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Recife
2013
1
Recife
2013
2
Defesa pública em
Recife,_____de________________de________
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________
Professora M.ª Giselda Vilaça
Universidade Católica de Pernambuco - Orientadora
__________________________________________
Prof.ª M.ª Carla Patricia
UNICAP
__________________________________________
Prof.ª Esp. Gabriella Rocha
UNICAP
__________________________________________
Eloi Pinheiro – MartPet
Convidado externo
3
AGRADECIMENTOS
RESUMO
O trabalho a seguir consiste em uma análise dos elementos que compõe a escrita, desde sua
essência pictográfica até os tempos atuais onde se originou diversos conjuntos tipográficos,
dentre eles as fontes manuscritas, que são aquelas criadas para imitar a letra de mão. Estas
tipografias são frequentemente encontradas nas artes publicitárias como um elemento
simbólico que busca transmitir uma mensagem para seu público. O objetivo aqui é o de
entender os processos que envolvem a escolha de utilização dessa tipografia e as
características encontradas nela em cada situação diversa, buscando, através de teóricos,
filósofos e pesquisadores, pautar os fatos dos princípios de sua história, de sua evolução, dos
elementos contextuais, das questões simbólicas e sua percepção e de como a publicidade
opera e seleciona os elementos que irão compor seus trabalhos para, eficientemente, capturar
a atenção e interesse do público, utilizando, para isso, como exemplos ilustrativos,
composições publicitárias criadas para marcas de diferentes ramos de atividade, com
diferentes objetivos. Conclusivamente pode-se considerar a relevância destes estudos,
observando que, de fato, há todo um sentido e intenção envolvidos na empregabilidade deste
elemento, e que ele cumpre seu objetivo de aproximar o espectador do produto, serviço ou
causa anunciado, tornando este trabalho, por fim, um guia de utilização de usabilidade da letra
manuscrita em diversos tipos de arte e meios.
LISTA DE FIGURAS
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 8
1 A HISTÓRIA DA ESCRITA
1.1 Definições ..................................................................................................................... 10
1.2 Origens .......................................................................................................................... 11
1.3 Classificações ............................................................................................................... 18
4 TIPOGRAFIAS
4.1 Definições e conceitos .................................................................................................. 45
4.2 Composição dos tipos ................................................................................................... 46
4.3 Classificações ............................................................................................................... 47
4.4 Leiturabilidade, Legibilidade e Pregnância ................................................................. 51
4.5 A semiótica da tipografia .............................................................................................. 52
4.6 As tipografias na publicidade ....................................................................................... 52
4.6 Tipografia manuscrita: as letras “de mão” .................................................................... 55
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................... 64
7 REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 66
8
INTRODUÇÃO
se, ainda, uma observação das relações entre cultura, linguagem, semiologia e os símbolos e a
sua percepção, considerados sob o contexto de um mundo gerado pela publicidade na esfera
do planejamento da diagramação e do design visual. Por fim, uma breve análise de campanhas
produzidas que empregaram o uso da tipografia manuscrita em sua arte, concluindo assim as
intenções e situações nas quais são encontradas e podem ser utilizadas de forma harmoniosa e
eficiente.
10
1 A HISTÓRIA DA ESCRITA
1.1 Definições
1.2 Origens
Fonte: http://historiaeoutrashistorias.blogspot.com.br
1
A mesma ainda é questionada nos tempos atuais quanto a sua relevância motivacional, se era uma atividade
puramente artística ou se havia algum tipo de informação sendo transmitida em suas gravuras (MARTIN, 2006).
12
Fonte: http://i829.photobucket.com/albums/zz213/asterlife_2007/annu6.gif
http://www.biblioteca.templodeapolo.net
2
Mineral filossilicato, apresentando-se em massa fibrosa ou foliada. (http://www.dicionarioinformal.com.br)
14
informações entre suas diferentes culturas (SOUSA, [2002-2013]). De acordo com Higounet
(2011), as descobertas das cidades de Ras Shamra e Biblos, atuais Síria e Líbano,
respectivamente, foram os pontos-chave para a certeza da origem por parte dos fenícios.
Inscrições com datas do séc. XV a.C. foram desenterradas em 1929 e decifradas em 1949. O
alfabeto era puramente fenício, não recorria a sistema ideográfico algum de escrita anterior,
continha cento e quatorze sinais distintos, representando letras ao invés de sílabas, cada qual
com seu valor fonético (figura 4).
Fonte: http://www.invivo.fiocruz.br
Quando tornou-se fonética, a escrita ficou mais precisa, mais complexa e seus
caracteres duplicaram o valor. Os ideogramas agora possuíam mais de um fonema, o que lhes
permitia flexibilidade para combinar os símbolos e formar diferentes palavras (um mesmo
ideograma combinado com outro para dar um som e uma palavra, e combinado com outro
trazendo outro som e outra palavra). Com o aparecimento de documentos escritos, os signos
deixaram de ser monossilábicos. Assim, não mais representava a realidade, mas a palavra.
Tornou-se, então, um objeto manipulável, podendo ser analisado por partes (ideias, temas,
imagens, frases e palavras) (BOTTÉRO, 1995).
O sistema alfabético que se utiliza hoje na maioria dos países é uma evolução estética
de traços provenientes do fenício. A autora Lucy Niemeyer, em seu livro Tipografia: uma
apresentação (2010), lembra que, por serem um povo de comércio de navegação, sua escrita
se espalhou com facilidade por diversas regiões, resultando no aparecimento das derivações
hebraico, árabe, indiano, siamês, tibetano e cirílico. Comparando os caracteres destas
sociedades é possível ver a semelhança com sua fonte de origem (figura 5).
15
Figura 5 – Comparação
Fonte: http://www.invivo.fiocruz.br/
O alfabeto grego, o sistema ancestral da escrita moderna, tem grande proximidade com
o novo alfabeto fenício. Apesar de alguns avanços em seus traçados, as mudanças não foram
tão intensas, muito de suas origens foram preservadas (figura 6). Higounet (2011) postula que
os gregos teriam atribuído a introdução de sua escrita a Cadmo, fundador da cidade de Tebas,
16
que importou da Fenícia dezesseis letras, seguido por Palamedes com quatro letras durante a
guerra de tróia, e, enfim, pelo poeta Simônides de Céos mais quatro caracteres.
Com a unificação da Grécia, houve também uma média das variações de escrita dos
povos da região, cada qual com seus detalhes particulares. Algumas letras foram descartadas e
outras agregadas ao sistema principal, como ypsilon (Υ), phi (Φ), khi (Χ), psi (Ψ) e ômega
(Ω). Terminado com 24 letras, entre vogais e consoantes, o novo sistema foi oficialmente
adotado por Atenas no ano de 403, e, a partir daí, difundido para outras partes do mundo
(HIGOUNET, 2011).
Fonte: http://i563.photobucket.com/albums/ss79/soulsas/latim6.jpg
17
Fonte: http://geo5.net/wp-content/uploads/2011/05/chinese-evolution1.png
1.3 Classificações
De acordo com Diringer (1968), a escrita pode ser dividida em categorias que
respeitam linhas de demarcação flexíveis à conveniência, como pode se conferir no quadro
abaixo.
19
De acordo com Higounet (2011), o material utilizado para gravar as escritas foi
essencial para definir os seus avanços ao longo do tempo. A cuneiforme era gravada em argila
fresca e depois cozida, dando a consistência perfeita para o apoio da mão e gravação de forma
oblíqua sobre a base; a escrita hitita e os hieróglifos egípcios eram traçados em pedra,
evoluídos para o papiro, que foi adotado e monopolizado pelo Egito (o material provinha do
caule de um junco que nascia à beira do rio Nilo); os primeiros caracteres chineses eram
gravados inicialmente em bambu e seda, mais tarde traduzidos para o bronze; a escrita indiana
já se utilizava de folhas de palmeira, enquanto na África do Norte, estudos descobriram que
usavam a madeira como suporte. O pergaminho e o papel só foram introduzidos na gestão da
Idade Média.
O pergaminho, cujo nome deriva de sua cidade de origem (Pérgamo), consiste em pele
de cordeiro, bode ou veado novo. Foi utilizado durante muito tempo, por volta do fim do séc.
I até o séc. XIII, até que o papel reivindicou seu lugar permanentemente na história. O papel
tem sua origem chinesa, criada pelos budistas do século II, e sendo propagada pela Europa
pelos árabes, que possuíam o maior centro de produção do material em Samarkanda.
Inicialmente, o papel era fabricado manualmente sobre uma fôrma, utilizando trapos de
cânhamo e linho, e seu custo era relativamente alto. Com a evolução tecnológica, o papel
adotou a fibra vegetal e seu custo é muito baixo. Na China, o papel transformou os
ideogramas quase pictográficos em signos distintos. Quanto mais dura a superfície, mais retos
eram os traçados. Quanto mais leve e perecível a base, maior a sutileza e curvatura nas formas
das letras, mais liberdade de manipulação da escrita se tinha. Com a afirmação de Higounet
(2011, p.19), “o suporte da escrita evidentemente reage aos caracteres da escrita”, e no caso
do papiro, do pergaminho e do papel, os instrumentos realmente fizeram a diferença na
evolução das letras.
Lucy Niemeyer (2010) comenta que, apesar de os materiais influenciarem a arte, as
primeiras escritas ainda continham os mesmos traçados dos ideogramas que eram gravados
em papiro, tábuas de cera e afins. Somente após o séc. III a.C. é que as suavizações
começaram a ser melhor trabalhadas à escrita formal grega, e mais tarde, por volta de 50 d.C.,
é que se definiu as curvas das letras romanas. A autora destaca que, inicialmente, a maneira
em que eram talhados os textos sobre tabletes de cera, como avisos diversos ao público, tinha
21
também o mesmo estilo empregado nos papéis e documentos. Não havia distinção no estilo
das letras. Somente por volta do ano 789 é que o imperador Carlos Magno estabeleceria
regras para a escrita, como será comentado mais à frente.
Higounet (2011) ressalta ainda que, desde a antiguidade, nota-se, das inscrições em
papiros egípcios aos documentos romanos, que o instrumento utilizado, nos casos citados a
tinta e o cinzel 3, são fontes de informações sobre os tipos e a quantidade variada de escritas
que se tinha na época. Por exemplo, entre o séc. I e o séc. II, os romanos tiveram dois tipos de
letra: as maiúsculas, primeira tipografia 4 própria para livros, chamada Capitalis Quadrata
(NIEMEYER, 2010), e a comum clássica, a Capitalis Cursiva (figura 10), uma letra
manuscrita, utilizada entre diversos documentos e livros (HIGOUNET, 2011). A Quadrata
(figura 8) remete às “letras versais cinzeladas em pedra” (HEITLINGER, 2007, p.1/1), porém
também foi usada para documentos em papiro ou pergaminho. Sua variante, a Capitalis
Rústica (figura 9), possuía traços menos precisos e mais informais, mas as letras vinham ainda
todas em caixa alta. As gravações nos monumentos eram um processo artesanal; primeiro,
pintavam-se as letras com tinta, de modo que não houvesse erros em sua escultura, e, depois,
aplicava-se o acabamento. Os romanos desenvolveram essas “letras de pompa e celebração,
mas também inventaram letras com formas muito condensadas [...] uma grafia tosca para
documentos feitos à pressa [sic]” (HEITLINGER, 2007, p.1/1).
Fonte: http://tipografos.net
Fonte: http://tipografos.net
3
Instrumento que possui numa extremidade uma lâmina de metal resistente muito aguçada em bisel, usado para
entalhar ou cortar (madeira, ferro, pedra etc.),
4
Arte de desenhar as letras do alfabeto (tipos) sob o mesmo estilo. (NIEMEYER, 2007, p.14)
22
Fonte: http://tipografos.net
Entre os séc. II e III a escrita romana sofreu algumas variações que deram origem,
mais tarde, às unciais - uma “grafia de luxo, imóvel e artificial” (HIGOUNET, 2011, p.112).
Este novo formato foi desenvolvido pelos intelectuais do norte da África e muito utilizado
durante os séc. V a VIII, principalmente pelos escribas cristãos latinos e gregos ( NIEMEYER,
2010). São letras versais com formas pronunciadamente arredondadas (figura 11). Entre os
séculos V e VII, Inglaterra e Irlanda, dois países que costumavam estar à parte do mundo
ocidental, tiveram influências das escritas latinas de Roma, e empregaram as unciais e as
capitais produzindo livros e escritas vulgares em formatos diferenciados e manuscritos de
luxo (HIGOUNET, 2011).
Figura 11 – As unciais
Fonte: http://tipografos.net
Conforme descreve Niemeyer (2010), a partir do séc. VI surge uma nova variante das
unciais e das cursivas: uma grafia chamada “semi-uncial” (figura 12). Sua diferenciação está
na formalização da mudança no uso das maiúsculas pelas minúsculas, e foi um estilo utilizado
por mais de cem anos pela igreja. “Os manuscritos mostram um aumento de ornamentos e
floreados. As alterações mais significativas da uncialis são o aparecimento de ascendentes e
descendentes” (HEITLINGER, 2007, p.1/1).
23
Figura 12 – Semi-unciais
Fonte: http://media-2.web.britannica.com/eb-media/39/60639-004-3FF6F3EA.jpg
Após as semi-unciais, mais um tipo de escrita foi utilizado, este de forma mais restrita,
nas regiões da Germânia (Alemanha) e propagado por alguns povos da península Ibérica pelos
visigodos5. Sua grafia variante das letras romanas chamava-se “letra visigótica”. Seus traços
eram uma mistura de unciais e cursivas (figura 13), e sua empregabilidade foi pensada para a
produção de livros preferivelmente. Este modelo permaneceu pela Ibéria entre os séc. IV e
XIII, quando foi completamente descartada por rejeição da igreja (HEITLINGER, 2007).
Fonte: http://tipografos.net
5
Grupo de godos da Europa Oriental entre os rios Dniepre e Danúbio, originários da região Escandinávia.
24
Fonte: http://tipografos.net
fim, começa-se a perpetuar, neste período, maior rigidez no estilo das letras, menos curvaturas
e maior precisão nas letras: adentra-se aqui o período das “letras negras”, ou letras góticas.
(HIGOUNET, 2011, p.136) (figura 15).
Fonte: http://retinart.net/wp-content/uploads/media/images/blackletter/fraktur-script-04.jpg
Higounet (2011) traz o fato de que o emprego de “tipos” (como são chamadas as letras
e caracteres com estilo) gravados em metais móveis foi um grande marco na história da
escrita ocidental, pois de uma maneira muito mais prática, rápida e econômica, criava e
reproduzia documentos e livros com certa precisão e padronização nunca conseguida
anteriormente. De acordo com Olivier Tosseri (2010), no oriente este avanço se deu séculos
antes, pouco depois de os chineses inventarem o papel no séc. VII. Eles aperfeiçoaram a
técnica de gravação em tábuas de madeira, conhecida como “xilografia”, e assim possuíam
uma prensa pré-fabricada que imprimia os caracteres de todo o texto nas folhas. Porém, estas
tábuas não poderiam ser reutilizadas. A Coréia adaptou e avançou este sistema produzindo os
tipos metálicos, e o primeiro livro impresso, de verdade, foi por esse país, em 1377. Os
ocidentais até então não se interessavam pelo avanço oriental, e só foram reconhecer sua
tecnologia quando os produtos já prontos apareceram em suas mãos. Como afirma Tosseri, foi
quando entrou em cena Johannes Gutenberg, um alemão e “reinventou” a prensa em 1450.
Lucy Niemeyer (2010) ainda acrescenta que a tecnologia da pintura a óleo, que estava
sendo empregada já nessa época, deu à tinta da impressão a consistência adequada e, aliada ao
barateamento do papel, possibilitou ao engenheiro alavancar, de uma vez por todas, o início
do uso da prensa pela Europa. A autora menciona, então, a primeira publicação em massa - a
Bíblia de Gutenberg, de 1454 – sobre a qual ele perdeu os direitos sobre ela, uma vez que sua
invenção já não era mais sua, e sim de seus credores. Como cita Fred Linardi, em seu artigo
“A prensa de Gutenberg” (2008), o inventor havia entrado em um processo jurídico contra
Johann Fust, seu sócio-investidor, e teve de pagar uma quantia muito alta à ele, abdicando
assim de sua invenção e de metade da produção como pagamento.
Segundo Higounet (2011), inicialmente, os caracteres móveis criados por Gutenberg
reproduziam com perfeição as letras de forma dos manuscritos litúrgicos 6. Spiekermann
6
Conjunto de cerimônias e preces ordenados por uma autoridade espiritual; ritual. (Disponível em:
<http://www.dicio.com.br> Acesso em: 26 set. 2013).
27
(2011, p.31) comenta que os tipos de Gutenberg seguiam as formas das letras dos escribas
profissionais alemães daquela época. Em seu texto, ele pauta que “as diferenças culturais tem
sido manifestadas na forma da escrita das pessoas”, e “com a expansão em massa de leitores,
as pessoas começaram a se preocupar mais em expressar suas ideias mais rapidamente e
menos com o estilo e a legibilidade”. Esse fator desencadeou o uso de vários outros utensílios
para escrever, como pincéis, canetas-tinteiro, entre outros, trazendo novos traços nas formas
das letras.
7
Planta parecida com a cana que cresce que vigora em margens de rio. Utilizada como instrumento para a escrita
em papiros e pergaminhos. (HEITLINGER, Paulo. 2007. Disponível em: <tipografos.net>. Acesso em 21 set.
2013)
8
A escrita carolíngia utilizava a pena de bico reto, e a nova letra gótica pedia penas de bico curto e inclinado .
(Higounet, 2011, p.138)
28
Fonte: http://tipografos.net
Depois de Jenson, outros nomes viriam durante os próximos séculos que se seguem
com pequenas inovações e aperfeiçoamento das letras: Claude Garamond (séc. XVI) (figura
17), John Baskerville (figura 18), William Caslon (figura 19), Giambattista Bodoni (figura
20) e François-Ambroise e Firmin Didot (figura 21) (séc. XVIII), tipografias essas que são
reconhecidas e ainda utilizadas na atualidade (HIGOUNET, 2011). Heitlinger (2007) comenta
que Baskerville, com suas inovações nas hastes finas e grossas, foi muito criticado na época, e
seus tipos mal recebidos pelos intelectuais, que diziam que este contraste “feria os olhos” e
que estariam “cegando todos os leitores da Nação” (2007, p.1/1, tradução nossa).
Fonte: http://www.denstoredanske.dk
29
Fonte: http://tipografos.net
Fonte: http://wikimedia.org
30
Fonte: http://typophile.com
Vale comentar também que, ao longo deste período, o alfabeto sofreu algumas
pequenas alterações e ganhou acréscimos de sinais como, por exemplo, o “ponto e vírgula”
(;), invenção creditada a Aldio Manúcio, editor humanista que aperfeiçoou o trabalho de
Jenson (GARFIELD, 2012).
Lucy Niemeyer (2010) lembra que este processo criado por Gutenberg foi
desenvolvido e utilizado até o séc. XIX, quando começou a ser aperfeiçoado e se tornou um
processo muito mais autônomo, utilizando maquinarias a vapor e estampagens muito mais
velozes e econômicas. A partir do séc. XVIII a imprensa se desenvolve: o primeiro jornal
oficial impresso é lançado em 1609, em Estrasburgo, na Alemanha, sob o nome de Relation
aller fürnemmen und gedenckwürdigen Historien (Relação de todas as notícias notáveis).
Antes deste, havia resumos de acontecimentos periódicos, geralmente ordenados pelos reis e
governamentais, gravados em tábuas ou fichas simples manuscritas como no caso do boletim
romano Acta Diurna, por Julio César, o primeiro periódico de que se tem notícia.
(HEITLINGER, 2007).
de Projean, Pedro Foucault e Francisco João de Azevedo (padre brasileiro), tentou aperfeiçoar
a máquina e, exclusivamente ele, obteve sucesso. No início, as dificuldades eram
singularmente parecidas com as que Gutenberg enfrentara para publicar sua tecnologia: era
um produto que despendia de alto investimento, era caro e complicado, somando-se a
oposições a seu lançamento por pessoas e instituições que, de alguma maneira, se sentiam
ameaçadas pela novidade. Ao longo do séc. XIX, a máquina ganha território e começa a fazer
parte da vida das pessoas, e em 1880 ela se torna objeto de necessidade para empresas e
escritores (OLIVEIRA, 2012).
Com o desenvolvimento das tipografias e dos impressos, como jornais, revistas e
cartazes, coube à publicidade explorar o layout e novos designs que trouxessem inovação e
modernidade à leitura, apesar de as maquinarias não seguirem paralelamente os novos
traçados criativos; mas, de acordo com Higounet (2007) isso deu margem para novas etapas
do processo evolutivo da escrita. Niemeyer (2010, p.24) relata os avanços da prensa com a
sensibilização fotográfica e, no séc. XIX, o “linotipo” - ou “composição ‘a quente’” como
traduz a autora, criado pelo alemão Ottmar Mergenthaler. Esta nova técnica e aparelhagem
trouxeram grande economia de tempo e de matéria-prima, pois os textos eram montados em
blocos com as letras, agora gravadas em chumbo, e impressos com capacidade de reutilização
do material posteriormente, levando os materiais e a técnica anterior à extinção. Outra etapa
importante da prensa foi em 1885, quando Linn Boyd inventou um aparelho que aumentava e
diminuía os caracteres conforme a necessidade (Niemeyer, 2010).
2.6 Grotescas
Ainda no século XIX, não se pode deixar de comentar um grandioso passo na variação
das tipografias; iniciou-se, por volta de 1820, a Era das sans-serif – ou, comumente
conhecidas, as “sem serifa”. Chamada pelos alemães de “grotesca” por terminar seu traçado
de forma “interrompida” e abrupta, sem a suavização das hastes em “serifas”, a nova
tipografia entra na história de forma natural; como apresenta Simon Garfield (2012), essas
tipografias refletem um ar mais contemporâneo, menos formal, são duráveis e atemporais.
O tipo mais antigo de grotesca que se tem notícia é a chamada Caslon Egyptian (figura
22), ou “grotesca de Caslon IV”, do começo do século, inicialmente utilizada para compor
cartazes e letreiros (GARFIELD, 2012, p.42), seguida pela Akzidenz Grotesk (figura 23),
32
criada em 1898, sendo, mais tarde, trabalhada pela escola de Bauhaus9, que utilizou esta
tipografia em seus impressos originalmente. (HEITLINGER, 2007). Esta é conhecida por ser
a mãe de todas as outras grotescas mais conhecidas que viriam a seguir: Gill Sans, de Eric
Gill (figura 24), Futura, de Paul Renner (figura 25), Univers, de Adrian Frutiger (figura 26) e
Helvetica, de Max Miedinger e Eduard Hoffmann (figura 27) (GARFIELD, 2012).
Fonte: http://www.100types.com/100types.com.11caslonsans.html
Fonte: http://blog.spoongraphics.co.uk/wp-content/uploads/2009/fonts/Akzidenz-Grotesk.jpg
Fonte: www.myfonts.com
9
Escola criada em 1919, na Alemanha, com o objetivo de unir arte e indústria, sob o conceito de produção em
massa com qualidade de design e conceito inovador. (REBOUÇAS, Fernando. Escola de Bauhaus¸ [2006-2013])
33
Fonte: http://pfeifferdawn.files.wordpress.com/2010/02/10_271_sp_project31.jpg
Fonte: http://alliebrawner.blogspot.com.br/2008/09/who-is-adrian-frutiger.html
Fonte: http://www.f-covers.com/cover/helvetica-with-love-facebook-cover-timeline-banner-for-fb.jpg
Como aponta Farias (2013), o início do século XX foi marcado pela revolução
futurista; um movimento de renovação cultural que visava quebrar alguns paradigmas das
tradições no campo da literatura e da pintura romântica. Contudo, as formas das letras
também acabaram sendo alvos dos futuristas, que desgarraram os traços ornamentais e
românticos provindos de movimentos antigos como a Art Nouveau. A autora acrescenta que
“as ideias dos futuristas italianos rapidamente se espalharam pelo resto da Europa e do
mundo” (2013, p.22), onde trouxe influências e os toques de modernismo para o Brasil, entre
outros países, com sua “tipografia direta e impactante” (2013, p. 25); começa, então, um
34
processo de união entre tecnologia e arte, trazendo autores de diversas áreas para o interesse
pela tipografia, uma nova maneira de difundir suas ideias ao mundo. (FARIAS, 2013).
Em meados de 1950 surge o processo de fotocomposição, onde se utilizava uma
película de acetato e um negativo da letra no lugar de tipos de metal. Mas como não havia
grande precisão nos ajustes óticos de tamanhos das letras, esta técnica caiu em desuso, como
coloca Niemeyer (2010).
As décadas de 60 e 70 foram marcadas por movimentos políticos e sociais, como o
psicodélico e o punk. Priscila Farias (2013) informa que, não só a tipografia como o design
geral em si foram afetados pelas novas vanguardas, remetendo a antigos traços abdicados pelo
futurismo e inovando em uma legibilidade mais complexa. Exemplos desses novos moldes
são as tipografias Psychedelic-Fillmore East (figura 28) e Bottleneck (figura 29).
Fonte: http://blog.spoongraphics.co.uk/wp-content/uploads/2009
Fonte: www.myfonts.com
10
Primeiro computador pessoal com interface gráfica que se podia comprar, produzido pela Apple Co.
(Disponível em: <http://www.terra.com.br/macmania/macmania/resenhas/resenhas_mac20anos1.htm> Acesso
em: 03 out. 2013).
36
Fonte: http://ilovetypography.com
Figura 31 – Caligrafias
Fonte: www.myfonts.com
37
Mathews (2002, p.38) afirma que a cultura molda as pessoas de acordo com valores
pré-estabelecidos, mas cada um possui sua própria visão e seu próprio entendimento, uma vez
que cada “eu” é diferente uns dos outros no mundo inteiro, tendo suas próprias experiências e
lembranças passadas e expectativas do futuro, num “presente constantemente mutante”. Este
conceito próprio do eu é formado em três níveis, como apresenta Gordon (2002): a formação
lingüística, que conota um conjunto de práticas sociais que não são questionáveis e são
absorvidas abaixo do nível de consciência, o que as pessoas têm como “plausível” e “bizarro”;
a formação pelas obrigações como membros da sociedade, das quais não se pode escapar ou
evitar, como ir à escola, trabalhar, etc.; e o nível dos valores simbólicos e materiais, dispostos
no supermercado cultural.
Esse novo patamar da cultura globalizada foi incentivado pelos meios de comunicação
de massa, principalmente através do advento da internet, fazendo comunicação direta entre
vários tipos de sociedades, e também pelo capitalismo, que transforma a maneira como as
diferentes culturas são experimentadas, trazendo-as com grande facilidade para dentro dos
lares e rotinas das pessoas (GORDON, 2002).
3.3 Signos
“Signos” seriam, de acordo com Santaella (2007)11, “as linguagens que abrem, à sua
maneira, as portas de acesso ao que chamamos de realidade”. Em seu livro, ela o define como
“aquilo que dá corpo ao pensamento, às emoções, às reações, etc.”; “ele não precisa ter a
natureza plena de uma linguagem [...], mas pode ser uma mera ação e reação”; e “ainda pode
ser uma mera emoção ou qualquer sentimento [...], por exemplo, a qualidade vaga de sentir
ternura, desejo, raiva, etc.” (SANTAELLA, 2008, p.10).
Nas colocações simplificadas de Coelho Netto (2001, p.56), signo “é aquilo que, sob
certo aspecto, representa alguma coisa pra alguém”. Quando ele é recebido por alguém, em
sua mente se cria outro signo, que é o Interpretante, como explica o autor. O Interpretante
gera um novo signo com um valor que recebe o nome de Objeto (COELHO NETTO, 2001).
Nesta tríade, os pólos se comunicam entre si, criando relações diretas: o Signo provém de
fatores sociais e culturais, enquanto quando ele é acionado no Interpretante, o indivíduo vai
procurar elementos nestes fatores para tentar traduzir seus significados. Do Interpretante para
o Objeto, a pessoa associa certos elementos com o Objeto final, ou remete elementos diversos
a experiências anteriores significativas. Porém, a relação entre Objeto e Signo fica
dependendo do outro pólo para que haja alguma pertinência.
11
Conferência com profª. Lucia Santaella, 3º. Congresso Internacional de Semiótica, realizado em 16/11/2007,
em Vitória-ES. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=IN2anWS0b5I> Acesso em: 10 out 2013.
40
Para Peirce, os signos em si podem ser divididos em três categorias básicas, conforme
descreve J. Teixeira (2001): Ícone, Índice e Símbolo. Ícone é uma representação fiel do signo
ao objeto representado, como, por exemplo, uma fotografia, uma escultura de alguém ou de
alguma coisa, ou até mesmo um diagrama. Para Santaella (2008, p.16) seria um “existente” do
signo, uma sugestão relativa a alguma coisa. É similar, possui a – ou “as” – mesma qualidade
do objeto (portanto, denominado quali-signo). Índice, segundo Teixeira (2001) se refere ao
objeto qual ele é afetado, indica alguma coisa como consequência de outra, como fumaça
preta que é um indício de fogo ou uma impressão digital é um indício de um contato manual
de uma pessoa. É um “signo espontâneo” (COELHO NETTO, 2001, p.59). Para Santaella
(2008), um Índice indica seu objeto dinâmico, traz uma qualidade em comum com o objeto,
uma evidência de algo concreto, um sinal (chamado, então, de sin-signo). E, por fim, J.
Teixeira (2001) diz que Símbolo é uma referência a um objeto por meio de associação de
ideias, um convencionalismo, tal qual é a referência da cor verde à esperança, as palavras de
uma língua ao seu significado, a pomba à paz, etc. Santaella (2008) acrescenta ao símbolo o
caráter de “leis” (legi-signo), ou seja, traz uma “condição” na sua existência, um poder que
diz que o símbolo se refere àquela coisa.
O signo linguístico da escrita, como retrata J. Teixeira (2001), é do tipo “símbolo”
pelo seu caráter arbitrário, convencional. Suas palavras são representações indiretas de coisas
e ideias, retratam o que lhes foram propostos a representar. A linguagem em si, expressa em
palavras, gestos, artes ou ações, é amplamente simbólica.
3.4 Linguagem
Teixeira Coelho (2001, p.15) introduz a linguagem como “um dos fundamentos da
sociedade humana”, a “matriz do comportamento e pensamento humano”, os quais arquitetam
as situações das áreas de artes, psicanálise, sociologia entre outros. É o foco do estudo na
comunicação perante as atividades do homem. De acordo com o autor, Ferdinand Saussure -
intelectual estudioso da semiologia - trabalha a linguagem como elemento chave em seus
estudos, diferentemente dos estudos de Peirce sobre a semiótica, cujo foco é a realidade como
um todo. Como aponta J. Teixeira (2001), o filósofo fazia uma divisão entre língua e fala,
sendo o primeiro um ato social e necessário, e o outro um processo individual e acidental. A
língua envolve um histórico com uma série de valores sociais agregados a ela, é um ato pré-
emoldurado, enquanto que a fala acompanha o passo de utilização dessa língua. E, apesar de
separados, um deve existir correlativamente ao outro, pois, como propõe Saussure (COELHO
41
NETO, 2001), não se pode haver fala sem língua ou língua sem fala. Em seu texto, Maria
Fausta Pereira de Castro (2005, p.1/1) comenta sobre o estudo de Saussure, que “a língua é
um objeto de cultura, mas não entendido como oriundo da necessidade de comunicação e,
sim, forjado pelo simbólico”. Ela ainda afirma que “a aquisição de linguagem é um fenômeno
que se repete em cada ser e, de certo modo, é tema de todo mundo”, que a língua é algo pré-
existente à infância e é o que determina como a linguagem será aprendida. “É um sistema
convencional de signos que faz parte do sistema natural ao ser humano, a linguagem”
(SOBRAL, 2005, p.4).
como é o caso da imagem da marca Coca-Cola. Mesmo as pessoas que não sabem ler e
escrever reconhecem e remetem a imagem à empresa, devido ao conjunto de símbolos
dispostos e organizados apropriadamente (as cores, a tipografia, os tamanhos do texto, as
linhas, etc.). Além da imagem da empresa, é possível reconhecer os valores intrínsecos
trabalhados pela marca, os quais atingem diretamente o sentido emocional do público a fim de
persuadir e marcar um posicionamento na mente do mesmo.
Lucia Santaella (2008, p.59) afirma que as linguagens, assim como os signos e os
sinais no geral, se fundamentam em “esquemas perceptivos” e que, por isso, os processos
perceptivos também fazem parte do estudo da semiótica.
Carl Jung (2000) explica que um símbolo é um termo, nome ou imagem empregada no
cotidiano, o qual possui um valor especial além de seu significado convencional. Implica algo
oculto, um significado indefinido, nunca expressado à primeira vista. Este valor é formado no
inconsciente do indivíduo e sua percepção nunca é plena ou entendida por completo. Isso
porque, de acordo com o autor, tudo o que os sentidos captam são sensações e fenômenos
transformados em experiências psíquicas de diversas ramificações desconhecidas. Assim, para
desvendar um símbolo, a mente procura ideias e valores que estão além da compreensão
humana comum, no entanto se prende aos valores conhecidos de forma consciente e às
limitações dos sentidos humanos (JUNG, 2000).
Para se remeter a esses signos ocultos é acionado na mente o processo de intuição e
reflexão de uma lembrança “inconcreta”. Essa inconsciência funciona como um repertório de
imagens, pensamentos e impressões já experienciados que, mesmo sem que se note,
influenciam a mente consciente. O autor comenta que essas sensações preservadas ficam
guardadas e podem ressurgir a qualquer instante, espontaneamente (JUNG, 2000).
As percepções sensoriais, que são originadas dos cinco sentidos, mediante estas
informações gravadas ditarão como o indivíduo reagirá diante de uma situação, um objeto ou
pessoa. Um exemplo são as lembranças de infância que vem à mente quando se encontra no
presente algo simbólico que remete a uma sensação percebida ou vivenciada do passado.
Marcas comerciais utilizam comumente estes “gatilhos” de boas lembranças como um recurso
para ligar um produto ou serviço a recordações agradáveis vividas pelo público, a fim de gerar
uma ligação afetiva com o indivíduo, que associará inconscientemente o prazer ao produto,
resultando assim no emocional transpondo a razão na hora da escolha (JUNG, 2000).
43
Jung (2000, p.76) acrescenta o fato de que muitas destas reações e impulsos do homem
não são propriamente individuais, mas sim provenientes de um “sistema instintivo pré-
formado” muito antes de seu nascimento. Compreende formas de pensamento, gestos de
compreensão universal e atitudes diversas que formam o comportamento social comum. Os
arquétipos seriam as manifestações desse comportamento social em forma de símbolos, que
são um conjunto de valores passados de geração para geração através de um inconsciente
coletivo comum.
Os símbolos são separados por Jung (2002, p.93) em duas categorias: naturais e
culturais. Os símbolos naturais envolvem as representações inconscientes e os arquétipos. Os
culturais são formulados de forma “mais ou menos consciente” para representar um valor ou
uma verdade que pode ser adotado pela sociedade. Na maior parte das vezes, carregam uma
emotividade que impera sobre as pessoas profundamente, e “constituem-se em elementos
importantes da nossa estrutura mental e forças vitais na edificação da sociedade humana”,
afirma o autor. De tão poderoso, o símbolo cultural adentra na vida e no cotidiano humano e,
quando reprimido ou desestruturado, pode significar a catástrofe ou ruína da mente e da moral
do indivíduo (JUNG, 2000). Por fim, Jung assegura que a criação do símbolo procura, assim,
representar o “desconhecido” da mente, e pode ser, então, considerada uma tentativa natural
de reconciliar esses elementos absorvidos pelo inconsciente com o consciente.
Ugo Volli (2003, p.7), professor da área de semiótica e de publicidade e autor de livros
sobre os assuntos, lembra que a publicidade é um “instrumento estético e ideológico” de
comunicação de massa e, por ela, são impostos pensamentos e ideias sobre as coisas na mente
das pessoas. A publicidade, conforme afirma Volli (2003, p.15), “está presente nos mais
diversos suportes de comunicação”, e ela procura se comunicar com seus espectadores através
de “textos”. De acordo com o autor, “texto” envolve não apenas linguagem escrita e oral, mas
também imagens, sons, filmes, fotografias, elementos hipertextuais, entre outros. Este texto é
elaborado utilizando de uma linguagem que deriva de uma cultura, assim o receptor deve ter a
competência necessária para decodificá-lo. Volli (2003, p.16) diz ainda que é um “ato de
comunicação”, e como coloca Santaella (2008, p.59), a comunicação também integra o estudo
da semiótica, pois “não há mensagem sem signos e não há comunicação sem mensagem”.
Perante um sistema de comunicação de massa dinâmico e instantâneo, a publicidade
cria um ambiente informativo e/ou narrativo artificial relativo à realidade, o qual envolve o
44
4 TIPOGRAFIAS
Priscila Farias (2013) comenta que, em seus primórdios, “tipografia” foi utilizada
como sinônimo de “impressão” até o final do século XIX, época em que, de acordo com a
autora, foi oficialmente empregado o termo “designer gráfico”.
O termo remete ao uso dos tipos na época da prensa de Gutenberg, no séc. XV.
“Tipos”, na sua definição original, são as letras utilizadas para montagem das prensas móveis.
Hoje, a palavra é erroneamente utilizada; segundo definição de Ambrose e Harris (2011),
“tipo” é o conjunto alfabético de letras de uma mesma linha de escrita, e é também chamada
de “Fonte”. De acordo com Garfield (2012, p.38), “Fonte” deriva da palavra inglesa Font,
anteriormente Fount, e originalmente Fund, sendo este último como era chamada a
quantidade de tipos da mesma letra que se dispunha para a montagem da prensa. Fonte,
modernamente, se refere a um subconjunto de uma determinada tipografia. Niemeyer (2010,
p.14) atenta para a diferença entre “tipografia” e “tipologia”, sendo este último um processo
de classificação de um conjunto de alguma coisa independente. Existe, também, o termo
“lettering” empregado no design, que, diferentemente de “tipografia”, remete ao design de
letras para um propósito específico, como o desenho dos nomes das empresas em sua
logomarca, feitos de maneira totalmente personalizada e única (MIYAGAWA, 2013).
Tipografia, segundo Niemeyer (2010, p.14), “compreende o desenho e a produção de
letras e sua adequada distribuição e espacejamento sobre uma superfície”; é a linguagem
verbalizada e aplicada em seu visual, uma “expressão de cultura”. Seu objetivo é o de
conduzir um sentimento inconsciente no leitor, dando ênfase e expressividade na
comunicação, facilitando a compreensão da mensagem e aprofundando seu entendimento. Já
Ribeiro (1998, apud FUNK; dos SANTOS, 2008, p.1/1) define-a como “a arte de produzir
textos em tipos, isto é, caracteres. Ou ainda a arte de compor e imprimir em tipos".
Ellen Lupton (2006, p.8) define-a como a “ferramenta com o qual o conteúdo ganha
forma, a linguagem ganha um corpo físico e as mensagens ganham um fluxo social”; uma
“ponte” que une a linguagem escrita às artes visuais. Ela afirma que as palavras e as letras se
originaram de “gestos do corpo” (2006, p.13), sendo desenhadas primeiramente à mão e
depois esculpidas em “tipos”, carregando consigo os contrastes entre a suavidade da caligrafia
e a dureza da máquina, entre o “orgânico e o geométrico”. Bringhurst (2005) complementa
46
que seus princípios se baseiam na anatomia visível (mais precisamente da visão, mão, braço e
antebraço) e da anatomia invisível (a mente).
Turnbull e Baird (1997) afirmam que o designer gráfico deve conhecer as intenções da
fonte, sua função e como o receptor a perceberá diante do visual e do contexto empregado,
pois toda obra artística, assim como a tipografia, é gerida de acordo com o sentimento
empregado nela pelo seu criador. De acordo com Robert Bringhurst (2005, p.23), “a tipografia
existe para honrar seu conteúdo”. Para ele, “as letras tem caráter, espírito e personalidade”
(2005, p.112), e suas formas são vivas e devem ser bem escolhidas, da mesma forma que são
as palavras. Através de elementos como serenidade e legibilidade, a tipografia ganha
durabilidade e evoca uma “atemporalidade ao tempo” (2005, p.23), o que Bringhurst chama
de tipografia “ideal”.
Quando um conjunto tipográfico é criado, ele pode seguir alguns padrões para ajudar
no entendimento do texto e das letras e criar uma base de relação entre si. Em alguns casos os
tipos “extrapolam” essas regras, mudam alguns parâmetros e composições para tentar
desenvolver um estilo novo, mas corre o risco de comprometer a leiturabilidade e legibilidade.
As tipografias “ideais” procuram seguir estas regras, inovando apenas detalhes.
De acordo com Lupton (2006), as tentativas de padronizar os tipos começaram em
meados do séc. XVIII. A importância das medições é vista durante a leitura dos textos; pode-
se notar uma diferenciação na espessura da letra em relação às outras se, nesse caso, a fonte
tiver uma altura diferente da outra – ela pode parecer mais “gorda”; ou, em outro caso, a letra
ou palavra pode parecer “cansada” se sua largura estiver acima da média.
Joanna Lessa (2012) lembra que os traços, definidos nas nomenclaturas como hastes,
serifas, barra, ascendentes, bojos, descendentes, entre outros, desenvolveram-se juntamente
com a história da escrita e seu uso e a maneira como se apresenta traz indícios de épocas e
fases da humanidade, bem como de sua evolução tecnológica. A autora comenta que esse
padrão de terminologias e medidas serve para a “adequação, a coerência, e melhor relação
objeto-palavra dentro de uma língua” (LESSA, 2012, p.5). Também afirma que essa
combinação de detalhes foi determinada dentro de um consenso entre as línguas inglesa,
francesa, e castelhana, mesclando estas em uma linguagem acessível a todas as línguas que
utilizam a escrita romana.
47
Fonte: http://www.oficinadanet.com.br//imagens/conteudos/102/posts/2249/gd_tipografia.jpg
4.3 Classificações
Hoje existem milhares de tipos diferentes no mercado, e, como afirma Simon Garfield
(2012, p.43), inúmeras tentativas de classificação foram feitas para definir grupos e padrões.
Na visão do autor, o tipo é algo vivo, sempre em mudança e adaptação, então uma
classificação “fechada” seria como “matar” suas possibilidades de reprodução. Porém, como
coloca, uma padronização flexível pode ser útil para o entendimento das variações e ajudar
nas explicações do assunto para os leigos (GARFIELD, 2012).
Em sua história, a tipografia passou por diversas mudanças, evoluções, revisões que
lhe rendeu diversas diferenças temporais nos traçados. De acordo com Niemeyer (2010), há
uma classificação base feita pela ATypI (Association Typographique Internacionale)
conhecida como Vox/ATypI, onde Vox vem do nome Maximillien Vox, criador das primeiras
tentativas de classificação de tipos. Essa é baseada nas medidas de altura, hastes, serifas e
curvaturas; são sete categorias, com algumas subdivisões. As principais são: Romanas
(quadro 2, figura 33), Lineares ou sem serifa (quadro 3, figura 34), Incisas (figura 35),
Manuais (quadro 4, figura 36), Manuscritas (figura 37), Góticas (quadro 5, figura 38) e Não-
Latinas (figura 39).
48
Quadro 2 – Romanas
Romanas
Tendem a ser inclinadas relativamente ao uso da pena empunhada,
Humanistas com seu eixo à esquerda; serifas triangulares com curvas na sua
junção com as hastes.
Derivado de Garamond + Aldus Manutius; são parecidas com as
Garaldos humanistas, porém suas hastes tem maior contraste e o “e”
minúsculo possui barra horizontal, não inclinada.
Suas hastes são mais espessas que nas Garaldos; o eixo é vertical
Transicionais
ou levemente inclinado.
O nome é proveniente da junção de Didot e Bodoni. O contraste
Didones entre as hastes é bem marcante e as serifas são totalmente planas,
sem curvatura de ligação com as hastes.
Surgem na época da Revolução Industrial. As serifas são sólidas,
Mecanizados
ligadas por uma reta às hastes ou apenas em ângulo reto.
Formatação da autora
Figura 33 – Romanas
Fonte: www.myfonts.com
Quadro 3 – Lineares
Fonte: www.myfonts.com
Incisas
São tipos “semi-serifados”, originárias das letras romanas esculpidas em pedra.
Figura 35 – Incisas
Fonte: www.myfonts.com
Quadro 4 – Manuais
Manuais
Decorativas Sua face parece mais ser desenhada à mão do que escrita.
Inspiradas nas letras cursivas; tem o eixo inclinado, linhas
Brush arredondadas e irregulares; passam a impressão de que são
desenhadas por pincel.
Formatação da autora
Figura 36 – Mauais
Fonte: www.myfonts.com
50
Manuscritas
Imitam a letra de mão formal (francesa) e corrida, trazendo a impressão de escrita
caligráfica.
Figura 37 – Manuscritas
Fonte: www.myfonts.com
Quadro 5 – Góticas
Góticas
Texturadas Possuem hastes terminadas em losango.
Possuem terminações retangulares e curvas acentuadas com linhas
Rotundos
angulosas.
As mais comuns, são bastante enfeitadas e dinâmicas, com o “o”
Bastardas
minúsculo pontiagudo.
São as demais góticas que não se enquadram nas categorias
Fraktur
anteriores.
São as demais góticas que não se enquadram nas categorias
Variantes da Fraktur
anteriores.
Formatação da autora
Figura 38 – Góticas
Fonte: www.myfonts.com
51
Não-Latinas
São as rúnicas, símbolos, caracteres orientais, ideogramas e pictogramas diversos.
Figura 39 – Não-Latinas
Fonte: www.myfonts.com
e atrapalhar a leitura do público, fazendo-o perder o interesse nas informações ali presentes
(NIEMEYER, 2010).
Pregnância é a “qualidade do caractere ou símbolo que faz com que ele seja visível
separadamente de seu entorno” (SANDER e MCCORMICK, 1993, apud NIEMEYER, 2010,
p.85). O destaque é maior para a visão do leitor conforme o design sobre aquela letra, palavra
ou frase é representada no layout, o que dá um sentido e uma atenção especial à mesma dentro
de um contexto. O que determina sua pregnância geralmente são as variações de tamanho das
letras, contraste (negrito), inclinação (itálico), etc.
A escolha da tipografia para uma peça publicitária ou outra obra artística envolve uma
adequação baseada na semiologia referente à ideologia e propósito de cada uma em relação à
obra. De acordo com Daniela Velleda Brisolara (2009), são trabalhadas seis categorias de
análise básica: (1) Pela associação imagética: a tipografia é escolhida com base na semelhança
de aparência com alguma coisa; (2) Pelo conteúdo do texto (retórica tipográfica): há uma
aplicação do “comum” no texto, ou se refere a um estilo/gênero específico; (3) Pela expressão
estética e/ou idiossincrática: a tipografia tem uma característica abstrata indicativa de um
estilo ou é voltada para o “gosto pessoal” do designer; (4) Pelo aparato tecnológico: quando a
escolha da tipografia é feita baseada nos meios utilizados; (5) Pela expressão linguística:
quando o tipo representa diretamente o sentido linguístico empregado no texto, dando ênfase
às estruturas sintática, semântica, prosódica 14 e oral do texto verbal; (6) Pela autoridade,
formalidade e convenções: são tipografias baseadas nas atribuições aplicadas ao texto.
14
1. Pertencente ou relativo à prosódia. 2. Relativo à boa pronúncia das palavras. (Priberam Dicionário.
Disponível em: <http://www.priberam.pt>. Acesso em: 25 out 2013).
53
Assim como para Volli (2003), existem duas vias de persuasão trabalhadas pela
publicidade: o argumentativo, onde o público é convencido a aderir à causa, produto ou
serviço através de informações e argumentos de convencimento; e o emotivo, onde o público
é atingido no nível das emoções e sensações (o sentido conotativo) e se “comove”, levando à
aceitação do que está sendo publicado no anúncio.
Fonte: www.dafont.com
56
O Hospital São Marcos, localizado na cidade de Teresina, estado do Piauí, criou uma
campanha em 2010 contra os vários tipos câncer, doença que, segundo dados do iNCA15
(2012), ainda relata altas taxas de mortalidades no Brasil pela falta de prevenção. O anúncio
apresentado (figura 41) se refere ao câncer de mama e é destinado às mulheres, de idade 35
anos ou mais, principais alvos do mal.
Fonte: http://www.cjflash.com.br/site/webroot/img/cjf_portfolio/gr_8ffe21339dc08fb.jpg
15
Órgão do Ministério de Saúde do Brasil voltado a ações nacionais integradas para o controle e prevenção da
neoplasia.
57
terminando num emaranhado de linhas que, em seu formato completo, lembra a forma de um
seio feminino, ideia que remete ao começo sutil do câncer e termina no difícil desenrolar da
doença.
A arte trabalha o caminho emocional na conquista do espectador, como dividia Volli
(2003). Há pouca informação argumentativa, ou seja, técnica e explicativa em relação ao
hospital e a doença. O que se encontra em destaque é o visual desenvolvido dentro do
contexto da campanha, utilizando recursos como cores, traçados e simbolismo que transmitem
a ideia ao público. Nesse caso a tipografia tem um papel importante na significação da
conexão feminina com a mensagem urgente, trazendo a ideia de que alguém passou por ali e
escreveu à mão uma frase como uma mensagem pessoal, de amigo, envolvendo intimidade e
sensibilidade com a situação. A simbologia aqui está em representar o arquétipo feminino,
que, de acordo com Carl Jung (2000), reúne características culturais que marcam a
feminilidade como sutileza, delicadeza e sensibilidade. Como o texto publicitário é um apelo
às mulheres, a tipografia foi escolhida sistematicamente para transmitir a emotividade e a
sutileza ao público-alvo decodificador, o qual, de acordo com Turnbull e Baird (1997), pode
facilmente captar e entender mediante sua bagagem cultural comum com a linguagem do
anúncio.
O anúncio a seguir (figura 42) foi criado pela agência Taterka, em São Paulo - SP,
para a rede de lanchonetes McDonald’s e veiculado em vários meios de comunicação, como
TV, impressos diversos e internet. O foco foi a novidade do produto “McWrap”16.
O produto é um mix de alimentos, que incluem carne (frango e bacon), salada (alface e
tomate), queijo e molho barbecue e mostarda grill, envoltos em uma massa tipo panqueca.
Porém existem outras combinações para agradar vários tipos de paladares. Assim, como todos
os outros alimentos da loja, é voltado para todos os tipos de público de qualquer faixa etária.
16
Wrap, que em inglês significa “enrolado”.
58
Fonte: http://operacaocasorio.com.br/wp-content/uploads/2013/01/wrap-mcdonalds.jpg
aqui procura trazer um toque de diferenciação, estilo e de arte humana envolvida na culinária.
Com suas letras desenhadas e cor marcante, a palavra “diferente” ganha destaque das demais,
e sua alta pregnância dá ápice à ideia de ser diferente.
Como afirmou Turnbull e Baird (1997) anteriormente, a mensagem traz valores
embutidos nos elementos visuais dispostos na arte e, entendendo a mensagem como um todo,
nota-se que a tipografia se relaciona com todos os outros componentes e características da
imagem, sendo sua utilização tão pertinente que, mesmo em destaque, se mescla no texto de
maneira harmoniosa e singular.
A embalagem do novo perfume Desire17 (figura 43), da marca Dolce & Gabbana, foi
criado pela agência Landor, em Nova York, que também trabalha a rede multimarcas P&G.
Lançada em maio de 2013, a campanha, com estilo vitoriano em tons bege, contou com a
presença da atriz norte-americana Scarlett Johansson como protagonista.
Fonte: http://www.epocacosmeticos.com.br/dolce-e-gabbana-the-one-desire-101311-22085_P.aspx
17
Desire, em inglês, significa “desejo”.
60
O perfume, conforme descreve o site de cosméticos Época 18, é um floral oriental que
faz parte da coleção The One. Com notas intensas e marcantes, a fragrância é profundamente
feminina. Suas principais essências são: 1) Notas de cabeça: Mandarina, lichia, bergamota e
lírio do vale. 2) Notas de coração: Lírio Madonna, tuberosa indiana, jasmim e néctar de
ameixa. 3) Notas de fundo: Baunilha, caramelo, sândalo, musk e cistus labdanum.
A embalagem tem um formato quadrado simples nas laterais, sendo que a parte de
cima possui alguns efeitos geométricos de elevação e dão a impressão de linhas se dirigindo
ao centro, onde a tampa, que parece uma torre dourada, se ergue e, no topo, outro jogo de
relevo geométrico. O fundo preto do frasco lembra uma “caixa preta”, que remete a uma idéia
de mistério e segredo, relacionando ao nome do produto. Escrito com tipografia manual sob a
própria caligrafia de Stefano Gabbana, um dos sócios criadores da marca, segue delicado o
nome do perfume e, abaixo, o nome da marca e o slogan grafados com uma tipografia simples
sem serifa, todos em dourado, o que dá um tom todo especial e sublime em sua visualização.
Conforme a direção da luz, as cores se alteram entre o espectro do laranja em escuro e claro,
gerando uma vivadez e “efeito mágico” aos nomes, que por sua vez remete ao nome do
produto.
Neste exemplo, a tipografia manuscrita foi empregada no logotipo da marca, de
maneira que se originou uma espécie de “assinatura”, uma identidade personalizada para o
perfume. A tipografia, assim como a própria palavra “desejo”, traz uma significação pessoal e
apropriadamente humana, caracterizado pela espontaneidade da escrita, como coloca
Spikermman (2011), assim como o desejo, que surge de forma inconsciente e natural da
própria pessoa, tornando o produto único e, como remete o nome, objeto de “desejo”.
“Para todos os tipos de cabelo”. É o que diz o texto em alemão ao canto direito inferior
do anúncio abaixo (figura 44), uma das três peças da campanha criada pela agência Publicis
de Zurich, Suíça, para a linha de xampus e condicionadores da marca multinacional Garnier
Fructis.
18
Disponível em: <http://www.epocacosmeticos.com.br/dolce-e-gabbana-the-one-desire-101311-22085_P.aspx>
Acesso em 15 nov. 2013.
61
Fonte: http://www.casadideias.com.br/blog/wp-content/uploads/2011/01/Panfleto-01.jpg
No anúncio, a direção de arte procurou trazer, utilizando de maneira sutil uma ilusão
de ótica, a informação de que seus produtos servem não apenas para os vários tipos de cabelo,
mas que também é unissex, servindo para as mulheres e para os homens. Ao olhar
rapidamente, tem-se a imagem de um homem de longa barba posando para a foto. Mas,
repetir a visualização com cuidado, nota-se que, na verdade, há uma mulher de costas na
frente do rapaz, e que não se trata de uma barba e sim do cabelo dela. Este jogo de imagens
gera um sentimento de surpresa e humor, o que torna o anúncio diferente e marcante, fazendo
com que a marca e o produto sejam lembrados mais facilmente.
Em um fundo com cor em tom pastel, as duas pessoas se destacam através da
iluminação e das roupas sóbrias. Ao canto, de maneira discreta, a frase principal de chamada
da campanha, e abaixo o logotipo e a marca.
A intenção da tipografia manuscrita, aqui, tem o objetivo de ser diferente e singular,
como a marca se dispõe ao colocar uma imagem que gera uma idéia contrastante com a
expectativa do espectador perante as idéias básicas, ou clichês, que são utilizadas ao criar um
anúncio para este tipo de produto (neste caso, ilusionando a imagem de um homem que
62
A arte a seguir (figura 45) foi elaborada para a Gráfica Flamar, localizada em Olinda,
Pernambuco, pela agência Atma+Bianchi de Recife (PE). A campanha, vencedora de medalha
de ouro na 27ª edição do Prêmio Voto Popular (2013), concurso de âmbito nacional
promovido pela Revista About e pelo Portal da Propaganda 19, foi intitulada “O Sentido da
Cor” e traz em sua totalidade 4 peças diferentes que referenciam, cada uma, as cores amarelo,
vermelho, azul e verde.
Fonte: http://payload131.cargocollective.com/1/4/147244/4928150/Anncio_Amarelo_888.jpg
19
Site da internet disponível em: http://www.portaldapropaganda.com.br.
63
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como foi observado, a tipografia vem de uma história milenar que caminhou
juntamente com a evolução do homem. No princípio, a sobrevivência humana pedia que se
fosse formada uma sociedade que permitisse a proteção dos homens do grupo, e, para isso, foi
necessário que se desenvolvesse a comunicação. Ao estabelecer suas regras, elas pediam que
fossem escritas para serem repassadas de maneira incontestável e inesquecível. Isso lhes
exigiu que fosse criado um sistema de fixação da linguagem, não só para alertar sobre os
perigos, mas para gravar a própria história do povo, o que significava que ali haviam existido.
Com a evolução de “rabiscos” e desenhos em parede para um sistema de símbolos, o
homem prosseguiu sua própria evolução e desenvolveu a tecnologia, o que permitiu o
aperfeiçoamento dos símbolos em letras e, daí em diante, o desenvolvimento de diferentes
tipos e estilos de escrita.
A tipografia, então, se originou de uma necessidade de reprodução de materiais
escritos em massa e a melhora da legibilidade e da leiturabilidade. A prensa móvel de
Gutenberg foi apenas o início de uma revolução da comunicação escrita; a chegada do
Macintosh mudou para sempre a maneira de se desenhar letras para diversos fins, inclusive
comerciais. A praticidade e a diversidade abriram caminho para todos os tipos de entusiastas
desenvolverem suas próprias criações, abastecendo o mundo do design com milhares de
opções e categorias de tipografias, cada uma com sua própria personalidade e intenção.
A tipografia manuscrita seria um produto dessa longa história da arte comunicativa.
Carregando seu próprio valor, pessoal, único e natural, ela se manteve até hoje, mesmo com a
propagação da escrita dura e mecânica das letras modernas. A publicidade, com toda sua
intenção de aproximar sua arte do público e envolvê-lo em seu texto, capturando sua atenção
e criando uma simpatia com o produto que está sendo divulgado, utiliza este estilo de letra de
forma proposital e planejada, trazendo para o anúncio as características visíveis e invisíveis
que denominam o manuscrito.
Estas características são provenientes de um produto simbólico que se origina por
meio da cultura social, tanto da individual quanto a cultura de massa, elementos necessários
para que a sociedade estabeleça um ponto de equilíbrio e conduza todas os indivíduos nela
envolvidos por um mesmo caminho. Estes símbolos tem o objetivo de representar alguma
coisa criando na mente do homem um processo que gera uma significação e relaciona este
signo a outro. Este processo é um ato inconsciente, ocorre sem a percepção do mesmo na
mente, e pode ligar o símbolo a situações e coisas agradáveis e prazerosas experienciadas pelo
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