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São Paulo
2023
ISABELLA ALCÂNTARA DO AMARAL
São Paulo
2023
FICHA CATALOGRÁFICA
Colégio Palavra Viva – Biblioteca Virtual
30 f.
BANCA EXAMINADORA
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Nome completo do componente da Banca com titulação
Colégio Palavra Viva ou Instituição à qual o Convidado faz parte
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Nome completo do componente da Banca com titulação
Colégio Palavra Viva ou Instituição à qual o Convidado faz parte
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Nome completo do componente da Banca com titulação
Colégio Palavra Viva ou Instituição à qual o Convidado faz parte
DEDICATÓRIA
A área jornalística havia me encantado ainda mais ao saber que o jornalismo e a escrita
fizeram parte de vocês, isso avivou meu interesse por essa área. Hoje e sempre
permanecerão influentes na minha vida, José Lau, e ti, Jane, eu desejo que descansem em
paz. Sou grata por serem os guias dessa minha travessia “ao [me] deitar e ao [me] levantar”
pois as palavras que me disseram estão no meu coração (Deuteronômio 6:7, 8). Eu os amo
infinitamente, e obrigada pela benção à mim derramada por ter o Luiz e a Karen, que me
instruíram e deram as ferramentas necessárias para a construção da minha estrada da vida, o
amor que sinto de tê-los como pais é indescritível. Ao Olavo de Carvalho, que também
descansa na paz do Senhor, pela sua percepção a respeito do mundo em que vivemos, esse
conhecimento que ele adquiriu e compartilhou foi muito precioso e me incentivou a buscar
entender o meio jornalístico.
AGRADECIMENTOS
Meu agradecimento primeiramente será aos meus pais, Luiz do Amaral e a Karen do Amaral,
pois sem eles eu nem mesmo chegaria a efetivar este artigo, agradeço também por tantas
oportunidades que me possibilitaram. À minha orientadora, Sabrina, pelas sábias e certeiras
instruções que foram fundamentais, como uma bússola para mim ao perder meu norte. À
todos os quais se disponibilizaram em debater sobre meu tema, amigos, colegas, professores,
para mim foram diálogos importantíssimos na construção da minha linha de raciocínio.
Agradeço pelo que esta análise me proporcionou, e todas as infindáveis dúvidas fomentadas a
partir desta escrita.
“Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e
corrupta formará um público tão vil como ela mesma.”
Joseph Pulitzer
SUMÁRIO
1. Introdução...................................................................................................................................................
2. Intuito do Jornalismo.................................................................................................................................
3. Concepção dos leitores................................................................................................................................
4. Posicionamento dos noticiários..................................................................................................................
5. Articulação dos fatos...................................................................................................................................
6. Think Tanks e o jornalismo.......................................................................................................................
6.1. Think Tanks no Brasil..........................................................................................................................
6.1.2. Atuação dos Think Tanks no jornalismo brasileiro..........................................................................
7. A “pluralidade” concentrada.....................................................................................................................
8. Considerações finais....................................................................................................................................
9. Referências...................................................................................................................................................
RESUMO
O objeto de estudo deste artigo é compreender como e porquê a falta de neutralidade afeta a
comunicação e a consequência disso em relativizar a verdade na realidade brasileira. Na
maioria das vezes, podemos afirmar que uma matéria opinativa quando disseminada entre a
população é capaz de ser uma arma pelo seu poder de manipulação e, mesmo que contenha
fatos as afirmações podem ser articuladas a fim de deturpar a verdade com finalidade de
defender ou acusar certa concepção. Desse modo que se é induzida a mente do leitor como
convém, a mídia o torna refém dos berros da maioria no que se é considerado correto.
ABSTRACT
DO AMARAL, Isabella. A veracidade e neutralidade jornalística. 2023. 30. Trabalho de
Conclusão de Curso - Colégio Palavra Viva, São Paulo, 2023.
The main point of this article is to comprehend how and why the lack of impartiality affects
communication and the relativization of truth in Brazilian reality. Most of the time it can be
assumed that an opinionated article when disseminated among the population is capable of
being a weapon due to its power of manipulation even though it presents facts, the
affirmations can be articulated to misstate the truth with the aim to defend or accuse one
conception. In this way the reader's mind is induced as appropriate to the media, so it makes
them become victims of the ecoes of the majority about what is judged as correct.
1. Introdução
O presente artigo tem como foco principal abordar a questão da falta de neutralidade
apontada por alguns grupos como O Globo, O Estadão, A Folha, em suma, a grande mídia
nacional, e a relativização da verdade nos noticiários da realidade brasileira. Sendo uma pauta
antiga, a neutralidade no meio jornalístico é debatida até hoje, chegando a um embate de duas
percepções, tal que uma defende a impossibilidade de alcançar a completa isenção da
parcialidade em razão do próprio jornal ser constituído por várias pessoas, as quais cada qual
carrega uma visão de mundo diferente, já o outro pensamento afirma que, apesar da formação
empírica do modo de pensar individual, é necessário buscar ao máximo transpassar a
informação de modo objetivo. Por conseguinte, sobre a pauta da neutralidade este artigo não
busca a discussão de se o Jornal deve ou não sê-lo, e sim analisar quando há falta de
parcialidade, como ela é apresentada e como afeta negativamente os leitores.
Posto isso, vale ressaltar que a imparcialidade relaciona-se com a verdade. Ao tratar
sobre a veracidade, a análise aqui feita é sobre como a verdade é manipulada a fim de
favorecer certa concepção. Isso ocorre quando, ao ler uma matéria tendenciosa, não significa
que sua totalidade seja mentirosa, isto é, ela aborda fatos, acontecimentos, que são articulados
de maneira a influenciar quem a lê em favor da defesa pretendida. Esse aspecto é
intensificado pela hegemonia da grande mídia, reforçando uma credibilidade para o leitor pela
replicação dessa fala em outros diversos jornais, consolidando-os.
Visando abordar a problemática dessa preponderância existente nos noticiários que se
apresenta de forma prejudicial, neste caso a imprensa já possui influência na sociedade, logo,
a junção de várias delas ao entorno de um propósito facilita a aceitação por parte dos leitores.
Portanto a mídia se autocoloca como guardiã da verdade, verdade do ponto de vista de quem?
Em razão disso, muitos dos leitores brasileiros que perceberam essa movimentação perderam
a confiança para com os jornais. Tal atitude torna-os suscetíveis à desinformação, como o
desconhecimento do quadro, quer nacional quer mundial, que afeta individualmente em mais
outros aspectos.
2. Intuito do Jornalismo
Inicialmente, é muito importante que se entenda o papel que o jornal possui na nossa
sociedade. Tendo isso em mente, a doutora Gisele Reginato pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul em sua pesquisa estudou sobre As finalidades do jornalismo: percepções de
veículos, jornalistas e leitores. Ela listou as 12 características principais, sendo elas
(REGINATO, 2018):
I. Informar de modo qualificado;
II. Investigar;
III. Verificar a veracidade das informações;
IV. Interpretar e analisar a realidade;
V. Fazer a mediação entre os fatos e o leitor;
VI. Selecionar o que é relevante;
VII. Registrar a história e construir memória;
VIII. Ajudar a entender o mundo contemporâneo;
IX. Integrar e mobilizar as pessoas;
X. Defender o cidadão;
XI. Fiscalizar o poder e fortalecer a democracia;
XII. Esclarecer o cidadão e apresentar a pluralidade da sociedade.
Retomando os pontos X e XI, compreende-se uma responsabilidade e o prestígio dessa
profissão, por levar em consideração o papel que o jornalista desempenha ao fazer conhecer,
ensinar, estar atento, protestar e velar, como Eça de Queiroz, então diretor do jornal português
O Distrito de Évora, em 1866 disse:
O grande dever do jornalismo é fazer conhecer o estado das coisas públicas, ensinar
ao povo os seus direitos e as garantias da sua segurança, estar atento às atitudes que
toma a política estrangeira, protestar com justa violência contra os actos culposos,
frouxos, velar contra actos nocivos, pelo poder interior da pátria, pela grandeza mo\
ral, intelectual e material em presença de outras nações, pelo progresso que fazem os
espíritos, pela conservação da justiça, pelo respeito do direito, da família, do
trabalho, pelo melhoramento das classes infelizes. (QUEIROZ apud PONTE, 2005,
p.178)
Fonte: https://reutersinstitute.politics.ox.ac.uk/digital-news-report/2022
“Um bom jornal tem como objetivo trazer notícias a seus leitores, com alguma
análise para esclarecer aspectos relevantes. Quem compra um jornal quer saber o
que aconteceu, de forma verdadeira, clara e isenta. [...]” – Leitor Folha.
“Parabéns à Folha. Acompanho suas páginas há pelo menos vinte anos e sempre
encontro informação útil e pontos de vista a serem analisados (mesmo que possam
ser discordantes dos meus)” – Leitor Folha.
“Como fazer em um dia em que parece não haver notícia? O Lauro [Jardim] inventa
uma e dane-se o compromisso com a verdade” – Leitor O Globo.
“Quero uma reportagem mais séria, de verdade, que apure de fato se houve ou não
esse problema de transmissão q estão falando q teve. Ligar nos responsáveis por
essas linhas, ir na cidade, usar contatos de jornalistas no local, viajar para lá,
conversar com os técnicos da transmissora, não sei, mas apurar a existência do fato.
Qd o jornalista afirma ‘conforme apurou’,quero saber como apurou” – Leitor Folha.
É importante ressaltar que “os jornais, frequentemente, têm o dever ético de dizer
coisas que podem não agradar aos seus leitores” (DI FRANCO, 2020) e que se assim o
fizesse, então o jornal perderia sua importante função de relatar os acontecimentos da
realidade. Entretanto é válido considerar alguns dos comentários negativos, os quais se nota
uma falha da mídia para com os leitores, tal falha precisa da devida atenção, que inclusive foi
notada também pelo jornalista Carlos Alberto Di Franco, colunista do Jornal “O Estado de
São Paulo”, que também escreve para O Globo, Gazeta do Povo, dentre outros jornais, disse:
Deve-se saber os discursos dos atores-chave no campo do jornalismo sobre como eles
percebem seu papel na sociedade atual e constar caso exista algum consenso ou padrão em
relação a essa percepção. Com esse propósito foi realizada a pesquisa doutoral de Adriana
Santiago, doutoranda e mestre pelo Programa de Comunicação e Culturas Contemporâneas
(Poscom), da Universidade Federal da Bahia (UFBA), com o tema Para que serve o
jornalismo? Um caminho para estudar as funções da instituição jornalística no Brasil, a qual
examina a fala de: entidades representativas profissionais (Associação Nacional de Jornais e a
Federação Nacional dos Jornalistas), entidades de estudo do jornalismo (Sociedade Brasileira
de Pesquisadores em Jornalismo e a Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da
Comunicação), organizações jornalísticas (Mídia impressa – O jornal Folha de São Paulo e o
jornal ‘Brasil de Fato’; Mídia Digital – O G1 e o Portal EBC; Mídia Radiofônica – Band
News e a Rádio Nacional de Brasília; Mídia Televisiva – TV Globo e a Rede TV Brasil) e
organizações de ensino (Pública - Universidade do Estado do Rio de Janeiro; Particular -
Universidade do Vale do Rio dos Sinos).
Nas instituições jornalísticas de cunho comercial há o comportamento de “arrebatar
para si a credibilidade institucional do ofício, como é o caso dos ‘Princípios editoriais das
Organizações Globo’ e a Missão pela Folha de S. Paulo.” E, nas que se autoclassificam como
‘independentes’ ou ‘de esquerda’ contendo as mesmas afirmações, sendo apenas proferidas
distintivamente.
Após a leitura e síntese dessa tese, a conclusão é de que há um consenso entre essas
entidades jornalísticas. Elas compartilham uma visão que se alinha ao conceito da "mitologia
profissional" no jornalismo, conforme mencionado por Neveu (2006) que envolve a ênfase na
busca pela imparcialidade, credibilidade, independência, objetividade e a crença de que o
jornalismo desempenha um papel fundamental na democracia. Esses princípios e valores são
amplamente aceitos e repetidos em todos os discursos analisados e em que cada um deles
foram selecionados palavras-chave, ou seja as expressões que se repetiram, apresentadas no
quadro abaixo:
Fonte: SANTIAGO, Adriana. Estratégias discursivas sobre o papel social do jornalismo.
Essa notável homogeneidade nos discursos revelada na pesquisa reflete uma visão
compartilhada sobre os princípios, valores e finalidades do jornalismo. Entretanto, uma
singularidade apontada é o caso da “função de educação” que não se notava presente nas
antigas definições e se mostrou com frequência nesses discursos. A respeito desse aspecto o
artigo fala:
Designar o papel de educar a ser do Jornal é um compromisso sério, uma vez que o
educador se torna responsável pelo desenvolvimento do educando, quer seja acadêmico quer
também pelo conhecimento adquirido “do mundo” que será o norte para as decisões do
mesmo. Com isso será formada a sociedade, tal que ela é construída a partir de ações
individuais, sendo posteriormente replicadas pelos indivíduos que a formam, ressaltando o
pensamento coletivo mais aceito. Entretanto, sempre hão de haver divergências, visto que não
existe uma completa hegemonia, mas no contexto atual podem ser divididas em duas parcelas,
uma de ideais direitistas e a outra esquerdistas, sendo essa a chave para o noticiário
posicionar-se a favor de uma e culpar a outra. Nesse caso o cidadão escolhe um noticiário que
o agrade por corresponder com as convicções dele, posto isto, o papel de ditar o que é bom-
senso, moral, ético ou detestável não deve ser interpretado pela mídia quando ela molda sua
fala para adequar-se ao receptor.
No fim, os defensores de seus ideais são vítimas da mídia, com ela sendo a qual
permite que o outro acuse, julgue o seu próximo, como se observa nas duas falas analisadas
no artigo O debate em torno das expressões “vamos fuzilar a petralhada” e “fogo nos
racistas” sob o prisma da moralidade e da comunicação. A partir da leitura da matéria,
justifica-se que o “vamos fuzilar a petralhada” aje por “ ‘incitar, publicamente, a prática de
crime’ (art. 286 do Código Penal)”, porém a maneira como a matéria justifica o “fogo nos
racistas” denota uma certa amenização por conta de que ser racista já é uma atitude
condenável, como citada a fala do escritor Jeferson Tenório “ ‘como não utilizar a frase ‘fogo
nos racistas’ quando estamos sob ataque permanente do racismo?’ ”. Rebater o ódio com ódio
estimula a continuação do ato/fala e acaba por cindir a sociedade. Ambos devem ser
considerados discursos indevidos, não tão somente pelo motivo óbvio de incitar violência,
como também por não conter credibilidade que sustente uma argumentação, não auxiliando na
formação de um debate construtivo capaz de mudar perspectivas. Em vista disso, a
responsabilidade convém ao indivíduo de permitir que a mídia atue como educadora sobre o
que é correto ou não.
I. Saiba quem é Telmário Mota, ex-senador investigado por mandar matar a mãe de sua
filha - Globo
II. Quem é Telmário Mota, ex-senador investigado pelo assassinato da mãe da própria
filha - CNN Brasil
III. Quem é Telmário Mota, ex-senador que é alvo de operação sobre assassinato da mãe
da própria filha - Estadão
IV. Ex-senador bolsonarista, que está foragido, é acusado de estuprar a própria filha - ICL
Esse molde do noticiário o qual aborda o que e como seria adequado ao tipo do seu
leitor pôde ser compreendido por conta das think tanks. Sumariamente, elas são organizações
institucionalizadas que buscam influenciar políticas públicas ou a opinião pública através da
produção de material científico (MEDEIROS, 2017). Para entender a utilização prática dela,
basta remeter à sua origem, que foi nos Estados Unidos da América durante a guerra, quando
se era discutido em salas secretas sobre como influenciar nas políticas públicas.
“no jargão militar eram como se chamavam as salas seguras secretas onde se
discutiam planos e estratégias militares durante a guerra” (TEIXEIRA, 2007 p. 106).
O termo passou a ser usado para referir as organizações que ofereciam consultoria
militar ao governo devido aos novos desafios estratégicos que surgiram após a
Segunda Guerra Mundial (TEIXEIRA, 2007). (MATTOS, 2015)
Membros dessas organizações [think tanks] conseguem ter acesso à mídia por meio
de diferentes estratégias, da apresentação da produção própria de estudos, [...] até a
produção de artigos para páginas de editoriais (Thunert, 2003, p. 237). Esses tipos de
iniciativa possibilitam aos think tanks influenciar a cobertura jornalística não só no
caso dos temas iniciados por eles, mas também que seus representantes se
estabeleçam como experts acessíveis, com uma alta qualidade comunicativa, que se
colocam à disposição para comentar uma série de temas, inclusive os que não foram
sugeridos por eles próprios. Dessa maneira, podem definir o enquadramento dos
temas de outras fontes. Think tanks dão um grande valor à sua presença na mídia e
investem tão maciçamente nessa tarefa (Soley, 1992; Thunert, 2003), que as suas
atividades principais são vistas nas consultorias políticas e midiáticas. (SPONHOLZ,
2009)
A primeira think tank a existir no Brasil foi após a Segunda Guerra Mundial, numa
iniciativa dos EUA de assegurar que eliminaria as correntes comunistas e garantir a circulação
do livre mercado, mantendo sua influência geopolítica. Com isso em mente, em 1959 foi
originado o Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD) e nos anos de 1961 o Instituto
de Pesquisa e Estudos Sociais (IPES) e 1983, o Instituto Liberal (IL). Eles tinham a finalidade
de inculcar nos cidadãos o sentimento de patriotismo, defender a família e advertir sobre o
comunismo.
O primeiro deles, o IBAD, surgiu com a iniciativa de militares e empresários com o
objetivo de se opor ao populismo de Juscelino Kubitschek e conter a influência da corrente
comunista no Brasil. E em 1961 O Globo anunciou a fundação do IPES que tinha “a principal
finalidade [de] elaborar estudos e atividades de natureza social e de benefício privado” que
era financiado pela companhia aérea Cruzeiro do Sul, pela Light, pelo O Globo, pelas Listas
Telefônicas, da Indústria e Comércio de Minérios S.A., pelo Açúcar União e pela Central
Intelligence Agency (CIA) no projeto político “Aliança para o Progresso” executado pelo
governo dos EUA durante a presidência de John F. Kennedy, pois eles tinham a premissa de
que as zonas mais empobrecidas da América Latina eram propícias à instauração do
comunismo, e no Brasil a principal região em alerta seria o Nordeste.
Foram extintos esses institutos, mas novos foram criados, como podemos citar em
atuação o Instituto Millenium (Imil) que declara defender a liberdade individual, a promoção
do livre mercado e do Estado Mínimo. O Millenium foi fundado em 2005, e dos seus co-
fundadores é possível citar alguns que desempenharam papéis relevantes durante o governo
de Fernando Henrique Cardoso, como Armínio Fraga, o ex-presidente do Banco Central;
empresários do setor de telecomunicações, como João Roberto Marinho, o Vice-Presidente
das Organizações Globo; além de economistas, como ex-ministro da Economia, Paulo
Guedes. Seus financiadores atuais são: a Editora Abril, O Estado de S. Paulo, Grupo RBS,
Abert, Universidade Estácio de Sá, Gerdau e Suzano, Porto Seguro Seguros, Bank of America
Merrill Lynch, e seus mantenedores sendo a Rede Globo e o Estadão (PONTES, 2022). O
objetivo do Instituto Millenium é se dedicar na atuação de publicar material na grande mídia,
como Veja, Estadão, Exame, Folha, Globo, dentre outros.
6.1.2. Atuação dos Think Tanks no jornalismo brasileiro
Ao fazer uma análise, mesmo que superficial, dos escritores de grandes meios de
comunicação como O Globo, O Estado de S. Paulo, A Folha, dentre outros, nota-se que há um
grande número de jornalistas que integram think tanks, em especial o Instituto Millenium. A
apuração foi realizada a partir da lista de especialistas que integram o Imil em comparação
com os colunistas de: O Globo, O Estado de S. Paulo e A Folha. Foram 5 (cinco) colunistas
que também fazem parte do Globo, com o Demétrio Magnoli que está ausente na lista do Imil;
no Estadão há 15 (quinze) colunistas que representam aproximadamente 20%; já A Folha
conta com apenas 2 (dois), incluindo Magnoli. É provável que a quantidade seja ainda maior
em razão do que ocorreu com o caso do jornalista Demétrio Magnoli, em que seus artigos são
publicados no Millenium e em outras imprensas, como A Gazeta do Povo e Exame, contudo
não faça parte do grupo dos especialistas. Abaixo estão os colunistas que atuam como
especialistas no Instituto Millenium:
I. O Globo: Fabio Giambiagi e Gustavo Franco e Roberto Damatta;
II. O Estado de São Paulo: Antonio Penteado Mendonça. Adriano Pires, Bolívar
Lamounier, Fabio Giambiagi, Gustavo H. B. Franco, Henrique Meirelles, Jorge
Caldeira, José Márcio Camargo, José Nêumanne, Luiz Felipe Davila, Nicolau da
Rocha Cavalcanti, Roberto Damatta, Rolf Kuntz, Rubens Barbosa e Simon
Schwartzman;
III. A Folha de São Paulo: Joel Pinheiro da Fonseca;
A partir da análise realizada, há quem afirme que: se uma grande parte dos jornalistas
integram um TT, no caso o Millenium como mais recorrente, portanto a posição ideológica do
Jornal é consoante aos valores do think tank o qual o jornalista faz parte pois permite a
publicação de tal matéria no seu veículo. Ademais, é válido recordar sobre quais são os
financiadores do think tank, porque não necessariamente O Globo ao financiar uma
organização não institucionalizada a produzir conteúdo científico que defende “valores
democráticos, economia de mercado e Estado de Direito”, que consequentemente os
princípios editoriais da Rede Globo sejam os mesmos. Aliás, ao levar em consideração o ano
de fundação do Instituto, 2005, e nos quatro anos seguintes, a Globo foi excepcionalmente
beneficiada pelas verbas concedidas pelo governo vigente, de Lula.
Fonte: https://www.brasilparalelo.com.br/noticias/globo-recebe-de-lula-4-vezes-mais-que-record-e-sbt-em-
propaganda
A Globo tem sido, ao longo das décadas, a emissora de TV brasileira de maior
audiência, fora sua intensa atuação no meio cinematográfico como o Gshow, tvglobo,
globoplay. Sendo uma poderosa influenciadora, e como é benéfico para ela estar ao lado de
quem a melhor bem pagou, essa será a sua inclinação.
A questão vai além da parcialidade, e sim não haver de fato publicação de ideias
divergentes. Ao consumir o material de think tank financiado pela própria, no fim, não haverá
uma diferença substancial.
7. A “pluralidade” concentrada
9. Referências
ALFAYA, I. Mãe PM reage a assalto em escola de filha, atira e prende suspeito. Disponível
em: <https://noticias.r7.com/sao-paulo/mae-pm-reage-a-assalto-em-escola-de-filha-atira-e-
prende-suspeito-29062022>. Acesso em: 23 out. 2023.
BLOTTA, Vitor. O debate em torno das expressões “vamos fuzilar a petralhada” e “fogo nos
racistas” sob o prisma da moralidade e da comunicação. Projor, 9 de ago. 2022. Disponível
em: <https://www.observatoriodaimprensa.com.br/liberdade-de-expressao/o-debate-em-torno-
das-expressoes-vamos-fuzilar-a-petralhada-e-fogo-nos-racistas-sob-o-prisma-da-moralidade-
e-da-comunicacao/>. Acesso em: 22 de set. de 2023.
BOURDIEU, Pierre. Contre-feux: propos pour servir à la résistance contre l’invasion néo-
libérale. 11e éd. Paris: Raisons d’Agir, 2004.
DI FRANCO, Carlos. Mídia: fatos versus militância. Gazeta do Povo, 07 de set. de 2020
Disponível em: <https://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/artigos/midia-fatos-versus-
militancia/>. Acesso em: 22 de set. de 2023.
GADELHA, I. PM que matou bandido em SP vai se filiar ao PR para disputar eleições deste
ano. Disponível em: <https://www.estadao.com.br/politica/pm-que-matou-bandido-em-sp-vai-
se-filiar-ao-pr-para-disputar-eleicoes-deste-ano/>. Acesso em: 24 set. 2023.
GUERRA, R. Quem é Telmário Mota, ex-senador que é alvo de operação sobre assassinato da
mãe da própria filha. Disponível em: <https://www.estadao.com.br/politica/quem-e-telmario-
mota-ex-senador-assassinato-mae-filha-operacao-policia-civil-roraima-nprp/>. Acesso em: 24
set. 2023b.
HAIDAR, S. P. Mãe PM que matou ladrão na porta de escola é homenageada por governador
de SP. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2018/05/mae-pm-que-
matou-ladrao-na-porta-de-escola-e-homenageada-por-governador-de-sp.shtml>. Acesso em:
24 set. 2023
LAGE, N. Conceitos de jornalismo e papéis sociais atribuídos aos jornalistas. Pauta Geral:
Estudos em Jornalismo, Ponta Grossa, v.1, n.1, p.20-25, 2013.
MATTOS, Fernando Preusser de. Fundações Partidárias e Think Tanks no Brasil: uma
proposta de análise. In: SEMINÁRIO NACIONAL DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA, 6,
2015, Curitiba. Anais... Curitiba: UFPR, 2015. Disponível em:
<http://www.edemocracia.com.br/sociologia/anais_2015/pdf/AMSH.pdf>. Acesso em: 22 set.
2023.
RODRIGUES, C. Saiba quem é Telmário Mota, ex-senador investigado por mandar matar a
mãe de sua filha. Disponível em: <https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/2023/10/30/quem-
e-telmario-mota-ex-senador-de-roraima-alvo-da-policia-por-mandar-matar-mae-da-propria-
filha.ghtml>. Acesso em: 24 set. 2023.
SANTIAGO, Adriana. Para que serve o jornalismo? Um caminho para estudar as funções da
instituição jornalística no Brasil. SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em
Jornalismo 12º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo Santa Cruz do Sul –
UNISC, 2014.