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Belém-Pará
2021
2
CDD 362.199792
_________________________________________
Profº. Drº. Reinaldo Nobre Pontes - Orientador/UFPA
_________________________________________
Profº. Drº. Marcel Theodor Hazeu - Examinador Interno /UFPA
__________________________________________
Profª. Dra. Márcia Irene Pereira Andrade - Examinadora Externa /UFAM
4
Que nunca se diga isso é natural, para que nada passe por imutável
Bertold Brecht
7
RESUMO
ABSTRACT
This study sought to address and deepen the issues surrounding the issue of
interruption/abandonment of treatment for people living with HIV/AIDS in order to better
understand the conjunctural, structural and social factors that contribute to the fragility
of this dynamic and multifactorial process. characterizes as membership in its broadest
definition. Thus, the general objective was to analyze the low adherence to treatment of
users with HIV/AIDS in a university hospital in Belém. The specific objectives were: to
briefly contextualize health policies, highlighting their (re)meaning and their conception
as a social right in the scope of HIV/AIDS; investigate the insertion of social services in
the health area and its relationship with HIV/AIDS and analyze the process of (non)
adherence to HIV/AIDS treatment in the specialized care service at the João de Barros
Barreto University Hospital. An exploratory study was carried out, based on quanti-
qualitative research, establishing a dynamic relationship between the real world and the
subject. The field research was carried out at the João de Barros Barretos University
Hospital (UHJBB), a reference institution in the treatment of people with HIV/AIDS, also
using documentary research in the hospital's database (medical records), interviews
with users and a local Social Worker, from September 2019 to February 2021. It was
observed that the factors that most impacted the continuity of treatment was the stigma
that persists for more than 40 years of the epidemic generated by a number of technical
and structural errors in Public Policies, corroborating for the massification of prejudice
and discrimination.
LISTA DE GRÁFICOS
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ....................................................................................... 14
1 POLÍTICAS DE SAÚDE: BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO................... 29
1.1 A
Quest
ão
Saúde
e Seu
(Re)
signifi
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...........
...........
...........
........
29
1.2 Saúde
no
Brasil
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Conce
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Como
Direit
o
12
Social
...........
.....
33
HIV/AIDS: ORIGEM E SEUS DESDOBRAMENTOS E AS
2 POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA PARA AS PESSOAS VIVENDO 50
COM HIV/AIDS.......................................................................................
2.1 A
Orige
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HIV:
nature
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conte
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brasil
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quanti
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o....
50
A Consolidação do estigma da Aids e Repercursão como
2.2 07
Problema de Saúde .............................................................................
BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO DA INSERÇÃO DO SERVIÇO
3 SOCIAL NA ÁREA DA SAÚDE E SUA RELAÇÃO COM O 82
HIV/AIDS................................................................................................
O surgimento do Serviço Social como profissão e a sua inserção
3.1 82 na
área
da
saúde
...........
...........
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...........
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3.2 O
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o
Social
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Quest
ão do
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...........
...........
...........
... 94
A ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NO ENFRENTAMENTO
4 DAS DEMANDAS RELATIVAS HIV/AIDS E O PROCESSO DE 104
ADESÃO NO HUJBB ............................................................................
Arguição da localidade, ação profissional e o abandono do
4.1 104
tratam
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4.2 O
Perfil
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114
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................. 119
REFERÊNCIAS ..................................................................................... 124
INTRODUÇÃO
4 Ser soropositivo ao HIV, o agente causador da AIDS, significa ter estado em contato com o vírus
e estar infectado por ele. https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2001/010525_aidetico.shtml
21
Este capítulo trará uma breve apresentação da trajetória dos serviços de saúde a
partir das transformações recorrentes do modelo de produção vigente, como
também, sua transformação em política pública, dos antecedentes da ação estatal
aos dias atuais, articulando com as intervenções sócio históricas.
assim teriam mais pobres para fazer caridade. Se ela fizesse menos isto, teria menos miséria e
menos pobres a precisar de caridade. Complementar leitura em: HUBERMAN, Leo, (2009) História da
riqueza do homem. Do Feudalismo ao capitalismo. A sociedade feudal consistia dessas três classes.
A Igreja foi a maior proprietária de terras no período
feudal.
(https://monografias.brasilescola.uol.com.br/historia/historia -riqueza-homem.htm).
10 As Santas Casas de Misericórdia são uma dessas entidades que se destinaram a prestar
assistência médica às pessoas. As Santas Casas foram, durante décadas, a única opção de
acolhimento e tratamento de saúde para quem não tinha dinheiro. Elas eram fundadas pelos
religiosos e, num primeiro momento, conectadas com a ideia de caridade – entre o século XVIII e o
ano de 1837 (MERELES, 2018).
11 “A seguridade social é definida na Constituição Federal, no artigo 194, caput, como um
conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade, destinadas a
assegurar os direitos relativos à saúde, a previdência e a assistência social” (TORRES, 2012).
32
saúde, visto que o equilíbrio político é mantido pela contenção dos perigos que as
doenças representam para a população.
Em 1808, com a fuga da família real para o Brasil, que naquele momento,
passou a condição de reino unido com Portugal e Algarves, o governo impôs normas
sanitárias para os portos, na tentativa de impedir a entrada de doenças contagiosas
e garantir a integridade da saúde da realeza, tudo se organizava em prol da realeza.
No mesmo ano, foram fundadas duas escolas médicas no Brasil, uma na cidade do
Rio de Janeiro e a outra em Salvador.
Somente com a independência se estabeleceu uma débil medida de saúde
pública, que era uma lei que reiterava o controle dos portos e atribuía às províncias
as decisões sobre esta questão.
14 Oswaldo Cruz foi um grande pesquisador que atuou como cientista, médico,
bacteriologista, epidemiologista e sanitarista brasileiro. Foi o pioneiro no estudo de doenças tropicais
e da medicina experimental no Brasil. Biografia resumida de Oswaldo Cruz encontra-se no site:
<https://www.todabiologia.com/pesquisadores/oswaldo_cruz.htm> Acesso: 23/09/2020.
36
15 Carlos Justiniano Ribeiro Chagas foi um biólogo, médico sanitarista, cientista e bacteriologista
brasileiro, que trabalhou como clínico e pesquisador. Atuante na saúde pública do Brasil iniciou sua
carreira no combate à malária. Foi através do decreto legislativo nº 3987 de janeiro de 1920 e do
decreto nº 11354 de setembro do mesmo ano que Carlos Chagas criou o Departamento Nacional de
Saúde Pública. Este Departamento se constituiu na estratégia utilizada para disciplinar a sociedade
brasileira, em especial a capital da República, a cidade do Rio de Janeiro, visando criar uma
37
16 Durante a República velha houve rebeliões não somente sobre o caráter obrigatório das vacinas,
mas também sobre as estratégias utilizadas pelo governo que em nome da “saúde pública e social”
invadiam casas, demoliam cortiços sem se preocupar com as centenas de desabrigados, pois
segundo o governo, os mesmos não poderiam atrapalhar o progresso. Houve confrontos e dezenas
de pessoas mortas. A Marinha do Brasil, também teve uma participação significante no contexto
histórico, pois devido inúmeras insatisfações em decorrência dos soldos baixos, dos trabalhos
pesados, da falta de higiene, os castigos corporais, travaram resistências após entrarem em contato
com o movimento sindical na Inglaterra. Na Inglaterra os ‘operários sabiam que o principal direito era
o direito de poder lutar pelos seus direitos’. Ao chegarem ao Brasil exigiram melhores condições de
vida e ameaçaram bombardear os bairros elegantes, caso não fossem atendidos, pois cada
encouraçado levava a cerca de mil tripulantes e estava carregado com uma artilharia capaz de varrer
o Rio de Janeiro do Mapa. O senado se pronunciou atendendo as exigências pois não se tinha
capacidade de reprimir a revolta (chamada Revolta da Chibatada,1910), então só restou negociar.
Principalmente, porque os operários também começaram a entrar em greve em prol dos amotinados.
(SCHMINT, 2009, p. 518).
17 Complementar com o livro Ditadura e Serviço Social: Uma análise do Serviço Social no Brasil
pós64 de José Paulo Netto, 1996.
40
Para Bravo (2009), o modelo de previdência que norteou o Brasil nos anos
30-45 foi de orientação contencionista, e procurou demarcar as diferenças entre a
“previdência” e a “assistência social”, pois antes não havia. Foi um momento de
acumulação de capital financeiro devido ao aumento da classe trabalhadora, se
preocuparam mais com a acumulação de capital do que com as prestações de
serviços, inclusive estabeleceram uma fração orçamentaria com limites para as
despesas com a assistência médico-hospitalar e farmacêutica.
Em contraponto, com o crescimento urbano dos estados das regiões Sul e
Sudeste, nas décadas de 1950 e 1960, houve necessidade de maiores recursos
para garantir a assistência a essas populações.
Em 1966 foram extintos ao IAPs pelo decreto de Lei nº. 71, e criado o
Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), que apresentava o ápice do
nasceu no contexto da luta contra a ditadura. A expressão foi usada para se referir
ao conjunto de que se tinha em relação às mudanças e transformações necessárias
a área da saúde. Estas mudanças não abarcaram apenas o sistema, mas todo o
setor saúde em busca de melhoria das condições de vida da população.
Apesar das tribulações políticas e econômicas, as Conferencias de Saúde
continuaram sendo realizadas, buscando por seus ideais e fazendo jus ao seu plano
de estender cada vez mais os recursos públicos para o segmento saúde.
Em ordem cronológica o quadro abaixo estabelece as conferencias de
Saúde a partir da 4ª Conferência até a 7ª, datadas com seus seguintes temas:
7ª 1980 Extensão das ações de saúde por meio dos serviços básicos
Fonte: Serviço Social e Saúde (2009).
Desse modo uma das suas metas mais significativas é continuar avançando
na consolidação dos princípios da transversalidade e intersetorialidade,
fundamentais para se reverter as tendências à fragmentação da ação
estatal, tanto na Saúde quanto nos demais setores. É importante que o
processo de qualificação da atenção integral das unidades de saúde avance
e se aprimore cada vez mais, se capacitando e se qualificando a oferecer à
população os serviços de saúde que realmente precisam e têm direito
(BRASIL, 2008).
23 Receptores presente nos linfócitos T – auxiliares ao qual o HIV se liga para infectar a célula.
54
públicos de saúde, voltassem a tenção para esta nova doença que condicionava
suas vítimas a morte certa.
Após vários casos serem identificados pelo mundo todo, a doença começou
a ser preocupante, e logo foi criada a I Conferência Internacional sobre o vírus e a
doença, efetivada em Atlanta nos EUA em 1985. Neste encontro foram discutidas
algumas políticas para o enfrentamento da epidemia, de que forma ela poderia ser
combatida, quantas pessoas já haviam contraído, e se por ventura poderiam ter
qualidade de vida após a contaminação.
Este contexto no qual se formalizou o vírus tornou-se um marco na
humanidade, pois se apresentou como um fenômeno global, dinâmico e estável, que
cuja ocorrência nas diferentes regiões não respeitava padrões dos quais a priori se
delimitavam a incidência do vírus. “Inicialmente a Aids foi considerada uma doença
que atingia, preferencialmente, a população de homossexuais masculinos, o que foi
unanime nos artigos e livros de vários autores consultados” (PINTO et al, 2007, p.
47).
Durante essa repercussão da epidemia como sendo característica de um
grupo isolado de pessoas, das quais eram discriminadas pelos comportamentos de
cunho sexual (prostitutas, homossexuais, bissexuais) ou sociais (dependentes
químicos), permitiu que essa categorização de que havia um grupo isolado para o
contagio fosse decisiva para o perfil estigmatizado, e consequente proliferação
devastadora do vírus pelo mundo. Diante disto a chamada desde então de
Pandemia, tornou – se um ícone de grandes questões que atingem o planeta, como
direitos humanos, qualidade de vida, políticas de medicamentos, propriedade
industrial (PINTO et al, 2007, p. 45).
De acordo com o Ministério da saúde (2013), A aids mesmo passando dos
32 anos de existência no Brasil, em 2013 ainda representava um dos maiores
problemas de saúde pública até o momento, por ter perfil pandêmico e por sua
gravidade, mesmo os avanços tecnológicos na área como: órgãos de saúde pública
especializados na doença, medicamentos antirretrovirais gratuitos, exames, teste
rápidos, etc. a doença tem sido a mais devastadora para a humanidade e
responsável por mudanças significativas em outros aspectos da vida e da sociedade.
doença, a aids acarretou desafios para a área cientifica, trouxe novos atores
para os movimentos sociais e atinge pessoas em proporção geométrica,
sem distinção social, econômica, cultural e política (PINTO et al, 2007, p
45).
Dados da Unaids24 revelam que desde o começo da epidemia até 2017, 77,3
milhões de pessoas haviam contraído o vírus; e entorno de 35,4 milhões morreram
por causas relacionadas a Aids. Em 2014 a doença chegou a ser a 4º causa de
mortalidade no Brasil, porém hoje devido a ampliação do acesso aos medicamentos
e redução do tempo entre diagnósticos e início do tratamento, contribuiu para que o
Brasil se deslocasse deste ranking (Brasil,2018). Toda via, o vírus se instalou na
sociedade e os infectados ultrapassam os milhões, segundo as estatísticas globais
da Unaids, desde o início da epidemia até 2019 foram ao todo74,9 milhões de
pessoas foram infectadas (UNAIDS, 2019).
O gráfico a abaixo exterioriza o crescimento acentuado do vírus/doença
desde os anos de 1990 a 2010.
24 Estas estatísticas estão disponíveis na página da UNAIDS que são atualizadas de seis em seis
meses contendo relatórios e informativos recentes do Ministério da Saúde para dados nacionais >
https:// unaids.gov.br/estatísticas/ > acesso: 15/09/2019.
56
É muito importante lembrar que o HIV não possui cura, porém, existem a
possibilidade de tratamento disponíveis para as pessoas vivendo com HIV/aids. O
diagnóstico precoce possibilita uma qualidade de vida melhor e mais chances de
manter o vírus indetectável, diminuindo os quadros de evolução para a aids,
diminuindo a carga do vírus no corpo e dificultando a transmissão a terceiros.
Dados globais da Unaids (2019) concluem que desde 2010 a 2018 houve
uma diminuição de 16% dos números de infecções no mundo, tudo leva a crer que
essa austeridade ocorre devido o crescente alcance da terapia antirretroviral pelas
pessoas que vivem com o vírus, porém os dados revelam o quão longe está do
alcance dos números totais de pessoas infectadas no planeta.
Gráfico 2 – Demonstrativo do progresso da doença
No Brasil nos anos 80 não se sabia muito bem sobre o que era a Aids e nem
que em breve se tornaria a epidemia mais violenta do século. A Aids veio em um
momento do auge do movimento gay e muitos acreditavam que essa doença seria
uma invenção para tolher tal liberdade, afirmava –se também, devido as repressões
da época da ditadura militar, que não passava de mais uma estratégia para frear
esse grupo determinado da sociedade.
Com a queda da Ditadura Militar houve o período de redemocratização
brasileira, a volta dos exilados, liberdade de expressão, liberdade no prazer, de
realizações. Esse clima de abertura trouxe um tom quase que festivo ao País e por
esse viés era impensável que qualquer um poderia se familiarizar com a rotina da
morte, o tema também era tratado com muita grosseria pelo estigma que trazia e o
saldo deste contexto foi de centenas de pessoas contaminadas e quem viu de perto
o que era a aids e o destino que ela levava tiveram a bravura de se somarem a luta.
Esta luta veio muito forte do movimento gay, primeiro nos EUA irradiando para Brasil
dando origem as primeiras Ongs voltadas para a doença e para o bem da trajetória
aids.
No período de 1980 até julho de 2019, foram detectados 966.058 casos no
Brasil, contudo a notificação compulsória do HIV só começou em 2014, o que
impede uma análise epidemiológica mais rigorosa com relação as tendências da
infecção (BRASIL, 2019). A partir do ano de 2012 observou-se uma diminuição na
58
vínculos, para que se possa aproximar cada vez mais ao usuário, e dando-lhes a
devida atenção conforme suas necessidades.
e conhecida como o “Câncer Gay”, visto que as práticas homossexuais foram alvos
de identificação dessa enfermidade.
A constatação rasa do perfil dos acometidos residia em um problema
chamado “grupos de riscos”, criadas no começo dos anos 80, segundo o mesmo
autor. Essa identificação residiu também em um problema social, visto que, serviu
para demarcar indivíduos que apresentavam um “perigo social” e, por conseguinte
tornou-se conjuntamente um fator de segregação social. Este pensamento contribuiu
para que o vírus do HIV se alastrasse entre a população que não se identificavam
com esta categoria de risco.
Gallo (2012), demarca em sua 20º edição do livro Ética e Cidadania, que a
história da aids poderia ser traçada em duas partes, referindo-se sobre os rumos que
infelizmente a epidemia seguiu, podendo ter tomado um outro caminho menos
segregado. Porém quase dez anos depois de limitar o vírus a um grupo específico
de pessoas, um jogador de basquete norte americano, foi um divisor de águas na
história social da aids, Magic Johnson, por sinal muito famoso na década de 90,
anunciou publicamente viver com o vírus HIV, o impacto foi grande pois o jogador
servia de modelo de saúde para os jovens americanos.
A percepção social que Magic tinha sobre a doença era a mesma que
circulava entre a sociedade em geral, era de que ele não faria parte do “grupo de
risco”, ou seja, seria imune ao vírus já que não se enquadrava no perfil
estigmatizado. O atleta era um representante legal da forma de como se pensava a
epidemia, cheia de regras e preconceitos.
Tal marca – a transmissão pelo sexo – fez do HIV ainda mais do que a
possibilidade de contrair uma doença mortal para o físico. Tornou-o o vírus
de uma doença moralista, em que os infectados eram excluídos e
ridicularizados. Uma doença de conotação moralista só poderia ter criado
um padrão de preconceito bastante alto, principalmente com profissional do
sexo, homossexuais e travestis (BARBARÁ, 2005, p. 32).
Obviamente, a infecção atingiu o Brasil com toda sua força, porém não
podemos negar um diferencial. O tratamento da Aids no Brasil ganhou uma
atenção especial em função das organizações da sociedade civil que
ajudaram a organizar e viabilizar políticas públicas especificas e um
combate e prevenção especiais (KAHHALA,2010, p.27).
63
Cabe ressaltar que após a criação do Sistema Único de saúde, não cobria
nem um terço do que os acometidos pelo vírus e a doença necessitavam, pois até a
medicação que era a principal forma de contenção do vírus não era do alcance de
praticamente ninguém, segundo Bravo (2009):
imperava diante das pessoas vivendo com o HIV/AIDS. Em geral, como todas as
inúmeras insatisfações e reinvindicações, essa também conseguiu dar voz as
pessoas vivendo com o vírus e a doença, possibilitando impelir para que suas
necessidades fossem reveladas e atendidas.
A identificação da Síndrome da imunodeficiência data desde 1959 no Congo,
depois em 1981 nos Estados Unidos, chegando ao Brasil no mesmo período, porém
só foi datado em 1982 na Cidade de São Paulo; a repercussão foi tão alarmante
quanto sua ligação com a morte, mas na percepção parcial das pessoas era que a
Aids estava longe de seus lares e invisível aos olhos pelos códigos e valores
enraizados.
Apesar da infecção ter sido amplamente notificada como epidemia global
pela mídia, não houve política públicas que assegurassem o mínimo necessário para
os então chamados de soropositivos 29, um caso famoso e muito repercutido foi o
caso Tardelli30.
Neste período havia um modelo de privilegiamento do setor privado com
fortes características de apropriação financeira, que já vinha se instalando desde a
ditadura militar. Segundo Bravo (2009, p. 93), dizia o governo que a ‘saúde
precisava assumir características capitalistas’, com a inserção de tecnologias, com a
articulação do Estado com interesses do capital internacional através das industriais
farmacêutica, equipamentos hospitalares, através de práticas médicas orientadas
pela lucratividade do setor saúde, privilegiando quem era detentor desses produtos e
serviços e também com a ampliação da cobertura da previdência de forma a
abranger a quase totalidade da população urbana, depois incluindo a população
rural, trabalhadores autônomos e empregados domésticos.
29 Ser soropositivo ao HIV, o agente causador da AIDS, significa ter estado em contato com o
vírus e estar infectado por ele. Ver
<https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2001/010525_aidetico.shtml.> 30Roseli Tardelli, narra em seu
livro: “O valor da Vida”, a batalha travada após seu irmão ter contraído a infecção, as dificuldades e o
preconceito advindos da estigmatização da doença, a falta de informação e o descaso nas políticas
públicas, trouxe em evidencia as inúmeras dificuldades, na dimensão política da saúde com
problemas estruturais aprofundados.
68
Muitos vieram a óbito no decorrer dos anos desde que a doença surgiu,
incluindo figuras públicas da época (artistas, atletas, cartunistas, etc.) o que fez
tornar a visibilidade do problema de forma mais acentuada e aos poucos o governo
foi se posicionando e sancionando leis que assegurariam o acesso aos bens e
serviços da saúde pública para as pessoas vivendo com o vírus e a doença.
Fortes barreiras foram rompidas, devido a impassibilidade do Estado com
suas políticas públicas de saúde, que já eram realidade; entretanto ainda assim não
se faziam presentes diante as particularidades dos usuários do Sistema Único de
Saúde. Em 1997 houve uma redução expressiva na mortalidade de pacientes com
aids no país, principalmente pela distribuição gratuita de medicamentos e
implementação da Rede Nacional de Laboratório para o monitoramento de pacientes
com HIV em terapia com antirretroviral, com a realização de exames de carga viral e
contagem de células CD4. “[...], a aids assumiu característica de doença crônica, em
especial nos países onde o acesso aos medicamentos é efetivamente garantido”
(BAER, ROBERTS, 2002; BRASIL, 2008; WU, 2000 apud BRASIL, 2008, p.13).
Inicialmente, a aids foi considerada uma doença que causava a morte em
um processo vertiginoso, atingia preferencialmente a população de homossexuais
masculinos, o que foi unânime nos artigos e livros de vários autores consultados. Em
relação, no entanto, à situação descrita, muitos boletins epidemiológicos ao longo
desses anos nos mostram que a realidade mudou e é a partir deste ponto que vale
ressaltar os caminhos percorridos.
Segundo uma pesquisa30 descritiva, com caráter documental, que utilizou
como fontes os artigos das bibliotecas virtuais e livros, num total de 34 referências
no período de novembro a dezembro de 2006, o estudo da epidemia levou em
consideração aspectos envolvidos desde o seu surgimento no Brasil, na década de
1980, antes como uma doença de homossexuais e hoje com progressivos casos de
transmissão heterossexual.
30 Pesquisa sob o tema: Compreensão Da Pandemia Da Aids Nos Últimos 25 Anos. Autores:
Agnes Caroline S Pinto, Patrícia NC Pinheiro, Neiva FC Vieira, Maria Dalva S Alves. O estudo levou
em consideração aspectos envolvidos desde o seu surgimento do HIV/Aids no Brasil, na década de
1980,
69
articulado com as políticas públicas envolvidas nesta pandemia, a introdução dos antirretrovirais e as
novas tendências: interiorização, feminização, heterossexualização, pauperização e, mais recente,
juvenização, até os dias atuais.
25.000
Número de Homens Infectados
20.000
15.000
10.000
5.000
0
ANO 1990 ANO 2000 ANO 2018
FONTE: DATASUS
Fonte: DATASUS
Os dois mapas a seguir trazem por estados os casos notificados, o mapa 1 está
condicionado até o ano 2018, o mapa 2 revela as alterações após um ano, até em
2019. Todos os Estados mantêm ou têm o número de notificações reduzidos, porém
somente os Estados a nível da Amazônia manteve- se em crescimento.
Figura 1 - Mapa de Casos notificados no Sinan e Siscel /Siclom de 2000 a 2017
Fonte: Sinan; Siscel/Siclom; SIM. Nota: (*) Casos notificados no Sinan e Siscel/Siclom até
30/06/2018; no SIM, de 2000 a 2017.
Gráfico 16 - Taxa de Mortalidade (por 100 mil hab.) no Pará, Norte e Brasil
ser uma apresentação da postura da igreja católica diante do avanço das ideias
comunista e aumento da desigualdade.
Porém segundo Martinelli (2007), esse documento representou a reprodução
das ideias capitalistas. A necessidade de manutenção da ordem social capitalista foi
necessária no contexto de crise vivenciado pelo capitalismo.
Iamamoto (1985, p.142), diz que a benemerência proposta ao proletariado
está “subordinada a uma racionalidade empresarial em que não entra nenhum
sentido de redistribuição”, mas sim no intuito de aliviar as tensões sociais e melhorar
as condições em que a acumulação se desenvolvia.
Vieira (1989), afirma que durante o século XIX vários países regulamentaram
o ensino do Serviço Social, devido também à pressão dos grupos profissionais, e
este ensino foi primeiramente reconhecido em nível secundário ou técnico,
posteriormente passa ao nível superior, salvo nos EUA, que já nasceu em nível de
ensino superior.
No Brasil o Serviço Social foi uma das primeiras profissões da área social a ter
aprovada sua lei de regulamentação profissional, a Lei 3252 de 27 de agosto de
1957, posteriormente regulamentada pelo Decreto 994 de 15 de maio de 1962.
Em 07 de junho de 1993 uma nova legislação assegurou à fiscalização
profissional e possibilidades mais concretas de intervenção, pois definiu com maior
precisão as competências e atribuições privativas do assistente social pelo Conselho
Federal de Serviço Social (CFESS), que deliberou sobre a profissão do Assistente
social e outras providencias, assinada e sancionada pelo Presidente Itamar Franco
(BRASIL, 1993).
Os governos reconheceram e regulamentou a profissão, existindo uma grande
variedade de modalidades e de reconhecimento, tal como uma variação de país para
país da obtenção do diploma e de representação profissional através de órgãos de
classe, ou seja, Conselhos Federais e Regionais de Serviço Social, além de outras
instâncias de representação.
Vieira (1989) esboça que em 1928, foi realizada a primeira reunião da
Conferência Internacional do Serviço Social em Paris, por iniciativa do Dr. René
Sand, secretário da Liga das Sociedades de Cruz Vermelha, e a segunda reunião
ocorreu em 1930 em Toronto, e em 1932 realizou-se em Washington, e em vista o
êxito das duas reuniões anteriores, a Conferência Internacional de Serviço Social
(CISS), instituiu-se oficialmente como entidade permanente destinada proporcionar a
todos os países um fórum de debate dos problemas de bem-estar social, e este
fórum internacional se realizava a cada dois anos em países diferentes com
participação de todas as partes do mundo, assumindo a sigla C.I.S.S.
De acordo com Vieira (1989), a primeira CISS definiu o Serviço Social sendo:
34 Arthur Emil Fink, Assistente Social a Norte-Americano, Mestre em Trabalho Social pela
Universidade Pensilvânia, 1937. Doutor em Filosofia pela Universidade da Pensilvânia em 1936. 36 Dr.
Richard Cabot era de nacionalidade Norte americana, Médico formado pela Universidade de Harvard
em 1889-1892, foi um inovador nos métodos de ensino e foi o pioneiro no trabalho social.
90
Segundo o Santos Neto (2017), assim como no Brasil, o Estado do Pará nos
anos 60 é marcado por mudanças econômicas, sociais, culturais e políticas que
culminaram para que esta perspectiva também fosse determinante junto a nova
roupagem que a profissão estava construindo no seu processo histórico.
descaracterização original do SUS pelos rearranjos dos governos, lidar com PVHA
em adesão ao tratamento inclui buscar estratégias além destas postas.
Ainda temos a barreira do preconceito no enfoque, que se pararmos para
pensar que durante o acompanhamento do tratamento exige-se a rotina de consultas
e retirada de medicação em dia, e como lidar com o anonimato durante as
constantes ausências no expediente laboral sem levantar especulações sobre o
tratamento, visto que essas pessoas vivem em segredo constante sobre sua
condição.
A dificuldade de conter o aumento dos casos de contaminações necessita de
ações que operem nas problemáticas advindas do contexto social e das condições
econômicas na qual os indivíduos estão inseridos.
A doença se coloca nas camadas de pobreza permanente em um processo
continuo, pois quanto mais desassistidos estiverem, além de estarem facilmente
propensos à contaminação, quando já contaminados se deparam com outra
incerteza: a adesão continua ao tratamento. É possível supor que esse é o resultado
do grande número de óbitos que destaca- se nos Estados ao nível da Amazônia,
pois a adesão ou a não adesão na sua abordagem mais ampla mostra suas
interferências em cadeia no ponto de vista econômico, político e social.
confiança com o usuário é um passo influente para propiciar uma adesão favorável
as suas clausulas.
Acolher significa apreender, compreender e atender as demandas do usuário,
dispensando-lhes a devida atenção, com o encaminhamento de ações direcionadas
para sua resolutividade, logo acolher é, “O processo de inclusão do usuário no
serviço de saúde e na rede atendimento médico e psicossocial, conforme as
expectativas e necessidades-percebidas ou não do paciente” (SEID apud BRASIL,
2008).
No contexto da Aids o assistente social, na prática do acolhimento, aprimora o
processo do qual ele contribui, incluindo a maneira como ele compreende a
subjetividade do sujeito, dentro do que significa a doença para ele, bem como o
contexto que ele encontra -se inserido. Para tanto o Serviço Social tem como
principal objetivo o desafio de redescobrir alternativas e possibilidades para
desenvolver uma prática profissional que na relação com o usuário contribua para
viabilizar sua participação efetiva nas decisões institucionais, a plena informação
sobre seus direitos, bem como o modo e as condições de acessá-los.
Diante disso, o grande discernimento do enfrentamento dos condicionantes do
vírus, está no objeto de intervenção do assistente social, que através da “questão
social” estabelece uma compreensão baseada na identificação dos determinantes
socioeconômicos e culturais das desigualdades, (conforme estabelecido nas
Diretrizes Curriculares da ABEPSS) posto que, como exposto acima, a pauperização
e interiorização do vírus tem sido assinalado como produto de sua disseminação. Ou
seja, entender a relação do abandono a partir do âmbito social implica relacionar as
diligencias relacionadas a batalha entre as sequelas oriundas do capitalismo.
Costa (2000) pontua que a entrada dos assistentes sociais na área da saúde é
medida pelo conhecimento social da profissão e por um conjunto de situações. Nos
parâmetros para a atuação do assistente social na política de saúde (2010)
apresenta a reforma sanitária como nascente das demandas para que o profissional
trabalhasse questões referentes ao acesso democrático das unidades e serviços de
saúde, na aproximação dos serviços com a realidade, o trabalho interdisciplinar,
acesso amplo e democrático as informações, e os estímulos a participação popular.
O projeto ético-político da profissão e a reforma sanitária são diligencias ligadas, pois
ambos foram construídos a partir de um processo de redemocratização da
104
Lei n.° 8.662 de 07.07.93; os princípios e diretrizes das leis: - 8080 de 19.09.1990 e
8.142 de 28.12.1990 (SUS — Sistema Único de Saúde); - 8.742 de 07.12.1993
(LOAS — Lei Orgânica da Assistência Social).
Considerando as particularidades das unidades de atendimentos, essa pesquisa foi
disposta para análise no âmbito do SAE do HUJBB por se tratar de uma unidade de
Referencia Estadual no tratamento de infecções infecto-parasitárias e HIV/Aids.
A princípio, seria no âmbito da DIP (Ambulatório de Doenças Infecto
Parasitarias - HUJBB), porém a epidemia pela sua característica versátil em se
manifestar, as circunstâncias que almejávamos encontrar fora substituída por outra,
que não era mais a mesma de quatro anos atrás que moveu a proposta do estudo.
Hoje a DIP está mais composta por pacientes recém diagnosticados, que
107
Está seção objetivou traçar o perfil social das PVHA que estão a mais de 30
dias em abandono de tratamento dentro da lista do SICLON do HUJBB- SAE. Como
já exposto neste trabalho, o SAE possui 520 pacientes em acompanhamento,
contendo um total de 111 em abandono, totalizando um total de 20% desta
população com falha na adesão. Este perfil foi constatado a partir do estudo
(http://www.aids.gov.br/ptbr/gestores/sistemas-de-informacao/sistema-de-controle-logistico-de-
medicamentos-siclom.> Acesso: 02/10/2019>
110
O gráfico 18 evidencia que há mais homens (72%) que mulheres (39%) dentro
da lista de abandono do SICLOM, porém de acordo com o cadastro total de pessoas
registradas (520 PVHA) a maioria da população também são do sexo masculino.
Atualmente no SAE possui um percentual de 63,8% de homens para 36,5 %
mulheres. Tradicionalmente a mulher mostra-se mais preocupada com os cuidados do
corpo, já o homem tende a ser um pouco mais displicente em relação o a própria
saúde, embora nos últimos tempos essas diferenças venham tendo mudanças. Gomes
(2008) explica esse comportamento como sendo resquícios de uma cultura
hegemônica da masculinidade, ligada à legitimidade do patriarcado, que garante a
dominação dos homens e a subordinação das mulheres; envolto na demonstração de
força, disputa e virilidade, ao exercício do papel de provedor dos filhos. E essa cultura,
gera entre os homens a falta de uma instrução preventiva que valorize o autocuidado,
corroborando com o medo da descoberta de alguma doença e a possibilidade de ter
que se submeter a um tratamento ou até mesmo a vergonha em realizar procedimentos
clínicos, entre outros elementos.
111
Escolaridade
Escolaridade
80
58
60
40
21
13 14
20 2
1
0
2° 2° incomp 1° comp 1° incomp sem em
completo instrução branco
O Gráfico mostra que 79% desta população são solteiras, seguida de 20%
casados e 1% encontram – se desquitado. Durante o levantamento deste dado não
houve a possiblidade de fazer a comparação entre os percentuais totais de
cadastrado versos os que constam na lista de abandono do SICLOM, por haver
prontuários no cadastro total dos assistidos com preenchimentos incompletos
referentes a esses dados.
É importante ressaltar a não adesão não como um problema exclusivo do
serviço de saúde e da equipe multidisciplinar que nele atua, mas ampliar para todos
os elementos da vida que determinam e influencia a realidade social das pessoas
que vivem com o vírus, ou seja, quais as expressões da questão social que estão
mais evidentes denunciando as contradições que também permeiam e fundamentam
as políticas sociais voltadas a esses assistidos.
Pois, como já exposto anteriormente, os direitos a saúde e assistência social,
assim como todos os outros direitos sociais, foram conquistados através de lutas da
classe trabalhadora por melhores condições de vida e cidadania. Portanto, a história
é feita de embates e conflitos das classes subalternas com a burguesia dentro de um
sistema capitalista neoliberal e excludente. Porém, na prática vivenciada a partir da
pesquisa pode-se notar que os serviços de saúde e assistência social, apesar de
serem direitos assegurados, não conseguem alcançar na integra a proposta que
116
Eu precisei viajar e não disse para ninguém, como eu não sabia que eu
poderia pegar a medicação em outro Estado, eu fiquei sem tomar o remédio
e eu também não sabia que eu poderia ter adoecido desse jeito aí que a
senhora me falou... (assistido 01)
Algumas dificuldades na continuidade do tratamento esbarram sim na falta
de informação. São 37 anos de epidemia, mas os mitos as dúvidas e a
desinformação continuam de forma preocupante. A maioria dos assistidos
aqui nesta unidade são pessoas com nível de escolaridade baixo com certas
limitações econômicas e sociais, esses entraves contribuem para que a
troca de informações não seja absorvida em excelência para ambos os
lados, tanto do profissional quanto do assistido. [...] Além de correr o risco
de adoece e ficar com sequelas irreparáveis ou até mesmo morrer, a carga
viral dele deve estar altíssima comprometendo até a retomada da eficácia
do Antirretrovirais. (ASSISTENTE SOCIAL 02)
Na fala acima existem dois fatores relevantes, os fatores que podem dificultar
a adesão e o fator que pode facilitar. O que dificulta a continuidade do tratamento é o
medo de ser “descoberto”, demonstra o receio em ser rejeitado, descriminalizado,
em virtude também daquelas pessoas fazerem parte do seu rol de trabalho, pois não
se sabe qual seria o impacto que isso poderia causar em relação ao seu emprego, e
ao meio social que ele usufrui. Outro fator relevante é o uso bebida alcoólica, pois o
mesmo, nos fins de semana (conforme relata o familiar), que as “noitadas” eram
recorrentes e a medicação ficava suspensa.
O fator que facilita a adesão é o apoio familiar, no cuidado, na preocupação,
inclusive nos retornos ambulatoriais o que permitiu a entrevista deste familiar. Porém
embora o suporte familiar esteja presente no aspecto efetivo-emocional (companhia,
atenção, escuta) e operacional (acompanhar em consultas, etc.) é importante que a
rede de apoio contenha amigos/ou, pessoas efetivamente significativas, que neste
caso percebemos não haver e consequentemente faz com que o suporte dele se
encontre insuficiente como coloca o manual de adesão ao tratamento para PVHA
(BRASIL, 2008).
Primeiro que eu comecei aqui, e pra mim é difícil ir e vim todo tempo, e eu
trabalho, não faço lá porque lá é pequeno, se você vai pra um atendimento
aquela enfermeira é lá do teu lugar, ela não vai ter a ética de atender e ficar
no trabalho dela. Ela sai dali e comenta com o colega, que comenta com
outro e assim vai. Antes deu chegar em casa todo mundo já sabe. O Serviço
Social de lá do programa o TFD, disse... Olha tem passagem gratuita se
você quiser... Pede laudo. Eu digo não. E aí eu não aceito não. “Ah, mas vai
ser bom pra ti porquê...” e eu digo não, obrigado! Nem deixo terminar de
falar. O preconceito mata mais que a doença. (ASSISTIDO 02) ...ninguém
especula mais, eles afirmam. Quando eu peguei a toxoplasmose eu fiquei
muito magro, fiquei 21 dias internado aqui. Aí, já viu que tinha esse
problema. Já me deu vontade de assumir perante... “olha, eu tenho! ” Não
sou o primeiro cidadão nem o ultimo que tem isso. Eu estou bem, graças a
119
Deus estou bem. Eu me considero bem porque não estou velho; se não
fosse essa falha de tomar eu não tinha ficado assim. (ASSISTIDO 03)
A gente passa por uma provação, aí vem outra, aparece outra e mais
outra... No final acaba desmotivando a gente de viver, sabe? Eu já pensei
em desistir, mas não vou mais fazer isso, porque eu tenho dois filhos. Não é
mais como antes assim, tá certo que ainda existe aquele preconceito das
pessoas falaram coisas que realmente elas não sabem. Eu já vi gente
chegar aqui, ah! E agora? Eu tenho que separar as coisas pra ele, prato,
colher... Eu digo: não é assim, não existe isso... E por causa dessa
ignorância das pessoas que esse vírus se alastrou (ASSISTIDO 04).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
por parte dos governantes, acarretando uma falha sem precedentes para que a
epidemia se disseminasse de forma mais cruel e silenciosa.
Dessa forma, é notório que uma das chaves mais importantes para desvendar
a questão do abandono do tratamento está no campo político-ideológico,
sociocultural, identificada no contexto histórico de como a epidemia foi tratada pelo
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