversos países, em função das características socioeconômicas e culturais de cada um deles. (Ver texto sobre os partidos no Brasil no RA)
- Problemas atuais: Nas últimas décadas, com a importância crescente dos meios de comunicação de massas, especialmente os televisivos, para a
informação política dos cidadãos e a, também crescente, importância das pesquisas de opinião e dos especialistas em construção de imagens de
políticos, diversos autores têm denunciado o declínio e o enfraquecimento dos partidos políticos como organização. Esses autores alertam para a
possibilidade da política ser cada vez mais vista como “disputa entre personalidades” e para a manipulação do eleitor, tratado simplesmente
como um consumidor no mercado, agora também político. (Luis Felipe Miguel. Mídia, vínculo eleitoral e ação parlamentar. In: ....Brasília,
2008). Entretanto, sem desconsiderar esse alerta, não podemos deixar de levar em conta a importância dos partidos políticos no processo de
tomada de decisões das políticas públicas, tanto no poder executivo como no legislativo e, também, a característica mais ou menos informada
dos diferentes públicos e outros fatores que podem influenciar a formação das preferências políticas dos eleitores.
- participação política: Democracia, que significa “governo do povo”, supõe ampla participação política. O termo participação política é
utilizado para designar uma série variada de atividades que vai desde o ato de votar até o exercício de cargos públicos, passando por ações como:
a discussão de questões políticas, a contribuição para as campanhas eleitorais, a participação em manifestações políticas, em comícios, em
reuniões de campanha eleitoral, o exercício de pressão sobre dirigentes políticos, a militância em partidos e em associações de tipo diverso, em
movimentos sociais e organizações não governamentais com objetivos específicos (ONGS).
Por meio da participação política os cidadãos não só escolhem seus governantes, como também têm condição de manifestar suas preferências
políticas, influenciar as decisões de seus representantes e de controlar e fiscalizar a atuação dos políticos de modo a decidir mantê-los ou retirá-
los do poder na próxima eleição.

Como ensinar
O professor pode introduzir o tema chamando a atenção para os dois principais aspectos envolvidos no estudo dos partidos políticos e da
participação política: 1) a importância dos partidos como organizações capazes de canalizar interesses de grupos que fazem parte da sociedade e
formular propostas de governo para encaminhar e resolver os problemas coletivos, e, por outro lado, as dificuldades para garantir que essas
tarefas sejam desenvolvidas com eficácia e de modo satisfatório para a percepção dos eleitores.; (Lembrar a tese de Michels sobre a “lei de
ferro” da oligarquia; a corrupção política e o descrédito da população em relação à atuação dos políticos profissionais) 2) os dilemas enfrentados
para a participação: por que participar? Qual a razão para dedicar tempo e energia na conquista de um “bem” que, por ser “público” (e este é o
caráter dos bens de interesse coletivo), uma vez alcançado, independente da participação de cada indivíduo em particular, todos poderão dele
usufruir? É o chamado “dilema da ação coletiva” que expressa a situação manifesta do “carona”. Entretanto, mesmo com as ocorrências
permanentes de falta de participação política, há pessoas que participam sem buscar ou visar vantagens individuais. Que fatores contribuem para
a participação política das pessoas comuns que não se dedicam profissionalmente à vida política? Ao chamar a atenção para esses problemas o
professor estará introduzindo os alunos a questões que motivam os analistas a explicar o funcionamento real da política democrática. É
fundamental insistir e fazer entender que a democracia não é um estado de coisas que se alcança e é definitivo. A democracia é um processo que
envolve, por um lado, regras claras de participação política em especial através do voto (sufrágio universal). Por outro lado, as democracias
desenvolveram um conjunto de instituições (os partidos é uma delas) que regulam a competição pelo poder do Estado. Se a representatividade, a
legitimidade e a eficácia governamental aumentam, o grau de democracia do país cresce. Mas o processo inverso também pode ocorrer.

Avaliação
A questão importante a ser avaliada diz respeito às razões da importância dos partidos políticos e da participação
para os regimes democráticos. (Ver RA)
IXO TEMÁTICO II: ANÁLISE SOCIOLÓGICA DO MUNDO MODERNO: A SOCIEDADE EM QUE VIVEMOS
Tópico: Estado de Direito e a Democracia Moderna
Temas Representação e processo eleitoral
Complementares:

Após a introdução do assunto pelo professor, os alunos poderão ler o texto seguinte que trata de questões importantes, que dizem respeito ao
caráter essencial da representação política, sendo orientados, nessa leitura, por algumas questões sugeridas abaixo. O texto é constituído de
pequenos trechos do tema Representação política, de Maurizio Cotta, em Dicionário de Política,UNB, 1986, pp. 1101-1106)

O que sobretudo se deve ter em conta é a importância que no processo eleitoral assumiram os partidos tanto no aspecto de elaboradores e de
apresentadores de programas políticos como no de organização de gestão política. (...) O mecanismo do qual brota a representação é um
enorme processo de competição entre as organizações partidárias pela conquista ou pela conservação das posições parlamentares e
governamentais, uma competição regulamentada e que se desenvolve frente a um público com funções de juiz. (...) o papel do representante está
diretamente ligado aos dos partidos. O núcleo fundamental da representação está na “responsabilidade” periódica a que estão sujeitos os
atores políticos em competição (os partidos). Responsabilidade quer dizer “chamado para responder”, para “prestar contas”, das próprias
ações junto daqueles que têm o poder da designação. (...) Dada a natureza dos processos institucionais da representação, devem ter-se como
favoráceis todas aquelas condições que jogam no sentido de um alto grau de publicidade nos negócios públicos e de compreensibilidade dos
mesmos para os cidadãos, e, invertendo a perspectiva, todas aquelas condições que tornem cogniscíveis à classe política as atitudes do público.
A representação é, portanto, dependente de todos os canais de informação recíproca e sencível a todas as perturbações que aconteçam neste
campo. A representação pressupõe, por conseguinte, um complexo de direitos políticos (liberdade de imprensa, de associação, de propaganda,
etc.) que permitem a formação e a manifestação da vontade política dos representantes. Mais alto ainda estão certos fatores culturais. A
presença junto do público de uma cultura democrática “participante” e não passiva e nas classes políticas de uma cultura democrática e
flexível em vez de autoritária e dogmática, facilita indubitavelmente o funcionamento da representação. Uma condição favorável ulterior é
constituída pela presença das elites políticas alternativas, capazes de oferecer uma troca às que detêm o poder e assegurar a dinâmica
competitiva a que está estreitamente ligado o mecanismo da representação.

Questões para o estudo do texto


- O que significa dizer que o núcleo da representação está na “responsabilidade” periódica a que estão sujeitos os atores políticos – indivíduos e
partidos?
- Como podemos entender a afirmação “a representação está na verdade estreitamente ligada a um processo de duplo sentido decomunicação das
mensagens políticas”?
- Que fatores culturais influenciam significativamente a representação política?
- Como você avalia o desempenho dos partidos e dos políticos em relação ao exercício da representação como um fator fundamental para o
desenvolvimento da democracia no Brasil?

A seguir, um texto informativo que procura descrever os mecanismos formais (as regras) do sistema eleitoral brasileiro e levanta alguns
problemas considerados nos debates da reforma política. (O professor de matemática poderá ajudar na compreensão dos aspectos envolvidos no
princípio da representação proporcional utilizado pelo sistema eleitoral).

Na Alemanha existe um sistema eleitoral chamado de “distrital misto”, em que a metade das cadeiras do poder legislativo federal é escolhida
por meio de procedimentos majoritários e a outra metade por meio do sistema de representação proporcional. A experiência alemã tem sido
uma referência importante nas discussões voltadas para a reforma política do sistema brasileiro.
No Brasil, os cargos de chefia dos poderes executivos municipal, estadual e federal (os prefeitos e Vice-prefeitos dos municípios, os
Governadores e Vice-governadores dos Estados da Federação, o Presidente e o Vice-presidente da República) e os membros do Senado
Federal, (três de cada Estado) que faz parte do Poder Legislativo Federal são eleitos por meio do sistema majoritário, com possibilidade de
dois turnos na eleição dos chefes do poder executivos federal e estadual e dos municípios com mais de 200 mil eleitores. Para esses cargos, são
declarados eleitos os candidatos que obtiveram mais votos no processo eleitoral.
Os cargos legislativos de vereadores, que compõem as Câmaras Municipais, de Deputados Estaduais, que fazem parte das Assembléias
Legislativas Estaduais, e de Deputados Federais que constituem a Câmara dos Deputados, são escolhidos por meio do sistema de
representação proporcional. Nesse caso, os partidos políticos apresentam seus candidatos e, realizadas as eleições, as cadeiras nos órgãos
legislativos são atribuídas aos partidos políticos da seguinte maneira: em primeiro lugar, cada um deles, somando-se os votos de todos os
candidatos que apresentou, deve ter um mínimo de votos, o quociente eleitoral, que é a resultado da divisão do número de votos válidos
(excluídos os que não compareceram, os votos nulos e os brancos) pelo número de cadeiras em disputa em cada um dos distritos eleitorais; em
segundo lugar, por meio de uma fórmula específica, a cada um dos partidos são atribuídas tantas cadeiras quanto for o resultado da soma de
seus votos, dividida pelo quociente eleitoral; em terceiro lugar, são considerados eleitos os candidatos com mais votos até o limite do número
de cadeiras obtidas pelo partido ou coligação eleitoral.
Muitos traços do sistema eleitoral brasileiro são criticados hoje, nos meios políticos, acadêmicos e entre os analistas políticos. Consideradas
responsáveis por muitos dos problemas políticos brasileiros, algumas das regras eleitorais estão em permanente discussão e existem várias
propostas de reforma do sistema eleitoral brasileiro, a chamada Reforma Política.
Entre as questões em debate estão:
1. o problema da falta de fidelidade partidária ou a possibilidade de um candidato ser eleito por um partido e mudar de filiação partidária
assim que assume o cargo ou no decorrer de seu mandato. Esse possibilidade implica o desrespeito à vontade do eleitor. Para esse problema o
Supremo Tribunal Federal propôs solução em 2007, uma vez que o Congresso Nacional não legislou sobre a matéria, ao interpretar que o
cargo legislativo pertence ao partido, não ao candidato.
2. o problema do grande número de partidos políticos, incentivado e mantido por meio das regras eleitorais: no país existem muitos pequenos
partidos sem consistência ideológica, com baixa representatividade, que funcionam apenas como siglas para acomodar as ambições de
políticos que pretendem se candidatar a algum cargo. Isso dificulta que o eleitor tenha informação sobre as propostas e programas dos partidos
e forme uma preferência partidária estável; a conseqüência é o voto em pessoas, não em programas políticas. As propostas existentes para
solucionar, em parte, essa questão são variadas. São exemplos de propostas de reforma, nesse caso: a introdução de uma “cláusula de
barreira”, ou a exigência de que cada um dos partidos obtenha, além do quociente eleitoral, uma proporção mínima de votos nacionais, e certa
proporção em, no mínimo, certo número de estados da federação (em geral um terço, ou nove deles) para que tenha funcionamento nos órgãos
legislativos e a introdução até mesmo do voto distrital misto, nos moldes do sistema alemão.
3. o problema da permissão de coligações eleitorais também para a escolha dos membros do poder legislativo. A permissão de alianças entre os
partidos políticos para a apresentação de candidatos às eleições para os cargos do poder legislativo pode ter como conseqüência o fato de que
os eleitores, ao votarem em certo partido político, acabem contribuindo para a eleição de candidato de outro partido, já que para a distribuição
das cadeiras são somados, nesse caso, os votos da coligação e considerados eleitos os candidatos, da coligação, na ordem dos votos que
receberam. Como as alianças ou coligações partidárias podem ser as mais diversas em locais diferentes, juntando partidos de posição
programática diversa, esse mecanismo contribui para a manutenção da baixa consistência programática do sistema partidário brasileiro. Por
outro lado, como é muito grande o número de candidatos nas eleições dos legislativos – cada partido ou coligação pode apresentar candidatos
em número de até uma vez e meia o número de vagas em disputa - a grande maioria não consegue uma das vagas, o eleitor não se sente
representado e, em geral, não tem informação suficiente para perceber que seu voto contou, sim, para a distribuição das cadeiras nas Câmaras
Municipais, Assembléias Legislativas e na Câmara dos Deputados.
IXO ANÁLISE SOCIOLÓGICA DO MUNDO MODERNO: A SOCIEDADE
TEMÁTICO II: EM QUE VIVEMOS
Tópico: Estado de Direito e a Democracia Moderna
Temas Representação e processo eleitoral
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Porque ensinar
A democracia que conhecemos por experiência, que se generalizou no mundo ocidental e tornou-se o regime mais popular nos dias atuais, é
chamada de democracia liberal representativa. Ela significa “governo do povo” praticado através do mecanismo da representação. Os estudantes
precisam estar informados sobre o processo eleitoral e ter noções básicas sobre os mecanismos que constroem a representação política enquanto
esta envolve atividades fundamentais da vida democrática e dizem respeito ao exercício da cidadania política.

Condições prévias para ensinar


Este assunto deve ser ensinado como último ítem sobre o tema da democracia (conforme sequência apresentada no CBC).

O que ensinar
Idéias e conceitos básicos:
 representação política: O regime político representativo se coloca em oposição, por um lado, com os regimes absolutistas e
autocráticos, desvinculados do controle político dos súditos e, por outro, com a democracia direta, ou seja, com o regime no qual, em teoria,
deveria desaparecer a distinção entre governantes e governados. O sentido da representação política está, portanto, na possibilidade de controlar
o poder político, por quem não pode exercer pessoalmente o poder. A representação é um fenômeno complexo cujo núcleo consiste num
processo de escolha dos governantes e de controle sobre sua ação através de eleições competitivas. ( Ver Maurizio Cotta; Representação
política, em Dicionário de Política; Norberto Bobbio e outros, UNB, 1986; p.1101-1106)
 processo eleitoral: Para organizar o processo de escolha dos governantes por meio das eleições, cada país democrático conta com um
conjunto de leis a que se dá o nome de Sistema Eleitoral. Tal sistema é constituído de regras pelas quais os votos dados pelos eleitores no dia das
eleições são transformados em mandatos que determinam a ocupação das cadeiras no poder Legislativo e as chefias do poder Executivo.
Essas regras variam muito de país para país, mas são em geral estabelecidas a partir de dois princípios de representação básicos: o princípio
majoritário e o princípio da representação proporcional.
O Sistema Majoritário está baseado no princípio da maioria: devem ser eleitos e formar o governo os candidatos e partidos que tiveram maior
proporção de votos, quando há somente um turno eleitoral, ou a maior parte destes (mais de 50% dos votos) nos casos em que existem dois
turnos eleitorais; neste último caso, costuma-se nomear o sistema eleitoral de pluralista, uma variação do sistema majoritário.
O Sistema de Representação Proporcional foi proposto com base no princípio de que os cargos em disputa devem ser distribuídos entre os
candidatos na mesma proporção do montante de votos dados pelos eleitores aos competidores, permitindo, dessa maneira, a representação, de
todos os grupos existentes na sociedade, incluindo, também, as minorias.

Como ensinar
Primeiro, o professor pode chamar a atenção dos alunos para um ponto central na diferença entre a democracia dos antigos, aquela que nasceu na
Grécia antiga, e a democracia moderna. Afirmava-se, no início dos tempos modernos, que a democracia apenas era possível nos pequenos
Estados. O próprio Rousseau, o filósofo que viveu no século XVIII, estava convencido de que uma verdadeira democracia jamais existiria, pois
exigia entre outras condições um Estado muito pequeno, “no qual ao povo seja fácil reunir-se e cada cidadão possa facilmente conhecer todos os
demais”. Pensava-se a democracia apenas como “democracia direta” - todos decidindo sobre tudo o que diz respeito à vida em comum, em
assembléia permanente. A construção da democracia moderna encontrou no governo representativo a forma de governo que hoje nós
–“convencidos de que nos grandes Estados não é possível outra democracia senão a representativa, embora em alguns casos corrigida e integrada
por institutos de democracia direta -, sem recorrer a ulteriores especificações, chamamos de democracia e contrapomos a todas as formas velhas
e novas de autocracia.” (Norberto Bobbio; em Estado, Governo, Sociedade, editora Paz e Terra, 1987, p. 150)
Em segundo lugar, o professor pode discorrer sobre os dois processos existentes de escolha de representantes (o majoritário e o proporcional) e
que caracterizam o sistema eleitoral brasileiro. Esses dois mecanismos eleitorais procuram realizar, na prática, princípios democráticos, mas há
uma discussão extensa entre os defensores de um e de outro sistema, já que cada um deles tem vantagens, de um lado, e defeitos, de outro. A
adoção de um ou outro sistema eleitoral tem conseqüências políticas importantes em outras dimensões do sistema político de um país: influem,
por exemplo, sobre o formato dos sistemas partidários (sistemas majoritários em geral implicam em sistemas bipartidários e sistemas de
representação proporcional vêm junto com sistemas pluripartidários), sobre a formação dos governos (sistemas majoritários tendem a produzir
governos unipartidários e sistemas de representação proporcional tendem a exigir coalizão entre mais de um partido para a constituição dos
gabinetes: conjunto de ministros e secretários) e sobre a capacidade de controle dos governantes pelos governados, o que seria mais fácil em
sistemas de tipo majoritário, uma vez que os eleitores de cada região saberiam, exatamente, quem é o seu representante nos órgãos legislativos.

Como avaliar
Duas questões resumem os aspectos básicos desse tópico:
1) Que razões podem ser apresentadas para o fato de que a democracia moderna assumiu a forma do governo representativo?
2) Quais os aspectos mais importantes para que seja garantida a efetiva representação dos governados, os
cidadãos, pelos representantes eleitos que exercem o poder político?
IXO A ABORDAGEM SOCIOLÓGICA DE QUESTÕES SOCIAIS NO
TEMÁTICO III: BRASIL CONTEMPORÂNEO
Tópico: Raça e seus efeitos sobre desigualdade e discriminação racial
no Brasil; Raça e mobilidade social
Temas Raça e etnicidade
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PORQUE ENSINAR
As questões racial e étnica se mostram como um dos exemplos mais claros de como o raciocínio de senso comum torna um fenômeno de
construção social algo visto como natural. Daí, tais questões poderem indicar também de forma bastante adequada o objetivo maior da
sociologia da desnaturalização.
As aulas de sociologia sobre raça devem se preocupar fortemente em mostrar para os alunos que do ponto de vista sociológico não existem raças
(o que, de resto, a biologia também já demonstra), Mais importante, porém, as aulas devem chamar a atenção para o fato de que para muitas
pessoas as raças existem, a partir das diferenças que as pessoas identificam nas outras, e em si mesmas, na cor da pele, dos olhos, nas
características dos cabelos, enfim, a partir de características meramente fisiológicas.
Dois outros pontos devem nortear pedagogicamente as aulas sobre esta temática. O primeiro, é que elas devem indicar a possibilidade, altamente
disseminada pela lógica de senso-comum, de que, ao perceber as diferenças fisiológicas, as pessoas tendem a associar essas diferenças a
princípios de hierarquização. Assim, muitas pessoas podem conceber em seu imaginário que uma raça, uma vez existindo, seja superior a
outras.
O segundo ponto a nortear pedagogicamente as aulas sobre essa temática é um corolário do primeiro. As aulas devem ter como preocupação
mostrar também que, uma vez admitida a hierarquização de raças, as pessoas que assim o fazem poderão gerar, tanto em suas atitudes quanto,
principalmente, em suas ações, conseqüências altamente problemáticas do ponto de vista da convivência social, quais sejam: o preconceito, a
discriminação, e a exclusão social.
Resumidamente, a desnaturalização deve consistir, aqui, em mostrar aos alunos que, a despeito de não existirem raças, as pessoas constroem em
suas cabeças tais realidades, e que tais processos simbólicos têm conseqüências palpáveis na vida cotidiana das pessoas.
Tais considerações de ordem mais geral devem valer para todo o tema de raça. Especificamente, com relação ao tópico raça e etnicidade, cabe
notar a importância da discussão aplicada à realidade brasileira.

O QUE ENSINAR
As discussões devem começar por uma explanação a respeito das tentativas científicas de justificar a existência de raças que surgiram no final do
século XVIII e início do século XIX, distinguindo a raça branca (caucasiana) das demais, procurando tais teorias mostrar a superioridade da
raça branca. Tais tentativas surgem no contexto do colonialismo, em que países europeus submetiam outros povos ao seu domínio. O conde
Joseph Arthur de Gobineau (1816-1882) esforçou-se por demonstrar a superioridade da raça branca sobre as demais. Suas teorias influenciaram
e serviram como justificativa e base ideológica do nazismo, de movimentos segregacionistas como a Ku-klux-kan nos Estados Unidos e de
regimes políticos como o do apartheid na África do Sul.
Mais recentemente, há um consenso generalizado na biologia de que cientificamente não se pode falar de raças, mas apenas de conjuntos de
variações físicas, em um continuum, entre os seres humanos.
A questão que importa, então, para a sociologia é a seguinte: se raça não é uma categoria biológica, como ela deve então ser entendida? Os
membros de uma sociedade, ao perceberem as variações físicas entre grupos dentro de sua comunidade, atribuem significados diferenciados a
essas características, e passam a atribuir valores também diferenciados às pessoas que as possuem. Tais valores atribuídos dizem respeito a graus
de inteligência, a competências e habilidades, como se estas se derivassem das características fisiológicas das pessoas e não das oportunidades
desiguais oferecidas para se desenvolvê-las. Assim, as distinções raciais servem para reforçar e reproduzir relações de poder e de aguçar padrões
de desigualdade social, econômica e cultural entre os diferentes grupos dentro da sociedade.
Ao lado da discussão a respeito de raça, deve-se também abordar a questão da etnicidade. Esta diz respeito à práticas cotidianas e visões de
mundo de determinada comunidade de pessoas, fazendo com que estas características as distingam de outras.
Os membros dos grupos étnicos consideram-se culturalmente distintos de outros grupos da sociedade, e, em troca, são vistos dessa forma por
esses outros grupos. Diferentes características podem servir para distinguir um grupo étnico de outro, mas as mais comuns são a língua,
história ou linhagem...,religião e estilos de roupas ou de adornos. As diferenças étnicas são completamente aprendidas, um ponto que parece
evidente até nos lembrarmos de como é comum alguns grupos serem considerados “soberanos natos” ou “preguiçosos”, “ignorantes” e assim
por diante. Na verdade não há nada de inato na etnicidade; é um fenômeno puramente social, produzido e reproduzido ao longo do tempo.
Através da socialização os jovens assimilam os estilos de vida, as normas e as crenças de suas comunidades.(GIDDENS, 2005, pag.206).
Essa discussão inicial sobre raça e etnias encontra-se muito bem delineada no livro de GIDDENS, 2005, às páginas 204-208.
No Brasil, encontramos reflexos de teorias raciais desde o século XIX. O médico Raymundo Nina Rodrigues(1862-1906), por exemplo,
argumentava que o atraso e os problemas daí decorrentes da sociedade brasileira em relação às sociedades mais avançadas tecnologica e
industrialmente eram decorrentes das misturas raciais aqui existentes. Falava da “instabilidade emocional do mestiço”, levando-o a crer que
haveria uma associação entre a mestiçagem e a criminalidade, a loucura e a degeneração.
A avaliação pessimista do pensamento social brasileiro a respeito da miscigenação só será superada com o Movimento Modernista da década de
20. Grande contribuição nesse sentido foi a obra de Mario de Andrade, criando o personagem Macunaíma, herói que representa a brasilidade,
vista como algo original que surge de influências culturais distintas. Outra contribuição importante nesse sentido é a obra de Gilberto
Freyre, Casa Grande e Senzala. Vale a pena reproduzir em parte o texto a respeito da obra do autor, encontrada em BRYM et alii.(2006) às
páginas 320-321: A ênfase nos elementos culturais na análise do comportamento dos diferentes grupos sociais e étnicos foi introduzida no
Brasil a partir da obra de Gilberto Freyre. Casa Grande e Senzala...representou uma ruptura importante com relação ao pensamento social
anterior na medida em que a explicação biológica das diferenças raciais foi substituída por uma interpretação cultural. As análises que
enfatizavam as conseqüências maléficas da miscigenação foram duramente criticadas pelo autor, que destacou o escravo negro como
civilizador, valorizando a incorporação de aspectos de sua cultura ao modo de vida dos senhores brancos... A democracia social brasileira
teria como fundamento original essa dialética entre senhor e escravo...As principais críticas dirigidas a Gilberto Freyre estão relacionadas à
sua concepção revolucionária do papel da miscigenação e da relação especial estabelecida entre senhor e escravo na sociedade brasileira. A
maior crítica refere-se à noção de democracia racial (muito embora essa expressão só tenha sido utilizada pelo autor nos anos 1960)
subjacente à sua análise. Para seus críticos, essa visão positiva da posição do negro em nossa sociedade produziria uma falsa consciência da
realidade.
EIXO TEMÁTICO III: ABORDAGEM SOCIOLÓGICA DE QUESTÕES SOCIAIS NO BRASIL CONTEMPORÂNEO
Tópico: Raça e seus efeitos sobre desigualdade e discriminação racial no Brasil; Raça e mobilidade
social
Temas Raça e etnicidade
Complementares:

Habilidades a serem desenvolvidas


Grande parte das habilidades que os alunos devem adquirir com as aulas sobre o tópico estão relacionadas já aos argumentos mais gerais
apresentados no item PORQUE ENSINAR explicitado nas Orientações pedagógicas. Os alunos deverão ao final ter a habilidade de perceber
com a máxima clareza como uma noção como raça é socialmente construída, e de como tais realidades, uma vez constituídas no imaginário das
pessoas, podem ter conseqüências importantes nas suas vidas cotidianas. Deverão ter também, ao final, a percepção de que é fundamental para o
entendimento da identidade nacional o embate ocorrido na historiografia do pensamento social brasileiro a respeito da miscigenação, mormente
a de brancos e negros, a saber, de como é possível interpretar de formas antagônicas o mesmo fenômeno da miscigenação.

Providências necessárias
O professor deverá providenciar que a bibliografia indicada neste tópico esteja acessível em tempo hábil na biblioteca da Escola. A critério do(a)
professor(a), os textos indicados nas Orientações Pedagógicas, excertos da mesma bibliografia, poderão ser reproduzidos de forma antecipada,
de modo a que os alunos possam a eles ter acesso durante a aula

Indicação de pré-requisitos
Altamente desejável haver uma interface com a matéria de biologia a respeito do assunto. Também serão necessários os conhecimentos a
respeito das condições históricas da existência de grupos étnicos em condições diferenciadas no Brasil. Também importante as noções históricas
a respeito da escravatura no Brasil, tanto quanto sobre as relações com as etnias indígenas. Da mesma forma, o fenômeno histórico da migração
européia no final do século XIX e no século XX.

Descrição dos procedimentos


As aulas poderão mesclar atividades expositivas por parte do(a) professor(a) com outras que envolvam os alunos como protagonistas. Uma boa
peça motivacional poderá ser alguma atividade inicial próxima do seguinte: um painel é apresentado com recortes de imagens de grupos
variados de pessoas com claras diferenças fisiológicas quanto à cor da pele, dos olhos, características dos cabelos, etc. Ao lado deste painel,
seriam escritas algumas palavras, tais como: características fisiológicas, raça, etnia, miscigenação, condições sociais, oportunidades sociais. A
partir da apresentação do painel, seria pedido aos alunos que escrevessem umas poucas linhas descrevendo e comparando as diversas figuras
representativas de cada grupo, sendo facultado a eles utilizarem-se das palavras gravadas no quadro. Em seguida, o(a) professor(a) pediria a 4 ou
5 alunos que lessem o que escreveram. Alternativamente, poder-se-ia estabelecer uma dinâmica mais direta, em que se pedisse a eles fazerem o
mesmo exercício oralmente, dependendo das características da turma. Seja como for, o(a) professor(a) irá se aproveitando das exposições para
introduzir o conteúdo proposto para a unidade. Outro exemplo de uma peça motivacional poderia ser a música de Chico César, Alma não tem
cor. Os alunos a ouviriam e depois, o professor(a) pediria comentários.Um exercício final, extraclasse, poderia ser uma entrevista feita pelos
alunos junto a pessoas de sua comunidade, com perguntas tipo: existem raças no Brasil? Quais seriam? Em caso de respostas positivas, quais
seriam as características de cada uma delas? E, finalmente, uma pergunta aberta, pedindo às pessoas que falem livremente sobre as raças no
Brasil. Seria pedido, junto com o conteúdo das respostas encontradas, um comentário dos alunos (tal trabalho poderia ser em grupos). Nas
entrelinhas dos comentários, o(a) professor(a) poderá avaliar se seus objetivos foram alcançados. Bibliografia de apoio: GIDDENS,
Anthony Sociologia, Porto Alegre: Artmed, 2005. 3. BRYM, Robert. J. et al.Sociologia, sua Bússola para um Novo Mundo, São Paulo,
Thomson Learning, 2006.

Alerta para dificuldades


Um primeiro ponto a ser motivo de preocupação, de ordem mais pragmática, é a possibilidade de preconceitos aflorarem nas próprias discussões
entre os alunos. O(a) professor(a) deverá estar preparado(a) para lidar com tais possibilidades. Um segundo, mais conceitual, é a dificuldade que
poderá existir em fazer os alunos compreenderem a raça como um construto social. O(a) professor(a) deverá buscar exemplos mais rotineiros
de construtos socialmente elaborados, que se tornam realidade para as pessoas, com as conseqüências daí advindas. 1. O que pode ocorrer, por
exemplo, com duas pessoas passando em frente a um cemitério durante a noite, sendo que uma acredita em assombrações e outra não, diante de
um movimento inesperado de sombras e luzes...2. O que ocorre com duas pessoas, nos aglomerados de nossos grandes centros, uma que acredita
no trabalho como um valor pra se subir na vida, e outra que chama o trabalhador de trouxa, , preferindo ser vapor, ou mesmo traficante de
drogas? 3. O que ocorre na vida de duas pessoas , uma, que é membro de uma igreja cristã fundamentalista, e outra, que se diz atéia, com
relação, por exemplo, ao consumo de álcool? São exemplos simples de como pessoas podem enxergar a realidade de formas diferentes, e de
como isso leva a conseqüências também diferenciadas.

EIXO TEMÁTICO III: A ABORDAGEM SOCIOLÓGICA DE QUESTÕES SOCIAIS NO BRASIL CONTEMPORÂNEO


Tópico: Raça e seus efeitos sobre desigualdade e discriminação racial no Brasil; Raça e mobilidade
social
Temas Preconceito e discriminação raciais; racismo
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PORQUE ENSINAR
A existência do preconceito e da discriminação com base nos construtos de raça é um fenômeno universal. No Brasil, particularmente, a
existência deles tem características marcantes, dado o grau em que eles se manifestam, em primeiro lugar, e, paradoxalmente, dada a forma
perversa em que eles se manifestam, camuflada e dissimulada. Sabe-se que no Brasil, a maioria das pessoas têm preconceitos de origem racial,
mas, ao mesmo tempo, essas mesmas pessoas não admitem tê-los. Em conseqüência, há uma forte tendência à discriminação racial, também não
admitida por elas. Ao lado disso, grande parte dessas pessoas são também racistas, ainda que apenas raramente elas admitam sê-lo.
Tudo isto, em seu conjunto, forma um quadro social onde há uma enorme exclusão baseada em características fisiológicas das pessoas, quadro
este que é visto como natural, não sendo visto como decorrência de fatores sociais.
Mostrar a existência de preconceitos e discriminações raciais em nosso meio, fazendo com que os alunos tomem consciência de sua existência,
percebendo ao mesmo tempo como tais condições foram historica e socialmente construídas: essas seriam boas razões para se tratar da temática.

O QUE ENSINAR
Um bom início pode ser o procedimento de definir, de maneira geral, o sentido das palavras preconceito e discriminação. O Aurélioinforma que
preconceito é Conceito ou opinião formada antecipadamente, sem maior ponderação ou conhecimento dos fatos; idéia preconcebida. E
discriminação é, dentre outras definições, separação, apartação, segregação.
Já foi visto anteriormente como o fato de as pessoas conceberem em suas idéias a existência de raças pode levá-las ao preconceito e à
discriminação. Uma vez tornada real pelas pessoas a existência de raças diferentes, pode-se aplicar tais palavras às condições geradas por tal
suposição. O preconceito racial seria então a atitude de se julgar uma pessoa com base nas características reais, como a cor da pele, ou
imaginárias, de seu grupo, atribuindo-lhe características que seriam inatas daquele grupo, quando na realidade não o são. Já discriminação racial
seria o tratamento desigual dado a pessoas de um determinado grupo com características comuns, em relação a pessoas pertencentes a outro(s)
grupo(s). De modo geral, a discriminação se dá em decorrência da existência de tais preconceitos. Os preconceitos se manifestam como atitudes
e opiniões, já a discriminação refere-se a comportamentos direcionados a grupos ou indivíduos.
No Brasil, ainda hoje prevalecem no senso comum idéias que associam características biológicas, raça e certas habilidades. Os negros são
considerados melhores e mais habilidosos no futebol e em determinados nichos artísticos, como o da música popular. Também são socialmente
percebidos como mais próximos da criminalidade, dada a maior proporção de negros em relação a brancos nos sistema carcerário. É como se
comportamentos esportivos, artísticos e criminosos fossem determinados pela raça. A explicação para a existência de um grande número de
jogadores de futebol, músicos e presidiários negros não se encontra na raça ou em predisposições de caráter biológico...Os sociólogos
identificaram certas condições sociais que levam a maiores níveis de participação em esportes (assim como na música e no crime). Essas
condições operam em todos os grupos de pessoas, independentemente da raça. De maneira mais especifica, pessoas que se deparam com
preconceitos e discriminação generalizados, muitas vezes encontram nos esportes, na indústria do entretenimento e na criminalidade formas de
ascensão social que lhes são negadas em outras áreas e, por essa razão, aparecem aí em números desproporcionalmente altos. (BRYM et alii
(2006) pag.217).
O que se pode constatar, então, é que é um engano achar-se que negros são mais bem dotados, por exemplo, para o futebol do que os brancos.
Vivessem eles em uma sociedade que lhes desse as mesmas oportunidades, por exemplo, no campo da ciência, da engenharia, da medicina, do
direito, da política ou de outros ramos das artes, e teríamos um número maior de negros sobressaindo igualmente nestes campos. Da mesma
forma, o talento por eles demonstrado no futebol e no samba, não se deve à cor de sua pele, mas por serem canais de oportunidades mais
recentemente “permitidos” no Brasil aos pretos e pardos. Recentemente, porque houve época em que os clubes de futebol não franqueavam a
eles o acesso como jogadores. Isto veio a ocorrer lentamente nas décadas de 20 e 30 do século passado. Inclusive, ainda na copa do mundo de
1950, quando o Brasil perdeu para o Uruguai em pleno Maracanã, houve insinuações nos jornais de que a culpa teria sido de jogadores negros,
como Barbosa e Bigode. Atitudes como essa demonstram preconceito racial.
No Brasil, o preconceito aparece de várias formas, até mesmo em ditos populares, como, por exemplo, alguém, ao se deparar com um negro com
atitudes nobres, dizer que aquele negro é um negro de alma branca.
Da mesma forma, a dimensão da distribuição desigual das oportunidades em uma sociedade estampa, flagrantemente, de um modo geral, a
questão da discriminação racial. Por exemplo, no Brasil, quando se vê um anúncio de emprego em que , depois de se enumerar as qualidades
exigidas para tal emprego, se diz que a pessoa deve ter boa aparência, pode-se perguntar o que isto quer dizer. Provavelmente um brasileiro
branco terá mais chances de corresponder ao que eles queriam dizer com boa aparênciado que um preto ou pardo. Tal agente de recursos
humanos estará, ainda que de forma inconsciente, praticando um ato de discriminação racial, se de fato, a sua escolha de um branco em
detrimento de um pardo ou preto estiver orientada muito mais pelo aspecto racial do que pelo mérito ou conjunto de habilidades das pessoas
envolvidas.
Anthony Giddens (GIDDENS, 2005, pag. 208-209) chama a atenção para dois outros aspectos diretamente relacionados ao preconceito e à
discriminação raciais ou étnicas. O primeiro deles diz respeito ao fenômeno do deslocamento, que se refere a sentimentos de hostilidade ou de
ódio direcionados contra grupos ou indivíduos que, no entanto, não são a verdadeira origem desses sentimentos. O exemplo acima citado da
raiva de alguns brasileiros contra o jogador Barbosa, na copa de 1950, pode ser uma ilustração dessa tendência. Ali, aliado ao preconceito racial,
havia uma transferência de de objeto de raiva. Contra quem aqueles brasileiros raivosos deveriam dirigir sua ira? Ao time todo, aos uruguaios?
No entanto, a dirigiram a um jogador...negro!
Um segundo fenômeno relacionado ao tema é o racismo, bem como o seu derivativo, racismo institucional. Vale a pena citar o autor: Uma
pessoa racista é aquela que acredita que alguns indivíduos são superiores ou inferiores a outros com base em diferenças racializadas. O
racismo é geralmente considerado o comportamento ou as atitudes manifestados por determinados indivíduos ou grupos. Um indivíduo pode
professar suas convicções racistas ou pode participar de um grupo, como uma organização de supremacia branca, que promove uma agenda
racista. Todavia, muitos defendem a noção de que o racismo é mais do que simplesmente um conjunto de idéias nas quais um pequeno número
de indivíduos extremistas acreditam, mas antes encontra-se incorporado na própria estrutura e no funcionamento da sociedade. A idéia
do racismo institucional sugere que o racismo permeia todas as estruturas da sociedade de um modo sistemático. De acordo com essa visão,
instituições como a polícia, o serviço de saúde e o sistema educacional, todas elas promovem políticas que favorecem certos grupos enquanto
discriminam outros. (GIDDENS, 2005, pag. 209).
EIXO TEMÁTICO III: ABORDAGEM SOCIOLÓGICA DE QUESTÕES SOCIAIS NO BRASIL CONTEMPORÂNEO
Tópico: Raça e seus efeitos sobre desigualdade e discriminação racial no Brasil; Raça e mobilidade
social
Temas Preconceito e discriminação raciais; racismo
Complementares:
Habilidades a serem desenvolvidas
Ao final desta unidade os alunos deverão perceber com clareza o significado dos termos preconceito e discriminação raciais e étnicas. Além
disto, o que significa o termo racismo, bem como seu derivativo, racismo institucional. No caso brasileiro, deverão também perceber as
condições em que tais fenômenos ocorrem no Brasil, situação essa em que eles se apresentam de forma dissimulada e sutil. Dentro da lógica
mais geral da proposta do CBC de sociologia, deverão entender que tais fenômenos não são onatural das coisas. Em outras palavras, deverão ter
clareza de que esses fenômenos são construídos e produzidos socialmente, e de que sua utilização social claramente beneficia grupos ou
indivíduos em detrimento de outros. Em suma, deverão estar aptos a ter respostas claras a perguntas do tipo: existe preconceito racial e/ou étnico
no Brasil? Da mesma forma, existe discriminação racial/étnica? Há racismo institucional no Brasil? Como tais fenômenos se manisfestam entre
nós? A quem tais fenômenos beneficiam?

Providências necessárias
Da mesma forma, o(a) professor(a) deverá tomar providencias para que ele(a) tenha condições de acesso aos textos indicados. Igualmente,
providenciar para que os alunos possam ter acesso a esses textos, se não em todo, pelo menos em parte, ao menos aqueles excertos presentes no
item O QUE ENSINAR.

Prerrequisitos
Os prerrequisitos para esta unidade são os conteúdos da unidade precedente e, obviamente, aqueles indicados na ocasião.

Descrição dos procedimentos


Esta unidade exigirá, certamente, um tempo de exposição daqueles conteúdos aqui indicados. A seu critério, em qualquer momento de uma
referência a pretos e pardos, em vez de negros, o(a) docente poderá aproveitar-se da oportunidade para explicar o porque da categorização do
IBGE, que opta pela classificação brancos, pretos, pardos, amarelos e indígenas exatamente como um expediente para não falar de raça. A
opção feita foi falar de cor da pele, permanecendo nos elementos apenas fisiológicos. A Sociologia só aceita falar de raça, na medida em que se
entenda tal categoria como uma construção social, utilizada como fator de reprodução de padrões de relação de poder e de desigualdade. A
leitura dos excertos citados por parte dos alunos seria também recomendável. A critério do(a) professor(a), outras leituras retiradas dos textos
indicados poderão ser indicadas aos alunos. Um exemplo de uma peça motivacional inicial poderia ser assim descrita: perguntar-se-ia quem na
sala gosta muito de futebol. Três ou quatro seriam selecionados e convidados a falar da escalação de seus times. A seguir, se pediria que
contassem quantos pretos e pardos seriam nos seus respectivos times. Na mesma discussão, o(a) docente relataria que, dos ministros do Supremo
Tribunal Federal, um apenas é negro, assim mesmo, tendo entrado muito recentemente, e é o primeiro, pelo menos na história recente daquele
tribunal. A pergunta viria: por que isso? A discussão advinda das respostas poderia ser um bom começo para as questões substantivas do tema.
Outro exemplo, poderia ser a exibição do filme Quase Deuses de Josef Sargent. Quanto à possibilidade de utilização de algum procedimento de
avaliação, um exemplo poderia ser o seguinte: em grupos, os alunos procederiam a uma entrevista junto a 5 adultos de sua comunidade
perguntando sobre se conhecem algum caso concreto de discriminação institucional, seja pela polícia, seja por alguma clínica ou hospital, seja
por algum clube social, etc. Alternativamente, eles próprios poderiam relatar alguma experiência neste sentido. Junto com uma apresentação
sucinta dos resultados, se pediria que comentassem tais resultados, à luz das discussões em aula e das leituras feitas. Bibliografia de apoio:
GIDDENS, AnthonySociologia, Porto Alegre: Artmed, 2005. 3. BRYM, Robert. J. et al.Sociologia, sua Bússola para um Novo Mundo, São
Paulo, Thomson Learning, 2006.
IXO A ABORDAGEM SOCIOLÓGICA DE QUESTÕES SOCIAIS NO
TEMÁTICO III: BRASIL CONTEMPORÂNEO
Tópico: Raça e seus efeitos sobre desigualdade e discriminação racial
no Brasil; Raça e mobilidade social
Temas Raça, desigualdade e mobilidade Social
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PORQUE ENSINAR
A herança deixada pelo passado escravocrata no Brasil se caracteriza por uma enorme dívida social para com os afrodescendentes. Existem, se
não mais, pelo menos dois brasis, um branco e um outro preto e pardo, havendo um abismo enorme entre eles.
Todos os indicadores sociais mostram a flagrante desigualdade entre pessoas brancas e pretas/pardas. O que é mais preocupante não é a
constatação dessa desigualdade, o que já seria suficiente para a necessidade urgente da consciência nacional em relação ao problema. Pior do que
essa brutal situação é o fato de que as condições do passado que levam à reprodução do ciclo de desigualdades se reproduzem no presente e se
projetam no futuro. Hoje, no Brasil, as chances de duas crianças recém-nascidas, uma branca e outra preta ou parda, de estarem cursando uma
universidade daqui a 20 anos são completamente diferentes. Isto significa o seguinte: hoje, a chance de um branco em idade escolar universitária
estar na universidade é muito maior em relação à chance de um preto ou pardo. Porém, mais perverso ainda, a chance do filho do branco de estar
na universidade quando atingir a idade escolar universitária continuará a ser maior do que a do seu próprio pai, assim como a chance do filho do
pai preto ou pardo que não está hoje na universidade será maior do que a do seu próprio pai de também não estar na universidade quando atingir
a idade para tal.
Alcançar a consciência desse quadro de perversidade social no Brasil já justificaria por si só o esforço de aulas sobre o tema.

O QUE ENSINAR
A primeira informação necessária é a composição da população brasileira, segundo critérios de cor da pele. A população de cor branca no Brasil
totaliza, segundo o censo do IBGE de 2000, 53,8%, a de cor preta 6,2% , a parda 39,1% e outras, 0,9%. Grande parte dos sociólogos trata de
forma agregada a população preta e parda, em contraste com a branca. Assim sendo, temos 45,3% de pretos e pardos, contra 53,8% de brancos.
Pode-se, agora, recorrer a alguns indicadores para mostrar as diferenças entre os dois grupos: segundo o Atlas Racial Brasileiro(2004), da
PNUD, em 2000, os números médios de anos de escolaridade eram, respectivamente, 6,3 e 8,1 (sempre a ordem será brancos/pretos e pardos). A
expectativa de vida, 66,10 e 71,50 anos. A renda média mensal 573,08 e 902,50. Segundo Nelson Tomazi (TOMAZI, 2007, pag. 91), são negros
64% dos pobres e 69% dos indigentes no Brasil. A taxa de analfabetismo é três vezes maior entre os negros;...estudos sobre os Indicadores de
Desenvolvimento Humano (IDH) mostram que Brasil, que ocupa a 74ª. Colocação no ranking da ONU, subiria para o 43º. Lugar se
considerada somente a população branca, e cairia para o 108º. posto se considerada exclusivamente a população negra.
A crueza dos dados apontados acima, durante muito tempo, foi amenizada em sua importância, devido ao fato de que as relações raciais em
nosso país eram em grande parte percebidas em um contexto de democracia racial, em que os conflitos e as desigualdades sociais não eram
vistos como tendo alguma relação com raça mas muito mais com classes sociais. Esse mito da democracia racial (de forma bastante polêmica
atribuída por muitos à obra de Gilberto Freyre) acabou por reproduzir situações de amplo favorecimento à população branca. O sociólogo
Florestan Fernandes foi um dos primeiros a chamar a atenção para a questão. Com relação à função ou à utilidade do mito da democracia racial,
Fernandes destaca sua atuação em três planos distintos: primeiro, o mito atribuía ao negro a responsabilidade por suas condições de vida (se o
negro não ascendia socialmente é porque era incapaz ou irresponsável); segundo, isentou o branco de qualquer responsabilidade pela
situação; terceiro, deu novo impulso ao modo de analisar as relações raciais a partir de elementos exteriores e com base em aparências. Com
isso, criaram-se as condições para se generalizar o que ele denominou de consciência falsa da realidade racial, que inclui idéias como: o
negro não tem problema no Brasil; pela índole do brasileiro, não existem distinções raciais no Brasil; não existem desigualdades de
oportunidades para os diferentes grupos sociais; o negro está satisfeito com sua condição social, entre outras (Brym, 1965: 229).
Outro mito presente no pensamento social brasileiro, embora diferente do mito da democracia racial, pois reconhece o significado do quadro de
desigualdade apontado acima, é o mito de que o desenvolvimento econômico, por si só, deve amenizar tais sintomas de desigualdades raciais. O
desenvolvimento econômico e o processo de modernização da sociedade teria invariavelmente uma função equalizadora, e o Brasil não fugiria
à regra. O desenvolvimento do mercado propiciaria maiores graus de adensamento de oportunidades, e aumentando-se as oportunidades, todos
teriam mais chances de melhorar de vida. Em termos mais sociológicos, o desenvolvimento geraria mecanismos automáticos de maior
mobilidade social. Nesse quadro de desenvolvimento, portanto, os negros teriam abertas maiores chances de ascender socialmente.
Trabalhos mais recentes, entretanto, têm apontado para evidências contrárias (HASENBALG, 1979; HASENBALG e VALLE e SILVA, 1988;
FERNANDES, 2004). Mesmo nos períodos mais recentes de intensificação do desenvolvimento econômico no Brasil , o que se verifica é que o
quadro de desigualdades, levando-se em conta a variável racial, persiste. A população não branca continua sobrerrepresentada na base da
hierarquia social. Pessoas com o mesmo nível de instrução, mas de heranças raciais distintas, não tem as mesmas chances de oportunidade
profissional e educacional. Controlando-se a origem familiar (renda e educação dos pais) a população preta e parda exibe um alcance
educacional significativamente inferior em relação à população branca.
A conclusão a que se chega é que sem políticas públicas voltadas para o enfrentamento das desigualdades raciais dificilmente este quadro poderá
mudar. A partir dos anos 1980, tais políticas tem se intensificado no Brasil, em grande parte por pressão dos movimentos negros organizados. O
Estado brasileiro tem implementado diferentes políticas visando alcançar tais fins. Os estereótipos racistas e o preconceito tem sido combatidos
de forma sistemática. Quanto à discriminação e à desigualdade, aliam-se políticas repressivas com políticas compensatórias, também conhecidas
como ações afirmativas, que podem ser definidas como o esforço institucionalizado de promover e garantir a igualdade de oportunidades àqueles
mais vulneráveis à discriminação.
Atualmente, a sociedade brasileira vem sendo mobilizada intensamente a debater a questão, através da polêmica questão dascotas para pretos,
pardos e indígenas nas universidades publicas. Há um intenso debate a respeito, havendo inúmeros argumentos a
favor e contra. Exemplos de argumentos contrários: 1.as cotas são uma forma de discriminação racial, sendo,
portanto injustas. 2. Em vez de cotas raciais, dever-se-iam adotar cotas para alunos de escolas públicas, o que,
indiretamente, favoreceria aos negros. 3. as dificuldades de se estabelecer critérios objetivos e universalistas para se
definir quem seria merecedor das cotas. Exemplos de argumentos favoráveis: 1. a histórica situação estável de
desigualdade racial. 2. o sistema de cotas não é incompatível com outras políticas públicas, como a que promova a
melhoria universal do sistema público de educação. 3. o vestibular, sob a aparência de uma disputa meritocrática,
promove uma concorrência desigual entre grupos socialmente desiguais.
EIXO TEMÁTICO III: ABORDAGEM SOCIOLÓGICA DE QUESTÕES SOCIAIS NO BRASIL CONTEMPORÂNEO
Tópico: Raça e seus efeitos sobre desigualdade e discriminação racial no Brasil; Raça e mobilidade
social
Temas Raça, desigualdade e mobilidade Social
Complementares:

Habilidades a serem desenvolvidas


O objetivo aqui é que os estudantes adquiram a capacidade de analisar e refletir sobre os indicadores das diferenças de condições
socioeconômicas entre brancos e pretos/pardos no Brasil. Além disso, que possam ter a capacidade de responder com clareza perguntas do tipo:
por que tais situações se reproduzem de forma sistemática no Brasil? Quais as chances que uma criança filha de pais negros nascida agora tem
de alcançar um grau de educação superior daqui a 18 anos, comparada com as chances de outra criança filha de pais brancos nas mesmas
condições hoje? O que são políticas públicas de ações afirmativas? Qual o grau de capacidade do Estado brasileiro hoje de implementar tais
políticas?

Providências necessárias
Os textos indicados como referência deverão estar disponíveis para o (a) professor(a) e para os alunos. A critério do(a) docente, um ou mais
pequenos textos retirados de tais referências poderão ser utilizados para leitura do alunado, em aula ou em casa.

Prerrequisitos
Os conteúdos presentes nesta unidade tem clara conexão com as duas unidades anteriores, o que significa que os conteúdos ali presentes deverão
ser considerados como prerrequisitos para o desenvolvimento desta unidade.

Descrição dos procedimentos


Uma peça didática de motivação inicial poderia ser a apresentação aos alunos dos dados elencados no item O QUE ENSINAR. Os dados seriam
apresentados em um painel ou através de um projetor eletrônico de dados, após o que, os alunos seriam solicitados a emitirem sua opinião a seu
respeito. A partir das respostas apresentadas, o(a) docente iria introduzindo, de acordo com as oportunidades criadas, os elementos propostos
para reflexão no mesmo item. Depois de alcançado o tópico referente à polêmica das cotas raciais para as universidades, poder-se-ia pensar em
uma dinâmica interessante. O Quadro 7.1 apresentado no livro de BRYM, 1965: 241-242, Política Social: o que você Acha? Cotas Raciais nas
Universidades Brasileiras: Promoção de Justiça ou Racismo às Avessas? seria reproduzido e distribuído aos alunos. Uma
simulação de um júri seria organizado, com um grupo de alunos encarregado de apresentar os argumentos pró e
outro grupo os argumentos contra as cotas raciais. Reservado um espaço de tempo para que dois outros grupos
expressassem seus comentários a respeito, um sobre os argumentos a favor, e outro, sobre os argumentos contra,
solicitar-se-ia aos alunos um plebiscito a respeito da questão. Tal dinâmica em aula poderia ser cogitado pelo(a)
docente de ser organizado da mesma forma para toda a escola, dada a relevância do tema, por exemplo, na semana
em que acontece o dia da consciência negra. Em relação aos seus próprios alunos, o professor(a) poderá utilizar a
peça como elemento de avaliação de alcance dos objetivos. (Uma referência que pode ser útil é a discussão sobre
mobilidade apresentada por GIDDENS, 2005, p. 248-251).
EIXO TEMÁTICO III: A ABORDAGEM SOCIOLÓGICA DE QUESTÕES SOCIAIS NO BRASIL CONTEMPORÂNEO
Tópico: Gênero como fator de desigualdade
Temas Gênero e desigualdade
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Porque ensinar
O objetivo básico no estudo deste tópico é analisar os fatores de natureza biológica, cultural e social que contribuem na origem e na reprodução
das diferenças entre homens e mulheres, refletindo sobre as principais conseqüências para as desigualdades sociais e para as discriminações de
natureza cultural, considerando as diversas identidades sexuais e os padrões de comportamento estabelecidos socialmente.

Condições prévias para ensinar


Conhecimentos prévios sobre o funcionamento e características básicas do corpo humano que distinguem biológicamente os sexos, auxiliam na
análise das várias abordagens deste tópico pelas ciências sociais. Da mesma forma, informações gerais relativas aos gêneros, sobre valores e
costumes em diferentes grupos e contextos culturais, ajudarão na análise e no debate do assunto.

O que ensinar
Desde a introdução do tema o professor deve cuidar em deixar clara a distinção entre sexo e gênero na forma como esses termos são utilizados
pelos cientistas sociais. Os estudiosos desse tema discutem em que medida as características biológicas inatas determinam de modo definitivo
nossas identidades de gênero e nossa vida sexual. Em geral, o termo “sexo” refere-se às diferenças anatômicas e fisiológicas que definem os
corpos masculino e feminino, enquanto o termo “gênero” diz respeito aos aspectos psicológicos, sociais e culturais que caracterizam as
interações socialmente padronizadas entre mulheres e homens nas diversas sociedades.
Idéias e conceitos básicos:
· - a base biológica para a sexualidade humana e a aprendizagem social do comportamento sexual;
· - as três principais interpretações das diferenças e desigualdades de gêneros na análise das ciências sociais: a) os estudos que afirmam serem
as diferenças entre homens e mulheres geneticamente determinadas, sugerindo uma base biológica para as características e desigualdades de
gênero; b) as teorias que defendem a importância central da socialização e do aprendizado das funções e dos papéis de gênero desde o
nascimento através da participação na família, na escola, pela influência da mídia, das religiões e de outros organismos da sociedade; c) os
estudos que sugerem que tanto o sexo quanto o gênero são socialmente construídos uma vez que podem ser moldados e alterados de várias
maneiras;
· - a desigualdade de gênero como a diferença de status, poder e prestígio que as mulheres e os homens apresentam nos grupos e na sociedade
em geral;
· - as desigualdades de gênero e suas relações com as desigualdades sociais e de raça. A prostituição como concessão de favores sexuais em
troca de pagamento e como expressão da tendência masculina de tratar a mulheres como objetos que podem ser “usados” para fins sexuais;
· - as mudanças no caráter e no papel da masculinidade na sociedade atual. O desgaste dos papéis tradicionais dos homens;

Como ensinar
O ensino deste tópico conta com a natural motivação e curiosidade dos jovens em relação à vida sexual humana e as interações sociais entre os
gêneros distintos. Deve-se, entretanto, evitar que a análise e a discussão se desenvolvam em torno de casos pessoais e das preocupações de
caráter estritamente individual. O foco deve estar voltado para os estudos e interpretações de natureza sociológica, o que implica que deve estar
centrado nas análises e nos debates que procuram investigar a natureza e as características dos comportamentos sexuais e de gênero na vida em
sociedade. Importante lembrar que os estudos referentes ao tema da sexualidade e de gênero nas ciências sociais não oferecem caráter
conclusivo.
O assunto deste tópico pode ser introduzido através da identificação de qualquer situação-problema que apresenta um caso onde o tratamento
desigual entre os gêneros é manifesto. Tal caso pode estar ilustrado em um filme, em um conto ou em alguma situação real descrita pela mídia
(jornal, revista ou televisão). Ao discutir tais casos, deve-se buscar caracterizar o problema envolvido, sua natureza, suas implicações para a vida
das pessoas, as razões de natureza biológica, cultural e social que contribuíram para que os comportamentos das pessoas em relação ao gênero
ocorresse da forma descrita. Ao longo de qualquer análise e discussão deve-se cuidar em manter clara a distinção entre os aspectos biológicos e
os de natureza psicológica, cultural e social que se referem às diferenças entre os sexos e os tratamentos desiguais relacionados ao gênero. Tais
aspectos envolvem algumas considerações básicas indicadas a seguir
Em primeiro lugar, devemos nos perguntar em que medida as diferenças no comportamento de mulheres e homens são resultantes de diferenças
biológicas.
Além da óbvia diferença na anatomia dos corpos femininos e masculinos há, também, a necessidade biológica de reprodução da espécie humana.
Mas, para os humanos, a atividade sexual é muito mais do que biológica. Ela reflete nossa identidade, nossas emoções e está carregada dos
significados sociais atribuídos pelo ambiente em que vivemos. No relacionamento sexual buscamos prazer mas, também, envolvimento
emocional. Dessa forma, a sexualidade é uma dimensão complexa de nossas vidas.
Em segundo lugar, devemos também considerar que em todas as sociedades, a maioria das pessoas é heterossexual e isto tem constituído o
fundamento do casamento e da família. As práticas sexuais, no entanto, são muito mais diversas. Na vida social aprendemos, através da
socialização, as normas sociais que aprovam certas práticas enquanto desencorajam e condenam outras. Essas normas variam muito nas
diferentes culturas e nos diferentes momentos históricos da mesma sociedade, assim como variam os tipos aceitos de comportamento sexual. Isto
nos permite saber que grande parte das respostas sexuais são aprendidas e não inatas.

Como avaliar
As questões formuladas para o estudo dirigido do texto constante no RA, podem servir para a avaliação da
aprendizagem do tema. Em uma forma alternativa, o professor poderá avaliar através da apresentação, por escrito,
de uma prática cultural comum em que se evidencia um tratamento desigual entre os gêneros.
EIXO TEMÁTICO III: ABORDAGEM SOCIOLÓGICA DE QUESTÕES SOCIAIS NO BRASIL CONTEMPORÂNEO
Tópico: Gênero como fator de desigualdade
Temas Gênero e desigualdade
Complementares:

As atividades sugeridas devem propiciar aos alunos desenvolver as capacidades de identificar, analisar e debater os problemas envolvidos nas
situações apresentadas em cada trabalho proposto, utilizando os conceitos e idéias centrais referentes ao tópico, como a diferença entre os termos
“sexo” e “gênero”, os aspectos culturais e sociais envolvidos nas desigualdades e os preconceitos referentes ao gênero e à sexualidade.
A introdução ao estudo deste tópico pode ser realizada com a apresentação de um filme que propicie o debate sobre o tema (caso a escola tenha
os recursos necessários), criando oportunidade para o professor provocar questões iniciais que permitirão o desenvolvimento do assunto. Filmes
sugeridos:
Na falta de condições para a apresentação de um filme, o professor pode lançar mão da narração de um conto ou da exposição de um caso real,
divulgado em jornal e/ou televisão, do conhecimento público, e que propicie o debate em torno das questões relacionadas às desigualdades de
gênero.
Outra maneira de iniciar o estudo desse tópico é através de um convite aos estudantes para que apresentem, oralmente, situações vividas ou
observadas em que, claramente, é manifesta a desigualdade no tratamento ou na posição socialmente ocupada por homens e mulheres. Como,
por exemplo, os casos em que nos relacionamentos familiares - entre mulher e marido, entre pais e filhos e, mesmo, entre irmãos de diferentes
gêneros - se manifestam tratamentos discriminatórios em relação à mulher e às crianças do sexo feminino. É também possível identificar
tratamentos desiguais entre meninos e meninas não só na família como nas escolas, tanto por parte da direção como dos professores e
funcionários. As meninas e as jovens também são capazes de expressar situações em que a discriminação e o preconceito contra o gênero
feminino aparecem nos relacionamentos cotidianos na família, na escola, nos grupos de convivência.
O principal propósito dessa atividade inicial é provocar o reconhecimento por parte dos alunos da existência de tratamento desigual entre
homens e mulheres nos vários aspectos e dimensões da vida social, relacionado a preconceitos e discriminações de vários tipos.

2. Estudo dirigido do texto abaixo e discussão sobre o tema:


Após terem sidos expostos a uma introdução geral sobre o tema da sexualidade e do gênero, os alunos poderão ler e discutir o seguinte trecho do
capítulo sobre “Gênero e Sexualidade”, do livro Sociologia, de Anthony Giddens (pp. 105-6, Artmed Editora S.A., 2005)

“Um caminho dentro da Sociologia para se analisar “as origens das diferenças de gênero é estudar a socialização do gênero, a aprendizagem
de papéis do gênero com o auxílio de organismos sociais, como a família e a mídia. Essa abordagem faz distinção entre sexo biológico e gênero
social – uma criança nasce com o primeiro e desenvolve o segundo. Pelo contato com vários organismos sociais, tanto primários como
secundários, as crianças internalizam gradualmente as normas e as expectativas sociais que são percebidas como correspondentes ao seu sexo.
As diferenças de gênero não são biológicamente determinadas, são culturalmente produzidas. De acordo com essa visão, as desigualdades de
gênero surgem porque homens e mulheres são socializados em papéis diferentes.” Na socialização do gênero “meninos e meninas são guiados
por “sanções” positivas e negativas, forças socialmente aplicadas que recompensam ou restringem o comportamento. Por exemplo, um menino
poderia ser sancionado positivamente em seu comportamento (“Que menino valente você é!”), ou ser alvo de sanções negativas (“Meninos não
brincam com bonecas”). Essas afirmações positivas e negativas ajudam meninos e meninas a aprender os papéis sociais esperados e a
adequar-se a eles.”
Essa interpretação dos papéis sexuais e da socialização foi criticada e muitos escritores argumentam que “a socialização de gênero não é por si
mesma um processo tranqüilo: diferentes organismos como a família, as escolas e outros núcleos de agrupamento talvez estejam em divergência
com outros.
Além disso, as teorias de socialização ignoram a capacidade dos indivíduos de rejeitar ou modificar as expectativas sociais acerca dos papéis
sexuais.”... “Embora convenha nutrir certo ceticismo com relação a qualquer adoção indiscriminada da abordagem que postula os papéis dos
sexos, muitos estudos mostram que, em certa medida, as identidades de gênero são resultados de influências sociais”.
“As influências sociais na identidade de gênero fluem por meio de diversos canais;”... “ Estudos sobre as interações entre pais e filhos, por
exemplo, mostram diferenças distintas no tratamento de meninos e meninas, mesmo quando os pais acreditam que suas reações para ambos
sejam iguais. Os brinquedos, os livros ilustrados e os programas de televisão experienciados por crianças tendem a enfatizar diferenças entre
os atributos masculinos e femininos. Embora a situação, de alguma forma, esteja mudando, os personagens masculinos em geral superam em
número os femininos na maior parte dos livros infantis, contos de fadas, programas de televisão e filmes. Os personagens masculinos tendem a
representar papéis mais ativos e aventurosos, enquanto os femininos são retratados passivos, esperançosos e voltados à vida doméstica.
Pesquisadoras feministas demonstraram como produtos culturais e de mídia, comercializados para audiências jovens, encarnam atitudes
tradicionais para com o gênero e os tipos de objetivos e ambições esperados em meninos e meninas.”

Algumas questões para orientar o estudo e o debate em sala:

- Qual o sentido que, em Sociologia, se atribui aos termos “sexo” e “gênero”? Por que é importante para a análise sociológica fazer tal distinção?
- Explique com suas palavras o que se quer dizer com a afirmação “homens e mulheres são socializados em papéis diferentes”. O que o termo
“papéis” significa para a análise sociológica? (recordar o estudo sobre o tema da socialização em sua relação com a desigualdade de gênero)
- Cite exemplos de “sanções” negativas ou positivas ( outros que os apresentados no texto) e que fazem parte do processo de socialização de
gênero, influenciando comportamentos diferenciais entre meninos e meninas?
- Indique alguma situação - apresentada em filme, em revista, em programa de televisão ou em propaganda - em que claramente está manifesto
um preconceito contra mulheres ou homossexuais.

Glossário:
sanção – pena ou recompensa (reforço positivo ou negativo) com que se tenta garantir a execução de uma norma ou lei social. No caso do texto
o sentido do termo está diretamente associado às formas de aprovação ou reprovação dos comportamentos, de acordo com o que é esperado,
socialmente, para cada gênero.
papel - atribuição de natureza social relacionada a alguma função e/ou desempenho esperado. Os papéis sociais são
expectativas socialmente definidas que uma pessoa segue numa dada posição social. (Por exemplo: assumir o papel
de médico, de esposa, de pai, de estudante, de professor, etc.)
EIXO A ABORDAGEM SOCIOLÓGICA DE QUESTÕES SOCIAIS NO
TEMÁTICO III: BRASIL CONTEMPORÂNEO
Tópico: Gênero como fator de desigualdade
Temas Gênero e os movimentos feministas
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Porque ensinar
Todos os aspectos de nossa existência estão marcados pelo gênero. Nossa identidade sexual é formada e reproduzida socialmente no decorrer da
vida. A vida sexual nas sociedades modernas está sofrendo grandes mudanças que afetam a vida emocional da maioria de nós. A luta das
mulheres pelo reconhecimento cultural e social igualitário vem transformando valores e formas tradicionais de vida ligados ao gênero. É
importante, tanto para o nível pessoal quanto para a interação social, compreender os aspectos e as questões envolvidos na natureza do que
classificamos como masculinidade e feminilidade.
Condições prévias para ensinar
Sugere-se que este tópico seja tratado após o estudo do processo de socialização e na sequência sugerida pelo CBC.

O que ensinar
· o domínio dos homens sobre as mulheres na economia, na política, na família e em vários outros setores da vida social e a luta dos
movimentos feministas. A violência contra as mulheres e os homosexuais.
· as transformações nas noções tradicionais de gênero e nas idéias sobre a sexualidade: do vínculo com o processo de reprodução para uma
dimensão da vida passível de ser moldada e explorada por cada indivíduo. A heterossexualidade, a homossexualidade e as diferentes aprovações
(e/ou reprovações) sociais de comportamentos sexuais. Visões tradicionais ao lado de visões liberais na sociedade atual. Preconceitos e
intolerância que permanecem em relação às diferentes formas de comportamento e orientações sexuais.

Como ensinar
O professor deve contar com a participação dos alunos para realizar um breve levantamento de situações em que são evidentes as privações
sofridas pelas mulheres – o sexismo (forma de relacionar-se socialmente influenciada pelos valores e preconceitos culturais que tratam de
maneira diferenciada e desigual os gêneros), a discriminação preconceitosa quanto às qualidades e características femininas (barreiras sociais
para a promoção e aceitação das mulheres em postos e funções considerados próprios para o sexo masculino e atribuídos com exclusividade ou
preferencialmente às pessoas do sexo masculino), a desigualdade salarial em relação aos homens no mercado de trabalho.
Pode ser interessante sugerir aos estudantes a identificação de atitudes preconceitosas e de manifestações de “machismo” e sexismo no
relacionamento entre os diferentes sexos no ambiente de convivência escolar.
Na consideração das situações apresentadas deve-se buscar analisar em que medida a diferenciação de papéis e a divisão de trabalho entre os
sexos levou homens e mulheres, através dos séculos, a assumir posições desiguais em termos de poder, prestígio e riqueza. As investigações
buscam as raízes de tal desigualdade. Os estudos sobre esta questão procuram explicar a natureza das desigualdades de gênero na sociedade.
É importante considerar a contribuição dos movimentos feministas que deram origem a um grande número de pesquisas sobre o tema e
provocaram um grande debate na sociedade buscando superar as desigualdades.
Em uma rápida exposição o professor pode falar sobre alguns aspectos básicos dos efeitos desses movimentos ou poderá solicitar aos alunos a
rápida leitura do texto indicado no RA deste tópico.

Como avaliar
Um relatório das conclusões da discussão em sala de aula, elaborado individualmente ou em grupo, pode ser um instrumento de avaliação. Neste
caso, a avaliação não deve ser feita sobre a opinião ou visão do aluno sobre os aspectos que envolvem as identidades e práticas sexuais. Deve-se
avaliar, apenas, a correta utilização dos conceitos envolvidos na análise e a clareza dos argumentos apresentados na resposta aos itens, de acordo
com o que foi debatido em sala de aula.
Outra maneira de avaliar pode ser através de alguns ítens relacionados ao texto do Roteiro de Atividades:
- Cite dois aspectos da luta dos movimentos feministas que são considerados importantes para a superação da desigualdade de gênero.
- O que é patriarcalismo?
- O que é sexismo?
EIXO TEMÁTICO III: ABORDAGEM SOCIOLÓGICA DE QUESTÕES SOCIAIS NO BRASIL CONTEMPORÂNEO
Tópico: Gênero como fator de desigualdade
Temas Gênero e os movimentos feministas
Complementares:

1. Levantamento de situações em que é manifesta a desigualdade de gênero, os preconceitos e as privações sofridas pelas mulheres.
2. O professor deve coordenar o debate conduzindo a discussão para que os alunos identifiquem e caracterizem as desigualdades que aparecem
nas situações e casos relatados.
3. Leitura do texto abaixo:

A partir da década de 1960, as atitudes tradicionais em relação ao gênero e à vida sexual vêem passando por uma grande transformação. Para
alguns estudiosos, está ocorrendo uma verdadeira revolução nos costumes com a introdução de visões e concepções mais liberais. As várias
formas de preconceito contra as mulheres foram atacadas e submetidas a fortes críticas em todas as esferas da vida social. Especialmente no
Ocidente, as práticas sexuais tornaram-se, gradativamente, mais permissivas trazendo, em conseqüência, alguns novos problemas de natureza
social como o desarranjo das formas tradicionais da família e o aumento dos casos de gravidez na adolescência.
O movimento feminista foi um fator importante na luta social e cultural contra os padrões tradicionais sobre os gêneros, tanto em relação às
posições que defendiam o fundamento biológico da divisão sexual do trabalho, quanto no que diz respeito às concepções sobre a vida sexual em
geral.
A preocupação com a posição desigual da mulher na sociedade deu origem a varias teorias que tentam explicar as desigualdades de gênero,
sugerindo idéias para a superação dessas desigualdades. As explicações desenvolvidas por essas teorias giram em torno de uma variedade de
longos e profundos processos sociais, tais como o patriarcalismo (tipo de organização social onde predomina a sistemática dominação das
mulheres pelos homens), o sexismo, o capitalismo, o racismo e as diferenças étnicas.
As diversas escolas feministas discordam entre si sobre os fatores determinantes ou mais influentes na dominação exercida pelos homens sobre
as mulheres, mas reconhecem as muitas dimensões interligadas que favorecem a opressão das mulheres: a submissão ao homem na estrutura
familiar (supremacia da autoridade paterna), a violência doméstica contra a mulher, a remuneração salarial inferior na ocupação dos mesmos
cargos e funções no mercado de trabalho, a supremacia dos homens na política e nas posições de poder social (como nas direções das empresas),
a permanência dos valores culturais tradicionais alimentados pela propaganda, pela mídia e até mesmo pela escola em seus vários níveis.
Um outro fator de natureza cultural que contribui para manter e alimentar a desigualdade de gênero é, de um modo geral, a religião. Nesse
aspecto os pensadores clássicos da Sociologia, Marx e Durkheim, consideraram as religiões como um produto dos próprios homens vivendo em
sociedade. Dessa forma, todas as grandes religiões do mundo têm tradicionalmente colocado a mulher em uma posição de subordinação.
“Sacerdotes católicos, mulás muçulmanos, assim como rabinos judeus de orientação mais conservadora e ortodoxa, devem ser homens.
Permitiu-se que as mulheres atuassem como ministras protestantes apenas a partir da metade do século XIX e como rabinas, nas vertentes mais
liberais do judaísmo, bem mais tarde, nos anos de 1970. Deus é normalmente percebido como homem pelos grandes sistemas religiosos do
mundo.” (em Sociologia- Sua Bússola para um Novo Mundo, Robert Brym e outros, editora Thomson, 2006, p.397)

- Seria possível ou desejável eliminar as diferenças de gênero na sociedade?


- É possível manter as diferenças de gênero mesmo eliminando as desigualdades de gênero?
-O que é a homofobia?
Glossário:
- patriarcalismo – diz-se de um sistema de estruturas e práticas sociais em que os homens dominam, oprimem e exploram as mulheres.
- sexismo – forma de relacionar-se com as pessoas a partir de concepções estereotipadas sobre os diferentes sexos,
envolvendo preconceitos e discriminações construídos culturalmente.
IXO A ABORDAGEM SOCIOLÓGICA DE QUESTÕES SOCIAIS NO
TEMÁTICO III: BRASIL CONTEMPORÂNEO
Tópico: Gênero como fator de desigualdade
Temas Gênero, classe e raça
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Porque ensinar
Ao lado da questão que trata da opressão e discriminação sofridas pelas mulheres, os estudos mais atuais sobre as relações de gênero têm se
voltado também para as mudanças que vem ocorrendo em relação às identidades masculinas. Alguns estudiosos têm identificado “tendências de
crise” que ameaçam minar a estabilidade da masculinidade hegemônica. Se os papéis tradicionais em relação aos gêneros ainda persistem, novos
problemas começam a afetar a auto-imagem do homem gerando insegurança em relação a si mesmo e a seu papel na sociedade. Há também
impactos sociais significativos em relação à maior liberalização das práticas sexuais e que afetam a vida de jovens e adolescentes. Vivemos um
processo de mudança social e cultural que precisa ser entendida na sua relação com a construção de nossas identidades sexuais e de gênero.

Condições prévias para ensinar


Esse tópico deve ser tratado na sequência apresentada pelo CBC

O que ensinar
Neste tópico a análise estará voltada para as relações entre a desigualdade de gênero, as posições das pessoas na estrutura de classes da sociedade
e os aspectos ligados ao racismo.
Problemas enfrentados pelas mulheres mais pobres nem sempre ocorrem, certamente não com a mesma freqüência, entre jovens das classes mais
altas na hierarquia social.
Se a subordinação feminina sempre atingiu as mulheres de todas as classes sociais, é nas classes inferiores da sociedade que os dramas femininos
sempre tiveram conseqüências mais marcantes e humilhantes.
A condição de pobreza associada à condição de mulher afro-brasileira apresenta problemas específicos que não são compartilhados diretamente
por mulheres de posição social mais elevada na hierarquia da estratificação social e com características físicas diversas. Tais problemas foram
denunciados inicialmente pelos movimentos feministas das mulheres negras norte-americanas e são tratados, em estudos recentes, sobre a
história das mulheres brasileiras. (Veja o texto na RA) A violência contra o sexo feminino e os casos de estupro comuns no ambiente familiar,
embora ocorram em todas as classes sociais, parecem ser mais comuns em ambientes de baixa educação e baixa condição de vida social. Outro
assunto que merece ser abordado é o da prostituição. Nas sociedades atuais a prostituição – a concessão de favores sexuais em troca de
pagamento – ampliou-se através de vários tipos diferentes, incluindo a prostituição infantil. Na maioria dos países as prostitutas trabalham
ilegalmente, como é o caso do Brasil. Ao mesmo tempo, entretanto, uma próspera indústria do turismo sexual voltada para a prostituição tem se
desenvolvido nos últimos tempos.
Outro aspecto a ser tratado refere-se à chamada “crise de masculinidade” que alguns estudiosos do tema de gênero têm procurado analisar. Com
as mudanças não apenas nos estilos de via social e cultural decorrentes dos avanços das sociedades contemporâneas mas, também, com as
transformações nas relações de gênero, resultantes das ações dos movimentos feministas e dos de homossexuais, têm-se observado um
decréscimo na auto-estima de alguns grupos de homens que já não se sentem tão seguros como nas condições das sociedades mais tradicionais,
onde a superioridade masculina não era posta em dúvida. Nas últimas décadas os sociólogos dedicaram mais atenção a questões como: o que
significa ser um homem na recente sociedade moderna? a masculinidade está em crise? Busca-se entender “como as identidades masculinas são
construídas e que impacto as funções socialmente prescritas têm sobre o comportamento dos homens”. (Ver em Anthony Giddens, Sociologia,
pp. 111 a 115, sobre as pesquisas recentes em torno desta temática) Giddens salienta que “muitos observadores crêem que as transformações
econômicas e sociais estão provocando uma crise da masculinidade. Os defensores dessa visão sugerem que as noções tradicionais de
masculinidade estão sendo destruídas por uma combinação de influências, incluindo o oscilante mercado de trabalho e as altas taxas de divórcio.
Se antigamente o homem comum gozava de segurança em função da força de trabalho, da família e da sociedade como um todo, sua posição está
sendo minada por uma multiplicidade de forças, tornando-o inseguro quanto a si mesmo e a seu papel na sociedade.” Para alguns autores, o que
está ocorrendo é antes de tudo um enfraquecimento de certos elementos da masculinidade tradicional. O papel de homem “provedor” –
conquistar um emprego legítimo e tornar-se o provedor de sua mulher e família – está hoje sob pressão, especialmente entre jovens e homens
trabalhadores em áreas carentes. Ao mesmo tempo, estudos mostram que esta nova insegurança masculina não alterou as relações de poder entre
homens e mulheres. (em Giddens, p. 114)

Como ensinar
A partir da leitura e discussão dos aspectos e problemas apresentados nos textos transcritos no RA, o professor poderá refletir com seus alunos
os principais pontos e questões do tema deste tópico:
1) As questões que dizem respeito às relações entre desigualdade de gênero, classe social e raça ou etnia. Neste caso é importante chamar a
atenção para a direta influencia dos processos históricos na estruturação de nossa realidade social, econômica e cultural atual – a experiência da
dominação colonial portuguesa, do trabalho escravo, da industrialização tardia e do capitalismo periférico e dependente.
2) Os aspectos envolvidos em una “tendência de crise de masculinidade”. As mudanças e fatores observados nas questões de gênero – como a
diluição do papel dos homens na igreja, na política e nas associações locais, a perda de estabilidade no casamento e nas relações em geral, o
crescente desemprego, os salários declinantes - têm sugerido uma situação nova de insegurança para a tradicional certeza do papel do homem na
sociedade.

Como avaliar
A questão principal a ser considerada na avaliação deste tópico é a seguinte:
- que fatores de ordem social e cultural podemos identificar como fundamentais na formação de nossa experiência
de gênero?
EIXO TEMÁTICO III: ABORDAGEM SOCIOLÓGICA DE QUESTÕES SOCIAIS NO BRASIL CONTEMPORÂNEO
Tópico: Gênero como fator de desigualdade
Temas Gênero, classe e raça
Complementares:

Objetivo:
O principal propósito das leituras e discussões dos textos apresentados a seguir é possibilitar aos alunos uma reflexão e compreensão mais bem
informada sobre alguns aspectos importantes das condições de vida das mulheres e dos problemas enfrentados na constituição e mudanças atuais
das identidades de gênero.

Roteiro:
Leitura e discussão em sala de aula do seguinte texto
Notícia publicada em um jornal de circulação nacional, O Estado de São Paulo, no dia 28 de setembro de 2008, apresenta a seguinte manchete:
“Gravidez na adolescência vira projeto de vida para jovem carente.”
E o jornal comenta: “apesar de o sistema público oferecer métodos contraceptivos, adolescentes brasileiras, principalmente as mais pobres e
menos escolarizadas, continuam engravidando precocemente. Para elas, ter um filho é uma maneira de chamar a atenção e mudar de vida”.
Estudo inédito feito com dados dos Censos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que“ houve uma concentração de
gravidez de garotas entre 15 e 19 anos - aumentou três vezes desde a década de 1970”.
Segundo especialista do Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos, 40% das meninas que engravidaram já estavam fora da
escola. Em suas palavras: “Ela (a menina) reproduz o modelo de ser dona de casa, onde ter um filho é uma realização”. E, ainda, “É preciso
entender que grupos sociais são muito diferentes em relação à maternidade. Nas classes baixas, a família fica feliz quando aparece um bebê. Na
classe média, ou a menina aborta ou a família tenta assumir e ajudar a menina a estudar”, explica a pesquisadora. (Depoimento citado na mesma
reportagem do jornal)
Para a discussão dos aspectos envolvidos na reportagem acima, o professor deve solicitar que os alunos anotem por escrito suas reações,
procurando identificar os aspectos problemáticos envolvidos. Questões que podem ser formuladas a partir da reportagem? O que se pode dizer
sobre a visão das adolescentes e jovens mulheres sobre a sexualidade, considerando a reportagem do jornal? Quais as possíveis implicações dos
comportamentos dessas jovens mulheres para a vida futura? Como podemos explicar os diferentes comportamentos de classe em relação à
maternidade precoce?

O texto seguinte, composto a partir de trechos selecionados do capítulo “Trabalho Feminino e Sexualidade” escrito por Margareth Rago para o
livro História das Mulheres no Brasil, deve ser lido pelos estudantes e comentado pelo professor em sala de aula.

“Pagu, Patrícia Galvão, ou ainda Mara Lobo, escritora, feminista e comunista dos anos 30, foi uma das poucas mulheres a descrever, no
romance Parque Industrial, a difícil vida das operárias de seu tempo: as longas jornadas de trabalho, os baixos salários, os maus tratos de
patrões e, sobretudo, o contínuo assédio sexual.
Nas primeiras décadas do século XX, no Brasil, grande parte do proletariado é constituído por mulheres e crianças. E são vários os artigos da
imprensa operária que, assim como o romance de Pagu, denunciam as investidas sexuais de contramestres e patrões sobre as trabalhadoras e
que se revoltam contra as situações de humilhação a que elas viviam expostas nas fábricas.”... “as mulheres vão sendo progressivamente
expulsas das fábricas, na medida em que avançam a industrialização e a incorporação da força de trabalho masculina. As barreiras
enfrentadas pelas mulheres para participar do mundo dos negócios eram sempre muito grandes, independentemente da classe social a que
pertencessem. Da variação salarial à intimidação física, da desqualificação intelectual ao assédio sexual, elas tiveram sempre de lutar contra
inúmeros obstáculos para ingressar em um campo definido – pelos homens- como “naturalmente masculino”. Esses obstáculos não se
limitavam ao processo de produção: começavam pela própria hostilidade com que o trabalho feminino fora do lar era tratado no interior da
família. Os pais desejavam que as filhas encontrassem um “bom partido” para casar e assegurar o futuro, e isso batia de frente com as
aspirações de trabalhar fora e obter êxito em suas profissões.”
“As mulheres negras, por sua vez, após a Abolição dos escravos, continuariam trabalhando nos setores os mais desqualificados recebendo
salários baixíssimos e péssimo tratamento. Sabemos que sua condição social quase não se alterou, mesmo depois da Abolição e da formação do
mercado de trabalho livre no Brasil.”
Nas primeiras décadas do século XX, “a sociedade modernizava-se em todos os sentidos.”
“Nesse contexto, com a crescente incorporação das mulheres ao mercado de trabalho e à esfera pública em geral, o trabalho feminino fora do
lar passou a ser amplamente discutido, ao lado de temas relacionados à sexualidade: adultério, virgindade, casamento e prostituição. Enquanto
o mundo do trabalho era representado pela metáfora do cabaré, o lar era valorizado como o ninho sagrado que abrigava a “rainha do lar” e o
“reizinho da família”. Diante do crescimento urbano vertiginoso de muitas cidades brasileiras, com um grande contingente de trabalhadores
concentrados nos bairros operários, o mundo público acabou sendo considerado um espaço ameaçador para a moralidade das mulheres e das
crianças.” ... “As trabalhadoras pobres eram consideradas profundamente ignorantes, irresponsáveis e incapazes, tidas como mais irracionais
que as mulheres das camadas médias e altas, as quais, por sua vez, eram consideradas menos racionais que os homens.”
As feministas que iniciaram a divulgação de seus ideais nas primeiras décadas do século XX, apontavam para “os benefícios do trabalho
feminino fora do lar: uma mulher profissionalmente ativa e politicamente participante, comprometida com os problemas da pátria, que debatia
questões nacionais, certamente teria melhores condições de desenvolver seu lado materno. ... O discurso liberalizante das feministas
considerava, sobretudo, as dificuldades que as mulheres de mais alta condição social enfrentavam para ingressarem no mundo do trabalho,
controlado pelos homens. ... Contudo, o discurso das feministas liberais afetava muito pouco o conceito que elas próprias tinham das operárias
e demais trabalhadoras pobres.”
“O movimento operário protestou contra as inúmeras formas de exploração do trabalho feminino e infantil.”
“ O espaço público moderno foi definido como esfera essencialmente masculina, do qual as mulheres participavam apenas como coadjuvantes,
na condição de auxiliares, assistentes, enfermeiras, secretárias, ou seja, desempenhando as funções consideradas menos importantes nos
campos produtivos que lhes eram abertos.”
“Muitas mulheres, trabalhadoras e, especialmente, as femininas, têm lutado nas últimas três décadas pela construção de uma esfera pública
democrática. Elas querem afirmar a questão feminina e assegurar a conquista dos direitos que se referem à condição da mulher.”

Outros textos sugeridos para discussão e análise:


O livro História das Mulheres no Brasil, organizado por Mary Del Priore, é composto por vários textos que desenvolvem análises sobre aspectos
que dizem respeito à vida e à história das mulheres no Brasil. Os capítulos “Trabalho Feminino e Sexualidade”, de Margareth Rago e “Mulheres
dos Anos Dourados”, de Carla Bassanezi, são de especial interesse para um estudo mais aprofundado do tópico.

EIXO TEMÁTICO III: A ABORDAGEM SOCIOLÓGICA DE QUESTÕES SOCIAIS NO BRASIL CONTEMPORÂNEO


Tópico: Delinqüência e Criminalidade
Temas O tratamento sociológico do fenômeno da criminalidade
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Porque Ensinar
Se há um assunto a respeito do qual quase todo mundo se sente preparado para opinar é a criminalidade e a violência. No nível do senso comum,
a criminalidade é explicada como o resultado da falta de oportunidades de ascensão social, da ausência de uma família constituída (“o que se
pode esperar”, ouvimos com freqüência, “de uma criança que cresce à margem do carinho materno e/ou paterno?”), da própria falta de
perspectiva decorrente, ela própria de outra falta, a de educação formal (“Vamos construir escolas hoje para que não tenhamos que construir
mais cadeias amanhã”, disse recentemente o próprio Presidente da República) e do despreparo policial para lidar com o problema. Por um lado
há os que dizem: “temos que combater as desigualdades sociais para combater a criminalidade.” Por outro há os que dizem: “temos que equipar
melhor a polícia e tornar os policiais mais bem preparados.” E há os que dizem: “temos que fazer as duas coisas ao mesmo tempo.” Diante de
um quadro como este, o que um sociólogo teria a acrescentar? Sugerimos que este Tópico trate desta questão. Trata-se de mostrar que as
explicações acima, embora todas elas verdadeiras, não esgotam o tema. Em primeiro lugar, trata-se de expor a evolução das explicações a
respeito do crime. Em segundo, as teorias mais recentes a respeito da criminalidade que dão sustentação à políticas de combate à criminalidade –
notadamente à chamada política de tolerância zero. Finalmente, trata-se de discutir a relação entre criminalidade e presença do Estado
(discutindo a própria política de tolerância zero). Três aulas são destinadas a este tópico, as quais tratarão desses três assuntos.

Condições Prévias para Ensinar


Tópicos do CBC sobre socialização, normas e valores.

O que ensinar
Na primeira aula referente a este tópico, ensinar como evoluiu o tratamento do tema da criminalidade. O texto colado abaixo servirá de suporte:
Evolução dos Estudos Sobre as Causas da Criminalidade
Os estudos sobre as causas da criminalidade têm se desenvolvido em duas direções: naquela das motivações individuais e na dos processos que
levariam as pessoas a se tornarem criminosas. Por outro lado, tem-se estudado as relações entre as taxas de crime em face das variações nas
culturas e nas organizações sociais. Tais arcabouços teóricos vêm sendo desenvolvidos, principalmente, a partir de meados do século passado.
Em períodos anteriores, as primeiras reflexões sobre o tema, elaboradas normalmente por pessoas fora do círculo acadêmico, procuravam
encontrar uma causa geral para o comportamento criminoso, de sorte que, virtualmente, ao extirpá-la se conseguiria erradicar a criminalidade.
Contudo, tais perspectivas se traduziam menos em teorias explicativas sobre a criminalidade e mais em panacéias que alimentavam o discurso de
teólogos, reformadores e médicos da época. Nesse limiar do desenvolvimento teórico da criminologia, uma das mais conhecidas abordagens,
devida a Lombroso, colocava como determinante da criminalidade as patologias individuais. Tal ênfase biológica nas causas do crime, contudo,
foi abandonada após a Segunda Guerra em virtude do seu conteúdo racista, que condenava pessoas com determinadas características físicas a
serem portadoras contínuas da doença da criminalidade.
Estando as teorias sobre as causas da criminalidade relacionadas ao aprendizado social, não é de se admirar que, historicamente, os sociólogos
tenham dado grandes contribuições ao tema. Entretanto, há muito a questão da criminalidade vem também chamando a atenção de economistas,
ainda que apenas a partir do final do século passado esse tenha sido um objeto central de seus estudos. Por exemplo, Adam Smith havia
observado que crime e demanda por proteção ao crime são motivados ambos pela acumulação da propriedade. William Paley também elaborou
uma cuidadosa análise a respeito de fatores que condicionariam as diferenças entre crime e sanções. Jeremy
Bentham, por outro lado, conferiu especial importância ao cálculo do comportamento do criminoso e às respostas ótimas dadas pelas auto-
ridades locais. De fato, um survey aplicado em 1901 nas universidades americanas dava conta de que entre os primeiros cursos oferecidos sob a
denominação genérica de “sociologia” já constavam currículos de criminologia e penologia. A esse respeito, apenas recentemente as
universidades de economia americanas têm incluído em seus currículos o estudo do crime.
Uma teoria que explique o comportamento social, em particular as ações criminosas, deveria levar em conta pelo menos dois aspectos: a) a
compreensão das motivações e do comportamento individual; e b) a epidemiologia associada, ou como tais comportamentos se distribuem e se
deslocam espacial e temporalmente. De acordo com Cano e Soares, é possível distinguir as diversas abordagens sobre as causas do crime em
cinco grupos: “a) teorias que tentam explicar o crime em termos de patologia individual; b) teorias centradas no homo economicus, isto é, no
crime como uma atividade racional de maximização do lucro; c) teorias que consideram o crime como subproduto de um sistema social perverso
ou deficiente; d) teorias que entendem o crime como uma conseqüência da perda de controle e da desorganização social na sociedade moderna;
e e) correntes que defendem explicações do crime em função de fatores situacionais ou de oportunidades.” Objetivamos, nas próximas seções,
elaborar um quadro resumido dessas muitas abordagens, ao mesmo tempo que buscamos fazer uma breve resenha bibliográfica sobre o tema.
Este excerto é do artigo “Determinantes da Criminalidade: Arcabouços Teóricos e Resultados Empíricos”, publicado em DADOS, Revista de
Ciências Sociais, vol 47, n. 2, 2004, pp 233-269. Anexamos uma versão pdf deste artigo, para que o Professor possa explorá-lo devidamente. A
versão pdf deste artigo encontra-se disponível na internet e seu uso está liberado.

Como Ensinar
Distribuir o texto acima entre os alunos e discuti-lo com eles. Ênfase especial no citado Lombroso, cujo pensamento representa o primeiro
esforço no sentido de explicar em termos científicos a criminalidade. Trata-se de um pensamento da segunda metade do séc. XIX, época em que
se acreditava que o crime tinha uma origem biológica. Conforme explica Anthony Giddens:
“Algumas das primeira tentativas para explicar o crime tinham caráter essencialmente biológico, concentrando-se nas qualidades inatas dos
indivíduos como fonte de crime e desvio. Trabalhando na década de 1870, o criminologista italiano César Lombroso acreditava que os tipos de
criminosos pudessem ser identificados por certas feições anatômicas. Ele investigou as características físicas de criminosos, tais como o formato
do crânio e da testa, o tamanho do maxila e a extensão do braço, e concluiu que eles revelavam traços apresentados desde estágios mais remotos
da evolução humana. Lombroso aceitava a idéia de que a aprendizagem social pudesse influenciar o comportamento do criminoso, porém
considerava que a maioria dos criminosos fosse biologicamente degenerada ou defectiva. Por seu desenvolvimento como seres humanos não ter
sido completo, apresentavam uma tendência a agir em desarmonia com a sociedade humana. As idéias de Lombroso tornaram-se completamente
desacreditadas, mas opiniões semelhantes foram várias vezes sugeridas (A. Giddens, Sociologia, p. 173-4)
O texto acima levanta várias possibilidades e o professor pode explorá-las. A começar pelo título: “Evolução dos Estudos Sobre as Causas da
Criminalidade”.
O aluno pode ser levado a refletir sobre:
1. em que sentido “evoluiu” o entendimento que temos a respeito das causas da criminalidade.
2. como as explicações articulam as causas individuais e sociais da criminalidade. As primeiras explicações, as que
datam ainda do séc. XIX, não conseguiam fazer esta articulação. Como se passou a fazer tal articulação com a
passagem do tempo?
EIXO TEMÁTICO III: ABORDAGEM SOCIOLÓGICA DE QUESTÕES SOCIAIS NO BRASIL CONTEMPORÂNEO
Tópico: Delinqüência e Criminalidade
Temas O tratamento sociológico do fenômeno da criminalidade
Complementares:

O texto acima [OP: Delinqüência e Criminalidade : O tratamento sociológico do fenômeno da criminalidade] levanta várias possibilidades e o
professor pode explorá-las. A começar pelo título: “Evolução dos Estudos Sobre as Causas da Criminalidade”.
O aluno pode ser levado a refletir sobre:
1. em que sentido “evoluiu” o entendimento que temos a respeito das causas da criminalidade.
2. como as explicações articulam as causas individuais e sociais da criminalidade. As primeiras explicações, as que
datam ainda do séc. XIX, não conseguiam fazer esta articulação. Como se passou a fazer tal articulação com a
passagem do tempo?
EIXO ANÁLISE SOCIOLÓGICA DO MUNDO MODERNO: A SOCIEDADE
TEMÁTICO II: EM QUE VIVEMOS
Tópico: Delinqüência e Criminalidade
Temas A teoria das janelas quebradas
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Porque Ensinar
Em nossos dias nenhuma teoria de criminalidade é tão comentada quanto a chamada “teoria das janelas quebradas.” Sendo assim, se é para
propiciar aos alunos de ensino médio um conhecimento sobre criminalidade que não se limite ao conhecimento de senso comum, torna-se
imperativo expô-los a esta perspectiva.

Condições Prévias para Ensinar


As mesmas da aula anterior

O que Ensinar
A chamada “teoria das janelas quebradas”, em razão de tratar-se da teoria mais aplicada em políticas de combate à criminalidade em nossos dias.
Sua formulação mais desenvolvida encontra-se no trabalho “Broken Windows”, publicado em 1982 pelos cientistas sociais americanos James
Q. Wilson e George Kelling. Em linhas gerais, pode-se explicar o essencial desta teoria imaginando-se duas situações. Situação 1: alguém
estaciona um carro sem qualquer avaria em uma via pública, vai embora e retorna após uma semana. Situação 2: alguém estaciona um carro que
tem uma única de suas janelas quebrada, vai embora e retorna após uma semana. Na situação 1, há uma boa chance de o proprietário encontrar
seu carro intacto. Na situação 2, o que provavelmente ocorrerá é que o proprietário encontrará todos os vidros quebrados e mais algumas avarias.
O carro de janela quebrada é uma metáfora para uma sociedade em que os controles sociais estão frouxos. Para uma sociedade em que, por
exemplo, ninguém se importa que alguém jogue lixo na rua, ou buzine a qualquer hora, ou mesmo cometa pequenos furtos. No limite, seria
possível ocorrer algo que o escritor João Ubaldo Ribeiro descreveu em uma crônica no Jornal do Brasil: ele estava em um bar com amigos; de
repente, houve um tumulto na esquina, todos saíram do bar para ver o que estava acontecendo. Dois homens armados abordaram um motorista
parado no semáforo, mandaram-no sair do carro, entraram no veículo e fugiram. Conta o escritor que após presenciarem este episódio as pessoas
voltaram para suas respectivas cervejas. É como se tivessem visto alguém quebrando a janela de um carro já todo avariado. A idéia fundamental
é que as instâncias de controle social básico precisam ser continuamente reforçadas e a melhor forma de fazer isso, do ponto de vista de política
pública, é reprimir qualquer desvio. Punir, por exemplo, quem joga lixo na rua seria análogo a substituir imediatamente uma janela quebrada por
uma inteira, seria uma forma de dizer: “esta rua está sendo vigiada, não pense que ela é como um carro abandonado que cada qual pode fazer
dele o que bem entende”.

Como Ensinar – Veja-se o roteiro de atividades.


Discutir com os alunos situações análogas a de “janela quebrada” que eles porventura tenham testemunhado ou
costumam testemunhar: o local em que vivem ou os locais que costumam freqüentar são como um carro ainda
intacto ou como um carro que já teve uma de suas janelas quebradas e, portanto, está sujeito a toda sorte de ação
criminosa? A incidência do crime organizado, de redes de traficantes que controlam a vida de comunidades inteiras
e recrutam jovens para o crime, pode de alguma maneira ser entendida através desta metáfora da “janela
quebrada”? A aula pode ser inteiramente dedicada a esta discussão. Existe, por exemplo, na própria Escola, alguma
situação análoga a um automóvel estacionado com uma das janelas quebradas?
IXO TEMÁTICO III: ABORDAGEM SOCIOLÓGICA DE QUESTÕES SOCIAIS NO BRASIL CONTEMPORÂNEO
Tópico: Delinqüência e Criminalidade
Temas A teoria das janelas quebradas
Complementares:

Discutir com os alunos situações análogas a de “janela quebrada” que eles porventura tenham testemunhado ou
costumam testemunhar: o local em que vivem ou os locais que costumam freqüentar são como um carro ainda
intacto ou como um carro que já teve uma de suas janelas quebradas e, portanto, está sujeito a toda sorte de ação
criminosa? A incidência do crime organizado, de redes de traficantes que controlam a vida de comunidades inteiras
e recrutam jovens para o crime, pode de alguma maneira ser entendida através desta metáfora da “janela
quebrada”? A aula pode ser inteiramente dedicada a esta discussão. Existe, por exemplo, na própria Escola, alguma
situação análoga a um automóvel estacionado com uma das janelas quebradas?
IXO TEMÁTICO III: A ABORDAGEM SOCIOLÓGICA DE QUESTÕES SOCIAIS NO BRASIL CONTEMPORÂNEO
Tópico: Delinqüência e Criminalidade
Temas A política de tolerância zero
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Porque Ensinar
A teoria das janelas quebradas, abordadas na aula anterior, são a base de sustentação daquilo que ficou conhecido como política de tolerância
zero. Trata-se, então, de explicar agora aos alunos o que é isto.

Condições Prévias Para Ensinar


As mesmas da aula anterior

O que ensinar
Ensinar em que consiste a chamada “política de tolerância zero”, amplamente adotada em nossos dias. As políticas de Tolerância Zero são, na
verdade, uma aplicação da teoria das janelas quebradas. De acordo com essas políticas, o Estado deve sancionar sistematicamente pequenos
crimes ou delitos, tais como prostituição, infrações de trânsito, jogar lixo na rua, vadiagem etc., para evitar que crimes mais graves ocorram. Há
muita discussão sobre se as políticas de tolerância zero foram as responsáveis pelos resultados positivos obtidos pela Polícia de Nova York
durante a década de 90, mas essas foram utilizadas de forma hegemônica em muitas cidades americanas durante este período. Uma crítica
possível à política de tolerância zero decorre diretamente das falhas da teoria das janelas quebrada. Citando novamente Giddens (p. 181):
Uma falha importante da teoria das janelas quebradas, contudo, é deixar a critério dos policiais a identificação da ‘desordem social’ da forma que
estes desejarem. Sem uma definição sistemática de desordem, a polícia está autorizada a enxergar praticamente qualquer problema como um
sinal de desordem e qualquer pessoa como ameaça. De fato, com a diminuição no número de crimes ao longo da década de 1990, na cidade de
Nova York, a quantidade de denúncias contra a polícia, por abuso e importunação, aumentou, especialmente de rapazes negros urbanos que se
encaixam no ‘perfil’ de criminoso potencial.
Esta citação é particularmente útil porque chama a atenção para o fato de que de um modo geral as pessoas têm uma imagem de o que seria um
“criminoso potencial”. O Professor pode discutir com os alunos estas possíveis imagens.

Como avaliar
Conforme foi visto, para Lombroso existia certas características físicas que tornavam certas pessoas um típico criminoso em potencial. Debater
com os alunos se a política de tolerância zero tem alguma relação com esta idéia lombrosiana. Se, por exemplo, um policial, ao tentar identificar
focos de desordem social, não opera com imagens de o que seria um “criminoso típico.” A avaliação poderia ser feita pedindo aos estudantes
que dissertem sobre isto. Que dissertem sobre, por exemplo, as vantagens e desvantagens da política de tolerância zero.

EIXO TEMÁTICO II: ANÁLISE SOCIOLÓGICA DO MUNDO MODERNO: A SOCIEDADE EM QUE VIVEMOS
Tópico: Delinqüência e Criminalidade
Temas A política de tolerância zero
Complementares:

Objetivo:
Espera-se deste tópico (dividido em três aulas) que o aluno adquira alguma familiaridade com as noções de “tipo lombrosiano”, da metáfora da
“janela quebrada” e de “política de tolerância zero”. Qualquer atividade que cumpra este objetivo é válida.
Sugerimos duas possibilidades:
1. caso o Professor tenha informação a respeito de experiências concretas de implementação de políticas de tolerância zero, ele poderia fazer
uma exposição sobre estas experiências e debater seus resultados com os alunos.
2. uma alternativa seria o Professo discutir com os alunos as recomendações que os mesmos recebem (ou recebiam) dos pais ou responsáveis
quando tinham que sair de casa sozinhos. Seria a recomendação, por exemplo, de jamais aceitar ofertas de estranhos? Ou de sempre evitar vias
públicas de pouco movimento? Ou de sempre procurar estar acompanhado? Ou prestar bastante atenção se tem alguém parado na esquina de
forma “suspeita”? Ou nenhuma recomendação?

Uma vez descritas as recomendações, discutir porque eram estas as recomendações. O Professor pode expor aos
alunos as recomendações que ele próprio recebia e compará-las com as que os alunos recebem. As recomendações
que os adultos fazem às crianças ou adolescentes é um excelente indicador das noções que eles têm sobre como a
violência acontece e como pode ser evitada – e é possível, por meio do conhecimento dessas recomendações, saber
se as pessoas trazem ou não consigo alguma idéia de como seria um “criminoso típico”. Em vista disto, o Professor
pode estimular os alunos a relacionar essas idéias tanto com as idéias de Lombroso a respeito do criminoso típico,
quanto com a idéia de que nenhuma “desordem” deve ser tolerada, peculiar às políticas de tolerância zero.
EIXO A ABORDAGEM SOCIOLÓGICA DE QUESTÕES SOCIAIS NO
TEMÁTICO III: BRASIL CONTEMPORÂNEO
Tópico: As manifestações culturais e políticas dos jovens nas
assimetrias do espaço urbano brasileiro
Temas Juventude e música
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Porque ensinar
A necessidade de se estudar as manifestações culturais dos jovens no mundo contemporâneo é hoje um tema de grande importância porque
presenciamos uma mudança drástica em nossos dias. Nas formas de vida social que nos antecederam, a passagem da infância para a vida adulta
era administrada pelas instituições sociais através de ritos prescritivos que procuravam impor regras de conduta onde o uso da violência
simbólica e mesmo física era considerado legítimo tendo em vista o objetivo maior: a formação do cidadão, consciente de seus direitos e
obediente aos deveres.
Hoje verificamos a perda do poder impositivo das instituições, dentre elas a escola, e o fortalecimento, nessa fase etária, de grupos de identidade
que procuram conduzir seu processo de formação da pessoa, onde a opinião dos iguais é mais importante que as normas sociais, e o cultivo de
uma sociabilidade festiva toma o lugar dos ritos impositivos.

O que ensinar
A formação dos grupos urbanos de jovens, seja quando se reúnem em grupos fundados em territórios urbanos seja através das redes virtuais –
muitas vezes, há uma combinação das duas formas-, é uma das características básicas da sociedade contemporânea, que contraria, parcialmente,
a tendência ao individualismo e a um processo auto-reflexivo requisitada pelo mercado de trabalho. Em alguns casos, a cultura tribal atrasa ou
mesmo impede que o jovem seja preparado para o mercado de trabalho formal, lançando-o ao mercado informal ou mesmo ao meio marginal.
A sociabilidade festiva das tribos urbanas se assenta e se expressa, em muitos casos, no cultivo de ritmos musicais que combinam com os usos
corporais e perspectivas de mundo de cada grupo. A disciplina corporal é um item importante na formação do trabalhador, seja ele manual ou
intelectual. Um indivíduo que passa horas lendo ou escrevendo, o cirurgião que depende de uma preparação do corpo para as longas horas de
uma operação e os movimentos precisos que deve realizar, ou um operário que precisa seguir o ritmo de uma linha de produção, todos eles
passaram por um processo auto-disciplinador que tornou possível sua capacidade corporal no desempenho profissional. Em lugar das rígidas
formas de disciplinação corporal que dominaram a educação dos jovens na passagem para a vida adulta, as tribos urbanas se preocupam hoje em
se entregar a ritmos musicais que apelam à dança e ao cultivo de corpos maleáveis, sensuais, e identificatórios da tribo a que pertence o
adolescente.
As letras das canções são também fundamentais. Nelas, cada tribo parece encontrar o “recado” que pretende transmitir aos outros e a seus iguais.
Críticas, expressão de desejos, identificação dos grupos de gênero, culto dos valores, etc., são mensagens transmitidas ao mundo, muitas vezes
com vocábulos agressivos, para demarcar separação social entre o grupo e o restante da sociedade.
Aqui cabe separar duas coisas – a semântica e a retóricas dos ritmos tribais. O que eles falam e como falam, e contra o que eles falam. É preciso
deixar claro o que o mercado exige do profissional – a capacidade de auto-reflexão, o auto-domínio, o conhecimento especializado- e o que está
expresso nas letras e ritmos musicais. No caso, a música pop, o heavy- metal, o hip-hop,break-dance, o rap, o funk, a axé music).
EIXO TEMÁTICO III: ABORDAGEM SOCIOLÓGICA DE QUESTÕES SOCIAIS NO BRASIL CONTEMPORÂNEO
Tópico: As manifestações culturais e políticas dos jovens nas assimetrias do espaço urbano brasileiro
Temas Juventude e música
Complementares:

Habilidades a serem desenvolvidas


Ao final dessa unidade, os alunos devem estar aptos a estabelecer relações entre manifestações musicais dos jovens e a realidade social. Ver a
importância da música no que diz respeito à própria construção de uma imagem de si, que envolve o corpo e a perspectiva de mundo. Devem
estar iniciados na noção de perfomance, que será discutido em outra unidade, quando do estudo do estilo. É bom que aprendam a questionar
também algo que faz parte da realidade de muitos deles, refletindo sobre os objetivos e sentidos da retórica musical/corporal. Devem ser
aplicados exercícios que busquem a reflexão sobre as letras das canções e as noções que elas trazem consigo. Em seguida ao exercício
individual, devem ser feitos seminários gerais.

Providências necessárias
O Livro de Almeida, M.I. Mendes e Eugênio, Fernanda, Cultura Jovens (Rio de Janeiro: Zahar, 2006) é instrumento útil. Os textos são
sintéticos e cobrem o tema em questão.
É necessário um arquivo áudio-visual que torne possível o uso do material citado. Uma sala de multimeios também seria necessário.

Prerrequisitos
Os professores e os alunos devem ter conhecimentos dos ritmos musicais em discussão, que são vários para serem descritos numa única aula.
Devem ter um conhecimento primário sobre as características da sociedade brasileira, quanto às exigências do mercado de trabalho e à influência
da música na formação da personalidade.

Descrição dos procedimentos:


Dado ao fato que trabalhamos com uma juventude que não possui, em sua maioria, uma formação de hábito de leitura, deve-se usar o estudo de
“videoclips”, letras de canções, documentários, para demonstrar que a música predominante cultivada pelas tribos se caracteriza pelo apelo
contestatório e pelo hedonismo. Para maior envolvimento da turma, sugerimos a seguinte dinâmica:
A . Uma aula de introdução, com o uso de material áudio-visual, e o estudo semântico das canções.
B. Que os próprios jovens sejam estimulados a trazer e discutir suas músicas preferidas e refletir sobre elas, em forma de seminários.
Deve o professor estar preparado para demonstrar exemplos de outros ritmos musicais e fazer comparações.
EIXO A ABORDAGEM SOCIOLÓGICA DE QUESTÕES SOCIAIS NO
TEMÁTICO III: BRASIL CONTEMPORÂNEO
Tópico: As manifestações culturais e políticas dos jovens nas
assimetrias do espaço urbano brasileiro
Temas Juventude e estética
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Porque ensinar
A estética é um elemento fundamental na organização das tribos urbanas. A estética deve ser estendida como o campo do estudo e da aplicação
das formas que o Homem dá à matéria. Vivemos num mundo onde os grandes paradigmas que davam um sentido, ou um esquema de referência,
entraram em falência. Daí a busca de novas formas de expressão, centralizadas, na maioria dos casos, num plano político. Em lugar da noção do
belo, é o sentido político que predomina nas formas modeladas.
A estética também representa o estudo dos sentidos humanos. O uso de cores, por exemplo, traz consigo uma escala de valores e sentidos que
passam instantaneamente da percepção à razão. É atribuído à cor um sentido, sendo até mesmo associado a um estilo de vida: a cor negra e os
góticos, por exemplo.
É preciso conhecer as formas que as diferentes tribos dão à matéria. Na maioria das vezes, trabalham sobre o que é chamado de “lixo urbano”,
ou seja, o material que já teve uma primeira utilização e forma e é como que recriado. Independente do material, há nas tribos urbanas uma forte
ação modeladora, que procura se utilizar de todos os materiais possíveis.
O uso da modelação é forma de valorização do indivíduo dentro do grupo, sinal de sua criatividade e meio de identificação do grupo.
É preciso ver que junto ao estético há sempre uma ética envolvida. Pessoas e objetos reproduzidos como seres deformados é uma forma de dar
definição ao viver e ao mundo. Portanto, sua importância é sociologicamente importante.

O que ensinar.
Quando se trata da estética das tribos urbanas, estamos diante de um mundo novo, fascinante e provocador. Foram rompidas as normas estéticas
passadas e novas estão sendo construídas, ao ritmo de um mundo em rápida transformação.
Nesse caso, a didática deve caminhar junto com a discussão. É preciso expor objetos, exibir documentários e discutir os possíveis significados e
sua correlação com o mundo social. Agentes sociais também devem ser chamados para falar.
Mas o importante é fazer a ligação das formas estéticas e do mundo social. Mostrar as condições de vida por trás da existência dos membros de
muitas tribos urbanos. Os símbolos da ausência, da falta, do luto, da violência, da formação de guetos, da ausência de outras formas de expressão
devem ser também demonstrados. A preferência pela cores está ligada a uma realidade social. Não há uma liberdade plena de criação individual.
As formas expressam a existência social, o que nem sempre é visível para os agentes. A miséria, a falta de oportunidades, é preciso mostrar esse
outro lado.
Também é preciso ver que o material estético também reflete consciências já abatidas pela violência dos territórios.
Da ausência da composição de personalidade. Da reprodução da sociedade de massas e da ética consumista. É
preciso partir do sensível para chegar à realidade social que influencia o agente.
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Tópico: As manifestações culturais e políticas dos jovens nas assimetrias do espaço urbano brasileiro
Temas Juventude e estética
Complementares:

Habilidades a serem desenvolvidas


O recolhimento do material estético produzido pelas tribos urbanas deve ser feito através dos próprios alunos, numa iniciação ao processo de
pesquisa social, que pode também envolver a realização de entrevistas. O que os alunos consigam entender a partir do material colhido é um
segundo passo, a ser discutido em seminário. A interpretação das formas, cores, grafismos, ajudará os jovens no desenvolvimento de técnicas
qualitativas de pesquisa e na reflexão sobre um mundo repleto de imagens, símbolos e ícones. Também a capacidade crítica deverá ser
exercitada.
A estética é sempre um desafio, principalmente quando os paradigmas tradicionais foram explodidos pela própria História. Mas é o momento
também em que a análise e criatividade científicas encontram lugar para desenvolvimento.
O mais importante é a relação que deve ser estabelecida entre as formas que o indivíduo dá às coisas e o mundo social onde ele vive.

Providências necessárias
O Livro de Almeida, M.I Mendes. e Eugênio, Fernanda Culturas Jovens: Novos Mapas do Afeto (Rio de Janeiro: Zahar, 2006) é instrumento
útil. Os textos são sintéticos e cobrem o tema em questão.
Vídeos e documentários poderão mostrar outras realidades para comparação. Ao se discutir estética, a didática deve se aproximar formalmente
de seu objeto.
O material recolhido deve ser cuidadosamente tratado como num museu. Seria interessante a organização de algo semelhante, uma abertura de
espaço para novas formas de expressão.
Junto com elas, no entanto, é preciso também armazenar a explicação, a informação.

Prerrequisitos
Seria importante que o aluno já tivesse conhecimento sobre estética, seu sentido e características atuais. A explicação dessa noção tomaria muito
tempo na aula, mas poderia ser feita sucintamente.

Descrição dos procedimentos


. Uma exposição inicial do tema.
. Pesquisa para reconhecimento dos objetos estéticos e realização de entrevistas com agentes sociais envolvidos com a produção.
. Uso de recursos audiovisuais para demonstração do objeto.
. Preparação e execução de um seminário para discussão do tema.

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TEMÁTICO III: BRASIL CONTEMPORÂNEO
Tópico: As manifestações culturais e políticas dos jovens nas
assimetrias do espaço urbano brasileiro
Temas Jovens e estilo de vida
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Porque ensinar
O estudo do estilo de vida é fundamental para o conhecimento dos grupos sociais. No caso das tribos urbanas, o estilo de vida é a principal forma
de diferenciação do grupo e constituição de uma identidade. Ocorre entre eles o que muitos chamam de uma estética social: uma preocupação
em excesso com o desenvolvimento de um tipo de roupa e acessórios, técnicas corporais, linguagem própria, domínio de territórios, formas
próprias de comunicação. É todo um mundo social que procura construir barreiras simbólicas que impeçam o acesso de outros, principalmente
adultos, em seu espaço. O conhecimento do estilo é necessário até mesmo para o contato com os tribalistas em outros espaços, como a escola,
por exemplo.

O que ensinar
O estilo de vida das tribos é o aspecto mais complexo desse tema de estudo. Aliás, a música e a estética já fazem parte do estilo e um bom
conhecimento dos seus significados prepara o aluno para esse item final. Será feita uma exposição objetiva, que permita uma visão global da
noção.
O estilo de vida seria uma junção da ética com uma estética de vida, geralmente chamada de perfomance. Isso significa uma grande preocupação
com a representação do eu individual e grupal. O texto que nos servirá de base é o de J. M. Pais (2006)[1], que fornece uma boa síntese e é
aconselhado para os profissionais que, de uma forma ou outra, lidam com as culturas jovens. Isso não significa, porém, que desprezaremos a
vasta produção sociológica que procura descrever e explicar o tema.
Em choque com a racionalização da vida moderna, que valoriza o cálculo dos riscos, a escolha de meios mais precisos diante dos objetivos, as
tribos cultuam a multiplicação das sensações, dos afetos, de uma vida marcada pela inconstância e perigo. A palavra “adrenalina” é uma noção
básica na linguagem. A busca do risco implica na valorização da aventura, da provocação, mas dá ao jovem a sensação de estar “vivo”, “aceso”,
numa sociedade que julgam ser tediosa e enfadonha, e que identificam com a vida dos adultos e o mundo da escola e do trabalho.
Isto também resulta muitas vezes em angústia. Mas mesmo emoções negativas são valorizadas frente à aparente frieza dos adultos. A
instabilidade emocional é também resultante do uso de drogas, que dão a energia e conduzem ao êxtase tão procurado, a maximização dos
sentidos e emoções, mas que pode levar em seguida ao estado de depressão. Modos de escape são procurados para se livrar desse estado, em
geral, a multiplicação de perfomances radicais.
A vida afetiva é extremamente valorizada, e as relações amorosas e amizades tomam o lugar das relações familiares. Mas também aqui a
instabilidade, a busca e a movimentação são constantes. O jovem busca a excitação do novo e não se preocupa com o duradouro, com o futuro.
Nem tam pouco com a memória. O presente, o instante, é o que conta. Se a amizade é valorizada, por outro lado é também o conflito com outras
tribos, ou dentro da própria tribo, para demonstrar coragem. Embora se vejam como inovadores, os grupos de jovens são muitas vezes moldados
por uma cultura machista, onde a honra pessoal, a vingança e a lei dos mais forte são predominantes. Aí entra o uso de armas e a luta corporal,
como elementos comuns na vida tribal. Competições envolvendo jogos também refletem essa afirmação do eu e construção de novos meios
de status dentro das tribos que, apesar do discurso igualitário, se caracterizam pela existência de hierarquias internas. Os esportes radicais, as
corridas de carro, ou jogos virtuais são também importantes.
Em síntese, se há uma palavra que caracteriza bem esse estilo de vida seria a noção do excesso. Excesso que se pode ver no uso de tatuagens
e piercings, no ritmo das músicas, nas festas (baladas), nos fetiches cultuados. O jovem é capaz de ficar um mês
acampado para assistir um festival de música. Ou preencher seu quarto com imagens de seus ícones. Ou ainda,
ocupar os espaços públicos com suas pichações. É a busca de um ritmo alucinante de vida, para fugir do que é tido
como vida tediosa dos outros.
EIXO TEMÁTICO III: ABORDAGEM SOCIOLÓGICA DE QUESTÕES SOCIAIS NO BRASIL CONTEMPORÂNEO
Tópico: As manifestações culturais e políticas dos jovens nas assimetrias do espaço urbano brasileiro
Temas Jovens e estilo de vida
Complementares:

HABILIDADES A SEREM DESENVOLVIDAS


Aqui o sentido da Ciência Sociológica pode ser entendido de uma maneira mais profunda. É preciso treinar a observação, a comparação e o
distanciamento em relação à própria vida social transformada num objeto de análise. Muitos alunos pertencem a tribos e galeras, e não têm
consciência do sentido de seu estilo de vida.
Também o senso crítico deve ser explorado. A ligação da vida tribal com a violência urbana, por exemplo.

PROVIDÊNCIAS NECESSÁRIAS
O Livro de Almeida, M.I. Mendes e Eugênio, Fernanda Cultura Jovens: Novos Mapas do Afeto (Rio de Janeiro: Zahar, 2006) é instrumento
útil. Os textos são sintéticos e cobrem o tema em questão.
Juventude Transviada, um filme da década de cinqüenta, é um bom exemplo da vida tribal. Mostra não só o estilo de vida, mas como o
cinema e os meios eletrônicos ajudam na proliferação de cultura jovens hoje.

PRERREQUISITOS
O aluno já deve ter assistido a aulas sobre a vida moderna, para fazer comparações.

DESCRIÇÃO DOS PROCEDIMENTOS


* Os alunos, em grupos, devem enumerar as tribos ou grupo de jovens que conhecem e procurar comparar suas características.
* O uso de material áudio-visual, como documentários e filmes de ficção ajudarão muito.
* As tribos são um tema constante nos jornais. Deve-se pedir a realização de pesquisa.
* Um seminário deve discutir os valores dos estilo de vida e fazer comparações, cabendo ao professor conduzir o processo e dar a conclusão.

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