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FACULDADE 7 DE SETEMBRO

COMUNICAÇÃO SOCIAL COM HABILIDADE


EM PUBLICIDADE E PROPAGANDA

CAROLINA MARIA NASCIMENTO DOS SANTOS

A INFLUÊNCIA DA CULTURA POP NIPÔNICA NO INTERESSE PELO


APRENDIZADO DA LÍNGUA JAPONESA EM FORTALEZA

FORTALEZA
2016
CAROLINA MARIA NASCIMENTO DOS SANTOS

A INFLUÊNCIA DA CULTURA POP NIPÔNICA NO INTERESSE PELO


APRENDIZADO DA LÍNGUA JAPONESA EM FORTALEZA

Monografia apresentada à Faculdade 7 de


Setembro como requisito parcial para obtenção
do título de Bacharel em Publicidade e
Propaganda.

Orientadora: Prof. Ms. Renata Monastirscy


Gauche.

FORTALEZA
2016
CAROLINA MARIA NASCIMENTO DOS SANTOS

A INFLUÊNCIA DA CULTURA POP NIPÔNICA NO INTERESSE PELO


APRENDIZADO DA LÍNGUA JAPONESA EM FORTALEZA

Monografia apresentada à Faculdade 7 de


Setembro como requisito parcial para obtenção
do título de Bacharel em Publicidade e
Propaganda.

_________________________________________________
Carolina Maria Nascimento dos Santos

Aprovada em: ___/___/______.

_________________________________________________
Prof. Ms. Renata Monastirscy Gauche (Orientador)
Faculdade 7 de Setembro – FA7

_________________________________________________
Prof. Ms. Leonilia Gabriela Bandeira de Souza (Examinador)
Faculdade 7 de Setembro – FA7

_________________________________________________
Prof. Ms. Raimundo Bezerra Lima Junior (Examinador)
Faculdade 7 de Setembro – FA7

_________________________________________________
Prof. Ms. Dilson Alexandre Mendonça Bruno
Faculdade 7 de Setembro – FA7
Coordenador do Curso
Dedico esta monografia a todos os
apaixonados pela cultura japonesa. Às pessoas
que me apoiaram neste processo. E também
àqueles que, no futuro, darão continuidade a
este estudo.
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por ter me dado o dom da vida e me guiado neste
caminho.
À minha orientadora, Renata Gauche, por manter meu desespero controlado e por
todas as suas boas instruções para a construção desta monografia.
Aos alunos e profissionais que doaram seu tempo e compartilharam suas experiências
de vida, sem os quais eu não poderia apresentar o presente estudo.
À minha mãe, Adele, pela paciência e suporte na realização deste trabalho.
Ao meu pai, Adilson, por ter me apoiado financeira e emocionalmente, para que eu
pudesse concluir este curso.
Às minhas irmãs, Ana Clara e Juliana, pelo companheirismo e por terem me ajudado
nos momentos difíceis.
Ao meu noivo, Willian, que mesmo distante se manteve presente, incentivando-me a
dar o melhor de mim.
Às minhas parceiras e amigas de faculdade, Flávia e Beatriz, por terem dividido
angústias, medos e felicidades, o que tornou este processo mais tranquilo.
Enfim, meu ―muito obrigada‖ a todos que fizeram parte, direta ou indiretamente, deste
momento importante da minha formação profissional.
―A qualidade mais importante de um ninja não
é o número de jutsus que ele domina; o mais
importante é a coragem de nunca desistir‖
(Jiraya, Animê Naruto).
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 − Famílias por fazenda ......................................................................................... 15

Figura 2 − Ozamu Tezuka .................................................................................................. 21

Figura 3 − Mangá ―Ashita no Joe‖...................................................................................... 22

Figura 4 − ―Kimba, o Leão Branco‖.................................................................................. 23

Figura 5 − Cosplayers no SANA .........................................................................................27

Figura 6 − Número de Escolas e alunos por região ............................................................ 41


LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 − Média de Idade entre os Entrevistados.......................................................... 45

Gráfico 2 − Motivação que levaram os alunos a aprender japonês.....................................47


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AMV Anime Music Video


DVD Digital Versatile Disc
FCNB Fundação Cultural Nipônica Brasileira
JBC Japan Brazil Communication
J-POP Japanese Popular Music
NLE Núcleo de Línguas Estrangeiras
OSK Osaka Shosen Lines
RPG Role Player Game
SANA Super Amostra Nacional de Animês
UECE Universidade Estadual do Ceará
UNIFOR Universidade de Fortaleza
USP Universidade de São Paulo
VHS Video Home System
RESUMO

Este trabalho discorre sobre a influência da cultura pop nipônica relacionada ao interesse de
se aprender a língua japonesa em Fortaleza. Investigaram-se os principais fatores
determinantes dessa interculturalidade, como: a imigração japonesa no Brasil; a história dos
mangás e animês até a sua chegada ao nosso país; o significado da palavra ―otaku‖ e como
são os otakus de Fortaleza, bem como essa cultura se comporta dentro da semiosfera. Além do
que foi explorado, pesquisou-se de que maneira ocorre e quais as consequências do contato de
uma cultura com a outra, em especial da cultura nipônica e da brasileira. Para tanto, este
estudo utilizou ferramentas metodológicas qualitativas e quantitativas de pesquisa, através de
revisão bibliográfica, levantamentos estatísticos e entrevistas semiestruturadas. A coleta de
dados foi realizasa a partir de visitas a duas instituições de línguas estrangeiras em Fortaleza,
onde foram elaboradas 11 entrevistas com alunos e profissionais da área. A análise das
entrevistas demonstrou que a imigração japonesa no Brasil foi relevante, sendo uma das
condições para que a cultura japonesa se propagasse e se tornasse parte da cultura brasileira.
Efetivamente, o que motivou a grande maioria dos alunos a ingressar no curso de japonês foi
a sua admiração pela cultura pop japonesa e por seus produtos de consumo em massa. O
contato com a cultura japonesa fez com que os alunos explorassem novas experiências,
conhecessem um mundo novo e, a partir disso, modificassem o seu jeito de ser, pensar e agir.

Palavras-chave: Interculturalidade. Cultura pop japonesa. Semiótica da cultura. Cultura de


massa. Indústria cultural.
ABSTRACT

This survey analyses the influence of the Japanese pop culture on the interest of learning
Japanese language in Fortaleza –Ceará – Brazil. It was investigated the relevant factors which
are determinants to that inter-culturality, such as: Japanese immigration in Brazil, the history
of ―mangas‖ and ―animes‖ until their coming to our country, the meaning of the word
―otaku‖, how are the Fortaleza ―otakus‖ and how the culture behave within the semi-osphere.
Besides, it was explored how and which consequences of the contact with two different
cultures, specially Japanese and Brazilian cultures. This study have used qualitative and
quantitative methodologies of survey, through bibliographic revision, statistics and semi-
structured interviews. The gather of data was made through visits at two foreign languages
schools in Fortaleza – Ceará – Brazil, where it was made eleven interviews with students and
professionals. The analysis of those interviews demonstrated that the Japanese immigration in
Brazil was relevant, being one of the conditions to the propagation of the Japanese culture and
becoming part of the Brazilian culture. Effectively, what motivated the bulk of the students to
choose Japanese language course was their appreciation for the Japanese pop culture and for
their mass products. The contact with the Japanese culture stimulated students to explore new
experiences, knowing a new world and changing their way of life, way of thinking and acting.

Key words: Inter-culturality. Japanese pop culture. Semiotics of culture. Mass Culture.
Cultural industry.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 12
2 A CULTURA POP JAPONESA E SUA CHEGADA AO BRASIL ................... 14
2.1 O primeiro contato dos Brasileiros com a Cultura Nipônica …….......…….…….... 14
2.2 A Cultura Pop Japonesa no Brasil ……………......................................................... 20
2.3 Os ―Otakus‖ em Fortaleza ......................................................................................... 25
3 CULTURA, SEMIÓTICA E INTERCULTURALIDADE ................................. 28
3.1 Entendendo os conceitos de Cultura, Cultura Pop e Indústria Cultural: Um
caminho para a Cultura Pop Japonesa na perspectiva da Semiótica da Cultura ....... 28
3.2 O diálogo entre Culturas através da perspectiva da Semiótica ................................. 33
3.3 Mestiçagem, Hibridação e Interculturalidade: Contextos de um mundo
Globalizado ............................................................................................................... 36
4 ANÁLISE DA INFLUÊNCIA E RESSIGNIFICAÇÃO DA CULTURA
JAPONESA EM FORTALEZA ………….....………........................................... 40
4.1 As Escolas de Língua Japonesa no Brasil ……….....……...……….…………….... 40
4.2 Análises das Entrevistas ………….....……………....…..…………………………. 44
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 52
REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 54
APÊNDICE I - TRANSCRIÇÃO DAS ENTREVISTAS .................................... 59
12

1 INTRODUÇÃO

A cultura japonesa, de certa forma, já está presente e incorporada à cultura brasileira.


Percebemos isso na culinária, nos animês (desenhos animados japoneses), dramas (novelas
japonesas), mangás (histórias em quadrinhos japonesas), jogos e músicas japonesas que são
apreciadas e consumidas de forma rotineira pelos brasileiros.
Em consequência desse fenômeno, em Fortaleza ocorre, duas vezes ao ano, o evento
cultural ―SANA Fest‖, que reúne animações japonesas, espaços dedicados à cultura pop,
coreana e japonesa, dança, estandes, videogames retrôs e de última geração, cosplays e
músicas dos mais diversos estilos. Segundo uma publicação do jornal ―O Povo Online‖, em
2014 o SANA reuniu cerca de 35 mil pessoas em dois dias de evento.
Outro dado relevante é o crescimento do número de escolas de língua japonesa no
Brasil. Somente em 2012, a partir de pesquisas levantadas pela Fundação Japão1, o território
brasileiro possuía cerca de 325 escolas voltadas para o ensino da língua nipônica, número que
só vem aumentando com o passar dos anos.
Com base nas constatações apresentadas, o presente trabalho tem como propósito
identificar quais influências culturais, motivações e interesses levaram os Fortalezenses a
aprender a língua japonesa. O mesmo foi estruturado em três capítulos: o primeiro aborda o
tema cultura pop japonesa e sua chegada ao Brasil; o segundo trata da cultura, da semiótica e
da interculturalidade, na ótica de vários autores; e o último apresenta a análise dos dados
coletados, tendo como foco a influência da cultura japonesa em Fortaleza.
Pretendemos investigar até que ponto a imigração japonesa no Brasil foi fator para a
propagação da cultura japonesa no país; analisar a história dos mangás e animês até a sua
chegada no Brasil; refletir sobre o significado da palavra ―otaku‖ e como são os otakus de
Fortaleza; entender como a cultura se comporta dentro da semiosfera, a fim de determinar
suas influências no comportamento humano; explorar de que maneira e quais as
consequências do contato de uma cultura com a outra; e compreender de que forma a
interculturalidade e o diálogo cultural foram determinantes nesse processo.
Para tanto, esta investigação utilizará ferramentas metodológicas qualitativas e
quantitativas de pesquisa, através de revisão de literatura, levantamentos estatísticos e
entrevistas semiestruturadas. A coleta de dados se realizará a partir de visitas a duas
instituições de línguas estrangeiras em Fortaleza, sendo uma estadual e outra particular.

1
Organização com vínculo ao Ministério das Relações Exteriores do Japão, fundada em 1972, tendo como
objetivo estabelecer o intercâmbio cultural entre o Japão e outros países (Fonte: http://fjsp.org.br/institucional/).
13

Para a fundamentação teórica deste trabalho, podemos citar, como principais autores:
Nestor Garcia Canclini, Roque de Barros Laraia, Irene Machado, Iuri M. Lotman, Edgar
Morin, entre outros.
Como aluna de Publicidade e Propaganda, entender esses conceitos no campo prático
é uma possibilidade enriquecedora e fundamental na construção de habilidades necessárias
para a formação profissional. Um olhar crítico sobre os fenômenos da cultura em nossa
sociedade constrói janelas de novos saberes.
14

2 A CULTURA POP JAPONESA E SUA CHEGADA AO BRASIL

2.1 O primeiro contato dos brasileiros com a cultura Nipônica

A fim de compreender como a cultura nipônica influenciou os fortalezenses a aprender


a língua japonesa, devemos, inicialmente, analisar quando e como foi o primeiro contato dos
brasileiros com a cultura oriental e o processo que se desenvolveu até que esse fenômeno
chegasse à capital cearense. Para tal fim, uma análise da imigração japonesa no Brasil é
extremamente importante, para que este trabalho tenha fundamentação, coerência e amplitude.
Segundo Luyten (2014), o brasileiro já tinha o costume de ler revistas japonesas
trazidas pelos imigrantes, sendo o pioneiro no consumo de mangás desde a década de 1960.

A Folha On-line publicou um artigo, em 15/01/2008, que considera o Brasil


pioneiro, no ocidente, no consumo de quadrinhos japoneses. Segundo a
repórter Dayanne Mikevis, os imigrantes que para cá vieram nos anos 50
trouxeram também seus mangás, de modo que mantinham seus hábitos de
leitura e preservavam, de certo modo, a língua (RODRIGUES, 2008, p. 4).

Portanto, a imigração japonesa para o Brasil foi um dos fatores que contribuiu para a
propagação da cultura pop japonesa no país. Em 1992, a Sociedade Brasileira de Cultura
Japonesa2 (Beunkyo) publicou o livro ―Uma Epopéia Moderna - 80 anos da imigração
japonesa no Brasil‖, discorrendo sobre a abertura da imigração no Japão até a participação dos
japoneses em nossa cultura, religião, comércio, etc. É a partir desse livro que iniciaremos
nosso diálogo teórico e nos aprofundaremos nesse assunto.
Somente na década de 1880, os japoneses entraram para a história da imigração e
deixaram suas terras, sendo um dos fatores de incentivo a abertura dos portos para o comércio
internacional, em 1854, quebrando o seu isolamento com mundo ocidental. Quando se
instaurou a Era Meiji, em 1868, 42 pessoas emigraram para a ilha de Guam, localizada no
Pacífico, e 148 para o Havaí, trabalhando em plantações de arroz ou canaviais. Desde o
começo da Era Meiji até a II Guerra Mundial, o número de emigrantes nipônicos foi de
1.013.000 (KENNEDY; OKASAKI, 1992).
No Brasil, foi graças à abertura dos portos e à concessão de terras a estrangeiros, em
1808, que se iniciou a chegada de imigrantes no país. E em 5 de novembro de 1895, foi

2
Organização fundada em 1955, responsável por organizar eventos anuais, receber autoridades e administrar
instalações culturais voltadas para a cultura japonesa (Fonte: http://www.bunkyo.org.br/pt-BR/quem-somos).
15

assinado, em Paris, o Tratado de Amizade, Comércio e Navegação entre o Brasil e o Japão, o


que deu o start à chegada de japoneses em solo brasileiro (KENNEDY; OKASAKI, 1992).
No dia 18 de junho de 1908, segundo Kiyotani e Yamashiro (1992), o navio a vapor
Kasato-Maru desembarcou no Porto de Santos com 781 imigrantes japoneses, inaugurando
assim a relação Brasil-Japão, que perdura até hoje. No dia seguinte, os japoneses partiram de
trem para São Paulo, onde ficaram alojados na ―Hospedaria de Imigrantes‖, assinaram
contratos de trabalho e foram encaminhados para fazendas no interior do estado.
A tabela abaixo representa o número de japoneses por fazenda:

Figura 1 - Famílias por fazenda

Fonte: Kiyotani e Yamashiro (1992, p. 64).

Não há relatos sobre as primeiras impressões desses imigrantes ao chegarem ao Brasil;


porém, segundo Kiyotani e Yamashiro (1992), J. Amândio Sobral, inspetor da Secretaria de
Agricultura, escreveu um extenso artigo no Correio Paulistano do dia 26 de junho de 1908,
sobre os costumes, hábitos, nível de escolaridade, e como foram os dias desses estrangeiros na
―Hospedaria de Imigrantes‖ em São Paulo. Percebe-se que ele ressalta o quão asseados,
organizados, respeitosos, dóceis e sociáveis os recém-chegados eram e afirma que seriam
ótimos trabalhadores aqui no Brasil. Conforme percebemos no fragmento abaixo:

Depois de estarem uma hora no salão do refeitório, tiveram de abandoná-lo, para


saberem quais eram as suas camas e os quartos, e surpreendeu a todos o estado de
limpeza absoluta em que ficou o salão: nem uma ponta de cigarro, nem um cuspo,
perfeito contraste com as cuspinheiras repugnantes e pontas de cigarro esmagadas
com os pés dos outros imigrantes. Si esta gente, que é toda de trabalho, for neste o
que é no asseio, (nunca veio pela imigração gente tão asseada), na ordem e na
docilidade, a riqueza paulista terá no japonez um elemento de produção que nada
deixará a desejar (KIYOTANI; YAMASHIRO, 1992, p. 67-68).
16

Porém, ao iniciarem o trabalho no Brasil, os imigrantes japoneses enfrentaram


dificuldades que possivelmente não esperavam, e que arruinaram sua esperança de ganhar um
bom salário para retornar ao país natal com uma estabilidade financeira. Dentre essas,
podemos mencionar que a safra do café não foi muito próspera na época e as condições de
trabalho, alimentação, hospedagem deixavam a desejar. Além da dificuldade com a língua,
muitos foram iludidos no Japão com propagandas de que este país era próspero e cheio de
riquezas e belezas. Em consequência, muitos acabaram fugindo das fazendas, organizando
revoltas ou acumulando dívidas (KIYOTANI; YAMASHIRO, 1992). Dentre os motivos para
o descontentamento dos imigrantes, podemos citar os principais:

1.°) Más condições de habitação e alimentação, que os imigrantes não podiam


sequer imaginar.
2.°) Dificuldade de entendimento entre os imigrantes e a administração da fazenda,
por causa da barreira da língua e da total diferença de usos e costumes.
3.°) Cafeeiros velhos, de reduzida produtividade, redundavam em colheita escassa e
rendimento muito abaixo do prometido aos imigrantes pelos agentes de emigração.
4.°) Demolição do complexo de superioridade de imigrantes. Desinformados sobre a
realidade brasileira e, ao serem atirados num ambiente de péssimas condições de
vida, esse sentimento feneceu diante das tremendas dificuldades (Eles se julgavam
súditos de uma potência de primeira categoria, depois das vitórias do Japão nas
guerras contra a China (1894-95) e contra a Rússia (1904-5)).
5.°) Soma-se a tudo isso o descontentamento em relação à companhia de emigração,
que os iludira com falsa propaganda sobre a facilidade de ganhar dinheiro no Brasil
(KIYOTANI; YAMASHIRO, 1992, p. 70).

Segundo Daigo (2008), os imigrantes dormiam em folhas secas colocadas diretamente


em terra batida e não havia banheiros nem dentro nem fora das casas. Os alimentos podiam
ser comprados fiado, o que gerou, posteriormente, uma grande dívida aos japoneses. Kiyotani
e Yamashiro (1992) ressaltam que, como as mulheres demoraram um tempo para aprender
como preparar corretamente os alimentos brasileiros, e devido à grande diferença entre as
culinárias, houve uma subnutrição generalizada e até a morte de crianças.
Em setembro de 1909, de acordo com Kiyotani e Yamashiro (1992), o intérprete
oficial da Legação, Ryoji Noda, visitou as fazendas de café a fim de analisar a situação dos
imigrantes e avaliar a quantidade de fugas dos mesmos. Ele chegou aos seguintes números: 1)
Trabalhavam em outras fazendas do Estado de São Paulo, 40; 2) Encontravam-se na cidade de
São Paulo, 102; 3) Cidade de Santos, 110; 4) Trabalhadores na construção da E. F. Noroeste
do Brasil, 120; 5) Residentes nos Estados do Rio e de Minas, 38; 6) Reemigraram para a
Argentina, 160; 7) Falecidos, 6.
Não obstante as adversidades iniciais, experiências desagradáveis, atritos e
dificuldades, a imigração não decresceu, pois os agentes envolvidos nesse processo
17

implementaram melhorias, no que diz respeito ao aumento da fixação de imigrantes nas


fazendas e a redução de conflitos e incidentes. Isso que foi essencial para que ocorresse a
chegada do segundo vapor vindo do Japão para o nosso país, o Ryojun-Maru, em 28 de junho
de 1910, com 906 imigrantes (KIYOTANI; YAMASHIRO, 1992).

Embora defrontando-se com muitos problemas, a imigração japonesa no Brasil


segue marcha ascensional, até o auge de sua expansão. Segundo Hatten-shi, várias
vezes mencionado, em 14 anos, de 1926 a 1940, o número de imigrantes nipônicos
que chegaram ao Brasil alcançou a cifra de 132.729 pessoas, representando mais do
que o triplo dos 41.269 imigrantes nos 18 anos anteriores (KIYOTANI;
YAMASHIRO, 1992, p. 77).

As experiências negativas do início da imigração suscitaram no povo japonês a


vontade de conquistar uma independência econômica. Como não seria fácil voltar à terra
natal, assim como lhes foi prometido, eles empregaram cada vez mais esforços no
aprendizado sobre a nossa agricultura, manejo do solo e práticas de cultivo. Muitos
imigrantes, com o desejo de deixar a condição de empregados, passaram a juntar dinheiro
para comprar seu próprio terreno e assim administrar um negócio próprio. Muitos deles
ganhavam pequenos pedaços de terra que ainda não tinham sido explorados pelos colonos, a
fim de cultivar e, com essa verba, comprar a própria terra (KIYOTANI; YAMASHIRO,
1992).

Seja como for, as informações disponíveis indicam que três anos depois da chegada
do Kasato-Maru já havia imigrantes com dinheiro suficiente para comprar terras.
Provavelmente, o pagamento das terras teria sido feito em suaves prestações, como
iria acontecer, anos depois, nas zonas interioranas. Ou, ainda, como se tratava de
terras de uma colônia federal, é possível até que elas fossem cedidas gratuitamente
aos imigrantes (KIYOTANI; YAMASHIRO, 1992, p. 79).

Além de se aventurarem no setor agrícola, muitos imigrantes japoneses começaram a


vida profissional como autônomos, abrindo um botequim, virando vendedores ambulantes,
abrindo armazéns ou até mesmo hotéis e pensões. O que começou com uma pequena loja, deu
origem à Rua Conde, sinônimo de ―Bairro japonês‖, que atualmente sofreu ampliação para o
bairro da Liberdade em São Paulo. Nos primeiros anos da década de 1910, formaram-se os
núcleos coloniais japoneses em diversas localizações brasileiras (KIYOTANI;
YAMASHIRO, 1992).
Conforme Daigo (2008), como a maioria dos imigrantes ainda não tinha um bom
conhecimento da língua portuguesa e muito menos das burocracias envolvidas na compra de
terras, nomeava-se um líder conhecedor da língua e dos entraves da lei, que comprava uma
18

leva de terras que era dividida em lotes, para que fossem comprados pelos interessados.
Surgiu, dessa forma, a primeira colônia japonesa chamada de Hirano, fundada por Unpei
Hirano.
Com a chegada do segundo navio de imigrantes ao Brasil (Ryojun-Maru), graças a
negociações feitas pelo representante do Sindicato Tóquio Ikutaro Aoyagui, o governo do
Estado de São Paulo concedeu, gratuitamente, 50.000 hectares de terras no município de
Iguape para a construção de uma colônia japonesa (DAIGO, 2008).

Haviam entrado, até então, cerca de 4.500 imigrantes no Brasil, a bordo dos vapores
Kasato Maru, Ryojun Maru, Itsukushima Maru e Kanagawa Maru, este último da
Toyo Shokumin Kaisha (Empresa de Colonização Toyo). A maioria se decidiu pela
viagem levada por falácias do tipo ―É possível regressar para o Japão em poucos
anos, após ganhar muito dinheiro‖; não havia então quem comungasse dos ideais de
Aoyagui, ou seja, ―colonização‖ e ―residência permanente‖ no Brasil (DAIGO,
2008, p. 19).

Depois da criação da colônia Hirano, na década de 1920, os japoneses começaram a


desbravar as matas virgens em ritmo acelerado, principalmente ao longo da Estrada de Ferro
Noroeste do Brasil, que percorria o centro do Estado de São Paulo até o Mato Grosso. Dessa
forma, diversas colônias foram se formando nas proximidades das estações e se estendendo,
ainda, pela Alta Paulista, Mato Grosso, norte do Paraná e Minas Gerais. Formaram-se
também, nessas colônias, associações japonesas, grupos de jovens, bem como atividades nos
setores de esporte, cultura e educação. A partir daí, de 1929 até 1937, já se somavam 2.100
japoneses no Pará, na cidade de Acará (atual Tomé-Açu) (DAIGO, 2008).

Em 1925, o agrônomo Serizawa solicitou uma carta de apresentação ao então


Embaixador Tashichi Tatsuke, permitindo-o conhecer a Amazônia. Esta permissão
provocou a mensagem do então Governador do Pará, Bentes, simpático ao Japão, ao
Embaixador Tatsuke, afirmando que havia uma disposição do governo do Estado em
ceder terras em quantidades ilimitadas para trazer os imigrantes japoneses para
alavancar o progresso da Amazônia (DAIGO, 2008, p. 25-26).

Em paralelo ao avanço das colônias japonesas, em setembro 1914, ano que aconteceu
a Primeira Guerra Mundial, foi aberto o Consulado Geral do Japão em São Paulo, inaugurou-
se a rota regular de vapores da Osaka Shosen Lines (O.S.K.) para a América do Sul e os
imigrantes passaram a criar bases para viver na cidade de São Paulo. Além disso, ocorreu a
concentração de empresas de capital japonês e seus escritórios (DAIGO, 2008).

Nessa época começaram a ser constituídas as bases para a vida dos imigrantes na
cidade de São Paulo, como a abertura da escola Taisho Shogakko, do Nippon Club,
o lançamento do periódico Nambei Jihô. Assim que foi inaugurado, o Clube de
19

Esportes Mikado realizou jogos amistosos de baseball, o primeiro contra o time de


americanos, funcionários da empresa Light & Powers. Hotéis foram abertos para
hospedar japoneses, e começaram a surgir restaurantes com comidas típicas,
simultaneamente ao início da fabricação de shovu (molho de soja) e tofu (queijo de
soja), bases da dieta japonesa (DAIGO, 2008, p. 28).

Durante a Segunda Guerra Mundial, conforme Daigo (2008), em julho de 1941 houve
um decreto que proibiu a circulação de jornais na língua japonesa, o que fez com que a
maioria dos japoneses ficasse sem informações sobre o que ocorria no resto do mundo. Em
janeiro de 1942, o Brasil rompeu suas relações com os países do eixo, acarretando o
fechamento de consulados e repartições diplomáticas no país.
Somente após um ano do término da guerra, vários jornais japoneses foram fundados
para que as pessoas tivessem mais informações, e os imigrantes que aqui ficaram, na sua
grande maioria, decidiram por morar permanentemente no Brasil (DAIGO, 2008).

Os imigrantes japoneses que chegaram no período anterior à guerra tomaram a


grande decisão de aqui permanecer em caráter definitivo, interessando-se ainda mais
pela educação dos filhos. Com isso, a ascensão social dos japoneses e seus
descendentes começou a ocorrer em ritmo acelerado. Mas, por outro lado,
circulavam diversos comentários no sentido de que a assimilação se fazia numa
velocidade tal que não havia tempo de transmitir a cultura e os valores próprios aos
descendentes (DAIGO, 2008, pg. 34).

De acordo com Daigo (2008), em 1953, uma nova leva de imigrantes chegou ao
Brasil, sendo 51 yobiyose (chamados por particulares) e 54 imigrantes da quota Tsuji; e em
1955, a Cooperativa Agrícola de Cotia recebeu permissão para trazer 1.500 jovens imigrantes.
Mas foi somente em 1962 que aconteceu a ratificação do Acordo de Imigração pelos governos
brasileiro e japonês.
Nesse mesmo período, o governo brasileiro adotou a política de incentivo à vinda de
empresas estrangeiras ao país, o que aumentou o número de empresas japonesas no Brasil,
reflexo do bom relacionamento entre esses dois países, que perdura até hoje. O ano de 2008,
ano do centenário da imigração japonesa no país, foi o ano que marcou a importância, em
aspectos culturais e econômicos, desse relacionamento, sendo considerado o Ano de
Intercâmbio Brasil-Japão (DAIGO, 2008).
Daigo (2008) descreve que, atualmente, podemos perceber que os brasileiros se
interessam bastante pela cultura japonesa, sendo identificada na culinária, nos mangás, nos
animês, etc. Essa cultura nos encantou e encanta até hoje, sendo ela um dos fatores que
desperta o interesse do brasileiro a aprender a língua japonesa.
20

2.2 A cultura pop japonesa no Brasil

A imigração pode ser considerada o fator determinante para o sucesso e propagação


dessa cultura? Como a cultura pop japonesa chegou ao Brasil? Quando e como o brasileiro
passou a consumir os mangás e animês? Para responder a essas perguntas, devemos analisar a
história dos mangás e animês até sua chegada ao Brasil.
A cultura pop japonesa, de acordo com Carlos (2010), é formada pelo conjunto de
produtos midiáticos com origem no Japão e, dentre eles, podemos citar: o mangá, o animê, a
música japonesa, etc.
Nagado (2011) menciona que mangá é a palavra que define os desenhos em
quadrinhos japoneses. Porém, nem sempre ela teve esse significado. Por volta do século XIX,
essa palavra foi usada pelo artista Katsushika Hokusai para denominar desenhos engraçados, e
podia ser traduzida para ―desenho divertido‖.
O grande nome dos quadrinhos japoneses é o de Osamu Tezuka que, segundo Luyten
(2014), foi quem deu o primeiro passo para a caracterização do traço nos quadrinhos,
deixando uma marca registrada que o diferenciou dos estilos dos outros países. Osamu
Tezuka nasceu em 1928 e faleceu em 1989, e foi considerado o ―Deus do Mangá‖ devido à
grande revolução que ele promoveu (NAGADO, 2011).

O ―Deus do Mangá‖, Osamu Tezuka, sempre foi fã de cinema e ávido leitor


de culturas diversas, e um grande apaixonado por animação (sempre admirou
os desenhos da Disney). Apesar de influências norte-americanas, ele adaptou
aos desenhos japoneses características e qualidades originalmente
reconhecidas do estilo de desenho nipônico, atribuiu aos personagens corpos
magros, cabelos pontudos e olhos enormes, com cores vivas e contrastantes,
em histórias de grande conteúdo dramático (CARVALHO, 2007, p. 17).

O que caracteriza esses desenhos japoneses sãos os aspectos marcantes e exagerados,


como os olhos grandes, expressivos e bem definidos, cabelos pontudos, coloridos, com laços
e fitas. Também são utilizados traços para expressar sentimentos, como uma gota na testa ou
quando o rosto fica corado significando vergonha, etc. (BARATA, 2009).
Conforme Junior e Silva (2007), alguns diferenciais dessa arte oriental são: os
personagens com seus olhos grandes e redondos, a utilização de uma narrativa
cinematográfica, com detalhamento quadro a quadro, e o fato de a história seguir uma
sequência temporal e mais próxima da realidade, onde o personagem nasce, passa por sua
infância, adolescência, vida adulta e depois morre.
21

Para Ozamu Tezuka, desenhar mangá não significava somente entreter, mas sim
expressar em seus roteiros todos os sentimentos humanos, como a dor, a alegria, a tristeza, o
amor, a raiva, etc. Não é surpresa para ninguém que Tezuka se tornou um dos mais completos
artistas desse meio, oferecendo através dos mangás e animês uma grande variedade de temas
e personagens que são apreciados até hoje (LUYTEN, 2014).

Figura 2 - Ozamu Tezuka

Fonte: Uol Jogos Fórum3

Tezuka conquistou o público com suas técnicas de narração cinematográfica e marcou


o mundo dos mangás e animês, com grandes sucessos como: Kimba, o Leão Branco (1950);
O Mundo Perdido, O Monstro do Mundo Subterrâneo (1948) e Astro Boy (1952)
(CARVALHO apud SATO, 2007).
O mangá estava tão enraizado na cultura popular japonesa que passava a desempenhar
o papel de agente transformador da sociedade, motivando e influenciando a autoestima da
mesma. Um exemplo disso é o mangá ―Ashita no Joe‖ (Joe do Amanhã) que foi publicado
entre 1968 e 1973, escrito por Asao Takamori (Ikki Kajiwara) e desenhado por Tetsuya
Chiba. ―Ashita no Joe‖ conta a história de um jovem encrenqueiro que sai de uma origem
humilde e passa por diversas provações e superações para se tornar um dos mais conhecidos
boxeadores do mundo. Essa história serviu de inspiração para diversos jovens menos
favorecidos na época e virou personagem folclórico, servindo como exemplo de superação até
os dias de hoje (NAGADO, 2011).

3
Disponível em: <http://forum.jogos.uol.com.br/comecei-uma-quest-de-ler-todos-os-mangas-do-osamu-
tezuka_t_3405696>. Acesso em: nov. 2016.
22

Figura 3 - Mangá ―Ashita no Joe‖

Fonte: TV Tropes4

Carvalho (2007) afirma que, assim como o mangá, o animê é um dos principais
veículos de divulgação da cultura japonesa no mundo. A palavra animê significa ―animação‖,
podendo ser uma adaptação animada de um mangá. O ―Deus do Mangá‖, Ozamu Tezuka,
também marcou o início da era dos animês, juntamente com o sucesso da série ―Tetsuwan
Atomu‖ (Astro Boy).
Em 1950, foi criado por Osamu Tezuka, o mangá de ―Kimba, o Leão Branco‖ e
posteriormente, em 1965-66, esse se tornou um animê visto em vários países. No Brasil, foi
exibido na TV Tupi (canal 4) entre 1970 e 1975. Na história de Kimba, um pequeno leão
branco passa por diversas aventuras com seus amigos e aprende muitas lições de vida para se
tornar o Rei da Selva (NAGADO, 2011).
Quando o filme ―O Rei Leão‖ foi lançado pela Disney, em 1994, suas semelhanças
com a criação de Tezuka chamaram a atenção dos japoneses na época. Uma petição foi
assinada por mais de mil profissionais de animê e mangá exigindo que a Disney reconhecesse
que o seu longa foi inspirado em ―Kimba, o Leão Branco‖. Porém, a companhia de mídia
americana alegou que nenhum de seus profissionais teve contato com a produção japonesa e,
apesar de toda repercussão, nada aconteceu. Nos dias atuais, a negociação dos direitos de
veiculação de um animê no Brasil e no mundo requer longas reuniões empresariais, o que não
existia há alguns anos atrás (NAGADO, 2011).

4
Disponível em: <http://tvtropes.org/pmwiki/pmwiki.php/Manga/AshitaNoJoe>. Acesso em: set. 2016.
23

Figura 4 - ―Kimba, o Leão Branco‖

Fonte: Madman Entertainment5

A chegada dos animês no Brasil ocorreu a partir da década de 1960, com o live-action
(filmagem com atores) National Kid e outras 08 séries japonesas. A partir dos anos de 1970,
a quantidade de títulos aumentou para 24, sendo 17 animês como: ―Ultramen‖, ―Speed Racer‖
e ―A Princesa e o Cavalheiro‖. Na década seguinte, esse número já estava em 38, sendo 22
animês. Como reflexo disso, a Record exibiu várias produções audiovisuais nipônicas nos
anos 90, como: ―A Fuga de King Kong‖ (1967), ―King Kong versus Godzilla‖ (1962) e
―Latitude Zero‖ (1969) (CARLOS, 2010).
A década de 1990 marcou a história com a exibição de ―Cavaleiros do Zodíaco‖
(1994), ―Yu Yu Hakusho‖ (1997), ―Sailor Moon‖ (1996), ―Super Campeões‖ (1994),
―Guerreiras Mágicas de Rayearth‖ (1994) e ―Dragon Ball‖ (1996), com um total de 38
produções, sendo 32 animês. Foram 33 animês que fizeram história entre 2000 e 2001, entre
eles: ―Sakura Card Captors‖, ―Samurai X‖, ―Dragon Ball Z‖ e ―Pokémon‖ (CARLOS, 2010).
O animê ―Cavaleiros do Zodíaco‖ foi exibido pela primeira vez na TV Manchete, em
1994, marcando o sucesso de uma história envolvente com base na cultura mitológica. O
animê “Pokémon‖ foi sucesso em mais de 50 países e até hoje pode ser considerado o maior
fenômeno da cultura pop japonesa no mundo. Nesse contexto, podemos dizer que os mangás
e animês sofrem adaptações, conforme a época, e são canais de comunicação entre crianças,
jovens e adultos (CARVALHO apud SATO, 2007).

5
Disponível em: <https://www.madman.com.au/actions/wallpapers.do?method=browse&videogramId=2628>.
Acesso em: set. 2016.
24

Foram os animês que proporcionaram a grande divulgação dos mangás ao redor do


mundo e no Brasil. Durante a década de 70, as principais obras de Osamu Tesuka (A princesa
e o Cavaleiro, Astro Boy e Kimba, o Leão Branco) já faziam sucesso nas televisões brasileiras
e ele já possuía uma legião de fãs mesmo antes de chegar ao Brasil, em 1984 (LUYTEN,
2014).
Foi no fim dos anos 90, com uma explosão no consumo de animês e mangás nos
Estados Unidos e Europa, que o Brasil acrescentou o segmento mangá no mercado, após o
sucesso de desenhos como: Cavaleiros do Zodíaco (1994), Pokémon (2000), Dragon Ball
(1996) e Samurai X (2000) (RODRIGUES, 2008).

A partir de 2000, começaria a verdadeira avalanche dos mangás com a publicação


de Dragon Ball e Cavaleiros do Zodíaco. Em 2001, mais quatro títulos foram
lançados pela Japan Brazil Communication (JBC): Samurai X, Sakura Card Captors,
Guerreiras Mágicas de Rayearth e Vídeo Girl Ai. A partir daqui, só aumentou o
volume de histórias nipônicas nas bancas e livrarias. Hoje podem ser encontrados
cerca de 200 títulos de mangás publicados pelas editoras JBC, Corand, Panini e
NewPop, as principais do ramo (CARLOS, 2010, p.3).

Atualmente, segundo Carlos (2010), com a internet, muitos brasileiros podem baixar
ou acessar, de modo on-line, os produtos da cultura pop japonesa, de forma rápida e acessível,
aumentando a disseminação e a divulgação dos mesmos no Brasil.
A partir do momento em que se difunde o consumo em massa6 de produtos culturais
japoneses em diversos países, acontece também o processo de exportação do termo ―otaku‖.
Esse termo surgiu no Japão, em 1983, na revista Manga Burikko, na qual o colunista Akio
Nakamori usou o termo para nomear os jovens que tinham dificuldades em se relacionar
socialmente e preferiam ficar trancado em casa consumindo mangás, animês, etc.
(TRAVANCAS, 2015).
O termo chegou ao Brasil e em outros países com um significado diferente do que se
originou no Japão. Aqui, ser otaku significa apreciar e consumir os produtos culturais
japoneses e interagir com pessoas do mesmo grupo de interesse. Muitas vezes, essa interação
ocorre em eventos de animê por todo o país (TRAVANCAS, 2015).

A manifestação mais palpável dessa tribo urbana acontece nos eventos de animê,
convenções que oferecem atividades relacionadas à cultura pop japonesa, como
palestras de dubladores, quizzes temáticos, shows musicais, concursos de cosplay
(fantasia de personagens), exibições de animês e estandes de lojistas. Há também
toda uma gama de atividades não ligadas diretamente ao Japão, como torneios de

6
A cultura de massa é aquela que é produzida a partir das normas da produção industrial, se destinando à uma
grande massa social por meio da difusão maciça (MORIN, 2002).
25

RPGs, música pop coreana, videogames e lutas com espada de espuma. Todos esses
diferentes subgrupos convivem no mesmo evento, em constante negociação de
espaço físico e simbólico, evidenciando o caráter híbrido das práticas otakus,
resultantes da natureza difusa e cambiante do tribalismo pós-moderno. Essa tensão
de heterogeneidades, longe de abalar o convívio da tribo, promove a diversidade que
solidifica o conjunto (TRAVANCAS apud MAFFESOLI, 2015, p. 7).

Segundo Barata (2009), os otakus brasileiros são aqueles que assistem a animês, leem
e compram mangás, colecionam itens, compram acessórios e roupas relacionados a essa
cultura, participam de eventos e escutam músicas japonesas.
Dentro do grupo de otakus brasileiros, ainda encontramos subgrupos, como: os
cosplayers, aqueles que se vestem e se caracterizam de personagens de animês, mangás, jogos
e filmes. E também os gamers, que são adeptos aos jogos japoneses (BARATA, 2009).
Uma boa parte dos cosplayers se transforma em personagens por sentirem uma
identificação pessoal pelo mesmo, seja na personalidade ou no físico. É uma preparação
minuciosa, árdua e fidedigna. Não é somente um vestir-se do personagem, mas uma
interpretação do mesmo, onde o otaku se torna o objeto de admiração (JUNIOR; SILVA,
2007).
Para Travancas (2015), o fã da cultura pop japonesa só se torna um verdadeiro otaku
quando ele interage e se relaciona com o seu ―grupo de interesse‖. Sendo assim, sua
manifestação mais concreta ocorre nos eventos de animê em todo o país. Mas como são os
otakus de Fortaleza?

2.3 Os “otakus” em Fortaleza

Siqueira (2009) afirma que o otaku de Fortaleza sentiu a necessidade de se encontrar


com outros fãs da cultura japonesa, com o intuito de conversar sobre as produções nipônicas
que estavam sendo transmitidas na televisão e vender, emprestar ou trocar mangás e fitas em
VHS com animês.
A primeira reunião desse grupo aconteceu no fim de 1996, no bairro Dionísio Torres,
no Colégio Santo Inácio e, posteriormente, com o aumento do número de participantes, o
encontro passou a ser realizado na Praça Portugal. Essas reuniões na Praça Portugal ocorriam,
na época, aos sábados à tarde, e duraram mais de 11 anos. Foi a partir desses encontros que
surgiram os eventos de animê na cidade (SIQUEIRA, 2009).
Em Fortaleza, ocorre o evento SANA (Super Amostra Nacional de Animês), sendo o
maior evento do ramo no Nordeste, reunindo milhares de otakus todo o ano. O que começou
26

com uma reunião de amigos para assistir a animês, ler mangás e conversar sobre esses
assuntos, virou um evento de grande porte que ocorre duas vezes ao ano, durante 03 ou 02
dias (BARATA, 2009).
O evento teve sua primeira edição em dezembro de 2001 e foi produzido pelo grupo
―Otaku no Vídeo‖, no auditório da biblioteca da Universidade de Fortaleza (UNIFOR),
quando o evento ainda era conhecido como Super Amostra Nordestina de Animês. Logo, no
ano seguinte, nos dias 20 e 27 de julho, um público de aproximadamente 700 fãs passou a se
reunir no Teatro Celina Queiroz (UNIFOR). Em agosto de 2003, o evento já era realizado no
Centro de Convenções e reuniu, em dois dias, 3.000 pessoas. A partir daí, o número de otakus
só aumentou (SIQUEIRA, 2009).
Com o crescente número de participantes, o projeto ganhou notoriedade e visibilidade
na sociedade, tornando-se cada vez mais sério, o que fez com que em 2006, segundo Barata
(2009) a FCNB (Fundação Cultural Nipônica Brasileira) passasse a organizar o evento,
gerando mais credibilidade e possibilidades.
Atualmente, o evento ocorre no Centro de Eventos do Ceará, reunindo milhares de
apaixonados pela cultura japonesa. Só no ano de 2014, em dois dias o evento reuniu 35 mil
pessoas (O POVO, 2016).
Segundo Siqueira (2009), é nesse evento que ocorre o ápice da sociabilidade do otaku,
onde eles se reencontram e fazem novas amizades, compartilham de um mesmo interesse, e é
nesse espaço que ocorre a ressignificação da cultura japonesa, através das roupas, culinária e
costumes.

Encontramos crianças, jovens e adultos fazendo parte desse grupo, seja por
interesses nostálgicos de rever animês, personagens de muitos anos atrás, seja os
mais jovens que curtem também os desenhos mais clássicos ou por interesse pelos
mais recentes. O evento e essa cultura atraem uma diversidade de pessoas que vêm
crescendo a cada ano que passa. Vão surgindo cada vez mais tipos de produtos para
satisfazer as necessidades e desejos desses consumidores (BARATA, 2009, p. 50).

O SANA conta com diversas atividades, como: apresentações de artes marciais,


exibição de Clips musicais de animês (AMV‘s), concursos de cosplay, concurso de k-pop
(cultura pop coreana), estandes, salas temáticas, karaokê, shows com artistas internacionais e
nacionais, bate-papo com youtubers e dubladores, entre outras (PORTAL SANA, 2016).
27

Figura 5 - Cosplayers no SANA

Fonte: Papo Cult7

Segundo Travancas (2015), como a cultura japonesa proporciona um leque de opções,


o otaku brasileiro passa a não só consumir animês e mangás, mas a se apropriar dessa cultura.
Muitos deles começam a se interessar por aprender japonês, fazer artes marciais ou até mesmo
viajar para o Japão. Mas como acontece esse movimento e ressignificação da cultura para que
esse processo ocorra?

7
Disponível em: <http://www.papocult.com.br/2015/07/13/vem-ai-o-sana-2015/>. Acesso em: set. 2016.
28

3 CULTURA, SEMIÓTICA E INTERCULTURALIDADE

3.1 Entendendo os conceitos de cultura, cultura pop e indústria cultural: um caminho


para a cultura pop japonesa na perspectiva da semiótica da cultura

Antes de iniciarmos a análise das entrevistas com os alunos do Curso de Japonês da


UECE e do Instituto Poliglota, feitas a fim de investigar as motivações e interesses dos
mesmos para entrar no curso, devemos aprofundar o significado de cultura e suas influências
na sociedade e nos indivíduos que a compõem. Posteriormente, traçaremos um paralelo dos
conceitos mencionados, até a atuação da cultura pop japonesa no interesse de aprender a
língua. Também refletiremos de que forma o movimento da cultura se desenvolveu, a ponto
de influenciar a vida dos fortalezenses.
Laraia (2009), em seu livro ―Cultura, um conceito antropológico‖, declara que o
conceito de ―Cultura‖ foi definido, pela primeira vez, em 1871, pelo antropólogo britânico
Edward Tylor, que utilizou o termo Culture para dar significado a todo o complexo que inclui
conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos
adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade.
Posteriormente, o antropólogo americano Alfred Kroeber, em 1917, ampliou o
conceito de cultura, levantando os seguintes pontos:

1. A cultura, mais do que herança genética, determina o comportamento do


homem e justifica as suas realizações.
2. O homem age de acordo com seus padrões culturais. Os seus instintos foram
parcialmente anulados pelo longo processo evolutivo por que passou.
3. A cultura é o meio de adaptação aos diferentes ambientes ecológicos. Em
vez de modificar, para isto o seu aparato biológico, o homem modifica o seu
equipamento superorgânico.
4. Em decorrência da afirmação anterior, o homem foi capaz de romper as
barreiras das diferenças ambientais e transformar toda a terra em seu hábitat
(LARAIA, 2009, p. 48).

Na linha dos conceitos antropológicos, de acordo com Chauí (2008), podemos definir
a Cultura em três importantes significações: como criação simbólica da lei; como criação de
uma ordem simbólica da linguagem e das realidades consideradas humanas; e como o
conjunto de práticas, comportamentos, ações e instituições através das quais os seres humanos
concretizam relacionamentos entre si e com a Natureza, e diferenciando-se da mesma por
meio de ações transformadoras.
Traçando um paralelo com os conceitos citados, podemos refletir que é a partir do
29

momento em que o homem tem a capacidade de produzir símbolos que ele passa a se
diferenciar dos outros animais. Os símbolos são aqueles que dão significado aos objetos,
produtos e manifestações culturais. Todo o comportamento do homem tem origem nos
símbolos e toda cultura depende deles, sendo o exercício de simbolização o criador da cultura
e o responsável pela sua propagação (LARAIA, 2009).
Nesse sentido, a partir do olhar do antropólogo argentino Canclini (2007), podemos
pensar o significado de cultura definido primeiramente em dois pontos: o primeiro, com o
conceito de que cultura seria o acúmulo de conhecimentos e aptidões do homem; e o segundo,
em que o significado de cultura se encontrava no confronto entre natureza-cultura e
sociedade-cultura.
O mesmo autor, quando confronta natureza com cultura, conclui que cultura seria tudo
aquilo criado pelo homem e por todos os homens, o que também determinou que toda
sociedade possui cultura. Já o confronto entre sociedade e cultura mostrou que, dentro de uma
sociedade, existem relações de sentido e significação que organizam a vida social. E seria esse
mundo de significações que constitui a cultura. Dessa forma, ―a cultura abarca o conjunto de
processos sociais de produção, circulação e consumo da significação da vida social‖
(CANCLINI, 2007, p. 41).
Fazendo uma reflexão sobre esses conceitos, percebemos que a definição de cultura
exige uma compreensão ampla e complexa. Ademais, como a cultura é algo em constante e
dinâmica transformação, o seu entendimento também requer um estudo contínuo e profundo.
Num contexto de um mundo globalizado, vivemos num planeta onde a produção do
entretenimento se equivale à produção industrial, no fato de que geramos uma grande
quantidade de produções artísticas culturais, a fim de atender à grande demanda existente e
fomentar a economia de mercado. É nesse sentido que, ao falar de indústria do
entretenimento, não podemos deixar de refletir sobre o conceito de Indústria Cultural,
fundado na década de 40 pela Escola de Frankfurt (CAMPOS, 2006).
A Escola de Frankfurt estabeleceu suas bases teóricas em Marx, Freud e Nietzsche,
pensadores que revolucionaram os estudos sobre a sociedade, o homem e a cultura. Os
intelectuais que faziam parte dessa escola estavam ligados a múltiplas áreas do conhecimento,
como: artes, literatura, filosofia, sociologia, etc., compreendendo, dessa forma, uma gama de
assuntos e áreas do saber. Dentre os vários assuntos discutidos nessa escola, abordou-se a
necessidade de estudar os meios de comunicação e também a influência da mídia e da cultura
de mercado na sociedade contemporânea (MOGENDORFF, 2012).
30

De acordo com Mogendorff (2012), um dos frutos da transição do século XIX para o
século XX, onde ocorreu um momento de transformação socioeconômica, foi a indústria
cultural. Foi ela que transformou a cultura em um bem de consumo e deu origem a processos
como a massificação, em diversos setores da sociedade.
Não podemos falar de indústria cultural, cultura de massa e meios de comunicação de
massa em um período anterior à Revolução Industrial. Foi nessa época que a economia de
mercado passou a ser baseada no consumo de bens, quando a mão-de-obra rural migrou para a
cidade, a fim de trabalhar nas fábricas, onde existiam a exploração do trabalhador e a divisão
do trabalho, e onde surgia uma sociedade de consumo em meio a uma sociedade capitalista
liberal, culminando no fenômeno da industrialização (COELHO, 1993).
O pensamento frankfurtiano estuda os meios de comunicação de massa e define que,
na indústria cultural, os bens produzidos pelo homem são apropriados pelo capitalismo para
dominar o espaço social e, assim, transformar a arte em mercadoria (CAMPOS apud
FREITAG, 2006).
Conforme Coelho (1993), duas características desse processo industrial merecem
destaque: a coisificação e a alienação. Para esta sociedade, o modelo de maior valor é o bem,
o produto. Dessa forma, tudo se transforma em coisa, inclusive o próprio homem. E,
consequentemente, esse homem seria alienado ao trabalho, ao produto de seu trabalho, à sua
própria vida. Vemos, nesse quadro, a cultura se transformando em algo perecível, feita a partir
de processos industriais e em série, para o consumo em massa.
Para Theodor W. Adorno e Max Horkheimer, dois pensadores da Escola de Frankfurt,
na Indústria Cultural a arte é distribuída pelos veículos de comunicação de massa e, dessa
forma, servia para manipular o homem e acabar com o seu pensamento crítico. Para eles,
diferente do termo ―cultura de massa‖, que seria a cultura espontânea produzida pelas massas
de forma natural, a indústria cultural era a produção da cultura como produto para ampliar o
ramo mercadológico (MARTINS; TOMAZ, 2012).
Em outras palavras, a produção cultural e intelectual passa a ser guiada pelo consumo
e, assim, as produções artísticas seguem padrões e técnicas para alcançar o lucro e a venda em
grande escala. Como consequência, vemos as obras de arte, as ideias e as próprias pessoas
sendo transformadas em produtos de consumo. Existe uma inversão no processo de produção
artística, no qual se cria o produto para impulsionar a necessidade de consumo do mesmo,
quebrando o que antes era consequência de uma manifestação natural de uma sociedade ou
sujeito (RÜDIGER, 2001).
31

Em contrapartida com os pensamentos de Adorno e Horkheimer, o francês Edgar


Morin também analisa a questão da Indústria Cultural e suas consequências. Para ele, foi o
avanço da tecnologia que despertou o interesse capitalista na cultura. E foi graças a essa
massificação dos produtos culturais que foi possível alcançar uma grande quantidade de
pessoas que antes nem sempre eram atingidas. Dessa forma, ao mesmo tempo em que os
produtos culturais passam pelo processo de coisificação, foi através da indústria cultural que
de fato as pessoas passaram a ter acesso a esses produtos, numa democratização cultural
(MARTINS; TOMAZ apud MORIN, 2012).

Segundo o teórico Edgar Morin, o interesse capitalista é encontrado com o avanço


da tecnologia na cultura, priorizando o lucro recolhido com grande número de
adeptos cinematográficos. ―O vento que assim se arrasta em direção à cultura é o
vento do lucro capitalista. É para e pelo lucro que se desenvolvem as novas artes
técnicas‖ (MARTINS; TOMAZ apud MORIN, 2012, p. 2).

Enquanto os pensadores da Escola de Frankfurt, segundo Martins e Tomaz (2012),


utilizam o termo ―cultura de massa‖ como a cultura espontânea produzida pela massa, o autor
Edgar Morin (2002) utiliza o termo como sinônimo de ―indústria cultural‖, definindo cultura
de massa como aquela que é produzida a partir das normas da produção industrial, se
destinando a uma grande massa social por meio da difusão maciça.
Apesar de reconhecer os pontos negativos da Indústria Cultural, Morin também
desenvolveu a ideia de que a cultura de massa é uma cultura de lazer, onde o trabalhador, em
seu período de folga, utilizava o seu tempo para se distrair e esquecer seus problemas,
consumindo algo criado para entretê-lo (SARMENTO, 2006).
Podemos pensar, então, que Morin também reconhecia os pontos positivos da cultura
de massa, enquanto os intelectuais frankfurtianos se preocupavam em criticar a maneira como
essa cultura alienava e transformava os bens culturais e artísticos em produtos de consumo.
Outro tema importante para essa tese é a definição de cultura pop e sua diferença com
o conceito de cultura popular. A cultura pop é o fenômeno de produção de ícones e
referências através da mídia de forma industrial, ou seja, ela está relacionada diretamente com
o consumo; enquanto que cultura popular é aquela transmitida pelo próprio povo,
principalmente através da oralidade, estando relacionada com as tradições, os mitos e a
preservação da identidade nacional e local (BRITO; GUSHIKEN, 2011).
Segundo Khumthukthit (2010), cultura pop é a cultura do povo na sociedade moderna,
sendo um produto cultural destinado ao público de massas. Diferente da cultura de massa, na
qual os produtos culturais são consumidos pela população de forma massiva, a cultura popular
32

engloba algo que tem grande identificação popular e permanece na memória comum,
tornando-se referência naquela sociedade.
A ascensão da cultura pop aconteceu juntamente com o progresso da industrialização,
desde o século XVIII, na Europa Ocidental. A partir do momento em que se formou uma
sociedade industrial, todos os bens e produtos culturais e de lazer passaram a ser produzidos
em grande escala, seguindo o modelo de produção de massa, para atender cada vez mais
pessoas. E foi a partir do século XIX, nos Estados Unidos, que surgiram novos gêneros da
cultura pop dentro dos meios de comunicação de massa, como o jornal, a fotografia, o cinema,
as revistas ilustradas e as novelas, dando o pontapé inicial para o que conhecemos nos dias de
hoje (KHUMTHUKTHIT, 2010).

O pop americano – literalmente tudo, da música às histórias em quadrinhos, do


cinema aos enlatados para a TV, da produção em massa ao consumo de massa –
tornou-se presença comum em lares distantes da América. Quase nenhuma nação
ocidental no Pós-Guerra ficou imune a esta influência. E no Oriente a situação não
foi muito diferente (KHUMTHUKTHIT apud SATO, 2010, p. 70).

Foi sob a influência dos Estados Unidos que o Japão passou por uma modernização e
industrialização de seus produtos culturais após a Segunda Guerra Mundial. As raízes de sua
cultura pop nasceram da importação de quadrinhos e animações vindos do exterior. Mas
apesar de todas as influências culturais vindas de fora, o Japão criou seus próprios ídolos,
utilizando o processo de consumo de massa americano para criar um produto único e
culturalmente japonês (KHUMTHUKTHIT, 2010).
O cenário pós-guerra, segundo Khumthukthit (2010), foi alavanca para o mercado do
entretenimento japonês, pois o público pressionava e ansiava por produtos culturais que
pudessem alimentar suas esperanças e divertir seu espírito. O que fez com que surgisse um
gigantesco e voraz mercado do entretenimento, que atualmente é exportado e apreciado em
todos os cantos do planeta.

No Japão, desde a era do pós-guerra, a cultura pop do próprio país tem sido um
sucesso comercial. Porém, hoje em dia, a cultura pop do Japão não só continua a
evoluir e florescer no seu interior; ela também atrai um amplo séquito no exterior,
dando ao Japão um novo impacto cultural no mundo, que complementa o seu
impacto econômico já estabelecido (KHUMTHUKTHIT, 2010, p. 70).

Foi a partir da década de 1960 que se desenvolveram, no Japão, ferramentas como a


mídia de massa e a produção de massa e, em 1997, surgiu a necessidade, devido à Crise
Asiática, de mudar a forma como a cultura pop japonesa era vista, fazendo com que o país se
33

voltasse para o exterior e seus produtos culturais se tornassem produtos de exportação


(KHUMTHUKTHIT, 2010).
Por conseguinte, de acordo com Khumthukthit (2010), surgiu uma crescente onda de
interesse no mundo pela cultura japonesa, tendo como setores mais atraentes o cinema, a
moda, o animê, o mangá, os videogames e os brinquedos eletrônicos. Porém, a diferença em
relação aos valores, tradições, gostos e suas histórias de superação, paciência e perseverança,
também foram características observadas e apreciadas pelos consumidores ocidentais.
Assim, a cultura pop japonesa se apropriou dos moldes industriais americanos para
criar algo original e inovador. É a partir desse fenômeno cultural que podemos refletir sobre o
processo de apropriação, recriação e ressignificação da cultura e também a possibilidade de
seus produtos viajarem e serem apreciados em vários cantos do mundo. Entender como esse
processo acontece, sob uma perspectiva da semiótica da cultura, é extremamente importante
para a continuidade desta análise e para a compreensão de como a cultura pop japonesa é
ressignificada pela cultura brasileira.

3.2 O diálogo entre culturas através da perspectiva da Semiótica

A maneira como a cultura pop japonesa foi incorporada pela cultura brasileira e
passou a gerar novas experiências na sociedade, como o aprendizado da língua japonesa, é o
processo que iremos analisar neste tópico. Quando passamos a prestar atenção nos
significados e na transferência de função e sentido de um objeto, quando ele passa de uma
cultura para outra, é que, conforme Canclini (2007), percebemos a necessidade de uma
definição semiótica da cultura.
O encontro entre culturas sob a ótica da semiótica não é tratar do choque, da
hierarquia, da hegemonia e do jogo de perdas e ganhos nos conflitos entre civilizações, mas
sim analisar o resultado desse encontro e como é feito o diálogo entre essas culturas
(MACHADO, 2002).
Lotman (2007) afirma que a semiótica é uma disciplina científica, na qual seus
primeiros fundamentos foram definidos por Ferdinand de Saussure, sendo ela a ciência que
investiga a função dos signos na sociedade. Saussure também determinou que a linguagem
como sistema social seria a base de todas as ciências sociais.
Segundo Machado (2007, p.34), a semiosfera: ―pode ser vista como um ambiente no
qual diversas formações semióticas se encontram imersas em diálogo constante‖. Lótman
definiu a semiosfera como o espaço vivo e dinâmico onde vários sistemas culturais interagem,
34

e é a partir desse espaço complexo e multifacetado que as informações são processadas


(MACHADO apud LÓTMAN, 2007).

Segundo Lótman, o espaço semiótico é um grande sistema, a semiosfera, fora do


qual é impossível a própria existência da semiose (1996:24). Ela é o domínio que
permite a uma cultura definir-se e situar-se para poder dialogar com outras culturas.
Por isso, é um campo cujo funcionamento dialógico tem por tarefa regular e resolver
as heterogeneidades sêmio-culturais (MACHADO, 2007, p. 175).

Contudo, outra característica da semiosfera que devemos levar em consideração é a


sua multiplicidade e a diversidade dos sistemas que a compõem, pois a partir de Machado
(2007), cada cultura funciona diferente da outra, contaminando e sendo contaminada por
muitas, num processo continuum e infinito.
O espaço semiótico é formado por sistemas de signos que interagem, de modo que a
dinâmica desses sistemas ocorre através de processos de tradução ou modelização da
linguagem (semioses). A configuração espacial desses sistemas culturais pode ser traduzida
entre: o que lhe é interno e próprio e uma fronteira que os separa do que lhe é externo ou
estrangeiro. É uma espacialidade fluida e dinâmica, de forma que diferentes sistemas entram
em contato um com o outro em processos de codificação (MASELLA, 2014).
Quando um código passa de um sistema de signos para outro, ocorre a criação de uma
tradução semiótica, onde se mantém a estrutura original, mas se adquire uma nova função,
uma nova rede de interação e a ampliação de domínios já existentes (MASELLA, 2014).

(...) no processo de transmissão da informação, se utiliza de facto, não um só, mas


dois códigos: um código que nota a informação e outro que a decifra. Não se trata
apenas de entender a mensagem tal e qual foi codificada em sua fonte, mas da
própria capacidade de gerar signos a partir de signos, textos a partir de textos, ou
seja, da semiose como processo em que as dissonâncias, os hiatos comunicacionais,
competem para enriquecer a linguagem e promover a dinâmica cultural (MASELLA
apud LOTMAN, 2014, p. 23).

O conceito de tradução está ligado ao processo de transformação da informação


quando ela passa de um sistema cultural para outro. Na dinâmica cultural, o texto se torna
ferramenta que armazena códigos e transforma as mensagens, podendo gerar novos
significados. Traduzir, então, é a modificação da função de um código a partir da sua
mudança de contexto (MASELLA, 2014).
São dois os instrumentos que controlam o fluxo de informações entre os sistemas: a
fronteira e a memória. A fronteira traduz os textos e a memória conserva a estrutura do
sistema e o armazenamento de informações (MASELLA apud LOTMAN, 2014).
35

O que estabelece o limite entre um sistema (ou subsistema) e outro são os padrões
que delimitam o espaço daquilo que lhe é próprio e daquilo que lhe é estrangeiro, e o
que instala a dinâmica entre os sistemas é a possibilidade de modelização desses
padrões, garantindo sua tradução mesmo na perspectiva da intraduzibilidade
(MASELLA, 2014, p. 25).

Machado (2003) afirma que a cultura é a combinação de vários sistemas de signos,


cada um com sua própria codificação, sendo a abordagem máxima da semiótica da cultura a
semiótica sistêmica. Nesse contexto, uma cultura dialoga e interage com outra para
enriquecimento de ambas, e como toda cultura é unidade aberta, é natural que elas se
experimentem e se direcionem.
Dessa forma, a cultura é informação traduzida em comportamentos e ações, e como os
modelos culturais são interdependentes, concluímos que, na relação entre sistemas e
diferentes culturas, esse processo se torna possível e dinâmico (MACHADO, 2003).
Um assunto muito importante nesse contexto é a função da linguagem na cultura, no
ponto de vista de sua esfera semiótica. Compreender a linguagem da cultura é essencial para
que as manifestações e processos sociais sejam considerados sistemas de signos. Dessa
maneira, quando os sistemas de signos são configurados em uma hierarquia, é construído o
texto da cultura (MACHADO, 2003).
Os sistemas de signos são, a partir de Machado (2003), propagados por tipos de
codificação, e esses códigos têm a função de culturalizar e atribuir estrutura ao mundo através
de sistemas modelizantes e modeladores. E é nessa estruturalidade da cultura que as
mensagens são reconhecidas, armazenadas e divulgadas.

O ―trabalho fundamental da cultura (...) consiste em organizar estruturalmente o


mundo que rodeia o homem. A cultura é um gerador de estruturalidade: cria à volta
do homem uma sociosfera que, da mesma maneira que a biosfera, torna possível a
vida, não orgânica, é óbvio, mas de relação (MACHADO apud LOTMAN &
USPENSKII, 2003 p. 39).

Portanto, a semiótica da cultura transforma toda informação em conjuntos organizados


de sistemas de signos, e esses sistemas constroem linguagens. Onde existe linguagem, existe
texto, e o texto da cultura é cercado por relações entre sistemas, modelização da linguagem e
estruturalidade (MACHADO, 2013).
O espaço que faz a conexão entre o mundo da cultura, o imaginário e o mundo da vida
é a noosfera. A noosfera lida com as imagens no interior do cérebro e faz com que os
paradigmas coletivos e individuais dialoguem, representando a imaginação, o homem e a
36

criatividade. Dessa maneira, esse ambiente está diretamente ligado ao significado das coisas,
aos símbolos e a representação do homem no universo. É na noosfera que são criados os seres
imaginários e mitológicos, os heróis, os demônios (IZZO, 2009).

As representações, símbolos, mitos, idéias, são englobados, ao mesmo tempo, pelas


noções de cultura e de noosfera. Do ponto de vista da cultura, constituem a sua
memória, os seus saberes, os seus programas, as suas crenças, os seus valores, as
suas normas. Do ponto de vista da noosfera, são entidades feitas de substância
espiritual e dotadas de certa existência (IZZO apud MORIN, 2009, p.4).

Portanto, ao entender o significado de cultura e como o processo de trocas culturais


ocorre dentro da semiosfera a partir de suas fronteiras, podemos refletir sobre de que maneira
a interculturalidade ocorre e, assim, traçar como essas trocas possibilitam a combinação de
diferentes manifestações culturais e a criação de possibilidades inteiramente novas. Isso para,
assim, tentar compreender como a cultura fortalezense pôde ser influenciada pela cultura
japonesa a ponto de criar uma manifestação original e imprevisível, como foi o interesse por
aprender o japonês.

3.3 Mestiçagem, Hibridação e Interculturalidade: contextos de um mundo globalizado

Sabendo que o espaço da cultura é a semiosfera, precisamos compreender como o


sistema da cultura se comporta dentro dela, bem como o que acontece quando uma cultura
entra em contato com outra e como se dá o processo de troca entre culturas. Dessa forma, se
torna imprescindível o estudo da interculturalidade, onde culturas se manifestam, combinam-
se e se recombinam, para explicar de que maneira o fortalezense absorve a cultura japonesa,
transformando sua própria cultura em possibilidades novas, imprevisíveis e legítimas
(MACHADO, 2007).
Atualmente, vivemos em um mundo globalizado, o que faz com que se intensifiquem
as interculturalidades migratórias e que ocorram a confrontação e diálogo entre culturas. É
também nesse contexto que os conceitos de hibridação e mestiçagem se tornam mais
presentes do que nunca (CANCLINI, 2008).
Segundo Oliveira (2013), o historiador francês Serge Gruzinski empregou a palavra
mestiçagem para nomear as misturas raciais que ocorreram no século XVI em solo americano.
Para ele, a palavra mestiçagem poderia ser aplicada nos seguintes termos: misturar, fundir,
mesclar, cruzar. Dessa forma, quando as culturas indo-afro-europeias passaram pelo processo
37

de mestiçagem, naquela época, podemos dizer que elas se adaptaram, mesclaram-se,


reinventaram-se.
Para Canclini (2008), o termo mestiçagem se torna importante tanto no sentido
biológico, com o cruzamento genético na formação de novos fenótipos, quanto no sentido
cultural, com a mistura de hábitos, formas de pensamento e crenças. Porém, para ele, o termo
mestiçagem seria mais bem utilizado quando falamos de misturas étnicas e genéticas. Para
falarmos sobre choques culturais e misturas de linguagens e signos, o termo hibridismo seria
o mais adequado.
Quando duas culturas se contaminam e passam a dialogar e trocar significados,
podemos dizer que ocorre uma hibridação. De acordo com Canclini (2008, p. XIX): ―entendo
por hibridação processos socioculturais nos quais estruturas ou práticas discretas, que
existiam de forma separada, combinam-se para gerar novas estruturas, objetos e práticas‖. E
esse processo ocorre, muitas vezes, de modo não planejado, sendo resultado de processos
migratórios.
Coll (2002) afirma que, a partir do início do século XXI, dois assuntos vêm sendo
abordados com certa frequência: a globalização e a diversidade cultural. Não podemos mais
ignorar que o mundo atual é repleto de diversas culturas e o diálogo entre elas é o instrumento
que torna essa experiência enriquecedora para ambas.
Graças à globalização, temos a grande circulação de praticamente tudo, desde capitais,
mercadorias, informações, pessoas, ideias, crenças, de forma rápida e em grande volume.
Também se aumentou o número de contatos interculturais e a diversidade cultural, juntamente
com o avanço tecnológico digital. Desse modo, o processo de globalização favorece a
interculturalidade, o encontro e intercâmbios sociais (UNESCO, 2009).
Conforme Silva (2014), toda cultura está em um dinâmico processo de constante
evolução, cujo patrimônio cultural é formado por um processo histórico de modificações
contínuas, transformação e incorporação de novos elementos, fazendo com que sua história
nunca seja estática.
A interculturalidade é o processo que possibilita a pluralidade, proporcionando o
encontro entre as diferenças e sendo motivada por ações reais. Quando existe uma valorização
mútua entre as culturas que estão interagindo, passamos a assumir uma perspectiva
intercultural, na qual cada uma delas conhece seus limites e se dispõe a aprender com a outra,
sem esquecer ou deixar de lado a sua originalidade. Esse duplo movimento de querer
entender e querer ser entendido é o que torna esse diálogo enriquecedor em todos os sentidos
e para todos os envolvidos (SILVA, 2014).
38

Nessa ótica, a interculturalidade ocorre quando duas ou mais culturas entram em


contato umas com as outras. É o encontro de sistemas de signos, de estruturas e
representações, de práticas, mitos, crenças, símbolos e tudo o que faz cada cultura ser única.
Esse encontro nem sempre ocorre de forma fácil e tranquila, pois se confrontam não só
sistemas de signos, mas uma totalidade intensa de representações que constroem realidades
existenciais de ambos os lados (COLL, 2002).
Silva (2014) reconhece que o diálogo intercultural é caracterizado pela troca e
interações entre os mundos em um contexto, sendo esse diálogo o exercício que remete ao
intercâmbio de situações da vida humana, a partir de práticas culturais concretas.
Com isso, segundo a Unesco (2009), o diálogo intercultural pode ocorrer nos
encontros, intercâmbios e importações culturais. O sucesso do mesmo depende do respeito
das diferenças que existem entre as culturas envolvidas, bem como entender que, nesse
diálogo, nada se perde, e transformamos um conjunto de referências que já existem em outro
totalmente novo e único.

As interações inéditas entre duas culturas, proporcionadas pela globalização, não


resultam em uma uniformização de ambas. Há, nestes processos, as chamadas
relações de negociação. Nas negociações, elementos culturais são assimilados,
outros são somente aceitos, outros inclusive negados e rejeitados. Ocorre um diálogo
intercultural pautado pela diferença e alteridade inerente às culturas. E, então,
entende-se que a globalização altera e intensifica a dinâmica de relação, mas,
enquanto pode tornar mais semelhantes, também pode intensificar conflitos já
existentes, ou até mesmo criar novos (TANCINI, 2012, p. 8).

Dessa maneira, a interculturalidade é o diálogo, a interação, a negociação entre os


diferentes, é onde essa diferença está presente e não isolada, sendo parte importante no
processo. Nesse sentido, a globalização serve para impactar as diferenças, promovendo a troca
e a negociação cada vez mais frequente, rápida e sistêmica. E, nessa perspectiva, a
interculturalidade pode ocorrer em todos os tipos de contato, seja por processo de imigração,
em eventos de animê, na internet, etc. (TANCINI, 2012).
Tratando-se da sociedade e cultura brasileira, Silva (2009) afirma que essas são
formadas pela união das matrizes portuguesas, indígenas e africanas, sendo o que nos
diferenciou de nossas matrizes originais, a mescla, a redefinição e ressignificação desses
traços culturais originais. A partir da mistura de matrizes raciais e culturais no Brasil,
somadas ao fluxo migratório, surge um novo povo e uma nova estrutura social.

No estudo do processo da formação da cultura brasileira, Darcy Ribeiro afirma que


as matrizes culturais indígenas, africanas e européias se fundem, adaptando-se. No
39

entanto, por causa dos ambientes ecológicos contrastantes, do exercício de


diferentes atividades produtivas, da agregação de elementos novos, devidos à sua
própria criatividade ou adotados de outros contextos culturais, e à incorporação de
novos contingentes humanos formam-se ―coloridos‖ singulares (SILVA, 2009, p.
72).

A cultura brasileira, segundo Machado (2007), sempre foi uma cultura de mistura,
tendo como tendência assimilar o que é significativo e importante de outras culturas. As
migrações que ocorrem em nosso país, nesse sentido, intensificaram as trocas culturais já
existentes, pois, nesse processo, redescobrimos e damos outro valor ao que já existia,
buscando diálogo constante entre as culturas. Contudo, o diálogo cultural só ocorre quando há
o compartilhamento de mundos, experiências e universos simbólicos (SILVA, 2009).
Um exemplo disso é a maneira como a cultura japonesa foi consumida e ressignificada
dentro da nossa cultura. Percebemos isso na culinária, nos animês (desenhos animados
japoneses), dramas (novelas japonesas), mangás (histórias em quadrinhos japonesas), jogos e
músicas japonesas que são apreciadas diariamente pelos brasileiros.
Na religião também não foi diferente. Cresceu o número de budistas, xintoístas e seitas
de origem japonesas no Brasil. Segundo Mori (1992, p. 582), sobre a Federação do Budismo
do Brasil (fundada em 1958), ―Esta Federação realiza, todos os anos, no fim de semana mais
próximo a 8 de abril, data do nascimento de Buda, a festa das flores, com programas variados
e também visitas às entidades beneficentes e viagens para locais do interior com o objetivo de
ampliar os trabalhos de divulgação dos ensinamentos‖.
Com relação à culinária, segundo a Associação de Restauradores Gastronômicos das
Américas (Aregala), em 2014 o Brasil contava com aproximadamente 3.000 restaurantes
japoneses. E segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes de São Paulo (Abrasel-
SP), a cidade tem 600 restaurantes japoneses, contra 500 churrascarias, consolidando-se como
a capital do sushi.
Portanto, a semiosfera é o espaço abstrato, mas real, da cultura que possibilita que os
sistemas da cultura se manifestem, interajam e dialoguem. E como a semiosfera é composta
por diversos sistemas, cada cultura funciona de modo diferente da outra, contaminando e
sendo contaminada. Quando uma cultura se contamina por outra, pode ocorrer o processo de
hibridação e interculturalidade, onde estruturas ou práticas discretas, que existiam de forma
separada, combinam-se para gerar novas estruturas. Como o Brasil é caracterizado pela
prevalência de uma cultura de mistura, percebemos que a cultura japonesa já faz parte e vem
sendo incorporada à nossa história e significação.
40

4 ANÁLISE DA INFLUÊNCIA E RESSIGNIFICAÇÃO DA CULTURA JAPONESA


EM FORTALEZA

4.1 As escolas de língua japonesa no Brasil

Um breve estudo a respeito do surgimento das escolas de língua japonesa no Brasil é


fundamental para uma melhor compreensão da fundação de cursos de japonês em Fortaleza.
A fim de nos aprofundarmos um pouco mais no ensino da língua japonesa no Brasil, iremos
focar em como foi esse processo, desde a criação de escolas voltadas para esse idioma, em
1915, até a história da criação do curso de japonês do Núcleo de Línguas Estrangeiras (NLE)
da Universidade Estadual do Ceará (UECE) e do Instituto Poliglota em Fortaleza.
Um fator importante para a história da imigração japonesa no Brasil foi a construção
de escolas para ensinar a língua japonesa aos filhos dos imigrantes. Essas escolas eram
cedidas ao governo do Estado que, em troca, providenciava os professores; dessa forma, o
ensino do japonês funcionava em conjunto com a escola brasileira (KIYOTANI E
YAMASHIRO, 1992).

Mas o objetivo maior era a educação dos filhos, que vieram acompanhando os pais
ou que haviam nascido no Brasil. O maior desejo do imigrante era educar os filhos
como filhos de súditos nipônicos; ensinar-lhes a língua nipônica e ministrar-lhes
ensinamentos sobre a cultura e o espírito japoneses. ―Para que quando regressassem
ao Japão não passassem vexame‖ por não saber falar o idioma dos ancestrais
(KIYOTANI E YAMASHIRO, 1992, p. 99).

Em julho de 1915, em São Paulo, foi instalada a Escola Taisho, primeiro


estabelecimento de ensino criado e mantido por imigrantes nipônicos no Brasil. E essa não foi
a única escola inaugurada a fim de ensinar a língua japonesa para os filhos dos imigrantes.
Logo que uma colônia japonesa se formava, em no máximo três anos já se construía uma
escola visando à educação adequada aos seus descendentes (KIYOTANI; YAMASHIRO,
1992).

Em ―A educação dos filhos nos primórdios da colonização‖, registramos, com base


na informação do Notícias do Brasil do dia 17 de março de 1927, que fora
organizada a Associação Japonesa de Ensino no Brasil. Quer dizer que então já
havia tantas escolas, e tão elevado número de alunos, que a educação dos filhos já
constituía ou era pensada como problema de toda a comunidade nipônica. Essa
organização, posteriormente denominada Sociedade de Difusão de Ensino de
Japoneses do Brasil, será encarregada de unificar a orientação do sistema de ensino
dos filhos de nipônicos no país (KIYOTANI E YAMASHIRO, 1992, p. 125).
41

Portanto, em abril de 1932, já existiam 187 estabelecimentos de ensinos da língua


japonesa no Brasil, onde, segundo Kiyotani e Yamashiro (1992), ensinavam-se a língua, a
geografia e história do país de origem e onde era cultivado o amor à pátria dos ancestrais.
Seguindo o modelo japonês de ensino, com regime de seis anos, essas escolas também tinham
matérias como vernáculo, educação moral, aritmética, geografia, história, ciências, ginástica e
canções. A tabela a seguir mostra a relação número de escolas com localização e número de
alunos.

Figura 6 - Número de Escolas e alunos por região

Fonte: Kiyotani e Yamashiro (1992, p.126)

No entanto, em abril de 1933, no Governo Vargas, entrou em vigência uma lei que
fiscalizava e regulamentava a educação de filhos de estrangeiros no país. As principais
medidas que afetaram o ensino nipônico foram: a proibição do ensino de línguas estrangeiras
para menores de quatorze anos de idade; os professores deveriam ser aprovados em exames
de habilitação; os livros deveriam ser aprovados pelos órgãos fiscalizadores e foram proibidos
os livros que prejudicavam a formação do espírito nacional brasileiro. Com essas medidas,
tornou-se praticamente impossível manter uma escola estrangeira no país (KIYOTANI E
YAMASHIRO, 1992).
42

Dada a impossibilidade de adequação à nova legislação de ensino de idioma


estrangeiro, foram fechadas, pelas autoridades de educação do ensino de São Paulo,
219 escolas mantidas por japoneses, 7 alemãs, 5 italianas, 4 portuguesas, somando
235 estabelecimentos. A 25 de dezembro de 1938, todas as escolas de língua
estrangeira (na maioria japonesas, alemãs e italianas) são fechadas. Naquela data,
funcionavam no Estado de São Paulo 294 escolas nipônicas, 20 germânicas; 8
italianas, de acordo com a Paurisuta Encho-sen Kyoiku-shi (História da Educação da
Alta Paulista) (KIYOTANI; YAMASHIRO, 1992, p. 128-129).

Foi um duro golpe ao ensino japonês e muitos consideraram o fim do sonho de poder
educar os filhos como japoneses; no entanto, uma minoria ainda conseguia dar aulas ilegais
em casebres, com um grupo pequeno de alunos, e resistiam a essa opressão como podiam.
Apesar das visitas policiais e das denúncias feitas por brasileiros nacionalistas, eles não
desistiram de tentar dar a educação que seus descendentes mereciam (UCHIYAMA; TAJIRI
E YAMASHIRO, 1992).
Aqueles que não viam esperanças, acabavam por mandar seus filhos de volta ao Japão
ou pensavam na possibilidade de se mudarem para a China. O nacionalismo extremo fez com
que não existisse mais uma extensão do Japão no Brasil e que os japoneses aqui se sentissem
estrangeiros (UCHIYAMA; TAJIRI E YAMASHIRO, 1992).

Depois de muito pensar e refletir, pais que desistiram de ‗ensinar o idioma nipônico
a fim de formar bons brasileiros‘, desiludidos, estão enviando os filhos para o Japão.
Chegam a mais de 70 o número de niseis que, acompanhados dos pais ou sós,
seguiram para o Japão a bordo dos navios Buenos Aires-Maru, Santos-Maru e Rio
de Janeiro-Maru que recentemente passaram pelo Brasil (UCHIYAMA; TAJIRI E
YAMASHIRO, 1992, p. 239).

A partir da segunda metade da década de 30, todas as escolas de ensino japonês foram
fechadas, às vésperas da segunda Guerra Mundial, o que acarretou os ―anos das trevas‖ para a
comunidade japonesa no Brasil, de 1937-38 a 1947-48. Somente em julho de 1954, um grupo
de 100 professores e administradores de escolas japonesas se reuniu para fundar a Federação
das Escolas de Língua Japonesa do Estado de São Paulo, sendo registrada oficialmente em 16
de janeiro de 1955 e designada como Federação das Escolas de Língua Japonesa do Brasil,
em setembro de 1988. Em 1946-47, os jornais de língua japonesa foram reeditados, mas as
escolas só foram reabertas na década de 50 (KIYOTANI; WAKISAKA, 1992).

Um outro levantamento, realizado pelo Centro de Difusão da Língua Japonesa no


ano de 1977, apresenta os seguintes resultados: cidade de São Paulo — 44 escolas;
subúrbios de São Paulo — 60; E. F. Paulista — 9; E. F. NOB — 22; E. F.
Sorocabana — 17; Estado do Paraná — 53; Estado do Rio de Janeiro — 13; região
amazônica — 20, num total de 224 estabelecimentos. Nota-se uma grande diferença
43

no número de escolas no lapso de três lustros. Outrossim, em relação aos pouco


mais de 8 mil escolares pesquisados nesse levantamento, a distribuição segundo as
gerações foi a seguinte: 1% — issei; 29% — nisei; 67% — sansei; 3% — yonsei
(KIYOTANI; WAKISAKA, 1992, p. 549).

Da mesma forma, em fevereiro de 1988, segundo Kiyotani e Wakisaka (1992), foi


constituído o Centro de Estudos da Língua Japonesa (Nihongo Fukyu Center), representando
um importante marco em toda história da imigração nipônica no campo do ensino da língua
japonesa. Dentre as principais atividades do Centro de Estudos da Língua Japonesa, havia:
pesquisa da situação das escolas, exame de habilitação em língua japonesa, cursos de
formação de professor, seminário intensivo, cursos de professores para aperfeiçoamento no
Japão, reunião de estudos de professores de todo o Brasil, da América Central e do Sul,
reunião rotineira de professores, elaboração de livros didáticos e de material escolar. Dessa
forma, podemos citar alguns acontecimentos como fatores que contribuíram para esse marco:

— Como conseqüência do esplêndido desempenho da economia nipônica na década


de 80, cresce o interesse pelo estudo da língua e da cultura japonesa em todo o
mundo.
— A Fundação Japão de Tokyo promoveu uma pesquisa sobre métodos de melhor
difundir o idioma nipônico no mundo; e, em 1985, chegou à conclusão de que se
tornava necessário organizar Centros Internacionais de Estudos da Língua Japonesa.
— O Escritório da Fundação Japão em São Paulo funciona desde 1975. O órgão
solicitou à Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa a criação de um centro de
estudos da língua japonesa. Daí resultou a instalação, em 1985, do Centro de
Difusão da Língua Japonesa, há pouco citado (NAKASUMI; YAMASHIRO, 1992,
p. 449).

Outro marco muito importante foi a criação do Curso de Língua e Literatura Japonesa
do Departamento de Línguas Orientais da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
da Universidade de São Paulo (USP), em 1963, sendo o primeiro curso de japonês em uma
universidade brasileira (NAKASUMI; YAMASHIRO, 1992).
Paralelamente ao crescimento do interesse pela cultura japonesa no país, crescia
também o número de escolas de japonês em todo o Brasil. Um exemplo disso foi a criação do
Curso de Japonês do Núcleo de Línguas Estrangeiras (NLE) da Universidade Estadual do
Ceará (UECE), em agosto de 1993, na cidade de Fortaleza, devido à grande demanda de
pessoas que manifestavam interesse em aprender a língua. Atualmente, o curso está presente
em duas sedes, uma localizada no bairro de Fátima e a outra no Itaperi. A sede de Fátima,
conta com 10 turmas de japonês neste ano, em média possuindo 18 alunos em cada. Já a sede
Itaperi, conta com 04 turmas com 15 a 20 alunos em cada (NIHONGO UECE, 2016).
44

Dentre os vários centros particulares de línguas que oferecem o curso de japonês em


Fortaleza, temos o Instituto Poliglota. Durante entrevista com a coordenação do Instituto
―F.G‖, professora de alemão e inglês, formada em Letras desde 2004, conhecemos a história
desse Instituto. A organização foi criada há 20 anos com a proposta de ser um ambiente
transcultural. Atualmente, oferece o ensino de 12 línguas, dentre elas o japonês, que já estava
presente desde os primeiros anos de fundação. O Poliglota possui dois núcleos, um no bairro
São João do Tatuapé (matriz) e o outro no bairro Edson Queiroz (filial), contando com duas
turmas na filial e três na matriz, que são compostas de 02 a 05 alunos em cada turma.

4.2 Análises das entrevistas

Para a realização do presente trabalho, utilizamos como metodologia principal a


pesquisa qualitativa, através de entrevistas semiestruturadas, e a pesquisa quantitativa, como
método de apoio para complementar a análise dos dados. Os dados foram coletados através de
visitas ao Curso de Japonês do Núcleo de Línguas Estrangeiras (NLE) da Universidade
Estadual do Ceará (UECE) e ao Instituto Poliglota.
A pesquisa qualitativa tem como matéria prima um conjunto de substantivos como a
experiência, a vivência, o senso comum e a ação. Tais dimensões da vida se completam e se
articulam, significando-se e simbolizando-se, em constante movimento, onde a meta do
pesquisador é compreender, interpretar e dialetizar os significados produzidos (MINAYO,
2012). Como afirma André (1995), a pesquisa qualitativa é um estudo de um fenômeno,
observado no seu contexto natural, sem a manipulação de variáveis ou tratamento
experimental.
Segundo Fonseca (2002), as pesquisas quantitativas utilizam de recursos matemáticos
para descrever fenômenos e diferentes variáveis. Utilizar esse recurso, juntamente da pesquisa
qualitativa, é um diferencial no que diz respeito à coleta de informações, pois a utilização
conjunta dessas metodologias nos permite a produção de novos dados e informações,
possibilitando uma visão ampla do fenômeno observado.
As entrevistas semiestruturadas partem de certos questionamentos básicos, apoiados
em teorias e hipóteses, que interessam à pesquisa e que, em seguida, instiga a novos
questionamentos, à medida que recebemos as respostas do entrevistado (DUARTE;
BARROS, 2008).
Tendo como base um assunto, é formulado um roteiro com perguntas principais, as
quais são completadas por outras que irão surgir conforme as situações e circunstâncias de
45

cada entrevista. Dessa forma, as informações surgem de maneira mais livre e sem uma
padronização de alternativas (MANZINI, 2004).
Consequentemente, o roteiro deste trabalho foi feito a partir das seguintes questões
básicas: Por que você escolheu fazer o curso de japonês? Por que você gosta da cultura
japonesa? Qual foi o seu primeiro contato com a cultura japonesa? De que forma a cultura
japonesa faz parte da sua vida? O que mudou na sua vida desde que você começou a aprender
japonês? O modo como a cultura japonesa faz parte da sua vida influenciou seu modo de agir,
falar, vestir, comportar-se ou pensar?
Durante as visitas ao Núcleo de Línguas da UECE e ao Instituto Poliglota, foram
realizadas 11 entrevistas. Uma delas com um grupo de 10 alunos, uma com a Coordenadora
do Instituto Poliglota, uma com a professora que leciona nos dois centros de ensino e as
demais de forma individual, com alunos de diversas idades. Por uma questão de sigilo ético,
os nomes dos entrevistados foram substituídos pela nomenclatura de Aluno 1 a Aluno 18.
Dentre os 18 alunos entrevistados (15 da UECE e 03 do Poliglota), calcularam-se uma
média de idades e os resultados foram condensados no gráfico a seguir.

Gráfico 1 – Média de Idade entre os Entrevistados

Fonte: Próprio Autor (2016)

Como observado, a maioria dos alunos (61,1%) apresenta uma idade média entre o
intervalo de 19 a 23 anos, fase em que normalmente já ingressaram no mundo universitário e
buscam novos horizontes profissionais. A segunda maior proporção foi para a faixa etária de
24 a 28 anos (22,2%). Para essa amostra, podemos concluir que existe um interesse maior nos
estágios entre o jovem adulto e o adulto, totalizando 83,3% dos entrevistados.
46

O primeiro assunto deste trabalho foi a importância da imigração japonesa no Brasil,


no que diz respeito à propagação da cultura nipônica pelo país. Segundo o Portal Mundo-Nipo
(2016), o Brasil é o país que acomoda a maior sociedade japonesa fora do Japão, sendo mais
de 1,6 milhão de japoneses e seus descendentes vivendo em solo brasileiro até o ano passado.
Ao analisarmos as respostas dos entrevistados a respeito da presença japonesa no
Brasil e suas influências, alguns alunos reconheceram a imigração como fator determinante
para o sucesso da cultura nipônica no país. Como exemplo disso, para o Aluno 13, a cultura
japonesa está invadindo o mundo inteiro como consequência da globalização. Porém, o Brasil
teria um destaque maior nesse quesito, devido à imigração. Ele ressalta que a intensidade com
que ―agarramos‖ a cultura japonesa em relação aos outros países é resultado desse primeiro
contato que tivemos com a imigração japonesa.

Bom, não seria só a cultura brasileira, o Japão tá invadindo o mundo inteiro, como
os Estados Unidos, a Europa, todo mundo tá começando a importar a cultura
japonesa. Acho que é o efeito da globalização. Só que, o Brasil, em particular, tem
um pouquinho mais de destaque nisso, eu diria que é por causa da imigração
japonesa no Brasil. Eu acho que foi por isso que a gente conseguiu sair se agarrando
à cultura japonesa com mais intensidade em relação às outras (Aluno 13).

Ressaltando o que já mencionamos, é a partir do momento em que se difunde pelo


mundo a cultura de massa que ocorre o processo no qual todos os produtos culturais passam a
ser produzidos a partir das normas da produção industrial, destinando-se a uma grande massa
social por meio da difusão maciça (MORIN, 2002). O que se seguiu em relação a isso,
segundo Khumthukthit (2010), foi uma crescente onda de interesse no mundo pela cultura
japonesa, tendo como setores mais atraentes o cinema, a moda, o animê, o mangá, os
videogames e os brinquedos eletrônicos.
Percebemos a decorrência desse efeito nas respostas dos alunos de japonês, pois a
grande maioria se interessou pelo curso devido à paixão pela cultura pop japonesa. Conforme
constatamos no fragmento abaixo retirado da entrevista:

Eu sempre me interessei pela cultura japonesa, desde pequeno, desde que eu assistia
os animês que passavam na TV Manchete, os ―tokusatsus‖ 8, animês, Cavaleiros do
Zodíaco, tudo mais. (...) Apesar de eu sempre ter gostado de ―tokusatsus‖ quando
criança, tipo Jiraya, Jaspion, Cibercops, esse tipo de coisa, eu sempre achava
bacana, mas era aquilo ali. O que despertou mesmo minha vontade de querer
aprender japonês foram os jogos (Aluno 11).

8
Tokusatsu pode ser traduzido como ―filme de efeitos especiais‖, sendo sinônimo de live-actions (filme com
atores reais) de super heróis produzidos no Japão (Blog Space Tokusatsu).
47

Dentre aqueles que entraram no curso por influência de produtos culturais, como os
mangás, animês e jogos, e aqueles que entraram por outros motivos, levantamos os seguintes
dados, conforme gráfico abaixo:

Gráfico 2 – Motivação que levaram os alunos a aprender japonês

Fonte: Próprio Autor (2016)

Como podemos identificar, a grande maioria (83,3%) revelou como o fator mais
relevante para iniciar o curso de japonês o contato, muitos na infância, com programas
televisivos, revistas e desenhos animados de origem japonesa. Verificamos um interesse
crescente na vida dos entrevistados por essa cultura, interesse esse que foi reforçado pela
globalização e facilidade de acesso aos produtos dessa cultura via internet.
Na sua maioria, o que começou como hobby ou um gosto pessoal, desenvolveu-se
para algo cada vez mais abrangente na vida deles. Essa paixão inicial desencadeou a vontade
de estudar a língua japonesa para, posteriormente visitar, estudar, morar e trabalhar no Japão.
Podemos ver isso no fragmento abaixo retirado da entrevista:

Como a maioria das pessoas que começam a aprender japonês, foi por causa de
animê e tal, e eu gostava bastante. Mas depois de um tempo, eu me interessei
bastante pela cultura mesmo, pela cultura e arte de lá. E depois eu fui me interessar
pelo mercado de trabalho, eu fui querer aprender a língua mais por causa disso, de
ir pra lá e ir trabalhar lá. E é pela cultura em geral também. (Aluno 1).

Outro dado relevante observado nas entrevistas foi que, com relação à grande
diferença entre a nossa cultura e a cultura nipônica, essa se revelou o fator de maior
atratividade e admiração para os mesmos. Para Khumthukthit (2010), essas diferenças
48

culturais se manifestam em relação aos valores, tradições, gostos e suas histórias de


superação, paciência e perseverança e, portanto, são muito apreciadas pelos consumidores
ocidentais.
Para o Aluno 11, o que chamou a atenção dele em relação à cultura japonesa foram as
questões da amizade, lealdade e sinceridade transmitidas pelos animês. Já o Aluno 13 tem um
apreço especial pelos outros aspectos da cultura, como, por exemplo, a questão da disciplina e
a diferença da visão de sociedade. E o Aluno 17 tem um fascínio pelos livros que contam a
história japonesa.

E eu também tenho um apreço pelos outros aspectos da cultura, como, por exemplo,
a questão da disciplina, a diferença da visão de sociedade, porque lá eles têm uma
visão muito mais firme a respeito de que cada um tem seu lugar. Às vezes isso pode
ser ruim, às vezes é uma das melhores coisas que tem. Se você tem um funcionário
japonês, o lugar dele é lá, trabalhando, ele não vai faltar. É uma das coisas que eu
admiro e que eu acho interessante ter (Aluno 13).

De um modo geral, podemos refletir que os animês e os mangás foram produtos


fundamentais para despertar o interesse dos alunos pela cultura japonesa. Eles representam
uma janela que possibilita o olhar brasileiro para os valores, comportamentos, modelos de
inter-relações do indivíduo com a sociedade, do indivíduo com a família, revelando assim o
modo de viver no Japão.
Mesmo não sendo a maioria dos motivos observados, consideramos importante relatar
o que os demais entrevistados elencaram como fatores para o ingresso no curso de japonês. O
Aluno 3 se interessou pelo japonês por ser amigo de vários japoneses que lhe ensinavam
algumas palavras, o que despertou a vontade de aprender a língua por hobby. O Aluno 2,
aluno mais velho da turma, com 40 anos, teve a motivação despertada por uma história de
amor. Ele, com 09 anos, apaixonou-se por uma descendente de japonês que foi o seu primeiro
amor, o que marcou sua vida, mantendo a ideia fixa no propósito de aprender japonês para
reencontrá-la. O Aluno 17 é budista há mais de uma década e tem planos de utilizar o japonês
como ferramenta de aprimoramento de sua prática espiritual e como um conhecimento a mais
para levá-lo a novos destinos, como o Japão.
Outro motivo observado e comentado por três alunos foi a questão da carência na
qualidade das traduções de jogos, notícias e outras mídias do japonês para o português.
Normalmente, o material é traduzido do japonês para o inglês e, então, desse para o
português, perdendo muito do sentido original ou mesmo modificando-o. Portanto, esses
alunos justificaram o ingresso no curso da língua japonesa para compreender de forma
49

completa os produtos citados anteriormente, sem a utilização de um tradutor como


intermediário.

Então, como muita notícia de lá, começa com o japonês, do japonês pro inglês e do
inglês pro Brasil, eu quero pegar isso. Eu gosto também dessa coisa da tradução e eu
gosto muito do japonês por causa disso, tem muita perda da tradução quando você
pega do japonês pro inglês e do inglês pro português. Então eu quero me aproximar
ainda mais dessa língua. (...) Tem muito jogo no oriente, principalmente jogos
antigos, que eles não são traduzidos pra cá. Então, ou você tem que esperar uma
tradução de fansuber, da galera que trabalha com tradução, ou então você tem que
esperar um dia a empresa lançar. Então eu queria acabar com essa barreira pra mim
(Aluno 11).

Em nossa análise, não poderíamos deixar de expor as opiniões de duas profissionais


sobre o perfil dos alunos dos cursos de japonês em Fortaleza. Uma é a professora de japonês
S.M, que leciona na UECE e também no Instituto Poliglota há 06 anos. E a outra é a
coordenadora do Instituto Poliglota, F.G, formada em Letras desde 2004, e que leciona
alemão e inglês no Instituto.
Sobre a quantidade de alunos, elas afirmam que é constante; porém F.G destaca que
no início era bastante misturado o grupo de adultos e adolescentes, e que hoje predominam os
jovens na fase de faculdade e adolescentes a partir de 15 anos. A professora S.M salienta que,
na época em que ela estudou a língua japonesa (2009), o público tinha mais interesse pelo
curso, mas que, com o boom de cultura coreana na cidade, o público se dividiu.

A quantidade de alunos é mais ou menos constante. Tornou-se mais jovem (o


público). Acho que no início era bastante misturado com adultos e adolescentes, e
hoje predominam os adolescentes ou pessoas muito jovens. Início de faculdade, a
partir de 15 anos, às vezes têm até de 12, 13 anos já querendo entrar e a gente tem
um cuidado pra ver se a turma tem um perfil adolescente ou não, pra fazer um jogo
de cintura mesmo, pra separar se tiver muitos adultos (F.G, Coordenadora do
Instituto Poliglota).

Ambas concordam no que diz respeito à procura pelo curso de japonês. A maioria
busca aprender por causa dos animês e mangás e uma minoria por outros interesses, como
artes marciais japonesas ou religião. Destaca-se também um crescente interesse pela língua
nipônica para estudar e fazer intercâmbio, pós-graduação ou graduação no Japão.
Sabendo que os otakus brasileiros são aqueles que assistem a animês, leem e compram
mangás, colecionam itens, compram acessórios e roupas relacionados a essa cultura, vão para
eventos e escutam músicas japonesas (BARATA, 2009) e que, segundo Travancas (2015), o
fã da cultura pop japonesa só se torna um verdadeiro otaku quando ele interage e se relaciona
com o seu ―grupo de interesse‖, a importância de eventos como o SANA também foi assunto
50

discutido nas entrevistas, bem como de que modo a cultura japonesa se faz presente em
Fortaleza.
Para o Aluno 9, esses eventos acontecem para que pessoas com o mesmo gosto
possam se encontrar e adquirir materiais da cultura que admiram. Ao mesmo tempo, estando
ali, ela percebe um sentimento de pertença e identificação a esse grupo.
O Aluno 11 lembra-se da época na qual as pessoas se reuniam na Praça Portugal para
falar de animês e mangás, e onde havia uma comercialização de fitas e depois de DVD‘s. E
que hoje esse grupo dos excluídos, como ele o denominou, que marcavam encontros feitos de
amigo para amigo, transformou-se em uma grande comunidade que se reúne em um evento
gigantesco, com várias empresas envolvidas e patrocínios.
O Aluno 16 gosta tanto dos eventos de animês da cidade que já se caracterizou de
vários personagens, participando de uma forma mais intensa, pois adota em cada evento um
personagem para se caracterizar, como o Deidara (Naruto), a Lucy (Fairy Tail), a Crona (Soul
Eater), o Mello (Death Note) e atualmente está fazendo o Ciel (Black Butler). E para o Aluno
18, esses eventos proporcionam um contato maior com a cultura e a realidade do Japão.
Verificamos, através das entrevistas, a ocorrência de um processo de
interculturalidade. A interculturalidade, de acordo com Coll (2002), acontece quando duas ou
mais culturas entram em contato umas com as outras, sendo o encontro de sistemas de signos,
de estruturas e representações, de práticas, mitos, crenças, símbolos e tudo o que faz cada
cultura ser única. O diálogo intercultural é caracterizado pela troca e interações entre os
mundos em um contexto, sendo esse diálogo exercício que remete ao intercâmbio de situações
da vida humana, a partir de práticas culturais concretas (SILVA, 2014).
Este diálogo intercultural, segundo a Unesco (2009), é a transformação de um
conjunto de referências que já existem em outro totalmente novo e único. E sendo a cultura
brasileira, de acordo com Machado (2007), uma cultura de mistura, tendo como tendência
assimilar o que é significativo e importante de outras culturas, percebemos esse movimento de
ressignificação e recriação cultural na vida de nossos alunos de japonês de diversas maneiras.
O Aluno 13 reforça, em sua entrevista, que a cultura brasileira tem a ―mania‖ de
englobar a cultura dos outros e, dessa forma, o Brasil não simplesmente toma para si a cultura
japonesa, mas a transforma e absorve da forma que melhor vai se adaptar à nossa vida.
Durante a entrevista, ele menciona um exemplo curioso que demonstra a criatividade do
brasileiro, que é o sushi de morango com chocolate, inovação culinária produzida para
agradar o nosso paladar.
51

Em relação ao Budismo, o Aluno 17 nos conta que essa religião começou na Índia, foi
para a China, depois para o Japão, para enfim alcançar o Brasil. Cada vez que o Budismo vai
atingindo uma cultura, ele vai se adequando ao estilo de vida daquelas pessoas. Dessa forma,
essa religião também passa por processos de ressignificação e modificação ao entrar em novas
culturas.
O Aluno 10 é tão apaixonado pela cultura japonesa que passou a se dedicar às artes e
literatura para se tornar um escritor, artista plástico, desenhista e mangaká (autor de mangás),
e também com a finalidade de futuramente residir no Japão. Conforme percebemos no
fragmento retirado da entrevista: ―Eu sempre fui apaixonado pela cultura japonesa e eu
pretendo ir morar no Japão. E ser escritor, artista plástico, mangaká, desenhista, o que der pra
ser eu vou ser.‖ Já o Aluno 5, que gostava de desenhar quadrinhos, ao conhecer o estilo de
mangá, transformou sua técnica para se aproximar aos modelos japoneses.
O Aluno 11 revelou-nos que sua personalidade foi moldada pela cultura nipônica, e
que muito de sua infância e caráter sofreram influências do que ele assistia da produção
japonesa na época, como afirma: ―o tipo de pessoa que eu sou e a maneira como eu interajo
com as pessoas, eu acho que os desenhos ajudaram a ter essas boas características que eu
tenho. Cada dia a gente vai aprendendo e se transformando e vendo o que a gente pode levar
pro dia a dia.‖ Ele acredita que o japonês vai ser muito importante em sua carreira como
jornalista, pois será um diferencial na hora de trabalhar com informações e novidades na
indústria de jogos japoneses. O Aluno 15 partilha desta opinião:

A cultura japonesa, no quadro profissional, é uma constante para mim. Acredito


que a língua, por exemplo, seja um diferencial para a profissão de jornalismo.
Com a fluência e domínio da mesma, penso ser possível a abertura de um leque de
oportunidades dentro da profissão, principalmente no que diz respeito às relações
internacionais, sejam sociais e políticas, entre o Brasil e Japão, levando em
consideração todo o histórico das duas nações (Aluno 15)

O Aluno 17 complementa essa opinião, ao dizer que toda cultura que aprendemos é,
de certa forma, absorvida, e tentamos traduzi-la para a nossa vida. Ele acrescenta que, depois
de ter conhecido a cultura japonesa, ele continuou sendo um brasileiro, mas incorporou
muitos dos valores da cultura nipônica em sua vida (como, por exemplo, a cordialidade e a
forma com que trata as pessoas ao seu redor). O Aluno 18 relata que, ao observar o ponto de
vista e o modo de viver em sociedade no Japão, passou a ser uma pessoa mais educada, e a
partir disso aplicar esse e outros valores em sua vida.
52

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base na fundamentação teórica e na análise das entrevistas, podemos desenvolver


algumas reflexões a respeito das hipóteses e objetivos traçados para este trabalho.
De fato, o assunto imigração japonesa no Brasil foi relevante, sendo uma das
condições para que a cultura japonesa se propagasse e se tornasse parte da cultura brasileira.
Com os japoneses no país, muito dos seus costumes, hábitos, cultura, tradições e culinária
foram introduzidos e ressignificados de forma natural. A presença de colônias nipônicas em
solo brasileiro fez com que várias escolas de japonês surgissem no país, bem como muitos
produtos culturais vindos do Japão fizessem parte do cotidiano das pessoas.
As entrevistas indicam que partes dos alunos veem a imigração como condição que
diferenciou a forma como consumimos a cultura japonesa em relação aos outros países do
mundo. Dessa forma, a investigação sobre a influência da imigração japonesa na propagação
da cultura nipônica no Brasil demonstrou-se relevante e positiva.
Efetivamente, o que motivou a grande maioria dos alunos a ingressar no curso de
japonês foi a sua admiração pela cultura pop japonesa e por seus produtos de consumo em
massa. Conforme análise da história dos mangás e animês até sua chegada ao Brasil,
percebemos que foi a partir da cultura de massa e da indústria cultural que se tornou possível
o consumo de artigos culturais japoneses pelo mundo.
Com o aumento do número de admiradores da cultura japonesa, o termo otaku foi
importado para o país, para denominar os fãs da cultura nipônica. A manifestação mais
concreta desse grupo realiza-se em eventos de animê, nos quais o otaku se encontra e interage
com pessoas que compartilham do seu interesse. A grande maioria dos entrevistados frequenta
o evento SANA, que ocorre duas vezes ao ano em Fortaleza, vendo nesse tipo de
acontecimento uma maneira de fazer parte de algo e até mesmo se caracterizar de seus
personagens preferidos.
Quando analisamos o resultado do encontro da cultura japonesa com a cultura
brasileira, a partir de uma visão semiótica, destacamos de que maneira são estabelecidos
diálogos e trocas simbólicas para a criação de novos sistemas de signos gerados e
ressignificados a partir dos já existentes. Sendo a semiosfera espaço vivo, dinâmico e
complexo, onde vários sistemas culturais interagem e trocam significações.
Quando uma ou mais culturas entram em contato com a outra, ocorre o encontro de
signos, estruturas e representações, o que caracteriza a interculturalidade. Num diálogo
cultural, estruturas já existentes se combinam para gerar algo novo e único. Percebemos o
53

reflexo desse processo nos relatos de nossos alunos. O contato com a cultura japonesa fez
com que eles explorassem novas experiências, conhecessem um mundo novo e, a partir disso,
modificassem o seu jeito de ser, pensar e agir. Consequentemente, os seus projetos de futuro
foram afetados, abrindo possibilidades para viagens, intercâmbios culturais e formações
acadêmicas, onde a língua japonesa também representa um diferencial na formação
profissional.
Outro fator relevante deste trabalho foi observar que, apesar de culturas tão diferentes,
a ocidental e a oriental podem se tornar mutuamente atrativas. Os entrevistados relataram que,
muito além dos produtos de massa, os mesmos se encantaram com os valores humanos e
comportamentos nipônicos, que não se encontram tão presentes na nossa cultura, mas que
impactaram suas vidas, como: o modo mais educado de ser; o respeito pelo ambiente; a
valoração da amizade e o modo harmônico de viver em sociedade.
Ressaltamos a importância de que novos estudos sejam feitos, de modo a compreender
como a interculturalidade se faz presente no sentido inverso ao que estudamos isto é, como a
nossa cultura influencia os japoneses e seus descendentes aqui e no Japão.
O presente trabalho se mostrou muito significativo no desenvolvimento de habilidades
e competências para minha futura atuação profissional. Todavia, proporcionou-me
gratificantes experiências humanas, consequentes do contato com pessoas incríveis e suas
histórias de vida. Adquiri, dessa forma, um novo olhar sobre os fenômenos da cultura e suas
repercussões na vida das pessoas.
54

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Paris, vol. 1, n. 9, p. 1-40, 2009.
59

APÊNDICE I - Transcrição das Entrevistas

ENTREVISTA 1: Alunos do 2º semestre da UECE

NOME IDADE FORMAÇÃO

Aluno 1 19 anos Estudante

Aluno 2 40 anos Estudante de Mecânica na


CEFET

Aluno 3 23 anos Trabalha em uma farmácia

Aluno 4 16 anos Estudante Ensino Médio

Aluno 5 19 anos Estudante

Aluno 6 19 anos Estudante

Aluno 7 19 anos Estudante

Aluno 8 21 anos Estudante

Aluno 9 19 anos Estudante

Aluno 10 20 anos Estudante

Pq - Por que escolheu aprender japonês? Quais as motivações que o levaram a fazer este
curso?
Aluno 10 - Eu sempre fui apaixonado pela cultura japonesa e eu pretendo ir morar no Japão.
E ser escritor, artista plástico, mangaká, desenhista, o que der pra ser eu vou ser. E é
basicamente isso.
Aluno 3 - Eu não tenho nenhum motivo específico, é porque eu conheço muitos japoneses, eu
tenho muitos amigos e eles me ensinavam algumas palavras. Aí eu me interessei pela língua e
eu tô fazendo só por hobby mesmo.
Aluno 2 - Eu desde pequeno também sempre gostei, achei muito interessante a cultura, a
disciplina. Agora, quando eu tinha 09 anos, eu me apaixonei por uma mocinha japonesa. E ela
foi embora, e eu achei que ela tinha ido pro Japão. E eu fiquei com isso na cabeça de aprender
japonês. E só foi aparecer a oportunidade agora.
Aluno 1 - Como a maioria das pessoas que começam a aprender japonês, foi por causa de
animê e tal, e eu gostava bastante. Mas depois de um tempo eu me interessei bastante pela
cultura mesmo, pela cultura e arte de lá. E depois eu fui me interessar pelo mercado de
trabalho, eu fui querer aprender a língua mais por causa disso, de ir pra lá e ir trabalhar lá. E é
pela cultura em geral também.
Aluno 4 - Eu também sempre tive interesse pela cultura japonesa e tudo. E no começo eu só
queria fazer porque eu gostava mesmo. E depois eu pensei um pouquinho e decidi que eu
quero fazer faculdade lá.
Aluno 5 - Eu sempre tive esse contato com a cultura e com as coisas dos desenhos, de falar
com o povo, só que sempre tinha que ter a tradução. E eu tô tentando tirar esse intermédio.
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Aluno 7 - Eu tô fazendo japonês porque eu sempre tive contato, sempre achei legal, sempre
gostei. Então, eu tive que sair da faculdade no começo do ano e estava sem fazer nada e vi que
a UECE tinha oferecido vaga e resolvi tentar.
Aluno 6 - Sempre gostei da cultura japonesa e tem pouco material na internet traduzido para
português e inglês, então eu queria aprender para ter mais acesso.
Aluno 8 - No começo eu não gostava de nada relacionado ao Japão, porque era tudo
relacionado à modinha de animê e eu tinha muita raiva de animê. Até o dia em que eu me
deixei conhecer a cultura japonesa através dos animês e mangás mesmo, e eu realmente vi
que era mais do que eu imaginava, realmente tinha coisas muito interessantes. E depois eu
conheci a língua e eu achei muito incrível esse alfabeto completamente diferente, eu ficava:
―Eu quero muito entender isso, porque é muito difícil e eu adoro essas coisas complicadas‖.
Apesar de ser chato, é muito legal também. Aí foi assim, eu entrei no curso, a professora,
ficou falando mais sobre a cultura, o que ela viveu lá e isso foi instigando a curiosidade de
conhecer lá. E eu pretendo conhecer a língua. Eu acho o Japão muito interessante, os
costumes que ela (professora) falou, deles serem educados e essas coisas, eu achei muito legal
e eu quero muito conhecer lá.
Pq - Qual o primeiro contato que vocês tiveram com a cultura japonesa?
Aluno 5 - Foi ―Sakura Card Captors‖ e ―Ino e Yasha‖ na TV.
Aluno 3 - Eu assistia ―Dragon Ball‖. Teve uma lembrança também, que foi minha irmã me
fazendo comer sushi, aí eu vomitei.
Aluno 2 - A minha foi uma história de amor. Eu gostei da menina, mas eu era muito novo e
não entendia dessas coisas, era só coisa de criança mesmo. Mas o fato dela realmente ser
descendente de japonês foi o que me motivou a querer conhecer (o Japão) e, nesse negócio de
querer conhecer, aí veio o negócio gigantesco da cultura, da disciplina, dos samurais, eu
achava tudo muito bonito. E foi o que me motivou a querer aprender japonês. É possível que
eu vá atrás dela depois.
Aluno 10 - Comigo também foi pelos animês e por algumas revistas que tinham, que elas
traziam vários desenhos assim, que traziam as novidades e os jogos também. Tinha muito
―tokusatsu‖ também naquela época , fora ―Power Ranger‖, mesmo não sendo japonês, mas na
época eu assistia também Jaspion, mesmo não sendo da minha época, mas meu pai me
incentivou a assistir, ele tinha a fita cassete que eu assistia muito. E os próprios mangás que
eu sempre gostei de desenhar e eu ficava lá copiando o desenho.
Aluno 5 - Esse negócio de desenhar, eu comecei a desenhar através de quadrinhos e, quando
eu fui vendo o estilo de mangá, e fui entrando nesse negócio de animê e tudo mais, eu
transpus o meu estilo para desenhar em estilo mangá mesmo. Foi isso que eu fiz.
Pq - O que vocês acham de eventos como o SANA e qual a importância desses eventos no
Brasil e em Fortaleza?
Aluno 8 - Eu só vou pra comprar coisas.
Aluno 9 - É porque a gente é minoria que gosta dessas coisas, e quando tem um evento
assim, você consegue encontrar pessoas que têm os mesmos gostos que você, você consegue
encontrar material sobre essa cultura que você gosta. Então dá pra você se sentir parte de
alguma coisa quando tem um evento desse.
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ENTREVISTA 2: Aluno 11, 2º semestre da UECE

NOME IDADE FORMAÇÃO

Aluno 11 31 anos Jornalista que trabalha na


Câmara Municipal dos
Vereadores

Pq - Por que escolheu aprender japonês? Quais as motivações que o levaram a fazer este
curso?
Aluno 11 - Eu sempre me interessei pela cultura japonesa, desde pequeno, desde que eu
assistia aos animês que passavam na TV Manchete, os ―tokusatsus‖, animês, Cavaleiros do
Zodíaco, tudo mais. E, atualmente, depois na vida adulta, me interessei por jornalismo e ainda
me interesso por vídeo game. Eu quero saber mais da indústria japonesa, da indústria de
jogos, tudo mais. Então, como muita notícia de lá, começa com o japonês, do japonês pro
inglês e do inglês pro Brasil, eu quero pegar isso. Eu gosto também dessa coisa da tradução e
eu gosto muito do japonês por causa disso, tem muita perda da tradução quando você pega do
japonês pro inglês e do inglês pro português. Então eu quero me aproximar ainda mais dessa
língua.
Pq - Qual o primeiro contato que você teve com a cultura japonesa?
Aluno 11 - Apesar de eu sempre ter gostado de ―tokusatsus‖ quando criança, tipo Jiraya,
Jaspion, Cibercops, esse tipo de coisa, eu sempre achava bacana, mas era aquilo ali. O que me
despertou mesmo minha vontade de querer aprender japonês foram os jogos. Tem muito jogo
no oriente, principalmente jogos antigos, que eles não são traduzidos pra cá. Então, ou você
tem que esperar uma tradução de fansuber, da galera que trabalha com tradução, ou então
você tem que esperar um dia a empresa lançar. Então eu queria acabar com essa barreira pra
mim sabe? Da mesma forma que eu aprendi inglês jogando vídeo game ou RPG, eu queria ter
aprendido japonês dessa mesma forma só que não consegui. Então por isso que eu tô aqui
também. Mais uma vez é juntando o útil ao agradável com a minha profissão, jornalista.
Pq - O que você acha de eventos como o SANA e qual a importância desses eventos no
Brasil e em Fortaleza?
Aluno 11 - Isso demonstra que a gente tem um público que se importa que consome a cultura
oriental, a cultura japonesa específica. E eu acho importante, eu fico feliz. Por exemplo, no
meu tempo, tinha o SANA que era uma coisa muito pequena e tinham outros pequenos
eventos. E hoje eu fico feliz de ver que cada vez mais tem eventos japoneses aqui
acontecendo na cidade. A gente tem evento japonês aqui na Beira Mar, eu fico cada vez mais
feliz de ver como essa cultura, que eu acho tão interessante, tá crescendo e felizmente a gente
vê eventos japoneses sendo realizados na praça Luís Távora, de pessoas apresentando artes
marciais japonesas, karatê, tudo mais. Isso é muito bacana. Quanto mais eu vejo a propagação
de uma cultura que é tão boa, que a gente devia se espelhar como é a cultura japonesa, acho
melhor.
Pq - Depois que você conheceu a cultura japonesa, algo mudou na sua personalidade, no seu
jeito de pensar, agir, falar ou se vestir?
Aluno 11 - Eu costumo dizer que a minha personalidade foi moldada pela cultura japonesa,
pelos programas que eram passados aqui de origem japonesa, como os ―tokusatsus‖ (Jiraya,
Jaspion, Changeman) e outras coisas da época também, que moldaram o meu jeito de agir
com as outras pessoas. Muito da minha infância, caráter e personalidade teve influência da
cultura japonesa na época. E o tipo de pessoa que eu sou e a maneira como eu interajo com as
pessoas, eu acho que os desenhos ajudaram a ter essas boas características que eu acho que eu
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tenho. Cada dia a gente vai aprendendo e se transformando e vendo o que a gente pode levar
pro dia-a-dia.
Pq - O que da cultura japonesa você admira e passou a fazer parte da sua vida?
Aluno 11 - É mais a questão da amizade, lealdade e sinceridade. Basicamente todo o animê
fala sobre isso. Principalmente aqueles de colegial que falam da amizade, esse tipo de coisa.
Eu prezo muito pelos meus amigos, eu tenho poucos, mas os poucos que eu tenho são como
irmãos. Eles (animês) sempre falam sobre a importância da amizade e esse tipo de coisa.
Quando eu era adolescente eu não era muito sociável e acabava vendo mais animês e lendo
mais mangás do que interagia com as pessoas, o que me ajudou a ser mais sociável com as
pessoas também.
Pq - Qual foi a consequência de aprender o japonês na sua vida?
Aluno 11 - Hoje em dia, quando eu assisto ou jogo coisas em japonês eu consigo traduzir uma
coisa ou outra. E isso eu acho fantástico. Pensar que a menos de um ano eu não entendia nada.
Eu entendia alguma coisa porque, de tanto assistir animê você acaba absorvendo algumas
coisas, querendo ou não. Mas hoje eu fico: ―Caramba, eu aprendi isso em sala de aula‖ ou
―Caramba, eu estudei isso ontem!‖ ou ―Meu Deus, eu sei o que significa este kanji.‖ Isso é
bem legal.
Pq - Você usa o japonês no seu dia a dia, mesmo que sem querer?
Aluno 11 - Eu usava de vez em quando algumas expressões, mas eu ainda sonho com o dia de
me pegar pensando em japonês de forma natural.
Pq - Por que é importante aprender japonês para você como jornalista?
Aluno 11 - Eu acho que é um diferencial. E também porque eu quero trabalhar com
informações e novidades na área de jogos. E hoje em dia você saber japonês nessa área é
muito importante, porque você não vai ficar dependendo de outros na hora de conversar com
um desenvolvedor japonês, na hora de conversar com um presidente de uma empresa que
produz jogos em japonês. Então você acaba pegando informações que às vezes um tradutor
deixa escapar ou deixa um mal entendido. É aquela coisa, se eu quero trabalhar com a
indústria de jogos eu preciso saber japonês pelo menos. Além de ser um diferencial, vai me
fazer destacar de outras pessoas. Minha língua nativa é o português, minha segunda língua é o
inglês e se a minha terceira língua for o japonês, posso ir pra onde eu quiser no mundo. No
Canadá, por exemplo, tem uma empresa chamada Ubisoft, eles falam francês e inglês, então
eu posso falar inglês com eles. O pessoal da Nintendo fala em japonês, então eu falo em
japonês com eles. Então assim, as principais empresas de jogos são japonesas ou tem alguém
que fala inglês, sendo mais um motivo pra eu querer aprender o japonês.
Pq - Como você vê a cultura japonesa no Brasil e em Fortaleza?
Aluno 11 - Eu sei que a cultura japonesa é muito forte em São Paulo, sendo a segunda maior
colônia japonesa que existe no mundo. De uma maneira geral, a culinária, o sushi, se
propagou bastante no Brasil. Houve um boom da culinária japonesa a pelo menos 10, 15 anos.
Fora isso, de cultura japonesa aqui em Fortaleza no geral aumentou muito. Quando eu era
adolescente, as pessoas se reuniam na praça Portugal pra falar de animês e mangás, havia
aquela comercialização de fitas e depois de DVD. Fortaleza, não sei por qual motivo, sempre
teve um pé no Japão.
Pq - O que mudou nesse público da época da praça Portugal para hoje?
Aluno 11 - Aquele público era bastante reduzido, era um grande grupo dos excluídos. Hoje
em dia não existe mais isso. O SANA e os outros eventos de animê da época eram minúsculos
e hoje em dia, o SANA tá quase do tamanho do Anime Friends. É uma coisa que não dá mais
pra ignorar. Era uma coisa de amigos para amigos e passou a ser uma coisa grande, com
várias empresas atrás, patrocínios. É uma coisa que virou comércio.
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ENTREVISTA 3: Professora da UECE

NOME IDADE FORMAÇÃO

S.M 28 anos Professora de Japonês

Pq - Me conte um pouco sobre a sua formação e por que você começou a dar aulas de
japonês.
S.M - Eu comecei o curso de japonês na UECE em 2009, porque eu gostava de animê e essas
coisas relacionadas com a cultura japonesa. Na época, o meu último semestre também foi o
último da Professora Laura Tey (atual Coordenadora do Curso) e ela me convidou a dar aulas
porque eu era uma aluna muito aplicada e não tinham muitos professores de japonês na
região. A partir daí, já dou aulas há 06 anos. Eu também já fui para o Japão duas vezes, uma
como estágio em uma escola e na outra para fazer um curso.
Pq - Você viu alguma diferença de público nesses 6 anos de ensino do japonês?
S.M - Eu acho que, quando eu comecei, tinha mais interesse, ou melhor, quando eu estudei,
tinha mais interesse. Nos últimos anos teve um boom de cultura coreana na cidade e parece
que dividiu o público, não sei o porquê, podia ficar todo mundo gostando dos dois né? E
quando entrou essa informação da Coréia, acabou dividindo o público jovem, mas sempre a
faixa etária foi essa do pessoal aqui, 20 anos. A maioria vem aprender por causa dos animês e
mangás. Teve alguns que vieram por causa do esporte, por causa das artes marciais japonesas.
Eu tive um aluno que fazia judô e o nome dos golpes são em japonês, por isso que ele quis
aprender. E também já teve aluno que veio estudar por conta de religião. Tem alguns poucos
grupos religiosos de origem japonesa aqui na cidade, então gente que pratica essas religiões já
veio atrás de estudar o japonês. O que não tinha antes e que agora tem bastante é gente que
vem estudar procurando fazer intercâmbio no Japão, estudar lá, fazer pós-graduação ou
graduação. E antes não tinha, antes era uma ou duas pessoas na sala, nessa praticamente todo
mundo quer fazer pós-graduação lá no Japão, tem alguns aqui que podem fazer graduação
porque tem um limite de idade.

ENTREVISTA 4: Aluno 12, 2º semestre da UECE

NOME IDADE FORMAÇÃO

Aluno 12 26 anos Estudante

Pq - Por que você se interessou em aprender japonês?


Aluno 12 - Eu gosto de japonês desde que eu me entendo por gente. Eu conheci animê
quando eu tinha uns 04 anos de idade por causa do meu irmão mais velho que assistia os
animês na TV Manchete. Aí desde então eu comecei a gostar muito.
Pq - Como a cultura japonesa está inserida na sua vida?
Aluno 12 - Tá inserida em tudo. Comida, música, tudo! Na verdade eu sempre participo do
karaokê da UECE até. Mas eu não sei se vou esse ano. Mas eu gosto muito sabe? De tudo
assim na vida. Quando eu viajo assim pra outros cantos, tipo, São Paulo, pra Liberdade. Sabe
aquele momento que você ganha o dinheiro das férias e você vai só viajar pra gastar? E eu já
fui pra Buenos Aires, que tem o bairro Chino, que tem toda essa cultura, tanto japonesa
quando chinesa, quanto coreana no mesmo lugar, e tipo, é o meu lugar.
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Pq - Você lembra qual foi o seu primeiro contato e o que mais te marcou com a cultura
japonesa?
Aluno 12 - O meu primeiro contato foi… Na verdade foram vários de uma vez, porque eu
assisti simultaneamente, ―yuragi-sou‖, ―Cavaleiros do Zodíaco‖, ―Sailor Moon‖, aí eu vi
―tokusatsu‖ também, que é tipo Power Ranger. E é isso.
Pq - Você vai pro SANA também?
Aluno 12 - Já fui várias vezes, já dancei também na área K-POP, mas faz um tempo que eu tô
afastada.
Pq - Qual a importância do SANA pra quem gosta da cultura japonesa?
Aluno 12 - O SANA eu conheci quando eu tinha 14 anos de idade, o primeiro SANA que eu
fui era a 4ª edição, então foi a muito tempo atrás e não tinha quase ninguém. Era no Centro de
Convenções e depois passou para o Centro de Eventos porque aumentou o número de pessoas
que iam lá. Eu acho que o SANA é importante sim, mas não só ele, a internet em si é o maior
meio de comunicação e você conhece tudo por ela.
Pq - Você tem vontade de ir pro Japão?
Aluno 12 - Óbvio! Eu acho que morar eu não ia querer, por conta dos desastres da natureza
que tem lá, mas pro Japão eu iria com certeza, para férias e tal, e, principalmente, gastar
muito.

ENTREVISTA 5: Aluno 13, 2º semestre da UECE

NOME IDADE FORMAÇÃO

Aluno 13 24 anos Estudante

Pq - Por que você se interessou em aprender japonês?


Aluno 13 - Se eu tivesse que resumir em três coisas, seriam: animês/mangás, jogos e
faculdade. Porque japonês é bastante útil pra área de exatas, no caso eu faço engenharia, então
ter uma língua extra ajuda pra caramba, especialmente em artigos relacionados à matemática,
pois matemática japonesa é muito útil. Aí, jogos porque, ainda tem muitos problemas de
tradução e essencialmente localização de jogos. Tem jogo que nunca vai chegar aqui, não
importa o quanto você queira, você se conforma. Cara tem ―Super Robô Wars: A, J, K, L, R,
E‖, tudo isso existe e nunca vai ser traduzido. Aí você fica contando com aquelas traduções de
fãs e tudo mais ou chega uma hora que você fala: ―Quer saber eu vou aprender sozinho essa
desgraça‖.
Pq - Como a cultura está inserida no seu dia-a-dia, na sua vida?
Aluno 13 - No caso, o mais óbvio seriam os jogos, os jogos de origem japonesa. O Japão é
um mercado bastante importante na indústria de jogos, então eles produzem muito do que a
gente consome. Se você tiver um Nintendo normalmente os jogos vão vir do Japão, e como eu
sou ainda um dono de um Playstation, aí é que vem jogos do Japão mesmo. Eu também tenho
um interesse em especial por terror japonês. Tem sempre a questão de como a cultura deles é
―alienígena‖ a nossa, metaforicamente falando, eles têm uma vantagem no termo de assustar a
gente. Porque é uma coisa completamente desconhecida. Juntando o fato de que eles têm
mania de colocar num filme de terror algo que influencia mais no ambiente e no clima do que
no susto propriamente dito, e pronto, o terror japonês é uma das melhores coisas que têm. E
eu também tenho uma apreço pelos outros aspectos da cultura, como por exemplo, a questão
da disciplina, a diferença da visão de sociedade, porque lá eles tem uma visão muito mais
firme a respeito de que cada tem seu lugar. As vezes isso pode ser ruim as vezes é uma das
melhores coisas que tem. Se você tem um funcionário japonês, o lugar dele é lá trabalhando,
ele não vai faltar. É uma das coisas que eu admiro e que eu acho interessante ter. Aí eu me
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vejo interessado em coisas que abordam mais esse aspecto. Por exemplo, um filme recente
que teve, que não recebeu o crédito que merecia, foi ―47 Ronin‖, aquele filme é uma carta de
amor à cultura japonesa. Começa com o protagonista ―Keanu Reeves‖ (ator), que é
apaixonado pela garota e eles não terminam juntos no final. O filme deixa bem claro, ela é
realeza, por assim dizer, e ele é plebeu. Eles nunca podem ficar juntos. E o filme não tenta
enrolar a gente, ele joga isso da maneira mais direta possível. O filme representa de uma
maneira justa a cultura japonesa.
Pq - Como você vê a consequência da cultura brasileira absorvendo a cultura japonesa?
Aluno 13 - Bom, não seria só a cultura brasileira, o Japão tá invadindo o mundo inteiro, como
os Estados Unidos, a Europa, todo mundo tá começando a importar a cultura japonesa. Acho
que é o efeito da globalização. Só que, o Brasil em particular, têm um pouquinho mais de
destaque nisso, eu diria que é por causa da imigração japonesa no Brasil. Eu acho que foi por
isso que a gente conseguiu sair se agarrando a cultura japonesa com mais intensidade em
relação as outras. Mas apesar de tudo são culturas bastante diferentes, e a brasileira tem a
mania de englobar a cultura dos outros como se fosse a nossa. Tanto é que o Brasil não
simplesmente pega a cultura japonesa, ele transforma e absorve do jeito que é. Tanto é que a
gente tem uma coisa que você nunca vai ver no Japão: sushi de morango com chocolate. Isso
é uma das coisas peculiares do Brasil que deixa com um pouquinho de charme.
Pq - Você vai pra eventos de animês como o SANA?
Aluno 13 - Faz um bom tempo que eu não vou, eu prefiro ver um filme aqui, to mais num
canto reservado, to que nem um macaco velho que fica num canto reservado e escondido sem
sair pra sociedade.

ENTREVISTA 6: Aluno 14, 2º semestre da UECE

NOME IDADE FORMAÇÃO

Aluno 14 24 anos Estudante

Pq - Por que você se interessou em aprender japonês?


Aluno 14 - Bom eu na infância assistia os desenhos que passavam na televisão, mas eu nunca
fui desses de ir atrás desses negócios e tals. Mas quando eu entrei no ensino médio, um amigo
meu me levou pra um evento de animês. E foi aí que começou tudo. Comecei a gostar de
animês, de músicas, essas coisas, e a tendência foi só crescendo.
Pq - E nesses eventos de animê, o que mais chamou sua atenção?
Aluno 14 - Eu gostei muito assim dos cosplays, achei muito interessante quando eu entrei lá.
E quando a gente foi assistir os animês e tal, as músicas tocando e eu me senti dentro daquele
ambiente, eu pertenço a esse lugar. Era uma coisa que eu não conhecia mas que eu me senti
familiarizado, mesmo nunca ido atrás antes dessas coisas. Me chamou muita a atenção.
Pq - Você vai hoje em dia em eventos de animês?
Aluno 14 - Esse ano eu ainda não fui, mas até o ano passado eu ainda ia. Agora tem muita
responsabilidade, menos tempo, menos dinheiro também, aí fica difícil. Mas de vez em
quando eu ainda tento ir, não como antigamente que eu não perdia nenhum evento desse tipo.
Pq - Qual a importância desses eventos para pro público que gosta da cultura japonesa?
Aluno 14 - Eu acho muito importante porque é onde as pessoas se reúnem realmente, onde as
pessoas que gostam da mesma coisa se interagem. Porque normalmente quem gosta desse tipo
de coisa é mais isolado, na sua, ou é mais online em relação aos amigos. É nesses eventos que
acontece uma interação maior entre essas pessoas e você conhece novas pessoas. Eu acho
muito importante. Apesar de quem vai mais é quem já conhece, mas pelo menos a interação
dessas pessoas é importante.
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Pq - Como a cultura japonesa está inserida no seu dia-a-dia?


Aluno 14 - Já foi mais forte, mas hoje em dia a maior parte está nos animês, música mesmo,
que eu ainda assisto bastante. E eu gosto bastante da cultura japonesa, eu até fico pensando
que na vida passada eu fui um japonês, porque realmente era pra eu ter nascido lá. Tudo meu
faz parte de lá. Eu não gosto de zuar muito, lá eles são mais reservados, mais educados, eu
acho que era pra eu ter nascido lá e não aqui, mas pelo menos a passeio eu vou (pro Japão),
quem sabe eu tenha uma oportunidade de trabalho e de morar lá, com certeza eu tô aceitando.

ENTREVISTA 7: Aluno 15, 2º semestre da UECE

NOME IDADE FORMAÇÃO

Aluno 15 23 anos Jornalista

Pq - Por que você escolheu fazer o curso de japonês?


Aluno 15 - Eu vi no curso de japonês mais uma oportunidade de estar imerso na Cultura e
costumes do país que tanto me fascina, além de garantir um diferencial nas perspectivas
profissionais.
Pq - Por que você gosta da cultura japonesa?
Aluno 15 - A expressividade e autenticidade da cultura japonesa são os fatores que mais me
cativam dentro desse universo, assim como a forma em que o povo japonês se relaciona em
sociedade.
Pq - Qual foi o seu primeiro contato com a cultura japonesa?
Aluno 15 - É difícil datar o primeiro contato com precisão, mas com certeza eu lembro do
mais significativo. Nos tempos de criança, quando eu esperava ansioso pela animação
japonesa Yu Yu Hakusho ser exibida na extinta Rede Manchete de Televisão. Naqueles 25
minutos diários em frente à televisão eu pude conhecer um pouco da rotina, costumes e
crenças japonesas mesmo estando do outro lado do mundo, e sabendo que outras crianças da
minha idade, mais novas e mais velhas, estavam fazendo o mesmo não só no Japão, mas no
mundo todo.
Pq - De que forma a cultura japonesa faz parte do seu dia a dia?
Aluno 15 - Como grande consumidor da cultura japonesa, eu a vejo integrada no meu dia a
dia nos tempos de lazer, quando a atenção muitas vezes é direcionada e dedicada à literatura,
animações e estudos diários.
Pq - O modo como a cultura japonesa faz parte da sua vida influenciou seu modo de agir,
falar, vestir, se comportar ou pensar?
Aluno 15 - O meu modo de pensar sem dúvidas foi mudado graças ao conhecimento da
expressividade da cultura japonesa. Acredito que cada minuto que dedicamos ao aprendizado
e conhecimento da identidade de um povo, nos torna cidadãos globais, sem barreiras para
compreender os sentimentos e modo de pensar dos outros. Com a cultura japonesa não foi
diferente, e nesse caso específico, o contato traz uma imersão cultural que é somada à nossa
identidade, nos fazendo aceitar o mundo como ele.
Pq - Você pode me falar um pouco como a cultura japonesa está presente na sua vida
profissional e acadêmica?
Aluno 15 - A cultura japonesa no quadro profissional é uma constante para mim. Acredito
que a língua, por exemplo, seja um diferencial para a profissão de jornalismo. Com a fluência
e domínio da mesma, penso ser possível a abertura de um leque de oportunidades dentro da
profissão, principalmente no que diz respeito às relações internacionais, sejam sociais e
políticas, entre o Brasil e Japão, levando em consideração todo o histórico das duas nações.
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Já no quadro acadêmico, vejo muita perspectiva por ser meu interesse usufruir e relacionar a
cultura japonesa e sua influência no desenvolver narrativo, principalmente o relacionado aos
quadrinhos e demais frutos da cultura popular japonesa.

ENTREVISTA 8: Coordenadora do Instituto Poliglota

NOME IDADE FORMAÇÃO

F.G - Coordenadora e professora


do Instituto Poliglota

Pq - Primeiramente eu gostaria de saber mais sobre você e sua formação.


F.G - Meu nome é F.G, eu sou formada em Letras desde 2004, sempre trabalhei dando aulas
de línguas estrangeiras e como coordenadora de língua estrangeira. Eu dou aula de alemão
principalmente, de inglês as vezes também e de português para estrangeiro.
Pq - Você pode me falar um pouco sobre o Instituto Poliglota?
F.G - O Instituto foi criado há 20 anos atrás, é uma escola que foi fundada por uma família, a
minha família. A minha mãe, eu e o meu irmão, nós morávamos na Alemanha e voltamos pra
cá com o projeto de abrir uma escola que trouxesse esse ambiente multicultural que a gente
viveu na Alemanha. A gente já abriu o curso com a proposta de ter, acho que no começo eram
10 ou 12 idiomas. Então foi realmente essa proposta desde o começo, ser um ambiente
transcultural. Atualmente são 12 idiomas.
Pq - E sobre o curso de japonês? Quando começou e por que?
F.G - O curso de japonês ele não tinha desde o princípio, porque nós não tínhamos professor
logo no comecinho mesmo, no primeiro ano, no segundo ano. E aí assim que a gente
encontrou uma pessoa, que também era professor da UECE, a gente abriu o curso de japonês
poucos anos depois. Atualmente, são dois professores, com duas turmas aqui na filial e três
turmas na matriz. Em geral as turmas são formadas por grupos bastante pequenos, têm grupos
de 03, 04, 05 alunos. É bastante raro uma turma se formar grande, muitos alunos acabam
passando pra aula particular porque a turma vai diminuindo e aí eles terminam os últimos
semestres em aula particular. Teve uma turma especificamente que ficou todo mundo junto,
com 05 alunos como a turma se formou. Mas em geral é assim.
Pq - De quando o curso começou até hoje você percebeu alguma mudança de público?
F.G - A quantidade de alunos ela é mais ou menos constante. Se tornou mais jovem (o
público). Acho que no início era bastante misturado com adultos e adolescentes, e hoje
predominam os adolescentes ou pessoas muito jovens. Início de faculdade, a partir de 15 anos,
as vezes têm até de 12, 13 anos já querendo entrar e a gente tem um cuidado pra ver se a
turma tem um perfil adolescente ou não pra fazer um jogo de cintura mesmo pra separar se
tiver muitos adultos. Como ao longo dos anos o perfil foi ficando cada vez mais jovem, então
isso não tem sido tanto um problema.
Pq - E eles falam do porque ter entrado no curso?
F.G - Muita gente é porque gosta de animê, etc. etc. Eles gostam da cultura japonesa, a
cultura japonesa parece que tem um apelo por si só. Então em geral é por isso.
Pq - Você particularmente gosta da cultura japonesa?
F.G - Eu acho interessante. Eu, na verdade, nunca conheci e parei pra estudar muito sobre a
cultura japonesa até que a gente começou a ver esse perfil aí de interesse. A gente imaginava
logo de início que seria mais pra um objetivo de negócios ou viagem e tudo, e aí quando o
público se tornando mais jovem aí a gente parou pra ver um pouquinho como é que era, o tipo
de estética, uma estética diferente, um imaginário diferente. A gente fez até algumas
adaptações no método de ensino, até porque os livros foram ficando mais modernizados.
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Então a gente desde o início no Poliglota teve o foco na abordagem comunicativa, só que não
existiam livros comunicativos de japonês. E aí, o Japão tem um programa de bolsas pra
professores de japonês, pessoas que falam japonês e que querem ser professores, e dois dos
nossos professores já foram para esse programa, foram pra lá e passaram 06 meses, a outra
passou 1 ano, fazendo formação de professor de japonês como língua estrangeira. E eles
trouxeram muita coisa atual, então atualmente o método foi se desenvolvendo e a gente hoje
consegue ter um curso comunicativo de japonês de fato.
Pq - Qual a duração do curso?
F.G - São seis níveis até o A2. A gente trabalha de acordo com o quadro de referências
Europeu. O quadro de Referências Europeu ele é um negócio assim realmente tão bem feito
que o mundo inteiro tá começando a adotar como padronização mesmo. Antes você tinha
níveis como: elementar, intermediário e avançado. Só que o que o alemão chamava de
elementar, de básico, era muito mais do que o elementar dos Estados Unidos por exemplo. O
alemão, para ele, os conhecimentos básicos você já tinha que saber um monte de coisas.
Enquanto que o elementar nos Estados Unidos era realmente só aquela fala do dia-a-dia, da
rua, enfim. Aí o quadro de Referências Europeu foi criado logo depois da União Europeia,
nos anos 2000 por aí, depois da introdução do euro, da economia comum, e eles estão
querendo padronizar também os cursos universitários, e pra isso surgiu a necessidade de ter
níveis que todo mundo soubesse o que é. Se eu disser que você é A1, o mundo inteiro sabe o
que é A1 certo? E aí a gente tenta adaptar também para o japonês, o curso tem certificados
próprios, uma nomenclatura própria, que é equivalente com o quadro comum de referências
para a língua estrangeira que a Europa criou. O Quadro de Referências Europeu é todo
baseado no que você sabe fazer, você consegue superar que tipo de situação? E o nosso grupo
de japonês em grupo vai até o A2, o A2 é o nível de relacionamento pessoal. Você consegue
resolver todos os problemas práticos na rua, que seria o A1, e você ainda consegue
desenvolver uma relação interpessoal, ou seja, ter uma amizade, falar da sua vida pessoal, dos
seus gostos, das suas experiências passadas, das suas expectativas futuras, tudo aquilo que faz
parte do mundo da vida pessoal e da amizade. Então esse é o nível que a gente chega com o
pessoal em grupo. Aí se quiser aprofundar a linguagem do trabalho, aí você vai ter que fazer
um pouco mais.
Pq - E depois que o curso termina, você já soube de algum aluno que foi para o Japão?
F.G - Sim, eu não sei se trabalhar, mas visitar já teve sim. É bem bacana o retorno quando
chega assim: ―Ai, eu consegui usar e conversar e foi bacana‖. É bem legal isso.

ENTREVISTA 9: Aluno 16, 2º semestre do Instituto Poliglota

NOME IDADE FORMAÇÃO

Aluno 16 22 anos Estudante

Pq- Por que você se interessou em aprender japonês?


Aluno 16 - Primeiramente, quando eu era pequena, eu sempre gostei muito da cultura
japonesa. Assistia muito animê, pesquisava muito sobre a vida no Japão, aí depois de crescida
eu quis fazer o curso pra aprender japonês porque eu tô afim de fazer um mestrado lá. Depois
que eu me formar, depois que eu tiver algumas coisas certas na minha vida eu pretendo muito
ir para lá.
Pq - Qual foi seu primeiro contato com a cultura japonesa?
Aluno 16 - Olha, eu não lembro muito bem, porque eu era criança assistindo Sakura Card
Captors, Sailor Moon, sabe? Mas quando eu comecei a ficar vidrada assim foi na 5ª série que
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eu conheci uma amiga que era também vidrada. Aí ela: ―Vamos assistir, vamos pesquisar‖. Aí
a gente assistiu e pesquisou. Aí estamos aí.
Pq - E você vai pra eventos de animês?
Aluno 16 - Sim! O primeiro SANA que eu fui foi em 2008. Eu fui no primeiro SANA sem
cosplay, aí eu fui vendo os cosplays e pensei: ―Quero fazer!‖ Aí o primeiro cosplay que eu fiz
foi do Deidara, em 2009, e eu já estava batendo as fotos, já estava morta de feliz. Aí assim por
diante, eu fui fazendo mais. Eu já fiz do Deidara (Naruto), da Lucy (Fairy Tail), da Crona
(Soul Eater), Mello (Death Note) e agora eu to fazendo do Ciel (Black Butler).
Pq - Você vai em todo SANA ?
Aluno 16 - Teve uma época que eu parei de ir porque sempre eu viajava e não dava pra ir. E
também meu amigo que ia comigo, ele acabou não indo mais também porque ele teve que
resolver umas coisas da vida dele, aí eu ficava com vergonha de ir sozinha, porque você fica
meio sem rumo. Aí depois eu voltei a ir porque eu arranjei um namorado e eu obrigava ele a
ir.
Pq - Depois que você conheceu a cultura japonesa, algo mudou na sua personalidade, no seu
jeito de pensar, agir, falar ou se vestir?
Aluno 16 - Eu acho que não mudou tanto não. Eu não mudei meu estilo, nem nada não, só
cresceu a vontade de conhecer mais.
Pq - Você usa o japonês no seu dia a dia, mesmo que sem querer?
Aluno 16 - Antes das aulas eu falava algumas coisas, mas não naturalmente, aí depois das
aulas de japonês, quando eu tô na aula de espanhol, às vezes a professora pergunta alguma
coisa pra mim e ao invés de falar Sí (sim em espanhol) eu responto Hi (sim em japonês).
Pq - Você pensa em estudar ou morar no Japão depois?
Aluno 16 - Sim e se eu gostar muito eu pretendo morar sim, mexer os pauzinhos aí. Às vezes
a gente vai com aquela expectativa e às vezes não é o que a gente esperava. A gente gosta da
cultura, mas às vezes morar no lugar você pode não aguentar.
Pq - O que você admira na cultura japonesa?
Aluno 16 - É porque é muito diferente da cultura ocidental e também até entre os orientais
eles são bem diferentes. Eu gostei, me senti atraída por esse diferente.

ENTREVISTA 10: Aluno 17, 3º semestre do Instituto Poliglota

NOME IDADE FORMAÇÃO

Aluno 17 26 anos Professor de Inglês e Alemão

Pq - Por que você se interessou em aprender japonês?


Aluno 17 - Sou budista a mais de uma década e tenho planos de utilizar o japonês como
ferramenta de aprimoramento da minha própria prática espiritual e como um conhecimento a
mais e poder levar esse conhecimento a novos destinos, conhecer o Japão. Estudar no Japão é
uma alavanca.
Pq - Qual foi o seu primeiro contato com a cultura japonesa?
Aluno 17 - Foi pelo budismo. Eu fui criado na linha Zen e depois eu conheci a linha de
Nitiren Daishonin. E todas as nossas orações são traduzidas do japonês.
Pq - Tem alguma diferença do budismo daqui com o budismo do Japão?
Aluno 17 - Tem uma diferença, porque o Buda Sakiamuni pregou vários ensinamentos
durante a vida dele e que cada um desses ensinamentos foi levado pelos seus discípulos de
forma diferente e, consequentemente ,várias escolas budistas foram criadas. Então o Zen tem
uma diferença muito grande com de Nitiren Daishonin pela forma com que ele aborda os
conhecimentos de buda. A linha que eu estudo já foi consolidada no Japão, então em todos os
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ritos são utilizados termos japoneses. Existem mais de 80 linhas e escolas budistas. E o
budismo foi se espalhando pela Ásia, começou na Índia, foi pra China e depois foi pro Japão.
Então, cada vez que ele foi entrando numa cultura, ele foi se adequando ao estilo de vida
daquelas pessoas. Inclusive incorporando a religião daquele local. O japonês já foi o período
tardio do crescimento do budismo e a linha budista que a gente segue lá são ―os últimos dias
da lei‖. Como se fosse o prazo de validade do budismo na humanidade, em que acredita-se
que o monge que fundou esse budismo é o sucessor do Buda Sidarta Gautama, ele nasceu
naquela época para trazer os novos valores budistas pra humanidade.
Pq - Qual foi a consequência de aprender o japonês na sua vida?
Aluno 17 - Aprender o japonês só tornou mais claro muitas das coisas que eu já fazia no dia-
a-dia. Eu gosto muito da cultura japonesa, de entrar em contato e estudar. Então dá aquele
brilho nos olhos quando você lê um mangá, uma notícia, alguma coisa, que por mais que seja
pouco você entende o contexto daquilo. É muito legal! Você se sente como se fosse surdo e
começasse a escutar. Essa é a sensação.
Pq - Me conta um pouco de como a cultura japonesa está inserida no seu dia a dia?
Aluno 17 - No meu dia a dia, infelizmente ele não está inserido no meio acadêmico, porque
eu tô me graduando em direito, no último semestre. Porém, desde pequeno eu tenho um
fascínio por história e eu tenho muitos livros da história japonesa, então, alguns deles estão
em japonês, e ter o acesso ao japonês é uma possibilidade de acessar esse conhecimento.
Pq - Depois que você conheceu a cultura japonesa, algo mudou na sua personalidade, no seu
jeito de pensar, agir, falar ou se vestir?
Aluno 17 - Com certeza! Toda cultura que a gente aprende, de certa forma a gente absorve e
tenta traduzir pra nossa vida. Claro que depois de conhecer a cultura japonesa eu não me
tornei uma pessoa japonesa, mas muitos valores japoneses eu incorporei a minha vida. Tanto
que eu considero que a minha forma de tratar pessoas é diferente do que uma pessoa que não
teve esse estudo. Por exemplo, a cordialidade ao tratar com pessoas, geralmente as pessoas
não levam muito em consideração o estado de vida da pessoa quando vai falar com ela. Eu já
tento passar uma conversa mais polida, mais respeitosa com essa pessoa, justamente porque
eu não sei qual é a luta dessa pessoa.
Pq - Como você vê a cultura japonesa no Brasil de forma geral?
Aluno 17 - A prática budista tem muitos termos do Japão pra denominar coisas. O nome das
práticas tem termos específicos em japonês e a gente acaba se acostumando. A gente acabou
incorporando isso na nossa vida como algo natural. Em Fortaleza, as pessoas veem mais a
parte gastronômica, só mencionando mesmo o japonês na parte gastronômica porque não
temos nenhum contato com o Japão cultural aqui em Fortaleza. Isso a gente vê mais nas
colônias do sudeste, São Paulo, no Pará, se não me engano. Mas aqui em Fortaleza é mais
difícil realmente. As escolas de japonês daqui só vão até o curso básico, que são 06 semestres,
pelo menos no Poliglota funciona assim. Se você quiser estudar do intermediário pra frente
você tem que ir para outra região estudar ou pro Japão mesmo.

ENTREVISTA 11: Aluno 18, 3º semestre do Instituto Poliglota

NOME IDADE FORMAÇÃO

Aluno 18 22 anos Estudante

Pq - Por que você se interessou em aprender japonês?


Aluno 18 - Porque eu gosto de assistir animês, essas coisas, desde a oitava série. Aí eu fui
passando a gostar mais do Japão e fiquei muito interessada pela cultura e eu tenho a vontade
de um dia ir pra lá conhecer muito da cultura deles.
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Pq - Você lembra o seu primeiro contato com a cultura japonesa?


Aluno 18 - Foi o animê Naruto, porque meu irmão começou a assistir e ele: ―Ah, assiste
vai!‖. Aí eu comecei a assistir com ele e depois a gente foi assistindo outros animês, depois
cada um foi assistindo conforme o seu gosto pessoal. Eu gosto muito da cultura japonesa, do
jeito deles, de tudo lá do Japão, eu fico encantada. Essa doutrina metódica que eles têm, eu
acho muito legal, aí eu fui ficando interessada e é isso.
Pq - Você vai em eventos de animês, faz cosplay?
Aluno 18 - Eu já fui em eventos, mas faz um tempo que eu não vou porque sempre que tem o
SANA, eu tô viajando. Eu sou do Maranhão e quando eu estava lá eu ia em eventos com os
meus amigos. Já cheguei a fazer um cosplay simples.
Pq - Qual a importância desses eventos para você?
Aluno 18 - Eles servem pra juntar essas pessoas que têm um gosto em comum. Eles trazem
um pouco do que tem lá no Japão, eles vendem esses negócios de botton, trazem os doces,
trazem um pouco da cultura. Então é o mais perto que a gente consegue chegar do Japão
estando aqui.
Pq - Depois que você conheceu a cultura japonesa, algo mudou na sua personalidade, no seu
jeito de pensar, agir, falar ou se vestir?
Aluno 18 - Ixi e como! Eu passei a ser uma pessoa mais educada, claro que meus pais me
educaram muito bem, mas eu passo a ver o ponto de vista japonês e o modo de pensar deles
em sociedade e como eles conseguem construir tanto pensando daquela forma. Então eles são
muito educados e acabam tendo muitos benefícios com isso, como: nas cidades eles têm o
hábito de separar o lixo reciclável e a prefeitura não recolhe o lixo quando não é separado.
Esse pensamento coletivo deles que me interessa. Eu acabo pensando que tem que partir de
alguém e eu gosto de aplicar e eu acho muito benéfico. É uma coisa tão rara aqui no Brasil,
que quando você chega de uma forma super educada, a pessoa já te olha de uma forma
diferente. Você acaba tendo muitos benefícios.
Pq - Qual foi a consequência de aprender o japonês na sua vida?
Aluno 18 - Eu falo com as minhas amigas às vezes e acaba saindo expressões tipo:
gomenasai, sumimasen. Elas falam: ―Em português! Em português!‖ Em casa também eu
solto palavras ou frases para expressar o que eu estou sentindo. Quando eu vou comer sushi,
às vezes eu falo ―itadakimasu‖.
Pq - Você tem algum plano de ir para o Japão?
Aluno 18 - Tenho, eu quero me preparar pra não cometer nenhuma gafe ou falar alguma
expressão errada e acabar fazendo com que eles me odeiem. Eu quero chegar sabendo me
comunicar e saber aproveitar a viagem quando eu for, ter um plano bem elaborado. Meus
planos são visitar por um período longo, porque eu quero conhecer as províncias, cada
pedacinho de lá.
Pq - Como você vê a cultura japonesa no Brasil de forma geral?
Aluno 18 - O Japão é visto como algo mais exótico. Em relação a outras culturas, você vê
muito do Japão, até porque a maior comunidade japonesa é aqui no Brasil. Acho que ela está
mais na culinária e nos eventos. A mídia também influencia muito no modo de pensar das
pessoas, e a questão dos animês, é porque eles utilizam muito da cultura japonesa, eles
mostram como funcionam as cidades, eles mostram as realidades de uma maneira mais de
entretenimento para as pessoas.

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