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ADOÇÃO INTERNACIONAL:

CONTRIBUIÇÕES DO SETOR DE ESTUDOS FAMILIARES DA VARA CÍVEL


DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE DE BELO HORIZONTE

Do procedimento

Toda criança e/ou adolescente cujo processo de destituição do poder familiar já


transitou em julgado e cuja colocação em família nacional não foi possível, é inscrita(o)
na CEJA, a fim de que se lhe garanta o direito à convivência familiar, mesmo que
estrangeira, conforme preconizado no ECA.

Aprovada a apresentação de uma família estrangeira, para criança e/ou adolescente que
reside em Belo Horizonte, os técnicos do Setor de Estudos Familiares (SEF) da Vara
Cível da Infância e da Juventude de Belo Horizonte (VCIJ-BH) efetuarão atendimentos
ao adotando, no sentido de tratar sobre a chegada de uma família substituta. Nessa fase,
será esclarecido sobre a pessoa ou casal que se apresentará, sendo tratada aqui sua
inserção em uma nova cultura. Receberá também esclarecimentos sobre características,
inclusive climáticas, do país de destino e será informado sobre a viagem e as novas
emoções.

Para a execução dessas intervenções, o setor técnico, através de estudos, sistematizou


uma rotina para dispor de informações tão necessárias à preparação do adotando. Há
também que se registrar a preocupação da equipe no tocante à maneira abrupta como
vinha ocorrendo nos anos 90, quando ocorriam o desligamento imediato da
criança/adolescente e a entrega para as famílias que acabavam de conhecer, e, mais,
com idioma diverso.

É necessário contar com o apoio do representante das Associações de Apoio à Adoção,


para as primeiras providências, que são:

• o envio aos interessados do maior número de informações acerca


da criança a ser adotada;

• o envio de uma cópia do dossiê da família, bem como previsão da


data de chegada no Brasil, a fim de que possam ser designados os
técnicos que atuarão nesse acompanhamento de estágio de
convivência;

• o envio de fotos da família, do espaço domiciliar e referências


gerais do país e localidade onde residem para serem apresentadas
à criança/ao adolescente;

Antes de ocorrer o contato pessoal com o adotando, os adotantes serão atendidos no


SEF, quando serão informados do histórico processual da criança/adolescente e
orientados quanto a uma postura cotidiana, no decorrer do estágio de convivência, para
o estabelecimento de vínculos.

A família estabelece o primeiro contato com a criança/adolescente no ambiente do SEF


ou na instituição de acolhimento, conforme definição prévia, após audiência, quando se
determinará o início do estágio de convivência. Nessa oportunidade, os adotantes terão
contato com técnicos da entidade de acolhimento, os quais fornecerão informações
atualizadas sobre os hábitos, rotina, preferências, dificuldades e outros dados referentes
à criança/ao adolescente.

Pelo período de 30 dias, que é o prazo mínimo estabelecido no ECA para a duração do
estágio de convivência, serão realizados atendimentos às partes, pela assistente social e
pelo psicólogo do SEF, com o fito de identificar elementos que venham a contribuir ou
a comprometer a vinculação recíproca.

Ao final, será emitido o relatório técnico que desvelará a pertinência ou não da


concessão da medida protetiva definitiva da adoção.

A função técnica

Previsto pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, revisado pela Lei nº 12.010/09, o


estágio de convivência deve ser realizado por equipe técnica lotada na Vara Cível da
Infância e da Juventude.

Nesse sentido, o assistente social e o psicólogo, realizando uma intervenção


interprofissional, têm papel de relevante importância no processo de adoção
internacional. Com o seu conhecimento teórico/técnico, realizam os respectivos estudos,
com vistas a avaliar e orientar como se efetiva a adaptação entre adotantes e adotandos.

Tendo em vista que, no caso da adoção internacional, trata-se da inserção de criança


e/ou adolescente brasileiros, e, no nosso caso específico, mineiros, no seio de uma
família que vem de outro país, com outro idioma, com outros valores, cabe à equipe, no
processo de adaptação, perceber como acontece o intercâmbio desses valores, como se
comunicam, como interagem, modos e percepções de vida, muitas vezes, tão diversos.

Para além desses requisitos, o trabalho interprofissional visa saber:

• quais informações a família adotiva recebeu a respeito da história de vida do


adotando;

• quais eram as expectativas em relação à criança e/ou adolescente e de que modo


se prepararam para vir conhecê-la(o);

• o que sabem sobre adoção e o processo de adaptação de crianças maiores;

• o que os adotantes sabem sobre crianças acolhidas em instituição por longo


período;

• como se deu o encontro com a criança;

• quais são as características da criança ou adolescente que mais têm chamado a


atenção dos adotantes;

• a existência de conflito entre a família adotiva e o adotando, durante a vigência


do estágio de convivência e como foi resolvido;
• quais são os planos em relação à escolarização da criança;

• como pretendem enfrentar a questão da discriminação racial, quando se tratar de


uma adoção interracial;

• o que consideram como positivo na adoção de uma criança ou adolescente


brasileiros;

• como vislumbram a chegada do adotando no país de origem da família adotiva;

• quais os desafios acreditam possam vir a enfrentar em face da adaptação da


criança/do adolescente no ambiente cultural em que passará a viver;

• como a família dos adotantes foi preparada para acolher uma criança brasileira;

• como procuram ultrapassar a barreira do idioma no processo de comunicação


com a criança ou adolescente.

Ainda, poderíamos elencar inúmeros aspectos de grande relevância para a análise


psicossocial em uma adoção internacional. Entretanto, como bem expressa Levinzon,
Gina K, “quando nos aproximamos do universo da adoção, nos deparamos com a
complexidade e riqueza de relacionamentos presentes, com questões de intimidade,
amor e perda, preocupação e comprometimento, paixão, pesar e luto”. E continuando,
com Winnicott, “a história da adoção, quando transcorre bem, é a de uma história
humana comum e ela apresenta perturbações e contratempos que fazem parte da história
humana comum em suas infinitas variações”.

Enfim, o acompanhamento do estágio de convivência, especialmente nos casos de


adoção internacional e tardia, é único e nos coloca diante da subjetividade dos
indivíduos, seus desejos, sonhos, angústias e expectativas, constituindo-se, assim,
muitas vezes, como desafios, descobertas e potencialidades que nos enriquecem como
técnicos e pessoas que somos.

Referências
Levinzon, Gina K. Adoção. Coleção Clínica Psicanalítica. São Paulo: Casa do
Psicólogo, 2004.
Winnicott, Clare & Shepherd, R & D, M. Explorações Psicanalíticas. Porto Alegre:
Artmed, 1994.
Winnicott, Donald. M. Os bebês e suas mães – São Paulo: Editora Martin Fontes, 1994.

Sandra de Fátima Deslandes


Assistente Social Judicial - CRESS 3754
Vara Cível da Infância e Juventude de Belo Horizonte

Silvana Reis Melo Martins


Assistente Social Judicial - CRESS 2853
Vara Cível da Infância e Juventude de Belo Horizonte

Fones para contato: (31) 3207-8153/8152


Endereço eletrônico: sef@tjmg.jus.br

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