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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

ACOMPANHAMENTO PÓS-ADOÇÃO: GRUPOS DE APOIO ÀS FAMÍLIAS


ADOTANTES

2018
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1) APRESENTAÇÃO:

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), no artigo 46, determina que


“a adoção deverá ser precedida por estágio de convivência com a criança ou
adolescente, pelo prazo de no máximo 90 (noventa) dias, observadas a idade da
criança ou adolescente e as peculiaridades do caso”, podendo ser prorrogado por
igual período mediante decisão judicial. O estágio de convivência é um momento
importante no processo de adoção, visto que a criança ou adolescente e os
adotantes iniciam as primeiras experiências cotidianas dessa nova conformação
familiar. Da mesma forma em que ocorre o acompanhamento psicossocial às
famílias durante o estágio de convivência, mostra-se adequado que, após a
sentença de adoção, as famílias também possam ser acompanhadas nesta nova
etapa.
Nesse sentido, a Coordenadoria da Infância e Juventude propõe o Projeto
Pós-Adoção, que visa auxiliar a operacionalização de grupos reflexivos às
famílias em processo de adoção através de suporte, orientação e
acompanhamento jurídico e psicossocial durante o estágio de convivência e após
a sentença de adoção.

2) JUSTIFICATIVA:

Ser pai e ser mãe traz responsabilidades, provoca mudanças na vida de


uma pessoa ou de um casal. Na filiação adotiva evidencia-se a necessidade de
um trabalho focado na desconstrução de mitos e preconceitos socialmente
construídos acerca da adoção, principalmente em relação à história pregressa da
criança ou adolescente, às situações que levaram à destituição do poder familiar,
entre outros. Além disso, embora os pretendentes passem por um processo de
habilitação para adoção, o momento de estágio de convivência com a criança ou
adolescente exige, dos adotantes, um trabalho de constante reflexão sobre os
aspectos inerentes à construção da parentalidade.
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Nesse contexto, considera-se fundamental oportunizar aos adotantes em


período de estágio de convivência e após a sentença de adoção, com a criança
ou adolescente um espaço de acolhida e acompanhamento, que permita abordar,
refletir e trocar ideias e percepções que surgirem nessa fase do processo. Da
mesma forma, busca-se prevenir as dificuldades de possam ocorrer e, se essas
acontecerem, garantir que a família possua uma referência para o
acompanhamento e o debate coletivo com outras famílias, e que esse processo
possa ser melhor compreendido e vivenciado pelas famílias adotantes.
Portanto, visando promover a compreensão dos adotantes sobre a adoção,
em seus aspectos pedagógicos, jurídicos e psicossociais dessa fase de
vinculação familiar, bem como proporcionar o acompanhamento das famílias após
a sentença de adoção, a Coordenadoria da Infância e Juventude propõe este
projeto, auxiliando a operacionalização dos grupos de acompanhamento pós-
adoção nas Comarcas.

3) OBJETIVOS:

3.1. Objetivo Geral: Promover suporte, reflexão e acompanhamento às


famílias adotantes em período de estágio de convivência e após a sentença de
adoção nos aspectos psicossociais e pedagógicos, favorecendo a adaptação e a
vinculação familiar.

3.2. Objetivos Específicos:

a) Proporcionar acompanhamento psicossocial às famílias durante o estágio


de convivência e após a sentença de adoção através de grupos reflexivos;

b) Informar as famílias sobre os direitos dos adotados e adotantes;

c) Orientar as famílias sobre como falar sobre adoção com as


crianças/adolescentes e na família extensa;
d) Incentivar a expressão das expectativas e idealizações referentes à adoção
e os desafios da nova configuração familiar;
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e) Proporcionar a reflexão sobre a criança/adolescente idealizada pelos


adotantes e a criança/adolescente real com sua história e características
pessoais;

f) Favorecer a adaptação familiar e a construção da filiação adotiva,


prevenindo a devolução;

g) Orientar e ampliar os olhares sobre a adoção e de como lidar com mitos,


preconceitos e estereótipos na sociedade.

4) PÚBLICO-ALVO: Famílias adotantes em período de estágio de


convivência (guarda para fins de adoção), bem como famílias que já
possuem a sentença de adoção.

5) METODOLOGIA:

A proposta dos grupos reflexivos com os familiares em período de estágio


de convivência não substitui o acompanhamento desenvolvido pela equipe
técnica da Comarca ou da instituição de acolhimento da criança/adolescente, mas
sim tem como objetivo estabelecer uma rede de apoio às famílias durante esse
período. Outrossim, no período após a sentença de adoção, as famílias também
poderão participar dos grupos reflexivos, a fim de qualificar o acompanhamento
no período pós-adoção. Sendo assim, para a execução do Projeto
Acompanhamento Pós-Adoção, o Poder Judiciário poderá estabelecer parcerias
com grupos de apoio à adoção, universidades, ONG’s, entre outros parceiros, os
quais poderão tornar-se partícipes mediante assinatura do Termo de Cooperação
Técnica. A seguir, a descrição das competências de cada partícipe do Projeto:

A. Poder Judiciário:
 Realizar a convocação das famílias adotantes em período de estágio
de convivência ou após a sentença de adoção;
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 Disponibilizar local para a realização das atividades do grupo de


acompanhamento.

A necessária participação nos grupos de acompanhamento pós-adoção


ficará a critério do magistrado conforme as especificidades do processo de
adoção. Todavia, sugere-se especial atenção àquelas famílias formadas através
da adoção tardia, sobretudo devido à importância do acompanhamento após a
sentença de adoção, tendo em vista as especificidades da adoção de
adolescentes, grupos de irmãos e crianças e adolescentes portadores de
deficiências. Sendo assim, após celebração do Termo de Cooperação, o
Juizado/Vara da Infância e Juventude poderá realizar a intimação dos postulantes
que receberam a guarda com vista à adoção e iniciaram estágio de convivência
para participação no grupo, inclusive com comparecimento em audiência. No caso
de famílias formadas por meio de busca-ativa, em que o processo da
criança/adolescente é de outra Comarca, caberá à Comarca de residência dos
pretendentes encaminhar a família ao acompanhamento pós-adoção no grupo.

B. Instituição Convenente:
 Coordenar encontros quinzenais, pelo período de 3 meses e com
duração de 2h com as famílias adotantes em período de estágio de
convivência e/ou após a adoção;
 Possuir responsável técnico pelo projeto, podendo ser assistente
social ou psicólogo;
 Controlar a presença e participação dos adotantes, encaminhando
lista de presença ao Poder Judiciário;
 Fornecer parecer acerca da participação dos adotantes e
crianças/adolescentes no grupo, encaminhando-o ao Poder
Judiciário no prazo máximo de 20 dias após a conclusão dos
grupos;
 Fornecer, após findar os encontros, feedback individual às famílias
participantes do encontro.
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Os encontros serão coordenados pelo parceiro signatário do Termo de


Cooperação e ocorrerão em espaço cedido pelo Poder Judiciário. Os grupos com
as famílias serão desenvolvidos em encontros quinzenais, por 3 meses, com
duração de duas horas cada encontro, sendo que em cada um será debatido um
tema norteador de acordo com os objetivos específicos mencionados, realizando
a abordagem dos assuntos em sistema de rodízio (ANEXO 1). Os integrantes
deverão participar dos seis temas prioritariamente, podendo continuar
participando dos encontros mesmo após completar os temas, a critério da
instituição convenente.
Os grupos terão um tema central, embora outras questões também possam
ser abordadas de acordo com a demanda do grupo. Sugere-se que os grupos
sejam divididos, para trabalho concomitante, de maneira que um seja focado para
os adultos e outro para as crianças e adolescentes.
Os grupos dos adultos deverão ser mediados por profissionais da área da
Psicologia e do Serviço Social. Haverá um controle de presenças para a
certificação da participação em todos os encontros e seus respectivos temas.
Após o último encontro, os participantes receberão certificado de participação.
As crianças e adolescentes participarão de um grupo, que acontecerá
simultaneamente em sala próxima, o qual promoverá reflexões de forma lúdica,
de acordo com a faixa etária dos mesmos. Esses encontros serão coordenados
por psicólogas e/ou assistentes sociais e estagiários das áreas. Ao final do grupo
com os pais, sugere-se uma atividade que promova o fortalecimento de vínculos
entre pais e filhos a partir da integração dos participantes de ambos os grupos.
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ANEXO 1

TEMÁTICAS PARA OS GRUPOS DE ACOMPANHAMENTO

1 – Questões Jurídicas:

Direitos dos Adotados e Adotantes;

Guarda provisória, certidão de nascimento;

Emissão de nova documentação (CPF, RG etc.);

Troca de nome; Nome social;

Inclusão em plano de saúde, licença maternidade e paternidade.

2 – Conversando sobre adoção na família:

Como abordar o tema na família;

Conceitos e preconceitos na nova família;

O que é realmente necessário ser compartilhado com a família extensa;

Ser agente de mudança no ambiente familiar.

3 – A criança/adolescente idealizada x a criança/adolescente real:

Como administrar a frustração?

Que esperar da criança real?

O pai/mãe que eu quero ser e o que meu filho necessita.

4 – O Processo de Adaptação Familiar:

Desafios da nova configuração familiar;

Os testes
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Dificuldade para aceitar a adoção;

Como lidar com a origem e a história do novo filho.

Respeitando a origem, hábitos e antigas referências;

O tempo para adaptação.

5 – A Filiação Adotiva – Construindo a Parentalidade:

Fortalecimento de vínculos;

Rotina;

Papel dos pais na vinculação da família;

6 – Os olhares sobre a adoção na sociedade:

Os mitos da adoção;

Preconceito na sociedade;

Exposição em redes sociais;

Adoção na escola.

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