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CURSO DE PSICOLOGIA
ALCAÇUZ/RN.
2018
JÉSSICA MAIARA DANTAS DA SILVA
ALCAÇUZ/RN.
Mascarenhas
2018
ii
Agradecimentos
do caminho de graduação que se perpetuou durantes esses quatro anos, conheci muitas pessoas
das quais levarei para a vida, colegas de sala, professores, funcionários da instituição. E é a
partir disso que agradeço a Deus, por me permitir conhecer tantas pessoas, e através delas ter a
A minha família que sempre se fez presente, que sempre me incentivou a crescer e
procurar por novas oportunidades (Avós, tio Fernando, Tia Aliane e Tia Nayara), em especial
ao meu irmão (Gabriel), que me apoiou e fez tantos sacrifícios para que eu chegasse aonde
cheguei. Ao meus pais (Neide e Chaguas), que já não estão presente fisicamente, mas,
permanecem vivos através das minhas lembranças, vocês passaram a vida toda trabalhando para
que eu e meu irmão tivesse uma vida diferente da de vocês, que pudéssemos alcançar nossos
sonhos e hoje posso dizer que estou fazendo o possível para honrar tudo que fizeram, se estou
podendo realizar esse sonho é graças a vocês. A meu avô Cicero, que também já não se faz
presente, mas pôde acompanhar um pouco da minha trajetória acadêmica, agradeço por passar
Aos meus orientadores, Guilherme e Mariana, que aceitaram trabalhar juntamente nessa
pesquisa, dando total apoio e encorajamento a linha de pesquisa. Agradeço também a paciência
de Mariana por tantas vezes me acalmar quando achava que não daria certo, por ter sido
inspiração no decorrer deste trabalho, e principalmente pelas trocas de ideias. Não teria chegado
aonde cheguei sem a ajuda de vocês, assim como todo o aprendizado que eu pude adquirir nesse
percurso.
Aos meus colegas de sala, no qual a ajuda foi sempre recíproca com palavras de
otimismo, em especial ao “grupo da zoeira” (Taty, Junior, Marília, Leonardo, Mayara, Jefferson
iii
e Clívio), a qual tenho um imenso carinho, tornaram-se mais do que amigos, tornaram-se uma
Ao meu namorado Lucas, por toda paciência, por compreender minhas ausências, por
sempre me apoiar nesse sonho, estando presente nos momentos de desespero, ocasionada pela
sobrecarga da faculdade.
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Sumário
Agradecimentos .........................................................................................................................iii
Resumo ....................................................................................................................................viii
Abstract ...................................................................................................................................... ix
Introdução ................................................................................................................................. 10
3. Método .................................................................................................................................. 28
4. Resultados e Discussão......................................................................................................... 31
Referências ............................................................................................................................... 53
v
Lista de figuras e tabelas
Figura 6. Um dos identificados pela polícia como chefe de umas das facções. ....................... 41
vi
Lista de abreviaturas e siglas
vii
Resumo
O sistema prisional brasileiro atualmente é caracterizado como um sistema que está em crise,
baseado na superlotação, na falta de assistência básica e jurídica e a violação aos direitos dos
presos, além de ter tantas outras falhas. Configurando assim que os próprios presos criem suas
formas de sobrevivência dentro dessas instituições prisionais, como também suas formas de
reivindicações, além disso, existem disputas pelo domínio dos presídios. Todas essas
características se aderem as famosas facções criminosas, representadas através das rebeliões
que recorrem frequentemente nos interiores dos presídios. A partir desses pressupostos, é
possível relembrar o massacre ocorrido na penitenciária de Alcaçuz/RN no ano de 2017, que
foi mediada a partir de um confronto entre duas facções rivais, resultando na morte de 26
detentos. Houve uma grande repercussão que foi adestrada pela mídia, ao qual expõe com
detalhes a violência que ocorria no interior do presídio entre os presos, com intuito de propagar
a sociedade um sentimento de medo e insegurança, o qual se repercutia como forma de
aderência ao punitivismo. Nessa perspectiva, o seguinte trabalho tem como objetivo analisar os
conteúdos das reportagens que relataram acerca do ocorrido em Alcaçuz no mês de janeiro,
trazendo os discursos e imagens que propaguem essa abordagem punitivista, relatando como
foi repassado a imagem do preso a sociedade, e qual intuito da mídia em abordar tantos casos
de violência e crimes em redes televisivas, assim como uma própria repercussão com o descaso
do Estado com os presídios brasileiros e sua responsabilidade quanto ao massacre em Alcaçuz.
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Abstract
The Brazilian prison system is currently characterized as a system that is in crisis, based on
overcrowding, lack of basic and legal assistance and violation of the prisoner's rights, as well
as having many other flaws. Configuring thus that the prisoners themselves create their forms
of survival within these prison institutions, as well as their forms of claims, in addition, there
are disputes by the dominion of the prisons. All these characteristics adhere to the famous
criminal factions, represented by the rebellions that often occurs in the interiors of the prisons.
From these assumptions, it is possible to recall the massacre that occurred in the penitentiary of
Alcaçuz / RN in 2017, which was mediated by a confrontation between two rival factions,
resulting in the death of 26 inmates. There was a great repercussion that was trained by the
media, which details the violence that occurred inside the prison between prisoners, in order to
spread the society a feeling of fear and insecurity, which was reflected as a form of adherence
to punitivism. In this perspective, the objective of this work is to analyze the contents of the
reports that announced on what occurred in January in Alcaçuz, bringing the discourses and
images that propagate this punitive approach, reporting how the image of the prisoner was
transferred to society, and which was the intention of the media to address so many cases of
violence and crimes on television networks, as well as a repercussion with the state's disregard
for Brazilian prisons and its responsibility for the Alcaçuz massacre.
ix
Introdução
carcerário é uma realidade constante nos presídios, além da violação dos direitos humanos,
2015).
Além do mais, é caracterizado por várias situações caóticas distinguidas em seu interior,
uma delas são as rebeliões, causadas como forma de reinvindicação dos presos pelos seus
precariedade da infraestrutura dos presídios e o próprio mau trato aos detentos. O presídio torna-
se comandado pelos próprios presos em seus interiores. Essas rebeliões se tornam meios pelos
quais os presos usam para denunciar as situações desumanas as quais estão vivendo (Oliveira,
2016).
responsáveis por transmitir esses discursos, transpondo informações de acordo com as fontes
repassadas pelo sistema penal. A notícia torna-se pertinente aqueles que são responsáveis pela
segurança pública. A mídia muitas vezes repassa informações que não condizem com a
que a sociedade se sinta cada vez mais em estado de alerta, fazendo com que haja uma cobrança
ao Governo, para que se tenha leis mais punitivistas e rigorosas. Isso sendo repercutido pelo
sistema midiático, ao passar a população essa impressão de insegurança, clamando assim por
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Toda essa repercussão sobre o sistema prisional e o papel da mídia na divulgação dos
crimes e violência fazem parte da pesquisa que se segue, atribuindo ênfase ao massacre de
Alcaçuz. Uma forma de evidenciar como a mídia pode se tornar manipuladora e influenciadora
de opinião pública, assim como as várias violações de direitos que ocorrem dentro dos sistemas
Em janeiro de 2017 começava a ser divulgado pela mídia um dos maiores massacres
várias manifestações decorrentes dessas rebeliões foram propagadas no Estado. A mídia fazia
o seu papel de divulgação, mostrando o caos que o Estado permanecia em virtude da rebelião
dos presos, repassando assim, medo e insegurança a sociedade. Em grande maioria, as rebeliões
ocorrem como forma de protesto, denunciando a forma como são tratados (Vasconcelos, 2017).
Nesse contexto, o presente trabalho vem abordar o envolvimento da mídia com relação
a punitividade e criminalização da pobreza que ocorre constantemente nos presídios, para isso
será usado a repercussão do massacre do presidio de Alcaçuz/RN que ocorreu em 2017, que
tem como objetivo geral analisar a reprodução do punitivismo nas reportagens sobre o massacre
11
Capítulo 1: Criminalização da pobreza operada pelo sistema prisional
Araújo & Santana, 2011). A seleção é o meio pelo qual o sistema penal difere os crimes de
classe média alta dos da classe baixa, pois a população mais pobre tem mais probabilidade de
fato a seletividade, pois se estima que 55% são jovens com uma faixa etária entre 18 e 29 anos,
e que 64% são compostos por pessoas negras. Acerca da escolaridade 17,75% não cursou o
ensino médio, ou seja, sua escolaridade chega até o ensino fundamental (Brasil, 2017b).
legislativo, e em seguida a secundária que corresponde com a ação que pune seletivamente um
determinado grupo de pessoas, isto é, há primeiramente uma escolha de quem será alvo de
investigação e condenação, resultando em muitos casos em que aquele que praticou o ato
criminal (ou crime) de uma classe mais alta não será condenado ou processado por tal (se
diretamente a classe de jovens pobres e negros, que são considerados como perigosos para a
sociedade. Os estigmas se associam a essa condição social por serem considerados mediante a
sociedade como ameaçadores. Quando cometem algum delito, esses jovens têm grande
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repercussão na mídia, assim, preponderando à criminalização e os estigmas agregados a essa
classe.
O conceito de Estado Penal foi formulado por Loic Wacquant, que significa um
caracteriza-se pelo aumento do disciplinamento direcionado a classe que era vitimada nesse
período de crise, havendo uma culpabilização do indivíduo, o qual o Estado utilizou do aparato
jurídico e policial para que houvesse o punitivismo a esses indivíduos (Andrade & Gracinho,
2015). Por sua vez, remonta a mesma postura de estigmatizar e criminalizar as classes mais
pobres, reproduzindo desconfiança e confirmando a desigualdade que há, e fazendo com que a
sociedade tema cada vez mais essa categoria social (Brisola, 2012).
políticas sociais para investir em políticas de segurança, deste modo, intensificar o Estado
Penal. Logo, ocorre a Questão social1, que visa a superexploração do trabalho e a passivação
das lutas sociais que são controladas pelo Estado e classes dominantes (Lucio, 2018).
sucesso em todos os requisitos de sua vida, mas a mesma não contribui para que haja
oportunidade para todos conseguirem almejar esse sucesso. Revelando a desigualdade que há
no Brasil. Como também a negação de direitos fundamentais que a população mais pobre
necessita, além de haver uma cobrança por parte da sociedade que se atinjam fins sociais que o
Nesse sentido, o jovem pobre que convive nesse sistema capital é obrigado a trabalhar
ao invés de estudar, pois seus pais já não conseguem garantir sua sustentação em um meio que
1
“O conjunto dos problemas políticos, econômicos e sociais com sua origem a partir da emergência da classe
trabalhadora nos processos de constituição do capitalismo. ” (Lucio, 2018, p. 38)
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cobra um consumo que não condiz com sua real situação financeira (Azevedo, Rodrigues &
Langoni, 2014).
Ainda de acordo com os autores, a população mais pobre é apontada como causa para a
criminalidade, sendo que em sua maioria eles são as maiores vítimas de crimes violentos, o
estigma de criminoso ronda em meio a essa classe, pois são punidos por um sistema seletivo,
que age desde o abuso de poder por parte da polícia até o aprisionamento desumano. Araújo
(2017) comenta acerca do medo utilizado como forma de legitimar as práticas autoritárias, desta
forma, controlar as classes mais pobres que constantemente são apontadas como pivô de
Outro fator preocupante é o tráfico de drogas, pois contribui como forma de criminalizar
ainda mais essa categoria, pois que a mesma é vinculada ao traficante que mora nas
comunidades. Na Legislação Penal Brasileira, a Guerra às Drogas, considera como base as leis
norte americanas. Em alguns países para ser enquadrado como usuário ou traficante, se
quantidade que diferencia quem é usuário e quem é traficante, ficando a cargo do operador de
direito decidir quem usa ou trafica a droga, já que são os responsáveis por apresentar as provas
incidências pelas quais as pessoas foram condenadas, um percentual elevado, comparado aos
pertencentes às classes sociais privilegiadas, que apenas serão enquadrados como usuários,
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afirmando as atitudes discriminatória e repressivas da polícia com relação a categoria dos mais
pobres (Azevedo, Rodrigues & Langoni, 2014). A ordem jurídica serve como selecionador
daquele que será encarcerado, se direcionando aos pobres. A classe detentora do poder não é
Esses indivíduos estigmatizados que por sua vez, são presos, permanecem em cárcere
privado sem ao menos ir a julgamento, que de acordo com os dados do Sistema Nacional de
Informações Penitenciárias (Brasil, 2017b, p. 13) “40% das pessoas presas no Brasil em junho
de 2016 não haviam sido julgadas e condenadas”, ou seja, quando vem a ser julgadas, uma
Após a saída do sistema prisional, o detento terá que lidar mais ainda com estereótipo
de criminoso, o qual não terá uma vida com dignidade, uma vez que a sociedade não aceita que
esses jovens possam ter uma segunda chance, lhes privando de qualquer oportunidade de
ingresso na sociedade, se tornando uma contribuição para que esse indivíduo volte para a
O sistema criminal e o Direito Penal2 expressam que a prisão tem como principal
crítica, o objetivo real desses sistemas são as gestões diferenciais da criminalidade e as garantias
militares. A política de tolerância zero tem como objetivo enaltecer maiores poderes e liberdade
² “O ramo do saber jurídico que, mediante a interpretação das leis penais, propõe aos juízes um sistema orientador
de decisões que contém e reduz o poder punitivo, para impulsionar o progresso do estado constitucional de direito”
(Zaffaroni & Batista, 2003, p. 40).
15
para o agir policial, deve ser usada como maneira de acabar completamente com a
criminalidade, como também com a desordem urbana. Mas, não foi isso que aconteceu, a
criminalidade não diminuiu, e quem sofreu essa erradicação por parte da polícia foi a população
delitos menores, e por consequência, o Estado controla e exclui aqueles que serão destinados à
Embora essa política resulte em uma exaltação por parte de seus defensores, mostrando-
a como eficaz, e sintetizando como o “milagre” para a criminalidade, não corresponde aos dados
informação, transmitindo uma falsa atuação desse sistema, fazendo com que a população
população e soluções para os descasos proporcionados pela pobreza. A pobreza então se torna
um problema, e os pobres são vistos como inimigos que necessitam serem excluídos, havendo
Desse modo, a sociedade tem-se mostrado por meio da polícia violenta, pronta a cessar
em vários meios, desde o acadêmico até o midiático, coexiste o brado ‘bandido bom é bandido
morto”, assim como a próprio canção exaltada pelo BOPE – Batalhão de Operações Especiais
“Homens de preto, qual é a sua missão? É invadir a favela e deixar corpo no chão”// “Se
perguntas de onde venho e qual é a minha missão: trago a morte e o desespero, e a total
destruição”.
O Estado de Exceção, valida o inimigo pela cor, sexo e faixa etária, e até mesmo pelo seu CEP,
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ao constatar que os mesmos estão inseridos em bairros mais pobres, sendo abordados não pelos
atos praticados, mas, por ser um “perfil de risco” (Sant’Ana & Silva Junior, 2017).
sua maioria indivíduos negros e pobres, ocasiona uma indústria que promove o medo aos
pobres, sendo rotineiramente divulgado pela mídia, e os grupos sociais periféricos sendo
desigualdade social, como também a falta de responsabilidade do Estado com relação aos
direitos dos cidadãos. Além de reforçar o punitivismo através do encarceramento como fórmula
A punição se torna algo rotineiro na vida dos pobres, se tornando o objetivo do sistema
penal, que agrega a desigualdade e as classes oprimidas ficam à mercê desse sistema, havendo
Diante disso, vale ressaltar que o capitalismo tem ligação direta com o sistema penal,
como forma de garantia de manutenção, ou seja, garantia da mão de obra, e quem não se
submetem a tal subjugação, é criminalizado. O Sistema Penal vem mudando suas ações ao
longo do tempo, um exemplo disso, é a substituição que houve nos modos punitivistas da Idade
Média para a elevação do capitalismo, sendo exemplificado através da relação que os detentores
de poder têm ao criar uma lei específica na qual determina combater os crimes a propriedade
criminalizado, ou seja, as classes menos favorecidas são as mais perseguidas pelo sistema penal
(Budó, 2008). Reafirmando o modelo de produção capitalista que de acordo com Silva (2006,
p. 27)
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O crime e o criminoso não são fatos pré-existentes, mas resultados de uma seleção de
condutas e agentes a serem reprimidos. Nesse sentido, o status de criminoso é atribuído
a alguns indivíduos que são escolhidos pelo sistema para figurarem como criminosos,
ou seja, é criminoso aquele que a classe detentora de poder rotula como criminoso, via
a criação da lei penal e aplicação dirigida da norma.
Foucault (1987, p. 260), traz em seu livro “Vigiar e Punir” objetivos das prisões:
tornou intolerante, e que não aceita apenas o aprisionamento como forma de castigo aqueles
que cometem o ato criminal, mas, sim faz-se justiça por conta própria, se remetendo aos grupos
prisional brasileira chegou à marca de 700 mil pessoas privadas de liberdade, havendo um
aumento de 707% com relação ao início da década de 90. A taxa de aprisionamento entre 2000
e 2016 aumentou em 157% no Brasil, para cada 100 mil habitantes 137 pessoas permanecia
presa no ano de 2000, já no ano de 2016 a estimativa para os 100 mil habitantes é de 352,6
Ao analisar esses dados, fica evidente que existe um número elevado de encarcerados,
que remete para uma criminalização da pobreza, e o total descaso do governo com relação ao
investimento de políticas públicas para que haja a mudança nesses números. O problema, é que
o governo acha mais fácil investir em novos presídios. As prisões não diminuem as taxas de
assassinatos, abusos, entre outras violações dos direitos humanos), que decorrem no cotidiano
prisional, recorrem a uma taxa de morte intencional e notificações da OEA (Organização dos
Estados Americanos), que são direcionadas ao Estado brasileiro. Torna-se nítido o quanto o
discurso de humanização foi comutado por uma política criminal que intensifica a desigualdade
O Estado por sua vez, se torna omisso, quando edifica o sistema carcerário, sendo
passivo com a desumanidade, mesmo havendo no Brasil tantas leis as quais buscam proteger e
garantir os direitos das pessoas presas, tornando-se um Estado mínimo com relação à dignidade
Os fatores pelos quais o sistema prisional virou esse verdadeiro caos se dão através do
abandono, falta de investimento e descaso pelo poder público, um lugar o qual, seu intuito de
ressocialização já não funciona, devido a insalubridade e sem espaços que realoque todos os
Federal, “é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral” (Almeida, 2017, p.
6). De acordo com o artigo, os direitos fundamentais desses detentos não estão sendo
relação aos Direitos Humanos Brasileiros, outra questão relacionada aos déficits ocasionados
no sistema prisional, é a saúde, pois alguns presos relatam o descaso como são tratados pela
direção dos presídios pela ausência de atendimentos médicos, muitos chegam ao estado
terminal, por falta de assistência, passam frio, não tem acesso a roupas limpas e secas, ou seja,
não possui a assistência básica do presídio, além da falta de medicação para tratamento de
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doenças mais leves como gripe, por exemplo, que em grande maioria se agravam, tornando-se
A partir de todo esse caos dentro dos sistemas penitenciários, nascem as facções, as
quais tem como objetivo, reivindicar melhores condições nos presídios. As facções nos
remetem sobre uma das maiores rebeliões que já ocorreu no Rio Grande do Norte, em janeiro
Localizada no município Nísia Floresta, foi inaugurada no ano de 1998, pelo governo Garibaldi
Alves, sendo feita para comportar 400 apenados, significando o maior estabelecimento prisional
do RN (Vasconcelos, 2017).
facção do PCC (Primeiro Comando da Capital) e Sindicato do RN. Por ter se tornado algo da
realidade dos presídios, as facções se tornam grupos propícios às adesões de novos membros e
integrantes, seja de forma deliberada ou sob pressão psicológica, a maioria dos indivíduos
tornam-se membros de facções como forma de garantir sua segurança, proteção e sobrevivência
Durante o período da rebelião a qual começou no dia 14 de janeiro foi possível ver as
duas facções guerreando entre si, e sendo assistidas pela mídia e órgãos responsáveis pela
segurança pública, que se sentiam incapazes de controlar tal situação. A rebelião durou
exatamente 14 dias, sendo que após uma operação que juntou a Força Nacional Penitenciária e
agentes do Rio Grande do Norte, com o batalhão de choque da polícia militar, foi que
Além do mais, outro fator relevante é populismo penal que faz parte de um discurso
população, a mesma, acredita que com penas mais severas haverá uma redução da
desamparo a dignidade humana, ou seja, que os apenados não tenham acesso aos direitos
De acordo com Sant’Ana e Silva Junior (2017), o populismo penal ainda é a favor da
prisão perpétua e a pena de morte, pois mesmo com a prisão, eles ainda clamam pela dor do
inimigo, que eles sofram e encontram através da prisão uma forma de justiça social dentro da
legalidade.
O sistema prisional brasileiro confirma esse populismo penal, ao ser caracterizado pela
site da UOL publicou uma notícia informando acerca de uma alteração que o Conselho Nacional
resolução “nº 9, de 2011 que estabelecia regras para a elaboração de projetos, construção,
Com relação a todo esse descaso que ocorre no sistema prisional, mesmo havendo os
esforços por parte dos intelectuais e operadores da política criminal, chegou-se à conclusão de
que não há saída para crise da prisão com ênfase no capitalismo, pois a mesma virou reprodução
de violências. Nesse intuito, existe a necessidade de luta contra um sistema que causa
sofrimento, gera dor e provoca mortes, assim como a construção de projetos que visem uma
nova sociedade que vise a igualdade, seja justa e não que os aprisionem (Sant’Ana & Silva
Junior, 2017).
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Capítulo 2: Reprodução midiática do punitivismo
com a insegurança, o país adota uma lógica punitivista no que se remete a esses indivíduos que
estão em cárcere. Os meios de comunicação, por sua vez ficam responsáveis pela divulgação
maioria é pelo sistema penal. A mídia já não é só vista como reprodutora da comunicação social
do sistema penal, mas, passa a interferir diretamente nas investigações tanto policiais como do
Penal, a mesma tem como objetivo incentivar uma reação da população ao estimular o
sobre seus responsáveis, fazendo com que seja interligada a violência a condição de pobreza,
etnia e favelas, as quais são consideradas como territórios aos quais não há a existência de leis
(Brisola, 2012).
no Brasil as maiores vítimas de assassinato são jovens, de classe baixa e negros que são
diferenciados das vítimas que são constantemente apresentadas nos jornais (Budó, 2012). O
punitivismo se torna algo quase impossível de ser banalizado, pois a sociedade tem vontade de
punir a qualquer custo, isso sendo ocasionado pela manipulação da notícia (Dias, Dias &
Mendonça, 2013).
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Existe um fator relacionado às informações geradas pela mídia, as quais dependem de
uma questão relativa ao entendimento da sociedade sobre o que a mesma entende sobre o que
é o crime, ou seja, o que considera ser crime. Assim como a mídia dá mais importância aos
crimes que ocorrem em áreas mais nobres em virtude de este ser seu público alvo, se desfazendo
de dados estatísticos, o telespectador se torna induzidos às informações que ali serão repassadas
de maneira distorcida. Essa prática ocasiona na percepção do indivíduo de qual classe social a
mídia retrata como vítima da violência, e em consequência disso, a própria classe se sente como
a principal vítima, ou seja, se sente frequentemente em risco, em virtude de ser embasado pelos
Quem será subjugado pelo ato criminoso fazendo com que haja uma perseguição a uma
parcela específica da sociedade contra determinados atos cometidos, que seriam aqueles
agregados aos crimes de rua, considerados pequenos delitos, ficando evidente a postura da
Dias e Guimarães (2014), também relatam acerca da construção da notícia a partir dos
pressupostos exaltados pelos agentes da força repressora, que contribuem para a formação de
também as aplicações de leis e o seu cumprimento. Chegando à conclusão de que a mídia, não
Os estereótipos que são agregados aos criminosos e que constantemente são estimulados
pela mídia, apareceram na sociedade a partir da construção que existe uma guerra declarada aos
“delinquentes”, que ocorrem principalmente nas grandes cidades, outra característica que seja
marcante nas notícias que evidencia a violência, é o sensacionalismo e o espetáculo, que são
reproduzidas pelos editoriais dos jornais e principalmente quando são matérias jornalísticas que
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A necessidade dos meios de comunicação de atingir lucro, realizam um processo de
seleção, no qual se tem o interesse de que a informação seja atrativa, buscando se tornar
fundamentação, atendendo interesses bem claros (Dias, Dias & Mendonça, 2013).
Nesse contexto, as mídias reforçam os aspectos negativos de quem devem ser excluídos
acerca da indignação que ocorre contra situações desviantes do consenso, justificando através
das operações policiais que ocorrem nas favelas, ao darem ênfase somente às forças da ordem,
enquanto pouco se é transmitido acerca das mortes. Isso se repercute na população através do
sentimento de insegurança, que em várias análises são repassados nos meios de comunicação,
alimentando o populismo penal, como já discutido no capítulo anterior, que clamam por
(Wojciechowski, 2015).
Desse modo, os cidadãos a partir do momento que são expostos ao que é repassado pela
mídia, tendem a tratar como inimigo todos aqueles que são tratados como criminosos, sem se
deter ou dar importância aos seus direitos. O único desejo da sociedade nesse momento é que
implicam no uso indireto ou direto da violência as classes mais vulneráveis da sociedade ou até
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contra aqueles que atentem contra o discurso da mídia, assim se faz valer propostas de medidas
A mídia se torna ainda mais violenta quando expõe em suas programações, através dos
estigmas propagados frequentemente para com aquele que cometeu o delito (Alves, 2013). Em
decorrência das inúmeras divulgações da mídia com relação à violência, a sociedade em si,
toma como base os preceitos expostos através dos meios de informação (Dias & Guimarães,
2014).
Ao manipular os dados tanto estatísticos como até os episódios criminais, a mídia gera
sociedade, e em algumas vezes assume o papel de executora da pena, isso se torna evidente nos
soluções que sirvam como método repressor ao crime, assim como a pena a quem praticou
determinado ato criminal, dito de outra forma, se houve delito tem que haver pena. Ao se fazer
uma comparação entre os discursos que legitimam a pena e as teorias e pesquisas que
questionam o sistema penal, o que será aceito será a legitimação. Por se tratar de assunto de
maior interesse a população, por coincidir com o mesmo pensamento, já que a sociedade vive
reproduz a seletividade policial, que por sua vez tendem apresentar notícias acerca dos
acontecimentos criminais e judiciais. Se detendo aos atos e informações que conseguirem para
que de fato o acusado seja sentenciado sem ir ao júri. O jornalismo investigativo coloca todo o
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processo em tempo real ao expor toda a sequência que se dará esse processo se tornando público
ao manifestar a opinião da vítima, havendo debates entre advogados e promotores, com relação
ao dano social causado pelas propagações divulgadas a sociedade através da mídia, isso pode
que aquele indivíduo que se encontra como autor do ato infracional pague pelo seu erro da
forma mais perversa que houver, o mesmo não ocorre quando se ver a sociedade se deparando
com os crimes cometidos pela classe mais alta, exemplos são os banqueiros que lavam dinheiro
do tráfico de drogas, ou até a corrupção que ocorre nas políticas, pois não se tem a mesma
repercussão e manifesto da sociedade como os casos de violência exibidos pela mídia (Kilduff,
2010).
aparatos jurídicos sucedendo ao Poder Judiciário ceder às pressões com relação ao punitivismo
que clama a sociedade que não tem conhecimento acerca da realidade penal que está ocorrendo
A influência que a mídia gera repercute também ao Magistrado, ao julgar de acordo com
o que pensa ser esperado de sua decisão, o convencimento e a persuasão da imprensa fazem
com que os seus fatos fiquem registrados na consciência, e por isso pode gerar influência na
virtuais, que se tornaram grandes reprodutores do punitivismo, através de redes sociais, sites de
26
pessoa, exclusivamente a um “criminoso”, principalmente ao que adentra o compartilhamento
(Wojciechowski, 2015).
formação da opinião pública. E a partir dessas relações complexas as quais a mídia se pressupõe
que a mesma se caracteriza como sendo formadora da sociedade, quer dizer, atua por toda a
vida dos cidadãos, disciplinando-os e os inserindo na sociedade já que é ela que lhe passa a
27
3. Método
O presente trabalho trata-se de uma pesquisa documental que de acordo com Gil (1987,
p. 162), “[...] constituem importante fonte de dados para a pesquisa social. Possibilitam ao
pesquisador conhecer os mais variados aspectos da sociedade atual e também lidar com o
passado histórico”. Isto é, uma ciência que trata da organização do manuseio de informações,
imagem, sons e vídeos, como também registrados por técnicas especiais, que seria impressão,
gravação, pintura ou “qualquer informação oral como diálogo, exposições, aula, reportagens
Quanto aos dados que serão analisados, será utilizado reportagens jornalísticas, as quais
julgando assim os desvios sociais, e sendo preconizador da execução das leis e dos padrões de
A InterTV Cabugi é uma emissora situada em Natal-RN, afiliada da Rede Globo. Sua
fundação ocorreu no ano de 1987, pelos irmãos Aluizio e Agnelo Alves, como Tv Cabugi,
permanecendo com este nome até o ano de 2006. Agnelo vendeu parte das ações da emissora
A Cabugi esteve em primeiro lugar nos índices de audiência com o maior nível de
cobertura e tecnicamente muito bem estruturada, passando a ser a melhor emissora do Rio
Grande do Norte, além de se seu sinal ser transmitido para mais de 90% dos municípios
RN TV 1ª edição, RN TV 2ª edição, Bom dia RN, Inter TV Rural RN, Rota Inter TV Costa
Branca e Resenha do RN. Serão utilizadas as reportagens do RN TV 2ª edição o qual tem como
O telejornal tem como característica apresentar as notícias que serão abordadas durante
o programa, logo em seguida é passada para a apresentação dos casos noticiados através dos
repórteres, os quais se usam de entrevistado para compor a veracidade dos fatos, inclusive
autoridades que estão à frente do caso, ou seja, os responsáveis pela segurança do Estado. Os
do caos que estava ocorrendo, bem como as consequências que o massacre trazia para a
população.
Antes de tudo, vale salientar que ocorreu primeiramente a investigação dos vídeos
Cabugi, mais especificamente o jornal RN TV 2º edição, o qual pode-se ter acesso aos vídeos
/vídeos).
de janeiro todos do ano de 2017. Essas datas se referem ao período do massacre de Alcaçuz,
29
sendo que o mesmo se iniciou no dia 14, mas por uma questão de acesso e disponibilidade,
Após a seleção, todos os vídeos foram transcritos, com intuito de melhor compreensão
acerca das reportagens, destacando a forma como o telejornal passa a informação sobre o
A análise de dados será feita da seguinte forma, após a transcrição dos vídeos, foram
abordadas algumas categorias que fazem ênfase aos objetivos do trabalho, que são elas:
caracterização dos presos; os motivos elencados pela mídia para explicar o massacre e a
As categorias servem como norte para a análise do conteúdo, com base nos conteúdos
transcritos, é feito uma discussão juntamente com o material teórico já exposto neste trabalho,
fazendo-se uma análise com esses dois elementos buscando explorar discursos que são
contemplados nas reportagens sobre o massacre, e como o mesmo pode elevar o punitivismo
30
4. Resultados e Discussão
Para melhor compreensão dos resultados que se segue, será apresentado uma pequena
introdução acerca da rebelião que ocorreu em Alcaçuz, e logo em seguida, as análises das
categorias, que serão utilizadas como mecanismo para melhor entendimento dos resultados
deste presente trabalho, e estão divididas em três sessões: caracterização dos presos; os motivos
Por haver um número elevado para o total de vagas existentes dentro dos presídios,
como também a falta de assistência por parte do Estado, isso resulta como um difusor das
revoltas recorrentes existentes dentro dos presídios, a falta das condições mínimas que se
necessite para viver em um ambiente como o presídio, pode contribuir para a formação de
É recorrente dentro das prisões haver violência e impunidade partindo dos agentes
penitenciários bem como por parte dos próprios apenados, ocorrendo em grande maioria,
agressões, abusos sexuais, homicídios, extorsões e rebeliões, o qual se torna alicerce para o
um favorecendo a sua versão do que teria ocasionado. O site da UOL publicou a notícia sobre
a rebelião considerando como tema na matéria, “Guerra de facções em Alcaçuz é por força,
filiações e dinheiro” e sua explicação para a eventual situação de Alcaçuz foi que “a guerra
declarada tem motivações que envolvem demonstração de força junto ao Estado, a chance de
31
aumentar o número de filiados e, por consequência, reforçar o caixa já que ambas cobram
mensalidades dos membros. Por isso, nenhum dos lados aceita sair do local”. A Tribuna do
Norte (blog local do RN), divulgou a notícia informando que também seria uma guerra entre
facções.
Quando a polícia cumpre seu dever de encarcerar indivíduos que atua de maneira
“ilegal”, o Estado passa a se responsabilizar por ele, no que tange aos eventuais danos, tanto
físico, moral ou psíquico, quando o indivíduo está cumprindo pena em uma unidade prisional,
o Estado tem deveres com esse indivíduo, qualquer coisa que ocorrer com ele a
conflito entre duas facções, significando a omissão estatal dentro dos presídios. Outro motivo
que pode te desencadeado essa rebelião seria as condições desumanas às quais os detentos estão
sujeitos. O Estado ao deixar de cumprir a garantia do sistema prisional provê que haja não só o
falta de controle por parte do Estado com o preso, o qual está sob sua responsabilidade,
passando uma imagem um tanto apelativa, de que o Estado precisa disciplinar seus internos. O
Estado por sua vez, é totalmente omisso, quando não intervém no massacre, deixando que os
detentos se matassem, além de se usar de alternativas que não trazia resultados positivos, dando
Assim, a grande mídia agiu com parcialidade para alcançar objetivos próprios, pois além
estava repercutindo na vida das pessoas fora do presidio, quando houve os ataques aos ônibus
Ao analisar as reportagens, logo se nota uma crítica ao Estado, por não estar controlando
os detentos que estão sob sua responsabilidade, mencionam acerca desse “controle” como
forma desses indivíduos serem condicionados a uma disciplina restrita. Isso também é
reafirmado quando uma das pautas de discussão para a crise na penitenciária de Alcaçuz é “a
falta de disciplina dos presos”, sendo indagado por quatro promotores de justiça. Desta forma,
Vasconcelos (2017), diz que na prisão existem regras e disciplinas que devem ser cumpridas
pelos indivíduos que ali estão encarcerados, o não cumprimento dessas regras, gera correção, a
É perceptível notar o quanto a mídia se usa de algumas falas para enaltecer essa falta de
“controle”, a preocupação por parte da mídia, está em colocar os presos dentro das celas,
disciplinados, sempre enfatizando que os detentos estão rebelados. De acordo com Barcinki e
Cúnico (2014), há uma divisão dentro dos presídios, onde é delimitado o espaço onde são
colocados os presos, isso remete quem está de acordo com as normas estabelecidas pela
sociedade, os guardas penitenciários, os policiais, dentre outros funcionários, estão sob o poder
de comando, enquanto que os presos estão nesses locais para serem punidas.
comandante fala das medidas, e é questionado várias vezes sobre a falta de controle dos presos,
como também os mesmos terem tomado conta do presídio, fazendo com que conseguissem essa
afirmativa por parte do comandante e enalteceu isso para os telespectadores. A mídia se usa dos
discursos de agências do controle penal, para enfatizar ainda mais a notícia, legitimando assim
33
as informações, usando disso para causar um impacto a população, a qual passa a desejar ainda
Os dois principais objetivos é preservar vidas e aplicar lei, então a polícia militar chegou
no local porque se perdeu o controle da unidade, a SEJUC perdeu, então nós estamos
agora atuando massivamente para retomar o controle, e a primeira providência é instalar
a barreira física (Comandante da PM)
Mas divide em dois lados, de ambos os lados o controle é dos detentos? (Repórter)
Temos uma barreira, como já disse esse é o primeiro passo que consideramos o mais
importante para não ter uma guerra campal e possivelmente muitas mortes (Comandante
Geral da PM)
Mais o controle é deles coronel? Eles não vão mais se confrontar, mais ainda continuam
no controle é isso? (Repórter)
Está aí, como o comandante da polícia militar, assumindo, reconhecendo que os presos
continuam no controle de Alcaçuz, mesmo com a construção desse muro (Repórter)
No meio desse massacre também houve pouca importância dada a vida do preso dentro
do presídio, em uma coletiva, o governador reflete acerca das 26 mortes que houve em alcaçuz,
reiterando que não houve mortes com policiais, dando a entender, que a crise ocorrida em
Alcaçuz ainda estava sobre controle, enquanto houvesse só mortes envolvendo presos.
Até agora não tivemos morte de policiais, é importante ressaltar, não tivemos mortes de
agentes penitenciários, só tivemos morte de reféns, por enquanto a morte está restrita a
membros de facções (Governador).
O Estado se torna omisso, quando concorda com atos desumanos que se configura com
as práticas punitivistas, que ocorrem dentro dos presídios, não garantindo os direitos da pessoa
34
presa, que um dos principais seria garantir a integridade física, moral e psicológica do detento
(Almeida, 2017).
A mídia se usou da culpabilização dos presos para comover a população, em várias falas
que mencionavam o que estava acontecendo fora da penitenciária, enfatizava sobre a culpa
aderida aos presos de Alcaçuz, não mencionando que essa rebelião poderia ser ocasionada pelo
descaso do Estado com os presídios brasileiros, como pode ser observado nas seguintes falas:
“a questão da sociedade que também está sendo atingida” (Apresentadora), “infelizmente o que
acontece aqui, na penitenciária de alcaçuz, também tem reflexos graves no cotidiano, no dia-a-
dia das pessoas que estão aqui do lado de fora do sistema penitenciário” (Repórter).
Quando a mídia se adere dessas repercussões ela gera um culpado, o qual a população
que essa situação saia do controle, e deixa que realmente a população sofra com a situação.
do não compromisso do Estado com obrigações legais que seriam as leis baseadas na
assim os telespectadores que criam uma imagem de “monstros”, pessoas cruéis e perigosas.
instauram a prevalência da violência ocorrida, fazendo com que a população clame por punição
para esses indivíduos. Através dos comentários (Apêndice), com relação a essa reportagem é
abaixo), mas, se isso ocorre é porque há corrupção por parte de alguma autoridade policial,
35
havendo aliciamento de celulares dentro do presídio, isso se comprova pelo fato de ser um dos
Porque todos os líderes, estão presos nos presídios, você instala bloqueador de celular,
porque dá mais segurança do lado de fora, porque todas as ordens de violência partem
de dentro dos presídios. (Governador)
Machado, Souza e Souza (2013), relatam sobre o descaso com o qual os presos são
a assistência básica nos presídios brasileiros é precário, onde alguns chegam ao estado terminal,
uma vez que, falta do medicamento aos materiais para o fornecimento da assistência básica, e
como houve vários feridos e mortos no meio dessa guerra, alguns levado para o hospital, outros
sendo socorridos dentro do próprio presidio, fica o questionando se de fato ocorreu esse
Na Figura 1, podemos ver quando alguns feridos são socorridos, mas por cima do muro
do presídio, assim como na Figura 2, os feridos são socorridos pelos próprios detentos.
36
Figura 2. Presos feridos, sendo socorridos por outros detentos
Outra questão analisada foi o da estrutura física, foi mencionado entre os repórteres,
apresentadora e até mesmo autoridades do Estado, que muitas das armas brancas que os presos
coletiva, o mesmo é questionado sobre as armas que estão sob posse dos presos, e então ele
responde: “é mais pedaço de ferro, mas é claro, eles destruíram as instalações”, o mesmo afirma
que foram os próprios presos que deixaram Alcaçuz, em uma situação calamitosa. O próprio
secretário de justiça e cidadania também preconiza sobre a situação estrutural física de Alcaçuz,
“voltar-se para os pavilhões, não é fácil, pois todo o prédio está depredado”.
O que de fato não condiz com algumas afirmativas das autoridades do Estado, é o prédio
de Alcaçuz ter sido destruído agora pelos presos, já que em outras reportagens é levantado que
o prédio já estava em péssimas condições, desde da última rebelião de 2015, o qual não havia
mais grades das celas dos pavilhões desde da última rebelião (Tavares, 2017; Vasconcelos,
2017). Inclusive, desse tempo para cá, não foi feito nenhuma reforma, havendo um descaso por
parte do Estado. A Figura 3, abaixo mostra como estava o telhado de Alcaçuz, e as paredes do
presídio.
37
Figura 3. Telhado e paredes de um dos pavilhões de Alcaçuz, totalmente destruídos.
justificando que os mesmos faziam as armas como forma de “querer intimidar”, isso nos chama
atenção, pensando da seguinte forma, por qual motivo os presos estariam querendo “intimidar”
o Estado? Seria uma forma de fazer com que o Estado percebesse que existe seres humanos
abandono e falta de investimento por parte do poder público, que não visa respeitar a integridade
física e moral dos presos que estão sob sua supervisão (Machado, Souza e Souza, 2013).
Em mais outra coletiva, o governador fala sobre a violência destacada dentro do presídio
também como forma de “intimidação”, inclusive destacando que isso causa pânico na
sociedade, mas de fato esse sentimento é repassado a partir do momento que essas imagens são
divulgadas, causando não só pânico, como também revolta a população. Essa reflexão do
Governador, é uma apelação para o sensacionalismo, não se detendo as falhas do Estado e nem
feita a violência que ocorre dentro do presídio, sendo enfatizado a todo momento pelos
repórteres e apresentadora “tem as imagens que deixam a gente realmente chocado” (Repórter),
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“é cenas muito chocantes, fortes de ser ver” (Apresentadora), além do próprio governador
E querer intimidar, causar pânico na população, querer intimidar o Estado, uma hora
dessa o Estado não pode ser intimidado (Governador)
Mas nunca tinha visto na minha vida uma barbárie em minha vida, nem em filme de
terror, você cortar cabeças de seres humanos, fazer fogueiras de cabeça, Rio Grande do
Norte foi uma cena de barbárie que até para ver você fica chocado com a cena, porque
eu nunca tinha visto isso na minha vida (Governador)
animalesca dos presos. São reflexões que dizem que os presos viraram pessoas brutais, seres
que não tem remorso e não tem segunda chance, descartando qualquer recuperação que
houvesse, instigando a opinião pública a clamar por penas mais severas e até mesmo penas de
morte para essa população carcerária. Logo, a Figura 4, mostra aos telespectadores os presos se
frequentemente nas redes de televisão a imagem da violência? E mais em horário nobre, sendo
As notícias sobre crime e violência tem grandes destaques, isso porque, possuem
características interessantes aos telespectadores, quando se pode achar culpados de acordo com
as suas próprias análises do que está sendo reportado, sendo assim, a sociedade tem a quem se
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voltar, que seriam os ditos criminosos, de acordo com a mídia. Além disso, as reportagens com
esse tipo de categoria, costumam gerar uma trama que por vezes possuem vários capítulos a
Nas reportagens houve a exposição dos presos. Foram expostos cinco presos
identificados como chefes das facções, como também toda a sua ficha criminal, foram expostos
dois acusados de terem fugido de Alcaçuz, sendo filmados com dois policiais do lado. A
necessidade de haver policiais do lado dos acusados, ao que parece, fica a demonstração de uma
ação espetacular da polícia. A divulgação da imagem dessas pessoas é uma violação de direitos,
além de incitar a violência, ademais pode fomentar a rivalidade entre as facções. Com as
imagens divulgadas, se faz lembrar que são identificados como chefes de facções, e nesse
momento pensa-se em retaliações ou até mesmo há o temor pelas mortes desses indivíduos, já
repercute em uma manipulação da opinião pública com relação aos sujeitos que são ou até que
já foram julgados, pois a imprensa sensacionalista reproduz notícias sem saber a veracidade dos
fatos, invadindo assim o seu direito de privacidade. De acordo com o relatório de denuncia
Comunicação Social e artigo 19, no ano de 2015, é relatado várias violações de direitos
Foi constatado que 1.704 casos é devido a exposição indevida de pessoas, 614 violações ao
As Figuras 5 e 6, mostram a forma como esses presos são expostos. Além dessas
as vistorias e a recontagem dos presos, para isso, eles tiram todos os presos de um determinado
40
pavilhão e coloca-os em fileiras sentados um atrás do outro, há mais uma vez uma exposição
Figura 6. Um dos identificados pela polícia como chefe de umas das facções.
O Estado mais uma vez, se mostra coniventes com atitudes violentas aos detentos,
quando os expõe dessa maneira, a mídia por sua vez, faz o papel de naturalizar essas atitudes,
como corretas, não denunciando que são atitudes que violam direitos, passando como ações
necessárias dentro do presídio, e quem paga por toda essa situação são os apenados, que tem
que viver dentro dessas instituições, sofrendo a violência constante exacerbada pelas
autoridades.
41
Nos perguntamos novamente se não houve retaliação por parte dos policiais quando
não estavam sendo filmados (Figura 7), e outa imagem que nos chama atenção foi uma revista
que houve em Alcaçuz, no dia 15 de janeiro, onde todos os presos estavam pelados, mais uma
processos dos indivíduos encarcerados, que tem como intuito conceder a liberdade aqueles que
já cumpriram sua sentença ou até mesmo conceder o semiaberto a alguns presos, que podem
42
demonstrar ao longo do tempo, “bom comportamento”, para isso, foi mencionado pela
apresentadora que haveria um “mutirão” para que esses processos fossem revisados, “o tribunal
de justiça vai fazer um mutirão para liberar processo e alguns presos”. Isso nos traz a questionar
a existência de não haver assistência jurídica a muitos presos, mostrando umas das causas da
De acordo com Bayer (2013), a falta de assistência jurídica faz com que o preso
permaneça mais tempo do que se deve no sistema prisional, acarretando em muitos casos do
mesmo não adquirir o benefício do livramento condicional, progressão de regime, entre outros
benefícios que são reiterados aqueles que são assistidos pelo amparo jurídico, sendo
resguardado através da Lei 7.210/84 “Art. 16 As Unidades da Federação deverão ter serviços
de assistência jurídica, integral e gratuita, pela Defensoria Pública, dentro e fora dos
estabelecimentos penais”, o que ocorre muitas vezes dentro dos presídios brasileiros é o não
cumprimento das leis que protegem e garantem o direito dos detentos, ocasionando que esses
após duas facções se enfrentarem, justificando-se que estariam guerreando em busca de poder
dentro do presídio, o tempo todo são mencionadas frases que destacam que as duas facções
estão brigando “os presos fizeram barricadas, eles ameaçaram se enfrentar dá para ver”, “tudo
isso para evitar um embate entre os presos”, “Presos do pavilhão 1 e 2 ocuparam o pavilhão 3,
Com isso, é interessante saber que o Sindicato do Crime do RN (SDC) é uma das facções
que frequentemente vemos estampadas nas paredes de Alcaçuz, a mesma foi criada no ano de
2013 em São Paulo com intuito de oposição ao PCC (Primeiro Comando da Capital). No início,
43
as facções foram criadas com o objetivo de criar um movimento de resistência política, o qual
brasileiros, outros motivos que reiteram a criação das facções são disputas por território e rotas
reafirmando que isso seria uma vingança ao que aconteceu na Amazônia, assim, ele afirma que
essa rebelião não é um caso do Rio Grande do Norte, mas, uma rebelião que está em cena, como
forma de retaliação ao que ocorreu em outro presídio. Evidenciando a negação do conflito por
parte do Governador.
“Virou uma guerra que começou na Amazônia essa retaliação, não é do Rio Grande do
Norte, é uma retaliação que aconteceu em Amazônia, é uma vingança ao que aconteceu
na Amazônia e que está acontecendo nesse estado infelizmente” (Governador)
morte de 56 detentos, motivados também por uma guerra entre facções. De acordo com Gondim
(2017), 19 dias antes do massacre ocorrer dois detentos denunciaram sobre a corrupção que
com chefes de facções, que estavam fornecendo armas, drogas e celulares. Além disso, houve
um alerta no ano de 2016, de que esse massacre poderia ocorrer, de acordo com um relatório
instituição, que foi entregue ao governo federal, que foi alertada sobre os problemas que
estavam ocorrendo no presídio, como torturas, maus tratos, superlotação e de como as unidades
Se torna evidente através das reportagens que, o que ocorre em Alcaçuz seja motivado
pela briga entre as facções, que como uma das primeiras medidas feitas, foi retirar indivíduos
identificados como chefes das facções, especificamente a do PCC, de acordo com uma coletiva
44
dada pelo Governador, além disso houve uma fala bem específica da apresentadora com relação
aos cinco chefes “e a polícia civil ouviu 5 presos que comandaram a maior rebelião do Rio
Grande do Norte”, enfatizando quem seriam os “culpados” por todo esse holocausto, a mídia
Tem porque conseguimos retirar os líderes do PCC, de dentro, sem ter nenhuma morte,
nem uma troca de tiro, entre preso e policial e vamos encaminhar para o Presídio
Federal. (Governador)
Os policiais que estão em Alcaçuz justificam que para que não se tenha um confronto
entre as facções, eles precisam intervir, atirando com balas de borracha, pois um dos PMs
através de um vídeo gravado, afirma que se não intervir, e houver o confronto, o resultado seria
várias mortes. Uma outra alternativa que usaram para separar as facções, foi construir um muro
com contêineres, para que assim os pavilhões 4 e 5 ficassem separados, e fosse possível evitar
um confronto maior.
De fato, essas medidas usadas pelo Governo não são soluções eficazes para se acabar
com uma rebelião, se torna medidas temporárias, e se o governo quer acabar de vez com a crise,
deveria mudar primeiro a situação precária existente nos presídios, segundo a implementação
de políticas públicas, para que assim fosse revisto o aumento da população carcerária. A crise
não se resolve com a implementação de novos presídios, mas, com alternativas que visem
menos encarceramentos.
Através da análise das reportagens é perceptível observar o quanto o Estado foi omisso
em suas responsabilidades com a penitenciária de Alcaçuz. Embora várias medidas tenhm sido
pensadas para que pudessem retomar o controle de Alcaçuz, como mencionado pelo repórter,
que pode ser observado abaixo. De todas essas instâncias, muitas demoraram para que fossem
efetivadas, o prazo era sempre de alguns dias, ou até mesmo na próxima semana, como podemos
45
ver através do pronunciamento do repórter “não existe de fato um prazo para que elas
aconteçam”.
Os efetivos emergenciais ocorriam fora de Alcaçuz para controlar o que dizia “ser a
violência que estava saindo de dentro de Alcaçuz”. Enquanto que dentro da penitenciária as
alguns agentes.
O código penal em seu “Art. 38, fiz que o preso conserva todos os direitos não atingidos
pela perda da liberdade, impondo-se a todas as autoridades o respeito à sua integridade física e
moral”, ressalta também que mesmo o preso tenha cometido qualquer delito ainda assim, o
mesmo é detentora de direitos, assim, fica propagado que as autoridades competentes têm que
zelar da integridade física e moral dos detentos, e que se houver qualquer violação de seus
direitos, isso acarreta em crime, também é reafirmando pela LEP (Lei de Execução Penal) nº
7.210/87 “Art. 40 - Impõe-se a todas as autoridades o respeito à integridade física e moral dos
condenados e dos presos provisórios”. Dessa forma, mesmo os homicídios sendo decorrentes
entre as facções, ainda assim o Estado tinha uma responsabilidade com os presos, de zelar por
Logo, o Estado é responsável por tudo que ocorreu em Alcaçuz, quando deixou de
cumprir com o seu papel garantidor do sistema prisional, quando deixou faltar com relação a
estrutura e as condições dignas de vida para com os presos, assim como a falta de efetivos de
agentes prisionais para conter a rebelião, desse modo, proporcionou para o surgimento e
46
evolução das facções (Vasconcelos, 2017). O Estado também foi avisado que poderia ocorrer
o massacre, três meses antes de acontecer a rebelião, presos e alguns familiares, avisaram sobre
o caos que estava por vim, algumas cartas foram encaminhadas para a Secretaria de Justiça e
Cidadania do Rio Grande do Norte, mas, não se sabe o que foi feito com essas cartas (Melo &
Das medidas emergenciais, a comissão do sistema prisional da OAB/RN, fez uma crítica
ao Estado por não haver um plano no qual esteja implementado o dinheiro que o Governo
Federal mandou. Assim, a comissão indaga acerca do investimento desse dinheiro, que seja
O que nos faz questionar é que o Governador, em uma coletiva, fala acerca de não entrar
na penitenciária com medo que houvesse outro episódio de uma nova Carandiru, além de
mencionar se iriam entrar se fosse um caso de extrema urgência, enquanto que frequentemente
o GOE, entrava em Alcaçuz para fazer vistorias, mas quando havia confronto não entrava, será
mesmo que tinham medo de haver uma nova Carandiru ou deixaram que os presos se
matassem? Porque 26 mortes não é motivo suficiente para que houvessem intervenções mais
Porque se a polícia entrar no dentro do presidio, pode haver novas mortes, confrontos
policiais, aí vai ser uma nova Carandiru, temos que evitar disso acontecer, vamos entrar
em casos de extrema necessidade (Governador)
Um dos motivos também que cooperou para essa rebelião ocorrer desta forma, e a
polícia demorar para intervir, é o total de presos existentes em Alcaçuz, a superlotação é uma
das características da penitenciária para tentar amenizar a rebelião. O Estado resolveu transferir
alguns presos, mas, não se obteve resposta positiva, afirmando sua impotência diante da
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O Estado a todo momento omite dados relativos ao que ocorre em Alcaçuz, não
revelando sobre as mortes, ou até mesmo sobre as fugas. O Estado tenta passar que está tudo
sob controle, evitando que o que ocorre no interior da penitenciária, torne a reputação do Estado,
como irresponsável ou que não tem controle com suas próprias penitenciárias, ou até mesmo
que eles já não podem conter o que ocorre interiormente no presídio. De acordo com Gondim
Combate à Tortura de 2017 evidenciou que houve 71 presos desaparecidos em Alcaçuz, não se
sabe o que aconteceu com esses indivíduos, se estão mortos ou se fugiram. Isso evidencia mais
uma vez a omissão do Estado, e como pode ter havido mais mortes do que as contabilizadas e
sobre o total de encarcerados em Alcaçuz não estarem coincidindo com o que é revelado pelas
O coordenador ainda indaga sobre o Estado não ter agido quando teve chance, quando
a situação em Alcaçuz não tinha chegado a essas extremidades, com isso, o Estado é acusado
de ser omisso, de não ter se responsabilizado por seus detentos, já que o presídio é
responsabilidade do Estado.
Se naquele primeiro dia, após aquela noite de rebelião, tivessem feito uma intervenção
séria e realmente tivessem impedido que continuassem, poderia ter colocado esses
homens nos lugares e feito uma contagem, aproveitado aquele momento e feito um
credenciamento rápido, mais infelizmente não aproveitaram e simplesmente deixaram
essa coisa acontecer e agora a gente está administrando o caos (Coordenador
Observatório da Violência).
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Uma outra situação que foi destacada nas reportagens foram os familiares dos presos
estarem sempre na frente da penitenciária, esperando por notícias, situação na qual era
destacado o descaso por parte das autoridades em informar acerca do que estava ocorrendo.
Estes só sabiam do caos que ocorria dentro da penitencária através dos gritos que
que a gente consegue ouvir nesse exato momento são gritos”, “a gente ainda consegue escutar
Conforme Melo e Gonçalves (2017), essas famílias foram negligenciadas pelo Estado
quando não tinham informação do que tinha ocorrido com seus filhos, netos, maridos, e que em
muitos casos, ficavam sabendo de notícias através dos vídeos de execução que eram postados
pelos próprios detentos nas redes sociais, outras vezes foram vítimas de retaliação por parte dos
próprios agentes prisionais. Sendo a forma como essas famílias sofreram punitivismo por parte
do Estado também.
Os familiares resolveram trazer comida para os presos, porém foram barrados pelo
delegado, o mesmo informou ao repórter que havia comida aos presos, e que por isso não tinha
a necessidade dessa entrega, mas também afirmou que depois dessa rebelião, os presos estavam
(2017), como medida punitiva, houve a suspenção de água e comida dentro de Alcaçuz.
49
Conclusões
devido o não cumprimento das exigências legais. Através da mídia observa-se inúmeras
O sistema carcerário também é caracterizado pelo total abandono do Estado, seja ele
relacionada a assistência básica como também a jurídica, a qual evidencia os processos dos
detentos que passam mais tempo em regime fechado, por não haver revisão de processos.
Através desses dados extraídos da pesquisa teórica e documental deste trabalho, pôde-se
a informações e se deter melhor nas falas dos indivíduos. Chegando-se a compreensão de que
o sistema carcerário, condiz de fato com a teoria apresentada nos capítulos teóricos acima, no
quesito de abandono total ao preso. Da mesma maneira, que o Estado é totalmente omisso e
ineficiente, quando não sabe lidar com a crise, não intervindo a tempo, deixando que os próprios
presos resolvam essa situação a base da violência, deixando-os a própria sorte. Ao que é
apresentado a partir da análise, é que o Estado não queria entrar, apenas se usava de medidas
que aparentemente não seriam soluções, mas, formas usadas para que a rebelião pudesse tomar
outras proporções, resultando em uma medida “eficaz” para o Estado no intuito de acabar com
50
da sociedade, que era alimentada pelo discurso frequente da mídia com relação a falta de
dos seus telespectadores, além de propagar medo e insegurança constantemente, quando realça
quem tem o poder, aqueles que não fazem parte, são estigmatizados, para que assim com a ajuda
da sociedade (que nesse estágio já está corrompida pela mídia), possa agregar as punições
necessárias.
efetivadas dentro de Alcaçuz, quando a culpa recai somente nos apenados, quando o Estado se
a morte dos apenados como algo mínimo, e a violência exalada dentro da penitenciária como
Todas essas questões são usadas tanto pela mídia como pelo Estado como motivos para
se exaltar a punição, pois de fato, mostram-se situações coniventes para que seja realizado ações
punitivas com esses apenados. Visto que as imagens e discursos exaltados pela mídia, são de
que os presos são cruéis e por essa razão não se tem mais o que esperar desses indivíduos. O
que é exalado atualmente é que “bandido bom é bandido morto”, lamentavelmente foram
mortos 26 “bandidos”, os quais não fazem diferença para a sociedade de acordo com o que é
propagado.
seja dentro dos presídios, seja pelo Estado, Mídia ou até mesmo pela sociedade. Esses
indivíduos não são vistos como seres humanos, mas, como pessoas as quais não se vale mais a
pena resguardar perante a lei, a partir do momento que se é colocado na penitenciária. Deixando
51
claro que muitos nessa situação, estão atualmente, devido a colaboração da nossa sociedade em
Para que haja a mudança, necessita que primeiramente mudemos nossos pensamentos,
lutemos pela igualdade, e sejamos sempre a favor dos direitos humanos e que tenhamos menos
preconceitos, para que só assim possamos observar e não ser manipuláveis por essa mídia, ao
qual se usa de seus preceitos midiáticos para repassar suas informações sensacionalistas, que
Que se o Estado puder fazer algo como forma de modificar a crise penitenciária, que
seja investindo em políticas públicas, e não em mais presídios ou punições mais severas. Seja
repensado acerca desse sistema falido, que é a prisão, e se pense em alternativas que visem
igualdade e oportunidade para todos, acredito que assim, possamos começar a ter mudanças na
52
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