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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS


APLICADAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL
MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL

LORENA VINHOTTI FOINKINOS

O SERVIÇO SOCIAL NA ATENÇÃO A USUÁRIOS COM HIV/AIDS: estudo sobre


a baixa adesão ao tratamento

Belém-Pará
2021
2

LORENA VINHOTTI FOINKINOS

O SERVIÇO SOCIAL NA ATENÇÃO Á USUÁRIOS COM HIV/AIDS: estudo sobre


a baixa adesão ao tratamento

Dissertação apresentada ao Programa de


Pós-Graduação em Serviço Social da
Universidade Federal do Pará como
requisito necessário à obtenção do título
de Mestra em Serviço Social.
Orientador: Prof. Dr. Reinaldo Nobre
Pontes.
Belém-Pará 2021
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD
Sistema de Bibliotecas da Universidade Federal do Pará
Gerada automaticamente pelo módulo Ficat, mediante os dados fornecidos pelo(a)
autor(a)

F659s Foinkinos, Lorena Vinhotti.


O SERVIÇO SOCIAL NA ATENÇÃO À USUÁRIOS COM
HIV/AIDS : Estudo sobre a baixa adesão ao tratamento /
Lorena Vinhotti Foinkinos. — 2021.
131 f. : il. color.
Orientador(a): Prof. Dr. Reinaldo Nobre Pontes
Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Pará,
Instituto de Ciências Sociais Aplicadas, Programa de
PósGraduação em Serviço Social, Belém, 2021.

1. Serviço social, não- adesão ao tratamento,


Politicas de Saúde,Hiv/Aids. I. Título.

CDD 362.199792

Powered by TCPDF (www.tcpdf.org)


3

LORENA VINHOTTI FOINKINOS

O SERVIÇO SOCIAL NA ATENÇÃO Á USUÁRIOS COM HIV/AIDS: estudo sobre


a baixa adesão ao tratamento

Dissertação apresentada ao Programa de


PósGraduação em Serviço Social da Universidade
Federal do Pará como requisito necessário à
obtenção do título de Mestra em Serviço Social.

Belém, 13 dezembro de 2021.


Banca Examinadora

_________________________________________
Profº. Drº. Reinaldo Nobre Pontes - Orientador/UFPA

_________________________________________
Profº. Drº. Marcel Theodor Hazeu - Examinador Interno /UFPA

__________________________________________
Profª. Dra. Márcia Irene Pereira Andrade - Examinadora Externa /UFAM
4

Dedico este trabalho a minha família AGRADECIMENTOS


5

Um trabalho de mestrado é uma longa viagem, que inclui uma trajetória


permeada por inúmeros desafios, tristezas, incertezas, alegrias e muitos percalços
pelo caminho, mas apesar do processo solitário a que qualquer investigador está
destinado, reúne contributos de várias pessoas, indispensáveis para encontrar o
melhor rumo em cada momento da caminhada.
Trilhar este caminho só foi possível com o apoio, energia e força de várias
pessoas, a quem dedico especialmente este projeto de vida. Especialmente ao meu
orientador, Professor Doutor Reinaldo Pontes, que sempre acreditou em mim,
agradeço a orientação exemplar pautada por um elevado e rigoroso nível científico,
um interesse permanente e fecundo.
Aos meus colaboradores da pré – banca, Professora Doutora Marcia
Andrade e Professor Doutor Marcel Hazeu, que através de uma visão crítica e
oportuna, um empenho inexcedível e saudavelmente exigente, os quais contribuíram
para enriquecer, com grande dedicação, este trabalho.
Aos meus filhos Matheus Foinkinos e Safira Foinkinos que amo
incondicionalmente, espero compensá-los das horas de atenção e brincadeiras que
lhes devo.
Por fim, o meu profundo e sentido agradecimento a todas as pessoas que
contribuíram para a concretização desta dissertação, estimulando-me intelectual e
emocionalmente.
E especialmente a Deus agradeço a força, a saúde, determinação e a
oportunidade de poder fechar mais um ciclo da minha caminhada.
6

Que nunca se diga isso é natural, para que nada passe por imutável
Bertold Brecht
7

RESUMO

O presente estudo buscou campear e aprofundar as questões que envolvem a


problemática da interrupção/abandono do tratamento de pessoas que vivem com
HIV/AIDS afim de melhor compreender os fatores conjunturais, estruturais e sociais
que corroboram para a fragilidade deste processo dinâmico e multifatorial que se
caracteriza como a adesão na sua definição mais ampla. Assim, o objetivo geral foi
analisar a baixa adesão ao tratamento de usuários com HIV/AIDS em um hospital
universitário de Belém. Os objetivos específicos foram: contextualizar brevemente as
políticas de saúde, destacando seu (re) significado e sua concepção como direito
social no âmbito do HIV/AIDS; investigar a inserção do serviço social na área da
saúde e sua relação com o HIV/AIDS e analisar o processo de (não) adesão ao
tratamento de HIV/AIDS no Serviço de atendimento especializado no Hospital
Universitário João de Barros Barreto. Foi feito um estudo de caráter exploratório,
pautado na pesquisa quanti-qualitativa, estabelecendo uma relação dinâmica entre o
mundo real e o sujeito. A pesquisa de campo foi desenvolvida no Hospital
Universitário João de Barros Barretos (UHJBB), instituição de referência no
tratamento de pessoas com HIV/AIDS, utilizando também pesquisa documental no
banco de dados do hospital (prontuários), entrevistas aos usuários e Assistente
Social local, no período de setembro de 2019 a fevereiro de 2021. Observou – se
que os fatores que mais impactaram na continuidade do tratamento foi o estigma que
persiste a mais de 40 anos de epidemia gerados por uma porção de erros técnicos e
estruturais nas Políticas Públicas corroborando para massificação do preconceito e a
discriminação.

Palavras-Chave: Serviço Social. Não-adesão ao tratamento. Politicas de Saúde.


HIV/AIDS.
8

ABSTRACT

This study sought to address and deepen the issues surrounding the issue of
interruption/abandonment of treatment for people living with HIV/AIDS in order to better
understand the conjunctural, structural and social factors that contribute to the fragility
of this dynamic and multifactorial process. characterizes as membership in its broadest
definition. Thus, the general objective was to analyze the low adherence to treatment of
users with HIV/AIDS in a university hospital in Belém. The specific objectives were: to
briefly contextualize health policies, highlighting their (re)meaning and their conception
as a social right in the scope of HIV/AIDS; investigate the insertion of social services in
the health area and its relationship with HIV/AIDS and analyze the process of (non)
adherence to HIV/AIDS treatment in the specialized care service at the João de Barros
Barreto University Hospital. An exploratory study was carried out, based on quanti-
qualitative research, establishing a dynamic relationship between the real world and the
subject. The field research was carried out at the João de Barros Barretos University
Hospital (UHJBB), a reference institution in the treatment of people with HIV/AIDS, also
using documentary research in the hospital's database (medical records), interviews
with users and a local Social Worker, from September 2019 to February 2021. It was
observed that the factors that most impacted the continuity of treatment was the stigma
that persists for more than 40 years of the epidemic generated by a number of technical
and structural errors in Public Policies, corroborating for the massification of prejudice
and discrimination.

Keywords: Social Service. Non-adherence to the Treatment. Health Policies.


HIV/AIDS.
9

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Quadro evolutivo da Aids no Mundo (1990 a 2010) 55


Gráfico 2 – Demonstrativo do progresso da doença 55
Gráfico 3 – Número de pessoas vivendo com AIDS
em terapia antirretroviral, globalmente (2010-2016 56
Gráfico 4 – Notificações de HIV no Brasil 2011- 2016 57
Gráfico 5 - Proporção de casos de aids em jovens
de 15 a 24. Brasil, 1990 a 2010 69
Gráfico 6 - Processo de Heterossexualização da Aids no Brasil 71
Gráfico 7 - Processo de Feminização da Aids no Brasil 72
Gráfico 8 - Distribuição Percentual dos Casos de AIDS
Notificados no SINAN por Escolaridade. Brasil, 2007 a 2019 73
Gráfico 9 - Taxa de detecção de aids (x100 mil hab.) segundo
região de residência, por ano de diagnóstico. Brasil, 2007 a 2017 74
Gráfico 10 - Taxa de detecção de aids (x100 mil hab.) segundo
região de residência, por ano de diagnóstico. Brasil, 2008 a 2018 74
Gráfico 11 - Taxa de Detecção Geral por AIDS (por 100 mil hab.) 76
Gráfico 12 - Taxa de detecção de aids (por 100.000 hab.)
segundo UF de residência no Brasil - 2019. 77
Gráfico 13 - Taxa de Detecção Geral (por 100 mil hab.) 78
Gráfico 14 - Taxa de Detecção em Homens (por 100 mil hab.) 78
Gráfico 15 - Taxa de Detecção em Mulheres (por 100 mil hab.) 79
Gráfico 16 – Taxa de Mortalidade (por 100 mil hab.) no Pará, Norte e Brasil 79
Gráfico 17 - Coeficiente de mortalidade de AIDS segundo região
de residência por ano óbito – 2018 80
Gráfico 18 - Perfil de acordo com o sexo de PVHA relacionadas
a não adesão ao tratamento no SAE- HUJBB. 108
Gráfico 19 - PVHA que abandonaram o tratamento conforme a
localidade de origem 110
Gráfico 20- Interrupção e Abandono de tratamentos ao HIV/Aids no SAE 111
10

Gráfico 21 – Escolaridade das PVHA que abandonaram o tratamento 112


Gráfico 22 - Estado civil de PVHA que abandonaram o tratamento
segundo a lista do SICLOM 113
LISTA DE TABELAS E QUADROS

Quadro 1 - Conferências de Saúde 45


Tabela 1 - Proporção de contaminações entre Homens e Mulheres 72
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Mapa de Casos notificados no Sinan e Siscel /Siclom


de 2000 a 2017 75
Figura 2 - Mapa de casos notificados no Sinan e Siscel/Siclom
de 2000 a 2018 76
LISTA DE SIGLAS

CAAE Certificado de Apresentação de Apreciação Ética


CAPs Caixas e aposentadoria e Pensão
CF Constituição Federal
CFESS Conselho Federal de Serviço Social
CISS Conferência Internacional de Serviço Social
CLT Consolidação das Leis Trabalhistas
CTA Centro de Testagem e Aconselhamento
DIP Doenças Infecto Parasitárias
HIV/AIDS Vírus da Imunodeficiência Humana/Síndrome da Imunodeficiência
Adquirida
HUJBB Hospital Universitário João de Barros Barretos
IAPs Institutos de aposentadoria e Pensões
INPS Instituto Nacional de Previdência Social
ONGS Organizações não governamentais
PEC Proposta de Emenda Constitucional
SICLOM Sistema de Controle Logístico de Medicamentos
SAE Serviço de Atendimento Especializado
SUS Sistema Único de Saúde
TARV Tratamento Retroviral
11

TCLE Termo Consentimento Livre Esclarecido


UDIP Unidade de Doenças Infecto Parasitarias
UFPA Universidade federal do Pará
UREDIPE Unidade de Referencia Especializada em Doenças Infecciosas
Parasitarias Especiais

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ....................................................................................... 14
1 POLÍTICAS DE SAÚDE: BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO................... 29
1.1 A
Quest
ão
Saúde
e Seu
(Re)
signifi
cado .
...........
...........
...........
........
29
1.2 Saúde
no
Brasil
ea
Sua
Conce
pção
Como
Direit
o
12

Social
...........
.....
33
HIV/AIDS: ORIGEM E SEUS DESDOBRAMENTOS E AS
2 POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA PARA AS PESSOAS VIVENDO 50
COM HIV/AIDS.......................................................................................
2.1 A
Orige
m do
HIV:
nature
za,
conte
xto
brasil
eiro e
quanti
ficaçã
o....
50
A Consolidação do estigma da Aids e Repercursão como
2.2 07
Problema de Saúde .............................................................................
BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO DA INSERÇÃO DO SERVIÇO
3 SOCIAL NA ÁREA DA SAÚDE E SUA RELAÇÃO COM O 82
HIV/AIDS................................................................................................
O surgimento do Serviço Social como profissão e a sua inserção
3.1 82 na
área
da
saúde
...........
...........
...........
...........
...........
...........
...........
.....
3.2 O
Serviç
o
Social
13

ea
Quest
ão do
Hiv/Ai
ds .....
...........
...........
...........
... 94
A ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NO ENFRENTAMENTO
4 DAS DEMANDAS RELATIVAS HIV/AIDS E O PROCESSO DE 104
ADESÃO NO HUJBB ............................................................................
Arguição da localidade, ação profissional e o abandono do
4.1 104
tratam
ento
de
PVHA
no
SAE...
...........
...........
...........
...........
...........
......
4.2 O
Perfil
das
Pesso
as
com
HIV/
Aids e
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ono
do
tratam
ento
108
4.3 Anális
e da
coleta
de
dados
14

qualit
ativos
:
entrev
istas..
...........
...........
114
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................. 119
REFERÊNCIAS ..................................................................................... 124
INTRODUÇÃO

Este estudo aborda questões na esfera do HIV/AIDS e o Serviço Social com


o objetivo de conhecer os fatores que de alguma forma comprometem o tratamento
continuado de pessoas que vivem com o vírus/doença no Serviço de Atendimento
Especializado (SAE). Objetivou-se com esta pesquisa analisar as circunstâncias que
favorecem a falha ou mesmo abandono da medicação e o acompanhamento clinico
e social dentro SAE; o trabalho do Assistente Social junto aos pacientes/usuários
(as) âmbito do SAE e inferir sobre a realidade das Pessoas que Vivem com
HIV/AIDS (PVHA) no HUJBB.
O interesse pela realização deste estudo começou a ser construído a partir
de observações do estágio supervisionado, ainda durante a graduação, que foi
realizado no Hospital Universitário João de Barros Barretos (HUJBB/UFPA), no
departamento de Doenças Infecto Parasitárias (DIP), ala responsável por pessoas
que vivem com o vírus do HIV/Aids.
Durante o referido estágio foram identificadas situações que favoreceram
questionamentos, a saber: - a superlotação da clínica de doenças infecto parasitarias
em decorrência do adoecimento dos pacientes pelo vírus HIV 1 e consequentemente
a evolução deste vírus para a Aids 2, pois por algum motivo, a maioria dos pacientes

1 HIV é a sigla em inglês do vírus da imunodeficiência humana. Causador da aids, ataca o


sistema imunológico, responsável por defender o organismo de doenças. As células mais atingidas
são os linfócitos T CD4+. E é alterando o DNA dessa célula que o HIV faz cópias de si mesmo.
Depois de se multiplicar, rompe os linfócitos em busca de outros para continuar a infecção.
(http://www.aids.gov.br/pt-br/publico-geral/o-que-e-hiv).
2 A AIDS, sigla em inglês para a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
(AcquiredImmunodeficiencySyndrome), é uma doença do sistema imunológico humano
resultante da infecção pelo vírus HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana - da sigla em inglês). A
AIDS se caracteriza pelo enfraquecimento do sistema imunológico do corpo, com o organismo mais
vulnerável ao aparecimento de doenças oportunistas que vão de um simples resfriado a infecções
mais graves como tuberculose ou câncer. O próprio tratamento dessas doenças fica prejudicado
com a presença do vírus HIV no organismo. (http://giv.org.br/HIV-e-AIDS/O-Que-%C3%A9-
15

lá em observação não haviam dado continuidade aos chamados “esquemas” (que


são um conjunto de medicamento antirretrovirais compatível com a singularidade da
carga viral de cada pessoa vivendo com o vírus); e se a infraestrutura hospitalar, e a
própria equipe multidisciplinar supria o atendimento eficaz de toda aquela demanda
recorrente e constante. Nos leitos, sempre haviam filas de espera, porém com
pessoas que dependiam de atendimento imediato, sendo neste momento, o tempo
uma delicada espera em virtude da ameaça abrupta das várias doenças
oportunistas.
Dentre tantas outras observações, destacou-se o papel do Assistente Social
dentro desta instituição, tendo como o principal desafio redescobrir alternativas e
possibilidades para desenvolver uma relação com os usuários para viabilizar a plena
informação sobre seus direitos, bem como a condição de acessá-lo; pois junto com
as políticas públicas, dentre elas a saúde, tem como finalidade proporcionar
condições dignas de vida para o cidadão de forma equânime e justa.
Costa (2008, p. 341) reforça:

Assim, pode-se afirmar que o Serviço Social se insere, no interior do


processo de trabalho em saúde, como agente de interação ou como um elo
orgânico entre os diversos níveis do SUS e entre estes e as demais políticas
sociais setoriais, o que nos leva a concluir que o seu principal produto
parece ser assegurar – pelos caminhos os mais tortuosos – a integralidade
das ações (COSTA, 2008 p.341).

Contudo, na época da proposta deste trabalho de pesquisa, em 2014, foi


elaborado no Trabalho de Conclusão de Curso um estudo bibliográfico sobre o tema,
pois por problemas institucionais não pude abordar a temática como o planejado.
Entretanto, foi construída uma pesquisa baseada no estudo sobre o vírus e
da doença e também acerca do processo de acolhimento social das pessoas
afetadas durante seu prolongado acesso aos bens e serviços. O título do trabalho
ficou: A sexualidade nos tempos de HIV/Aids e os princípios norteadores para o
acompanhamento social (FOINKINOS, 2014).
Mais à frente houve a oportunidade de dar continuidade ao tema na
Monografia de Especialização em Serviço Social e Política Pública da Universidade
Federal do Pará (UFPA). O assunto foi direcionado com pesquisas de cunho
aAIDS/index.html)- Grupo de Incentivo a Vida- GIV.
16

bibliográfico e exploratório, realizada no Centro de Testagem e Aconselhamento da


Unidade de Referencia Especializada em Doenças Infecciosas Parasitarias
Especiais (CTA- UREDIPE) localizada no bairro do telégrafo, área metropolitana de
Belém; sob o título: Análise dos Fatores Relacionados à Baixa Adesão ao
Tratamento de Hiv/Aids: estudo no centro de testagem e acompanhamento
CTA/URIDIPE- Telégrafo.
Logo obtivemos um perfil traçado de uma amostra de 20% de um total de
593 pessoas com o vírus e a doença que por razões externas a sua condição
interrompeu o tratamento compreendendo o período de 2016 a 2017.
A amostra revelou que a maioria dos pesquisados era do sexo masculino,
revelou também que grande parte do abandono ao tratamento estavam entre as
pessoas que moram na capital - Belém - seguido do município de Ananindeua, este
fator se dava pela “vergonha de ser visto” pelos arredores da unidade de saúde,
evidenciando o medo de ser descoberto e a própria carga de preconceito que ainda
impera sobre essa doença.
Grande parte destas pessoas está na faixa etária de 26 a 45 anos, há o
predomínio de pessoas solteiras acarretando inúmeros índices de vulnerabilidades,
inclusive por praticarem “sexo casual”, e por não contarem com as adversidades que
podem acometer durante o ato, comprometendo sua própria saúde e o risco de
transmissão por ter alta taxa de carga viral circulando em seu corpo devido o
abandono do medicamento.
Segundo Brasil, 2008:

Estudos indicam que a eficácia do tratamento, expressa nos níveis de


supressão viral, exige que o uso do esquema terapêutico deva ser igual ou
superior a 95% das doses prescritas. ‘A adesão insatisfatória pode estar
associada ao desenvolvimento de resistência viral (PATERSON et al.,2000,
Philips et al., 2005; SMITH, 2004 apud BRASIL, 2008, p. 13).

O acompanhamento e a avaliação dos dados obtidos são importantes para


identificar as dificuldades que essas pessoas estão enfrentando, e o assistente
social como um profissional que melhor aborda a relação social dos movimentos
contraditórios de uma sociedade, mostra-se o mais indicado para detectar a
realidade para além até das rotinas institucionais, buscando possibilidades passiveis
17

de serem aprimoradas a favor suas técnicas e seu projeto profissional (FOINKINOS,


2017).
Para melhor apreensão do tema, almejei dar continuidade a experiência
profissional de pesquisa acadêmica no espaço hospitalar ligada a linha de
intervenção e investigação junto à prática profissional de Serviço Social tendo como
temática a Política de Saúde, e os Caminhos que levam a sua Humanização.
Propus explorar novamente esta questão com uma fundamentação teórica
mais aprofundada nas políticas públicas e o Serviço Social na área da saúde, pois
muito se tem a explorar a importância do Serviço Social na dinâmica do fazer
profissional e a sua significativa cooperação para o fortalecimento da profissão como
instrumento de apreensão da realidade social e seu movimento contraditório; que por
sua matriz teórica metodológica permite averiguações que permeiam além do óbvio
e da imediaticidade.
O Serviço Social no processo de sua institucionalização no Brasil passou por
diversas moldagens. A partir da década de 40, através da reorientação da profissão,
o conservadorismo católico que estava em suas gêneses, somado com o Serviço
Social Norte Americano, sob o caráter conservador da teoria social positivista,
procurou atender as novas configurações do desenvolvimento capitalista, tendo em
vista atender as requisições de um Estado que começa o implementar políticas no
campo social (YAZBEK, 2000).
Visto que, as tensões das crescentes demandas de trabalhadores
empobrecidos, por bens e serviços, fruto do processo de desenvolvimento e
acumulação capital, começaram a exigir e pressionar o Estado por ações de
combate aos problemas sociais, que na verdade eram reflexos da chamada
“questão social”. Toda via, criam-se instituições assistencialistas para a intervenção
do Estado no processo de articulação do setor público com o privado.
Nos anos 1960 ocorreram mais mudanças na profissão devido às
modificações crescentes na economia, na política, no social e cultural, pois a
expansão do capitalismo imprimiu na América Latina novas realidades com um estilo
de desenvolvimento excludente e subordinado. Contudo a profissão assume as
inquietações e insatisfações deste momento histórico, e direciona seus
questionamentos ao Serviço Social tradicional. (YAZBEK, 2000. p. 7).
18

Contudo, também a assistência à saúde dos trabalhadores que outrora fez


parte das questões relevantes, devido a industrialização nos países centrais (França,
Alemanha e Inglaterra) foi sendo assumida lentamente pelo Estado, e no Brasil essa
assistência tem início em meados do século XX.
A então “questão social” passou a ser delegada à administração pública a
partir do interesse burguês em acalmar as agitações do movimento sociais do
período e continuar sua hegemonia política. Os planos para novas necessidades
oriundas da ampliação da grande massa trabalhadora insatisfeita, adotados pelo
Estado por pressão da classe trabalhadora e também por conveniência da burguesia
nacional, viabilizou a criação e desenvolvimento de políticas e órgãos para os mais
diversos setores da nação, que no Brasil foi construído através da Constituição
Federal de 1988. Bravo e Matos (2009) afirmam que:

As questões sociais em geral e as de saúde em particular [...], precisavam


ser enfrentadas de forma mais sofisticada. Necessitavam transformar- se
em questão política, com intervenção estatal e a criação de novos aparelhos
que complementassem, de algum modo, os assalariados urbanos, que se
caracterizavam como sujeitos socais importantes no cenário político
nacional, em decorrência da nova dinâmica da acumulação (BRAVO;
MATOS, 2009, p. 90).

Todavia a profissão se configura diante desta historicidade, do processo de


produção e reprodução das relações sociais, sendo ela atravessada por relações de
poder, dispõe de um carácter essencialmente político e dos condicionantes
históricos-sociais dos contextos em que se insere e atua o profissional (IAMAMOTO,
2009).
Portanto, a temática abordada na pesquisa além de buscar compreender os
determinantes conjunturais relacionados à falha ou abandono do tratamento de
PVHA no SAE, traz o trabalho do assistente social na contemporaneidade no âmbito
das políticas de saúde, trazendo a discursão política, social e histórica da profissão
assim como sua inserção nas políticas públicas de saúde adentrando nos mais
diversos níveis de complexidade.
Assim daremos ênfase em uma instituição hospitalar(alta complexidade) de
referência no tratamento de pessoas que vivem com HIV/Aids, buscando adentrar no
termo adesão3 como uma problemática complexa, assim como a estruturação do
3 Uma definição mais ampla assinala que a adesão é um processo dinâmico e multifatorial
que incluem aspectos físicos, psicológicos, sociais, culturais e comportamentais, transcendendo a
19

modelo posto em prática da saúde pública brasileira, pois do ponto de vista da


política social que imiscuir-se nas políticas públicas, a adesão ou a não adesão
mostra as suas determinações em cadeia, na complexidade do ser social.
Dessa forma, no presente estudo, buscou-se fazer sempre uma interface
entre prática profissional e a política pública de saúde, trazendo a adesão ou a não
adesão como problemática complexa do ponto de vista da Política Pública e de
como essa política é estruturada em uma sociedade capitalista (FOINKINOS, 2017).
A adesão pode-se dizer que é uma linguagem normativa hospitalar, porém
com uma carga de conteúdo denso, que revela toda uma correlação de conceitos;
conceitos; os quais estão ligados à política social, ao acesso, aos gastos públicos,
territorialidade, prática profissional, etc.
Segundo Bravo e Matos (2009), nos anos 80 a saúde deixou de ser interesse
apenas dos técnicos para assumir uma dimensão política, estando estreitamente
vinculada à democracia; porém apesar da Carta Magna Brasileira de 1988 assegura
a saúde enquanto direito universal a ser garantido pelo Estado, a ampliação desses
direitos não incluiu a parcela da população convivendo e vivendo com HIV/AIDS ,
que ainda se deparou com a realidade desigual e excludente do acesso até diante
do Sistema Único de Saúde (SUS) criado em 1990, pois além de ser um vírus
“embebido” de valores morais, culturais, e etc... a reação conservadora impôs à
CF/1988 a perspectiva neoliberal, materializada com o desmonte e fragilização do
sistema de saúde, tecendo a racionalidade capitalista como a melhor opção, e
plenas de apego moral.
No contexto brasileiro, a saúde tornou-se política pública e de
responsabilidade do Estado a partir da Constituição Federal (CF) de 1988, que
inaugurou um novo sistema de proteção social que universalizou os direitos sociais
pautada na concepção de seguridade social (saúde, assistência social e
previdência).

simples ingestão de medicamentos e que requer decisões compartilhadas e co-responsabilizadas


entre a pessoa que vive com HIV e aids (PVHA), a equipe e a rede social. Transcende à simples
ingestão de medicamentos, incluindo o fortalecimento da pessoa vivendo com HIV/AIDS, o
estabelecimento do vínculo com a equipe de saúde, o acesso à informação, o acompanhamento
clinico-laboratorial, a adequação aos hábitos e necessidades individuais e o compartilhamento das
decisões relacionadas à própria saúde, inclusive para pessoas que não fazem uso de tarv (BRASIL,
2008, p. 11).
20

Apesar das conquistas concretizadas na CF/88, somente 4 anos depois


devido à grande pressão dos partidos de esquerda, movimentos sociais, artistas,
ong’s e os inúmeros casos de pessoas morrendo pelo vírus e a doença instalando o
medo, deixando crianças órfãos e desamparadas, em 1992 o Ministério da saúde
inclui os procedimentos para o tratamento da aids na tabela do SUS e o
credenciamento de hospitais para o tratamento de pacientes com aids (TARDELLI,
2013).
@Em 1996 o Congresso Nacional aprovou a Lei 9.313, que dispõe sobre a
obrigação do Estado em distribuir de forma universal e gratuita os medicamentos
para o tratamento dos acometidos pelo HIV/aids (BRASIL, 1996).
Essa demora, descaso e exclusão do Sistema Único de Saúde em prejuízo a
essas pessoas vivendo com o vírus e a doença, que lutaram, não só contra a
enfermidade que consumia suas vidas, mas também contra a o preconceito que
impera diante da segregação e descriminalização da doença e da indiferença com
próximos enfermos, num contexto da hegemonia neoliberal.
A identificação da Síndrome da imunodeficiência data desde 1959 no Congo,
depois em 1981 nos Estados Unidos, chegando ao Brasil no mesmo período, porém
só foi datado em 1982 na Cidade de São Paulo. Apesar de a infecção ter sido
amplamente notificada pela mídia não houve política públicas que assegurassem o
mínimo necessário para os então chamados de “soropositivos” 4.
Muitos vieram a óbito no decorrer dos anos desde que a doença surgiu,
incluindo figuras públicas da época (artistas, atletas, cartunistas, etc.) o que fez
tornar maior visibilidade do problema. De forma mais acentuada e aos poucos o
governo foi se posicionando e sancionando leis que assegurariam o acesso aos
bens e serviços da saúde pública para as pessoas vivendo com o vírus e a doença.
Fortes barreiras foram rompidas, devido a impassibilidade do Estado com suas
políticas públicas de saúde, que já eram realidade; entretanto ainda insuficientes,
pois não apresentavam efetividade diante das dos usuários do Sistema Único de
Saúde.
A cura ainda não descoberta, cria um cenário de medo, embora hoje nos
deparemos com novas perspectivas “[...] a AIDS assumiu característica de doença

4 Ser soropositivo ao HIV, o agente causador da AIDS, significa ter estado em contato com o vírus
e estar infectado por ele. https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2001/010525_aidetico.shtml
21

crônica, em especial nos países onde o acesso aos medicamentos é efetivamente


garantido” (BAER, ROBERTS apud BRASIL, 2008, p.13).
Com o avanço das pesquisas biológicas e farmacêuticas um largo passo foi
dado, todavia o vírus já havia se instalado de forma acentuada em todos os
continentes e os infectados ultrapassavam os milhões.
O preocupante é que diante dos avanços no decorrer dos anos houve um
dado consideravelmente preocupante para o país, segundo a UNAIDS (2014), em
um dos primeiros relatórios que analisavam o impacto da Aids no planeta, todos os
países utilizaram de suas políticas públicas para o combate dessa infecção, inclusive
o Brasil teve o mérito de ser um dos pioneiros e referência no combate à epidemia;
entretanto entre 2005 a 2013 houve aumento de 11% enquanto os outros países
estabilizaram as contaminações e as mortes pela doença.
Membros de ONGs (Organizações não governamentais) voltadas ao combate
à infecção, no entanto criticam as políticas públicas conduzidas pelo ministério da
saúde e também apontam assimetrias regionais das políticas públicas.
No Brasil observando a epidemia por região em um período de 20 anos verificou-se
que em 2001 a 2011 a taxa de incidência caiu no Sudeste de 22,9 para 21,0 casos
por 100 mil habitantes, sendo que nesta região havia os maiores números de casos
concentrados. Nas outras regiões, cresceu: 27,1 para 30,9 no Sul; 9,1 para 20,8 no
Norte; 14,3 para 17,5 no Centro-Oeste; e 7,5 para 13,9 no Nordeste 5.
De acordo com a realidade dos dados observados no Brasil, é relevante notar-
se a partir deste momento o crescimento da epidemia em cada região destacando a
região Norte que chegou a dobrar em números de infecção, um aumento
considerável e crítico em relação às demais regiões brasileiras. O fórum de
ONGs/aids do Estado do Pará afirma ter aumentado o número de casos de
pacientes com HIV no estado e o Ministério da Saúde indica que o número de óbitos
por Aids em Belém no ano de 2016 chegou a ser duas vezes maior que o índice
brasileiro (PONTES; MATSUMURA; CUNHA, 2020).
Em 2017, de acordo com o boletim epidemiológico HIV/Aids divulgado pelo
Ministério da Saúde, diz que o coeficiente de mortalidade por aids, aumentou 50%
no estado. A taxa passou de 4,2 em 2007 para 8,7 óbitos por 100 mil habitantes em

5 Segundo dados do site http://www.aids.gov.br/pagina/aids-no-brasil, consultado em janeiro de


2020.
22

2017. Em números absolutos o aumento no Pará chega a 81% ao longo dessa


década (Brasil, 2018).
Os dados e as continuas evidencias tornam eloquente a necessidade de
investigação do que está levando está região ocupar esse nível de óbitos e
contaminações crescentes, visto que, já nos termos deste contexto histórico
atualizado no tratamento do vírus no Brasil, o tratamento é realidade, junto a
“facilidade” e os meios de provê-los.
Por ora, tal realidade é um grande desafio para o Serviço Social diante de sua
inserção cada vez mais intensa nos serviços de saúde. Identificar o trabalho do
assistente social com o paciente/assistido requer estudos no âmbito das dimensões
da garantia de direito; da vigilância socioassistencial- dado que o território é
dinâmico e a forma que acontece as situações de riscos nos outros Estados é
diferente dos Estados em nível da Amazônia-; dimensões do trabalho do profissional,
da pesquisa e da prática, que engloba uma análise da construção de um processo
sócio -histórico envolvendo meios de produção, de trabalho, lutas de classes, etc; ou
seja, pleiteiam as potencialidades como processo e resultado de relações complexas
e contraditórias entre Estado e sociedade civil no âmbito da luta de classes, a qual
decorre do modo de produção.

Desvendar as condições e relações de trabalho é algo primordial para


compreender os nexos causais que se interpõem na materialização do
projeto ético- político da profissão, expresso também nas dimensões
éticopolítico, teórico-metodológico e técnico- operativas das práxis do/a
assistente social (COSTA; MADEIRA,2013, p.4).

Costa (2008, p. 304) coloca sua experiência profissional e questiona “a


respeito do conteúdo das ações do Serviço Social nas unidades de saúde”, que por
sua vez, segundo ela, as maiores inquietações estão acerca da imprecisão do lugar
da profissão nessas instituições.
Embora a contínua transformação do Serviço Social após os anos 80, que
Netto (1996, p.247) chama de “movimento de reconceituação” (Intenção de ruptura) 6,
em que o Serviço Social passa a questionar e problematizar sua intervenção e
produção científica, ainda sim, há traços voluntaristas e empiristas no entender de

6 Aprofundar em Ditadura e Serviço Social de José Paulo Netto, capitulo II.


23

muitos assistentes sociais, contribuindo para a fragilização e consequente


desqualificação técnica do Serviço Social na área da saúde (COSTA, 2008).
O assistente social é demandado para este espaço como um profissional
precípuo e buscado constantemente7, e a existência deste espaço, levam aos
poucos, ao engajamento deste profissional diante a essa rede sócio-ocupacional da
área da saúde.
Netto (1992) diz que:

Um mercado não se estrutura para o agente profissional mediante as


transformações ocorrentes no interior do seu referencial ou no marco de sua
prática; antes, estas transformações expressam exatamente a estruturação
do mercado de trabalho, posto que uma profissão não se constitui para criar
um dado espaço na rede sócio-ocupacional, mas é a existência deste
espaço que leva à constituição profissional. (NETTO 1992, p 68).

Contudo, a necessidade de estudos, debates e pesquisas neste eixo saúde, é


de grande importância. Costa (2008) conclui que enquanto alguns assistentes
sociais subestimavam a utilidade e o conteúdo das suas práticas, os serviços de
saúde públicos aguçavam para as necessidades cada vez mais do profissional de
Serviço Social nos diversos níveis de complexidade do sistema de saúde.
No âmbito do Serviço Social, concebemos a práxis enquanto um elemento
central, tanto no âmbito do conhecimento quanto no âmbito da intervenção
profissional. Está relacionada à pratica transformadora, racional, critica pensada, que
possui a capacidade e a intenção de transformar a realidade social, objeto da ação.
A partir da concepção de Iamamoto (2010), podemos compreender, que a
nossa prática profissional é perpassada pela influência do sistema econômico
capitalista, o que condiciona a tomada de nossas decisões profissionais,
aumentando seus desafios.
Esta percepção nos permite compreender como, e quais são as relações
enfrentadas pelo assistente social na contemporaneidade para enfrentar e combater
o sistema desigual e suas inúmeras consequências na vida dos usuários atendidos
cotidianamente.

7 Conforme revelam os relatórios do II Encontro Estadual de Assistentes Sociais da secretaria


de Estado da Saúde Pública/ RN, tanto em nível nacional quanto local, os assistentes sociais são a 4ª
categoria de nível superior na composição das equipes de saúde, “perdendo” apenas para médicos,
dentistas e enfermeiros.
24

Diante destas perspectivas apontadas neste trabalho, que são recorrentes no


mundo, no Brasil e principalmente na região Norte, onde encontra- se o foco desta
pesquisa, busco também aprofundar questões pertinentes aos pacientes em
tratamento do vírus/ doença, e a ação do Serviço Social no acompanhamento diante
da demanda da interrupção ou abandono ao tratamento, visto que, muitos pacientes
apesar de saberem de sua condição, interrompem ou abandonam tratamento por
questões que vão além de suas subjetivações.
Os dados aqui apresentados em nível nacional e regional, comprovando a tal
concentração do vírus na região norte, deve nos fazer refletir que não somente
houve um aumento de infectados, mas também, um possível e agravante déficit de
investimento das Políticas Públicas de saúde e por isso a evidência nas pesquisas.
Frente aos novos casos, novos problemas se levantam.
Considerando todo o contexto apresentado sobre o vírus (HIV) e a doença
(Aids) e o fator de inquietação diante do grande índice de infecções, mortes e seus
contínuos agravos, os quais se apresentam como um problema de saúde pública,
não só mundial, nacional, mas principalmente regional, optamos por pesquisar
situações de maior vulnerabilidade em relação as falhas de adesão ao tratamento.
É importante lembrar que a adesão correta evita a queda da imunidade dando
estabilidade física, anulando a carga viral dificultando e eliminando qualquer tipo de
risco de transmissão, e traz também certa estabilidade emocional junto a
apropriação das informações referentes em viver com o vírus. Evita também a
superlotação dos Centros de Referências e Hospitais destinados a tratar as
infecções secundarias, implica na diminuição dos gastos públicos e onerosos
processos de recuperação da saúde individual e coletiva.
A adesão ao tratamento parece ser um desafio que envolve múltiplos fatores,
incluindo questões inerentes ao próprio indivíduo e suas relações com a equipe de
saúde.
É desta realidade delineada que surge a problemática que trata este trabalho
e o interesse pela realização deste estudo em um ambiente hospitalar para melhor
esmiuçar o percurso das políticas que envolvem o serviço público de saúde e a
atuação do profissional de Serviço Social neste eixo, diante do fenômeno de evasão
ou não adesão ao tratamento do vírus e da doença. Desse modo a questão proposta
25

foi: quais os principais motivos de baixa adesão ao tratamento apontados por


usuários com HIV/AIDS do hospital universitário João de Barros Barreto?
Assim o objetivo geral foi analisar a baixa adesão ao tratamento de usuários
com HIV/AIDS em um hospital universitário de Belém. Os objetivos específicos
foram: contextualizar brevemente as políticas de saúde, destacando seu (re)
significado e sua concepção como direito social no âmbito do HIV/AIDS; investigar a
inserção do serviço social na área da saúde e sua relação com o HIV/AIDS e
averiguar o processo de (não) adesão ao tratamento de HIV/AIDS no Serviço de
atendimento especializado no Hospital Universitário João de Barros Barreto.
A estrutura do trabalho se organiza da seguinte maneira: no primeiro capítulo
tem por objetivo apresentar a trajetória dos serviços de saúde a partir das
transformações recorrentes do modelo de produção vigente, como também, sua
transformação em política pública, dos antecedentes da ação estatal aos dias atuais,
articulando com as intervenções sócio-históricas; o segundo capitulo apresenta a
origem da enfermidade provocada pelo vírus HIV/AIDS e a sua disseminação pelos
continentes, compreendendo as consequências sociais, econômica e política, bem
com as mudanças e tendências pela expansão da epidemia ao longo desses 37
(trinta e sete) anos de epidemia.
O terceiro capítulo abarca uma breve contextualização do surgimento do
Serviço Social na saúde procurando compreender a atuação deste profissional no
enfrentamento das demandas provenientes do HIV/AIDS e dos fatores que
corroboram para a dificuldade da não adesão (atuação do Assistente Social no
âmbito hospitalar referente às dificuldades de adesão relacionadas aos fatores
sociais, econômicos, políticos e culturais).
O quarto capítulo discorre sobre a pesquisa de campo (local, estrutura, equipe
e usuários) onde se desenvolveu através de um conjunto de procedimentos
metodológicos, observações e analises do setor em foco, entrevistas
semiestruturada com pessoas- chaves, tendo como sujeitos pacientes que estão
dentro do banco de dados do SAE, incluindo a análise do perfil social a partir das
variáveis sexo, escolaridade, estado civil e localidade dos que estão dentro da lista
de pacientes faltosos do Sistema de Controle Logístico de Medicamentos (SICLOM)
e interlocução de pacientes que por algum motivo durante viver com o vírus tiveram
falhas na adesão ao tratamento.
26

Este estudo tem como lócus de pesquisa o Hospital Universitário João de


Barros Barreto, situado na área metropolitana de Belém, referência na região Norte
no tratamento de HIV/aids pelo Serviço de Atendimento Especializado (SAE),
implantado desde 2007 vinculado a Unidade de Doenças Infecto Parasitarias (UDIP)
do hospital. A equipe do SAE conta no momento com 2 médicos, 1 enfermeiro, 1
assistente social, e 1 psicóloga que se encontra afastada por licença maternidade.
No Serviço Especializado são realizadas consultas diárias pela parte da manhã,
sendo demandado um número limitado de usuários de Belém e também arredores,
que buscam acesso a rede hospitalar pública.
O estudo pauta-se sobre os assistidos que por algum motivo deixam a desejar no
tratamento ou mesmo o abandonam, mesmo com os graves problemas em que a
doença acarreta. Em prol dos mesmos, da sociedade e das lacunas do Estado que
impossibilitam esse viés, proponho um levantamento de dados real dos prontuários
do total da lista de faltosos do Sistema de controle de medicamentos (SICLOM) do
SAE - HUJBB.
A metodologia adotada se sustentará numa perspectiva de análise crítica,
pois, “o método dialético em Marx, enquanto método de investigação e de exposição
distingue sem separar esses dois momentos, pressupondo que o objeto só pode ser
exposto depois de ser investigado, analisado, criticamente em suas determinações
essenciais (CHAGAS, 2011).
Segundo Pontes, Matsumura e Cunha (2020), esta proposta teórica analítica
transformou o ponto de vista da profissão em meados da década de 80, com o
amadurecimento critico dialético no Serviço Social, trazendo a mediação como
categoria central da articulação entre as partes de uma totalidade complexa,
disposto a revelar a essência dos fenômenos societários e chegar o mais próximo
possível ao concreto, superando sua a imediaticidade dos fatos:

O debate acerca da categoria de mediação no Serviço Social coincide com a


necessidade de avançar a análise teórico-metodológica para que se
qualificasse, no sentido de iluminar as novas questões e demandas
emergentes no seio da profissão, desafiando os intelectuais da profissão a
tal esforço (PONTES; MATSUMURA; CUNHA, 2020, p. 5).

Para Lênin (1965), “o método é a alma da teoria” (p.148) possibilitando a


construção da realidade, a criatividade, da investigação e as concepções teóricas. A
27

pesquisa propõe ter um caráter interpretativo e analítico, que caracteriza uma


pesquisa qualitativa e quantitativa, pois segundo Goldenberg (2004) ambas se
complementam mutuamente.

A integração da pesquisa quantitativa e qualitativa permite que o


pesquisador faça um cruzamento de suas conclusões de modo a ter maior
confiança que seus dados não são produto de um procedimento especifico
de alguma situação particular. (GOLDENBERGUE, 2004, p. 64).

A pesquisa qualitativa se aplicar a este trabalho, pois se terá contato direto


com os sujeitos da pesquisa, e os demais fatores para o levantamento de dados
sobre o tema em questão, aduz Chizzotti (1995, p. 79):

O conhecimento não se reduz a um rol de dados isolados, conectados por


uma teoria explicativa; o sujeito é parte integrante do processo de
conhecimento e interpreta os fenômenos, atribuindo-lhes um significado. O
objeto não é dado inerte; está possuído de significado e relações que
sujeitos concretos criam em suas ações.

A pesquisa qualitativa é um instrumento capaz de aprender as significações e


os sentidos dos fenômenos, sendo possível estabelecer entre o pesquisador e o
sujeito uma relação de cumplicidade e parceria, assim como “é útil para identificar
conceitos e variáveis de situações que podem ser estudadas quantitativamente”
(GOLDENBERG, 2004, p. 63)
Trata-se de uma pesquisa de análise exploratória, com coleta de dados
através de documentação do banco de dados do hospital (prontuários e SICLOM),
pesquisas bibliográficas e documentais, associado ao estado da arte (revistas,
artigos, revisões de publicações relativas ao tema), sistematização de dados (tabela,
gráficos, quadros).
A pesquisa se desenvolveu através de um conjunto de procedimentos
metodológicos que envolveu a observação dos pacientes, entrevistas
semiestruturada com pessoas- chave, tendo como sujeitos: 01 (um) Assistente
Social, 04 (quatro) pacientes e 01 (um) membros da família, objetivando
compreender os fatores que provocam a falha ou abandono do tratamento para que
seja ampliada as ações de prevenção e promoção da saúde pública neste viés,
traçando um perfil dos que interromperam ou abandonaram o tratamento em algum
28

momento, e buscando aproximar-se da margem de entendimento deste processo, do


porquê desta evasão.
O Estudo de campo no HUJBB, procurou o aprofundamento de uma realidade
específica. Sobre a pesquisa de campo Ventura (2002) pontua que:

A pesquisa de campo deve merecer grande atenção, pois devem ser


indicados os critérios de escolha da amostragem (das pessoas que serão
escolhidas como exemplares de certa situação), a forma pela qual serão
coletados os dados e os critérios de análise dos dados obtidos (VENTURA,
2002, p.79).

O estudo foi iniciado após a aprovação do Comitê de Ética do (HJBB/UFPA)


sob o nº 8CAAE 144079190.0000.0017. As informações coletadas no banco de
dados do Hospital foram utilizadas exclusivamente para fins de elaboração do
presente trabalho, sendo garantida a privacidade da identificação dos participantes
do estudo.
Conforme a Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde que
estabelece a obrigatoriedade do termo de compromisso do pesquisador responsável
e da instituição em cumprir as disposições desta Resolução. Além disso, a
pesquisadora envolvida neste estudo comprometeu-se em utilizar os dados somente
para fins de realização desta pesquisa, incluindo a possibilidade de publicação dos
mesmos sob a forma de artigo científico.
Para esta investigação primeiramente será utilizada a análise de dados a fim
de constatar o número total de indivíduos cadastrados no programa SAE do HUJBB,
em seguida um levantamento do número de usuários, (dentro dessa população) que
estariam com pendências referentes na adesão ao tratamento, assim possibilitando
a análise de seus respectivos prontuários e ficha social (ANALISE DOCUMENTAL) e
entrevista semiestruturada voltadas para o direcionamento da pesquisa. Tudo no
intuito de se compreender as principais demandas sociais e problemas que
envolvem a fragilização na adesão ao tratamento de pessoas que vivem com o vírus.
Esta pesquisa não acarretou qualquer dano material aos entrevistados ou algo
que venha a infringir a integridade dos participantes, não havendo ainda exposição
da identidade dos mesmos ou divulgação das informações contidas nos registros do
Banco de Dados do Hospital para qualquer finalidade não declarada ou implícita.

8 Certificado de Apresentação de Apreciação Ética


29

Os resultados alcançados com esta pesquisa, beneficiará os envolvidos


favorecendo a promoção da saúde dos usuários, o trabalho do assistente social, e a
importância da adesão ao tratamento da doença.
Por fim a pesquisa beneficiará ainda a comunidade com seus resultados que
podem subsidiar a formulação de estratégias de adesão ao tratamento do HVI/Aids,
subsidiando a importância da continuidade ao tratamento pós-diagnóstico, assim
também contribuir para auxiliar estudos científicos na área do Serviço Social dentro
do SAE, e a Comunidade Científica terá um aumento em seu acervo literário
podendo dispor de um maior conhecimento sobre o assunto.

1 POLÍTICAS DE SAÚDE: BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO

Este capítulo trará uma breve apresentação da trajetória dos serviços de saúde a
partir das transformações recorrentes do modelo de produção vigente, como
também, sua transformação em política pública, dos antecedentes da ação estatal
aos dias atuais, articulando com as intervenções sócio históricas.

1.1 A Questão Saúde e Seu (Re) significado

Partindo do pressuposto de Nunes (1989), essas ações de saúde tiveram


suas transformações históricas ligadas fortemente também pelas atividades do
modelo de produção econômico, evidenciando a saúde como um interesse funcional
do paradigma de mercado, contudo atribui - se também que essas práticas foram a
instância pioneira junto as relações estabelecidas dentro de uma estrutura social;
Nunes (1989) afirma:
30

(...), a estrutura econômica determina o lugar e a forma de articulação de


medicina na estrutura social. A concepção da medicina decorre, por
conseguinte, das relações que esta estabelece com as diferentes
“instâncias” que integram a estrutura. Estas afirmações afastam-nos do
enfoque funcionalista que vê na doença um elemento disfuncional no
sistema social e um interesse funcional da sociedade em seu controle
(NUNES, 1989, p.53).

“A estrutura econômica não somente determina o lugar da prática médica na


estrutura social, mas também a característica da importância dos elementos que
compõe o todo social” (NUNES, 1989, p.53). No decorrer dos séculos, segundo o
mesmo autor, ampliou se a percepção do campo saúde através da medicina na
esfera tanto biológica quanto social, e mais à frente estabelecendo uma relação
dessas esferas como responsáveis pelas enfermidades.
Ainda segundo Nunes (1989), esta percepção do pensamento social x
ambiental x econômico em saúde se estendeu na América Latina, e revela que a
medicina enquanto profissão está relacionada com a estrutura social produtiva, o
comportamento das relações humanas e o seu desenvolvimento em sociedade.
Isso reforça a percepção de que as transformações decorrentes nos campos
das ações em saúde, da formação de pessoal em saúde e a produção de
conhecimentos médicos-curativos, assim como a posterior divisão social - técnica do
trabalho, são inerentes as transformações históricas do processo de produção
econômica em períodos passados até os dias atuais.
No modelo de produção escravocrata, os conceitos de saúde e doença
estavam ligados com o equilíbrio, a beleza, a força; o contrário disto eram
considerados indignos, ou chamados de inválidos. Contudo na “antiguidade não
oferecem evidencias de nenhum tipo de previsão para o cuidado do inválido”
(NUNES, 1989, p. 6).
Já no feudalismo a percepção do conceito saúde-doença se estrutura com a criação
das universidades, surgimentos de hospitais como centro de cuidados e o
surgimento de vários profissionais no exercício médico, transformando parte da
medicina secular da antiguidade em clerical. Pois cuidar do doente era uma
obrigação cristã; durante este contexto surge a pratica da caridade 9.
9 Durante o sistema feudal a caridade era vista como obra dada por Deus que funcionava a
partir do pagamento do dízimo, um imposto de transmissão muito mais poderoso que taxas vistas no
mundo moderno, e era obrigatório. Não importando muitas vezes, se o pagamento do dízimo fizesse
o camponês morrer de fome. E como um círculo vicioso, ela fazia o campesinato ficar mais pobre, e
31

Segundo Guillen e Peset (1972), as ações eram feitas de forma segregada, a


assistência à saúde ficava a cargo de quem tinha poder aquisitivo. Para tal, o
restante dos empobrecidos ficava em mãos de curandeiros ou morriam em entidades
designada a amparar e prestar atendimento à saúde sobe a
“responsabilidade” da caridade10.

Uma remuneração adequada permitiu o nascimento do ‘medico de


cabeceira’ e da medicina liberal. Por último, ficava a assistência aos pobres,
em mãos de curandeiros e barbeiros, e os demais quando as cidades os
amparavam, podiam refugiar-se e morrer nos hospitais e hospícios
organizados pela caridade municipal (GUILLEN; PESET,1972, p. 34).

Enfim, a percepção de saúde e doença chega ao modelo de produção


capitalista deslocando–se do espaço religioso e da politicagem, principalmente dos
interesses pessoais dos quais para muitos seriam a porta de entrada para o “céu”,
para articular mais ainda com o processo de produção.
Partindo do pressuposto de Bravo (2009, p. 89), “vai se caracterizar a saúde,
nos séculos XVIII, XIX e início do século XX considerada como antecedentes da
ação estatal”. A partir do século XX, há uma distensão política, período de uma
modificação gradual da relação do Estado com a sociedade, que vai repercutir na
saúde através de crises e reformas.
A relação de forças que se estabelece entre distintos grupos sociais/classes
(partidos políticos, sindicatos e grupos de pressões) e o Estado para melhorias nas
condições de vida e saúde, tem na seguridade social 11 uma esperança, pois a
criação da seguridade social é o resultado das exigências das decisões
estabelecidas em conjunto com as necessidades sociais, vinculada a política de

assim teriam mais pobres para fazer caridade. Se ela fizesse menos isto, teria menos miséria e
menos pobres a precisar de caridade. Complementar leitura em: HUBERMAN, Leo, (2009) História da
riqueza do homem. Do Feudalismo ao capitalismo. A sociedade feudal consistia dessas três classes.
A Igreja foi a maior proprietária de terras no período
feudal.
(https://monografias.brasilescola.uol.com.br/historia/historia -riqueza-homem.htm).
10 As Santas Casas de Misericórdia são uma dessas entidades que se destinaram a prestar
assistência médica às pessoas. As Santas Casas foram, durante décadas, a única opção de
acolhimento e tratamento de saúde para quem não tinha dinheiro. Elas eram fundadas pelos
religiosos e, num primeiro momento, conectadas com a ideia de caridade – entre o século XVIII e o
ano de 1837 (MERELES, 2018).
11 “A seguridade social é definida na Constituição Federal, no artigo 194, caput, como um
conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade, destinadas a
assegurar os direitos relativos à saúde, a previdência e a assistência social” (TORRES, 2012).
32

saúde, visto que o equilíbrio político é mantido pela contenção dos perigos que as
doenças representam para a população.

A evolução do sistema de saúde parece estar regida, de um lado, pelas


exigências próprias da estrutura econômica (o processo social está
vinculado à política de saúde, à seguridade social é um elemento de
equilíbrio econômico, a estrutura e a orientação do consumo estão
vinculadas aos mecanismos de redistribuição da renda nacional, e o
equilíbrio político está garantido pela supressão dos perigos que as doenças
representam para aqueles cuja renda é escassa) (STEUDLER apud
NUNES, 1989, p.57).

A doença segundo Nunes (1989), se configura neste contexto do capital como


uma interação de uma série de elementos, os quais ele separa em três categorias:
condições do ambiente, fatores físico-biológicos e o agente específico causador da
patologia. Entretanto as doenças que atingiam as classes sociais subalternas
relacionavam- se diretamente com a desigualdade social pela distribuição desigual
do produto social (ideias e valores montados em prol do capitalismo) tendo como
consequências a pauperização de suas condições de trabalho e claro, a saúde.

Estas condições, cuja interação entre si e com o agente específico


produzem a doença, são as que se encontram desigualmente distribuídas
entre os grupos que constituem uma sociedade. A distribuição desigual e
elementos que contribuem para a produção da doença ocorrem em
sociedades onde predominam modos de produção em que existe relação de
exploração, isto é, classes sociais antagônicas (NUNES, 1989, p. 59).

Neste modelo econômico do capital, Nunes contextualiza que o proprietário


dos meios de produção detém também a maior parte da produção social, pois as
classes subalternas12 são desprovidas de acesso aos serviços médicos e cultura,
assim como também de uma produção material menor, que o autor expõe como: os
alimentos, a habitação, a vestimenta; contudo esta desigualdade, nas categorias
citadas acima, desvela um profundo descontentamento e agitação dos ânimos das
classes trabalhadoras que mais a frente, através dos movimentos sociais ganha
forças para a conquista de melhores condições de vida.

12 A categoria "subalterno" e o conceito de "subalternidade" têm sido utilizados,


contemporaneamente, na análise de fenômenos sociopolíticos e culturais, normalmente para
descrever as condições de vida de grupos e camadas de classe em situações de exploração ou
destituídos dos meios suficientes para uma vida digna. No pensamento gramsciano, contudo, tratar
das classes subalternas exige, em síntese, mais do que isso. Trata-se de recuperar os processos de
dominação presentes na sociedade, desvendando "as operações político-culturais da hegemonia que
escondem, suprimem, cancelam ou marginalizam a história dos subalternos" (BUTTIGIEG, 1999, p.
30).
33

Behring (2009, p. 14) reconhece que a existência das políticas sociais, é um


fenômeno associado a constituição da sociedade burguesa, “especifico do modo
capitalista de produzir e reproduzir-se”. A autora expõe que no decorrer dos períodos
se reconhece a existência dos movimentos sociais relacionada a questão social
neste modo de produção, reconhecendo a saúde não mais como simples ações, pois
os trabalhadores assumem um papel político chegando até ter um caráter
revolucionário em alguns momentos.
A consolidação política e econômica nos séculos XVIII e XIX introduziu
discussões em torno das relações do Estado, sociedade civil e bem-estar social.
Para os pensadores do período da fundação do Estado moderno, o Estado era o
mediador civilizador, e continua sendo para os liberais do presente até que o
enfraquecimento das bases materiais e subjetivas de sustentação dos argumentos
liberais se enfraquece ao logo da segunda metade do século XIX e início do século
XX como resultado de processos políticos e econômicos e aliado com a depressão
de 1929 nos EUA, novos horizontes se estabelecem.
Para Keynes:
Cabe ao Estado o papel de reestabelecer o equilíbrio econômico, por meio
de uma política fiscal, creditícia e de gastos realizando investimentos ou
inversões reais que atuem nos períodos de depressão como estimulo a
economia (KEYNES apud BEHERING, 2009, p. 21).

Nessa esfera de intervenção global coube o incremento das políticas sociais


também, nas quais inclui a saúde, que é considerada junto com outras medidas mais
a frente - tais como as da seguridade social, que compõem além da saúde a
previdência e a assistência social- produto histórico das lutas do trabalho, na medida
em que respondem pelo atendimento de necessidades reconhecidas pelos
trabalhadores, Estado e patronato (MOTA, 2009, p. 40).
Na era da globalização, já no século XX, embora a classe trabalhadora se
encontre fragmentada, mais heterogênea, incluindo o subemprego e desemprego, se
intensificam os níveis de exploração daqueles que vivem da força de trabalho 13.
Essa força se une em torno de algumas propostas em trono de melhores condições
de vida, constituindo mais à frente como um grande passo para a concretização de

13 Contexto melhor aprofundado em: As mutações no mundo do trabalho na era da


mundialização do capital por Ricardo Antunes (professor titular do instituto de filosofia e ciências
humanas da universidade estadual de Campinas- IFCH/UNICAMP) e Giovanni Alves (Professor
doutor da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filhos- UNESP); Educ. Soc., Campinas,
vol. 25, n.87, p. 335-351, maio/ago. 2004.
34

uma política de saúde, que embora tenha nascido e se concretizado de forma


insatisfatória, mostra- se determinante para que muitos dos anseios fossem
visualizados com mais destrezas. Por fim a ações de saúde deu um passo bem
generoso de como era para o que se tornou.

1.2 Saúde no Brasil e a Sua Concepção Como Direito Social

Há Centenas de anos, antes da invasão dos europeus em território brasileiro,


os povos indígenas já o habitavam. Os originários, com a chegada dos colonos,
foram expostos a novas doenças, doenças comuns na Europa, mas que não
existiam no Brasil, que acabaram sendo “transportadas” de um continente para o
outro pelas grandes navegações. Em consequência milhares de indígenas vieram a
óbito, pois não tinham imunidade contra essas novas enfermidades. Durante o
contexto Brasil - Colônia, pouco foi feito ou quase nada com relação á saúde da
população (Meireles, 2018).

Não havia políticas públicas estruturadas, muito menos a construção de


centros de atendimento à população. Além disso, o acesso a tratamentos e
cuidados médicos dependia da classe social: pessoas pobres e escravos
viviam em condições duras e poucos sobreviviam às doenças que tinham.
As pessoas nobres e colonos brancos, que tivessem terras e posses, tinha
maior facilidade de acesso a médicos e remédios da época. Portanto, suas
chances de sobrevivência eram maiores (MERELES, 2018).

Durante o proêmio do período colonial no Brasil, de acordo com Freire e


Malheiros (2007), as políticas públicas voltadas à questão da saúde eram
inexistentes. Esse quadro pode ser explicado pela própria condição do país na
época, que inicialmente eram apenas uma colônia de exploração, portanto, não
havia motivos para uma intervenção da metrópole, pois os nativos não eram nem
considerados humanos, sendo inclusive assinalados como objetos e também
chamados de ‘peças’. A escravidão era o modelo de produção que vigorava e
segundo os colonos, seria de suma importância para a sobrevivência de ambos,
metrópole e colônia. Abaixo o autor afirma que:

[...] Os portugueses argumentavam que a escravização dos índios era a


única alternativa que tinham, tanto para organizar a produção destinada à
35

exportação, como para garantir os gêneros de primeira necessidade


necessários ao sustento da família de cada morador (FREIRE;
MALHEIROS, 2007).

Em 1808, com a fuga da família real para o Brasil, que naquele momento,
passou a condição de reino unido com Portugal e Algarves, o governo impôs normas
sanitárias para os portos, na tentativa de impedir a entrada de doenças contagiosas
e garantir a integridade da saúde da realeza, tudo se organizava em prol da realeza.
No mesmo ano, foram fundadas duas escolas médicas no Brasil, uma na cidade do
Rio de Janeiro e a outra em Salvador.
Somente com a independência se estabeleceu uma débil medida de saúde
pública, que era uma lei que reiterava o controle dos portos e atribuía às províncias
as decisões sobre esta questão.

Declarada a independência brasileira com relação a Portugal, em 1922,


pode-se dizer que houve avanços durante esse período imperial pois além
de transformar escolas em faculdades, D. Pedro II criou órgãos para
vistoriar a higiene pública principalmente na nova capital brasileira, o Rio de
Janeiro. A cidade, além de sofrer diversas mudanças urbanas, como
calçamento de ruas e iluminação pública, também visava a higienizar o
centro urbano – de maneira sanitária e social. Social, pois expulsava do
centro da cidade os casebres e as pessoas de classe social mais inferior,
proliferando então o desenvolvimento de favelas nas áreas periféricas
(MERELES, 2018, p. 02).

A higienização sanitária deveria ocorrer por conta das recorrentes endemias


de febre amarela, peste bubônica, malária e varíola, doenças associadas à falta de
saneamento básico e de higiene. Os esgotos, na época, corriam a céu aberto e o lixo
era depositado em valas. Assim, o alvo da campanha pela saúde pública nessa
metade do século XIX foi estruturar o saneamento básico (SOBRINHO, 2013).
Na República, já em 1900, iniciaram-se as práticas, propriamente ditas de
políticas voltadas para a área da saúde. Foi criado o Instituto Soroterápico, na cidade
do Rio de Janeiro, e em 1903, o então presidente da República Rodrigues Alves
criou o departamento Federal de Saúde Pública, nomeando Oswaldo Cruz 14 como
diretor. Esse órgão tinha a difícil missão de erradicar a febre amarela, que já havia
tomado a proporção de epidemia por todo o país. Em 1904 foi decretada uma lei

14 Oswaldo Cruz foi um grande pesquisador que atuou como cientista, médico,
bacteriologista, epidemiologista e sanitarista brasileiro. Foi o pioneiro no estudo de doenças tropicais
e da medicina experimental no Brasil. Biografia resumida de Oswaldo Cruz encontra-se no site:
<https://www.todabiologia.com/pesquisadores/oswaldo_cruz.htm> Acesso: 23/09/2020.
36

tornando obrigatória a vacina contra a varíola, fato que desencadeou a chamada


Revolta da Vacina (SCHMIDT, 2009).
Sem campanha informativa do que seria a vacina e com a obrigatoriedade
da mesma - pois quem não se deixasse “espetar” poderia ir para a cadeia - a
resposta popular foi a rebelião. Essa prática obrigatória exercida pela força, foi
denominada de intervenção campanhista. Segundo Matta e Morosoni (2009):

O modelo campanhista – influenciado por interesses agroexportadores no


início do século XX – baseou – se em campanhas sanitárias para combater
a endemias de febre amarela, peste bubônica e varíola, implementando
programas de vacinação obrigatória, desinfecção dos espaços públicos e
domiciliares e outras ações de medicalização do espaço urbano, que
atingiram, em sua maioria, as camadas menos favorecidas da população.
Esse modelo predominou no cenário das políticas de saúde brasileiras até o
início da década de 1960 (MATTA; MOROSONI, 2009, p. 45).

A vacina, apesar de trazer muitos transtornos para a população, em virtude


de ter sido de caráter autoritário, trouxe resultados positivos qualitativamente e
quantitativamente, erradicando a febre amarela e controlando doenças endêmicas,
instituindo laboratórios e serviços de engenharia sanitária.
Em 1920, Carlos Chagas15 assumiu a diretoria do departamento e fez uma
reforma no modelo de atuação, somando programas educacionais a intervenção
campanhista, além de ampliar os institutos de pesquisas especializados.

A saúde pública, na década de 1920, adquire novo relevo no discurso de


poder. Há tentativas de extensão de seus serviços por todo o país. A
reforma Carlos Chagas de 1923, tenta ampliar o atendimento a saúde por
parte do poder central, construindo uma das estratégias da união de
ampliação do poder nacional no interior da crise política em curso,
sinalizada pelos tenentes, a partir de 1922 (BRAVO, 2009, p. 90).

A primeira intervenção do Estado Brasileiro para assegurar alguma espécie


de seguro social voltado para o trabalhador foi a Lei Elói Chaves de 1923, que
apesar de não definir o Estado como sujeito ativo no seguro social, regulou a criação
das Caixas e aposentadoria e Pensão (CAPs), geridos e mantidos pelos
empregados e empresas. Os benefícios eram de acordo com as contribuições, e

15 Carlos Justiniano Ribeiro Chagas foi um biólogo, médico sanitarista, cientista e bacteriologista
brasileiro, que trabalhou como clínico e pesquisador. Atuante na saúde pública do Brasil iniciou sua
carreira no combate à malária. Foi através do decreto legislativo nº 3987 de janeiro de 1920 e do
decreto nº 11354 de setembro do mesmo ano que Carlos Chagas criou o Departamento Nacional de
Saúde Pública. Este Departamento se constituiu na estratégia utilizada para disciplinar a sociedade
brasileira, em especial a capital da República, a cidade do Rio de Janeiro, visando criar uma
37

foram previstos: ‘assistência médico-curativo e fornecimento de medicamentos;


aposentadoria por tempo de serviço, velhice e invalidez, pensão para os
dependentes e auxilio funeral’.

Neste período foram colocadas as questões de higiene e saúde do


trabalhador, sendo tomadas algumas medidas que se constituíram no
embrião do esquema previdenciário brasileiro, sendo a mais importante
criação das caixas de aposentadoria e pensões (CAPs) em 1923, conhecida
como Lei Elói Chaves. As CAPs eram financiadas pela união pelas
empresas empregadoras e pelos empregados (BRAVO, 2009, p. 90).

O governo, então, começou a ensaiar estratégias de contenção dos


murmúrios da população, que logo a frente seria de grande utilidade no próximo
governo, pois a própria Lei Elói Chaves, após ser aprovada foi ignorada por
empresários e só veio a ser respeitada após o governo de Getúlio Vargas, que
soube burlar os movimentos grevistas e tornar os seus atos revolucionários em
tamanha obediência e gratidão ao patrono da nação (BRAVO, 2009).
Com a pressão da população operaria existente no Brasil, através das
constantes greves e manifestações, o Estado começou a discutir um modelo de
assistência médica para a população. Entretanto, Bravo (2009, p.93) afirmam que o
Estado regulamentava essas reivindicações para que as crises sociais fossem
suavizadas, para consegui dar legitimidade para o próprio regime.
Por conseguinte, vários órgãos foram criados de governo em governo,

"consciência sanitária". Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?


script=sci_arttext&pid=S003471671991000100015> Acesso: 23/09/2020.
porém sustentados pelos empregados e patrões, logo mais pela contribuição
sindical, que no governo de Getúlio Vargas tomou corpo e apoio.
Bravo (2009) reforça sobre as mudanças que aos poucos foi se
estabelecendo como reivindicações do nascente movimento operário em decorrência
das transformações econômicas e políticas iniciadas desde o sec. XIX, e que a partir
deste ponto, surgiram iniciativas no campo da saúde pública. Porém, segundo a
autora, a conquista de alguns direitos sociais pelas classes trabalhadoras se deu
mediante as pressões contra o estado, e este por sua vez mediou somente com o
intuito de acalmar as frustrações, por fim conseguindo ainda estabelecer a
manutenção da ordem social capitalista e não pela sua relação de responsabilidades
com os assalariados e desfavorecidos.
38

Braga e Paula (1986), afirmam que:

A saúde emerge como “questão social” no Brasil no início do século XX, no


bojo da economia capitalista exploradora cafeeira, refletindo o avanço da
divisão do trabalho, ou seja, a emergência do trabalho assalariado.
(BRAGA; PAULA, 1986, p.41).

Esta ação de organização dos trabalhadores, segundo Netto (2009), trata-se


“de um projeto societário que são necessariamente e simultaneamente, projetos de
classes, que “apresentam uma imagem de sociedade a ser construída”, porém esse
processo implica nas relações de poder existente, pois embora possa ter modificado
parte da estrutura dos meios de produção, com conquistas favoráveis as condições
consubstanciadas, a ordem do capital sempre determinava a conjuntura.

Os projetos societários que respondem aos interesses das classes


trabalhadoras e subalternas sempre dispõem de condições menos
favoráveis para enfrentar os projetos das classes proprietária e
politicamente dominantes (NETTO, 1996, p. 143).

Na década de 30, as alterações ocorridas na sociedade brasileira a partir da


industrialização, trouxeram alterações na intervenção do Estado. “O processo de
industrialização, a redefinição do papel do Estado, o surgimento das políticas sociais,
além de outras respostas as reivindicações dos trabalhadores” (BRAVO, 2009, p.
90), assegurou o direito além das aposentadorias e pensões, a da assistência
médica e farmacêutica com a substituição das CAPs pelos Institutos de
aposentadoria e Pensões (IAPs); os Institutos tinham as mesmas funções que as
Caixas de Aposentadorias, porém era compulsória e com participação efetiva do
Estado (BRAVO, 2009).

Reforçando os autores que, ‘a conjuntura de 30, com suas características


econômicas e políticas, possibilitou o surgimento das políticas sociais nacionais que
respondessem as questões sociais de forma orgânica e sistemática’ (BRAVO, 2009,
p.91). Vale ressaltar que as caixas de aposentadorias e pensão só beneficiavam
poucos trabalhadores urbanos do complexo exportador, que almejaram e
conquistaram esse benefício; os trabalhadores rurais estavam excluídos.
39

Como podemos aferir durante estas trajetórias, as determinações


sóciohistóricas16 traçaram o rumo da política de saúde e social no Brasil, as quais
constituíram as ações de caráter público na área da saúde dos dias atuais. Desde o
surgimento da política social, segundo Bravo (2009), mais efetivamente na década
de 30, tem-se evidencias de que a intervenção do Estado no processo de
instauração da chamada revolução burguesa no Brasil, servia como um mantenedor
da ordem social capitalista e que tencionava com as forças embrionárias da luta dos
trabalhadores no alvorecer da questão social no Brasil.
Martinelli (2007) explica que a necessidade de manutenção da ordem social
capitalista foi necessária no contexto de crise vivenciado pelo próprio capitalismo,
haja vista a culminação da pauperização da grande massa trabalhadora que emergia
a cada passo da industrialização brasileira, fenômeno nada homogêneo na realidade
nacional, considerado as imensas desigualdades regionais até hoje predominantes.
Toma-se como contexto histórico para essa explanação, a transição do
século XIX para o século XX. Momento este em que as condições de vida da classe
trabalhadora eram precárias, atingidas pelo desemprego em massa, miséria, e fome
generalizada. Conforme Netto (1996)17 é nesse contexto, quando a classe
trabalhadora organizada surge no cenário político social reivindicando melhores
condições de vida e de trabalho, é que surge a “Questão Social”, marcando sua
origem “no coração da acumulação capitalista” e das lutas desencadeadas. Ainda de
acordo com o autor também é nesse período que o capitalismo mundial vive seu
amadurecimento, deixando de ser concorrencial, para irem busca da maior
concentração de renda e aumento da taxa de lucro com o capital monopolista.

16 Durante a República velha houve rebeliões não somente sobre o caráter obrigatório das vacinas,
mas também sobre as estratégias utilizadas pelo governo que em nome da “saúde pública e social”
invadiam casas, demoliam cortiços sem se preocupar com as centenas de desabrigados, pois
segundo o governo, os mesmos não poderiam atrapalhar o progresso. Houve confrontos e dezenas
de pessoas mortas. A Marinha do Brasil, também teve uma participação significante no contexto
histórico, pois devido inúmeras insatisfações em decorrência dos soldos baixos, dos trabalhos
pesados, da falta de higiene, os castigos corporais, travaram resistências após entrarem em contato
com o movimento sindical na Inglaterra. Na Inglaterra os ‘operários sabiam que o principal direito era
o direito de poder lutar pelos seus direitos’. Ao chegarem ao Brasil exigiram melhores condições de
vida e ameaçaram bombardear os bairros elegantes, caso não fossem atendidos, pois cada
encouraçado levava a cerca de mil tripulantes e estava carregado com uma artilharia capaz de varrer
o Rio de Janeiro do Mapa. O senado se pronunciou atendendo as exigências pois não se tinha
capacidade de reprimir a revolta (chamada Revolta da Chibatada,1910), então só restou negociar.
Principalmente, porque os operários também começaram a entrar em greve em prol dos amotinados.
(SCHMINT, 2009, p. 518).
17 Complementar com o livro Ditadura e Serviço Social: Uma análise do Serviço Social no Brasil
pós64 de José Paulo Netto, 1996.
40

A organização da classe trabalhadora é um dos fatores que ganha grande


importância nessa transição histórica. Os trabalhadores passam a se enxergar
enquanto classe detentora de poder político a partir de suas ações coletivas. As
concepções ideológicas do Estado burguês e seus valores burgueses passam a ser
questionados e as reivindicações da classe operária tornam-se de caráter público em
uma “área” de lutas políticas na “afirmação de um novo tipo de sociedade”
(IAMAMOTO; CARVALHO, 1985, p. 133).
Como forma de manter o controle social e legitimidade burguesa, o Estado
atende algumas das demandas reivindicadas nas lutas políticas a partir das políticas
públicas (em um atendimento que é proveniente de várias determinações, onde se
torna um processo tenso e contraditório ora fruto de lutas sociais e reivindicações
populares, ora como estratégia de manipulação da classe ora no comando do
Estado). Como coloca Netto (1996): ‘o Estado funcional ao capital monopolista é no
nível das suas finalidades econômicas o “comitê executivo” da burguesia’.
Por isso que em meados do sec. XX, mais precisamente no pós- segunda
guerra mundial foi introduzida nos países mais influentes do grande capital, políticas
públicas na área social, educacional, da saúde e da economia no que tange a
distribuição de renda. Momento este mais conhecido como Estado de bem-estar
social, WelfareState ou modelo keynesiano.
Nos países periféricos, como o Brasil, conforme Mota (2009) e Iamamoto
(2008), não existiram um Estado de bem-estar social no Brasil, o que houve foi uma
decisão de Estado brasileiro de modernização das indústrias e de implementação do
desenvolvimentismo como forma menos onerosas para a ordem econômica mundial.
Contudo em defesa da saúde sanitária da população, os movimentos sociais
e com as reivindicações das classes trabalhadoras em 1941, reuniram-se criando a
1ª Conferência Nacional de Saúde (1941), propondo uma percepção curativa e
preventiva, em defesa da população, da assistência social, às famílias, à
maternidade, etc. também houve proposta de estudos sobre a definição da
organização e de administração sanitárias e assistenciais, em âmbito estadual e
municipal. Quase dez anos depois, houve uma nova Conferência, sem registros
formais, porém reforçando e ampliando as mesmas percepções da primeira
(FIOCRUZ, 2010).
41

As Conferências deram corpo às estratégias traçadas do que seria o futuro


sistema de saúde de cunho e amplitude nacional. Após essas organizações e planos
em prol da higiene sanitária da população brasileira, os serviços referentes à saúde
se estabeleceram por planos sistematizados que foram se expandindo e pontuado a
cada conferência Nacional de Saúde.

As Conferências Nacionais de Saúde (CNS) representam um importante


momento de avaliação da situação da saúde no país e de formulação de
diretrizes para as políticas públicas no setor, reunindo cidadãos pela defesa
da garantia de direitos, em atenção às necessidades da população (CNS,
2020)18.

A chamada Conferência Nacional de Saúde, nas reuniões debatiam em


torno dos planos a serem colocados em práticas, ao todo foram 16 Conferências. As
Conferências Nacionais de Saúde tiveram um papel muito importante na
consolidação do entendimento da importância da saúde pública no Brasil.
A 3ª Conferência Nacional de Saúde ocorreu no final de 1963 e apresentou
diversos estudos sobre a criação de um sistema de saúde. De acordo com o doutor
em saúde pública Gilson Carvalho (2013), houve duas bandeiras principais nessa
conferência: 1. A criação de um sistema de saúde para todos, o direito à saúde
deveria ser universal; 2. A organização de um sistema descentralizado, visando ao
protagonismo do município. Porém afirma que a ditadura militar, iniciada em março
de 1964, sepultou a proposta poucos meses depois.
Nos anos 40 a 64, durante a ditadura militar, foram implantadas novas
propostas. Em 1941 começou com uma reorganização do Departamento Nacional de
saúde, que incorporou mais serviços de combate as endemias e assumiu o controle
da formação de técnicos em saúde pública, os IAPs pretendeu estender a um
número maior de categorias de assalariados como forma de antecipar as pressões
dessas categorias por uma cobertura mais ampla, pois quanto mais se
industrializava o Brasil, mais operários eram lançados as indústrias e mais os
problemas aumentavam (BRAVO, 2009).
Em meados dos anos 50, mais precisamente em 1953 foi criado o Ministério
da Saúde do Brasil pela Lei 1920 19. Foi a primeira vez em que houve um ministério
18 Disponível no site: https://portal.fiocruz.br/linha-do-tempo-conferencias-nacionais-de-saude.
Acesso em abr. 2020
19 O Ministério da Saúde do Brasil foi criado em 25 julho de 1953, pela lei nº 1920, assinada
pelo residente Getúlio Vargas. O órgão foi um desmembramento do então ministério de Educação e
42

dedicado exclusivamente à criação de políticas de saúde, com foco principalmente


no atendimento em zonas rurais, já que nas cidades a saúde era privilégio de quem
tinha carteira assinada.
As ações curativas, através da participação da previdência social
comandadas pelo setor privado, não conseguiram reverter a ênfase da política de
saúde pela previdência. Segundo Polignano (1998), a política de saúde enfrentava
continuamente tensões entre a ampliação dos serviços, a disponibilidade de
recursos financeiros, os interesses entre o setor estatal e empresarial médico e a
emergência do movimento sanitário.
Em 1960, com a Lei Orgânica da Previdência Social, criou-se um regime
único regido pela Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), que pela primeira vez
contava com o apoio além dos empregados e patrões, a contribuição do Erário
Público.
Bravo (2009) pontuam que:

As questões sociais em geral e as de saúde em particular, já colocadas na


década de 20, precisavam ser enfrentadas de forma mais sofisticada.
Necessitavam transformar-se em questão política, com a intervenção estatal
e a criação de novos aparelhos que complementassem, de algum modo, os
assalariados urbanos, que se caracterizavam como sujeitos sociais
importantes no cenário político nacional, em decorrência da nova dinâmica
de acumulação (BRAVO, 2009, p. 91).

Para Bravo (2009), o modelo de previdência que norteou o Brasil nos anos
30-45 foi de orientação contencionista, e procurou demarcar as diferenças entre a
“previdência” e a “assistência social”, pois antes não havia. Foi um momento de
acumulação de capital financeiro devido ao aumento da classe trabalhadora, se
preocuparam mais com a acumulação de capital do que com as prestações de
serviços, inclusive estabeleceram uma fração orçamentaria com limites para as
despesas com a assistência médico-hospitalar e farmacêutica.
Em contraponto, com o crescimento urbano dos estados das regiões Sul e
Sudeste, nas décadas de 1950 e 1960, houve necessidade de maiores recursos
para garantir a assistência a essas populações.
Em 1966 foram extintos ao IAPs pelo decreto de Lei nº. 71, e criado o
Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), que apresentava o ápice do

Saúde em dois ministérios: Saúde e Educação e Cultura.


43

processo de centralização no setor previdenciário, com forte repercussão na área da


saúde. Neste momento o sistema ampliou moderadamente seu leque de atuação,
passando a atender, por meio do fundo de Assistências Social os trabalhadores
rurais, pois até este período o sistema previdenciário ainda era excludente para o
campo.

A criação do INPS, em 1966, configurou uma medida de racionalização


administrativa sem alterar a tendência do período anterior de expansão dos
serviços, em particular, da assistência médica e da cobertura previdenciária.
A função de capitalização, até então, atribuição da previdência social,
passou para outros mecanismos de poupança compulsória, como FGTS,
PIS e Pasep. Dessa forma, centralizada e unificada no INPS, a previdência
passou a ter função assistencial e redistributiva, ainda que esta estivesse
limitada ao contingente de trabalhadores com carteira assinada (SOUZA,
2002).

Baptista (2005) reforça que o INPS estabelece maior centralização do


Estado; maior privilegiamento da prática curativa, aprofunda o perfil assistencialista;
começo da expansão do complexo médico-empresarial (sem o controle dos
trabalhadores, o setor médico cresce - ganha importância clientelista); incentivos ao
setor privado; e surge a carteira do INPS.
Bravo (2009) ressalta que “os problemas estruturais não foram resolvidos e
sim aprofundados, tornando mais complexos e com uma dimensão ampla e
dramática”, pois se ampliou a política assistencial, porém burocratizada, para que a
regulamentação da sociedade ficasse cada vez mais dependente com a finalidade
de aumentar o poder de regulamentação da sociedade e assim suavizar as tensões
e conseguir conformidade para com o regime, como também servir de mecanismo
de acumulação capital.
Neste contexto a saúde pública declinou em relação à medicina
previdenciária; aos trabalhadores ficou apenas o papel de financiadores, pois o
interesse agora era focar na mercantilização da vida social, pois as características
capitalistas tinham que estar em primeiro patamar, visto que as modificações
tecnológicas ocorridas internacionalmente estavam ávidas para cruzarem as
fronteiras nacionais.
Contudo, já na década de 1970, o capitalismo mundial vivia uma crise
estrutural com o esgotamento das forças produtivas, crises de endividamento, e a
organização da classe trabalhadora contra o modelo de acumulação Taylorista/
44

fordista. Modelo este que tinha como característica a repetição do trabalho, a


produção em massa, alienada e sem sentido. Fazendo com que a classe
trabalhadora passasse a questionar a concepção ideológica e seus valores
defendidos pelo Estado burguês 20. De acordo com Antunes (2005), o Estado
capitalista visando à recuperação do ciclo reprodutivo do capital busca superar a
crise, a partir da reestruturação produtora, adotando um novo modelo de
acumulação, mais conhecido como Toyotismo, ou modelo Japonês.
Este modelo tem como característica a acumulação flexível, a produção
especifica de acordo com a demanda. Sua forma de organização desarticula a
classe trabalhadora através da divisão da produção da gerencia científica, do
controle de qualidade e a suposta participação da “classe-que-vive-do-trabalho como
forma de cooptação” (ANTUNES, 2005).

[...] as consequências da reestruturação produtiva para a classe-que-vivedo-


trabalho são a intensificação da exploração da mão de obra a partir da
robotização, o trabalhador opera diversas máquinas ao mesmo tempo,
também o aumento da extração da mais valia, a exigência do funcionário
polivalente, desemprego estrutural, subcontratação e terceirizações
(ANTUNES, 2005, p.112).

No Brasil o bloco de poder instalado teve que se modificar gradualmente,


pois, não estava sendo fácil manter sua estabilidade hegemonia. A política de saúde
nacional enfrentou muitas tensões entre a ampliação dos serviços e as
disponibilidades de recursos financeiros, já que seu principal foco era acumular o
capital arrecadado e incentivar a iniciativa privada.
Baptista (2005) exprime que o baixo investimento na saúde pública frente ao
acelerado investimento na medicina previdenciária, ao mesmo tempo em que
acentuam desigualdades, avança-se no discurso universalizante da cobertura do
seguro social. Toda via, a clientela continua sendo o trabalhador urbano formalmente
inserido no mercado de trabalho com tratamento diferenciado entre categorias.
Segundo Bravo (2009, p. 95), o Ministério da saúde diante movimentos
contestatórios vindos dos trabalhadores, ‘retomou as medidas de saúde pública, que
embora de forma limitada, aumentaram as contradições do Sistema Nacional de
Saúde’.

20 Neste sentido em algumas fábricas os trabalhadores se organizaram passando a realizar


greves, piquetes, disputando a apropriação e o direcionamento do modo de produção, através da
ocupação de fábricas.
45

Machado, Lima e Baptista, concluem que:

As desigualdades socioeconômicas, com raízes no passado colonial, não


foram superadas pela modernização capitalista entre 1930 e 1980,
caracterizada pela industrialização em segmentos estratégicos, em geral
sob regimes autoritários, e escassa redistribuição social. A política de saúde
desse período foi marcada por trajetória dual, representada de um lado pela
saúde pública, direcionada para o controle de doenças específicas; e de
outro pela assistência médica previdenciária, estruturada em bases
corporativas, voltada para os trabalhadores do mercado formal urbano.
Outras características do sistema de saúde até o início dos anos 1980
foram: exclusão de parcela expressiva da população, pouca efetividade do
modelo de atenção e destaque do setor privado na prestação de serviços,
subsidiado pelo Estado (MACHADO; LIMA.; BAPTISTA, 2017, p 8)

Todavia, em 1970, houve um movimento de redemocratização da Saúde,


abrindo as portas para a construção do projeto da então conhecida Reforma
Sanitária Brasileira21, que segundo o ministério da saúde foi mola propulsora do
Sistema Único de Saúde (SUS), que por sua vez formalizou e ampliou a saúde como
direito humano para toda a população.
Nos anos 1980 no Brasil, o bloco militar- tecnocrático-empresarial, que
controlava o Estado, conforme Netto (1996) mantinha o controle social a partir dos
mecanismos de repressão, mesclados com a expansão de algumas políticas sociais,
porém o nível de questionamentos dos trabalhadores, do movimento estudantil e
demais movimentos sociais avançava na sua reorganização, lutando por garantias
de direitos, conquistando mais à frente a Constituição Federal de 1988, que
preconiza o Estado democrático de direito e cria mecanismo para a construção de
políticas públicas redistributivas a moda do Welfare State europeu.
Estas lutas vêm no sentido de reforçar os direitos fundamentais no que tange
a liberdade democrática, a luta por educação, moradia, saúde e assistência social.

Gallo e Nascimento (1989, p. 91) manifestam que a democracia e o


concomitante fortalecimento da autonomia da sociedade civil estavam obrigando as
elites brasileiras a mudar a forma tradicional com as quais estavam acostumadas a
manter e exercer seu poder.
Em 1988 ouve uma reorientação política e institucional da política de saúde
iniciada no final da década de 1970 com o movimento da reforma sanitária que
21 De acordo com Freitas (2007) o movimento de Reforma Sanitária foi um dos motivos que
resultou na Implantação do SUS, por fazer parte de um amplo movimento de redemocratização do
Brasil ocorrido no ano de 1986, na VIII Conferência Nacional de Saúde, onde ficaram estabelecidas
as grandes diretrizes para a reformulação do Sistema de Saúde Brasileiro.
46

nasceu no contexto da luta contra a ditadura. A expressão foi usada para se referir
ao conjunto de que se tinha em relação às mudanças e transformações necessárias
a área da saúde. Estas mudanças não abarcaram apenas o sistema, mas todo o
setor saúde em busca de melhoria das condições de vida da população.
Apesar das tribulações políticas e econômicas, as Conferencias de Saúde
continuaram sendo realizadas, buscando por seus ideais e fazendo jus ao seu plano
de estender cada vez mais os recursos públicos para o segmento saúde.
Em ordem cronológica o quadro abaixo estabelece as conferencias de
Saúde a partir da 4ª Conferência até a 7ª, datadas com seus seguintes temas:

Quadro 1 - Conferências de Saúde


CNS DATA TEMA

4ª 1967 Recursos humanos para as atividades em saúde.

5ª 1975 1. Implementação do Sistema Nacional de Saúde; 2. Programa de


Saúde Materno-Infantil; 3. Sistema Nacional de Vigilância
Epidemiológica; 4. Programa de Controle das Grandes Endemias; e 5.
Programa de Extensão das Ações de Saúde às Populações Rurais.
6ª 1977 1. Situação atual do controle das grandes endemias; 2.
Operacionalização dos novos diplomas legais básicos aprovados pelo
governo federal em matéria de saúde; 3. Interiorização dos serviços de
saúde; e 4. Política Nacional de Saúde.

7ª 1980 Extensão das ações de saúde por meio dos serviços básicos
Fonte: Serviço Social e Saúde (2009).

A saúde na década de 80 contou com a participação de novos sujeitos


sociais que ampliaram o debate que permeou a sociedade civil. A ‘saúde deixou de
ser interesse apenas de técnicos para assumir uma dimensão política, estando
estreitamente vinculada à democracia’ (BRAVO,2009, p. 95).
Conquistada pela população, sindicatos, associações, preocupados com a
saúde pública desenvolveram teses e integraram discussões políticas que teve como
marco a 8ª Conferência Nacional de Saúde realizada em 1986 (BRASIL, 1987, p.
382).
Essa Conferência Nacional de Saúde foi um divisor de águas para a história
da saúde no Brasil, pois forneceu as bases para elaboração do capítulo sobre saúde
47

na Constituição Federal de 1988 e, por fim, a criação de um sistema desenhado para


oferecer assistência à população por meio de ações de promoção, proteção e
recuperação da saúde, com a execução de ações assistenciais e preventivas de
modo a garantir às pessoas a assistência integral à sua saúde.
Dos sujeitos que entraram em cena nesta conjuntura, destacam-se os
profissionais de saúde defendendo o fortalecimento do setor público com questões
mais abrangente para com a melhoria da situação saúde, deixado de lado até o
corporativismo de suas áreas profissionais também estavam engajados nesta luta o
movimento sanitário, representado pelo Centro Brasileiro de Estudos de Saúde
(CEBES) como difusor e de ampliação de debates em torno da saúde e da
democracia.
Os partidos políticos de centro-esquerda também se posicionaram veemente
com seus programas e temáticas, viabilizando no Congresso um debate sobre os
movimentos sociais urbanos, expondo as articulações com outras entidades da
sociedade civil.
Sobre este processo de redemocratização do País:

O processo de redemocratização do país, na década de 80, com a


ampliação da organização popular e a emergência de novos atores sociais
produziu a ampliação das demandas sobre o Estado e desencadeou um
forte movimento social pela universalização do acesso e pelo
reconhecimento da saúde como direto universal e dever do Estado. O
Movimento da Reforma Sanitária reuniu atores diversificados em uma
batalha política pelo reconhecimento da saúde como um direito social, pela
universalização do acesso de serviços de saúde e pela integralidade da
atenção à saúde, na luta mais ampla pela construção da cidadania que
marcou o final do regime militar (CNS, 2003, p. 13).

O princípio deste movimento foi a crítica à concepção de saúde restrita a


dimensão biológica e individual, bem como a afirmação da relação entre organização
social, organização dos serviços de saúde e prática médica, tendo como fundamento
a determinação social da doença para se pensar o processo de trabalho em saúde.

As principais propostas giraram em torno da saúde como direito social e


dever do Estado, com a universalização do acesso, a reestruturação do setor através
da estratégia do Sistema Unificado de Saúde; um novo modelo visando à saúde
individual e coletiva, transferindo o processo decisório para as esferas estaduais e
municipais e, por conseguinte, democratizar o poder local (BRAVO, 2009).
48

O Ministério da Saúde, em amplo debate nos anos 60, aprofunda essa


concepção crítica de saúde em várias partes do mundo:

Durante a década de 60, o amplo debate realizado em várias partes do


mundo, realçando a determinação econômica e social da saúde, abriu
caminho para a busca de uma abordagem positiva nesse campo, visando
superar a orientação predominantemente centrada no controle da
enfermidade (CSN, 2002, p. 7).

Por conseguinte, essas conquistas somam o resultado da organização


social, que de acordo com o modelo de produção que vigorava que gerou grandes
desigualdades e insatisfações nos níveis de vida e de trabalho. Entretanto, o cenário
se tornou favorável para a extensão das ações que norteiam atuação do Estado,
passando assim ser mantenedor de direitos do cidadão a necessidade de um acesso
igualitário a todos os serviços que objetivavam a promoção, proteção e recuperação
da saúde, expressando assim uma mudança significativa no campo das políticas
públicas nacionais.
Portanto, a política de saúde é o resultado de um longo processo histórico e
econômico; sendo incorporado constitucionalmente a partir de 1988, estabelecendo
a saúde como um direito fundamental do ser humano, cabendo ao Estado de
garantir a saúde de forma igualitária e universal por meio de políticas econômicas e
sociais, resultando neste novo conceito o Sistema Único de Saúde (SUS).
Condicionado várias propostas como: as condições de vida, de trabalho e as
necessidades de acesso igualitário a todos os serviços que objetivam a promoção,
proteção e recuperação da saúde.
Tudo isso viabilizando as ações de saúde, devendo ser trabalhadas de forma
integrada para que a população tenha um alcance maior de qualidade de vida com
bem-estar físico, mental e social. Esses aspectos gerais foram estabelecidos através
da Lei Orgânica da Saúde de nº 8.080/90 que dispôs a primeira Lei Orgânica do
Sistema Único de Saúde (SUS). Tendo como intuito prestar atendimento igualitário-
através dos princípios ético-políticos e organizativos como a universalidade, a
integralidade e equidade- na assistência à saúde e por obrigatoriedade prestar
serviço público.
O Sistema Único de Saúde - SUS surgiu, portanto, a partir da insatisfação
quanto aos direitos à saúde da população brasileira, ou seja, para tal
49

descontentamento, profissionais da área de saúde, donas de casas e trabalhadores


em geral, uniram-se em busca de serviço sem forma de organização de um sistema
de saúde público que atendesse os inúmeros problemas os quais os cidadãos
passavam.
Dentro desta lógica, este sistema proporcionou avanços na área da saúde
enquanto direito de todos previsto pela Reforma Sanitária se aproxima da
necessidade de se garantir a qualidade de vida às pessoas, promovendo padrões da
dignidade humana, permitindo total acesso às ações previstas na saúde pública.
Porém, o SUS enfrenta grandes desafios como: a qualificação da gestão e do
controle social, o fortalecimento e a qualificação da Atenção Básica como estratégia
organizadora das redes de cuidado em saúde, as dificuldades no acesso às ações e
serviços de saúde, a fragmentação das políticas e programas de saúde, a
organização de uma rede regionalizada e hierarquizada de ações e serviços de
saúde, o reconhecimento da autonomia dos entes federados, entre outros.
Para o Ministério da Saúde:

Desse modo uma das suas metas mais significativas é continuar avançando
na consolidação dos princípios da transversalidade e intersetorialidade,
fundamentais para se reverter as tendências à fragmentação da ação
estatal, tanto na Saúde quanto nos demais setores. É importante que o
processo de qualificação da atenção integral das unidades de saúde avance
e se aprimore cada vez mais, se capacitando e se qualificando a oferecer à
população os serviços de saúde que realmente precisam e têm direito
(BRASIL, 2008).

Essas melhorias e avanços ampliou e consolidação as conquistas de saúde


pública brasileira “pautados em um projeto civilizatório na saúde, deixando de lado a
ideia de mercadoria, passando a ser vista como um bem comum, um direito de
todos” (BRASIL, 2008). Contudo, perante seus avanços, contradições, dificuldades e
desafios pode-se considerar uma grande conquista em meio ao ambibiente
neoliberal22 que estava posto desde a decadade 1970.

Entretanto na conjuntura atual brasileira, o retorno do conservadorismo de


extrema-direita “onde se vivencia um retrocesso do processo democrático; de
avanço do conservadorismo; desmonte das políticas sociais; diluição das fronteiras

22 O neoliberalismo remete à doutrina político-econômica formulada após a Segunda Guerra Mundial,


especialmente por Hayek e Friedman, partindo da crítica ao Estado de Bem-Estar Social e ao
socialismo a partir de uma atualização regressiva do liberalismo (ANDERSON, 1995)
50

entre público e privado, aspectos estes que evidenciam a ênfase em substituir os


direitos sociais por direitos econômicos com o discurso de “equilibrar as contas
públicas”– questões estas visíveis no Plano “Ponte para o Futuro”, na Emenda
Constitucional nº 95/2016, na Reforma Trabalhista, entre outros” (NUNES, 2018, p.
214-215).

2 HIV/AIDS: ORIGEM E SEUS DESDOBRAMENTOS E AS POLÍTICAS DE SAÚDE


PÚBLICA PARA AS PESSOAS VIVENDO COM HIV/AIDS

Este capitulo aborda o surgimento do virus e a doença, e os seus


desdobramentos após apresentar se como um fenômeno global, dinâmico e estável
na história da humanidade complilando para que medidas no rol das políticas
51

publicas se efetivassem a partir da emergencial necessidades dos assistidos e


reinvindicões dos movimentos sociais.

2.1 A Origem do HIV: natureza, contexto brasileiro e quantificação

Durante as duas primeiras décadas do século XX, o conjunto da população,


incluída nas classes assalariadas urbanas, dependiam do amparo social e da
filantropia. As prestações de serviço de saúde e amparo àqueles excluídos do
mercado de trabalho eram, portanto, concessões caritativas. A ação desenvolvida
pela igreja católica no campo social, principalmente no que se refere à saúde,
protelavam as acões direcionadas aos problemas de publicos. O Estado brasileiro
não tinha uma forma de atuação sistemática sobre a saúde de seus habitantes, o
que existiam eram formas esporádicas de atuação em situações de epidemias
(MERELES, 2018).
Ainda no seculo XX, por volta na década de 80 surgiu uma especie de virus
devastador, que na época causou muito impacto devido a sua periculosidade em
enfraquecer e consumir com celeridade o corpo humano evoluindo ao óbito.
Muitas foram as divergências sobre a origem desta enfermidade, seja de
onde e quando surgiu até a sua forma de transmissão. O vírus da Imunodeficiência
Humana (HIV), e Síndrome da Imunodeficiência adquirida (SIDA), ou também
conhecida pela sigla em inglês: AIDS; foi apontada por pesquisas que sua origem se
deu no continente africano, através da mutação de outro vírus encontrado em
macacos e que pelo contato íntimo desses animais com os nativos, quer por
arranhões e mordidas ou através da manipulação e ingestão de carnes de macacos
malcozida contendo em seus tecidos e fluidos (sangue e secreções) o possível vírus.
(GALVÃO, 2000).
O HIV pertence à família Retroviridae, sub-família Orthoretrovirinae, gênero
Lentivirus e ao sub-gênero dos Lentivírus dos Primatas. Existem dois tipos, o HIV-1 e
o HIV-2, e são ambos os agentes causa do síndroma da imunodeficiência adquirida
(SIDA)1, 2. A perturbação mais característica no sistema imunitário destes doentes é
a alteração, quantitativa e qualitativa, de linfócitos T CD4 + circulantes, que resulta
no aparecimento de uma marcada imunodeficiência (LORETO; PEREIRA, 2021).
52

De acordo com o Programa Nacional de Aids, em âmbito do Ministério da


Saúde (1999), a infecção pelo HIV começou a ser observada na metade do século
XX. Pesquisadores descobriram que alguns chimpanzés possuíam um vírus
parecido com o HIV, esse vírus foi chamado de Vírus da imunodeficiência Simiana
(SIV). A teoria é que, ao passar para os seres humanos, a SIV sofreu modificações
genéticas. Há diferenças entre o HIV e o SIV, principalmente em sua maneira de se
manifestar, diferenças genéticas quanto a sua estrutura, porém é importante
salientar que o HIV é uma derivação do SIV, logo se entende que a existência do
SIV é anterior a do HIV (PINTO; et al, 2007).

Parece não haver dúvidas quanto o caráter novo da pandemia mundial de


AIDS. Os primeiros casos foram detectados na África e nos Estados Unidos
e a epidemia passou a adquirir importância no decurso do decênio de 1980.
Não obstante, constitui ainda mistério a questão de sua origem. Admitindose
como correta a hipótese de que o vírus precursor, permanece sem
explicação plausível o mecanismo pelo qual isso teria ocorrido. E mais
ainda, porque após milhares de anos de coexistência de homens e primatas
no Continente Africano, somente agora se deu a emergência da infecção
humana pelo vírus aidético (FORATTINI, 1993, p.1).

Este relato da origem é admitido por diversos autores, somente a maneira da


transmissão que ainda permanece sem explicações plausíveis, entretanto, outras
teorias se sobressaíram sobre sua gênese, entre elas de que cientistas tentando
uma cura para a poliomielite teriam criado o vírus. A Vacina Oral Pólio, que teve em
seu criador Edward Hooper na defesa dessa teoria em seu livro The River,
defendendo a ideia de que o vírus teria sido criado a partir de diversas experiências
em laboratório feitas por médicos ainda nos anos 50 do século XIX.
De acordo com Galvão (2000), o HIV apesar de não ter sua real origem
confirmada e identificada, o que se tinha certeza era de que a enfermidade levava a
morte brusca e estava se alastrando pelo mundo, essa propagação pode ser
justificável, pelo fato da África ter sido uma rota fluvial para o comércio de
mercadorias durante décadas, levando em consideração que os primeiros casos
foram identificados mais ou menos década de 30 no Congo, assim juntando as
migrações interna e externas que ocorriam na África, é possível justificar o
crescimento e dispersão do HIV no mundo todo.
Os primeiros casos clinicamente detectados de contaminação do HIV em
outros continentes, foi no Continente Americano, registrados nos Estados Unidos.
53

Um grande número de indivíduos homossexuais adultos do sexo masculino com


Sarcoma de Kaposi, pneumonia e comprometimento do sistema imunológico. O vírus
começou a se alastrar e o que se sabia sobre ele era que as pessoas que se
infectavam com o Vírus tinham uma morte rápida. Estes fatores levavam a crer que
surgia uma nova enfermidade, ainda não classificada, porém de etnologia
provavelmente infecciosa, transmissível e fatal.
No início dos anos 80, a doença foi batizada nos Estados Unidos como a
síndrome da imunodeficiência adquirida (aids) e foi amplamente divulgada pela
mídia. O centro pesquisa de doença Norte Americano considerou a síndrome uma
infecção e divulgou que ela atacava principalmente gays, hemofílicos e usuários de
drogas.
Em 1986, a Organização Mundial de Saúde recomendou o termo HIV para
denominar esse vírus, reconhecendo-o como capaz de infectar seres humanos. O
HIV é um retrovírus humano que tem a capacidade de infectar linfócitos (células de
defesa) através dos seus receptores CD4 23. Com isso, a pessoa fica vulnerável a
várias doenças, neste momento em que a pessoa com HIV passa a ter sintomas do
vírus e as doenças oportunistas se instalam, ela passa a ter AIDS, que é a doença
derivada do vírus HIV, é o que pode levar o doente de AIDS à morte.
Segundo o Ministério da Saúde (2013), ficou constatado que ter o HIV não é
a mesma coisa que ter AIDS. Existe muitos soros positivos que vivem anos sem
apresentar sintomas e sem desenvolver a doença, porem podem transmitir o vírus
para outros, por relações sexuais desprotegidas, compartilhamentos de seringas
contaminadas, e de mãe para filho durante o parto ou pela amamentação. A AIDS
(Síndrome da Imunodeficiência Humana), é uma doença do sistema imunológico
humano causado pelo vírus HIV, que reduz progressivamente a eficácia do sistema
de defesas do corpo e deixa as pessoas suscetíveis a qualquer e todo tipo de
infecção ditas oportunistas, neoplasias secundárias e doenças neurológicas.
A diferença entre portador do HIV e o paciente com Aids é que o primeiro
geralmente está em condição de assintomático, ou seja, não apresenta sintomas
característicos da síndrome. O segundo, ao contrário, já apresenta alguns sintomas
relacionados à queda de imunidade. Desde o surgimento do HIV/Aids, serias
preocupações assolaram as autoridades, fazendo com que a sociedade civil e órgão

23 Receptores presente nos linfócitos T – auxiliares ao qual o HIV se liga para infectar a célula.
54

públicos de saúde, voltassem a tenção para esta nova doença que condicionava
suas vítimas a morte certa.
Após vários casos serem identificados pelo mundo todo, a doença começou
a ser preocupante, e logo foi criada a I Conferência Internacional sobre o vírus e a
doença, efetivada em Atlanta nos EUA em 1985. Neste encontro foram discutidas
algumas políticas para o enfrentamento da epidemia, de que forma ela poderia ser
combatida, quantas pessoas já haviam contraído, e se por ventura poderiam ter
qualidade de vida após a contaminação.
Este contexto no qual se formalizou o vírus tornou-se um marco na
humanidade, pois se apresentou como um fenômeno global, dinâmico e estável, que
cuja ocorrência nas diferentes regiões não respeitava padrões dos quais a priori se
delimitavam a incidência do vírus. “Inicialmente a Aids foi considerada uma doença
que atingia, preferencialmente, a população de homossexuais masculinos, o que foi
unanime nos artigos e livros de vários autores consultados” (PINTO et al, 2007, p.
47).
Durante essa repercussão da epidemia como sendo característica de um
grupo isolado de pessoas, das quais eram discriminadas pelos comportamentos de
cunho sexual (prostitutas, homossexuais, bissexuais) ou sociais (dependentes
químicos), permitiu que essa categorização de que havia um grupo isolado para o
contagio fosse decisiva para o perfil estigmatizado, e consequente proliferação
devastadora do vírus pelo mundo. Diante disto a chamada desde então de
Pandemia, tornou – se um ícone de grandes questões que atingem o planeta, como
direitos humanos, qualidade de vida, políticas de medicamentos, propriedade
industrial (PINTO et al, 2007, p. 45).
De acordo com o Ministério da saúde (2013), A aids mesmo passando dos
32 anos de existência no Brasil, em 2013 ainda representava um dos maiores
problemas de saúde pública até o momento, por ter perfil pandêmico e por sua
gravidade, mesmo os avanços tecnológicos na área como: órgãos de saúde pública
especializados na doença, medicamentos antirretrovirais gratuitos, exames, teste
rápidos, etc. a doença tem sido a mais devastadora para a humanidade e
responsável por mudanças significativas em outros aspectos da vida e da sociedade.

Sendo responsável por mudanças significativas em outros campos que não


somente a saúde, principalmente por combinar comportamento sexual e
55

doença, a aids acarretou desafios para a área cientifica, trouxe novos atores
para os movimentos sociais e atinge pessoas em proporção geométrica,
sem distinção social, econômica, cultural e política (PINTO et al, 2007, p
45).

Dados da Unaids24 revelam que desde o começo da epidemia até 2017, 77,3
milhões de pessoas haviam contraído o vírus; e entorno de 35,4 milhões morreram
por causas relacionadas a Aids. Em 2014 a doença chegou a ser a 4º causa de
mortalidade no Brasil, porém hoje devido a ampliação do acesso aos medicamentos
e redução do tempo entre diagnósticos e início do tratamento, contribuiu para que o
Brasil se deslocasse deste ranking (Brasil,2018). Toda via, o vírus se instalou na
sociedade e os infectados ultrapassam os milhões, segundo as estatísticas globais
da Unaids, desde o início da epidemia até 2019 foram ao todo74,9 milhões de
pessoas foram infectadas (UNAIDS, 2019).
O gráfico a abaixo exterioriza o crescimento acentuado do vírus/doença
desde os anos de 1990 a 2010.

Gráfico 1 - Quadro evolutivo da Aids no Mundo (1990 a 2010)

Fonte: Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS)

24 Estas estatísticas estão disponíveis na página da UNAIDS que são atualizadas de seis em seis
meses contendo relatórios e informativos recentes do Ministério da Saúde para dados nacionais >
https:// unaids.gov.br/estatísticas/ > acesso: 15/09/2019.
56

É muito importante lembrar que o HIV não possui cura, porém, existem a
possibilidade de tratamento disponíveis para as pessoas vivendo com HIV/aids. O
diagnóstico precoce possibilita uma qualidade de vida melhor e mais chances de
manter o vírus indetectável, diminuindo os quadros de evolução para a aids,
diminuindo a carga do vírus no corpo e dificultando a transmissão a terceiros.
Dados globais da Unaids (2019) concluem que desde 2010 a 2018 houve
uma diminuição de 16% dos números de infecções no mundo, tudo leva a crer que
essa austeridade ocorre devido o crescente alcance da terapia antirretroviral pelas
pessoas que vivem com o vírus, porém os dados revelam o quão longe está do
alcance dos números totais de pessoas infectadas no planeta.
Gráfico 2 – Demonstrativo do progresso da doença

Fonte: estimativa do UNAIDS (2019)


Segundo a Unaids (2019) a realidade estava em 36,7 milhões de pessoas
vivendo com HIV/AIDS (PVHA) com uma estimativa de somente 30% em tratamento,
como retrata o gráfico abaixo.
Gráfico 3 – Número de pessoas vivendo com AIDS em terapia antirretroviral,
globalmente (2010-2016)
57

Fonte: Global AIDS, response, progress reporting (GARPR) 2016

No Brasil nos anos 80 não se sabia muito bem sobre o que era a Aids e nem
que em breve se tornaria a epidemia mais violenta do século. A Aids veio em um
momento do auge do movimento gay e muitos acreditavam que essa doença seria
uma invenção para tolher tal liberdade, afirmava –se também, devido as repressões
da época da ditadura militar, que não passava de mais uma estratégia para frear
esse grupo determinado da sociedade.
Com a queda da Ditadura Militar houve o período de redemocratização
brasileira, a volta dos exilados, liberdade de expressão, liberdade no prazer, de
realizações. Esse clima de abertura trouxe um tom quase que festivo ao País e por
esse viés era impensável que qualquer um poderia se familiarizar com a rotina da
morte, o tema também era tratado com muita grosseria pelo estigma que trazia e o
saldo deste contexto foi de centenas de pessoas contaminadas e quem viu de perto
o que era a aids e o destino que ela levava tiveram a bravura de se somarem a luta.
Esta luta veio muito forte do movimento gay, primeiro nos EUA irradiando para Brasil
dando origem as primeiras Ongs voltadas para a doença e para o bem da trajetória
aids.
No período de 1980 até julho de 2019, foram detectados 966.058 casos no
Brasil, contudo a notificação compulsória do HIV só começou em 2014, o que
impede uma análise epidemiológica mais rigorosa com relação as tendências da
infecção (BRASIL, 2019). A partir do ano de 2012 observou-se uma diminuição na
58

taxa de detecção da doença, pois segundo o Ministério da Saúde (2019), essa


redução teria ocorrido devido a recomendação do “tratamento para todos” 25
implementada em dezembro de 2013. Como a notificação da infecção pelo HIV
ainda está sendo absorvida pela rede de vigilância em saúde, também não são
calculadas as taxas referentes a esses dados.
Desde o início da oferta dos antirretrovirais no SUS até 2017, 313 mil pessoas
foram incluídas no tratamento. Com o novo protocolo, o Ministério da Saúde
disponibilizou os medicamentos a mais 100 mil pessoas até 2014, isso significa um
aumento de 32% no número de pacientes vivendo com HIV com acesso aos
antirretrovirais, porcentagem ainda ínfima para a quantidade de infectados.
O gráfico a seguir expõe as notificações por ano desde 2011 até 2016. A partir
da notificação compulsória em 2013 verificamos que o número de contaminados
triplicou até 2016 e que segundo o boletim epidemiológico anual do Ministério da
Saúde (2019), a subnotificação é um grande desafio para saúde pública no Brasil.
Gráfico 4 – Notificações de HIV no Brasil 2011- 2016

Fonte: Departamento de IST, AIDS e hepatites virais (2016)

A expansão da oferta do tratamento foi acompanhada pelo fortalecimento da


produção nacional de medicamentos, após a quebra de patente da medicação por se
tratar de interesse público26. A primeira medida compulsória do governo brasileiro

25 Medida inovadora representa aumento de 32% no número de pacientes atendidos com


antirretrovirais no país. Ministério dá início a estudo-piloto para uso de profilaxia pré-exposição com
oferta de medicamentos a pessoas não
infectadas>http://www.aids.gov.br/pt-br/noticias/ministerioda-saude-estende-tratamento-para-
todos-com-hiv> acesso: 04/02/2020.
26 Decreto nº 6.108, de 4 de maio de 2007, concede licenciamento compulsório por interesse
público www.planalto.gov.br
59

garantiu a redução de 72% no preço pago pelo medicamento. Atualmente, o Brasil


fabrica 100% da medicação, apresentando hoje uma economia de 258 milhões aos
cofres públicos (BVS, 2021)

Desde 1996, o Brasil distribui gratuitamente pelo SUS (Sistema Único de


Saúde) todos os medicamentos antirretrovirais. Desde 2013, o SUS garante
tratamento para todas as pessoas vivendo com HIV, independentemente da
carga viral. Esta semana, foi noticiada uma novidade no tratamento do HIV
no Brasil: o medicamento Duplivir (fumarato de tenofovirdesoproxila +
lamivudina) começará a ser totalmente fabricado pela Fundação Oswaldo
Cruz (Fiocruz) no Rio de Janeiro (BVS, 2021).

Nesta perspectiva de avanço no combate à epidemia no Brasil, entende –se que


está epidemia rodeia fatores que estão além da luta para o acesso da medicação, o
tratamento esbarra em uma série de fatores sociais, morais, culturais, psicológicas,
comportamentais, dietéticas, que na adesão ao tratamento em sua maior amplitude
demanda decisões significativas no percurso dessas vidas.
Tem - se na adesão ao tratamento no seu conceito mais amplo um aliado
significativo, pois não basta agregar estratégias para o combate ao vírus e a doença
sem também manter os devidos cuidados para a manutenção e continuidade dos
mesmos pelas pessoas vivendo com o vírus.
A chamada adesão é uma linguagem normativa hospitalar, porém com uma
carga de conteúdo denso, que revela toda uma correlação de conceitos; conceitos
estes que estão ligadas à política pública, ao acesso, aos gastos públicos,
territorialidade, prática profissional, etc.
Parte-se do entendimento de que o processo de adesão ao tratamento,
quando investigado integralmente, também revela as formas de relação que o
usuário estabelece com a sociedade, com os outros e consigo próprio. O processo
de adesão constitui também um desvelador do modo de como as pessoas com
HIV/aids estabelece suas relações de gênero e de orientação sexual (MALUF;
KAHHALE, 2010).
Brasil (2008), ressalta que a adesão não é condicionada apenas pelas
iniciativas dos usuários, e coloca a importância do acolhimento no processo de
adesão como um fator indispensável para a troca de informações e criação de
60

vínculos, para que se possa aproximar cada vez mais ao usuário, e dando-lhes a
devida atenção conforme suas necessidades.

A adesão muitas vezes é considerada um fenômeno que se limita ao


paciente. Existem vários fatores que afetam a adesão, incluindo aqueles
reativos a equipe de saúde, aos profissionais e ao local onde a pessoa
realiza seu tratamento. O acolhimento ao paciente possibilita a criação
possibilita a criação de vínculo com os profissionais, e a equipe e o serviço
de saúde (BRASIL, 2008, p. 22).

A adesão satisfatória é um processo complexo instaurado mundialmente, é


uma a Luta constante pela manuntenção da vida e seus condicionantes para que
essas pessoas possam usufruir de melhores espectativas de vida e saúde em
respeito a digndade da pessoa humana, principio máximo do estado democratico de
direitos que visa condições necessarias para que uma pessoa viva em condiçoes
dignas, respeitando seus direitos, deveres e suas questões de valores morais, sendo
respeitado inclusive em questões de cunho pessoais.

2.2 A Consolidação do estigma da Aids e Repercursão como Problema de


Saúde

Assim que o vírus e a doença surgiram no bojo da população nos EUA,


circulou informação de que a doença se apresentava somente em uma parcela
minoritária da sociedade, eram eles os hemofílicos, usuários de drogas e
homossexuais. Esta análise precipitada e restrita permitiu avaliar as inúmeras
contaminações que ocorreram na sociedade a partir destas colocações, pois ao
longo dos anos está enfermidade foi divulgada como uma doença moral;
possibilitando fazer uma ponte sobre os reflexos de como as regras e os
preconceitos se imbuíram até os dias de hoje.
No início da repercussão sobre o vírus e a doença, houve uma
representação social desta enfermidade, que diante dos bombardeios das
informações circuladas, a doença estaria vinculada com os valores e a moral em
virtude de que estaria ligada a um padrão de vida desregrada e promiscua, pois, na
sua grande maioria de infectados estavam os homossexuais; portanto uma
convergência entre a sexualidade e a sodomia logo se instituiu. A Aids foi designada
61

e conhecida como o “Câncer Gay”, visto que as práticas homossexuais foram alvos
de identificação dessa enfermidade.
A constatação rasa do perfil dos acometidos residia em um problema
chamado “grupos de riscos”, criadas no começo dos anos 80, segundo o mesmo
autor. Essa identificação residiu também em um problema social, visto que, serviu
para demarcar indivíduos que apresentavam um “perigo social” e, por conseguinte
tornou-se conjuntamente um fator de segregação social. Este pensamento contribuiu
para que o vírus do HIV se alastrasse entre a população que não se identificavam
com esta categoria de risco.
Gallo (2012), demarca em sua 20º edição do livro Ética e Cidadania, que a
história da aids poderia ser traçada em duas partes, referindo-se sobre os rumos que
infelizmente a epidemia seguiu, podendo ter tomado um outro caminho menos
segregado. Porém quase dez anos depois de limitar o vírus a um grupo específico
de pessoas, um jogador de basquete norte americano, foi um divisor de águas na
história social da aids, Magic Johnson, por sinal muito famoso na década de 90,
anunciou publicamente viver com o vírus HIV, o impacto foi grande pois o jogador
servia de modelo de saúde para os jovens americanos.

Numa entrevista publicada pelo jornal folha de São Paulo em 24/11/1991,


Magic disse: “Agora estamos falando sobre a vida e a morte... para mim, a
Aids era uma doença de gays e usuários de drogas, não de uma pessoa
como eu” (GALLO,2012, p. 72).

A percepção social que Magic tinha sobre a doença era a mesma que
circulava entre a sociedade em geral, era de que ele não faria parte do “grupo de
risco”, ou seja, seria imune ao vírus já que não se enquadrava no perfil
estigmatizado. O atleta era um representante legal da forma de como se pensava a
epidemia, cheia de regras e preconceitos.

Tal marca – a transmissão pelo sexo – fez do HIV ainda mais do que a
possibilidade de contrair uma doença mortal para o físico. Tornou-o o vírus
de uma doença moralista, em que os infectados eram excluídos e
ridicularizados. Uma doença de conotação moralista só poderia ter criado
um padrão de preconceito bastante alto, principalmente com profissional do
sexo, homossexuais e travestis (BARBARÁ, 2005, p. 32).

Essa representação social da Aids como a doença que levava a morte


aqueles que tinham uma vida promiscua, desordenada na esfera de sua
62

sexualidade, serviu para edificar discursos morais embasados em argumentos


científicos, já que, a Aids era um problema dos perversos, quem não se enquadrava
a este grupo restrito estaria eximido, e esse foi o grande perigo do HIV/Aids, que
silenciosamente de forma rasteira foi tomando todo os países e continentes.
Após esse anúncio público do jogador, era de se esperar especulações
sobre a vida sexual do ídolo, sobre ele ser bissexual ou homossexual ou até mesmo
usuário de entorpecentes, mas logo ficou claro que o vírus não respeitava código
morais, não obedecia a determinantes linguísticos, não se detinha em nomeações.
Este episódio colocou a sociedade em sobreaviso, gerando preocupações em torno
da transmissão e o medo principalmente pela ausência de cura.
O processo de estigmatização do HIV e da aids acompanhou três fases de
avanço da pandemia: disseminação silenciosa e imperceptível do vírus;
aparecimento dos sintomas de doença infecciosa; epidemias sociais, culturais,
econômicas e políticas relacionadas a Aids, caracterizada por reações carregadas
de estigmas, discriminação e por vezes, repulsa da coletividade.
Kahhale (2010) afirma que ainda pela sua história a Aids marcou
significativas diferenças entre as outras doenças graves, como o câncer ou outros
agravos a saúde sem cura em tempos remotos, como a peste bubônica, a
hanseníase e a sífilis. Porém, nenhuma dessas doenças teve consequências tão
devastadoras, no âmbito social e político, em um tempo tão relativamente curto, era
muito mais que uma doença, era um fenômeno social.
A suposta seletividade da doença determinou um modo de vida ao qual
acarretava punições, ditas até como “castigo de Deus” sobre os imorais, entretanto
para o espanto de todos a abrangência da doença encontrou nos heterossexuais um
álibi perfeito para que os argumentos construídos fragmentassem.

Em 1983 a Aids chega ao Brasil, e se deparou com um cenário onde os


movimentos sociais estavam aflorados.

Obviamente, a infecção atingiu o Brasil com toda sua força, porém não
podemos negar um diferencial. O tratamento da Aids no Brasil ganhou uma
atenção especial em função das organizações da sociedade civil que
ajudaram a organizar e viabilizar políticas públicas especificas e um
combate e prevenção especiais (KAHHALA,2010, p.27).
63

O movimento social que se contrapôs a aids no Brasil foi o da comunidade


gay, pois era uma doença que estavam os afetando direta e indiretamente, enquanto
estavam invisíveis aos eixos das políticas públicas, eles se apoiavam entre si e
começaram a discutir possibilidades para o enfrentamento pois apesar de que a
morte é um processo natural era muito assustador se familiarizar com o que estava
acontecendo âmbito da epidemia.
No cenário da pestilência haviam os que eram chamados de “coitadinhos da
aids” e os “bem feito”. Os coitadinhos eram os hemofílicos que foram contaminados
em torno de 90% desta população, todos pelas transfusões de sangue visto que os
fluidos que recebiam eram compostos por mais de dez doadores diferentes, e quem
é doador de sangue, o que se acredita é que sejam pessoas saudáveis para tal,
porém muitos não sabiam mais já estavam vivendo com HIV. Os “bem feito”
geralmente foram os homossexuais, os usuários de heroína, os profissionais do
sexo, e cada vez mais o vírus circulava sem procedentes, porque era sempre a
doença do outro, até o saldo da doença se tornar desfavorável para o ser humano.
Segundo Tardelli (2013), militantes do movimento homossexuais cobraram
providências da Secretaria de Estado e Saúde de São Paulo em relação a nova
epidemia; e a Secretaria de Estado de saúde cria o programa de controle e
prevenção de Aids de São Paulo. Foi também criado o disque-Aids, que foi o
primeiro serviço telefônico na América Latina para tirar dúvidas da população sobre a
doença; e o Estado passa a notificar compulsoriamente a doença 27.

Dois aspectos merecem destaque nesta fase inicial: a articulação orgânica


da vigilância epidemiológica ao atendimento aos casos, definindo critérios
para diagnósticos e fluxos de informação. E a presença atuante do
movimento social organizado, particularmente do movimento gay
(KAHHALA, 2010, p.30).

O Sistema Único de Saúde (SUS) é um dos maiores e mais complexos


sistemas de saúde pública do mundo, abrangendo desde o simples atendimento
para avaliação da pressão arterial, por meio da Atenção Básica, até o transplante de
órgãos, garantindo acesso integral, universal e gratuito para toda a população do
país. Com a sua criação, o SUS proporcionou o acesso universal ao sistema público

27 O Estado de São Paulo passa a notificar compulsoriamente os casos de aids e não de


HIV, que só passará a ter notificação compulsória a partir de 2014 segundo boletim epidemiológico de
HIV/aids,2019.
64

de saúde, sem discriminação. A atenção integral à saúde, e não somente aos


cuidados assistenciais, passou a ser um direito de todos os brasileiros, desde a
gestação e por toda a vida, com foco na saúde com qualidade de vida, visando a
prevenção e a promoção da saúde (BRASIL, 2013).
O SUS possibilitou a ampliação do olhar para a coletividade e, com isso
também mudou o olhar e as ações para as práticas e os serviços. Segundo o
Ministério da Saúde os princípios do SUS são a: Universalidade; Integralidade e
equidade.
“A Lei nº 8.080 de 19 de setembro de 1990, nomeada como a Lei Orgânica
da Saúde. Lei nº 8.080/90 regulamenta a Constituição Federal de 1988 e é a
primeira Lei Orgânica do SUS. A Lei dispõe sobre a promoção, proteção
recuperação da saúde e a organização e o funcionamento dos serviços
correspondentes. O primeiro artigo da Lei Orgânica faz uma referência ao
artigo 196 da Constituição Federal:
Art. “1º Esta lei regula, em todo o território nacional, as ações e serviços de
saúde, executados isolada ou conjuntamente, em caráter permanente ou
eventual, por pessoas naturais ou jurídicas de direito Público ou privado”
(BRASIL, 2018).

Cabe ressaltar que após a criação do Sistema Único de saúde, não cobria
nem um terço do que os acometidos pelo vírus e a doença necessitavam, pois até a
medicação que era a principal forma de contenção do vírus não era do alcance de
praticamente ninguém, segundo Bravo (2009):

As questões centrais sobre o financiamento do novo sistema ficaram pouco


definidas, não tendo sido estabelecido um percentual sobre os orçamentos
dos quais se origina. Com relação aos medicamentos, há apenas uma
alusão à competência do sistema de saúde para fiscalizar sua produção
(BRAVO, 2009, p. 98).

A Constituição Federal apesar de introduzir avanços que buscassem corrigir


as históricas injustiças sociais acumuladas durante séculos, foi incapaz de realmente
universalizar direitos, tendo em vista a grande exclusão que as pessoas com o vírus
e a doença passaram e ainda passam. Pois segundo Bravo (2009), a saúde ainda
continuou em ser de artifício para o capital. A Assembleia Constituinte, com relação
a saúde, transformou-se em uma arena política em que os interesses se
organizaram em dois blocos antagônico, de um lado os grupos empresariais, sob a
liderança da Federação Brasileira de hospitais (setor privado), da associação de
Indústrias Farmacêuticas (Multinacionais), versos as forças promulgadas pela
reforma sanitária (atores dos movimentos sociais).
65

Porém considerando que o HIV/aids aportou no Brasil no início da década de


1980, período de intensa mobilização política e social, as respostas iniciais à
epidemia deram-se de formas diversas em diferentes estados brasileiros e
parecenos que a tomada de decisão do Governo Federal em assumir oficialmente ao
HIV/aids como um problema de saúde pública, resultou de pressões de Estados e
municípios onde a epidemia crescia, da mídia nacional e de grupos militantes que se
formaram inicialmente junto às respostas oficiais. E essa reflexão pode ser
observada no eixo das políticas públicas, o qual retratou claramente as respostas
políticas dos diversos agentes sociais no Brasil.
A sociedade, por meio das ONG, mídia e outros grupos organizados,
considerando o período em análise, passou a exercer importante função na
formulação das políticas públicas com relação à aids no Brasil. As exigências dos
militantes do movimento pelos direitos homossexuais, da mídia noticiando infecções
e morte de pessoas públicas assim como a falta de informação da doença, tornado o
medo inevitável, culminou com a iniciativa do Ministério da Saúde, neste mesmo ano
da criação do SUS, o fornecimento de medicamentos para o tratamento das
infecções oportunistas relacionada a Aids e no ano seguinte deu início a distribuição
gratuita do AZT28, entretanto em escala limitada, somente no Estado de São Paulo.
Apesar da expressa agitação pela visibilidade que o vírus havia tomado, houve um
paulatino e restrito avanço, que, por fim, em 1991 o Ministério da saúde começa a
distribuir medicamentos antirretrovirais (ARV) para alguns pacientes.
E essas conquistas somavam a mais exigências pois as necessidades
estavam longe de serem solucionadas, essa imposição foi se fortalecendo na
primeira década da epidemia no país, à medida que a sociedade também se
fortalecia diante do processo de participação, pressão e cobrança de seus direitos.
Como reforça Bravo (2009), ‘que nos anos 80 a saúde deixou de ser
interesse apenas dos técnicos para assumir uma dimensão política, estando
estreitamente vinculada à democracia; porém, apesar da Carta Magna Brasileira de
1988 assegurar a saúde enquanto direito universal a ser garantido pelo Estado’, a
ampliação desses direitos não incluiu a parcela da população convivendo e vivendo

28 Primeiro medicamento a ser utilizado no tratamento de pacientes com infecção causada


pelo HIV/Aids. O composto farmacológico funciona como uma droga antirretroviral. Também é
conhecida como Zidovudina e Azidodotimidina (Tardelli, 2009, p125).
66

com HIV/aids, que ainda se deparou com a realidade desigual e excludente do


acesso ao Sistema Único de Saúde (SUS).
Somente 4 anos depois da aprovação do SUS, mesmo com toda a urgência
que a aids mostrava, só em 1992 o Ministério da Saúde inclui os procedimentos para
o tratamento da aids na tabela do SUS e o credenciamento de hospitais para o
tratamento de pacientes com AIDS (TARDELLI, 2013).
Em 1996, foi o marco para as pessoas vivendo com o HIV/Aids, o Congresso
Nacional aprovou a Lei 9.313/96, que dispõe sobre a obrigação do Estado em
distribuir de forma universal e gratuita os medicamentos para o tratamento dos
acometidos pelo HIV/aids.

Art. 1º Os portadores do HIV (vírus da imunodeficiência humana) e doentes


de AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) receberão,
gratuitamente, do Sistema Único de Saúde, toda a medicação necessária a
seu tratamento.
§ 1° O Poder Executivo, através do Ministério da Saúde, padronizará os
medicamentos a serem utilizados em cada estágio evolutivo da infecção e
da doença, com vistas a orientar a aquisição dos mesmos pelos gestores do
Sistema Único de Saúde.
§ 2° A padronização de terapias deverá ser revista e republicada
anualmente, ou sempre que se fizer necessário, para se adequar ao
conhecimento científico atualizado e à disponibilidade de novos
medicamentos no mercado.
Art. 2° As despesas decorrentes da implementação desta Lei serão
financiadas com recursos do orçamento da Seguridade Social da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, conforme regulamento
(BRASIL,1996).

O SUS tem como conceito básico, como já havia citado, a universalização do


atendimento à saúde, sendo este regido por mais duas outras leis como a: Lei
8080/90 que trata do atendimento e a Lei 8142/90 que regularizou a participação da
sociedade na fiscalização do sistema. Sobre o SUS Vasconcelos (2003, p. 77)
enfatizou que ‘[...] é o ganho mais significativo para os diferentes segmentos da
classe trabalhadora, sobretudo os não vinculados formalmente a previdência’, que
no âmbito da AIDS é bastante significativo essa afirmação.
Porém o descaso e exclusão do Sistema Único de Saúde em detrimento a
essas pessoas vivendo com o vírus e a doença, foi evidente. Os usuários através de
continuas lutas, junto com os movimentos sociais buscaram incessantemente serem
vistos, travando uma batalha não só contra o mal que consome sua vida, mas contra
o doloroso processo de segregação, descriminalização e da indiferença que
67

imperava diante das pessoas vivendo com o HIV/AIDS. Em geral, como todas as
inúmeras insatisfações e reinvindicações, essa também conseguiu dar voz as
pessoas vivendo com o vírus e a doença, possibilitando impelir para que suas
necessidades fossem reveladas e atendidas.
A identificação da Síndrome da imunodeficiência data desde 1959 no Congo,
depois em 1981 nos Estados Unidos, chegando ao Brasil no mesmo período, porém
só foi datado em 1982 na Cidade de São Paulo; a repercussão foi tão alarmante
quanto sua ligação com a morte, mas na percepção parcial das pessoas era que a
Aids estava longe de seus lares e invisível aos olhos pelos códigos e valores
enraizados.
Apesar da infecção ter sido amplamente notificada como epidemia global
pela mídia, não houve política públicas que assegurassem o mínimo necessário para
os então chamados de soropositivos 29, um caso famoso e muito repercutido foi o
caso Tardelli30.
Neste período havia um modelo de privilegiamento do setor privado com
fortes características de apropriação financeira, que já vinha se instalando desde a
ditadura militar. Segundo Bravo (2009, p. 93), dizia o governo que a ‘saúde
precisava assumir características capitalistas’, com a inserção de tecnologias, com a
articulação do Estado com interesses do capital internacional através das industriais
farmacêutica, equipamentos hospitalares, através de práticas médicas orientadas
pela lucratividade do setor saúde, privilegiando quem era detentor desses produtos e
serviços e também com a ampliação da cobertura da previdência de forma a
abranger a quase totalidade da população urbana, depois incluindo a população
rural, trabalhadores autônomos e empregados domésticos.

A política nacional de saúde enfrentou permanentemente tensão entre a


ampliação dos serviços, a disponibilidade dos recursos financeiros, os
interesses advindos das conexões burocráticas entre os setores estatal e
empresarial médico e a emergência do movimento sanitário. As reformas
realizadas na estrutura organizacional não conseguiram reverter a ênfase da
política de saúde, caracterizada pela predominância da participação da

29 Ser soropositivo ao HIV, o agente causador da AIDS, significa ter estado em contato com o
vírus e estar infectado por ele. Ver
<https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2001/010525_aidetico.shtml.> 30Roseli Tardelli, narra em seu
livro: “O valor da Vida”, a batalha travada após seu irmão ter contraído a infecção, as dificuldades e o
preconceito advindos da estigmatização da doença, a falta de informação e o descaso nas políticas
públicas, trouxe em evidencia as inúmeras dificuldades, na dimensão política da saúde com
problemas estruturais aprofundados.
68

previdência social, através das ações curativas, comandadas pelo setor


privado (BRAVO, 2009, p. 95).

Muitos vieram a óbito no decorrer dos anos desde que a doença surgiu,
incluindo figuras públicas da época (artistas, atletas, cartunistas, etc.) o que fez
tornar a visibilidade do problema de forma mais acentuada e aos poucos o governo
foi se posicionando e sancionando leis que assegurariam o acesso aos bens e
serviços da saúde pública para as pessoas vivendo com o vírus e a doença.
Fortes barreiras foram rompidas, devido a impassibilidade do Estado com
suas políticas públicas de saúde, que já eram realidade; entretanto ainda assim não
se faziam presentes diante as particularidades dos usuários do Sistema Único de
Saúde. Em 1997 houve uma redução expressiva na mortalidade de pacientes com
aids no país, principalmente pela distribuição gratuita de medicamentos e
implementação da Rede Nacional de Laboratório para o monitoramento de pacientes
com HIV em terapia com antirretroviral, com a realização de exames de carga viral e
contagem de células CD4. “[...], a aids assumiu característica de doença crônica, em
especial nos países onde o acesso aos medicamentos é efetivamente garantido”
(BAER, ROBERTS, 2002; BRASIL, 2008; WU, 2000 apud BRASIL, 2008, p.13).
Inicialmente, a aids foi considerada uma doença que causava a morte em
um processo vertiginoso, atingia preferencialmente a população de homossexuais
masculinos, o que foi unânime nos artigos e livros de vários autores consultados. Em
relação, no entanto, à situação descrita, muitos boletins epidemiológicos ao longo
desses anos nos mostram que a realidade mudou e é a partir deste ponto que vale
ressaltar os caminhos percorridos.
Segundo uma pesquisa30 descritiva, com caráter documental, que utilizou
como fontes os artigos das bibliotecas virtuais e livros, num total de 34 referências
no período de novembro a dezembro de 2006, o estudo da epidemia levou em
consideração aspectos envolvidos desde o seu surgimento no Brasil, na década de
1980, antes como uma doença de homossexuais e hoje com progressivos casos de
transmissão heterossexual.

30 Pesquisa sob o tema: Compreensão Da Pandemia Da Aids Nos Últimos 25 Anos. Autores:
Agnes Caroline S Pinto, Patrícia NC Pinheiro, Neiva FC Vieira, Maria Dalva S Alves. O estudo levou
em consideração aspectos envolvidos desde o seu surgimento do HIV/Aids no Brasil, na década de
1980,
69

Ao analisarmos os casos de aids por categoria de exposição, a população


de homens que faziam sexo com homens foi a mais atingida no início da
epidemia, chegando a apresentar cerca de 50% dos casos. Já na década de
1990, observou-se uma estabilização nesta categoria, representando,
proporcionalmente, 18% dos casos” (PINTO, et al 2007, p. 47).

Em contrapartida, nesta mesma década, observou-se o crescimento


progressivo dos casos de transmissão heterossexual, segundo os autores acima,
atingiu no ano de 1999, 32% dos casos. E hoje, no século XXI, os dados do Boletim
Epidemiológico só vêm confirmar que a transmissão heterossexual masculina vem
aumentando, de forma que em 2005 foi registrado o maior percentual dessa
categoria, com 44,2% dos casos.
O gráfico A traz uma proporção de casos de aids em jovens de 15 a 24 anos,
parcela considerada sexualmente ativa, evidenciando o aumento nos casos
heterossexuais desde 1990 até 2010, não obstante acompanha a diminuição das
taxa dos homossexuais, pois este apesar de ter se mantido estável durante um certo
período, o gráfico mostra que vem aumentando significantemente, e segundo o
Ministério da Saúde as chances de contaminação entre homens que fazem sexo
com homens é 13% maior em relação aos jovens em geral (CAMPANERUT, 2011).

articulado com as políticas públicas envolvidas nesta pandemia, a introdução dos antirretrovirais e as
novas tendências: interiorização, feminização, heterossexualização, pauperização e, mais recente,
juvenização, até os dias atuais.

Gráfico 5 - Proporção de casos de aids em jovens de 15 a 24. Brasil, 1990 a


2010
70

Fonte: MS/SVS Departamento de DST AIDS e hepatites virais (2011)

Esta doença é carregada de desafios que, ao longo desses 37 anos de


expansão vem atingindo “pessoas em proporções geométricas, sem distinção social,
econômica, racial, cultural ou política” (PINTO et al, 2007, p. 45), partindo dessa
perspectiva de pesquisa analisamos a expansão da epidemia no Brasil, traçando
dados sobre a região Norte, o Estado do Pará e a região metropolitana de Belém.
No Brasil a Aids encontra um País subdesenvolvido, espaço propicio para sua
Constância, como um problema de saúde pública que vem evidenciando os desafios
e contradições sociais, econômicas e culturais através da complexidade e
dinamismo da epidemia salientando as grandes mudanças e/ ou tendências ao longo
desses 37 anos.
A partir de 2010, observou-se uma redução gradual dos casos de aids em
mulheres e um aumento nos casos em homens, refletindo-se na razão de sexos, que
passou a ser de 23 casos de aids em homens para cada dez casos em mulheres em
2017, razão que se manteve em 2018.
Considerando-se os últimos dez anos, observou-se que a taxa de detecção
de aids em homens apresentou aumento entre 2007 e 2011 (24,8 para 28,3
71

casos/100.000 habitantes) e redução a partir de 2012. Em 2018, a detecção de aids


entre homens foi de 25,2 casos a cada 100.000 habitantes. Entre as mulheres,
observou-se tendência de queda dessa taxa nos últimos dez anos, que passou de
17,0 casos/100.000 habitantes em 2008, para 10,5 em 2018, representando uma
redução de 38,2% (UNAIDS, 2019).
Ainda de acordo com Pinto et al (2007), fundamentados através de inúmeras
pesquisas e suas análises sobres às tendências desta epidemia e seus
desdobramentos, foram detectadas três importantes direções ao longo destes
últimos 30 anos. Como consequência deste processo de expansão e contaminação
pela AIDS mostra-se um “quadro marcado pelos processos de heterossexualização,
feminização, interiorização e da pauperização” (PINTO et al, 2007, p. 46).
Inicialmente, durante o reconhecimento da epidemia nos anos 80, por meio
de várias pesquisas, apontava em seus indicadores números elevados de pessoas
que adquiriam a síndrome da AIDS eram, preferencialmente, o público homossexual
masculino, ou seja, era atingida no início da epidemia, a população de homens que
faziam sexo com outros homens chegando a apresentar cerca de 50% dos casos,
segundo o Programa Nacional de DST e AIDS
Na década de 1990 (dez anos depois que data o reconhecimento da
doença), observou-se a diminuição desta categoria para 18% dos casos. Porém,
nesta mesma década, os Boletins Epistemológicos, assinalavam o crescimento
significativo dos casos de difusão entre o público heterossexual atingindo 32% dos
casos e, este registro só vem aumentando de forma que “em 2005 foi registrado o
maior percentual dessa categoria com 42,2% dos casos” (PINTO et al, 2007, p. 47).
Essa expansão e consolidação deste público alvo ficaram conhecidos como
heterossexualização.

Gráfico 6 - Processo de Heterossexualização da Aids no Brasil


72

PROCESSO DE HETEROSSEXUALIZAÇÃO DA AIDS NO


BRASIL

25.000
Número de Homens Infectados

20.000

15.000

10.000

5.000

0
ANO 1990 ANO 2000 ANO 2018

HOMENS HOMENS HETEROSSEXUAIS

FONTE: DATASUS

Outro aspecto importante registrado se trata, sob consequência do aumento


dos casos de AIDS do sexo masculino em razão da transmissão heterossexual, é o
aumento dos casos em mulheres, isso provê “do fato das mulheres serem biológica,
epidemiológica e socialmente mais vulneráveis” (CHIRIBOGA, 1997, p 93-113).

“[...] desde o início da epidemia, a transmissão sexual vem apresentando


mais de 75% dos casos de AIDS em mulheres, chegando em 2005 a 94,5%.
A razão de casos entre homens e mulheres variou de 6:5, em média, no
período de 1980 a 1990, para menos de dois casos masculinos para cada
caso feminino desde 1999. E hoje, essa razão é de 1:4, o que podemos
chamar de feminização e heterossexualização da epidemia, que é citada por
vários autores” (PINTO et al, 2007, p. 45).

Segundo Pinto et al (2007), diante dados de suas pesquisas mundiais, o que


mais preocupa é a proporção das contaminações que antes eram de 6:1 (homens
verso mulheres), em 1999 já estava 2:1. E, que em 2007 essa razão de proporção
aumentou, e a cada homem infectado há 4 mulheres, este fato é chamado de
feminização e heterossexualização da enfermidade.

Tabela 1 - Proporção de contaminações entre Homens e Mulheres


73

PERÍODO RAZÃO DE HOMENS E MULHERES

Antes de 1980 6 (seis) homens 1 (uma) mulher

1980 a 1990 2 (dois) homens 1 (um) mulher

1990 até 2007 1 (um) homem 4 (quatro)


mulheres

Fonte: Alves, 2007.

No Brasil, o processo de feminização tornou-se ostensivo também, segundo o


DATASUS (2019), os dados estatísticos para a expansão da epidemia para as
mulheres apresentaram-se de acordo com o gráfico C.
Gráfico 7 - Processo de Feminização da Aids no Brasil

Fonte: DATASUS

Outra tendência observada, ao longo desses últimos 30 anos de epidemia


tem sido a pauperização da doença considerando a partir do aspecto escolaridade
como indicador de condição social e econômica dos casos de Aids.

[...] observa-se que a epidemia de AIDS no Brasil se iniciou na população de


maior condição socioeconômica, em indivíduos de mais de oito anos de
escolaridade, mas hoje, como o maior número de casos se encontra em
indivíduos com menor escolaridade, tem sido denominada de pauperização
(PINTO et al, 2007, p. 45).
74

Segundo o SINAN, a distribuição percentual dos casos de aids por


escolaridade no Brasil entre os anos de 2007 a 2017 mostra a maior quantidade
de casos em pessoas com o ensino fundamental incompleto e em segundo o
ensino médio, o gráfico 1 abaixo mostra índices de 2007 a 2019.

Gráfico 8 - Distribuição Percentual dos Casos de AIDS Notificados no SINAN por


Escolaridade. Brasil, 2007 a 2019

Fonte: SINAN; SISCEL/SIDAM, 2018

A realidade do processo histórico do vírus e da doença que ocorreu no mundo


não é diferente da que ocorreu no Brasil, porém existem particularidades bem
diferenciadas de uma localidade para outra. Por exemplo, na região Norte do Brasil,
de acordo com o gráfico 17 abaixo, a taxa de detecção de AIDS segundo região de
residência no Brasil nos anos entre 2007 e 2017, cresce demasiadamente do que as
outras regiões brasileiras, visto que, a certo período, as outras regiões, com exceção
da região Norte, estagnaram-se ou diminuem suas taxas de detecção.
Esta região apresenta em seus índices de pesquisas, taxas de detecção
elevada em relação ao restante do país. Segundo boletim epidemiológico do
ministério da Saúde (2019) o aumento é continuo, e em um ano a taxa de detecção
da Aids ultrapassa até a região Sul do Brasil.
Os gráficos abaixo ilustram a evolução das taxas de detecção de Aids e o
progressivo crescimento do nível de detecção da região Norte desde 2007 até 2019,
enquanto nas outras regiões a taxa decresce continuamente, entre 2018 a 2019 a
taxa de detecção do norte do País ultrapassa a região que mais possuía casos, que
era a região Sul.
75

Gráfico 9 - Taxa de detecção de aids (x100 mil hab.) segundo região de


residência, por ano de diagnóstico. Brasil, 2007 a 2017

Fonte: SINAN; SISCEL/SIDAM, 2018

Gráfico 10 - Taxa de detecção de aids (x100 mil hab.) segundo região de


residência, por ano de diagnóstico. Brasil, 2008 a 2018

FONTE: SINAN; SISCEL/SIDAM, 2019


76

Os dois mapas a seguir trazem por estados os casos notificados, o mapa 1 está
condicionado até o ano 2018, o mapa 2 revela as alterações após um ano, até em
2019. Todos os Estados mantêm ou têm o número de notificações reduzidos, porém
somente os Estados a nível da Amazônia manteve- se em crescimento.
Figura 1 - Mapa de Casos notificados no Sinan e Siscel /Siclom de 2000 a 2017

Fonte: Sinan; Siscel/Siclom; SIM. Nota: (*) Casos notificados no Sinan e Siscel/Siclom até
30/06/2018; no SIM, de 2000 a 2017.

Figura 2 - Mapa de casos notificados no Sinan e Siscel/Siclom de 2000 a 2018


77

Fonte: Sinan, Siscel/Siclom: SIM

No gráfico a seguir mostra a taxa de detecção geral por Aids no Brasil em


relação a região Norte desde 2006 a 2017, salientando que o crescimento a partir de
2012 ultrapassou a média nacional, enquanto a mesma diminui no mesmo período.
Gráfico 11 - Taxa de Detecção Geral por AIDS (por 100 mil hab.)

Fonte: SINAN; SISCEL/SIDAM, 2018


78

No estado do Pará, em pesquisas feitas pelo SINAN (2018) e de acordo com o


boletim epidemiológico HIV/Aids promovido pelo Ministério da Saúde (2018),
apontam o Pará é o quarto estado com mais casos de Aids no país. O estado
registrou casos de infecção, o que corresponde a mais de cinco notificações por dia.
“O Pará fica atrás apenas de são Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais”, diz a nota
(BRASIL, 2018).
Dado do boletim epidemiológico 2020 mostra a capital do Pará em segundo
lugar, depois da capital do Rio Grande do Sul por uma diferença mínima, segundo o
gráfico a seguir:

Gráfico 12 - Taxa de detecção de aids (por 100.000 hab.) segundo UF de residência


no Brasil - 2019.

Fonte: Sinan, siscel/ siclom; SIM

Apesar dos avanços na prevenção e no controle do vírus HIV, o Pará ainda


configura entre os estados brasileiros e da região Norte com o maior número de
pessoas infectadas na atualidade, inclusive ultrapassando a média nacional a partir
de 2012 e regional em meados de 2014, a razão entre os sexos apresentam também
diferenças regionais importantes, apesar de, em todas elas, haver um predomínio de
casos em homens (observar a Figura 5,6,7).Afirmando a necessidade de pesquisas
e ações urgente em políticas públicas voltadas as necessidades compatíveis com a
territorialidade e especificidades local (BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO, 2019).
79

O próximo gráfico mostra a taxa de detecção geral em relação ao Estado do


Pará, a região Norte e o Brasil, revelando que o Pará mantém em crescimento
continuo a taxa e que a partir de 2015 ultrapassando a própria região Norte enquanto
no Brasil decresce a partir de 2012.

Gráfico 13 - Taxa de Detecção Geral (por 100 mil hab.)

Fonte: SINAN; SISCEL/SIDAM, 2018

Na figura a seguir mostra a taxa de detecção em homens no Estado do Pará, na


região Norte e no Brasil, evidenciando que no Estado do Pará e no Norte houve
uma crescente evolução de 2006 a 2017, enquanto no Brasil a taxa se mantém
estável com um pequeno desnível em 2011.

Gráfico 14 - Taxa de Detecção em Homens (por 100 mil hab.)

Fonte: SINAN; SISCEL/SIDAM, 2018

Já em relação as mulheres há um crescimento dinâmico e instável, com


eminente crescimento no Pará e na região Norte e em relação ao nível nacional
encontra -se em declínio com pequenas variações.

Gráfico 15 - Taxa de Detecção em Mulheres (por 100 mil hab.)


80

Fonte: SINAN; SISCEL/SIDAM, 2018

Importante frisar que além do número preocupante do vírus no Estado do


Pará, o coeficiente de mortalidade também encontra- se em um patamar expressivo,
aumentou 50% segundo os boletins epidemiológicos (2018). O Pará é o segundo
estado brasileiro com maiores índices de mortes de pessoas com aids; ficando atrás
somente do Rio Grande do Sul, que tem sua capita porto alegre, com a maior
mortalidade por aids no Brasil. “O número de mortes ainda é alto e a redução da
mortalidade constitui-se em um desafio para os gestores da saúde no estado, revela
a Secretaria de Saúde Pública do Pará- SESPA” (SESPA, 2018).
O gráfico abaixo mostra com mais clareza à proporção que os óbitos por Aids
no Estado do Pará tomou de 2006 até 2017, a partir de 2010 ultrapassou a média
nacional e entre os Estados da região Norte o Pará sempre obteve o nível de óbitos
constantemente elevados e acima de todos estados a nível da Amazônia.

Gráfico 16 - Taxa de Mortalidade (por 100 mil hab.) no Pará, Norte e Brasil

Fonte: SINAN;SISCEL/SIDAM, 2018


81

Gráfico 16 - Coeficiente de mortalidade de aids segundo região de residência por


ano óbito - 2018

Fonte: SIM (atualizado em 31/12/2018)

Segundo Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde (2019), o início da


epidemia de aids (1980) até 31 de dezembro de 2018, foram notificados no Brasil
338.905óbitos tendo o HIV/aids como causa básica. A maior proporção desses
óbitos ocorreu na região Sudeste (58,3%), seguida das regiões Sul (17,7%),
Nordeste (13,6%), Centro-Oeste (5,3%) e Norte (5,1%). Em 2018, a distribuição
proporcional dos 10.980 óbitos foi de 41,1% no Sudeste, 22,0% no Nordeste, 19,1%
no Sul, 11,0% no Norte e 6,8% no Centro-Oeste. No período de 2008 a 2018,
verificou-se uma queda de 24,1% no coeficiente de mortalidade padronizado para o
Brasil, que passou de 5,8 para 4,4 óbitos por100.000 habitantes. No mesmo período,
no Norte e Nordeste, observou-se aumento respectivamente de 26,0% e 28% nesse
coeficiente. Nas demais regiões registraram-se diminuição do coeficiente de
mortalidade, sendo que entre 2008 e 2018 o Sudeste apresentou queda de 43,8%, o
Sul de 41,5% e o Centro-Oeste de 26,4%.
Conforme boletim 2020:
82

Em 2019, quando analisada a mortalidade por UF, 11 delas apresentaram


coeficiente superior ao nacional, que foi de 4,1 óbitos por 100 mil habitantes:
Pará (7,7 óbitos/100 mil hab.), Rio Grande do Sul (7,6), Rio de Janeiro (7,1),
Amazonas (6,4), Amapá (5,8), Roraima (5,8), Maranhão (5,7), Mato Grosso
do Sul (5,3), Santa Catarina (4,7), Mato Grosso (4,4) e Pernambuco (4,4).
Os coeficientes inferiores ao nacional variaram entre 4,0 óbitos por 100 mil
habitantes no Espírito Santo e 2,2 óbitos por 100 mil habitantes no Acre
(BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO, 2020, p. 25).
83

3 BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO DA INSERÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA


ÁREA DA SAÚDE E SUA RELAÇÃO COM O HIV/AIDS

Este capítulo envolve uma breve contextualização do surgimento da


Assistência Social/ Serviço Social na saúde procurando compreender a atuação
deste profissional no enfrentamento das demandas provenientes do HIV/AIDS e dos
fatores que corroboram para a dificuldade da não adesão (atuação do Assistente
Social no âmbito hospitalar referente às dificuldades de adesão relacionadas aos
fatores sociais, econômicos, políticos e culturais).

3.1 O surgimento do Serviço Social como profissão e a sua inserção na área da


saúde

Na antiguidade a assistência aos necessitados era de responsabilidade da


família, clã ou tribo, e a maneira de assisti-los variava de acordo com os costumes.
Segundo Vieira (1989), não existia a ideia de prevenção ou reabilitação, um conjunto
de regras norteavam as atitudes com relação as viúvas, pobres, crianças,
abandonados, doentes, escravos e viajantes, e ainda países faziam uma espécie de
assistência mútua.
Como fato social e intervenção do homem no mundo, o Serviço Social só foi
conhecido com este nome no século XX. Mas o fato ou o ato de ajudar o
próximo, corrigir ou prevenir os males sociais, levar os homens a construir
seu próprio bem-estar, existe desde o aparecimento dos seres humanos
sobre a terra (VIEIRA,1989, pág.27).

Batista Junior (2014) destacar que na antiguidade os governos não


intervinham, não eram reconhecidas as funções sociais, se houvesse alguma
ingerência esta ocorria apenas nos períodos de calamidade pública, apenas o
Império romano estabeleceu um plano de distribuição de esmolas, no entanto, essa
prática gerava abusos e graves consequências sociais.
Com advento do Cristianismo houve a transformação do conceito de caridade,
se constituído como um mérito para alcançar a vida eterna, era uma virtude a prática
do bem. De acordo com Vieira (1989, p.31):
84

Durante toda a Idade Média, a Igreja manteve o privilégio da administração


das obras de caridade. Eram nos mosteiros, ou junto a eles que
funcionavam os dispensários, hospitais, orfanatos e escolas (VIEIRA, 1989,
P. 31).

O início da secularização em meados do sec. XV a XVI dá início a


modernidade, como medida de inspiração aos estudiosos. Nesse momento, ocorre o
rompimento com a igreja como soberana e o homem passa a ser reconhecido como
objeto central das discussões, instalando - se o antropocentrismo 31 como ideologia
da razão concretizando o rompimento da teologia com a filosofia. Este cenário
promove a abertura para uma nova concepção da caridade, até então vista como
santificação, agora considerada o auxílio ao outro como um dever de solidariedade
natural.
Cabe salientar que esse momento ainda é marcado pelo modelo monárquico.
Com esta nova concepção, ocorrem as primeiras intervenções, pois o governo
adentra o domínio social, com atitudes repressivas e assistencialistas, em
consequência ao grande número de mendicância (SILVA, 2012).
Segundo Silva (2012), a primeira legislação visando a assistência social, e
que alcançou a maior repercussão, foi promulgada pela rainha Elizabeth I, da
Inglaterra, denominada Lei dos Pobres. Essa Lei buscava assegurar que cada
município deveria tomar conta de seus pobres, com o objetivo de restringir a
andança dos mendigos e facilitar a repartição e a fiscalização das esmolas.
Em um contexto diferenciado dos séculos anteriores, no século XIX
representada pela industrialização e uma série de fenômenos sociais com a chegada
de um novo modo de produção, o modelo de produção capitalista; é considerado o
século da “organização social”. As ideias da Revolução Francesa influenciaram
sobre a prática da caridade e da assistência social (VIEIRA,1989).
Este século terminou com a divulgação de um documento da mais alta
importância para o mundo, a promulgação em 1981 por Leão XIII da primeira das
grandes encíclicas sociais: Rerumnovarum32, uma verdadeira carta de “justiça
social”, conforme Vieira (1989). Esse documento apresentou várias contradições por

31 Carvalho (2011) coloca o que seria o antropocentrismo e as mudanças decorrentes a época em


a mudança do Espaço de ideias e reflexões em Educação e filosofia.
32 Aprofundar-se sobre a condição dos operários dada em Roma de S. Pedro de 1891, no décimo
quarto ano do Pontificado.
85

ser uma apresentação da postura da igreja católica diante do avanço das ideias
comunista e aumento da desigualdade.
Porém segundo Martinelli (2007), esse documento representou a reprodução
das ideias capitalistas. A necessidade de manutenção da ordem social capitalista foi
necessária no contexto de crise vivenciado pelo capitalismo.
Iamamoto (1985, p.142), diz que a benemerência proposta ao proletariado
está “subordinada a uma racionalidade empresarial em que não entra nenhum
sentido de redistribuição”, mas sim no intuito de aliviar as tensões sociais e melhorar
as condições em que a acumulação se desenvolvia.

As frequentes crises do setor industrial, ainda emergente, são marcadas por


dispensas maciças e rebaixamentos salariais, que tornam mais sóbria a vida
do proletariado industrial atirado ao pauperismo. Para suas necessidades de
ensino e cultura ficarão, basicamente, na dependência de iniciativas
próprias ou da caridade e filantropia (IAMAMOTO, 1985, p. 132).

Partindo do pressuposto de Martinelli (2007), O Serviço Social surge para


atender as contradições do sistema capitalista de produção diante da pauperização
das massas trabalhadoras. No momento de expansão das ideias socialistas e maior
organização do movimento operário passa a existir a necessidade de uma profissão
que atenda as demandas desta classe desprovida de direitos, todavia, não se
restringe ao atendimento exclusivo de suas necessidades. Segundo a autora o
atendimento das necessidades do capital será prioridade nesse contexto de
legitimação da profissão.
Porém, nesse contexto de indignação do proletariado da condição
contraditória entre trabalho e capital, uma consciência crítica começa a assolar lutas
políticas contra seus opressores, questões objetivas começam a ser discutidas
como: a pauperização crescente da classe trabalhadora, surgimento de novos
problemas vinculados as modernas condições de trabalho urbano, aparecimento da
burguesia e proletariado, entre outros.

Essas condições de trabalho e existência tornam necessária a organização


do proletariado para sua defesa. Defesa que se centrará na luta contra a
dilapidação, pelo trabalho excessivo e mutilador, de seu único patrimônio,
cuja a venda diária permite sua sobrevivência e reprodução. Procurará
tornar em suas mãos as decisões que restrinjam o dispêndio exaustivo de
sua força de trabalho. Sua organização representará também a única via
possível de uma participação ativa na sociedade (IAMAMOTO, 1985, p.
132).
86

Na terceira década do sec. XIX esse contexto da – se como expressão a


chamada “questão social”33 que surge para nomear o fenômeno do pauperismo.
Netto (2001 p.42) conclui que a pauperização da classe trabalhadora é o resultado
do capitalismo industrial e acrescia da mesma maneira que aumentava a produção.
Iamamoto (1985) reforça que:

O histórico das condições de existência e de trabalho do proletariado


industrial – principalmente a partir do início do século, quando começam a
aglutinar-se nos centros maiores as empresas industriais dispersas, período
para o qual existe uma documentação mais abundante – mostra a extrema
voracidade do capital por trabalho excedente. A população operaria se
constituiu em uma minoria – marginalizada social e economicamente dentro
das cidades, já algumas bastantes desenvolvidas (IAMAMOTO, 1985, p.
130).

Segundo a autora, Historiadores e sociólogos que se aprofundaram em


conhecer a situação do proletariado nesse período, são unânimes em que esta
parcela urbana vivia em condições precárias e angustiantes, e a hegemonia
burguesa entendeu que não poderiam basear-se apenas na coerção, houve uma
tentativa de controle a partir do reconhecimento do proletariado quanto “classe social
espoliada’ (IAMAMOTO, 1985, p. 135).
Durante a República Velha em face da incapacidade do Estado em propor e
fixar políticas públicas competentes, a repressão policial se fazia constante em prol
da “paz social necessária a acumulação capitalista”; assim no decorrer desta
primeira Republica o saldo acumulativo das conquistas do movimento operário é
bastante estreito (IAMAMOTO, 1985, p135). Entretanto, segundo a mesma autora
houveram algumas medidas assistenciais da elite durante campanhas eleitorais para
conquistar apoio político, e essas ações assistencialista da conjuntura dos anos de
1917 a 1920, terá grande desenvolvimento, constituído- se na principal base para o
Serviço Social.

33 Segundo Iamamoto (2009), a” Questão Social” é a compreensão enquanto o conjunto das


desigualdades da sociedade capitalista, que por sua vez possui a apropriação exclusiva dos frutos
dos meios de produção excluindo o proletariado, interferindo nas relações sociais no atendimento das
mais variadas expressões da “questão social” vividas pelos indivíduos sociais no trabalho, na família,
na luta pela moradia e pela terra, pela saúde, na assistência social pública e etc. (IAMAMOTO, 2009,
p. 176).
87

Esses mecanismos assistenciais do empresariado apareciam mais frequente


em empresas de grande porte, porém em contrapartida havia rebaixamento salarial
em relação a outras empresas do mesmo ramo que não compactuavam com esse
assistencialismo. Dentre os serviços prestados estavam os serviços médicos, que
eram pagos pelos operários a preços menores; creches; escolas; etc. Os serviços
eram prestados de acordo com o bom comportamento diante das greves e a uma
vida pessoal regrada, além de ser pago compulsoriamente caixas de auxílios e
assistência mutua estipulada pelo empresariado e pela igreja (IAMAMOTO, 1985).

Os mecanismos assistenciais aplicados individualmente pelos empresários


se constituem em atividade que, mesmo no plano estreitamente contábil,
tem um custo adicional reduzido ou mesmo nenhum. Neste sentido, apesar
de sempre aparecerem sob uma aura paternalista e benemerente,
constituem-se numa atividade extremamente racionalizada, que busca aliar
o controle social ao incremento da produtividade e aumentar a taxa de
exploração (IAMAMOTO, 1985, p 141).

Neste período da década de 1920, após explicita questão social colocada na


sociedade, tendo como representantes deste cenário a luta do proletariado do
contexto Brasil, surgem as protoformas do Serviço Social brasileiro uma década a
frente com a mobilização da igreja católica “como um departamento especializado da
ação Social, embasado na doutrina social” (IAMAMOTO, 1985, p. 142-143).
A igreja, ainda segundo Iamamoto (1985), é envolvida por um processo de
influência internacional aproximando-se da linha política desenvolvida na Itália e
França. Portanto suas atividades não podem ser contidas a partir de sua mensagem
e ideologia própria, pois ela era portadora de uma doutrina universalizante e
formulada por um centro internacional. “Tal analise está também intimamente
relacionada a natureza do engajamento da igreja na dinâmica dos antagonismos de
classes da sociedade na qual está inserida” assim como o surgimento do Serviço
Social (IAMAMOTO,1985, p. 143).

Em síntese, o Serviço Social situa- se no processo de reprodução das


relações sociais como uma atividade auxiliar e subsidiaria no exercício do
controle social e da ideologia, isto é, na criação de bases políticas para a
hegemonia das classes fundamentais. Intervém ainda através dos serviços
sociais, na criação de condições fornecedoras da reprodução da força de
trabalho (IAMAMOTO, 2010, p.171).
88

Vieira (1989), afirma que durante o século XIX vários países regulamentaram
o ensino do Serviço Social, devido também à pressão dos grupos profissionais, e
este ensino foi primeiramente reconhecido em nível secundário ou técnico,
posteriormente passa ao nível superior, salvo nos EUA, que já nasceu em nível de
ensino superior.
No Brasil o Serviço Social foi uma das primeiras profissões da área social a ter
aprovada sua lei de regulamentação profissional, a Lei 3252 de 27 de agosto de
1957, posteriormente regulamentada pelo Decreto 994 de 15 de maio de 1962.
Em 07 de junho de 1993 uma nova legislação assegurou à fiscalização
profissional e possibilidades mais concretas de intervenção, pois definiu com maior
precisão as competências e atribuições privativas do assistente social pelo Conselho
Federal de Serviço Social (CFESS), que deliberou sobre a profissão do Assistente
social e outras providencias, assinada e sancionada pelo Presidente Itamar Franco
(BRASIL, 1993).
Os governos reconheceram e regulamentou a profissão, existindo uma grande
variedade de modalidades e de reconhecimento, tal como uma variação de país para
país da obtenção do diploma e de representação profissional através de órgãos de
classe, ou seja, Conselhos Federais e Regionais de Serviço Social, além de outras
instâncias de representação.
Vieira (1989) esboça que em 1928, foi realizada a primeira reunião da
Conferência Internacional do Serviço Social em Paris, por iniciativa do Dr. René
Sand, secretário da Liga das Sociedades de Cruz Vermelha, e a segunda reunião
ocorreu em 1930 em Toronto, e em 1932 realizou-se em Washington, e em vista o
êxito das duas reuniões anteriores, a Conferência Internacional de Serviço Social
(CISS), instituiu-se oficialmente como entidade permanente destinada proporcionar a
todos os países um fórum de debate dos problemas de bem-estar social, e este
fórum internacional se realizava a cada dois anos em países diferentes com
participação de todas as partes do mundo, assumindo a sigla C.I.S.S.
De acordo com Vieira (1989), a primeira CISS definiu o Serviço Social sendo:

O conjunto de esforços visando minorar sofrimentos provenientes da miséria


(assistência paliativa); recolocar indivíduos e famílias em condições normais
de existência (assistência curativa); prevenir flagelos sociais (assistência
preventiva); melhoria das condições sociais e elevação do nível de vida
(assistência constitutiva), sendo esta definição durante muito tempo
89

universalmente aceita para conceituar os objetivos do Serviço Social


(VIEIRA, 1989, p. 92).

No século XX, houve uma transformação das ideias quanto à conceituação do


Serviço Social, deu-se o reconhecimento que acolher não era apenas uma emoção,
um gesto, mas um autêntico processo, uma operação com base racional sem no
enquanto, perder seu interesse humano. Assim o Serviço Social é um serviço
prestado à sociedade, e o trabalho Social é a atividade realizada em benefício da
sociedade. Netto (2009), sintetiza que este período foi marcado por um momento
importante na história do Serviço Social brasileiro, este reconhecimento dessas
ações societárias possibilitou o enfrentamento e a denúncia do conservadorismo
profissional, dirigiu críticas e recusa ao Serviço Social e esses elementos abriu as
bases para o denominado projeto ético- político.
Naquele momento histórico o Serviço Social não apresentava uma concepção
crítica dentro de suas matrizes teóricas, tanto que autores como Finck 34 (1941), em
seu livro “The fieldof Social Work” divide o Serviço Social inicialmente em campos de
atuação, campo da família, de menores, escolar, psiquiátricos, da saúde, correcional
e de empresas.
No campo da família, Finck inclui a ajuda individual ao indivíduo e a família,
considerada apenas uma unidade, para resolução de problemas econômicos,
relacionamento conjugal, educação dos filhos e relacionamentos com parentes e
vizinhos. O campo de menores, voltava-se para o atendimento das crianças
abandonadas ou órfãs, colocação e lares de adoção, e em alguns lugares abrangia
também a assistência a crianças de seu próprio lar, quando havia denúncias contra
seus familiares.
O campo escolar surgiu em 1906, nos E.U.A, quando os centros sociais
designaram visitadores para estabelecer uma ligação com as escolas do bairro, a fim
de verificar o envio das crianças as escolas pelas famílias.
Já o campo da saúde iniciou-se em 1905, pelo médico “Dr.” Richard Cabot 36,
em Massachusetts, pois ele queria conhecer melhor os antecedentes e o ambiente
onde residiam seus pacientes, para formular diagnósticos e o tratamento mais

34 Arthur Emil Fink, Assistente Social a Norte-Americano, Mestre em Trabalho Social pela
Universidade Pensilvânia, 1937. Doutor em Filosofia pela Universidade da Pensilvânia em 1936. 36 Dr.
Richard Cabot era de nacionalidade Norte americana, Médico formado pela Universidade de Harvard
em 1889-1892, foi um inovador nos métodos de ensino e foi o pioneiro no trabalho social.
90

adequado, além do estudo dos antecedentes e do ambiente, assegurava também, o


atendimento durante o tratamento e também depois da alta.
Na França o Serviço Social, foi durante muito tempo médico-social durante a
Primeira Guerra, porém eram as enfermeiras que visitavam os pacientes, e que
tratavam também da parte social do tratamento.
A parte do Serviço Social no campo psiquiátrico iniciou-se um tempo depois
da atuação dos hospitais, e tinha como função ajudar o paciente a se “reajustar a
vida normal”. Concepção de normal dentro dos padrões do modelo de pensamento
capitalista. Nota- se que não havia uma criticidade, uma base teórica, parecia ser
uma forma de abrandar temporariamente um mal.
Para Vieira, a organização da Comunidade, no campo do Serviço Social, foi o
processo pelo qual se promoveu e se manteve um equilíbrio constante entre os
recursos e as necessidades, dentro de uma área ou de um campo. De acordo com
vieira (1989, p.79):
O que caracteriza o Serviço Social, no século XX, é a procura constante de
um conjunto de princípios, conceitos filosóficos e científicos, aplicáveis
através de processos e técnicas diversas às múltiplas situações
encontradas (VIEIRA1989, p.79).

Na medida em que estudos (teoria e pratica) ocorrem, o Serviço Social se


desenvolve e se aperfeiçoa; suas características se redefinem, e sua conceituação
se consolida. A evolução do Serviço Social revela que se dava inicialmente
importância as relações entre as pessoas e seu ambiente, logo o “social” constitui
dessa forma, o objeto de estudo do Serviço Social, segundo Vieira (1989, p.81).
Em 1935, no Congresso de Bruxelas há uma nova definição no C.I.S.S., o
Serviço Social sendo um conjunto de trabalhos sociais coordenados e metódicos,
feitos por agentes competentes, agindo diretamente sobre as causas, de maneira a
organizar melhor os diversos quadros sociais.
Atualmente as atribuições e competências dos profissionais de Serviço Social,
sejam aquelas realizadas na política de Assistência Social ou em outro espaço
sócio-ocupacional, como também a saúde, são orientadas e norteadas por direitos e
deveres constantes no Código de Ética Profissional (1993) e na Lei 8.662/93 de
Regulamentação da Profissão, que devem ser observados e respeitados, tanto pelos
profissionais, quanto pelas instituições.
91

O reconhecimento da questão social como objeto de intervenção profissional


(conforme estabelecido nas Diretrizes Curriculares da ABEPSS), demanda uma
atuação profissional em uma perspectiva totalizante, baseada na identificação dos
determinantes socioeconômicos e culturais das desigualdades sociais.
As competências e atribuições dos assistentes sociais, na política Pública,
nessa perspectiva e com base na Lei de Regulamentação da Profissão, requisitam,
do profissional, algumas competências gerais que são fundamentais à compreensão
do contexto sociohistórico em que se situa sua intervenção (ABEPSS, 1996):

Apreensão crítica dos processos sociais de produção e reprodução das


relações sociais numa perspectiva de totalidade; análise do movimento
histórico da sociedade brasileira, apreendendo as particularidades do
desenvolvimento do Capitalismo no país e as particularidades regionais;
compreensão do significado social da profissão e de seu desenvolvi- mento
sócio -histórico, nos cenários internacionais e nacionais, desvelando as
possibilidades de ação contidas na realidade; identificação das demandas
presentes na sociedade, visando a formular respostas profissionais para o
enfrentamento da questão social, considerando as novas articulações entre
o público e o privado. (ABEPSS,1996).

Segundo Netto (2017), a concepção do Projeto ético Político do Serviço Social


tem uma história longa, todo o caminho percorrido teve seu marco durante a década
de 1970 até 1980, pois a partir deste ponto houve um intenso e expressivo
enfrentamento pela renúncia do conservadorismo profissional.
Iamamoto (2005), afirma que na contemporaneidade o Projeto-Ético-Político
do Serviço Social constitui-se de significativos movimentos de Assistentes Sociais no
Brasil amplamente discutidos e coletivamente construído e as diretrizes norteadoras
desse projeto se estende no Código de Ética Profissional do Assistente Social e na
proposta de diretrizes Gerais para o Curso de Serviço Social. A autora relata a base
social no contexto da reorientação da profissão nos anos de 1980:

Esse projeto de profissão hoje hegemônico e historicamente datado. É fruto


e expressão de um amplo movimento da sociedade civil desde a crise da
ditadura, afirmou o protagonismo dos sujeitos sociais na luta pela
redemocratização da sociedade brasileira. Foi no contexto da ascensão
social dos movimentos sociais, das mobilizações em torno da elaboração e
aprovação da Carta Constitucional de 1988, das pressões populares[...], a
categoria dos assistentes sociais foi sendo questionada pela pratica política
de diferentes seguimentos da sociedade civil (IAMAMOTO, 2005, p. 50).
92

A atuação na Assistência Social passa a ocorrer em espaços institucionais e


de mediação social junto aos movimentos sociais e populares. Valores, ideologias,
relações sociais e políticas são constitutivas das práticas realizadas nesses espaços.
Como seres históricos e sociais, os profissionais passam a ser sujeitos e
investigadores dos fenômenos e processos com os quais trabalham.
Netto (1999, p. 95), complementa que os projetos profissionais, construídos
coletivamente pela categoria, apresentam a autoimagem da profissão; “elegem
valores que a legitimam socialmente; delimitam e prioriza seus objetivos e funções;
formulam requisitos (técnicos, institucionais e práticos)para o seu exercício”,
prescrevem normas para o comportamento dos profissionais e estabelecem balizas
de sua relação com o usuário dos seus serviços, com outras profissões e com as
organizações e instituições.
A luta pela competência profissional é fruto do trabalho coletivo e da
mobilização social pela garantia dos direitos dos trabalhadores, pela universalização
dos direitos sociais de caráter público e de dever do Estado.
O primeiro curso de Serviço Social no Brasil surgiu em 1936 e sua
regulamentação ocorreu em 1957. O processo de reconceituação gestado pelo
Serviço Social desde a década de 1960 permitiu à profissão enfrentar a formação
tecnocrática conservadora e construir coletivamente um projeto ético-político
profissional expresso no currículo mínimo de 1982 e nas diretrizes curriculares de
1996 e no Código de Ética de 1986 e 1993, nos quais as políticas sociais e os
direitos estão presentes como uma importante mediação para construção de uma
nova sociabilidade. Trata-se de uma profissão de nível superior, que exige de seus
profissionais formação teórica, técnica, ética e política, orientando-se por uma Lei
8.662/93 de Regulamentação Profissional e um Código de Ética.
No Pará o Serviço Social começa a se estruturar a partir das demandas
referentes também as desigualdades sociais, apesar destas serem mais latentes
dentro das grandes metrópoles industrializadas, no Pará, de acordo com as
particularidades históricas da Amazônia (ciclo da borracha, minérios), houve um
grande acumulo de capital, logo acompanhada de perspicuidades das expressões da
questão social.
A economia do estado do Pará é focalizada no setor primário e
terciário, sendo o primeiro fortemente ligado ao extrativismo e o
segundo ao setor de serviços comerciais, sendo o setor terciário a
93

caracterização principal da economia do Estado naquele momento,


junto a todo esse processo que fomenta o desenvolvimento
capitalista, e a urbanização da Cidade, urbanização esta que é fator
importante nos lucros gerados ao capital ligado à exportação da
borracha. Verifica-se nesse sentido que Belém tornava-se um grande
centro urbano que não se desenvolvia em condições objetivas para
que a classe trabalhadora vivesse de forma qualitativa, em
contrapartida coexistia uma classe burguesa (SANTOS NETO, 2017,
p. 4).

Segundo o Santos Neto (2017), assim como no Brasil, o Estado do Pará nos
anos 60 é marcado por mudanças econômicas, sociais, culturais e políticas que
culminaram para que esta perspectiva também fosse determinante junto a nova
roupagem que a profissão estava construindo no seu processo histórico.

[...] no Pará, foi durante a década de 1960 que ocorre a integração da


escola de Serviço Social à Universidade Federal do Pará, o que
gerou impactos à formação profissional de Serviço Social, não só
pela integração da escola a uma instituição de ensino superior que
proporcionou sua aproximação com as ciências sociais, mas pela
conjuntura política que vivíamos no Brasil (SANTOS NETO, 2017, p.
6).

Diante do espoco percorrido no processo histórico nos campos preambular do


Serviço Social, encontra- se a área da saúde, que é o foco deste trabalho. As ações
do assistente social no campo da saúde, não ocorrem de forma isolada, mas se
articulam em processos, à medida que se diferenciam ou se aproximam entre si, e
particularmente na saúde integram o processo coletivo do trabalho em saúde.
Desta forma, a construção da integralidade e da participação social em saúde,
pelo Serviço Social, está atrelada a três processos básicos, dialeticamente
articulados, segundo Mota (2009), a saber são os processos políticos-organizativos,
os processos de planejamento e gestão e aos processos socioassistenciais.
Processos estes que comprovam o quanto evoluiu o Serviço Social enquanto
profissão no decorrer de sua narrativa.
De acordo com Mioto e Nogueira (2009), os processos políticos-organizativos
correspondem à articulação de um conjunto de ações, dentre as quais se destacam
a mobilização e a assessoria; os processos de planejamento e gestão correspondem
ao conjunto de ações profissionais desenvolvidas no nível de gestão do hospital no
âmbito das instituições e serviços de saúde, no planejamento e gestão de serviços
94

sociais nas instituições; por fim os processos socioassistenciais são o conjunto de


ações profissionais desenvolvidas no âmbito da ação direta com os usuários nos
diferentes níveis de complexidade nos serviços de saúde, a partir de demandas
singulares.
Para ABEPSS (1996, p. 36), “O trabalho do Assistente Social não se
desenvolve independentemente das circunstâncias históricas e sociais que o
determinam, de fato”. Pois a atividade profissional estava sujeita as regras mais
gerais que qualificam seu trabalho assalariado na sociedade capitalista, ponto do
qual surgiu como profissão, afirma também que a inserção do Serviço Social nos
diversos processos de trabalho, mantém uma ligação de como a sociedade brasileira
e os estabelecimentos empregadores do Serviço Social estabelecem as próprias
necessidades e a partir desse processo organizam seus objetivos institucionais que
se voltam à intervenção sobre essas necessidades.
Laurel (1989) coloca que essa atividade de inserção engloba a divisão técnica
e social do trabalho, relações de poder entre unidades, serviços, profissões,
hierarquias, departamentos, etc. e que os serviços prestados têm valor de uso,
sejam eles em forma de mercadoria ou trabalho.

Refletir sobre o processo de trabalho em saúde implica, no mínimo em


aprender as dimensões tecnológica, organizacional e política daquela
pratica social. Isto requer pensar a saúde como política social publica que se
materializa como um serviço cujo o conteúdo, finalidade e processo de
trabalho, merecem conceituações de natureza teórica e histórica (LAURELL,
1989, p.19).

A ampliação do mercado de trabalho dos assistentes sociais na área da saúde


deve-se tanto à ampliação horizontal das subunidades de serviços quanto a uma
maior divisão sócio técnica do trabalho 35. Costa (2009) diz que tanto o processo de
cooperação vertical quando a horizontal determinou a incrementação do mercado de
trabalho na área da saúde, pois diferentes de outras áreas de produção de bens e
serviços, na saúde não ocorre regressão da força de trabalho porque os novos

35 Para Netto (1989), a sistematização da prática profissional está associada em dois


entendimentos do Serviço Social: “como profissão cujo fundamento elementar é um espaço sócio-
ocupacional circunscrito pela divisão social do trabalho própria da sociedade burguesa consolidada e
madura”, e “como profissão elementar é um corpus teórico e metodológico particular autônomo”
(NETTO,1989, p. 150).
95

serviços implementados somam aos serviços já existentes diversificando cada vez


mais a cooperação.
A mesma autora coloca que o do processo de trabalho industrial é bem
diferenciado do processo de trabalho dos serviços, pois este, mantém uma
“interrelação pessoal intensa “(COSTA, 2009 p.108), estabelecendo um processo
compartilhado, pois o usuário não é apenas o consumidor dos insumos,
medicamentos, e da produção daquele serviço, e sim um coparticipante do processo,
visto que dele dependem as informações sobre seu estado de saúde e o
cumprimentos das prescrições e recomendações medicas e terapêuticas.
Costa (2009) cita que:

O conjunto de processos de trabalhos desenvolvidos na área da saúde


pública, embora incorpore as características gerais do trabalho sob o capital,
apresentam algumas singularidades que devem ser creditadas as
particularidades do trabalho no setor dos serviços (COSTA, 2000, p. 309).

Entre as particularidades do trabalho dos serviços como exposto a cima, a


relação direta entre quem produz e quem consome o serviço exige do usuário o
próprio processo de sua conscientização e produção, porém o consumo dos serviços
de saúde ocorre de forma parcial, pois depende da demanda entre os níveis de
complexidade dos serviços, recursos humanos, financeiros e das condições
socioeconômicas, epidemiológicas e biopsicossociais da população usuária.
A inserção dos Assistentes sociais no conjunto dos processos de trabalho
destinados a produzir serviços de saúde para a população era vista de forma
superficial pelo reconhecimento social do qual a profissão emergiu e pelo conjunto
de necessidades que se contrapõe as condições estabelecidas entre o capital e a
saúde pública no Brasil. Porém considerando que na dec. de 90 após a constituição
de 1988 e concomitantemente a implementação do SUS e uma reconfiguração das
políticas de saúde, houve “um conjunto de requisição expressiva da tenção existente
entre as ações tradicionais da saúde e as novas proposições do SUS e que também
determinam o âmbito de atuação profissional” (COSTA, 2009, p. 312).

3.2 O Serviço Social e a Questão do Hiv/Aids


96

Como atestamos, o estudo pela trajetória do Serviço Social no contexto da


política social e de saúde é fundamental para entender que o Serviço Social como
profissão está vinculada com a Questão Social que se caracteriza por um conjunto
de problemas econômicos, políticos e social que atinge a classe trabalhadora num
contexto capitalista.
Contexto esse que durante a fase considerada madura da profissão em
meados da dec. de 80 coincide com o surgimento da epidemia Aids no Brasil.
Reforçando que a politização da profissão ocorreu no século XX a partir da década
de 60, e teve influencias de movimentos sociais tendo como marco mais à frente o
Movimento de reconceituação, possibilitando a conquista dos direitos sociais,
materializados na Constituição de 88. Esse fato como já explorado neste trabalho
trouxe uma nova perspectiva, que repensa a sua teoria e metodologia revelando o
compromisso ético político societário junto a classe trabalhadora.
Classe esta que está dentro do contexto da epidemia, visto que a propagação
do mesmo apesar de ter incidido primeiramente em pessoas com maior poder
aquisitivo no início da dec. de 80, foi na classe subalterna que o vírus encontrou terra
fértil para se difundir da forma mais perversa possível.
O atual quadro sócio – histórico da epidemia não se reduz a um pano de
fundo para então colocar o trabalho do Assistente Social como um mero trabalhador
na divisão sócio técnica do trabalho e sim alarga os horizontes para a trajetória dos
movimentos sociais, que mostraram ser presentes também dentro do contexto AIDS,
do Estado e suas relações com a sociedade, campo este que estão atreladas as
atribuições, competências e requisitos da profissão.
Por tanto neste viés o Serviço Social, já exercendo influencias política, econômicas,
culturais e sociais, estrutura os vários aspectos que cercam o indivíduo; enfatizando
que a prática em saúde deve caracterizar-se por ações que possam suprir as reais
necessidades da população, tendo um aprofundamento maior da realidade em que
encontram- se postos buscando a totalidade do aspecto saúde, sejam eles sociais,
econômicos ou políticos.

Ao reconhecer a saúde como resultante das condições de vida, a obtenção


de dados sobre as condições econômicas, políticas, sociais e culturais
passa a fazer parte do conjunto de procedimentos necessários a
identificação a análise dos fatores que intervêm no processo de saúde
(COSTA, 2009, p. 319).
97

As mudanças no trajeto das políticas públicas no decorrer dos anos


exprimiram novas características ao Serviço Social. Mourão et al. (2007, p. 359),
reitera que o Assistente social além de reconhecer a saúde como resultado das
condições de vida exige que se tenha o “domínio das particularidades e dos
fenômenos singulares da questão social na dimensão de saúde em nível municipal,
regional e nacional”. Levando em consideração o disposto em lei (lei 8.080/90 sobre
os fatores condicionantes e determinantes da saúde-doença) reforçando que a
saúde não pode ser considerada apenas como um problema físico-biológico, e sim
como resultado de uma relação dialética do indivíduo com o seu meio ambiente, com
as condições de vida, alimentação, habitação, trabalho, etc. Não há como ter saúde,
se não houver as condições mínimas necessárias, como:

“...entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio


ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o fazer e o acesso
aos bens e serviços essenciais, os níveis de saúde da população
expressam a organização social e econômica do País” (Lei nº8080/1990,
artigo 3º).

Com base em Iamamoto (2007) dispondo da “questão social” expressando as


mais variadas formas de desigualdades, resultado da sociedade capitalista madura
em que o lucro e a apropriação das riquezas se encontram privadas e concentradas
nas mãos de poucos, deixando um rastro de miséria e pauperização para os
restantes; destacamos o HIV/Aids em meio aos problemas relacionados a estas
consequências, a partir do momento em que envolve problemáticas referentes ao
meio em que o vírus se instalou na contemporaneidade, e apesar de não escolher
classe econômica a Aids com o passar dos anos encontrou nessa classe todas as
complexidades e dificuldades possíveis para se viver com o vírus.
Os principais fatores estão dentro de questões mais relacionadas ao acesso
de bens e serviços, educação entre outros; envolvendo a organização social e
econômica do País, a despeito de que muito se avançou na história da Aids no
mundo, mas nos países subdesenvolvidos e até mesmo os emergentes como o caso
do Brasil, que se mostrou pioneiro no combate à epidemia, houve profundas
contradições, quanto mais avançava a medicina mais casos emergiam. De acordo
com Jesus et al. (2017) em destaque na América Latina, o Brasil apresentou um
aumento no número de infecções entorno de 11%.
98

Nos moldes de como se configura o contexto desta epidemia, a propagação


do vírus se encontra na grande maioria dos casos em camadas com menos
condições socioeconômicas, configurando a denominada pauperização e
interiorização da doença (PINTO et al. 2007). As problemáticas sociais que
repercutem na vida desses sujeitos adquirem propensão no aumento considerável
desta epidemia, devido obscurantismo, ingenuidade, falta de informação etc. O
objetivo da profissão dentro da política de saúde, segundo CFESS (2010, p: 28),
“passa pela compreensão dos determinantes sociais, econômico e culturais que
interferem no processo saúde- doença e busca estratégias político-institucionais para
o enfrentamento dessas questões. ”
Para tanto essa aparelhagem nos rumos desta epidemia necessita de ações e
respostas políticas e públicas mais qualificadas, eficazes e continuas, pois, se tem o
avanço da medicina em detrimento do social; sem a percepção da integração entre
as ações socioeducativa, socioassistenciais e articulação com a equipe de saúde
não se tem como combater os desafios que continuam se arrastando por décadas.
O trabalho em equipe é de grande valia para a soma e troca em
conhecimentos, a equipe multiprofissional se configura em aspectos biopsicossociais
que podem se construir em demanda a qualquer hora em qualquer momento do
processo de diagnostico, tratamento e reabilitação. Faz parte da conduta do
assistente social o estimulo ao trabalho interdisciplinar, pois dá o suporte para a
compreensão do ser social em totalidade. “As novas diretrizes das diversas
profissões tem ressaltado a importância de formar trabalhadores de saúde para o
SUS com visão ampla, generalista e não fragmentada” dentre elas o Serviço Social
(BRAVO; MATOS 2009, p. 213).
Para tanto o profissional de Serviço Social como parte desse processo
multiprofissional possui o seu eixo de singularidade, posto que, diferentemente das
outras profissões com características predominantemente biológicas, lida com a
organização social, econômica e política da sociedade.
Segundo Oliveira (2009, p:359), considerando a formação generalista dos
assistentes sociais36 e sua inserção na área da saúde, encontra -se um profissional

36 A formação generalista no Serviço Social abrange um leque de conhecimentos centrados


nas Ciências Sociais e apartados das Ciências Biológicas, o que demanda, durante a pratica de
saúde, a necessidade de incorporar conhecimentos teóricos que diretamente interliguem as
discussões do processo saúde/ doença relacionadas com as condições sociais (OLIVEIRA, 2009, p.
362).
99

com um valioso conhecimento de todas as peculiaridades da política de saúde,


desde seu surgimento como política pública antecedendo a reforma sanitária e seus
desdobramentos, o conhecimento epidemiológico, e modelos técnicos-assistenciais,
entre outros.
Miranda (2012) destaca a extrema importância da ação dos assistentes
sociais inseridos nos serviços de atenção à saúde, com destaque para estes
inseridos no âmbito das PVHA, visto que, o perfil de intervenção deste profissional,
que atua nas várias expressões da “questão social” oportuniza uma abordagem da
problemática além do enfoque curativo, atendendo pretensões do que se configura a
saúde após a constituição de 88, reconhecendo o avanço da incorporação legal dos
aspectos sociais, econômicos, etc.
Concordamos com Bastos e Szwarcwald (2000) quando sinalizam doenças
que as variáveis sociais e econômicas tendem a serem determinantes importantes
pela sua disseminação, como é o caso do vírus do HIV, pois quanto mais vulneráveis
economicamente e desassistidos de políticas públicas de educação e saúde, tornam-
se mais complicado alcançar a qualidade de vida satisfatória dentro da cronicidade
que o tratamento exige.
Por razões predominantemente sociais; como o enfrentamento de demandas
que são pouco atendidas, como as residências em locais com pouca infra- estrutura,
pouca informação, baixo poder aquisitivo para se prevenir e se tratar, entre outros
problemas como cita Jesus et al. (2017) problemas relacionados com a sexualidade,
relações sociais os quais podem comprometer sua saúde mental e física. Toda essa
gama de elementos torna a epidemia desafiadora, exigindo uma abordagem que
concilie as particularidades relacionada e aliada a percepção do sujeito em seu
contexto biopsicossocial.
Para realizar uma atuação competente e crítica do Serviço Social na área da
saúde segundo CFESS (2010) consiste em conhecer essas condições colocadas
acima, principalmente conhecer também as condições de vida e trabalho dos
usuários, bem como seus determinantes sociais que interferem na relação saúde e
doença. Não podemos deixar de pontuar que segundo Brasil (2019) a maior parte
das pessoas que estão contaminadas estão entre a faixa etária de 24 a 30 anos, são
pessoas economicamente ativas, e facilitar o acesso de todo e qualquer usuário as
redes de serviços e direitos sociais já é desafiador pela proposta de
100

descaracterização original do SUS pelos rearranjos dos governos, lidar com PVHA
em adesão ao tratamento inclui buscar estratégias além destas postas.
Ainda temos a barreira do preconceito no enfoque, que se pararmos para
pensar que durante o acompanhamento do tratamento exige-se a rotina de consultas
e retirada de medicação em dia, e como lidar com o anonimato durante as
constantes ausências no expediente laboral sem levantar especulações sobre o
tratamento, visto que essas pessoas vivem em segredo constante sobre sua
condição.
A dificuldade de conter o aumento dos casos de contaminações necessita de
ações que operem nas problemáticas advindas do contexto social e das condições
econômicas na qual os indivíduos estão inseridos.
A doença se coloca nas camadas de pobreza permanente em um processo
continuo, pois quanto mais desassistidos estiverem, além de estarem facilmente
propensos à contaminação, quando já contaminados se deparam com outra
incerteza: a adesão continua ao tratamento. É possível supor que esse é o resultado
do grande número de óbitos que destaca- se nos Estados ao nível da Amazônia,
pois a adesão ou a não adesão na sua abordagem mais ampla mostra suas
interferências em cadeia no ponto de vista econômico, político e social.

A adesão ao tratamento assume importância crucial diante da perspectiva


de uma vida longa e com qualidade. Estudos indicam que a eficácia do
tratamento, expressa nos níveis de supressão viral, exige que o uso do
esquema terapêutico deva ser igual ou superior a 95% das doses prescritas.
A adesão insatisfatória pode estar associada ao desenvolvimento de
resistência viral (PATERSON et al., 2000; PHILIPS et al., 2005; SMITH,
2004 apud BRASIL, 2008, p.13).

Entretanto, é sabido que em algum momento há ocorrências de que algumas


PVHA não estão conseguindo aderir as condições mínimas estabelecidas para o
tratamento, na ingestão dos medicamentos, na retirada dos mesmos nos postos dos
estabelecimentos especializados, a falta nas consultas, etc. Essas circunstancias
necessitam de uma apuração mais concreta do ponto de vista social, visto que não é
perspicaz conduzir esse contexto imputando o próprio indivíduo como responsável
pela sua condição, há algo que vai além dessas casualidades (FOINKINOS, 2017).
Segundo Martinelli (2011), o assistente social é um profissional que trabalha
diretamente com o usuário. Quando exerce suas funções no atendimento com
101

pessoas que estão internadas em hospitais, a fragilidade e vulnerabilidade é ainda


maior, e precisam não somente de diagnósticos médicos ou medicamentos,
necessitam também de uma palavra, uma escuta de modo atento, um olhar, de um
gesto acolhedor. Oferecer atenção completa ao paciente, e se humanizar, e tornar
humano o atendimento que está sendo oferecido. Martinelli (1997) complementa
que:
(...) somos profissionais que chegamos o mais próximo possível do cenário
da vida cotidiana das pessoas com as quais trabalhamos. O que para
muitas profissões é relato, para nós é vivência, o que para muitos
profissionais é informação, para nós são fatos, plenos de vida, saturados de
história. (MARTINELLI, 1997, p.21).

A adesão muitas vezes é considerada um fenômeno que se limita ao paciente,


porém existem variadas situações que incidem na adesão, incluindo os que são
relacionados também à equipe de saúde, aos profissionais e ao local onde a pessoa
realiza seu tratamento, o acolhimento é primordial para que se crie vínculo (BRASIL,
2008).
Brasil (2008) manisfesta que o processo de acolhimento é essencial, pois
falhas nessa fase podem comprometer a vinculação do usuario, essa demanada
refere – se a duvidas, as preocupações , angustias, aos medos. Segundo o autor
“acolher signifiica apreender, compreender e atender as demandas do usuário,
dispensando- lhe a devida atenção , com o encaminhamento de ações direcionadas
para sua resolutividade.” (BRASIL, 2008, p. 22).
De acordo com Sant et al. (2013, p 24) essas ações expresam o fazer
profissional, cujo os principais instrumentos de intervenção do Assistente Social é a :
observação que implica em um “conjunto de reflexões que permite compreender o
mundo no qual se está inserido; assim permite uma compreensão diferenciada com
finalidade de superar a fragmentação, com vista a reconstruir a totalidade”.
Também temos a abordagem , que é vista como um canal de comunicação
(primeiro contato); a entrevista, que leva a entender um pouco mais sobre o usuario,
seus questionamnetos, queixas, manifestações; o encaminhamento como ação que
mobiliza varios instrumentos e é considerada como atribuição profissional.

Neste caso, o Assistente Social é o profissional que faz o primeiro


contato/atendimento com os pacientes encaminhados para para as diversas
clinicas especializadas. Seus principais principais objetivos são identificar os
pacientes que necessitam participar dos grupos terapeuticos e mobilizar o
102

grupo de referencia familiar para colaborar no sucesso do tratamento, Para


tanto, as atividades do assistente social articulam- se com as de outros
profissionais da equipe, sobretudo médicos, enfermeiros e psicólogos
(COSTA, 2009, p. 321).

Por conseguinte o acolhimento para o Serviço Social conforme Chupel (2006),


abarca todo os elementos inseridos dentro da adesão ao tratamento, e mais, é
responsável pela reorganização dos serviços de saúde, pela garantia de acesso e
pela criação de vínculos.
É tratado em meio à discussão da integralidade da atenção e da humanização
das relações entre profissionais de saúde e usuários, é um modo de operar os
processos de trabalho em saúde de forma a atender a todos que procuram os
serviços públicos de saúde, ouvindo seus pedidos e assumindo no serviço uma
postura capaz de acolher, escutar e prestar um melhor esclarecimento acerca da
classificação de risco aos usuários. Implica prestar um atendimento com
resolutividade e responsabilização, orientando, quando for o caso, o paciente e a
família em relação a outros serviços de saúde para continuidade da assistência
estabelecendo articulações com estes serviços para garantir a eficácia do
atendimento.
Para CFESS (2010) compete ao Serviço Social estar articulando estratégias
que possam facilitar espaços na unidades que garantam a participação dos
assistidos conjuntamente com outros trabalhadores da saúde em uma relação de
corresponsabilidade aonde o assistido possa ter voz e suas necessidades minimas
ouvidas e atendidas.
A má adesão constitui um ônus significativo para os sujeitos acometidos do
vírus, para o Estado e sociedade, visto que compromete a saúde do doente com
quadros até mesmo irreversíveis, quando não leva a morte, ao Estado em está
prestando seus serviços de saúde, assistência e previdência; e a sociedade quando
sobrecarrega o sistema além de permite que o vírus continue circulando de forma
ameaçadora e silenciosa.
Ao longo desses 37 anos de epidemia a pauperização tem se tornado um
oponente severo devido ao menor grau de instrução e instabilidades das pessoas
afetadas. Portanto oferecer uma escuta atenciosa, estabelecer um vínculo de
103

confiança com o usuário é um passo influente para propiciar uma adesão favorável
as suas clausulas.
Acolher significa apreender, compreender e atender as demandas do usuário,
dispensando-lhes a devida atenção, com o encaminhamento de ações direcionadas
para sua resolutividade, logo acolher é, “O processo de inclusão do usuário no
serviço de saúde e na rede atendimento médico e psicossocial, conforme as
expectativas e necessidades-percebidas ou não do paciente” (SEID apud BRASIL,
2008).
No contexto da Aids o assistente social, na prática do acolhimento, aprimora o
processo do qual ele contribui, incluindo a maneira como ele compreende a
subjetividade do sujeito, dentro do que significa a doença para ele, bem como o
contexto que ele encontra -se inserido. Para tanto o Serviço Social tem como
principal objetivo o desafio de redescobrir alternativas e possibilidades para
desenvolver uma prática profissional que na relação com o usuário contribua para
viabilizar sua participação efetiva nas decisões institucionais, a plena informação
sobre seus direitos, bem como o modo e as condições de acessá-los.
Diante disso, o grande discernimento do enfrentamento dos condicionantes do
vírus, está no objeto de intervenção do assistente social, que através da “questão
social” estabelece uma compreensão baseada na identificação dos determinantes
socioeconômicos e culturais das desigualdades, (conforme estabelecido nas
Diretrizes Curriculares da ABEPSS) posto que, como exposto acima, a pauperização
e interiorização do vírus tem sido assinalado como produto de sua disseminação. Ou
seja, entender a relação do abandono a partir do âmbito social implica relacionar as
diligencias relacionadas a batalha entre as sequelas oriundas do capitalismo.
Costa (2000) pontua que a entrada dos assistentes sociais na área da saúde é
medida pelo conhecimento social da profissão e por um conjunto de situações. Nos
parâmetros para a atuação do assistente social na política de saúde (2010)
apresenta a reforma sanitária como nascente das demandas para que o profissional
trabalhasse questões referentes ao acesso democrático das unidades e serviços de
saúde, na aproximação dos serviços com a realidade, o trabalho interdisciplinar,
acesso amplo e democrático as informações, e os estímulos a participação popular.
O projeto ético-político da profissão e a reforma sanitária são diligencias ligadas, pois
ambos foram construídos a partir de um processo de redemocratização da
104

sociedade brasileira e que se consolidaram na década de 80, colocando na política


brasileira a exigência de transformações políticas sociais. O autor afirma que devido
essas ações, as demandas socioassistenciais tem se colocado como as principais
demandas do assistente social.
Muito embora as dificuldades para viabilizar as reformas na saúde, por carregar
inúmeras questões relacionadas à precarização induzida pelo capitalismo em prol do
privado e em detrimento do público - como: demora no atendimento, problemas com
a qualidade e quantidade no atendimento, desigualdade na cobertura, mortalidade,
morbidade, etc.- o assistente social deve transpor o caráter emergencial e
burocrático oriundos dessas dificuldades, dando uma direção socioeducativa por
meio da reflexão direcionada as condições sócio- histórica que os sujeitos estão
submetidos, e possível mobilização para a participação nas lutas em defesa da
garantia de direitos a saúde (CFESS, 2010, p. 43).
No contexto Aids muito se tem que instigar essa reflexão e jamais deixar esquecer o
papel dos movimentos sociais e da direção sócio educativa que houve no surgimento
da doença, pois através desses caminhos de lutas e embates políticos as conquistas
se tronaram realidade, embora ainda fragilizadas.
Segundo Costa (2009) a partir da consequente operacionalização do Sistema
Único de Saúde e a nova reorganização dos serviços em prol da concepção
preventiva e coletiva correlacionando a condições de vida e de trabalho do adoecido,
o Assistente Social tem no diálogo, uma ferramenta de execução do seu trabalho. É
um profissional que desenvolve cotidianamente a análise e estudo da realidade
vivenciada pelo usuário, e este processo acontece somente quando há esta relação
de troca do assistente social com o paciente. Relação construída institucionalmente
e com base na construção de confiança que segundo o manual de adesão de
pessoas que vivem com HIV/aids, o diálogo é o primeiro passo para a correlação
entre o sujeito e sua condição e estabelecendo a corresponsabilidade entre ele e a
equipe de saúde.
105

4 A ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NO ENFRENTAMENTO DAS


DEMANDAS RELATIVAS HIV/AIDS E O PROCESSO DE ADESÃO NO HUJBB

Este capítulo discorre sobre a pesquisa de campo, considerando as


particularidades do SAE, a ação profissional e os pacientes vivendo com HIV/Aids.
O conjunto de procedimentos metodológicos integrou observações e analises do
setor em foco, entrevistas semiestruturadas com pessoas- chaves, tendo como
sujeitos pacientes que estão dentro do banco de dados do SAE, incluindo o
levantamento do perfil social dos que estão dentro da lista de pacientes faltosos do
Sistema de Controle Logístico de Medicamentos (SICLOM) e a interlocução de
pacientes que por algum motivo durante viver com o vírus tiveram falhas na adesão
ao tratamento.
106

4.1 Arguição da localidade, ação profissional e o abandono do tratamento de


PVHA no SAE

A pesquisa foi realizada no município de Belém, situado na região Norte do Estado


do Pará, possui uma população estimada de 1.485.732 habitantes segundo
Estatística do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística em 2019, configurando o
município mais populoso do Estado. A área metropolitana de Belém dispõe de um
Centro de Referência Especializada em Doenças Infecciosas e parasitárias
Especiais (UREDIPE), Uma Unidade de Referência Materno infantil e Adolescente
(UREMIA), o Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA),Centro de Atenção à
Saúde nas Doenças Infecciosas Adquiridas(Casa Dia) e o Serviço De Atendimento
Especializado (SAE), que encontra – se no HUJBB compondo a Unidade De
Doenças Infecto Parasitarias (UDIP) do hospital onde é referência Estadual no
tratamento de doenças infectocontagiosas. No que tange o interior do Estado o
tratamento está disponível em 74 Centros de Testagem e Acolhimento (CTAs).
A ação profissional no HUJBB tem como referência o "manual de normas,
rotinas e procedimentos do Serviço Social no Hospital” que possuem parâmetros
para a atuação profissional e os instrumentos técnico-operativo de intervenção no
âmbito da assistência do HUJBB preparada pela equipe de Serviço Social afim de
garantir a assertividade e resolutividade das situações apresentadas na perspectiva
da garantia de direitos. A legislação utilizada é a que orienta a profissão: o Código de
Ética da profissão; Lei de Regulamentação da profissão de Assistente Social —

Lei n.° 8.662 de 07.07.93; os princípios e diretrizes das leis: - 8080 de 19.09.1990 e
8.142 de 28.12.1990 (SUS — Sistema Único de Saúde); - 8.742 de 07.12.1993
(LOAS — Lei Orgânica da Assistência Social).
Considerando as particularidades das unidades de atendimentos, essa pesquisa foi
disposta para análise no âmbito do SAE do HUJBB por se tratar de uma unidade de
Referencia Estadual no tratamento de infecções infecto-parasitárias e HIV/Aids.
A princípio, seria no âmbito da DIP (Ambulatório de Doenças Infecto
Parasitarias - HUJBB), porém a epidemia pela sua característica versátil em se
manifestar, as circunstâncias que almejávamos encontrar fora substituída por outra,
que não era mais a mesma de quatro anos atrás que moveu a proposta do estudo.
Hoje a DIP está mais composta por pacientes recém diagnosticados, que
107

descobriram a contaminação durante a internação e o outro fator significante foi


deparar com uma redução considerável de leitos (em torno de 10 ou mais), que
segundo a equipe da clínica teria sido bloqueios administrativos por falta de verbas.
Portanto o SAE foi o local que melhor abrangeu a viabilidade da pesquisa por
se tratar de um ambulatório especializado e por proporcionar uma conexão melhor
com a equipe de saúde e os usuários.
O SAE no HUJBB desempenha um papel importante na estratégia de
enfrentamento da epidemia AIDS, é uma unidade de caráter ambulatorial que
propicia um vínculo da pessoa vivendo com HIV/AIDS a uma equipe multiprofissional
voltado ao bem-estar, a humanização e a qualidade de vida do assistido. A
implantação do serviço permite garantir a resolutividade, equidade e a integralidade
dos serviços, mesmo apresentando também dificuldades de ordem política,
econômica e estrutural local.
As dificuldades apontadas no estudo de ordem políticas e econômicas estão no
panorama das respostas em que o Estado oferece para saúde. Um dos ataques
relevantes começou com a Proposta de Emenda Constitucional 241/16 (PEC do teto
dos gastos públicos) que segundo o Conselho Nacional de Saúde (2019), a Saúde
perdeu R$20 bilhões em 2019 por causa da Ementa Constitucional de 2016.
O corte de gastos na área da saúde está dentro de um contexto completamente
desfavorável, pois vivemos em uma crise sanitária sem precedentes. Retorno de
doenças como o sarampo, a ameaça da poliomielite, a situação preocupante da
febre amarela são apenas alguns agravos e situações que se tornam concretos com
a ameaça de cortes na saúde (BRITO, 2018).
A restrição destes gastos por até 20 anos não contava com a chegada de novas
epidemias, inclusive de caráter também global: COVID -19 e os seus efeitos. O
aumento da mortalidade mundial está sendo avassalador e o aumento da pobreza
também somou - se aos efeitos. Como se combate uma crise sanitária se as
possibilidades de contenção são alvos de constantes desmontes? No âmbito do
HIV/Aids houveram inúmeros efeitos negativos e desumanos; uma dessas ações foi
o fim do Departamento de HIV/Aids do Ministério da Saúde, que passou a se chamar
Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das IST, do HIV/Aids e das
Hepatites Virais, desmontando toda trajetória de luta pela visibilidade que as
particularidades do vírus reúnem.
108

Para as pessoas que vivem como o HIV/Aids do SAE precisar de acompanhamento


de longa duração assombra sua saúde emocional, pois questionamentos e duvidas
pairavam sempre sobre as incertezas sobre os cuidados que são fornecidos pela
instituição através do SUS: como os exames, medicação, internações, até o próprio
medo da exposição que esse desmonte na saúde poderia lhe causar.
O impacto direto da redução orçamentária para a saúde, no caso das
políticas de prevenção ao HIV/Aids tem acontecido diretamente nas ações
educativas, no acesso a informações e meios de prevenção e na falta de
medicamentos e insumos. A análise da execução orçamentária da Saúde
pelo CNS aponta um cenário em que os recursos reservados para executar
as políticas públicas têm sido contingenciados seguidamente (BRASIL,
2019).

No que tange a infraestrutura local do SAE, encontramos um ambiente que


necessita de modificações para proporcionar melhores meios para a promoção,
prevenção e proteção da saúde dos assistidos. Apesar dos inúmeros esforços, as
ações principalmente do Assistente Social ficam limitadas. Durante a elaboração
desta pesquisa foi proposto e construído pelo pesquisador dois projetos para o SAE,
um referente a qualificação do Assistente social propondo a educação permanente
baseada nas diretrizes curriculares da profissão (ABEPSS- 1996) e outro para uma
possível efetivação de uma Sala de Espera 37. Ambos os projetos, embora o empenho
da Assistente Social do SAE tenha sido incansável, estão parados à mercê da
burocracia e dos cortes desenfreados.
No Ambulatório não há sala exclusiva para o atendimento social, existe uma espécie
de rodízio de horários e de salas, tudo para que o assistido possa usufruir do sigilo
profissional como pede a resolução do CFESS nº 493/2006. O atendimento social é
geralmente pela parte da manhã.
A maior parte deste estudo efetuou-se dentro da sala de atendimento junto a
presença do Assistente Social do ambulatório durante um período de quatro meses
de observação. Para início da análise, através do Sistema de Controle Logístico de
Medicamentos (SICLOM38), foi constatando no período de outubro um total de 520
37 A sala de espera está dentro das diversas ações em adesão que propicia um espaço
privilegiado pois pode permitir a construção de um canal de diálogo entre a equipe de saúde e
usuário, favorável a troca de experiência (BRASIL, 2008)
38 O SICLOM foi criado com o objetivo do gerenciamento logístico dos medicamentos
antirretrovirais. O sistema permite que o Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das IST,
do HIV/Aids e das Hepatites Virais se mantenha atualizado em relação ao fornecimento de
medicamentos aos pacientes em TARV, nas várias regiões do país. As informações são utilizadas
para o controle dos estoques e da distribuição dos ARV, assim como para a obtenção de informações
clínico-laboratoriais dos pacientes e uso de diferentes esquemas terapêuticos
109

pessoas com o cadastro ativo para o acompanhamento do tratamento, averiguamos


que em torno de 21% desses assistidos interromperam o tratamento com atraso a
partir de 30 dias.
Do total de 520 cadastrados, 111 estavam na lista de faltosos, ao verificar os
respectivos prontuários dos que estavam em abandono, observamos as seguintes
ocorrências: os meios de comunicação (telefone pessoal) estavam ou em branco ou
com algarismos a mais, tornando o contato inviável, salvo 04 contatos que estavam
corretos, porém foi repassado por familiares o óbito dos mesmos por abandono do
tratamento, 07 dos contatos já estavam no cadastro de óbitos do hospital, mas não
tinha sido atualizado no sistema do CICLON, logo a informação foi repassada ao
departamento responsável para ser atualizada.
Diante desta realidade foram levantadas algumas hipóteses sobre esse
comportamento em relação ao anonimato: a autoexclusão como resistência a não
aceitação de sua condição; o medo de ser exposto em alguma situação que possa
dar indícios do seu tratamento; e a consequente especulação por terceiros de sua
condição vivendo com o vírus, pois é sabido o quanto essa propensão é
criminalizada ao logo de sua trajetória no campo moral e social.
Portanto, em decorrência dessa realidade não foi possível fazer a pesquisa
que almejávamos com os pacientes em abandono da lista do sistema de controle
logístico de medicamentos (CICLOM), e nem a almejada expectativa em tentar
reatar estes com a adesão, entretanto pudemos fazer uma análise social com alguns
dados que estavam disponíveis nos prontuários desta população para concretizar o
estudo após o domínio de questões levantadas.

4.2 O Perfil das Pessoas com HIV/ Aids e o abandono do tratamento

Está seção objetivou traçar o perfil social das PVHA que estão a mais de 30
dias em abandono de tratamento dentro da lista do SICLON do HUJBB- SAE. Como
já exposto neste trabalho, o SAE possui 520 pacientes em acompanhamento,
contendo um total de 111 em abandono, totalizando um total de 20% desta
população com falha na adesão. Este perfil foi constatado a partir do estudo

(http://www.aids.gov.br/ptbr/gestores/sistemas-de-informacao/sistema-de-controle-logistico-de-
medicamentos-siclom.> Acesso: 02/10/2019>
110

pormenorizado de cada prontuário de acordo com o sexo, localidade de residência,


tempo de abandono, escolaridade e estado civil.
O primeiro gráfico explicita o perfil de pessoas que abandonaram o tratamento a
partir do sexo.

Gráfico 18 - Perfil de acordo com o sexo de PVHA relacionadas a não adesão


ao tratamento no SAE- HUJBB.

Fonte: pesquisa de campo. Acesso ao prontuário de atendimento 2019.

O gráfico 18 evidencia que há mais homens (72%) que mulheres (39%) dentro
da lista de abandono do SICLOM, porém de acordo com o cadastro total de pessoas
registradas (520 PVHA) a maioria da população também são do sexo masculino.
Atualmente no SAE possui um percentual de 63,8% de homens para 36,5 %
mulheres. Tradicionalmente a mulher mostra-se mais preocupada com os cuidados do
corpo, já o homem tende a ser um pouco mais displicente em relação o a própria
saúde, embora nos últimos tempos essas diferenças venham tendo mudanças. Gomes
(2008) explica esse comportamento como sendo resquícios de uma cultura
hegemônica da masculinidade, ligada à legitimidade do patriarcado, que garante a
dominação dos homens e a subordinação das mulheres; envolto na demonstração de
força, disputa e virilidade, ao exercício do papel de provedor dos filhos. E essa cultura,
gera entre os homens a falta de uma instrução preventiva que valorize o autocuidado,
corroborando com o medo da descoberta de alguma doença e a possibilidade de ter
que se submeter a um tratamento ou até mesmo a vergonha em realizar procedimentos
clínicos, entre outros elementos.
111

Entretanto, segundo o mesmo autor, esse comportamento de “masculinidade


hegemônica” contribui para uma baixa percepção de risco e invulnerabilidade dos
homens frente aos agravos e às situações e comportamentos de risco vivenciados no
seu cotidiano. Brasil (2012, p. 5) afirma que a “Saúde do Homem” ainda não foi
suficientemente abordada quanto a sua relevância e especificidades e que somente
nas últimas décadas, pesquisadores, ativistas e profissionais, “têm adotado a categoria
gênero para caracterizar e explicar os padrões de morbidade da população masculina,
bem como os contextos de (in) vulnerabilidade, materializados cotidianamente nas
práticas, nas atitudes e nos comportamentos assumidos pelos homens em suas
relações sociais”, pois, reconhecer e respeitar as diferenças individuais significa aplicar
o princípio da equidade nas práticas de saúde (BRASIL, 2012, p. 1).
Em resumo, significa reconhecer que todos precisam de atenção, mas não
necessariamente dos mesmos atendimentos. O princípio da equidade norteia as
políticas de saúde pública brasileira, reconhecendo necessidades de grupos
específicos e atuando para reduzir o impacto das diferenças.
Entretanto, dentro do SAE-HUJBB, o percentual de abandono em relação a
categoria sexo encontra -se de 21,8% dos homens para 20,3% das mulheres, portanto
a categoria sexo não é um fator de diferença na questão do abandono, pois, o
percentual entre homens e mulheres que abandonam são bem próximos.
O próximo gráfico aborda a localidade de moradia dos faltosos compreendendo
a capital Belém (onde o acompanhamento é feito), assim como outras localidades no
Estado do Pará e outros Estados do País.
Gráfico 19 - PVHA que abandonaram o tratamento conforme a localidade de origem.
112

Fonte: Pesquisa de campo. Acesso a prontuários de atendimento 2019.

Esse dinamismo nas localidades pode estar associado com a vergonha ou


medo de ser descoberto com sorologia positiva, o medo da discriminação e dos rótulos
associados ao vírus desde sua origem como epidemia, levam também PVHA de outras
localidades a buscarem o acompanhamento na capital; saem dos seus respectivos
locais de moradia em busca do anonimato, também não se exclui a falta ou
precariedade dos serviços relacionados ao vírus/doença na região de origem.
O perfil geral das pessoas cadastradas mostra que 297 pessoas são de
Belém com o percentual de 57% e 223 são de outras localidades, localidades estas
situadas dentro e fora do Estado com um percentual de 42%.
Em relação as pessoas que abandonaram o tratamento dentro do SAE-HUJBB
constam que 27,3% são da região metropolitana de Belém e 13% são de outras
localidades. Apesar do aceso aos serviços na capital Belém serem mais fáceis para as
pessoas que morem na região metropolitana tanto pela proximidade quanto pelos
meios de transportes, elas abandonam mais em percentual do que as pessoas que
precisam percorrer uma distância maior vindo de outras localidades, constando
assistidos até mesmo de outros Estados. Portanto estes dados mostram uma aparente
contradição: o porquê que as pessoas dentro da Capital abandonam mais?
O gráfico abaixo discursa sobre o tempo de abandono em relação a população
total de faltosos, conjuntamente com a quantidade de homens e mulheres faltosos, a
partir do tempo de 1mes a 3 meses, 4meses a 1 ano e a partir de 1 ano em diante de
abandono.
Gráfico 20 - Interrupção e Abandono de tratamentos ao HIV/Aids no SAE
113

Fonte: Pesquisa de campo. Acesso a prontuários de atendimento 2019.

Em geral o abandono do tratamento retroviral (TARV) pode ocorrer em paralelo


ao abandono do tratamento clínico e acompanhamento social, e nesses casos o
serviço de atendimento pode perder até completamente o contato com o usuário devido
a troca de endereços, telefone, etc. De acordo com a pesquisa no HUJBB constatou-
se que o SAE não dispunha de uma estratégia para o regresso desses usuários, visto
que não se apropria do controle da má adesão e abandono, assim como da própria
abordagem consentida39, inviabilizando o contato, e desconhecendo as dificuldades e
motivos que levam ao abandono, somente com o retorno que abordam as dificuldades.
No decorrer da pesquisa, por ocasião da necessidade de inclusão do Termo
Consentimento Livre Esclarecido (TCLE) aos prontuários, constatou-se que o mesmo
havia sido revogado pela INT GM/MS n° 593, de 20.05.2015, através da Lei 7658/14,
do Senado Federal, que garante o sigilo da sorologia. Em virtude de a abordagem
consentida utilizar estratégias tanto por contato eletrônico, quanto pessoalmente,
entende-se que pode causar especulação sobre a condição do sujeito no meio social,
causando possíveis constrangimentos e desconfortos, deste modo atua com intuito de
evitar manifestações discriminatórias, haja vista que, ainda hoje a doença conta com
forte estigma social.
O próximo gráfico indica o nível de escolaridade das PVHA que abandonaram o
tratamento na lista do SICLOM.
39 Autorização previa para contato com o usuário por meio da assinatura do Termo Livre e
Esclarecido (TCLE) de acordo com a instrução Normativa nº1. 626 de 10 de junho de 2007.
114

Gráfico 21 – Escolaridade das PVHA que abandonaram o tratamento

Escolaridade
Escolaridade
80
58
60
40
21
13 14
20 2
1
0
2° 2° incomp 1° comp 1° incomp sem em
completo instrução branco

Fonte: Pesquisa de campo. Acesso a prontuários 2019.

De acordo com o grau de escolaridade dentro da pespectiva dos envolvidos,


nesta análise a maior parte das pessoas que abandonam o tratamento estão entre o
primeiro grau incompleto, seguido do segundo grau completo. No contexto geral
relacionado à escolaridade não se pode supor que pessoas com baixa escolaridade
estariam mais vulnerais ao contagio do HIV, porém é indiscutível a realidade de que
a baixa escolaridade causa certa limitação no entendimento sobre as questões
pertinentes aos próprios direitos, referentes à seguridade social e no combate à
discriminação e o preconceito.
O abandono pode estar associado ao nível de entendimento da informação
relacionada à adesão do tratamento, de quais os cuidados a serem tomados, da
importância da continuidade sem falhas, do acompanhamento clinico e social e do
combate à discriminação.
Assim pode-se dizer que sua capacidade cognitiva de interpretar os estímulos
do seu comportamento relacionados ao meio em que vive, em que estabelece
relações sejam elas pessoais ou de trabalho, à equipe de saúde, a família e a
terceiros, possam ficar suscetíveis a desacertos. Muito embora a capacidade
cognitiva seja sempre acrescida de crescente processo de aprendizado há lapsos de
situações mal interpretadas, inclusive até em pessoas com níveis de escolaridades
relativamente altos.
No próximo gráfico compreende a situação da PVHA com relação ao
matrimônio ou a sociedade conjugal.
115

Gráfico 22 - Estado civil de PVHA que abandonaram o tratamento segundo a lista do


SICLOM

Fonte: Pesquisa de campo (2019).

O Gráfico mostra que 79% desta população são solteiras, seguida de 20%
casados e 1% encontram – se desquitado. Durante o levantamento deste dado não
houve a possiblidade de fazer a comparação entre os percentuais totais de
cadastrado versos os que constam na lista de abandono do SICLOM, por haver
prontuários no cadastro total dos assistidos com preenchimentos incompletos
referentes a esses dados.
É importante ressaltar a não adesão não como um problema exclusivo do
serviço de saúde e da equipe multidisciplinar que nele atua, mas ampliar para todos
os elementos da vida que determinam e influencia a realidade social das pessoas
que vivem com o vírus, ou seja, quais as expressões da questão social que estão
mais evidentes denunciando as contradições que também permeiam e fundamentam
as políticas sociais voltadas a esses assistidos.
Pois, como já exposto anteriormente, os direitos a saúde e assistência social,
assim como todos os outros direitos sociais, foram conquistados através de lutas da
classe trabalhadora por melhores condições de vida e cidadania. Portanto, a história
é feita de embates e conflitos das classes subalternas com a burguesia dentro de um
sistema capitalista neoliberal e excludente. Porém, na prática vivenciada a partir da
pesquisa pode-se notar que os serviços de saúde e assistência social, apesar de
serem direitos assegurados, não conseguem alcançar na integra a proposta que
116

permeiam e fundamentam as políticas sociais para minimizar os riscos da exclusão


no âmbito da AIDS.
A Adesão ao tratamento para qualquer doença crônica (diabetes, hipertensão,
HIV, etc) envolvem mudanças dietéticas, o uso de medicamentos para o resto da
vida, entre outras necessidades, porém para o HIv/Aids no decorrer dos estudos
observou–se que envolve desafios que vão além dos arranjos específicos de um
tratamento, envolve valores morais que mesmo após 37 anos de história na
humanidade apresentam situações de maiores vulnerabilidades, como mostram esta
pesquisa.

4.3 Análise da coleta de dados qualitativos: entrevistas

Conforme já explanado no tópico anterior, as entrevistas foram alocadas para


outro público – alvo, no caso para a população total de PHVA que estão no banco de
dados do serviço Especializado que certamente possuem uma boa adesão, mas que
por algum motivo no decorrer da sua vida vivendo com o vírus interrompeu o
tratamento.
Durante os atendimentos diários do SAE, houve inúmeros relatos de
assistidos que teve falhas durante o percurso em viver com o vírus correspondente a
adesão do tratamento, assim como dificuldades em manter o acompanhamento
eficaz.
No SAE também tivemos a oportunidade de trabalhar com pacientes de outras
unidades de tratamento através do grupo de Adesão “Bem Viver”, que segundo
Campos (2000 apud BRASIL, 2008. p. 98) “É uma estratégia amplamente utilizada
em saúde pública, incluindo ações direcionadas à adesão. Em geral, os grupos são
formados por pacientes que apresentam a mesma condição, no caso o HIV/Aids”.
No grupo “Bem Viver” colocamos em uma das reuniões a pauta sobre o
processo de adesão e suas dificuldades, e todos os assistidos foram unânimes em
colocar o problema da continuidade satisfatória no preconceito e discriminação, pois
para eles o mais difícil de todo o contexto é lidar com os estigmas que ainda são
presentes de forma ostensiva. Uma das falas trouxe a seguinte colocação: “se fosse
só viver com o vírus do HIV eu era feliz, o problema é o preconceito”.
117

Após alguns dias de trabalho e pesquisa um dos pacientes da lista de


abandono retornou após nove meses de interrupção e na oportunidade ele foi um
dos entrevistados. No decorrer do atendimento da Assistente Social foram feitas
perguntas sobre o motivo da interrupção do tratamento:

Eu precisei viajar e não disse para ninguém, como eu não sabia que eu
poderia pegar a medicação em outro Estado, eu fiquei sem tomar o remédio
e eu também não sabia que eu poderia ter adoecido desse jeito aí que a
senhora me falou... (assistido 01)
Algumas dificuldades na continuidade do tratamento esbarram sim na falta
de informação. São 37 anos de epidemia, mas os mitos as dúvidas e a
desinformação continuam de forma preocupante. A maioria dos assistidos
aqui nesta unidade são pessoas com nível de escolaridade baixo com certas
limitações econômicas e sociais, esses entraves contribuem para que a
troca de informações não seja absorvida em excelência para ambos os
lados, tanto do profissional quanto do assistido. [...] Além de correr o risco
de adoece e ficar com sequelas irreparáveis ou até mesmo morrer, a carga
viral dele deve estar altíssima comprometendo até a retomada da eficácia
do Antirretrovirais. (ASSISTENTE SOCIAL 02)

Segundo dados do Boletim Epidemiológico (2019) com relação à


escolaridade, no período de 2007 até 2019, a maior parte das pessoas que vivem
com HIV/Aids tem até o ensino médio completo. Em seguida observam-se
escolaridade entre a 5ª e a 8ª série incompleta. Na esfera dos faltosos do SAE 100%
estão dentro desta realidade, porém com maior parte dentro dos parâmetros da 5º a
8º serie, dados bastantes sugestivos em relação ao exposto acima quando se
colocam as limitações estruturais de escolaridade que repercute nas dificuldades
econômicas, sociais, e possível falha nesse feedback entre os profissionais e os
assistidos. Essa baixa qualificação expõe essas pessoas a trabalhos de baixa
remuneração, rebaixando a qualidade de vida e as perspectivas de futuro melhor.
O nível de escolaridade é um parâmetro para a compreensão do entrave da
inclusão social desse segmento social e como agravante dentro da esfera da
epidemia reforça-se a concepção de que pessoas desassistidas de políticas públicas
de melhoria da qualidade da educação estão mais propensas a abandonar ou
interromper a adesão ao tratamento, não só pela falta de informação, mas pelo
conjunto que esse contexto arremete; e, segundo o manual de adesão ao tratamento
de pessoas com HIV/Aids, a baixa escolaridade faz parte dos aspectos que podem
dificultar a adesão, pois, acarreta em habilidades cognitivas insuficientes para lidar
com as dificuldades e as exigências do tratamento(Brasil 2008).
118

No tocante dos demais entrevistados (PVHA e família) em relação às causas


que compeliram para a interrupção em algum momento da adesão do tratamento no
SAE, responderam que:
...quando chega o final de semana e vai sair junto com os amigos, ele
deixava de tomar. Ele tem vergonha dos amigos, os amigos saberem. Ele
tomava sem os amigos verem, aí quando chegava o final de semana eu
notava que ele não tomava. Os das 7h ele tomava porque eu dava para ele
antes dele sair, o que eu dava pra ele levar pra tomar no outro horário tem
pra mim que ele não tomava porque sobrava muita medicação, sabe.
(FAMILIAR 01)

Na fala acima existem dois fatores relevantes, os fatores que podem dificultar
a adesão e o fator que pode facilitar. O que dificulta a continuidade do tratamento é o
medo de ser “descoberto”, demonstra o receio em ser rejeitado, descriminalizado,
em virtude também daquelas pessoas fazerem parte do seu rol de trabalho, pois não
se sabe qual seria o impacto que isso poderia causar em relação ao seu emprego, e
ao meio social que ele usufrui. Outro fator relevante é o uso bebida alcoólica, pois o
mesmo, nos fins de semana (conforme relata o familiar), que as “noitadas” eram
recorrentes e a medicação ficava suspensa.
O fator que facilita a adesão é o apoio familiar, no cuidado, na preocupação,
inclusive nos retornos ambulatoriais o que permitiu a entrevista deste familiar. Porém
embora o suporte familiar esteja presente no aspecto efetivo-emocional (companhia,
atenção, escuta) e operacional (acompanhar em consultas, etc.) é importante que a
rede de apoio contenha amigos/ou, pessoas efetivamente significativas, que neste
caso percebemos não haver e consequentemente faz com que o suporte dele se
encontre insuficiente como coloca o manual de adesão ao tratamento para PVHA
(BRASIL, 2008).

Primeiro que eu comecei aqui, e pra mim é difícil ir e vim todo tempo, e eu
trabalho, não faço lá porque lá é pequeno, se você vai pra um atendimento
aquela enfermeira é lá do teu lugar, ela não vai ter a ética de atender e ficar
no trabalho dela. Ela sai dali e comenta com o colega, que comenta com
outro e assim vai. Antes deu chegar em casa todo mundo já sabe. O Serviço
Social de lá do programa o TFD, disse... Olha tem passagem gratuita se
você quiser... Pede laudo. Eu digo não. E aí eu não aceito não. “Ah, mas vai
ser bom pra ti porquê...” e eu digo não, obrigado! Nem deixo terminar de
falar. O preconceito mata mais que a doença. (ASSISTIDO 02) ...ninguém
especula mais, eles afirmam. Quando eu peguei a toxoplasmose eu fiquei
muito magro, fiquei 21 dias internado aqui. Aí, já viu que tinha esse
problema. Já me deu vontade de assumir perante... “olha, eu tenho! ” Não
sou o primeiro cidadão nem o ultimo que tem isso. Eu estou bem, graças a
119

Deus estou bem. Eu me considero bem porque não estou velho; se não
fosse essa falha de tomar eu não tinha ficado assim. (ASSISTIDO 03)

Os dois entrevistados acima relatam que o fator de dificuldade se encontra em ter


que fazer o acompanhamento em Belém, por não ter o serviço em suas localidades,
e muitas vezes, não conseguem se deslocarem no tempo certo para os
atendimentos por conta de suas atividades laborais, pois sentem receio de levantar
alguma suspeita em viver com o vírus. Inclusive o assistido 03 relatou que em razão
dessa falha na adesão levou-o a adquirir toxoplasmose o que comprometeu os
movimentos da mão direita. Também relatam que, mesmo que tivesse o serviço
especializado em suas localidades, os mesmos não iriam fazer o acompanhamento
na localidade.

A gente passa por uma provação, aí vem outra, aparece outra e mais
outra... No final acaba desmotivando a gente de viver, sabe? Eu já pensei
em desistir, mas não vou mais fazer isso, porque eu tenho dois filhos. Não é
mais como antes assim, tá certo que ainda existe aquele preconceito das
pessoas falaram coisas que realmente elas não sabem. Eu já vi gente
chegar aqui, ah! E agora? Eu tenho que separar as coisas pra ele, prato,
colher... Eu digo: não é assim, não existe isso... E por causa dessa
ignorância das pessoas que esse vírus se alastrou (ASSISTIDO 04).

O entrevistado acima descreveu os momentos ruins passados com


dificuldades relacionadas ao meio social em que vive, pois se sente constantemente
discriminado, inclusive já parou de tomar a medicação porque decidiu não mais
viver, achava complicado lidar com a falta de conhecimento das pessoas e empatia.
Na fala destes 4 sujeitos podemos encontrar formas diferenciadas de como foi
se processando o comprometimento da continuidade do tratamento, porém em todos
os relatos observou-se o fator chave da falha, a discriminação e o preconceito. As
situações descritas acima, embora sejam situações diferentes, convergem para uma
dimensão fora da ingestão da medicação, possíveis efeitos colaterais, ou
dificuldades na aquisição dos mesmos. A desfavorável falta de informação de
terceiros sobre viver com HIV alicerçada ao pré-julgamento causa uma compilação
de fatores que condicionam a privação ou falhas na continuidade da adesão dos
assistidos no SAE.
120

A maioria da população que vive com HIV, segundo o Ministério da Saúde


(2020) está entre os jovens, em pessoas de 25 a 39 anos, de ambos os sexos, os
casos nessa faixa etária correspondem a 52,1% dos casos do sexo masculino e,
entre as mulheres, a 48,1% do total de casos registrados. Essa faixa etária paira no
âmbito das pessoas economicamente ativas, não que está seja a única realidade
das mesmas, pois entende-se que há grande quantidade de desempregados,
subempregados e etc. no caso dos entrevistados esse cenário implica de forma
relevante, pois viver em sociedade, levar uma vida “normal” implica em lidar
diariamente com o medo de sofrer estigma, preconceito ou discriminação.
A comunicação do diagnóstico para as pessoas do convívio sociofamiliar é
uma decisão muito difícil, pois o “segredo” sobre o HIV pode ter impacto negativo na
adesão. Manter-se anônimo pode significar deixar de fazer muitas coisas do próprio
tratamento como: ir as consultas, buscar a medicação e tomar nos horários certos,
assim como deixar do próprio direito de usufruir de políticas públicas e benefícios,
em uma palavra de seus próprios direitos, como é o caso de negação do TFD entre
outros direitos.
Assim, é possível entender a dificuldade de se ter uma adesão eficaz quando
o paciente se vê forçado a viver se “escondendo”, com o medo constante de ser
julgado e separado da rede de apoio. Quando as consultas, à hora da medicação, os
exames, etc. coincidem com a jornada de trabalho ou com os momentos de lazer, de
socialização em família ou outros grupos sociais, é quando a presença da
discriminação, do preconceito e do estigma se insinuam e estão entre o mal que
consome a saúde mental, emocional e física de PVHA resultando na
vulnerabilização da adesão ao tratamento.
121

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho analisou questões que envolvem a epidemia da AIDS e a baixa


adesão ao tratamento em um hospital universitário em Belém, envolvendo fatores
conjunturais, estruturais e sociais acerca das pessoas que vivem com o vírus e a
doença e sua relação com a interrupção ou mesmo abandono do tratamento. Apesar
de todo avanço cientifico no tratamento, a melhoria na qualidade de vida e
prognósticos, ainda há muito a ser pesquisado, pois o vírus permeia no Brasil como
um problema de saúde que evolui, empurrado pelos determinantes e contradições
sociais, políticas, culturais e econômicas.
Os processos sociohistóricos determinantes do fenômeno estudado nessa
dissertação - são confirmados pelos dados apresentados, tanto sobre a doença,
como sobre os afetados e seus respectivos atendimentos, bem como sobre as
contraditórias condições da ação profissional dos assistentes sociais, revelam sua
inerente complexidade dialética, e, as aproximações ao fenômeno aqui reveladas,
nada mais atestam que a provisoriedade das conclusões aproximativas expressas.
Logo, o fenômeno necessita seguir sendo investigado.
Esta pesquisa permitiu o trabalho no cotidiano dentro da instituição estudada
com observações muito mais próximas dos fenômenos que estão ocorrendo no
âmbito da epidemia AIDS. Além de serem percebidos fatos vividos, posturas e
“falas”, após registros detalhados e organizados sistematicamente podemos
perceber ângulos e dimensões que colocam esta enfermidade como um fenômeno
social.
A partir dos levantamentos dos dados do balanço social da lista dos faltoso do
SICLOM constatou -se que o sexo masculino encontra -se em maior quantidade
tanto na lista de abandono quanto no total de assistidos, porém em percentual a
diferença de abandono entre homens e mulheres são bem próximos, rematando que
o fator sexo não é um diferencial na questão do abandono no SAE.
Em relação a localidade a maior parte em percentual dos que abandonam o
tratamento encontram – se na capital, realidade um tanto contraditória pois apesar
da facilidade de acesso aos meios de transporte e a distância menor do Serviço
Especializado a questão do abandono é mais acentuado.
122

O tempo de abandono dos faltosos ocorrer em paralelo ao abandono do


tratamento clínico e acompanhamento social, e nesses casos o serviço de
atendimento pode perder até completamente o contato com o usuário devido a troca
de endereços, telefone, etc. De acordo com a pesquisa no HUJBB constatou- se que
o SAE não dispunha de uma estratégia para o regresso desses usuários, visto que
não se apropria do controle da má adesão.
O estudo possibilitou um viés mais comprometido dentro da esfera da ação do
assistente social dentro do SAE, propondo um acolhimento voltado para que o
assistido estabeleça, além da relação de confiança, também possa acessar as
informações essenciais para o bom desenvolvimento do tratamento.
Os dados e análises aqui desenvolvidos atestam e envolvem a questão do
abandono, de acordo com as situações levantadas nas entrevistas, reforçando a
necessidade do foco da ação profissional na garantia de direitos e o
comprometimento com ético-político com os mesmos, no intuito de evitar que as
manifestações discriminatórias, a falta de informações, entre outros fatores
identificados, cause possíveis falhas e/ou abandonos.
De acordo com o grau de escolaridade o abandono pode estar associado ao
nível de entendimento da informação relacionada à adesão do tratamento, de quais
os cuidados a serem tomados, da importância da continuidade sem falhas, do
acompanhamento clinico e social e do combate à discriminação, não obstante
subestimando a capacidade cognitiva dos assistidos.
E em relação ao estado civil não foi possível fazer um percentual de
comparação entre os envolvidos por conter prontuários incompletos. Durante o
levantamento dos dados esse terreno que compreende as informações primordiais
não estabeleciam uma organização direta ou precisa no preenchimento das fichas
de avaliação (prontuários).
O abandono do tratamento ou interrupção segundo as entrevistas mostrou
que a resistência à adesão está relacionada, na perspectiva dos sujeitos da
pesquisa, aos valores morais, ao medo de ser “descoberto”, à necessidade de se
manter invisível, com o sacrifício até de seus próprios direitos, como por muitas
vezes constatamos na pesquisa. A discriminação e o preconceito são o maior
empecilho para a adesão plena ao tratamento, pois a dificuldade do entendimento é
complexa, porque não há um eficaz tratamento da questão de forma preventiva e
123

educativa, as pessoas infectadas, muitas vezes só entram em contato com esse


mundo a partir do momento da própria infecção, momento esse frequentemente
solitário. No decorrer das entrevistas observou-se que as situações-problemas de
cada entrevistado eram diferentes -em relação ao que culminou para a falha na
adesão ou interrupção-. Mas verificou-se que todas essas situações concentram na
dimensão que abarca as consequências da vivencia dolorosa do preconceito e da
discriminação.
Trabalhar no reconhecimento dos fatores do contexto onde e como ocorrem
as situações de riscos, vulnerabilidades e violação de direitos é uma interface
importante para contribuir com a assertividade das políticas, pois essa privação e
restrição do acesso aos serviços públicos especializados pode esta ser uma das
causas predominantes revelada pelos dados críticos para a região norte; o que
reafirma a contradição de ocorrer na nossa Amazônia, tão rica, e, ao
paradoxalmente, tão pobre.
É valido e importante ressaltar que o fenômeno da não adesão deve ser visto
desde uma perspectiva de totalidade complexa e contraditória, evitando-se
restringilo, seja a um problema unicamente do serviço de saúde e a equipe
multidisciplinar que nele atua, seja como um problema individual atinente
exclusivamente a decisões e percepções do paciente. Mas, buscou-se ampliar a
perspectiva analítica para a multiplicidades de determinações e mediações
complexas que estruturam e desenvolvem o problema em tela, com destaque para a
realidade social das pessoas que vivem com o vírus, ou seja, quais as expressões
da questão social que estão mais evidentes, denunciando as contradições que
também permeiam e fundamentam as políticas sociais voltadas a esses sujeitos
sociais, pois, é evidente que suas condições de vida e de trabalho interferem
diretamente no processo de adesão.
Na prática vivenciada a partir da pesquisa, pode-se notar que os serviços de
saúde e assistência social, apesar de serem direitos assegurados, não conseguem
alcançar na integra a proposta que permeiam e fundamentam as políticas sociais
para minimizar os riscos da exclusão no âmbito da atenção às PVCH/AIDS.
Lembre-se que no Brasil a história da Aids, ao mesmo tempo em foi houve-se
com pioneirismo no tratamento através do fornecimento gratuito da medicação,
pressionado pelos movimentos sociais-, foi também motivo de tamanha negligencia
124

por parte dos governantes, acarretando uma falha sem precedentes para que a
epidemia se disseminasse de forma mais cruel e silenciosa.
Dessa forma, é notório que uma das chaves mais importantes para desvendar
a questão do abandono do tratamento está no campo político-ideológico,
sociocultural, identificada no contexto histórico de como a epidemia foi tratada pelo

Estado e em decorrência pelas instituições sociais do país, primeiramente como


“grupo de risco” e não como comportamento de risco, chamada pejorativamente de
“praga do homossexual”, “câncer gay”, “doença dos investidos”.
A presente pesquisa permitiu perceber se atentou que - ainda no dias de hoje
- a descoberta do vírus em si ainda gera uma compilação de sentimentos que se
assemelha ao impacto que ele causava há 37 anos, “a incerteza, a presença da
morte como a certeza absoluta que é seus últimos dias”, se depara com o
autopreconceito, com a necessidade de se esconder, a vergonha, etc., apesar de
que hoje a doença ser potencialmente controlável, essa concepção ainda está
presente, pois infelizmente o vírus “acomete” outros tecidos, que não apenas os
corporais, caminhando por assuntos psicossociais complexos da nossa sociedade.
Na atualidade a epidemia se disseminou devido uma sequência de falhas, embora a
falha na prevenção seja o início do processo pela falta de informação e políticas
públicas, o vírus acompanha ciclos de exclusão, pois se tem uma população que é
marginalizada da atenção à saúde, essa população é automaticamente vulnerável.
Os índices de pessoas adoecendo para Aids na região norte, conforme
abordado anteriormente, é preocupante do ponto de vista das políticas públicas,
porque não se pode promover proteção social sem considerar a diversidade e
desigualdades sociais; as desigualdades precisam ser conhecidas e reconhecidas
dentro deste contexto; a consideração do fator amazônico é inadiável.
A inclusão dessas determinações são precondições para se pensar e construir
uma atuação competente e crítica do Serviço Social na área da saúde, inclui
conhecer o perfil dos que estão em maior risco social, elaborar, promover e participar
de projetos com educação permanente é sistematizar o trabalho desenvolvido, bem
como realizar investigações sobre temáticas relacionadas; pois e estando atentos a
essas questões onde ocorre e como ocorrem essas problemática possibilita uma
melhor assertividade na direção e perspectiva da defesa de direitos.
125

Em outras palavras, ressalta-se que a resistência ao tratamento se explica


também pela concepção simbólica que ficou no imaginário da sociedade. Porque, se
se considera a posição alcançada pela ciência hoje sobre a doença em tela, quando
se comprova que não existe vírus que possa comprometer mais o corpo enfermo,
não existe mais vírus nas secreções, não há transmissão, etc., conclui-se que o vírus
circula somente nas ideias, no pensamento, nos símbolos que a doença carrega, do
terrorismo cultural, que ainda hoje encontramos na esfera política do nosso País.
Por conta do pré-conceito as pessoas se isolam, não vão buscar seus direitos,
não vão buscar o próprio remédio, se anulam por conta do temor em relação a viver
com HIV. Isso tudo está explicado pelo peso do estigma.
A discriminação gera o não acesso aos serviços de saúde e o discurso
negativo ao que se chama de “ideologia de gênero” também está alinhado ao
discurso contrário ao que se fala sobre sexualidade no ambiente escolar, e isso é
preocupante, quando há crescimento da epidemia entre jovens. É impossível falar de
HIV/Aids e não falar em sexo e gênero, não só por causa da transmissão, mas por
causa dos grupos historicamente mais vulneráveis a epidemia.
Por fim, cabe ressaltar a importância da pesquisa e os seus resultados para
uma melhor atuação profissional e reflexão, e que a mesma possa servir de base
para trabalhos futuros, visando sempre a garantia de direitos das pessoas que vivem
com HIV/AIDS, que estes possam se compreender enquanto cidadãos, por isso
sujeitos de direitos e que o preconceito seja substituído pela informação; haja vista
que a própria palavra “pré-conceito” já diz que é uma concepção ou sentimento
concebido sem exame crítico, a generalização apressada de uma experiência
pessoal ou imposta pelo meio. A intolerância e a discriminação causam falhas na
prevenção, no acolhimento e tratamento digno das pessoas vivendo com HIV/Aids.
126

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