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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

INSTITUTO MULTIDISCIPLINAR EM SAÚDE

ARTUR SILVA GONÇALVES; IRIS LARISSA OLIVEIRA SOARES; JOSÉ DO CARMO


BATISTA SOUZA JUNIOR; REGIANE COSTA

A TUBERCULOSE E SEUS DESDOBRAMENTOS: Uma análise voltada às populações


vulneráveis e aos paradigmas existentes no Brasil

Vitória da Conquista
2022
ARTUR SILVA GONÇALVES; IRIS LARISSA OLIVEIRA SOARES; JOSÉ DO CARMO
BATISTA SOUZA JUNIOR; REGIANE COSTA

A TUBERCULOSE E SEUS DESDOBRAMENTOS: Uma análise voltada às populações


vulneráveis e aos paradigmas existentes no Brasil

Trabalho apresentado ao Instituto Multidisciplinar em


Saúde da Universidade Federal da Bahia – IMS/UFBA
como produto final do componente curricular
Metodologia do trabalho científico do curso de
Enfermagem.

Docente Responsável: Profa. Dra. Luana Araújo dos


Reis

Vitória da Conquista
2022
RESUMO

Esse presente artigo em síntese mostra os agravos relacionados à tuberculose no Brasil e o seu
alto poder de acometimento em populações vulneráveis, sejam elas: provocadas por
determinantes sociais, por outras doenças pré-existentes, alto poder de virulência e resistência
de novas cepas, ou pelo abandono do tratamento ao longo do tempo, evidencia a necessidade
de discorrer sobre maneiras mais eficientes que sejam capazes de melhor abarcar o
tratamento, ressaltando o papel intersetorial das instituições da sociedade brasileira e o
protagonismo multidisciplinar do enfermeiro frente ao avanço da doença nessas populações.
Com a finalidade de sensibilizar o doente, fazendo com que o mesmo seja capaz de ser o seu
principal promotor de saúde, aliado com novas técnicas de cuidado e acompanhamento
psicológico continuado, sendo necessário o desenvolvimento de novas políticas que sejam
capazes de promover melhores condições de vida a essas populações acometidas pela
tuberculose.

Palavras-chave: Fatores Sociais; Tuberculose; Políticas Públicas; Vulnerabilidade Social;


Brasil.
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 4
2. OBJETIVO ........................................................................................................................ 6
3. REVISÃO DA LITERATURA ........................................................................................ 6
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 9
REFERÊNCIAS...................................................................................................................... 10
1. INTRODUÇÃO

A tuberculose é caracterizada como uma doença infecciosa e transmissível, por meio


do agente etiológico Mycobacterium tuberculosis ou bacilo de Koch. Outrora, no Brasil, os
primeiros casos de tuberculose foram identificados no século XVIII, ainda que seja difícil
precisar quantos casos já existiram no Brasil, a partir de 2001 o Sistema de Informação de
Agravos de Notificação (SINAN) se tornou uma importante ferramenta de acesso aos dados
sobre notificação e tratamento da doença em nosso país, possibilitando o desenvolvimento de
estratégias de combate à doença em cada território (BRASIL,2019).
Trata-se, pois, de um agravo de saúde pública, ou seja, de grande magnitude,
transcendência e vulnerabilidade, que requer dos profissionais de saúde e da sociedade uma
maior atenção (BRASIL, 2011).
Além do mais, a tuberculose está diretamente relacionada com o acesso à proteção
social, às pessoas em situação de vulnerabilidade, que vivem em condições precárias de
moradia, indivíduos em situação de rua, privados de liberdade, indígenas e portadores de HIV
são mais suscetíveis ao adoecimento por tuberculose, em comparação com a população geral
e muitas vezes são inviabilizados de possuírem um tratamento adequado em decorrência da
ineficiência da garantia dos direitos sociais. Segundo o Guia orientador de promoção da
proteção social para as pessoas acometidas pela tuberculose, apesar de o diagnóstico e de o
tratamento dessa doença infecciosa estar disponível no Sistema Único de Saúde (SUS), de
forma gratuita, a ausência ou ineficiência de uma rede de apoio ou de proteção social pode
dificultar o diagnóstico precoce e a cura (BRASIL, 2022).
Dentre os grupos populacionais vulneráveis, pode-se citar a população indígena, a
população privada de liberdade, a população que vive com HIV/Aids e a população em
situação de rua, que apresentam um risco de adoecimento 3, 28, 28 e 56 vezes maior do que a
população em geral respectivamente. (LAYLLA, 2018).
Com efeito, é plausível destacar as condições de tratamento da tuberculose no Brasil e
sua fluidez diante os casos. Sendo tal realidade preocupante quando é posto em análise as
complicações e suas resoluções durante o tratamento, como por exemplo, casos de depressão
anteriores ao início do quadro de tuberculose ou os casos que se desenvolveram no percurso
da doença, muitas vezes, tais pacientes não recebem o acompanhamento adaptado para sua
situação. Além disso, outra implicatura possível é o desenvolvimento de bactérias
tuberculosas resistentes aos antibióticos decorrente de um tratamento assíncrono e mal
acompanhado. Por fim, todas essas barreiras feitas para um bom prognóstico podem ser
atenuadas pela percepção do enfermeiro e a adequada maneira de cuidado com o enfermo, no
entanto, é necessário uma preparação especializada para esse tipo de situação.
Outrossim, é válido ressaltar que a apresentação da tuberculose na forma pulmonar, além
de ser a mais frequente, é também a mais relevante para a saúde pública, pois é dessa forma,
especialmente a bacilífera, a responsável pela manutenção da cadeia de transmissão da
doença. Desse modo, a busca ativa de sintomático respiratório é uma importante estratégia
para o controle da doença, uma vez que permite a detecção precoce das formas pulmonares
(BRASIL, 2011). No entanto, o diagnóstico precoce da tuberculose em populações
vulneráveis apresenta fragilidades, visto que, fatores socioeconômicos e deficiências
relacionados ao doente dificultam o acesso ao descobrimento da doença.
De acordo com o Manual de recomendações para o controle da tuberculose no Brasil,
embora existam recursos tecnológicos para promoção do controle da Tuberculose, ainda se
configura como um desafio a sua eliminação como problema de saúde pública e, sua
associação com a infecção pelo HIV e a emergência e propagação de cepas resistentes,
representam desafios adicionais em escala mundial (BRASIL, 2011).
2. OBJETIVO

Analisar as populações vulneráveis e os paradigmas existentes no Brasil acerca da


Tuberculose, ressaltando o papel intersetorial e multidisciplinar dos profissionais de saúde.

3. REVISÃO DA LITERATURA

No nosso país a tuberculose é uma doença que possui caráter social, sendo relacionada
com uma parcela da população em extrema pobreza e privação de liberdade, assim sendo em
situação de vulnerabilidade social. De 2001 até junho de 2022 o Brasil já teve 1.858.037 casos
confirmados de tuberculose e 1.594 apenas em 2022, segundo dados obtidos através do
(SINAN, 2022). Isso demonstra que ainda temos que evoluir quanto à prevenção e tratamento
dessa doença, sendo necessárias ações factíveis que possam contribuir para a resolução do
problema dessa parcela da população.
As medidas de promoção à saúde para a população com maior risco de contaminação
são essenciais para que os indivíduos realizem o descobrimento precoce e tenham acesso a um
tratamento adequado para a tuberculose. De acordo com uma revisão sistémica por Aragão et
al. (2021) em que foram analisadas pesquisas que correlacionaram o tratamento da
tuberculose aos programas de assistência social, no Brasil, foram obtidos resultados positivos
em pacientes que passaram a receber auxílios sociais em razão da doença, tendo em vista que
o tratamento envolve despesas diárias, como exames, consulta e medicamentos, além de
impossibilitar o paciente de trabalhar, o apoio monetário impede que o paciente interrompa o
tratamento por razões financeiras, a partir dessa revisão sistémica constatou-se que o acesso à
segurança social diminui a vulnerabilidade social e melhora as expectativas de cura.
A depressão, conhecida como mal do século, é uma enfermidade que todos os
humanos podem a vir desenvolver, caso exposto a certas situações, em que, resumidamente, a
pressão psicológica é capaz de desequilibrar a homeostase neurológica. Nesse cenário,
tratamentos contra outras patologias, a exemplo da tuberculose pode ser uma dessas fontes,
não obstante a isso, pessoas que já portam essa enfermidade estão ainda mais vulneráveis,
fatos estes comprovados recentemente por Vieira et al (2021) ao concluir que o
desenvolvimento da tuberculose não é um caso definitivamente isolado, pois devido ao seu
estressante tratamento há possíveis consequências de surgimento de sintomas depressivos.
Nessa realidade, é fulcral que exista uma atenção adaptada para aqueles que sofrem de ambas
patologias, pois de acordo com Vieira (2021, p.677):

É fundamental a intervenção baseada nos cuidados e prevenção, integrados e


centrados no paciente adoecido por TB, explorando dimensões subjetivas do
adoecer, considerando o indivíduo como único, fragilizado por aspectos
psicossociais e emocionais envolvidos no processo de adoecer e no cotidiano
assistencial do tratamento.

Sendo assim, é evidente que há um acrescido esforço para individualizar e levar em


consideração todos os aspectos dos pacientes anteriores e durante o tratamento da tuberculose,
a fim de evitar o abandono a ele ou agravamento da patologia, pois tal quadro psicológico
pode afetar negativamente seu desfecho.
Outra questão a se considerar, é o possível surgimento da forma resistente do agente
etiológico da tuberculose. Tal situação exige uma completa transformação das ações quanto
ao tratamento do enfermo, pois nessa forma agravada da doença a bactéria estará resistente a
antibióticos de primeira linha e pode se estender a outros métodos, fomentando em um
decadente prognóstico que exigirá a utilização de drogas mais tóxicas e prolongamento do seu
tempo de uso. Essa TB resistente é mais recorrente em países emergentes, como o Brasil, em
consonância a isso é possível citar Ferreira et al (2021, p.2): ’’A TB-DR é complexa e
envolve fatores sociais, culturais, políticos e econômicos que favorecem o desenvolvimento
da resistência a diferentes fármacos’’. Logo, a incidência da TB-DR está associada a uma
realidade coletiva em que o paciente se encontra, porque para Ferreira et al (2021) a ausência
ou demora na detecção por meio de testes levam a busca pelo auto tratamento inapropriado
que seleciona, ainda mais, as cepas resistentes de Mycobacterium tuberculosis.
Assim, com a exploração dessas implicaturas que podem aparecer no decorrer do
tratamento da tuberculose, é eminente que a condução adequada culmina no papel e
percepção do enfermeiro. Para Vidal et al (2022), a conduta do enfermeiro nesse contexto irá
englobar as esferas, familiar, individual, profissional, organizacional, sistêmica e societária,
sendo essa conclusão associada ao fato de que a tuberculose se trata de uma doença
infecciosa. Portanto, o enfermeiro que acompanhará o paciente precisa fazer um registro
sistemático de sua situação e determinar o controle proliferativo dessa bactéria na
comunidade, atribuindo também responsabilidades individuais aos pacientes e aos seus
familiares. Além disso, é vital que seja feito uma preparação aprofundada por parte do
profissional de enfermagem ao liderar casos de cepas resistentes do agente etiológico da
tuberculose, pois uma contaminação generalizada resultaria em uma grave crise de ordem
social, não apenas referente a Mycobacterium tuberculosis, mas sim um conhecimento acerca
do comportamento bacteriano, em geral, que está sempre predisposto a uma resistividade às
drogas. Destarte a isso, conclui-se com Vidal (2022, p6):

Nessa perspectiva, entendendo que há uma relação simbiótica entre os


recursos, as estruturas e o modelo de gestão em saúde, é fundamental que os
gestores tenham a capacidade de realizar uma leitura situacional dinâmica e precisa
do contexto do sistema de saúde

Em virtude da complexidade e da individualidade existente em cada realidade de


assistência, alguns territórios sendo mais favorecidos que outros, cria-se um disparidade nas
ações para que se forneça uma assistência adequada às populações vulneráveis. Partindo da
construção histórica e social em que vivem os indivíduos de áreas vulneráveis, é possível
compreender porque existe uma expectativa de esperar benefício para si próprio, uma vez que
residem em áreas onde há dificuldades no acesso à bens e serviços essenciais. (ALMEIDA et
al. 2010).
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Brasil enfrenta dificuldades no controle da Tuberculose, uma vez que é uma doença
agravada pelo contexto social da população, marcada pela precariedade de vida das pessoas
vulneráveis. Esses indivíduos, sendo mais expostos a danos à saúde, possuem desvantagens
para mobilidade social em função da sua cidadania fragilizada, levando a uma desigualdade
ao acesso de bens e serviços. Assim, os determinantes sociais da saúde estão associados ao
risco de adoecimento desses grupos desfavorecidos, pois a desigualdade afeta negativamente
o acesso à saúde, tendo como consequência a pouca possibilidade de prevenção, diagnóstico
de qualidade e tratamento completo. Desse modo, abordagens efetivas no combate à
tuberculose devem envolver estratégias de proteção social, inclusão e intervenções
socioeconômicas associadas ao acesso do diagnóstico, com o objetivo de combater a
estigmatização.
Portanto, a respeito das implicaturas diante do tratamento da tuberculose é plausível
destacar o profissional da enfermagem como agente fundamental na modelagem e adaptação
equivalente às particularidades do paciente que portará diferentes contextos sociais, sejam
econômicos ou culturais, podendo necessitar de uma conscientização completa acerca do que
o aflige. Outrossim, essa enfermidade requer de uma visão analítica, intersetorial e racional do
enfermeiro, com ênfase para o estado psicológico do enfermo durante o desenvolver do seu
tratamento, para que o mesmo seja capaz de adequar seus limites e não prejudicar o seu
prognóstico.
REFERÊNCIAS

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participação de populações vulneráveis. Texto & Contexto - Enfermagem [online]. 2010, v.
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Epidemiológica. – Brasília : Ministério da Saúde, 2022.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de


Vigilância Epidemiológica. Manual de recomendações para o controle da tuberculose no
Brasil / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de
Vigilância Epidemiológica. – Brasília : Ministério da Saúde, 2011.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Doenças


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promoção da proteção social para as pessoas acometidas pela tuberculose / Ministério da
Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Doenças de Condições Crônicas
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