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FACULDADE EVOLUÇÃO ALTO OESTE POTIGUAR

CURSO DE PSICOLOGIA

UMA ANÁLISE SOBRE A REPRODUÇÃO MIDIÁTICA DO PUNITIVISMO, FRENTE

AO MASSACRE OCORRIDO NA PENITENCIÁRIA DE

ALCAÇUZ/RN.

JÉSSICA MAIARA DANTAS DA SILVA

PAU DOS FERROS/RN

2018
JÉSSICA MAIARA DANTAS DA SILVA

UMA ANÁLISE SOBRE A REPRODUÇÃO MIDIÁTICA DO PUNITIVISMO, FRENTE

AO MASSACRE OCORRIDO NA PENITENCIÁRIA DE

ALCAÇUZ/RN.

Monografia apresentada à Faculdade Evolução Alto

Oeste Potiguar como parte dos requisitos para a

formação no curso de Psicologia.

Prof.(a) Orientador(a): Me. Guilherme Paim

Mascarenhas

Coorientador (a): Me. Mariana Fonseca Cavalcanti

PAU DOS FERROS/RN

2018
ii
Agradecimentos

No processo de realização deste trabalho de conclusão de curso, me fez repensar acerca

do caminho de graduação que se perpetuou durantes esses quatro anos, conheci muitas pessoas

das quais levarei para a vida, colegas de sala, professores, funcionários da instituição. E é a

partir disso que agradeço a Deus, por me permitir conhecer tantas pessoas, e através delas ter a

oportunidade de ampliar meus horizontes.

A minha família que sempre se fez presente, que sempre me incentivou a crescer e

procurar por novas oportunidades (Avós, tio Fernando, Tia Aliane e Tia Nayara), em especial

ao meu irmão (Gabriel), que me apoiou e fez tantos sacrifícios para que eu chegasse aonde

cheguei. Ao meus pais (Neide e Chaguas), que já não estão presente fisicamente, mas,

permanecem vivos através das minhas lembranças, vocês passaram a vida toda trabalhando para

que eu e meu irmão tivesse uma vida diferente da de vocês, que pudéssemos alcançar nossos

sonhos e hoje posso dizer que estou fazendo o possível para honrar tudo que fizeram, se estou

podendo realizar esse sonho é graças a vocês. A meu avô Cicero, que também já não se faz

presente, mas pôde acompanhar um pouco da minha trajetória acadêmica, agradeço por passar

esse tempo comigo e por te me passado tanta força.

Aos meus orientadores, Guilherme e Mariana, que aceitaram trabalhar juntamente nessa

pesquisa, dando total apoio e encorajamento a linha de pesquisa. Agradeço também a paciência

de Mariana por tantas vezes me acalmar quando achava que não daria certo, por ter sido

inspiração no decorrer deste trabalho, e principalmente pelas trocas de ideias. Não teria chegado

aonde cheguei sem a ajuda de vocês, assim como todo o aprendizado que eu pude adquirir nesse

percurso.

Aos meus colegas de sala, no qual a ajuda foi sempre recíproca com palavras de

otimismo, em especial ao “grupo da zoeira” (Taty, Junior, Marília, Leonardo, Mayara, Jefferson

iii
e Clívio), a qual tenho um imenso carinho, tornaram-se mais do que amigos, tornaram-se uma

família. No decorrer desse caminho, trocamos confissões, carinho, choro, e principalmente,

sempre tivemos uns aos outros, obrigado por todo apoio.

Ao meu namorado Lucas, por toda paciência, por compreender minhas ausências, por

sempre me apoiar nesse sonho, estando presente nos momentos de desespero, ocasionada pela

sobrecarga da faculdade.

iv
Sumário
Agradecimentos .........................................................................................................................iii

Lista de figuras e tabelas ........................................................................................................... vi

Lista de abreviaturas e siglas ....................................................................................................vii

Resumo ....................................................................................................................................viii

Abstract ...................................................................................................................................... ix

Introdução ................................................................................................................................. 10

Capítulo 1: Criminalização da pobreza operada pelo sistema prisional ................................... 12

1.1 Criminalização da pobreza e o capitalismo .................................................................... 12


Capítulo 2: Reprodução midiática do punitivismo ................................................................... 22

2.1 O papel da mídia na divulgação da criminalidade .......................................................... 22

3. Método .................................................................................................................................. 28

4. Resultados e Discussão......................................................................................................... 31

4.1 Rebelião na Penitenciária de Alcaçuz/RN ...................................................................... 31


4.2 Análise das categorias .................................................................................................... 33
4.2.1. Caracterização da exposição do preso ................................................................... 33
4.2.2. Os motivos elencados pela mídia para explicar o massacre ................................... 43
4.2.3. Responsabilizações do Estado frente ao massacre ................................................. 45
Conclusões ................................................................................................................................ 50

Referências ............................................................................................................................... 53

APÊNDICE – Comentários dos usuários acerca da reportagem do G1 ................................... 58

v
Lista de figuras e tabelas

Figura 1. Bombeiros socorrendo ferido por cima do muro de alcaçuz..................................... 36

Figura 2. Presos feridos, sendo socorridos por outros detentos................................................ 37

Figura 3. Telhado e paredes de um dos pavilhões de alcaçuz, totalmente destruídos. ............. 38

Figura 4. Imagem da rebelião que ocorreu no dia 17/01/2017 ................................................. 39

Figura 5. Dois presos suspeitos de fugirem de alcaçuz ............................................................ 41

Figura 6. Um dos identificados pela polícia como chefe de umas das facções. ....................... 41

Figura 7. Revista nos presos que aconteceu em alcaçuz .......................................................... 42

Figura 8. Polícia faz revista de presos no domingo. ................................................................. 42

vi
Lista de abreviaturas e siglas

GOE Grupo de Operações Especiais

OAB Ordem dos Advogados

LEP Lei de Execução Penal

SDC Sindicato do Crime

ANDI Agência de Notícias dos Direitos da Infância

PCC Primeiro Comando da Capital

SEJUC Secretaria de Justiça e Cidadania

OEA Organização dos Estados Americanos

BOPE Batalhão de Operações Especiais

INFOPEN Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias

vii
Resumo

O sistema prisional brasileiro atualmente é caracterizado como um sistema que está em crise,
baseado na superlotação, na falta de assistência básica e jurídica e a violação aos direitos dos
presos, além de ter tantas outras falhas. Configurando assim que os próprios presos criem suas
formas de sobrevivência dentro dessas instituições prisionais, como também suas formas de
reivindicações, além disso, existem disputas pelo domínio dos presídios. Todas essas
características se aderem as famosas facções criminosas, representadas através das rebeliões
que recorrem frequentemente nos interiores dos presídios. A partir desses pressupostos, é
possível relembrar o massacre ocorrido na penitenciária de Alcaçuz/RN no ano de 2017, que
foi mediada a partir de um confronto entre duas facções rivais, resultando na morte de 26
detentos. Houve uma grande repercussão que foi adestrada pela mídia, ao qual expõe com
detalhes a violência que ocorria no interior do presídio entre os presos, com intuito de propagar
a sociedade um sentimento de medo e insegurança, o qual se repercutia como forma de
aderência ao punitivismo. Nessa perspectiva, o seguinte trabalho tem como objetivo analisar os
conteúdos das reportagens que relataram acerca do ocorrido em Alcaçuz no mês de janeiro,
trazendo os discursos e imagens que propaguem essa abordagem punitivista, relatando como
foi repassado a imagem do preso a sociedade, e qual intuito da mídia em abordar tantos casos
de violência e crimes em redes televisivas, assim como uma própria repercussão com o descaso
do Estado com os presídios brasileiros e sua responsabilidade quanto ao massacre em Alcaçuz.

Palavras-chave: Sistema prisional; Punitivismo; Mídia; Massacre em Alcaçuz.

viii
Abstract

The Brazilian prison system is currently characterized as a system that is in crisis, based on
overcrowding, lack of basic and legal assistance and violation of the prisoner's rights, as well
as having many other flaws. Configuring thus that the prisoners themselves create their forms
of survival within these prison institutions, as well as their forms of claims, in addition, there
are disputes by the dominion of the prisons. All these characteristics adhere to the famous
criminal factions, represented by the rebellions that often occurs in the interiors of the prisons.
From these assumptions, it is possible to recall the massacre that occurred in the penitentiary of
Alcaçuz / RN in 2017, which was mediated by a confrontation between two rival factions,
resulting in the death of 26 inmates. There was a great repercussion that was trained by the
media, which details the violence that occurred inside the prison between prisoners, in order to
spread the society a feeling of fear and insecurity, which was reflected as a form of adherence
to punitivism. In this perspective, the objective of this work is to analyze the contents of the
reports that announced on what occurred in January in Alcaçuz, bringing the discourses and
images that propagate this punitive approach, reporting how the image of the prisoner was
transferred to society, and which was the intention of the media to address so many cases of
violence and crimes on television networks, as well as a repercussion with the state's disregard
for Brazilian prisons and its responsibility for the Alcaçuz massacre.

Keywords: Prison System; Punitivism; Media; Alcaçuz Massacre.

ix
Introdução

O sistema penitenciário brasileiro atualmente é evidenciado pela superlotação,

rebeliões, torturas, sendo completamente abandonadas pelo Estado. A superlotação do sistema

carcerário é uma realidade constante nos presídios, além da violação dos direitos humanos,

caracterizando-se como um sistema criado pela sociedade como forma de excluir, de

estigmatizar e de fomentar a criminalização da pobreza, como também o punitivismo (Gomes,

2015).

Além do mais, é caracterizado por várias situações caóticas distinguidas em seu interior,

uma delas são as rebeliões, causadas como forma de reinvindicação dos presos pelos seus

direitos, já que o cárcere é distinguido pela má alimentação, a falta de assistência jurídica, a

precariedade da infraestrutura dos presídios e o próprio mau trato aos detentos. O presídio torna-

se comandado pelos próprios presos em seus interiores. Essas rebeliões se tornam meios pelos

quais os presos usam para denunciar as situações desumanas as quais estão vivendo (Oliveira,

2016).

Em um país onde predomina o Estado punitivista, os meios de comunicação ficam

responsáveis por transmitir esses discursos, transpondo informações de acordo com as fontes

repassadas pelo sistema penal. A notícia torna-se pertinente aqueles que são responsáveis pela

segurança pública. A mídia muitas vezes repassa informações que não condizem com a

realidade social, como por exemplos o aumento da criminalidade (Budó, 2012).

Os meios de informação ao propagar a violência através de suas reportagens, fazem com

que a sociedade se sinta cada vez mais em estado de alerta, fazendo com que haja uma cobrança

ao Governo, para que se tenha leis mais punitivistas e rigorosas. Isso sendo repercutido pelo

sistema midiático, ao passar a população essa impressão de insegurança, clamando assim por

justiça penal (Dias & Guimarães, 2014).

10
Toda essa repercussão sobre o sistema prisional e o papel da mídia na divulgação dos

crimes e violência fazem parte da pesquisa que se segue, atribuindo ênfase ao massacre de

Alcaçuz. Uma forma de evidenciar como a mídia pode se tornar manipuladora e influenciadora

de opinião pública, assim como as várias violações de direitos que ocorrem dentro dos sistemas

prisionais, acarretando no punitivismo emitido pela mídia.

Em janeiro de 2017 começava a ser divulgado pela mídia um dos maiores massacres

que ocorriam na penitenciária de Alcaçuz/RN, rebeliões foram organizadas pelas facções, e

várias manifestações decorrentes dessas rebeliões foram propagadas no Estado. A mídia fazia

o seu papel de divulgação, mostrando o caos que o Estado permanecia em virtude da rebelião

dos presos, repassando assim, medo e insegurança a sociedade. Em grande maioria, as rebeliões

ocorrem como forma de protesto, denunciando a forma como são tratados (Vasconcelos, 2017).

Nesse contexto, o presente trabalho vem abordar o envolvimento da mídia com relação

a punitividade e criminalização da pobreza que ocorre constantemente nos presídios, para isso

será usado a repercussão do massacre do presidio de Alcaçuz/RN que ocorreu em 2017, que

tem como objetivo geral analisar a reprodução do punitivismo nas reportagens sobre o massacre

e como objetivos específicos: caracterizar os presos expostos nas reportagens, identificando os

termos utilizados, as expressões e imagens; analisar as versões explicativas sobre o massacre;

e discutir como as reportagens abordam a responsabilidade do Estado no massacre.

11
Capítulo 1: Criminalização da pobreza operada pelo sistema prisional

1.1 Criminalização da pobreza e o capitalismo

O sistema penal realiza a seletividade da punição através de valores que criminaliza a

conduta de determinados indivíduos, resultando assim na seletividade social (Gonçalves,

Araújo & Santana, 2011). A seleção é o meio pelo qual o sistema penal difere os crimes de

classe média alta dos da classe baixa, pois a população mais pobre tem mais probabilidade de

ser perseguida e punida no contexto social (Budó, 2012).

Com isso, é perceptível através dos dados da pesquisa do Infopen (Levantamento

Nacional de Informações Penitenciárias) sobre o perfil da população carcerária, que existe de

fato a seletividade, pois se estima que 55% são jovens com uma faixa etária entre 18 e 29 anos,

e que 64% são compostos por pessoas negras. Acerca da escolaridade 17,75% não cursou o

ensino médio, ou seja, sua escolaridade chega até o ensino fundamental (Brasil, 2017b).

De acordo com Lucio (2018), o processo de seleção que ocorre na criminalização se

constitui em duas etapas: criminalização primária e secundária. A primária corresponde ao ato

de aprovar legalmente a punição de determinadas pessoas, sendo exercida pelo poder

legislativo, e em seguida a secundária que corresponde com a ação que pune seletivamente um

determinado grupo de pessoas, isto é, há primeiramente uma escolha de quem será alvo de

investigação e condenação, resultando em muitos casos em que aquele que praticou o ato

criminal (ou crime) de uma classe mais alta não será condenado ou processado por tal (se

repetindo) ação cometida.

Segundo Brisola (2012), atualmente a criminalização e os estigmas estão ligados

diretamente a classe de jovens pobres e negros, que são considerados como perigosos para a

sociedade. Os estigmas se associam a essa condição social por serem considerados mediante a

sociedade como ameaçadores. Quando cometem algum delito, esses jovens têm grande
12
repercussão na mídia, assim, preponderando à criminalização e os estigmas agregados a essa

classe.

O conceito de Estado Penal foi formulado por Loic Wacquant, que significa um

crescimento excessivo do Estado Penal em detrimento do Estado social. O Estado Penal

caracteriza-se pelo aumento do disciplinamento direcionado a classe que era vitimada nesse

período de crise, havendo uma culpabilização do indivíduo, o qual o Estado utilizou do aparato

jurídico e policial para que houvesse o punitivismo a esses indivíduos (Andrade & Gracinho,

2015). Por sua vez, remonta a mesma postura de estigmatizar e criminalizar as classes mais

pobres, reproduzindo desconfiança e confirmando a desigualdade que há, e fazendo com que a

sociedade tema cada vez mais essa categoria social (Brisola, 2012).

Assim como em outros países, o Estado brasileiro também reduziu o investimento em

políticas sociais para investir em políticas de segurança, deste modo, intensificar o Estado

Penal. Logo, ocorre a Questão social1, que visa a superexploração do trabalho e a passivação

das lutas sociais que são controladas pelo Estado e classes dominantes (Lucio, 2018).

Conforme Azevedo, Rodrigues e Langoni (2014), a sociedade cobra de seus membros,

sucesso em todos os requisitos de sua vida, mas a mesma não contribui para que haja

oportunidade para todos conseguirem almejar esse sucesso. Revelando a desigualdade que há

no Brasil. Como também a negação de direitos fundamentais que a população mais pobre

necessita, além de haver uma cobrança por parte da sociedade que se atinjam fins sociais que o

sistema capital impõe.

Nesse sentido, o jovem pobre que convive nesse sistema capital é obrigado a trabalhar

ao invés de estudar, pois seus pais já não conseguem garantir sua sustentação em um meio que

1
“O conjunto dos problemas políticos, econômicos e sociais com sua origem a partir da emergência da classe
trabalhadora nos processos de constituição do capitalismo. ” (Lucio, 2018, p. 38)
13
cobra um consumo que não condiz com sua real situação financeira (Azevedo, Rodrigues &

Langoni, 2014).

Ainda de acordo com os autores, a população mais pobre é apontada como causa para a

criminalidade, sendo que em sua maioria eles são as maiores vítimas de crimes violentos, o

estigma de criminoso ronda em meio a essa classe, pois são punidos por um sistema seletivo,

que age desde o abuso de poder por parte da polícia até o aprisionamento desumano. Araújo

(2017) comenta acerca do medo utilizado como forma de legitimar as práticas autoritárias, desta

forma, controlar as classes mais pobres que constantemente são apontadas como pivô de

desordem social e moral da cidade.

Outro fator preocupante é o tráfico de drogas, pois contribui como forma de criminalizar

ainda mais essa categoria, pois que a mesma é vinculada ao traficante que mora nas

comunidades. Na Legislação Penal Brasileira, a Guerra às Drogas, considera como base as leis

norte americanas. Em alguns países para ser enquadrado como usuário ou traficante, se

considera a quantidade de droga encontrada, já no Brasil, não se tem esse detrimento de

quantidade que diferencia quem é usuário e quem é traficante, ficando a cargo do operador de

direito decidir quem usa ou trafica a droga, já que são os responsáveis por apresentar as provas

e montar o processo (Azevedo, Rodrigues & Langoni, 2014).

A instauração da “Lei e ordem” não mudou o cenário da criminalidade, mesmo havendo

a política de aumento das penas e endurecimento do regime de cumprimento resultando em um

sistema fracassado (Silva, 2006). De acordo com o Sistema Nacional de Informações

Penitenciárias (Brasil, 2017b), os crimes de tráfico representam um percentual de 28% das

incidências pelas quais as pessoas foram condenadas, um percentual elevado, comparado aos

de homicídio que correspondem a 11%.

Os policiais distinguem os pequenos traficantes, deixando de lado os usuários

pertencentes às classes sociais privilegiadas, que apenas serão enquadrados como usuários,
14
afirmando as atitudes discriminatória e repressivas da polícia com relação a categoria dos mais

pobres (Azevedo, Rodrigues & Langoni, 2014). A ordem jurídica serve como selecionador

daquele que será encarcerado, se direcionando aos pobres. A classe detentora do poder não é

punida na mesma dimensão, fortalecendo a hipocrisia da impunidade (Lucio, 2018).

Esses indivíduos estigmatizados que por sua vez, são presos, permanecem em cárcere

privado sem ao menos ir a julgamento, que de acordo com os dados do Sistema Nacional de

Informações Penitenciárias (Brasil, 2017b, p. 13) “40% das pessoas presas no Brasil em junho

de 2016 não haviam sido julgadas e condenadas”, ou seja, quando vem a ser julgadas, uma

parcela desses indivíduos já terá cumprido a pena, ou boa parte dela.

Após a saída do sistema prisional, o detento terá que lidar mais ainda com estereótipo

de criminoso, o qual não terá uma vida com dignidade, uma vez que a sociedade não aceita que

esses jovens possam ter uma segunda chance, lhes privando de qualquer oportunidade de

ingresso na sociedade, se tornando uma contribuição para que esse indivíduo volte para a

criminalidade, onde possivelmente será reincidente do sistema prisional (Azevedo, Rodrigues

& Langoni, 2014).

O sistema criminal e o Direito Penal2 expressam que a prisão tem como principal

objetivo a correção do criminoso, e com isso a diminuição da criminalidade. Em uma análise

crítica, o objetivo real desses sistemas são as gestões diferenciais da criminalidade e as garantias

das relações sociais desiguais (Zaffaroni & Batista, 2003)

Segundo Silva (2006), em janeiro de 1999, o governador de Brasília, Joaquim Roriz,

anunciava a implementação da Tolerância Zero, contratando 800 policiais desde civis a

militares. A política de tolerância zero tem como objetivo enaltecer maiores poderes e liberdade

² “O ramo do saber jurídico que, mediante a interpretação das leis penais, propõe aos juízes um sistema orientador
de decisões que contém e reduz o poder punitivo, para impulsionar o progresso do estado constitucional de direito”
(Zaffaroni & Batista, 2003, p. 40).
15
para o agir policial, deve ser usada como maneira de acabar completamente com a

criminalidade, como também com a desordem urbana. Mas, não foi isso que aconteceu, a

criminalidade não diminuiu, e quem sofreu essa erradicação por parte da polícia foi a população

mais pobre, por ser considerada projeção do crime (Kilduff, 2010).

A política da tolerância zero atua no intuito de marginalizar os indivíduos que cometem

delitos menores, e por consequência, o Estado controla e exclui aqueles que serão destinados à

prisão, e que não são importantes ao sistema capitalista (Silva, 2006).

Embora essa política resulte em uma exaltação por parte de seus defensores, mostrando-

a como eficaz, e sintetizando como o “milagre” para a criminalidade, não corresponde aos dados

estatísticos, chegando-se até a população através da mídia, onde se usa da manipulação da

informação, transmitindo uma falsa atuação desse sistema, fazendo com que a população

apoiem medidas repressoras contra os considerados criminosos, possibilitando a segurança da

população e soluções para os descasos proporcionados pela pobreza. A pobreza então se torna

um problema, e os pobres são vistos como inimigos que necessitam serem excluídos, havendo

detenções sem motivos justos (Silva, 2006).

Desse modo, a sociedade tem-se mostrado por meio da polícia violenta, pronta a cessar

a vida do “inimigo”, se tornando um dispositivo ideológico desumano. É possível observar que

em vários meios, desde o acadêmico até o midiático, coexiste o brado ‘bandido bom é bandido

morto”, assim como a próprio canção exaltada pelo BOPE – Batalhão de Operações Especiais

“Homens de preto, qual é a sua missão? É invadir a favela e deixar corpo no chão”// “Se

perguntas de onde venho e qual é a minha missão: trago a morte e o desespero, e a total

destruição”.

Assim, se torna nítido a presunção da canção exaltar a pobreza e a vinculação a morte.

O Estado de Exceção, valida o inimigo pela cor, sexo e faixa etária, e até mesmo pelo seu CEP,

16
ao constatar que os mesmos estão inseridos em bairros mais pobres, sendo abordados não pelos

atos praticados, mas, por ser um “perfil de risco” (Sant’Ana & Silva Junior, 2017).

Logo, o encarceramento que ocorre frequentemente, e em grande proporção, sendo em

sua maioria indivíduos negros e pobres, ocasiona uma indústria que promove o medo aos

pobres, sendo rotineiramente divulgado pela mídia, e os grupos sociais periféricos sendo

repassados como verdadeiros malfeitores (Araújo, 2017).

A insegurança e a divulgação da violência são usadas como meios que encobrem a

desigualdade social, como também a falta de responsabilidade do Estado com relação aos

direitos dos cidadãos. Além de reforçar o punitivismo através do encarceramento como fórmula

que se utilize para remediar a situação (Araújo, 2017).

A punição se torna algo rotineiro na vida dos pobres, se tornando o objetivo do sistema

penal, que agrega a desigualdade e as classes oprimidas ficam à mercê desse sistema, havendo

apenas uma alternativa: se adequar ou ser punido (Lucio, 2018).

Diante disso, vale ressaltar que o capitalismo tem ligação direta com o sistema penal,

como forma de garantia de manutenção, ou seja, garantia da mão de obra, e quem não se

submetem a tal subjugação, é criminalizado. O Sistema Penal vem mudando suas ações ao

longo do tempo, um exemplo disso, é a substituição que houve nos modos punitivistas da Idade

Média para a elevação do capitalismo, sendo exemplificado através da relação que os detentores

de poder têm ao criar uma lei específica na qual determina combater os crimes a propriedade

privada, usando-se dos métodos de punição (Lucio, 2018).

A criminologia crítica destaca que a partir da desigualdade social, o sujeito é

criminalizado, ou seja, as classes menos favorecidas são as mais perseguidas pelo sistema penal

(Budó, 2008). Reafirmando o modelo de produção capitalista que de acordo com Silva (2006,

p. 27)

17
O crime e o criminoso não são fatos pré-existentes, mas resultados de uma seleção de
condutas e agentes a serem reprimidos. Nesse sentido, o status de criminoso é atribuído
a alguns indivíduos que são escolhidos pelo sistema para figurarem como criminosos,
ou seja, é criminoso aquele que a classe detentora de poder rotula como criminoso, via
a criação da lei penal e aplicação dirigida da norma.

1.2 Sistema Prisional Brasileiro

Foucault (1987, p. 260), traz em seu livro “Vigiar e Punir” objetivos das prisões:

A prisão, peça essencial no conjunto das punições, marca certamente um momento


importante na história da justiça penal: seu acesso à “humanidade”. Mas também um
momento importante na história desses mecanismos disciplinares que o novo poder de
classe estava desenvolvendo: o momento em que aqueles colonizam a instituição
judiciária.

A funcionalidade então do cárcere, se remonta a privação de liberdade, um lugar

perverso, individualizante e coercivo. O qual atualmente remonta a uma sociedade que se

tornou intolerante, e que não aceita apenas o aprisionamento como forma de castigo aqueles

que cometem o ato criminal, mas, sim faz-se justiça por conta própria, se remetendo aos grupos

de extermínio, exterminando assim os indivíduos apenados (Lucio, 2018).

No Brasil, o número de encarcerados é crescente, em junho de 2016, a população

prisional brasileira chegou à marca de 700 mil pessoas privadas de liberdade, havendo um

aumento de 707% com relação ao início da década de 90. A taxa de aprisionamento entre 2000

e 2016 aumentou em 157% no Brasil, para cada 100 mil habitantes 137 pessoas permanecia

presa no ano de 2000, já no ano de 2016 a estimativa para os 100 mil habitantes é de 352,6

pessoas presas (Brasil, 2017b).

Ao analisar esses dados, fica evidente que existe um número elevado de encarcerados,

que remete para uma criminalização da pobreza, e o total descaso do governo com relação ao

investimento de políticas públicas para que haja a mudança nesses números. O problema, é que

o governo acha mais fácil investir em novos presídios. As prisões não diminuem as taxas de

criminalidade, a detenção ocasiona a reincidência (Moreira & Coelho, 2018).


18
A utilização de castigo e das atrocidades que acontecem no sistema prisional brasileiro,

sucedem desde a implementação da primeira prisão. As práticas punitivas (torturas,

assassinatos, abusos, entre outras violações dos direitos humanos), que decorrem no cotidiano

prisional, recorrem a uma taxa de morte intencional e notificações da OEA (Organização dos

Estados Americanos), que são direcionadas ao Estado brasileiro. Torna-se nítido o quanto o

discurso de humanização foi comutado por uma política criminal que intensifica a desigualdade

e desumanização (Almeida, 2017).

O Estado por sua vez, se torna omisso, quando edifica o sistema carcerário, sendo

passivo com a desumanidade, mesmo havendo no Brasil tantas leis as quais buscam proteger e

garantir os direitos das pessoas presas, tornando-se um Estado mínimo com relação à dignidade

humana (Almeida, 2017).

Os fatores pelos quais o sistema prisional virou esse verdadeiro caos se dão através do

abandono, falta de investimento e descaso pelo poder público, um lugar o qual, seu intuito de

ressocialização já não funciona, devido a insalubridade e sem espaços que realoque todos os

presos. A superlotação se choca quando é apresentado o artigo 5.º, XLIX, da Constituição

Federal, “é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral” (Almeida, 2017, p.

6). De acordo com o artigo, os direitos fundamentais desses detentos não estão sendo

cumpridos, pois não existe respeito quanto a integridade física e moral.

De acordo com o relatório da Comissão Interamericana dos Direitos Humanos com

relação aos Direitos Humanos Brasileiros, outra questão relacionada aos déficits ocasionados

no sistema prisional, é a saúde, pois alguns presos relatam o descaso como são tratados pela

direção dos presídios pela ausência de atendimentos médicos, muitos chegam ao estado

terminal, por falta de assistência, passam frio, não tem acesso a roupas limpas e secas, ou seja,

não possui a assistência básica do presídio, além da falta de medicação para tratamento de

19
doenças mais leves como gripe, por exemplo, que em grande maioria se agravam, tornando-se

uma pneumonia (Machado, Souza & Souza, 2013).

A partir de todo esse caos dentro dos sistemas penitenciários, nascem as facções, as

quais tem como objetivo, reivindicar melhores condições nos presídios. As facções nos

remetem sobre uma das maiores rebeliões que já ocorreu no Rio Grande do Norte, em janeiro

de 2017, resultando na morte de 26 presos. A rebelião ocorreu na Penitenciária Estadual Dr.

Francisco Nogueira Fernandes, que é mais conhecida como Penitenciária de Alcaçuz.

Localizada no município Nísia Floresta, foi inaugurada no ano de 1998, pelo governo Garibaldi

Alves, sendo feita para comportar 400 apenados, significando o maior estabelecimento prisional

do RN (Vasconcelos, 2017).

O massacre em Alcaçuz ficou conhecido após duas facções entrarem em conflito, a

facção do PCC (Primeiro Comando da Capital) e Sindicato do RN. Por ter se tornado algo da

realidade dos presídios, as facções se tornam grupos propícios às adesões de novos membros e

integrantes, seja de forma deliberada ou sob pressão psicológica, a maioria dos indivíduos

tornam-se membros de facções como forma de garantir sua segurança, proteção e sobrevivência

dentro do cárcere (Vasconcelos, 2017).

Durante o período da rebelião a qual começou no dia 14 de janeiro foi possível ver as

duas facções guerreando entre si, e sendo assistidas pela mídia e órgãos responsáveis pela

segurança pública, que se sentiam incapazes de controlar tal situação. A rebelião durou

exatamente 14 dias, sendo que após uma operação que juntou a Força Nacional Penitenciária e

agentes do Rio Grande do Norte, com o batalhão de choque da polícia militar, foi que

conseguiram entrar na penitenciária. O Resultado dessa rebelião foi a morte de 26 presos e 56

fugitivos (Vasconcelos, 2017).

Além do mais, outro fator relevante é populismo penal que faz parte de um discurso

agregada as políticas de segurança pública, visando o punitivismo, com base na mídia


20
sensacionalista, empresas ligadas ao mercado de segurança e a apoio de uma maioria da

população, a mesma, acredita que com penas mais severas haverá uma redução da

criminalidade, além de ser a favor da construção de mais presídios, maior encarceramento e o

desamparo a dignidade humana, ou seja, que os apenados não tenham acesso aos direitos

humanos (Sant’Ana & Silva Junior, 2017).

De acordo com Sant’Ana e Silva Junior (2017), o populismo penal ainda é a favor da

prisão perpétua e a pena de morte, pois mesmo com a prisão, eles ainda clamam pela dor do

inimigo, que eles sofram e encontram através da prisão uma forma de justiça social dentro da

legalidade.

O sistema prisional brasileiro confirma esse populismo penal, ao ser caracterizado pela

superlotação, problemas com acesso a saúde, educação e trabalho. Em dezembro de 2017, o

site da UOL publicou uma notícia informando acerca de uma alteração que o Conselho Nacional

de Política Criminal e Penitenciária do Ministério da Justiça e Segurança Pública, fez na

resolução “nº 9, de 2011 que estabelecia regras para a elaboração de projetos, construção,

reforma e ampliação de unidades penais no Brasil”. Acabando com a obrigatoriedade de criação

de espaços de educação e trabalho em presídios, significando um retrocesso ao sistema prisional

e acabando com qualquer chance de ressocialização.

Com relação a todo esse descaso que ocorre no sistema prisional, mesmo havendo os

esforços por parte dos intelectuais e operadores da política criminal, chegou-se à conclusão de

que não há saída para crise da prisão com ênfase no capitalismo, pois a mesma virou reprodução

de violências. Nesse intuito, existe a necessidade de luta contra um sistema que causa

sofrimento, gera dor e provoca mortes, assim como a construção de projetos que visem uma

nova sociedade que vise a igualdade, seja justa e não que os aprisionem (Sant’Ana & Silva

Junior, 2017).

21
Capítulo 2: Reprodução midiática do punitivismo

2.1 O papel da mídia na divulgação da criminalidade

Com o aumento do encarceramento de leis mais rígidas e a preocupação da população

com a insegurança, o país adota uma lógica punitivista no que se remete a esses indivíduos que

estão em cárcere. Os meios de comunicação, por sua vez ficam responsáveis pela divulgação

do aumento da criminalidade, como também transmite os discursos punitivistas, que em suma

maioria é pelo sistema penal. A mídia já não é só vista como reprodutora da comunicação social

do sistema penal, mas, passa a interferir diretamente nas investigações tanto policiais como do

processo (Budó, 2008, 2012).

Todavia, a mídia tem um papel importante com relação à criminalização e ao Estado

Penal, a mesma tem como objetivo incentivar uma reação da população ao estimular o

punitivismo, quando se agrega a imagem corriqueira da violência nos meios de comunicação e

sobre seus responsáveis, fazendo com que seja interligada a violência a condição de pobreza,

etnia e favelas, as quais são consideradas como territórios aos quais não há a existência de leis

(Brisola, 2012).

No entanto, os dados frequentemente expostos pelos meios de comunicação

relacionados às taxas de criminalidade não condizem com a realidade. A mídia apresenta a

violência exposta na sociedade de forma equivocada, ao estereotipar as vítimas. Ressalta-se que

no Brasil as maiores vítimas de assassinato são jovens, de classe baixa e negros que são

diferenciados das vítimas que são constantemente apresentadas nos jornais (Budó, 2012). O

punitivismo se torna algo quase impossível de ser banalizado, pois a sociedade tem vontade de

punir a qualquer custo, isso sendo ocasionado pela manipulação da notícia (Dias, Dias &

Mendonça, 2013).

22
Existe um fator relacionado às informações geradas pela mídia, as quais dependem de

uma questão relativa ao entendimento da sociedade sobre o que a mesma entende sobre o que

é o crime, ou seja, o que considera ser crime. Assim como a mídia dá mais importância aos

crimes que ocorrem em áreas mais nobres em virtude de este ser seu público alvo, se desfazendo

de dados estatísticos, o telespectador se torna induzidos às informações que ali serão repassadas

de maneira distorcida. Essa prática ocasiona na percepção do indivíduo de qual classe social a

mídia retrata como vítima da violência, e em consequência disso, a própria classe se sente como

a principal vítima, ou seja, se sente frequentemente em risco, em virtude de ser embasado pelos

jornais (Dias & Guimarães, 2014).

Quem será subjugado pelo ato criminoso fazendo com que haja uma perseguição a uma

parcela específica da sociedade contra determinados atos cometidos, que seriam aqueles

agregados aos crimes de rua, considerados pequenos delitos, ficando evidente a postura da

mídia na construção social seletiva do crime e do criminoso (Budó, 2012).

Dias e Guimarães (2014), também relatam acerca da construção da notícia a partir dos

pressupostos exaltados pelos agentes da força repressora, que contribuem para a formação de

estereótipos, formando ideias acerca da delinquência, julgando os desvios sociais, como

também as aplicações de leis e o seu cumprimento. Chegando à conclusão de que a mídia, não

noticia a criminalidade, mas, reforça estereótipos agregados pela polícia.

Os estereótipos que são agregados aos criminosos e que constantemente são estimulados

pela mídia, apareceram na sociedade a partir da construção que existe uma guerra declarada aos

“delinquentes”, que ocorrem principalmente nas grandes cidades, outra característica que seja

marcante nas notícias que evidencia a violência, é o sensacionalismo e o espetáculo, que são

reproduzidas pelos editoriais dos jornais e principalmente quando são matérias jornalísticas que

se refere ao crime (Budó, 2008).

23
A necessidade dos meios de comunicação de atingir lucro, realizam um processo de

seleção, no qual se tem o interesse de que a informação seja atrativa, buscando se tornar

impressionante. A respeito da informação, a mesma é fomentada de opinião, sem qualquer

fundamentação, atendendo interesses bem claros (Dias, Dias & Mendonça, 2013).

Nesse contexto, as mídias reforçam os aspectos negativos de quem devem ser excluídos

da sociedade. Ao ser apresentado ao público, eles sensibilizam-nos e confirmam seus preceitos

acerca da indignação que ocorre contra situações desviantes do consenso, justificando através

das operações policiais que ocorrem nas favelas, ao darem ênfase somente às forças da ordem,

enquanto pouco se é transmitido acerca das mortes. Isso se repercute na população através do

sentimento de insegurança, que em várias análises são repassados nos meios de comunicação,

alimentando o populismo penal, como já discutido no capítulo anterior, que clamam por

punições mais severas (Budó, 2012).

Assim, ao serem reportados notícias acerca da criminalidade, as mesmas são divulgadas

juntamente com adjetivos estigmatizantes como “bandido”, “assassino”, “o monstro”,

“vândalos” entre outros, com o objetivo de alcançar a audiência e a ideologia dominantes

(Wojciechowski, 2015).

Desse modo, os cidadãos a partir do momento que são expostos ao que é repassado pela

mídia, tendem a tratar como inimigo todos aqueles que são tratados como criminosos, sem se

deter ou dar importância aos seus direitos. O único desejo da sociedade nesse momento é que

haja punição pelo ato cometido (Latosinski, 2015).

Muitos candidatos políticos se aproveitando do populismo penal assim como dos

discursos midiáticos para enfatizar respostas milagrosas a vítima da violência, se utilizam de

seu sofrimento e mal-estar, prometendo aumento da arbitrariedade policial, como também

implicam no uso indireto ou direto da violência as classes mais vulneráveis da sociedade ou até

24
contra aqueles que atentem contra o discurso da mídia, assim se faz valer propostas de medidas

legislativas penais mais duras (Wojciechowski, 2015).

A mídia se torna ainda mais violenta quando expõe em suas programações, através dos

estigmas propagados frequentemente para com aquele que cometeu o delito (Alves, 2013). Em

decorrência das inúmeras divulgações da mídia com relação à violência, a sociedade em si,

toma como base os preceitos expostos através dos meios de informação (Dias & Guimarães,

2014).

Ao manipular os dados tanto estatísticos como até os episódios criminais, a mídia gera

sofrimento e emoções tendenciosas, sensacionalista e seletiva, partindo do pressuposto em

torno da segurança pública, a qual beneficia a elite (Wojciechowski, 2015). O jornalismo

dissemina em suas reportagens discursos autoritários e conservadores, distanciando-se da ética

e dos direitos humanos (Budó, 2008).

Os meios de divulgação de informação também se tornam protagonista do medo na

sociedade, e em algumas vezes assume o papel de executora da pena, isso se torna evidente nos

jornais sensacionalistas, onde expõe seus argumentos acerca da criminalidade, exaltando

soluções que sirvam como método repressor ao crime, assim como a pena a quem praticou

determinado ato criminal, dito de outra forma, se houve delito tem que haver pena. Ao se fazer

uma comparação entre os discursos que legitimam a pena e as teorias e pesquisas que

questionam o sistema penal, o que será aceito será a legitimação. Por se tratar de assunto de

maior interesse a população, por coincidir com o mesmo pensamento, já que a sociedade vive

o dilema de estar a todo o momento em perigo (Silva, 2006).

Os programas televisivos estão mais dedicados ao jornalismo investigativo, quando

reproduz a seletividade policial, que por sua vez tendem apresentar notícias acerca dos

acontecimentos criminais e judiciais. Se detendo aos atos e informações que conseguirem para

que de fato o acusado seja sentenciado sem ir ao júri. O jornalismo investigativo coloca todo o
25
processo em tempo real ao expor toda a sequência que se dará esse processo se tornando público

ao manifestar a opinião da vítima, havendo debates entre advogados e promotores, com relação

ao caso exposto (Silva, 2006).

Nesse contexto, a manipulação ideológica propaga um alarme social que corresponde

ao dano social causado pelas propagações divulgadas a sociedade através da mídia, isso pode

ser evidenciado através de um assassinato, a sociedade reage de forma punitivista, querendo

que aquele indivíduo que se encontra como autor do ato infracional pague pelo seu erro da

forma mais perversa que houver, o mesmo não ocorre quando se ver a sociedade se deparando

com os crimes cometidos pela classe mais alta, exemplos são os banqueiros que lavam dinheiro

do tráfico de drogas, ou até a corrupção que ocorre nas políticas, pois não se tem a mesma

repercussão e manifesto da sociedade como os casos de violência exibidos pela mídia (Kilduff,

2010).

A criminologia midiática se vale da ausência de conhecimento da população sobre os

aparatos jurídicos sucedendo ao Poder Judiciário ceder às pressões com relação ao punitivismo

que clama a sociedade que não tem conhecimento acerca da realidade penal que está ocorrendo

no Brasil atualmente (Dias, Dias & Mendonça, 2013).

A influência que a mídia gera repercute também ao Magistrado, ao julgar de acordo com

o que pensa ser esperado de sua decisão, o convencimento e a persuasão da imprensa fazem

com que os seus fatos fiquem registrados na consciência, e por isso pode gerar influência na

decisão do juiz (Latosinski, 2015).

Hoje, além dos meios de comunicação tradicional também se evidencia os meios

virtuais, que se tornaram grandes reprodutores do punitivismo, através de redes sociais, sites de

compartilhamento de vídeos e mensagens eletrônicas. Os usuários se sentem seguros ao

reproduzirem discursos de ódio e intolerância direcionados a um objeto específico, ou a uma

26
pessoa, exclusivamente a um “criminoso”, principalmente ao que adentra o compartilhamento

(Wojciechowski, 2015).

Logo, a mídia se trata de instituição com dimensões econômicas, políticas, culturais, e

articula a respeito do conjunto do sistema financeiro, da formulação da agenda política e da

formação da opinião pública. E a partir dessas relações complexas as quais a mídia se pressupõe

que a mesma se caracteriza como sendo formadora da sociedade, quer dizer, atua por toda a

vida dos cidadãos, disciplinando-os e os inserindo na sociedade já que é ela que lhe passa a

informação do que está ocorrendo no mundo (Azevedo & Fernandes, 2015).

27
3. Método

O presente trabalho trata-se de uma pesquisa documental que de acordo com Gil (1987,

p. 162), “[...] constituem importante fonte de dados para a pesquisa social. Possibilitam ao

pesquisador conhecer os mais variados aspectos da sociedade atual e também lidar com o

passado histórico”. Isto é, uma ciência que trata da organização do manuseio de informações,

considerando que há uma coleta, classificação e seleção de informação.

Desta forma, o documento é qualquer informação que estejam em forma de textos,

imagem, sons e vídeos, como também registrados por técnicas especiais, que seria impressão,

gravação, pintura ou “qualquer informação oral como diálogo, exposições, aula, reportagens

faladas quando transcritos em suporte material” (Chizzotti, 2018, p. 109).

Quanto aos dados que serão analisados, será utilizado reportagens jornalísticas, as quais

se tornam importantes por contribuírem na construção de estereótipo, ideias de delinquência,

julgando assim os desvios sociais, e sendo preconizador da execução das leis e dos padrões de

comportamento (Dias & Guimarães, 2014).

3.1 Caracterização da Inter Tv Cabugi

A InterTV Cabugi é uma emissora situada em Natal-RN, afiliada da Rede Globo. Sua

fundação ocorreu no ano de 1987, pelos irmãos Aluizio e Agnelo Alves, como Tv Cabugi,

permanecendo com este nome até o ano de 2006. Agnelo vendeu parte das ações da emissora

para o empresário, Fernando Aboudib Camargo, o qual é dono da rede InterTV.

A Cabugi esteve em primeiro lugar nos índices de audiência com o maior nível de

cobertura e tecnicamente muito bem estruturada, passando a ser a melhor emissora do Rio

Grande do Norte, além de se seu sinal ser transmitido para mais de 90% dos municípios

potiguares (Tribuna do Norte, 2012)


28
A emissora produz programas locais gerados diretamente da cidade de Natal, como o

RN TV 1ª edição, RN TV 2ª edição, Bom dia RN, Inter TV Rural RN, Rota Inter TV Costa

Branca e Resenha do RN. Serão utilizadas as reportagens do RN TV 2ª edição o qual tem como

apresentadora Lidia Pace, e é transmitido de segunda a sábado das 19h15 às 19h35.

O telejornal tem como característica apresentar as notícias que serão abordadas durante

o programa, logo em seguida é passada para a apresentação dos casos noticiados através dos

repórteres, os quais se usam de entrevistado para compor a veracidade dos fatos, inclusive

entrevistados considerados importantes perante o caso.

Como a pesquisa se trata do massacre de Alcaçuz, em sua maioria os entrevistados são

autoridades que estão à frente do caso, ou seja, os responsáveis pela segurança do Estado. Os

repórteres emitem também a opinião da população alertando assim os telespectadores acerca

do caos que estava ocorrendo, bem como as consequências que o massacre trazia para a

população.

3.2 Procedimentos de análise

Antes de tudo, vale salientar que ocorreu primeiramente a investigação dos vídeos

selecionados para a pesquisa. Procurou-se reportagens que se referissem ao massacre que

ocorreu na Penitenciária de Alcaçuz no ano de 2017, sendo utilizadas as reportagens da inter tv

Cabugi, mais especificamente o jornal RN TV 2º edição, o qual pode-se ter acesso aos vídeos

através do Youtube (https://www.youtube.com/channel/UCesPoBLSMUySNlrMKML4NKA

/vídeos).

Foram selecionados seis vídeos com as respectivas datas: 17 a 21 de janeiro e do dia 24

de janeiro todos do ano de 2017. Essas datas se referem ao período do massacre de Alcaçuz,

29
sendo que o mesmo se iniciou no dia 14, mas por uma questão de acesso e disponibilidade,

foram selecionados vídeos a partir dessa data.

Após a seleção, todos os vídeos foram transcritos, com intuito de melhor compreensão

acerca das reportagens, destacando a forma como o telejornal passa a informação sobre o

massacre e como isso se apresenta aos telespectadores.

A análise de dados será feita da seguinte forma, após a transcrição dos vídeos, foram

abordadas algumas categorias que fazem ênfase aos objetivos do trabalho, que são elas:

caracterização dos presos; os motivos elencados pela mídia para explicar o massacre e a

responsabilização do Estado frente ao massacre.

As categorias servem como norte para a análise do conteúdo, com base nos conteúdos

transcritos, é feito uma discussão juntamente com o material teórico já exposto neste trabalho,

fazendo-se uma análise com esses dois elementos buscando explorar discursos que são

contemplados nas reportagens sobre o massacre, e como o mesmo pode elevar o punitivismo

agregados aos indivíduos inseridos no sistema penitenciário.

30
4. Resultados e Discussão

Para melhor compreensão dos resultados que se segue, será apresentado uma pequena

introdução acerca da rebelião que ocorreu em Alcaçuz, e logo em seguida, as análises das

categorias, que serão utilizadas como mecanismo para melhor entendimento dos resultados

deste presente trabalho, e estão divididas em três sessões: caracterização dos presos; os motivos

elencados pela mídia para explicar o massacre e a responsabilização do Estado frente ao

massacre. Fundamentados a partir dos objetivos do trabalho.

4.1 Rebelião na Penitenciária de Alcaçuz/RN

Por haver um número elevado para o total de vagas existentes dentro dos presídios,

como também a falta de assistência por parte do Estado, isso resulta como um difusor das

revoltas recorrentes existentes dentro dos presídios, a falta das condições mínimas que se

necessite para viver em um ambiente como o presídio, pode contribuir para a formação de

facções criminosas (Vasconcelos, 2017).

É recorrente dentro das prisões haver violência e impunidade partindo dos agentes

penitenciários bem como por parte dos próprios apenados, ocorrendo em grande maioria,

agressões, abusos sexuais, homicídios, extorsões e rebeliões, o qual se torna alicerce para o

surgimento de um poder definido como facção, na qual oferecem proteção em troca da

associação aos grupos (Vasconcelos, 2017).

A rebelião em alcaçuz gerou várias repercussões em vários meios de comunicação, cada

um favorecendo a sua versão do que teria ocasionado. O site da UOL publicou a notícia sobre

a rebelião considerando como tema na matéria, “Guerra de facções em Alcaçuz é por força,

filiações e dinheiro” e sua explicação para a eventual situação de Alcaçuz foi que “a guerra

declarada tem motivações que envolvem demonstração de força junto ao Estado, a chance de
31
aumentar o número de filiados e, por consequência, reforçar o caixa já que ambas cobram

mensalidades dos membros. Por isso, nenhum dos lados aceita sair do local”. A Tribuna do

Norte (blog local do RN), divulgou a notícia informando que também seria uma guerra entre

facções.

Quando a polícia cumpre seu dever de encarcerar indivíduos que atua de maneira

“ilegal”, o Estado passa a se responsabilizar por ele, no que tange aos eventuais danos, tanto

físico, moral ou psíquico, quando o indivíduo está cumprindo pena em uma unidade prisional,

o Estado tem deveres com esse indivíduo, qualquer coisa que ocorrer com ele a

responsabilidade recai sobre o Estado (Vasconcelos, 2017).

Há de fato uma irresponsabilidade do Estado, já que a rebelião foi ocasionada pelo

conflito entre duas facções, significando a omissão estatal dentro dos presídios. Outro motivo

que pode te desencadeado essa rebelião seria as condições desumanas às quais os detentos estão

sujeitos. O Estado ao deixar de cumprir a garantia do sistema prisional provê que haja não só o

surgimento de facções como a formação de rebeliões (Vasconcelos, 2017).

Ao compreender melhor as reportagens, tem-se a seguinte visão, a mídia repassa uma

falta de controle por parte do Estado com o preso, o qual está sob sua responsabilidade,

passando uma imagem um tanto apelativa, de que o Estado precisa disciplinar seus internos. O

Estado por sua vez, é totalmente omisso, quando não intervém no massacre, deixando que os

detentos se matassem, além de se usar de alternativas que não trazia resultados positivos, dando

pouca importância ao que pode acontecer com a vida dos detentos.

Assim, a grande mídia agiu com parcialidade para alcançar objetivos próprios, pois além

de transmitir insegurança e medo a população, quando remota a imagem da violência ocorrida

dentro da penitenciária, e quando emite informações de que a insegurança dentro do presídio

estava repercutindo na vida das pessoas fora do presidio, quando houve os ataques aos ônibus

públicos, distorceu ou omitiu os verdadeiros motivos da rebelião.


32
4.2 Análise das categorias

4.2.1. Caracterização da exposição do preso

Ao analisar as reportagens, logo se nota uma crítica ao Estado, por não estar controlando

os detentos que estão sob sua responsabilidade, mencionam acerca desse “controle” como

forma desses indivíduos serem condicionados a uma disciplina restrita. Isso também é

reafirmado quando uma das pautas de discussão para a crise na penitenciária de Alcaçuz é “a

falta de disciplina dos presos”, sendo indagado por quatro promotores de justiça. Desta forma,

Vasconcelos (2017), diz que na prisão existem regras e disciplinas que devem ser cumpridas

pelos indivíduos que ali estão encarcerados, o não cumprimento dessas regras, gera correção, a

qual é utilizada para que se tenha o controle sobre esses indivíduos.

É perceptível notar o quanto a mídia se usa de algumas falas para enaltecer essa falta de

“controle”, a preocupação por parte da mídia, está em colocar os presos dentro das celas,

disciplinados, sempre enfatizando que os detentos estão rebelados. De acordo com Barcinki e

Cúnico (2014), há uma divisão dentro dos presídios, onde é delimitado o espaço onde são

colocados os presos, isso remete quem está de acordo com as normas estabelecidas pela

sociedade, os guardas penitenciários, os policiais, dentre outros funcionários, estão sob o poder

de comando, enquanto que os presos estão nesses locais para serem punidas.

Em uma coletiva sobre as medidas tomadas para retomar “o controle de Alcaçuz”, o

comandante fala das medidas, e é questionado várias vezes sobre a falta de controle dos presos,

como também os mesmos terem tomado conta do presídio, fazendo com que conseguissem essa

afirmativa por parte do comandante e enalteceu isso para os telespectadores. A mídia se usa dos

discursos de agências do controle penal, para enfatizar ainda mais a notícia, legitimando assim

33
as informações, usando disso para causar um impacto a população, a qual passa a desejar ainda

mais punições cada vez mais severas (Budó, 2012).

Os dois principais objetivos é preservar vidas e aplicar lei, então a polícia militar chegou
no local porque se perdeu o controle da unidade, a SEJUC perdeu, então nós estamos
agora atuando massivamente para retomar o controle, e a primeira providência é instalar
a barreira física (Comandante da PM)

Mas divide em dois lados, de ambos os lados o controle é dos detentos? (Repórter)

Isso, como já era antes (Comandante da PM)

E vai continuar sendo? (Repórter)

Temos uma barreira, como já disse esse é o primeiro passo que consideramos o mais
importante para não ter uma guerra campal e possivelmente muitas mortes (Comandante
Geral da PM)

Mais o controle é deles coronel? Eles não vão mais se confrontar, mais ainda continuam
no controle é isso? (Repórter)

Isso (Comandante Geral da PM)

Está aí, como o comandante da polícia militar, assumindo, reconhecendo que os presos
continuam no controle de Alcaçuz, mesmo com a construção desse muro (Repórter)

No meio desse massacre também houve pouca importância dada a vida do preso dentro

do presídio, em uma coletiva, o governador reflete acerca das 26 mortes que houve em alcaçuz,

reiterando que não houve mortes com policiais, dando a entender, que a crise ocorrida em

Alcaçuz ainda estava sobre controle, enquanto houvesse só mortes envolvendo presos.

Deixando claro, a pouca importância do Estado, com relação ao massacre ocorrido.

Até agora não tivemos morte de policiais, é importante ressaltar, não tivemos mortes de
agentes penitenciários, só tivemos morte de reféns, por enquanto a morte está restrita a
membros de facções (Governador).

O Estado se torna omisso, quando concorda com atos desumanos que se configura com

as práticas punitivistas, que ocorrem dentro dos presídios, não garantindo os direitos da pessoa

34
presa, que um dos principais seria garantir a integridade física, moral e psicológica do detento

(Almeida, 2017).

A mídia se usou da culpabilização dos presos para comover a população, em várias falas

que mencionavam o que estava acontecendo fora da penitenciária, enfatizava sobre a culpa

aderida aos presos de Alcaçuz, não mencionando que essa rebelião poderia ser ocasionada pelo

descaso do Estado com os presídios brasileiros, como pode ser observado nas seguintes falas:

“a questão da sociedade que também está sendo atingida” (Apresentadora), “infelizmente o que

acontece aqui, na penitenciária de alcaçuz, também tem reflexos graves no cotidiano, no dia-a-

dia das pessoas que estão aqui do lado de fora do sistema penitenciário” (Repórter).

Quando a mídia se adere dessas repercussões ela gera um culpado, o qual a população

pode se revoltar, além de minimizar a desresponsabilização do Estado, quando o próprio deixa

que essa situação saia do controle, e deixa que realmente a população sofra com a situação.

Mesmo após a desativação da penitenciária do Carandiru, ainda ocorre rebeliões, decorrentes

do não compromisso do Estado com obrigações legais que seriam as leis baseadas na

Constituição Federal e Lei de execução Penal (Wermuth & Nielsson, 2017).

Em uma reportagem na página do G1, com o título “dos 26 corpos encontrados em

Alcaçuz, 15 estavam decapitados”, falam sobre a brutalidade dessas mortes, impressionando

assim os telespectadores que criam uma imagem de “monstros”, pessoas cruéis e perigosas.

Essas reportagens costumam influenciar a sociedade em seus comportamentos quando

instauram a prevalência da violência ocorrida, fazendo com que a população clame por punição

para esses indivíduos. Através dos comentários (Apêndice), com relação a essa reportagem é

possível perceber essa visão do punitivismo repassado a sociedade.

O governador pronuncia que os presos comandam também fora da penitenciária (citação

abaixo), mas, se isso ocorre é porque há corrupção por parte de alguma autoridade policial,

35
havendo aliciamento de celulares dentro do presídio, isso se comprova pelo fato de ser um dos

pontos de investigação que os promotores de justiça irão realizar.

Porque todos os líderes, estão presos nos presídios, você instala bloqueador de celular,
porque dá mais segurança do lado de fora, porque todas as ordens de violência partem
de dentro dos presídios. (Governador)

Machado, Souza e Souza (2013), relatam sobre o descaso com o qual os presos são

tratados ao precisarem da assistência médica no presídio, como a realidade do atendimento para

a assistência básica nos presídios brasileiros é precário, onde alguns chegam ao estado terminal,

uma vez que, falta do medicamento aos materiais para o fornecimento da assistência básica, e

como houve vários feridos e mortos no meio dessa guerra, alguns levado para o hospital, outros

sendo socorridos dentro do próprio presidio, fica o questionando se de fato ocorreu esse

atendimento dentro da penitenciária.

Na Figura 1, podemos ver quando alguns feridos são socorridos, mas por cima do muro

do presídio, assim como na Figura 2, os feridos são socorridos pelos próprios detentos.

Figura 1. Bombeiros socorrendo ferido por cima do muro de Alcaçuz.

36
Figura 2. Presos feridos, sendo socorridos por outros detentos

Outra questão analisada foi o da estrutura física, foi mencionado entre os repórteres,

apresentadora e até mesmo autoridades do Estado, que muitas das armas brancas que os presos

possuíam foram feitas através da destruição da penitenciária. Na fala do Governador em uma

coletiva, o mesmo é questionado sobre as armas que estão sob posse dos presos, e então ele

responde: “é mais pedaço de ferro, mas é claro, eles destruíram as instalações”, o mesmo afirma

que foram os próprios presos que deixaram Alcaçuz, em uma situação calamitosa. O próprio

secretário de justiça e cidadania também preconiza sobre a situação estrutural física de Alcaçuz,

“voltar-se para os pavilhões, não é fácil, pois todo o prédio está depredado”.

O que de fato não condiz com algumas afirmativas das autoridades do Estado, é o prédio

de Alcaçuz ter sido destruído agora pelos presos, já que em outras reportagens é levantado que

o prédio já estava em péssimas condições, desde da última rebelião de 2015, o qual não havia

mais grades das celas dos pavilhões desde da última rebelião (Tavares, 2017; Vasconcelos,

2017). Inclusive, desse tempo para cá, não foi feito nenhuma reforma, havendo um descaso por

parte do Estado. A Figura 3, abaixo mostra como estava o telhado de Alcaçuz, e as paredes do

presídio.

37
Figura 3. Telhado e paredes de um dos pavilhões de Alcaçuz, totalmente destruídos.

O governador ainda falou sobre os presos estarem fabricando armas artesanais,

justificando que os mesmos faziam as armas como forma de “querer intimidar”, isso nos chama

atenção, pensando da seguinte forma, por qual motivo os presos estariam querendo “intimidar”

o Estado? Seria uma forma de fazer com que o Estado percebesse que existe seres humanos

dentro do presídio, muitas vezes esquecidos dentro desses lugares?

A precariedade ao qual se encontra o sistema prisional é decorrente com o descaso, o

abandono e falta de investimento por parte do poder público, que não visa respeitar a integridade

física e moral dos presos que estão sob sua supervisão (Machado, Souza e Souza, 2013).

Em mais outra coletiva, o governador fala sobre a violência destacada dentro do presídio

também como forma de “intimidação”, inclusive destacando que isso causa pânico na

sociedade, mas de fato esse sentimento é repassado a partir do momento que essas imagens são

divulgadas, causando não só pânico, como também revolta a população. Essa reflexão do

Governador, é uma apelação para o sensacionalismo, não se detendo as falhas do Estado e nem

da sua responsabilidade enquanto governador. Um outro fator nas reportagens e a indagação

feita a violência que ocorre dentro do presídio, sendo enfatizado a todo momento pelos

repórteres e apresentadora “tem as imagens que deixam a gente realmente chocado” (Repórter),

38
“é cenas muito chocantes, fortes de ser ver” (Apresentadora), além do próprio governador

repassar essa indignação por sua parte.

E querer intimidar, causar pânico na população, querer intimidar o Estado, uma hora
dessa o Estado não pode ser intimidado (Governador)

Mas nunca tinha visto na minha vida uma barbárie em minha vida, nem em filme de
terror, você cortar cabeças de seres humanos, fazer fogueiras de cabeça, Rio Grande do
Norte foi uma cena de barbárie que até para ver você fica chocado com a cena, porque
eu nunca tinha visto isso na minha vida (Governador)

O Governador se usa mais uma vez do sensacionalismo, construindo uma imagem

animalesca dos presos. São reflexões que dizem que os presos viraram pessoas brutais, seres

que não tem remorso e não tem segunda chance, descartando qualquer recuperação que

houvesse, instigando a opinião pública a clamar por penas mais severas e até mesmo penas de

morte para essa população carcerária. Logo, a Figura 4, mostra aos telespectadores os presos se

enfrentando em mais um dia de rebelião, e a nós cabe a pergunta, porque mostrar

frequentemente nas redes de televisão a imagem da violência? E mais em horário nobre, sendo

que tem tantas crianças que são expostas a essas imagens.

Figura 4. Imagem da rebelião que ocorreu no dia 17/01/2017

As notícias sobre crime e violência tem grandes destaques, isso porque, possuem

características interessantes aos telespectadores, quando se pode achar culpados de acordo com

as suas próprias análises do que está sendo reportado, sendo assim, a sociedade tem a quem se

39
voltar, que seriam os ditos criminosos, de acordo com a mídia. Além disso, as reportagens com

esse tipo de categoria, costumam gerar uma trama que por vezes possuem vários capítulos a

cada dia, transformando-se assim em valores-noticia (Budó, 2008).

Nas reportagens houve a exposição dos presos. Foram expostos cinco presos

identificados como chefes das facções, como também toda a sua ficha criminal, foram expostos

dois acusados de terem fugido de Alcaçuz, sendo filmados com dois policiais do lado. A

necessidade de haver policiais do lado dos acusados, ao que parece, fica a demonstração de uma

ação espetacular da polícia. A divulgação da imagem dessas pessoas é uma violação de direitos,

além de incitar a violência, ademais pode fomentar a rivalidade entre as facções. Com as

imagens divulgadas, se faz lembrar que são identificados como chefes de facções, e nesse

momento pensa-se em retaliações ou até mesmo há o temor pelas mortes desses indivíduos, já

que estamos falando de um confronto entre duas facções rivais.

De acordo com Braga (2012), a exposição de informações através da imprensa,

repercute em uma manipulação da opinião pública com relação aos sujeitos que são ou até que

já foram julgados, pois a imprensa sensacionalista reproduz notícias sem saber a veracidade dos

fatos, invadindo assim o seu direito de privacidade. De acordo com o relatório de denuncia

organizado por ANDI – Comunicação e Direitos, e Intervozes – Coletivo Brasil de

Comunicação Social e artigo 19, no ano de 2015, é relatado várias violações de direitos

humanos e infrações a leis, ocorridas através da mídia, especificamente em programas de rádio

e TV. A pesquisa se sucedeu através da análise de 28 programas reproduzidos em 10 capitais.

Foi constatado que 1.704 casos é devido a exposição indevida de pessoas, 614 violações ao

direito ao silencio, 295 exposições indevidas de famílias.

As Figuras 5 e 6, mostram a forma como esses presos são expostos. Além dessas

exposições, no dia 24 de janeiro, os policiais resolvem entrar novamente em Alcaçuz, fazendo

as vistorias e a recontagem dos presos, para isso, eles tiram todos os presos de um determinado
40
pavilhão e coloca-os em fileiras sentados um atrás do outro, há mais uma vez uma exposição

desnecessária dos indivíduos que ficam em posições constrangedoras.

Figura 5. Dois presos suspeitos de fugirem de alcaçuz

Figura 6. Um dos identificados pela polícia como chefe de umas das facções.

O Estado mais uma vez, se mostra coniventes com atitudes violentas aos detentos,

quando os expõe dessa maneira, a mídia por sua vez, faz o papel de naturalizar essas atitudes,

como corretas, não denunciando que são atitudes que violam direitos, passando como ações

necessárias dentro do presídio, e quem paga por toda essa situação são os apenados, que tem

que viver dentro dessas instituições, sofrendo a violência constante exacerbada pelas

autoridades.

41
Nos perguntamos novamente se não houve retaliação por parte dos policiais quando

não estavam sendo filmados (Figura 7), e outa imagem que nos chama atenção foi uma revista

que houve em Alcaçuz, no dia 15 de janeiro, onde todos os presos estavam pelados, mais uma

vez é evidenciado a exposição da imagem (Figura 8).

Figura 7. Revista nos presos que aconteceu em alcaçuz

Figura 8. Polícia faz revista de presos no domingo.


Fonte: http://g1.globo.com/rn/rio-grande-do-norte/noticia/2017/01/dos-26-corpos-encontrados-em-alcacuz-15-
estavam-decapitados.html

Uma das alternativas para se minimizar a crise existente em Alcaçuz, e a revisão de

processos dos indivíduos encarcerados, que tem como intuito conceder a liberdade aqueles que

já cumpriram sua sentença ou até mesmo conceder o semiaberto a alguns presos, que podem

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demonstrar ao longo do tempo, “bom comportamento”, para isso, foi mencionado pela

apresentadora que haveria um “mutirão” para que esses processos fossem revisados, “o tribunal

de justiça vai fazer um mutirão para liberar processo e alguns presos”. Isso nos traz a questionar

a existência de não haver assistência jurídica a muitos presos, mostrando umas das causas da

superlotação, o descaso da justiça com os indivíduos encarcerados.

De acordo com Bayer (2013), a falta de assistência jurídica faz com que o preso

permaneça mais tempo do que se deve no sistema prisional, acarretando em muitos casos do

mesmo não adquirir o benefício do livramento condicional, progressão de regime, entre outros

benefícios que são reiterados aqueles que são assistidos pelo amparo jurídico, sendo

resguardado através da Lei 7.210/84 “Art. 16 As Unidades da Federação deverão ter serviços

de assistência jurídica, integral e gratuita, pela Defensoria Pública, dentro e fora dos

estabelecimentos penais”, o que ocorre muitas vezes dentro dos presídios brasileiros é o não

cumprimento das leis que protegem e garantem o direito dos detentos, ocasionando que esses

indivíduos sejam esquecidos perante a lei.

4.2.2. Os motivos elencados pela mídia para explicar o massacre

As reportagens exaltam que há uma rebelião na penitenciária de Alcaçuz, que começou

após duas facções se enfrentarem, justificando-se que estariam guerreando em busca de poder

dentro do presídio, o tempo todo são mencionadas frases que destacam que as duas facções

estão brigando “os presos fizeram barricadas, eles ameaçaram se enfrentar dá para ver”, “tudo

isso para evitar um embate entre os presos”, “Presos do pavilhão 1 e 2 ocuparam o pavilhão 3,

eles planejavam enfrentar os detentos do pavilhão 5” (Repórter).

Com isso, é interessante saber que o Sindicato do Crime do RN (SDC) é uma das facções

que frequentemente vemos estampadas nas paredes de Alcaçuz, a mesma foi criada no ano de

2013 em São Paulo com intuito de oposição ao PCC (Primeiro Comando da Capital). No início,
43
as facções foram criadas com o objetivo de criar um movimento de resistência política, o qual

combateria as violações de direitos humanos que ocorrem frequentemente pelos presídios

brasileiros, outros motivos que reiteram a criação das facções são disputas por território e rotas

de tráfico e o domínio das unidades prisionais (Melo & Rodrigues, 2017).

Em uma coletiva, o govenador falou o que teria causado a rebelião em Alcaçuz,

reafirmando que isso seria uma vingança ao que aconteceu na Amazônia, assim, ele afirma que

essa rebelião não é um caso do Rio Grande do Norte, mas, uma rebelião que está em cena, como

forma de retaliação ao que ocorreu em outro presídio. Evidenciando a negação do conflito por

parte do Governador.

“Virou uma guerra que começou na Amazônia essa retaliação, não é do Rio Grande do
Norte, é uma retaliação que aconteceu em Amazônia, é uma vingança ao que aconteceu
na Amazônia e que está acontecendo nesse estado infelizmente” (Governador)

O massacre que ocorreu na penitenciária da Amazônia em janeiro de 2017, decretou a

morte de 56 detentos, motivados também por uma guerra entre facções. De acordo com Gondim

(2017), 19 dias antes do massacre ocorrer dois detentos denunciaram sobre a corrupção que

estava acontecendo dentro do sistema prisional envolvendo diretores da unidade juntamente

com chefes de facções, que estavam fornecendo armas, drogas e celulares. Além disso, houve

um alerta no ano de 2016, de que esse massacre poderia ocorrer, de acordo com um relatório

de Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura, feito pelos especialistas dessa

instituição, que foi entregue ao governo federal, que foi alertada sobre os problemas que

estavam ocorrendo no presídio, como torturas, maus tratos, superlotação e de como as unidades

prisionais estavam sendo comandadas pelas facções com a permissão do Estado.

Se torna evidente através das reportagens que, o que ocorre em Alcaçuz seja motivado

pela briga entre as facções, que como uma das primeiras medidas feitas, foi retirar indivíduos

identificados como chefes das facções, especificamente a do PCC, de acordo com uma coletiva

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dada pelo Governador, além disso houve uma fala bem específica da apresentadora com relação

aos cinco chefes “e a polícia civil ouviu 5 presos que comandaram a maior rebelião do Rio

Grande do Norte”, enfatizando quem seriam os “culpados” por todo esse holocausto, a mídia

então passa os detentos como sendo os inimigos por tal situação.

Tem porque conseguimos retirar os líderes do PCC, de dentro, sem ter nenhuma morte,
nem uma troca de tiro, entre preso e policial e vamos encaminhar para o Presídio
Federal. (Governador)

Os policiais que estão em Alcaçuz justificam que para que não se tenha um confronto

entre as facções, eles precisam intervir, atirando com balas de borracha, pois um dos PMs

através de um vídeo gravado, afirma que se não intervir, e houver o confronto, o resultado seria

várias mortes. Uma outra alternativa que usaram para separar as facções, foi construir um muro

com contêineres, para que assim os pavilhões 4 e 5 ficassem separados, e fosse possível evitar

um confronto maior.

De fato, essas medidas usadas pelo Governo não são soluções eficazes para se acabar

com uma rebelião, se torna medidas temporárias, e se o governo quer acabar de vez com a crise,

deveria mudar primeiro a situação precária existente nos presídios, segundo a implementação

de políticas públicas, para que assim fosse revisto o aumento da população carcerária. A crise

não se resolve com a implementação de novos presídios, mas, com alternativas que visem

menos encarceramentos.

4.2.3. Responsabilizações do Estado frente ao massacre

Através da análise das reportagens é perceptível observar o quanto o Estado foi omisso

em suas responsabilidades com a penitenciária de Alcaçuz. Embora várias medidas tenhm sido

pensadas para que pudessem retomar o controle de Alcaçuz, como mencionado pelo repórter,

que pode ser observado abaixo. De todas essas instâncias, muitas demoraram para que fossem

efetivadas, o prazo era sempre de alguns dias, ou até mesmo na próxima semana, como podemos
45
ver através do pronunciamento do repórter “não existe de fato um prazo para que elas

aconteçam”.

Ficou definido a contratação emergencial de 700 agentes penitenciários em caráter de


temporário, além disso também a construção um muro separando os pavilhões 4 e 5,
esses dois pavilhões ficariam separados por esse muro, e dos demais pavilhões da
penitenciária, além disso, o governo resolveu aplicar brita e asfalto no perímetro externo
da penitenciária para facilitar a locomoção dos carros da polícia militar e da força
nacional que fazem as rondas em torno aqui na penitenciária de alcaçuz e a última
medida emergencial tomada encaminhamento de um ante projeto de lei para a
convocação de reservistas para a polícia militar, estas então são as medidas emergenciais
que o governo anunciou (Repórter).

Os efetivos emergenciais ocorriam fora de Alcaçuz para controlar o que dizia “ser a

violência que estava saindo de dentro de Alcaçuz”. Enquanto que dentro da penitenciária as

facções se enfrentavam a todo momento, tendo apenas a intervenção da polícia militar e de

alguns agentes.

O código penal em seu “Art. 38, fiz que o preso conserva todos os direitos não atingidos

pela perda da liberdade, impondo-se a todas as autoridades o respeito à sua integridade física e

moral”, ressalta também que mesmo o preso tenha cometido qualquer delito ainda assim, o

mesmo é detentora de direitos, assim, fica propagado que as autoridades competentes têm que

zelar da integridade física e moral dos detentos, e que se houver qualquer violação de seus

direitos, isso acarreta em crime, também é reafirmando pela LEP (Lei de Execução Penal) nº

7.210/87 “Art. 40 - Impõe-se a todas as autoridades o respeito à integridade física e moral dos

condenados e dos presos provisórios”. Dessa forma, mesmo os homicídios sendo decorrentes

entre as facções, ainda assim o Estado tinha uma responsabilidade com os presos, de zelar por

sua integridade, a qual não ocorreu (Vasconcelos, 2017)

Logo, o Estado é responsável por tudo que ocorreu em Alcaçuz, quando deixou de

cumprir com o seu papel garantidor do sistema prisional, quando deixou faltar com relação a

estrutura e as condições dignas de vida para com os presos, assim como a falta de efetivos de

agentes prisionais para conter a rebelião, desse modo, proporcionou para o surgimento e
46
evolução das facções (Vasconcelos, 2017). O Estado também foi avisado que poderia ocorrer

o massacre, três meses antes de acontecer a rebelião, presos e alguns familiares, avisaram sobre

o caos que estava por vim, algumas cartas foram encaminhadas para a Secretaria de Justiça e

Cidadania do Rio Grande do Norte, mas, não se sabe o que foi feito com essas cartas (Melo &

Gonçalves, 2017). A tragédia havia sido anunciada.

Das medidas emergenciais, a comissão do sistema prisional da OAB/RN, fez uma crítica

ao Estado por não haver um plano no qual esteja implementado o dinheiro que o Governo

Federal mandou. Assim, a comissão indaga acerca do investimento desse dinheiro, que seja

realocado na reconstrução de Alcaçuz.

O que nos faz questionar é que o Governador, em uma coletiva, fala acerca de não entrar

na penitenciária com medo que houvesse outro episódio de uma nova Carandiru, além de

mencionar se iriam entrar se fosse um caso de extrema urgência, enquanto que frequentemente

o GOE, entrava em Alcaçuz para fazer vistorias, mas quando havia confronto não entrava, será

mesmo que tinham medo de haver uma nova Carandiru ou deixaram que os presos se

matassem? Porque 26 mortes não é motivo suficiente para que houvessem intervenções mais

eficazes? Ou não era motivo suficiente?

Porque se a polícia entrar no dentro do presidio, pode haver novas mortes, confrontos
policiais, aí vai ser uma nova Carandiru, temos que evitar disso acontecer, vamos entrar
em casos de extrema necessidade (Governador)

Um dos motivos também que cooperou para essa rebelião ocorrer desta forma, e a

polícia demorar para intervir, é o total de presos existentes em Alcaçuz, a superlotação é uma

das características da penitenciária para tentar amenizar a rebelião. O Estado resolveu transferir

alguns presos, mas, não se obteve resposta positiva, afirmando sua impotência diante da

situação ocorrida. (Vasconcelos, 2017)

47
O Estado a todo momento omite dados relativos ao que ocorre em Alcaçuz, não

revelando sobre as mortes, ou até mesmo sobre as fugas. O Estado tenta passar que está tudo

sob controle, evitando que o que ocorre no interior da penitenciária, torne a reputação do Estado,

como irresponsável ou que não tem controle com suas próprias penitenciárias, ou até mesmo

que eles já não podem conter o que ocorre interiormente no presídio. De acordo com Gondim

(2017); Melo e Gonçalves (2017), o relatório de Mecanismo de Nacional de Prevenção e

Combate à Tortura de 2017 evidenciou que houve 71 presos desaparecidos em Alcaçuz, não se

sabe o que aconteceu com esses indivíduos, se estão mortos ou se fugiram. Isso evidencia mais

uma vez a omissão do Estado, e como pode ter havido mais mortes do que as contabilizadas e

anunciadas pelo Estado.

O Coordenador do Observatório da Violência falou em uma entrevista acerca dos dados

sobre o total de encarcerados em Alcaçuz não estarem coincidindo com o que é revelado pelas

autoridades do Estado frequentemente em coletivas, afirmando que provavelmente os dados

não são relativamente corretos.

O estado só especula, tanto é que já ouvimos falar em várias informações, primeiro,


1150 homens para 1250, 1350, agora já está em 1040. Então assim vivem fazendo
mudança nesses números, então realmente é só uma estimativa que eles fazem
(Coordenador Observatório da Violência).

O coordenador ainda indaga sobre o Estado não ter agido quando teve chance, quando

a situação em Alcaçuz não tinha chegado a essas extremidades, com isso, o Estado é acusado

de ser omisso, de não ter se responsabilizado por seus detentos, já que o presídio é

responsabilidade do Estado.

Se naquele primeiro dia, após aquela noite de rebelião, tivessem feito uma intervenção
séria e realmente tivessem impedido que continuassem, poderia ter colocado esses
homens nos lugares e feito uma contagem, aproveitado aquele momento e feito um
credenciamento rápido, mais infelizmente não aproveitaram e simplesmente deixaram
essa coisa acontecer e agora a gente está administrando o caos (Coordenador
Observatório da Violência).

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Uma outra situação que foi destacada nas reportagens foram os familiares dos presos

estarem sempre na frente da penitenciária, esperando por notícias, situação na qual era

destacado o descaso por parte das autoridades em informar acerca do que estava ocorrendo.

Estes só sabiam do caos que ocorria dentro da penitencária através dos gritos que

frequentemente eram ouvidos de dentro do presidio, como é destacado pelos repórteres “e o

que a gente consegue ouvir nesse exato momento são gritos”, “a gente ainda consegue escutar

gritos das facções, uma provocando a outra”.

Conforme Melo e Gonçalves (2017), essas famílias foram negligenciadas pelo Estado

quando não tinham informação do que tinha ocorrido com seus filhos, netos, maridos, e que em

muitos casos, ficavam sabendo de notícias através dos vídeos de execução que eram postados

pelos próprios detentos nas redes sociais, outras vezes foram vítimas de retaliação por parte dos

próprios agentes prisionais. Sendo a forma como essas famílias sofreram punitivismo por parte

do Estado também.

Os familiares resolveram trazer comida para os presos, porém foram barrados pelo

delegado, o mesmo informou ao repórter que havia comida aos presos, e que por isso não tinha

a necessidade dessa entrega, mas também afirmou que depois dessa rebelião, os presos estavam

destruindo as marmitas que eram entregues. Em contrapartida, segundo Melo e Gonçalves

(2017), como medida punitiva, houve a suspenção de água e comida dentro de Alcaçuz.

49
Conclusões

O sistema prisional brasileiro é enfatizado atualmente como um sistema em crise,

devido o não cumprimento das exigências legais. Através da mídia observa-se inúmeras

reportagens as quais reportam sobre rebeliões ocorridas em penitenciárias, delegacias e outras

instituições carcerárias, assim como, o problema com a superlotação.

O sistema carcerário também é caracterizado pelo total abandono do Estado, seja ele

relacionada a assistência básica como também a jurídica, a qual evidencia os processos dos

detentos que passam mais tempo em regime fechado, por não haver revisão de processos.

Através desses dados extraídos da pesquisa teórica e documental deste trabalho, pôde-se

analisar as reportagens e compará-las com a teoria.

De imediato, ao analisar as reportagens e transcreve-las, foi possível um melhor acesso

a informações e se deter melhor nas falas dos indivíduos. Chegando-se a compreensão de que

o sistema carcerário, condiz de fato com a teoria apresentada nos capítulos teóricos acima, no

quesito de abandono total ao preso. Da mesma maneira, que o Estado é totalmente omisso e

ineficiente, quando não sabe lidar com a crise, não intervindo a tempo, deixando que os próprios

presos resolvam essa situação a base da violência, deixando-os a própria sorte. Ao que é

apresentado a partir da análise, é que o Estado não queria entrar, apenas se usava de medidas

que aparentemente não seriam soluções, mas, formas usadas para que a rebelião pudesse tomar

outras proporções, resultando em uma medida “eficaz” para o Estado no intuito de acabar com

o “mal” existente dentro dos presídios, que seria os detentos.

Os resultados da análise das reportagens transcritas puderam evidenciar o estigma de

“inimigo” agregado ao preso, em decorrência da rebelião ter passado os muros da penitenciária

e se disporem em ataques a patrimônios públicos da cidade de Natal/RN, ocasionando a revolta

50
da sociedade, que era alimentada pelo discurso frequente da mídia com relação a falta de

controle do Estado com os detentos e o quanto a população sofria com isso.

Observamos frequentemente como a mídia é manipuladora, influenciando na opinião

dos seus telespectadores, além de propagar medo e insegurança constantemente, quando realça

nas reportagens a imagem da violência. Atribuindo a impressão de querer atingir a população

emocionalmente, quando se usa dos artifícios sensacionalistas. A mídia coloca-se do lado de

quem tem o poder, aqueles que não fazem parte, são estigmatizados, para que assim com a ajuda

da sociedade (que nesse estágio já está corrompida pela mídia), possa agregar as punições

necessárias.

O punitivismo é analisado a partir do momento que a mídia concorda com as ações

efetivadas dentro de Alcaçuz, quando a culpa recai somente nos apenados, quando o Estado se

desresponsabiliza com o que ocorreu no massacre, e quando o próprio Governador, reverência

a morte dos apenados como algo mínimo, e a violência exalada dentro da penitenciária como

algo fora de contexto, algo sobrenatural.

Todas essas questões são usadas tanto pela mídia como pelo Estado como motivos para

se exaltar a punição, pois de fato, mostram-se situações coniventes para que seja realizado ações

punitivas com esses apenados. Visto que as imagens e discursos exaltados pela mídia, são de

que os presos são cruéis e por essa razão não se tem mais o que esperar desses indivíduos. O

que é exalado atualmente é que “bandido bom é bandido morto”, lamentavelmente foram

mortos 26 “bandidos”, os quais não fazem diferença para a sociedade de acordo com o que é

propagado.

O intuito principal do trabalho, é denunciar as formas como os detentos são tratados,

seja dentro dos presídios, seja pelo Estado, Mídia ou até mesmo pela sociedade. Esses

indivíduos não são vistos como seres humanos, mas, como pessoas as quais não se vale mais a

pena resguardar perante a lei, a partir do momento que se é colocado na penitenciária. Deixando
51
claro que muitos nessa situação, estão atualmente, devido a colaboração da nossa sociedade em

atuar como, uma cultura a qual estigmatiza e descriminaliza a pobreza.

Para que haja a mudança, necessita que primeiramente mudemos nossos pensamentos,

lutemos pela igualdade, e sejamos sempre a favor dos direitos humanos e que tenhamos menos

preconceitos, para que só assim possamos observar e não ser manipuláveis por essa mídia, ao

qual se usa de seus preceitos midiáticos para repassar suas informações sensacionalistas, que

procura sempre controlar as ações e pensamentos da população.

Que se o Estado puder fazer algo como forma de modificar a crise penitenciária, que

seja investindo em políticas públicas, e não em mais presídios ou punições mais severas. Seja

repensado acerca desse sistema falido, que é a prisão, e se pense em alternativas que visem

igualdade e oportunidade para todos, acredito que assim, possamos começar a ter mudanças na

nossa segurança pública.

52
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APÊNDICE – Comentários dos usuários acerca da reportagem do G1

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