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SÃO PAULO
2015
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
SÃO PAULO
2015
FICHA CATALOGRÁFICA
AUTORA: Elaine Cristina Andreotti Peixoto
BANCA EXAMINADORA:
Helena Katz
Aos meus pais Zadir e Adaldima e à minha irmã Cristina, pela paciência, dedicação,
companheirismo e motivação nos momentos em que pensei em desistir.
À minha querida orientadora Lucrécia D´Alessio Ferrara, pelo exemplo de dedicação, tendo
estado sempre disponível e compreensiva.
À minha sempre professora e amiga Maria Regina Momesso, pela motivação e generosidade.
Aos meus colegas de mestrado Eduardo, Anyzaura, Vera e Efrem que me auxiliaram nos
momentos de dúvidas ao longo dessa jornada.
À Capes.
Cores cortam cursos de curvas e estradas.
Curvam-se os olhos.Curvam-se as almas.
Pe. Fábio de Melo
RESUMO
É sabido que as “cores e suas aplicações” na publicidade são realizadas tendo em vista
provocar, no receptor/consumidor, reações que o levem a consumir o produto anunciado, bem
como despertar paixões ou sonhos. Muitos estudos têm sido realizados no sentido de analisar
o efeito da estrutura das publicidades e da linguagem em seus receptores. No entanto, a
maioria deles não aborda, especificamente, a influência da cromaticidade ou sua relação com
o contexto e as condições sócio-histórico-culturais em que foram produzidas, bem como de
que forma essa influência atinge o consumidor. Por esse motivo e com o intuito de
desenvolver uma compreensão acerca da publicidade e sua expansão no Brasil, se faz
necessário contextualizá-la, apontando fatos relevantes ocorridos no Brasil e no mundo, dos
anos de 1960 até 2014. O objeto de estudo dessa dissertação está em compreender a relação
entre cor e publicidade, cor e sociedade, cor e história, ou seja, como a realização dessas
composições, constroem a nossa história, o nosso modo de ver a sociedade e de consumir seus
bens: no caso os cosméticos femininos. Do ponto de vista metodológico, desenvolveu-se uma
pesquisa qualitativa, analítica e comparativa, fundamentada em exemplos ou estudos de caso
colhidos em mídias impressas e/ou digitais, coletadas em revistas de periodicidade mensais e,
respectivos sites.
It is known that the " colors and their applications" on advertising are carried out in order to
cause in the receiver / consumer reactions that result in consuming the product advertised and
arouse passions or dreams. Many studies have been undertaken to analyze the effect of the
structure of advertisements and language in their receivers . However , most of them does not
address specifically the influence of chromaticity or its relation to the context and the socio-
historical and cultural conditions in which they were produced and how this influence reaches
the consumer. For this reason and in order to develop an understanding of advertising and its
expansion in Brazil , it is necessary to contextualize it , some relevant facts occurred in Brazil
and the world, the years from 1960 to 2014. The study object of this dissertation is to
understand the relationship between color and advertising , color and society , color and
history, that is , as the realization of these compositions , build our history , our way of
looking at society and consume their goods : if the female cosmetics . From a methodological
point of view, a qualitative analytical and comparative study was conducted , based on
examples or case studies collected in print and / or digital media, collected in monthly
periodicity of magazines and their websites.
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 10
CONCLUSÃO .......................................................................................................................... 83
INTRODUÇÃO
As cores não podem ser consideradas como elementos decorativos ou estéticos, pois
são carregadas de expressões culturais, sensoriais e espirituais, tratando-se, portanto, de
importantes elementos na constituição dos sentidos almejados pela publicidade.
Os elementos cromáticos são levados às mídias, junto aos demais elementos, com o
objetivo de estimular a percepção e despertar sensações agradáveis e, muitas vezes, até
afetivas nos receptores das mensagens. As sensações desencadeadas provocam reações no
receptor/consumidor que o levem a consumir o produto anunciado.
A atual lógica do consumo está diretamente ligada ao fato de que qualquer coisa pode
ser transformada em mercadoria: produzida, distribuída e consumida.
No caso das análises realizadas em peças publicitárias dos anos de 1960 até 2014, se
identificou fortemente as percepções almejadas. No contato e avaliação dos materiais
impressos, identificamos que as publicidades, de uma forma geral, apresentavam diferenciais
cromáticos relevantes entre as décadas. Supondo que a inserção dos elementos cromáticos que
compõem, especificamente, as peças que se apresentam como objeto do presente estudo,
tenham incidido nas percepções da mulher para uma nova condição social ao longo das
décadas, buscamos refletir sobre os principais diferenciais cromáticos emergentes nas
mesmas.
O surgimento do consumo com o perfil apresentado hoje, tem início nas primeiras
décadas do século XX, quando o incentivo ao sistema comercial passou a ser necessário para
que a produção industrial não fosse prejudicada. Mas foi em 1945, no período pós-guerra, que
apresenta um desenvolvimento significativo.
Friedan (1971) problematiza em seu livro a angústia que fazia parte do mundo
feminino naquele momento. De um lado, as propagandas publicizavam a imagem da mulher
feliz, dona de casa, rodeada de uma série de eletrodomésticos que a indústria da sociedade de
consumo colocava à sua disposição. Por outro, sentiam-se infelizes por não estarem no
mercado de trabalho. A essa situação de insatisfação Friedan (1971, p. 26-27) nomeia de “o
problema sem nome” e afirma que aquelas que se sentiam mais infelizes eram as que tinham
vontade de reconfigurar seu papel feminino e queriam ir além da vida doméstica. Nos
depoimentos contidos no livro, as mulheres pediam para não serem identificadas como as
esposas de determinado homem influente no mercado, mas sim, como elas próprias.
Baudrillard (1981, p.17), menciona que: “Raros são os objetos que hoje se oferecem
isolados, sem o contexto de objetos que os exprimam. Transformou-se a relação do
consumidor ao objeto: já não se refere a tal objeto na sua utilidade especifica, mas ao conjunto
de objetos na sua significação total.”.
como sociedade de consumo. Pelo menos, na medida em que consome, consome-se enquanto
sociedade de consumo em ideia. A publicidade é o hino triunfal dessa ideia.” Assim, a
publicidade passa a desenvolver-se no sentido de refletir a nova sistemática de consumo e os
novos padrões sociais e ideológicos da época.
Algumas publicidades dos anos 1960 demonstram este momento vivido pela figura
feminina: de um lado a dona de casa, cuidadora do lar e da família e, de outro, o início de sua
emancipação como alguém que tem um lugar na sociedade por ser ela mesma.
em destaque. Apesar de seu estado civil, a mulher aparece sem a presença do marido, o que
denota a transfiguração para uma vida de independência.
Fonte: MA-SCHAMBA. As viagens da deputada socialista Inês de Medeiros. Disponível em: < http://ma-
schamba.com/tag/am%C3%A1lia+rodrigues>. Acesso em: 10 Jan. 2013.
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Estas definições nos dão a compreender como a publicidade se submete aos valores
de uma cultura padronizada e romântica comum ao gosto da época e onde a mulher deve
manter-se como expoente de beleza e natureza. A figura central do anuncio e também sua
receptora/consumidora, apesar de ter despertado para a necessidade de uma nova realidade
pessoal e social, ou seja, para seu renascimento a partir de uma condição diferente da até
então apresentada, mantém o desejo de sua figura de mãe e provedora do lar, imortalizados e,
portanto, com sua importância e poder intocáveis.
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Amélia foi o nome dado à personagem da música brasileira “Ai que saudades da Amélia”, de autoria
de Mário Lago e Ataulfo Alves, de 1941. Com o sucesso da música, “Amélia” passou a ser sinônimo
de mulher “inesquecível”, dada a afazeres domésticos, que não contestava: a mulher amorosa, passiva
e serviçal. (ABURRE, Maria Luiza M [et.al]. Português: contexto, interlocução e sentido. 2ª Ed. São
Paulo: Moderna, 2013).
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O tom rosa emoldura o quadro e invade a sala lilás, que tem no tecido da cortina
sobreposta na escada e na poltrona ao fundo, próxima à parede, também a presença da cor
rosa que contamina as molduras dos quadros fixados.
O modo de organização da página traz uma divisão em dois planos, com claro
vínculo de causa e consequência. Esse vínculo é responsável pelo efeito apelativo da
publicidade que conduz o receptor/ consumidor para a compra do produto. Além disso, essa
espacialidade favorece o valor expositivo dos elementos que ocupam a centralidade do
anúncio; no caso, a figura feminina.
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Os cabelos da mulher são louros, bem cortados e escovados, dando claramente a ver
o cuidado que a ela tem com sua imagem pessoal. Outro elemento que caracteriza este
cuidado é a sua maquiagem: olhos pintados e delineados; boca em tom levemente
avermelhado; sobrancelhas bem feitas; unhas longas e esmaltadas; cor da pele uniforme e de
aspecto saudável.
Em sua maioria, as cores das embalagens dos produtos são marcantes, enquanto os
formatos são variados e posicionados de acordo com o destaque que se pretende lhes dar na
figura. Os produtos posicionados ao lado esquerdo do anúncio são alongados, fechando o
destaque para os elementos de interesse: a mulher e os cosméticos. Já os alocados mais ao
centro do anúncio, levam o olhar a destacar o colo da modelo, colocando-a em posição de
destaque plástico e sedutor.
O fundo aparece em tom azul claro homogêneo, sem nuances e sem a presença de
outros elementos, voltando o destaque para a mulher e os produtos anunciados. A vestimenta
da modelo também se apresenta em cor azul, porém um tom mais escuro, mantendo o ar de
feminilidade e delicadeza da mulher, com um “quê” de ousadia, dado pelo decote como
representação da presença de uma nova mulher na sociedade: uma figura feminina não mais
submissa ao homem, que se mantinha ‘coberta’ e ‘escondida’ ao mundo, mas alguém que se
descobriu e faz questão de demonstrar essa mudança.
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Esse ‘desabrochar’ da mulher, também se faz ver através da presença da rosa (o qual
já fora anteriormente mencionado), ao lado direito do anuncio, elemento floral que também dá
sequência ao posicionamento dos produtos anunciados, referenciando ser uma extensão dos
mesmos.
A narratividade também pressupõe que se trata de alguém que deve ter a opinião
respeitada, já que possui conhecimentos técnicos para auxiliar a consumidora nas compras “...
ajudará na escolha da fragrância adequada”. Além disso, diante do exposto na sessão teórica,
é uma figura a ser admirada, pois já conquistou o espaço de destaque na sociedade, tão
almejado pelo público feminino: de um posto de trabalho e a independência financeira,
através do trabalho fora de casa.
Fonte: MA-SCHAMBA. Para ele você é tão linda quanto uma estrela de cinema. Disponível em: <http://ma-
schamba.com/tag/am%C3%A1lia+rodrigues>. Acesso em: 10 Jan. 2013.
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Abaurre (2013, p. 260), em análise das músicas das décadas de 1940 a 1980, afirma
que a mulher sai do espaço familiar e da submissão para a conquista do espaço público e da
liberdade. Assim, torna-se uma mulher fascinante e que chama atenção por sua postura livre e
destemida.
Tendo despertado para a uma nova realidade, a beleza feminina passa a ser
classificada através de padrões que denotam atitude, independência, autonomia, liberdade e
presença ativa na sociedade. Elas tornam-se mais independentes, inclusive financeiramente, e
passam a perseguir a liberdade, bem como o cuidado de si mesmas.
Nesse momento, para representar a mulher dos anos 1970, as propagandas espelham
em sua construção o simulacro do estilo de vida pessoal, livre, unissex (maior ícone disto foi
o sucesso da calça jeans). Para a representação da liberdade, os cabelos apresentam-se sempre
soltos, saudáveis e livres, secados naturalmente. O sucesso consiste em ter jubas volumosas
ou black power e, unindo-se a isto, uma pele bronzeada.
Fonte: UNILEVER. Anúncio impresso do Creme Rinse Seda – 1971. Disponível em:
http://www.unilever.com.br/aboutus/historia_das_marcas/seda/seda_anuncioimpresso_1971.aspx. Acesso em: 15 Out.
2014.
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Como podemos observar, o anúncio (acima) da Seda Shampoo e Seda Creme Rinse,
de 1971, apresenta o colorido nos frascos dos xampus, mas os destaques vão para a cor
dourada e brilhante dos cabelos da modelo jovem e bronzeada que tomam mais da metade do
anúncio. A tonalidade da pele bronzeada, misturada ao dourado do cabelo, remete à
exploração das cores vibrantes, as quais criam o efeito de sentido de movimento e liberdade:
características da nova mulher, já que busca por mudar sua vida, até então, pacata e privada de
liberdade.
Neste contexto, ‘o novo’ passa a ser caracterizado por temporadas da moda, pelas
novidades da indústria de maneira geral. Na indústria de cosméticos, destacam-se os últimos
tratamentos e procedimentos para cuidar do corpo.
Nas publicidades da década em questão (1970), o novo passa a ser tratado em paralelo
ao tradicional, como uma analogia à fase de transição das duas realidades. Este fato pode ser
observado na propaganda que segue.
A marca Helena Rubinstein caracteriza-se como tradicional e, até certo ponto, como
conservadora no universo dos cosméticos. O tradicionalismo pode ser notado a partir do uso
do azul claro que serve como pano de fundo para as páginas do anúncio e que, vale observar,
se viu muito presente nas propagandas da década de 1960. No entanto, a exploração do
“novo” estilo marcado pelos anos de 1970 aparece claramente nas cores vivas do cenário e
dos produtos, em que o tom dourado é predominante, assim como o bronzeado da pele da
modelo.
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As cores metálicas, presentes nas discotecas, podem ser observadas, timidamente, nos
frascos do produto anunciado, mesclando-se o prata com a cor chumbo.
Fonte: MEMÓRIAS OSWALDO HERNANDEZ. Anúncios anos 70 - Oswaldo Hernandez. Disponível em:
http://memoriasoswaldohernandez.blogspot.com.br/. Acesso em: 10 Nov. 2014.
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Trata-se de uma mulher que se preocupa com os cuidados pessoais e em parecer sexy.
Sua mão, posicionada no ombro, dá a ver uma mulher dotada de charme e poderes de
sedução. Suas pernas, apresentadas aparentemente abertas, figurativizam este poder,
combinado com a sexualidade. A luz se concentra no joelho da modelo que também ocupa o
centro da figura do anúncio.
Já o trecho “sensações maravilhosas” nos lembra a mulher que busca por prazer e que
é atraída por ‘elementos’ que permitem viver estas sensações. A narrativa se fecha com o
termo “envolvendo você” trazendo uma dupla conotação: envolvendo no sentido de
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‘seduzindo’ e, mais uma vez, temos um termo que procura atrair a mulher não mais
caracterizada pela ‘Amélia’, mas por uma figura feminina interessada em assuntos e produtos
voltados a questões pessoais. O trecho se fecha com pronome pessoal “você” enfatizando o
chamado exclusivo da propaganda à mulher mais moderna.
Esse período contínuo também é caracterizado pelas narrativas abaixo descritas, que
apresentam reticências a cada final e início de período. Desta forma, apresenta-se cada uma
das etapas do banho e o produto a ser utilizado em cada um dos momentos para que o
resultado, ou seja, “a beleza” seja alcançada.
“Seu banho de beleza começa na espuma perfumada dos Sabonetes Avon... continua
na suavidade de Skin-So-Soft, o óleo para banho que acaricia e descansa... e se completa com
as Fragrâncias Florais Refrescantes – agora na nova e exótica fragrância Blue Lotus, com
Loções Cremosas, Talcos Perfumados e os famosos Desodorantes Avon.”
A atenção especial da narrativa acima vai para os termos “suavidade”, dando a ver a
delicadeza da mulher anterior que se mantém na atual, acrescida de outras características,
como por exemplo, a mulher que também busca por momentos de prazer não apenas para
satisfação do seu marido. Os termos “acaricia e descansa” remetem a um estado de êxtase
depois de momentos íntimos (como é banho e também o sexo). Os adjetivos “nova e exótica”
fecham este raciocínio de uma mulher que emerge nesta década e que busca momentos e
resultados diferentes dos anteriores.
A busca por se tornar parecida com estrelas hollywoodianas permanece nesta época,
conforme anteriormente mencionado, mas são caracterizados, não apenas pelo termo ou
figuras “famosas”, mas também como fetiche da mercadoria: após o uso dos produtos, a
mulher tem a ilusão de que se tornará parecida ou igual aos modelos que ilustram a
publicidade e lhe dá dimensão de atualidade.
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A Avon solicita, através da passagem “Quando ela chegar, dê-lhe as boas-vindas.” que
essa figura de respeito - a revendedora e representante Avon - seja bem recebida. A frase
também dá a ver, de maneira subjetiva, que a frase remete à chegada da nova figura feminina:
dotada de beleza, proporcionada pelo uso dos produtos da marca em questão.
Posicionada, agora, em um espaço que em nada remete ao lar, traja-se não mais de
cores sóbrias, mas da cromaticidade com maior expressão e impacto: o vermelho puro.
A narrativa “Um exótico perfume especialmente para você.” deixa clara a pretensão do
anunciante em tratar a consumidora como exclusiva, como já vinha acontecendo na década
anterior, porém agora acrescido do apelo ao exotismo. Os apelos familiar e pessoal
combinados na década anterior, dão lugar ao apelo de exclusividade de cuidados.
O nome dado ao perfume, traduzido para o português, pode ser entendido com o
sentido de “carisma”. A frase “Charisma revela a magia que existe em cada mulher”. A grafia
antiga da palavra, iniciada com ch, chama a atenção para a exclusividade do produto e sua
tradicional permanência como valor adquirido pela mulher.
Fonte: MEMÓRIAS OSWALDO HERNANDEZ. Anúncios anos 90 - Oswaldo Hernandez. Disponível em:
http://memoriasoswaldohernandez.blogspot.com.br/. Acesso em: 10 Nov. 2014.
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É de consenso que o vermelho utilizado em batons serve para tornar a mulher mais
exuberante, chamativa, sensual e imprime por vezes o efeito de personalidade marcante,
determinada, consciente de sua sedução. Segundo o dicionário de símbolos de Chevalier e
Gheerbrant (1990, p. 132), a boca simboliza “um grau elevado de consciência, uma
capacidade organizadora através da razão”. Assim, os lábios salientados com cores vibrantes e
somados a sua postura e ao do olhar firme, pode levar o leitor a reforçar a ideia de uma
mulher não mais submissa, mas de alguém que se coloca presente e tem no semblante a
altivez de uma mulher não mais obediente ao sexo oposto.
Outro ponto a ser notado é que na publicidade dos anos de 1980, vemos a clara ligação
entre ciência e beleza, levada ao alcance das consumidoras por meio da empresa anunciante.
As cores fortes e bem delineadas e delimitadas podem sugerir essa ligação com a ciência, pois
a ciência pertence ao mundo das certezas e das afirmações, sem titubeios ou dúvidas.
A narrativa - “Hoje, um tratamento superior para uma pele de textura mais fina, mais
suave e mais macia.” - faz ver a nova forma de tratamento para mulheres não só modernas,
mas, sobretudo, atuais. A palavra “hoje” configura, no tempo, a transformação inexorável e
definitiva para a figura feminina. Além de se tratar de um tratamento que leva a pele a
apresentar características saudáveis: “textura fina, mais suave e macia.”, trata-se de produtos
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“Uma ciência traduzida para três sistemas individuais de tratamento da pele. Cada
sistema foi testado cientificamente para comprovar sua resposta à química especifica de cada
tipo de pele.”
Outro fator marcante em publicidades dos anos de 1980 não observados com tamanha
frequência em anúncios das décadas anteriores foi o uso de termos americanizados. A
presença cotidiana de palavras estrangeiras estampadas nos rótulos de produtos, nomes de
empresas e publicidades em geral se deveu à globalização e à força exercida pelos EUA na
economia global.
você, e descubra como a ciência pode ser bela.” A assinatura com o nome da linha do produto
– Skin Treatment – fecha o anuncio, trazendo como significado o objetivo do produto:
tratamento da pele.
A divisão do anuncio foi efetuada em três partes: a primeira, no topo da página, está
composta pelo resultado do uso do produto, caracterizado pela presença da modelo. Em
seguida, o anunciante apresenta o texto explicativo sobre a composição do produto, as
variantes dos mesmos, ligadas a cada tipo de pele e os resultados apresentados pela utilização
de cada um. O anúncio é fechado com as embalagens do produto, destacando sua variedade.
Sugere-se, portanto, uma leitura organizada como convém à natureza científica do produto
oferecido.
Embora haja a presença da mulher de maneira marcante, dada pelo uso de cores
vibrantes em sua vestimenta, lábios, unhas e igualmente pelo posicionamento de seu corpo, o
destaque maior vai para o produto e a narrativa que enfatiza, não apenas referente à variedade
de cosméticos destinados a cada tipo de pele, mas também pela alta tecnologia empregada, a
publicidade volta-se mais ao texto que explicita os efeitos do produto.
Esta explicitação já denota que a mulher dos anos 1980 está mais informada cultural e
cientificamente e tem, portanto, condições para entender a qualidade científica do produto que
lhe é apresentado. A simples persuasão publicitária que tinha como objetivo vender o produto
é substituída pela necessidade de explicar a qualidade oferecida e, em consequência, sua
atuação exata e precisa, porque científica. As embalagens dos produtos presentes no espaço
destinado à assinatura da publicidade destacam a marca que fala pelo produto e lhe confere
confiança.
O olhar fixo, sedutor e envolvente da atriz Vera Fischer, no anúncio a seguir, somado
aos cuidados pessoais visivelmente aparentes (cabelos bem pintados e escovados,
sobrancelhas feitas, maquiagem e o uso de acessórios como brincos e colar) fazem ver os
substantivos – atitude, firmeza, determinação, liberdade, sedução, etc -, que a diferenciam da
mulher de décadas passadas. Além disso, o anuncio se vale da estratégia testemunhal,
utilizando uma figura importante – atriz de emissora de TV renomada e com maior audiência
no Brasil na época – para revelar ao público seus segredos de beleza para que sejam
reproduzidos pelo mesmo.
Na página do anuncio, a modelo é apresentada com a boca destacada pelo tom rose
brilhante e iluminado, de modo que seus lábios e a própria boca são ressaltados e bem
definidos, embora os lábios não estejam na coloração vermelha como a da mulher do anúncio
anterior. Mesmo o tom rose cria um efeito sedutor e ao mesmo tempo delicado por meio do
brilho e da iluminação central do lábio inferior, deixando a boca marcante e ao mesmo tempo
delicada.
Essa evidência dada aos produtos e seus atributos, bem como a variação também é
constatada na publicidade da Bellavittae (à seguir), onde se nota que a centralidade do
anúncio é tomada pela linha de cosméticos, cada qual destinado a um tipo de cuidado.
Fonte: MEMÓRIAS OSWALDO HERNANDEZ. Anúncios anos 90 - Oswaldo Hernandez. Disponível em:
http://memoriasoswaldohernandez.blogspot.com.br/. Acesso em: 10 Nov. 2014.
Embora essa “preocupação” com o planeta e com os recursos naturais tenha origem
nas décadas anteriores, é a partir dos anos de 1980, que ela passa a ser disseminada pelas
empresas.
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Segundo Giacomini Filho (2004, p. 50), embora o primeiro Partido Verde, cujas
discussões visavam à interrelação do meio ambiente com questões políticas e de poder, as
discussões sobre sustentabilidade tiveram início na década de 1980, motivadas pela União
Mundial pela Natureza (UICN).
Já de acordo com Nosso Futuro Comum (1991), formada pela ONU (Organização das
Nações Unidas), em Dezembro de 1983, a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, tem como objetivo estudar e propor ações para resolução de problemas
associados ao meio ambiente, tendo em vista o modelo atual de desenvolvimento.
Porém, como o estudo tem como objetivo analisar a sociedade de consumo, não
poderíamos deixar de citar que a utilização de ideias ligadas ao Desenvolvimento Sustentável
trata, mais uma vez, de uma estratégia de aproximação.
Neste trecho, a palavra “tesouro” remete à raridade e valor que a natureza representa
para a sociedade atual. Já o complemento “em suas mãos” faz uma dupla conotação,
remetendo à possibilidade de alcance dessa conquista com o uso destes cosméticos que são
voltados à hidratação das mãos.
De acordo com Giacomini Filho (2004, p. 65), A publicidade também tem sido
instrumento da sociedade e das instituições para reorganizar a convivência dessas gerações e
das futuras. Seu espectro transcende o mero instrumento promocional e, reconhecidamente,
alcança o status de interesse social, já que os muitos recursos da propaganda são tão
importantes na composição do esforço humano para o desenvolvimento sustentado como o
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Apesar das novas características presentes nas publicidades de cosméticos dos anos de
1980, algumas deles permaneceram ou passaram a se destacar mais, como veremos a seguir
com a avaliação da narrativa “Bellavittae, uma completa linha de cosméticos científicos cujos
resultados são surpreendentes no tratamento da beleza do corpo, rosto e cabelos, oferece: Uma
oportunidade para você ganhar muito dinheiro”.
As cores, em alguns momentos, aparecem com seus aspectos sóbrios, dotados dos
anúncios dos anos de 1960, porém agora com a conotação mais cientifica e menos romântica.
Mais uma vez e, agora, com mais ênfase, a cromaticidade é um recurso complementar à
narrativa que anuncia o produto e não desempenha papel exclusivo.
O uso das cores nesse anuncio da Bellavitae se restringe ao branco, verde, um tom
marrom, um tom levemente rose de fundo e nas tampas dos fracos o tom amarelo claro, o
prata e dourado como linhas finas que contornam o fechamento das tampas e o tom verde
ressaltado em todo o conteúdo linguístico da peça.
A composição das cores sugere que os produtos são naturais, advindos diretamente de
um lugar arborizado, o plano de fundo sugere esse lugar com árvores e flores. Além disso, os
vários produtos são posicionados de maneira a sugerir uma floresta de produtos naturais, de
todas as espécies e tamanhos.
comercial que surgiu nos anos de 1960 e tomou força no decorrer das décadas. O anunciante
oferece à mulher a oportunidade de representação de sua linha de produtos para se tornar,
definitivamente, independente financeiramente, ganhando muito dinheiro.
Embora esta seja uma luta travada por muitas mulheres ainda nos dias de hoje, na
época em questão, trata-se ainda de novidade e permitia vislumbrar uma aproximação com
seu público-alvo através da identificação e projeção de uma mulher dotada de novas
características e ideais, as indústrias cosméticas reforçavam seu apoio às conquistas femininas
facilitando, inclusive, seu acesso ao mundo dos negócios. O uso do termo “tesouro” também
faz ver esse apoio e a facilidade com que esta conquista acontecerá, com o auxilio da marca.
O anunciante, também deixa claro sua despreocupação quanto à experiência da mulher em
vendas e a facilidade em tornar-se uma representante da marca: “Se você já tem experiência
com biocosméticos, ótimo. Otimize a sua equipe de vendas! Se não tem, nós também
queremos falar com você. Em qualquer lugar do Brasil você pode se tornar um distribuidor
dos produtos Bellavittae.”
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Willianson (1971, p.122), afirma que o produto não pode voltar à natureza. O produto,
por seu caráter industrializado, não faz parte da natureza e, portanto, não pertence a um ciclo
de vida, morte e reabsorção.
A beleza vem à tona como algo natural à mulher e, em cada fase da vida, se torna
diferente, permanecendo refletida no corpo, no rosto e na aparência saudável. Isto tudo é
proporcionado pelo produto anunciado que, simbolicamente, ganha status de “natural” e passa
a ser um substituto analógico da natureza.
Mira (2001, p. 117), concorda com o autor anterior e complementa, dizendo que o
culto ao corpo ocorre na contemporaneidade porque, é a partir das aparências corporais que o
sucesso e o fracasso são negociados. Assim, as mulheres que se sentem fora dos padrões de
beleza estabelecidos, têm sua autoestima prejudicada, fator que se transforma em combustível
para a indústria cosmética.
Queiroz e Otta (2000, p. 84) alegam que, como consequência da importância dada à
beleza feminina, pode-se enfatizar que a insatisfação de uma mulher no que se refere ao seu
corpo, pode interferir negativamente em sua autoestima. A “perfeição” do corpo passa a ser
elemento essencial para a autoimagem feminina, compreende-se porque a beleza corporal seja
determinante para a satisfação integral da mulher.
Segundo Mira (2001, p. 59), duas grandes tendências poderiam ser delineadas: uma
que se preocupa com a saúde e outra com o objetivo estético, mas em muitos casos, os dois
aspectos vêm confundidos. A seguir, apresentamos a análise de três anúncios, o primeiro
Avon, o segundo Nívea e o terceiro Natura. Neles, levantaremos, dentre outros pontos, os
produtos que se propagam como proporcionadores de saúde e beleza; fomentando, assim, o
consumismo.
Apesar de a imagem trazer uma jovem com cabelos dourados, soltos e brilhantes, que
refletem os raios solares recebidos; de pele lisa e delicada, sem nenhum sinal de rugas; lábios
bem delineados, ressaltados por um batom tom rose, que revela a juventude brilhante próxima
aos raios solares produzidos pela natureza, a imagem do produto e a explicitação das suas
qualidades são colocados lado a lado e deixam clara a relação de causa e efeito entre o
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produto e seu resultado. Uma publicidade que persuade pela apresentação de um produto que
se impõe pelas suas consequências: o uso do produto proporcionará à mulher a manutenção de
sua beleza natural.
Fonte: PROPAGANDA EM REVISTA. O compromisso com sua pele não pode ser adiado para amanhã.Disponível em:
http://www.propagandaemrevista.com.br/propaganda/1126/. Acesso em: 20 Nov. 2014.
No tom verde encontrado na regata usada pela modelo e no plano de fundo com
folhas de árvores, parece sugerir também o frescor da juventude e a naturalidade, bem como a
liberdade e o cuidado, vivenciado pela mulher do anúncio em decorrência da realidade da
figura feminina nos anos de 1990.
Fonte: PROPAGANDA EM REVISTA. Chegou Chronos C. A vitamina C em sua melhor forma. Disponível em:
<http://www.propagandaemrevista.com.br/propaganda/2115/>. Acesso em: 20 Nov. 2014.
Na área central, temos na foto uma sequência de rostos de mulheres com seus cabelos,
também advindos das tonalidades de marrom e do dourado. Formam um desenho com os
rostos, que dividem o campo superior e inferior da página. Logo, abaixo há uma faixa na cor
laranja intenso fosco remetendo ao tom da fruta cítrica, componente que “empresta” suas
propriedades ao produto. Nesta mesma faixa laranja anuncia-se em letras brancas leitosas a
chegada do Chronos C e de suas especificidades. Os tons terra que variam do bege, pêssego,
mostarda e estão presentes na coloração também das vestimentas das mulheres, sugerem
maturidade com vivacidade e como resultado a beleza natural das mulheres, apesar da idade.
vai onde a consumidora estiver: no trabalho, na escola etc, ou seja, em locais frequentados por
ela.
A sensibilização sobre os cuidados diários é dada a ver pela afirmativa “uma dose
diária de vitamina C”. A afirmativa “Em apenas duas semanas você já vê os resultados.” leva
a consumidora a acreditar na instantaneidade dos resultados adquiridos através do uso do
produto anunciado. Já no trecho “você passa a ter em um só produto tudo que sua pele
precisa” é apresentado o reforço da praticidade para as mulheres atarefadas e que gostam de
se cuidar, sem perder muito tempo na aplicação de produtos cosméticos, uma consequência
para a publicidade que assume sua origem de atuação industrial.
A peça foi construída na extensão de uma página inteira, usando cores que remetem ao
elemento aquoso. O anuncio faz uma alusão à água como nutriente para a pele saudável. É
sabido que uma pele saudável é uma pele hidratada e que a hidratação é um resultado obtido
através da ingestão de água.
Segundo Couto (2000, p. 205), o corpo vive numa ininterrupta mutação, entregue a
uma espécie de destino camaleônico, que é acelerado pelo culto contemporâneo ao corpo e
para o qual a mixagem homem-máquina aponta novos rumos para a existência humana.
produtos anunciados tragam uma conotação de, genuinamente advindos da natureza, estes tem
em sua composição, processo produtivo e anúncio, a interferência de fatores artificiais,
embora tratados simbolicamente como naturais.
Fonte: PROPAGANDA EM REVISTA. Novo nivea soft. Um momento refrescante que permanece na pele.. Disponível em:
<http://www.propagandaemrevista.com.br/propaganda/1169/>. Acesso em: 20 Nov. 2014.
58
O quadro branco em volta da jovem recupera a moldura como proteção que remete ao
produto e à sua ação. É mantida a intenção impressa nas publicidades dos séculos anteriores: a
mulher como fetiche da mercadoria anunciada. O “Soft” – que traduzido para o português
significa ‘leve’ – aparece como complemento do nome do hidratante anunciado, relacionado à
leveza da água. Seria como a transformação tecnológica da natureza em produto natural para
refrescar a pele e mantê-la saudável.
Essa afirmação nos leva a pensar que as pessoas, de forma geral, necessitam de
intervenções externas e materiais, a fim de manterem o aspecto natural; fato massiçamente
incentivado pelas publicidades, como vimos.
Vale ressaltar que esses discursos, presentes nos três anúncios, tanto os informativos,
científicos, quanto os da praticidade e da necessidade da manutenção da beleza natural,
59
Em anúncios da década em questão (anos 1990) fica claro que a mulher já havia
conquistado seu espaço na sociedade e no mercado de trabalho. Tornava-se, então, uma
pessoa que passava a se preocupar, definitivamente, com os cuidados pessoais que coincide
com a afirmação dos cosméticos na produção industrial.
Para Mattos (2014, p. 53), isso acontece porque as pessoas compreendem que o custo
benefício de sua utilização vai além de ganhos externos. “A consumidora não abre mão de
algo que traz bem estar e autoestima. Mais do que fazer bem para a parte estética, faz bem
para o interior da pessoa.”
Garcia (2014) defende que aliado ao aumento do poder aquisitivo das classes
chamadas C e D no Brasil, o aumento do consumo desta categoria de produtos a partir dos
anos 2000 ocorreu, também, em decorrência de sua popularização e da mulher no mercado de
trabalho. E complementa que: “Apesar da crise, [o setor de cosméticos] continua crescendo e
vai continuar. Porque isso, no Brasil, não é visto como gasto e sim como investimento. Uma
pessoa bem cuidada e bem vestida tem mais oportunidades mesmo”.
Além disso, culturalmente e ideologicamente se tem a noção de que o uso dos
cosméticos auxilia na boa apresentação e na aparência cuidada, elegante e consequentemente
bela, o que Mattos (2014, p. 53) acrescenta: “[...] uma pessoa bem cuidada e elegante tem
chances 30% maiores de ser contratada no mercado de trabalho.”.
O Brasil tem índice expressivo de consumo de cosméticos. De acordo com Garcillán
(2008, p. 6), “...[o país] ocupa a terceira posição no ranking mundial dos maiores
61
Fonte: PROPAGANDA EM REVISTA. Duplique a sua proteção natural contra as rugas. Disponível em:
<http://www.propagandaemrevista.com.br/propaganda/6329/>. Acesso em: 20 Nov. 2014.
62
pela palavra “plus”. A oferta de melhores resultados é justificada pela composição do produto,
que contem alta tecnologia empregada: “Porque vem com duas co-enzimas da própria pele,
Q10 e R que diminuem a profundidade das rugas e reduzem as linhas de expressão.” Neste
caso, produto e pele, juntos, compõem o sucesso do tratamento.
O site e o telefone de Serviço de Atendimento ao Consumidor (também chamados
popularmente de ‘0800’) finalizam o discurso, deixando clara a disponibilidade da empresa
em auxiliar o consumidor. Assim como na década anterior, o SAC mantém-se como canal de
comunicação entre a anunciante e o consumidor final, dissolvendo a importância e a relação
da consultora com a cliente. Isso passou a ocorrer, conforme já mencionamos no capítulo
anterior, por consequência da nova realidade sociocultural, vivenciada pela mulher brasileira,
que trabalha fora de casa e, portanto, necessita de facilidades para a manutenção do contato
com os anunciantes, mesmo que não seja para adquirir o produto, mas para tirar dúvidas,
sugerir, reclamar etc, já que sua opinião também passa a ser vista como importante para o
sucesso das empresas.
Fonte: PROPAGANDA EM REVISTA. Tudo bem repetir o vestido, se você aparecer de unhas novas. Disponível em:
<http://www.propagandaemrevista.com.br/propaganda/5823/>. Acesso em: 20 Nov. 2014.
64
Fonte: PROPAGANDA EM REVISTA. Dê O Boticário para sua cara-metade. E passe dia 12 sem saber qual metade é de
quem. Disponível em: <http://www.propagandaemrevista.com.br/propaganda/6447/>. Acesso em: 20 Nov. 2014.
ocupava a mulher nas propagandas da década de 1960, por exemplo, em que se ressaltava a
mulher na posição de rainha do lar, mas a família e o homem é quem sustentavam essa
posição.
Fonte: PROPAGANDA EM REVISTA. O Brasil é o maior presente que a gente poderia compartilhar. Disponível em:
<http://www.propagandaemrevista.com.br/propaganda/6480/>. Acesso em: 20 Nov. 2014.
O que nas décadas anteriores poderia parecer – e muitas vezes era (e ainda é) – apenas
a utilização de termos que remetiam à sustentabilidade, para simplesmente ganhar a simpatia
do consumidor. Na década de 2010, a prática passou a ser cobrada por órgãos governamentais
e grupos ligados à preservação da natureza como forma de responsabilizar os fabricantes
pelos produtos que colocavam no mercado. Assim, as empresas necessitavam não apenas
divulgar a prática, mas realizá-la de fato.
Mahatma Gandhi já defendia que “Existem recursos suficientes neste planeta para
atender às necessidades de todos, mas não o bastante para satisfazer o desejo de posse de cada
um”.
Com o consumismo cada vez mais incentivado e desenfreado, os recursos naturais
necessitaram ser poupados e isso significava uma ameaça ao sistema capitalista que sempre
dependeu, direta ou indiretamente, destes para a fabricação e distribuição de seus produtos no
mercado. Com o setor cosmético não poderia ser diferente.
Somado a isso, o setor apresentou extenso crescimento, o que o obrigou, ainda mais a
declarar-se e “comprovar” a existência de responsabilidade ambiental em suas práticas.
Segundo Mattos (2014),
A indústria só não cresce mais por causa da alta carga tributária, já que
muitos produtos são tributados em 25% de ICMS (Imposto sobre Circulação
de Mercadorias e Serviços) por serem considerados supérfluos, como é o
caso de cosméticos para a pele que também fazem bem para a saúde, por ter
protetor solar em sua composição. Já os produtos de higiene pessoal tiveram
este imposto reduzido e até mesmo zerado.
Como consequência do uso cada vez maior de produtos como estes e outros fatores
advindos dos avanços e crescimento da sociedade, como depreciação de recursos naturais, as
empresas cosméticas passaram a enfatizar em suas publicidades, questões relacionadas à
preservação do meio ambiente.
70
Fonte: PROPAGANDA EM REVISTA. Novo Rexona Extra Fresh. A refrescância do banho durante o dia. Disponível em:
<http://www.propagandaemrevista.com.br/propaganda/5440/Acesso em: 20 Nov. 2014.
Fonte: REVISTA MARIE CLAIRE. São Paulo: Ed. Globo. 2013; 55. (1) Mensal.
74
Por fim, o mote da campanha dessa publicidade “Ser única. Ser única e ser muitas.”
nos lembra da exclusividade feminina e a multiplicidade de papéis desempenhados por ela
dentro da sociedade atual. Dentro desse contexto cultural, essa mulher pode continuar a ser
bela e ao mesmo tempo conciliar suas atividades e responsabilidade ambiental.
A multiplicidade de usos também se encontra presente na publicidade abaixo,
denotados através da narrativa “Protege contra os efeitos nocivos do sol, do mar, do vento e
da piscina.”, ou seja, qualquer que seja a situação, se estiver usando o xampu e condicionador
anunciados, seus cabelos estarão protegidos. As cores azul, amarelo e dourado, dos cabelos da
modelo, são predominantes. No entanto, também, se vê a presença de cores terrosas nas
bisnagas dos produtos, cor esta também remetendo ao natural, visto que marrom é a cor do
elemento terra.
Fonte: REVISTA VIVA BELEZA. São Paulo: Ed. DayBook. 2014; 4 e 5. (11) Mensal.
Fonte: REVISTA MARIE CLAIRE. São Paulo: Ed. Globo. 2013; 49. (9) Mensal.
76
Fonte: REVISTA Nova. São Paulo: Ed. Abril. 2014; 21. (4) Mensal.
77
Assim, a cor vermelha e suas nuances mais claras, vibrantes e mais fortes, bem como a
vestimenta que delineia o corpo feminino e se reflete no frasco do produto em menor
tamanho, afirmam a paixão e a força da sensualidade que a cor vermelha sugere.
O destaque do anúncio abaixo vai para o dourado, presente na totalidade do mesmo,
aqui a sensualidade da modelo é denotada através de seu vestido decotado nas costas, do
posicionamento do braço, da mão e da expressão facial e a cor dourada remete ao glamour, a
elegância e ao requinte, diferentes da cor vermelha do anúncio anterior. Os cabelos curtos e
tingidos figurativizam a mulher moderna e radical, podendo se apresentar com cortes de
cabelos semelhantes aos utilizados pelo sexo oposto, devido à conquista de igualdade.
Fonte: REVISTA MARIE CLAIRE. São Paulo: Ed. Globo. 2014; 4 e 5. (12) Mensal.
Fonte: REVISTA VIVA BELEZA. São Paulo: Ed. DayBook. 2014; 2 e 3. (11) Mensal.
Fonte: REVISTA MARIE CLAIRE. São Paulo: Ed. Globo. 2013; 23. (9) Mensal.
O texto mais extenso, que se encontra posicionado nas laterais do produto, explica o
avanço das pesquisas para construção de sua fórmula, que promete não a manutenção, mas
entrega da juventude ao usuário do produto. A fórmula do produto, neste caso, remete ao
elixir da juventude e o resultado é descrito através da afirmativa: “Amanheça cada dia mais
jovem.”
A modelo do anúncio, apesar de se encontrar maquiada, está de maneira simples e
natural: com rímel, lápis nos olhos, sombra em cor de tom da pele e gloss labial cor de boca.
Fonte: REVISTA MARIE CLAIRE. São Paulo: Ed. Globo. 2013; 45. (9) Mensal.
81
Fonte: REVISTA MARIE CLAIRE. São Paulo: Ed. Globo. 2013; 1 e 2. (9) Mensal.
Os destaques da publicidade abaixo vão para as cores verde e amarelo que, mesmo que
esteja representando a torcida brasileira na Copa do Mundo, está presente nesta publicidade
por consequência da sustentabilidade: o verde é predominante na peça e conota a cor da
natureza. Além do quesito cromaticidade, o fato de as modelos encontrarem-se acompanhadas
82
de outras mulheres, isso sugere que, na presente década, a realidade foi alterada, e o gênero
feminino tem o direito de permanecer próxima às amigas e não mais se atendo à companhia
de familiares.
Fonte: REVISTA Nova. São Paulo: Ed. Abril. 2014; 6 e 7. (4) Mensal.
CONCLUSÃO
O objetivo deste trabalho foi analisar a aplicação das cores na publicidade brasileira
de cosméticos, a fim constatar a influência da cromaticidade e sua relação com o público
feminino e suas práticas de consumo.
Para tanto, foi importante identificar os contextos nos quais as mulheres estavam
inseridas em cada uma das décadas estudadas, a fim de desenvolver uma relação deste cenário
com a composição das peças, já que o objetivo da publicidade é despertar a atenção e o desejo
de consumo dos públicos para os quais se destinam seus produtos.
Tendo em vista que as cores são elementos dotados de expressões culturais, sensoriais
e espirituais, na análise do material, identificamos que as publicidades, em diferentes décadas,
apresentam diferenciais cromáticos que, de certa forma, compõem uma palheta de cores que
reflete a situação sócia, econômica e cultural vivenciada pela mulher brasileira.
A produção, nesta década, se torna cada vez mais acelerada, de modo que o
consumismo necessite de incentivos para acompanhá-la. Assim, as publicidades se valem
desse novo desejo feminino e passam a estampar em seus anúncios de cosméticos, elementos
sugerindo a liberdade e igualdade de direitos.
As cores de destaque e que faziam alusão a esta realidade são o vermelho e o dourado,
que também remete à sofisticação.
A mulher moderna que já tivera conquistado seu espaço na sociedade e que esbanjava
atitude e independência torna-se o padrão ilustrado nos anúncios dos anos de 1980. Na área
cosmética, o trunfo utilizado para fomentar o consumo é o culto exagerado ao corpo, a busca
pela juventude eterna e pela instantaneidade na obtenção dos resultados. A naturalidade
também é um aspecto almejado com o uso dos produtos de beleza.
O preto, o vermelho são cores bastante utilizadas para destacar essa modernidade, bem
como o verde, que traz o início da busca pela conscientização ambiental e que faz alusão à
naturalidade dos resultados obtidos.
provenientes das décadas anteriores, podemos afirmar que as cores que compõem as paletas
das publicidades de cosméticos são uma combinação das décadas anteriores.
Muito embora tenham recebido a conotação da realidade sócio, econômica e cultural
da época, os anúncios esbanjam cromaticidade, mantendo e acentuando as características da
mulher da época, quais sejam: sensualidade, naturalidade, independência e auto estima
elevada.
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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
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