Você está na página 1de 70

Centro de Educação Superior de Brasília – CESB

Instituto de Educação Superior de Brasília – IESB


Bacharelado em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo

Maressa de Omena Ribeiro

Jornalismo Cultural na Internet: Diversidade ou Cânone?

Brasília/DF
Junho de 2010
Maressa de Omena Ribeiro

Jornalismo Cultural na Internet: Diversidade ou Cânone?

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


faculdade do Instituto de Educação Superior de
Brasília, com vistas à obtenção do título de bacharel
em jornalismo, sob a orientação da Professora
Mestre Karina Barbosa.

Brasília/DF
Junho de 2010
Maressa de Omena Ribeiro

Jornalismo Cultural na Internet: Diversidade ou Cânone?

Trabalho de Conclusão de Curso defendido e


aprovado em ____ pela banca examinadora
constituída por:

BANCA EXAMINADORA:

Karina Gomes Barbosa da Silva - Orientadora


Mestre

Nahima Maciel de Souza Viana


Prof. Ms

Nelito Falcão da Silva


Prof. Ms.

Brasília/DF
Junho de 2010
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos primeiros “jornalistas” que conheci de perto. Mestres que se
empenharam na tarefa de revelar, questionar e. principalmente,trocar (pois o aprendizado é o
exercício da troca): Aurelina Freire Flores, Manuel Rodrigues, Mr. Dizallo, Fernando Paulino,
Lívia Jappe e Juliana Eugênia Caixeta.
AGRADECIMENTOS

A Deus por me amar e renovar meu fôlego e minha fé todos os dias.


A minha orientadora, Prof. Ms. Karina Gomes Barbosa da Silva, pela dedicação,
paciência e sabedoria proporcionada.
A meus pais e meu irmão que me amam e apóiam incondicionalmente.
A todos os amigos que me incentivam.
A minha prima/irmã Julia Ribeiro pela amizade, o amor e o apoio.
“A cultura é como o amor. Todas as formas
valem a pena.”

- Juca Ferreira
RESUMO

A internet oferece uma oportunidade ímpar de divulgação da diversidade cultural,


tendo como diferencial a possibilidade de interação do usuário com o desenvolvedor de
conteúdo em tempo real. O presente trabalho apresenta um estudo de caso com os sites
especializados em jornalismo cultural: Omelete e Digestivo Cultural, com o objetivo de
verificar se o jornalismo cultural praticado neste meio promove a diversidade cultural ou
reforça a disseminação de cânones como ocorre em veículos impressos.

Palavras-chave: Jornalismo cultural, cânone, internet e diversidade


ABSTRACT

The internet offers an exceptional opportunity of promoting cultural diversity based on


the premise of real time interaction between the internet user and its content developer. The
following paper presents a case study involving two websites that develop cultural journalism
content on the internet: Omelete and Digestivo Cultural, with the purpose of providing
evidence if the model of cultural journalism experienced on the internet promotes cultural
diversity, or reinforces the diffusion of canons as occurred in printed media.

Keywords: Cultural Journalism, canon, internet, diversity


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 11

2 JORNALISMO .......................................................................................................... 13

2.1 Narrativa, História e Interpretação ............................................................................ 13

2.2 Jornalismo Digital ..................................................................................................... 14

2.3 Jornalismo Cultural ................................................................................................... 17

1.3.1 No início ............................................................................................................. 17

1.3.2 Hoje em dia......................................................................................................... 18

1.3.3 Jornalismo Cultural na Internet .......................................................................... 21

3 O QUE É O CÂNONE? ............................................................................................ 25

3.1 Definição Formal ....................................................................................................... 25

3.2 Escola do Ressentimento ........................................................................................... 26

3.3 Vozes silenciadas ....................................................................................................... 27

4 CULTURA DE MASSA ........................................................................................... 28

5 VALOR ESTÉTICO ................................................................................................. 30

6 HIPÓTESE DA AGENDA-SETTING...................................................................... 31

6.1 Gatekeeper ................................................................................................................. 32

6.2 Newsmaking .............................................................................................................. 33

7 CONHECENDO OS SITES ...................................................................................... 34

7.1 Omelete...................................................................................................................... 34

7.2 Digestivo Cultural ..................................................................................................... 35

8 ANÁLISE DE SITES ................................................................................................ 36

8.1 Digestivo Cultural ..................................................................................................... 36

8.1.1 Páginas Iniciais ................................................................................................... 36

8.1.2 Análise ................................................................................................................ 39

8.1.3 Matérias .............................................................................................................. 42


8.2 Omelete...................................................................................................................... 44

8.2.1 Página Inicial ...................................................................................................... 44

8.2.2 Análise ................................................................................................................ 47

8.2.3 Matérias .............................................................................................................. 49

9 CONCLUSÃO ........................................................................................................... 52

10 BIBLIOGRAFIAS ..................................................................................................... 53

11 ANEXOS ................................................................................................................... 55
1 INTRODUÇÃO

O jornalismo cultural tem o objetivo de desvendar e interpretar manifestações


artísticas, bem como usos e costumes sob a perspectiva da valorização estética.
No entanto, esta incumbência se perdeu ao longo dos anos. Com a cultura das
celebridades e dos tablóides, o gênero sofreu uma ruptura e então, estabeleceu-se a dicotomia
da crítica canônica versus a agenda da produção cultural de massa. Poucos veículos de
comunicação se mantiveram fiéis à premissa inicial do jornalismo cultural, sempre associado
à interpretação de revoluções e fenômenos sociais.
Com o advento da internet, a informação encontrou um meio de comunicação
supostamente mais livre de censura editorial e mais democrático. Igualmente, as ferramentas
de comunicação 2.0, como o blog e mídias sociais, como o twitter, permitem maior
interatividade com o leitor, dando acesso às alterações no conteúdo publicado por muitos
sites.
O objetivo geral do presente trabalho pretende estudar o conteúdo do jornalismo
cultural na internet e discutir se o mesmo divulga diversas manifestações culturais, usos e
costumes ou se está restrito a reproduzir as resenhas a cânones, como é feito atualmente em
jornais impressos.
Primeiramente, foi necessário conceituar o papel do jornalismo cultural, definindo a
arte canônica e buscando as premissas iniciais da crítica cultural.
Por meio de um estudo de caso realizado com publicações culturais na internet,
analisou-se o conteúdo publicado durante três sextas-feiras aleatórias em três meses e
verificou-se se o mesmo privilegiava cânones da arte.
Igualmente, objetivou-se discutir as possibilidades de sucesso do jornalismo cultural
neste novo meio de comunicação e conceituar valores estéticos pós-modernos.
Para verificar se há uma reincidência na crítica canônica da grande imprensa na
internet foi preciso definir as bases teóricas que nortearam esta pesquisa por meio de revisão
bibliográfica, destacando o nascimento do jornalismo cultural e seu papel, além de conceitos
de agendamento e cânone.
Em seguida, estudo de caso será realizado, utilizando material retirado de dois sites
especializados em crítica cultural: Omelete e Digestivo Cultural. As duas publicações
resenham música, cinema e literatura.
Durante três sextas-feiras de três meses, 10 matérias e três capas dos sites foram
estudadas.
Os critérios utilizados para fazer uma leitura minuciosa do material foram:

 O número de inserções abordando temáticas canônicas


 Inserção de hipermídias e hiperlinks
 Interatividade
 Agenda-setting

Uma entrevista contendo cinco questões também foi realizada com editores dos sites
para conhecer o editorial e o público alvo de cada site.
Um questionário contendo cinco perguntas foi elaborado a fim de definir o editorial e
obter mais informações sobre os sites.
13

2 JORNALISMO

2.1 Narrativa, História e Interpretação


Atualmente, o jornalismo pode ser definido como a “história do presente”. Apesar da
impressão contraditória inicial, a narrativa do jornalismo incorpora uma linha factual e
literária que permite registrar acontecimentos diários, por construir o sentido do presente
como uma história do passado. (MOTTA, 2004).
Considerado a narrativa da modernidade, ele é muitas vezes, responsável por
estruturar o pensamento do homem moderno e construir o sentido de sua sociedade.
Mais do que uma forma maniqueísta de narrar o mundo ou de simplesmente registrar
costumes e fenômenos da humanidade, o jornalismo é antes de tudo, uma forma de revelar o
desconhecido. Ele pode trazer à tona um detalhe que sempre existiu, porém nunca foi visto de
perto ou compreendido, além de mostrar algo totalmente novo, ajudando na compreensão do
inusitado. Consequentemente, o jornalismo traz em si a qualidade intrínseca da interpretação.
Para que algo seja considerado novo, sofrerá, inevitavelmente, uma comparação com
o antigo, revelando-se, portanto, a necessidade do contraste; da exposição das diferenças
como escreve Dines.

[...] o jornalismo é a ordenação da novidade, rotinização do inesperado. Ou o


corolário: a quebra intencional e programada das normas, para despertar a
atenção pelo contraste. (DINES, 1986, p. 45)

Portanto, segundo (Motta, 2006, pg. 22) “o jornalista pode ser considerado “o
historiador e antropólogo natural da atualidade”, tornando inteligíveis os acontecimentos
presentes. Como prático da ciência antropológica, o jornalismo é ao mesmo tempo o relato e o
retrato da sociedade contemporânea, ao ponto que descreve e transforma os acontecimentos
diários com sua agenda.
O jornalista se insere na narrativa, contrastando com a realidade dela e, ao mesmo
tempo, transformando-a.
14

O jornalismo também pode ser visto sob uma ótica educativa. Não na forma de um
clichê de educação impositiva, ou a bancária, criticada por Paulo Freire1 mas como um meio
de proporcionar informação, oferecendo às pessoas conhecimento suficiente para
argumentação e, consequentemente, a construção da cidadania. “A principal finalidade do
jornalismo é fornecer aos cidadãos informações de quê necessitam para serem livres e se
autogovernar.” (KOVACH E ROSENSTIEL, 2003, p.31)
Para que uma sociedade se compreenda e consiga definir seus objetivos, é necessário
dar voz a diferentes manifestações e segmentos, ressaltando suas necessidades.

2.2 Jornalismo Digital


O Brasil está longe de ser um país incluído digitalmente; no entanto, o número de
acessos à internet tem aumentado consideravelmente nos últimos anos. Recentemente, a
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2008 sobre Acesso à Internet e Posse de
Telefone Móvel Celular para Uso Pessoal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE)2 revelou que, de 2005 a 2008, o percentual de brasileiros de dez anos ou mais de
idade que acessaram ao menos uma vez a Internet pelo computador aumentou 75,3%. Em
2008, 56 milhões de pessoas acessaram a internet pelo menos uma vez, por meio de um
computador, o que representava 34,8% dessa população, o que revela uma maior
acessibilidade do brasileiro ao meio de comunicação.
O estudo apontou que uma parcela com um grau mais alto de escolarização ainda
lidera os acessos na internet, no entanto, o maior crescimento durante os três anos se deu com
os menos escolarizados, com destaque para a maior participação da população de menor
renda.
Conhecida como um dos meios de comunicação mais democráticos que já existiu, a
internet é capaz de divulgar virtualmente qualquer tipo de informação.

1
Conceito capitalista de educação criticado por Paulo Freire no livro “A Pedagogia do Oprimido”. Ao contrário
da educação libertária, na educação bancária, o conhecimento é simplesmente “depositado” e o aluno não tem
autonomia para questionar a metodologia aplicada.
2
Disponível em http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=1517
15

A Internet é uma grande rede de computadores, roteadores e outros


elementos ligados ao protocolo Internet. O objetivo é levar todo tipo de
informação e transferência de dados de uma localidade à outra
(CARVALHO e LOTITO, 2005).

Com a migração do jornalismo impresso para a internet nos anos 90, principalmente
nos Estados Unidos, a missão de informar o leitor por um meio de comunicação mais
interativo e dinâmico, onde a atualização de notícias poderia ocorrer com mais freqüência e
em tempo real, fez com que muitos veículos de comunicação de grande porte adequassem seu
conteúdo para o espaço cibernético. Esta mudança de curso trouxe novas perspectivas para o
jornalismo e tem gerado inúmeras discussões em torno dos novos benefícios, desafios e das
novas responsabilidades trazidas pela rede.
A princípio, o conteúdo jornalístico era veiculado nos portais de internet, onde o leitor
poderia acessar as notícias do dia e também dicas de culinária, decoração etc. em hotsites
vinculados ao portal.
A formatação teve transformações iniciais com o jornal estadunidense “The Wall
Street Journal” começou a mandar conteúdo personalizado aos leitores a partir de um seleção
de notícias feita previamente pelos mesmos.
No Brasil, os sites jornalísticos de maior destaque ainda são os portais criados pelas
oligarquias familiares da imprensa, como o jornal O Estado de São Paulo e as organizações
Globo.
O conteúdo divulgado por esses sites diferem da cobertura tradicional da imprensa
brasileira. O jornalismo digital tem enfoque na atualização da notícia, no uso de várias mídias
e na interatividade com o leitor. A partir desta premissa, sites investem na adaptação do texto
jornalístico do jornal impresso para outras mídias que podem ser veiculadas nos portais, como
vídeos e podcasts.

Como fonte de informação, a Internet precisa levar em conta a existência de


outras mídias. Não posso deixar de citar novamente a cobertura on-line dos
atentados terroristas aos Estados Unidos, em 2001. A Web – para a maioria
dos cidadãos comuns que estava no trabalho e não contava com um aparelho
de TV ao alcance dos olhos – cumpriu um papel de mídia de massa e deu seu
recado, com recorde absoluto de acessos pelo mundo todo. (FERRARI,
Pollyana, 2003, p. 22)
16

Talvez o fator mais relevante na comunicação online é o formato 2.0. A dinâmica


interativa e descontraída de um blog, por exemplo, permite que o internauta influencie o
material divulgado naquele meio de comunicação e até mesmo nas pautas a serem apuradas
pelo jornalista, por meio de postagens que comentam o conteúdo. “Os leitores não são mais
receptores passivos de mensagens. Eles criam, compartilham e comentam. E eles esperam
poder fazer isso também nos sites de notícias .”(BRIGGS, 2007).
O uso de novas tecnologias, como o acesso à rede por meio de aplicativos em
aparelhos de celular, também tem contribuído para aumentar o fluxo de informação na
Internet, tornando-a mais democrática e contributiva para a diversidade.
Fenômenos como o serviço de micro-blogging twitter e a rede social facebook
permitem que mensagens sejam enviadas e recebidas em tempo real enquanto o internauta se
desloca, aumentando a troca de informações, não só entre usuários, mas também fontes
oficiais.
Na internet, a distinção entre criadores e receptores de conteúdo não é tão clara e
engessada como em outros meios de comunicação.
No dia 25 de maio de 2010, internautas de todo Brasil e do mundo puderam
acompanhar em tempo real a pauta de uma reunião secreta envolvendo o presidente da
Câmara dos deputados, Michel Temer e outros deputados da casa, que discutiam a aprovação
de uma proposta. Na ocasião, o parlamentar Capitão Assumpção, do PSB, escreveu em sua
página do twitter que a Proposta de Emenda Constitucional estava sendo “sepultada por
Temer”. O presidente da câmara encerrou o encontro, irritado com o vazamento do conteúdo.
Com isso, interessados na aprovação da proposta tiveram acesso às discussões que envolviam
a questão enquanto ela ainda estava sendo deliberada e puderam emitir opiniões sobre o
assunto para todo o mundo, por meio de suas contas de micro-blogging.
Portanto, as ferramentas fornecidas pela internet permitem que o internauta possa
interagir com diversas camadas sociais, o que abre uma gama de novas possibilidades da
construção de uma identidade, cibernética, ou não.
17

2.3 Jornalismo Cultural

1.3.1 No início
Visto como a editoria “fútil” de um jornal hoje em dia, o jornalismo cultural nem
sempre teve status de agenda de espetáculos.
Segundo Piza (2003), o jornalismo cultural não se diferencia muito do das outras
editorias de jornais, afinal, mais do que emitir opiniões sobre música, livros, e peças de teatro,
escrever sobre cultura é um exercício constante de aprimoramento e busca pela informação.

Quando se fala em jornalismo cultural, pelo menos duas questões demandam


esclarecimento imediato: o que se entende por “cultura” e o que se entende
por “jornalismo”. A rigor, todos os fatos noticiados são culturais, “afinal a
cultura está em tudo, é de sua essência misturar assuntos e atravessar
linguagens” (PIZA, 2003, p. 7). Mas, a despeito das arbitrárias delimitações
editoriais, nota-se que, desde os primórdios da atividade, assuntos
“culturais” permeiam os jornais em rubrica própria, com base em abordagens
e linguagens diferenciadas.( ALZAMORA, Geane. Do texto diferenciado ao
hipertexto multimidiatico: perspectivas para o jornalismo cultural. Galáxia –
Texto selecionado pelo Instituto Itaú Cultural – Rumos Jornalismo Cultural,
p. 1)

Desde o início, a editoria sempre esteve ligada a períodos de ruptura e mudança. Ela
nasceu em meados do século XVII com o objetivo de interpretar a sociedade da época sob um
ponto de vista filosófico e contemplativo.
Um dos primeiros exemplos dessa campanha jornalística foi a revista “Spectator”,
lançada em 1711 pelos ensaístas ingleses Richard Steele e Joseph Addison. A publicação
deveria tirar a filosofia dos gabinetes e bibliotecas, escolas e faculdades e levá-la para clubes
e cafés. Usando uma linguagem culta, sem ser formal, a revista abordava temas como livros,
óperas e a realidade político-econômica da sociedade do século XVII.
O modelo contemplativo e simples de Addison e Steele foi seguido por publicações
em toda a Europa, como os jornais franceses “Le Globe” e “Le Constitutionnel”, sempre com
maior destaque para a literatura.
No século XX, com o início da profissionalização do jornalismo moderno, a cobertura
cultural ganhou um foco mais factual, enfatizando a reportagem. O movimento foi criado nos
18

Estados Unidos, principalmente com o nascimento da revista “New Yorker”, em 1925 e o


surgimento do new journalism3, e o seu maior expoente: o jornalista Truman Capote.
No Brasil, inicialmente, as críticas culturais eram redigidas em grandes jornais por
escritores como Machado de Assis e Lima Barreto. Várias publicações traçaram o perfil da
cultura brasileira com irreverência e humor como a semanal Cruzeiro e O Pasquim. O último,
com duzentos mil exemplares de tiragem em menos de um ano de publicação.
As publicações eram um exemplo de jornalismo cultural interpretativo. Relevante e
acessível, a linha editorial trilhou o caminho idealizado por Addison e Steele, fornecendo à
sociedade da época uma análise das transformações sócio-políticas e culturais à luz da arte.

1.3.2 Hoje em dia


Segundo críticos, o jornalismo cultural passa atualmente por uma “crise de
identidade”. O gênero estaria polarizado entre a cultura de massa e a elitista.
Desde o surgimento da cultura de massa e a era da reprodutibilidade técnica4, a
sociedade é bombardeada por diversas influências culturais, artísticas e ou não.
Para Piza (2004), hoje há uma produção muito maior e mais diversificada, o que exige
uma observação mais rigorosa do jornalista. Ele ressalta que o jornalismo faz parte da
ampliação do acesso aos produtos culturais e, portanto, necessita ponderar sobre o novo
mercado sem preconceitos ideológicos ou parcialidade política.

[...] a função jornalística é selecionar aquilo que reporta (editar, hierarquizar,


comentar, analisar), influir sobre os critérios da escolha dos leitores, fornecer
elementos e argumentos para sua opinião , a imprensa cultural tem o dever
do senso crítico, da avaliação de cada obra cultural e das tendências que o
mercado valoriza por seus interesses, e o dever de olhar para induções
simbólicas e morais que o cidadão recebe.
No momento atual, o jornalismo não tem conseguido realizar essa função
com clareza e eficácia, por variados motivos que serão vistos (PIZA, Daniel,
2004, p. 45)

3
Gênero de escrita que mistura as narrativas jornalística e literária, criando um romance de não-ficção.
4
No ensaio A Obra de Arte na Era de sua Reprodutibilidade Técnica, o teórico Walter Benjamin explana como a
tecnologia transformou a arte no século XX.
19

Por conseguinte, uma boa crítica não se resume à simples categorização de uma obra
em um determinado estilo, ou classe. Um olhar viciado e inexperiente não consegue distinguir
valores estéticos proeminentes e reais em obras artísticas de determinados rótulos recebidos
da indústria cultural ou de uma escola elitista. O jornalista cultural não pode incorrer neste
erro. Ele deve analisar a obra primeiramente por sua representação estética e depois pelo valor
social agregado a ela.
Isso depende essencialmente, da experiência e intimidade que o jornalista tem com a
arte para que ele possa recorrer à influências prévias, afim de traçar paralelos e avaliar a
originalidade do trabalho em questão. Isso demanda do crítico conhecimento e bagagem
cultural, que, muitas vezes ainda não foram forjados, resultando em uma análise superficial e
preconceituosa.
Desta forma surgem as polarizações grosseiras entre tablóides e publicações elitistas.
Exemplos de formatos preconceituosos e engessados. O primeiro, priorizando o colunismo
social de celebridades e a superficialidade e saturação da cultura de massa, em detrimento da
arte e da diversidade. O segundo, praticando segregação cultural em nome de critérios
estéticos baseados em uma agenda beletrista e arcaica.

A cabeça tem que estar aberta ao que se dispõe assimilar, venha de onde vier.
Ao mesmo tempo, pode e deve confiar na experiência [...] A primeira grande
vantagem disso para o homem moderno é saber usar melhor seu tempo,
permitindo-se conhecer formas de prazer mais completas – porque envolvem
toda a riqueza de percepções humana, da lógica mais abstrata à emoção mais
primeva - e também mais sutis, em que os meio-tons tomem o lugar dos
maniqueísmos e as ironias da vida sejam explicitadas. A segunda grande
vantagem é que um cidadão mais consciente de suas escolhas,
simultaneamente mais crítico e mais tolerante, é a chance de corrigir o erro ou
o menos de saber por que errou.” (PIZA,Daniel, 2004, p.50)

Segundo Octavio Paz (apud PIZA, 2004, p. 62), “ser culto é pertencer a todos os
tempos e lugares, sem deixar de pertencer a seu tempo e lugar”.
Outro fator que compõe o quadro sintomático do jornalismo cultural atual é a
subordinação ao cronograma de espetáculos e eventos. A informação publicada nos veículos
especializados está essencialmente ligada ao lançamento das obras e à eventos relacionados
com os artistas. Em alguns casos, a resenha antecipa o lançamento do trabalho. Este formato
de crítica, no entanto, contribui muito pouco para a reflexão sobre o processo de produção
20

artístico-cultural da nossa época, pois não leva em conta o impacto causado pela obra durante
o tempo em que foi consumida pelo público.

A agenda do jornalismo cultural muitas vezes segue a agenda do próprio


produto cultural,seja ele um livro, um disco, um espetáculo.Mas muitas
vezes a pauta recai sobre o produto cultural e não problematiza os processos
que levaram o produto até sua configuração final. (TEIXEIRA, Nísio,
Impacto da Internet sobre a natureza do Jornalismo Cultural. Textos do
Grupo de Jornalismo On Line da PUC-MG: BeloHorizonte, p.3, 2002)

Um problema ainda mais grave é o chamado “jabá cultural”: presentes, convites e


viagens que são oferecidos ao jornalista por assessores de imprensa e produtores culturais
como uma forma de incentivo a divulgação. O jabá se torna nocivo à crítica cultural pois
pode afetar o julgamento do jornalista na análise do trabalho do artista.
Em um formato ideal de jornalismo com um orçamento mais robusto e uma editoria
cultural mais valorizada, despesas com viagens e espetáculos poderiam ser subsidiadas pelo
veículo de comunicação. No entanto este não é o cenário atual das redações. Assim sendo, o
importante é não deixar que a relação entre o jornalista e a arte seja pervertida, como alerta
Teixeira.

O problema é que essa relação profissional pode se perverter: profissionais


só publicam mediante o jabá cultural. Artistas que conseguem uma quota de
divulgação se sobrepõem àqueles que não têm recursos para isso. A relação
é, portanto, extremamente presentificada e, em alguns casos, descaradamente
colonizada, dado o caráter injusto de competição entre o produto nacional e
o estrangeiro.(TEIXEIRA, Nísio, Impacto da Internet sobre a natureza do
Jornalismo Cultural. Textos do Grupo de Jornalismo On Line da PUC-MG:
BeloHorizonte, p.3, 2002)

É necessário que as críticas e reportagens culturais sejam bem escritas, priorizando a


arte com seus respectivos valores estéticos e sociais, ao divulgar a diversidade e convidando
o leitor a experimentar novas expressões artísticas, sem condescendência ou defesa de uma
determinada ideologia.
21

1.3.3 Jornalismo Cultural na Internet


Embora passe por um período de crise, o jornalismo cultural ainda é uma editoria
valorizada pelos leitores de veículos impressos e publicações especializadas. Segundo Daniel
Piza, os cadernos culturais continuam entre as páginas mais lidas e estimadas. O autor
considera que a demanda por jornalismo cultural bem feito existe, como assinalam endereços
culturais sugeridos na internet, além do fato de o jornalismo cultural ganhar cada vez mais
status entre estudantes que pretendem seguir a profissão.
Neste cenário, o jornalismo cultural na internet seria uma alternativa para a crise
enfrentada pela editoria. Afinal, não resta dúvida de que o segmento foi impactado pelo
surgimento do formato online.
Segundo Alzamora, Segura e Golin, a principal peculiaridade do webjornalismo
cultural é a incorporação da característica basal da internet: a diversidade. Assim, como todo
o espaço cibernético, o jornalismo cultural proporcionaria mais possibilidades de variedade
nos conteúdos veiculados.

A expansão da internet levou à proliferação de novos formatos de


informação cultural, cuja diversidade cresce exponencialmente. Do ponto de
vista do jornalismo cultural, além do aspecto comportamental que esses
novos formatos refletem, baseados na partilha de informações, uma questão
merece atenção especial: a proliferação de websites não jornalísticos que
passaram a produzir e a difundir informação cultural. (ALZAMORA,
GOLIN e SEGURA, O que é Jornalismo Cultural, Jornalismo Cultural –
Trajetórias e Reflexões, p.16 )

Um dos motivos da inovação seria o empirismo e hibridismo de linguagens presentes


na internet. Experimentalismo este, presente no gênero desde seu surgimento, no século
XVIII, com a ousadia editorial sócio-política da revista inglesa “Spectator” e o jornalismo
literário aliado às ilustrações e fotografias da americana “New Yorker”. As revistas de
variedades do século XX, nas quais eram publicados ensaios, poemas, perfis, resenhas,
críticas, reportagens e entrevistas também são exemplos de diversidade nas raízes do
jornalismo cultural.
No webjornalismo cultural, o hibridismo de linguagens se apóia fundamentalmente na
convergência de várias tecnologias. O fenômeno do “hipermídia” exemplifica as
possibilidades de miscigenação e diversidade. Em vez de ler somente uma resenha textual, o
22

internauta poderá ouvir trechos de uma peça musical por meio de um podcast, um endereço
do myspace ou até mesmo assisti-la acessando à um link do youtube.
A convergência midiática impactou a comunicação de tal forma que, prevê-se que sua
atuação se estenda à outros meios de comunicação como vem ocorrendo com a televisão
digital, por exemplo.

Os ecos do suporte hipermidiático da internet já se fazem ouvir na produção


jornalística há algum tempo: redações ligadas em rede e a internet como
subsídio da produção/captação da notícia são apenas alguns dos exemplos
mais tangíveis. O que se apregoa, entretanto, é que num futuro breve o
suporte hipermidiático deverá reunir as funções dos demais meios de
comunicação de massa.” (ALZAMORA, Geane, Jornalismo cultural on line:
uma abordagem semiótica, p. 6)

Devido a essas transformações a perspectiva editorial foi alterada de forma


significativa. O material produzido foi trabalhado pela interatividade trazida pela
comunicação 2.0. Com o surgimento de blogs, vlogs, flogs e ambientes de compartilhamento
por meio dos quais a comunidade virtual dissemina informações por toda a rede, novas
identidades culturais diversificadas foram trazidas à um ambiente compartilhado e isso
resultou na expansão do editorial cultural antes restrito à críticos e jornalista (ALZAMORA,
2007)
Até mesmo as identidade e função do jornalista são revistas, já que o surgimento da
internet 2.0 admite que qualquer internauta crie e dissemine conteúdo no cyberespaço. Nos
últimos tempos, principalmente, há um crescimento na propagação de websites não
jornalísticos contendo críticas cinematográficas, leis relacionadas à cultura no Brasil, agendas
culturais e fóruns de discussão, como no site Overmundo (www.overmundo.com.br6)
A proposta editorial do Overmunudo repousa na incumbência de servir de canal de
expressão, debate e distribuição para a produção cultural do Brasil, cada vez maior, no
entanto, muitas vezes restrita à divulgação feita por grandes veículos da imprensa brasileira.

5
O Overmundo é um website especializado em assuntos culturais no formato colaborativo em que qualquer
cidadão pode participar a partir de um sistema de avaliação pelos pares denominado Overpontos.
23

À luz destas novas perspectivas o jornalismo cultural volta a arena de debates que
havia sido substituída por fôrmas rígidas de agendas culturais atreladas à indústria do
entretenimento em revistas eletrônicas para TV ou tablóides.
Outro tema na arena é noção do que é cultura.
Para Alzamora o espaço cibernético trouxe à tona novas possibilidades de
interpretação do termo, como, por exemplo, uma abordagem mais antropológica para definir o
que é “cultura”. Esta percepção envolve a constatação de que a cultura abarca mais do que
apenas manifestações artísticas do nosso tempo, mas também em fenômenos
comportamentais, lingüísticos e sócio-políticos.

A segunda abordagem é aquela que considera cultura como sistemas


estruturais, ou seja, a perspectiva desenvolvida por Claude Lévi-Strauss,
„que define cultura como um sistema simbólico que é uma criação
acumulativa da mente humana‟. O seu trabalho tem sido o de descobrir na
estruturação dos domínios culturais – mito, arte, parentesco e linguagem – os
princípios da mente que geram essas elaborações culturais.” (LARAIA,
Roque de Barros, 2004, p. 61)

De um mundo diminuído surgem não só novos conceitos de “cultura”, mas também


novas formas de comunicar.

Com o século XXI, o problema principal se torna a questão do outro. Como


coabitar, isto é, como dar importância à sua existência, à sua identidade e à
sua alteridade? Coabitar é o preço a pagar por um mundo menor, atravessado
por técnicas sofisticadas, individualizadas, interativas, personalizadas. O
outro está ali, visível, onipresente, mas tão diferente. E é aí que a
comunicação reencontra a política, a democracia, o humanismo. Comunicar
é descobrir o incomunicável, a alteridade radical e a obrigação de organizar a
coabitação” (WOLTON, 2006, p. 220, Apud ALZAMORA, Geane, Do texto
diferenciado ao hipertexto multimidiatico: perspectivas para o
jornalismo cultural. Galáxia – Texto selecionado pelo Instituto Itaú
Cultural – Rumos Jornalismo Cultural, p. 4, 2007)

No novo modelo de cyberjornalismo cultural as linhas editoriais já não se subordinam


à uma definição formal e invariável de feixes culturais. Ele propõe a investigação de diversos
fenômenos sócio-comportamentais a fim de compor um mosaico da sociedade
contemporânea.
24

O que esses exemplos demonstram é que as delimitações editoriais não se


sustentam na blogosfera, nem mesmo quando se trata de blogs produzidos
por uma redação jornalística. Os blogs, assim, não apenas se tornam objeto
de interesse temático para o jornalismo cultural, como também se
apresentam como formato alternativo – e, não raro, complementar - para o
desenvolvimento do jornalismo cultural contemporâneo. Nessa perspectiva,
participam das transformações editoriais e de linguagem que conformam a
área atualmente. (ALZAMORA, Geane. Do texto diferenciado ao
hipertexto multimidiatico: perspectivas para o jornalismo cultural.
Galáxia – Texto selecionado pelo Instituto Itaú Cultural – Rumos
Jornalismo Cultural, p. 5, 2007)

As modificações editorias se sustentam também na velocidade, outra prerrogativa do


jornalismo online. A interação entre o criador do conteúdo e o internauta, neste caso,
diferencia-se daquela experimentada em outros meios de comunicação, pois o acesso é mais
rápido.

O usuário pode interagir com o emissário da notícia, enviando e-mails e contribuindo


para a fomentação do debate e da crítica. Esse é um dos pontos mais sensíveis ao
debate, uma vez que, para muitos, o conceito de interatividade torna-se mais pleno à
medida em que descreve uma relação dada em tempo real. (TEIXEIRA, Nísio.
Impacto da Internet sobre a natureza do Jornalismo Cultural. Textos do Grupo
de Jornalismo On Line da PUC-MG: BeloHorizonte, p. 4 2002)

Devido à periodicidade alterável das publicações, as revistas eletrônicas na internet


admitem a divulgação de conteúdo mais associado ao “hard news”, ou mais factual
alternadas com reportagens e perfis mais interpretativos e analíticos pertencentes ao
jornalismo impresso, eliminando a dependência do jornalismo cultural às agendas da
indústria.
Sendo assim, o jornalismo cultural respaldado pela tecnologia digital ofereceria um
leque de possibilidades para a diversidade. Um ponto de encontro para jornalistas, cidadãos,
artistas deliberarem sobre assuntos culturais sem a censura de uma agenda ideológica ou
política.
25

3 O QUE É O CÂNONE?

3.1 Definição Formal


Etimologicamente, a palavra “cânone” é oriunda do hebraico e significa “régua”, ou
“cana” de medir. Portanto, denota o sentido de fôrma, ou modelo, servindo de padrão para
outros registros.
Inicialmente, a palavra foi cunhada para dar nome à Torá7. Tratava-se da escolha dos
cinco escritos que comporiam o livro sagrado judaico e que, mais tarde, originariam a bíblia
cristã, base de grande parte dos valores ocidentais modernos.
A tarefa de elencar as principais características do cânone nos dias de hoje não é
trivial. Há uma imensa produção cultural no ocidente que já não obedece expressamente aos
padrões pontuais de classificação do passado. No entanto, alguns autores e críticos ainda se
mantêm fiéis à empreitada de conservar os moldes criados por artistas de escolas literárias,
teatrais e musicais dos séculos anteriores.
Hoje, o termo “cânone” ainda denomina obras consideradas atemporais, clássicas e,
conseqüentemente obrigatórias, pois trazem em si traços específicos e valores estéticos que
são avaliados como atemporais.
No livro “Cânone Ocidental. Os Livros e a Escola do Tempo”, o crítico literário e
professor de literatura da Universidade de Yale e de Nova York Harold Bloom reúne os
nomes de 26 autores que, segundo ele, representam o cânone literário ocidental.
A primeira observação feita por Bloom é a de que as obras canônicas resistem ao tempo.

Originalmente, o cânone significava a escolha de livros em nossas


instituições de ensino, e apesar da recente política de multiculturalismo, a
verdadeira questão do cânone continua sendo: Que tentará ler o indivíduo
que ainda deseja ler, tão tarde na história? (BLOOM, Harold, 1994 p.23).

Para integrar o cânone ocidental, um livro deve apresentar sinais específicos de


originalidade que rompam com a tradição, tais como a linguagem figurativa, metáfora e o
tropo inventivo e atribuam à obra uma forte imaginação literária, segundo Bloom.

7
A Torá é composta pelo Pentateuco. Os cinco primeiros livros do antigo testamento narra a criação do mundo
por Javé, Deus, até a morte do profeta Moisés e a entrada do povo judeu na terra prometida.
26

Um dos sinais de originalidade que pode conquistar status de obra canônica


é aquela estranheza que jamais assimilamos inteiramente ou que se torna um
tal fato que nos deixa cegos para suas idiossincrasias. Dante é o maior
exemplo da primeira e Shakespeare é o devastador exemplo da segunda.”
(BLOOM, Harold, 1994 p.14).

Além da obra de Shakespeare, a Bíblia hebraica também seria um proeminente


exemplo de originalidade, pois conceberia a ambivalência entre o divino e o humano, e
também a adoração do povo por Deus como uma personagem.

3.2 Escola do Ressentimento


Bloom defende que os princípios de seletividade do cânone têm mérito estritamente
estéticos e alerta que os padrões construídos ao longo da história por brilhantes autores estão
ameaçados pelo que chama de “Escola do ressentimento” 8.
A nova doutrina acadêmica, popular nas faculdades de literatura em todo mundo
seria composta por estudiosos multiculturalistas, feministas e marxistas que tentam invalidar
ou abrir o cânone.
Bloom afirma que estudiosos do multiculturalismo, fundadores da doutrina
acadêmico-jornalística, descartam importantes valores estéticos e intelectuais em nome da
harmonia social e do abrandamento de injustiças históricas.
No entanto, é sabido que boa parte do acervo considerado canônico em vários campos
da arte foi escolhida com base em critérios de gênero, padrões sócio-econômicos e soberania
étnica. Obras produzidas, em sua maioria, por homens, brancos e ricos. Sendo assim, nem
sempre esta seleção hermética representa, necessariamente, alta qualidade cultural, mas
muitas vezes, uma agenda política.
O próprio Bloom reconhece que a crítica cultural e a literária sempre foram um
fenômeno elitista.

8
Embora faça menção dos conceitos de cânone escritos por Harold Bloom, o presente trabalho tem o objetivo
de contestar os padrões culturais imaculados criados pela crítica ao longo dos anos, e, portanto diverge da
postura de classificar movimento que questiona o cânone como a “Escola do Ressentimento”.
27

A crítica Cultural é mais uma triste ciência social, mas a crítica literária,
como uma arte, sempre foi e sempre será um fenômeno elitista. Foi um erro
acreditar que a crítica literária podia tornar-se uma base para a educação
democrática ou para melhorias na sociedade. (BLOOM, Harold, 1994 p.25).

Sendo assim, é possível afirmar que parte da seleção canônica permanece intocada
devido ao interesse de classes dominantes em promover e manter a cultura imperial e
colonialista por meio de manifestações artísticas.

3.3 Vozes silenciadas


O cânone sempre foi uma forma de impor padrões estéticos e intelectuais à produção
cultural. Priorizou - e até hoje o faz - obras distinguidas por valores brancos e patriarcais em
detrimento da diversidade. Devido aos rígidos critérios adotados pela crítica e pelas
universidades, catequizadas pelo cânone, muitas manifestações artísticas de alta propriedade
cultural e intelectual permaneceram desconhecidas.
HALL (2003) faz uma análise sobre a dificuldade da construção de uma identidade
mediante a diáspora9. Na obra “Da Diáspora: Identidades e Mediações Culturais”, ele se
refere especificamente ao povo caribenho, obrigado a deixar um caribe devastado pela
pobreza, herança da exploração feita pelo império britânico, após a segunda guerra mundial
em 1948 e partir para a Grã Bretanha.
Segundo ele, a dispersão do movimento rompe com as tradições e impossibilita uma
comunidade, ou povo de desenvolver a unidade necessária para a constituição de uma
identidade e, conseqüentemente, uma cultura própria.
Hall também atribui o silenciamento das manifestações artísticas culturais caribenhas à
colonização britânica.

Na formação cultural caribenha, traços brancos, europeus, ocidentais e


colonizadores sempre foram posicionados como elementos em ascendência,
o aspecto declarado: os traços negros, “africanos”, escravizados e
colonizados, dos quais havia muitos, sempre foram não-ditos, subterrâneos e
subversivos, governados por uma lógica diferente, sempre posicionados em
termos de subordinação e marginalização. As identidades formadas no

9
O termo diáspora significa deslocamento, normalmente forçado, de grandes populações para outras áreas
dispersas.
28

interior da matriz dos significados coloniais foram construídas de tal forma a


barrar e rejeitar o engajamento com as histórias reais da nossa sociedade ou
de suas rotas culturais.”(HALL, Stuart, 2003, p.42)

O modelo patriarcal da sociedade ocidental também contribuiu para o silenciamento


de manifestações culturais femininas ao longo da história.
Na música, na idade média e no renascimento, as moças solteiras eram ensinadas
instrumentos musicais como um costume da época, no entanto, não tinham o talento
reconhecido como arte. Na literatura, muitas mulheres usavam o nom du plume10, para
conseguirem publicar suas obras.
No livro “Um Teto Todo Seu”, a escritora Virgínia Woolf descreve a intricada
condição da mulher como escritora no século XX. Na obra escrita em forma de ficção, a
autora escreve especificamente sobre a questão financeira que envolve a literatura. Segundo
WOOLF, o fato de mulheres não terem direito à heranças ou não poderem exercer cargos
bem-remunerados influencia diretamente na condição da mulher como escritora.

Por que os homens bebiam vinho e as mulheres, água? Por que um sexo era
tão próspero e o outro, tão pobre? Que efeito tinha a pobreza na ficção:
Quais as condições necessárias para a criação de obras de arte? (WOOLF,
Virgínia, 1985, 35)

WOOLF também advoga que parte da subjugação da mulher à uma posição inferior se
deve à necessidade do homem impor sua superioridade à mulher como uma forma de medir
sua a “estatura” social.

4 CULTURA DE MASSA

A cultura de massa surgiu a partir dos anos 30, principalmente nos Estados Unidos,
com a consolidação do poder industrial e o surgimento dos meios de comunicação. Pode ser
entendida como a produção e venda de obras artísticas como livros, filmes e música na

10
O “Nome de caneta”ou “Nome de Pluma”, servia como um pseudônimo adotado por autores literários ou
teatrais para esconder a identidade, ou gênero, além de uma como uma forma de marketing para promover a
obra.
29

mesma escala maciça de fabricação de outros produtos industriais, seguindo as normas e


linhas de montagem da manufatura, após a segunda guerra.
Segundo Edgar Morin, o novo padrão de vida trazido pela industrialização e a
urbanização foi o principal agente catalisador da criação da cultura de massa. Também
chamada de “Terceira Cultura”, ela advém das necessidades individuais. Com a substituição
da mão de obra pelo trabalho das máquinas e o aumento do poder aquisitivo, o
consecutivamente, o tempo destinado ao lazer.
Sendo assim, ela é responsável por amortizar preocupações relacionadas à vida de
trabalho.

“A cultura de massa se constitui em função das necessidades indiciduais que emergem.


Ela vai fornecer à vida privada as imagens e os modelos que dão forma a suas aspirações.
Algumas dessa aspirações não podem se satisfazer nas grandes cidade civilizadas,
burocratizadas; nesse caso, a cultura resgata uma evasão por procuração em direção à um
universo onde reinam a aventura, o movimento, a ação sem freio, a liberdade, não a
liberdade no sentido político do termo, mas a liberdade no sentido individual, afetivo,
íntimo, da realização das necessidades ou instintos inibidos ou proibidos.” (MORIN,
Edgar, 1999, p. 90)

A cultura de massa é dirigida à todos e ao mesmo tempo à ninguém. Segundo Morin,


trata-se da “industrialização do espírito” ou a “colonização da alma”, trazendo em si valores e
símbolos culturais universais capazes de causar empatia suficiente com os mitos retratados ao
ponto que o indivíduo passa a se projetar nas fantasias e viver momentaneamente por meio
delas.
No entanto, ela se alimenta da contradição invenção-padronização em que o público é
adaptado à ela e ela, ao público por meio de especificidades culturais como representações
étnicas e religiosas (MORIN 1999).
As figuras recorrentes no imaginário criado pela cultura de massa citadas por Morin
1999 como o produto mais original da cultura de massa são “Os Olimpianos”. O grupo é
composto por estrelas de cinema, playboys, artistas célebres e atletas. Produtos também da
mídia, eles são transformados em ídolos por meio de informações desprovidas de relevância
política devido à contemporaneidade e humanidade conferidas aos olimpianos.
30

“[...] esse mistério que nos mergulha no tempo mítico nos nascimentos dos fabulosos, o in
illo tempore, situa-se ao mesmo tempo na cronologia da atualidade, e nos mostra que a
rainha de flancos augustos participa dos estremecimentos, das angústias e das servidões
carnais de todas as mulheres. Uma síntese ideal da projeção e da identificação, na qual a
rainha cumpre, ao mesmo tempo, sua sobre-humanidade e sua extrema humanidade,
transforma um comunicado em flash espetacular (MORIN, Edgar, 1999, p. 106)

No jornalismo, os olimpianos são frequentemente retratados como representantes da


classe artística ou de entretenimento. No entanto, nem sempre as informações divulgadas
sobre eles são relacionadas à arte. Os olimpianos são figuras assíduas em cadernos culturais e
entretenimento em grandes jornais, entretanto, o foco maior, geralmente, está na vida pessoal
do artista.

5 VALOR ESTÉTICO

O esmero estético tem sido o principal argumento dos que defendem o cânone para
manter a seleção intocada, entretanto, na disputa entre multiculturalistas e puristas o quesito
tem sido negligenciado.
Segundo Denilson Lopes a estética sempre foi considerada como um campo do
canônico, do prazer individual e do espaço despolitizado, e por isso, avanços feitos neste
terreno foram pequenos. No entanto, baseada exclusivamente em conceitos abstratos do
estudo do belo e da arte, a estética foi banida, colonizada pela política e pela economia,
isolada em suas próprias referências.
Lopes afirma que, atualmente, o tratamento dispensado ao estudo da estética oscila
entre uma perspectiva ortodoxa que distancia a arte da vida e uma mera tentativa de
culturalização da arte por políticas de identidades estreitas.
Ele propõe a radicalização de propostas sobre o hibridismo (processos socioculturais
de interseção e transação constituidoras de interculturalidades), abrindo espaço para a
diversidade.
31

Na perspectiva de uma estética da comunicação é fundamental diluir cada


vez mais as fronteiras entre a arte erudita, popular e massiva, desconstruir o
dualismo experimental e comercial, fazer dialogar objetos de valor estético
com produtos culturais, não para considerá-los apenas como mercadorias
dentro de uma indústria cultural, mas como coisas dentro de uma cultura
material, que têm uma vida social. (LOPES, Denilson, 2007, p. 24)

A apreciação estética é marcada pela representação midiática da vida cotidiana


que refletem a cultura contemporânea. É de cunho comunicacional, uma vez que sugere a
análise a partir do acúmulo de experiências ao longo do tempo. Experiências acumuladas
rapidamente também devido ao fluxo crescente de informações nos dias de hoje causado, em
grande parte, pelo sincretismo de linguagens advindas da tecnologia.
Sendo assim, o belo não se encaixa mais em padrões longínquos e sim na sensação
causada pelo contato com as diversas manifestações culturais contemporâneas e dos ecos do
passado.

Uma estética centrada na experiência, palavra ardilosa, múltipla que traz


tensão entre a possibilidade de acúmulo e comunicação e/ou sua
impossibilidade. Essa experiência está sempre além da arte, mas afirma o seu
lugar como forma de conhecimento e de estar-no-mundo, indo além da sua
mera consideração como mercadoria. Uma estética da comunicação de
massa.” (LOPES, Denilson, 2007, p. 30)

6 HIPÓTESE DA AGENDA-SETTING

A hipótese da agenda-setting advoga que a ação da mídia influencia


diretamente na escolha dos assuntos considerados relevantes pela sociedade. Embora não
necessariamente imponha uma ideologia, segundo a teoria, à médio ou longo prazo, a
imprensa pauta as questões a serem ponderadas.

Em consequência da ação dos jornais, da televisão e dos outros meios de


informação, o público é ciente, ignora, dá atenção ou descuida, enfatiza ou
negligencia elementos específicos dos cenários públicos. As pessoas tendem
a incluir ou excluir dos próprios conhecimentos o que a mídia inclui ou
exclui do próprio conteúdo. Além disso, o público tende a conferir ao que ele
inclui uma importância que reflete de perto a ênfase atribuída pelos meios de
comunicação de massa aos acontecimentos, aos problemas, às pessoas.
(Shaw, 1979, p. 96 apud WOLF, p.143)
32

A partir desta asserção pode se inferir que a percepção da realidade por parte
da sociedade é moldada pela agenda midiática, ao passo que a mesma apresenta uma série de
fatos a serem incluídos na pauta sócio-política pós-moderna.
Segundo WOLF esse fenômeno ocorre à medida que jornalistas se utilizam de critérios
de relevância para selecionar acontecimentos e transformá-los em notícia durante o processo
de produção, enfatizando certos temas em detrimento de outros e até mesmo fornecendo uma
moldura interpretativa para os mesmos.
Sendo assim, a apreensão cognitiva da realidade social que, muitas vezes sequer foi
vivenciada, é feita por meio de informações fornecidas pela mídia, representando uma
metáfora representativa da totalidade das informações sobre o mundo.

Por fim, a hipótese salienta a variedade existente entre a quantidade de


informações, conhecimentos e interpretações da realidade social,
apreendidas pelos meios de comunicação de massa, e as experiências de
“primeira mão”, pessoal e diretamente vividas pelos indivíduos. (WOLF,
Mauro, 2005, p.143)

6.1 Gatekeeper
Compreende-se por “gatekeeper” um determinado indivíduo ou grupo que
exerce o poder de decisão sobre quais informações devem passar ou serem rejeitadas em um
veículo de comunicação. A função de filtro exercida pelo comunicador durante todo o
processo de produção da notícia em vários estágios.

O gatekeeping nos meios de comunicação de massa inclui todas as formas de


controle da informação, que podem ser determinadas nas decisões sobre a
codificação das mensagens, a seleção, a formação da mensagem, a difusão, a
programação, a exclusão de toda a mensagem ou dos seus componentes.
(Donohue-Tichenor-Olien, 1972: 43 apud Wolf, 2005 p. 186)

Segundo ROBINSON (1981), apud WOLF (2005), os critérios utilizados pelo


gatekeeper para controlar da informação ocorrem em uma base menos individual de avaliação
da noticiabilidade, mas intimamente relacionada à valores institucionais e profissionais
ligados à critérios como eficiência, produção de notícias e velocidade.
33

6.2 Newsmaking
A abordagem do newsmaking busca a resposta para perguntas como “qual a imagem
do mundo passam os noticiários radiotelevisivos” e “como essa imagem se correlaciona com
as exigências cotidianas da produção de notícias nas organizações radiotelevisivas”.
Para Wolf, o newsmaking se articula principalmente em dois binários: a cultura
profissional dos jornalistas; a organização do trabalho e dos processos de produção. As
conexões e as relações entre os dois aspectos constituem o ponto central desse tipo de
pesquisa.

Deste modo, na produção de informação de massa temos, de um lado, a


cultura profissional, entendida como no emaranhado inextricável de retóricas
de fachada e astúcias táticas, de códigos, esteriótipos, símbolos,
padronizações latentes, representações de papéis, rituais e convenções,
relativos às funções da mídia e dos jornalistas na sociedade, à concepção do
produto-notícia e as modalidades que controlam a sua confecção.
Posteriormente, a ideologia se traduz numa série de paradigmas e práticas
profissionais adotadas como naturais (WOLF, 2005, p. 195).

No entanto, Wolf ressalta que por outro lado, existem restrições ligadas à
organização do trabalho, sobre as quais convenções profissionais são construídas e
“determinam a definição de notícia, legitimam o processo de produção (do uso das fontes à
seleção dos eventos, às modalidades de confecção) e contribuem para prevenir as críticas do
público”. Determina-se, assim, um conjunto de critérios de relevância, que definem a
noticiabilidade (newsworthiness) de cada evento, ou seja, a sua aptidão para ser transformado
em notícia.
Conseqüentemente, os critérios de seleção da notícia estão relacionados a processos
rotineiros e padronizadores de produção da mesma em detrimento

As notícias são o que os jornalistas definem como tais. Essa tese raramente é
explicitada, visto que parte do modus operandi do jornalista é que os eventos
ocorrem „fora‟, e os primeiros limitam-se, simplesmente, a relatá-los. Em
contrapartida, sustentar que os jornalistas fazem ou selecionam
arbitrariamente seria contrário à posição epistemológica, uma teoria
implícita do conhecimento, construída com base em procedimentos práticos
para resolver exigências organizacionais. (Altheide, 1976,p.113 apud Wolf,
2005, p. 196)
34

Estes processos, por sua vez, envolvem a análise de valores/notícia;


características intrínsecas aos acontecimentos noticiosos que determinam não só sua seleção,
mas todo o processo de newsmaking.
Os valores/notícia se apóiam em conseiderações relativas a:
3. os caracteres substantivos de notícias; o seu conteúdo;
4. a disponibilidade do material e os critérios relativos ao produto informativo;
5. o público;
6. a concorrência.

7 CONHECENDO OS SITES

7.1 Omelete
O site tem 10 anos e conta com 19 profissionais responsáveis por escrever
críticas e matérias jornalísticas disponíveis nas páginas. Dentre os 19 colaboradores, quatro
são jornalistas e os demais, em sua maioria, têm formação em publicidade ou outras áreas.
Dois editores são responsáveis pela seleção do conteúdo que compõe o
Omelete11: o designer gráfico Érico Borgo e o publicitário Marcelo Forlani.
O site é definido pela editoria como um site para entretenimento com foco em
revistas em quadrinhos, cinema, música e jogos para vídeo game. Também há uma ênfase em
coberturas sobre “lançamentos do mundo pop”, como especificado no editorial.
Na disposição do conteúdo percebe-se uma formatação bastante moderna, com
cores fortes e muitas imagens, além do uso de linguagem publicitária, como no espaço do
editorial, por exemplo.

Você está no Omelete, um site voltado pra quem se liga em quadrinhos,


cinema, TV, vídeo, DVD, música e games. No Omelete, tudo que rola no
mundo do entretenimento está ao alcance do seu mouse. Através de notícias
quentes, coberturas dos maiores eventos e artigos sobre os lançamentos do
mundo pop, você fica por dentro das últimas novidades. Além disso, sua
participação é sempre bem-vinda. Basta enviar um email
para contato@omelete.com.br, ou para os cozinheiros.O nome do site tem
tudo a ver. Como o prato que todo mundo gosta, a nossa Omelete – tratada
carinhosamente pelo seu emoticon „(o)‟ – aceita qualquer ingrediente, seja

11
www.omelete.com.br
35

ele música, cinema ou quadrinhos. Desse jeito, é sabor que não acaba mais.
A consulta aqui é rápida e os temas são sempre os mais atuais. Assim, a
gente não te deixa na mão. (Borgo e Forlani, 2000)

A periodicidade na atualização do site é bastante dinâmica. O conteúdo factual,


ou “quente” é inserido em uma média de 15 textos por dia, entre matérias ou críticas.
Outra marca do Omelete é o uso de hipermídias. Na página inicial do site, o leitor
pode encontrar em vídeos, fotos e links para podcasts sobre o material resenhado no topo da
página, em maior destaque.
Outra característica interessante é o espaço dedicado à interatividade no site. É
necessário que o leitor se cadastre para participar de discussões ou publicar um comentário.
Em todas as matérias há um espaço reservado para a publicação de comentários, que pode
chegar a 1500 caracteres sem espaço.
Dentre o material publicado, percebe-se a predominância de conteúdo estrangeiro;
principalmente, estadunidense. Uma mínima parcela é dedicada à produção cultural nacional.

7.2 Digestivo Cultural

O site completa uma década em 2010. Foi criado pelo editor Júlio Dálio Borges,
engenheiro de computação, que mais tarde se tornou colunista independente.
O Digestivo Cultural12 tem enfoque num formato colaborativo, em que colunistas,
jornalistas, ou qualquer especialista em cultura se cadastra para enviar material para o site.
Cada um deles é responsável por se “pautar”. A seleção é feita, inicialmente, com base na
qualidade do texto enviado pelo colaborador.
A linha editorial inclui resenhas, matérias, críticas e ensaios sobre teatro, música,
comportamento, literatura, tecnologia, jornalismo e cinema. O conteúdo aborda uma
produção cultural bastante diversificada, abrangendo material nacional e internacional, com
destaque maior para a literatura. No entanto, há restrições explícitas a alguns conteúdos, como
explicou o editor Júlio Dálio Borges, em entrevista concedida para o presente trabalho.

12
www.digestivocultural.com
36

A gente tenta se concentrar em "jornalismo cultural": literatura, música,


cinema etc. Porque, senão, vira um balburdia. As pessoas começam a brigar
e o site perde sua razão de ser, para virar um fórum desgovernado.
Procuramos evitar temas como religião, política e até esportes. Abrimos
exceções em determinadas ocasiões, apenas ; como, agora, com a Copa
2010, e, mais pra frente, as eleições 2010. Também preferimos não publicar
ficção, nem poesia, porque os critérios ficam muito subjetivos e a gente não
quer mesmo brigar. (BORGES, Júlio Daio, 2010)

Quanto à periodicidade do site, não há uma meta fixa de produção, mas existem
colunas de opinião semanais. Os demais colaboradores são incentivados a enviar conteúdo de
acordo com a disposição e disponibilidade de cada um. Ainda sim, os internautas cadastrados
no site recebem uma Newsletter diária do site em seus e-mails.
O mailing do Digestivo Cultural contém atualmente 50 mil endereços cadastrados,
embora a maioria dos visitantes encontre a página por meio da ferramenta de busca do
Google. O site tem aproximadamente 10 mil visitantes por dia e 300 mil por mês. O número
de páginas navegadas varia de um (hum) milhão a 1,5 milhão por mês. A formatação da
página é simples e pouco atraente e a linguagem é formal, sem ser rebuscada.
No quesito interatividade, o site também reserva bastante espaço ao internauta. Na
página inicial, os comentários relativos a cada publicação podem ser acessados. O Digestivo
Cultural também possui interface com redes sociais na internet, como o twitter e RSS, nas
quais os internautas podem opinar. Também se percebe a presença de hipertextos e links para
outros conteúdos do site, mas nenhum tipo de hipermídia.

8 ANÁLISE DE SITES

A análise do site irá abranger os destaques na coluna do centro, totalizando 10 destaques


analisados.

8.1 Digestivo Cultural

8.1.1 Páginas Iniciais

O conteúdo analisado irá abranger somente os destaques da semana, culminando nas


três sextas-feiras, foco da pesquisa.
37

Página do dia 23 de Abril


O primeiro hipertexto dos destaques direciona o internauta para a resenha “Coco Antes
de Chanel com Audrey Tautou”, sobre a atriz Audrey Tautou, que interpreta a estilista Coco
Chanel, no filme homônimo. A matéria faz elogios à interpretação da atriz.
Em seguida estão duas resenhas literárias: “Franz Kafka, por Louis Begley” e “Borges
e Oswaldo Ferrari, Diálogos”. A primeira apresenta o lançamento da obra biográfica sobre
Franz Kafka intitulada “O Mundo Prodigioso Que Tenho Na Cabeça”, escrita por Louis
Begley. A segunda, sobre o lançamento do livro de diálogos de Jorge Luís Borges, comentado
por Oswaldo Ferrari, “Sobre a Filosofia e Outros Diálogos”, tece elogios ao gênero literário e
à filosofia de Borges.
O terceiro destaque é a matéria “Jeff Jarvis Atacando Rupert Murdoch”, sobre a
repercussão de uma crítica à Rupert Murdoch, presidente da rede de notícias News
Corporation, feita pelo jornal americano “The Guardian”. A matéria comenta os excessos da
crítica ao jornalista australiano.
Finalmente, como último destaque, o digestivo traz uma crítica positiva, “Sobrescritos,
de Sérgio Rodrigues”, sobre o lançamento do livro “Sobrescritos”. Uma reunião de quarenta
contos publicados no site do crítico literário brasileiro, Sérgio Rodrigues.
Na sessão reservada a colunas e ensaios o site apresenta um link contendo um pequeno
trecho de uma crítica negativa relacionada aos livros de auto-ajuda, intitulada “Parodiando a
Auto Ajuda”, e um conto sobre lembranças escolares.
A coluna intitulada “Voo da Galinha do Brasil”, trata sobre o recuo da economia
brasileira no ano de 2010.
Na entrevista do mês, o guitarrista da banda americana “Guns n‟ Roses”, Ron
Bumbblefoot Thal, fala sobre sua trajetória na música.
O site destaca impressões sobre o futuro do cinema na sessão de assuntos mais
publicados do mês, com a chamada “O Futuro do Cinema”, que dá ênfase positiva para o
cinema 3D e as super produções americanas.

Página 21 de Maio
Como primeira matéria em destaque nesta edição, o digestivo Cultural traz “O Mundo
Pós-PC: Uma Visão de Steve Jobs, segundo Charlie Stross”, que discorre sobre o crescimento
38

da empresa de tecnologia Macintosh e a possível decadência da companhia Microsoft, de Bill


Gates.
O segundo destaque apresenta uma resenha intitulada “Duetos com Renato Russo”,
sobre o lançamento de um disco póstumo do cantor, ícone do pop rock dos anos 80, e uma
tentativa das gravadoras de requentarem sucessos, como uma forma de sobrevivência em
uma era de compartilhamento musical na internet.
Em terceiro lugar, a resenha “O Pianista no Bordel” elogia o livro de mesmo nome, do
jornalista espanhol fundador do veículo impresso “El País”, Juan Cebrián, sobre jornalismo e
democracia na era digital.
Como penúltimo destaque, a matéria “Publique Eletrônicamente ou Pereça” faz uma
repercussão elogiosa sobre a matéria da revista New Yorker a respeito da publicação
eletrônica.
Finalmente, a última notícia, “Freud Pela Companhia das Letras”, fala sobre a
reedição das obras completas de Sigmund Freud, criador da abordagem psicanalítica, pela
editora Companhia das Letras.
No espaço para colunas e ensaios, a resenha sobre o lançamento do segundo romance
do jornalista e escritor mineiro Jaime Prado Gouveia, “O Altar das Montanhas de Minas”,
apresenta as qualidades estéticas da obra e questiona o número reduzido de publicações do
autor, em vista de seu grande talento literário.
No mesmo espaço, a coluna “Um Gadget de Luxo” critica o fetichismo tecnológico da
sociedade envolvendo o iPad da empresa Macintosh.
Outro texto, mais autoral e crítico, critica igualmente a publicação eletrônica e a
supervalorização do iPad.
O personagem da entrevista do mês de abril é o compositor e musicólogo mineiro
Harry Crowl. A entrevista foca na produção de música erudita e contemporânea do músico no
Brasil e no exterior.
Na sessão com compilação de matérias e ensaios para o assunto mais publicado do
mês, o site traz a matéria “Um Gadget de Luxo”.
Nesta edição, em especial, no espaço reservado para novidades, o Digestivo Cultural
anuncia com a chamada para a liberação da publicação de comentários sem consulta prévia
pelo editorial do site.
39

Página 06 de Junho
O primeiro hipertexto traz a matéria “O Mensalão, 5 Anos Depois”, dando repercussão
e tecendo elogios a uma matéria do jornal Valor Econômico, sobre o mensalão do PT, cinco
anos depois do escândalo.
Em seguida, uma matéria fala sobre o legado da obra do vocalista da banda Black
Sabath, Ronnie James Dio, falecido em 16 de Maio. O texto critica a superficialidade da
grande imprensa ao fazer referência a um símbolo popularizado pelo músico, em detrimento
da produção musical de Dio.
Em terceiro lugar, a matéria “O começo do fim do Facebook” traz uma análise do
manifesto contra a mídia social Facebook e seu criador, Mark Zuckerberg, feito pelo
empreendedor digital, Jason Calacanis, salientando a inconstância da rede social e o histórico
ruim de seu criador.
A matéria “Maria Bethânia Amor Festa da Devoção” defende o fato de que cantora
baiana seria uma das poucas de sua geração a continuar criativa, apresentando a última turnê
da artista como um exemplo de talento.
Em colunas, um conto fala sobre a Praça da Sé, em São Paulo, e uma coluna traz uma
análise de quanto os brasileiros gastam em suas viagens ao exterior e como o turismo
internacional os tem recebido.
Um ensaio sobre a relação do público brasileiro com a arte e a necessidade da
educação do mesmo nos dias de hoje é o tema do texto “Não Julgue o Público”. O foco do
escrito é a maneira como o público reage atualmente às manifestações artísticas no Brasil
atualmente e a necessidade de uma educação artística para o mesmo.
Na entrevista do mês, permanece o mesmo texto sobre o musicólogo mineiro Harry
Crowl.
Sobre o tema mais publicado do mês, o site destaca matérias sobre a copa do mundo,
com ênfase nas críticas sobre a cobertura jornalística realizada pela imprensa esportiva
brasileira.
Já no espaço reservado para novidades permanece o mesmo destaque de maio.

8.1.2 Análise

Em todas as páginas iniciais do site notou-se uma tendência em priorizar cânones,


pelo grande número de inserções de conteúdo com esta temática.
40

Na literatura, como exemplo da valorização da alta cultura, destacam-se as resenhas


“Borges e Oswaldo Ferrari, Diálogos”, “Franz Kafka, por Louis Begley”, “Além do Mais”,
“O pianista no Bordel” e “Sobrescritos, de Sérgio Rodrigues”.
Em todas as resenhas acima encontram-se modelos de cânones literários. Eles fazem
parte da alta cultura, ou cultura elitista, como por exemplo, o autor e filósofo argentino Jorge
Luis Borges, que possui diversos livros publicados e é um escritor reconhecido
mundialmente. Apesar de latino-americano, Borges representa o autor modelo do cânone
literário ocidental , por ser homem, branco e escrever sobre uma cultura branca e colonizada
por uma influência imperialista (HALL, Stuart, 2003 p.42).
Há, no entanto, uma exceção. A resenha sobre o lançamento de “O Altar das
Montanhas de Minas”, do jornalista e escritor mineiro Jaime Prado Gouveia, apresenta uma
crítica favorável a um autor pouco conhecido e com poucas obras publicadas. Isto mostra um
jornalismo cultural desapegado de estereótipos canônicos e mais relacionado à estética (PIZA,
2004, p.50) e (LOPES, 2007, p. 24).
No âmbito musical também revela-se uma preferência por cânones tanto da alta
cultura, quanto da cultura pop. Nota-se a influência da cultura elitista na matéria “Maria
Bethânia Amor Festa da Devoção”, na qual o jornalista elogia a atuação da cantora, que é um
dos símbolos da música brasileira, em sua nova turnê. Outro exemplo da preferência pela alta
cultura revela-se na entrevista com o compositor Harry Crowl, representante brasileiro da
música erudita e contemporânea, dois gêneros elitistas que moldam grande parte da produção
musical de nossa sociedade.
Na cultura pop, destaca-se a entrevista com o guitarrista da banda americana “Guns n‟
Roses”, Ron Bumbblefoot Thal. A banda é uma proeminente representante do rock n‟ roll
americano, um gênero consagrado como entretenimento e cultura de massa, de acordo com
Edgard Morin
Em relação às críticas cinematográficas também há um destaque maior para as
produções canônicas. A resenha “Coco Antes de Chanel com Audrey Tautou”, sobre a atriz
francesa, que interpreta a estilista Coco Chanel, no filme homônimo, pode comprovar essa
hipótese, visto que Audrey Tautou, apesar de ter iniciado a carreira em produções
independentes, tem se tornado uma referência no cinema hollywoodiano, símbolo da cultura
pop cinematográfica.
41

Outro exemplo de validação da cultura do entretenimento de Hollywood é a


compilação de matérias sobre o cinema 3D, popularizado pela indústria cinematográfica
americana. Somente sobre este assunto foram escritas cinco colunas que reafirmavam a
exibição de filmes tridimensionais como uma experiência estética enriquecedora.
Em relação às inserções acerca de fenômenos sociais e comportamento nota-se
também uma relevância maior dada aos assuntos de destaque na grande imprensa; como
exemplos as matérias “Parodiando a Auto Ajuda” e “Publique Eletronicamente ou Pereça” .
Também há várias inserções relativas ao Ipad da Macintosh, que foi lançado no ano de 2010.
Ao todo, a página traz três matérias sobre o aparelho e mais uma sobre seu criador e
presidente da companhia, Steve Jobs.
No entanto, em alguns casos, constata-se uma abordagem diferenciada aos assuntos
de comportamento ou de fenômenos sociais, geralmente, dada sob uma ótica menos comum e
contrária ao senso comum jornalístico disseminado pela grande imprensa. Como exemplos
estão as matérias “Um Gadget de Luxo”, e colunas como “Não Julgue o Público” e “O
começo do fim do Facebook”, exemplificando a ausência de traços ideológicos no texto e
revelando uma possível abertura editorial para uma abordagem mais antropológica do
jornalismo cultural. Com isso reencontra-se o sentido de “cultura” (LARAIA, Roque de
Barros, 2004) e (PIZA, 2003, p. 7).
Quanto à periodicidade, percebe-se, primeiramente, que a disposição dos hipertextos
de acesso ao conteúdo está relacionada à data de publicação, o que revela uma preocupação
em manter o conteúdo mais “quente” em destaque, comprovado pela hipótese de agenda-
setting. Há também uma preocupação em relacionar às matérias e o conteúdo do site à agenda
de lançamentos culturais, revelando a escolha de temas com base em valores notícia de
agendamento (WOLF, ANO p.143).
Em relação ao uso de hipertextos e hipermídias nota-se uma heterogeneidade, pois a
maioria dos escritos contêm links para páginas que façam referência ao conteúdo comentado,
enriquecendo os textos e facilitando a apreensão dos mesmos, como um modo de informar e
formar o leitor (KOVACH E ROSENSTIEL, 2003, pg.31). Entretanto, nota-se um uso parco e
espaçado de hipermídias. Dos destaques apresentados pelo site, somente a entrevista com o
guitarrista Ron Bumbblefoot Thal apresentava hipermídia (três podcasts com trechos de
músicas do artista). Mais hipermídias e a diversidade de linguagens no site poderiam
42

acrescentar valores cognitivos e igualmente, enriquecer a crítica do trabalho artístico em


questão
Em relação à proposta de interatividade, o site apresenta muitos pontos positivos.
Além da possibilidade de se postar comentários em matérias, as opiniões dos internautas
também recebem um lugar de destaque na página. Também percebe-se o uso de mídias sociais
digitais, como o twitter, que possibilita a participação do internauta em tempo real. Outro
ponto a favor da interatividade pode ser apontado no editorial, em que o site anuncia a
liberação da publicação de comentários sem consulta prévia por editores.

8.1.3 Matérias

Ao todo, cinco matérias do Digestivo Cultural foram analisadas. Elas foram retiradas
aleatoriamente da sessão de destaques das páginas iniciais dos dias 23 de abril, 22 de maio e
06 de junho.
Percebeu-se uma tendência à abordagem de cânones em todas elas. Em relação à cânones
da alta cultura ou, cultura elitista, podemos citar as matérias “Franz Kafka, por Louis Begley”
e “O Mensalão, 5 Anos Depois”.
A primeira indica uma preferência editorial pela crítica da literatura de alta cultura, no
início quando descreve o autor Franz Kafka como “talvez o maior escritor do século”, uma
clara sugestão de que o autor seria um dos representantes da literatura modelo (BLOOM,
1994 p.23). O texto segue tecendo elogios à obra do autor de ascendência judaica e atribuindo
qualidades estéticas às suas obras mais proeminentes. A crítica não classifica a biografia
escrita por Louis Begley como um livro brilhante, mas exalta a tarefa de traduzir os escritos
pessoais de Kafka, como cartas e diários, a fim de interpretar sua influência nas obras do
autor.

A segunda matéria, sobre o escândalo do mensalão, também prioriza uma abordagem


canônica ao assunto de cunho político. Apesar de criticar a grande imprensa pela preocupação
em se reinventar sob uma perspectiva de formato, em vez de conteúdo, o texto valoriza a
reportagem publicada por um jornal impresso conservador, o Valor Econômico, ao descrever
a reportagem como “a melhor análise do mensalão”.
43

Em relação à canonização por influência da cultura pop, encontramos indício nas matérias
“Coco, Antes de Chanel, Com Audrey Tatou”, “Duetos com Renato Russo” e “Ronnie James
Dio”.

Na primeira matéria, há uma depreciação do trabalho de Audrey enquanto atuava no


cinema independente francês e também da sua estréia fracassada no cinema estadunidense. No
entanto, ao elogiar a volta de Audrey à atuação em francês, a matéria prioriza o segmento dos
filmes de grande bilheteria e uma temática da cultura pop americana ao falar sobre Coco
Chanel e o mundo da moda. Também se percebe uma tendência em destacar a atuação da
atriz, que migrou de um nicho regional e independente para o destaque internacional da
produção cinematográfica estadunidense, tornando-se uma referência da cultura de massa.
Na segunda matéria analisada, percebe-se uma crítica à gravadora EMI, símbolo de
instituição musical canônica da indústria fonográfica brasileira, por tentar relançar um cd
póstumo de sucessos do cantor Renato Russo, com a participação de outros artistas
brasileiros. No entanto, apesar de recriminar a ação da gravadora, enfatizando que o projeto
não teria qualidade estética, a matéria elogia Renato Russo, um ícone do pop rock brasileiro
durante os anos 80 e 90; portanto, o enfoque da matéria aborda, de certa forma, uma temática
canônica.
Por último, na reportagem sobre a morte de Ronnie James Dio, também há indícios de
destaque para cânones da cultura pop. Mais uma vez, a linha editorial critica a cobertura da
morte de Dio feita pela imprensa, quando ela relaciona o vocalista, que integrou a banda de
rock Black Sabath depois da saída de Ozzy Osbourne, a um símbolo popularizado por ele. No
entanto, relembra a carreira de Dio, exaltando sucessos popularizados pelo astro do rock e
enfatizando a necessidade de relembrar o legado musical deixado pelo cantor.
No quesito agendamento percebe-se a tendência em selecionar e resenhar lançamentos da
indústria cultural ou dar repercussão a assuntos em voga em quatro das matérias analisadas.
Isso pode ser exemplificado nas matérias “Franz Kafka, por Louis Begley” e “Duetos com
Renato Russo”, ambas relacionadas ao lançamento dos dois produtos. Na reportagem “Ronnie
James Dio”, nota-se a clara relação do texto com a morte do artista, ocorrida na mesma
semana.
A matéria “O Mensalão, 5 Anos Depois”, apesar de não estar diretamente relacionada ao
acontecimento, tem como foco a análise de outro jornal, publicada na mesma semana, devido
44

à proximidade das eleições; portanto, está relacionada aos critérios de agendamento midiático,
citado (WOLF, 2005).
A única exceção é o texto “Coco, Antes de Chanel, Com Audrey Tatou”. Neste caso, nota-
se um desinteresse em associar a matéria à agenda, pois o filme foi lançado em outubro de
2009 e a crítica sobre a atuação da atriz é feita seis meses depois, o que revela uma
preocupação maior com o processo da produção cultural.
Quanto ao uso de hipertextos e hiperlinks, todas as matérias trazem sublinhados links que
fazem referência a algumas obras ou personagens citadas no texto, redirecionando o leitor
para páginas que abordam os assuntos. Também nota-se que grande parte dos hipertextos
direciona os internautas às páginas de sites onde os produtos se encontram à venda.
No entanto, destaca-se a ausência de hipermídia que permitam ao internauta ter acesso aos
trechos de filmes, músicas, entrevistas, relacionados aos assuntos abordados, o que o ajudaria
na compreensão dos textos e serviria de comparação entre a crítica e sua impressão sobre o
objeto da resenha.

8.2 Omelete
A análise do site compreenderá os destaques no espaço flash interativo, situado no
canto superior esquerdo da tela, e as quatro primeiras matérias da sessão “últimas”,
totalizando 10 destaques analisados.

8.2.1 Página Inicial

23 de abril
Como primeiro destaque no espaço flash do site com fotos, o omelete apresenta o
“Omelete 74#”, uma revista eletrônica publicada às sextas-feiras, contendo os principais
lançamentos e destaques da semana. A página traz duas versões: uma em um player suportado
pelo site e uma hipermídia do youtube.
Em segundo, uma chamada com a foto de um robô do filme “Homem de Ferro 2” traz
informações sobre uma entrevista com o ator britânico Don Cheadle e sobre o papel
interpretado por ele no filme.
45

Um terceiro destaque mostra uma foto de divulgação do filme “Alice no País das
Maravilhas”, com a chamada “Cinema: Estréias da Semana 23/04”, contendo como subtítulos
“Alice no País das Maravilhas, A Estrada e Sonhos Roubados em Cartaz”
Outro quadro do espaço destaques apresenta uma foto de divulgação do filme “A
Estrada” e lê “Especial A Estrada”, com subtítulos “Crítica e Entrevista com Viggo
Mortensen e Diretor”
Como quinto destaque, uma foto do diretor Tim Burton e da Atriz Mia Wasikowska,
trazendo o título “Omelete Entrevista Tim Burton”e o subtítulo “O Diretor Fala Sobre Seu
Envolvimento com a História de Alice, Atores, 3D”.
Por último, “Aqui Dentro e Lá Fora”, seguida do subtítulo “O Japonês Solanin e o
Italiano Leo Pulp” exibindo uma figura da história em quadrinho, estilo mangá japonesa, do
cartunista nippon Inio Asano. A matéria resenha duas obras de histórias em quadrinho
ressaltando a qualidade estética de cada uma.
Na sessão de matérias mais recentes publicadas mais recentemente, novamente, uma
chamada para a revista eletrônica “Omelete 74#” é apresentada.
Em seguida, a matéria “Comando Selvagem Aparecerá no Filme do Capitão América”
aparece. A matéria fala sobre novos personagens da editora de história em quadrinhos
estadunidense, Marvel Comics, que possivelmente integrarão o filme do super herói.
Na matéria “Conheça mais detalhes de Super Mario Galaxy 2”, o editor do site escreve
sobre detalhes da mais nova versão da sequência de jogos do Super Mario Bros.
Por último na lista de matérias recentemente publicadas está “Star Wars: The Old
Republic ganha vídeo demonstrando combate no MMO”, cujo foco é foco é a antecipação de
um vídeo do jogo baseado no filme de George Lucas.

21 de abril
Como primeiro destaque no espaço flash do site com fotos, o omelete apresenta o
“Omelete 78#”, que mostra uma foto do ator Russel Crowe interpretando “O Gladiador”, com
o subtítulo “Aqueles prestes a omeletar te saúdam! Um Tributo ao Gênero dos Épicos Greco-
Romanos e de Fantasia”, trazendo uma compilação de filmes sobre o tema.
“O Império Contra-Ataca – 30 Anos”, com destaque para uma foto do personagem de
Star Wars, Darth Vader, com o subitítulo “Harrison Ford Relembra Star Wars em Exibição
Especial”, relembra as três décadas do sucesso de ficção científica de George Lucas.
46

No destaque “Cinema: Estréias da Semana”, que exibe foto de divulgação do filme


“Quincas Berro D‟água”, o subtítulo traz “Esta Semana de Fúria de Titãs Sobra Espacinho
para Quincas Berro D‟água” e a matéria apresenta as sinopses dos filmes estreando.
No quarto quadro, “Lançamentos em DVD e Blu-ray”, com o texto “Amor sem
Escalas, Um Homem Sério e O Mensageiro nas Locadoras”. O quadro traz sinopses dos
lançamentos nas locadoras.
O último quadro traz “Poison on The Rocks”, e mostra uma foto de um show de rock.
Na matéria, a jornalista Luciano Toffolo fala sobre a vinda da banda de rock irlandesa ao
Brasil e critica a música feita por ela, alegando que o punk rock se perdeu e a banda não é um
de seus representantes.
Na sessão dos destaques para as matérias recentemente publicadas, a primeira é
“Confira um preview da nova série Secret Avengers”. A matéria aborda uma das séries novas
dos Vingadores, linha de história em quadrinhos da Marvel.
A segunda matéria, de título “Novo game de Top Gun terá trama pelo escritor do
filme”, traz como foco o anúncio da produção de um novo jogo de videogame da série “Top
Gun”, baseada no filme homônimo, pela produtora cinematográfica Paramount.
Em seguida, a matéria “Filme de assalto produzido por J.J. Abrams contrata roteirista”
fala sobre a contratação do diretor Phil Alden Robinson, para adaptar o roteiro.
No último destaque, a matéria “Confira o novo trailer de Sonic The Hedgehog 4
Episode I” revela que o lançamento do novo jogo Sonic foi adiado. No entanto, a matéria
mostra uma prévia de um vídeo.

06 de Junho
O primeiro destaque no espaço flash do site com fotos de séries americanas,
traz “Destaques da TV” com o subtítulo “Os Fins de Temporada de Dexter, V e The Pacific o
Início de Southland e Muito dia dos Namorados”, falando sobre a programação televisiva.
Em segundo lugar, a revista eletrônica “Omelete 80#” traz os lançamentos para o
cinema na semana. Exibe uma foto do desenho animado Caverna do Dragão e critica as
adaptações de jogos de vídeo game para o cinema.
Em “Crítica: Príncipe da Pérsia: As Areias do Tempo”, o site apresenta a foto de
divulgação do filme. Na matéria, o editor critica a adaptação do jogo para o cinema, alegando
que são uma versão confusa.
47

No quarto destaque, a foto de divulgação do filme “Marmaduke” traz o texto “Crítica:


Marmaduke” e “Fox adapta mais uma clássica tira animal para as telas - desta vez, com mais
lições de moral” como subtítulo.
A foto do ator brasileiro Rodrigo Santoro ao lado do ator estadunidense Jim Carey é o
destaque do quarto quadro, trazendo como título “O Golpista do Ano: Omelete entrevista
Rodrigo Santoro” e como subtítulo “Ator fala do seu papel e como foi atuar com Jim Carrey”.
Por último, “Aqui Dentro e Lá Fora - 02 de junho” exibe uma imagem da história em
quadrinhos, “Xampu: Lovely Losers”, com o subtítulo “Xampu: Lovely Losers e The Sword”.
A matéria apresenta as duas séries de histórias em quadrinhos alternativas no Brasil e no
exterior.
Na sessão reservada às publicações por data, “Assista ao primeiro comercial de TV de
Scott Pilgrim Contra o Mundo” traz um trailler do longametragem que irá estreiar no Brasil.
Em seguida a chamada “Assista ao comercial de O Último Mestre do Ar exibido
durante o Movie Awards” redireciona o internauta para a sinopse e o trailler do filme “O
Último Mestre do Ar”.
O terceiro destaque da sessão é a matéria “Christopher Nolan Diz Que Coringa Não
Volta Tão Cedo aos Filmes do Batman”. O texto tem enfoque na triologia hollywoodiana
“Batman: A Origem”, oriunda da história em quadrinhos de Batman.
Por último, a matéria “Diretor de Esquadrão Classe A se oferece para assumir Preacher”
fala sobre a possibilidade de mais uma adaptação de história em quadrinhos para o cinema.

8.2.2 Análise
De todo o material analisado, pouquíssimos exemplos de cunho não canônico se
destacaram na cobertura realizada pelo Omelete. Grande parte das inserções aborda uma
temática canônica de cultura pop, ou cultura de massa.
No campo do cinema essa hipótese se confirma, ao se destacar que grande parte da
cobertura é voltada para o cinema estadunidense de Hollywood. Temos como exemplo as
reportagens “Christopher Nolan Diz Que Coringa Não Volta Tão Cedo aos Filmes do
Batman”; “Crítica: Príncipe da Pérsia: As Areias do Tempo”; “Crítica: Marmaduke”; “O
Império Contra-Ataca – 30 Anos”; “Comando Selvagem Aparecerá no Filme do Capitão
América”, entre outros.
48

Todos os títulos citados nas reportagens são gêneros da produção cinematográfica


estadunidense , com enfoque na produção em larga escala e manufaturados a partir de
critérios estéticos da produção cultural em massa, citados por MORIN, como a série Batman,
baseada em história em quadrinhos, com várias sequências gravadas.
Outro ponto a ser exposto é que não há cobertura literária no site. Em vez disto, há
uma quantidade de matérias sobre histórias em quadrinhos, uma manifestação cultural pop do
século XX. Podemos notar essa tendência com base nas matérias “Xampu: Lovely Losers e
The Sword”; “Confira um Preview da Nova Série Secret Avengers” e “Diretor de Esquadrão
Classe A se oferece para assumir Preacher”.
Matérias sobre vídeo games também representam uma grande parcela das inserções no
site, também exemplos de cânone pop na sociedade moderna.

Um dos poucos exemplos de diversificação no conteúdo foi revelado nas resenhas


“Xampu: Lovely Losers e The Sword”. A resenha em questão apresenta as duas séries de
histórias em quadrinhos alternativas, Xampu: Lovely Losers, no Brasil e The Sword, no
exterior. As duas publicações fazem parte de linhas menos populares de editoras; no entanto,
são elogiadas devido ao alto valor estético que possuem.
No quesito agendamento, o conteúdo do site se mostra extremamente ligado a eventos
da agenda cultural. Na maioria dos casos, as matérias são especulações sobre lançamentos
vindouros ou detalhes durante o processo de produção dos produtos culturais.
Um dos exemplos é a matéria “Diretor de Esquadrão Classe A se oferece para assumir
Preacher”, que fala sobre a saída do diretor Sam Mendes da direção do longa metragem
“Preacher” e das novas possibilidades de contratação para a vaga. A notícia vem da
repercursão de uma entrevista de Joe Carnahan ao site SuperheroHype, na qual ele admite que
aceitaria dar continuidade ao trabalho entretanto, nenhuma informação oficial foi divulgada.
Quanto ao uso de hipertextos e hipermídias, o site apresenta pontos positivos. Logo na
página inicial do site, o internauta tem acesso aos vídeos com traillers dos filmes resenhados
ou de fotos relacionadas aos assuntos das matérias. Um dos exemplos é a revista eletrônica
“Omelete #”, disponível em player na página do site, ou no youtube.
A revista também é um exemplo de interatividade no site, visto que os internautas
participam da gravação do programa por meio de mídias sociais da internet, e-mail, ou
comentários no site.
49

Ao final das matérias, os internautas dispõem de um espaço considerável para se


posicionar a respeito das mesmas, o que revela uma predisposição maior à interatividade no
site. Leitores também podem acompanhar e opinar sobre o trabalho do site em diversas mídias
sociais, como Facebook, Twitter e Orkut.

8.2.3 Matérias

No site Omelete também foram selecionadas cinco matérias aleatórias dos dias 23 de
abril, 22 de maio e 06 de junho. A análise não revelou nenhum conteúdo canônico que faça
referência à alta cultura. No entanto, quase todo o material analisado aborda, de alguma
forma, a cultura de massa.
Isto pode ser comprovado nas matérias “Michael Jackson Vira Tema do Cirque du
Soleil”; “Monstro do Pântano Pode Voltar a Fazer Parte do Universo DC”, e “Christopher
Nolan Diz Que Coringa Não Volta Tão Cedo aos Filmes do Batman”.
Na matéria “Michael Jackson Vira Tema do Cirque du Soleil” temos várias
representações de símbolos canônicos fortes da indústria cultural. O principal deles é o cantor
americano Michael Jackson, foco da matéria, e quem a mídia se refere frequentemente como
“O rei do pop”, portanto exemplificando um dos maiores representantes da cultura de massa
do nosso século, também podendo até ser considerado um “olimpiano” (MORIN, Edgar,
1999, p. 106), devido a toda especulação e polêmica envolvendo sua vida pessoal. Também
há menções à banda Beatles e ao cantor Elvis Presley, referências dos cânones musicais do
século XX.
A referência secundária seria a trupe circense canadense Cirque du Soleil, que
popularizou o gênero decadente desde a segunda metade do século XX. Os espetáculos
mambembes sem prestígio do circo foram transformados em superproduções com efeitos
especiais, também se enquadrando nos critérios de produto da cultura de massa, segundo
Morin.
Em “Christopher Nolan Diz Que Coringa Não Volta Tão Cedo aos Filmes do Batman”, o
texto tem enfoque na triologia hollywoodiana “Batman: A Origem”, oriunda da história em
quadrinhos de Bob Kane e Bill Finger. Ambas as manifestações culturais podem ser
classificadas como canônicas, pois são produções da indústria cultural pop. A matéria também
cita o ator Heath Ledger, falecido em 2008 e responsável pela interpretação do coringa no
segundo filme da trilogia, uma referência de astro de Hollywood.
50

O universo das histórias em quadrinhos é o tema da matéria “Monstro do Pântano Pode


Voltar a Fazer Parte do Universo DC”. Neste caso, o enfoque é dado ao fato de uma série da
linha alternativa da editora estadunidense DC Comics integrar o circuito mais popular das
publicações. Isso demonstra que, apesar de a linha de histórias em quadrinhos representar
uma parte menos popular da DC, o fato de se tornar um dos produtos desta linha a torna mais
canônica.
Na crítica “Alice no País das Maravilhas”, o editor Marcelo Hassel se posiciona
claramente a favor do trabalho do diretor inglês Tim Burton, mas faz duras críticas à releitura
do clássico de Lewis Carol, feita por Burton. A resenha elogia as imagens e fotografia do
filme, mas considera a adaptação da obra como fraca e recrimina as constantes versões feitas
por Burton, sempre com a mesma linguagem visual. Outro alvo da crítica de Hassel é o
excesso de material promocional do filme feito pela Disney. Ele chega a citar que Burton
“trabalhou por encomenda” para vender os produtos à luz de um filme medíocre.
Apesar de todo negativismo em torno do filme, a matéria ainda é uma abordagem à
temática canônica, por envolver como personagens diversos representantes da indústria de
entretenimento estadunidense, como a Disney e os estúdios de Hollywood. Além de trazer
como foco o diretor Tim Burton, que iniciou sua carreira cinematográfica no circuito
independente, mas aos poucos se tornou uma referência em Hollywood.
O exemplo de manifestação cultural diversificada e alternativa entre as matérias foi
encontrada na notícia “Documentário Sobre Funk Favela on Blast Estará Disponível Online”.
O texto traz o lançamento de uma película não ficcional sobre um dos gêneros musicais mais
marginalizados e criticados no Brasil: o funk. Apesar de destacar alguns artistas mais
expoentes do funk nacional e até internacional, a notícia se concentra no fato de que um
documentário independente poderá ser baixado e assistido pela internet. Isto revela uma
tendência à diversificação de temática, visto que a música é uma manifestação cultural dos
guetos e favelas do Rio, e refletem o comportamento de uma camada social que normalmente
não tem suas referências culturais divulgadas na mídia.
No quesito agendamento, todas as matérias analisadas mostraram uma intensa ligação
com a agenda de lançamentos culturais. No caso da crítica “Alice no País das Maravilhas”, a
resenha é publicada logo após a pré-estréia do filmes nos cinemas brasileiros e lançada no
centenário da obra de Lewis Carol. Mas, na maioria dos casos, as matérias antecipam os
lançamentos, como a exemplo da matéria “Christopher Nolan Diz Que Coringa Não Volta
51

Tão Cedo aos Filmes do Batman”, em que detalhes do filme são foco de especulação antes
mesmo de sua estréia em 2012. O mesmo se comprova nas reportagens “Monstro do Pântano
Pode Voltar a Fazer Parte do Universo DC”, “Michael Jackson Vira Tema do Cirque du
Soleil” e “Documentário Sobre Funk Favela on Blast Estará Disponível Online” (TEIXEIRA,
Nísio, 2002).
Todos as matérias e críticas possuem hipertextos com referências às obras e personagens
do texto. A matéria “Documentário Sobre Funk Favela on Blast Estará Disponível Online”,
apresentou hipermídias que permitiam acesso ao trailler do documentário, enriquecendo a
notícia (ALZAMORA, 2007).
52

9 CONCLUSÃO

Após a análise do conteúdo dos sites Omelete e Digestivo Cultural, foi constatado que
muito da cobertura jornalístico-cultural feita na internet ainda é canônica, contribuindo
pouquíssimo para a promoção da diversidade neste meio de comunicação. Embora muitas das
matérias critiquem a alta cultura ou a cultura pop, elas ainda representam a maior parte do
conteúdo publicado nos sites. Portanto, a polarização de gêneros no jornalismo ainda é
mantida no ciberespaço.
Apesar da possibilidade maior de diversificar o conteúdo, buscando manifestações
culturais diferenciadas, baseadas no valor estético das mesmas, os sites ainda optam pela
fidelidade à agenda da cobertura de jornalismo cultural de veículos impressos. Isso revela
uma dependência em um modelo editorial ultrapassado e falho, visto que devido à
globalização culturas estão mais propensas ao contato, formando muitas outras manifestações
culturais.
Portanto, o jornalismo cultural deve estar preparado para interpretar os novos
fenômenos culturais advindos da miscigenação causada pela cyber cultura.
Entretanto, a interação em tempo real entre os jornalistas e os internautas foi um fator
relevante a ser levado em conta na transformação do jornalismo cultural na internet em um
pluralizador de manifestações culturais.
No site Omelete, o espaço destinado à comentários, muitas vezes, possui o mesmo
número de caracteres das matérias publicadas. Já no site Digestivo Cultural, o formato
colaborativo influencia para que a linha editorial seja constantemente transformada, visto que
o conteúdo pode ser escrito por diversas pessoas de várias partes do mundo. Também pôde-se
notar o de um jornalismo cultural mais interpretativo, com diferentes abordagens aos temas
canônicos, representando uma possibilidade de transformação editorial do site, comparado ao
Omelete.
Isto revela que a interatividade no espaço cibernético aumenta a cada dia e pode, a
longo prazo provocar transformações no atual recorte editorial do jornalismo cultural online
que culmine na divulgação da diversidade cultural em detrimento do monopólio de cânones
na cobertura do jornalismo cultural online.
53

10 BIBLIOGRAFIAS

ALZAMORA, Geane. Do texto diferenciado ao hipertexto multimidiatico: perspectivas para o


jornalismo cultural. Galáxia – Texto selecionado pelo Instituto Itaú Cultural – Rumos
Jornalismo Cultural/Carteira Professor de Graduação,2007.

DINES, A. O papel do jornal, uma releitura. São Paulo: Summus Editorial, 1986.

DUARTE, João Ferreira. Cânone Ago. 2007.


Disponível em: <http://www.edicoesgil.com.br/educador/leitura.html>. Acesso em: 8
abr.2010.

FERRARI, Pollyana. Jornalismo Digital. São Paulo: Contexto, 2003. – (coleção


comunicação)

HALL, Stuart. Da Diáspora: Identidades e Mediações Culturais. Belo Horizonte: Editora


UFMG, 2003.

KOVACH & ROSENTIEL. Elementos do Jornalismo. São Paulo: Geração Editorial, 2003.

KUNZIC, Michael. Conceitos de Jornalismo: Norte e Sul: Manual de Comunicação. São


Paulo: Editora Universidade de São Paulo, 2001.

LARAIA, Roque de Barros. Cultura: Um Conceito Antropológico. Rio de Janeiro: Ed.


Jorge Zahar, 2004.

LOPES, Denilson. A delicadeza: Estética, experiência e paisagens. Brasília: Ed.


UnB/Finatec, 2007

MORIN, Edgar, Cultura de massas no século XX : neurose. Rio de Janeiro Ed. Forense
Universitária, 1999.

MOTTA, Luiz Gonzaga. Narratologia: análise da narrativa jornalística. Brasília: Casa das
Musas, 2004.

PIZA, Daniel. Jornalismo Cultural. São Paulo: Editora Contexto, 2003. – Coleção
Comunicação.
54

TEIXEIRA, Nísio. Impacto da Internet sobre a natureza do Jornalismo Cultural. Textos do


Grupo de Jornalismo On Line da PUC-MG: BeloHorizonte, 2002. Disponível no site
www.fca.pucminas.br/jornalismocultural. Acesso em 28 de outubro de 2004.

WOLF, Mauro, Teorias das Comunicações em Massa. São Paulo Ed. Martins Fontes, 2005.
55

11 ANEXOS

Anexo – I

Entrevista: Editores

1- Como você classificaria a cobertura realizada pelo Omelete?


2- Que conteúdos não entram no site?
3- Como vocês avaliam o impacto da informação nos internautas?
4- Quantos acessos diários o site recebe?
5- De onde vêm os acessos?
56

Anexos 2 - Omelete
57
58
59
60
61
62
63
64

Anexos – Digestivo Cultural


65
66
67
68
69
70

Você também pode gostar