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RAÍZES DA ROÇA:
CACHOEIRA-BA
2021
ADAILANE DOS SANTOS SOUZA
RAÍZES DA ROÇA:
CACHOEIRA-BA
2021
ADAILANE DOS SANTOS SOUZA
BANCA EXAMINADORA
________________________________________
Orientador: Prof. Dr. Guilherme Moreira Fernandes,
Jornalista, doutor em Comunicação e Cultura pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro (ECO/UFRJ)
________________________________________
Avaliadora interna: Prof.ª Dr.ª Leila Maria Nogueira de Almeida Kalil
Jornalista, mestre e doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas
pela Universidade Federal da Bahia (UFBA)
________________________________________
Avaliador externo: Cláudio Barcelos de Barcellos
Repórter e escritor, jornalista pela
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS)
“Se avexe não, toda caminhada começa no primeiro passo. A natureza
não tem pressa, segue seu compasso inexoravelmente chega lá. Se
avexe não, observe quem vai subindo a ladeira seja princesa ou seja
lavadeira. Pra ir mais alto vai ter que suar”.
Toda a trajetória acadêmica é um caminho que não é fácil, acredito que a força maior
que me mantém de pé diante de todas as circunstâncias é Deus, agradeço primeiramente a Ele,
pois sem a sua presença em minha vida eu nada seria e por me fazer acreditar que existe um
tempo certo para tudo.
Agradeço aos meus pais, Adilson da Conceição Souza e Maria de Lourdes Rocha dos
Santos, por todo ensinamento durante toda a minha vida, pelo carinho, apoio, incentivo e
proteção. Agradeço a minha querida e amada avó Maria Rocha dos Santos (in memoriam), que
torceu muito pelo meu sucesso. “Vovó sua neta conseguiu!”. À minha irmã Adailma dos Santos
Souza, por toda parceria e por dividir o pouco que tinha para me ajudar a realizar o meu sonho,
foi a permissão de Deus que fez com que nos duas pudéssemos entrar juntas na universidade.
Agradeço muito ao meu orientador, Guilherme Fernandes, por ter dado o seu sim e ter
acreditado no meu projeto e no meu potencial, extraindo de mim sempre o melhor, sendo minha
luz no meio da escuridão, minha âncora, meu eterno carinho e gratidão. São professores como
ele que me faz acreditar que o sonho é possível. Ao meu coorientador Joilson Fiuza, por todo
empenho, ajuda e comprometimento com meu trabalho. Gratidão a minha banca examinadora,
pela gentileza de aceitarem o meu convite.
Agradeço a toda a minha família e amigos por serem peças fundamentais em minha
vida. Aos anjos em forma de amigos, que a universidade me proporcionou a conhecer, Bruno
Leite, Leandro Queiroz, Fellipe Moreira, Monalysa Melo, Janeise Santos, Shagaly Ferreira,
Eliane Cruz.
Agradeço ao técnico da UFRB, Saulo Leal, por toda a disponibilidade e por contribuir
valiosamente para o meu produto.
Minha eterna gratidão ao Colegiado de Jornalismo através do seu corpo docente, pela
contribuição no meu aprendizado e na minha formação acadêmica e profissional. A UFRB e a
Cachoeira, por todo acolhimento durante todos estes anos, por me proporcionar muitas
conquistas, experiências, resiliências, com certeza sempre ficará gravada em minha mente e em
meu coração.
Para finalizar, o meu muito obrigada a minha comunidade, pois é no Pernambuco que
minhas raízes estão fincadas. Agradeço aos meus entrevistados, por toda a disponibilidade,
paciência e principalmente por contribuir valiosamente para a realização deste trabalho, sem
eles não seria possível. Por fim, meu muito obrigada a todas as pessoas que ajudaram direta e
indiretamente para a realização deste radiodocumentário. Minha Eterna Gratidão!
RESUMO
1. APRESENTAÇÃO ............................................................................................................. 09
2. JUSTIFICATIVA ............................................................................................................... 10
3. CONTEXTUALIZANDO O TERRITÓRIO ................................................................... 12
3.1 RECÔNCAVO DA BAHIA ........................................................................................ 12
3.2 MUNICÍPIO DE MURITIBA ..................................................................................... 14
3.3 A CONSTRUÇÃO DA TERRITORIALIDADE DA COMUNIDADE RURAL DE
PERNAMBUCO ..................................................................................................................... 15
4. RÁDIO E LINGUAGEM RADIOFÔNICA..................................................................... 18
4.1 VOZ HUMANA ................................................................................................................. 19
4.2 MÚSICA ............................................................................................................................. 19
4.3 EFEITOS SONOROS......................................................................................................... 20
4.4 SILÊNCIO .......................................................................................................................... 20
4.4 RÁDIO E TECNOLOGIAS ............................................................................................... 20
5. RADIODOCUMENTÁRIO ............................................................................................... 22
5.1 PLANEJAMENTO ............................................................................................................. 22
5.2 PESQUISA ......................................................................................................................... 23
5.3 ESTRUTURA ..................................................................................................................... 23
5.4 EDIÇÃO ............................................................................................................................. 23
6. INVISIBILIDADE DA JUVENTUDE RURAL .............................................................. 25
7. PERTENCIMENTO: RURAL E RURALIDADE .......................................................... 28
8. DESCRIÇÃO DO PROCESSO DE PESQUISA ............................................................. 30
8.1 OS ENTREVISTADOS ..................................................................................................... 31
9. PROCESSOS DE PRODUÇÃO ........................................................................................ 32
9.1 PROCESSO DE GRAVAÇÃO .............................................................................................. 32
9.2 PROCESSO DE EDIÇÃO.................................................................................................. 33
9.3 VEICULAÇÃO DO RADIODOCUMENTÁRIO ............................................................. 34
10. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 35
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 37
APÊNDICES E ANEXO ........................................................................................................ 40
APÊNDICE A: SCRIPT .............................................................................................. 40
APÊNDICE B: ENTREVISTADOS ........................................................................... 44
ANEXO A: TERMO DE AUTORIZAÇÃO ................................................................ 46
9
1 APRESENTAÇÃO
A educação é uma forma dos jovens da zona rural ganharem visibilidade perante a
sociedade, pois, dentro deste espaço sairão psicólogo, farmacêutico, administrador, cientista
social, gestor em cooperativa, jornalista, pedagogo, juventude com grandes potenciais, porém,
acabam sendo desvalorizados pelos simples fatos de serem oriundos de uma zona rural.
Segundo Carneiro (2005, apud Menezes; Souza; Pereira, 2012), “a educação se destaca em
primeiro lugar como assunto que mais interessa a aproximadamente um quarto dos jovens
rurais (22%)”. Os jovens rurais enxergam na educação, caminhos para conquistar melhores
condições de trabalho. Os pais almejam que seus filhos tenham uma vida diferente da sua, do
trabalho árduo nas lavouras, trabalhando na agricultura familiar.
10
2 JUSTIFICATIVA
3 CONTEXTUALIZANDO O TERRITÓRIO
O conceito de território é alvo de vários debates ao longo dos anos. Com o avanço da
globalização, várias são as imbricações que giram em torno do território, estudiosos da área
buscam debater, entender, problematizar as vertentes deste conceito. O geógrafo Milton Santos
(2007, p.13) conceitua que: “território é o lugar em que desembocam todas as ações, todas as
paixões, todos os poderes, todas as forças, todas as fraquezas, isto é, onde a história do homem
plenamente se realiza a partir das manifestações da sua existência”.
O Recôncavo da Bahia é uma região que geograficamente fica em torno da baía de
Todos os Santos, tendo grande importância no contexto histórico, cultural, econômico e social
para o estado da Bahia. Nacif (2010) explica que, o termo recôncavo, originalmente usado para
designar o conjunto de terras em torno de qualquer baía, se associou, no Brasil, desde os
primórdios da colonização, à região que forma um arco em torno da Baía de Todos-os-Santos.
Brandão afirma:
O Recôncavo histórico e cultural – área da Grande Salvador – está contido, na face
litorânea da Zona da Mata, entre o Sauípe e o Jequiriçá, com um limite a sudoeste ao
longo do Rio da Dona, formando uma faixa em semicírculo de cerca de 50 a 70 km
de largura, em torno da Baía de Todos os Santos. Vem daí sua designação como
Recôncavo da Bahia ou simplesmente Recôncavo, e não Recôncavo Baiano, como o
vêm denominando os documentos oficiais (BRANDÃO, 2017, p.24).
13
Essa região se caracteriza não apenas pelas suas incríveis variáveis físico-naturais, mas,
sobretudo, por sua história e dinâmica sociocultural. Para Bahia (2019), o recôncavo teve
fundamental importância na exploração agrícola fomentando a economia e forte fator para a
formação da identidade cultural, ficou muito conhecida pela presença do número expressivo de
negros escravizados durante o período escravocrata:
A região conheceu diferentes fluxos de exploração econômica, iniciando com a
extração de madeira (jacarandá e cedro-rosa, principalmente) da luxuriosa floresta
fluvial que existia até o Século XVI. A partir daí e até o Século XVIII, foi desenhando
um perfil de exploração agrícola que concentrou nas áreas de Muritiba, Cruz das
Almas e São Gonçalo as plantações de fumo e mandioca, reservando as demais para
a monocultura da cana-de-açúcar. As lavouras de cana, algodão e fumo (e depois a
extração de dendê) foram as primeiras e por muito tempo as mais importantes fontes
de exploração econômica, demandando um grande contingente de mão-de-obra
escrava, que daria os contornos para a formação de sua identidade cultural (BAHIA,
2019, p.24-25).
Fonte: SEI-BA
médio completo, tendo algumas pessoas analfabetas e outras com ensino superior completo e
em fase de conclusão. A comunidade conta com uma escola municipal, associação comunitária
(que atualmente se encontra desativada), campos de futebol, granjas de avicultura, uma fazenda
de citros, mercadinhos, bares e quiosques. As principais manifestações culturais são a festa do
Padroeiro (São José) e as datas comemorativas, São João, São Pedro, Santo Antônio, Natal e
Ano Novo. A principal fonte de renda dos moradores é a agricultura familiar, muitas famílias
tiram seu sustento através do cultivo de mandioca, limão, laranja, amendoim, milho, aipim,
batata-doce, abóbora, andu e vários outros alimentos.
Embora Pernambuco enfrente dificuldades de acesso à saúde, educação, esporte,
cultura, lazer e estradas de qualidade é um local que existe uma irmandade na qual uns ajudam
aos outros, compartilhando seus anseios, dificuldades, lutas e vitórias. No que diz respeito sobre
o pertencimento, de trocas do meio em que se vive, de analisar o território não só como um
espaço em que se habita, mas como também como uma local de construção identitária, como
descreve Santos:
O território não apenas o conjunto dos sistemas naturais e de sistemas de coisas
superpostas; o território tem que ser entendido como território usado, não o território
em si. O território usado é o chão mais a identidade. A identidade é o sentimento de
pertencer àquilo que nos pertence. O território é o fundamento do trabalho; o lugar da
residência, das trocas materiais e espirituais e do exercício da vida. O território em si
não é uma categoria de análise em disciplinas históricas, como a geografia. É o
território usado como categoria de análise (SANTOS, 2007, p.14).
O território é composto por várias territorialidades. Sack (1986 apud GIL, 2004, p.7)
entende a territorialidade como a tentativa de um indivíduo ou grupo social de influenciar,
controlar pessoas, recursos, fenômenos e relações, delimitando e efetivando o controle sobre
uma área. A territorialidade envolve relações econômicas, culturais, políticas e sociais, por isso,
um único território pode ter várias territorialidades o que irá diferenciar é a relação social que
o indivíduo terá com aquele espaço.
Pernambuco é uma roça que não se difere das outras comunidades rurais de Muritiba,
porém, cada espaço é único para as pessoas que convive nesse meio. Assim, falar de
Pernambuco é falar dos idosos que são fontes de conhecimentos, de memórias, de saberes
populares, é lembrar das benzedeiras e rezadeiras, das festas populares que existem, das festas
de padroeiros, de todas os ditos populares, contada pelas gerações passadas. É lembrar dos
jovens que lutam para conquistar um futuro melhor, seja estudando ou trabalhando, é lembrar
de todas as pessoas que já viveram na comunidade e que hoje não estão em nosso meio, mas
deixaram muitas fontes de conhecimento e experiência. É um local que tudo se planta, colhe e
compartilha com os outros, a irmandade e a cumplicidade deste pedaço de chão que os
17
O rádio é, por definição, um meio dinâmico. Está presente lá, onde a notícia acontece,
transmitindo-a em tempo real para o ouvinte. Também aparece ali, onde se faz necessária uma
canção para espairecer ou enlevar. E chega acolá, naquele cantinho humilde a carecer de uma
palavra de apoio, de conforto ou, quem sabe, de indignação. (FERRARETTO, 2014).
Presente em muitos lares brasileiros, o rádio é um veículo de baixo custo, sendo um dos
principais veículos de informação e reivindicação quando se refere às comunidades rurais. De
acordo com Weber e Déver (2010, p.50), “o rádio é um veículo com linguagem simples e de
grande alcance, por isso é muito comum no meio rural. Além disso, o rádio não exige que seus
usuários tenham um grau de instrução elevado, uma vez que, como não utiliza imagens, seu
texto deve ser simples e autoexplicativo”.
Kaplún (2017) elenca as vantagens do rádio como veículo de massa, sendo um meio de
comunicação de ampla difusão popular, simultâneo, instantâneo, com largo alcance, com baixo
custo e acesso remoto às casas dos destinatários.
Para Ferraretto (2014, p.46), “a linguagem radiofônica engloba o uso da voz humana
(em geral, na forma da fala), da música, dos efeitos sonoros e do silêncio, atuando isoladamente
ou combinados entre si”. A linguagem radiofônica tem de ser clara, objetiva e simples para que
todos os ouvintes independentes do grau de instrução possam compreender, possibilitando
assim que os diálogos aproximem o receptor do emissor.
Conforme José e Sergl (2015),
4.2 MÚSICA
Mas a grande sacada foi a descoberta de que era possível recortar a música em muitas
de suas frases musicais, deslocá-las da composição original para outros contextos,
tanto musicais, através das mixagens, como para ser suporte de textos verbais
oralizados, através de backgrounds, mais conhecidos como BG. Como nomenclatura
radiofônica, esse recurso técnico foi denominado de trilha sonora. (JOSÉ; SERGL,
2015, p. 6).
A música escolhida foi a “Natureza das Coisas” interpretada pelo cantor Flávio José, a
escolha da canção foi por eu acreditar que a letra dela retrata toda a trajetória de vida destes
jovens complementando as falas. A mensagem que eu quero passar para estes jovens através
desta música é de não desistir, pois tudo tem o seu tempo e que para conseguir algo na vida
temos que lutar, batalhar e ter força de vontade, acreditando que tudo dará certo um dia
independente das circunstâncias que vierem a surgir ao longo do caminho.
20
4.4 SILÊNCIO
“é ele mesmo, uma continuação da radiodifusão”. (BONINI, 2020, p.18). Além das diversas
plataformas digitais de áudio disponíveis na internet.
Nesta concepção, “Raízes da Roça: Radiodocumentário sobre as narrativas e trajetórias
dos jovens da comunidade de Pernambuco no Ensino Superior” está inserido nas mídias
digitais, uma vez que o principal meio de veiculação será pelas plataformas digitais e
possibilitando que as pessoas poderão ouvir do seu próprio aparelho celular, notebook, em qual
horário e lugar.
22
5 RADIODOCUMENTÁRIO
5.1 PLANEJAMENTO
Dado que o planejamento exige do produtor uma organização das ideias, analisando a
duração do programa e a seleção do material coletado que será utilizado no produto. Nesta
etapa foi escrito um briefing para o radiodocumentário, onde foi definido um título provisório,
objetivo do produto, as informações referentes a temática, o conteúdo a ser explorado, as fontes
de entrevistas e a fonte de referência. A fonte de referência para a elaboração do trabalho foi o
programa jornalístico, Profissão Repórter, apresentado pelo jornalista Caco Barcellos e exibido
pela Rede Globo.
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De acordo com McLeish (2001) não há nenhum padrão formal para organizar o
planejamento do programa; cada produtor tem seu próprio método. O briefing me auxiliou no
momento das entrevistas, pois, quando gravei a primeira ainda não tinha escrito o briefing e a
entrevista ficou muito redundante, “o briefing bem definido sabe o que quer e ao fazer as
perguntas certas poupa tempo e dinheiro”. (MCLEISH, 2001, p. 193).
5.2 PESQUISA
A pesquisa depende da decisão do produtor do programa, “deverá decidir se apela para
um especialista no assunto ou se ele mesmo redige o script. A questão da pesquisa dependerá
dessa decisão” (MCLEISH, 2001, p.193).
Como eu já tinha experiência em redigir script de rádio, devido às aulas de
Radiojornalismo II, escrevi o script do programa. Mesmo após a realização de todas as
entrevistas eu tive que voltar às fontes para complementar algumas informações.
5.3 ESTRUTURA
5.4. EDIÇÃO
Após ter seguido todas as etapas que foram supracitadas acima, chegou o momento da
edição. Inicialmente a abertura era composta apenas do texto de apresentação e da trilha sonora,
porém no decorrer das edições, o meu orientador sugeriu criar uma dramatização e vinheta para
compor a abertura do radiodocumentário. Foram realizadas várias edições até chegar à versão
final, a ideia central do briefing foi mantida, tendo alteração no título e o script foi modificado
de acordo com todas as alterações da edição.
24
Os identificados como jovens e rurais seriam aqueles que vivenciam o que podemos
denominar duplo “enquadramento”. Por um lado, sofrem com as imagens pejorativas
sobre o mundo rural e as consequências dessa desvalorização do mundo rural no
espaço urbano – ou seja, a associação do imaginário sobre o “mundo rural” ao atraso
e a identificação dos jovens como roceiros, peões, aqueles que moram mal. Por outro,
no meio rural, muitas vezes são deslegitimados por seus pais e adultos em geral, por
serem muito urbanos. Jovem rural carrega o peso de uma posição hierárquica de
subalternidade, ou seja, uma categoria percebida como inferior nas relações de
26
hierarquia estabelecidas na família, bem como na sociedade. Essa posição está, ainda,
marcada por um contexto nacional de difíceis condições econômicas e sociais para a
pequena produção familiar. (WANDERLEY, 2007 apud CASTRO, 2009, p 38).
Rubem (1990) argumenta que a invisibilidade é um dos principais fatores que inibem o
desenvolvimento das potencialidades dos jovens no meio rural, o que impede de contribuir para
o desenvolvimento rural sustentável. Esta invisibilidade acaba fazendo com que a juventude
deste meio busque oportunidades em grandes centros urbanos, pois muitos acreditam que a
juventude do campo não tem capacidade de ocupar lugares de destaque, mesmo tendo
profissionais da comunidade rural aptos a ocuparem determinados cargos o que acaba
acontecendo e que contratam pessoas da sede ou de outros municípios, porém não contratam o
jovem rural.
pensar que filho de agricultor, o pobre, o negro, o “da roça”, não são merecedores de ocuparem
determinados espaços.
A juventude rural luta pelo seu direito enquanto pessoas que buscam contribuir para a
sociedade e principalmente para o desenvolvimento da sua comunidade e de seu município. Os
jovens rurais buscam visibilidade através dos estudos, da música, da capoeira, da dança,
buscando espaço na educação, cultura, lazer, esportes, no mercado de trabalho, permitindo que
os jovens lutem para serem atores sociais que buscam reconhecimento pelo seu potencial
enquanto juventude rural.
Sempre tive um olhar voltado para o público jovem, devido a minha participação na
Pastoral da Juventude da igreja católica, a temática relacionada com a juventude marginalizada
e excluída sempre foi alvo de meu interesse. Meu desejo sempre foi de uma certa forma levar
a minha comunidade para o ambiente universitário e principalmente o potencial da juventude
rural e olhando a minha trajetória de jovem e universitária que enfrentou diversos problemas
para ocupar este espaço. Então, comecei a observar os demais jovens universitários da
comunidade quem passam pela mesma situação que eu passei. Nas minhas observações como
moradora/documentarista e pesquisadora eu percebi que Adailma dos Santos Souza (28),
Alessandra Gonzaga Ramos (21), Aline Gonzaga Ramos (24), Daniel Santos de Jesus (25) e
Jacson de Souza Brandão (24) têm uma trajetória de vida que merecia ser mostrada, era a
oportunidade de possibilitar que essa juventude pudesse ser protagonista das suas histórias. Foi
também por sentir a carência de trabalhar a questão da juventude rural no ambiente acadêmico
que são pautas importantes a serem discutidas nesses ambientes.
Todo esse embasamento me direcionou a produzir o radiodocumentário, apesar de
serem pessoas diferentes, com histórias de vida com suas particularidades, mas o que unem
todos esses cincos jovens é a vontade de crescer através dos estudos, das dificuldades que
tornam eles cada dia mais fortes e com sede de vencer. Com essa produção os jovens vão
ganhar visibilidade e também pode ser o pontapé inicial para futuras pesquisas relacionadas a
juventude oriunda de localidades rurais.
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A ruralidade pode ser entendida como um modo de vida, como uma sociabilidade que
é pertinente ao mundo rural, com relações internas específicas e diversas do modo de
viver urbano. A ruralidade sugere uma gama considerável de imagens quando é
pensada, quando é discutida. Ruralidade é uma construção social contextualizada,
com uma natureza reflexiva, ou seja, ela é o resultado de ações dos sujeitos que
internalizam e externalizam através dessas ações a sua condição sociocultural presente
que é reflexo da condição herdada de seus antepassados. Nesta ruralidade está
expressa a capacidade destes sujeitos de se adaptarem às novas condições resultantes
das influências externas. (MEDEIROS, 2017, p. 182)
[...] uma coisa é certa, o que tem que ser buscado não é deter o homem no campo, mas
o caminho inverso, ou seja, promover as políticas públicas nas áreas rurais e nas
pequenas cidades, levar as políticas de investimento onde de fato precisam, como:
educação, saúde, habitação, saneamento, emprego, previdência, crédito [...].
(NUNES; NETO, 2016, p. 65).
Os desafios do meio rural são muitos, sofremos com a falta de acessibilidade, com a
carência em relação a saúde, lazer, esporte, educação, porém o que se deve ser pensado são nas
políticas públicas que possam agregar tanto o meio rural quanto o urbano de forma igualitária.
Pois seria muito mais fácil desistir de viver em um espaço rural e ir para uma área urbana que
tem muitos outros benefícios, porém a população rural decide continuar neste espaço, quanto
pela sua transformação evitando o êxodo rural entre outros processos migratórios.
30
8.1 OS ENTREVISTADOS
31
9. PROCESSOS DE PRODUÇÃO
Utilizamos para registrar as entrevistas das fontes um aparelho celular Samsung Galaxy
J7 Duo com capacidade de 32 gigas de armazenamento, um cartão de memória da marca HC
com capacidade de 8 gigas.
As entrevistas tiveram durações variadas, pois as fontes ficaram livres para falar sobre
sua vida, duraram de trinta minutos a uma hora. As entrevistas aconteceram na residência dos
entrevistados, de acordo com o dia e horário disponibilizado pela fonte, seguindo todas as
recomendações de segurança da Organização Mundial de Saúde e dos Governos Estadual e
Municipal, devido ao período de pandemia do Coronavírus.
33
10 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Essa produção acadêmica é motivo de muito orgulho e superação, pois a todo momento
eu pensava que não iria conseguir concluir essa etapa, entre os muitos problemas enfrentados
durante a construção deste TCC, acabei contraindo a COVID-19, perdi ente querido, problemas
de saúde no meu seio familiar que acabou acarretando em um turbilhão de sensações. No
entanto, parei e analisei toda a minha vida acadêmica, todos os altos e baixos que passei, os
obstáculos diários que enfrentei para poder chegar até aqui e eu não poderia e nem deveria
estacionar, pois tinha uma comunidade acreditando em mim e no meu potencial.
Recordo-me que perdi aulas para poder trabalhar na lavoura de limão para conseguir
dinheiro para custear os gastos universitários, perdi aulas por não ter dinheiro para pagar as
passagens, ouvi comentários negativos de pessoas questionando a minha capacidade em ter
conseguindo acesso a uma universidade federal, porém isso não me desanimava, não me
deixava triste e sim, motivada em querer buscar sempre o melhor, em chegar em sala de aula e
superar todas as minhas dificuldades, sempre com sorriso no rosto.
E analisando toda essa trajetória, a comunidade de Pernambuco tem jovens que
enfrentam muitos problemas para permanecer na universidade, contudo, não se deixam abater,
mesmo diante de todas as lutas diárias que surgem ao longo do caminho. As dificuldades não
se tornam empecilhos para fazerem eles desistirem e sim um degrau para quererem subir cada
vez mais para conquistar os seus objetivos.
A juventude rural sofre com a invisibilidade, questionam a todo o momento sobre a sua
capacidade de ocupar os seus espaços, são desvalorizados, estereotipados e essa produção
acadêmica surgem na perspectiva de mostrar o contrário destas características negativas, uma
forma de proporcionar uma visibilidade para a juventude rural, pois o filho do pobre, do
agricultor e da roça podem e devem ocupar qualquer espaço independente do meio em que se
vive.
Este radiodocumentário é um grito preso na garganta de muitos jovens que pensavam
que o ambiente acadêmico não seria para eles, o grito de uma juventude que se sente invisível
perante a sociedade perversa, preconceituosa e injusta. Essa produção é a maneira de mostrar
que a juventude rural não são poucas, são muitas e além de tudo é uma juventude unida, disposta
a lutar para serem protagonistas de suas histórias e que sabe lutar para serem referência e
inspiração para toda a comunidade.
Este memorial carrega consigo o sentimento de missão cumprida, de uma realização
pessoal, de persistência e garra, pois não sabia editar e eu acabei aprendendo, pois, a minha
36
força de vontade e o desejo de dar um retorno para a minha comunidade era maior do que
qualquer dificuldade. Espero que o Raízes da Roça se espalhe e mostre para o mundo que a
juventude rural é muito potente.
37
REFERÊNCIAS
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EdUFRB, 2019.
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tempos. 2ª ed. Muritiba: o autor, 2015.
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Rio de Janeiro: Mauad X, 2007.
CASTRO, Elisa Guaraná de. Os jovens estão indo embora? Juventude rural e construção de
um ator político. Rio de Janeiro: Mauad X; Seropédica-RJ: EDUR, 2009.
FERRARETTO, Luiz Artur. Rádio: teoria e prática. São Paulo: Summus, 2014.
JOSÉ, Carmen Lúcia; SERGL, Marcos Júlio. Voz e roteiros radiofônicos. São Paulo: Paulus,
2015.
38
MENEZES, Anizia Eduarda Nergues. SOUZA, Bruna Silva de. PEREIRA, Viviane Souza
Santos. Perspectivas da juventude rural no ensino superior. In: VI COLÓQUIO
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NUNES, Klívia de Cássia Silva; NETO, Luíz Bezerra. Urbano e rural: contradições e
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SAMPAIO, Teodoro. O tupi na geografia nacional. 5º ed. Editora Nacional: Brasília, 1987.
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Território: globalização e fragmentação. [S.l: s.n.], 1998.
WEBER, Andrea Franciele e DEVÉNS, Priscila. O rádio no meio rural: consumo de programas
radiofônicos rurais por agricultores do Rio Grande do Sul. Radio-Leituras, ano I, num 01,
39
PRODUTO: DURAÇÃO:
RAÍZES DA ROÇA: RADIODOCUMENTÁRIO 20 minutos
SOBRE AS NARRATIVAS E TRAJETÓRIAS DOS
JOVENS DA COMUNIDADE DE PERNAMBUCO DATA:
NO ENSINO SUPERIOR 28/05/2021
Tec.: Sobe som: Trilha Sonora “A natureza das coisas- Carla Gomes”
Desce som
Tec.: Sobe som: Trilha Sonora “A natureza das coisas- Carla Gomes”
Desce som:
Tec.: Sobe som: Trilha Sonora “A natureza das coisas- Carla Gomes”
Desce som:
Tec.: Sobe som: Trilha Sonora “A natureza das coisas- Carla Gomes”
Desce som:
Estudante de Farmácia
Estudante de Gestão em
Cooperativas
Estudante de Administração
Eu,_________________________________________________________________,
brasileiro(a), portador(a) da cédula de identidade nº __________________________,
AUTORIZO o uso da minha imagem e da minha voz por Adailane dos Santos Souza,
brasileiro(a)(s), portador(a)(s) da cédula de identidade nº 16.279.380-44 , estudante(s) do curso
de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo do Centro de Artes, Humanidades e
Letras (CAHL), para a realização do Raízes da Roça: Radiodocumentário sobre as narrativas e
trajetórias dos jovens da comunidade de Pernambuco no ensino superior. A presente autorização
é concedida a título gratuito e irrevogável, abrangendo o uso da imagem e da voz acima
mencionadas em festivais ou concursos universitários, em todo o território nacional e no
exterior.
Cachoeira, de de .
___________________________________________
Assinatura