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PUC-SP
SÃO PAULO
2011
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
São Paulo
2011
Banca Examinadora
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In Memoriam:
A meus pais, irmãos e irmãs pela força, pelas orações, pelos estímulos que,
mesmo distantes e no anonimato, acompanham meus passos. Incluo neste rol
meus amigos e amigas de caminhadas que, ausentes ou presentes, contribuíram
para alicerçar a compreensão dos sucessos e dos desencantos de minha
jornada.
A todos,
Muito obrigada!
NÉLO, Maria José. Discursos do risível e do riso numa visão socio-cognitiva.
2011. 187f. Tese (doutorado). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
RESUMO: Esta tese tem por objetivo geral contribuir com os estudos do risível e
do riso tanto em texto verbais, quanto os expressos por outras semióticas além
dos multimodais; e, por objetivos específicos: 1) verificar se o risível é um gênero
discursivo ou textual; 2) identificar as funções e as ações praticadas pelo locutor
e pelo interlocutor, enquanto participantes de um contexto discursivo; 3)
examinar as estratégias argumentativas utilizadas pelo locutor que, ao objetivar o
riso de seu interlocutor, leva-o a aceitar uma opinião nova; e, 4) investigar a
intersecção dos intertextos e interdiscursos na produção do risível e do riso. Ao
considerar que o riso e o risível têm sido tratados na uni e interdisciplinaridade,
esta tese situa tanto o riso quanto o risível na intersecção de intertextos e
interdiscursos, numa visão integradora, visto que é fundamental tratá-los por uma
visão multidisciplinar, tendo por transdisciplinaridade as ciências da cognição.
Assim, optou-se por um modelo integrador de forma a tratar de aspectos:
enunciativos, textuais, discursivos, históricos, interacionais, anatômico-
fisiológicos e culturais. Nesse sentido, a pesquisa adotou os seguintes
procedimentos metodológicos: 1) procedimento teórico-analítico: revisão teórica
dos diferentes tratamentos sobre o risível e o riso, e outros estudos relativos a
texto e discurso, com o ponto de vista socio-interacional; 2) seleção dos corpora,
o material selecionado para análise é composto de chistes, histórias, crônicas do
cotidiano e charges jornalísticas. Os resultados indicam que os intertextos e os
interdiscursos compõem as ações que integram o ato ilocucional de provocar o
riso com o ato perlocucional de quem ri.
Palavras-chave: 1) texto e discurso; 2) cognições sociais; 3) riso e risível.
ABSTRACT: This thesis aims 1) generally – at contributing studies on the
laughable and laughter both in verbal texts and texts expressed by semiotic
means other than the multimodal ones; and, 2) more specifically – at examining
whether the laughable is a discursive or textual genre; at identifying the functions
and actions performed by the speaker and interlocutor as participants of a
discursive context; at evaluating the argumentative strategies used by the
speaker, who, intending to secure the interlocutor’s laughter causes him/her to
accept a new opinion; at investigating the intersection of the intertexts and
interdiscourses in the production of the laughable and laughter. In considering
that both laughter and the laughable have been dealt with in uni and
interdisciplinarity, this thesis places both laughter and the laughable in the
intersection of intertexts and interdiscourses, forming an integrative view, once it
is crucial to tackle them by a muldisciplinary view, viewing the cognitive sciences
as transdisciplinarity. Thus, an integrative model was chosen, so as to discuss
enunciative, textual, discursive, historic, interactional, anatomical/physiological
and cultural aspects.In this sense, this research has adopted the following
methodological procedures: 1) theoretical/analytical procedure: theoretical review
of the different treatments given to laughter and the laughable, besides other
studies concerning text and discourse, with socio-interactional point of view; 2)
selection of the corpora; the material selected for the analysis comprises jokes,
stories, chronicles of daily life and editorial cartoons. The findings suggest that
intertexts and interdiscourses form the actions which integrate the illocutionary act
provoking laughter with the perlocutionary act of the one who laughs.
INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 14
CAPÍTULO I
O RISO E O RISÍVEL .............................................................................................. 20
1.1 Diferentes tratamentos dados ao riso: pontos de partida .................................. 20
1.1.1 Tratamento anatômico e fisiológico do riso .................................................... 20
1.1.2 Tratamento filosófico dado ao riso ................................................................. 22
1.1.3 Tratamento linguístico dado ao riso ................................................................ 24
1.1.4 Tratamento histórico-cultural dado ao riso ...................................................... 26
1.1.5 Tratamento narrativo dado ao riso .................................................................. 26
1.1.6 Tratamento antropológico dado ao sorriso e ao riso ..................................... 30
1.1.7 Tratamento socio-político dado ao riso ........................................................... 30
1.2 Risível e riso por uma visão integradora: a proposta desta tese ....................... 31
1.2.1 Risível: um gênero discursivo ......................................................................... 35
1.2.2 Práticas sociais discursivas ............................................................................ 36
1.2.3 Contexto discursivo ........................................................................................ 38
1.2.4 Macroatos de fala ........................................................................................... 39
1.2.5 Fatos sociais e históricos ................................................................................ 41
1.2.6 Contexto cognitivo .......................................................................................... 42
1.2.7 Esquemas mentais: scripts e frames .............................................................. 43
1.2.8 Associação e dissociação .............................................................................. 45
1.2.9 Focalização e similitude .................................................................................. 47
1.2.10 Cognições sociais: cultura e ideologia .......................................................... 49
1.2.11 Inferência ostensiva e relevância ................................................................. 50
CAPÍTULO II
CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS EM REVISÃO ........................................................ 54
2.1 Contribuições dadas pelas ciências da cognição .............................................. 54
2.1.1 Teoria de memórias por armazém .................................................................. 54
2.1.2 Unidade e diversidade: opinião e marco de cognições sociais ...................... 59
2.1.3 Contexto(s) ..................................................................................................... 62
2.1.4 Interacionismo simbólico e representações sociais ........................................ 63
2.2 Análise Crítica do Discurso ................................................................................ 68
2.2.1 Vertente socio-cognitiva da ACD .................................................................... 70
2.2.1.1. Categorias Sociedade, Cognição e Discurso ............................................. 75
2.2.2 Vertente semiótica social ................................................................................ 76
2.3 Mídia e escândalo............................................................................................... 80
2.4 Linguística textual e os esquemas textuais ....................................................... 82
2.4.1 Superestrutura ................................................................................................ 84
2.4.2 Referenciação ................................................................................................. 87
2.5 Teoria da enunciação ........................................................................................ 91
2.6 Análises textuais e discursivas .......................................................................... 95
CAPÍTULO III
O RISÍVEL E O RISO EM TEXTOS NARRATIVOS VERBAIS E MULTIMODAIS.. 108
3.1 Risível e riso em chistes .................................................................................... 108
3.1.1 Gênero discursivo do risível ............................................................................ 108
3.1.1.1 Chiste que envolve parentesco (genro X sogra) ........................................ 108
3.1.1.2 Chiste que envolve a vaidade feminina em idade avançada ....................... 114
3.2 Histórias ............................................................................................................. 120
3.2.1 Gênero discursivo do risível em histórias ....................................................... 120
3.2.1.1 História com mais de um episódio ............................................................... 121
3.2.1.2 História com um episódio ............................................................................. 128
3.3 Crônicas do cotidiano ........................................................................................ 134
3.3.1 Gênero discursivo do risível em crônicas do cotidiano ................................... 135
3.3.1.1 Crônica do cotidiano entre grupos sociais em conflitos: texto 5 .................. 135
3.3.1.2 Crônica do cotidiano entre grupos sociais em conflitos: texto 6................... 142
3.4. Charges jornalísticas ........................................................................................ 150
3.4.1 Gênero discursivo do risível em texto multimodal .......................................... 150
3.4.1.1 Charge Sarney santificado ........................................................................... 150
3.4.1.2 Charge da chegada do homem à lua .......................................................... 157
3.5 Resultados obtidos ............................................................................................ 164
3.5.1 Macroatos de fala (provocar o riso e rir) ......................................................... 164
3.5.2 Ações do provocador do riso são: selecionar dois fatos, sendo que cada
qual se apresenta no texto como uma isotopia ....................................................... 164
3.5.3 Associação e dissociação são articuladas pelo dado com o novo.................. 165
3.5.4 Ato de associar ............................................................................................... 165
3.5.5 Ações daquele que ri ...................................................................................... 166
3.6 Visualização em gráfico proposto por Adam ..................................................... 166
CONCLUSÕES ........................................................................................................ 169
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 175
LISTA DE ESQUEMAS
Esquema 1..................................................................................................................... 84
Esquema 2..................................................................................................................... 85
Esquema 3..................................................................................................................... 86
Esquema 4..................................................................................................................... 96
LISTA DE FIGURAS
Provérbio Latino
INTRODUÇÃO
O riso e o risível têm sido objeto de estudos desde a antiguidade até nos
nossos dias. Todavia, os estudos realizados ou são unidisciplinares ou
interdisciplinares. Dependendo da focalização dada pelos autores, o riso recebe
diferentes tratamentos: anatômico e fisiológico, filosófico, linguístico, histórico-
cultural, narrativo, antropológico, retórico argumentativo, sócio-político.
Nessa perspectiva, o discurso é visto como uma prática social que se define
por um esquema mental constituído pelos papéis representados por seus
participantes, suas funções e ações. O texto é visto com a expressão por
multimolidades semióticas, entre as quais está o verbal.
14
inteligência/tolice, ironia/sinceridade, riso/choro. O humor risível é constitutivo de
grande complexidade e modifica-se nas relações sócio-históricas humanas.
Ao considerar que o homem vem sendo definido como <<o animal que ri>>,
nesse sentido, o foco é projetado sobre o riso e situado no homem. Bergson
(1900, p. 2-3) discute essa definição e, segundo o autor,
15
simplicidade, não tenha merecido atenção mais acurada dos
filósofos? Já se definiu o homem como “um animal que ri”. Poderiam
também ter sido definido como um animal que faz rir, pois, se outro
animal o conseguisse, ou algum objeto inanimado, seria por
semelhança com o homem, pela característica impressa pelo
homem ou pelo uso que o homem dele faz”.
Como se pode verificar, Bergson situa o risível no locutor, “naquele que faz
rir”. Com tal concepção, esta tese trata, portanto, do risível e do riso definindo o
macroato ilocucional do locutor como <<aquele que faz rir>> e o macroato
perlocucional do interlocutor como <<aquele que ri>>.
Todavia, nem sempre aquele que faz rir obtém o riso de seu interlocutor.
Também, muitas vezes, o locutor não tem a intenção de provocar o riso e isso
ocorre na face do interlocutor. Sendo assim, esta tese examina o macroato
ilocucional com o macro perlocucional, de forma que se obtenha o princípio da
felicidade proposto por Austin (1962).
Para orientar a pesquisa realizada tem-se por objetivo geral contribuir com
os estudos do risível e do riso tanto em texto verbais, quanto os expressos por
outras semióticas, além dos textos multimodais.
Tanto a antítese quanto a tese são apresentadas com suas bases teóricas
a partir de estudos realizados sobre o risível e o riso.
17
Capítulo II – CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS EM REVISÃO - Este capítulo
apresenta a revisão de outras contribuições teóricas que fundamentam a tese
defendida e, desse modo, trata de questões relativas ao texto, pela linguística
textual; aspectos da teoria da enunciação e análises textuais e discursivas, de
forma a integrar níveis do texto com níveis do discurso. As questões relativas ao
discurso referem-se às Analises do Discurso – as bases teóricas que
fundamentam a construção e a sustentação da tese defendida, ao considerar um
modelo integrador multidisciplinar ancorado.
18
BOM ALUNO
- Joãozinho, o que você está estudando?
- Geografia mamãe.
- Muito bem! Então me responda: onde fica a Inglaterra?
- Deixa eu ver... Na página 83!
19
CAPÍTULO I
O RISO E O RISÍVEL:
20
Com a contribuição recebida da filosofia, e de estudos sobre o teatro, o
tratamento anatômico e fisiológico do humor passa a ser relacionado às relações
no social.
Aristóteles afirma que o homem é “um animal que sabe rir” e que o riso
decorre da “essência” do organismo humano; por isso, o riso é um “enigma”, que
ocorre como fator atenuante de tomadas de decisões em situações difíceis ou
rígidas. Para o filósofo, o riso pode manter entre os homens a parcimônia e o
equilíbrio, em momentos de tensão, pois o homem é emocionalmente controlável
pela palavra; a seriedade é fundamental, mas o homem necessita de
descontrações emocionais manifestas pelo riso entre os interlocutores.
21
(2009), entre outros, o humor é composto por três aspectos, a saber: o cognitivo,
o emocional e o motor. A excitação no lóbulo temporal no córtex é acionada por
estímulos positivo e negativo, decorrentes de meios diversos, tais como: a leitura
de um gibi, ouvir gracejos e assistir a cenas teatrais ou cinematográficas.
22
Entende-se que Aristóteles, ao afirmar que o homem é um animal que ri,
está situando o riso em seu aspecto motor, que provoca mudança facial. Essa
perspectiva é coerente com o tratamento anatômico e fisiológico, que propicia
tratar o riso situado no interlocutor.
Bergson (1900, p.3) discute que o homem seja um animal que ri e propõe
que é o único animal que faz rir, porque fora do homem não há o risível. Nesse
sentido, aquele que ri é resultado de uma causa que é “fazer rir”. Trata-se do
rompimento com a lógica, pois é ela que cria uma expectativa que, ao ser
rompida por aquele que faz rir, produz o riso. Dessa forma, para Bergson, o
maior opositor do riso é a emoção, pois ela inibe o riso, já que exige que o
interlocutor se coloque na condição do outro, o que rompe com o estado lógico.
Logo, nesse sentido, o interlocutor pode, em vez de rir, até chorar.
23
1.1.3 Tratamento linguístico dado ao riso
Possenti (1989) trata do riso como humor, tendo por base a enunciação
lingüística, em textos reduzidos de “piadas”. O autor situa o humor risível como
decorrente da seleção de palavras polissêmicas e ambíguas que constroem
oposições semânticas. Nesse sentido, para ele, o humor risível é expresso
linguisticamente. Logo, a sua contribuição inicial é tratar linguisticamente o humor
pela polissemia. No domínio da enunciação, o autor propõe que o riso resulta da
escolha enunciativa do locutor, que seleciona palavras que são expressões
polissêmicas, no texto verbal.
24
Segundo o autor, o riso decorre de situações diversas e é provocado na
interação discursiva, de forma a privilegiar o co-texto e o contexto, construídos
com os diferentes planos, já referidos. Travaglia trata dos textos usados pelos
atores do programa de humor Casseta &Planeta pelo uso de estratégias que, por
associação e por dissociação, produzem os efeitos humorísticos devido à
presença de ambiguidade, ironia, contradição e paródia.
25
repentinamente, depara-se com uma mudança que transforma, por exemplo, o
belo em feio, o justo em injusto, o esperado em inesperado. O autor concluiu que
há certo “contrato de comunicação” que causa o riso; por essa razão, há uma
apropriada cumplicidade.
27
termos, nem tudo que é risível em uma sociedade o será em outra, ou, mesmo
para aquele grupo social, o que é risível em uma época, não o é em outra.
Propp (1976) leva em conta que selecionar hábitos opostos aos atuais,
ainda que remotamente, produz um rompimento com as formas de
conhecimentos atuais, de modo a provocar o riso. Assim, no momento histórico
em que o autor viveu, o da Revolução Socialista Russa, os valores positivos, no
teatro, eram atribuídos ao estático; por essa razão, selecionar conceitos opostos
com valores negativos produz o riso da plateia, tal como a farsa, a palhaçada e
os espetáculos circenses. Propp verificou, também, que essa oposição entre
valores negativos e positivos estava ligada ao corpo humano e suas tendências
naturais; dessa forma, os valores negativos atribuídos à gula, à bebedeira, ao
suor e à expectoração eram capazes de produzir o riso.
No final do século XX, Mattos (2004) situa o riso e o risível nas perspectivas
literária, teatral e cinematográfica brasileiras, na obra escrita por Ariano
Suassuna, Auto da Compadecida. Mattos entende que riso e dor caracterizam a
28
identidade do brasileiro, na medida em que o riso é uma forma de amenizar a
dor. As situações adversas vividas pelos personagens da obra estudada
constroem as frequentes rupturas da narrativa, num diálogo constante entre o
religioso e o profano, o qual pode ser considerado como um paradoxo necessário
à vida. Nesse trágico-cômico, no teatro e no cinema, representam-se nas
narrativas situações ambíguas e paradoxais dos personagens da história.
1.2 Risível e riso por uma visão integradora: a proposta desta tese
- o risível, gênero discursivo que produz o riso e define-se pelo uso de textos
encontráveis em diferentes práticas sociais discursivas. Logo, como gênero
discursivo, o humor risível pode integrar outras práticas sociais discursivas, por
exemplo, o risível no discurso publicitário, no discurso jornalístico, no discurso
político e no discurso literário.
- selecionar dois fatos com dois conjuntos sêmicos, por terem mais de um script
sêmico, histórico e cultural, os quais formam duas representações mentais
diferentes;
32
construir ambiguidade para o interlocutor, pois se remetem a conjuntos
semânticos diferentes de conhecimentos;
- ativar, na memória de longo prazo social, o respectivo script, que pode ser
apresentado em uma cronologia temporal de semas seguindo o frame (sentido
mais global), que hierarquiza os demais sentidos secundários;
- fazer uma inferência, que se torna ostensiva no contexto cognitivo até então
construído, propicia ao interlocutor reconhecer uma relevância em seu
contexto cognitivo; assim, continua a dar entrada da informação, processando-
a para resolver a ambiguidade resultante da relevância;
- ativar o emocional por uma ação realizada pela condição cômica que
transforma o valor negativo do humor em valor positivo do achar graça,
causado por seu próprio engano, em sua memória de trabalho;
Adam (1999, 2008) propõe a análise textual dos discursos e afirma que a
Análise do Discurso abrange a textual. Segundo o autor, os gêneros são
discursivos e, dessa forma, propõe para análise textual dos discursos dois níveis
ou plano de análise, a saber: o de discurso e o da análise textual. Esses níveis
estão integrados.
36
perlocucional, capta as intenções do locutor e, pelo emocional e pelo racional,
compreende o que é engraçado, de forma a provocar o riso.
40
envolvem a relação dos indivíduos na sociedade, situados, no e pelo discurso, na
cultura e em suas instituições.
Para Van Dijk (1995), os macroatos de fala são ações, resultam de uma
sequência de atos e requerem o planejamento e uma representação global. Isto
é, certas sequências de vários atos de fala podem ser pensados e entendidos,
pois funcionam, socialmente, como um só ato de fala. Tal conjunto de atos de
fala é realizado por sequências que denominam ato global de fala.
41
Os fatos sociais relacionam temas fundamentados no agir e na
compreensão social de uma série historicamente desenvolvida de
compreensões, de acordo com as instituições de autoridades que são acatadas
pelas pessoas, do mesmo modo que as pessoas são levadas a reconhecer e
legitimar essa autoridade, sob certas condições do que se fala ou se escreve
como força do agir das pessoas.
42
a representação mental ocorrente, resultante do processamento da informação
recebida.
A noção de modelo, para o autor, propicia explicar por que o mesmo texto
não produz a mesma leitura, seja por leitores diferentes, seja para o mesmo
leitor, em momentos distintos.
Nesse sentido, os fatos sociais selecionados por quem “provoca o riso” nem
sempre propicia o riso para todos os interlocutores. Estes projetam modelos de
44
situação diferentes, o que os impedem de serem coniventes com “o provocador
do riso”.
45
Para tanto, é necessário selecionar os dados e a maneira pela qual eles serão
interpretados, ou seja, a significação escolhida para ser atribuída aos dados.
47
A similitude e a focalização resultam da intenção do locutor e estão
ancoradas no tema do texto.
48
“espírito”. Entender a metáfora é insistir sobre a ideia de comparação entre dois
elementos.
Assim, a metáfora pode intervir para dar crédito à analogia. Por isso, para
se entender os temos da metáfora (“A é C”), é necessário recorrer ao contexto
que permitiu a construção da similitude entre dois elementos.
O modelo teórico inferencial tem por ponto de partida que o que foi dito é o
explícito, embora contenha, também, implícitos. Explicitar implícitos contidos no
dito, durante o processamento da informação, propicia que se construa um
contexto cognitivo na memória de médio prazo do processador, de forma a guiar
a construção de sentidos na sua memória de trabalho, durante a recursividade
dos sentidos globais e sentidos secundários. Um contexto cognitivo mental, de
acordo com Sperber e Wilson, é, portanto, um suporte de ancoragem projetado
pelo processador da informação a partir do que ele representa para si como
verdadeiro.
50
Na interação comunicativa do eu-tu, quando há comunicação, a intenção
retórica é de alterar o contexto cognitivo dos interlocutores. Dessa forma, o
locutor orienta o seu interlocutor, a partir do “dado”, a construir o seu contexto
cognitvo para, depois, com a entrada do “novo”, levá-lo a uma reformulação.
52
SEGUNDA-FEIRA, 13 DE JULHO DE 2009
http://jamirlima.blogspot.com/2009/07/charges-sobre-sarney-pra-variar.html
53
CAPÍTULO II
Com o foco dado nas operações de ordem cognitiva, o texto passa a ser
considerado como processo e como produto. O texto produto é de natureza
verbal e traz representado em língua a progressão semântica de um tema. O
texto processo é resultado de processos mentais e tem natureza memorial.
Nesse sentido, entende-se que os parceiros do discurso possuem saberes
acumulados, relativos aos diversos tipos de atividade da vida social que são
representados na memória, como formas de conhecimentos, que necessitam ser
ativados durante o processamento da informação na memória de trabalho.
54
Há diferentes modelos teóricos a respeito da memória. Van Dijk (1978) e
Kintsch e van Dijk (1983) selecionam o modelo de memória por armazéns. Este
modelo diferencia as memórias de curto, médio e longo prazo.
55
entrados, sensorialmente, são salientes ou relevantes, devido às orientações
dadas no texto produto pelo locutor. Segundo Sperber e Wilson (1980), à medida
que uma relevância não se ajusta ao cálculo de significação já realizado, o que é
relevante modifica as proposições (unidades de sentidos) pela multiplicação de
inferências ostensivas, levando o processador a reformular os seus
conhecimentos ocorrentes, de forma flexível. Nesse sentido, o tema do texto
produto é reconhecido pelo modelo de situação projetado, decorrente do
macroato de fala (intenção geral do locutor e efeitos que ele pretende produzir
em seu interlocutor). Logo, a memória de trabalho é qualitativa, pois opera com
unidades semânticas, hierarquicamente, mais altas que as entradas verbais.
57
de avaliação de fatos, atores ou situações sociais e, ao mesmo tempo, podem
ser usadas para planificação de uma ação.
58
O frame é o estereótipo conceitual, a representação geral de qualquer
“coisa” (pessoas, tipos, objetos, conceitos, entidades etc.), que figura como tema
ou assunto, ou focalização referencial, dentro de uma atividade qualquer,
correspondente passível de ser evocada, ou referida, nas atividades e
relacionamentos sociais.
59
da memória social, de maneira que cada grupo social seja definido pelo seu
próprio marco de cognições sociais.
Desde que se entenda que as cognições sociais são grupais, pois elas se
definem como formas de crenças, ou seja, conhecimentos avaliativos,
decorrentes de objetivos, interesses e propósitos comuns aos membros de um
mesmo grupo social, é necessário compreender que os grupos sociais estão em
constantes conflitos inter-grupais. No entanto, é possível, também, compreender
que pode haver conflito intra-grupal, quando o que é individual apresenta
diferença com o que é social.
Já, segundo van Dijk (1997), a noção de grupo social é definida pelas
cognições sociais, não havendo nelas nenhuma forma de reconhecimento de
sema material. Para o autor, a primeira decisão teórica que precisa ser tomada é
localizar a opinião na mente. Desse modo, quando <<as pessoas têm uma
opinião sobre x>> é necessário que em primeiro lugar, tenham uma
representação mental de X. Na maioria das vezes, os linguistas têm reduzido as
opiniões às suas manifestações no texto, isso significaria que os seres humanos
não têm opiniões antes de começar a falar delas e que as opiniões somente se
relacionam ao contexto e se constituem como parte do discurso propriamente
dito.
Para van Dijk, todas as formas de conhecimentos são avaliativas, pois são
construídas com objetivos, interesses e propósitos comuns, que diferem de
pessoas para pessoa e de grupo social para grupo social.
61
As experiências pessoais produzem um conjunto de conhecimentos sobre
eventos específicos. Logo, uma pessoa pode ter opiniões pessoais ou
compartilhar opiniões com os outros, socialmente.
2.1.3 Contexto(s)
62
Há, também, o contexto cognitivo que é construído como um cálculo de
significações durante o processamento da informação na memória de médio
prazo das pessoas, (cf. Sperber e Wilson, 1986). Logo, com a contribuição dada
pelas ciências da cognição, a noção de contexto torna-se plural e abarca
diferentes tipos de contextos, de forma a considerar diversas propriedades para
cada tipo de contextos: participantes, papéis sociais, papéis comunicativos,
estabelecimentos de circunstâncias, intenções, objetivos, motivos, dêiticos
discursivos e outras propriedades.
63
A necessidade de viver em sociedade é própria do ser humano, que tem
por base a interação entre os seres em diferentes situações, mas as relações
dessas funções sociais são passíveis de mudança.
64
permanente, desde que haja interesses e valores diferentes e, muitas vezes,
antagônicos.
65
As representações sociais possuem duas funções:
Por essa razão, ele deixa de ser o indivíduo, no instante em que pratica
uma ação, em que se filia a um determinado grupo social, pois, ao submeter-se
às pressões sociais impostas pelo grupo social, ele se posiciona como mero
executor de papéis sociais, por ser destinado a adaptar-se ao seu meio, o que
66
fará com que deixe de ser um indivíduo para torna-se um sujeito social, na
interação comunicativa.
Por essa perspectiva, as ações verbais são ações conjuntas, já que usar a
linguagem é sempre se engajar em alguma ação, em que ela – a linguagem - é o
próprio lugar onde a ação acontece, necessariamente, em coordenação com os
67
outros. Essas ações não são simples realizações individuais, mas são ações que
se desenrolam em contextos sociais, com finalidades sociais e papéis
distribuídos socialmente.
Dessa forma, a ACD trata o discurso como uma característica da vida social
contemporânea.
69
O autor, na sua obra, destaca as propriedades dialógicas dos textos, sua
“intertextualidade”: a ideia de que qualquer texto está integrado em uma cadeia
de texto, isto é, mantêm relações, incorporações e transformações com outros
textos. Bakhtin, também, desenvolveu uma teoria dos gêneros discursivos,
segundo a qual todo texto está moldado, necessariamente, por um repertório de
gêneros discursivos socialmente disponíveis, por exemplo, o gênero dos artigos
científicos ou os gêneros da publicidade, ainda que se possa mesclar gêneros de
modo criativo.
Em sentido amplo, a ACD tem por ponto de partida a dialética entre o social
e o individual: este é guiado pelo social, que é modificado pelo individual. Para
tanto, busca-se interpretar a mediação entre o texto e o social, assim como
considerar a multifuncionalidade dos textos como uma característica importante.
Ambas são consideradas para se atingir o objetivo geral da ACD: denunciar o
domínio das mentes, pelos discursos públicos e institucionalizados. Logo, a ACD
postula a multidisciplinaridade, a fim de que possa atingir esse objetivo.
Esta tese não objetiva denunciar o domínio das mentes pelo discurso, mas
tratar dos fundamentos teóricos da ACD que trazem contribuições para o
tratamento do risível e do riso.
Como o autor entende o discurso como uma prática social que se define por
um contexto global composto por participantes, suas funções e suas ações, tais
categorias são assim propostas.
- categoria Poder
- categoria Controle:
74
2.2.1.1 Categorias Sociedade, Cognição e Discurso
75
Segundo a vertente socio-cognitiva, o que define os grupos sociais é a
cognição e o discurso; dessa forma, há uma inter-relação entre as categorias
Sociedade, Cognição e Discurso, pois uma se define pela outra, sendo que todas
as categorias estão presentes nas práticas sociais discursivas.
A vertente semiótica social, segundo Vieira (2007, p. 9), tem uma visão
multissemiótica do texto, na medida em que...
76
de representação que entram no texto com a mesma precisão com
que se faz a análise do texto linguístico.
Mais tarde, Kress, Leite-Garcia & van Leeuwen (2000) partem dos
seguintes pressupostos:
80
Thompson diferencia os escândalos midiáticos dos escândalos localizados.
Kuwae (2006, p. 58) apresenta um quadro das diferenças entre os dois tipos de
escândalos:
Quadro 1
81
2.4 Linguística textual e os esquemas textuais
Nessa perspectiva, o texto foi tratado por dois pontos de vista: texto produto
e texto processo. O texto produto tem natureza linguística e é construído com as
representações do tema em língua e a sua progressão semântica.
82
partir da construção de um n-tuplo de sentidos, que depende da maturidade do
produtor e do leitor.
83
mais globais. Em outros termos, a coerência textual é vista como um resumo do
texto produto.
2.4.1 Superestrutura
Esquema 1
Narrativa de história
História moral
84
Um episódio é formado pelas seguintes categorias textuais, assim
ordenadas: Apresentação, Conflito e Resolução. O(s) episódio(s) está(ão)
ordenado(s) com a moral, que pode ou não vir explícita.
Essas categorias narrativas foram propostas por Labov (cf. Kintsch e van
Dijk, 1977). Após os estudos das narrativas de história, van Dijk (1978, p. 162)
apresenta a superestrutura da argumentação:
Esquema 2
Argumentação
Legitimidade Reforço
85
com base nas cognições sociais; caso contrário, não se obtém a aceitação do
interlocutor.
Esquema 3
Crônica do cotidiano
Focalização
Paradoxo
Estrutura A Estrutura B
Polo 1 Polo 2
Similitude
86
Nesse sentido, o esquema apresentado por Gabriel jr. encaixa-se na
categoria Justificativa da superestrutura argumentativa, anteriormente proposta
por van Dijk (1978).
2.4.2 Referenciação
87
não extensional que está fundamentada na concepção de linguagem como ação
intersubjetiva e considera que os referentes ou objetos do discurso são
construídos no e pelo discurso.
89
categorização espontânea e dos objetos do mundo são feitas, recebendo a
influência do contexto, em função das intenções do interlocutor.
90
2.5 Teoria da enunciação
91
A autora propõe que os valores axiológicos são sociais e estão
relacionados à memória social de cada grupo. Os subjetivemas são valores
individuais e estão relacionados ao sujeito enunciador. Por conseguinte, todos os
lexemas podem conter valores axiológicos ou subjetivemas.
92
Os termos axiológicos decorrem de avaliações subjetivas, na medida em
que refletem algumas particularidades das competências culturais e ideológicas
do sujeito enunciador e de intenções que são enunciadas por graus variados de
subjetividade para o enunciatário.
a) Os axiológicos avaliativos
Assim, o contexto especifica o valor axiológico no uso, tal como “mas”, que,
como coordenador, pode desempenhar efetivamente diferentes papéis: “aditivo X
adversativo”. Mesmo que as palavras sejam intrinsecamente valorizadoras ou
não, o código linguístico não propõe tais valores; eles decorrem do ato
enunciativo.
b) Os axiológicos afetivos
94
• o locutor apresenta ou não como “certa” a opinião expressa na
completiva;
• o locutor apresenta ou não sua opinião como produto de uma reflexão;
O valor de opinião pode, ainda, vir expresso sob outras formas linguísticas.
Em síntese, para Kerbrat-Orecchione, o exame dos subjetivemas e dos valores
axiológicos propiciam tratar da subjetividade inscrita no enunciado,
reconstruindo-se o ato ilocucional do enunciador.
95
textual dos discursos, isto é, uma teoria da produção co(n)textual de sentido que
deve, necessariamente, ser fundamentada na análise de textos concretos.
Esquema 4:
INTERDISCURSO
Língua(s)
Gênero(s)
TEXTO
96
Dessa forma, o autor propõe uma abordagem na qual texto e discurso são
pensados de forma articulada e situa a linguística textual como um subdomínio
de uma área mais ampla da análise das práticas discursivas, postulando, ao
mesmo tempo, uma diferença e uma complementaridade.
97
implícito; períodos e sequências - unidades composicionais de base e
estruturações sequenciais e não-sequenciais dos textos.
1) índices de pessoas;
3) tempos verbais;
Mais tarde, Charolles (1988) também trata da isotopia que, por ser
semântica, situa-a na coerência do texto, enquanto Greimas (1976) situa-a na
99
coesão textual. Todavia, ambos os autores entendem que um texto organizado
tem uma isotopia, ou seja, uma unidade temática que progride semanticamente
no texto. Com o desenvolvimento da linguística textual, a noção de coesão passa
a ser situada no texto produto e a noção de coerência, no processador da
informação, de forma a se afirmar que a coerência não está na representação
verbal do texto.
Por essa razão, Eco (1985, p. 131) define que isotopia consiste em
constância de um percurso de sentido que um texto exibe quando é submetido a
regras de coerência interpretativa. Adam (palestra proferida dia 19 de novembro
de 2010, na PUC/SP) situa a isotopia na dimensão semântico-referencial, num
nível intermediário entre o local e o global, porque é analisável em termos de
coesão de mundo representado, ou ainda, conforme delimita o autor, a coesão
semântica é um fato de co-textualidade que a noção de isotopia permite teorizar.
Por essa razão, Arrivé (1976, p. 15) afirma: ler um texto é identificar a(s)
isotopia(s) que o percorre(m) e seguir passo a passo os (dis)cursos dessas
isotopias. O conceito de isotopia permitiu distinguir fatos de co-topia (lugar), de
heterotopia (lugares diferentes) e de poliisotopia (inúmeros lugares).
Robert Martin (1983), por uma lógica do sentido, define uma língua como
uma relação metafórica porque uma palavra se define pela outra, de forma a
construir áreas semânticas, que são conhecidas dos falantes de uma língua. É
esse conhecimento que ao seguir a orientações de um texto permite a
recategorização de um texto de forma a transformar co-topias, heterotopias e
poliisotopias por recategorização em uma isotopia.
100
lingüística. Essa estruturação só é explicada por intermédio de uma semântica de
mundos, ou seja, pela configuração de conhecimentos globais.
Com essa concepção, pode-se entender que um texto não é uma simples
sequência de atos de enunciação, mas de valor ou força ilocucionária de uma
estrutura de atos de discurso ligados entre si e de elementos auxiliares que
compõem as práticas discursivas.
101
Esquema 5:
N7 (enunciação)
Com essa concepção, pode-se entender que um texto não é uma simples
sequência de proposições, mas de uma proposição enunciada que agrupa todas
as proposições secundárias do texto, de forma isotópica.
102
de uma organização interna, numa relação de dependência versus
independência.
Esquema 6:
INTERDISCURSO
LÍNGUA(S), INTERTEXTO S
& GÊNERO(S) N3
TEXTO
N4 N5 N6 N7 N8
103
O esquema proposto por Adam apresenta o texto como um objeto
complexo. A proposta teórica do autor é tratar dessa complexidade por uma
teoria de níveis, pois ela divide a complexidade do texto em conjuntos pensáveis
e interligados. Os níveis para Adam vão de 1 a 8, de forma a sugerir que o texto
é uma sequência de fatos discursivos com orientação argumentativa. A partir da
inter-relação proposta entre discurso e texto, o autor não separa gêneros do
discurso de gêneros de texto, pois o gênero do discurso integra um sistema de
discursos e de textos relativos a cada um dos discursos.
Dessa forma, o texto não aparece mais como dissociado do discurso, pois
ambos são pensados de forma articulada. Trata-se, portanto, de um
reposicionamento desses dois planos de análises, o discursivo e o textual, que
trazem consequências importantes para teorizá-los, propor metodologias de
análises e estabelecer suas relações mútuas e com outras áreas do “saber”.
105
discurso, de forma a entender que o gênero é discursivo e se define a partir de
um sistema de discursos que apresenta, entre si, uma mesma formação sócio-
cultural discursiva, num dado momento histórico. Assim, foi possível, segundo
Adam (2010, conferência proferida na PUC/SP) integrar os planos da análise
textual com os planos das análises do discurso, a partir de níveis:
- nível 1 interação–social;
- nível 4 textura;
- nível 6 semântica;
- nível 7 enunciação;
106
Qual é o seu foco!
Um paciente diz ao psiquiatra:
- Toda vez que estou na cama, acho que tem alguém embaixo. Aí eu vou
embaixo da cama e acho que tem alguém em cima.
Pra baixo, pra cima, pra baixo, pra cima. Estou ficando maluco!
- Deixe-me tratar de você durante dois anos. Venha três vezes por semana
e eu curo este problema – diz o psiquiatra.
- E quanto o senhor cobra? – pergunta o paciente.
- R$ 120,00 por sessão – responde o psiquiatra.
- Bem, eu vou pensar – conclui o sujeito.
Passados seis meses eles se encontram na rua.
- Por que você não me procurou mais? – pergunta o psiquiatra.
- A 120 paus a consulta, três vezes por semana, dois anos = R$ 37.440,00.
Ia ficar caro demais. Aí um sujeito num bar me curou por 10 reais.
- Ah é? Como? – pergunta o psiquiatra.
- Por 10 paus ele cortou os pés da cama.
Muitas vezes o problema é sério, mas a solução pode ser muito simples. Há
uma grande diferença entre foco no problema e foco na solução.
Concentre-se na solução ao invés de ficar pensando no problema.
107
CAPÍTULO III
108
a) No que se refere aos macroatos de fala, as ações do locutor são guiadas pelo
seu macroato para provocar o riso. A fim de obter a conivência do interlocutor,
quem provoca o riso pratica as seguintes ações:
109
No chiste analisado, as expressões linguísticas, construídas para o
interlocutor, são: “enterrar” e “enterrada”.
b.6.1) – o novo é o meio “ser enterrada viva” para <<conseguir excluir, para
sempre, a presença desagradável da sogra>>.
b.6.2) – o velho é a morte como ausência de um ente familiar que causa dor; a
morte causa a perda, para sempre, da sogra que é o parente desagradável.
110
Esquema 7:
Estrutura da argumentação
111
A palavra “enterrar” ativa na memória de longo prazo social o respectivo
script, que, devido à cultura cristã do brasileiro, pode ser apresentado em uma
cronologia temporal dos seguintes semas:
d.4) fazer essa inferência, para que ela se torne ostensiva no contexto cognitivo:
112
O interlocutor, ao processar essa sequência de expressões linguísticas,
ativa um outro script “assassinato, por enterrar uma pessoa viva”. Dessa forma,
para produzir a junção de duas isotopias em uma única isotopia, o interlocutor
recategoriza os sentidos mais globais.
113
- a expressão facial: o achar graça resolve a ambiguidade existente que produziu
a relevância no contexto cognitivo.
Uma senhora muito pintada e com a roupa muito justa e curta, olha
para um rapaz e pergunta-lhe: quantos anos você me dá?
a) No que se refere aos macroatos de fala, as ações do locutor são guiadas pelo
seu macroato para provocar o riso. A fim de obter a conivência do interlocutor,
quem provoca o riso pratica às seguintes ações:
fato 2 – o rapaz, por ser cortês, não conseguiu atribuir em números a meia idade
da senhora.
114
Ambos os fatos estão situados na contemporaneidade discursiva.
Esquema 8:
Estrutura da argumentação
uma mulher velha que adota a mulher velha parece mais velha pela
aparência de jovem para disparidade da aparência de jovem
parecer mais jovem adotada.
- grupo 1: uma pessoa velha não aceitar os efeitos - uma velha vestida e maquiada como jovem
da idade e querer ter a aparência de jovem, adotando acreditando que é jovem.
a aparência dos jovens do seu momento histórico;
grupo 2: uma pessoa velha valoriza a sua idade por
ser mais experiente e vivida que uma pessoa jovem,
mantendo a aparência de velha.
116
Na expressão “já estaria durinha” <<a pessoa velha que não aceita os
efeitos da idade por querer manter a aparência de jovem>>, propicia sugerir a
vaidade feminina que tem valor positivo para o grupo 1, das “pessoas que querem
manter a aparência jovem”, e valor negativo para o grupo 2, das pessoas que
aceitam alterações naturais, como valores culturais grupais.
- associação e dissociação como ações realizadas por quem provoca o riso, pois
a conclusão apresentada dissocia na medida em que rompe com os valores
culturais das cognições sociais.
Dessa forma, quem provoca o riso tem por intenção que seu interlocutor
resolva a polissemia instaurada; visa, pois, prover que ele ria do seu engano.
117
A expressão “Quantos anos você me dá?” ativa na memória de longo prazo
social os respectivos esquemas mentais conceituais, devido à cultura contida no
marco das cognições sociais, no esquema mental conceitual descritivo 1: uma
mulher vestir roupas justas e curtas, estar na moda, usar muita pintura, usar
acessórios para se enfeitar com designer da moda jovem do momento histórico;
no esquema mental conceitual descritivo 2: uma mulher muito idosa próxima da
morte; com aparência de senhora deteriorada, membros e corpo enrijecidos, com
dificuldades de locomoção e com dificuldades para respirar, enxergar, comer,
entre outras, querer ter, sempre, a aparência de jovem.
d.4) fazer essa inferência, para que ela se torne ostensiva no contexto cognitivo:
119
- o dado: embora a aparência da senhora seja uso de roupas curtas e justas,
além do designer, pintura, maquiagens de jovens, o rapaz a respeita, não
enumerando a idade da senhora; o novo é dado pelo acréscimo de mais dois
anos de idade para senhora ter o enrijecimento por morte.
É importante ressaltar que o chiste é um texto curto que não tem resolução,
para tanto nos chistes analisados apresentaram-se, diretamente, as possíveis
constatações naqueles que riem.
3.2 Histórias
120
É interessante observar que nos textos, de modo geral, as narrativas risíveis,
sejam elas chistes, histórias, crônicas ou textos multimodais, a categoria
Resolução não vem expressa no texto, porque ela fica a cargo do interlocutor.
E-mail errado!!! 1
OBS: Não traga muita roupa, porque aqui faz um calor infernal!!
a) No que se refere aos macroatos de fala, as ações do locutor são guiadas pelo
seu macroato de provocar o riso. A fim de obter a conivência do interlocutor,
quem provoca o riso pratica as seguintes ações:
1
Autor desconhecido
121
fato 2 – a condenação do morto ao inferno, por pecados praticados em vida, é
representada, culturalmente, com valor negativo, no Brasil, devido ao discurso
fundador eclesiástico.
122
No episódio narrativo 2, o personagem focalizado representa o papel de
viúva desconsolada, por nunca mais poder estar com o marido, chegando em
casa, após o enterro do esposo.
Assim: <<a mulher irá daqui a poucos dias, encontrar o marido no Caribe,
lugar muito quente com o uso de poucas roupas para comemorarem o casamento
de vinte anos>> é mudado em <<a mulher irá daqui a poucos dias encontrar o
marido morto, no inferno, lugar muitíssimo quente, mesmo para quem estará
morta>>
b.6.1) – o dado: quem vai para o Caribe comemorar vinte anos de casados é
porque o tempo de casamento propiciou momentos felizes e amorosos. O novo
<<aquele que morre continua preocupado com a pessoa que ama, está sempre
esperando por ela>>.
123
Com a progressão semântica da história e a dissociação, ocorre a
reformulação do conhecimento “viúva, marido morto”. Assim, o morto, do inferno,
comunica-se com a esposa viva na Terra, avisando-a de sua morte próxima e o
reencontro de ambos.
Esquema 9:
Estrutura da argumentação
- quem prática em vida o bem, merece o céu quando morto; - É a interação comunicativa do cônjuge
- o casamento ser inusitado de forma a merecer comemoração; morto com a esposa viva.
- quem prática o mau quando vivo merece o inferno quando morto
- o casamento é um sacramento religioso, postulado pela Igreja
católica que é para toda vida dos cônjuges;
- o vivo é animado e interaciona-se comunicativamente com os
vivos;
- o morto é inanimado e não pratica mais ações
No momento histórico atual <<o morto punido com o inferno, por ter
praticado pecado>> é um traço ideológico da religião Católica, originado na
cultura eclesiástica, segundo a qual vida e morte estão em planos diferentes e
incomunicáveis. A dimensão do inferno é avaliada negativamente, e o céu é
avaliado positivamente no marco das cognições sociais dos católicos. Com a
ruptura com a ideologia da igreja católica, a reformulação é feita pela cultura do
espiritismo, segundo a qual quem morre volta à vida dos vivos por reencarnação
continuamente, até que todos os males praticados, ao serem compreendidos pelo
reencarnado, leve-o a praticar boas ações. Segundo esse grupo social, o plano
dos mortos comunica-se com o plano dos vivos.
124
Dessa forma, quem provoca o riso tem por intenção, ao resolver a
polissemia de palavras selecionadas por ele, reconstruir os conhecimentos
sociais, atribuídos por ele ao interlocutor, de forma a apresentar o novo a partir do
velho.
- mulher 1 <<o papel de cônjuges que irá se encontrar com o marido no Caribe
para comemorar vinte anos de casados>>.
125
comemoração; t4 adequação do cerimonial da festa; t5 viagem em lua-de-mel; t6
viagem para passar férias; t7 celebração de vinte anos de casados; t8
adequação de vestes ao clima; t9 recordações de outros momentos de
festividade;
d.4) fazer essa inferência, para que ela se torne ostensiva no contexto cognitivo:
126
Assim, continua a dar entrada à informação, para resolver o que é ostensivo em
seu contexto cognitivo: “- Querida esposa cheguei bem. Talvez se surpreenda em
receber notícias minhas, mas agora tem computador aqui e pode-se enviar
mensagens às pessoas queridas.”
(texto 4)
A bolsa ou a vida2
a) No que se refere aos macroatos de fala, as ações do locutor são guiadas pelo
seu macroato de provocar o riso. A fim de obter a conivência do interlocutor,
quem provoca o riso pratica as seguintes ações:
2
Texto de Millôr Fernandes
128
b.1) selecionar dois fatos:
fato 2 - o ladrão é aquele que aborda outro para extorquir algo e causa prejuízo
ao outro. Este é adversário, em situações propícias, porque lesa o outro.
129
Na história, o autor seleciona as palavras “Meu amigo” e “Na vida só há duas
saídas: o alto e o baixo, o preto e o branco, o gordo e o magro, o casado e o
solteiro”.
130
Com a progressão semântica da história e a dissociação, ocorre a
reformulação do conhecimento “amigo, é colaborador e conselheiro”, por “falso
amigo é comparsa ou adversário”, num encontro casual.
Esquema 10:
Estrutura da argumentação
- amigo é colaborador que ajudar o outro - um ladrão fazer-se de amigo para se aproxima outro
- é adversário que acompanha um amigo para lesar.
131
associado para resolver a polissemia transforma o fato velado em fato revelado;
logo, o provocador do riso muda o papel social que o personagem vinha
representando.
133
– ativar o cognitivo: a reconstrução pelo intelecto decorre das relações entre
velar seu amigo, revelar-se falso amigo. No contexto sócio-histórico e cultural de
grupos sociais, as aparências enganam.
– a expressão facial, embora aquele homem mantenha uma boa aparência, sua
exigência provoca o inesperado. Logo, revela-se a ambiguidade existente que
produziu a relevância no contexto cognitivo.
134
3.3.1 Gênero discursivo do risível em crônicas do cotidiano
- Hummm...
- Hummm...
- Eca!!!
- Eca?! Quem falou Eca?
- Fui eu, sô! O senhor num acha que esse vinho tá com um gostim
estranho?
- Que é isso?! Ele lembra frutas secas adamascadas, com leve toque
de trufas brancas, revelando um retrogosto persistente, mas sutil, que
enevoa as papilas de lembranças tropicais atávicas...
- Putaquepariu sô! E o senhor cheirou isso tudo aí no copo?!
- Claro! Sou um enólogo laureado. E o senhor?
- Cebesta, eu não! Sou isso não senhor!! Mas que isso aqui tá me
cheirando iguarzinho à minha egüinha Gertrudes depois da chuva, lá
isso tá!
- Ai, que heresia! Valei-me São Mouton Rothschild!
- O senhor me desculpe, mas eu vi o senhor sacudindo o copo e
enfiando o narigão lá dentro. O senhor tá gripado, é?
- Não, meu amigo, são técnicas internacionais de degustação
entende? Caso queira, posso ser seu mestre na arte enológica. O
senhor aprenderá como segurar a garrafa, sacar a rolha, escolher a
taça, deitar o vinho e, então...
- E intão moiá o biscoito, né? Tô fora, seu frutinha adamascada!
- O querido não entendeu. O que eu quero é introduzi-lo no...
- Mais num vai introduzi mais é nunca! Desafasta, coisa ruim!
- Calma! O senhor precisa conhecer nosso grupo de degustação.
Hoje, por exemplo, vamos apreciar uns franceses jovens...
- Hã-hã... Eu sabia que tinha francês nessa história lazarenta...
- O senhor poderia começar com um Beaujolais!
- Num beijo lê, nem beijo lá! Eu sô é home, safardana!
- Então, que tal um mais encorpado?
- Óia lá, ocê tá brincano com fogo...
- Ou, então, um suave fresco!
- Seu moço, tome tento, que a minha mão já tá coçando de vontade
de meter um tapa na sua cara desavergonhada!
3
Texto de Luís Fernando Veríssimo
135
- Já sei: iniciemos com um brut, curto e duro. O senhor vai gostar!
- Num vô não, fio de um cão! Mas num vô, memo! Num é questão de
tamanho e firmeza, não, seu fióte de brabuleta. Meu negócio é outro,
qui inté rima com brabuleta...
- Então, vejamos, que tal um aveludado e escorregadio?
- E que tal a mão no pédovido, hein, seu fióte de Belzebu?
- Pra que esse nervosismo todo? Já sei, o senhor prefere um duro e
macio, acertei?
- Eu é qui vô acertá um tapão nas suas venta, cão sarnento! Engulidô
de rôia!
- Mole e redondo, com bouquet forte?
- Agora, ocê pulô o corguim! E é um... e é dois... e é treis! Num corre,
não, fiodaputa! Vorta aqui que eu te arrebento, sua bicha fedorenta!...
a) No que se refere aos macroatos de fala, as ações do locutor são guiadas pelo
seu macroato de provocar o riso. A fim de obter a conivência do interlocutor,
quem provocar o riso pratica as seguintes ações:
fato 1 – o homossexual, aquele que degusta e avalia vinhos, cuja profissão, quase
sempre, é ocupada por homens, é representada, culturalmente, pelo marco de
cognições sociais do caipira mineiro, com valor negativo. As expressões usadas
pelo enólogo não correspondem às do caipira. O valor positivo decorre de ambos
os personagens atribuírem às expressões valores de acordo com seus
respectivos marco de cognições sociais.
136
- A construção retórica é realizada pelo locutor que guia o seu interlocutor a
associar conhecimentos a respeito do script sexual de dois grupos sociais
distintos, pois há aqueles que orientam sua sexualidade pela profissão, logo o
especialista provador de vinhos tem, por sentido mais global, o frame <<sexo e
profissão>>.
137
O locutor orienta seu interlocutor a relacionar os diferentes, marco de
cognições sociais, de dois grupos em conflito, ao selecionar, no co-texto verbal,
palavras francesas relativas a vinhos:
b.6.2) – quem experimenta vinho e usa palavras delicadas provoca dúvidas para
o mineiro. O novo <<provador de vinhos é delicado; e, sexualmente,
duvidosos >>.
138
Na contemporaneidade atual, <<provador de vinho é laureado pela arte e
técnica da profissão>>; é um traço de grupo social de profissionais que seguem
um cerimonial, esses profissionais adotam a arte com técnicas específicas. No
marco das cognições sociais do caipira, a avaliação daquelas expressões é
negativa, porque homem tem de conhecer mulheres e o trabalho árduo da roça.
- provador de vinho <<no seu grupo: usa palavras suaves e ternas do francês e é
laureado pela arte e técnica profissional>>.
139
d.1) seguir as orientações de leitura, conforme o ato associativo do provocador do
riso.
140
orientação do locutor e os semas orientadores são “franceses e específicos da
profissão de enólogo”, é possível que ele ative dois scripts ligados à
“sexualidade” que tem por frame <<a delicadeza>>.
d.4) fazer essa inferência, para que ela se torne ostensiva no contexto cognitivo:
141
– ativar o emocional: a representação de homossexualidade é transformada, pela
condição cômica, em ofensa para o mineiro, e torna-se engraçado para quem
reconhece os dois personagens e suas histórias;
P O V O4
- Geneci...
- Senhora?
- Preciso falar com você.
- O que foi? O almoço não estava bom?
- O almoço estava ótimo. Não é isso. Precisamos conversar.
- Aqui na cozinha?
- Aqui mesmo. O seu patrão não pode ouvir.
- Sim, senhora.
- Você...
- Foi o copo que eu quebrei?
4
Texto de Luís Fernando Veríssimo
142
- Quer ficar quieta e me escutar?
- Sim, senhora.
- Não foi o copo. Você vai sair na escola, certo?
- Vou, sim senhora. Mas se a senhora quiser que eu venha na
Terça...
- Não é isso, Geneci!
- Desculpe.
- É que eu... Geneci, eu queria sair na sua escola.
- Mas...
- Ou fazer alguma coisa. Qualquer coisa. Não agüento ficar fora do
Carnaval.
- Mas...
- Vocês não têm, sei lá, uma ala das patroas? Qualquer coisa.
- Se a senhora tivesse me falado antes...
- Eu sei. Agora é tarde. Para a fantasia e tudo o mais. Mas eu
improviso uma baiana. Deusa grega, que é só um lençol.
- Não sei...
- Saio na bateria. Empurrando alegoria.
- Olhe que não é fácil...
- Eu sei. Mas eu quero participar. Eu até sambo direitinho. Você
nunca me viu sambar? Nos bailes do clube, por exemplo. Toca um
samba e lá vou eu. Até acho que tenho um pé na cozinha. Quer
dizer. Desculpe.
- Tudo bem.
- Eu também sou povo, Geneci! Quando vejo uma escola passar,
fico toda arrepiada.
- Mas a senhora pode assistir.
- Mas eu quero participar, você não entende? No meio da massa.
Sentir o que o povo sente. Vibrar, cantar, pular, suar.
- Olhe...
- Por que só vocês podem ser povo? Eu também tenho direito.
- Não sei...
- Se precisar pagar, eu pago.
- Não é isso. É que...
- Está bem. Olhe aqui. Não preciso nem sair na avenida. Posso
costurar. Ajudar a organizar o pessoal. Ajudar no transporte. O Alfa
Romeo está aí mesmo. Tem a Caravan, se o patrão não der falta. É
a emoção de participar que me interessa, entende? Poder dizer "a
minha escola...". Eu teria assunto para o resto do ano. Minhas
amigas ficariam loucas de inveja. Alguns iam torcer o nariz, claro.
Mas eu não sou assim. Eu sou legal. Eu não sou legal com você,
Geneci? Sempre tratei você de igual para igual.
- Tratou, sim senhora.
- Meu Deus, a ama-de-leite da minha mãe era preta!
a) No que se refere aos macroatos de fala, as ações do locutor são guiadas pelo
seu macroato para provocar o riso. A fim de obter a conivência do interlocutor,
quem provoca o riso pratica as seguintes ações:
144
No fato 1, é focalizado no sema carnaval valor positivo dado que apresenta
similitude com um sema do script do fato 2, pois o fato entretenimento - sair na
escola de samba - é representado pelo espaço da alegria, do entretenimento, da
liberdade, de fantasias e de magias. Em ambos os scripts, ocorre <<espaço
liberdade, fantasias e magias>>.
Esquema 12:
Estrutura da argumentação
146
d) as ações daquele que ri
- patroa: elite, dona de casa que cuida do lar, tem amigas que frequentam o
clube, mas quer ser povão para desfilar na escola como membro;
147
permite associar ao seguinte questionamento: “- Vocês não têm, sei lá, uma ala
das patroas? Qualquer coisa”, que se relaciona a uma outra isotopia.
d.4) fazer essa inferência, para que ela se torne ostensiva no contexto cognitivo:
148
Dissociação: p1 patroa, pretende sair na escola de samba, pois considera ser,
também, povo; p2 empregada doméstica, pensa que já é amiga da patroa e quer
deixar suas crianças aos cuidados da patroa para sambar na avenida, a fim de
reconhecer a amizade confidencial da patroa.
149
3.4 Charges jornalísticas
150
Figura 015 Sarney santificado
http://images.google.com.br/images?gbv=2&hl=ptBR&q=Charge+Sarney
http://rodrigodelemos.apostos.com/wp-content/files/2008/3/martinelli.jpg
a) No que se refere aos macroatos de fala, as ações do locutor são guiadas pelo
seu macroato para provocar o riso, a fim de obter a conivência do interlocutor, ao
provocar o riso, o locutor pratica as seguintes ações:
5
Acesso, segunda-feira, 13 de julho de 2009. Site de Internet
151
b) as ações do provocador do riso são:
152
No texto multimodal, as expressões visuais: traços, cores, flechas, mantos,
aureola, paisagem constituem-se de intersecções plausíveis para construir
ambiguidades para o interlocutor. Na charge analisada, as representações visuais
hierarquizam os ataques ao “indefeso santo/político” e “santificação redentora do
inocente perseguido por falsas identidades ideológicas, religiosas”.
153
Esquema 13:
Estrutura da argumentação
155
d.4) fazer essa inferência, para que ela se torne ostensiva no contexto cognitivo:
156
Dissociação: p1 político, que, pelo imaginário popular maranhense, é cidadão
simples e dedicado à política e à sua terra “Maranhão, minha terra meu torrão”;
p2 Santo atacado pelos inimigos, mas que um dia vai ressuscitar e manter o
poder.
6
Charge publicada no Jornal Zero Hora – 26 de julho de 2009.
157
Figura 03 Foto inédita da chegada do homem à lua
a) No que se refere aos macroatos de fala, as ações do locutor são guiadas pelo
seu macroato para provocar o riso. A fim de obter a conivência do interlocutor,
quem provoca o riso pratica as seguintes ações:
fato 2 – a fixação da placa de posse da família Sarney na lua. Para o grupo social
político, representa a posse ilimitada do político maranhense, proprietário dos
meios de comunicação via satélite no Maranhão; para muitos maranhenses, “o
Maranhão é de Sarney”.
159
chegaram tarde à Lua>>. Esses sentidos estão implícitos no co-texto verbal: foto
inédita, com um sujeito deliberador = família que tem muitos bens:
b.6.1) - o novo é o meio usado para manter a sobreposição entre “posse da Lua”
para <<conseguir a representação do poder inatingível da família política>>
Esquema 14:
Estrutura da argumentação
161
secundários: <<a fotografia inédita da chegada do homem à lua>> cria uma
expectativa.
d.4) fazer essa inferência, para que ela se torne ostensiva no contexto cognitivo:
162
Aceitar a quebra de expectativa implica que o interlocutor produza a
reformulação do seu contexto cognitivo. Dessa forma, por:
163
intencionalmente, para que representem, assim, ambiguidades e polissemias
concebidas, pelo produtor do riso, para os interlocutores.
3.5.2 Ações do provocador do riso são: selecionar dois fatos, sendo que cada
qual se apresenta no texto como uma isotopia
165
3.5.5 Ações daquele que ri:
d) a ruptura com o sabido das duas isotopias subverte os sentidos que levam à
construção de uma terceira isotopia;
e) a terceira isotopia tem por sentido mais global a opinião do provocador do riso
o novo;
166
Esquema 15:
TEXTO
167
http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/discovirtual/aulas/8206/imagens/charge2009
168
CONCLUSÕES
Acredita-se que o objetivo geral tenha sido atingido. Embora não seja
mensurável, a tese apresentada traz contribuições para diferentes
composições textuais, seja verbal, seja em outra semiótica, tal como a
multimodal. Nesse sentido, o texto ativa o humor. Este é situado no emocional,
ao se tornar risível, situa-se no intelectual, localizado no córtex cerebral da
fronte temporal.
169
A composição de cada texto depende de como esta classe (cronologia
temporal: t1, t2, t3, tn) é modificada, dependendo do discurso (chistes,
histórias, crônica do cotidiano e charges jornalísticas).
O locutor, pelo macroato de fala <fazer rir>>, seleciona dois fatos; cada
qual se apresenta no texto como uma isotopia; oferece uma orientação
argumentativa, associando conhecimentos para a construção de um contexto
cognitivo, de forma a criar uma segunda isotopia que dissocia os
conhecimentos já associados; seleciona as expressões linguísticas
polissêmicas em relação às isotopias apresentadas; reforça e legitima os
argumentos para justificar a opinião transmitida, estrategicamente, pelo
provocador do riso, de forma que o interlocutor aceite a resolução da
polissemia enunciada no texto.
170
Assim, tais circunstâncias permitem ao provocador do riso usar
estratégias de sedução, de modo a obter a conivência de seu interlocutor, ao
fazer novas associações para os papéis representados pelos personagens.
Isto é, os conhecimentos dados são transformados, na medida em que são
apresentadas novas informações sobre um mesmo referente, de forma a
construir o novo capaz de provocar o riso do interlocutor, pela cumplicidade.
171
4) investigar a intersecção dos intertextos e interdiscursos na produção do
risível e do riso
172
Por conseguinte, as representações dos fatos sociais são relativas ao
sócio-histórico-cultural e cognitivo e fazem parte dos conhecimentos do
interlocutor.
173
Esta tese não se quer conclusa, na medida em que abre perspectivas
para pesquisas futuras sobre as emoções humanas manifestadas pelas
linguagens verbal, não verbal e multimodal, em que o riso e o risível podem
ser verificados por outros olhares, em especial, ao riso engraçado, tal como a
história abaixo.
Continho7
7
CAMPOS, Paulo Mendes. In: Supermercado. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1976. p. 53
174
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