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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC/SP

Nathália Novaes Campi

O Surdo e o lazer – Como fica o discurso?

GRADUAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA
SÃO PAULO
2011

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC/SP

Nathália Novaes Campi

O Surdo e o lazer – Como fica o discurso?

GRADUAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


banca examinadora da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, como exigência parcial para
obtenção do título de Bacharel em Fonoaudiologia,
sob a orientação da Profª. Drª. Maria Cecília de
Moura.

SÃO PAULO
2011

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Banca Examinadora

______________________________________________

______________________________________________

____________________________

Data___/___/___.

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Agradecimentos
Primeiramente à minha orientadora, amiga, mãe, protetora Profª Drª Maria
Cecília de Moura, pelo grande estímulo que contribuiu de forma maravilhosa para a
realização dessa dissertação e para minha formação acadêmica.

À Kathy Harrison, que aceitou dar seu parecer a este trabalho fornecendo uma
criteriosa e brilhante ajuda e conselhos que me fizeram desenvolvê-lo de forma mais
ampla.

Aos meus pais, Adriana e Renato, que nunca desacreditaram de mim e sempre
me deram forças para não desistir e não me entregar.

Aos meus irmãos, Ana Carolina e Renato, que me fizeram rir neste tempo de
tanta correria, e me ensinaram novamente como é ver o mundo com os olhos de
criança.

Aos meus familiares, que sempre estiveram por perto com a mão estendida,
mas confiantes de que eu conseguiria caminhar sozinha.

Ao meu namorado, Jé, que não me deixou cair e me manteve calma nesse
momento de tanto nervosismo e ansiedade.

À toda minha classe, pelo carinho, pela cumplicidade e por esses inesquecíveis
quatro anos. Mas principalmente à Ana Luiza, Jackeline e Juliana, pela amizade, e por
me mostrarem que tudo tem jeito e que ver as coisas com olhos alegres é uma questão
de opção.

À Deborah Azambuja que me incentivou fazer Fonoaudiologia na graduação.

À Mirian Caxilé que me deu um impulso inicial ainda na realização do projeto, e


ao João Matias que, com muita paciência, me deu o impulso final para a realização
deste.

4
Agradeço também à Tarcilla Zalla pela maravilhosa contribuição que teve para
minha formação acadêmica e para o meu amadurecimento e à Fernanda Borges pela
enorme paciência nesse momento tão complicado.

E também agradeço à minha madrinha, Renata Novaes; sei que de onde estiver
está olhando por mim e me iluminando em todas as minhas realizações.

Finalmente, agradeço a todos que contribuíram para a realização desta


pesquisa, de forma direta ou indireta, especialmente aos surdos que possibilitaram que
esse trabalho viesse a ser realizado.

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SUMÁRIO
Resumo ........................................................................................................................... 7

Abstract ........................................................................................................................... 8

Introdução ....................................................................................................................... 9

Objetivo ......................................................................................................................... 14

Método .......................................................................................................................... 16

Análise e Discussão ...................................................................................................... 19

1.Socialização ............................................................................................................... 20

2. Papel da Libras e da oralidade .................................................................................. 24

3. Acessibilidade ........................................................................................................... 25

4. Relação surdo-ouvinte .............................................................................................. 27

5. Cultura Surda ............................................................................................................ 28

6. Identidade Surda ...................................................................................................... 30

Conclusão ..................................................................................................................... 38

Bibliografia .................................................................................................................... 42

Anexos .......................................................................................................................... 46

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Resumo

O ser humano encontrou a linguagem como principal forma de comunicação e de


construção da identidade. Ela pode ser encontrada em quatro habilidades principais: o
ouvir, ler, escrever e falar. Mas quando isso não ocorre, há uma ruptura nas relações
sociais. Como exemplo, podemos ver que os surdos foram dados como diferentes por
não “obedecerem” ao padrão de normalidade impostos pela sociedade em geral. Ser
Surdo deixa a pessoa exposta à possibilidades linguísticas e culturais diferente dos
ouvintes.

Por essa razão, esse trabalho teve como objetivo pesquisar e observar se o Surdo
está realmente inserido na sociedade em geral em seus momentos de lazer e de que
forma eles lidam com todos os obstáculos lingüísticos e de comunicação que possam
aparecer.

A partir deste estudo verifiquei como se dá essa troca interacional quando os dois
mundos, de surdos e de ouvintes, se cruzam. Os dados foram obtidos por meio de
questionários respondidos por dez Surdos que freqüentam ambientes de lazer em seu
tempo livre. A pesquisa foi realizada para melhor compreensão da socialização dos
Surdos com os Ouvintes com a preocupação de captar a forma pela qual o Surdo
vivencia as relações diante do estigma social da surdez, levando em consideração as
vivencias sócio-culturais e a influência da sociedade.

Podemos encontrar diferentes formas de comunicação nos surdos. Eles podem


usar a oralidade e a escrita além da Libras e uma vez que essa língua é de difícil
compreensão para os ouvintes eles usam as outras modalidades citadas para se
comunicarem quando em contato com os que não entendem a Libras. Nesse trabalho
pudemos perceber que essa forma de estar no mundo em que eles lançam mão de
diferentes formas de comunicação tem como finalidade se inserir na sociedade. É
importante ressaltar também que percebemos que o prazer e a socialização estão
intimamente ligados.

Concluímos que o estigma é minimizado quando em situações sociais em que


ambos os lados buscam estar à vontade e se divertindo e em que todos desejam estar
bem um com o outro.

Seria muito bom se essa interação social mais livre e dissociada de preconceitos
pudesse se estender a todas as esferas sociais, mas o mais importante é poder ter
percebido que ela é possível e depende apenas do desejo daqueles envolvidos.

Palavras Chaves: Linguagem, Inclusão, Surdo, Acessibilidade, Libras

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Abstract

Man found the language as the main form of communication and identity
construction. It can be found in four main skills: listening, reading, writing and
talking. But when this does not occur, there is a breakdown in the social relations. As an
example, we can see that the deaf were considered as different because they did not
"obey" the normal patterns imposed by society in general. Being deaf makes a person
exposed to different linguistic and cultural possibilities when compared to the hearing.

Therefore, this study aimed to investigate and observe if the Deaf is actually
inserted at the society at large in their leisure time and how they deal with all language
and communication barriers that may arise.

From this study I verified how is the exchange interaction when the two worlds of
deaf and hearing, intersect. Data were collected through questionnaires completed by
ten deaf who attend leisure environments in their spare time. The survey was conducted
to better understand the socialization of the Deaf with the listeners with the intention of
capturing the way the Deaf experience relationships facing the social stigma of
deafness, taking into account the socio-cultural experiences and the influence of
society.

We can find different forms of communication in the deaf. They can use oral and
written and yet, of course, Brazilian Sign Language (Libras) and since the language is
not easily understood by the hearing they use the other methods mentioned to
communicate when in contact with those who do not understand Libras. In this work we
realized that this way of being in the world where they use different forms of
communication is intended to fit into society. It is also important to note that we realized
that the pleasure and socialization are closely linked.

We conclude that the stigma is minimized when both sides seek to be


comfortable, having fun and everyone wants to be well with each other.

It would be very good if this social interaction, free and disconnected of prejudice
could be present in all social environments, but the most important was to be able to
realize that it is possible and depends just form the ones involved.

Keywords: Language, Inclusion, Deaf, Accessibility, Brazilian Sign Language.

8
Introdução

9
Introdução

[...] a surdez profunda na infância é


mais do que um diagnostico médico;
é um fenômeno cultural, em que
padrões sociais, emocionais,
lingüísticos e intelectuais, assim
como seus problemas estão
inextricavelmente ligados.”
(SCHELENNGER E MEADOW,
apud SACKS 1990).

[...] o que importa a surdez da


orelha, quando a mente ouve? A
verdadeira surdez, a incurável
surdez, é a da mente”. Ferdinand
Berthier

Há muito tempo o Surdo é tido como alguém excepcional, com dificuldades para
expressar seus sentimentos e vontades. As escolas não conseguem incluir de forma
efetiva os alunos Surdos fazendo-os aprender tendo como base o currículo normal,
pois não há infraestrutura para abraçar essa situação. Como que o Surdo criará sua
identidade então?

Sabemos que é na família que o indivíduo vai se constituir como ser social e que
essa constituição se dá pela linguagem (BERGMAN, LUCKMAN, 1973).

Vemos em Moura (2000) que:

[...] A família é um dos fatores mais influentes, junto com o sistema educacional,
na construção de caminhos para o surdo. É a sociedade que não respeita a diferença
do homogêneo, tornando o surdo heterogêneo na única coisa que deveria ser

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homogênea: o humano. A pertinência ao mundo depende da forma como este é trazido
ao individuo nas situações do dia-a-dia.[...] (P.87)

Entendemos assim, que a família é um núcleo ímpar, criador de sua própria


cultura com leis, regras, mitos, ritos e crenças particulares, em que cada um de seus
membros vive, compartilha a mesma ideologia. Compartilha também suas próprias
emoções e diferentes significados no cotidiano; tudo isso faz com que haja certo
equilíbrio entre as pessoas e a estrutura própria do grupo familiar. (Santos e Zychy,
2008).

Uma pessoa pode apresentar surdez em razão de vários fatores, que podem
ser, por exemplo: surdez congênita, quando a criança já nasce surda por causa
hereditária ou embrionária (causada pela sífilis, rubéola, toxoplasmose,...); surdez
adquirida, que aparece em razão de doenças ou acidentes; surdez causada por
exposição a ruído intenso e a presbiacusia, que é a perda de audição que pode
aparecer em idosos, é que constitui um processo degenerativo de células do ouvido e
das fibras nervosas que se conectam com o cérebro (MONDELLI, BEVILAQUA, 2010).

Independente do fator etiológico da surdez, uma pessoa que nasce surda ou fica
surda antes da aquisição da linguagem terá implicações em sua escolaridade, se a
escola que freqüentar não estiver preparada para recebê-la. Sem uma atenção
adequada a criança não acompanhará e acabará sendo dada como incapaz. Os fatores
culturais em seu redor também poderão implicar na sua exclusão social, pois no
momento em que as pessoas não entendem o que o Surdo fala ou esse Surdo não
entende o que as pessoas ao seu redor falam, há uma exclusão, monta-se um grupo
no qual ele nem sempre se encaixará. A escola acaba, na maioria das vezes, criando
um pré-conceito para a criança com relação à cultura ao seu redor. Sabemos também
que a escola é uma das instituições responsáveis pela socialização secundária do ser
humano (BERGMAN, LUCKMAN, op.cit. 1973). Será nesse espaço que as normas
sociais mais gerais serão negociadas entre os indivíduos e seus pares, esses já fora de
seu círculo familiar. E, novamente, isso se dá por meio da linguagem.

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A linguagem é a forma que o ser humano encontra para a comunicação, para o
pensamento, para o registro de informações, para expressar emoções, para construir a
sua identidade. Pode ser expressa em quatro habilidades principais: escrever, ler, ouvir
e falar. O que a sociedade espera é que o ser humano tenha essas quatro habilidades
bem desenvolvidas (FACURE, 2011). Quando isso não ocorre acontece uma ruptura
nas relações sociais e, se não houver algum tipo de intervenção, uma alteração na
integração do indivíduo com o mundo. Além disso, temos que pensar a linguagem
como forma de organização do pensamento e de constituição do sujeito (MOURA,
2000).

Para muitos Surdos, no Brasil, a língua de sinais brasileira (Libras) é a língua


pela qual eles podem se constituir como seres da linguagem. É uma língua com
estruturas gramaticais próprias que contém, como qualquer outra língua, todos os
níveis lingüísticos (fonológico, morfológico, sintático e semântico). A única coisa que
diferencia a língua de sinais das demais línguas é a sua modalidade visual-espacial.
Foi nos anos 60 que a língua de sinais passou a ocupar um status de língua, sendo
estudada e analisada, passando, então, a ser reconhecida pela linguística (MOURA,
2000). No Brasil essa língua é reconhecida desde 2002 (lei 10.436) e seu uso é
regulamentado pelo Decreto 5626 de 2005, mas seu uso é maior do que a palavra da
lei. Apesar de ter sido proibida na educação do surdo, ela continuou a ser usada pela
comunidade surda e é um dos aspectos importantes da cultura surda. A sociedade em
geral não está acostumada, desde que ela não faz parte da cultura ouvinte, a utilizar e
até mesmo ver língua de sinais como uma língua verdadeira, não a aceitando, muitas,
vezes, como uma língua.

É importante ressaltar que os Surdos no Brasil podem se comunicar pela


oralidade ou pela Libras. Alguns conseguem se comunicar bem pela oralidade, outros
não. O desenvolvimento da oralidade depende de muitos fatores que passam pelo
aproveitamento auditivo, por capacidades neurológicas íntegras e por possibilidades de
treinamento de fala por fonoaudiólogos. É importante que se entenda que o
desenvolvimento de linguagem por meio da Libras se dá de forma natural (desde que o

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indivíduo seja exposto, tenha contato com outros falantes da Libras), mas a oralidade
deve ser ensinada e treinada. Nem todos os Surdos têm acesso precoce à Libras e da
mesma forma nem todos podem frequentar o fonoaudiólogo. Assim, podemos
encontrar diferentes desempenhos linguísticos nos surdos, mas eles sempre
encontram uma forma para se comunicar.

A fala é uma habilidade que deve ser ensinada aos Surdos, podendo levar anos
de ensinamento intensivo. A aquisição da Libras já pode acontecer de forma natural, já
que se trata de uma língua visual, se lhe forem dadas condições para tanto.É
importante se observar que a aquisição dessa língua depende de uma ambiente
propício para isso, desde que qualquer aquisição de língua depende basicamente de
outros significativos que levem o indivíduo a poder capturar essa língua. Se
considerarmos que é pela linguagem que o indivíduo pode se constituir como ser social
e que essa linguagem está a seu redor em todas as situações (ou deveria estar)
podemos imaginar que será intermediado por ela que ele fará seus laços e se
constituirá sujeito pleno. Mas, quando pensamos no surdo, sabemos que ele pode ter
um prejuízo nas suas relações sociais desde que a língua dos ouvintes lhe pode ser de
difícil compreensão e a sua, a Libras, por sua vez não compreendida também pelos
ouvintes. Mas, de uma maneira ou de outra, o surdo se insere na sociedade. A
pergunta que desejamos responder se refere à forma pela qual essa inserção social se
dá naquilo que faz parte da vida de qualquer indivíduo: nas situações de lazer e como
isso poderá influenciar na sua perspectiva de vista da sociedade. Desde pequeno
tratado de, muitas vezes, forma diferenciada, o Surdo tem que enfrentar barreiras para
conquistar seu espaço, ainda mais quando, em seu momento de lazer, o mundo dos
ouvintes e dos Surdos se cruzam.

13
Objetivo

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Objetivo

Analisar como se dá a inclusão social do jovem surdo em suas atividades de lazer


noturnas.

Objetivos Específicos

1. Analisar como o jovem Surdo se comunica nas situações de lazer.

2. Analisar se a comunicação por ele utilizada é efetiva para a sua inclusão social.

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Método

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Método

Para a coleta dos dados, seis surdos com idade entre 18 e 30 anos
responderam a questionários via e-mail. Após a coleta, os questionários foram
analisados pela proposta de Bardin (1977) que propõe a organização da análise em
torno de cinco pólos cronológicos: a pré-análise, a exploração do material, o tratamento
dos resultados, a inferência e a interpretação.

Consideramos o questionário uma forma já consagrada de se obter informações


sobre o objeto de pesquisa, pois, segundo Lüdke e André (1986) ela:

“[...] permite a captação imediata e corrente da informação desejada,


praticamente com qualquer tipo de informante e sobre os mais variados tópicos.”
(p. 33-34).

Sabemos que o questionário sozinho não promove a obtenção de dados


transparentes e que apenas a análise criteriosa dos mesmos é que possibilitou a
compreensão do fenômeno estudado, razão pela qual optamos pela análise de
conteúdo acima citada.

O questionário seguiu através das seguintes questões mediadoras:

 Você costuma ir muito à baladas, bares, etc? Por que?


 Como é o contato entre pessoas ouvintes e surdas na balada, bares, etc?
 Como é a comunicação?
 Sente que ser surdo é um impedimento para o estabelecimento das relações
sociais na balada? Por que?
 Porque a balada é importante para você?
 Se você encontrar algum ouvinte interessante, há possibilidade da relação
continuar ou a surdez é um empecilho? Por que?
 Em relação à balada, gostaria de falar mais alguma coisa?

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 Existem baladas para ouvintes e para surdos – qual você acha melhor? Por
que?

Antes do envio dos questionários, todos os procedimentos éticos foram


seguidos, sendo aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da PUC-SP sob
protocolo de número 233/2011. Foi também preenchido e assinado o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido por cada entrevistado, os quais já sabiam dos
objetivos da pesquisa.

Após o recebimento das respostas, fiz o levantamento e transcrevi os dados


obtidos pelos questionários e por meio dessa análise levantei categorias que emergiam
dos discursos dos sujeitos, o que transparecia das respostas, ou o que era inusitado,
chegando assim nas palavras chaves que serão analisadas a seguir. Assim pudemos
compreender o geral e o particular dentro destes questionários respondidos

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Análise e Discussão

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Análise e Discussão

Em contato com ambientes de lazer ouvintes e surdos, pude melhor


compreender as respostas que me cercavam nos questionários analisados. Pude
entender e compreender o que é um ambiente de lazer surdo após a balada Sencity,
que aborda os sentidos dos seres humanos, com muita acessibilidade a todos os
deficientes. Para isso, estive na Balada Sencity, que ocorreu no mês de outubro em
São Paulo. É importante situá-la no tempo. Ela começou em 2003 na Holanda e já
passou pela Bélgica, Finlândia, Espanha, México, Jamaica, África do Sul, Austrália e
agora Brasil. Nela, o piso que vibra, rappers que utilizam a língua de sinais, dançarinos
que completam a cena, equipamentos que liberam diferentes aromas brincam com a
freqüência grave das musicas permitindo que as pessoas usem todos os seus sentidos.
A balada utiliza uma grande variedade de recursos que permitem o aproveitamento de
qualquer tipo de deficiência sendo que esses recursos podem interagir entre si,
podendo então ser definida como uma festa „multisensorial‟. Por meio dela pude ver
que as pessoas são capazes de se aproximar acima das suas diferenças.

Para a análise dos dados separamos os itens a serem analisados em 6


categorias:

1.Socialização

A cultura e os valores da sociedade são internalizados nos indivíduos através da


socialização que se dá inicialmente pela família e depois pela escola. Se sabe que a
educação dos surdos há muito tempo foi tratada de uma forma preconceituosa e
diferente havendo por essa razão uma desigualdade social que prevaleceu por muito
tempo e mesmo hoje em dia continuamos vendo. Essas pessoas foram dadas como
diferentes por não “obedecerem” ao padrão de normalidade impostos pela sociedade
em geral. Apesar dessa enorme dificuldade, observamos por meio de recentes dados
do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) que o numero total de surdos e
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deficientes auditivos brasileiros é de 5,7 milhões. Essa mesma pesquisa também nos
mostra que em São Paulo há cerca de 480.000 deficientes auditivos e surdos e que na
capital esse numero é de 150.000. Muita gente para ser tratada como „minoria‟, não?
Percebe-se que a minoria não se refere a números, mas ao poder que se estabelece
nas sociedades em que grupos que representam minorias lingüísticas não têm seus
direitos respeitados (ANDERSSON, Y., 1994).

Após observar esses dados, vemos que o numero é grande, mas mesmo assim
ele ainda é tratado como minoria por não obedecer às regras clássicas impostas pela
sociedade a qual é formada pela „maioria ouvinte‟. Essas regras acabam implicando na
cultura da população e há quem pense que a cultura é algo que pode influenciar o
sujeito, excluindo o fato de serem formativas e que a individualidade se dá no
envolvimento nas praticas sociais. Para Vigotski (1995), a formação individual se dá em
relações que se vinculam, em primeiro momento, à estrutura social de coletivos,
referente ao campo interpessoal, e, em outro momento, à estrutura social da
personalidade, referente ao campo intrapessoal.

As simples experiências do dia a dia, como uma ida ao banco ou ao


supermercado, podem reforçar a dependência ou a independência que pode ser
construída ao longo do tempo, podendo levar o surdo a crer que a surdez provoca falta
de autonomia, sem pensar que isso na verdade pode ocorrer pela desconsideração dos
outros com a sua diferença, pois tudo é muito baseado na linguagem oral. Vemos isso
quando, na sua ida ao banco, ele tem muitas dificuldades em ser atendido,
necessitando do apoio do outro para traduzir o que ele precisa falar ou entender. Essas
são apenas amostras dos obstáculos que os surdos enfrentam no dia a dia em
atividades tão simples para os ouvintes, mas não tão simples de serem realizadas por
eles. Através dos questionários respondidos observamos que os surdos querem ter
autonomia e independência e buscam isso. Porém sabemos também que a sociedade
é de grande influência para que isso ocorra.

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O sujeito B nos diz uma coisa muito importante para entendermos melhor o dito
acima

“os surdos sentem muita dificuldade quando vão efetuar o pagamento. Qualquer
coisa que atrapalhe a visão do surdo para com o rosto da pessoa que faz o
atendimento atrapalha a comunicação. A falta de pessoas habilitadas com o básico
para atendimento. Entendam que pessoas surdas também são consumidoras.”

A socialização irá acontecer intermediada pela comunicação e pela interação


com o outro. O sujeito, logo na infância, será exposto às formas de socialização de seu
meio e será pela linguagem que ele adquirirá conhecimentos e valores culturais.

Em meio à maioria ouvinte, o surdo fica preso à companhia de um intérprete por


não encontrar interlocutores que participem do mesmo território lingüístico ou que, pelo
menos, compreendam a cultura surda.

É interessante lembrar as palavras de Skliar (1998), que diz:

“são muitos os testemunhos de surdos que, ao fazer referência a seu passado


educativo, invocam a imagem de serem estrangeiros, forasteiros, exilados”.
(p.51)

Confirmando a citação acima, ressaltamos um depoimento de um dos


entrevistados:

“Existem baladas organizadas pelos ouvintes, que os surdos freqüentam, mas


muitas vezes sentem-se como índios por falarem uma outra língua.” (Sujeito B)

Indagamos os surdos entrevistados sobre suas saídas às áreas de lazer e se


essas eram freqüentes e o porquê da resposta. A resposta que obtivemos da maioria
dos entrevistados foi a questão da socialização. Para eles, conhecer novas pessoas e
se inteirar das novidades é algo imprescindível.

22
Suas respostas traziam dados como:

“Pela socialização, bater papo com amigos surdos e ouvintes e conhecer as


pessoas novas e lugares novos. E também ver as novidades novas e
experimentar comidas e bebidas.” (surdo A)

Nesse dado obtido, percebe-se que a ânsia por conhecimento e novidades não
são barrados pela surdez. Podemos confirmar isso em outra resposta obtida:

“É importante ir ao encontro amigos para matar saudades e ter novidades do


que passa na vida cotidiana. Eu costumo encontrar em bares em diversos
estados.” (surdo C)

Compreendemos a socialização como um processo de integração de um


individuo na sociedade em que ele internaliza o coletivo. É a assimilação de hábitos
característicos do seu grupo social e cultural, o que o torna um membro de uma
sociedade. Pode-se dizer que a socialização se dá por meio da comunicação entre
iguais.

Em razão da questão da socialização ter aparecido com relevância nos dados,


nos aprofundaremos um pouco mais na teoria. Primeiramente o processo de
socialização se dá após o nascimento, com o contato com a família e em seguida com
as pessoas mais próximas, seguido da escola e grupos de referência. É através dessa
socialização que a pessoa pode construir a sua identidade e ser admitido na
sociedade, o que é fundamental para a continuidade desse individuo como membro
dos sistemas sociais.

A socialização acontece de duas formas que podem ser consideradas como


primária e a secundária. A primária consiste em aprendizagem, interiorização da
linguagem e das regras sociais no ambiente familiar. Mais tarde, para que ocorra a
absorção das regras mais complexas impostas pela sociedade, num âmbito mais
amplo, o que tem um valor importantíssimo ao individuo, ele deve estar dentro de
23
estruturas sociais mais complexas que lhe permitem vir a fazer parte do mundo social.
O „mundo‟ do indivíduo vai se constituindo dessa forma, na interação com o outro,
sendo permeada pela linguagem (BERGMAN, LUCKMAN, op.cit 1998). Assim a
socialização secundária introduz o individuo já socializado no âmbito familiar em novos
setores da sociedade, existindo aprendizagem das expectativas que essa sociedade
deposita nesse individuo, daí a importância das atividades sociais a que todos estão
expostos e que pode ser verificada nas respostas dos surdos entrevistados.

Questionados também sobre a importância do lazer para o surdo, encontramos


na maioria das respostas o prazer e a socialização, os quais estão intimamente ligados.
É importante para todo individuo uma inserção na sociedade, em ambientes de lazer ou
trabalho. Só que, como já visto anteriormente, nesses ambientes o mundo surdo e
ouvinte se cruzam, tendo então que haver uma comunicação improvisada.

Um dos entrevistados ressalta que não apenas a balada é importante, como


também todos os passeios que envolvam interação:

“Na verdade dou importância a todos passeios não só na balada.” (Sujeito D)


Assim, outro completa o porque que é importante para eles:
“Por prazer, socialização e experiências novas.” (Sujeito A)

2. Papel da Libras e da oralidade

Já a segunda questão questionava sobre o contato entre os surdos e os


ouvintes nesses locais de lazer, e Libras foi a resposta predominante, seguida da
leitura labial.

“Sou surda oralizada, faço leitura labial e me comunico com pessoas ouvintes,
com pessoas surdas uso Libras” (Sujeito A)

Nem todos os surdos são oralizados, mas mesmo assim confirmam a resposta
acima. Podemos observar isso aqui:
24
“Com surdos usava Libras, com ouvinte usava gestos, leitura labial e bilhetes
escritos” (Sujeito E)

Libras e gesticulações são colocadas como mais fáceis em razão de


normalmente essas pessoas se encontrarem em locais barulhentos, onde até mesmo
os ouvintes gesticulam entre eles. Leitura labial também é uma opção, mas apenas
para a comunicação ouvinte-surdo. A comunicação surdo-ouvinte se dá novamente
através de gesticulações.

Percebe-se, nas respostas que as pessoas são ligadas umas as outras por meio
de relações sociais. Nenhuma ação humana existe sem a interação, todo mundo age
através de referência e da interpretação sobre os significados que as coisas têm para
eles. A interação pode modificar o comportamento dos sujeitos envolvidos. O sujeito B
diz que algumas pessoas fogem quando ele se comunica em Libras, outras acham
interessante.

A terceira questão acabou sendo uma continuação da segunda, questionando


como seria a comunicação em si nesses locais e o mais citado foi a escrita. Dizem
recorrer à bilhetes, ou até mesmo a leitura labial, uma vez que a oralização fica difícil
para o ouvinte por causa do barulho do local. Os bilhetes são escolhas quando há
mesas, como em barzinhos ou quando não há compreensão do que querem dizer.
Assim confirma:

“A comunicação é por oralização, e se não compreenderem nada escrevo no


papel” (Sujeito A)

3. Acessibilidade

Segundo o Decreto 10098, que diz a respeito à Lei de Acessibilidade, a


acessibilidade está relacionada em fornecer condição para utilização, com segurança e
25
autonomia, total ou assistida, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das
edificações, dos serviços de transporte e dos dispositivos, sistemas e meios de
comunicação e informação, por pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida.
No mesmo documento, barreiras são definidas como qualquer entrave ou obstáculo
que limite ou impeça o acesso, a liberdade de movimento, a circulação com segurança
e a possibilidade de as pessoas se comunicarem ou terem acesso à informação.

Desejando entender se a acessibilidade fornecida pela comunicação é


adequada investigamos esse item.

Quando o sujeito Surdo se assume como Surdo e aceita a LIBRAS como forma
principal de comunicação, finalmente assumirá um papel de cidadão perante a essa
sociedade de maioria ouvinte.

Assim, os surdos foram indagados se a surdez chega a ser um impedimento


para o estabelecimento das relações sociais nos ambientes de lazer. A falta de
acessibilidade e a falta de funcionários competentes para o atendimento a alguém não
ouvinte foram respostas freqüentes.

O sujeito C nos diz que:

“A maioria dos estabelecimentos tem funcionários ou gerentes que não tem


fluência de Libras e isso gera barreira de comunicação.”

Já em contraponto encontramos respostas que dizem não ter problema nenhum:

“Nas baladas e nos bares, se a pessoa tá afim dá um jeitinho de comunicar.”


(Sujeito E)

Deixamos a penúltima questão aberta, para que dissessem o que quisessem


sobre as baladas e/ou ambientes de lazer que freqüentam, e o que mais foi aclamado
foi a questão da Acessibilidade.

26
“Gostaria de solicitar um pouco mais de acessibilidade em estabelecimentos,
pois os surdos sentem muita dificuldade quando vão efetuar o pagamento.
Qualquer coisa que atrapalhe a visão do surdo para com o rosto da pessoa que
faz o atendimento atrapalha a comunicação. A falta de pessoas habilitadas com
o básico para atendimento. Entendam que pessoas surdas também são
consumidoras.” (Sujeito B)

Para um estudo mais aprofundado sobre lazer dos surdos, é importante, se


possível, se vivenciar um pouco o que se pesquisa, para poder ter não apenas bases
teóricas, mas experiências vividas também e por essa razão fui à balada Sencity.

Comparando a balada Sencity (balada com acessibilidade a todos os tipos de


deficiência) com as baladas comuns freqüentadas por jovens hoje em dia, observamos
primeiramente a questão da iluminação. A balada Sencity tem ambientes mais claros,
com mais jogos de luz e iluminações, enquanto as baladas comuns costumam ser
escuras com apenas algumas luzes piscantes que não ajudam em nada no sentido
visual. É sobre isso que diz um dos entrevistados:

“Depende se o local tem iluminação fraca. O ambiente precisa ser mais


iluminado por causa da nossa visualização” (Sujeito A)

4. Relação surdo-ouvinte

Procuramos saber também se há possibilidade de uma relação entre surdo-


ouvinte ou se a surdez se torna um empecilho. A maioria acha que não, mas
concordam que a comunicação é importantíssima, então deve haver colaboração de
ambas as partes. Há preferência em pessoas bilíngües, não necessariamente surdas,
pois dizem que assim a interação pode ser completa.

“Por mim não atrapalha a relação, as pessoas ouvintes precisam ter paciência
conosco." (Sujeito A)
27
Outra pessoa concorda com a resposta acima, dizendo que:

“Acredito que a surdez não atrapalha, mas o ouvinte precisa conhecer um pouco
da minha língua e cultura.” (Sujeito B)

5. Cultura Surda

A cultura permite ao ser humano adaptar-se ao meio e adaptar este meio a ele,
de acordo com as suas necessidades e ambições. Sendo assim, a Cultura Surda é o
jeito do Surdo entender o mundo e modificá-lo, tornando-o acessivel para suas
necessidades, contribuindo também para a sua constituição como sujeito, moldando a
sua Identidade Surda.

A cultura não é algo pronto e engessado, ela sempre se modifica e se atualiza,


mostrando que o homem não a faz sozinho, apenas por vontade própria, e sim através
de ações que vêm de um desenvolvimento cultural, que tem origem na história e no
tempo. O ser humano, no espaço cultural, desenvolve sua identidade que se
estabelece como um produto de sua interação social em que vive diferentes culturas e
em que ele se constitui como ser social.

Podemos encontrar duas perspectivas para interagir com a Comunidade Surda:


o modelo patológico e o modelo cultural. Dependendo de qual dessas perspectivas for
„escolhida‟, a forma pela qual vai se lidar e tratar com a comunidade surda será
diferente.

A perspectiva patológica, que costuma ser vista como modelo clínico-patologico


ou modelo médico, tende a negar a existência da comunidade surda. Esta forma de
perceber o surdo visa aceitar a norma e o padrão, se concentrando em como as
pessoas surdas se desviam desse padrão de normalidade. É tambem vista como a
visão de que há algo de errado com os surdos. A visão patológica define a
Comunidade surda como pessoas em que a perda auditiva interfere na recepção
28
normal da fala; pessoas que têm dificuldade de aprendizagem, pessoas que não são
„normais‟ por não poderem ouvir como os ouvintes, pessoas com dificuldades de
comunicação. Isso torna, na visão de muitos, o patólogico opressivo em relação aos
surdos.

Já a perspectiva cultural enxerga que há um conjunto de fatores que devem ser


levados em questão ao se examinar a Comunidade Surda. Essa perspectiva define a
Comunidade Surda como: pessoas que compartilham um meio de comunicação, a
LIBRAS e uma mesma cultura.

Uma vez que a cultura Surda é dada como diferente perante a sociedade e ela é
muito importante para o surdo se constituir como sujeito, ela deveria estar presente
logo no inicio de sua infância.

Ao deixarmos uma questão mais aberta, dando espaço ao surdo falar o que
quiser sobre a balada, encontramos respostas que reclamam da falta de funcionários
com conhecimento da cultura surda.

“Os funcionários precisam ter mais conhecimento e mais informações sobre a


cultura surda para darem atendimento especial.” (Sujeito A)

A cultura surda é o jeito de o sujeito surdo entender e modificar o mundo,


tornando-o acessível e habitável ao seu modo. Uma pesquisadora surda, PERLIN
(apud STROBEL, 2004, p. 77-78) diz:

[...] As identidades surdas são construídas dentro das


representações possíveis da cultura surda, elas
moldam-se de acordo com maior ou menor
receptividade cultural assumida pelo sujeito. E dentro
dessa receptividade cultural, também surge aquela luta
política ou consciência oposicional pela qual o individuo
representa a si mesmo, se defende da

29
homogeneização, dos aspectos que o tornam corpo
menos habitável, da sensação de invalidez, de inclusão
entre os deficientes, de menos valia social [...]

A balada surda nos mostra uma possibilidade do mundo se adaptar ao surdo,


mas, de acordo com os depoimentos colhidos percebemos que muito há ainda a ser
feito para que a sociedade esteja realmente pronta para receber os surdos em nível de
igualdade na sociedade que pertence a todos – ou deveria pertencer.

Para um fechamento, lembramos que existem baladas de ouvintes e baladas de


surdos e questionamos a preferência do entrevistado por uma ou por outra e a grande
maioria disse que tanto faz o local, pois o importante é se sentir bem e relaxar, mas há
a preferência por locais que os surdos frequentem:

“As duas são ótimas, a que tem mais surdos o que ganha é a comunicação. O
prazer de estar com seu igual.” (Sujeito D)

6. Identidade Surda

A Libras é uma das principais marcas da Identidade Surda por ser algo peculiar
aos surdos, a comunicação que levará o Surdo a ter conhecimento do mundo, dos que
o cerca e de si mesmo. É necessário pensar na relação entre Surdo e a sociedade para
a formação da identidade. Com a pessoa se identificando realmente como Surda e
aceitando essa situação de ter como principal meio de comunicação a Libras, será
mais fácil haver uma aceitação de que pertence a um grupo diferente mas que também
pode defender seus ideais, não sendo necessário que sejam oralizados para que isso
ocorra.

Para GOFFMAN (1988), aceitar a Surdez e encontrar a sua Identidade implicará


em que o surdo não ter que se auto-isolar ou experimentar uma sensação angustiada

30
de tentar ser ouvinte. Além disso, ele não precisará usar a falta da audição como
desculpa para seus fracassos utilizando padrões de comportamento compensatórios da
sua desvantagem e não terá que se haver com perplexidade de não ser aceito pelos
demais e nem realizar modificações na sua condição de estigmatizado.

Não podemos evitar que a estigmatização imposta pela sociedade exista, mas o
que deveria ocorrer é o desenvolvimento de uma identidade preservada em que o
surdo possa se saber íntegro, capaz e possa se impor como sicacão com direitos que
devem ser respeitados (MOURA, 2000). Cada um deve perceber que pertence a um
grupo com uma história e identidade própria. E que aceitar-se é mais importante do que
ser aceito. Mas há quem não consiga pensar assim, e, durante sua vida, fique apenas
fingindo que encontrou sua identidade, sem ao menos olhar para fora e perceber que
há mais pessoas que lhe são semelhantes. Seria através desse contato que esse
Surdo poderia entender e se relacionar melhor com mundo à sua volta se constituindo
pela igualdade e não pela diferença.

Habermas (op.cit., 1990) ressalta que

[...] A identidade do Eu indica a competência de um sujeito


capaz de linguagem e de ação para enfrentar certas
exigências de consistência [...] a identidade é gerada pela
socialização, ou seja, vai-se processando a medida que o
sujeito - apropriando-se dos universos simbólicos - integra-
se, antes de mais nada, num certo sistema social, ao passo
que, mais tarde, ela é garantida e desenvolvida pela
individualização, ou seja, precisamente por uma crescente
independência com relação aos sistemas sociais[...] (p.54)

Podemos observar em MOURA (2002) que ao ser aceito num grupo social,
padrões de identidade com os quais ele se identifica são oferecidos e é neste grupo,
que já tem uma identidade definida, que ele se encontrará como sujeito. Assim, a
construção da identidade também dependerá e se modificará de acordo como os
31
outros o olharem. Se a sociedade o tratar como incapaz, este crescerá menos
do que aquele que foi tratado como qualquer um de desenvolvimento normal.

Para reforçar isso, Ciampa (1990) afirma que:

[…] Identidade é história. Isto nos permite afirmar que não


há personagens fora de uma história, assim como não há
história (ao menos história humana) sem personagens.”
(p.157) mais adiante diz que “[...]as identidades, no seu
conjunto, refletem a estrutura social, ao mesmo tempo que
reagem sobre ela, conservando-a (ou transformando-a)[…]
(p.171).

Gostaríamos de discorrer mais sobre a identidade surda e laçamos mão de


PERLIN (1998) que nos explica como ela pode ser concebida:

“IDENTIDADES SURDAS (identidade política)

Trata-se de uma identidade fortemente marcada pela politica Surda. São mais
presentes em Surdos que pertencem à comunidade Surda e apresentam
características culturais como:

1- Possuem experiência visual que determina formas de comportamento, cultura,


língua, etc.
2- Carregam consigo a Língua de Sinais. Usam sinais sempre, pois é sua forma de
expressão. Eles têm costume bastante presente que diferencia dos ouvintes e
que caracteriza a diferença Surda: a captação da mensagem visual e não
auditiva. O envio de mensagem não usa o aparelho fonador, usa as mãos.
3- Aceitam-se como surdos, sabem que são surdos e assumem um
comportamento de pessoas surdas. Entram facilmente na política com
identidade surda, onde impera a diferença: necessidade de interpretes, de
educação diferenciada, de Língua de Sinais, etc.
32
4- Passa aos outros surdos sua cultura, sua forma de ser diferente
5- Assumem uma posição de resistência
6- Assumem uma posição que avançam em busca de delineação da identidade
cultural
7- Assimilam pouco ou não conseguem assimilar a ordem da língua falada, têm
dificuldade de entende-la
8- Decodificam todas as mensagens recebidas em Língua de Sinais.
9- A escrita obedece à estrutura da Língua de Sinais, pode igualar-se a língua
escrita, com reservas
10- Têm suas comunidades, associações, e/ou órgãos representativos e
compartilham entre si suas dificuldades, aparições, utopias
11- Usam tecnologia diferenciada: legenda e Sinais na TV, telefone especial,
campainha luminosa
12- Têm uma diferente forma de relacionar-se com as pessoas e mesmo com
animais
13- Esta identidade assume características bastante diferenciadas é preciso lembrar
aqui que por exemplo: a identidade Surda genealógica traz sinais vividos e
provados durante gerações, por exemplo, na Itália há uma família de Surdos de
mais de 40 gerações; os filhos de pais Surdos; os Surdos que nasceram Surdos
têm família ouvinte e entraram em contato com a comunidade Surda já na idade
adulta

IDENTIDADES SURDAS HÍBRIDAS

São os surdos que nasceram ouvintes e com o tempo alguma doença, acidente, etc
os deixaram surdos.

IDENTIDADES SURDAS FLUTUANTES

Os surdos que não têm contato com a comunidade surda. Ou surdos que
viveram na inclusão ou que tiveram contato da surdez como preconceito ou

33
desenvolvimento social. São outra categoria de surdos, visto de não contarem com
os benefícios da cultura surda.

IDENTIDADES SURDAS EMBAÇADAS

As identidades surdas embaçadas são outros tipos que podemos encontrar


diante da representação estereotipada da surdez ou desconhecimento da surdez
como questão cultural.

IDENTIDADES SURDAS DE TRANSIÇÃO

Estão presentes na situação dos surdos que devido a sua condição social
viveram em ambientes sem contato com a identidade surda ou que se afastem da
identidade surda.

IDENTIDADES SURDAS DIÁSPORA

As identidades de diáspora divergem das identidades de transição. Estão presentes


entre os surdos que passam de um país a outro ou, inclusive passam de um estado
brasileiro a outro, ou ainda de um grupo surdo a outro. Ela pode ser identificada como o
surdo carioca, o surdo brasileiro ou o surdo-norte americano. É uma identidade muito
presente e marcada.

IDENTIDADES INTERMEDIÁRIAS

O que vai determinar a identidade surda é sempre a experiência visual. Neste caso,
em vista desta característica diferente distinguimos a identidade ouvinte da identidade
surda. Temos também a identidade intermediária. Geralmente esta identidade é
identificada como sendo surda. Essas pessoas têm outra identidade, pois tem uma
característica que não lhes permite a identidade surda, isto é, a sua captação de
mensagem não é totalmente na experiência visual que determina a identidade surda.

34
Assim, vemos que nem todos os surdos se sentem com poder suficiente para dizer
ao mundo que está bem e consegue viver perfeitamente bem com a vida que leva. Há
muitos surdos que chegam a tolerar situações desconfortáveis por realmente acreditar
que vivem em um mundo de audição. Eles crescem acreditando que é
responsabilidade deles fazer as coisas de uma forma auditiva, agindo como ouvintes,
ou até mesmo fingir que estão ouvindo e que estão confortáveis em ouvir em
ambientes que não são acessíveis para eles. A maneira de cada um ver e agir sobre o
mundo vai depender da sua identidade, o que pode ser visto nesse trabalho.

Os dados obtidos, mesmo que baseados numa pequena quantidade de


questionários respondidos (dez questionários) nos dão várias possibilidades e
caminhos para discussão. Pudemos observar as dificuldades, as criticas e as
observações consideradas pelos surdos entrevistados.

Alguns comentam que não há empecilhos no lazer do surdo, parecendo então


configurar um certo conformismo com as regras impostas pela sociedade; sendo assim,
nos parece que esses surdos não reivindicam por um tratamento mais favorável à sua
cultura tendo em vista então que a dependência de pais e responsáveis é algo
indispensável, o que não é verdade. Muitos desses surdos parecem conseguir viver
com mais independência do que muitos ouvintes, porém aos olhos da sociedade
acabam sendo barrados. A resistência à inferioridade é manifestada de forma diferente
e camuflada entre os entrevistados, sendo manifestadas entre eles e entre a mesma
pessoa só que em temas diferentes. O Sujeito D diz ter “preferência em sair com grupo
de surdos para melhor comunicação”

VIGOTSKI, L.S. (2000, p. 25) diz algo muito interessante em uma citação: “eu me
relaciono comigo tal como as pessoas relacionaram-se comigo”.

O surdo pode duplicar e até multiplicar seus saberes quando se encontra com
outros surdos e também com outros ouvintes quando este reconhece as necessidades
da sua comunidade surda. Esses surdos, tendo consciência de pertencerem a uma
comunidade diferente do mundo ouvinte, podem criar então uma resistência às
35
imposições criadas e exercidas por esse mundo predominantemente ouvinte. Um dos
entrevistados diz:

“Quando era solteira ia muito as baladas, no Shopping Tatuapé, Shopping ABC


Plaza, onde os surdos se encontravam. Iam tanto os surdos quanto os ouvintes
que soubessem Libras” (Sujeito E)

E há também a importância do conhecimento dos ouvintes sobre a cultura surda,


como vemos a seguir:

“Existem baladas organizadas por surdos que os ouvintes freqüentam para se


relacionarem com amigos surdos, para ver e entender a cultura ou por simples
curiosidade.” (Sujeito B) Esse mesmo entrevistado mostra o quando um ouvinte pode
se interessar pela cultura surda, mesmo não tendo tido contato com ela anteriormente
“Algumas pessoas fogem quando me comunico em Libras com elas, outras acham
interessante a Libras e eu também”.
Um grande equivoco da sociedade é exigir que o surdo seja bilíngüe para a
comunicação em LIBRAS com outros surdos e em Língua Portuguesa com outros
ouvintes. Mas porque então não haver ouvintes bilíngües também? Se exigimos dos
surdos uma comunicação alternativa da vivenciada por eles, podemos e devemos
exigir de nós próprios uma comunicação alternativa também, não só para a
comunicação direta com os surdos, mas também para uma ampliação dos horizontes
que se mostram tão pequenos para a maioria dos ouvintes. Não se trata de uma
questão lingüística apenas, pois se não se trataria apenas de um projeto que seria
implementado apenas em escolas e clinicas. Trata-se de uma superação de barreiras
da comunicação.

Um dos entrevistados diz algo muito interessante sobre isso que vale a pena ser
ressaltado:

36
“Não devemos separar os dois mundos diferentes. As pessoas ouvintes têm que
conhecer nosso mundo e nossa cultura. É uma troca de experiências.” (Sujeito
A)

37
Conclusão

38
Conclusão

Por meio de desse trabalho podemos ver que essas barreiras estão em
atividades comuns do nosso dia a dia e que nenhum desses lugares tem uma saída
alternativa para lidar com isso. Os surdos entrevistados reconhecem que o problema
da comunicação está presente sim. Como já dito anteriormente, esses problemas nem
sempre são reconhecidos como obstáculos nos questionários, mas mostram
persistência em diversos momentos.

“A inclusão [...] é ser respeitado nas suas diferenças e não ter de submeter a
uma cultura, a uma forma de aprender, a uma língua que não é sua.” (GARDIA
VARGAS)

Vemos que a sociedade ainda tem muitas barreiras a serem ampliadas, a


começar pela comunicação. Sabemos também que as Leis decretadas são palavras e
não realidade como por exemplo na lei de cotas, a qual estabelece que X de pessoas
devem ser contratadas mas não estabelece como serão inseridas. A proposta de
inclusão torna-se frágil uma vez que dentro do discurso inclusivo existe um discurso
exclusivo, pois um não existiria sem o outro.

É exigido que os Surdos aprendam a Língua Portuguesa com a mesma fluência


que falam Libras, mas não nos é exigido que os ouvintes aprendam Libras com a
mesma fluência que falamos a Língua Portuguesa. Como poderemos então abraçar
essa situação como inclusiva uma vez que haja essa exclusão? Vivemos em um só
mundo e devemos nós nos tornar acessíveis para todos. Devemos nós superar essas
barreiras sem esperar que a sociedade toda o faça.

Como visto anteriormente neste trabalho, o numero total de surdos e de


deficientes auditivos no Brasil é de 5,7 milhões. É assustador olhar para esse número e
pensar que representa uma minoria. Mas essa minoria nada é perto do poder que se
estabelece nas sociedades em que estes grupos não têm seus direitos respeitados.

39
A partir desta pesquisa ficou claro que, por mais que haja gente que acredite ou
pelo menos se diz acreditar na inclusão, na socialização, vemos que essa inclusão é
fictícia no momento em que esse Surdo opta por ficar sozinho, por acabar não se
identificando com os ouvintes a sua volta. O Surdo, assim como qualquer outro, se
relacionará com as pessoas da mesma maneira que estas se relacionam com ele.

Uma vez que a primeira língua dos Surdos seja a Libras e o restante da
sociedade desconheça essa língua, há a falta de comunicação, ocorrendo assim, um
grande buraco entre a socialização do Surdo no seu processo de interação.

Com todos os dados obtidos, vemos que ainda há um longo caminho para ser
percorrido até que a inclusão seja realmente real e funcional aos Surdos dentro dessa
sociedade ouvinte. Todos os entrevistados foram unânimes ao responder que sentem
falta de um ambiente mais acessível à todos, uma vez que tenham sempre que se
adaptar à maioria. Dizem também ser interessante que haja profissionais preparados e
capacitados à atender essas dificuldades, sendo interessante então que esses saibam
Libras.

A Libras trata-se de uma língua rica e complexa que tem estrutura gramatical
organizada a partir de alguns parâmetros que estruturam sua formação nos diferentes
níveis lingüísticos, sendo essa estrutura diferente da encontrada na língua oral. Mas
apenas o conhecimento e aprendizado desta não demonstra condição suficiente para
esses profissionais atuarem bem com os Surdos, é necessário também vê-lo como
alguém normal que está ali para aproveitar seu tempo livre, afinal, também são seres
humanos consumistas e com necessidade de lazer e prazer como qualquer outro. É
importante assegurar que essas pessoas saibam que assegurar oportunidades iguais
não significa garantir tratamento igual a todos, mas sim oferecer a cada um meios para
que este se saia melhor da sua maneira, desenvolvendo o máximo das suas
potencialidades.

Através da respostas obtidas nos questionários, vemos que a inclusão do Surdo


vem ganhando espaço no contexto social.
40
MOURA (2002) diz uma coisa muito interessante para concluirmos esse
trabalho: “Ele é Surdo, humano, autor e ator de inúmeros personagens, capaz de
fala (às vezes também de oralidade) e diferente numa diferença importante que
se não for compreendida e atendida nas suas necessidades pode levá-lo, aí sim,
a todos os predicativos depreciativos já citados.” (p.200).

41
Bibliografia

42
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45
Anexos

46
Anexo I

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO AO PARTICIPANTE DESTE


ESTUDO

Caro(a) Senhor(a),

Eu, Nathália Novaes Campi, estudante de Fonoaudiologia, portadora do CIC


398890668-90, RG 35636286-3, estabelecida na Rua Cariaça nº35, CEP 05447150, na
cidade de São Paulo, cujo telefone de contato é (11)30211710 , vou desenvolver uma
pesquisa cujo título é O Surdo e o lazer e a inclusão Social – Como fica o discurso?

O objetivo deste estudo é analisar como se dá a socialização do jovem surdo em


suas atividades de lazer noturnas e como ele se comunica nessas situações necessito
que o Sr./Sra. assine esse termo de consentimento livre e esclarecido.

A sua participação nesta pesquisa é voluntária e não determinará qualquer risco


ou desconforto.

A sua participação não trará qualquer benefício direto mas proporcionará um


melhor conhecimento à respeito da forma de comunicação e inclusão social de
indivíduos surdos. Acreditamos, que outros indivíduos poderão se beneficiar com os
achados dessa pesquisa.

Essa é uma forma muito útil para se obter dados com relação ao procedimento
em questão.

Informo que o Sr(a). tem a garantia de acesso, em qualquer etapa do estudo,


sobre qualquer esclarecimento de eventuais dúvidas. Se tiver alguma consideração ou
dúvida sobre a ética da pesquisa, entre em contato com: Nathália Novaes Campi, fone:
91989122.

47
Também é garantida a liberdade da retirada de consentimento a qualquer
momento e deixar de participar do estudo, sem qualquer prejuízo, punição ou atitude
preconceituosa.

Garanto que as informações obtidas serão analisadas em conjunto com os


outros envolvidos nessa pesquisa, não sendo divulgada a identificação de nenhum dos
participantes.

O Sr(a). tem o direito de ser mantido atualizado sobre os resultados parciais das
pesquisas e caso seja solicitado, darei todas as informações que solicitar.

Não existirá despesas ou compensações pessoais para o participante em


qualquer fase do estudo, incluindo exames e consultas. Também não há compensação
financeira relacionada à sua participação nessa pesquisa.

Eu me comprometo a utilizar os dados coletados somente para pesquisa e os


resultados serão veiculados através de artigos científicos em revistas especializadas
e/ou em encontros científicos e congressos, sem nunca tornar possível a sua
identificação.

Anexo está o consentimento livre e esclarecido para ser assinado caso não
tenha ficado qualquer dúvida.

48
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Acredito ter sido suficiente informado a respeito das informações que li ou que
foram lidas para mim, descrevendo o estudo: “O Surdo e o lazer e a inclusão Social –
Como fica o discurso?”.

Eu discuti com a estudante Nathália Novaes Campi sobre a minha decisão


participar nesse estudo. Ficaram claros para mim quais são os propósitos do estudo, os
procedimentos a serem realizados, a ausência de desconfortos e riscos, as garantias
de confidencialidade e de esclarecimentos permanentes.

Ficou claro também que a minha participação é isenta de despesas e que tenho
garantia do acesso aos resultados e de esclarecer minhas dúvidas a qualquer tempo.
Concordo voluntariamente participar deste estudo e poderei retirar o meu
consentimento a qualquer momento, antes ou durante o mesmo, sem penalidade ou
prejuízo ou perda de qualquer benefício que eu possa ter adquirido.

___________________________________

Assinatura

Nome:

Endereço:

RG.

Fone: ( )

Data_______/______/______

__________________________________

Assinatura do(a) pesquisador(a)

Data _______/______/______

49
Anexo II

Questionário do sujeito A

1- Você costuma ir muito à baladas, bares, etc? Por que?


R: Pela socialização, bater papo com amigos surdos e ouvintes e conhecer as
pessoas novas e lugares novos. E também ver as novidades novas e
experimentar a comida e a bebida.
2- Como é o contato entre pessoas ouvintes e surdas na balada, bares, etc?
R: Sou surda oralizada, faço a leitura labial e comunico com pessoas ouvintes.
Com pessoas surdas uso Libras.
3- Como é a comunicação?
R: Oralização, se não compreender nada e qualquer coisa escrevo no papel.
4- Sente que ser surdo é um impedimento para o estabelecimento das relações
sociais na balada? Por que?
R: Por falta de acessibilidade para surdos e atendimento especial.
5- Porque a balada é importante para você?
R: Por prazer, socialização e experiências novas.
6- Se você encontrar algum ouvinte interessante, há possibilidade da relação
continuar ou a surdez é um empecilho? Por que?
R: Por mim não atrapalha a relação e só as pessoas ouvintes precisam ter
paciência conosco. É um pouco complicado de conhecer com pessoa nova e
ouvinte na balada e no barzinho por causa do barulho que atrapalha na nossa
comunicação.
7- Em relação à balada, gostaria de falar mais alguma coisa?
R: Os funcionários precisam ter mais conhecimento e mais informação sobre a
cultura surda para darem atendimento especial. Depende do local tem
iluminação fraca e o ambiente precisa de iluminar mais por causa da nossa
visualização.
8- Existem baladas para ouvintes e para surdos – qual você acha melhor? Por
que?

50
R: Os dois. Não devemos separar os 2 mundos diferentes e pessoas ouvintes
tem conhecer nosso mundo e nossa cultura. É uma troca de experiências.

51
Anexo III

Questionário do sujeito B

1- Você costuma ir muito à baladas, bares, etc? Por que?


R: Amo no barzinho para distrair e bater papo com meus amigos surdos por
causa da comunicação libras.
2- Como é o contato entre pessoas ouvintes e surdas na balada, bares, etc?
R: Algumas pessoas fogem quando me comunico em Libras com elas, outras
acham interessante a Libras e eu rs.
3- Como é a comunicação?
R: A maioria das vezes por escrito, mas faço também um pouco de leitura labial.
4- Sente que ser surdo é um impedimento para o estabelecimento das relações
sociais na balada? Por que?
R: Algumas não tem nenhuma acessibilidade.
5- Porque a balada é importante para você?
R: Uma forma de relaxar, de me comunicar em Libras e beber um chopp.
6- Se você encontrar algum ouvinte interessante, há possibilidade da relação
continuar ou a surdez é um empecilho? Por que?
R: Acredito que a surdez não atrapalha, mas o ouvinte precisa conhecer um
pouco da minha língua e cultura. Fui casado por 4 anos com uma pessoa
ouvinte, só nos separamos por que ela era muito ciumenta rs.
7- Em relação à balada, gostaria de falar mais alguma coisa?
R: Sim, gostaria de solicitar um pouco mais de acessibilidade em
estabelecimentos, pois os surdos sentem muita dificuldade quando vão efetuar o
pagamento. Qualquer coisa que atrapalhe a visão do surdo para com o rosto da
pessoa que faz o atendimento atrapalha a comunicação. A falta de pessoas
habilitadas com o básico para atendimento. Entendam que pessoas surdas
também são consumidoras.
8- Existem baladas para ouvintes e para surdos – qual você acha melhor? Por
que?

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R: Na verdade não. Existem baladas organizadas por ouvintes e os surdos
freqüentam, mas muitas vezes sentem-se como índios por falarem uma outra
língua. Existem baladas organizadas por surdos e os ouvintes freqüentam para
se relacionarem com amigos surdos, para ver e entender a cultura ou por
simples curiosidade.

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Anexo IV

Questionário do sujeito C

1- Você costuma ir muito à baladas, bares, etc? Por que?


R: Sim, porque é importante ir ao encontro amigos para matar saudades e ter
novidades o que tu passa a vida cotidiana. Eu acostumo em encontrar os bares em
diversos estados.

2- Como é o contato entre pessoas ouvintes e surdas na balada, bares, etc?


R: Pessoa ouvinte... Faço pouco contato através do trabalho e faço muito contatos
com pessoas surdas através.

3- Como é a comunicação?
R: A comunicação em tecnologia é feito em SMS ou E-mail ou VideoChamada. A
Comunicação em fluência é em LIBRAS e às vezes comunico através da oralização
devido aos surdos oralizados.

4- Sente que ser surdo é um impedimento para o estabelecimento das relações


sociais na balada? Por que?
R: Sim, por que a maioria dos estabelecimentos que os funcionários ou gerentes
não tenha fluência de Libras e isso gera barreira de comunicação.

5- Porque a balada é importante para você?


R: Sim...é importante sim para que a historia de cultura surda é absorvida das
musicas vibracionais onde tudo que podemos tocar-lo.
6- Se você encontrar algum ouvinte interessante, há possibilidade da relação
continuar ou a surdez é um empecilho? Por que?
R: Depende...se a pessoa estiver interessante em comunicação através de LIBRAS
pode ser uma possibilidade. Se não..vai ser impossível.

7- Em relação à balada, gostaria de falar mais alguma coisa?


R: Sim...eu gostaria que os povos ouvintes (família, etc) participe um pouco a
comunidade surda onde possa minimizar a barreira de comunicação.
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8- Existem baladas para ouvintes e para surdos – qual você acha melhor? Por
que?
R: Depende...em visão em relação social é baladas para ouvintes por não haver
uma mistura de ritmos. E para os surdos não possui o conhecimento o ritmo das
musicas e significativos.

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Anexo V

Questionário do sujeito D

1- Você costuma ir muito à baladas, bares, etc? Por que?


R: Não, porque faço opção de ser mais caseira.
2- Como é o contato entre pessoas ouvintes e surdas na balada, bares, etc?
R: Sempre procuro ir com grupo de surdos
3- Como é a comunicação?
R: Através da Libras
4- Sente que ser surdo é um impedimento para o estabelecimento das relações
sociais na balada? Por que?
R: Quando eu vou não vejo impedimento algum, devido estar em grupo de
surdos.
5- Porque a balada é importante para você?
R: na verdade dou importância a todos passeios não só na balada.
6- Se você encontrar algum ouvinte interessante, há possibilidade da relação
continuar ou a surdez é um empecilho? Por que?
R: Tenho opção em me relacionar com pessoas bilíngües.
7- Em relação à balada, gostaria de falar mais alguma coisa?
R: Quando surdos vão para balada as vezes escolhem uma mesa e dá o
parecer que é a mesa mais comportada.
8- Existem baladas para ouvintes e para surdos – qual você acha melhor? Por
que?
R: As duas são ótimas, a que tem surdos o que ganha é a comunicação. O
prazer de estar com seu igual.

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Anexo VI

Questionário do sujeito E

1- Você costuma ir muito à baladas, bares, etc? Por que?


R: Quando era solteira ia muito as baladas, no Shopping Tatuapé, Shopping
ABC Plaza onde os surdos se encontrava, tanto surdos quanto os ouvintes que
sabia a Libras.
2- Como é o contato entre pessoas ouvintes e surdas na balada, bares, etc?
R: Com os surdos usava a Libras, com os ouvintes usava gestos, leitura labial e
bilhetes escritos.
3- Como é a comunicação?
R: Com surdos era perfeita a comunicação, agora com ouvintes alguns sim
outros não.
4- Sente que ser surdo é um impedimento para o estabelecimento das relações
sociais na balada? Por que?
R: Não, porque nas baladas e nos bares, se a pessoa tá afim dá um jeitinho de
comunicar, outros ensinam a dançar etc...
5- Porque a balada é importante para você?
R: É importante porque fazemos amizades, conhecemos pessoas novas,
divertimos, a musica com as batidas que são possíveis de sentir a vibração no
peito é muito bom até pra dançar também, muitos surdos seguem o ritmo da
musica e dança bem.
6- Se você encontrar algum ouvinte interessante, há possibilidade da relação
continuar ou a surdez é um empecilho? Por que?
R: Não atrapalha, já fiquei com vários ouvintes e não houve empecilho nenhum
rsrs.
7- Em relação à balada, gostaria de falar mais alguma coisa?
R: Quem curte mais as baladas são os jovens e solteiros, os casados vão mais
em barzinhos pra conversar. Existem pais que se preocupa em deixar o filho ir
para uma balada, mas é um lugar onde eles se sentem mais acolhidos, muitas

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vezes tem festas que o próprio surdo organiza, convida para ir, é um lugar onde
há trocas de conhecimentos isso é importante para a auto-estima do surdo, para
a confirmação de sua identidade surda.
8- Existem baladas para ouvintes e para surdos – qual você acha melhor? Por
que?
R: Pra mim não há diferença, mas numa balada pra surdo a comunicação é
perfeita.

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Anexo VII

Questionário do sujeito F

1- Você costuma ir muito à baladas, bares, etc? Por que?


R: Ia a baladas quando era mais novo, hoje costumo sair mais com amigos para
beber em algum lugar com mais silencioso.
2- Como é o contato entre pessoas ouvintes e surdas na balada, bares, etc?
R: Tem que ter paciência dos dois lados para eles se entenderem, mas as vezes
por papel é bom.
3- Como é a comunicação?
R: Quando há vontade de comunicar, não há problemas.
4- Sente que ser surdo é um impedimento para o estabelecimento das relações
sociais na balada? Por que?
R: Não. Somos iguais a qualquer um ouvinte, vai da cabeça de cada um ver
problemas.
5- Porque a balada é importante para você?
R: Para relaxar depois de um longo dia de trabalhar e rever amigos.
6- Se você encontrar algum ouvinte interessante, há possibilidade da relação
continuar ou a surdez é um empecilho? Por que?
R: Não porque a comunicação não é barreira se as duas pessoas quiserem.
7- Em relação à balada, gostaria de falar mais alguma coisa?
R: Precisam ser mais acessíveis, as vezes nos sentimos perdidos.
8- Existem baladas para ouvintes e para surdos – qual você acha melhor? Por
que?
R: As duas por que o importante é se divertir.

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