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SHENEVILLE CUNHA DE ARAÚJO

A DISCRIMINAÇÃO DA IMAGEM DO NEGRO NA TV BRASILEIRA

BOA VISTA – RR
MARÇO/ 2003
10

SHENEVILLE CUNHA DE ARAÚJO

A DISCRIMINAÇÃO DA IMAGEM DO NEGRO NA TV BRASILEIRA

Monografia apresentada à banca


examinadora da Universidade Federal de
Roraima como exigência parcial para a
obtenção do título de Bacharel em
Comunicação Social – Jornalismo, sob a
orientação da Profª. Luciana Nabuco.

BOA VISTA – RR
MARÇO/ 2003
11

TÍTULO DA MONOGRAFIA: A Discriminação da Imagem do Negro na TV Brasileira


AUTORA: Sheneville Cunha de Araújo

Aprovada em / /

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________________
Profª.: Luciana Nabuco
_____________________________________________________
Profª.: Vângela Moraes
_____________________________________________________
Profª.: Antonia Costa
12

DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a todos
aqueles que acreditaram em mim e
que colaboraram para o meu
crescimento acadêmico, profissional
e pessoal. Dedico em especial a
todas as pessoas que sonham com o
fim da exclusão social, com uma
sociedade igualitária.
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AGRADECIMENTOS

Temos que agradecer sempre primeiro a Deus por todas as conquistas


alcançadas. Procuro agradecer por todas as coisas que acontecem em minha vida.
E hoje, agradeço pela oportunidade que tive de estudar e me formar em jornalismo,
uma profissão de extrema importância social.
Agradeço a minha família, que é o que possuo de mais valioso em minha vida, mas em
especial a minha mãe, Marlita Gomes da Cunha, a mulher mais digna e batalhadora que conheci, a
quem tomei como força e inspiração para lutar por meus objetivos.
Agradeço também a minha querida irmã, Tamille Cunha de Araújo, que
apesar de seu jeito intransigente, sempre me amou muito e me deu muito carinho, e
é isso que importa.
Um agradecimento especial a uma pessoa muito importante em minha vida,
Guth Moura, que com seu jeito admirável me faz tornar a cada dia uma pessoa
melhor. Além disso, foi uma pessoa que desempenhou um papel fundamental para
execução desse trabalho.
Também agradeço a toda sua família, que me acolheu com muito carinho. Agradecimentos
especiais a Ana Aparecida Moura e José Nagib da Silva Lima, que também foram muito
importantes no decorrer desse trabalho, sempre me auxiliando em tudo que necessitei.
Agradeço a minha querida prima Janaína Cunha (Missinha), uma das
pessoas mais importantes da minha vida, que desde a infância esteve ao meu lado,
nos bons e maus momentos, contribuindo também para a realização deste trabalho.
Agradeço a minha amiga Alexsandra Sampaio que, mesmo com esse jeito difícil, se tornou
uma pessoa muito especial pra mim, tendo um lugar reservado em meu coração. Também foi uma
das pessoas que auxiliaram na realização desse trabalho de conclusão de curso.
Agradeço aos amigos Jorge Evangelista e Pedro Alencar que também foram
de fundamental importância para execução desse trabalho e ao amigo George
Williams (Fino), que também contribuiu de forma especial. Todos eles são muito
querido pra mim.
Agradeço o desprendimento da amiga Adriana Albuquerque D’Almeida, que me ajudou muito
em momentos difíceis e que também teve participação fundamental na execução desse trabalho.
Agradecimentos especiais a Pablo Sérgio e Titonho Beserra, e na pessoa deles agradeço a
todos os meus colegas de trabalho, que neste período tiveram muita compreensão comigo, cedendo
inclusive um tempo para que eu pudesse me dedicar mais a esse trabalho.
14

Agradeço muito a minha orientadora, a professora Luciana Nabuco que teve


compreensão e paciência com minha falta de tempo e meus atrasos, estando
sempre disponível e dando toques especiais na elaboração desse trabalho de
conclusão de curso.
Agradeço as amigas Kika Santos e Simone Jordânea, que contribuíram não
só na minha vida acadêmica, mas que também têm uma grande importância em
minha vida.
Agradeço a grande amiga Nízia Bríglia e toda sua família que me apoiou e me
ajudou no ingresso e no início do meu curso.
Agradeço aos meus colegas do jornal Folha de Boa Vista, que ajudaram a
confirmar que eu tinha escolhido a profissão certa e participaram de um dos
momentos mais marcantes da minha vida.
Agradeço também a todos os meus colegas de curso que contribuíram no
desenvolvimento da minha vida acadêmica, em especial a Rita Rejane e Américo
Marques, que sempre estiveram do meu lado, com muita dedicação e carinho.
Agradecimentos especiais a todos os professores da Universidade Federal de
Roraima (UFRR) que evidentemente tiveram participação significativa na minha
formação.
15

“Eu sou invisível. Entenda, simplesmente


porque as pessoas recusam-se a me ver. Como
as cabeças sem corpos que às vezes se vêem
em exibições circenses. É como se estivesse
rodeado de espelhos de vidros grossos,
destorcidos. Quando eles se aproximam de
mim, vêem somente o que está a minha volta,
suas próprias invenções e imaginações. Tudo e
qualquer coisa, menos a mim.”
Ralph Ellison
16

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..................................................................................................... 09

1 A DISCRIMINAÇÃO DO INÍCIO........................................................................ 12

2 NEGROS PRIMEIRAS IMAGENS - Um resgate histórico................................ 17


2.1 Pintando negro....................................................................................... 18
2.2 O negro na literatura brasileira............................................................... 20
2.3 O negro nos palcos................................................................................ 22
2.4 O negro na película............................................................................... 28

3 O NEGRO NA TV BRASILEIRA........................................................................ 35
3.1 A telenovela apresentando o negro..................................................... 39
3.2 Escravidão: o destino do negro na tv................................................... 41
3.3 E os estereótipos persistem................................................................. 49
3.4 Negros como serviçais......................................................................... 51
3.5 Negros na classe média....................................................................... 53
3.6 Novela expõe problema mas não soluciona......................................... 56
3.7 O negro no telejornal: verdadeiras desigualdades sociais.................... 59
3.7.1 Contexto local.......................................................................... 61
3.8 Comerciais de tv, onde os negros são ainda mais invisíveis................ 62

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 65

REFERÊNCIAS..................................................................................................... 68

OBRAS CONSULTADAS...................................................................................... 69

ANEXOS............................................................................................................... 70
17

INTRODUÇÃO

Mesmo sendo o país de maior população afro-descendente fora do continente


africano, com 45% da população composta por habitantes negros, segundo últimas
pesquisas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), no Brasil o
cidadão negro ainda é tratado com requintes da época da escravidão, vistos como
seres inferiores, sendo os últimos, inclusive, a poder exercer seus direitos, como o
acesso ao trabalho, educação e moradia digna.

Esse fato pode ser facilmente verificado através da mídia, meio que reúne todos
os veículos de comunicação, que mostra diariamente, muitas vezes de maneiras
sutis, as gritantes desigualdades raciais existentes no país. É possível observa-las
em matérias onde a maioria dos pobres é da raça negra e em que a maioria dos
criminosos não é de brancos.

Junto com outros mecanismos, a mídia é hoje um dos responsáveis pelo


processo de construção de identidades culturais nas sociedades modernas. E a
televisão é um de seus meios de comunicação de massa mais poderoso, depois do
rádio, que tem em relação a televisão maior poder de imediatismo e mobilidade, por
isso ganha em popularidade.

Com esse poder, a mídia poderia trabalhar para mudar essa realidade tão
injusta, já que nunca ficou comprovado que o negro é inferior ao branco em nenhum
aspecto e que a cor da pele de uma pessoa a faz menos valorosa que outra.

E a televisão por sua vez, forte instrumento formador de opinião, além de


mostrar a realidade brasileira sem provocar reflexão, através de seus jornais,
quando se utiliza da imagem do negro em suas telenovelas - produto altamente
popular e rentável dentro e fora do país - o associa comumente a funções de níveis
considerados inferiores.

Diante disso, neste trabalho de pesquisa pretendemos mostrar inicialmente, num


sentido mais amplo de comunicação, que engloba não só a mídia de massa, mas
também as artes e a literatura, através da realização de um resgate histórico, como
a imagem do negro foi apresentada à sociedade desde a sua chegada ao Brasil.
18

Afunilando mais o assunto, vamos estudar a questão da ausência/presença da


imagem do negro na televisão, pegando como principal instrumento de pesquisa a
Rede Globo, por ser o canal de maior audiência no Brasil e por ser considerada uma
das melhores televisões do mundo em termos de qualidade técnica.

A telenovela brasileira será o nosso principal foco, por ter uma enorme
importância dentro da cultura nacional, podendo influir inclusive na formação da
identidade cultural do povo.

E com todo esse poder, a telenovela, ainda hoje perpetua a imagem do negro
ligada à mais antiga e mais triste condição que ele passou, a de escravo, papel
natural destinado aos atores negros.

Em novelas de períodos atuais essa imagem não muda tanto. Quando vemos
negros, geralmente estão representando papeis de domésticas, motoristas,
porteiros, malandros, favelados, entre outras funções relacionadas às camadas
menos favorecidas. Além de criminosos é claro, o estereótipo mais atual.

É possível observar com isso, que a maneira como a imagem do negro é


mostrada na telenovela é ultrapassada. Os autores ainda teimam em criar roteiros
com ausência de temas reais, fatos do cotidiano, e o negro está presente em nosso
cotidiano, não só nas coisas ruins como são largamente apresentados, mas também
em muitas coisas boas. Existem negros em todos os ramos da nossa sociedade,
temos juizes, médicos e até executivos negros. É preciso mostrar ao Brasil, que não
existe negro só nas camadas menos favorecidas. Nestas eles são maioria, com
certeza, mas isso é um fruto de todo o racismo que sofreu e que ainda sofre até
hoje, sendo a televisão, em especial a telenovela, um fator contundente nessa
realidade, contribuindo para que os afro-brasileiros, e a sociedade como um todo, os
olhe apenas de uma maneira, sem mostrar os avanços desse segmento
populacional.

Sabemos que não é papel da televisão, nem tão pouco da telenovela, acabar
com as desigualdades sociais no país. No entanto, é possível que o tratamento que
vem sendo dado a imagem do negro junto a sociedade, possa estar reforçando uma
visão desfavorável de sua figura, inclusive entre eles próprios. E é disso que vamos
falar no decorrer do trabalho.
19

1 A DISCRIMINAÇÃO DO INÍCIO

Normalmente a história ensinada nos bancos das escolas apresenta o negro


puramente como escravo, isto é, sabemos apenas que eles foram escravos e hoje,
depois da piedade de uma princesa branca, deixaram de ser.

A forma com que os negros nos são apresentados não nos permite refletir sobre
sua vida antes da escravidão, não nos permite questionar se existiu alguma outra
condição antes dessa época ou até mesmo se essa condição desumana imposta a
eles foi justa.

Com o tempo, passada a ingênua infância em que aprendemos aquilo que o


sistema quer que saibamos, passamos a ver tudo sobre uma outra ótica. Uns
mesmo sabendo do que realmente aconteceu, preferem não remexer a história,
outros passam a refletir e constatar que a situação de desigualdade vivida pelos
negros pode ser decorrente de toda a história que não aprendemos na escola.

Encarando a realidade - Depois de cruéis caçadas humanas na África, onde os


negros viviam em sistema de aldeias e reinos, os primeiros contingentes foram
introduzidos no Brasil nos últimos anos da primeira metade do século XVI. Especula-
se a data correta, mas o apontamento mais provável é para o ano de 1538, ano este
em que o comércio humano passou a ser um grande negócio para os europeus, que
para justificar a escravidão, forma de enriquecer sem muito custo, classificavam o
negro como seres inferiores aos brancos, devido à cor de sua pele. “O imenso
negócio escravista raramente foi objeto de reservas. Ao contrário, se considerava
meritório realizar as caçadas humanas, matando os que resistissem, como um ato
pio de aproxima-los do deus dos brancos” (RIBEIRO, 1995, 161).

Mas seria possível classificar uma pessoa como inferior a outra devido a cor da
pele, dos olhos ou do cabelo, já que estas são apenas características de indivíduos
humanos?

O racismo, utilizado pelos europeus para conseguir mão-de-obra barata em suas


explorações – a escravidão – não tem sentido de ser, pois nem negros ou brancos
podem ser considerados uma raça em razão exclusivamente da cor. Segundo define
o Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, raça significa linhagem,
20

estirpe: geração; conjunto dos ascendentes na família; gente; família; variedade de


espécie animal, que se conserva ou perpetua pela geração; classe ou grupo de
pessoas que têm a mesma profissão ou as mesmas tendências; casta, espécie; laia;
qualidade.

Para Joel Rufino, nenhum desses grupos de pessoas é, porém, uma raça.
Pretos e brancos são apenas conjuntos de indivíduos que têm essas cores.
Segundo ele, a teoria das raças puras não é real, partindo do pressuposto que se
um grupo humano que tivesse se mantido, sem se misturar com outro, não sofreria
mutações e dentro de um tempo, desapareceria. Além disso, em absolutamente
nenhum lugar do planeta, um grupo conseguiu viver isolado dos outros. “Como a
raça humana sempre se misturou, conclui-se que uma ‘raça invisível’ de pele preta
pode ser igual ‘raça invisível’ de pele branca, ou amarela, ou vermelha, etc” (p.12).

O racismo na verdade, é uma hipótese de superioridade de um grupo sobre


outros, não comprovada, mesmo com o emprenho de colonialistas que precisavam
justificar aspectos considerados por eles ruins, ocorridos em outros povos, fazendo
assim com que os demais e até mesmo os próprios inferiorizados, aceitassem essa
sina.

Mas para Rufino, mesmo que conseguissem provas da superioridade de um


grupo racial sobre os outros, em alguns aspectos, o racismo não deixaria de ser
injusto, já que a espécie humana é uma coisa só. Entretanto, é preciso entender que
o racismo não faz parte da natureza humana, veio com a necessidade de defender o
seu espaço “...Sob a forma atual, baseado na cor da pele, é filho do colonialismo, e
atingiu seu extremo com o aparecimento do capitalismo financeiro” (p. 39).

A partir do colonialismo, o negro foi introduzido no Brasil na condição de


escravo, com o fim de produzir o máximo de lucros aos seus senhores, agüentando
condições precárias de sobrevivência.

Após a abolição, que ocorreu não pela tomada de consciência de que o negro é
um ser humano como o branco, mas em parte por motivos de piedade ao sofrimento
que os escravos passavam e também, com a convicção de que era preciso
modernizar o Brasil, pois a escravidão já não era a forma mais eficiente de
incrementar a economia imperial.
21

Mesmo livres, aos negros só era permitido exercer o mesmo papel que antes
lhes foi conferido, o de animal de serviço. Após a abolição eles não passaram a ser
vistos como trabalhadores livres, mão-de-obra igual a do branco. Não. O preconceito
então floresceu, reduzindo-os a uma condição de miserabilidade, que exterminava a
população negra.

Para os latifundiários, quanto mais branco o trabalhador, melhor, pois naquela


visão, os negros não eram capazes de desempenhar o trabalho que, com a
modernidade, exigia a utilização da inteligência e responsabilidade.

As mudanças ocorridas com a abolição e a chegada de trabalhadores brancos


de outros países, acabaram contribuindo para fortalecer a idéia de inferioridade dos
negros, visto que nas regiões sul e sudeste, onde os imigrantes europeus se
concentravam, o desenvolvimento ocorria com maior rapidez, então surgia a
constatação dos racistas: “Estão vendo? Onde tem menos preto o progresso é
maior”. E eles culpam os negros por suas próprias desgraças, explicadas por eles
como características da raça e não como resultado da escravidão e opressão vivida
por séculos.

Mas como os negros poderiam demonstrar algum valor, se não lhes eram
oferecidas oportunidades?

A eles, tudo foi negado: a posse de um pedaço de terra para poder cultivar,
escolas para se educar ou um trabalho para se sustentar. Só lhes restaram a
discriminação e repressão. Em busca da sobrevivência, eles se dirigiram então às
cidades, onde encontravam um ambiente menos hostil para viverem.

Assim surgiram as favelas, que desde então, só se multiplicam, em razão de ser


a única solução que pobre encontra para morar, mesmo com a ameaça de serem
expulsos ou ainda mortos em deslizamentos, já que essas moradias são geralmente
construídas em morros sem qualquer segurança, porque os melhores lugares já
foram ocupados pelos brancos.

Diante de tudo isso, podemos constatar a origem das enormes desigualdades


existentes entre brancos e negros em nosso país, mesmo sendo o negro a cor
predominante de nosso povo.
22

Tais condições permitiram ao branco crescer nos últimos séculos na proporção


de um para nove, e ao negro, apenas de um para dois e meio, reduzindo seu
montante tanto percentual como em números absolutos, porque caíram de 6,6
milhões, em 1940, para 5,7 milhões, em 1950, voltando a aumentar para apenas 7,2
milhões, em 1990 (RIBEIRO, p.233 a 234).

Segundo pesquisas realizadas no Brasil, o despreparo do negro e a repulsa do


branco em relação a esse, é o fator que impedia seu crescimento e hoje impede sua
integração e ascensão junto à sociedade.

Estatísticas mostram que atualmente existe uma marginalização dos não -


brancos maior que antes e que a quantidade de negros ricos é insignificante,
imprensada e solitária numa classe média que os olham atravessado. “Os únicos
lugares onde preto é maioria, é na favela e na cana” (RUFINO, p. 64).

Uma efetiva condição de inferioridade, produzida pelo tratamento


opressivo que o negro suportou por séculos sem nenhuma satisfação
compensatória, a manutenção de critérios racialmente discriminatórios que,
obstaculizando sua ascensão simples condição de gente comum, igual a
todos os demais, tornou-se mais difícil para ele obter educação e incorporar-
se na força de trabalho dos setores modernizados. As taxas de
analfabetismo, de discriminalidade e de mortalidade dos negros são, por
isso, as mais elevadas, refletindo o fracasso da sociedade brasileira em
cumprir na prática, seu ideal professado de uma democracia racial que
integrasse o negro na condição de cidadão indiferenciado dos demais
(RIBEIRO, p. 235),

Essas condições tornaram alguns negros mais resignados com o destino imposto à
eles, que com o tempo melhorou com a ascensão à dignidade do ser humano. Mas a
permanente luta do negro continua, a conquista de um lugar e de um papel
participante legítimo na sociedade nacional. “Nela se viu incorporado à força. Ajudou
a construí-la, nesse esforço, se desfez, ao fim, só nela sabia viver, em razão de sua
total desafricanização” (RIBEIRO, p. 220).

O negro continua assim sendo absolutamente indesejável, devido sua imagem


popular que era e ainda é relacionada a pobreza, as doenças, a criminalidade e a
violência. O sofrimento que passou e que ainda passa, dificilmente desperta alguma
solidariedade e muito menos a indignação, pois as pessoas preferem atribuir toda
23

sua desgraça, vivida até hoje, ao passado, a escravidão, se eximindo erroneamente


da responsabilidade. Assim, o destino dessa parcela majoritária da população não é
objeto de nenhuma forma específica de ajuda para que saia da miséria e da
ignorância a que foi confinada pelas chamadas “raças superiores”.
24

2 NEGROS PRIMEIRAS IMAGENS - Um resgate histórico

O Brasil tentou se constituir como nação, baseado na unidade nacional e na


uniformização cultural influenciada nas tendências euro-norte-americanas, negando
aos índios e negros a afirmação de sua identidade cultural dentro dessa unidade,
pois eles estavam fora do padrão estabelecido pela sociedade como uniforme.

Mas para alguns antropólogos, como Gilberto Freire (1954) a mestiçagem


cultural das três raças fundadoras do Brasil (negra, branca e índia) foi uma
experiência positiva na formação da cultura brasileira.

Essa sua posição, que enfatizava a degenerescência biológica e moral


provocada pela miscigenação, gerou modificações nas teorias raciais do final do
século XIX, valorizando a participação do negro na construção da identidade
brasileira.

Mas a ideologia da mestiçagem, ao invés de ajudar, valorizando o negro como


importante elemento da cultura brasileira, dificultou a construção da sua identidade
afro-brasileira.

As oposições ao projeto de branqueamento do país foram enfraquecidas, o que


serviu como disfarce dessa ideologia transformada em mestiçagem, baseada agora,
num racismo cordial, que fingia aceitar o negro como integrante da sociedade, mas
com um forte desejo que ele desaparecesse diluído na sociedade dos brancos. Para
isso, leis que impediam a entrada de negros no país, foram promulgadas,
incentivando a vinda de estrangeiros dos continentes Europeu e Norte Americano.

O máximo que aconteceu com a população negra foi um processo de


folclorização de sua cultura, que no Brasil deixou de ser cultura original, passando a
ser apenas um dos elementos que compõem a cultura brasileira.
25

E o negro, depois de ser seqüestrado de suas terras de origem, ter sido


arrancado de qualidades e valores em favor do branco, permanece tendo que lutar
para ser reconhecido dentro da cultura e sociedade brasileira, que não lhe concede
um espaço legítimo de atuação.

Perseguidos pela ideologia do branqueamento presente até hoje, às vezes


disfarçado ainda como desejo de miscigenação, vejamos como as imagens dos
negros foram apresentadas para a sociedade brasileira e mundial, através do tempo
e dos meios de veiculação.

2.1 PINTANDO NEGRO

As primeiras imagens do negro no Brasil foram produzidas por artistas plásticos


europeus que vieram para o país em missões científicas e artísticas no início do
século XIX, com o objetivo de retratar as paisagens humana e social, além da flora e
fauna das Américas.

O alemão Johann Moritz Rugendas foi um dos primeiros pintores a chegar no


Brasil. Naquela época ainda não existia a técnica da fotografia, e ele veio em uma
das expedições científicas realizadas às Américas para fazer um trabalho de
documentação através das imagens que reproduzia.

Como o negro fazia parte do cotidiano do país, Rugendas fez várias imagens
dele, embora sempre de uma forma branda, praticamente como se fosse elemento
integrante da paisagem que retratava, com se fizesse parte da fauna ou da flora
nativa, sem o realismo de seu cruel cotidiano no Brasil, pois a preferência em suas
obras daquela ocasião, eram as imagens do exotismo tropical do continente, que
exercia um enorme fascínio sobre os europeus. A realidade da sociedade brasileira,
pouco foi informada ao resto do mundo através de suas telas, onde o negro aparecia
unicamente como um dos elementos gráficos, sem nada para passar como
mensagem.

Já o francês Jean Baptiste Debret, que veio para o Brasil em 1816, como
membro da missão francesa contratada pelo Império para introduzir o ensino de
26

artes plásticas no país, embora não assumisse nenhuma posição anti – escravista,
foi o artista que retratou com maior fidelidade o sofrimento da escravidão, fato que
fazia parte do verdadeiro cotidiano da sociedade brasileira.

Nas telas de Debret era possível se ter uma idéia nítida da vida e da paisagem
do Rio de Janeiro dos tempos de Império no Brasil, porem havia um espaço especial
nas obras de Debret, dedicado ao tema da escravidão, tendo como um dos
personagens principais de suas aquarelas o escravo de ganho da capital.

Para João Alexandre Viégas1 , “a obra de Debret é um retrato autêntico do


espírito e dos costumes brasileiros do início do Século XIX e assim, uma fonte
indispensável para o conhecimento da História do Brasil”, da qual o negro foi peça
fundamental.

Nestas obras de arte iniciais no país, as primeiras imagens dos negros foram
retratadas através de um ângulo distante, pois apesar de algumas telas mostrarem
seu cruel cotidiano, o outro lado de suas vidas permaneceu em segredo. O não
conformismo dos negros com aquela situação, a sua luta em busca da liberdade e
dignidade, arrancadas junto com eles de suas terras de origem, continuaram no
escuro. O máximo que as telas daquela época poderiam causar em seus
apreciadores, era uma piedade conformada, pois não era de interesse de nenhum
artista do Império causar indignação ou qualquer tipo de reflexão mais profunda da
vida colonial no Brasil.

Mas analisando algumas telas dos artistas acima referidos já podemos identificar
o tratamento de inferioridade que o negro era tratado naquela época, como não
haveria de deixar de ser, pois o momento era em que teorias da superioridade do
branco sobre o negro eram vigentes, não só no Brasil, mas no mundo inteiro.

O rebaixamento e a humilhação com que os negros eram tratados na época,


podendo afirmar inclusive, sem exagero, que chegavam a ser considerados como
bichos, não é tão explícito nas obras dos pintores estrangeiros, no entanto pode ser
identificado. E essa imagem ainda perdura na cabeça de muitos que possuem o
espírito escravista e acreditam na teoria da superioridade, ultrapassada, mas ainda
viva.

1
autor dos textos biográficos do site Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil.
27

2.2 O NEGRO NA LITERATURA BRASILEIRA

Nos três primeiros séculos após sua chegada, a existência dos negros foi
praticamente ignorada pelos escritores, mesmo já compondo naquela época, uma
larga parcela da população, afinal foram milhões de negros traficados do continente
africano ao Brasil.

O personagem principal da era colonial foi o índio, quanto aos negros, os


escritores limitaram se a breves comentários sobre o custo da mão/de/obra escrava
ou espaças referencias sobre sua presença nos engenhos. Muitas vezes eram
citados como meros detalhes da fauna e da paisagem brasileira, a qual escritores e
pintores gostavam de exaltar como paraíso. “Plantam os Portugueses esse milho
para mantença dos cavalos, e criação das galinhas e cabras, ovelhas e porcos., e
aos negros de Guiné o dão por fruta, os quais o não querem por mantimentos sendo
o melhor de sua terra [...]”2.

Apesar de ser escassa a presença do negro na literatura brasileira colonialista,


foi neste tempo que surgiram os primeiros tipos negros e o primeiro escritor a
descreve-los, mesmo com um estilo satírico, foi o poeta baiano Gregório de Matos.

Conhecido também como Boca do Inferno, Matos retratou algumas cenas da


vida do negro na cidade baiana. Seus versos foram marcados na maioria das vezes
por comentários pouco simpáticos aos tipos negros por ele escritos, sendo quase
sempre associados a aspectos negativos, como por exemplo: mulatos
desavergonhados, moleques de recado, prostitutas e feiticeiras negras, escravos
fujões e a mulatas boazudas, a personagem preferida do poeta e a que gozava de
maior simpatia, já que em seu universo poético, era praticamente impossível não
associar a mulata a sensualidade e prazeres carnais. Era o início da consolidação da
imagem do negro relacionada a posições de pouca importância na sociedade e
quando muito, a aspectos negativos e desprezíveis, como o exemplo que segue:

2
FRANÇA, Jean M. Carvalho. Imagens do negro na literatura brasileira, p. 12 e 13.
28

“Depois de feito conchavo


passei a noite com ela,
eu deitado a uma sombra,
ela batendo na pedra.
Tanto deu, tanto bateu
co’ a barriga, e co’ as cadeiras
que me deu a anca fendida
mil tentações de fode-la.
Quando lhe vi a culatra
tão tremente, e tão tremenda,
punha eu os olhos em alvo,
3
e dizia, Amor, paciência [...]”

Outros escritores como o jesuíta italiano André João Antonil e o historiador


Sebastião Rocha Pita, também deram um espaço considerável para a época, aos
negros em suas obras, destacando o trabalho rural, os negros fujões, e o Quilombo
de Palmares, respectivamente. É possível notar-se, novamente o tom de
inferioridade e negatividade nos textos apresentados.

Servem ao senhor do engenho em vários ofícios, alem dos escravos de


enxada e foice que têm nas fazendas e na moenda, e fora os mulatos e
mulatas, negros e negras de casa, ou ocupados em outras partes,
barqueiros, canoeiros, calafases, carapinas, carreiros, oleiros, vaqueiros,
pastores e pescadores [...]. Toda a escravaria (que nos enormes engenhos
passa o número de cento e cinqüenta e duzentas peças, contando a dos
partidos) quer mantimentos e farda, medicamentos, enfermeiro, e para isso
são necessárias roças de muitas mil covas de mandioca.
(...)
Melhores (...) são para qualquer ofício (...); porém, muitos deles, usando mal
do favor dos senhores, são soberbos e viciosos (...). E, contudo, eles e elas
da mesma cor, ordinariamente levando no Brasil a melhor sorte, porque com
aquela parte de sangue de brancos que têm nas veias, e talvez dos seus
mesmos senhores, os enfeitiçam de tal maneira que alguns tudo lhes
sofrem, tudo lhes perdoam (...). (...) o Brasil é o inferno dos negros,
purgatório dos brancos e paraíso dos mulatos e das mulatas, salvo quando,
4
por alguma desconfiança ou ciúme, o amor se muda em ódio (...)

Entraram (...) encontrando alguma resistência dos negros, inferior à que


presumiram; porque o seu príncipe Zombi com os mais esforçados
guerreiros e leais súditos, querendo obviar o ficarem cativos da nossa
gente, e desprezando o morrerem ao nosso ferro, subiram à sua grande
eminência e voluntariamente se despenharam, e com aquele gênero de
morte mostraram não amar a vida na escravidão, e não querer perdê-la aos
5
nossos golpes.
3
ibidem, p. 22.
4
ANTONIL, André João. Cultura e opulência no Brasil por suas drogas e minas, in Imagens do negro
na literatura brasileira, p. 23.
5
trecho do texto História da América Portuguesa, de Rocha Pita, referindo-se a uma das batalhas
entre o Império e os quilombolas, in Imagens do negro na literatura brasileira, p. 26.
29

Somente no século XIX, com o fortalecimento do movimento antiescravista, o


negro começa a ganhar mais evidencia na literatura brasileira. Assim, de mera
constatação de sua presença, o negro passou a despertar uma reflexão menos
superficial, principalmente por parte dos jornalistas da época, como Hipólito José da
Costa, editor do Correio Brasiliense, que defendia o fim da escravidão.

Mas na década de 30 os tipos negros, criados no século XVIII, afloram na


literatura brasileira (mulatos desavergonhados, moleques de recado, escravos fujões
e mulatas boazudas). Além dos tradicionais, novos tipos são criados como o negro
fiel, a mãe preta, o escravo nobre, o escravo humilhado e a escrava desonrada.

Em 60 a presença negra começa a ganhar vida na poesia, com destaque a


Gonçalves Magalhães e Castro Alves, considerado o poeta dos escravos. Nas
composições das chamadas poesias africanas foram abordados temas como a
abolição e o apostolado abolicionista, a desumanidade e a selvageria do tráfico de
escravos, a homenagem a Republica de Palmares, a escravidão como o toque de
barbárie da história da pátria e do continente americano e a desagregação da família
negra devido ao comércio de escravos.

Ó terra Brasil, terra da Pátria,


Quantas vezes do mísero africano
Te regaram as lágrimas saudosas?
Magoados acentos
Do cântico do escravo
Ao som de duros golpes do Machado...
Ó suspirada, ó cara Liberdade
Descende asinha do africano à choça,
Seu pranto enxuga, quebra-lhes as cadeias,
6
E a saudade da Pátria lhe mitiga.

Quanto à presença do negro na prosa da ficção brasileira ou os chamados


romances urbanos, ela começou a ganhar destaque depois de mais de uma década
que apareceu na poesia brasileira. Mas a personagem passou a ser abordada de

6
D.J. Gonçalves Magalhães, Suspiros poéticos e saudades in Imagens do negro na literatura
brasileira, p. 37.
30

forma diferente da poesia. Desta vez, com uma sensualidade mais extremada,
praticamente voltada para a animalidade.

Mesmo com essa alteração, na prosa, ainda era possível encontrar personagens
negros do tipo escravos fiéis, ordeiros e de moralidade impecável. No entanto, todos
apresentam características de um temperamento instável e imprevisível, sempre
desempenhando papéis de mucamas, moleques de recado, agregados da casa,
cocheiros, amas-de-leite e damas de companhia. Além de carregadores, negros de
ganho, mulatas sensuais, macumbeiros, capoeiras, alcoviteiras, entre outros.

Mas, embora o negro tenha conquistado espaço na literatura brasileira com um


alargamento nos romances urbanos, modalidade mais popular que a poesia, sua
presença não era destacada como a dos brancos, naturalmente protagonistas. As
personagens negras funcionavam praticamente como figurantes e no máximo como
vilões coadjuvantes.

Todavia, se vários eram os traços que indicavam a presença do negro


no dia – a - dia da cidade ficcional, pouco, muito pouco, era o interesse
despertado por essa presença. Tanto é assim que quase não é possível
encontrar nas páginas dos romances descrições pormenorizadas sobre as
atividades desenvolvidas por essa copiosa parcela da população (FRANÇA,
p. 84).

Também podemos observar que essas personagens negras da ficção brasileira,


já no século XIX, aparecem associadas não só ao despudor, ao sexo e ao caráter
fraco, mas também a criminalidade, que ganha maior espaço nos tempos atuais.

As ruas da Corte ficcional, todavia, não estavam repletas somente de


negros trabalhadores. Ao contrário, boa parte da desordem urbana, da
criminalidade, das arruaças era provocada justamente por indivíduos negros
(escravos ou libertos) sem ocupação que circulavam pelas vias públicas da
capital (FRANÇA, p. 86).

Assim o negro, desde o início, foi mostrado na literatura brasileira, seja nos relatos
de historiadores, na poesia ou nos romances de ficção, em espaços secundários da
31

realidade do país, como se não tivesse individualidade ou fosse um ser desprovidos


de capacidade, através de personagens marcados pela fraqueza, seja em qualquer
aspecto e relacionados principalmente às qualidades mais negativas do ser humano,
prevalecendo sempre a visão de que o negro está relacionado a tudo o que for ruim,
ao contrário do branco que representa o que é bom.

... Foi em grande parte nas páginas de nossos cronistas, sermonistas,


poetas, dramaturgos e romancistas que o país, ou melhor, uma certa idéia
de país e de povo foi forjada e divulgada, idéia cujos traços, não todos, é
certo, ainda hoje se fazem presentes nas nossas reflexões.
O africano e seus descendentes, figurantes de primeira hora dessas
importantes páginas, não escaparam, como é óbvio, aos efeitos dessa forja
literária (FRANÇA, p. 92).

2.3 O NEGRO NOS PALCOS

A dramaturgia brasileira deu seqüência aos estereótipos escritos na literatura


colonial. No teatro, o negro continuou aparecendo através dos velhos Pais-João, das
bondosas e amorosas mães – negras, das dedicadas mucamas, entre muitas outras
personagens usadas nos três primeiros séculos após o descobrimento.

Além da persistência do negro apenas na forma dos usuais estereótipos, nos


primeiros anos do teatro brasileiro, a presença do negro foi literalmente marcada
como “personagem”, representado pelo branco, que pintava a pele para
desempenhar o papel.

Isso ocorria porque mesmo depois da abolição, ao negro não foi permitida a
integração na sociedade. “Na verdade o preconceito e a discriminação nas relações
sociais entre brancos e negros, surgidos durante a escravidão, justificados por uma
série de conceitos éticos – religiosos, que levavam o senhor de escravos a raciocinar
os pruridos de consciência que caso tivesse, continuaram praticamente intatos
depois do 13 de Maio” (MENDES, 1993, p. 138).

Outro conceito que permaneceu por muito tempo e que ainda permanece na
sociedade brasileira é o da brancura como sinônimo de tudo que é bom, sendo um
32

argumento muito utilizado também no Teatro para justificar a presença do negro na


sociedade, após a escravidão. “Como és bom! Que santa velhice a tua! Que alma
branca, tão alva como teus cabelos, se esconde na negritude do teu corpo !...”7

No decorrer do tempo, outros estereótipos negros foram surgindo, embora


baseados nos primeiros arquétipos: a mulatinha cria da casa e o negro malandro,
desde então habitam as obras de ficção brasileira até os tempos atuais.

Mas passadas três décadas da libertação do cativeiro, essa foi a única


renovação, pois a personagem negra continuava sendo quase que ignorada, aceita
na maioria das vezes - graças as suas características estereotipadas - somente
como elemento de comicidade das peças, sendo interpretado ainda por atores
brancos.

No fim da década de 20, com o surgimento de jornais de ideologia negra, as


primeiras manifestações escritas por negros conscientes da marginalização vivida na
sociedade brasileira começaram a circular. Mas não surtiram o efeito necessário. “A
situação do negro, entretanto, praticamente não mudara, embora muitos deles
tivessem lutado ao lado dos brancos, nos campos da Itália”, (MENDES, p. 142).

Foi somente em 1944, que o negro começou a almejar um espaço real nos
espetáculos brasileiros. Abdias do Nascimento, incentivado pelo desejo de realizar
peças nos palcos brasileiros, reservados até então apenas a brancos, e com a
colaboração de outros negros, resolveu fundar o Teatro Experimental do Negro
(TEN). “O TEN conseguiu, como se viu, relativo sucesso de iniciativa nos primeiros
anos de vida, após sua estreia em 8 de maio de 1945, com a peça O’Neill, Empero
Jones, escolhida por falta de texto nacional adequado”, (MENDES, p. 138).

Mesmo lutando contra a falta de textos nacionais adequados, a primeira escolha


do TEN não foi feliz, pois ainda não possuía o conceito de negritude que Abdias do
Nascimento queria destacar. Somente anos depois, Miroel Silveira, que também
fazia parte do grupo, procurou encenar uma peça na qual o negro era a personagem
principal. Foi Junuabá, uma adaptação que fez do romance de Jorge Amado.

O TEN, embora passando por uma situação quase de falência e pelo problema
da escassez de textos voltados para a causa negra, ainda apresentou muitas peças

7
Trecho da peça O dote, de Arthur Azevedo in O Negro e o Teatro Brasileiro, p. 139.
33

como: Anjo Negro, de Nelson Rodrigues, que mostrou de maneira trágica, o desejo
de branqueamento do negro; Terras do Sem Fim, outra adaptação, de Jorge Amado;
Auto da Noiva; Aruana; Sortilego, que acentuou bastante as denúncias de injustiças
sofridas pelo negro na época; Filhos de Santo e O Castigo de Oxalá, ambas com
elementos da cultura religiosa negra, que considerados exóticos, eram bastante
apreciados pela platéia branca, segundo Miriam Garcia.

A companhia lutava para estabelecer uma nova dramaturgia para o negro, que
fugisse da comicidade tosca e anedótica impostas pela utilização dos tradicionais
estereótipos. Mas não conseguiu fazer isso sem a participação majoritária de
autores brancos, devido à discriminação do negro na sociedade, o que impedia ou
dificultava sua escolarização, que o ajudaria a sistematizar, pelo menos, seus
conhecimentos.

Ainda assim, o TEN não conseguia atingir seus principais objetivos. A


permanência de atores negros nos palcos era algo difícil de se conseguir, devido as
desigualdades sociais, e uma platéia formada por negros era impossível pelo mesmo
motivo.

...mesmo inculto ou analfabeto, o negro, como qualquer pessoa,


poderia sentir-se naturalmente atraído pela magia do teatro, que poria em
cena pessoas iguais a ele, ou de sua cor, num ambiente bastante seu
conhecido. Mas como pagar o preço da entrada do teatro para si e para a
família, com o salário (ou falta dele) insuficiente até para cobrir as
necessidades do cotidiano? (MENDES, 1993, p. 150),

Contudo, o TEN foi a primeira e mais significativa tentativa de modificar essa


realidade brasileira. O grupo fez importantes avanços para a época, priorizando
textos voltados para a causa negra, eliminando os estereótipos tão utilizados até
hoje e buscando trabalhar sempre com profissionais negros, apesar de essa ser uma
das tarefas mais difíceis.

Tal problema ainda não foi sanado, pois enquanto existirem essas extremas
desigualdades sociais entre negros e brancos, o espaço do negro, em todos os
ramos da sociedade será limitado.
34

E no campo artístico as limitações aumentam ainda mais, devido as dificuldades


naturais da profissão, que não apresenta uma periodicidade regular de trabalho
comuns às outras, como as de médico, advogado e engenheiro. Isso obriga muitas
vezes o profissional a buscar outras alternativas de sustento. E para o artista negro
esse problema é mais agravado, pois como a maioria dos profissionais de sua cor,
ele vem das classes menos favorecidas da sociedade, enfrentando maiores
dificuldades. Diferente do artista branco, que não obrigatoriamente começou a
carreira rico, mas que geralmente não passava por dificuldades financeiras nem
sociais como o negro.

Podemos sentir esse problema também na questão da formação do ator, fato


que pode às vezes decidir em uma seleção de trabalho e que é fundamental para a
regulamentação do profissional.

A própria lei que regulamentou a profissão de ator obrigando – o ao


estudo e formação em escolas específicas, não previu, ou não pensou, no
estudante negro, geralmente oriundo de classes mais desvalidas, com
possibilidades mínimas de escolarização convencional (ginásio, colégio)
(MENDES, 1993, p. 183),

A busca da formação é, então, outro obstáculo que o negro tem que transpor com
maiores dificuldades que as apresentadas aos brancos.

...Fontana lembra o fato de a EAD (Escola de Arte Dramática) ter


formado pouquíssimos atores negros em seus mais de trinta anos de
existência (...). A Universidade Federal do Rio de Janeiro teria cancelado o
seu curso noturno de teatro o que, aliado à dificuldade de acesso às suas
instalações, prejudica ou mesmo impossibilita a freqüência de alunos negros
desejosos de se formarem em artes cênicas. Pois, trabalhando de dia para
sua sobrevivência, só poderiam mesmo, e com sacrifício, estudar de noite.
(...)
O que acontece então, segundo Fontana, é que o ator negro, sem
possibilidade de atuar profissionalmente, não consegue desenvolver suas
potencialidades artísticas. E isso, em parte, justifica a alegação de muito
autor: não há bons papéis para atores negros porque não há bons atores
negros (MENDES, 1993, p. 183),

Mas na verdade, não há bons papéis para atores negros porque os autores não
escrevem, pelos fatos que vêm sendo abordados durante todo esse trabalho, a
35

discriminação racial e social contra o negro, subestimando-os em todas as funções


que queiram exercer. Afinal de contas, não é só a formação que conta, mas o talento
também. Se não lhes foram dadas oportunidades, como o negro vai mostrar que tem
talento e buscar a especialização?

Assim, o negro deve continuar lutando por um espaço legítimo na sociedade e


de evidenciar sua verdadeira identidade, tendo que passar por vários obstáculos
impostos por essa sociedade que tenta passar ao resto do mundo, uma falsa
imagem de democracia racial. E o principal obstáculo a ser derrubado é a imagem
de incapacidade criada pelo branco ao negro.

2.4 O NEGRO NA PELÍCULA

No cinema brasileiro, a realidade do negro não foi muito diferente que nas
manifestações artísticas anteriores a esse advento no país. Sua imagem
permaneceu sendo vista como sempre, como um ser das classes mais baixas da
população, geralmente ignorante, vinculados às piores desgraças da sociedade,
quase sem cidadania.

Portanto, o cinema no Brasil deu continuidade ao que a literatura e o teatro,


antes do TEN, faziam, utilizando o negro apenas nas formas dos tradicionais
estereótipos. Nasceram algumas variações, mas sempre dentro da mesma essência
do colonialismo como:

Negão - Personagem de apetites sexuais pervertidos e insaciáveis, que


apaixonado pode ser carinhoso, mas se rejeitado, transforma – se numa fera. Em A
menina e o estuprador (1983), produção paulista de Boca do Lixo, de Conrado
Sanchez, o negro é apresentado como culpado durante todo o filme, para só no final
revelar que é inocente. Para o pesquisar João Carlos Rodrigues, o roteiro manipula
o possível preconceito dos telespectadores e o cartaz do filme – onde um negro nu
tem nos braços uma linda adolescente loura (igualmente nua), e a observa com
olhar bestial – é um exemplo raro no Brasil de apelo racista na propaganda.
36

Favelado – Primeiro personagem negro realista, apresentando de forma mais


verdadeira o retrato do proletariado e das camadas que vivem à margem da
sociedade, como os miseráveis e indigentes. Seguindo esta linha realista, temos os
exemplos dos filmes de Nelson Pereira dos Santos, Rio 40 graus (1956) e Rio Zona
Norte (1957), que abordam a vida de quem mora nas favelas, com aluguel de
barraco, viagem de trem suburbano, samba, subemprego e violência, situações
extremadas quando a pele é negra.

Em Assalto ao trem pagador (1962), de Roberto Farias, a história nos revela


favelados na mais completa marginalidade e revolta, com personagens como
assaltantes, assassinos, alcoólatras e delatores.

Crioulo Doido – Personagem dotada de comicidade, simpatia, ingenuidade e


até infantilidade, que podemos encontrar no filme O saci (1953) e Brasa
adormecida (1986). Além de De pernas pro ar (1962), dirigido por Vitor Lima, onde
a personagem do Crioulo Doido era interpretado por Grande Otelo.

Afro – baiano – O tipo mais recente, ainda em formação. Negro brasileiro, que
procura acentuar seus traços culturais africanos nas roupas, no cabelo, etc.
Segundo Rodrigues (2001), ainda não existe de modo definido na dramaturgia
nacional, mas já é ironizado nos personagens dos programas de humor da TV, como
o Casseta e Planeta, ou mais precisamente programa do Chico Anísio, onde ele e o
ator Arnaud Rodrigues, faziam Baiano e Novos Caetanos.

Mas ainda, segundo Rodrigues (2001), o precursor desse estereótipo pode ter
sido o personagem do pintor Don Juan em As aventuras amorosas de um padeiro
(1976).

A utilização desses estereótipos, antigos ou novos, é um dos questionamentos


mais freqüentes levantados por intelectuais e artistas negros do Brasil, que
reclamam por papéis mais individualizados, pois o negro verdadeiro não é um ser
que se encaixa apenas nas características estereotipadas dos escritores, roteiristas
e diretores. Um homem ou uma mulher negra possui características diferentes como
qualquer ser humano, não é a cor da pele que define seu caráter ou personalidade.
Nem negros, nem brancos, índios ou amarelos, são iguais entre si em suas etnias.
37

Mas não é isso que o cinema brasileiro vem mostrando em suas obras. Em um
dos mais populares filmes históricos brasileiros, Xica da Silva (1976), de Carlos
Diegues, por exemplo, podemos encontrar vários estereótipos num só personagem.
A protagonista, representada por Zezé Mota, é um misto de Negro de Alma Branca,
Mulata Boazuda e Nega Maluca.

A insistência nesses arquétipos, com certeza não se deve a falta de outros


personagens interessantes. Apesar de demonstrarem preferência aos tipos menos
usuais da literatura, como os nobres selvagens ou os negros revoltados, os filmes
que retratam a época da escravidão por exemplo, continuam utilizando os velhos
estereótipos, embora tenham condições de inovar, pois não lhes faltam fortes
argumentos para isso.

Existem importantes fatos que marcaram a história dos negros no Brasil, como a
questão do separatismo negro na Bahia: o dos muçulmanos em 1835, na Guerra
dos Malés e o retorno à África das famílias afro – brasileiras, abordado apenas,
segundo Rodrigues, no romance A casa da água (1969), de Antonio Olinto.

Além disso, existe ainda a Guerra do Paraguai, onde o negro participou como
soldado, outro fato interessante, e a campanha abolicionista, enfocada de poucas
maneiras e encontrada apenas nos filmes Sinhá Moça, A Marcha e Vendaval
Maravilhoso (1949) do português Leitão de Barros.

São pouquíssimas as exceções que mostram o negro sobre outro prisma, como
em Chico Rei (1985) de Walter Lima Júnior, em que a estrutura social é bem mais
complexa que a de outros filmes afins, onde podemos encontrar mulatos libertos
membros da confraria do Rosário dos Pretos e inimigos do governo;
independentistas escravocratas; e negros opressores de outros negros. O tema
central trata da solidariedade entre os oprimidos, e a ascensão social ocorre sem a
perda de dignidade.

Na chamada bela época do cinema brasileiro, em que a sétima arte prosperava


em suas produções e os negros se organizavam de alguma forma para combater as
iniciativas radicais de racismo pós – abolicionistas no país, seja através de jornais
negros como O Menelik – 1916, O Bandeirante – 1918 e O Clarim da Alvorada –
1923), seja através de companhias teatrais como a Companhia Negra de Revista,
38

organizada em 1926 por Randall – le – Chocolat e Pixinguinha, ou de escolas de


samba como a Deixa Falar (1928) e Estação Primeira da Mangueira (1929), os
filmes mesmo assim, não refletiam essas atividades, tão importantes para época.

No gênero documentário encontramos os títulos Dança baiana – 1901,


e Dança de capoeiras – 1905; três filmetes com o célebre cançonetista
Eduardo das Neves (O pronto e Sangue espanhol de 1909, Pierrot e
colombina de 1916); seis reportagens sobre a Revolta da Chibata de 1910;
e mais um misterioso e não identificado Família de colonos africanos em
uma fazenda, do mesmo ano. Não foram encontrados, nem em noticiários
filmados, imagens dos mais notáveis negros e mulatos da nossa tardia
Belle – époque: os flautistas Patápio da Silva e Pixinguinha; os escritores
Machado de Assis, João do Rio e Lima Barreto; o professor e deputado
baiano Manuel Querino; o médico Juliano Moreira, o advogado socialista
Evaristo de Moraes, (RODRIGUES, p. 78)

Na ficção da Bela Época podemos encontrar outros roteiros que também não
retratam nenhum fato marcante do período como: A escrava Isaura, Os guaranis,
O segredo do corcunda e Tesouro perdido.

O negro então, no decorrer da história do cinema no Brasil, não foi mostrado


através de suas conquistas, cotidiano verdadeiro, desejos e conflitos humanos. Os
cineastas buscaram apenas retratar arquétipos e caricaturas e temas como o
samba, a religiosidade afro – brasileira e as relações inter – raciais, geralmente
mostradas através de romances entre um negro e uma branca.

Tais temas podem ser vistos em filmes como Samba em Berlim (1943), dirigida
por Luiz de Barros, Natal da Portela (1988) de Paulo César Saraceni, Orfeu (1999)
de Carlos Diegues; Atlântico Negro/ Na Rota dos Orixás (1979), direção de
Marcelo Barbiere, Barravento (1961), de Glauber Rocha, Também somos irmãos
(1949) de José Carlos Burle; Compasso de espera (1973) dirigido por Karin
Rodrigues e Zózimo Bulbul, Na boca do mundo (1979), de Antonio Pitanga e Um é
pouco, dois é bom (1971), de Odilon Lopez; respectivamente.

Além disso, mesmo nos temas que considera intimamente relacionado a negros,
a cultura e a religião de seus descendentes, o cinema permanece abordando tais
assuntos com racismo. Mesmo que seja um racismo às vezes quase imperceptível
39

aos olhos dos desatentos, pela maneira natural e branda que é mostrado, algumas
vezes se apoiando na comicidade, e aparentemente não intencional.

Existem alguns exemplos dessas manifestações de racismo brando no cinema.


Na produção mineira O crioulo doido, o debilóide alfaiate Felisberto enriquece pelo
próprio esforço, casa com uma branca interesseira, depois acredita que o mundo vai
acabar e distribui tudo que tem aos pobres, terminando de porre no carnaval,
travestido de peruca loura, perseguido pela molecada de rua. Para João Carlos
Rodrigues, o diretor Carlos Alberto Prates mostrou o negro como alguém que não
está preparado para subir na vida.

Em O trapalhão no planalto dos macacos, uma paródia dirigida por J.B. Tanko
do filme americano O planeta dos macacos, um dos pontos mais engraçados do
filme é quando a macaca principal se apaixona por Mussum, o único negro entre os
atores principais.

E em O mundo se diverte (1948) de Watson Macedo, o personagem de


Grande Otelo (preto, pobre e feio) atende o telefone de uma desconhecida, que fica
impressionada com sua voz. Interessada pede para que ele se descreva e
imediatamente ele responde dizendo que é alto, branco, louro e de olhos verdes.

O preconceito racial latente que assinalamos na Primeira República


não se extinguiu bruscamente com o seu fim. Pelo contrário, adquiriu formas
menos ostensivas, mas igualmente inflexíveis. A influência das idéias
científicas do positivismo faz com que já não se finja ‘não ver’ a população
não branca, mas sonha-se com sua desaparição gradual pela
miscigenação, e volta e meia ainda se tentasse escondê-la dos estrangeiros
(RODRIGUES, p. 119),

Essa forma de discriminação sutil e disfarçada vigente no país, faz com que existam
sempre papéis para negros, dando a falsa sensação que o negro tem espaço no
cinema, mas se observarmos mais atentamente, veremos que assim como em
outros setores da sociedade esses papéis são sempre secundários, com raras
exceções, geralmente advindas do cinema.
40

Diante disso, os atores negros são obrigados, se quiserem continuar


trabalhando, a desempenhar eternamente os clássicos estereótipos negros. Foram
poucos os artistas que conseguiram interpretar quase regularmente personagens
mais diversos, como Milton Gonçalves, Zezé Mota, Ruth de Souza, Léa Garcia,
Marcos Vinícius e Antonio Pompeu.

Onde buscar um estilo próprio para uma interpretação descolonizada,


se não existe uma tradição teatral específica desde a dissolução do Teatro
Experimental do Negro pela segunda metade da década de 1950? Podem
as manifestações folclóricas (congado, bumba-meu-boi, candomblé e
outras) enriquecer essa procura, ou já estão igualmente saturadas dos
vícios que se pretende combater? (RODRIGUES, p. 147 e 148),

Talvez este problema se resolveria se houvessem mais diretores e roteiristas


negros, conscientes da causa de afirmação do negro. Com desejo de mudar essa
imagem tão deturpada de incapacidade que recaiu sobre o negro.

Sempre existirá uma diferença de enfoque entre filmes que abordam o


negro brasileiro, dirigidos por diretores brancos ou negros – o que tem muito
pouco a ver com a qualidade cinematográfica ou posição política. Mas a
presença do negro no cinema brasileiro continua muito mais passiva do que
ativa. Para realmente alterar o status-quo da cinematografia nacional é
preciso haver mais negros atrás das câmeras (RODRIGUES, p. 134)

Pesquisas apontam Cajado Filho como primeiro cineasta negro e o que possui a
maior filmografia, com cinco longas – metragem: Estou aí, Todos por um e Falso
detetive, produzidos entre 1949 e 1951, e E o espetáculo continua – 1958, em que
acumulou as funções de diretor, argumentista, roterista e cenógrafo, e Aí vem a
alegria – 1959, sua produção mais simples e a última vez que dirigiu.

Os outros diretores negros que surgiram, em sua maioria, foram cineastas de um


filme só, e quase todos também atores: Haroldo Costa, Odilon Lopez (primeiro
cineasta a abordar problemas de sua raça em Um é pouco, dois é bom), Waldyr
Onofre, Antonio Pitanga, com Na boca do mundo, aborda polemicamente os temas
da miscigenação e da luta de classes, Olá Balogum, cineasta nigeriano com extensa
41

filmografia na língua iorubá; Quim Negro; Paulo Veríssimo; Afrânio Vital; Zózimo
Bulbul é diferente por ser composto de uma maioria de documentários e apresentar
certa continuidade (Alma no olho – 1976, Dia de Alforria – 1981 e Abolição –
1988). “Infelizmente, a carreira desses cineastas não teve a continuidade necessária
para burilar suas qualidades e corrigir seus defeitos. Desde o final dos anos 1980 um
negro não dirige um longa – metragem no Brasil” (RODRIGUES, p. 140).

Mas é preciso não perder a esperança de mudar essa realidade, seja através da
existência de mais cineastas negros, o que é muito difícil, com as desigualdades
sociais enraizadas no país, neste caso em particular, as desigualdades educacionais
e as econômicas, seja através da conscientização da parcela mais favorecida da
sociedade, onde residem os brancos, repetindo o caso ocorrido com o TEN, onde os
autores que inovaram com textos voltados para a causa negra, eram em sua maioria
brancos.

Essa esperança se fortalece no surgimento dos mais recentes filmes que tratam
dessa questão racial como Cruz e Souza, de Sylvio Back, Boleiros, de Ugo Giorgetti
e Cronicamente Inviável, de Sérgio Bianchi, entre outros realizados e que
esperamos surgir, pois mesmo com menos alcance que a televisão, o cinema tem
um importante papel na sociedade, o de provocar reflexão e contribuir assim, para
uma possível modificação de valores bem ultrapassados, a julgar de quando
surgiram, no colonialismo.
42

3 O NEGRO NA TV BRASILEIRA

A televisão é o instrumento da mídia que mais mexe com o imaginário das


pessoas, é nela que a realidade e as fantasias são retratadas através de seu maior
atrativo, a imagem, o que faz seu poder de persuasão se tornar maior, aliado ao
som.

Alguém já deve ter vivenciado a cena em que determinada notícia é veiculada no


rádio, mas mesmo assim o público não perde o interesse de vê-la na televisão. A
sensação é de que, enquanto a tevê não transmite a notícia, ela não é confirmada,
possuindo assim o poder do ineditismo. É o público atraído pelo poder das imagens,
pelo glamour incontestável da televisão.

Certo alguém disse um dia: Uma imagem vale mais que mil palavras. E na tevê,
as palavras servem apenas como moldura para sua arte.

Com todo esse poder, a televisão no Brasil demonstra não ter o menor interesse
em diminuir certos problemas, como as desigualdades raciais tão intensas no país,

Alguns pesquisadores têm abordado esse problema e vêm constatando a


existência da representação do afro-descendente no país, nos diferentes produtos
da comunicação de massa, de forma estereotipada e deformada. Essas
representações, por sua vez, influem na construção de imagens que os brancos
fazem do negro e que estes acabam por fazer de si mesmos.

Além de ser um caso exemplar dos mecanismos de reprodução das


relações raciais, a mídia desempenha um papel central e único na produção
e manutenção do racismo. Através dos meios de comunicação,
especialmente dos meios de massa as representações raciais são
atualizadas e retificadas. E dessa forma, como ‘coisas’ circulam como
noções mais ou menos comuns a toda sociedade e como idéias mais ou
menos sensatas (RAMOS, 2002, p. 9).
43

E na televisão, onde as idéias são passadas de maneira mais forte e persuasiva,


o problema ocorre de maneira mais grave, justamente pela condição de
comunicação de massa altamente influenciável que desempenha.

Em seu produto mais popular e bem sucedido, a telenovela, o problema é


demostrado de maneira mais clara, pela ausência do negro em suas apresentações,
e pela presença, utilizada na maioria das vezes de forma distorcida.

A telenovela, como adverte Jesús Martín – Barbero, tornou – se não só o


elemento – chave no desenvolvimento industrial da televisão brasileira latino –
americana, como também o programa mais legítimo nas preferências populares. E, a
partir dos anos 70, ao lado do telejornal, adquiriu o status definido de programa de
maior audiência e de sucesso com o público.

Além disso, a telenovela brasileira é o produto da indústria cultural mais


divulgado no exterior, sendo exibida em um grande número de países da Europa,
Ásia e América. Na avaliação de estudiosos da comunicação e de outros campos do
saber, a telenovela é uma forma de representação que retrata nossas características
socioculturais. “Assim a ficção se constrói num diálogo e numa interação constantes
com a realidade” (ZITO, 2002, 13).

Como então, o negro é visto no Brasil e no resto do mundo?

Ao longo de sua história, a televisão brasileira, mesmo sendo um dos produtos


nacionais mais bem sucedidos, apresentou poucas oportunidades para o
seguimento negro. Apesar de representar parcela expressiva da população e da
cultura brasileira o negro quando não era ignorado na ficção, era retratado de forma
negativa ou estereotipada para a sociedade.

Um estudo produzido por Zito, que analisou cerca de 70% das telenovelas
brasileiras e comprovou que em mais de um terço delas não havia a presença de
nenhum personagem negro. Além disso, segundo a pesquisa, no horário nobre da
televisão, a quantidades de atores negros nas telenovelas não ultrapassa mais que
10% em relação a quantidade de brancos, em razão da cota estipulada por lei.
44

Isso ocorre porque a televisão brasileira incorporou a ideologia do


branqueamento, nascida na era colonial, e o desejo de euro-norte-americanização,
de nossas elites.

...Porque no passado, na criação da sociedade de massa, com a


indústria cultural de massa, tendeu-se a homogeneizar os produtos
culturais, a partir de uma perspectiva centrada na ideologia do
branqueamento, nos ideais estéticos brancos, nos valores europeus (ZITO,
p. 70).

Para a jornalista Miriam Leitão (2002), a elite brasileira, perpetuadora desse


ideal de embranquecimento, não tem o menor interesse em que as desigualdades
sociais, e a discriminação racial, que faz parte delas, deixem de existir ou
simplesmente diminuam, pois assim: quem iria fazer o trabalho barato?

E a tevê brasileira pertence a essa elite, que tenta passar, sem perceber de
maneira equivocada, o mito da democracia racial no Brasil, pois na ausência ou na
presença do negro, mas de forma subalternizada, a tevê acaba evidenciando o que
quer esconder, o que quer disfarçar, nossas gritantes desigualdades sociais e
raciais. Podemos observar que o Brasil está longe de ser uma democracia racial.

As raízes do racismo ainda estão fincadas em nosso povo, ocorrendo da pior


maneira possível, de uma maneira cordial e disfarçada. E essa hipocrisia desarma o
seguimento negro para lutar por seu espaço, por seus direitos, pois fica difícil
identificar quando se está sendo vítima de racismo, já que a maioria das
manifestações não ocorrem de maneira assumida, pois no Brasil, admitir o racismo é
inaceitável. O racismo gera vergonha, raiva, sensação de impotência e por fim
negação. Além do mais, não é a imagem do racismo que a elite quer vender para os
turistas, que no carnaval ficam deslumbrados com a aparente igualdade social que
vêem na avenida.

Igualdade que também cai por terra para os mais atentos. É só observar,
quantos destaques negros são vistos nos carros alegóricos e comparar com a
quantidade de brancos, apesar do samba ser considerado coisa de negro. O negro
45

como sempre, deve procurar o “seu lugar” e como é de praxe, é abaixo do branco, e
no carnaval é no chão.

Em todas as situações é assim. Desde crianças enxergamos o negro de forma


inferiorizada. Nos livros didáticos ou nas histórias em quadrinhos, o negro sempre
está em “seu lugar”, o segundo plano em relação ao branco. E nos desenhos
animados é difícil até para achá-los, pois os negros estando sempre associados ao
que é ruim, certamente não povoam histórias de fantasias infantis.

Na série infantil O sítio do pica-pau amarelo existe três personagens negros, um


número até considerável para um programa infantil de tevê, no entanto são
personagens estereotipados, ridicularizados e inferiorizados, sempre que há
oportunidade, principalmente pela personagem principal da história, Emília, a
personificação de seu autor, Monteiro Lobato.

Dentre eles estão: Tio Barnabé, arquétipo do preto-velho ridicularizado por suas
superstições, Saci Pererê, personagem do folclore e Tia Anastácia, estereótipo de
mãe-preta e a mais ridicularizada dos três, apontada como negra ignorante.

E nos programas infantis, só é possível encontrar apresentadoras brancas e


loiras como Xuxa, Angélica, Eliana e Jaqueline, salvo as exceções, pois toda regra,
é claro, tem suas exceções. Mas no que diz respeito a esse assunto, o máximo que
pudemos encontrar foi uma baiana com traços indígenas, a Mara Maravilha.

Não podemos deixar de citar o programa TV Globinho, transmitido todas as


manhãs, no qual existe uma apresentadora negra, mas que faz parte de um elenco
de apresentadoras, pois um programa de apresentação individual, é privilégio
exclusivo das loiras com ares europeus.

...nossa grande complicação é porque até hoje permanece, não só no


fundo da psique de cada um de nós, mas principalmente, na dos
produtores de cultura, naqueles que estão no topo da televisão, da
publicidade e até mesmo do cinema, uma idéia de que o belo é branco,
ser primeiro mundo é ser branco. Uma idéia de estética moderna, mais
chique, é a estética colada com a produção estética européia. É uma
vontade de ser contemporâneo, mas a partir da imposição dos modelos de
beleza criados na Europa e nos Estados Unidos... (ZITO, p. 67).
46

3.1 A TELENOVELA APRESENTANDO O NEGRO

Assim, baseadas nesse ideal de branqueamento, já citado anteriormente, as


imagens do negro foram passadas através do tempo e das formas de comunicação,
relacionadas a coisas negativas, por meio de personagens subjulgadas e
inferiorizadas perante a sociedade.

E na televisão, que chegou ao Brasil na década de 50, trazida por Assis


Chatobriant, não foi diferente, muito menos em seu produto mais legítimo nas
preferência populares, a telenovela. Esta, efetivada na década de 60, serviu para
alargar enormes desigualdades raciais no país, se omitindo para o problema e ao
mesmo tempo, sem querer dar na vista, se posicionando como extremamente
racista, já que seguiu os moldes euro-norte-americanos.

E nestes conceitos o negro não tem vez, a não ser em funções que se
assemelhem ao seu lugar de origem no Brasil, o de servo. E assim, não estando
relacionado aos elementos que a TV mais preza, principalmente a beleza, e sendo
um ser totalmente estereotipado, ele é mostrado a sociedade da forma mais
negativa e distorcida possível, quando não é ignorado.

Somente nos noticiários nacionais que o negro tem lugar garantido, onde eles
são apresentados na sua mais ampla desgraça, que apenas por insistência de
alguns é motivada única e exclusivamente por sua cor. Mas se formos buscar a
fundo essas causas, comprovaremos que o branco, que hoje quer vender a falsa
imagem da democracia racial, foi o causador deste problema, em razão da sua
ganância desmedida.

O interessante é que este mesmo ser, apresentado como desgraçado, compõe


significativamente a parcela mais cativa, mais consumidora da telenovela, que é a
população mais pobre do país. E sendo considerado como subclasse, é desprezado
pelo seu programa preferido como divertimento, não merecendo estar à frente de
papeis de destaque do empreendimento, pois como já foi dito, a TV quer para si,
apenas aquilo que considera belo e rentável, e em sua concepção o negro é o
contrário de tudo isso e só pode se ver como tal.
47

As primeiras telenovelas brasileiras que levaram ao ar imagens de negros,


repetiram a tradição dos estereótipos da literatura, do teatro e do cinema, seguindo a
mesma linha de atuação dos países da América Latina e dos Estados Unidos
daquela época, já que tudo que se originava da América do Norte era considerado
como fórmula infalível de sucesso.

Uma das novelas pioneiras na utilização da presença do negro foi a A gata, uma
adaptação de Ivani Ribeiro de um texto de Manuel Munoz Rico, lançada pela TV
Tupi em maio de 1964. O tema foi o mais comum para a utilização de negros na
trama, a escravidão, mas com uma particularidade, a história central era ambientada
nos problemas dos escravos das Antilhas, no século XIX, ignorando a realidade
escravista brasileira.

A cabana do Pai Tomás novela adaptada, em 1969, do filme americano Uncle


Tom’s Cabin para a TV Globo foi a telenovela que teve em seu elenco o maior
número de personagens negros, no entanto foi uma das que provocou uma das
primeiras e maiores polêmicas em torno da questão racial, pois como no teatro e
como era usado nos Estados Unidos, escalou um ator branco para fazer um
personagem negro, o protagonista Pai Tomás, interpretado por Sergio Cardoso.

Segundo relatos do livro A Negação do Brasil, o ator foi obrigado pela agência
patrocinadora da emissora, Colgate-Palmolive, a aceitar o papel e teve que ser
pintado de preto e usar rolhas no nariz e atrás dos lábios para aparentar uma
pessoa negra de nariz largo e beiçudo.

O fato narrado acima é uma clara demonstração do nível de racismo existente


na época. Mais uma vez apontando a suposta incapacidade do negro em
representar um papel de protagonista, pois a emissora possuía entre seus
contratados, atores negros de competência já comprovada na época, como Milton
Gonçalves. Assim voltamos na mesma tecla, a de que na telenovela o negro só
serve se for para atuar em segundo plano.

... o racismo e preconceitos provenientes dos patrocinadores e


produtores da televisão norte-americana influíam nas escolhas de suas
subsidiárias no Brasil e na América Latina. Soberanos em um contexto em
que não podia haver resistência negra, dificultada pela existência de uma
48

ditadura militar, que tolhia os direitos democráticos da população brasileira,


os publicitários podiam exercitar o modelo norte-americano.(...) tinham um
campo livre para importar modelos, vícios e caricaturas na representação do
personagem negro, comuns as primeiras décadas da soap opera no rádio e
das sitcoms da televisão norte-americana (ZITO, p. 93).

Sergio Cardoso, que também escrevia a novela, constrangido, acabou pedindo a


Walter Negrão de Lima que escrevesse o final da novela, que foi finalizada com um
alucinado bangue-bangue, onde brancos e negros brigavam entre si, exibindo cenas
em que negros subiam em árvores.

A cena talvez não tenha chamado a atenção na ocasião, pois foi mostrada como
uma ação desproposital, como muitas outras que a televisão já veiculou, mas com
certeza pode ser considerada com um dos maiores atos de preconceito e racismo da
TV brasileira, não podendo usar como justificativa nem o argumento da comicidade,
o elemento mais utilizado para disfarçar o racismo na sociedade.

3.2 ESCRAVIDÃO: O DESTINO DO NEGRO NA TV

Como principal ramo de exportação na televisão brasileira, a telenovela teve seu


grande filão, as novelas que retratavam a escravidão. Escrava Isaura de 1977, foi a
grande precursora desse sucesso, a pioneira no tema abolicionista. Mesmo que de
forma distorcida, foi a primeira nesta categoria a condenar a escravidão. Suas
antecessoras mostravam a situação, mas não se posicionavam quanto ao assunto.

Em Escrava Isaura que os atores negros deixaram de ser meros figurantes e


passaram a ganhar personagens, devido ao tema abordado. E diante do sucesso, a
TV Globo passou a condenar a escravidão em todas as novelas em que tal fato
estivesse presente.

Até o início de 1993, as duas primeiras novelas mais comercializadas no exterior


foram Escrava Isaura, vendida para 67 países, e Sinhá-moça, vendida para 56
países.
49

Mesmo com novo tratamento a esse tipo de novela, a TV não conseguiu deixar
de lado o racismo. A história era contada de forma que os brancos fossem
apresentados como os grandes responsáveis pela vitória abolicionista, devido a
bondade e compaixão existentes nos mocinhos, sem qualquer participação de
negros. Estes, continuaram apenas como personagens de apoio aos brancos, e
representando o papel de coitados, dependentes e incapazes, fato que não é
verdadeiro, comprovado em alguns relatos históricos que mostram sua luta pela
liberdade e dignidade, mas que são maquiados pelos heróis de tez branca,
convenientes à sociedade que almeja se embranquecer por completo.

Além disso, a escrava de maior sucesso na TV brasileira era branca. A


justificativa era de que no romance original de Bernardo Guimarães, de 1875, a
personagem era branca, mas isso não impedia que na adaptação para a TV a
personagem não fosse no mínimo mulata, já que era filha de negros com brancos.

O que realmente justifica tal escolha é a continuidade do preconceito 100 anos


após o lançamento do romance. Pois, como colocar uma mulata para fazer uma
personagem que é a representação da pureza, beleza, bondade e delicadeza,
enquanto esta é o estereótipo da sensualidade e da luxuria. É o branco novamente
relacionado a tudo de bom e o negro a tudo que for considerado baixo, sujo e
inferior.

Só em Sinhá-Moça (1986) de Benedito Ruy Barbosa, os heróis negros da


Abolição começaram a aparecer. A novela tentou passar uma visão equilibrada do
processo abolicionista, no qual negros e brancos estariam lutaram pela destruição
do sistema escravocrata.

Um dos personagens que tenta passar essa outra ótica é o Pai José,
interpretado por Milton Gonçalves. Um homem altivo, que em sua pátria de origem
era considerado rei, e por isso mesmo sempre se mostrou irreverente e audaz,
apesar de escravo. Mesmo passando pelas piores torturas nunca baixou a cabeça
para o seu feitor, mostrando que embora estivesse na condição de escravo, tinha
orgulho de ser negro.
50

O autor da novela mostra no último capítulo, através de um texto que corre pela
tela, o que pensa a respeito do que os escravos passaram: “[...] e de tudo que
plantaram nada lhes restou [..] nem da terra, nem dos frutos, apenas a liberdade”.

Mas a novela de tema anti-escravista que realmente marcou pelo o orgulho


negro apresentado foi Pacto de sangue (1989), de Regina Braga. A trama de causa
abolicionista apresentou entre seus personagens heroínas negras, além de duas
frentes igualmente importantes na conquista da liberdade dos negros: Os
quilombolas e os cidadãos brancos, dentre eles professores, jornalistas e
advogados.

Joel Zito (2002) vê Pacto de sangue como a novela em que mais se encontra,
nos personagens negros, as novas atitudes diante do escravismo e do racismo.

Segundo ele, o orgulho negro era ressaltado pela sabedoria de Maria (Zezé
Mota), que constantemente se trajava de belas batas africanas e se portava
expressando forte alto-estima, impondo respeito a todos, brancos e negros. A mãe
Quitinha (Ruth de Souza) era sempre vista no seu trono de rainha africana e
babalorixa. Damião (Haroldo de Oliveira), normalmente trajando fraque e colete, era
um comerciante bem-sucedido, com traquejo social no mundo dos brancos e
fidelidade as suas raízes e ao Quilombo Loana. A guerreira Baoni (Ângela Correa)
era uma personagem que parecia ter saído diretamente de um dos filmes de Caca
Diegues, em especial de Zumbi dos Palmares.

Este foi o maior elenco negro das décadas de 70 e 80, de uma novela horário
das seis na Globo. E em que, apesar de estarem interpretando papeis considerados
naturais para sua cor, os negros foram mostrados de uma maneira mais destacada.
Mas as histórias de amor, que é o que mais interessam ao público, continuaram para
os personagens interpretados por atores brancos, demonstrando que mesmo em
certo destaque, o negro ainda é discriminado. Ou será que negro não ama?

Tabela 1
Personagens negros em telenovelas que tiveram como
tema a escravidão no Brasil – Rede Globo (1975-1998)
51

Programa Ano Autores Elenco Personagens


Helena............. 1975 Gilberto Braga Ruth de Souza Madalena
adap. mucama
Romance de Sidney Francisco o
Machado de Marques garoto da casa
Assis grande

Vanda Mattos Escrava jovem


O noviço.......... 1975 Mario Lago Haroldo de José guarda-
adap. Oliveira costas
Romance de
Martins Pena
Senhora.......... 1975 Gilberto Braga Cléa Simões Anastácia
adap. mucama
Romance de irreverente
Jose de Chica Xavier Rosa mucama
Alencar dócil
A moreninha.... 1976 Marcos Rey Haroldo de Simão escravo
adap. Oliveira fujão
Romance de Lea Garcia Duda mucama
Joaquim dócil
Manuel de Antonio Rafael
Macedo Pompeo empregado de
uma pensão
Tobias
Sidney moleque
Marques escravo que
quer ser ator
n.i
Vera Manhaes Bá da
Cléa Simões protagonista
A escrava
Isaura.............. 1977 Gilberto Braga Lea Garcia Rosa escrava
Adap. Haroldo de André escravo
Romance de Oliveira
Bernardo Neuza Borges Rita escrava
Guimarães. Maria das Santa escrava
Graças
Zeni Pereira Januaria
mucama
protetora
Edyr de Castro Ana escrava

Tabela 1 (cont.)
Personagens negros em telenovelas que tiveram como
tema a escravidão no Brasil – Rede Globo (1975-1998)
52

Programa Ano Autores Elenco Personagens


Sinhazinha Flô 1978 Lafayete Ruth de Souza Justa mãe de
Galvão adap. Arnaldo
Romance de (branco) ama

Jose de de leite
Alencar Neuza Borges Zana ama de
leite mulher
traumatizada
Clementino Tião escravo
Kele Mariinha
Maria das escrava
Graças Jô escravo
Fredman militante
Ribeiro Negrum
escravo
Paulo Tondato alforriado e
herói
Empregado de
Sidney Fragoso
Marques

Joana Rocha Cozinheira de


Campelo
Memórias de
amor............... 1979 Wilson Aguiar Solange Ângela
Filho Teodoro empregada do
Adap. diretor de um
Romance de colégio
Raul Pompéia
Cosme dos Manuel
Santos escravo
Ivan de Gumercindo
Almeida capoeirista e
policial

Tabela 1 (cont.)
Personagens negros em telenovelas que tiveram como
tema a escravidão no Brasil – Rede Globo (1975-1998)
53

Programa Ano Autores Elenco Personagens


Sinhá-moça..... 1986 Benedito Ruy Chica Xavier Bá escrava
Barbosa Gesio Amadeu Fulgencio
escravo
Grande Otelo Seu Fio
Antonio escravo
Pompeo Justino
Cosme dos escravo
Santos Bastião
Ruth de Souza escravo

Solange Couto Escrava velha


e louca
Adelaide
escrava
Tony Tornado Capitão do
mato
Walter Santos Feitor
Jacira Sampaio Escrava do eito
Canarinho

Dudu de Bentinho
Moraes escravo
Maria das
Dores
Escrava
alforriada
Milton Pai Jose
Gonçalves escravo
Aldo Bueno Pedro escravo
Joel Silva Tobias escravo

Tabela 1 (cont.)
Personagens negros em telenovelas que tiveram como
tema a escravidão no Brasil – Rede Globo (1975-1998)
54

Programa Ano Autores Elenco Personagens


Pacto de
sangue............. 1989 Regina Braga Zezé Motta Maria guerreira
e mulher de
Damião,
Ruth de Souza Mãe Quintinha
líder do
quilombo,
Julcileia Telles Ana Cafuza
escrava
alforriada,
Haroldo de Damião livre e
Oliveira letrado,
Ilea Ferraz Luzia escrava
Léa Garcia Escrava muda
Jacira Sampaio Bá escrava
alforriada
Edyr de Castro

Armando Paiva Baiana


ajudante de
pensão
Marcus Bento menino
Vinicius adotado pelo
juiz
Nozinho
escravo
Assassinado,
Maria Ceiça filho de Luzia
Fulô yakaken
Josiam Amon de mãe
Quintinha
Francisco Oju
Otavio babalossain do
terreiro de
Quintinha
Escrava
grávida

Tabela 1 (cont.)
Personagens negros em telenovelas que tiveram como
tema a escravidão no Brasil – Rede Globo (1975-1998)
55

Programa Ano Autores Elenco Personagens

Elcio Mateus Morador do


Quilombo de
Loana
Erivaldo Casan Morador do
Quilombo de
Loana
Rômulo Jose Morador do
Quilombo de
Loana
Tânia Machado Morador do
Quilombo de
Loana
Ângela Neuzy Morador do
Quilombo de
Loana
Ana Bandarra Integrante do
terreiro de
Quitinha
Luiza Gomes Integrante do
terreiro de
Quitinha
Carla Costa Integrante do
terreiro de
Quitinha
Carmen Luz Integrante do
terreiro de
Quitinha
Lenir Frazão Integrante do
terreiro de
Quitinha
Mariana Lira Integrante do
terreiro de
Quitinha
Walquria Integrante do
Souza terreiro de
Quitinha
Integrante do
terreiro de
Quitinha

3.3 E OS ESTEREÓTIPOS PERSISTEM


56

A teledramaturgia brasileira é ainda mais rica em estereótipos que as demais


áreas artísticas já citadas. Isso porque, além dos nascidos no período colonial e
preservados até sua chegada, a televisão, forte seguidora da ideologia do
branqueamento, baseada nas influências euro-norte-americanas, importou novos
tipos para o Brasil.

Além dos tradicionais pretos-velhos, das mães-pretas, das mulatas boazudas,


das criadas fieis, moleques de recado, dos malandros, entre outros, foram trazidos
dos Estados Unidos personagens como:

Tom/Tia Jemima: Serviçais inferiorizados, porém dóceis e dedicados às famílias


brancas, com extremo extinto paternal. Na versão feminina são sempre
caracterizadas como uma domestica generosa, preocupadas e sinceras, também de
extinto maternal aguçado e de tipo físico magro.

Mamie: semelhante a mãe-preta, mas com traços mais marcantes, encontrados


em uma negra ao mesmo tempo orgulhosa, dominadora, de vontade forte, irritável,
mas intensa na sua maternidade, a atriz deveria ter um tipo físico grande e gorda.
Provavelmente, foi o estereótipo mais retomado pela televisão brasileira

A maior parte destes estereótipos, inclusive os importados, podem ser


encontrados com maior frequencia nas novelas de época, mas isso não significa que
eles também não sejam largamente usados em novelas urbanas, como por exemplo
em Uma rosa com amor, de 1972, em que Grande Otelo representou o simpático
velho Pimpinone, (possuidor de todas as características do Tom) que trabalhava
com marionetes contando historias de vida. Ele era o grande amigo da personagem
principal, papel de Marília Pêra. E em Carinhoso de 1974, Zeni Pereira interpretou
Donana, uma típica Mamie, protetora da protagonista Cecília, interpretada por
Regina Duarte.

Os estereótipos não caem em desuso porque a TV na ideologia do


branqueamento com influências euro-norte-americanas não consegue enxergar o
negro de outra forma, a não ser por sua sensualidade, comicidade ou desgraça. O
que é uma inverdade, pois como um ser humano normal, entre os negros há uma
variedade de tipos de personalidades. Atitudes como essas ressaltam o racismo
existente no país e desmoralizam o mito da democracia racial.
57

3.4 NEGROS COMO SERVIÇAIS


58

Mas o lugar comum em personagens negros não fica só nos tradicionais


arquétipos, existem papeis nem sempre estereotipados, mas que geralmente são
incumbidos a negros. Suas características quase não são visíveis, a não ser quando
puxam para a comicidade, mas suas funções são quase sempre a de serviçais e
muitas vezes estão ligados a marginalidade. São as domésticas, os porteiros, os
motoristas, operários, jagunços, seguranças, favelados, mendigos, trombadinha, ou
algum tipo de criminoso, entre outros. Os menos negativos que podemos encontrar é
o de jogador de futebol e artista, geralmente cantor, passando na verdade, ao papel
de divertimento aos brancos.

Atentem para determinadas profissões- garçom, diplomata,


propagandista de laboratório farmacêutico, caixa de banco, aeromoça,
balconista de boutique...Com honrosas exceções de sempre não encontrará
pretos (RUFINO, p. 67).

Para Rufino, a cor em nosso país é mais uma marca que uma raça. “De cor são
todos os que valem pouco ou quase nada - ‘isto é serviço de preto’ diz o povo
quando alguma coisa resulta mal - feita”.

Segundo o ator Antonio Pitanga, tais funções já são naturalmente incumbidas de


serem representada por negros.

Existe uma palavra-chave para nós no meio artístico: é o chamado


‘papel para negro’. Se o ator é escalado para um papel desses, ele tem de
aceitar, ou está desempregado. Se a obra não tem nenhum personagem
8
escrito ‘para negro’ , você não trabalha .

8
Depoimento. Mídia de Racismo, 2002, p. 79.
59

Mas a característica maior do papel para negro é que ele tenha pouca
importância na trama, ele é geralmente colocado numa posição secundária, servindo
mais como elenco de apoio do que realmente como personagem.

Podemos observar que o negro funciona como um mecanismo que dá um ar


mais real a história, pois hoje já não é mais possível ignorar completamente a sua
expressiva presença na população brasileira. A não ser que o autor queira insistir
numa hipocrisia desmedida, que com certeza causaria em sua obra uma atmosfera
de artificialidade, algo que nenhum autor deseja para seu trabalho.

Dentro disso, o papel de empregada ganha disparado no que se refere as atrizes


negras. Aliás, é muito difícil existir uma atriz negra que não tenha interpretado o
papel de doméstica, seja em que época a novela tenha passado.

Em uma matéria da Folha de São Paulo sobre Racismo9, a atriz Zezé Mota
relata o seguinte fato:

Lembro-me também de uma vez que passei um tempo nos EUA com
uma peça que fez muito sucesso. Quando voltei, fui procurar emprego na
Tupi. Uma ‘colega’, branca, me disse: Fique tranquila. Vão começar a gravar
duas novelas. Não é possível que não tenha nenhuma empregada.

As personagens de empregadas podem chegar a ser apresentadas até com um


certo ar de primeira classe, mas não deixam de ser meras personagens de apoio,
nas quais o brilho se apaga frente a uma atriz branca, seja ela protagonista ou não,
que sempre estão hierarquicamente na história, acima das negras. Como foi o caso
da atriz Zezeh Barbosa, a Narcisa, empregada doméstica de Bárbara, que por
querer se comportar como grã-fina se tornava cômica, mas logo perdia a graça e
tornava-se ridícula perto de estrelas com belezas exaltadas pela produção.

O ator Cosme Santos é um dos negros que mais desempenhou função de


subalterno, como empregado da família. Tony Tornado também não fica atrás nesse
quesito, que por seu porte físico, era escalado na maioria das vezes para papéis de
jagunço, segurança e, até mesmo, personagens que tivessem mais perto do crime.

9
publicada em 30 de novembro de 2000.
60

Isso ocorre, mais uma vez, porque o negro está relacionado apenas ao negativo,
neste caso ao inferior, ao feio e ao pobre. Imaginem se passa pela cabeça de uma
atriz branca interpretar o papel de uma empregada. Isso pode chegar a acontecer.
No entanto, os brancos se vêem sempre como protagonistas e com certeza tem uma
chance incomparável a do negro. A este, resta apenas sonhar que um dia tal
realidade vai mudar, e o seguimento negro finalmente vai poder ver suas histórias
retratadas no produto de comunicação mais querido do povo. Enquanto isso, têm
que aceitar o segundo plano e enfrentar a sulbaternidade, se não quiserem se deixar
morrer, mesmo que estejam aparecendo de forma deturpada.

3.4 NEGROS NA CLASSE MÉDIA

Apesar da função de servo ser a grande sina do negro, a partir dos anos 70
papéis isolados de pessoas integrantes da classe média passaram a ser interpretado
por atores negros. A mensagem de inferioridade passou a ser transmitida agora de
uma forma mais branda aos olhos do público, de uma forma subliminar, em que os
negros já não apareciam mais como meros empregados, mas seus personagens
continuavam sem importância.

Isso ocorreu em consequência de uma visão menos distorcida de realismo que


passou a ser buscada pela TV, que foi motivada por seus patrocinadores.

Podemos observar tal mudança no depoimento de um supervisor da Colgate-


Palmolive descrito por Zito (2002) em A Negação do Brasil:

Para escolher uma boa novela é preciso prestar atenção nos seguintes
itens: o enredo tem que ser realista, plausível de acontecer com cada um
dos espectadores, para que melhor se identifiquem com os personagens;
não se devem apresentar problemas muito distantes, complicados ou
insolúveis.

A época passou a ser marcada então, com exceção das novelas adaptadas de
romances clássicos da literatura brasileira, por telenovelas que se referiam à história
61

que se passavam nos centros urbanos. As tramas principais eram em volta de


personagens que saíram da pobreza e ascenderam ao topo das classes sociais.

Essa inovação ficou apenas na ambientação das histórias, pois apesar de uma
minoria de negros passar a ser vista nas telenovelas, na nova condição de classe
média, nenhum personagem teve destacado seus conflitos e os dramas da luta pela
ascensão social e econômica, com que era agora posicionado.

Simplesmente eram colocados na história, sem ter passado ou família, nada que
sirva para contar sua historia, que quando tinha a ascensão justificada, era mérito de
um personagem branco que lhe ajudou a chegar no bom lugar que chegou.

Alguns autores se destacaram pela presença de negros na condição de classe


média em suas tramas, mas sem os deixar passar dos “limites”, com papéis sempre
de menor importância: Janete Clair e Jorge de Andrade.

Janete Clair poucas vezes utilizou de estereótipos de negros. Suas personagens


para esses atores eram colocadas em posições de alta ascensão para uma classe
tão desfavorecida, como por exemplo o psiquiatra Persival Garcia, interpretado por
Milton Gonçalves em Pecado Capital (1975). Ele era um profissional altamente
gabaritado, formado na Universidade de Harvard nos EUA, com uma série de
especializações, mas sem história individual, servindo mais uma vez, apenas como
apoio na trama.

Quando tentou desenvolver uma história de romance a uma personagem branca


da novela, Vitória, interpretada por Tereza Amayo, foi altamente criticada pela
opinião pública acostumada a ver o negro em “seu lugar”, abaixo do branco, nunca
ao seu lado. O personagem de Milton Gonçalves então teve que retornar apenas a
função de apoiador, procurando se desenvolver dentro de suas possibilidades.

E essa realidade persiste até hoje, representando um personagem pobre ou de


classe média, o negro sempre fica em segundo plano na trama. Por mais que tentem
se destacar, o papel que lhes são oferecidos não permite seu crescimento. Seja
como empregado ou executivo, a regra é que negro não tem destaque, não pode
ficar acima do branco e muito menos ser protagonista.
62

Podemos citar o exemplo da atriz Talma Freitas, que em Laços de Família


(2000), de Manoel Carlos, interpretou a empregada da protagonista Helena (Vera
Ficher) e que em 2001 na novela O Clone, de Glória Perez, fez a personagem de
executiva da empresa do grupo de protagonistas da história, mas que possuía a
mesma importância a sua personagem anterior, apenas de apoio na trama.

Enfim chegou o momento em que famílias de negros de classe média foram


retratadas nas telenovelas. Tal ação pode ser considerada como avanço, mas não
como progresso, pois seus papéis foram exatamente ao dos personagens isolados.
Os autores queriam passar uma falsa imagem do mito da democracia racial, mas do
jeito deles, sem dar maior destaque aos personagens negros.

Em Mandala (1988), Dias Gomes, apesar de considerar que negros na classe


média não estariam representando a realidade do país, apresentou em sua trama
uma família inteira de negros, bem posicionados socialmente, mas apresentando
conflitos que os inferiorizava frente a sociedade.

Apesar de ter sido escrita em comemoração aos 100 anos de Abolição da


Escravatura, e para homenagear Grande Oltelo, seu personagem era um ator
veterano, que vivia bêbado e em brigas constantes com a mulher.

Em A Próxima Vítima (1995), de Silvio de Abreu, também havia uma família


negra de classe média, a família Noronha. No entanto, alguns de seus membros
conseguiram um certo destaque em seus personagens mas de modo individual e
através de aspectos também considerados negativos, como o do ator Norton
Nascimento, que interpretou o gerente de banco Sidney Noronha.

Seu personagem foi apresentado com características do estereótipo Negão,


bonito, sensual e com extremo apetite sexual. Já o seu irmão Jeferson Noronha,
interpretado pelo ator Lui Mendes, enfrentava problemas com o namoro
homossexual.

A utilização de famílias negras nas novelas não foi muito bem sucedida, e ao
que parece servia muito mais como desencargo de consciência dos autores, já que
nenhum deles teve coragem de dar o papel principal a um ator negro.
63

E em certas novelas, tal fato é uma disparidade. Novelas por exemplo que se
passam na Bahia, que representa o Estado de maior população negra do país. Porto
dos Milagres (2001) baseada num romance de Jorge Amado, se passava na Bahia,
no entanto, a maioria de seus atores é branca e, claro, seus protagonistas. No caso,
Marcos Palmeira que interpretava Guma, personagem central da história, era
mulato, mas a mocinha, Lívia, interpretada por Flávia Alessandra, era branca e loira.

E como a regra é dar apenas papéis secundários à negros, ou até no máximo de


vilões - casos não tão comuns – até mesmo a empregada de um dos personagens
principais da história era branca, Natália Timberg, pois seu papel era muito relevante
na trama, não podendo assim, ser confiado a uma atriz negra.

3.5 NOVELA EXPÕE PROBLEMA MAS NÃO SOLUCIONA

A partir da década de 80 algumas telenovelas da Globo tentam expor o


problema da discriminação racial para o público, que de início reage mal ao tema,
como em Corpo a corpo (1984), de Gilberto Braga, que aborda a questão através do
relacionamento inter-racial entre a mocinha da história (Zezé Mota), um dos casos
singulares de protagonista negra, e o mocinho (Marcos Paulo).

Na novela Zezé Mota era uma paisagista que foi perseguida não só pelos vilões
da trama, o pai do personagem principal (Hugo Carvana) e a noiva (Joana Fonm),
mas também pelo público que se horrorizou em ver um romance entre uma negra e
um branco.

Joel Zito (2002) aponta como um fato interessante da história é que a vilã não foi
criticada pelo racismo, considerado até algo natural por muitos, mas pela sua falta
de educação.

O casal terminou com um final feliz, mas a iniciativa do autor perde créditos
quando vemos que a família de classe média de negros, apresentada no início da
história, termina se desmembrando e indo à falência. Passando a idéia de fraqueza
e de que o negro não pode ser bem sucedido.
64

Em depoimento à imprensa, a atriz Ruth Souza, que interpretava a mãe de


Sônia, Jurema, demonstrou a insatisfação com o desfecho da família:

(...) Eu esperava que essa família negra tivesse mais função de família
negra. Há muito venho cobrando dos autores, pois geralmente eles vêm
estereotipando; os personagens têm sido sempre negativos. Nessa novela,
temos uma família bem constituída, filhos estudando. De repente, com a
morte do pai, a família se desmembra. O personagem segue, mas não é
exatamente o que eu esperava. Eu estou sendo honesta: acho que tenho
muito mais para dar como atriz; que o meu papel podia ter outra
desenvoltura (...) Até agora, ninguém se preocupa ou pensa com o
sentimento do negro (ZITO, 253).

Em Anjo Mau (1997), novela de Cassio Gabus Mendes, adaptada por Maria
Adelaida Amaral, o racismo é um dos temas da trama, que apresenta uma mulher
miscigenada (Tereza) interpretada por Luiza Brunet, que tem vergonha de ser filha
de uma mulher negra (Dona Cida), escondendo seu passado da sociedade, inclusive
do marido e dos filhos, apoiada pela própria mãe (Mãe-preta) que protege a filha.

Mas a filha adotiva de Dona Cida (Vivian) interpretada por Taís Araújo, tem a
função de ressaltar o orgulho negro na trama, mesmo que não seja a personagem
principal.

Outra apresentação de orgulho negro na telenovela é o da personagem


Tuquinha, interpretada por Maia Ceiça em Felicidade (1992), de Manoel Carlos. A
história apresenta uma passista estabilizada financeiramente, que sonha em um dia
ser a primeira porta-bandeira de sua escola. Dona de um bom coração, Tuquinha
tem orgulho de ser negra e não deixa ninguém pisotear a ela nem a sua família,
ensinando inclusive seu pai (Batista) interpretado por Milton Gonçalves, a ter orgulho
da cor e não baixar a cabeça aos brancos, nem mesmo quando forem seus patrões.

Mas tanto orgulho negro vai por águas abaixo, quando no final as filha de Batista
terminam com rapazes brancos, fortalecendo o ideal de embranquecimento da
população brasileira, através da miscigenação.
65

Em Por Amor (1997), outra novela de Manoel Carlos, o erro prossegue. A


questão racial é colocada ao público, mas logo esquecida pelo ideal de
embranquecimento do povo.

Na trama, a personagem de Maria Ceiça (Márcia) tem constantes brigas com o


marido, interpretado por Paulo César Grande, que não quer ter o filho que Márcia
está esperando por ter medo que ele nasça negro, mas não admite seu preconceito.
No final, a filha nasce branca e loira como o pai, e então ele procura a mulher e se
reconcilia com ela, aceitando a condição de ter um outro filho, para que nasça com a
cor da mãe, mas tal fato deixa de ser explorado na novela, caindo no esquecimento
e não se concretizando. Fortalecendo no final, o ideal de embranquecimento do
Brasil.

Além do tratamento fraco e indevido dado ao tema de discriminação racial nas


telenovelas, um problema que deveria se solucionar diante da evolução dos tempos
persiste: O tema pode até ser abordado, mas como assunto secundário e sem dar
muita importância aos atores negros que fazem parte dele.

Assim, até mesmo quando os autores tentam falar do problema do racismo, o


ator negro não tem vez, tendo que se recolher a insignificância que lhe foi imposta. A
novela persiste então em passar a sociedade um ar de pouca importância do
problema, que mais uma vez é apontado como uma das possíveis causas para o
atraso no desenvolvimento do país. Afinal o negro foi peça fundamental na
construção dessa sociedade e não espera mais que um espaço para poder crescer.

A discussão desse problema com maior seriedade e a efetivação de medidas


que comecem a saná-lo realmente, a começar pela valorização do artista negro, do
profissional que pode trabalhar em pé de igualdade com qualquer um, é fundamental
para o desenvolvimento social da nação.
66

3.6 O NEGRO NO TELEJORNAL: VERDADEIRAS DESIGUALDADES SOCIAIS

Ao assistir os noticiários dos telejornais brasileiros a imagem do negro é


constante, mas não como o profissional que apresenta as notícias, mas como
matéria prima, principalmente da editoria de polícia.

É o telejornal o maior concorrente da telenovela na disputa pelo primeiro lugar


nas preferências nacionais da tevê mas, com certeza, segundo colocado junto às
camadas mais pobres da população brasileira. É outro produto da televisão em que
o negro praticamente não tem vez.

Neste caso, não é só a ideologia do embranquecimento que justifica tal fato. É


claro que os padrões estéticos tradicionais – euro-norte-americanos – pesam, mas o
problema aí, é principalmente de desigualdade social. Afinal como chegar hoje, ao
telejornalismo sem formação profissional?

As enormes desigualdades entre brancos e negros no país são alarmantes. No


que se refere a educação por exemplo, os índices de analfabetismo têm caído em
todo o país, mas as diferenças entre brancos e negros permaneceram praticamente
inalteradas.

O último Censo mostra que 8,3% da população branca é analfabeta, mas entre a
população negra, esse índice aumenta para 19%. Além disso, pesquisas comprovam
que em média, os brancos estudam dois anos a mais que os negros.

Isso ocorre porque o ensino oferecido para a população mais pobre do país, que
é composta principalmente por negros, é sempre de qualidade inferior e muitas
vezes improvisado.

Além disso, as pessoas têm dificuldade de aprender aquilo com que elas não se
identificam, e no Brasil, onde os conteúdos apresentados nas escolas são
comprometidos com ideais da elite e do eurocentrismo, as dificuldades dos negros
ainda são maiores
67

Para o sociólogo Antônio Sérgio Guimarães, da USP, a desigualdade de


oportunidades não basta como explicação. "Muitos estudantes negros sentem que
aquele mundo não é deles. Não há filósofos nem reis negros nos livros didáticos".

Em 1991, pesquisas do Censo Demográfico mostram que a porcentagem da


população matriculada no ensino superior no Brasil era de 6,1%, sendo que deste
total, 8,2% eram de brancos e 2% de negros. Já em mestrado e doutorado o total
geral era de 0,2% da população, sendo 0,3% composto de brancos e 0,1% de
negros.

Todos esses dados mostram que as desigualdades sociais tornam injusta a


concorrência no mercado de trabalho entre brancos e negros. É quase impossível o
acesso em determinadas áreas, principalmente àquelas consideradas de elite, como
a medicina, direito, publicidade, a de tecnologia, entre outras.

E no jornalismo, que é um dos cursos mais procurados em muitos estados do


país, a situação não é diferente, sendo que o problema se agrava, quando a área
almejada é a de televisão, exatamente pelos padrões de ideais estéticos que ainda
vigoram em nossa sociedade, levando muito em conta a questão dos estereótipos,
em que a pele negra passa muito mais uma a mensagem ligada ao exótico - na
melhor das hipóteses – servindo mais aos propósitos de propaganda turística,
enquanto a pele branca, no caso do telejornal, transmite a confiança e seriedade
que o programa exige.

Quantos de vocês já não devem ter ficado sabendo comentários maldosos feitos
à respeito da jornalista negra de maior destaque na mídia, Glória Maria. A maioria
deles com certeza ligados à estética. Mas essa situação ainda precisará de alguns
anos para que mude. Hoje já conseguimos identificar alguns avanços, mas a
televisão brasileira ainda tem muito a progredir até eliminar essa idéia tão
ultrapassada de racismo.

Podemos usar aqui a mensagem de uma das propagandas da indústria de


veículos Fiat, em que uma pessoa branca cumprimenta uma mulher branca, que
está no banco de trás de um carro com uma criança no colo, e a elogia por estar
andando com um motorista (um homem negro que estava conduzindo o carro). Mas
acaba admirada quando a mulher revela que na verdade ele era seu marido. A
68

mensagem da propaganda no final é: “É, está na hora de você rever seus


conceitos”.

Esta peça publicitária revela claramente o conceito que a sociedade tem sobre
os negros, o de eternos servos dos brancos. Seja como escravos na era do
colonialismo, ou hoje, como serviçais em qualquer área. A imagem do negro ainda é
muito relacionada com a inferioridade, sendo ele incapaz de chegar a desempenhar
com competência qualquer função que não seja subalterna.

Mas para começar a mudar essa realidade tão injusta, o sistema de cotas
universitárias vem com propriedade. O projeto ainda está em fase de debates, sendo
implantados já em algumas universidades. Mas acreditamos que embora seja um
método artificial, ele é necessário, pois a desvalorização do negro na sociedade
brasileira só pode ser revertida utilizando a diferenciação de oportunidades na
educação, desta vez em favor dos negros, já que há muitos anos essa diferenciação
vem sendo em seu detrimento, apoiada em conceitos racistas.

Está na hora do branco reconhecer o mal que fez ao negro e reparar o erro, a
começar pelas cotas no ensino superior, não porque este é incapaz, mas porque
desde sua chegada ao Brasil, nunca foi tratado como ser humano, em posição de
igualdade. O negro sempre esteve em desvantagem por uma cruel imposição do
branco, que hoje precisa deixar de ser hipócrita e assumir a sua responsabilidade,
apoiando a implantação do projeto, dentre outras medidas governamentais como a
inclusão da disciplina de cultura afrodescendente no ensino médio. Afinal, a chave
de tudo é a educação. A educação de qualidade para todos, sem qualquer distinção.

Assim quem sabe, a televisão brasileira comece a ter mais a cara do seu povo,
que por mais que muitos não queiram admitir, é composto em sua maioria por
negros.

3.6.1 Contexto local

No que se refere ao telejornalismo roraimense, onde também não encontramos


nenhum apresentador negro, mas apenas uma quantidade insignificante de negros
69

como repórteres, nos cinco canais locais, a situação é um pouco diferenciada do


contexto nacional.

Neste caso, a explicação para a ausência de negros à frente dos telejornais é


talvez mais voltada para os padrões de beleza, mais invocados nas telenovelas e
peças publicitárias, do que para desigualdades sociais.

Isso porque no Estado não existe uma exigência mais rígida quanto à formação
profissional para este trabalho. Aliás, boa parte dos que hoje trabalham na
apresentação dos telejornais locais não são formados em jornalismo.

Existe ainda a hipótese de que a ausência de negros nos telejornais locais se


deva também a própria característica populacional do Estado, onde a maioria dos
habitantes é de cor branca, seguida dos indígenas. Dos 324.397 habitantes de
Roraima, apenas 13.725 é de cor negra. Esses dados nos fazem acreditar que os
negros sejam minoria em todas as áreas profissionais locais.

Segundo a professora de Comunicação Social da Universidade Federal de


Roraima (UFRR), Ethiene Travassos, até mesmo em sala de aula é difícil encontrar
acadêmicos negros.

Acredito que a questão populacional aliada às desigualdades sociais


existentes em todas as regiões do país, pois não importa onde o negro
esteja, ele sempre sofre com o problema do racismo, dificultando assim o
seu acesso a educação, fazem com que existam tão poucos profissionais de
jornalismo de cor negra. No Estado, a procura de negros pelo telejornalismo
é muito pequena.

Para o jornalista Marcone Lázaro, o único apresentador negro de TV, essa


ausência é justificada por todos os motivos elencados acima.

Aqui no Estado a realidade é diferente do contexto nacional, as razões


se misturam. Os padrões estéticos com certeza influenciam, mas também
existe a questão da desigualdade social e da característica predominante da
população, que é a indígena.
70

Mas o que podemos ver é que não importa a região, nem os motivos, a ausência
do negro a frente dos telejornais é um fato que atinge a todo o Brasil, e Roraima não
fica de fora.

3.7 COMERCIAIS DE TV, ONDE OS NEGROS SÃO AINDA MAIS INVISÍVEIS

As propagandas publicitárias no Brasil, em matéria de discriminação racial, ainda


estão mais atrasadas que as telenovelas. O ideal de branqueamento nas agências
de publicidade se apresenta de uma forma muito mais evidente que nas próprias
emissoras de tevê, que por sua vez acabam incorporando e apresentando mais o
branqueamento como conceito do que é com à sociedade.

Alguns pesquisadores de renome no estudo da questão racial interpretaram a


publicidade de tevê, nas décadas de 80 e 90, como permeada pelo desejo de
exterminar a raça negra.

Em 1982, a presença do negro em comerciais de TV se limitava apenas a 3%


em relação ao branco. Em 1991,os pesquisadores Frederico Subervis-Velez e Omar
Oliveira fizeram uma pesquisa englobando 1.500 comerciais (incluindo repetições),
levados ao ar em 59 horas de programação do horário nobre das três maiores redes
de tevê da época, nas capitais do Rio de Janeiro e Minas Gerais, e constataram que:

- Os negros só apareciam em 39 comerciais (excluindo as repetições);

- Somente em 9 destes comerciais, os negros apareciam em papéis com fala;

- Mesmo que os negros tivessem papéis com falas, eles eram geralmente retratados
em papéis secundários;

- Em 4 comerciais, eles representavam papéis proeminentes (em um deles,


celebrando os 100 anos de Abolição da Escravatura, e nos outros 3, anunciando
produtos da indústria do disco). Os papéis positivos só existiam, portanto, em
publicidade do governo e da indústria de entretenimento.
71

Os publicitários da época apontavam várias justificativas para a quase ausência


do negro nos comerciais de tevê e para a sua presença ligada apenas a papéis que
retratavam a subalternidade. Os maiores motivos apontados eram de que a
propaganda trabalha com um modelo de família média brasileira, na qual quase não
existiam negros e de que o negro não era consumidor. Além disso, segundo os
publicitários, os próprios clientes não aceitavam que seus produtos fossem ligados à
imagem do negro.

A imagem preferencial para as peças publicitárias é a da beleza euro-norte-


americana, personificada por homens brancos, altos e elegantes e por mulheres
charmosas, magras e brancas. E o negro contrapõe-se a esse ideal de estética
publicitária, assim como todas as pessoas que estão fora do padrão como os
obesos, os indígenas, os deficientes físicos, entre outros, que fazem parte dessa
minoria desprezada pela indústria de vender sonhos e fantasias.

Somente em 1997 que a primeira família negra de classe média apareceu em


rede nacional em um comercial de TV. A Peça publicitária se referia a uma
promoção de páscoa da indústria de chocolates Lacta.

Isso ocorreu porque já no final da década de 90, as pesquisas mercadológicas


começavam a apontar o negro como participante ativo da economia e integrante
significativo da classe média – parcela que mais importa à publicidade. Além disso,
na mesma época, as pressões de grupos políticos comprometidos com a causa
negra começavam a ganhar mais força com a quantidade de projetos que impunham
a participação no negro em peças publicitárias institucionais e privadas, através de
cotas que variavam entre 25% a 40%, que se avolumavam no Congresso Nacional.

Mas o fator que realmente pesou na diminuição da ausência do negro nos


intervalos comerciais de tevê foi o fator econômico. Em 1997, dos brasileiros que
tinham renda superior a 20 salários mínimos, 28% eram negros, o que totalizava 4
milhões de pessoas. Hoje esse número dobrou e junto com esse dado vem a
mudança de conceitos das agências de publicidade, que para ganhar mais, tentam
abrir mão de velhos tabus e preconceitos. Afinal, o dinheiro fala mais alto que
qualquer preconceito. E o capitalismo que utilizou da teoria da superioridade do
branco sobre o negro para atingir seus fins de exploração com baixo custo e altos
lucros, hoje se vê obrigado a por de lado o racismo se quiser continuar dominante.
72

CONCLUSÃO

Dizem que a mídia transmite o reflexo da sociedade, e a televisão por sua vez
reproduz sua imagem. Mas na verdade, esse meio insiste em apresentar à
sociedade brasileira uma imagem distorcida de seu povo e de seu cotidiano,
renegando a sua verdadeira identidade racial, em que a cor negra predomina.

A ação da televisão, que trabalha como elemento principal de reforço da


invisibilidade do negro, sendo o principal meio de comunicação na imposição de um
modelo cultural e estético – euro – norte - americano, disseminador do ideal de
branqueamento do Brasil, prejudica a construção da identidade cultural e social do
negro.

E o mecanismo mais íntimo que o meio possui com as camadas desfavorecidas


da população, portanto com os negros, a telenovela, é a principal acentuadora do
problema, justamente pela posição preferencial que ganhou em meio a esta camada
social.

Pudemos constatar que na televisão, o negro quando consegue se ver, é através


de imagens negativas, seja nos telejornais ou das telenovelas, que continuam,
apresentando-o sob uma forma estereotipada, reafirmando o imaginário coletivo
construído no período escravocrata, do negro como classe subalterna. Sendo assim,
um mecanismo prejudicial na educação tanto de crianças negras como na de
brancas, pois reforça o preconceito já enraizado no país.

Essa ausência da imagem do negro na TV como um cidadão, como um ser


humano, passível de derrotas e sucesso, como uma pessoa igual aos demais, reflete
numa forma de inferiorização, tanto da parte dos brancos como no próprio
73

segmento, repercutindo na intensificação de seus problemas, no descrédito de sua


pessoa, numa alta baixa-estima, que resulta inclusive em não conseguir admitir sua
cor.

Sem saber como se identificar dentro da sociedade, pois desde pequeno é como
se fosse invisível, ou no máximo um portador de desgraças, tem que se espelhar
nos brancos, que são exaltados por uma série de qualidades, enquanto o negro, é
subjugado, desde que nasce. Ele cresce então querendo ser branco, ou pelo menos
um “negro de alma branca”, sendo obrigado a efetivar esse projeto de
branqueamento, planejado há séculos por nossos colonizadores, seja da forma que
for, inclusive tomando a iniciativa da miscigenação, que como muitos dizem: é para
limpar o sangue..

Sabemos que a televisão não tem a função de sanar problemas como o da


discriminação racial, mas ela é imprescindível nas discussões de questões como
estas e com um pouco de boa vontade poderia contribuir para esclarecer,
principalmente, às novas gerações e ao público leigo no assunto, fazendo uma
retomada de consciência.

Na telenovela, por exemplo, o que se espera não é ver sempre o negro de terno
e gravata. Nada disso, mas mudar a forma rebaixadora como ele é apresentado,
sabemos que na vida real esta situação está mudando pela persistência individual
de alguns e pelo trabalho de grupos comprometidos com a causa. Porque então
continuar apresentando essa imagem tão negativa daquele que só ajudou e continua
ajudando a construir nossa sociedade?

A TV brasileira precisa mostrar um programa que ponha a comunidade negra


com auto estima. Os negros também possuem vidas interessantes, histórias de
sucesso como os brancos. O negro possui talento como o branco e ama da mesma
forma. Porque não protagonizar uma novela? Porque não ser mostrado através de
seus sentimentos mais ternos? O negro comprovadamente não é um bicho como era
tido há séculos, e é capaz de ser bem sucedido em todas as áreas da sociedade,
não só no futebol ou no pagode.

E porque não mostrar essas histórias que são reais? Não serão forjadas como
alguns autores pensam até hoje que mostrar o negro na classe média não é um
74

retrato de nossa sociedade. Pensam assim, porque são ultrapassados, com


pensamentos ultrapassados e não conhecem o verdadeiro povo brasileiro que está
evoluindo. São capazes de retratar famílias de italianos, mas não uma comunidade
de negros, sua cultura e suas crenças tão presentes em nosso país.

Sabemos que o caminho a percorrer ainda é longo, mas a promoção da


informação sobre os afrodescentes e o apoio a campanhas anti-racistas, são
atitudes que cabem a todos e todas àquelas que se sentem comprometidas com a
construção de uma sociedade justa e com igualdade de oportunidades para todos,
além de serem algumas medidas que os meios de comunicação podiam adotar
como diminuição da exclusão social.

O negro é ingrediente principal da beleza e do desenvolvimento deste país.


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REFERÊNCIAS

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Brasileira S.A.

RIBEIRO, Darcy. O Povo Brasileiro. São Paulo. Companhia das Letras: 1995

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OBRAS CONSULTADAS

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Brasileira S.A.

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MUNANGA, Kabengele. Negritude: Usos e Sentidos. São Paulo, Ática: 1986.

TELLES, Norma. A Questão Indígena na Sala de Aula. São Paulo. Brasiliense: 1995

SANTOS, Anízio. Eu, Negro: Discriminação Racial no Brasil Existe? São Paulo,
Edições Loyola: 1986.

Folha de São Paulo. Editorias: TV FOLHA e ILUSTRADA. São Paulo: 1997 à 2002.

www.observatoriodaimprensa.com.br

www.folha.com.br

www.nascente.com.br
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ANEXOS

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