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ALIENAÇÃO PARENTAL

LUIZ HENRIQUE AGUIAR

PSICOLOGIA JURÍDICA - UNIP 2/2019


Síndrome de Alienação Parental - SAP

 SAP: definida pelo psiquiatra norte-americano Richard Gardner, na década


de 80

 Distúrbio infantil que acometeria, especialmente, menores de idade envolvidos em situações


de disputa de guarda entre os pais.

 Programação ou lavagem cerebral realizada por um dos genitores para que o filho rejeite o
outro responsável (Gardner, 2001).

“Distúrbio que surge principalmente no contexto de disputas de custódia da criança. Sua


manifestação primária é a campanha do filho para denegrir progenitor, uma campanha sem
justificativa. A desordem resultada da combinação da doutrinação pelo progenitor alienante e
da própria contribuição da criança para o aviltamento do progenitor alienado“
Síndrome de Alienação Parental - SAP

 Expectativa que SAP fosse incluída nos DSM IV e V – está fora

 Expansão dos comportamentos vistos como patológicos – rotulação e minimização da


complexidade do adoecimento ao diagnostico.

 SAP seria somada ao rol de categorias diagnósticas ou transtornos mentais infantis incluídas
no DSM, como, por exemplo, o distúrbio do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH)
MEDICALIZAÇÃO

 Não reconhecimento como síndrome pelas Associações de Psicologia e Psiquiatria

 A SAP não é diagnosticado fora de litígios de custódia. Argumentos têm como objetivo aceitação de suas
ideias nos tribunais e não o tratamento médico..
Síndrome de Alienação Parental – SAP

 Proposta difundiu-se rapidamente no Brasil e em outros países

 Percepção de que a suposta síndrome havia se tornado uma epidemia em todo o


mundo

 Polemicas e controvérsias - escassez de debates e estudos acerca do conceito de


SAP

 Ausência de questionamentos sobre a ideia de um distúrbio infantil ligado às


situações de disputa entre pais separados, vêm contribuindo para a naturalização do
assunto de forma acrítica
Síndrome de Alienação Parental - SAP

 Associações de pais separados tiveram papel de destaque na promoção das ideias do


psiquiatra norte-americano sobre a SAP

 Aprovação da Lei da Guarda Compartilhada (Lei n.º 11698/08)


 Acréscimo de informações na mídia sobre a SAP – mobilização da opinião pública

 Projeto de Lei nº. 4853/08, que teria como objetivo identificar e punir os genitores
responsáveis pela alienação parental dos filhos

 Tal projeto, com célere trâmite legislativo, foi sancionado pelo Presidente da República, em agosto de 2010,
como Lei nº 12.318/10 – Até entao 95% das guardas iam para as mães (IBGE)
Críticas à SAP

 Sexismo: grupos femininos e outros se opuseram à legitimidade da SAP

 A mulher aparece como o fator etiológico da SAP e sua principal causa


inicialmente, 80% dos casos

 Gardner revisou sua teoria, afirmando que pais e mães têm igual probabilidade
de alienar ou ser doutrinadores

 Para alguns autores a SAP colabora na construção de um estereótipo social


da mãe perversa, manipuladora e vingativa disposto a fazer qualquer coisa
para separar um pai amoroso com seus filhos.
Críticas à SAP

 Apoia a descrença da palavra das crianças

 A suspeita instalada por a SAP no testemunho da vítima desvaloriza a palavra da


criança

 A SAP foi criticada porque apoia o princípio da inocência para os acusados ​de abuso,
mas culpado para os acusadores.

 Relatório oficial alegações de abuso sexual infantil nos Estados Unidos 78% das alegações de abuso
foram feitas por profissionais, agências governamentais, professores e trabalhadores da saúde,
enquanto apenas 28% foram feitas pelo pai, mãe, outros parentes, vizinhos ou anônimo e mães
realizam uma pequena quantidade de reclamações.
Críticas à SAP
 Ausência de estudos no Brasil – Psiquiatria e Psicologia

 Desconsideram estudos recentes, na área da Psicologia, sobre crianças e jovens em famílias após o
divórcio sobre a diversidade de respostas no modo como crianças e adolescentes vivenciam a
separação dos pais

 Tais pesquisas apontam os diferentes fatores que permeiam o contexto da separação e que podem
contribuir para o desenvolvimento das alianças parentais -

 Nota-se, dessa forma, que essas investigações não se fixam em aspectos psicológicos
individuais, como ocorre na teoria de Gardner sobre a SAP

 Vitimização de todos envolvidos – perde-se o exame aprofundado acerca das implicações


das responsabilidades de cada um em sua história familiar.
Lei 12.318 de 26 de agosto de 2010
 Art. 1o Esta Lei dispõe sobre a alienação parental.

 Art. 2o Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação psicológica da criança


ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham
a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou
que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este.

 Parágrafo único. São formas exemplificativas de alienação parental, além dos atos assim
declarados pelo juiz ou constatados por perícia, praticados diretamente ou com auxílio de
terceiros:

 OBS. Uma gama de comportamentos exibidos em meio a conflitos familiares poderá ser identificada como
indício da conjecturada alienação parental – passiveis de reprimenda

 Aumento exponencial dos processos relacionados a litígios conjugais


Lei 12.318 de 26 de agosto de 2010
 I - realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou maternidade;

 II - dificultar o exercício da autoridade parental;

 III - dificultar contato de criança ou adolescente com genitor;

 IV - dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar;

 V - omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre a criança ou adolescente, inclusive
escolares, médicas e alterações de endereço;

 VI - apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós, para obstar ou dificultar
a convivência deles com a criança ou adolescente;

 VII - mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar a convivência da criança ou
adolescente com o outro genitor, com familiares deste ou com avós.
Lei 12.318 de 26 de agosto de 2010
 Art. 5o Havendo indício da prática de ato de alienação parental, em ação autônoma ou incidental, o
juiz, se necessário, determinará perícia psicológica ou biopsicossocial.

 § 1o O laudo pericial terá base em ampla avaliação psicológica ou biopsicossocial, conforme o caso,
compreendendo, inclusive, entrevista pessoal com as partes, exame de documentos dos autos,
histórico do relacionamento do casal e da separação, cronologia de incidentes, avaliação da
personalidade dos envolvidos e exame da forma como a criança ou adolescente se manifesta acerca
de eventual acusação contra genitor.

 Resolução nº 007/2003 indicação de que os psicólogos , ao produzirem documentos escritos, devem se


basear exclusivamente nos instrumentais técnicos (entrevistas, testes, observações, dinâmicas de grupo,
escuta, intervenções verbais) que se configuram como métodos e técnicas psicológicas para a coleta de
dados (...).
Lei 12.318 de 26 de agosto de 2010
 § 2o A perícia será realizada por profissional ou equipe multidisciplinar habilitados, exigido, em
qualquer caso, aptidão comprovada por histórico profissional ou acadêmico para diagnosticar
atos de alienação parental.

 Art. 6o Caracterizados atos típicos de alienação parental ou qualquer conduta que dificulte a
convivência de criança ou adolescente com genitor, em ação autônoma ou incidental, o juiz
poderá, cumulativamente ou não, sem prejuízo da decorrente responsabilidade civil ou criminal e
da ampla utilização de instrumentos processuais aptos a inibir ou atenuar seus efeitos, segundo a
gravidade do caso:

 I - declarar a ocorrência de alienação parental e advertir o alienador;

 II - ampliar o regime de convivência familiar em favor do genitor alienado;


Lei 12.318 de 26 de agosto de 2010

 III - estipular multa ao alienador;

 IV - determinar acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial;

 V - determinar a alteração da guarda para guarda compartilhada ou sua inversão;

 VI - determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou adolescente;

 VII - declarar a suspensão da autoridade parental.


Outras possibilidades
 Necessidades de aprofundar estudos sobre possíveis desdobramentos da separação conjugal
para pais e filhos

 Modificações nas legislações para assegurar a convivência familiar entre pais e filhos
após o divórcio.

 A lei da guarda compartilhada 2014 possibilita um apoio legal para a manutenção dos
vínculos entre pais e filhos após uma separação conjugal, distanciando-se da ideia de um
dispositivo punitivo

 Necessidade de o ordenamento jurídico ser um fator de suporte ao exercício da paternidade e


da maternidade - COPARENTALIDADE
ALIENAÇÃO PARENTAL e COPARENTALIDADE

LUIZ HENRIQUE AGUIAR

PSICOLOGIA JURÍDICA - UNIP 2/2019


Coparentalidade
 Termo aparece pela primeira vez em 1978, em um livro de Galper

 Conjugalidade x Coparentalidade

1) Preocupação com o parceiro e com a relação conjugal

2) Preocupação com o bem-estar da criança,

 Conceito que se refere à extensão na qual o pai e a mãe dividem a liderança e se apoiam nos seus
parentais

 Envolve tanto dimensões de cooperação como de antagonismo


Coparentalidade
 Conceito de coparentalidade pode aplicado a qualquer situação na qual dois
adultos compartilham a parentalidade em relação a uma criança.
 Ex: mãe e avó, pai e tia, mãe e irmão mais velho, etc

 Termo Coparentalidade surgiu no contexto de famílias divorciadas

 Quando os pais se separam, a relação coparental é a única “arena” em que os pais continuam a
se relacionar

 A relação que se construirá no pós-divórcio estará baseada na qualidade do relacionamento


estabelecido, enquanto o casal ainda estava junto
Coparentalidade
 Estudo da coparentalidade importante contribuição à pesquisa e à clínica

 Desloca o foco das interações diádicas para as triádicas, ou outras mais amplas, envolvendo mais
de um filho, por exemplo, tios, avós, etc

 Estudos tradicionais enfocavam a díade mãe-criança

 Novas concepções de gênero valorizam a participação do pai nos cuidados

 Compreender como a coparentalidade afeta o desenvolvimento humano tornou-se de grande


importância, seja para fins teóricos como para intervenções
Teoria Sistêmica
 Minuchin: qualquer sistema é organizado como um todo e os elementos dentro do sistema são inerentemente
interdependentes – SUBSISTEMAS DENTRO DA FAMÍLIA

 Qualquer mudança em um dos componentes pode afetar o sistema como um todo

 “se o indivíduo é parte de um sistema familiar organizado, ele nunca é verdadeiramente independente e só pode ser
entendido no contexto família” (p. 89)

 O modelo diádico separa em pequenas partes todo o sistema

 Perde o sentido total da relação, a complexidade interacional do sistema, entendendo-o como mera soma das partes que compõem
as díades

 Com os estudos das famílias, a unidade de observação deixa de ser somente a pessoa e passa a ser o conjunto de relações no
qual a pessoa está envolvida

 Neste contexto que surgem os estudos sobre Coparentalidade


Teoria Sistêmica
 Bowen (1979), o triângulo encontra-se na base de qualquer sistema emocional na
família

 “Quando a tensão entre dois membros da família, normalmente os pais, atinge um nível de ansiedade
insuportável, uma terceira pessoa, habitualmente um filho, é triangulada para reduzir a tensão no seio
do sistema, até chegar a níveis mais toleráveis”

 Quando a própria família não encontra mecanismos de autorregulação, novos triângulos se formam
com terceiros fora do núcleo familiar (parentes, amigos, profissionais, instituições, como a Justiça

 Conflito de lealdade exclusiva

 Parentalização
Coparentalidade
 Conflitos conjugais x conflitos coparentais???

 Será possível separar os conflitos conjugais das suas influencias nos filhos???
 Díade x Tríade

 Feinberg: modelo apresenta a coparentalidade associada a quatro principais


componentes:

 a) Concordância ou discordância quanto a aspectos relativos aos cuidados e educação da


criança; Casais podem concordar em discordar, discordância faz parte

 Inclui valores morais, disciplina e expectativas de comportamento, necessidades emocionais da


criança, padrões e prioridades educativas, segurança, etc
Coparentalidade
 b) Divisão de trabalho relacionado à criança

 Divisão das tarefas e responsabilidades da rotina diária que envolve atribuições


domésticas e os cuidados financeiros, médicos e legais para com a criança

 A satisfação é o resultado de quanto a divisão do trabalho atende às expectativas


parentais acerca das contribuições de cada um para os cuidados da criança.

 Grau de flexibilidade ou rigidez empregadas será determinante


Coparentalidade
 c) Apoio (ou falta de) ao papel coparental

 Quanto o (ex)casal se apoia mutuamente.

 Compreende a confirmação da competência parental do parceiro, reconhecimento e


respeito às suas contribuições e a sustentação das decisões e autoridade do outro

 Oposto: depreciação do parceiro através de críticas, desqualificação do outro,


disputa pelo afeto

 Gostar de um implica em perder o outro – lealdade exclusiva


Coparentalidade
 d) Manejo conjunto das interações familiares

 Pais são responsáveis pelo controle de seu comportamento e comunicação com os


outros familiares

 Hostilidade e violência afetam a parentalidade e seus filhos

 Comportamentos e atitudes dos pais estabelecem fronteiras na relação, engajando ou


excluindo outros membros da família

 Colocam filhos na “linha de fogo”, excluem membros da família do(a) ex, formação de alianças, etc
ALIENAÇÃO PARENTAL e COPARENTALIDADE

LUIZ HENRIQUE AGUIAR

DIREITO DE FAMÍLIA - UNIP 1/2016

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