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‭Ludmilla Yara Ferreira de Souza‬

‭O Rádio na Construção da Cidadania‬


‭ rabalho apresentado à Faculdade de Minas‬
T
‭(FAMINAS) como requisito parcial para a obtenção‬
‭do grau de Bacharel em Comunicação Social,‬
‭habilitação em Jornalismo.‬

‭Orientador: Prof. Ms. Josias Jorge Nascimento‬

‭Muriaé – MG‬
‭2005‬

‭O Rádio na Construção da Cidadania‬

‭ onografia apresentada e aprovada em ____ de _________‬


M
‭de 2005‬
‭ _____________________________________________________‬
_
‭Examinador‬

‭ _____________________________________________________‬
_
‭Examinador‬

‭ _____________________________________________________‬
_
‭Orientador‬

‭ _____________________________________________________‬
_
‭Professor coordenador‬

‭Muriaé – MG‬
‭2005‬

‭DEDICATÓRIA‬
‭Dedico aos meus pais, meus professores‬

‭e aos meus verdadeiros amigos.‬

‭“‬ ‭ lá!‬
O
‭Muito bom dia para você que está com a gente curtindo esta que é a melhor‬
‭programação de Muriaé, deste mês de dezembro de 2005.‬
‭Eu sou Ludmilla Yara e estou aqui com uma missão mais do que especial: vim‬
‭para agradecer. Ao professor Josias Nascimento que me mostrou que muito mais‬
‭que notícia devemos levar cidadania às pessoas. Agradecer ao professor Rogério‬
‭Cerqueira, que me ensinou que ser jornalista é muito mais que noticiar, é levar ao‬
‭público informação de qualidade. E também ao professor Marcel Angelo que‬
‭incentivou minha carreira, nas horas em que as barreiras mostravam que quanto‬
‭maior o desafio, melhor o resultado. Agradeço aos demais professores e‬
‭funcionários da Faminas e a todos os meus amigos que mantiveram este‬
‭equipamento em funcionamento durante todo esse tempo.‬
‭Obrigada à minha irmã de coração Mila, que transcreveu tantas horas de‬
‭entrevistas deste trabalho, e à Ana Paula, pela troca de experiência nas pesquisas‬
‭de campo. Abraço carinhoso aos meus colegas de classe, aos profissionais das‬
‭emissoras pesquisadas e a você que de qualquer lugar da cidade, do estado, do‬
‭país, se ligou, participou, colocou música na minha vida. O curso chegou ao fim,‬
‭mas eu garanto a todos: a gente não está encerrando a programação não!‬
‭É apenas o fim de mais um programa. Mas tenho certeza que vamos nos encontrar‬
‭em muitas outras sintonias por aí.‬
‭Não saia daí porque ainda tem muita coisa boa por vir. Beijo grande, muitíssimo‬
‭obrigada pela companhia e até um próximo programa”‬

‭AGRADECIMENTOS‬
‭Agradeço ao professor Fernando Lamas que me ajudou na reflexão crítica da história do rádio e‬
‭também colaborou na revisão deste trabalho.‬

‭ gradeço ao meu irmão Leonardo, pela troca de informações tecnológicas e que tantas vezes‬
A
‭colocou meu computador para funcionar.‬

‭ o amigo Paulo de Souza, produtor, que gravou a programação da Rádio Muriaé e ajudou nas‬
A
‭informações sobre os programas.‬

‭Agradeço à Anderson Ribeiro, pela gravação do programa Júlio Soares, da Rádio Atividade.‬

‭ os‬ ‭amigos‬ ‭da‬ ‭6ª‬ ‭Promotoria‬ ‭de‬ ‭Defesa‬ ‭do‬ ‭Cidadão,‬ ‭Mila‬ ‭Lima‬ ‭e‬ ‭Roberto‬ ‭Dias‬‭e‬‭ao‬
A
‭promotor‬ ‭José‬ ‭Gustavo‬ ‭Guimarães‬ ‭da‬ ‭Silva,‬ ‭pelos‬ ‭esclarecimentos‬ ‭prestados‬ ‭e‬ ‭pela‬
‭ajuda na pesquisa com as Leis e a Constituição.‬

‭Ao amigo Rodrigo Dias pela recepção e ajuda na pesquisa em Juiz de Fora.‬

‭Ao amigo Euler Luz pela edição de parte dos registros dos programas. Valeu!‬

‭ gradeço aos radialistas Paulo Roberto Barros, Evil Mendonça, José Carlos Alves, Júlio Soares,‬
A
‭Carlos Santos, Marcelo Pacífico e à jornalista Ana Luísa Damasceno pelas entrevistas‬
‭concedidas.‬

‭ os locutores e funcionários das rádios pesquisadas, pela troca de informações, e amizade que‬
A
‭sempre acrescentaram muito no meu crescimento profissional.‬

‭Aos meus pais, pela paciência e pelo carinho!‬

‭À Deus, pelo que tem me abençoado.‬

‭E aos ouvintes, que fazem parte deste universo anônimo e heterogêneo que é o mundo do rádio.‬
‭“‭I‬ magine: Um rádio que ao invés de nos entorpecer‬‭a capacidade de ouvir sons,‬
‭ os fortalecesse a imaginação e a criatividade; ao invés de nos manipular para‬
n
‭aceitar um trabalho mais rápido e um consumo maior, nos inspirasse a inventar;‬
‭ao invés de nos sobrecarregar com informação irrelevante que nos fatiga, nos‬
‭revigorasse a sensibilidade acústica; ao invés de nos conduzir a ignorar‬
‭pensamentos e o que nos rodeia, nos estimulasse a ouvir; ao invés de transmitir‬
‭sempre as mesmas coisas não se repetisse, ao invés de nos silenciar, nos‬
‭encorajasse a cantar e falar, para fazer do rádio um pouco de nós mesmos; ao‬
‭invés de meramente transmitir para nós, ouvíssemos através dele.”‬
‭Hildegarde Weterkamp‬

‭ UMÁRIO‬
S
‭RESUMO..................................................................................................8‬
‭INTRODUÇÃO.........................................................................................9‬
‭1. O RÁDIO NO BRASIL ........................................................... ..........12‬
‭1.‬ ‭OS NOVOS RUMOS DO RÁDIO COM A CHEGADA DA‬
‭TELEVISÃO...........................................................................................1‬
‭6‬
‭2.‬ ‭A TRANSFORMAÇÃO DO RÁDIO...............................................17‬
‭3.‬ ‭O RÁDIO NA ZONA DA MATA MINEIRA.....................................18‬
2‭ . A CIDADANIA E O DIREITO À INFORMAÇÃO ..............................20‬
‭2.1 O RÁDIO E A CIDADANIA...............................................................21‬
‭3. A INFORMAÇÃO COMO AGENTE MULTIPLICADOR DA‬
‭CIDADANIA...........................................................................................23‬
‭3.1 PARTICIPAÇÃO DO OUVINTE......................................................27‬
‭3.2 INFLUÊNCIA RADIOFÔNICA DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS..30‬
‭4. O DISCURSO RADIOFÔNICO – O CONSULTÓRIO NO AR...........33‬
‭5. A PROGRAMAÇÃO..........................................................................35‬
‭5.1 A PARTICIPAÇÃO POLÍTICA NA PROMOÇÃO DA CIDADANIA...42 5.2‬
‭EDUCAÇÃO EM ONDAS MÉDIAS..................................................45‬
‭6. AÇÕES DAS EMISSORAS CONJUNTAS COM A COMUNIDADE.49‬
‭CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................51‬
‭REFERÊNCIAS......................................................................................53‬
‭ANEXOS................................................................................................55‬

‭RESUMO‬

‭ ste‬ ‭trabalho‬ ‭pretende‬ ‭analisar‬ ‭a‬ ‭linguagem‬ ‭radiofônica‬ ‭relacionada‬ ‭à‬ ‭cidadania,‬
E
‭através‬ ‭de‬ ‭uma‬ ‭análise‬ ‭dos‬ ‭programas‬ ‭das‬ ‭rádios‬ ‭em‬ ‭Amplitude‬ ‭Modulada‬ ‭(AM)‬ ‭de‬
‭Muriaé.‬‭Será‬‭necessário‬‭discorrer‬‭sobre‬‭a‬‭programação‬‭e‬‭como‬‭a‬‭produção‬‭radiofônica‬
‭trabalha o discurso de construção da cidadania.‬
‭INTRODUÇÃO‬
‭ urante o tempo em que trabalhei na Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Muriaé senti a‬
D
‭importância da proximidade que o rádio tem com os ouvintes. Este meio de comunicação utiliza‬
‭cada segundo com a prestação de um serviço que interessa à comunidade, seja denúncia de falta‬
‭de vagas em Postos de Saúde ou a necessidade de apenas ouvir um conselho.‬
‭Era preciso que uma resposta chegasse às emissoras todas as vezes em que era citado o nome da‬
‭Prefeitura ou do Departamento Municipal de Saneamento Urbano (Demsur). Assim, as rádios‬
‭eram muitas vezes usadas como um extensão da assessoria.‬
‭Nesse tempo também tive minha primeira experiência profissional em rádio que veio com a‬
‭oportunidade de estágio na Rádio Muriaé, durante um ano e meio. Apesar de estagiar somente‬
‭durante o sábado à tarde, fiquei surpresa com o fluxo de informações. O ouvinte não é apenas‬
‭aquele que ouve: ele liga, escreve, pede soluções. Havia muita coisa na cidade por fazer! E‬
‭comparando os dois lados – Assessoria de Comunicação e Rádio – vi que minha participação‬
‭poderia ser maior: com o rádio sempre ligado na sala da Assessoria buscava continuamente‬
‭encontrar uma solução para o que os locutores falavam: era rua sem calçar, falta de um‬
‭medicamento no posto de saúde, a água que parou de cair, entre outros elementos que às vezes‬
‭nem eram de competência da Prefeitura, mas como sabíamos de um caminho para a solução,‬
‭contribuíamos com informações.‬
‭E assim interessei tanto por este tema, em um mundo tão globalizado, o rádio continua a ser o‬
‭“tambor tribal”, como já disse o canadense Marshall McLuhan. Este trabalho pretende analisar‬
‭como o maior veículo de comunicação de massa - elemento de reflexão crítica - contribui para a‬
‭construção da cidadania, na aplicação das políticas sociais. O desejo é também saber que poder é‬
‭esse que faz do rádio uma união de pessoas, serviços e desejos e promover uma discussão crítica‬
‭sobre como os comunicadores aplicam esse poderoso veículo. Durante este trabalho vamos‬
‭analisar a utilização desta mídia como instrumento de transformação social e da comunicação‬
‭como um direito humano. Para tanto, uma extensa pesquisa foi realizada, utilizando a‬
‭bibliografia existente, entrevistas, observação e registro dos programas radiofônicos.‬
‭Como objeto de estudo foi realizada pesquisas nas duas emissoras de rádio AM em Muriaé.‬
‭Analisou-se programação, conteúdo, história e entrevistas foram feitas com os principais‬
‭comunicadores das estações Rádio Atividade e Rádio Muriaé e também com alguns ouvintes das‬
‭programações. Para fazer uma análise comparativa também foram estudadas duas rádios de Juiz‬
‭de Fora – Rádio Solar e Rádio Panorama FM, respectivamente a mais antiga emissora da cidade‬
‭e a mais nova - que trabalha o conteúdo de AM em FM. O objetivo foi comparar o conteúdo‬
‭radiofônico das estações de Muriaé, que é a segunda cidade da Zona da Mata de Minas Gerais,‬
‭em termos de desenvolvimento, com a primeira – Juiz de Fora. Observando que a população de‬
‭Juiz de Fora é bem maior que a de Muriaé (Juiz de Fora – 501.153, Muriaé 98.850)‬‭1‬‭, e isso‬
‭significa também maior fluxo de informações em Juiz de Fora, é oportuno reconhecer que‬
‭Muriaé tem programação bastante semelhante em qualidade de conteúdo.‬
‭As emissoras muriaeenses podem ser consideradas bem gerenciadas do ponto de vista‬
‭jornalístico e atendem as expectativas dos ouvintes, segundo mostra pesquisa de opinião‬
r‭ ealizada pela Rádio Muriaé, em 2005, que é também uma comparação entre a duas emissoras de‬
‭AM muriaeense.‬‭2‬
‭Este‬ ‭trabalho‬ ‭inicia-se‬ ‭como‬ ‭uma‬ ‭visão‬ ‭histórica‬ ‭do‬ ‭rádio‬ ‭desde‬ ‭sua‬ ‭implantação‬ ‭no‬
‭Brasil,‬ ‭até‬ ‭a‬ ‭surgimento‬ ‭das‬ ‭estações‬ ‭de‬‭rádios‬‭na‬‭Zona‬‭da‬‭Mata‬‭mineira,‬‭abordando‬
‭as diversas transformações que o meio de comunicação passou.‬
‭No‬ ‭segundo‬ ‭capítulo‬ ‭aborda-se‬ ‭a‬ ‭questão‬ ‭da‬ ‭cidadania‬ ‭e‬ ‭do‬ ‭direito‬ ‭do‬ ‭cidadão‬ ‭à‬
‭informação‬‭–‬‭uma‬‭reflexão‬‭crítica‬‭sobre‬‭os‬‭deveres‬‭e‬‭direitos‬‭do‬‭Estado‬‭à‬‭cidadania‬‭no‬
‭que diz respeito à vida em sociedade.‬
‭O‬‭capítulo‬‭3‬‭é‬‭um‬‭estudo‬‭sobre‬‭como‬‭a‬‭informação‬‭atua‬‭como‬‭agente‬‭multiplicador‬‭da‬
‭cidadania,‬‭a‬‭influência‬‭da‬‭prestação‬‭de‬‭serviços‬‭e‬‭a‬‭participação‬‭do‬‭ouvinte‬‭como‬‭peça‬
‭fundamental‬ ‭para‬ ‭o‬ ‭sucesso‬ ‭do‬ ‭meio‬ ‭de‬ ‭comunicação‬ ‭e‬ ‭fator‬ ‭de‬ ‭integração‬ ‭entre‬
‭veículo e comunidade.‬
‭No‬ ‭quarto‬ ‭capítulo‬ ‭os‬ ‭quadros‬ ‭de‬ ‭ajuda‬ ‭pessoal‬ ‭é‬ ‭o‬‭tema‬‭abordado‬‭–‬‭já‬‭que‬‭trata‬‭de‬
‭uma‬ ‭das‬ ‭maiores‬ ‭audiências‬ ‭de‬‭uma‬‭emissora‬‭muriaeense.‬‭Mas‬‭destaca-se‬‭o‬‭quadro‬
‭não‬ ‭somente‬ ‭pela‬ ‭sua‬ ‭audiência,‬ ‭mas‬ ‭pela‬ ‭inclusão‬‭que‬‭faz‬‭ao‬‭tratar‬‭de‬‭questões‬‭de‬
‭relações interpessoais dos ouvintes.‬
‭A‬ ‭programação‬ ‭é‬ ‭analisada‬ ‭na‬ ‭capítulo‬ ‭5‬ ‭ao‬ ‭mostrar‬ ‭também‬ ‭a‬ ‭participação‬ ‭dos‬
‭programas‬ ‭radiofônicos‬ ‭governamentais‬ ‭na‬ ‭construção‬‭da‬‭cidadania.‬‭Neste‬‭capítulo‬‭é‬
‭tratado‬ ‭também‬ ‭a‬ ‭utilização‬ ‭do‬ ‭veículo‬ ‭como‬ ‭instrumento‬ ‭capaz‬ ‭de‬ ‭resgatar‬ ‭uma‬
‭educação‬ ‭deficitária,‬ ‭que‬ ‭aqui‬ ‭não‬ ‭é‬ ‭usado‬ ‭como‬ ‭instrumento‬ ‭didático‬ ‭formal,‬ ‭mas‬
‭usado‬‭como‬‭meio‬‭de‬‭levar‬‭educação‬‭às‬‭comunidades,‬‭principalmente‬‭as‬‭mais‬‭carentes‬
‭de recursos socioeconômicos.‬
‭No‬ ‭último‬ ‭capítulo,‬ ‭as‬ ‭ações‬ ‭das‬ ‭emissoras‬ ‭conjuntas‬ ‭com‬ ‭a‬‭comunidade‬‭entram‬‭em‬
‭discussão,‬ ‭já‬ ‭que‬ ‭é‬ ‭uma‬ ‭ferramenta‬ ‭vitoriosa‬ ‭na‬ ‭união‬ ‭de‬ ‭objetivos‬ ‭altruístas‬ ‭para‬ ‭a‬
‭comunidade na área abrangida pela estação.‬
‭Em‬ ‭todos‬ ‭os‬ ‭capítulos‬ ‭analisou-se‬ ‭questões‬ ‭inerentes‬ ‭ao‬ ‭radiojornalismo‬ ‭no‬
‭aprofundamento do objetivo maior deste estudo – o rádio na construção da cidadania.‬
‭1. O RÁDIO NO BRASIL‬
‭“‬‭Todos os lares espalhados pelo imenso território‬‭do Brasil receberão, livremente, o conforto moral a ciência e da‬
a‭ rte; a paz será realidade definitiva entre as nações. Tudo isso há de ser o milagre das ondas misteriosas que‬
‭transportam no espaço, silenciosamente, as harmonias.”‬
‭Edgard Roquette-Pinto‬

‭ s cientistas James Clerck Maxwell, Heinrich Rudolf Hertz, Guglielmo Marconi, Lee De Forest,‬
O
‭Reginald Aubrey Fessenden são os responsáveis pelo desenvolvimento do invento que é‬
‭conhecido hoje como rádio. Em cada ponto do planeta, os cientistas fizeram inúmeros estudos,‬
‭testes e experimentaram as várias formas de fazer o som se propagar pelo espaço.‬
‭No Brasil, o padre gaúcho Roberto Landell de Moura começou as primeiras experiências de‬
‭Radiodifusão no país. Todos eles, cada um com sua contribuição, deu origem ao rádio como é‬
‭hoje. Mas esses inventores não tinham a menor idéia da mais importante função do rádio.‬
‭ rádio foi produto de uma série de avanços: a descoberta das ondas eletromagnéticas‬
O
‭no ‘éter’, feita por James Clerk na Escócia e por Heinrich Hertz na Alemanha, durante a‬
‭segunda metade do século XIX; a inovação dos métodos de carregar essas ondas com‬
‭mensagens codificadas – “telégrafo sem fio”- aprimorados por Guglielmo Marconi na‬
‭Itália, no final do século; o desenvolvimento de técnicas para transformar a fala humana‬
‭em tais códigos, e depois novamente em fala – “telefonia sem fio” – por Lee De Forest‬
‭e Reginald Fessenden nos Estados Unidos, no início do século XX. Essas invenções‬
‭possuíram um certo número de aplicações planejadas: os navios passaram a se‬
‭comunicar com a terra firme, os aviões de combate e os soldados, com suas bases, e os‬
‭operadores de rádio amador puderam comunicar entre si. Entretanto, a utilização mais‬
‭significativa que foi dada ao rádio não foi aparentemente prevista por seus inventores.‬
‭(STEPHENS, 1988, p. 612-613)‬

‭ radiodifusão brasileira começou com uma ambição muito generosa para o desenvolvimento do‬
A
‭país. O rádio no Brasil nasceu ao mesmo tempo de seu surgimento no mundo e tem um marco‬
‭que representa o começo da cidadania através das ondas médias. A primeira comunicação‬
‭radiofônica oficial foi em 7 de setembro de 1922, durante a exposição do Centenário da‬
‭Independência, no Rio de Janeiro, quando aconteceram algumas transmissões para o pavilhão‬
‭onde se realizou a festa e para alguns agraciados ouvintes. Foram providenciados 80 receptores‬
‭de rádio, todos importados, e assim a sociedade carioca pôde ouvir o discurso do presidente‬
‭Epitácio Pessoa e trechos de‬‭O Guarani‬‭, de Carlos‬‭Gomes, apresentado do Teatro Municipal,‬
‭onde foi instalado um dos aparelhos de transmissão. (FERRARETTO, 2000, p. 93-94)‬
‭Existem documentos, porém, que provam que a Rádio Clube de Pernambuco, fundada em Recife‬
‭por Oscar Moreira Pinto, foi a primeira a realizar uma transmissão radiofônica no Brasil, no dia 6‬
‭de abril de 1919, com um transmissor importado da França. Mas, oficialmente tudo começou na‬
‭capital federal daquele tempo.‬
‭O marco significativo para a história da radiodifusão brasileira foi a inauguração, em 20 de abril‬
‭de 1923, da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, primeira emissora brasileira, organizada sob a‬
‭liderança do grande entusiasta do rádio, o antropólogo Edgard Roquette-Pinto, que criou a‬
‭emissora com a meta de levar cultura e informação à população. Até os anos 1920, revistas e‬
‭jornais eram os principais meios de comunicação que existiam no país. No entanto, o rádio‬
‭começou muito elitista, o aparelho era custoso, de preço inacessível à maioria da população e por‬
‭isso só os mais abastados financeiramente tinham acesso ao veículo de comunicação. Ainda em‬
1‭ 923, foi ao ar a Rádio Clube do Brasil, no Rio de Janeiro e a Rádio Clube Paranaense, em‬
‭Curitiba. Em 1924 foi inaugurada a primeira emissora de São Paulo, a Rádio Educadora Paulista,‬
‭mais tarde Rádio Gazeta.‬
‭ o início ouvia-se ópera, com discos emprestados pelos próprios ouvintes, recitais de‬
N
‭poesia, palestras culturais etc, sempre uma programação muito “seleta”, apesar de‬
‭Roquette-Pinto estar convencido, desde o início, de que o rádio se transformaria num‬
‭meio de comunicação de massa. (ORTRIWANO, 1985, p.14)‬

‭ com o passar dos anos mais emissoras surgiram e a programação erudita mudou. O rádio‬
E
‭tornou-se mais popular para atender às necessidades que os ouvintes tinham: informação,‬
‭prestação de serviços que auxiliassem o dia-a-dia do cidadão. É por volta de 1925 que surgem as‬
‭primeiras tentativas de se fazer jornalismo no rádio.‬
‭A Rádio Sociedade do Rio de Janeiro passa a emitir o‬‭Jornal da Manhã‬‭, apresentado por‬
‭Roquette-Pinto, que comentava as notícias e as interpretava no contexto histórico, além de fazer‬
‭um resumo da situação social da época e preconizava as tendências e os desdobramentos dos‬
‭acontecimentos. Havia também o Jornal do Meio-dia, o Jornal da Tarde e o Jornal da Noite, que‬
‭tinham em seu conteúdo informações sobre agronomia, esportes, e seções feminina, doméstica e‬
‭infantil. (FEDERICO, 1982, p.38).‬
‭Mas as informações jornalísticas ainda eram poucas e o sentido de veículo de comunicação de‬
‭massa que o rádio tem hoje era diferente, a programação refletia a preferência da elite da época:‬
‭óperas e conferências (algumas até em idioma estrangeiro, em função da corrente migratória)‬
‭foram as principais atrações do rádio durante toda a década de 20 do século passado.‬
‭As emissoras aos poucos cresceram, oficial ou experimentalmente, e se disseminaram pelo Brasil‬
‭as Rádios Sociedades, Clubes, Educadoras e Culturais. Era o divertimento para a minoria‬
‭privilegiada da população, que popularizou-se lentamente nos anos 1920. Na época eram‬
‭proibidas anúncios publicitários pagos e a margem de lucro das emissoras era subsidiada por‬
‭doações de entidades públicas e privadas e, por mensalidades pagas por quem possuísse‬
‭aparelhos receptores. Mas no final da década de 1920, alguns astutos empreendedores e‬
‭comerciantes, animados pelas fábricas de aparelhos de rádio, começaram uma verdadeira‬
‭campanha no sentido de divulgar o novo meio de comunicação para maior número possível de‬
‭pessoas e, assim difundir no rádio seus produtos e serviços. A partir de 1930, o rádio encontrou‬
‭sua melhor parceira, que permitiu um grande arranque e que o fez nunca mais parar de crescer: a‬
‭propaganda, apoiada pelo então presidente da República.‬
‭ om a revolução de 1930, o novo presidente da República, Getúlio Vargas, incentiva o‬
C
‭crescimento industrial como saída para os problemas econômicos. Está nascendo um‬
‭Brasil mais urbano e moderno. O rádio começa a se estruturar, não mais como‬
‭novidade, mas sim se constituindo em um veículo de comunicação que, ao buscar o‬
‭lucro, volta-se para obtenção constante de anunciantes e de público. (FERRARETTO,‬
‭2000, p. 102)‬
‭ m‬ ‭1º‬ ‭de‬ ‭março‬ ‭de‬ ‭1932,‬ ‭o‬ ‭governo‬ ‭estabelece‬ ‭a‬ ‭veiculação‬ ‭da‬ ‭publicidade‬ ‭pelas‬
E
‭emissoras‬‭de‬‭rádio‬‭com‬‭o‬‭Decreto‬‭n.º‬‭21.111,‬‭que‬‭regulamentava‬‭o‬‭Decreto‬‭n.º‬‭20.047,‬
‭de‬‭maio‬‭de‬‭1931,‬‭que‬‭definia‬‭a‬‭posição‬‭do‬‭governo‬‭Federal‬‭na‬‭radiodifusão‬‭brasileira.‬
‭O‬‭decreto‬‭definiu‬‭a‬‭parcela‬‭destinada‬‭à‬‭veiculação‬‭de‬‭propaganda,‬‭que‬‭poderia‬‭ocupar‬
‭10%‬ ‭da‬ ‭programação,‬ ‭com‬ ‭o‬ ‭tempo,‬ ‭este‬ ‭percentual‬ ‭aumentaria‬ ‭para‬ ‭20%,‬ ‭hoje‬ ‭é‬
‭fixado em 25%.‬‭3‬
‭Assim‬ ‭os‬ ‭empresários‬ ‭do‬ ‭setor‬ ‭captariam‬ ‭recursos‬ ‭para‬ ‭servirem‬ ‭de‬ ‭lucro‬ ‭e‬
‭investimento‬ ‭nas‬ ‭emissoras.‬ ‭O‬ ‭patrocínio‬ ‭e‬ ‭a‬ ‭propaganda‬ ‭avulsa,‬ ‭na‬‭forma‬‭de‬‭textos‬
l‭idos‬‭pelos‬‭locutores‬‭e‬‭os‬‭jingles‬‭,‬‭foram‬‭a‬‭fonte‬‭de‬‭onde‬‭o‬‭rádio‬‭buscou‬‭os‬‭recursos‬‭que‬
‭permitiram‬ ‭aumentar‬ ‭o‬ ‭número‬ ‭de‬ ‭emissoras‬ ‭e‬ ‭qualidade‬ ‭de‬ ‭programação.‬ ‭O‬ ‭rádio‬
‭tornou-se realmente popular.‬
‭Com‬ ‭o‬ ‭grande‬ ‭número‬ ‭de‬ ‭mensagens‬ ‭publicitárias,‬ ‭o‬ ‭que‬ ‭era‬ ‭erudito,‬ ‭educativo‬ ‭e‬
‭cultural‬‭transforma-se‬‭em‬‭popular,‬‭aparelho‬‭de‬‭diversão‬‭e‬‭lazer,‬‭principalmente‬‭porque‬
‭com‬ ‭considerável‬ ‭parte‬ ‭da‬ ‭população‬ ‭analfabeta,‬‭o‬‭veículo‬‭foi‬‭atraindo‬‭a‬‭atenção‬‭das‬
‭camadas‬ ‭sociais‬ ‭mais‬ ‭carentes,‬ ‭que‬ ‭se‬ ‭divertiam‬ ‭com‬ ‭a‬ ‭programação‬ ‭musical‬ ‭e‬
‭humorística.‬ ‭A‬ ‭programação‬ ‭e‬ ‭a‬ ‭linguagem‬ ‭utilizadas‬ ‭pelos‬ ‭locutores‬ ‭criam‬ ‭um‬ ‭laço‬
‭afetivo‬ ‭entre‬ ‭locutor‬ ‭e‬ ‭ouvinte.‬ ‭A‬ ‭força‬ ‭da‬ ‭propaganda‬ ‭no‬ ‭rádio‬ ‭fez‬ ‭com‬ ‭que‬ ‭os‬
‭proprietários‬‭de‬‭emissoras‬‭se‬‭preocupassem‬‭com‬‭a‬‭audiência‬‭em‬‭divulgar‬‭os‬‭produtos‬
‭anunciados.‬
‭Neste‬ ‭momento‬ ‭o‬ ‭presidente‬ ‭da‬ ‭República,‬ ‭Getúlio‬ ‭Vargas,‬ ‭sente‬ ‭no‬ ‭veículo‬ ‭de‬
‭comunicação‬ ‭a‬ ‭possibilidade‬ ‭de‬ ‭propagar‬ ‭seus‬ ‭ideais.‬ ‭Desde‬ ‭que‬ ‭assumiu‬ ‭a‬
‭presidência‬ ‭com‬ ‭a‬ ‭Revolução‬ ‭de‬ ‭1930,‬ ‭já‬ ‭mantinha‬ ‭a‬ ‭radiodifusão‬ ‭entre‬ ‭as‬ ‭áreas‬ ‭de‬
‭controle‬‭direto.‬‭Durante‬‭o‬‭Golpe‬‭Militar,‬‭de‬‭1937‬‭a‬‭1945,‬‭conhecido‬‭como‬‭Estado‬‭Novo,‬
‭Getúlio usou o rádio para fazer propaganda da sua ideologia política.‬
‭O‬‭programa‬‭A‬‭Voz‬‭do‬‭Brasil‬‭,‬‭na‬‭época‬‭chamado‬‭de‬‭Hora‬‭do‬‭Brasil‬‭,‬‭foi‬‭criado‬‭em‬‭1937‬
‭para‬‭ser‬‭o‬‭divulgador‬‭oficial‬‭do‬‭governo,‬‭principalmente‬‭dos‬‭discursos‬‭presidenciais‬‭de‬
‭Getúlio.‬‭Transmitido‬‭de‬‭segunda‬‭a‬‭sexta-feira,‬‭no‬‭horário‬‭de‬‭18h45‬‭às‬‭19h30‬‭em‬‭cadeia‬
‭nacional‬ ‭de‬ ‭rádio,‬ ‭o‬ ‭programa‬ ‭logo‬ ‭se‬ ‭tornou‬ ‭de‬ ‭transmissão‬ ‭obrigatória.‬ ‭Nos‬ ‭anos‬
‭1930,‬‭o‬‭último‬‭bloco‬‭do‬‭programa‬‭era‬‭dedicado‬‭à‬‭transmissão‬‭de‬‭sucessos‬‭de‬‭música‬
‭popular‬‭brasileira.‬‭A‬‭participação‬‭de‬‭artistas‬‭de‬‭prestígio‬‭no‬‭programa‬‭foi‬‭uma‬‭maneira‬
‭que Getúlio encontrou para estar sempre presente junto aos ouvintes brasileiros.‬
‭Um‬‭dos‬‭períodos‬‭mais‬‭encantadores‬‭do‬‭rádio‬‭no‬‭Brasil‬‭aconteceu‬‭na‬‭década‬‭de‬‭1940‬‭e‬
‭início‬ ‭de‬ ‭1950.‬ ‭A‬ ‭Época‬ ‭de‬ ‭Ouro‬ ‭do‬ ‭rádio‬ ‭revelou‬ ‭muitos‬ ‭talentos‬ ‭da‬ ‭cena‬ ‭artística.‬
‭Programas‬ ‭musicais,‬ ‭de‬ ‭auditório,‬‭humorísticos,‬‭radionovelas‬‭e‬‭jornalísticos‬‭invadiram‬
‭os‬ ‭lares‬ ‭de‬ ‭milhares‬ ‭de‬ ‭brasileiros‬ ‭definitivamente‬ ‭encantados‬ ‭pela‬ ‭magia‬ ‭sonora‬ ‭do‬
‭rádio.‬‭Nos‬‭anos‬‭40,‬‭emissoras‬‭comerciais,‬‭como‬‭a‬‭Record‬‭de‬‭São‬‭Paulo,‬‭a‬‭Gaúcha‬‭de‬
‭Porto‬ ‭Alegre,‬ ‭a‬ ‭Tabajara‬ ‭de‬ ‭João‬ ‭Pessoa,‬ ‭a‬ ‭Difusora‬ ‭de‬ ‭Maceió,‬ ‭a‬ ‭Tupi‬ ‭e‬ ‭a‬ ‭Mayrink‬
‭Veiga‬ ‭do‬ ‭Rio‬ ‭de‬ ‭Janeiro,‬ ‭também‬ ‭tinham‬ ‭grande‬ ‭audiência.‬ ‭Nos‬ ‭musicais,‬ ‭a‬ ‭Rádio‬
‭Nacional‬ ‭consagrou‬ ‭cantores‬ ‭como‬ ‭Francisco‬ ‭Alves‬ ‭(o‬ ‭Rei‬ ‭da‬ ‭Voz),‬ ‭Orlando‬ ‭Silva‬ ‭(o‬
‭Cantor‬ ‭das‬ ‭Multidões),‬ ‭Cauby‬ ‭Peixoto‬ ‭(o‬ ‭Rei‬ ‭do‬ ‭Rádio),‬‭Carmélia‬‭Alves‬‭(a‬‭Rainha‬‭do‬
‭Baião), Ademilde Fonseca‬
‭(a‬ ‭Rainha‬ ‭do‬ ‭Chorinho)‬ ‭e‬ ‭Emilinha‬ ‭Borba‬ ‭(a‬ ‭Favorita‬ ‭da‬ ‭Marinha),‬ ‭que‬ ‭durante‬ ‭anos‬
‭disputou‬ ‭com‬ ‭Marlene‬ ‭e‬ ‭Dalva‬ ‭de‬ ‭Oliveira‬ ‭a‬ ‭honra‬ ‭de‬ ‭ser‬ ‭coroada‬ ‭Rainha‬ ‭do‬ ‭Rádio.‬
‭Neste‬ ‭momento‬ ‭nasce‬ ‭a‬ ‭afirmação‬ ‭do‬ ‭radiojornalismo,‬ ‭no‬ ‭que‬ ‭o‬ ‭“Repórter‬ ‭Esso”,‬
‭criado em 1941, foi o maior expoente.‬
‭ onsiderada‬‭a‬‭sua‬‭época‬‭de‬‭ouro,‬‭caracterizada‬‭por‬‭uma‬‭programação‬‭voltada‬
C
‭ao‬ ‭entretenimento,‬ ‭predominando‬ ‭programas‬ ‭de‬ ‭auditório,‬ ‭radionovelas‬ ‭e‬
‭humorísticos.‬ ‭A‬ ‭cobertura‬ ‭esportiva‬ ‭também‬ ‭ocupa‬ ‭o‬ ‭seu‬ ‭espaço.‬ ‭O‬
‭radiojornalismo,‬ ‭por‬ ‭sua‬ ‭vez,‬ ‭ganha‬‭força‬‭à‬‭medida‬‭que‬‭o‬‭país‬‭se‬‭envolve‬‭na‬
‭Segunda‬ ‭Guerra‬ ‭Mundial.‬ ‭O‬‭veículo‬‭adquire,‬‭desta‬‭forma,‬‭audiência‬‭massiva,‬
‭tornando-se,‬ ‭no‬ ‭início‬ ‭dos‬ ‭anos‬ ‭50,‬ ‭principalmente‬ ‭por‬ ‭meio‬ ‭da‬ ‭Nacional,‬ ‭a‬
‭primeira‬‭expressão‬‭das‬‭indústrias‬‭culturais‬‭do‬‭Brasil.‬‭(FERRARETTO,‬‭2000,‬‭p.‬
‭112-113)‬
‭ utros‬ ‭gêneros‬ ‭de‬ ‭programação‬ ‭radiofônica,‬ ‭como‬ ‭o‬ ‭humor,‬ ‭o‬ ‭radioteatro,‬ ‭a‬
O
‭radionovela,‬ ‭o‬ ‭esporte,‬ ‭os‬ ‭programas‬ ‭de‬ ‭auditório‬ ‭e‬ ‭o‬ ‭próprio‬ ‭jornalismo,‬ ‭acabaram‬
‭absorvendo‬ ‭muito‬ ‭das‬ ‭características‬ ‭desse‬ ‭novo‬ ‭tipo‬ ‭de‬‭linguagem,‬‭mais‬‭coloquial‬‭e‬
‭direto‬‭iniciando‬‭um‬‭processo‬‭de‬‭profissionalização‬‭que,‬‭junto‬‭com‬‭a‬‭disseminação‬‭dos‬
‭aparelhos‬ ‭receptores‬ ‭e‬ ‭o‬ ‭interesse‬ ‭dos‬ ‭anunciantes,‬ ‭transformou‬ ‭o‬ ‭rádio‬ ‭no‬ ‭mais‬
‭popular meio de comunicação.‬
‭A‬ ‭partir‬ ‭da‬ ‭segunda‬ ‭metade‬ ‭da‬ ‭década‬ ‭de‬ ‭1930,‬ ‭até‬ ‭meados‬‭dos‬‭anos‬‭1940,‬‭o‬‭rádio‬
‭viveu,‬‭no‬‭Brasil,‬‭o‬‭período‬‭de‬‭consolidação.‬‭A‬‭expansão‬‭de‬‭emissoras‬‭por‬‭todo‬‭o‬‭país‬‭e‬
‭o‬ ‭aumento‬ ‭do‬ ‭número‬ ‭nos‬ ‭principais‬ ‭centros‬ ‭urbanos‬ ‭contribuíram‬ ‭para‬ ‭que‬ ‭um‬
‭contingente‬ ‭de‬ ‭pessoas‬ ‭passassem‬ ‭a‬ ‭trabalhar‬ ‭na‬ ‭nova‬ ‭atividade‬ ‭profissional.‬ ‭Os‬
‭anunciantes‬‭aumentaram‬‭junto‬‭com‬‭o‬‭número‬‭de‬‭aparelhos‬‭receptores‬‭e‬‭o‬‭de‬‭ouvintes.‬
‭O‬ ‭rádio‬ ‭adquiriu‬ ‭os‬ ‭contornos‬ ‭finais‬ ‭da‬ ‭confirmação‬ ‭de‬ ‭veículo‬ ‭de‬ ‭comunicação‬ ‭de‬
‭massa. Embora logo surgisse uma concorrente.‬

‭ .1 Os novos rumos do Rádio com a chegada da Televisão‬


1
‭Inaugurada‬ ‭em‬ ‭1950,‬ ‭cinco‬ ‭anos‬ ‭mais‬ ‭tarde,‬ ‭a‬ ‭televisão‬ ‭começa‬ ‭a‬ ‭preocupar‬ ‭a‬
‭produção‬ ‭radiofônica,‬ ‭por‬ ‭motivos‬ ‭que‬ ‭levaram‬ ‭os‬ ‭talentos‬ ‭do‬ ‭rádio‬ ‭para‬ ‭produzir‬ ‭e‬
‭atuar‬ ‭na‬ ‭programação‬ ‭televisiva.‬ ‭A‬ ‭televisão‬ ‭ficou‬ ‭com‬ ‭parte‬ ‭das‬ ‭verbas‬ ‭publicitárias‬
‭existentes‬‭na‬‭época.‬‭Nestes‬‭dois‬‭casos,‬‭os‬‭prejuízos‬‭ao‬‭rádio,‬‭causados‬‭pela‬‭televisão,‬
‭foram‬‭bastante‬‭significativos‬‭e‬‭pesaram‬‭muito‬‭para‬‭que,‬‭a‬‭partir‬‭da‬‭segunda‬‭metade‬‭de‬
‭1950, o rádio entrasse em declínio e vivesse a fase de grande desânimo.‬
‭ ‬ ‭perda‬ ‭das‬ ‭verbas‬ ‭publicitárias‬ ‭foi‬ ‭acompanhada‬ ‭–‬ ‭e,‬ ‭também,‬ ‭motivada‬ ‭–‬
A
‭pela‬ ‭transferência‬ ‭de‬ ‭profissionais‬ ‭do‬ ‭rádio‬ ‭para‬ ‭a‬ ‭televisão.‬ ‭O‬ ‭espetáculo‬
‭começa‬ ‭a‬ ‭migrar‬ ‭para‬ ‭o‬ ‭novo‬ ‭meio,‬ ‭que,‬ ‭ao‬ ‭acrescentar‬ ‭a‬ ‭ele‬ ‭a‬ ‭imagem,‬
‭obrigava‬ ‭a‬ ‭busca‬ ‭de‬ ‭um‬ ‭caminho‬ ‭diferente‬ ‭sinalizado‬ ‭por‬ ‭itens‬ ‭até‬ ‭então‬
‭minoritários‬‭dentro‬‭da‬‭programação‬‭–‬‭o‬‭jornalismo,‬‭as‬‭transmissões‬‭esportivas,‬
‭o‬ ‭serviço‬ ‭para‬ ‭a‬ ‭população‬ ‭e‬ ‭a‬ ‭música‬ ‭gravada.‬ ‭Para‬ ‭cativar‬ ‭audiências‬
‭massivas,‬ ‭o‬ ‭rádio‬ ‭usaria‬ ‭uma‬ ‭nova‬ ‭tecnologia:‬ ‭o‬ ‭transistor.‬ ‭(FERRARETTO,‬
‭2000, p. 137)‬

‭ ‬ ‭transistor‬ ‭chega‬ ‭como‬ ‭um‬ ‭poderoso‬ ‭impulso.‬ ‭A‬ ‭invenção,‬‭de‬‭três‬‭cientistas‬‭da‬‭Bell‬


O
‭Telephone‬ ‭Laboratories,‬ ‭de‬ ‭Nova‬ ‭Jersey‬ ‭(EUA)‬ ‭permite‬ ‭trocar‬ ‭as‬ ‭válvulas‬ ‭que‬
‭ocupavam‬‭espaço‬‭e‬‭necessitavam‬‭de‬‭voltagem‬‭elevada‬‭para‬‭o‬‭funcionamento.‬‭Assim‬‭o‬
‭aparelho tornou-se menor e podia ser alimentado com pilhas. (FERRARETTO, 2000).‬
‭A‬‭comunicação‬‭ficou‬‭mais‬‭ágil,‬‭com‬‭receptores‬‭sem‬‭tomadas.‬‭O‬‭rádio‬‭rompeu‬‭as‬‭alças‬
‭que‬‭o‬‭prendiam‬‭à‬‭sala‬‭de‬‭estar‬‭(já‬‭ocupada‬‭pelos‬‭aparelhos‬‭de‬‭televisão),‬‭à‬‭cabeceira‬
‭das‬ ‭camas‬ ‭e‬ ‭se‬ ‭fixa‬ ‭nos‬ ‭carros,‬ ‭acompanha‬ ‭as‬ ‭pessoas‬ ‭no‬ ‭trabalho,‬ ‭nas‬ ‭mesas‬ ‭de‬
‭jogos,‬ ‭e‬ ‭passa‬ ‭a‬ ‭fazer‬ ‭parte‬ ‭integrante‬ ‭do‬ ‭cotidiano‬ ‭das‬ ‭pessoas.‬ ‭Graças‬ ‭a‬ ‭sua‬
‭dinâmica‬ ‭natural,‬ ‭o‬ ‭rádio‬ ‭não‬ ‭morre‬ ‭com‬ ‭o‬ ‭crescimento‬ ‭da‬ ‭televisão.‬ ‭Primeiro‬ ‭se‬
‭acomoda,‬ ‭mas‬ ‭depois‬ ‭se‬ ‭especializa‬ ‭na‬ ‭sua‬ ‭própria‬ ‭natureza‬ ‭como‬ ‭veículo‬ ‭de‬
‭comunicação de massa. (ORTRIWANO, 1985).‬
‭Começa‬ ‭o‬‭processo‬‭de‬‭radical‬‭mudança‬‭na‬‭estrutura‬‭de‬‭programação‬‭do‬‭veículo,‬‭que‬
‭se‬‭completaria‬‭20‬‭anos‬‭mais‬‭tarde.‬‭A‬‭programação‬‭esportiva‬‭cresce‬‭de‬‭importância‬‭em‬
‭função‬ ‭dos‬ ‭resultados‬ ‭alcançados‬ ‭no‬‭futebol‬‭e‬‭se‬‭torna‬‭um‬‭de‬‭seus‬‭principais‬‭esteios‬
‭publicitários.‬ ‭O‬ ‭jornalismo‬ ‭é‬ ‭incentivado‬ ‭e‬ ‭a‬ ‭primordial‬ ‭função‬‭do‬‭rádio‬‭se‬‭molda‬‭com‬
‭muita‬ ‭precisão:‬ ‭a‬ ‭prestação‬ ‭de‬ ‭serviços.‬ ‭Surgem‬ ‭então‬ ‭os‬ ‭herdeiros‬ ‭dos‬ ‭pioneiros‬ ‭e‬
‭ dmiráveis‬ ‭comunicadores,‬ ‭que‬ ‭aos‬ ‭poucos‬ ‭ganham‬ ‭espaço‬ ‭e‬ ‭criam‬ ‭a‬ ‭nova‬‭geração‬
a
‭de‬ ‭programas‬ ‭de‬ ‭rádio.‬ ‭As‬ ‭emissoras‬ ‭popularizaram‬ ‭este‬ ‭novo‬ ‭formato‬ ‭radiofônico:‬
‭pouca‬‭música,‬‭muita‬‭informação,‬‭mesa‬‭de‬‭debates,‬‭cobertura‬‭esportiva,‬‭bate-papo‬‭com‬
‭ouvintes,‬ ‭reportagem‬ ‭de‬ ‭rua‬ ‭e‬ ‭notícias‬ ‭atuais.‬ ‭O‬ ‭discurso‬ ‭radiofônico‬ ‭torna-se‬ ‭mais‬
‭coloquial e eclético para atingir as emoções do ouvinte.‬

‭ .2 A transformação do rádio‬
1
‭No‬ ‭começo‬ ‭dos‬ ‭anos‬ ‭1970‬ ‭uma‬ ‭nova‬ ‭revolução‬ ‭acontece‬ ‭no‬ ‭rádio:‬ ‭a‬ ‭Freqüência‬
‭Modulada‬ ‭(FM)‬ ‭abre‬ ‭um‬ ‭novo‬ ‭campo‬ ‭para‬ ‭a‬ ‭expansão‬ ‭do‬ ‭meio,‬ ‭a‬ ‭partir‬ ‭da‬ ‭pioneira‬
‭experiência‬‭da‬‭Difusora‬‭FM,‬‭em‬‭São‬‭Paulo.‬‭As‬‭modificações‬‭na‬‭programação‬‭do‬‭rádio,‬
‭que‬‭já‬‭estavam‬‭em‬‭curso,‬‭são‬‭aceleradas‬‭e‬‭se‬‭tornam‬‭ainda‬‭mais‬‭radicais;‬‭o‬‭aumento‬
‭da‬ ‭concorrência‬ ‭da‬ ‭televisão‬ ‭e‬ ‭das‬ ‭revistas‬ ‭e,‬ ‭o‬ ‭fenômeno‬ ‭da‬ ‭FM‬ ‭obrigam‬ ‭o‬ ‭rádio‬ ‭a‬
‭criar alternativas de programação.‬
‭ eguindo‬‭a‬‭tendência‬‭verificada‬‭após‬‭o‬‭final‬‭do‬‭rádio‬‭espetáculo,‬‭as‬‭estações‬
S
‭de‬ ‭amplitude‬ ‭modulada‬ ‭concentram-se‬ ‭no‬ ‭jornalismo,‬ ‭nas‬ ‭coberturas‬
‭esportivas‬ ‭e‬ ‭na‬ ‭prestação‬ ‭de‬ ‭serviços‬ ‭à‬ ‭população.‬ ‭Este‬ ‭último‬ ‭aspecto,‬‭por‬
‭vezes,‬ ‭materializa-se‬ ‭em‬ ‭programas‬ ‭popularescos‬ ‭centrados‬ ‭na‬‭figura‬‭de‬‭um‬
‭comunicador‬‭que‬‭simula‬‭um‬‭companheirismo‬‭para‬‭o‬‭ouvinte,‬‭enquanto‬‭explora‬
‭de‬ ‭modo‬ ‭sensacionalista‬ ‭situações‬ ‭do‬ ‭cotidiano.‬ ‭Nas‬ ‭FMs,‬ ‭predomina‬ ‭a‬
‭música. (FERRARETTO, 2000, p. 155)‬

‭ m‬ ‭1977,‬ ‭em‬ ‭Muriaé,‬ ‭um‬ ‭jovem‬ ‭apresentador‬ ‭já‬ ‭fazia‬ ‭sucesso,‬ ‭com‬ ‭este‬ ‭tipo‬ ‭de‬
E
‭programa.‬‭Júlio‬‭Soares,‬‭natural‬‭de‬‭Manhumirim,‬‭cria‬‭na‬‭Rádio‬‭Muriaé‬‭um‬‭programa‬‭de‬
‭variedades no estilo música-esporte-notícia.‬
‭A‬ ‭década‬ ‭de‬ ‭1980,‬ ‭viveu,‬ ‭talvez,‬ ‭a‬ ‭grande‬ ‭expansão‬ ‭da‬ ‭mídia‬ ‭radiofônica‬ ‭em‬ ‭sua‬
‭história,‬ ‭no‬ ‭Brasil.‬ ‭O‬ ‭domínio‬ ‭cada‬ ‭vez‬‭maior‬‭da‬‭melhor‬‭linguagem‬‭do‬‭rádio,‬‭produziu‬
‭programas‬ ‭mais‬ ‭atrativos‬ ‭e‬ ‭cumpridores‬ ‭de‬ ‭sua‬ ‭função.‬ ‭O‬ ‭rádio‬ ‭começava‬ ‭a‬ ‭se‬
‭estruturar‬ ‭em‬ ‭associações‬ ‭e‬ ‭redes,‬ ‭para‬ ‭maximizar‬ ‭investimentos,‬ ‭compartilhar‬
‭experiências, e crescer de importância.‬
‭A‬ ‭partir‬ ‭de‬ ‭1980,‬ ‭o‬ ‭rádio‬ ‭já‬ ‭não‬ ‭lança‬ ‭mais‬ ‭astros‬ ‭e‬ ‭estrelas,‬ ‭não‬‭elege‬‭rainhas‬‭nem‬
‭leva‬‭aos‬‭ouvintes‬‭o‬‭delírio‬‭de‬‭fãs,‬‭que‬‭antigamente‬‭lotavam‬‭os‬‭auditórios‬‭para‬‭ver‬‭seus‬
‭astros.‬ ‭Ultimamente‬ ‭se‬ ‭destaca‬ ‭na‬ ‭prestação‬ ‭de‬ ‭serviços,‬ ‭informante‬ ‭das‬ ‭notícias‬ ‭e‬
‭companheiro‬‭de‬‭donas-de-casa,‬‭taxistas,‬‭secretárias,‬‭e‬‭uma‬‭infinidade‬‭de‬‭profissionais‬
‭que‬ ‭querem‬ ‭informação‬ ‭precisa‬ ‭e‬ ‭imediata,‬ ‭além‬ ‭daqueles‬ ‭que‬ ‭o‬ ‭querem‬ ‭para‬
‭compartilhar‬ ‭a‬ ‭solidão.‬ ‭E‬ ‭se‬ ‭o‬ ‭rádio‬ ‭cumpre‬ ‭a‬ ‭função‬ ‭social‬ ‭sonhada‬ ‭por‬
‭Roquette-Pinto, este momento consolida a iniciativa acadêmica.‬

‭ .3 O Rádio na Zona da Mata Mineira‬


1
‭Minas Gerais recebe a terceira rádio do Brasil. A Rádio Sociedade de Juiz de Fora, PRA-J, foi‬
‭fundada em 20 de outubro de 1925 e inaugurada no dia primeiro de janeiro de 1926. As‬
‭primeiras rádios receberam em consideração a ordem de inauguração, letras que seguiam o‬
‭alfabeto. A primeira rádio, a Sociedade do Rio de Janeiro, tem o prefixo PRA-A, a Rádio‬
‭Sociedade Juiz de Fora (atualmente Rádio Solar) recebeu PRA-J, em Juiz de Fora e a de Belo‬
‭Horizonte passou a‬
‭PRA-L.‬
‭Na Zona da Mata as rádios surgiram aos poucos. Muriaé recebeu sua primeira rádio em 1943. A‬
‭ ádio Sociedade Muriaé recebeu o prefixo ZYD-2 (hoje com o prefixo ZYL-253) e os primeiros‬
R
‭proprietários foram o eletrotécnico Gilberto Pontes de Andrade, o comerciante Agenor Henrique‬
‭de Castro e o arquiteto Murilo José de Carvalho Oliveira. A emissora inaugurou sua‬
‭programação no período em que as emissoras de rádio do Brasil passaram a transmitir o‬
‭programa “‬‭Hora do Brasil‬‭”, exigido pelo Governo para‬‭noticiar sua administração. (GUSMAM,‬
‭2004).‬
‭Na Zona da Mata Leste, muitas emissoras surgiram nos anos 1940 a 1960. Reynaldo Tavares, no‬
‭livro‬‭Histórias que o rádio não contou‬‭cita uma lista‬‭de nomes das rádios desta região, entra elas:‬
‭Além Paraíba‬‭– Rádio Cultura de Porto Novo (ZYF-49);‬‭Barbacena‬‭– Rádio Barbacena (ZYL-8)‬
‭e Rádio Correio da Serra‬
‭(ZYV-52);‬‭Cataguases‬‭– Rádio Cataguases; Juiz de Fora‬‭- Rádio Sociedade de Juiz de Fora‬
‭(PRA-J), Rádio Difusora de Minas Gerais (ZYC-53), Rádio Industrial de Juiz de Fora e Rádio‬
‭Manchester. Em Leopoldina instala-se a Rádio Sociedade Leopoldina (ZYC-222); Ponte Nova –‬
‭Rádio Sociedade de Ponte Nova (ZYF-70); Ubá – Rádio Sociedade Ubaense (ZUC-4) e Rádio‬
‭Educadora Trabalhista (ZYV-4); Viçosa – Rádio Montanhesa de Viçosa (ZYV-4) e em Visconde‬
‭do Rio Branco – Rádio Cultura Rio Branco (ZYV-25).‬
‭Em Muriaé, a Rádio Muriaé reinou absoluta até 1988 quando surge a Rádio Princesa da Mata,‬
‭atualmente Rádio Atividade (ZYL-349). Hoje as duas emissoras de amplitude modulada (AM)‬
‭disputam a preferência de audiência do ouvinte muriaeense. Há ainda quatro emissoras de‬
‭Freqüência Modulada (FM), duas delas pertencentes às rádios citadas, 96 FM, que faz parte do‬
‭grupo Rádio Sociedade Muriaé e Atividade 94 FM, do grupo Rede Atividade de Comunicação,‬
‭que tem ainda uma repetidora de televisão, Tv Atividade‬‭4‬‭.‬‭Para atingir aproximadamente 100 mil‬
‭habitantes de Muriaé, a cidade tem boa estrutura de comunicação, o que permite excelente fluxo‬
‭de informação no município.‬

‭2. A CIDADANIA E O DIREITO À INFORMAÇÃO‬


“‭ ‬‭Todo Homem tem direito à liberdade sem interferências,‬‭de ter opiniões e de procurar receber‬
‭e transmitir informações e idéias por quaisquer meios, independente de fronteiras”.‬
‭Declaração Universal dos Direitos Humanos‬

‭ ‬ ‭cidadania‬ ‭significa‬ ‭algo‬ ‭mais‬ ‭do‬ ‭que‬ ‭a‬ ‭garantia‬ ‭plena‬ ‭de‬ ‭direitos,‬ ‭é‬ ‭também‬ ‭o‬
A
‭cumprimento‬ ‭dos‬ ‭deveres.‬ ‭O‬ ‭exercício‬ ‭da‬ ‭cidadania,‬ ‭entendida‬ ‭como‬ ‭a‬ ‭participação‬
‭efetiva‬ ‭nas‬ ‭decisões‬ ‭sociais‬ ‭e‬ ‭políticas‬ ‭de‬ ‭uma‬ ‭sociedade,‬ ‭muitas‬ ‭vezes‬ ‭sofre‬ ‭a‬
‭intervenção‬‭pela‬‭falta‬‭de‬‭informação‬‭e‬‭conhecimento‬‭sobre‬‭os‬‭fatos‬‭da‬‭comunidade‬‭em‬
‭ ue‬ ‭o‬ ‭cidadão‬ ‭está‬ ‭inserido.‬ ‭Como‬ ‭célula‬ ‭integrante‬ ‭desta‬ ‭sociedade‬ ‭e‬ ‭para‬ ‭a‬
q
‭emancipação‬ ‭deste‬ ‭indivíduo,‬ ‭o‬ ‭essencial‬ ‭é‬ ‭a‬ ‭comunicação,‬ ‭para‬ ‭mostrar‬ ‭além‬ ‭de‬
‭idéias e opiniões, praticar a socialização e absorver informações.‬
‭O‬‭direito‬‭à‬‭informação‬‭está‬‭garantido‬‭na‬‭Constituição‬‭da‬‭República‬‭Federativa‬‭do‬‭Brasil‬
‭de‬ ‭1988,‬ ‭no‬ ‭inciso‬ ‭XIV‬ ‭do‬ ‭artigo‬ ‭5º.‬ ‭“É‬ ‭assegurado‬ ‭a‬ ‭todos‬ ‭o‬ ‭acesso‬‭à‬‭informação‬‭e‬
‭resguardado‬‭o‬‭sigilo‬‭da‬‭fonte,‬‭quando‬‭necessário‬‭ao‬‭exercício‬‭profissional”‬‭5‭,‬ ‬‭de‬‭acordo‬
‭com a Lei de Imprensa n. 5.250, de 9 de fevereiro 1967.‬
‭Mas‬‭é‬‭ingênuo‬‭acreditar‬‭que‬‭apenas‬‭o‬‭direito‬‭garantido‬‭por‬‭Lei‬‭possibilita‬‭o‬‭acesso‬‭às‬
‭informações.‬ ‭Para‬ ‭se‬ ‭construir‬ ‭uma‬ ‭sociedade‬ ‭verdadeiramente‬ ‭democrática‬ ‭onde‬
‭todos‬ ‭os‬ ‭cidadãos‬‭possam‬‭se‬‭expressar‬‭livremente‬‭e‬‭as‬‭diferenças‬‭sejam‬‭respeitadas‬
‭–‬‭é‬‭preciso‬‭reconhecer‬‭a‬‭comunicação‬‭como‬‭um‬‭direito‬‭indissolúvel‬‭e‬‭a‬‭participação‬‭do‬
‭cidadão‬‭como‬‭um‬‭valor‬‭alienável‬‭da‬‭democracia.‬‭A‬‭comunicação‬‭é‬‭um‬‭espaço‬‭público‬
‭aberto para o debate e relacionamento entre os indivíduos que compõem a sociedade.‬
‭As‬ ‭diferenças‬ ‭de‬ ‭classe‬ ‭ainda‬ ‭limitam‬ ‭os‬ ‭atributos‬ ‭políticos‬ ‭dos‬‭cidadãos.‬‭Estudiosos‬
‭da‬ ‭história,‬ ‭e‬ ‭mesmo‬ ‭pesquisadores‬ ‭da‬ ‭atualidade‬ ‭acreditam‬ ‭que‬ ‭esta‬ ‭questão‬ ‭é‬ ‭a‬
‭principal fonte dos limites à prática efetiva da cidadania na contemporaneidade.‬
‭A‬‭precária‬‭formação‬‭educacional,‬‭e‬‭muitas‬‭vezes‬‭a‬‭própria‬‭falta‬‭de‬‭acesso‬‭aos‬‭bancos‬
‭escolares,‬ ‭principalmente‬ ‭num‬ ‭país‬ ‭em‬ ‭desenvolvimento‬ ‭como‬ ‭o‬ ‭Brasil,‬ ‭prejudica‬ ‭o‬
‭crescimento‬ ‭pleno‬‭do‬‭cidadão.‬‭Os‬‭cidadãos‬‭das‬‭classes‬‭mais‬‭pobres‬‭do‬‭estrato‬‭social‬
‭não‬ ‭têm,‬ ‭em‬ ‭sua‬ ‭totalidade,‬ ‭garantido‬ ‭os‬ ‭direitos‬ ‭básicos‬ ‭à‬ ‭vida,‬ ‭como‬ ‭alimentação,‬
‭moradia,‬ ‭educação,‬ ‭saúde,‬ ‭lazer,‬ ‭trabalho,‬ ‭entre‬ ‭outros.‬ ‭Os‬‭anseios‬‭dessa‬‭população‬
‭economicamente‬‭menos‬‭favorecida‬‭devem‬‭ser‬‭ouvidos‬‭pelos‬‭veículos‬‭de‬‭comunicação‬
‭de‬ ‭massa‬ ‭que‬ ‭têm‬ ‭por‬ ‭função‬ ‭social‬ ‭dar‬ ‭oportunidade‬ ‭e‬ ‭informar‬ ‭essa‬ ‭camada‬ ‭da‬
‭população.‬‭Germán‬‭Rey‬‭Beltrán,‬‭no‬‭livro‬‭Televisão‬‭pública:‬‭do‬‭consumidor‬‭ao‬‭cidadão‬
‭diz‬ ‭que‬ ‭“cada‬ ‭vez‬ ‭mais‬ ‭a‬ ‭sociedade‬ ‭civil‬ ‭se‬ ‭expressa‬ ‭através‬ ‭das‬ ‭mídias.‬ ‭Uma‬
‭expressão‬ ‭que,‬ ‭longe‬ ‭de‬ ‭diminuir,‬ ‭tem‬ ‭tendência‬ ‭a‬ ‭crescer‬ ‭e,‬ ‭talvez,‬ ‭se‬ ‭qualificar”‬
‭(BELTRÁN, 1992, p. 107).‬
‭Os‬ ‭meios‬‭de‬‭comunicação‬‭apresentam‬‭contextos‬‭e‬‭experiências‬‭que‬‭demonstram‬‭sua‬
‭representatividade‬ ‭para‬ ‭o‬ ‭exercício‬ ‭da‬ ‭cidadania.‬ ‭Além‬ ‭de‬ ‭entreter‬ ‭e‬ ‭divertir,‬ ‭o‬ ‭papel‬
‭dos‬‭meios‬‭é‬‭primeiramente‬‭informar‬‭e‬‭formar,‬‭seja‬‭através‬‭de‬‭programas‬‭de‬‭debates‬‭e‬
‭entrevistas,‬ ‭informativos‬ ‭jornalísticos‬ ‭e‬ ‭até‬ ‭programas‬ ‭didáticos‬ ‭que‬ ‭fortaleçam‬ ‭essa‬
‭função.‬‭O‬‭direito‬‭à‬‭informação‬‭deve‬‭ser‬‭prática‬‭e‬‭preocupação‬‭constante‬‭da‬‭sociedade‬
‭e do Estado.‬

‭2.1 O Rádio e a Cidadania‬


‭ veículo rádio tem em uma de suas características, a inclusão social com as questões que‬
O
‭afligem a comunidade. Este meio de comunicação sempre busca informar àqueles que de outra‬
‭maneira não teriam acesso a seus direitos. É por esta razão que Ortriwano (1985, p. 78) destaca‬
‭que “entre os meios de comunicação de massa, o rádio é, sem dúvida, o mais popular e o de‬
‭maior alcance público, não só no Brasil como também em todo o mundo, constituindo-se, muitas‬
‭vezes, no único a levar a informação para populações de vastas regiões que não têm acesso a‬
‭outros meios, seja por motivos geográficos, econômicos ou culturais.”‬
‭Segundo‬ ‭o‬ ‭Dicionário‬ ‭Aurélio‬ ‭Buarque‬ ‭de‬ ‭Holanda‬ ‭Ferreira,‬ ‭“cidadania‬ ‭é‬ ‭a‬‭qualidade‬
‭ou‬‭estado‬‭do‬‭cidadão”,‬‭entende-se‬‭por‬‭cidadão‬‭“o‬‭indivíduo‬‭no‬‭gozo‬‭dos‬‭direitos‬‭civis‬‭e‬
‭políticos‬ ‭de‬ ‭um‬ ‭Estado,‬ ‭ou‬ ‭no‬ ‭desempenho‬ ‭de‬ ‭seus‬ ‭deveres‬ ‭para‬ ‭com‬ ‭este”.‬
(‭ FERREIRA,‬ ‭1997,‬ ‭p.‬ ‭105).‬ ‭No‬ ‭livro‬ ‭Educar‬ ‭para‬ ‭a‬ ‭Cidadania,‬ ‭de‬ ‭Maria‬ ‭de‬ ‭Lurdes‬
‭Paixão, Jorge Sampaio define o que é cidadania:‬
‭A‬ ‭cidadania‬ ‭é‬ ‭responsabilidade‬ ‭perante‬‭nós‬‭e‬‭perante‬‭os‬‭outros,‬
‭consciência‬ ‭de‬ ‭deveres‬ ‭e‬ ‭de‬ ‭direitos,‬ ‭impulso‬ ‭para‬ ‭a‬
‭solidariedade‬ ‭e‬ ‭para‬ ‭a‬ ‭participação,‬ ‭é‬ ‭sentido‬ ‭de‬ ‭comunidade‬ ‭e‬
‭de‬‭partilha,‬‭é‬‭insatisfação‬‭perante‬‭o‬‭que‬‭é‬‭injusto‬‭ou‬‭que‬‭está‬‭mal,‬
‭é‬ ‭vontade‬ ‭de‬ ‭aperfeiçoar,‬ ‭de‬ ‭servir,‬ ‭é‬ ‭espírito‬ ‭de‬ ‭inovação,‬ ‭de‬
‭audácia,‬ ‭de‬ ‭risco,‬ ‭é‬ ‭pensamento‬ ‭que‬ ‭age‬ ‭que‬ ‭se‬ ‭pensa.‬
‭(SAMPAIO, apud PAIXÃO, 2000)‬

‭ o‬ ‭entanto,‬ ‭frente‬ ‭às‬ ‭adversidades‬ ‭políticas,‬ ‭os‬ ‭cidadãos‬ ‭ficam‬ ‭à‬ ‭mercê‬ ‭do‬ ‭que‬
N
‭deveriam‬ ‭ter‬ ‭direito:‬ ‭saúde,‬ ‭educação‬ ‭e‬ ‭condições‬ ‭mínimas‬ ‭de‬ ‭exercer‬ ‭o‬ ‭que‬
‭entende-se‬ ‭por‬ ‭cidadania.‬ ‭O‬ ‭rádio‬ ‭tem‬‭cumprido,‬‭muitas‬‭vezes,‬‭o‬‭papel‬‭do‬‭Estado‬‭na‬
‭formação‬ ‭de‬ ‭valores‬ ‭que‬ ‭construam‬ ‭uma‬ ‭base‬ ‭sólida‬ ‭para‬ ‭a‬ ‭vivência‬ ‭integral‬ ‭do‬ ‭ser‬
‭humano.‬
‭Nesse‬ ‭sentido,‬ ‭Ludmilla‬ ‭Gusman‬ ‭diz‬ ‭em‬ ‭seu‬ ‭livro‬ ‭“Do‬ ‭ouvinte‬ ‭para‬ ‭o‬ ‭ouvinte.‬ ‭Rádio‬
‭Muriaé:‬‭60‬‭anos‬‭de‬‭história”‬‭que‬‭“como‬‭instrumento‬‭de‬‭identificação‬‭e‬‭de‬‭envolvimento‬
‭social,‬ ‭o‬ ‭rádio‬ ‭lutou‬ ‭por‬ ‭continuar‬ ‭sendo‬ ‭divulgador‬ ‭de‬ ‭informações,‬ ‭mas‬ ‭ao‬ ‭mesmo‬
‭tempo‬ ‭tornar-se‬ ‭um‬ ‭meio‬ ‭de‬ ‭comunicação‬ ‭do‬ ‭povo,‬ ‭valorizando‬ ‭as‬ ‭questões‬ ‭do‬
‭interesse‬ ‭da‬ ‭população‬ ‭que‬ ‭sempre‬ ‭depositou‬ ‭nele‬ ‭a‬ ‭sua‬ ‭credibilidade”‬ ‭(GUSMAN,‬
‭2004, p. 41).‬
‭Assim,‬ ‭verifica-se‬ ‭que‬ ‭o‬ ‭rádio‬ ‭tem‬ ‭papel‬ ‭significante‬ ‭na‬ ‭construção‬ ‭da‬ ‭cidadania,‬
‭enquanto‬ ‭dialoga‬ ‭com‬ ‭os‬ ‭ouvintes‬ ‭as‬ ‭situações‬ ‭do‬ ‭cotidiano‬ ‭em‬ ‭que‬ ‭a‬ ‭comunidade‬
‭está‬‭envolvida.‬‭A‬‭iniciativa‬‭acadêmica‬‭pretende‬‭mostrar‬‭como‬‭o‬‭veículo‬‭faz‬‭(e‬‭às‬‭vezes‬
‭deixa de fazer) este papel.‬
‭3. A INFORMAÇÃO COMO AGENTE MULTIPLICADOR‬
‭DA CIDADANIA‬

‭“‬‭A cultura é o canal pelo qual expressamos sentimentos‬‭individuais e coletivos, a forma pela qual damos‬
s‭ ignificado às ações cotidianas. É também, o retrato pelo qual uma sociedade delineia sua identidade, planeja sua‬
‭existência e se projeta em relação ao futuro.”‬

‭Elisete Zanlorenzi‬

‭ ‬ ‭informação,‬ ‭através‬ ‭do‬ ‭rádio,‬ ‭produz‬ ‭uma‬ ‭interação‬ ‭social‬ ‭que‬ ‭se‬ ‭converte‬ ‭numa‬
A
‭onda‬‭que‬‭atravessa‬‭o‬‭ar‬‭e‬‭se‬‭concretiza‬‭nas‬‭relações‬‭sociais.‬‭Permite‬‭diálogos‬‭com‬‭a‬
‭sociedade‬ ‭e‬ ‭identidade‬ ‭com‬ ‭os‬‭ouvintes.‬‭O‬‭rádio,‬‭por‬‭seu‬‭caráter‬‭local‬‭e‬‭diário‬‭com‬‭a‬
‭comunidade‬ ‭permite‬ ‭uma‬ ‭melhor‬‭penetração‬‭da‬‭informação,‬‭que‬‭se‬‭repercute‬‭através‬
‭de‬‭resultados‬‭que‬‭são‬‭notoriamente‬‭estimulados‬‭pelos‬‭comunicadores.‬‭É‬‭o‬‭que‬‭afirma‬
‭também‬ ‭em‬ ‭entrevista‬ ‭(Vide‬ ‭anexo‬ ‭11)‬ ‭Ana‬ ‭Luísa‬ ‭Damasceno,‬ ‭diretora‬‭de‬‭jornalismo‬
‭da‬ ‭Rádio‬ ‭Solar‬ ‭de‬ ‭Juiz‬ ‭de‬ ‭Fora‬ ‭(MG).‬ ‭Ela‬ ‭diz‬ ‭que‬ ‭uma‬ ‭reportagem‬ ‭bem‬‭elaborada‬‭e‬
‭completa,‬ ‭por‬ ‭mais‬ ‭que‬ ‭informe,‬ ‭ainda‬ ‭não‬ ‭tem‬ ‭o‬ ‭mesmo‬ ‭efeito‬ ‭que‬ ‭o‬ ‭apresentador‬
‭falar‬‭no‬‭programa‬‭da‬‭importância‬‭de‬‭certas‬‭atitudes‬‭que‬‭o‬‭cidadão‬‭deve‬‭ter.‬‭“Se‬‭eu‬‭fizer‬
‭uma‬ ‭reportagem‬ ‭maravilhosa,‬ ‭cheia‬ ‭de‬ ‭dados,‬ ‭com‬ ‭sonoras,‬ ‭sobre‬ ‭a‬ ‭campanha‬ ‭de‬
‭vacinação,‬ ‭não‬ ‭vai‬ ‭dar‬ ‭o‬ ‭mesmo‬ ‭efeito‬ ‭do‬ ‭que‬ ‭se‬ ‭os‬ ‭apresentadores‬ ‭Canalli‬ ‭ou‬ ‭o‬
‭Marcelo‬ ‭Juliane‬ ‭disserem‬ ‭:‬ ‭“Ó,‬‭gente‬‭tem‬‭que‬‭vacinar,‬‭se‬‭não‬‭vai‬‭dar‬‭paralisia‬‭no‬‭seu‬
‭filho”‬‭,‬‭por‬‭causa‬‭dessa‬‭questão‬‭da‬‭proximidade.”‬‭E‬‭essa‬‭proximidade‬‭tem‬‭crescido‬‭com‬
‭uma força maior que as tradicionais instituições da sociedade.‬
‭O‬ ‭crescimento‬ ‭e‬ ‭a‬ ‭abrangência‬ ‭dos‬ ‭Meios‬ ‭de‬ ‭Comunicação‬ ‭e‬ ‭a‬
‭informação‬ ‭estão,‬ ‭claramente,‬ ‭desbancando‬ ‭e‬ ‭relativizando‬ ‭o‬
‭controle‬ ‭exercido‬ ‭por‬ ‭outras‬ ‭instituições,‬ ‭como‬ ‭a‬ ‭escola,‬ ‭as‬
‭igrejas,‬ ‭a‬ ‭família,‬ ‭etc.‬ ‭A‬ ‭comunicação‬ ‭está‬ ‭forjando‬ ‭os‬ ‭novos‬
‭professores,‬‭os‬‭novos‬‭sábios,‬‭os‬‭novos‬‭mestres‬‭da‬‭verdade‬‭e‬‭da‬
‭moralidade.‬‭As‬‭pesquisas‬‭sempre‬‭mais‬‭confirmam‬‭a‬‭força‬‭moral‬‭e‬
‭política‬‭desses‬‭meios‬‭que‬‭não‬‭agem‬‭tanto‬‭pela‬‭competência,‬‭mas‬
‭pela empatia. (GUARESCHI, 2000, p.10)‬

‭ omo‬ ‭agente‬ ‭multiplicador‬ ‭da‬ ‭cidadania,‬ ‭a‬ ‭informação‬ ‭através‬ ‭do‬ ‭rádio‬ ‭têm‬‭exercido‬
C
‭papel‬‭fundamental,‬‭ao‬‭inserir‬‭o‬‭cidadão,‬‭que‬‭muitas‬‭vezes‬‭teve‬‭uma‬‭educação‬‭precária‬
‭ou‬‭até‬‭total‬‭falta‬‭de‬‭formação‬‭educacional.‬‭O‬‭analfabetismo‬‭no‬‭Brasil‬‭chega‬‭à‬‭12,4%‬‭da‬
‭população,‬ ‭o‬ ‭que‬ ‭corresponde‬ ‭à‬ ‭14,9‬ ‭milhões‬ ‭de‬ ‭adultos‬ ‭que‬ ‭não‬ ‭sabem‬ ‭ler‬ ‭e‬
‭escrever‬‭6‬ ‭o‬‭que‬‭torna‬‭nítido‬‭o‬‭fato‬‭de‬‭que‬‭a‬‭mensagem‬‭radiofônica‬‭tem‬‭caráter‬‭peculiar,‬
‭já‬ ‭que‬ ‭atinge‬ ‭a‬ ‭população‬ ‭marginalizada‬ ‭econômica‬ ‭e‬ ‭culturalmente.‬ ‭Além‬ ‭disso,‬ ‭o‬
‭rádio‬ ‭é‬ ‭o‬ ‭veículo‬ ‭que‬ ‭melhor‬ ‭pode‬ ‭atender‬ ‭às‬ ‭múltiplas‬‭exigências‬‭de‬‭um‬‭público‬‭tão‬
v‭ ariado e diverso.‬
‭Para‬‭exemplo‬‭do‬‭papel‬‭citado,‬‭destaca-se‬‭a‬‭importância‬‭de‬‭se‬‭defender‬‭os‬‭direitos‬‭dos‬
‭cidadãos.‬‭Em‬‭11‬‭de‬‭setembro‬‭de‬‭1990,‬‭instituído‬‭pela‬‭Lei‬‭n°‬‭8.078,‬‭surge‬‭o‬‭Código‬‭de‬
‭Defesa‬ ‭do‬ ‭Consumidor,‬ ‭cuja‬ ‭vigência,‬ ‭iniciada‬‭em‬‭março‬‭de‬‭1993,‬‭consolida-se‬‭como‬
‭uma‬ ‭das‬ ‭mais‬ ‭avançadas‬ ‭legislações‬ ‭do‬ ‭gênero‬ ‭em‬ ‭todo‬ ‭o‬ ‭mundo.‬ ‭Em‬ ‭12‬ ‭anos‬ ‭de‬
‭vigência‬ ‭do‬ ‭Código,‬ ‭publicações‬ ‭e‬ ‭estações‬ ‭de‬ ‭rádio‬ ‭dedicam‬ ‭colunas‬ ‭e‬ ‭quadros‬ ‭na‬
‭programação‬ ‭para‬ ‭dedicar‬ ‭ao‬ ‭assunto,‬ ‭tão‬ ‭solicitado‬ ‭por‬ ‭leitores‬ ‭e‬ ‭ouvintes‬ ‭e,‬ ‭tão‬
‭interessantes‬‭como‬‭fonte‬‭de‬‭pautas‬‭para‬‭jornalistas.‬‭Na‬‭programação‬‭da‬‭Rádio‬‭Muriaé,‬
‭o‬ ‭quadro‬ ‭Direito‬ ‭do‬ ‭Consumidor,‬ ‭dentro‬ ‭do‬ ‭programa‬ ‭Evil‬ ‭Mendonça,‬ ‭dedica‬ ‭15‬
‭minutos,‬ ‭nas‬ ‭quartas-feiras,‬‭para‬‭esclarecer‬‭dúvidas‬‭dos‬‭ouvintes,‬‭com‬‭a‬‭presença‬‭de‬
‭um‬ ‭advogado‬ ‭da‬ ‭seção‬ ‭local‬ ‭da‬ ‭Fundação‬ ‭de‬ ‭Proteção‬ ‭e‬ ‭Defesa‬ ‭do‬ ‭Consumidor‬
‭(Procon).‬
‭Percebe-se,‬ ‭neste‬ ‭caso,‬ ‭a‬ ‭importância‬ ‭do‬ ‭rádio‬ ‭como‬ ‭canal‬ ‭para‬ ‭que‬ ‭a‬ ‭população‬
‭exercite‬‭sua‬‭cidadania,‬‭e‬‭então‬‭saiba‬‭seus‬‭direitos‬‭e‬‭deveres‬‭enquanto‬‭consumidores.‬
‭De‬ ‭outro‬ ‭lado‬ ‭contribui‬ ‭para‬ ‭que‬ ‭empresas‬ ‭tomem‬ ‭posturas‬ ‭mais‬‭sérias‬‭e‬‭tornem-se,‬
‭do‬ ‭ponto‬‭de‬‭vista‬‭administrativo‬‭e‬‭social,‬‭empresas-cidadãs‬‭e‬‭respondam‬‭as‬‭críticas‬‭à‬
‭opinião‬‭pública.‬‭Com‬‭isso‬‭as‬‭organizações‬‭tornaram-se‬‭mais‬‭ágeis‬‭na‬‭prestação‬‭deste‬
‭serviço‬‭aos‬‭consumidores‬‭e‬‭criaram‬‭setores‬‭dentro‬‭das‬‭empresas‬‭como‬‭os‬‭Serviços‬‭de‬
‭Atendimento do Cliente.‬
‭No processo de universalização da cidadania, o rádio assume papel relevante. Trabalha com‬
‭enunciados sedutores, combinando textos, improvisos do apresentador do programa e efeitos‬
‭sonoros, que formam a mensagem. O rádio emite uma programação com forte aspecto intimista,‬
‭diferente da formalidade apresentada num telejornal, por exemplo. Isso produz no receptor uma‬
‭sensação de proximidade, fazendo com que ele assimile com mais hospitalidade o que lhe é‬
‭pedido e sugerido.‬
‭É o que faz Evil Mendonça, apresentador do Programa Evil Mendonça, da Rádio Muriaé. “Hoje‬
‭o cidadão só tem dever e não sabe dos direitos que têm, então eu acho que o veículo, que é o meu‬
‭papel hoje como comunicador, é o papel do rádio, da televisão, é criar situação para que as‬
‭pessoas discutam seus direitos e gere opiniões pessoais e brigue por esses direitos”, afirma o‬
‭apresentador durante entrevista (vide anexo 12). Esse ano o comunicador também se elegeu‬
‭vereador em Muriaé.‬
‭As‬‭relações‬‭sociais,‬‭os‬‭comportamentos,‬‭as‬‭atitudes,‬‭os‬‭fenômenos‬‭políticos‬‭são‬‭itens‬
‭que‬ ‭fazem‬ ‭parte‬ ‭do‬ ‭mundo‬ ‭do‬‭cidadão,‬‭e‬‭contribuem‬‭para‬‭sua‬‭posição‬‭na‬‭sociedade.‬
‭Geralmente‬ ‭o‬ ‭ouvinte‬ ‭da‬ ‭programação‬ ‭de‬‭rádio‬‭AM,‬‭é‬‭aquele‬‭que‬‭escuta‬‭e‬‭ouve‬‭com‬
‭atenção tudo que é dito. Faz lembrar a personagem Macabéia,‬
‭de‬ ‭A‬ ‭Hora‬ ‭da‬ ‭Estrela‬‭,‬ ‭de‬ ‭Clarice‬ ‭Lispector,‬ ‭que‬ ‭gasta‬ ‭suas‬ ‭horas‬ ‭ouvindo‬ ‭a‬ ‭"Rádio‬
‭Relógio”.‬
‭Informações,‬‭notícias‬‭e‬‭comentários‬‭emitidos‬‭podem‬‭influenciar‬‭o‬‭receptor‬‭e‬‭direcionar‬
‭seu‬ ‭posicionamento‬ ‭sobre‬ ‭diversos‬ ‭assuntos,‬ ‭um‬ ‭deles‬ ‭cidadania.‬ ‭Carlos‬ ‭Santos,‬
‭apresentador‬ ‭do‬ ‭programa‬ ‭“Show‬ ‭do‬ ‭Carlos‬ ‭Santos”,‬ ‭da‬ ‭Rádio‬ ‭Atividade,‬‭acredita‬‭na‬
‭mudança‬‭que‬‭a‬‭informação‬‭pode‬‭gerar‬‭nas‬‭pessoas.‬‭“A‬‭orientação‬‭do‬‭locutor‬‭tem‬‭que‬
‭ser‬ ‭também‬ ‭profissional,‬ ‭porque‬ ‭é‬ ‭também‬ ‭alguém‬ ‭que‬ ‭quando‬ ‭emite‬ ‭a‬ ‭sua‬ ‭opinião‬
‭está‬‭também‬‭às‬‭vezes‬‭interferindo‬‭lá‬‭na‬‭cabecinha‬‭da‬‭pessoa‬‭que‬‭está‬‭do‬‭outro‬‭lado”.‬
‭Em‬‭entrevista‬‭(vide‬‭anexo‬‭13)‬‭ele‬‭ainda‬‭fala‬‭da‬‭responsabilidade‬‭que‬‭é‬‭preciso‬‭ter‬‭com‬
‭o‬ ‭que‬ ‭se‬ ‭fala‬ ‭pelo‬ ‭rádio:‬ ‭“então‬ ‭você‬ ‭tem‬ ‭que‬ ‭tomar‬ ‭muito‬ ‭cuidado‬ ‭naquilo‬‭que‬‭você‬
‭ stá‬ ‭falando,‬ ‭mas‬ ‭acima‬ ‭de‬ ‭tudo‬ ‭falar‬ ‭com‬ ‭cautela‬ ‭e‬ ‭saber‬ ‭que‬ ‭você‬ ‭pode‬ ‭estar‬
e
‭transformando‬ ‭pessoas‬ ‭do‬ ‭outro‬ ‭lado,‬ ‭mudando‬ ‭comportamentos,‬ ‭então‬ ‭acho‬ ‭que‬ ‭o‬
‭rádio é fundamental nesse papel de construção da cidadania”.‬
‭Entre‬ ‭as‬ ‭variadas‬ ‭formas‬ ‭de‬ ‭levar‬ ‭informação‬ ‭aos‬ ‭ouvintes,‬ ‭a‬ ‭programação‬ ‭das‬
‭emissoras‬ ‭estudadas‬ ‭neste‬ ‭trabalho‬ ‭oferecem‬ ‭quadros‬ ‭sobre‬ ‭orientação‬ ‭médica,‬
‭psicológica‬ ‭e‬ ‭jurídica,‬ ‭economia‬ ‭popular,‬ ‭ofertas‬ ‭de‬ ‭empregos,‬ ‭serviços‬ ‭de‬ ‭utilidade‬
‭pública,‬ ‭notícias‬ ‭policiais,‬ ‭debates‬ ‭e‬ ‭entrevistas,‬ ‭além‬ ‭de‬ ‭conversas‬ ‭sobre‬ ‭problemas‬
‭cotidianos‬ ‭da‬ ‭cidade,‬ ‭com‬ ‭exigências‬ ‭às‬ ‭autoridades‬‭políticas‬‭locais‬‭para‬‭a‬‭resolução‬
‭de problemas e melhoria da qualidade de vida.‬
‭José‬‭Carlos‬‭Alves,‬‭repórter‬‭há‬‭20‬‭anos‬‭da‬‭Rádio‬‭Muriaé‬‭diz‬‭que‬‭nesse‬‭caso‬‭a‬‭resposta‬
‭é‬ ‭imediata.‬ ‭“Os‬ ‭órgãos‬ ‭públicos‬ ‭nunca‬ ‭deixam‬ ‭para‬ ‭depois,‬ ‭sempre‬ ‭procuram‬ ‭saber,‬
‭até‬ ‭mesmo‬ ‭quando‬ ‭a‬ ‭gente‬ ‭recebe‬ ‭a‬ ‭reclamação,‬ ‭que‬ ‭você‬ ‭chega‬ ‭e‬ ‭vai‬ ‭levar‬ ‭ao‬
‭conhecimento‬‭daquele‬‭órgão,‬‭da‬‭pessoa‬‭responsável,‬‭ela‬‭já‬‭está‬‭sabendo,‬‭porque‬‭está‬
‭acompanhando a rádio” (vide anexo 14).‬
‭Evil‬‭Mendonça,‬‭apresentador‬‭do‬‭programa‬‭carro-chefe‬‭da‬‭Rádio‬‭Muriaé‬‭(Programa‬‭Evil‬
‭Mendonça),‬‭pondera‬‭que‬‭nem‬‭sempre‬‭é‬‭assim.‬‭“Se‬‭você‬‭jogar‬‭um‬‭tema‬‭no‬‭ar,‬‭no‬‭rádio‬
‭e‬ ‭não‬ ‭exigir‬ ‭ou‬ ‭não‬‭convidar,‬‭ou‬‭não‬‭pedir‬‭alguém‬‭que‬‭venha‬‭até‬‭à‬‭rádio‬‭discutir‬‭com‬
‭você‬‭o‬‭assunto,‬‭você‬‭não‬‭tem‬‭resposta‬‭das‬‭autoridades.‬‭Eu‬‭jogo‬‭às‬‭vezes‬‭um‬‭tema‬‭no‬
‭ar‬ ‭de‬ ‭interesse‬ ‭da‬ ‭comunidade‬ ‭e‬ ‭não‬ ‭consigo‬‭arrancar‬‭sequer‬‭uma‬‭ligação‬‭telefônica‬
‭de‬ ‭nenhuma‬ ‭autoridade‬ ‭para‬ ‭falar‬ ‭no‬ ‭ar”.‬ ‭São‬ ‭opiniões‬ ‭diferentes‬ ‭porém‬ ‭não‬
‭controversas,‬ ‭porque‬ ‭observa-se‬ ‭que‬ ‭quando‬ ‭há‬ ‭um‬ ‭trabalho‬ ‭de‬ ‭reportagem,‬ ‭os‬
‭reclamados‬ ‭dão‬ ‭uma‬ ‭resposta‬ ‭mais‬ ‭imediata‬ ‭à‬ ‭rádio,‬ ‭porém‬ ‭quando‬ ‭é‬ ‭um‬ ‭assunto‬
‭delicado,‬ ‭um‬ ‭problema‬ ‭social‬ ‭estrutural‬ ‭e‬ ‭não‬ ‭conjuntural‬ ‭(que‬ ‭pode‬ ‭ser‬ ‭resolvido‬
‭imediatamente),‬ ‭os‬ ‭órgãos‬ ‭competentes‬ ‭(com‬ ‭suas‬ ‭devidas‬ ‭exceções)‬ ‭não‬ ‭tomam‬
‭posição‬ ‭perante‬ ‭a‬ ‭sociedade‬ ‭através‬ ‭da‬ ‭comunicação‬ ‭radiofônica.‬ ‭Por‬ ‭isso‬ ‭a‬
‭comunidade deve sempre ser ouvida.‬
‭“É‬ ‭preciso‬ ‭refletir‬ ‭sobre‬ ‭a‬ ‭conveniência‬ ‭ou‬ ‭não‬ ‭das‬ ‭fontes‬ ‭oficiais.‬ ‭Muitas‬ ‭vezes‬ ‭a‬
‭verdade dos fatos só será obtida ouvindo a comunidade.” (PORCHAT, 1989, p. 29)‬
‭A‬‭rapidez‬‭com‬‭que‬‭as‬‭notícias‬‭e‬‭as‬‭informações‬‭são‬‭difundidas,‬‭característica‬‭do‬‭rádio,‬
‭leva‬‭à‬‭utilização‬‭do‬‭meio‬‭para‬‭a‬‭divulgação‬‭de‬‭informações‬‭onde‬‭o‬‭cidadão‬‭consciente,‬
‭e‬‭principalmente‬‭o‬‭não-consciente‬‭de‬‭suas‬‭funções‬‭e‬‭obrigações‬‭sociais‬‭saiba‬‭o‬‭que‬‭é‬
‭preciso saber. Como exemplo, os alertas sobre a dengue.‬
‭Carlos‬ ‭Santos‬ ‭ressalta‬ ‭que‬ ‭uma‬ ‭pessoa‬ ‭ouve‬ ‭e‬ ‭passa‬ ‭para‬ ‭o‬ ‭outro,‬ ‭e‬ ‭assim‬ ‭o‬ ‭rádio‬
‭cumpre‬ ‭a‬ ‭função‬ ‭de‬ ‭informar‬ ‭até‬ ‭mesmo‬ ‭a‬ ‭quem‬ ‭não‬ ‭ouve.‬ ‭“Todos‬ ‭os‬ ‭anos‬ ‭nós‬
‭trabalhamos‬‭informando:‬‭Você‬‭que‬‭está‬‭aí,‬‭na‬‭sua‬‭casa...‬‭Às‬‭vezes‬‭a‬‭pessoa‬‭não‬‭tem‬
‭acesso‬‭à‬‭TV‬‭e‬‭jornais,‬‭mas‬‭ela‬‭tem‬‭o‬‭seu‬‭radinho‬‭(...)‬‭aí‬‭chega‬‭lá‬‭a‬‭informação:‬‭precisa‬
‭tomar‬ ‭cuidado,‬ ‭manter‬ ‭o‬ ‭quintal‬ ‭limpinho,‬ ‭tirar‬ ‭pneus‬ ‭e‬ ‭garrafas‬‭.‬ ‭Chegando‬ ‭na‬ ‭casa‬
‭dela,‬ ‭vai‬‭chegar‬‭na‬‭casa‬‭do‬‭vizinho‬‭(...)‬‭e‬‭ela‬‭avisa‬‭para‬‭o‬‭vizinho:‬‭‘olha‬‭você‬‭também‬
‭tem‬‭que‬‭deixar‬‭o‬‭seu‬‭quintal‬‭limpinho,‬‭senão‬‭o‬‭mosquito‬‭chega‬‭aqui’.‬‭E‬‭dessa‬‭maneira‬
‭a‬ ‭notícia‬ ‭pelo‬ ‭rádio‬ ‭faz‬ ‭surgir‬ ‭novos‬ ‭comunicadores‬ ‭que‬ ‭atuam‬ ‭na‬ ‭comunidade,‬ ‭na‬
‭divulgação daquela informação através do rádio”.‬
‭A‬ ‭força‬ ‭e‬ ‭o‬ ‭poder‬ ‭do‬ ‭rádio‬ ‭surpreendem‬ ‭a‬ ‭todo‬ ‭momento.‬ ‭A‬
‭informação‬ ‭repercute‬ ‭de‬ ‭forma‬ ‭instantânea,‬ ‭direta‬ ‭e‬
‭indiretamente.‬‭Um‬‭ouve,‬‭fala‬‭para‬‭o‬‭outro‬‭e‬‭todos‬‭acompanham‬‭o‬
‭fato,‬ ‭num‬ ‭alcance‬ ‭espantoso.‬ ‭A‬ ‭consciência‬ ‭disto‬ ‭é‬‭fundamental‬
‭ as‬‭atividades‬‭do‬‭jornalismo.‬‭Consciência‬‭da‬‭capacidade‬‭que‬‭tem‬
n
‭de‬ ‭atingir‬ ‭todas‬ ‭as‬ ‭faixas‬ ‭do‬ ‭público,‬ ‭de‬ ‭mobilizar‬ ‭e‬ ‭agitar‬ ‭a‬
‭cidade; de unir e politizar a população (PORCHAT, 1989, p.35).‬

‭ poiado‬‭pelo‬‭discurso‬‭radiofônico,‬‭que‬‭é‬‭objetivo,‬‭claro‬‭e‬‭conciso,‬‭com‬‭fim‬‭de‬‭prender‬
A
‭a‬ ‭atenção‬ ‭do‬ ‭público‬ ‭e‬ ‭ganhar‬ ‭tempo,‬ ‭a‬ ‭comunicação‬ ‭para‬ ‭a‬ ‭cidadania‬ ‭tem‬ ‭força‬
‭inerente‬ ‭ao‬ ‭meio.‬ ‭O‬ ‭conteúdo‬ ‭voltado‬ ‭para‬ ‭o‬ ‭cidadão‬ ‭preenche‬ ‭um‬ ‭vazio‬ ‭de‬
‭conhecimento‬ ‭que‬ ‭a‬ ‭população‬ ‭tem‬ ‭e‬ ‭que‬ ‭deve‬ ‭ser‬ ‭um‬ ‭dos‬ ‭papéis‬ ‭principais‬ ‭do‬
‭Estado,‬ ‭através‬ ‭da‬ ‭Educação.‬ ‭Como‬ ‭agente‬ ‭multiplicador‬ ‭da‬ ‭cidadania,‬ ‭a‬‭informação‬
‭devolve‬ ‭ao‬ ‭povo‬ ‭a‬ ‭chance‬ ‭de‬ ‭participar‬ ‭de‬ ‭algo‬ ‭construtivo,‬ ‭por‬ ‭meio‬ ‭de‬ ‭atitudes,‬
‭conexão‬ ‭com‬ ‭os‬ ‭políticos,‬ ‭solidariedade‬ ‭e‬ ‭divulgação‬ ‭de‬ ‭idéias‬ ‭novas.‬ ‭Os‬ ‭temas‬
‭abordados‬ ‭pelos‬ ‭comunicadores‬ ‭podem‬ ‭levar‬ ‭o‬ ‭cidadão‬ ‭a‬ ‭se‬ ‭conscientizar‬ ‭e‬ ‭assim‬
‭apresentar‬‭também‬‭a‬‭discussão‬‭dos‬‭problemas‬‭da‬‭comunidade.‬‭Radialistas‬‭e‬‭ouvintes‬
‭podem‬‭oferecer‬‭ao‬‭Poder‬‭Público‬‭mais‬‭do‬‭que‬‭uma‬‭simples‬‭crítica,‬‭mas‬‭também‬‭propor‬
‭soluções para a real participação popular.‬
‭3.1 Participação do ouvinte‬
‭“‬‭A radiodifusão poderia ser o maior meio de comunicação‬‭já imaginado na vida pública, um imenso sistema de‬
c‭ analização. Isto é, seria, se fosse capaz não apenas de emitir, mas também de receber. Em outras palavras, se‬
‭conseguisse que o ouvinte não apenas escutasse, mas também falasse, que não permanecesse ilhado, mas‬
‭relacionado.”‬
‭Bertold Brecht‬

‭ ‬‭rádio‬‭conta‬‭apenas‬‭com‬‭a‬‭audição,‬‭por‬‭isso‬‭procura‬‭usar‬‭uma‬‭linguagem‬‭atraente‬‭ao‬
O
‭público.‬ ‭Gisela‬ ‭Ortriwano‬ ‭destaca,‬ ‭no‬ ‭livro‬ ‭“A‬ ‭informação‬ ‭no‬ ‭Rádio‬ ‭–‬ ‭os‬ ‭grupos‬ ‭de‬
‭poder‬ ‭e‬ ‭determinação‬ ‭dos‬ ‭conteúdos”,‬‭o‬‭privilégio‬‭do‬‭rádio‬‭por‬‭possuir‬‭características‬
‭próprias‬ ‭que‬ ‭possibilitam‬ ‭ao‬ ‭ouvinte‬ ‭identificar-se‬ ‭e‬ ‭participar‬ ‭do‬ ‭seu‬ ‭funcionamento.‬
‭Com‬‭a‬‭facilidade‬‭e‬‭o‬‭alcance‬‭das‬‭ondas‬‭de‬‭rádio,‬‭as‬‭vibrações‬‭auditivas‬‭podem‬‭atingir‬
‭os‬ ‭mais‬ ‭diferentes‬ ‭pontos‬ ‭do‬ ‭planeta.‬ ‭Dentro‬ ‭do‬ ‭carro,‬ ‭no‬ ‭hospital,‬ ‭pelo‬ ‭celular,‬ ‭nas‬
‭casas, nas fazendas e até no espaço sideral a penetração do rádio é comprovada.‬
‭Com essas características esse meio de comunicação seduz as diversas camadas sociais, mas‬
‭principalmente aquelas que têm menores condições financeiras, que buscam no rádio um canal‬
‭para a prática da cidadania.‬

‭ ‬ ‭rádio‬ ‭afeta‬ ‭as‬ ‭pessoas,‬ ‭digamos,‬ ‭como‬ ‭que‬ ‭pessoalmente,‬


O
‭oferecendo‬ ‭um‬ ‭mundo‬ ‭de‬ ‭comunicação‬ ‭não‬ ‭expressa‬ ‭entre‬
‭escritor-locutor‬ ‭e‬ ‭o‬ ‭ouvinte.‬ ‭Este‬ ‭é‬ ‭o‬ ‭aspecto‬ ‭mais‬ ‭imediato‬ ‭do‬ ‭rádio.‬
‭Uma‬ ‭experiência‬ ‭particular.‬ ‭As‬ ‭profundidades‬ ‭subliminares‬ ‭do‬ ‭rádio‬
‭estão‬‭carregadas‬‭daqueles‬‭ecos‬‭ressoantes‬‭das‬‭trombetas‬‭tribais‬‭e‬‭dos‬
‭tambores‬ ‭antigos.‬ ‭Isto‬ ‭é‬ ‭inerente‬ ‭à‬ ‭própria‬ ‭natureza‬ ‭deste‬ ‭meio,‬ ‭com‬
‭seu‬ ‭poder‬ ‭de‬ ‭transformar‬ ‭a‬ ‭psique‬ ‭e‬‭a‬‭sociedade‬‭numa‬‭única‬‭câmara‬
‭de eco.‬
‭A‬ ‭dimensão‬ ‭ressonadora‬ ‭do‬ ‭rádio‬ ‭tem‬ ‭passado‬ ‭despercebida‬ ‭aos‬
‭roteiristas‬ ‭e‬ ‭redatores,‬ ‭com‬ ‭poucas‬ ‭exceções.‬ ‭A‬ ‭famosa‬ ‭emissão‬ ‭de‬
‭Orson‬ ‭Wells‬ ‭sobre‬ ‭a‬ ‭invasão‬ ‭marciana‬ ‭não‬ ‭passou‬ ‭de‬ ‭uma‬ ‭pequena‬
‭mostra‬‭do‬‭escopo‬‭todo-inclusivo‬‭e‬‭todo-envolvente‬‭da‬‭imagem‬‭auditiva‬
‭do rádio (MCLUHAN. 1964: 336-337).‬

‭ sse‬ ‭meio‬ ‭tem‬ ‭sua‬ ‭parcela‬ ‭de‬ ‭contribuição‬ ‭na‬ ‭inclusão‬‭da‬‭massa.‬‭Mas‬‭tem‬‭que‬‭ficar‬


E
‭atento‬‭a‬‭essa‬‭massa‬‭e‬‭manter‬‭o‬‭foco‬‭na‬‭vida‬‭e‬‭nas‬‭necessidades‬‭dos‬‭ouvintes.‬‭O‬‭rádio‬
‭tem‬‭que‬‭investir‬‭em‬‭temas‬‭da‬‭cidade,‬‭pois‬‭ele‬‭é‬‭o‬‭porta-voz‬‭da‬‭população.‬‭O‬‭programa‬
‭Evil‬ ‭Mendonça‬ ‭utiliza‬ ‭o‬ ‭slogan‬ ‭“É‬ ‭a‬ ‭cidade‬ ‭falando‬ ‭com‬ ‭a‬ ‭cidade”.‬ ‭Isto‬ ‭demonstra‬ ‭a‬
‭interatividade‬‭do‬‭veículo.‬‭E‬‭quem‬‭é‬‭o‬‭produtor‬‭desta‬‭interatividade‬‭é‬‭o‬‭ouvinte,‬‭que‬‭não‬
‭apenas‬ ‭ouve,‬ ‭mas‬ ‭participa‬ ‭da‬ ‭programação‬ ‭de‬ ‭diversas‬ ‭maneiras.‬ ‭Ferraretto‬ ‭expõe‬
‭em‬ ‭seu‬‭livro‬‭Rádio:‬‭o‬‭veículo,‬‭a‬‭história‬‭e‬‭a‬‭técnica‬‭,‬‭que‬‭os‬‭programas‬‭se‬‭dividem‬‭em‬
‭diversos‬‭formatos,‬‭um‬‭deles‬‭de‬‭Participação‬‭do‬‭ouvinte,‬‭que‬‭é‬‭o‬‭rádio‬‭da‬‭conversa‬‭com‬
‭o‬ ‭ouvinte,‬ ‭que‬ ‭inclui‬ ‭prestação‬ ‭de‬ ‭serviços‬ ‭e‬ ‭discussão‬ ‭de‬ ‭problemas‬ ‭com‬ ‭a‬
‭comunidade. (FERRARETTO, 2000, p. 63)‬
‭ esde‬ ‭a‬ ‭disseminação‬ ‭da‬ ‭telefonia,‬ ‭o‬ ‭rádio‬ ‭tornou-se‬ ‭o‬ ‭primeiro‬ ‭veículo‬
D
‭interativo.‬ ‭Isto‬ ‭já‬ ‭nos‬ ‭anos‬ ‭70.‬ ‭Hoje,‬ ‭o‬ ‭ouvinte‬ ‭expressa‬ ‭sua‬ ‭opinião‬ ‭nas‬
‭emissoras‬ ‭por‬ ‭carta,‬ ‭telefone,‬ ‭fax‬ ‭ou‬ ‭correio‬ ‭eletrônico,‬ ‭além‬ ‭das‬
‭demonstrações‬‭de‬‭cidadania‬‭(passeatas,‬‭manifestações...)‬‭e‬‭das‬‭enquetes‬‭das‬
‭quais participa (FERRARETTO, 2000, p. 282).‬

‭ recho‬‭analisado‬‭do‬‭Programa‬‭Evil‬‭Mendonça‬‭ilustra‬‭esta‬‭interatividade‬‭com‬‭o‬‭ouvinte.‬
T
‭No‬‭quadro‬‭Secretária‬‭Eletrônica‬‭o‬‭ouvinte‬‭liga‬‭e‬‭o‬‭sistema‬‭grava‬‭as‬‭mensagens,‬‭desde‬
‭agradecimentos,‬ ‭congratulações‬ ‭de‬ ‭aniversários,‬ ‭pedidos‬ ‭de‬ ‭objetos‬ ‭perdidos‬ ‭até‬
‭reclamações‬ ‭sobre‬ ‭falta‬‭de‬‭médicos‬‭e‬‭ruas‬‭que‬‭precisam‬‭de‬‭reparos‬‭no‬‭calçamento‬‭e‬
‭segurança‬ ‭policial.‬ ‭O‬ ‭interessante‬ ‭é‬ ‭que‬ ‭também‬ ‭é‬ ‭uma‬ ‭forma‬ ‭de‬ ‭comunicação‬ ‭para‬
‭quem‬ ‭se‬ ‭encontra‬ ‭em‬ ‭lugares‬ ‭mais‬ ‭distantes,‬ ‭como‬ ‭a‬ ‭zona‬‭rural‬‭e‬‭que‬‭não‬‭possuem‬
‭telefone‬‭ou‬‭correio‬‭próximos,‬‭e‬‭às‬‭vezes‬‭nem‬‭energia‬‭elétrica,‬‭e‬‭querem‬‭dar‬‭um‬‭recado‬
‭para quem sabe que escuta o programa.‬
‭Apesar‬‭de‬‭tanta‬‭tecnologia,‬‭o‬‭rádio‬‭ainda‬‭simboliza‬‭uma‬‭ponte‬‭entre‬‭pessoas‬‭e‬‭cidade,‬
‭àqueles‬ ‭que‬ ‭não‬ ‭têm‬ ‭outro‬ ‭modo‬ ‭de‬ ‭se‬ ‭comunicar‬ ‭com‬ ‭parentes‬ ‭e‬ ‭amigos.‬ ‭A‬
‭funcionária‬ ‭pública‬‭Solange‬‭Barbosa,‬‭de‬‭45‬‭anos,‬‭ouve‬‭rádio‬‭cerca‬‭de‬‭duas‬‭horas‬‭por‬
‭dia.‬‭Prefere‬‭a‬‭Rádio‬‭Muriaé‬‭por‬‭causa‬‭do‬‭programa‬‭do‬‭padre‬‭Marcelo‬‭Rossi.‬‭“Aproveito‬
‭muito‬ ‭as‬ ‭informações‬ ‭e‬ ‭participo‬ ‭das‬ ‭campanhas‬ ‭quando‬ ‭posso”.‬ ‭Ela‬ ‭acredita‬ ‭que‬ ‭o‬
‭rádio‬ ‭ajuda‬ ‭o‬ ‭cidadão‬ ‭em‬ ‭todos‬ ‭os‬ ‭sentidos.‬ ‭“Acho‬ ‭interessante‬ ‭aqueles‬ ‭recados,‬
‭quando‬ ‭a‬ ‭pessoa‬ ‭mora‬ ‭em‬ ‭fazendas‬ ‭afastadas,‬ ‭ou‬ ‭em‬ ‭distritos,‬ ‭e‬ ‭liga‬ ‭para‬ ‭a‬ ‭rádio,‬
‭pedindo‬‭para‬‭falar‬‭que‬‭espera‬‭algum‬‭parente,‬‭dá‬‭um‬‭recado.‬‭É‬‭bom‬‭porque‬‭dá‬‭acesso‬
‭e‬ ‭é‬ ‭um‬ ‭modo‬ ‭de‬ ‭ajudar‬‭a‬‭quem‬‭está‬‭longe,‬‭então‬‭o‬‭rádio‬‭está‬‭em‬‭todo‬‭lugar,‬‭isto‬‭é‬‭o‬
‭mais bacana!” (vide anexo 19).‬
‭Quem‬ ‭participa‬ ‭do‬ ‭quadro‬ ‭Secretária‬ ‭Eletrônica‬ ‭ainda‬ ‭concorre‬ ‭a‬ ‭prêmios‬ ‭de‬
‭patrocinadores‬‭do‬‭programa.‬‭O‬‭trecho‬‭observado‬‭mostra‬‭a‬‭reclamação‬‭de‬‭uma‬‭ouvinte‬
‭que mora em uma comunidade rural:‬

‭ uvinte:‬ ‭“Bom‬ ‭dia‬ ‭Evil‬ ‭Mendonça,‬ ‭aqui‬ ‭quem‬ ‭fala‬ ‭é‬ ‭Adriangela,‬ ‭nós‬ ‭da‬
O
‭comunidade‬‭de‬‭São‬‭Domingos‬‭queremos‬‭fazer‬‭uma‬‭reclamação‬‭sobre‬‭a‬‭médica‬
‭que‬‭atende‬‭no‬‭posto‬‭de‬‭saúde‬‭de‬‭São‬‭Domingos.‬‭Quem‬‭nos‬‭atende‬‭é‬‭a‬‭doutora‬
‭Advânia‬ ‭Marge.‬ ‭Evil,‬ ‭nós‬ ‭estamos‬ ‭sem‬ ‭médico‬ ‭já‬ ‭faz‬ ‭um‬ ‭mês,‬ ‭nós‬ ‭temos‬
‭ édico‬ ‭uma‬ ‭vez‬ ‭por‬ ‭semana.‬ ‭Evil,‬ ‭já‬ ‭que‬ ‭a‬ ‭doutora‬ ‭Advânia‬ ‭Marge‬ ‭não‬ ‭pode‬
m
‭vim,‬ ‭coloca‬‭outro‬‭médico‬‭no‬‭lugar‬‭dela,‬‭porque‬‭sem‬‭médico‬‭nós‬‭não‬‭podemos‬
‭ficar,‬ ‭nós‬ ‭moramos‬ ‭na‬ ‭roça,‬ ‭como‬ ‭que‬ ‭fica‬‭a‬‭nossa‬‭situação?‬‭Evil,‬‭obrigado‬‭e‬
‭um bom dia pra você”‬
‭Apresentador‬ ‭(Evil):‬ ‭“É‬ ‭né,‬ ‭Adriangela,‬ ‭um‬ ‭abraço‬ ‭pro‬ ‭pessoal‬ ‭de‬ ‭São‬
‭Domingos.‬ ‭Poxa,‬ ‭aí‬ ‭é‬ ‭roça‬ ‭né,‬ ‭é‬ ‭interior,‬ ‭e‬ ‭ela‬ ‭está‬ ‭reclamando‬ ‭que‬ ‭a‬‭doutora‬
‭Advânia‬ ‭Marge‬ ‭não‬ ‭atende‬ ‭no‬ ‭posto‬ ‭de‬ ‭lá‬ ‭há‬ ‭mais‬ ‭de‬ ‭um‬ ‭mês.‬ ‭O‬ ‭que‬ ‭está‬
‭acontecendo‬ ‭aí‬ ‭no‬ ‭posto‬ ‭de‬ ‭São‬ ‭Domingos?‬ ‭Olha,‬ ‭o‬ ‭Adriangela‬ ‭vamos‬
‭encaminhar‬‭imediatamente‬‭essa‬‭sua‬‭colocação‬‭para‬‭quem‬‭é‬‭de‬‭direito‬‭e‬‭vamos‬
‭ver‬ ‭quem‬ ‭pode‬ ‭resolver‬ ‭este‬‭problema,‬‭está‬‭bom‬‭querida!‬‭Um‬‭abraço‬‭a‬‭você‬‭e‬
‭pode‬‭ter‬‭certeza‬‭que‬‭não‬‭vai‬‭demorar‬‭muito!‬‭Vou‬‭encaminhar‬‭hoje‬‭ainda‬‭para‬‭o‬
‭pessoal!”‬‭7‬

‭ vocação regional do rádio o torna forte e socialmente relevante, mesmo com a sedução dos‬
A
‭novos meios digitais. O que constitui seu contexto local de comunicação é o diálogo com a‬
‭comunidade, que é quem essencialmente dá a diretriz para o desejo de notícias das emissoras. O‬
‭ouvinte é o pauteiro, a audiência é a responsável pelo conteúdo da programação. É preciso, no‬
‭entanto, que mesmo sendo rádios comerciais, reforcem o caráter de utilidade pública do veículo e‬
‭resgatem o papel cultural por ele já exercido. O meio também necessita explorar as‬
‭possibilidades oferecidas pelo rádio como abrangência e mobilização do público para estimular a‬
‭cidadania.‬
‭Pelo exemplo percebe-se o que a população necessita. Os pedidos que chegam nas estações‬
‭variam de solicitação para internação hospitalar, pedidos de medicamentos, móveis até prótese‬
‭dentária e óculos. A responsabilidade não é da emissora, porém ela serve como mediadora destes‬
‭pedidos, já que na maioria das vezes, o ouvinte a vê como única ponte para solucionar seus‬
‭problemas.‬
‭Em entrevista (vide anexo 15), o diretor de Jornalismo da Rádio Panorama FM, de Juiz de Fora‬
‭(MG), Marcelo Pacífico, diz que acredita que isso acontece pela força do rádio e também pela‬
‭credibilidade e confiança que leva à essas pessoas. “Os ouvintes encaram o rádio mesmo como‬
‭um porta-voz, é aquele que está representando a comunidade, representando aquela cidade e eles‬
‭acham que a gente falando a atendimento será mais rápido. É a credibilidade do rádio e eles têm‬
‭essa confiança na gente”.‬
‭O‬ ‭ouvinte‬ ‭tem‬ ‭em‬ ‭seu‬ ‭universo‬ ‭gostos,‬ ‭preferências‬ ‭e‬ ‭anseios.‬ ‭Procura‬ ‭no‬ ‭rádio‬ ‭um‬
‭canal‬ ‭para‬ ‭ter‬ ‭as‬ ‭necessidades‬ ‭atendidas‬ ‭já‬ ‭que‬ ‭este‬ ‭lhe‬ ‭confere‬ ‭um‬ ‭forte‬ ‭aspecto‬
‭comunitário.‬ ‭Muitos‬ ‭ouvintes‬ ‭já‬ ‭tem‬ ‭participação‬ ‭cativa‬ ‭nos‬ ‭programas‬ ‭populares‬ ‭e‬
‭costumam‬‭ligar‬‭não‬‭só‬‭para‬‭reclamar,‬‭mas‬‭também‬‭para‬‭informar‬‭sobre‬‭eventos‬‭locais,‬
‭como‬ ‭por‬‭exemplo,‬‭a‬‭eleição‬‭para‬‭presidente‬‭das‬‭associações‬‭de‬‭bairros.‬‭O‬‭ouvinte‬‭é‬
‭quem‬‭muitas‬‭vezes‬‭faz‬‭a‬‭pauta.‬‭É‬‭ele‬‭quem‬‭liga,‬‭reclama,‬‭agradece,‬‭narra‬‭o‬‭problema‬
‭de‬ ‭sua‬ ‭comunidade,‬ ‭mas,‬ ‭a‬ ‭participação‬ ‭do‬ ‭ouvinte‬ ‭não‬ ‭deve‬ ‭ser‬ ‭limitada‬ ‭a‬
‭simplesmente‬‭ser‬‭ouvido.‬‭Antes‬‭de‬‭ser‬‭um‬‭ouvinte,‬‭o‬‭reclamante‬‭é‬‭um‬‭contribuinte,‬‭um‬
‭cidadão de Muriaé e espera do veículo e de quem o ouve um retorno e credibilidade.‬
‭Em‬ ‭síntese,‬ ‭vê-se‬ ‭a‬ ‭responsabilidade‬ ‭que‬ ‭o‬ ‭meio‬ ‭rádio‬ ‭possui,‬ ‭quando‬ ‭ocorre‬ ‭o‬
‭estabelecimento‬ ‭de‬ ‭uma‬ ‭identidade‬ ‭comunicativa‬ ‭entre‬ ‭emissor‬ ‭da‬ ‭mensagem‬
‭radiofônica e receptor.‬
‭ .2 Influência da prestação de serviços‬
3
‭Uma‬ ‭das‬ ‭principais‬ ‭obrigações‬ ‭do‬ ‭veículo‬ ‭rádio‬ ‭como‬ ‭parte‬ ‭da‬ ‭concessão‬ ‭de‬
‭transmissão,‬ ‭é‬ ‭a‬ ‭prestação‬ ‭de‬ ‭serviços‬ ‭à‬ ‭população.‬ ‭Possivelmente,‬ ‭trata-se‬ ‭da‬
‭característica‬ ‭que‬ ‭mais‬ ‭o‬ ‭diferencia‬ ‭das‬ ‭demais‬ ‭mídias.‬ ‭De‬ ‭acordo‬ ‭com‬ ‭Chantler‬ ‭e‬
‭Harris‬ ‭(1992,‬ ‭p.‬ ‭11)‬ ‭“essa‬ ‭prestação‬ ‭de‬ ‭serviços‬ ‭não‬‭é‬‭simplesmente‬‭falar‬‭do‬‭trânsito‬
‭ou‬‭dar‬‭a‬‭previsão‬‭do‬‭tempo.‬‭É‬‭principalmente‬‭apresentar‬‭fatos‬‭e‬‭idéias‬‭que‬‭contribuam‬
‭para‬ ‭prática‬ ‭cotidiana‬‭da‬‭cidadania.”‬‭Este‬‭é‬‭um‬‭motivo‬‭que‬‭leva‬‭o‬‭rádio‬‭a‬‭permanecer‬
‭até‬‭hoje‬‭em‬‭meio‬‭a‬‭tantas‬‭revoluções‬‭tecnológicas.‬‭Aliando-se‬‭às‬‭mudanças‬‭midiáticas,‬
‭o rádio não perdeu a função de ser o porta-voz de uma comunidade.‬
‭Maria Coimbra Eliseu, 65 anos, dona de casa, às 6 horas da manhã já está com o aparelho de‬
‭rádio ligado e afirma que a rádio ajuda em todos os pontos, “pelo rádio a gente sabe das notícias,‬
‭o que acontece nos outros bairros da cidade, a reportagem dos bairros é muito interessante, pois‬
‭assim fico sabendo de tudo o que acontece na minha cidade.” (vide anexo 19). A ouvinte sabe o‬
‭que quer ouvir e os emissores da informação radiofônica sabem o que ela precisa. Quando este‬
‭laço de confiança é bem definido consolida-se a interatividade entre transmissor e receptor. A‬
‭confiança na transmissão radiofônica produz uma expectativa natural nos ouvintes, que sempre‬
‭esperam a notícia para ter certeza do fato e conduzirem seus atos no dia-a-dia.‬
‭Foi‬ ‭a‬‭vantagem‬‭de‬‭atingir‬‭o‬‭ouvinte‬‭no‬‭momento‬‭exato‬‭em‬‭que‬‭o‬
‭fato‬ ‭acontece‬ ‭que‬ ‭deu‬ ‭ao‬ ‭rádio‬ ‭o‬ ‭privilégio‬ ‭de‬ ‭prestar‬ ‭serviços.‬
‭Ficou‬ ‭para‬ ‭trás‬ ‭o‬ ‭veículo‬ ‭que‬ ‭dependia‬ ‭de‬ ‭um‬ ‭e‬ ‭outro‬‭elemento‬
‭responsáveis‬ ‭pela‬ ‭audiência.‬ ‭Consolidou-se‬ ‭um‬ ‭novo‬ ‭rádio‬ ‭–‬ ‭o‬
‭rádio‬ ‭dependente‬ ‭de‬ ‭toda‬ ‭uma‬ ‭equipe‬ ‭–‬ ‭que‬ ‭conquistou‬
‭definitivamente‬ ‭um‬ ‭lugar‬ ‭de‬ ‭honra‬ ‭na‬ ‭comunicação‬ ‭social‬
‭(PORCHAT, 1989, p.18).‬

‭ ‬ ‭essa‬ ‭“prestação‬ ‭de‬ ‭serviço”‬ ‭ao‬ ‭público,‬ ‭à‬ ‭cidade,‬ ‭deve‬ ‭ser‬ ‭exercido‬ ‭com‬ ‭muito‬
E
‭cuidado,‬‭com‬‭bom‬‭senso,‬‭para‬‭não‬‭impor‬‭ao‬‭ouvinte,‬‭o‬‭que‬‭se‬‭acha‬‭que‬‭ele‬‭deve‬‭ouvir,‬
‭mas‬ ‭com‬ ‭a‬ ‭mesma‬ ‭sensibilidade‬ ‭para‬ ‭saber‬ ‭identificar‬ ‭e‬ ‭veicular‬ ‭aquilo‬ ‭que‬ ‭pode‬
‭auxiliar as pessoas a exercerem melhor sua cidadania.‬
‭Notícias‬‭sobre‬‭as‬‭condições‬‭das‬‭estradas‬‭e‬‭do‬‭tempo,‬‭aumento‬‭do‬‭preço‬‭do‬‭gás‬‭ou‬‭da‬
‭energia,‬ ‭como‬ ‭cadastrar‬ ‭a‬ ‭criança‬ ‭na‬ ‭escola,‬ ‭qual‬ ‭o‬ ‭dia‬ ‭do‬ ‭pagamento‬ ‭do‬ ‭benefício‬
‭social,‬ ‭como‬ ‭cadastrar‬ ‭documentos,‬ ‭são‬ ‭matérias‬ ‭do‬ ‭cotidiano‬ ‭que‬ ‭o‬ ‭cidadão‬ ‭espera‬
‭ser‬ ‭noticiado‬ ‭pelo‬ ‭rádio.‬ ‭Mas‬ ‭há‬ ‭outras‬‭informações‬‭também‬‭que‬‭ele‬‭precisa‬‭saber‬‭e,‬
‭pela‬ ‭falta‬ ‭de‬ ‭condição‬ ‭financeira‬ ‭ou‬ ‭de‬ ‭escolaridade,‬ ‭não‬ ‭pode‬ ‭ter,‬ ‭e‬ ‭procura‬ ‭obter‬
‭através da radiofonia.‬
‭Um‬ ‭exemplo‬ ‭é‬ ‭o‬ ‭quadro‬ ‭“A‬ ‭justiça‬ ‭ao‬ ‭seu‬ ‭alcance”‬ ‭do‬ ‭Programa‬ ‭Júlio‬ ‭Soares,‬
‭transmitido‬ ‭sempre‬ ‭às‬ ‭quartas-feiras‬ ‭na‬ ‭Rádio‬ ‭Atividade.‬ ‭São‬ ‭dez‬ ‭minutos‬ ‭que‬ ‭se‬
‭ocupam‬‭de‬‭questões‬‭que‬‭constituem‬‭em‬‭respostas‬‭que‬‭levam‬‭à‬‭população‬‭a‬‭noção‬‭de‬
‭uma‬ ‭área‬ ‭de‬ ‭pouco‬ ‭conhecimento‬ ‭do‬ ‭homem‬ ‭comum,‬ ‭o‬‭Direito.‬‭E‬‭as‬‭perguntas‬‭mais‬
‭constantes‬ ‭são‬ ‭a‬ ‭respeito‬ ‭de‬ ‭direito‬ ‭de‬‭família‬‭e‬‭ações‬‭trabalhistas,‬‭questões‬‭básicas‬
‭para o prosseguimento da vida em sociedade.‬
‭Ao ser perguntado em entrevista (vide anexo 16) se essa característica de serviços ao cidadão‬
‭tornaria as pessoas mais dependentes do rádio, Júlio Soares, comunicador há 28 anos em Muriaé,‬
‭diz que essa influência do rádio é boa para ambas as partes. “Para nós é bom, porque você passa‬
‭a ter credibilidade, para eles‬‭(os ouvintes)‬‭também,‬‭porque às vezes eles têm medo de chegar‬
p‭ erto do prefeito e falar alguma coisa, têm medo de falar com o delegado, com um policial, e‬
‭com a gente eles não têm, nós somos parte da família, nós entramos na casa deles todo dia e toda‬
‭hora!”‬
‭Para tanto, os comunicadores devem refletir continuamente e com cuidado sobre seu trabalho. O‬
‭diálogo franco com a comunidade, que expresse e tenha uma relação de interatividade com o‬
‭público é o canal de prestação de serviços à sociedade.‬
‭A‬‭primeira‬‭aplicação‬‭prática‬‭do‬‭rádio‬‭–‬‭na‬‭época‬‭radiotelegrafia‬‭–‬
‭foi‬ ‭a‬ ‭comunicação‬ ‭entre‬ ‭navios‬ ‭e‬ ‭terra.‬ ‭Ainda‬ ‭sem‬ ‭voz,‬ ‭a‬
‭transmissão‬ ‭feita‬ ‭pelas‬ ‭ondas‬ ‭sonoras‬ ‭significaram‬ ‭rapidez‬ ‭e‬
‭eficiência‬‭no‬‭salvamento‬‭de‬‭vidas‬‭e‬‭propriedades‬‭no‬‭mar.‬‭Isto‬‭faz‬
‭quase‬ ‭um‬ ‭século.‬ ‭Hoje‬ ‭o‬ ‭rádio‬ ‭moderno,‬ ‭tecnicamente‬
‭sofisticado,‬ ‭companhia‬ ‭do‬ ‭indivíduo‬ ‭em‬ ‭qualquer‬ ‭situação,‬ ‭tem‬
‭que‬‭ser‬‭também‬‭grande‬‭prestador‬‭de‬‭serviços.‬‭(PORCHAT,‬‭1989,‬
‭p.15-16)‬

‭ colaboração de associações de bairros, de clubes de serviço, de entidades filantrópicas e de‬


A
‭cultura, de instituições religiosas, empresas públicas e privadas resulta em notícias fundamentais‬
‭para o processo de construção da informações e serviços nas comunidades. A equipe de‬
‭reportagem faz o acompanhamento dos trabalhos dos prestadores de serviços, com ligações para‬
‭a delegacia, postos rodoviários, defesa civil, hospitais, e bombeiros, além de outros órgãos‬
‭públicos e privados que fornecem informação de interesse à toda a população. No entanto, os‬
‭casos mais graves devem ser levados à chefia de reportagem para delegar uma apuração mais‬
‭detalhada. (BARBEIRO; LIMA. 2001, p.103).‬
‭O rádio, por sua própria natureza de prestador de serviços e canal de notícias imediatas e em‬
‭tempo real, a cada dia, ao invés de acabar (conforme muitos acreditavam), mantém-se na‬
‭vanguarda dos meios de comunicação de massa, proporcionando aos‬‭cidadãos-ouvintes‬‭serviços‬
‭e informações eficazes para o desenvolvimento no cotidiano das organizações e das sociedades.‬
‭A‬‭estrutura‬‭do‬‭Estado‬‭no‬‭Brasil‬‭ainda‬‭caminha‬‭para‬‭resolver‬‭os‬‭agonizantes‬‭problemas‬
‭sociais‬ ‭do‬ ‭País.‬ ‭A‬ ‭mídia‬ ‭radiofônica,‬ ‭pelo‬ ‭seu‬ ‭poder‬ ‭de‬ ‭inclusão‬ ‭e‬ ‭por‬ ‭ser‬ ‭uma‬
‭concessão‬‭governamental‬‭na‬‭prestação‬‭de‬‭serviços‬‭à‬‭sociedade‬‭8‭,‬ ‬‭deve‬‭sempre‬‭ser‬‭um‬
‭colaborador‬‭e‬‭parceiro‬‭para‬‭que‬‭juntos‬‭–‬‭Estado‬‭e‬‭Mídia‬‭–‬‭promovam‬‭a‬‭transformação‬
‭social e o exercício da cidadania.‬
‭4. O Discurso Radiofônico – o consultório no ar‬
‭“‬‭É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito.”‬
‭Albert Einstein‬

‭ m‬ ‭dos‬ ‭mais‬ ‭populares‬ ‭quadros‬ ‭de‬ ‭rádio‬ ‭AM‬ ‭são‬ ‭as‬ ‭conversas‬‭com‬‭terapeutas,‬‭que‬
U
‭falam‬ ‭sobre‬ ‭a‬ ‭alma‬ ‭humana.‬ ‭Famosos‬ ‭por‬ ‭ajudar‬ ‭não‬ ‭somente‬ ‭um‬ ‭ouvinte,‬ ‭mas‬ ‭a‬
‭muitos‬ ‭que‬ ‭têm‬ ‭vergonha‬ ‭de‬ ‭se‬ ‭expor,‬ ‭os‬ ‭quadros‬ ‭geram‬ ‭polêmicas,‬ ‭mas,‬ ‭travam‬
‭discussões‬ ‭que‬ ‭auxiliam‬ ‭a‬ ‭divulgação‬ ‭e‬ ‭solução‬ ‭de‬ ‭problemas‬ ‭familiares‬ ‭do‬‭cidadão.‬
‭Além‬ ‭disso,‬ ‭é‬ ‭um‬ ‭trabalho‬ ‭social‬ ‭importante‬ ‭porque‬ ‭é‬ ‭educativo,‬ ‭informativo‬ ‭e‬
‭transformador‬‭para‬‭aquelas‬‭pessoas‬‭que‬‭não‬‭tem‬‭acesso‬‭a‬‭um‬‭consultório‬‭psicológico‬
‭que‬ ‭pode‬ ‭ser‬ ‭muito‬ ‭caro‬ ‭e‬ ‭às‬ ‭vezes‬ ‭inatingível‬‭no‬‭serviço‬‭de‬‭saúde‬‭pública.‬‭Pode-se‬
‭dizer que é um formato bem aceito.‬
‭Como‬ ‭exemplo,‬ ‭a‬ ‭análise‬ ‭feita‬ ‭é‬ ‭do‬ ‭quadro‬ ‭“Pesquisa‬ ‭do‬ ‭Dia”,‬ ‭do‬ ‭Programa‬ ‭Evil‬
‭Mendonça‬ ‭da‬ ‭Rádio‬ ‭Muriaé.‬ ‭A‬ ‭produção‬ ‭conta‬ ‭com‬ ‭a‬‭participação‬‭de‬‭uma‬‭psicóloga,‬
‭Margarida‬‭Vargas,‬‭conhecida‬‭do‬‭público‬‭com‬‭o‬‭pseudônimo‬‭de‬‭Goza,‬‭do‬‭apresentador‬
‭do‬ ‭programa‬ ‭Evil‬ ‭Mendonça‬ ‭e‬ ‭dos‬ ‭ouvintes,‬ ‭que‬ ‭ligam‬ ‭para‬ ‭a‬ ‭emissora‬ ‭e‬ ‭participam‬
‭com‬ ‭relatos‬ ‭sobre‬ ‭o‬ ‭tema‬ ‭apresentado.‬ ‭A‬ ‭atração‬ ‭é‬ ‭precedida‬ ‭de‬ ‭uma‬ ‭pesquisa,‬
‭coloca-se‬ ‭uma‬ ‭pergunta,‬ ‭que‬ ‭em‬ ‭geral‬ ‭se‬ ‭relaciona‬ ‭com‬ ‭a‬ ‭realidade‬ ‭da‬ ‭cidade‬ ‭e‬ ‭da‬
‭vida‬ ‭social‬ ‭das‬ ‭pessoas,‬ ‭e‬ ‭os‬ ‭ouvintes‬ ‭ligam‬ ‭e‬ ‭emitem‬ ‭a‬ ‭opinião‬ ‭sobre‬ ‭temas‬
‭pertinentes‬ ‭e‬‭atuais.‬‭A‬‭psicóloga‬‭interage‬‭com‬‭os‬‭ouvintes,‬‭analisando‬‭os‬‭relatos‬‭e‬‭no‬
‭aconselhamento,‬ ‭de‬ ‭forma‬ ‭simples‬ ‭para‬ ‭ser‬ ‭entendido‬ ‭e‬ ‭compreendido‬ ‭por‬ ‭todos‬ ‭os‬
‭ouvintes.‬ ‭De‬ ‭acordo‬ ‭com‬ ‭o‬ ‭observado,‬ ‭o‬ ‭quadro‬ ‭incentiva‬ ‭a‬ ‭reflexão,‬ ‭motiva‬ ‭o‬
‭envolvimento,‬ ‭educa,‬ ‭informa,‬ ‭democratiza‬ ‭conhecimentos‬ ‭e‬ ‭promove‬‭a‬‭comunicação‬
‭entre as pessoas.‬
‭Mais‬ ‭à‬ ‭frente‬ ‭observa-se‬‭que‬‭o‬‭ouvinte‬‭de‬‭um‬‭quadro‬‭de‬‭debates‬‭ocupa‬‭uma‬‭posição‬
‭privilegiada,‬ ‭ou‬ ‭seja,‬ ‭a‬ ‭emissão‬ ‭de‬‭sua‬‭voz‬‭para‬‭a‬‭análise‬‭da‬‭psicóloga‬‭do‬‭quadro‬‭do‬
‭programa‬ ‭radiofônico,‬ ‭o‬ ‭locutor‬ ‭e‬ ‭os‬ ‭milhares‬ ‭de‬ ‭ouvintes,‬‭constróem‬‭uma‬‭linguagem‬
‭que cria identificação com outros ouvintes.‬
‭Este‬ ‭ouvinte‬ ‭que‬ ‭está‬ ‭em‬ ‭casa,‬ ‭no‬ ‭trabalho,‬ ‭ou‬ ‭em‬ ‭qualquer‬ ‭outro‬ ‭lugar,‬ ‭e‬ ‭que‬ ‭no‬
‭momento‬‭da‬‭transmissão‬‭se‬‭assemelha‬‭com‬‭o‬‭relato‬‭daquele‬‭ouvinte‬‭que‬‭ligou‬‭para‬‭a‬
‭rádio, pode identificar-se com ele. Observe um trecho do quadro analisado:‬
‭ uvinte‬ ‭participante‬ ‭do‬ ‭quadro:‬ ‭(...)‬ ‭até‬ ‭de‬‭um‬‭cachorrinho‬‭do‬‭tamanho‬‭de‬‭um‬
O
‭rato eu tenho medo (...)‬‭9‬

‭ uando‬‭apenas‬‭um‬‭ouvinte‬‭tem‬‭coragem‬‭de‬‭dizer‬‭que‬‭tem‬‭medo‬‭de‬‭um‬‭cachorrinho‬‭do‬
Q
‭tamanho‬ ‭de‬ ‭um‬ ‭rato‬‭,‬ ‭aquele‬ ‭ouvinte‬ ‭que‬ ‭participa‬ ‭indiretamente,‬ ‭(em‬ ‭pleno‬ ‭sentido‬
‭denotativo,‬‭apenas‬‭ouve)‬‭e‬‭se‬‭assemelha‬‭com‬‭essa‬‭condição,‬‭atribui‬‭mais‬‭atenção‬‭ao‬
‭que‬ ‭é‬ ‭dito‬ ‭no‬ ‭rádio‬ ‭e‬ ‭cria‬ ‭a‬ ‭identificação.‬ ‭Este‬ ‭ouvinte‬ ‭acaba‬ ‭se‬ ‭tornando‬ ‭porta-voz‬
‭destas‬ ‭camadas‬ ‭populares.‬ ‭Neste‬ ‭caso‬ ‭percebe-se‬ ‭a‬ ‭função‬ ‭social‬ ‭desse‬ ‭veículo‬ ‭de‬
‭comunicação‬‭no‬‭exercício‬‭comunitário,‬‭que‬‭cumpre‬‭o‬‭papel‬‭de‬‭construtor‬‭da‬‭cidadania,‬
‭proporcionando‬ ‭não‬ ‭somente‬ ‭à‬ ‭uma‬ ‭pessoa‬ ‭conhecimento‬ ‭sobre‬ ‭um‬ ‭determinado‬
‭assunto,‬ ‭mas‬ ‭muitas‬ ‭outras,‬ ‭em‬ ‭suas‬ ‭casas,‬ ‭encontrem‬ ‭a‬ ‭solução‬ ‭de‬‭problemas‬‭que‬
‭isolados não resolveriam.‬
‭Neste‬ ‭quadro‬ ‭a‬ ‭psicóloga‬ ‭procura‬ ‭entender‬ ‭o‬ ‭que‬ ‭conta‬ ‭o‬ ‭ouvinte‬ ‭participante.‬ ‭A‬
‭profissional‬ ‭percebe‬ ‭a‬ ‭necessidade‬ ‭da‬ ‭pessoa‬ ‭e,‬ ‭assim,‬ ‭emite‬ ‭um‬ ‭diagnóstico‬ ‭–‬ ‭um‬
‭conselho.‬‭Procura‬‭não‬‭impor‬‭regras,‬‭normas‬‭e‬‭nem‬‭condutas‬‭e‬‭sim‬‭oferece‬‭a‬‭maneira‬
‭sobre‬‭a‬‭qual‬‭o‬‭ouvinte‬‭deve‬‭agir‬‭para‬‭a‬‭solução‬‭do‬‭problema‬‭apresentado.‬‭É‬‭o‬‭modo‬‭de‬
‭ação educativa que oferece o veículo rádio, e que faz parte de sua função social.‬
‭A‬ ‭partir‬ ‭da‬ ‭observação‬ ‭realizada,‬ ‭pode-se‬ ‭verificar‬ ‭que‬ ‭o‬ ‭programa‬ ‭apresenta‬
‭informações‬ ‭relacionadas‬ ‭ao‬ ‭cotidiano‬ ‭e‬ ‭à‬ ‭atualidade:‬ ‭assuntos‬ ‭de‬ ‭telenovelas‬
‭associando‬ ‭problemas‬ ‭da‬‭dramaturgia‬‭com‬‭a‬‭realidade,‬‭como‬‭depressão,‬‭fobia‬‭social,‬
‭alcoolismo‬ ‭e‬ ‭drogas.‬ ‭O‬‭quadro‬‭enfatiza‬‭também‬‭sobre‬‭relacionamento‬‭familiar,‬‭saúde,‬
‭violência,‬ ‭justiça,‬ ‭entre‬ ‭outros.‬ ‭É‬ ‭a‬ ‭capacidade‬ ‭que‬ ‭este‬‭programa‬‭possui‬‭de‬‭traduzir,‬
‭de‬‭maneira‬‭compreensível,‬‭as‬‭experiências‬‭vividas‬‭pelas‬‭diversas‬‭classes‬‭sociais.‬‭Mas‬
‭a‬ ‭necessidade‬ ‭ou‬ ‭o‬ ‭interesse‬ ‭está‬ ‭fundamentado‬ ‭na‬ ‭experiência‬ ‭do‬ ‭cotidiano‬ ‭das‬
‭classes‬ ‭populares,‬ ‭onde‬‭as‬‭situações‬‭são‬‭comuns,‬‭mas‬‭muitas‬‭vezes‬‭não‬‭merecem‬‭a‬
‭devida atenção governamental.‬
‭Pela‬‭análise,‬‭é‬‭sentido‬‭o‬‭sucesso‬‭que‬‭o‬‭quadro‬‭do‬‭programa‬‭obtém‬‭perante‬‭um‬‭público‬
‭que‬‭é,‬‭ao‬‭mesmo‬‭tempo,‬‭objeto‬‭e‬‭sujeito.‬‭O‬‭quadro‬‭trabalha‬‭a‬‭promoção‬‭da‬‭cidadania,‬
‭da‬ ‭igualdade‬ ‭e‬ ‭do‬ ‭bem-estar‬ ‭comunitário,‬ ‭envolvendo‬ ‭apresentador,‬ ‭psicólogo,‬ ‭e‬
‭ouvintes.‬‭O‬‭ambiente‬‭radiofônico,‬‭que‬‭tem‬‭natureza‬‭interativa,‬‭torna-se‬‭por‬‭sua‬‭própria‬
‭função, agente multiplicador de conhecimento e cidadania.‬

‭5. A PROGRAMAÇÃO‬
“‭ ‬‭A atividade radiofônica é participação popular e‬‭um processo facilitador da‬
‭autopromoção humana.”‬

‭PERUZZO‬

‭ ‬ ‭programação‬ ‭é‬ ‭o‬ ‭conjunto‬ ‭organizado‬ ‭das‬ ‭transmissões‬ ‭de‬ ‭uma‬ ‭emissora,‬
A
‭constituindo-se‬ ‭no‬ ‭fator‬ ‭básico‬ ‭de‬ ‭diferenciação‬ ‭de‬ ‭uma‬ ‭rádio‬ ‭em‬ ‭relação‬ ‭à‬ ‭outra.‬
‭Quem‬ ‭objetiva‬ ‭um‬ ‭certo‬ ‭posicionamento‬ ‭no‬ ‭mercado‬ ‭pode‬ ‭adotar,‬ ‭conforme‬ ‭a‬
‭necessidade,‬ ‭um‬ ‭tipo‬ ‭ou‬ ‭outro‬ ‭de‬ ‭planejamento‬ ‭das‬ ‭suas‬ ‭emissões.‬‭(FERRARETTO,‬
‭2000,‬ ‭p.59).‬ ‭A‬ ‭programação‬ ‭das‬ ‭emissoras‬ ‭de‬ ‭Muriaé‬ ‭possuem‬ ‭a‬ ‭forma‬‭de‬‭Mosaico,‬
‭conforme definição de Ferraretto no livro‬‭Rádio: o‬‭veículo, a história e a técnica‬‭:‬
‭ onstituindo-se‬ ‭em‬ ‭um‬ ‭conjunto‬ ‭eclético‬ ‭de‬ ‭programas,‬
C
‭extremamente‬ ‭variados‬ ‭e‬ ‭diferenciados,‬ ‭a‬ ‭programação‬ ‭em‬
‭mosaico‬ ‭é‬ ‭comum‬ ‭em‬ ‭emissoras‬ ‭de‬ ‭mercado‬ ‭menos‬
‭desenvolvidos.‬‭Há,‬‭de‬‭certo‬‭modo,‬‭neste‬‭caso,‬‭uma‬‭segmentação‬
‭de‬ ‭horários.‬ ‭Em‬ ‭geral,‬ ‭entre‬ ‭6‬ ‭e‬ ‭8h,‬ ‭ocorrem‬ ‭emissões‬ ‭para‬ ‭um‬
‭público‬ ‭bem‬ ‭genérico‬ ‭com‬ ‭informações‬ ‭para‬ ‭quem‬ ‭está‬
‭acordando,‬ ‭entremeadas,‬ ‭com‬ ‭freqüência,‬ ‭por‬ ‭músicas.‬ ‭Na‬
‭seqüência,‬ ‭entram‬ ‭programas‬ ‭jornalísticos‬ ‭abordando‬ ‭os‬
‭principais‬‭fatos‬‭do‬‭município‬‭e‬‭da‬‭região,‬‭voltados‬‭aos‬‭formadores‬
‭locais‬ ‭de‬ ‭opinião.‬ ‭Parte‬ ‭da‬ ‭manhã‬ ‭ou‬ ‭da‬ ‭tarde,‬ ‭no‬ ‭entanto,‬ ‭é‬
‭preenchida‬ ‭com‬ ‭comunicadores‬ ‭popularescos‬ ‭com‬ ‭a‬ ‭emissora‬
‭procurando‬ ‭atingir,‬ ‭deste‬ ‭modo,‬ ‭as‬ ‭classes‬ ‭C‬ ‭e‬ ‭D.‬ ‭Além‬ ‭disto,‬‭a‬
‭programação‬ ‭pode‬ ‭incluir‬ ‭transmissões‬ ‭esportivas‬ ‭locais.‬
‭(FERRARETO, 2000, p.59-60)‬

‭ as o essencial é que a programação seja atraente e com substância de conteúdos. Nas emissoras‬
M
‭de Muriaé estudadas neste trabalho, os programas de maior audiência, e que ocupam o horário‬
‭nobre de emissão radiofônica, de 8 às 13 horas, têm características semelhantes de acordo com a‬
‭definição de Ferraretto:‬
‭Radiorrevista‬ ‭ou‬ ‭programa‬ ‭de‬ ‭variedades:‬ ‭Na‬ ‭realidade,‬ ‭a‬
‭radiorrevista‬ ‭ou‬ ‭programa‬ ‭de‬ ‭variedades‬ ‭reúne‬ ‭aspectos‬
‭informativos‬ ‭e‬ ‭de‬ ‭entretenimento.‬ ‭Engloba‬ ‭da‬ ‭prestação‬ ‭de‬
‭serviços‬ ‭à‬ ‭execução‬ ‭de‬ ‭músicas,‬ ‭passando‬ ‭por‬ ‭temas‬
‭diversificados‬‭como‬‭notícias‬‭policiais‬‭sensacionalistas,‬‭horóscopo‬
‭ou‬‭entrevistas‬‭com‬‭atores‬‭e‬‭atrizes‬‭de‬‭telenovelas.‬‭Nas‬‭emissoras‬
‭dedicadas‬ ‭ao‬ ‭jornalismo,‬ ‭pode‬ ‭aparecer‬ ‭na‬ ‭forma‬ ‭de‬ ‭espaços‬
‭voltados‬ ‭à‬ ‭cultura‬ ‭e‬ ‭ao‬ ‭lazer,‬ ‭intercalados,‬ ‭algumas‬ ‭vezes,‬ ‭com‬
‭orientações‬ ‭nas‬ ‭áreas‬ ‭de‬‭Medicina‬‭ou‬‭de‬‭Direito.‬‭(FERRARETO,‬
‭2000, p.57)‬

‭ s programas analisados para este capítulo, por tratar da questão da cidadania no horário nobre‬
O
‭(Programa Júlio Soares e Programa Evil Mendonça) poderão ilustrar a questão da construção da‬
‭cidadania no rádio.‬
‭O Programa Júlio Soares vai ao ar pela Rádio Atividade desde janeiro de 2003. Antes o‬
‭apresentador produzia um programa na Rádio Muriaé. A troca de estação provocou algumas‬
‭mudanças no programa do popular comunicador, mas o básico é mantido – o conteúdo do‬
‭programa tem como meta a informação, a prestação de serviço e a credibilidade com o ouvinte.‬
‭Os elementos fundamentais são quadros de interesse da população e trazem a marca de‬
‭descontração do comunicador. O programa é transmitido de segunda a sexta-feira, no horário de‬
‭9 às 13 horas.‬
‭O programa inicia com a leitura de um conto com sentido moral. A abertura é composta por‬
‭manchetes das notícias nacionais e locais, com informações sobre as condições do tempo, das‬
‭estradas e dos movimentos nos hospitais. Intercaladas por diversas publicidades, há a inserção de‬
‭informações sobre documentos encontrados, vagas no Sistema Nacional de Emprego (SINE),‬
‭oportunidades e negócios, sobre vendas de objetos por pessoas, que não constituem comércio,‬
‭ as divulgam negócios de forma isolada, e também a agenda cultural.‬
m
‭Um‬ ‭quadro‬ ‭que‬ ‭chama‬ ‭atenção‬ ‭é‬‭“O‬‭povo‬‭com‬‭a‬‭palavra”.‬‭O‬‭ouvinte‬‭liga‬‭e‬‭deixa‬‭seu‬
‭recado,‬ ‭pode‬ ‭ser‬ ‭mensagens‬ ‭de‬ ‭felicitações,‬ ‭recados,‬ ‭pedidos‬ ‭e‬ ‭reclamações.‬ ‭O‬
‭apresentador‬‭afirma‬‭que‬‭o‬‭quadro‬‭é‬‭muito‬‭popular‬‭e‬‭procura‬‭intermediar‬‭o‬‭público‬‭e‬‭as‬
‭autoridades‬ ‭nas‬ ‭questões‬ ‭mais‬ ‭polêmicas:‬ ‭“Quando‬ ‭há‬ ‭uma‬ ‭reclamação‬ ‭de‬ ‭ouvinte‬
‭nesse‬ ‭quadro‬ ‭do‬ ‭O‬ ‭Povo‬ ‭com‬ ‭a‬‭Palavra‬‭,‬‭eu‬‭levo‬‭ao‬‭conhecimento‬‭do‬‭órgão‬‭atingido,‬
‭eu‬‭gosto‬‭de‬‭primeiro‬‭ouvir‬‭os‬‭dois‬‭lados,‬‭(...)‬‭eu‬‭não‬‭gosto‬‭de‬‭fazer‬‭imprensa‬‭marrom,‬
‭eu‬‭não‬‭gosto‬‭de‬‭fazer‬‭esse‬‭tipo‬‭de‬‭sacanagem‬‭com‬‭ninguém,‬‭então,‬‭quando‬‭tiver‬‭uma‬
‭coisa‬ ‭que‬ ‭atinge‬ ‭a‬ ‭secretaria‬ ‭de‬ ‭obras:‬ ‭‘‭O ‬ h,‬ ‭tem‬ ‭um‬ ‭problema‬ ‭assim‬ ‭assim,‬ ‭tão‬
‭reclamando‬‭aqui,‬‭o‬‭que‬‭faz‬‭pra‬‭resolver‬‭isso?‬‭’‬‭Então‬‭eu‬‭coloco‬‭o‬‭secretário‬‭explicando‬
‭depois e coloco o ouvinte primeiro fazendo a reclamação.”‬
‭O‬ ‭comunicador‬ ‭diz‬ ‭a‬ ‭que‬ ‭a‬ ‭responsabilidade‬ ‭da‬ ‭produção‬ ‭do‬ ‭programa‬ ‭é‬ ‭também‬
‭saber‬ ‭se‬ ‭o‬ ‭problema‬ ‭foi‬ ‭resolvido,‬ ‭mas‬‭tem‬‭que‬‭contar‬‭com‬‭a‬‭colaboração‬‭do‬‭ouvinte‬
‭que‬ ‭pode‬ ‭atuar‬ ‭como‬ ‭um‬ ‭fiscal‬ ‭para‬ ‭defender‬ ‭seus‬ ‭direitos.‬ ‭“Eu‬ ‭pergunto‬ ‭no‬ ‭ar:‬
‭‘‭Q ‬ uantos‬‭dias‬‭mais‬‭ou‬‭menos‬‭pra‬‭resolver?’‬‭“Ah,‬‭quinze‬‭dias‬‭resolve‬‭isso‬‭.”(responde‬‭o‬
‭representante‬ ‭do‬ ‭órgão‬ ‭público‬ ‭no‬ ‭ar)‬ ‭‘Ouvinte‬ ‭você‬ ‭ouviu‬ ‭aí,‬ ‭se‬ ‭não‬ ‭resolver‬ ‭você‬
‭volta a reclamar conosco.”‬
‭O programa de quatro horas de duração é um misto de entretenimento e informação. Os quadros‬
‭de‬‭Horóscopo‬‭e‬‭Babados e Boatos‬‭(fofocas do mundo‬‭artístico) constituem grande audiência ao‬
‭lado de informações que preenchem a maior parte do programa:‬

‭Grade do Noticiário‬
‭‬ N
● ‭ otícias da Redação (8h30, 9h30, 10h30 e 11h30);‬
‭●‬ ‭Momento Esportivo (8h30 e 10h30);‬
‭●‬ ‭Noticiário: Notícias nas horas cheias, com quatro minutos de duração (8h, 9h,‬
‭10h, 11h, 11h55, e 13h).‬

‭ á‬ ‭também‬ ‭notícias‬ ‭de‬ ‭prestação‬ ‭de‬ ‭serviço‬ ‭e‬ ‭utilidade‬ ‭pública‬‭intercaladas‬‭entre‬‭as‬


H
‭inserções comerciais.‬
‭Com‬ ‭o‬ ‭slogan‬ ‭“Sua‬ ‭manhã‬ ‭mais‬ ‭alegre‬ ‭com‬ ‭Júlio‬ ‭Soares”‬ ‭o‬ ‭programa‬ ‭traz‬ ‭o‬ ‭quadro‬
‭Agenda‬‭Cultural‬‭,‬‭inserido‬‭a‬‭quase‬‭todo‬‭momento‬‭com‬‭informação‬‭dos‬‭eventos‬‭culturais‬
‭que‬‭acontecem‬‭na‬‭cidade‬‭e‬‭região.‬‭É‬‭muito‬‭eclético‬‭e‬‭interessante,‬‭já‬‭que‬‭proporciona‬
‭ao‬ ‭cidadão‬ ‭muriaeense‬ ‭saber‬ ‭desde‬ ‭um‬ ‭show‬ ‭de‬ ‭rock‬ ‭até‬ ‭festas‬ ‭nas‬ ‭comunidades‬
‭rurais.‬
‭Outro‬ ‭quadro‬‭democrático‬‭e‬‭que‬‭possibilita‬‭ao‬‭cidadão‬‭conhecer‬‭os‬‭problemas‬‭sociais‬
‭do‬ ‭município‬ ‭é‬ ‭o‬ ‭PM‬ ‭Serviço,‬ ‭veiculado‬ ‭diariamente‬‭às‬‭10h20,‬‭com‬‭a‬‭participação‬‭de‬
‭um‬ ‭oficial‬ ‭da‬ ‭Polícia‬ ‭Militar‬ ‭com‬ ‭comentários‬ ‭das‬ ‭principais‬ ‭ocorrências‬ ‭policiais‬ ‭em‬
‭Muriaé‬‭e‬‭nos‬‭distritos.‬‭Júlio‬‭Soares‬‭conversa‬‭com‬‭o‬‭convidado‬‭que‬‭relata‬‭a‬‭ocorrência‬
‭de‬ ‭destaque‬ ‭do‬ ‭dia,‬ ‭com‬ ‭orientação‬ ‭para‬ ‭os‬ ‭ouvintes‬ ‭quanto‬ ‭à‬ ‭segurança,‬ ‭além‬ ‭de‬
‭divulgar‬ ‭o‬ ‭trabalho‬ ‭da‬ ‭Polícia.‬ ‭De‬ ‭maneira‬ ‭séria,‬ ‭porém‬ ‭informal‬ ‭e‬ ‭objetiva,‬
‭apresentador‬ ‭e‬ ‭convidado‬ ‭interagem‬ ‭nos‬ ‭comentários‬ ‭acerca‬ ‭do‬ ‭acontecimento‬
‭oferecendo‬ ‭ao‬ ‭cidadão‬ ‭muriaeense‬ ‭um‬ ‭poderoso‬ ‭instrumento‬ ‭de‬ ‭informação‬ ‭e‬
‭transformação coletiva.‬
‭Entre notícias, quadros informativos e de ajuda ao cidadão, descontração e entretenimento, um‬
p‭ arâmetro é seguido por Júlio Soares que comanda a equipe de repórteres: o imediatismo e a‬
‭versatilidade, para atingir ampla penetração social que o rádio usufrui:‬
‭O‬‭rádio‬‭como‬‭veículo‬‭de‬‭comunicação‬‭de‬‭imediato‬‭tem‬‭o‬‭principal‬
‭objetivo‬‭de‬‭ser‬‭um‬‭formador‬‭de‬‭opinião,‬‭então,‬‭através‬‭disso,‬‭nós‬
‭levamos‬ ‭a‬ ‭informação‬ ‭do‬ ‭que‬ ‭está‬ ‭acontecendo‬ ‭sempre‬ ‭em‬
‭primeira‬ ‭mão,‬ ‭quando‬ ‭a‬ ‭televisão‬ ‭procura‬ ‭editar‬ ‭e‬ ‭programar‬ ‭as‬
‭coisas,‬‭o‬‭rádio‬‭sai‬‭na‬‭frente‬‭com‬‭esse‬‭tipo‬‭de‬‭informação,‬‭porque‬
‭ele‬ ‭chega‬ ‭antes,‬ ‭então‬ ‭ele‬ ‭leva‬ ‭cultura‬ ‭e‬ ‭leva‬ ‭informação‬ ‭de‬
‭imediato‬ ‭para‬ ‭pessoa,‬ ‭então‬ ‭quem‬ ‭acompanha‬ ‭o‬ ‭rádio‬ ‭tem‬
‭sempre‬ ‭a‬ ‭informação‬ ‭antecipada‬ ‭e‬ ‭com‬ ‭certeza‬ ‭o‬ ‭ouvinte‬ ‭que‬
‭acompanha‬ ‭tem‬ ‭mais‬ ‭informação,‬ ‭conseqüentemente‬ ‭adquire‬
‭mais condições de defender os seus direitos (VIDE ANEXO 16).‬

‭ inâmica‬ ‭e‬ ‭ritmo‬ ‭direcionam‬ ‭o‬ ‭Programa‬ ‭Evil‬ ‭Mendonça,‬ ‭no‬ ‭ar‬ ‭pela‬ ‭Rádio‬ ‭Muriaé‬
D
‭desde‬ ‭janeiro‬ ‭de‬ ‭2003.‬ ‭O‬‭apresentador‬‭trabalha‬‭em‬‭rádio‬‭há‬‭17‬‭anos‬‭e‬‭já‬‭passou‬‭por‬
‭estações como a América e a Manchete do Rio de Janeiro.‬
‭O‬‭programa‬‭inicia‬‭às‬‭8h‬‭e‬‭com‬‭a‬‭reformulação‬‭que‬‭aconteceu‬‭pelos‬‭62‬‭anos‬‭da‬‭Rádio‬
‭Muriaé,‬ ‭vai‬ ‭até‬ ‭às‬ ‭13h.‬ ‭Durante‬ ‭cinco‬ ‭horas‬ ‭o‬ ‭programa‬ ‭visa‬ ‭fornecer‬ ‭ao‬ ‭ouvinte‬‭um‬
‭misto‬ ‭de‬ ‭informações‬ ‭e‬ ‭serviços‬ ‭à‬ ‭população.‬ ‭O‬ ‭comunicador‬ ‭assume‬ ‭a‬ ‭postura‬ ‭de‬
‭amigo‬‭do‬‭ouvinte‬‭e‬‭este‬‭aspecto‬‭de‬‭cumplicidade‬‭torna-se‬‭mais‬‭presente‬‭no‬‭rádio‬‭AM.‬
‭Segundo‬ ‭definição‬ ‭da‬ ‭emissora,‬ ‭o‬ ‭programa‬ ‭é‬ ‭“Jornalismo,‬ ‭brincadeiras,‬ ‭secretária‬
‭eletrônica‬ ‭e‬ ‭o‬ ‭quadro‬ ‭“ombro‬ ‭amigo”,‬‭que‬‭ajuda‬‭as‬‭pessoas‬‭carentes‬‭da‬‭cidade.‬‭E‬‭na‬
‭pesquisa‬ ‭do‬ ‭dia‬ ‭a‬ ‭presença‬ ‭ao‬ ‭vivo‬ ‭de‬ ‭convidados‬ ‭respondendo‬ ‭as‬ ‭perguntas‬ ‭dos‬
‭ouvintes.”‬
‭O programa começa com um texto reflexivo. Segue com as manchetes do noticiário nacional e‬
‭local, e chamada para as notícias policiais. Em seguida o apresentador destaca os quadros do‬
‭programa e abre os microfones para os repórteres noticiarem a previsão da meteorologia para a‬
‭cidade e para o estado de Minas Gerais, além das notícias sobre o movimento das estradas e dos‬
‭hospitais. Na seqüência, a chamada para o‬‭Show dos‬‭bairros‬‭, quadro onde o repórter vai a um‬
‭bairro da cidade conversar com o morador sorteado para ganhar brindes do patrocinador da‬
‭atração.‬
‭O diálogo entre o locutor e o ouvinte é intercalado por pequenos quadros: dicas de saúde, lazer,‬
‭prestação de serviços, entre outros mais relevantes como o chamado para participar de uma ação‬
‭social. Em um programa observado, o comunicador convoca os ouvintes a participarem da‬
‭mobilização em favor da volta de mais recursos financeiros para a saúde pública em Muriaé. O‬
‭interessante é realmente mobilizar comunidade para uma manifestação que é importante para‬
‭todos os moradores da cidade. É uma campanha também que atua em conjunto com várias outras‬
‭organizações e reforça o que Maria Elisa Porchat diz no livro Manual de Radiojornalismo da‬
‭Jovem Pan: “Os programas são o contexto para a rotatividade das informações, acrescentado o‬
‭registro do momento que a cidade está vivendo. A programação também acompanha o dia do‬
‭cidadão em movimento” (PORCHAT, 1989, p.20).‬
‭Às‬ ‭8h55‬ ‭começa‬ ‭o‬ ‭Ombro‬ ‭amigo‬‭,‬ ‭um‬ ‭dos‬ ‭quadros‬ ‭de‬ ‭maior‬ ‭apelo‬ ‭popular.‬ ‭Evil‬
‭Mendonça‬‭lê‬‭a‬‭carta‬‭de‬‭solicitação‬‭dos‬‭ouvintes,‬‭que‬‭varia‬‭desde‬‭pedidos‬‭de‬‭remédios‬
‭até‬ ‭berços‬ ‭e‬ ‭fogões,‬ ‭entre‬ ‭outros.‬ ‭Por‬ ‭meio‬ ‭de‬ ‭sorteio,‬ ‭as‬ ‭cartas‬ ‭são‬ ‭lidas‬ ‭e‬ ‭o‬
‭apresentador‬‭pede‬‭aos‬‭ouvintes‬‭e‬‭à‬‭quem‬‭possa‬‭ajudar‬‭aquela‬‭pessoa.‬‭Apesar‬‭de‬‭não‬
‭ aver‬‭registros‬‭quantitativos‬‭do‬‭número‬‭de‬‭pedidos‬‭que‬‭são‬‭efetivamente‬‭atendidos,‬‭a‬
h
‭produção conta que a ajuda vem de todo a parte.‬
‭“‬‭O‬ ‭interessante‬ ‭disso‬‭é‬‭que‬‭é‬‭muita‬‭carência‬‭e‬‭tem‬‭pessoas‬‭que‬
‭são‬ ‭solidárias,‬ ‭é‬ ‭impressionante‬ ‭o‬ ‭número‬ ‭de‬ ‭pessoas‬ ‭que‬
‭ouvem,‬ ‭sempre‬ ‭tem‬ ‭aquele‬ ‭que‬ ‭se‬ ‭propõe‬ ‭a‬ ‭doar,‬ ‭vai‬ ‭muito‬ ‭da‬
‭condução‬ ‭do‬ ‭locutor,‬ ‭passa‬ ‭que‬ ‭a‬ ‭pessoa‬ ‭está‬ ‭realmente‬
‭precisando,‬‭um‬‭tratamento‬‭de‬‭saúde‬‭fora,‬‭recurso‬‭para‬‭viagem.‬‭A‬
‭gente‬ ‭tem‬ ‭caso‬ ‭aqui,‬ ‭uma‬ ‭situação‬ ‭que‬ ‭o‬ ‭médico‬ ‭disse:‬ ‭“Pode‬
‭mandar‬ ‭pra‬‭cá,‬‭que‬‭eu‬‭faço‬‭essa‬‭cirurgia,‬‭eu‬‭cuido‬‭disso,‬‭eu‬‭vou‬
‭ajudar, eu vou operar, faço questão”(VIDE ANEXO 17)‬

‭ sta afirmação, feita em entrevista (vide anexo 17), é de Paulo Roberto Barros, diretor da Rádio‬
E
‭Muriaé e radialista há mais de 42 anos. Ele acredita ainda que o rádio deve contribuir não só na‬
‭ajuda, mas principalmente na informação séria: “Estar a serviço da população, prestando serviço,‬
‭uma informação correta, um trabalho jornalístico independente, mostrando ser autêntico nessa‬
‭informação, acho que a gente poderá construir uma cidadania.” Enquanto as duas rádios de Juiz‬
‭de Fora (Panorama e Solar) têm programas mais específicos para a área de assistencialismo, em‬
‭Muriaé os próprios apresentadores fazem esse papel estimulando a doação de móveis e‬
‭utensílios, além de serviços para as pessoas carentes que pedem ajuda às rádios.‬
‭A partir das 9h05 começa o Momento de Fé, com o Padre Marcelo Rossi, transmitido direto de‬
‭São Paulo em rede para várias emissoras do país. Até às 10h leva oração e informações da Igreja‬
‭Católica.‬
‭Após‬‭o‬‭noticiário‬‭das‬‭10‬‭horas,‬‭entra‬‭no‬‭ar‬‭o‬‭quadro‬‭Show‬‭dos‬‭Bairros‬‭,‬‭com‬‭o‬‭repórter‬
‭Marcelo Luís. O ouvinte participa de uma promoção e o nome é sorteado.‬
‭O‬ ‭repórter‬ ‭vai‬ ‭ao‬ ‭bairro,‬ ‭e‬ ‭se‬ ‭o‬ ‭morador‬ ‭possuir‬ ‭o‬ ‭cupom‬ ‭do‬ ‭supermercado‬
‭patrocinador‬ ‭ganha‬ ‭vários‬ ‭brindes.‬ ‭O‬ ‭repórter‬ ‭conversa‬ ‭com‬ ‭o‬ ‭morador‬ ‭e‬ ‭sua‬‭família‬
‭sobre‬ ‭as‬ ‭condições‬ ‭do‬ ‭bairro,‬ ‭e‬ ‭no‬ ‭estúdio,‬ ‭Evil‬ ‭Mendonça‬ ‭também‬ ‭conversa‬ ‭com‬ ‭o‬
‭morador,‬ ‭que‬ ‭pode‬ ‭elogiar,‬ ‭pedir‬ ‭e‬ ‭reclamar‬ ‭sobre‬ ‭a‬ ‭comunidade.‬ ‭Este‬ ‭quadro‬ ‭é‬
‭também uma prestação de serviços promovida pelo programa, através do patrocinador.‬
‭O‬ ‭quadro‬ ‭não‬ ‭atende‬ ‭apenas‬ ‭o‬ ‭ouvinte‬ ‭sorteado.‬ ‭Segundo‬ ‭o‬ ‭repórter:‬ ‭“Algumas‬
‭pessoas‬‭ao‬‭verem‬‭o‬‭carro‬‭de‬‭reportagem‬‭pedem‬‭para‬‭falar‬‭alguma‬‭coisa‬‭aproveitando‬
‭que a gente está no bairro”.‬
‭No programa observado o repórter esteve na Rua Independência, Centro da cidade.‬
‭O trecho reproduzido abaixo retrata como é o quadro:‬

‭ epórter:‬ ‭“Tem‬ ‭uma‬ ‭casa‬ ‭perto‬ ‭do‬ ‭341‬ ‭que‬ ‭o‬ ‭barranco‬ ‭está‬ ‭caindo‬ ‭e‬ ‭se‬ ‭cair,‬
R
‭meu‬ ‭amigo,‬ ‭vai‬ ‭fazer‬ ‭um‬ ‭estrago,‬ ‭brincadeira,‬ ‭então‬‭o‬‭órgão‬‭responsável‬‭com‬
‭urgência‬ ‭dá‬ ‭uma‬ ‭passada‬ ‭aqui‬ ‭e‬ ‭tenta‬ ‭resolver‬ ‭este‬ ‭problema,‬‭e‬‭uma‬‭melhora‬
‭aqui no calçamento para os moradores aqui da Rua Independência.”‬‭1‭0‬ ‬

‭ epois‬ ‭de‬ ‭conversar‬ ‭com‬ ‭a‬ ‭ouvinte‬ ‭sobre‬ ‭a‬ ‭reclamação,‬ ‭acontece‬ ‭a‬ ‭entrega‬ ‭dos‬
D
‭brindes.‬ ‭Verifica-se‬ ‭que‬ ‭publicidade‬ ‭e‬ ‭jornalismo‬ ‭se‬ ‭misturam‬ ‭de‬ ‭forma‬ ‭dinâmica‬ ‭e‬
‭interativa com ouvinte-repórter-apresentador.‬
‭ s quartas-feiras, às 10h30, o programa exibe um quadro em que o morador liga para a rádio e‬
À
‭conversa com o presidente da associação de bairros, conduzido pelo apresentador Evil‬
‭Mendonça. Há menos de um mês no ar, mostra o conjunto de interatividade, um canal aberto‬
‭entre ouvinte, representante da comunidade e veículo de comunicação. A conversa informal é‬
‭sobre os anseios dos moradores em relação ao bairro, além de agradecimentos às obras‬
‭alcançadas.‬
‭Às‬ ‭11h10‬ ‭é‬ ‭a‬ ‭vez‬ ‭do‬ ‭Plantão‬ ‭de‬ ‭Polícia‬‭.‬ ‭“‬‭A‬ ‭partir‬ ‭deste‬ ‭momento‬ ‭os‬ ‭microfones‬
‭verdades‬ ‭da‬ ‭Rádio‬ ‭Muriaé‬ ‭entram‬ ‭em‬ ‭ação‬ ‭no‬ ‭combate‬ ‭ao‬ ‭crime‬ ‭e‬ ‭a‬ ‭favor‬ ‭da‬‭vida‬‭”.‬
‭Com‬‭esta‬‭vinheta‬‭começa‬‭o‬‭quadro‬‭que‬‭também‬‭tem‬‭audiência‬‭cativa‬‭no‬‭horário.‬‭Entre‬
‭os‬ ‭destaques,‬ ‭o‬ ‭repórter‬ ‭relata‬ ‭as‬ ‭principais‬ ‭ocorrências‬ ‭das‬ ‭últimas‬ ‭24‬ ‭horas‬ ‭com‬‭a‬
‭participação‬ ‭de‬ ‭um‬ ‭delegado‬ ‭(Dr.‬ ‭Genir),‬ ‭que‬ ‭comenta‬ ‭e‬ ‭diz‬ ‭quais‬ ‭as‬ ‭medidas‬ ‭as‬
‭vítimas devem adotar e o que pode acontecer com os criminosos e suspeitos.‬
‭O‬ ‭convidado‬ ‭também‬ ‭faz‬ ‭comparações‬ ‭e‬ ‭procura‬ ‭sempre‬ ‭analisar‬ ‭o‬ ‭fato‬ ‭e‬ ‭dá‬
‭recomendações‬ ‭à‬ ‭comunidade‬ ‭para‬ ‭uma‬ ‭melhor‬ ‭segurança‬ ‭do‬ ‭bairro.‬ ‭Sempre‬‭com‬‭o‬
‭bordão‬ ‭“‬‭E‬ ‭agora‬ ‭Dr.‬ ‭Genir?‬‭”,‬ ‭o‬ ‭repórter‬ ‭pergunta‬ ‭ao‬ ‭convidado‬ ‭o‬ ‭que‬ ‭pode‬ ‭suceder‬
‭depois‬‭de‬‭determinada‬‭ocorrência.‬‭O‬‭que‬‭acontece‬‭é‬‭que‬‭às‬‭vezes‬‭há‬‭uma‬‭brincadeira‬
‭entre‬ ‭o‬ ‭repórter,‬ ‭o‬ ‭apresentador‬ ‭e‬ ‭o‬ ‭convidado,‬ ‭principalmente‬ ‭quando‬ ‭a‬ ‭ocorrência‬
‭tem‬‭algo‬‭de‬‭surpreendente.‬‭O‬‭quadro‬‭tem‬‭muito‬‭sucesso,‬‭no‬‭entanto‬‭em‬‭determinadas‬
‭situações‬ ‭cai‬ ‭no‬ ‭ridículo‬ ‭e‬ ‭pré-julga‬ ‭os‬ ‭acusados.‬ ‭Mas,‬ ‭mesmo‬ ‭com‬ ‭papel‬
‭sensacionalista,‬ ‭tem‬ ‭demonstrado‬ ‭a‬ ‭função‬ ‭social‬ ‭de‬ ‭noticiar‬ ‭sobre‬ ‭a‬ ‭segurança‬ ‭da‬
‭cidade.‬
‭O‬ ‭noticiário‬‭policial‬‭baseia‬‭o‬‭rádio‬‭popularesco‬‭e‬‭sensacionalista.‬
‭Não‬ ‭deve,‬ ‭no‬ ‭entanto,‬‭ser‬‭visto‬‭com‬‭preconceito.‬‭É‬‭apenas‬‭mais‬
‭uma‬ ‭área‬ ‭de‬ ‭cobertura.‬ ‭(...)‬ ‭o‬ ‭mais‬ ‭rotineiro‬ ‭fato‬ ‭policial‬ ‭é‬
‭dramatizado,‬ ‭acentuando‬ ‭o‬ ‭seu‬ ‭lado‬ ‭macabro‬ ‭com‬ ‭toques‬ ‭de‬
‭sentimentalismo‬ ‭exagerado.‬ ‭A‬ ‭isenção‬ ‭dá‬ ‭lugar‬ ‭um‬
‭posicionamento‬ ‭paternalista‬ ‭e,‬ ‭não‬ ‭raro,‬ ‭policialesco,‬ ‭em‬ ‭que‬ ‭a‬
‭adjetivação‬‭campeia.‬‭Explora‬‭a‬‭curiosidade,‬‭a‬‭aventura,‬‭o‬‭conflito,‬
‭o‬ ‭sexo,‬ ‭o‬ ‭suspense,‬ ‭o‬ ‭dinheiro,‬ ‭a‬ ‭vida‬ ‭e‬ ‭a‬ ‭morte...”‬
‭(FERRARETTO, 2000, p.257)‬

‭ s‬ ‭11h30‬ ‭tem‬ ‭início‬ ‭o‬ ‭quadro‬ ‭Vida‬ ‭e‬ ‭Saúde,‬ ‭informativo‬ ‭da‬ ‭Secretaria‬ ‭Municipal‬ ‭de‬
À
‭Saúde.‬ ‭No‬ ‭dia‬ ‭analisado,‬ ‭o‬ ‭quadro‬ ‭transmitiu‬ ‭uma‬ ‭entrevista‬ ‭com‬ ‭o‬ ‭secretário‬
‭municipal‬ ‭de‬ ‭Saúde,‬ ‭Marcos‬ ‭Guarino,‬ ‭que‬ ‭falou‬ ‭de‬ ‭vários‬ ‭itens‬ ‭a‬ ‭respeito‬ ‭da‬ ‭saúde‬
‭pública‬‭de‬‭Muriaé.‬‭O‬‭quadro‬‭é‬‭mais‬‭uma‬‭propaganda‬‭da‬‭secretaria‬‭do‬‭que‬‭informação‬
‭sobre‬ ‭a‬ ‭saúde‬ ‭do‬ ‭cidadão.‬ ‭Mas‬ ‭há‬ ‭um‬ ‭trecho‬ ‭que‬ ‭informa‬ ‭sobre‬ ‭o‬ ‭consumo‬ ‭de‬ ‭leite‬
‭vendido a varejo e sem fiscalização.‬

‭ ntrevistado‬ ‭(Marcos‬ ‭Guarino):‬ ‭É‬ ‭importante‬ ‭que‬ ‭o‬ ‭leite‬ ‭consumido‬ ‭seja‬
E
‭pasteurizado,‬‭(...)‬‭esse‬‭leite‬‭que‬‭é‬‭vendido‬‭a‬‭granel,‬‭na‬‭rua,‬‭em‬‭latões‬‭não‬‭é‬‭bom‬
‭(...)‬ ‭mesmo‬ ‭fervendo‬ ‭o‬ ‭leite‬ ‭você‬ ‭não‬ ‭mata‬ ‭todas‬ ‭as‬ ‭bactérias.‬ ‭Muitas‬‭vezes‬‭a‬
‭gente‬‭está‬‭pegando‬‭crianças‬‭com‬‭diarréia‬‭devido‬‭ao‬‭consumo‬‭deste‬‭leite,‬‭então‬
‭é‬‭um‬‭alerta,‬‭é‬‭ilegal‬‭a‬‭venda‬‭deste‬‭leite,‬‭a‬‭vigilância‬‭sanitária‬‭tem‬‭tentado‬‭entrar‬
‭em‬‭contato‬‭com‬‭esse‬‭produtores.‬‭(...)‬‭É‬‭importante‬‭que‬‭toda‬‭pessoa‬‭tem‬‭que‬‭ter‬
‭em‬ ‭mente‬ ‭que‬ ‭o‬ ‭leite‬ ‭tem‬ ‭que‬ ‭ser‬ ‭pasteurizado,‬ ‭tanto‬ ‭de‬ ‭sacolinha‬ ‭ou‬ ‭de‬
‭ aixinha, ele tem que ser pasteurizado.‬
c
‭Apresentador‬‭(Paulo‬‭Roberto):‬‭Mas,‬‭doutor‬‭Marcos,‬‭não‬‭seria‬‭aí‬‭uma‬‭proibição,‬
‭uma‬ ‭rigidez,‬ ‭uma‬ ‭fiscalização,‬ ‭até‬ ‭mesmo‬ ‭uma‬ ‭punição‬ ‭com‬ ‭multa‬‭para‬‭coibir‬
‭este tipo de comercialização?‬
‭Entrevistado‬ ‭(Marcos‬ ‭Guarino):‬ ‭A‬ ‭vigilância‬ ‭sanitária‬ ‭já‬ ‭está‬ ‭atenta‬ ‭a‬ ‭este‬
‭problema,‬ ‭e‬ ‭eu‬ ‭acredito‬‭que‬‭acaba‬‭virando‬‭um‬‭problema‬‭de‬‭saúde‬‭pública,‬‭(...)‬
‭agora‬ ‭é‬ ‭muito‬ ‭importante‬ ‭a‬ ‭conscientização‬ ‭da‬ ‭pessoa,‬ ‭porque‬ ‭se‬ ‭não‬ ‭tiver‬
‭quem‬‭compre,‬‭você‬‭não‬‭vai‬‭ter‬‭nenhum‬‭mercado‬‭para‬‭essa‬‭pessoa,‬‭que‬‭vai‬‭ser‬
‭obrigada‬ ‭a‬ ‭entregar‬ ‭seu‬ ‭leite‬ ‭numa‬ ‭cooperativa‬ ‭que‬ ‭vai‬ ‭pasteurizar‬ ‭para‬ ‭que‬
‭esse leite seja adequado.”‬‭1‭1‬ ‬
‭A‬ ‭informação,‬ ‭pautada‬ ‭em‬ ‭pesquisa‬ ‭e‬ ‭dita‬ ‭por‬ ‭um‬ ‭especialista,‬ ‭exerce‬ ‭nos‬ ‭ouvintes‬
‭uma‬‭influência‬‭muito‬‭forte.‬‭No‬‭trecho‬‭analisado‬‭percebe-se‬‭que‬‭o‬‭secretário‬‭de‬‭Saúde,‬
‭além‬ ‭de‬ ‭médico,‬ ‭é‬ ‭quem‬‭dá‬‭a‬‭dica‬‭para‬‭o‬‭ouvinte,‬‭que‬‭pode‬‭também‬‭ser‬‭alguém‬‭que‬
‭lida‬ ‭diretamente‬ ‭com‬ ‭a‬ ‭saúde‬ ‭da‬ ‭família.‬ ‭É‬ ‭importante‬ ‭ver‬ ‭que‬ ‭a‬ ‭informação‬ ‭para‬ ‭a‬
‭cidadania‬ ‭deve‬ ‭ser‬ ‭oferecida‬ ‭por‬ ‭órgãos‬ ‭públicos‬ ‭e‬ ‭nesse‬ ‭caso‬ ‭usa‬ ‭a‬ ‭ferramenta‬ ‭do‬
‭veículo de comunicação rádio para atingir as várias classes sociais.‬
‭Nos‬‭momentos‬‭finais‬‭do‬‭programa‬‭entram‬‭notícias,‬‭reportagens‬‭e‬‭muita‬‭descontração.‬
‭O‬ ‭programa‬ ‭conta‬ ‭ainda‬ ‭com‬ ‭quadros‬ ‭como‬ ‭o‬ ‭Classificados‬ ‭no‬ ‭Ar,‬ ‭Fatos‬ ‭e‬ ‭Boatos,‬
‭Papo‬‭de‬‭Bola,‬‭Troca-troca,‬‭Bolsa‬‭de‬‭Empregos‬‭e‬‭uma‬‭música.‬‭Destaque‬‭também‬‭para‬
‭o‬ ‭Vermelhinho‬‭da‬‭Muriaé,‬‭unidade‬‭móvel‬‭que‬‭cobre‬‭toda‬‭a‬‭cidade‬‭em‬‭tempo‬‭real‬‭com‬
‭informações extraordinárias.‬
‭O rádio tem como um de seus princípios básicos ser ferramenta de desenvolvimento do ouvinte,‬
‭com ações-cidadãs, com serviço de qualidade e acima de tudo com uma programação que dê‬
‭valor e respeite o ouvinte. Os grandes nomes que edificaram este veículo sempre o utilizaram‬
‭com fins dignos – formar e informar – que não podem ser esquecidos, já que o rádio é um dos‬
‭meios de comunicação mais competentes para a concretização da cidadania.‬

‭5.1 A participação política na promoção da cidadania‬


‭“‭A
‬ sabedoria consiste em não se acreditar em tudo‬‭sem reflexão.”‬
‭ ícero‬
C
‭Observa-se‬ ‭nas‬ ‭ondas‬ ‭do‬ ‭rádio‬ ‭um‬ ‭desfile‬ ‭de‬ ‭exemplos‬ ‭de‬ ‭prestação‬ ‭de‬ ‭serviços:‬
‭oferta‬‭de‬‭empregos,‬‭busca‬‭dos‬‭direitos‬‭do‬‭consumidor,‬‭críticas‬‭aos‬‭governantes,‬‭dicas‬
‭de‬ ‭saúde,‬ ‭informações‬ ‭policiais‬ ‭e‬ ‭jurídicas‬ ‭e‬ ‭várias‬ ‭outras‬ ‭formas‬ ‭de‬ ‭auxiliar‬ ‭a‬
‭população.‬ ‭Neste‬ ‭tópico‬ ‭o‬ ‭objeto‬ ‭de‬ ‭análise‬ ‭são‬ ‭os‬ ‭programas‬ ‭de‬ ‭rádio‬
‭governamentais.‬‭A‬‭reflexão‬‭é‬‭baseada‬‭no‬‭espaço‬‭que‬‭cedem‬‭para‬‭a‬‭cidadania,‬‭aquela‬
‭que vai muito além da prestação de contas das ações administrativas.‬
‭Por‬ ‭volta‬ ‭de‬ ‭1940,‬ ‭o‬ ‭rádio‬ ‭descobriu‬ ‭uma‬ ‭de‬ ‭suas‬ ‭grandes‬ ‭forças:‬ ‭a‬ ‭política.‬ ‭Usado‬
‭pela‬ ‭primeira‬ ‭vez‬ ‭como‬ ‭forma‬‭de‬‭convocar‬‭e‬‭animar‬‭o‬‭povo‬‭paulista‬‭na‬‭Revolução‬‭de‬
‭1932,‬‭logo‬‭a‬‭seguir‬‭foi‬‭descoberto‬‭pelos‬‭políticos‬‭de‬‭todas‬‭as‬‭correntes‬‭e‬‭pelo‬‭governo,‬
‭que nunca mais deixaram de usar o rádio. (FERRARETTO, 2000, p.107)‬
‭Os poderes Executivo e Legislativo da esfera federal têm no rádio‬‭A Voz do Brasil‬‭,‬
‭programa transmitido em cadeia nacional de segunda a sexta-feira, no horário de 19 às‬
‭20 horas. As estações são obrigadas a transmitir o programa jornalístico que informa‬
‭as ações e atos oficiais do governo Federal e do Congresso Nacional.‬
‭“‭A
‬ publicidade dos atos, programas, obras serviços‬‭e campanhas dos órgãos‬
‭ úblicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela‬
p
‭não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção‬
‭pessoal de autoridades ou servidores públicos.”‬‭1‬‭2‬

‭ os municípios e no Estado, para cumprir o parágrafo primeiro do inciso 22 artigo 37‬


N
‭da Constituição Federativa do Brasil, que orienta os órgãos governamentais a‬
‭prestarem conta das ações de suas administrações, Estado e prefeituras têm‬
‭informativos oficiais, periódicos que se destinam a publicar os atos e o trabalho das‬
‭administrações. Mas, para tornar mais popular os atos, obras e serviços, os governos‬
‭têm programas jornalísticos nas rádios, produzidos de forma independente (gravados‬
‭fora de emissora) e veiculados de maneira paga. É mais uma forma de dar publicidade‬
‭ao que é feito, mas de uma maneira muito mais dinâmica e também para propagar os‬
‭trabalhos das administrações.‬
‭Na análise das emissoras de Muriaé, verifica-se que o conteúdo informativo se refere‬
‭ao programa da Câmara de Vereadores e da Prefeitura.‬
‭O Informativo da Câmara dos Vereadores vai ao ar somente pela Rádio Muriaé às‬
‭quartas-feiras, de 7h30 às 8 horas. O apresentador do programa, José Carlos Alves,‬
‭entrevista os vereadores, e informa os pedidos e indicações que o legislativo faz. De‬
‭maneira geral, noticia as ações dos vereadores, mas não efetivamente dá espaço à‬
‭cidadania, já que funciona mais como uma “propaganda política” dos trabalhos dos‬
‭vereadores. Mas, o interessante é que mostra apenas os pedidos dos vereadores, e‬
‭pouco do trabalho mais importante do legista, que é fiscalizar e criar as leis que regem‬
‭o município. Este trabalho de legislar é um dos parâmetros do direito à cidadania, já‬
‭que muitas vezes leis não são cumpridas e também são pouco divulgadas. O programa‬
‭cumpre o que diz o artigo citado, no entanto, no que se refere a informações mais‬
‭dinâmicas para o cidadão ainda é pouco usual. Porém, o trecho a seguir ilustra uma‬
‭informação em que o cidadão é inserido nessa procura constante de fazer o povo‬
‭buscar sua cidadania e exigir direitos básicos, neste caso a saúde pública.‬
‭José‬ ‭Carlos:‬ ‭A‬ ‭Câmara‬‭Municipal‬‭vai‬‭fazer‬‭uma‬‭mobilização‬‭no‬‭próximo‬‭dia‬‭29‬
‭de‬ ‭outubro,‬ ‭com‬ ‭todas‬ ‭as‬ ‭entidades,‬ ‭Lions,‬ ‭Rotary,‬‭Maçonaria,‬‭presidentes‬‭de‬
‭associações‬ ‭de‬ ‭bairro,‬ ‭secretaria‬ ‭de‬ ‭Saúde,‬ ‭Ação‬ ‭Social,‬ ‭enfim,‬ ‭toda‬ ‭a‬
‭população.‬ ‭Inclusive‬ ‭é‬ ‭um‬ ‭convite‬ ‭as‬ ‭cidades‬ ‭vizinhas‬ ‭para‬ ‭participarem‬
‭também desta mobilização. Que mobilização é esta e qual o objetivo?‬
‭João‬‭fiscal:‬‭A‬‭saúde‬‭em‬‭nossa‬‭cidade‬‭vem‬‭enfrentando,‬‭um‬‭corte‬‭de‬‭verbas‬‭que‬
‭houve‬ ‭(...)‬ ‭eram‬ ‭mais‬ ‭de‬ ‭800‬ ‭mil‬ ‭reais‬ ‭de‬ ‭verba‬‭e‬‭foi‬‭cortado,‬‭veio‬‭para‬‭64‬‭mil.‬
‭Então‬ ‭muitos‬ ‭exames,‬ ‭cirurgias‬ ‭foram‬ ‭praticamente‬ ‭cortados.‬ ‭Então‬‭a‬‭Câmara‬
‭resolveu,‬ ‭em‬ ‭união‬ ‭com‬ ‭todos‬ ‭os‬ ‭vereadores,‬ ‭(...)‬ ‭decidimos‬ ‭tomar‬ ‭essa‬
‭decisão‬ ‭e‬ ‭fazer‬ ‭uma‬ ‭mobilização‬ ‭no‬ ‭dia‬ ‭29‬ ‭(...)‬ ‭então‬ ‭convidamos‬ ‭todas‬ ‭as‬
‭entidades‬ ‭(...)‬ ‭enfim‬ ‭toda‬ ‭a‬ ‭população‬ ‭de‬ ‭Muriaé,‬ ‭porque‬ ‭nós‬ ‭precisamos‬
‭soluçar‬ ‭esse‬ ‭problema,‬ ‭então‬ ‭temos‬ ‭que‬ ‭abraçar‬ ‭essa‬ ‭causa.‬ ‭(...)‬ ‭Precisamos‬
‭fazer‬ ‭essa‬ ‭manifestação‬ ‭porque‬ ‭o‬ ‭governo‬ ‭(estadual)‬ ‭precisa‬ ‭sentir‬ ‭essa‬
‭dificuldade (...)‬
‭ osé Carlos: E como será essa mobilização?‬
J
‭Vamos‬ ‭para‬ ‭a‬ ‭Praça‬ ‭João‬ ‭Pinheiro‬ ‭(...)‬ ‭vamos‬ ‭fazer‬ ‭abaixo-assinado,‬ ‭vamos‬
‭colocar‬‭com‬‭carro‬‭de‬‭som,‬‭para‬‭poder‬‭as‬‭pessoas‬‭se‬‭unirem‬‭e‬‭participar‬‭com‬‭a‬
‭gente. (...) A Câmara Municipal abraçou essa causa e nós vamos até o fim.‬‭”‭1‬ ‭3‬ ‬

‭ este trecho percebe-se a efetiva comunicação entre o legislativo e o povo, que unidos‬
N
‭lutarão por uma causa em comum, a manifestação popular através do rádio que divulga‬
‭e apóia este ato.‬
‭ administração jamais maneja interesses, poderes ou direitos pessoais seus,‬
A
‭surge o dever da absoluta transparência. “Todo poder emana do povo e em seu‬
‭nome será exercido (CF, art. 1º, parágrafo 1º). É óbvio, então que o povo, titular‬
‭do poder, tem direito de conhecer tudo o que concerne à Administração, de‬
‭controlar passo a passo o exercício do poder (SUNDFELD, 1995, p.54 apud‬
‭MORAES, 2002P. 785).‬

‭ preciso, portanto, que o povo, o cidadão muriaeense, também seja fiscal no que diz‬
É
‭respeito aos programas radiofônicos dos poderes Legislativo e Executivo, para que o‬
‭espaço, que é pago com o dinheiro do contribuinte, também seja um espaço para a‬
‭cidadania e a divulgação do uso dos recursos públicos do município.‬
‭O Executivo municipal também mantém um programa jornalístico no meio radiofônico.‬
‭Pela Rádio Atividade, o‬‭Visão Administrativa‬‭, é transmitido‬‭às sextas-feiras, das 7h45‬
‭às 8h. Na Rádio Muriaé é irradiado no mesmo dia e horário.‬
‭O conteúdo do programa é idêntico, pois é feito por um estúdio que o produz de acordo‬
‭com roteiro da Assessoria de Comunicação da Prefeitura.‬
‭O‬ ‭programa‬ ‭é‬ ‭um‬ ‭informativo‬ ‭institucional,‬ ‭e‬‭traz‬‭informação‬‭de‬‭orientação,‬‭como‬‭por‬
‭exemplo,‬ ‭a‬ ‭campanha‬ ‭de‬ ‭vacinação‬ ‭contra‬ ‭a‬ ‭poliomielite.‬ ‭O‬ ‭repórter‬ ‭entrevista‬ ‭um‬
‭médico‬‭que‬‭diz‬‭a‬‭importância‬‭dos‬‭pais‬‭levarem‬‭os‬‭filhos‬‭para‬‭a‬‭vacinação.‬‭Há‬‭também‬
‭o‬ ‭quadro‬ ‭Espaço‬ ‭Rural‬‭,‬ ‭com‬ ‭as‬ ‭informações‬ ‭para‬ ‭o‬ ‭homem‬ ‭do‬ ‭campo.‬ ‭No‬ ‭dia‬
‭analisado‬ ‭a‬ ‭notícia‬ ‭foi‬ ‭sobre‬ ‭a‬ ‭distribuição‬ ‭de‬ ‭mudas‬ ‭e‬ ‭sementes‬ ‭para‬ ‭os‬‭produtores‬
‭rurais‬‭cadastrados‬‭no‬‭programa‬‭Minas‬‭sem‬‭fome.‬‭O‬‭secretário‬‭municipal‬‭de‬‭Agricultura‬
‭explicou sobre o projeto e como o produtor deve proceder.‬
‭O‬‭programa‬‭de‬‭15‬‭minutos‬‭é‬‭um‬‭misto‬‭de‬‭propaganda‬‭institucional‬‭e‬‭informação‬‭para‬‭o‬
‭cidadão,‬ ‭desta‬ ‭maneira‬ ‭contribui‬ ‭para‬ ‭que‬ ‭a‬ ‭população‬ ‭saiba‬ ‭o‬ ‭que‬ ‭acontece‬ ‭na‬
‭cidade.‬ ‭São‬ ‭notícias‬ ‭básicas‬ ‭para‬ ‭o‬ ‭cidadão‬ ‭que‬ ‭informam‬ ‭também‬ ‭o‬ ‭porquê‬ ‭de‬
‭determinadas‬ ‭obras‬ ‭e‬ ‭ações‬ ‭da‬ ‭administração‬ ‭municipal.‬ ‭De‬ ‭certa‬ ‭maneira‬ ‭é‬
‭pretensioso‬‭já‬‭que‬‭mostra‬‭somente‬‭o‬‭que‬‭há‬‭de‬‭“melhor”‬‭na‬‭gestão‬‭atual,‬‭mas‬‭também‬
‭insere o cidadão nas ações da administração, e cumpre a orientação constitucional.‬

‭5.2 Educação em ondas médias‬


“‭ ‭É ‬ ‬ ‭a‬ ‭linguagem‬ ‭que‬ ‭condiciona‬ ‭o‬ ‭homem,‬ ‭sua‬ ‭forma‬ ‭de‬ ‭agir‬ ‭e‬ ‭de‬ ‭se‬ ‭relacionar‬
‭com‬‭o‬‭mundo‬‭e‬‭com‬‭os‬‭outros‬‭homens‬‭–‬‭com‬‭a‬‭cultura,‬‭enfim,‬‭aqui‬‭entendida‬‭em‬
‭seu‬ ‭sentido‬ ‭mais‬ ‭amplo,‬ ‭como‬ ‭o‬ ‭ambiente‬ ‭construído‬ ‭pelos‬ ‭homens‬ ‭e‬ ‭que‬
‭constrói‬ ‭os‬ ‭homens‬ ‭segundo‬ ‭os‬ ‭próprios‬ ‭códigos,‬ ‭linguagens‬ ‭que‬ ‭agem‬ ‭sobre‬
‭os corpos e delimitam o seu campo de percepção.”‬
‭José Arbex Jr‬

‭ ara manter vivo o sonho de Roquette-Pinto, o rádio comercial tem tentado também ser‬
P
‭ferramenta de ensino, através de programas que levam educação pelas ondas hertzianas. Embora‬
‭as emissoras educativas cumpram de maneira mais objetiva este papel, as emissoras comerciais‬
‭podem dedicar parte da programação a quadros ou programas que pretendam formar o ouvinte,‬
‭ampliando seus horizontes culturais e educativos, e assim, cumprir mais uma vez, sua função‬
‭social.‬
‭Com‬ ‭o‬ ‭parâmetro‬ ‭de‬ ‭que‬ ‭o‬ ‭veículo‬ ‭deveria‬ ‭ser‬ ‭instrumento‬ ‭de‬ ‭inclusão‬ ‭social,‬
‭Roquette-Pinto definia o papel do rádio para a educação:‬
‭O‬‭rádio‬‭é‬‭o‬‭jornal‬‭de‬‭quem‬‭não‬‭sabe‬‭ler,‬‭é‬‭o‬‭mestre‬‭de‬‭quem‬‭não‬
‭pode‬‭ir‬‭à‬‭escola,‬‭é‬‭o‬‭divertimento‬‭gratuito‬‭do‬‭pobre,‬‭é‬‭o‬‭animador‬
‭de‬‭novas‬‭esperanças;‬‭o‬‭consolador‬‭do‬‭enfermo;‬‭o‬‭guia‬‭dos‬‭sãos,‬
‭desde‬‭que‬‭o‬‭realizem‬‭com‬‭espírito‬‭altruísta‬‭e‬‭elevado.‬‭(TAVARES,‬
‭1997, p.8)‬

‭ ssa‬‭vontade‬‭modificadora‬‭fortaleceu‬‭em‬‭comunicadores‬‭e‬‭educadores‬‭que‬‭encontram‬
E
‭no‬ ‭rádio‬ ‭um‬ ‭instrumento‬ ‭de‬ ‭perspectiva‬ ‭educativa,‬ ‭trabalhando‬ ‭em‬ ‭conjunto‬ ‭com‬ ‭o‬
‭sistema tradicional de ensino.‬
‭Em 1923, quando Roquette-Pinto fundou a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, primeira‬
‭emissora do país, a programação envolvia palestras científicas e literárias e chegou a receber em‬
‭seu estúdio palestra do físico alemão Albert Einstein. Nos anos 1930, a primeira emissora oficial‬
‭do país é doada ao Ministério da Educação e, em 1936 passa a ter o nome de Rádio MEC. O‬
‭professor Roquette-Pinto cede a emissora com a condição de que a programação ficasse restrita a‬
‭programas educativos.‬
‭Durante as décadas de 1940 e 1950, incentivados com a idéia de Roquette-Pinto, surge o‬
‭programa Universidade no Ar, criado em 1941 pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Mais‬
‭tarde, surgem os cursos básicos dos Sistema de Rádio Educativo Nacional (Siren), irradiados de‬
‭1957 a 1963. Na década de 1960, o Movimento de Educação de Base cria escolas radiofônicas‬
‭que combinavam alfabetização com conscientização para promover mudança de atitudes, com a‬
‭participação de locutores animadores. A experiência inovadora deu um salto de qualidade no‬
‭sistema educativo por rádio.‬
‭Em outubro de 1970 o governo federal cria o Projeto Minerva, um programa de 30 minutos com‬
‭segmento informativo-cultural e educativo, de transmissão obrigatória por todas as emissoras do‬
‭país. A produção era regionalizada, concentrada no eixo Sul-Sudeste e com distribuição‬
‭centralizada. Ferraretto destaca que “com resultados discutíveis ao longo de seus quase 20 anos,‬
‭o projeto Minerva saiu do ar no dia 16 de outubro de 1989.” (FERRARETTO, 2000, p. 162).‬
‭Desde então, iniciativas são feitas com o objetivo de utilizar o rádio como instrumento‬
‭pedagógico. Organizações não-governamentais, como sindicatos, Igreja Católica e universidades‬
‭têm produzidos programas que destacam diversos temas, com o objetivo de formar e informar o‬
‭cidadão, sempre numa combinação de linguagem inclusiva à conteúdos educativos. Em Muriaé a‬
‭programação das rádios comerciais ainda dedicam pouco da grade a projetos desse segmento.‬
‭Na grade da Rádio Atividade, observa-se que não existe nenhum programa específico à‬
‭educação. A educação é voltada para a cidadania e acontece durante os quadros do Programa‬
‭Júlio Soares, mas não de maneira direcionada a determinados públicos, mas sim multidirecional,‬
s‭ em especificidade a determinado assunto.‬
‭As rádios juizforanas observadas nesse trabalho também não oferecem programas com‬
‭conteúdos específicos para a educação. A Rádio Panorama FM, apesar de muito eclética, não‬
‭tem produto radiofônico específico para a área. Na Rádio Solar também não há programas‬
‭exclusivos. O que pode ser entendido como educação em ondas médias, é distribuído durante a‬
‭programação, através de programas como o Chamada Geral, um noticiário em formato de‬
‭revista, com comentários e entrevistas.‬
‭Na grade de programação da Rádio Muriaé, o programa‬‭Viva a Vida‬‭da Pastoral da Criança, um‬
‭Organismo de Ação Social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), ilustra a‬
‭cidadania exercida através da educação.‬
‭O programa está no ar na emissora desde 2000. De caráter independente, é de produzido pelo‬
‭próprio estúdio de gravação da central Pastoral da Criança, transmitido em mais de 2400‬
‭emissoras do país. Sempre aos domingos, no horário de 8h45, o programa tem 15 minutos de‬
‭duração e traz notícias sobre a saúde e educação da criança, sempre focada nos preceitos cristãos,‬
‭mas com linguagem aberta para todos os ouvintes. Com dois apresentadores (Mário e Angela), o‬
‭programa oferece um serviço de discussão de idéias e de mobilização da sociedade, chamando os‬
‭ouvintes a participarem de ações pró-ativas para a melhoria da qualidade de vida das crianças nas‬
‭comunidades em que estão inseridas. Na abertura, utiliza um jingle onde fala “‬‭um programa com‬
‭dicas e informações sobre saúde, educação e cidadania‬‭”.‬‭Em cada programa é tratado um tema e‬
‭tem entrevistas com especialistas sobre os diversos assuntos. A seguir um trecho do programa‬
‭ilustra a afirmação:‬
“‭ ‬‭Mário (apresentador): E agora quem está chegando‬‭para conversar com a gente aqui no‬
‭estúdio é a Nélia Nunes Vasconcelos, que é coordenadora da Pastoral da Criança de Santo‬
‭Amaro, Bahia. Nélia, como os líderes ajudam os pais a promover e acompanhar melhor o‬
‭desenvolvimento das crianças?”‬
“‭ ‬‭Nélia (entrevistada): Nós líderes, estamos sempre‬‭mostrando que toda criança precisa de‬
‭muito amor e atenção, elas precisam de cuidados com sua saúde, alimentação e devem‬
‭participar de atividade que toda criança de sua idade gosta de fazer”‬‭1‬‭4‬
‭O programa consegue propiciar uma construção diferenciada do conhecimento e da cidadania‬
‭das crianças, através dos adultos, pais e responsáveis, que ouvem o programa‬‭Viva a Vida‬‭. Há um‬
‭esforço conscientizador e mobilizador muito forte.‬
‭Outro programa interessante é‬‭A voz dos trabalhadores‬‭,‬‭transmitido aos domingos, às 8h30 pela‬
‭Rádio Muriaé. A atração não é necessariamente educativa, mas se mostra participativa no âmbito‬
‭dos movimentos sociais. Oferece informações para o camponês, como cursos da Contag‬
‭(Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura), documentação e eventos do‬
‭Sindicato dos Trabalhadores Rurais e das comunidades de base do meio rural. O apresentador,‬
‭além de informar, explica a importância sobre as notícias relativas ao trabalhador rural. A‬
‭linguagem é peculiar e se assemelha àquela usada em rádios comunitárias, já que o roteiro e a‬
‭apresentação são produzidos por um membro do Sindicato, Reinaldo Barberine, feita com uma‬
‭linguagem direta ao público-alvo do programa. Assim promove a participação efetiva na‬
‭dinâmica social.‬
‭Programas‬ ‭como‬ ‭estes‬ ‭em‬ ‭rádios‬ ‭comerciais‬ ‭é‬ ‭o‬ ‭ponto‬ ‭inicial‬ ‭de‬ ‭uma‬ ‭cultura‬ ‭mais‬
‭cidadã,‬ ‭onde‬ ‭vemos‬ ‭inseridas‬ ‭parcelas‬ ‭de‬ ‭contribuição‬ ‭para‬ ‭uma‬ ‭sociedade‬ ‭mais‬
‭responsável, e que juntas formarão uma comunidade igualitária e justa.‬
‭ ‬ ‭conceito‬ ‭de‬ ‭educação‬ ‭está‬ ‭na‬‭origem‬‭do‬‭rádio.‬‭As‬‭programações‬‭deveriam‬‭dedicar‬
O
‭mais‬ ‭um‬ ‭pouco‬ ‭de‬ ‭seu‬ ‭espaço‬ ‭voltado‬ ‭para‬ ‭questões‬ ‭de‬ ‭cidadania,‬ ‭saúde,‬
‭meio-ambiente e educação e, assim, promover o cidadão brasileiro.‬

‭6. AÇÕES DAS EMISSORAS CONJUNTAS COM A COMUNIDADE‬


“‭ ‭M‬ elhorar‬ ‭as‬ ‭condições‬ ‭de‬ ‭vida‬ ‭da‬ ‭comunidade‬ ‭é‬ ‭a‬ ‭meta‬ ‭do‬ ‭jornalista.‬ ‭Toda‬
‭matéria‬ ‭veiculada‬ ‭tem‬ ‭este‬ ‭objetivo.‬ ‭Para‬ ‭isto,‬ ‭é‬ ‭preciso‬ ‭denunciar‬ ‭e‬ ‭fazer‬
‭campanhas‬ ‭que‬ ‭tenham‬ ‭por‬ ‭fim‬ ‭a‬ ‭solução‬ ‭dos‬ ‭problemas‬ ‭que‬ ‭afetam‬ ‭a‬
‭sociedade.”‬
‭Maria Elisa Porchat, em Manual de Radiojornalismo da Jovem Pan‬

‭ s campanhas são a mostra viva da capacidade socializadora do rádio. Os comunicadores são‬


A
‭capazes de influenciar na comunidade e mobilizá-la, criando campanhas e ditando o‬
‭comportamento da população frente às questões mais diversas. A emissora pode, por exemplo,‬
‭acumular dezenas de colchões para vítimas de enchente. A um apelo ao microfone, por causa do‬
‭discurso popular, de fácil acesso às grandes massas, os comunicadores partilham com os‬
‭membros de uma coletividade as necessidades de uma região. As estações também podem‬
‭engajar em projetos de terceiros que necessitam de apoio da mídia.‬
‭Em Muriaé as emissoras já trabalharam muito mais em campanhas próprias. Hoje em dia, mais‬
‭apoiam projetos das instituições, o que já faz uma grande diferença para quem precisa de‬
‭divulgação. E as emissoras ajudam nessas campanhas não só por uma questão de audiência, mas‬
‭por uma questão de dever com a sociedade.‬
‭O veículo deve se moldar pela filosofia “pense globalmente, aja localmente”. O governo federal‬
‭pode montar um excelente campanha sobre o cuidados com as casas nas encostas com risco de‬
‭desabamento. Mas é somente o comunicador falar que é preciso cuidar das casas nesses locais,‬
‭ou que aconteceu um desastre em um bairro com vítimas e desabrigados, que as pessoas ajudam‬
‭mais veementemente. Campanhas de preservação do meio ambiente, contra queimadas nas‬
‭ atas, entre outras, ganham força maior de penetração quando o veículo de comunicação local‬
m
‭entra na campanha.‬
‭ ma das finalidades mais importantes do rádio é mobilizar a comunidade em torno de‬
U
‭temas de interesse comum. São as chamadas “campanhas”. Os alvos são os mais‬
‭variados possíveis, mas o resultado é sempre um sucesso. (PARADA, 2000, p. 119)‬

‭ m‬‭dos‬‭exemplos‬‭de‬‭sucesso‬‭na‬‭cidade‬‭foi‬‭uma‬‭campanha‬‭feita‬‭pela‬‭Rádio‬‭Muriaé.‬‭A‬
U
‭emissora‬ ‭associou‬ ‭o‬ ‭recolhimento‬ ‭de‬ ‭alimentos‬ ‭a‬ ‭cupons‬ ‭para‬ ‭sorteio‬ ‭de‬ ‭prêmios.‬
‭Paulo‬ ‭Roberto‬ ‭explica‬ ‭que‬ ‭foi‬ ‭interessante‬ ‭para‬ ‭quem‬ ‭ajudou,‬ ‭para‬ ‭a‬ ‭rádio‬ ‭e‬ ‭para‬ ‭a‬
‭comunidade.‬ ‭‘Nós‬ ‭fizemos‬ ‭campanha‬ ‭com‬ ‭a‬ ‭Igreja‬ ‭Católica,‬ ‭foram‬ ‭três‬ ‭anos‬
‭consecutivos‬‭de‬‭alimentos,‬‭que‬‭as‬‭pessoas‬‭trocavam‬‭por‬‭cupom‬‭para‬‭concorrer‬‭a‬‭uma‬
‭premiação‬ ‭grande‬ ‭de‬ ‭eletrodomésticos.‬ ‭Só‬ ‭na‬ ‭rádio‬ ‭nós‬ ‭arrecadamos‬ ‭sete‬ ‭toneladas‬
‭de alimentos, a Igreja do Centro foram 12, a da Barra foram seis, a do Porto quatro”.‬
‭Na‬ ‭Rádio‬ ‭Atividade‬ ‭as‬ ‭campanhas‬ ‭também‬ ‭fazem‬ ‭parte‬ ‭da‬ ‭política‬ ‭editorial‬ ‭da‬
‭empresa.‬ ‭Mas‬ ‭atua‬ ‭como‬ ‭contribuição‬ ‭às‬ ‭entidade‬ ‭filantrópicas‬ ‭como‬ ‭Lions‬ ‭Club,‬
‭Rotary‬ ‭Club,‬ ‭Maçonaria,‬ ‭Casa‬ ‭das‬ ‭Meninas,‬ ‭Lar‬ ‭Ozanam‬ ‭(Assistência‬ ‭aos‬ ‭idosos).‬‭A‬
‭ajuda‬ ‭acontece‬ ‭na‬ ‭divulgação‬ ‭massiva‬ ‭da‬ ‭campanha‬ ‭que‬ ‭essas‬ ‭entidades‬ ‭mantêm.‬
‭“Nós‬‭sempre‬‭apoiamos,‬‭todos‬‭que‬‭fazem‬‭campanha,‬‭contam‬‭conosco‬‭na‬‭divulgação‬‭e‬
‭com‬‭a‬‭nossa‬‭participação‬‭nas‬‭campanhas.‬‭Já‬‭fizemos‬‭também,‬‭campanha‬‭de‬‭agasalho‬
‭aqui, várias vezes, de alimento, partindo da emissora”, afirma Júlio Soares.‬
‭Pensamos‬‭no‬‭que‬‭significa‬‭ser‬‭solidário‬‭e‬‭na‬‭solidariedade‬‭que‬‭o‬
‭rádio‬ ‭desperta‬ ‭entre‬ ‭os‬ ‭ouvintes,‬ ‭sobretudo‬ ‭a‬ ‭mobilização‬ ‭que‬
‭provoca‬ ‭nas‬ ‭grandes‬ ‭tragédias.‬ ‭Mas‬ ‭ser‬ ‭solidário,‬ ‭sentir‬ ‭com‬ ‭é‬
‭muito‬ ‭mais‬ ‭do‬ ‭que‬ ‭ter‬ ‭pena‬ ‭de‬‭.‬ ‭A‬‭solidariedade‬‭de‬‭que‬‭estamos‬
‭falando,‬ ‭além‬ ‭de‬‭sentir‬‭com‬‭o‬‭outro,‬‭procura‬‭fazê-lo‬‭perceber,‬‭no‬
‭momento‬ ‭do‬ ‭sofrimento,‬ ‭que‬ ‭ele‬ ‭é‬ ‭sujeito‬ ‭da‬ ‭história,‬ ‭do‬ ‭seu‬
‭processo.‬ ‭A‬ ‭ajuda‬ ‭do‬ ‭outro,‬ ‭neste‬ ‭sentido,‬ ‭não‬ ‭o‬ ‭deixa‬‭sentir-se‬
‭objeto‬ ‭de‬ ‭favores,‬ ‭mas‬ ‭sujeito‬ ‭do‬ ‭seu‬ ‭próprio‬ ‭crescimento.‬
‭(CORAZZA, apud BARROS, FERNANDES, p. 168).‬

‭ s‬ ‭campanhas‬ ‭estimulam‬ ‭a‬ ‭sociedade‬ ‭e‬ ‭podem‬ ‭ser‬ ‭o‬ ‭ponto‬ ‭de‬ ‭partida‬ ‭para‬ ‭a‬
A
‭discussão‬‭dos‬‭pontos‬‭ainda‬‭fracos‬‭da‬‭organização‬‭social,‬‭já‬‭que,‬‭na‬‭maioria‬‭das‬‭vezes,‬
‭atendem‬ ‭de‬ ‭forma‬ ‭emergencial‬ ‭aos‬ ‭problemas‬ ‭enfrentados‬ ‭e‬ ‭vivenciados‬ ‭pela‬
‭população‬‭no‬‭cotidiano.‬‭A‬‭proposta‬‭é‬‭também‬‭servir‬‭como‬‭reflexão,‬‭porque‬‭constituem‬
‭a‬ ‭resposta‬ ‭da‬ ‭enorme‬ ‭capacidade‬ ‭persuasiva‬ ‭do‬ ‭rádio‬‭como‬‭instrumento‬‭socializador‬
‭do cidadão.‬
‭CONSIDERAÇÕES FINAIS‬
‭ titudes‬ ‭positivas‬ ‭podem‬ ‭levar‬ ‭a‬ ‭um‬ ‭crescimento‬ ‭da‬ ‭sociedade.‬ ‭E‬ ‭o‬ ‭rádio‬ ‭é‬ ‭um‬
A
‭poderoso‬ ‭veículo‬ ‭para‬ ‭a‬ ‭concretização‬‭desse‬‭sonho‬‭coletivo‬‭para‬‭que‬‭a‬‭comunicação‬
‭seja um direito humano respeitado.‬
‭O‬ ‭rádio‬ ‭na‬ ‭construção‬ ‭da‬ ‭cidadania‬ ‭faz‬ ‭a‬ ‭voz‬ ‭da‬ ‭comunidade,‬ ‭que‬ ‭batalha‬ ‭por‬ ‭uma‬
‭sociedade‬‭mais‬‭forte‬‭e‬‭conscientizada.‬‭Com‬‭uma‬‭linguagem‬‭próxima,‬‭íntima‬‭e‬‭popular‬
‭deve‬‭unir‬‭governantes‬‭e‬‭os‬‭cidadãos‬‭para‬‭a‬‭edificação‬‭não‬‭só‬‭de‬‭uma‬‭sociedade‬‭mais‬
‭justa, mas também do ser humano como parte desta coletividade.‬
‭O‬‭poder‬‭mobilizador‬‭do‬‭rádio‬‭é‬‭a‬‭capacidade‬‭de‬‭ser‬‭o‬‭“tambor‬‭tribal‬‭da‬‭aldeia‬‭global”‬‭é‬
‭a‬ ‭possibilidade‬ ‭do‬ ‭resgate‬ ‭de‬ ‭um‬ ‭mundo‬ ‭mais‬ ‭unido,‬ ‭embora‬ ‭as‬ ‭fronteiras‬ ‭da‬
‭democracia ainda não tenha sido totalmente exterminadas.‬
‭Nesse trabalho percebe-se que o ouvinte procura a rádio, não somente porque não tem seus‬
‭anseios e necessidades atendidas, mas ele quer tornar também pública a denúncia e assim ser‬
‭ouvido pelos órgãos competentes. O cidadão, o ouvinte, quer ser ouvido também. Nos outros‬
‭meios de comunicação, os fatos da sociedade são contados pelo jornalista, no rádio o caminho é‬
‭menor e o ouvinte pode se tornar o repórter de seu próprio caso.‬
‭Com todos os cuidados com a utilização desse meio de comunicação e com alguns reparos que se‬
‭fazem, sem dúvida, necessários, o rádio é ainda - e diante das novas tecnologias - o melhor‬
‭instrumento para se chegar a uma população que não tem acesso à educação convencional, e‬
‭pode, diante disso ser canal conscientizador e também criar contextos de experiências‬
‭democráticas, como os exemplos dos quadros dos programas analisados, que levam cidadania e‬
‭diálogo a muitos ouvintes. Essas inovações tecnológicas proporcionarão ao rádio novo fôlego,‬
‭permitindo a fidelidade ao meio que tende a melhorar em termos de qualidade técnica. No‬
‭entanto, seu conteúdo deve ser cada vez melhor, mas sempre na busca para realizar o que desde‬
‭seu surgimento tem feito, aliar informação de qualidade à imediatismo, dinâmica à interatividade‬
‭com o ouvinte e, sempre oferecer aos indivíduos acesso à cidadania.‬
‭Em‬ ‭alguns‬ ‭momentos,‬ ‭pode-se‬ ‭perceber‬‭que‬‭os‬‭interesses‬‭de‬‭alguns‬‭proprietários‬‭de‬
‭veículos‬‭de‬‭comunicação‬‭é‬‭muito‬‭maior‬‭do‬‭que‬‭promover‬‭a‬‭cidadania‬‭e‬‭a‬‭solidariedade.‬
‭Esse‬‭discurso‬‭camufla‬‭as‬‭contradições,‬‭o‬‭que‬‭se‬‭pretende,‬‭muitas‬‭vezes,‬‭é‬‭aumentar‬‭a‬
‭audiência‬ ‭e‬ ‭conseqüentemente,‬ ‭aumentar‬ ‭os‬ ‭lucros‬ ‭em‬ ‭anúncios‬ ‭publicitários.‬‭Esta‬‭é‬
‭ ma‬‭outra‬‭pauta‬‭aberta‬‭para‬‭análise‬‭dos‬‭motivos‬‭por‬‭detrás‬‭de‬‭tais‬‭produções.‬‭O‬‭rádio‬
u
‭deveria‬ ‭ter‬ ‭o‬ ‭dever‬ ‭de‬ ‭tão‬ ‭somente‬ ‭ser‬ ‭o‬ ‭mediador‬ ‭de‬ ‭uma‬ ‭articulação‬ ‭social‬ ‭e‬ ‭não‬
‭puramente de interesses financeiros.‬
‭Ser‬ ‭observador‬ ‭dos‬ ‭meios‬ ‭de‬ ‭comunicação‬ ‭também‬ ‭é‬ ‭um‬ ‭dever‬ ‭do‬‭cidadão.‬‭Ele‬‭não‬
‭pode‬‭ser‬‭agredido‬‭pelos‬‭excessos‬‭da‬‭mídia,‬‭é‬‭o‬‭papel‬‭dele‬‭como‬‭cidadão‬‭fiscalizar‬‭e‬‭é‬
‭também‬ ‭dos‬ ‭jornalistas,‬ ‭que‬ ‭podem‬ ‭atuar‬ ‭como‬ ‭vigilantes‬ ‭dos‬ ‭abusos‬ ‭do‬ ‭poder.‬ ‭É‬ ‭a‬
‭luta‬‭da‬‭esperança‬‭por‬‭um‬‭futuro‬‭com‬‭menos‬‭violência‬‭e‬‭repressão,‬‭com‬‭justiça‬‭e‬‭paz,‬‭e‬
‭que‬ ‭também‬ ‭através‬ ‭da‬ ‭radiodifusão‬ ‭procura‬ ‭um‬ ‭modo‬ ‭de‬ ‭construir‬ ‭uma‬ ‭sociedade‬
‭mais democrática.‬
‭A‬ ‭concretização‬ ‭desse‬ ‭sonho‬ ‭exige,‬ ‭entretanto,‬ ‭um‬ ‭esforço‬‭coletivo.‬‭Dessa‬‭forma,‬‭há‬
‭necessidade‬ ‭de‬ ‭preencher‬ ‭as‬ ‭carências‬ ‭vindas‬ ‭das‬ ‭desigualdades‬ ‭sociais,‬ ‭além‬ ‭da‬
‭apreciação‬ ‭crítica‬ ‭da‬ ‭sociedade‬ ‭com‬ ‭relação‬ ‭ao‬ ‭desinteresse‬ ‭do‬ ‭poder‬ ‭público‬ ‭em‬
‭áreas‬ ‭vitais,‬ ‭como‬ ‭saúde‬ ‭e‬ ‭educação,‬ ‭por‬ ‭exemplo,‬ ‭e‬ ‭do‬ ‭próprio‬ ‭sentimento‬ ‭do‬
‭significado‬ ‭antigo‬ ‭de‬ ‭cidadania,‬ ‭como‬ ‭guardiã‬ ‭e‬ ‭fonte‬ ‭de‬ ‭direitos.‬ ‭Deste‬ ‭modo,‬ ‭seria‬
‭proporcionada‬ ‭uma‬ ‭qualidade‬ ‭de‬ ‭vida‬ ‭merecida‬ ‭por‬ ‭todos‬ ‭os‬ ‭seres‬ ‭humanos‬ ‭sem‬
‭restrições.‬

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‭Acesso em 2 set. 2005.‬

1‭ ‬‭Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.‬‭População estimada em 01/07/05.‬


‭www.ibge.gov.br‬‭15 de novembro de 2005.‬
‭2‬‭Anexo 18‬
‭3‬‭FERRARETO, Luiz Artur.‬‭Rádio:‬‭o veículo, a história‬‭e a técnica. Porto Alegre: Sagra Luzzato, 2000. p.‬
‭102‬‭.‬
‭4‬‭Afiliada à Rede Minas.‬

5‭ ‬‭BRASIL, Constituição da República Federativa. 1998,‬‭p. 6.‬


‭6‬‭Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.‬‭Síntese dos Indicadores Sociais 2003.‬
‭Disponível‬‭em‬‭www.ibge.gov.br‬‭11 novembro de 2005.‬
‭7‬‭Anexo 5‬
‭8‬‭Artigo 1º do Código de Ética da Radiodifusão Brasileira,‬‭1993 (vide anexo B).‬
‭9‬‭Anexo 6‬
‭1‭0‬ ‬ ‭Anexo 7‬
‭1‭1‬ ‬ ‭Anexo 8‬
‭1‭2‬ ‬ ‭Constituição da República Federativa do Brasil,‬‭art. 37, inciso XXII, parágrafo 1º.‬
‭1‭3‬ ‬ ‭Anexo 9‬
‭1‭4‬ ‬ ‭Anexo 10‬

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