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Assim, o presente trabalho pode ser utilizado nos termos previstos na licença abaixo
indicada.
Atribuição
CC BY
https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/
ii
AGRADECIMENTOS
iii
DECLARAÇÃO DE INTEGRIDADE
iv
Estudo Contrastivo dos Provérbios e Idiomatismos Relativos à Mulher
em Português e Chinês
Resumo
v
A Comparative Study of Female Role in Chinese and Portuguese Proverbs and
Idioms
Abstract
Proverbs and idioms are unique linguistic phenomenon and have a long history.
They are transferred from generation to generation, and reflect the culture and
tradition of a nation. Due to the differences between China and Portugal in relation
to culture, history, religious beliefs, customs, habits and social environment, it will
certainly be fruitful to compare proverbs and linguistics of both countries.
From an intercultural point of view, this paper compares proverbs and idioms in
relation to roles of Chinese and Portuguese woman in family, studying the
differences and similarities about the image and position of women in traditional
Sino-Portuguese culture and trying to address their historical and social causes. In
addition, this work also attempts to analyze translation to find equivalents, and
contributes to future bilingual proverb and linguistic dictionaries.
vi
中葡谚语和惯用语中女性角色的对比研究
摘要
,
谚语和惯用语是独特的语言现象,历史悠久代代相传,映射出一个民族的文
化和传统。中国和葡萄牙两国在历史文化、风俗习惯、社会环境、宗教信念等方
⑧
面存在差异,因此两国的谚语和惯用语存在对比性。
笔者从跨文化的角度,对比汉语和葡语中关于女性家庭角色和女性地位的谚
θ
语和惯用语,探究两国传统文化中女性形象和地位的异同,并分析其中的历史和
θ
社会原因。此外本文也尝试研究中葡的对等翻译,对今后的双语谚语和惯用语字
典做出贡献。
~
关键词:跨文化和对比研究;女性家庭角色;性别歧视;谚语和惯用语;中葡用
语对等
vii
一
Índice
Introdução......................................................................................................................1
1.2.2 成语 (chéngyǔ).............................................................................................13
1.2.3 谚语 (yànyǔ)................................................................................................ 14
1.2.5 格言(géyán)................................................................................................... 15
viii
Capítulo IV. A imagem discriminatória da mulher e a imagem de homem que
pressupõe.....................................................................................................................42
Anexo........................................................................................................................... 60
Referências Bibliográficas........................................................................................... 62
ix
Introdução
1
Os provérbios e os idiomatismos refletem o refinamento – tanto formal como
conceptual – da experiência do povo, a partir da qual se pode observar a cultura e a
tradição de uma nação. Neste contexto, obviamente a mulher e o universo feminino
constituem sempre elementos incontornáveis. A presente dissertação visa analisar
os provérbios e idiomatismos relacionados com a mulher em português e em chinês
para que possamos observar as diferenças e semelhanças relativamente à condição
feminina e às figuras femininas na família em ambos os países, bem como
aprofundar as respetivas causas e estudar os aspetos linguísticos envolvidos na
transmissão de tais ideias, mentalidades e contingências e no plasmar de certos
aspetos históricos e socioculturais dos tempos antigos. Para que este objetivo possa
concretizar-se, num campo de estudos em que pouco ainda foi feito, haverá que ter
outro mais complexo em consideração: a busca e o estabelecimento de equivalentes
o mais possível fiéis para os idiomatismos e sobretudo provérbios relativos a esta
temática e selecionados em cada uma das línguas. Tendo em conta a dificuldade
desse trabalho, em que Joaquim Gonçalves foi um dos pioneiros para o caso do
chinês e do português — Gonçalves, Arte China (1829); Diccionario Portuguez-China
(1831); Diccionario China-Portuguez (1833), e ainda, do mesmo autor, o manuscrito
BNP 7975, editado com grafia atualizada em O Método de Joaquim Afonso Gonçalves
para o ensino-aprendizagem do Chinês e do Português (Barros e Ng Cen, 2017), —
propomo-nos contribuir para dar-lhe continuidade oferecendo um conjunto de
equivalentes que nos pareçam exatos.
A presente dissertação desenvolver-se-á através da análise documental,
essencialmente com base na leitura integral das obras lexicográficas de referência
em português e em chinês, aplicando-se o método contrastivo ou de comparação.
Ter-se-ão em consideração, não apenas os dicionários de idiomatismos e provérbios
monolingues, em toda a sua variedade, mas igualmente obras pioneiras no âmbito
dos estudos contrastivos e descritivos em chinês e português como os dicionários e
gramáticas de Joaquim Afonso Gonçalves, que incluem já vários idiomatismos, seja
com equivalentes nas duas línguas, seja com uma explicação ou frase corrente em
uma delas, integrando a gramática (Arte China, Gonçalves 1829), bem como a obra
2
manuscrita que a antecedeu (ms. BNP 7975; Barros e Ng 2014; 2015), em particular
o capítulo intitulado Provérbios. Selecionados manualmente todos os provérbios e
idiomatismos com interesse para a temática deste trabalho, serão os mesmos
aprofundados e analisados com vista à classificação e sistematização das questões
que levantam, das temáticas a considerar e dos traços linguísticos mais relevantes.
Com o intercâmbio cultural China-Portugal cada vez mais aprofundado, são já
muitos os que se focam na análise contrastiva das duas línguas, inclusive no âmbito
dos provérbios e idiomatismos. É disso exemplo o estudo intitulado Contributos para
o estudo contrastivo de provérbios e idiomatismos em português e chinês: as obras
metalinguísticas de Joaquim Afonso Gonçalves (Mao, 2018), em que se analisam
alguns provérbios e idiomatismos chineses, bem como os seu equivalentes, mera
tradução em chinês ou somente algumas explicações, oriundos das obras do Padre
Joaquim Afonso Gonçalves, identificando e explicando as diferenças culturais entre a
China e Portugal. A obra Provérbios e expressões idiomáticas em português e chinês
(Liu, 2012) procura abordar a diferença entre provérbio e idiomatismo e analisa um
corpus em português e chinês, bem como o seu aspeto comum: a metáfora e as
características culturais neles e nela refletidas. Além disso, oferece alguns
contributos no que toca à tradução. A dissertação intitulada Provérbios com animais
em chinês e português: estudo contrastivo (Lv, 2018) estuda as características dos
provérbios do ponto de vista sintático-semântico e prosódico, além de abordar o
contexto sociocultural subjacente aos provérbios chineses e portugueses com
animais, ajudando os estudantes a compreendê-los e usá-los adequadamente. Existe
ainda uma dissertação de mestrado recente relacionada mais concretamente com o
assunto que aqui nos ocupa: Provérbios e sexismo: um estudo intercultural entre
Portugal e a China (Sun, 2017). Nele se comparam, em vários aspetos negativos, os
provérbios chineses e portugueses relativos à mulher, bem como os fatores culturais
do sexismo, no entanto, este trabalho é muito devedor de uma dissertação anterior
em chinês — Sexismo em provérbios chineses e ingleses (Rong, 2007), em alguns
casos mesmo mera tradução, não tendo esta autora sido sequer citada. O contributo
positivo é ter apresentado um conjunto de equivalentes portugueses para os
3
provérbios que se achavam tratados em chinês e em inglês na obra original.
Existem duas dissertações que se centram mais especificamente na análise dos
papéis familiares femininos, mas envolvendo apenas as línguas chinesa, árabe e
russa. Na primeira, que se intitula Estudo contrastivo de conotação cultural de shúyǔ
chineses e árabes relativos à mulher (Al-Krimeen, 2018), analisam-se os papéis de
filha, esposa e mãe, bem como as características internas e externas femininas da
cultura chinesa e árabe que essas construções linguísticas pressupõem. Na segunda,
intitulada Estudo contrastivo da figura feminina em provérbios chineses e russos
(Zhang, 2018), estudam-se várias facetas femininas, como as de filha, esposa, mãe,
viúva, madrasta, avó, sogra, casamenteira e bruxa, apresentando os papéis de mãe,
esposa e viúva diversas categorias, tanto positivas como negativas.
Em suma, não existem ainda trabalhos que se debrucem sobre os provérbios e
idiomatismos em português e chinês acerca do tratamento da mulher na
paremiologia e dos papéis familiares que a mulher desempenha ao longo da vida,
conforme transparece nos provérbios e idiomatismos.
A presente dissertação acha-se dividida em quatro capítulos. No primeiro faz-se
a dilucidação dos conceitos de provérbio e idiomatismo, com breve observação das
diferenças e semelhanças entre eles. No segundo apresenta-se uma proposta de
corpus bilingue de provérbios e idiomatismos, com o objetivo de contribuir para a
construção de um futuro dicionário de provérbios português-chinês. No terceiro
capítulo analisa-se detalhadamente a presença feminina em provérbios e
idiomatismos, comparando-se as figuras femininas chinesas e portuguesas em
família, desde a infância até à velhice, incluindo os papéis de filha, esposa, nora, mãe,
madrasta, sogra e viúva. No quarto, como o estudo do capítulo anterior nos permite
observar a existência de imagens preconceituosas e discriminatórias da figura
feminina ao longo dos tempos, analisam-se as representações negativas de mulher
chinesa e portuguesa, ou seja, o sexismo, bem como aspetos relacionados com a
valorização de mulher, atentando-se nos âmbitos da esfera sociocultural e
existencial em que tal acontece. Por fim, analisa-se também a imagem do homem
que se deixa adivinhar e pressupor nesse tratamento da figura feminina — ou seja,
4
que tipo de homem se deixa ver e avaliar por detrás dos provérbios que falam de
mulheres e as tratam e avaliam de um determinado modo.
5
Capítulo I
Dilucidação dos conceitos de provérbio
e idiomatismo em chinês e em português
6
A língua transmite não apenas informações, mas também ideias sobre nós
mesmos. Tal como afirmou o filósofo alemão Johann Gottlieb Fichte, a língua de um
povo é a sua alma. A língua de um povo tem uma forte relação com a própria cultura,
permitindo-nos saber a sua forma de pensar, as opiniões sobre alguém ou algo. E
mais ainda: existe funcionalmente para tanto: englobar a cultura, comunicá-la e
transmiti-la (Câmara, 1955).
Pensando mais especificamente, o que é que, dentro da língua, consegue
transmitir ideias em bloco por longo tempo, de geração em geração? Obviamente, a
resposta inclui os provérbios e expressões idiomáticas, através dos quais as pessoas
hoje em dia podem ainda tomar conhecimento do passado. Por essa razão, a
presente pesquisa visa analisar os provérbios e expressões idiomáticas aludindo de
algum modo à figura da mulher em português e em chinês, no sentido de realizar um
estudo contrastivo. Em vista disso, vale a pena começar por aclarar as definições
desses elementos chave deste trabalho, ou seja, a definição de provérbio, de
idiomatismo e de lexemas semelhantes, sobretudo no que ao chinês diz respeito.
Adicionalmente, resumem-se as principais características e as diferenças entre eles.
1.1.1 Provérbio
em que falta o pão, todos gritam e ninguém tem razão); comparações (Casa tua filha
como o filho do teu vizinho) ou pleonasmos (Em abril, águas mil).
Os provérbios são pensamentos muito aperfeiçoados em termos formais (de
som, de vocabulário, de estrutura), também porque têm que ser fáceis de repetir, de
memorizar, atrativos, e porque, ao serem repetidos, ficam cada vez mais
aperfeiçoados, mais “destilados”, perdendo elementos excedentários, por isso
apresentam muitas vezes elisão do verbo (por exemplo, Casa de pais, escola de
filhos). Incluem frequentemente vocabulário antigo, que, por ser muitas vezes
repetido, ficou neles cristalizado ou conservado (por exemplo, já praticamente
ninguém usa o substantivo bragas para significar ‘cuecas ou calções interiores de
algodão’, mas ainda se repete o provérbio Não se pescam trutas a bragas enxutas
para se significar que é preciso esforçar-se e mesmo sofrer algum risco e
consequências, estéticas, psicológicas, etc., para se alcançar aquilo que se pretende,
não se pode simplesmente ficar na área de conforto, sem se arriscar ou fazer
esforços.
Inúmeros especialistas têm tentado definir o provérbio com precisão, porém as
opiniões são variáveis. Na verdade, muitos acabam por não definir precisamente
para não incorrerem em uma definição incompleta e insatisfatória (Xatara & Succi,
2008: 34). Atentemos nas definições de provérbio provenientes de dicionários de
Portugal e do Brasil.
O Dicionário Priberam da Língua Portuguesa (DPLP) oferece uma definição
muito sucinta: "Máxima expressa em poucas palavras e tornada vulgar".1 O
Dicionário do Português Atual Houaiss (2011) define-o da seguinte forma: "Frase
curta, de origem popular, frequentemente com ritmo e rima, rica em imagens, que
sintetiza um conceito a respeito da realidade ou uma regra social ou moral". Claudia
Maria Xatara e Thais Marini Succi revisitam e desenvolvem esse conceito de
1
Definição no Dicionário Priberam da Língua Portuguesa,
https://dicionario.priberam.org/prov%C3%A9rbio [consultado em 15-02-2019]
8
provérbio:
Para nós provérbio é uma unidade léxica fraseológica fixa, e consagrada por
determinada comunidade lingüística, que recolhe experiências vivenciadas em
comum e as formula como um enunciado conotativo, sucinto e completo,
empregado com a função de ensinar, aconselhar, consolar, advertir, repreender,
persuadir ou até mesmo praguejar.
(Xatara & Succi, 2008: 35)
Provérbio Idiomatismo
É uma frase completa e fixa com Geralmente é uma locução fixa ou uma
estrutura revelando certa perfeição frase
formal
Pode-se ler no sentido literal Não se pode basear só em leitura literal
Contém experiência e sabedoria Às vezes sofre alterações ou adaptações,
10
populares, de maneira a ensinar, ao nível da flexão verbal, do sujeito ou de
persuadir ou até praguejar, e pode outro elemento, sendo usadas
usar-se formalmente frequentemente na linguagem informal
11
É uma espécie de 熟 语 (shúyǔ). Um tipo de expressão fixa e curta,
habitualmente usada na linguagem falada, muitas vezes com três sílabas e
significados metafóricos.
1.2.2 成语 (chéngyǔ)
Locução ou frase fixa usada por povos há bastante tempo, possuindo forma
concisa e significado exato, composta geralmente por quatro carateres. Tem
sempre a sua própria origem e contexto.
2
O romance escrito por Li Yuzhen, um literato da dinastia Qing.
13
1.2.3 谚语 (yànyǔ)
14
O 歇后语 (xiēhòuyǔ) é uma forma de linguagem especial e exclusiva da cultura
chinesa, e pode ser visto como um jogo de palavras que está intimamente ligado ao
dia-a-dia do povo. Segue-se a sua definição no Dicionário de Xinhua (2001: 1087):
1.2.5 格言 (géyán)
3
É o livro doutrinal mais importante do confucionismo.
16
Capítulo II
Corpora dos provérbios selecionados
para estudo em português e em chinês
17
A fim de efetuar a seleção dos provérbios e idiomatismos, percorri vários
dicionários portugueses, tais como o Dicionário de provérbios, adágios, ditados,
máximas, aforismos e frases feitas (Santos, 2000), o Dicionário de provérbios (Silva &
Quintão, 1990), o Dicionário aberto de calão e expressões idiomáticas (Almeida,
2018), o Dicionário de Expressões Populares Portuguesas (Simões, 2000), O grande
livro dos provérbios (Machado, 2011) e o Dicionário de expressões correntes (Neves
& Constantino, 2000), bem como dicionários chineses: Integração do Provérbio
Chinês 《中国谚语集成》 (zhōngguó yànyǔ jíchéng), Dicionário de Provérbios de
Xinhua 《新华谚语词典》 (xīnhuá yànyǔ cídiǎn), Conjunto de Provérbios Chineses
《 中 国 谚 语 大 全 》 (zhōngguó yànyǔ dàquán), Grande Dicionário de Provérbios
Chineses 《中华谚语大辞典》 (zhōnghuá yànyǔ dàcídiǎn), Dicionário de Ditados
Populares Chineses 《中国俗语大辞典》 (zhōngguó súyǔ dàcídiǎn), Dicionário de
Idiomatismos Comuns 《 常 用 惯 用 语 辞 典 》 (chángyòng guànyòngyǔ cídiǎn),
Dicionário de Xiēhòuyǔ e Provérbios 《歇后语和谚语词典》 (xiēhòuyǔ hé yànyǔ
cídiǎn), Grande Dicionário de Chéngyǔ 《中华成语大词典》 (zhōnghuá chéngyǔ
dàcìdiǎn). Além disso, pesquisaram-se ainda e reuniram-se exemplos soltos em
páginas Web, sítios e blogues, entre outros.
Pesquisou-se primeiro mais sistematicamente para cada língua e depois os
raros contributos existentes já bilingues, incluindo aqui sobretudo a obra Arte China
(1829) do padre Joaquim Afonso Gonçalves4, bem como a dissertação de Sun (2017).
O padre Joaquim Gonçalves foi um dos pioneiros na busca de equivalência para os
provérbios e idiomatismos em português e chinês; no capítulo VI da sua obra Arte
China apresentam-se provérbios chineses muitas vezes com explicação em
português, em vez de se oferecer um provérbio ou idiomatismo da língua
portuguesa. Quer dizer, não é nada fácil encontrar equivalentes de provérbios e
idiomatismos entre ambas as línguas, devido aos fatores culturais, históricos e
sociais diferentes. Posto isso, tendo em conta que hoje em dia não se encontra um
dicionário bilíngue específico que colete provérbios portugueses e chineses com os
seus respetivos equivalentes, procurei dar o meu contributo oferecendo sempre que
4
Foi missionário e sinólogo português, tendo muita importância no contexto cultural sino-português no século XIX
18
possível neste trabalho um conjunto de equivalentes que me pareçam exatos.
Para alcançar esse objetivo, o passo mais importante é evidentemente a
compreensão dos exemplos selecionados, para tanto, além de ter consultado os
dicionários monolingues chineses e portugueses, recorri também a muitos
informantes nativos portugueses para me explicarem o significado de uns exemplos,
pois tive alguma dificuldade de compreensão de algumas das expressões e frases
fixas portuguesas. Posto isto, socorri-me ainda de obras sobre a língua francesa,
portuguesa e inglesa, tais como o Dicionário de Provérbios - Francês / Português /
Inglês, bem como outros dicionários bilíngues chinês-inglês: Coleção de Chéngyǔ e
Provérbios com Tradução Inglesa 《汉英成语谚语汇编》 (hànyīng chéngyǔ yànyǔ
huìbiān), Dicionário Chinês-Inglês de Chéngyǔ 《汉英汉语成语用法词典》 (hànyīng
hànyǔ chéngyǔ yòngfǎ cídiǎn), com o intuito tanto de encontrar equivalentes como
de obter explicações adequadas, tendo em conta que muitas vezes a tradução literal
não serve, mas sim uma explicação adaptada. Por exemplo, 嫁鸡随鸡,嫁狗随狗
(jiàjī suíjī, jiàgǒu suígǒu), pode traduzir-se literalmente como ‘casa-se com galo e
segue-o, casa-se com cão e segue-o’, no entanto esta expressão significa ‘uma vez
que a mulher se casa com o homem, ela deve ser fiel e obediente a ele para sempre,
independentemente de todas as circunstâncias’, conforme a explicação em inglês.
Assim, foi possível constituir e propor a partir do meu trabalho um pequeno
corpus bilingue de provérbios e idiomatismos, para além de outros que se vão
explicando e procurando traduzir ao longo desta investigação:
Em Português Em Chinês
Filha crescida dá-lhe marido. 女大当嫁
(nǚdà dāngjià)
女大不中留
(nǚdà búzhōngliú)
19
Do homem a praça, da mulher a casa. 男主外,女主内
(nán zhǔwài, nǚ zhǔnèi)
Tal pássaro, tal ovo. 有其母必有其女
Tal mãe, tal filha. (yǒu qímǔ bìyǒu qínǚ)
A mulher é um animal de cabelos 头发长,见识短
compridos e ideias curtas. (tóufā chǎng, jiànshí duǎn)
Mãe aguçosa, filha preguiçosa. 娘勤必养懒姑娘
(niángqín bìyǎng lǎngūniáng)
Menino da mamã (em português 娇生惯养
brasileiro, Filho da mamãe). (jiāoshēng guànyǎng)
20
Capítulo III
Principais papéis femininos familiares
21
A presença do feminino em provérbios e expressões idiomáticas é bastante
forte e permite muito claramente distribuir essa figura por vários papéis. Na verdade,
os principais papéis que a mulher desempenha durante a vida toda são os de filha,
esposa, mãe. Além disso, nora e viúva aparecem também com frequência. Esses
provérbios e expressões idiomáticas referem-se a temas diferentes, destacando
questões ligadas à mulher em família e sociedade.
Portugueses:
1) A peixe fresco gasta-o cedo e à tua filha crescida, dá-lhe marido.
鱼要趁着新鲜吃,长大的女儿要嫁人。
2) Casa caiada, filha casada.
粉刷房子,女儿出嫁。
3) Com a verdade e com a mentira casa a velha a sua filha.
用真相和谎言把大龄女嫁出去。
4) Filha crescida dá-lhe marido.
女大当嫁。
5) Batatas e filhas não se querem greladas.
不要发芽的土豆和大龄的女儿。
6) Quem não tem marido, não tem amigo
没有丈夫的人没有朋友。
Chineses:
1) 男大当婚,女大当嫁。
22
Tanto o homem quanto a mulher devem casar ao atingir a maioridade.
2) 女大不中留。
3) 天要下雨,娘要嫁人5。
Provérbios como estes deixam ver que tanto a cultura tradicional chinesa como
a portuguesa partilhavam a mesma ideia em relação ao casamento: casar a filha o
mais cedo possível. A história confirma-o, tal como refere Sousa (2008: 164), “no
século XIV, quando a Igreja Católica já possuía o monopólio jurídico sobre o
matrimônio, o Direito Canônico fixou a idade mínima para o casamento: 12 anos
para a moça e 14 anos para o rapaz”. Enquanto isso, na China antiga os rapazes
casavam-se com a idade de 15 e 16 anos, 12 e 13 anos para as moças (Zhuang, 1996).
Caso a rapariga não casasse na idade adequada, provocaria polêmica e os seus pais
sofreriam críticas oriundas tanto da sociedade como do próprio governo.
Tendo em conta que mais cedo ou mais tarde a filha ia casar-se e sair da casa
dos pais, de modo a viver com o seu marido, era considerada muitas vezes uma
consumidora, sustentada pelos pais até estar casada, e o pior é que os pais ainda
deviam oferecer o dote6 ao noivo para arranjar o casamento: “O dote era
importante para conseguirem casamento, ter ou não dote podia determinar o futuro
da mulher” (Araújo, 2011: 14). Dito de outra maneira: sem dote, sem casamento. Tal
costume causava frequentemente dificuldades financeiras à família da rapariga.
Coincidentemente, encontra-se também o dote na tradição do casamento chinês, o
qual condicionava não apenas a honra da família, mas também uma melhor
condição na vida após o casamento (Diao, 2007). Pela mesma razão, na maioria dos
casos a sociedade tradicional chinesa desvalorizava a filha, considerando-a sempre
5
Há duas explicações em relação a 娘 (niáng), uma referente a 'mãe', outra a 'rapariga'.
6
Bens e dinheiro oferecidos ao noivo pela família da noiva, cuja administração é da responsabilidade do noivo.
23
como “赔钱货 (péiqián huò)”, ‘mercadoria que causa prejuízo’ (Zhang, 2018).
Existem diversos provérbios chineses e portugueses relacionados com os
aspetos acima mencionados.
Portugueses:
1) Casa o filho quando quiseres e a filha quando puderes.
儿子结婚易,女儿结婚难。
2) Filha má, dota-a e casa-a.
坏女儿,要给她嫁妆,让她嫁人。
3) Quem casa filha, depenado fica / Filha casada, casa depenada.
谁嫁女儿,会被敲诈一笔。
4) Parto ruim, filha no fim / Mau parto, filha ao cabo.
糟糕的分娩,生的是女儿。
Chineses:
1) 强盗不进五女之家。
Os bandidos não assaltam a casa que tem cinco filhas.
2) 家有两个女,连娘三个贼。
Duas filhas e uma esposa são três ladrões.
3) 嫁出去的女儿泼出去的水。
Filha casada é como água jogada/deitada fora.
4) 闺女是狼,吃塌她娘。
A filha é como um lobo, come toda a fortuna da mãe depois do casamento.
1) 生男可喜,生女不忧。
É alegre ter filho, e não é triste ter filha.
2) 传男不传女。
Os bens e a habilidade passam para o rapaz e não para a rapariga.
Chineses:
1) 无梁不成屋,无妻不成家。
Casa sem viga, não é uma casa; família sem esposa, não é uma família.
2) 家无女人如庙堂,人没媳妇如和尚。
Casa sem mulher é como um templo, homem sem mulher é como um monge.
Português:
25
1) Casa sem mulher, corpo sem alma.
家里没有妻子,好比身体没有灵魂。
Portugueses:
1) Amizade de sogra e de nora, só dos dentes para fora.
婆婆和儿媳间的友谊,只是说说而已。
2) Duas coisas matam de repente: vento pelas costas e a sogra pela frente.
有两件事是致命的:背后吹来的风和面前的婆婆。
3) Venha a minha nora, mas venha cada dia e não cada hora.
来吧我的儿媳妇,但每天来就好,不要每时每刻都来。
4) Quem na casa da mãe não atura na da sogra não espere ventura.
若在妈妈家里都不能忍受,在婆婆家里就不要期望幸福了。
5) Boa casada é a que não tem sogra nem cunhada.
28
没有婆婆和妯娌的婚姻才幸福。
Chineses:
1) 家里和不和,但看儿媳和婆婆。
A harmonia familiar depende da nora e da sogra.
2) 跟着婆婆吃肉,不如跟着爹娘受穷。
Sofrer com os pais é melhor do que viver com sogra rica.
3) 好性婆婆不如歹性娘。
A mãe antipática é melhor do que a sogra simpática.
4) 姑娘好过,媳妇难熬。
A vida da rapariga é agradável, mas a da nora é sofrimento.
5) 多年媳妇熬成婆。
Mesmo uma nora submissa um dia tornar-se-á uma sogra dominadora.
O amor materno é valioso e altruísta, pois a mãe dá à luz uma nova vida e ela
própria sofre com a gravidez, bem como com a dor do parto. Badinter (1985: 19)
chama a atenção para o facto de se identificar esse amor com a própria natureza da
29
mulher: “O amor materno foi por tanto tempo concebido em termos de instinto que
acreditamos facilmente que tal comportamento seja parte da natureza da mulher,
seja qual for o tempo ou o meio que a cercam”. A figura da mãe ocupa um lugar
extremamente importante entre todos os papéis analisados, sendo particularmente
abundantes os provérbios a respeito da maternidade, num registo valorizador e de
elogio, tanto em chinês como em português. A mãe é única, e há provérbios
aludindo à sua exclusividade, singularidade e amor eterno e incondicional.
Portugueses:
1) Mãe há só uma.
母亲只有一个。
2) Não há amor como o de mãe.
母爱独一无二。
3) Quem tem uma mãe tem tudo, quem não tem mãe, não tem nada.
有母亲的人拥有一切,反之则一无所有。
Chineses:
1) 母爱如海。
O amor materno parece o mar.
2) 吃遍天下盐好,走遍天下娘好。
Entre os pratos que experimentei, o que tem sal é ótimo;
viajei pelo mundo todo e descobri que a mãe é a melhor.
3) 儿不嫌母丑。
O filho nunca acha a sua mãe feia.
30
Portugueses:
1) Peidos dos filhos não cheiram aos pais.
父母闻不到孩子的屁臭。
2) Casa de pais, escola de filhos.
父母的家是孩子的学校。
Chineses:
1) 可怜天下父母心。
Somente os pais se preocupam com os filhos.
2) 父母恩比天大。
A graça dos pais é maior do que o céu.
3) 养儿方知父母恩。
Só entendemos o valor dos pais quando criamos filhos.
Portugueses:
1) A abelha-mestra não tem sesta, e se a tem pouca e depressa. (sendo a
abelha-mestra metáfora representativa da imagem da mãe)
蜂王没有午睡,如果有也很短。
2) Uma mãe é para cem filhos, mas cem filhos não são para uma mãe.
一位母亲属于一百个孩子,但是一百个孩子不都属于母亲。
3) Mãe acautelada, filha bem guardada.
31
谨慎的母亲守护好女儿。
Chineses:
1) 儿行千里母担忧。
A mãe preocupa-se sempre com os filhos quando estão longe de casa.
2) 打在儿身,疼在娘心。
Bater nos filhos faz com que a mãe sinta dor no coração.
Com tanto amor pelos filhos, a certo momento o afeto podia transformar-se em
mimo, perdendo-se o equilíbrio entre o amor e a disciplina. Um possível resultado de
ser-se mimado, um jeito errado de amar, é não se saber retribuir o amor e tornar-se
preguiçoso, como demonstra um dos provérbios acima mencionados: Uma mãe é
para cem filhos, mas cem filhos não são para uma mãe, bem como Mãe aguçosa,
filha preguiçosa, equivalente ao provérbio chinês 娘 勤 必 养 懒 姑 娘 (niángqín
bìyǎng lǎngūniáng).
Existem várias expressões e frases idiomáticas portuguesas sobre o mimo da
mãe e os filhos pouco independentes: Filho da mamã, mãe coruja, mãe galinha, não
sair debaixo das saias da mãe.
Paralelamente, também se pode encontrar o fenómeno do mimo em
expressões chinesas populares. A expressão idiomática 小祖宗 (xiǎo zǔzōng) é um
típico exemplo, significando literalmente ‘o pequeno antepassado’. Quer dizer, os
filhos são considerados pelos pais como o seu antepassado, a quem prestam muita
atenção e cuidados. Usa-se em ocasiões em que os filhos são traquinas e
desobedientes, e os pais ou outros adultos queixam-se disso dizendo-lhes 小 祖 宗
(xiǎo zǔzōng). Trata-se de uma forma de tratamento cheia de amor e mimo. Trata-se
de trazê-los nas palminhas, tratamento muito comum quando se trata d' o benjamim
da família, o filho mais novo. Adicionalmente, há vários 成 语 (chéngyǔ) que
refletem também a realidade do mimo, por exemplo 娇 生 惯 养 (jiāoshēng
guànyǎng, ‘ser mimado desde a infância’), 掌上明珠 (zhǎngshàng míngzhū, ‘uma
pérola preciosa guardada na palma da mão’), que é uma forma metafórica de se
32
referir aos filhos amados pelos pais, sobretudo à filha.
Tradicionalmente, além de cuidar da vida quotidiana da família, a mãe assume
também a responsabilidade de criar e educar os filhos, sendo o seu primeiro
professor da vida. Há um 成 语 (chéngyǔ) que diz respeito à dedicação da mãe à
educação dos filhos: 孟母三迁 (mèngmǔ sānqiān, ‘mãe de Mêncio, três mudanças
de casa’). A expressão está relacionada com o famoso filósofo chinês do
confucionismo Mêncio, cuja mãe mudou três vezes de casa para encontrar o lugar
adequado onde pudesse criá-lo. Observem-se mais provérbios e 成 语 (chéngyǔ)
acerca deste aspeto.
Portugueses:
1) A filha da onça tem pintas que nem a mãe.
美洲豹的女儿和母亲一样有斑点。
2) Tal pássaro, tal ovo.
有其母必有其女。
3) Cabra que vai à vinha, onde pula a mãe, pula a filha.
去葡萄园的山羊,女儿跟着母亲跳跃。
4) De boa cepa a vinha, de boa mãe a filha.
好葡萄秧造就葡萄园,好母亲造就女儿。
Chineses:
1) 有其父必有其子,有其母必有其女。
Tal pai, tal filho. Tal mãe, tal filha.
2) 苗好米好,娘好女好。
De bom rebento o arroz, de boa mãe a filha.
3) 娘勤女不懒。
Mãe trabalhadora, filha não preguiçosa.
4) 买屋看梁,娶妻看娘。
Observe a viga se quiser comprar uma casa; observe a mãe se quiser casar com a
filha.
33
5) 母慈子孝。
Mãe bondosa cria filhos que têm amor filial.
Ao falar da madrasta, vem sempre à mente uma imagem ruim, por exemplo a
madrasta da Cinderela e da Branca de Neve. Curiosamente, enquanto a mãe recebe
elogios, outra mulher que entre na família vinda de fora, a madrasta, recebe
frequentemente avaliação negativa, sendo invariavelmente considerada como uma
vilã, o que é um estereótipo para a mulher. Tal como refere Mello (2017: 24), tem
tudo a ver com a discriminação de género: “Vale ressaltar-se que, devido às
constantes cobranças sociais que costumam recair sobre as mulheres, o papel
desempenhado por uma madrasta é, normalmente, mais difícil que o de um
padrasto”. Trata-se de um aspeto comum entre a cultura chinesa e a portuguesa.
Atente-se nas aceções da palavra madrasta no Dicionário de Português Língua
Estrangeira (2012: 437):
Evidentemente, quem não convive bem com a madrasta são os enteados, por
não existir a relação biológica e por terem de aceitar um novo membro na família, a
quem é atribuída a função da maternidade. Desta maneira, a madrasta é
considerada pelos enteados como uma concorrente da sua mãe de sangue. Qualquer
sentimento positivo pela madrasta poderia ser uma traição à mãe. Na sequência
disso, muitas vezes a briga constante é inevitável. Há provérbios que espelham esta
situação:
7
叶限 (Yè Xiàn) é considerado como a Cinderela chinesa, sendo um conto que faz parte do romance《酉阳杂俎》(Yǒuyáng
Zázǔ).
8
Dinastia que reinou na China de 618 a 907.
36
Chengshi9. De acordo com o folclorista americano Jameson (2014, apud Jin), o conto
da Cinderela chinesa Ye Xian é 700 anos mais antigo do que o do Ocidente sobre o
mesmo tema da madrasta. De facto, na cultura chinesa a situação é semelhante, a
madrasta representa sempre uma figura negativa, que frequentemente tem a ver
com aversão, crueldade, invasor, maus tratos, tortura, entre outros. Tudo isso surge
igualmente refletido em provérbios e expressões idiomáticas. O idiomatismo 后娘心
(hòuniáng xīn) literalmente traduz-se como ‘o coração da madrasta’, e usa-se para
descrever aquele tipo de madrasta com intenção venenosa e malévola. Seguem-se
mais exemplos de provérbios chineses aludindo à figura da madrasta:
1) 春天后母面。
A primavera é como se fosse o rosto da madrasta. (O clima na primavera muda
constantemente)
2) 晚娘的拳头,云里的日头。
Tanto o punho da madrasta quanto o sol atrás das nuvens são cruéis.
3) 后娘心比蛇蝎狠。
O coração da madrasta é mais venenoso do que o da serpente e do escorpião.
4) 前娘添饭满盈盈,后娘添饭四角空。
O prato que a mãe prepara está muito cheio, o da madrasta está muito pouco.
1) 好女不嫁二夫。
Boa mulher não se casa com dois homens.
2) 饿死事小,失节事大。
Morte por fome é preferível a perda de castidade.
3) 一女不吃两家饭。
Mulher não come refeição dos dois homens.
10
Dinastia que reinou na China de 960 a 1279.
11
Tradução de 存天理,灭人欲 (cún tiān lǐ, miè rén yù).
38
4) 众臣不事二君,贞妇不事二夫。
Ministros não trabalham para dois imperadores, mulher de castidade não serve
dois maridos.
1) 寡妇改嫁,儿女受骂。
Viúvas casadas (de novo), filhos insultados.
2) 寡妇门前是非多。
Há muitos escândalos diante da porta de uma viúva.
3) 疾风暴雨,不入寡妇之门。
Não entre na casa da viúva, mesmo em tempo de tempestade.
4) 寡妇赶集——没人也没钱。
A viúva vai à feira – não tem acompanhamento nem dinheiro.
No caso de Portugal, há um provérbio que diz: Viúva é barco sem leme. A vida
muda completamente por causa da perda do companheiro, já que tradicionalmente
era o homem que sustentava a família. Sem apoio do marido, a viúva tornou-se mais
vulnerável e podia sofrer uma certa discriminação, por exemplo em relação aos seus
filhos: Filho de viúva, malcriado ou mal-acostumado. Quanto a si própria, diz-se:
Viúva de estrada nem viúva nem casada.
Por outro lado, em Portugal, a nível religioso e civil, permitiam-se as segundas
núpcias dos viúvos. Em vista disso, para as viúvas, nomeadamente as que têm
dificuldade financeira, era possível que recorressem ao segundo casamento.
Vejam-se os provérbios que demonstram esta realidade:
40
理智的寡妇总是疯狂得要再婚。
41
Capítulo IV
A imagem discriminatória da mulher
e a imagem de homem que pressupõe
42
De acordo com Furlanetto (1981: 120), “a língua não só reflete a ideologia da
cultura como também é segmento material dessa cultura”. A partir daí, nota-se que
a discriminação e o preconceito em relação à mulher, ou seja, a ideologia machista,
muitas vezes também partilhada pelas próprias mulheres assim dominadas, podem
ser refletidos na língua portuguesa e chinesa.
Diz-se que a língua portuguesa é machista, uma vez que o masculino possui
uma posição predominante conforme algumas regras gramaticais de concordância.
Posto isto, há também muitas expressões que demonstram preconceito contra a
mulher, por exemplo, no caso de uma rapariga que permaneça solteira além do
tempo normal para casar, usam-se idiomatismos como Ficar encalhada, Ficar para
tia, Solteirona. Por fim, no dia-a-dia muitos palavrões que frequentemente aparecem
estão também relacionados com a figura feminina.
A língua chinesa também reflete a ideologia machista. Antigamente o marido
chamava “内人” (nèirén), literalmente ‘pessoa dentro de casa’, à mulher na hora de
apresentá-la a outras pessoas. Tal forma de tratamento revela a posição inferior da
mulher, já que o seu papel se resume a cuidar dos assuntos domésticos, enquanto o
homem trata dos assuntos importantes e pesados. Outro exemplo tem a ver com a
filha; como foi referido no capítulo anterior, ela é considerada às vezes um tipo de
赔钱货 (péiqián huò, ‘mercadoria que dá prejuízo’). De acordo com Gu (2016), esta
ideologia machista também pode ser descoberta do ponto de vista linguístico. Basta
analisar a ordem dos substantivos homem e mulher quando aparecem juntos em
expressões, e é fácil reparar que a maior parte das vezes a palavra homem vem antes
de mulher, de acordo com o hábito de falar. Exemplificando, 儿 女 情 长 (érnǚ
qíngcháng, 儿 ‘rapaz’ e 女 ‘rapariga’), 夫唱妇随 (fūchàng fùsuí, 夫 ‘marido’, e
妇 ‘esposa’), 衣食父母 (yīshí fùmǔ, 父 ‘pai’ e 母 ‘mãe’), 男女授受不亲 (nánnǚ
shòushòu bùqīn, 男 ‘homem’ e ‘ 女 ’ mulher’). Tal fenómeno existe também em
expressões com animais, como 攀 龙 附 凤 (pānlóng fùfèng, 龙 ‘dragão’ e 凤
‘fénix’).
Na verdade, ao coligir exemplos de provérbios e idiomatismos chineses e
portugueses pode-se descobrir facilmente o facto de a figura feminina ser
43
habitualmente alvo de crítica negativa, ou seja, a existência ao longo dos tempos do
sexismo em desfavor da mulher. De entre todos os papéis analisados no capítulo
anterior, apenas a figura de mãe não sofre nenhuma crítica, sendo sempre alvo de
elogio. A seguir, apresenta-se uma análise no que se refere à imagem negativa da
mulher em geral.
Portugueses:
1) A mula e a mulher, com pancada se quer.
A mula e a mulher, com pau se quer.
A mulher e a mula o pau as cura.
O burro e a mulher a pau se quer.
女人和骡子/驴是棍棒打出来的。
Chineses:
1) 娶到的媳妇买到的马,由人骑来由人打。
A esposa é como um cavalo comprado, pode-se montá-la e espancá-la.
44
2) 打老婆,骂老婆,手内无钱卖老婆。
Bater e insultar a mulher, até vendê-la se não se tiver dinheiro.
3) 拳头底下出好妻。
Com o punho é que se tem uma boa esposa.
13
O sistema antigo chinês de exames para eleger governantes capazes.
14
http://donamariaprimeira.blogspot.com/search/label/14.05.31-primeiras%20escolas%20femininas
Consultado a 25-04-2019.
46
2) Livra-te... da mulher que sabe latim.
避开懂拉丁语的女人。
3) Mulher que sabe latim, mula que faz him raras vezes têm bom fim.
会拉丁语的女人和叫唤的驴,很少有好结果。
4) A mulher e a galinha por andar se perde asinha.
四处游荡的女人和母鸡会迷路。
5) Conselho de mulher é tonto, e quem o toma é louco.
Conselho de mulher vale pouco, e quem o toma é louco.
女人的建议很愚蠢,采纳它的人是疯子。
47
obra 《大戴礼记》15 (dàdài lǐjì), abarca as seguintes sete circunstâncias, ou seja, as
sete culpas que a mulher comete: não gerar filhos, cometer adultério, não ter
piedade filial para com os sogros, ser tagarela, praticar o roubo, demonstrar inveja,
ter uma doença grave. Este regime de divórcio aplicava-se universalmente pelo
menos desde a dinastia Han e começou a ser estipulado por lei desde a dinastia Tang
(Guo & Cui, 2010). Desta forma, existem provérbios atestando que o homem termina
o vínculo de casamento com a mulher:
1) 丈夫嫌妻一张纸,妻子嫌夫只有死。
O marido mandará a Carta de Divórcio se não gostar da mulher; a mulher apenas
recorrerá à morte se não gostar do marido.
2) 休妻毁地,到老不济。
Divorciar-se da mulher é como destruir a terra, ficará pobre na velhice.
3) 宁娶寡妇,不娶生妻。
Casar-se com viúva é preferível do que com mulher divorciada.
4) 有钱不娶活汉妻。
Não se case com mulher divorciada se tem dinheiro.
15
Um dos clássicos confucionistas, inclui os artigos de estudantes de Confúcio e eruditos confucionistas durante o Período dos
Reinos Combatentes.
48
1. A esposa não ter família parental para quem voltar depois do divórcio.
2. A esposa ter servido nos três anos de luto filial pelos pais falecidos do marido.
3. O marido ser pobre no momento do casamento, mas depois ter enriquecido.
1) 父母之命,媒妁之言。
Por ordem dos pais, casam-se os jovens através de ajuda da casamenteira.
2) 出嫁从亲,再嫁从身。
O primeiro casamento depende dos pais, o segundo depende de si mesmo.
Neste contexto, apesar de o homem não ter liberdade no casamento, tinha sim
o direito de se divorciar da mulher ou arranjar concubinas. Enquanto isso, a mulher
chinesa não tinha nem o direito de requerer o divórcio nem a liberdade no
casamento, devido à sua hierarquia inferior na sociedade feudal, sendo mais um
ponto em seu desfavor em comparação com a mulher portuguesa.
49
4.2 A evolução da posição feminina em Portugal e na China
Por fim, a lei não estava do lado da mulher. A história do direito português
começou com a invasão do Império Romano na Península Ibérica. O direito
português foi bastante influenciado pelo Direito Romano, no qual o homem era
superior à mulher na hierarquia. De acordo com Vieira (2012), “o machismo
português deve-se muito ao catolicismo romano, pois nele o império masculino é
explícito”.
50
Pode-se observar a evolução dos direitos da mulher portuguesa através da
legislação civil. Durante a monarquia absoluta (século XIV até 1820), a situação da
mulher era precária, destacando-se pela submissão ao marido, a maternidade e as
tarefas domésticas. Apesar das Grandes Navegações, período em que se precisava
de muita mão de obra para os Descobrimentos, as mulheres portuguesas não eram
permitidas a bordo, com exceção das mulheres da nobreza que conseguiam
autorização régia. A situação mudou quando as colónias necessitaram de presença
feminina, com a principal função de gerar herdeiros. Posteriormente, na monarquia
liberal (1820-1910), com o surgimento do Código Civil de 1867, houve uma pequena
melhoria da situação feminina em relação ao marido, aos filhos, bem como à
administração dos bens, apesar de o artigo 7º declarar que “a lei civil é igual para
todos, não faz distinção de pessoa nem de sexo, salvos os casos expressamente
enumerados” (1986, apud Guimarães). A Liga Republicana das Mulheres Portuguesas
foi criada em 1909, e no ano seguinte, com a proclamação da república em 1910,
deu passos importantes como a legalização do divórcio e o direito de acesso à
função pública, mas a mulher continuou sem direito de voto.
Durante o Estado Novo (1926-1974), houve várias restrições impostas à mulher.
“É um regime onde a mulher era o esteio da família, cabendo-lhe ser mãe, educar os
filhos e assistir o marido, do qual emanava a autoridade” (2000, apud Tavares). De
forma geral, houve recuos em relação aos direitos da mulher durante o período do
Estado Novo. A partir de 1975 a mulher começou a ter o direito de voto sem
qualquer restrição. Outro documento fundamental foi a Constituição de 1976, em
que a mulher adquiriu os direitos de igualdade perante os homens. Afinal de contas,
apesar dos avanços constantes e do facto de atualmente a Constituição consagrar a
igualdade de direitos para todos, esta luta continua, uma vez que na prática ainda
existe a desigualdade na sociedade quanto à mulher. Apesar das leis e do tempo, as
mentalidades machistas dificilmente se apagam.
No caso da China, acreditava-se desde a Antiguidade que há diferença entre o
homem e a mulher. E tal diferença não é apenas a nível fisiológico, mas também
uma ideologia profundamente radicada na cultura chinesa. Tendo em conta que a
51
economia da China antiga estava baseada na agricultura, e o homem era capaz de
obter mais vantagens na produção em relação à mulher, aos poucos ocupou a
posição predominante. De facto, a partir da dinastia Shang16, começou a valorizar-se
mais o homem do que a mulher. Por outro lado, de ponto de vista da filosofia, esta
ideologia da cultura tradicional chinesa em relação ao género proveio do Livro das
Mutações17, e mais especificamente da teoria Yin-Yang. Este conceito é uma
representação do princípio da dualidade de positivo e negativo. Enquanto Yang
representa o dia, luminoso, calor, forte, masculino, Yin representa a noite, o frio,
macio, escuro, feminino. Mesmo que os dois sejam opostos, acreditava-se que Yang
está na posição dominante e Yin na posição secundária. Ao pôr em prática esta
teoria em relação ao homem e à mulher, transformou-se na ideologia de que o
homem é superior à mulher (Zhang, 1988).
Posteriormente, a filosofia de Confúcio tornou-se a doutrina oficial da
monarquia chinesa a partir da dinastia Han (206 a.C. a 220 d.C.), e acabou por ajudar
a consolidar um papel de submissão e invisibilidade das mulheres, cuja maior virtude
seria a obediência, como demonstra a ética feudal das ‘três obediências e quatro
virtudes’. Ao longo do tempo, de forma geral, a mulher da monarquia detinha um
baixo estatuto social. “A prática como enfaixar os pés, surgida na dinastia Song
(960-1279), vista como um atributo de beleza e sexualidade pelos homens, persistiu
até às primeiras décadas do século XX, causando muitas mortes e uma vida
condenada à dor” (Prozczinski, 2017).
Com o fim da monarquia, em 1911, e a proclamação da República da China em
1912, os direitos femininos evoluíram bastante com os movimentos de libertação da
mulher, sob a influência do Ocidente, nomeadamente a educação feminina e a
liberdade no casamento sem restrição de casamento arranjado. Posteriormente
chegou a fundação da República Popular da China em 1949, o direito feminino teve
um enorme avanço, como deixa ver a frase famosa de Mao Tsé-tung: A mulher é
capaz de sustentar a metade do céu, e ficou afirmada em 1954 pela Constituição a
16
Uma dinastia chinesa antiga durante o período 1766 a.C.-1122 a.C.
17
易经(yì jīng), o primeiro livro chinês de filosofia, feito por volta do período de 1122 a.C.-1046 a.C.
52
igualdade de homem e mulher em todas as áreas, inclusive o direito de voto e a
candidatura às funções públicas. Atualmente há um sistema jurídico que protege os
direitos da mulher. Não obstante, devido à ideologia enraizada na cultura chinesa, a
desigualdade de género continua presente na sociedade chinesa, com a preferência
pelos filhos homens (nomeadamente em zona rural) e a desigualdade em aspetos de
emprego, educação, assédio sexual, política ou violência doméstica, entre outros.
53
doméstica, diminui a importância da esposa e a sua liberdade de expressão em
público, tendo uma atitude depreciativa em relação ao conselho e sabedoria
femininos. Enquanto pai, nomeadamente o pai chinês, não é justo perante os filhos,
dando mais importância ao filho do que à filha.
Perante o relacionamento complicado sogra-nora, o homem fica no meio
dessas duas mulheres importantes. Uma hipótese é ter uma atitude ambivalente,
causando dificuldades na resolução do problema. Por outro lado, muito
provavelmente o homem fica do lado da mãe pelo facto de ser mais velha e ser
admirada e respeitada por ele enquanto filho, enquanto a sua mulher se submete.
Portanto, há sempre uma nora que sofre e reclama pelo tratamento injusto.
54
Conclusão
55
Neste trabalho começou por se fazer a dilucidação dos conceitos de provérbio e
idiomatismo em chinês e em português, bem como de categorias afins, tendo-se
observado que, no português, o provérbio é uma frase completa e fixa com uma
estrutura que revela certa depuração formal, contendo experiência e sabedoria
populares de maneira a ensinar, persuadir ou até praguejar, e que pode ser
interpretado em sentido literal. Enquanto isso, o idiomatismo geralmente é uma
locução fixa ou uma frase, e não se pode basear só na leitura literal. Às vezes sofre
alterações ou adaptações, ao nível da flexão verbal, do sujeito ou de outro elemento,
sendo usado informalmente por um leque de falantes mais alargado, em
comparação com provérbio. No caso do chinês, o idiomatismo é um tipo de
expressão relativamente fixa e curta, habitualmente usada na linguagem falada,
muitas vezes com três sílabas e significados metafóricos, e nele pode-se mudar a
ordem das palavras e adicionar mais elementos conforme o contexto. O provérbio é
uma súmula da sabedoria e experiência geral do povo ao longo do tempo; divulga-se
oralmente entre as pessoas, podendo a maior parte ser entendida literalmente e
revelando uma estrutura aperfeiçoada e fixa, para ser repetido facilmente. Por fim,
uma categoria frástica muito próxima do provérbio que existe em ambas as línguas é
a máxima, uma frase de efeito que ganha fortuna e acaba por ser repetida por
muitos, podendo ou não partilhar as características formais de um provérbio, mas
partilhando o caráter filosófico, o conteúdo de sabedoria reconhecida, ainda que
possa ser de origem culta e literária, e não necessariamente popular; em chinês
coincidirá com o 格 言 (géyán), cujo autor é sempre explicitado, e que revela a
intenção de reger o comportamento, a ação e o pensamento.
Entre todos os exemplos recolhidos, abundam os provérbios como fontes
elucidativas da temática de que nos ocupamos neste trabalho, vindo a seguir os
idiomatismos e no final as expressões típicas chinesas conhecidas como 成 语
(chéngyǔ). No seu conjunto, todas estas formas fixas revelam uma íntima ligação ao
contexto sociocultural e histórico, apresentando-nos as imagens femininas
tradicionais de ambos os países. Além disso, o processo de tradução de todos os
exemplos recolhidos de provérbios e idiomatismos permitiu-nos perceber bem os
56
traços culturais e linguísticos, pois muitas vezes a tradução literal não é suficiente;
exige-se uma tradução na língua de chegada adequada e adaptada, considerando os
fatores interculturais de Portugal e da China; não obstante, ainda foi possível
apresentar alguns equivalentes bilingues de parte dos provérbios e idiomatismos
referidos neste trabalho, como se pode observar na tabela 2.
Como foi referido no início deste trabalho, os provérbios e idiomatismos
refletem a cultura e a mentalidade de uma nação. Entre os papéis femininos
familiares analisados, quase todos sofrem, de certa maneira, a discriminação e o
preconceito oriundos da sociedade antiga.
Em primeiro lugar, ambas as culturas tradicionais compartilhavam a
preocupação de casar a filha o mais brevemente possível, e tal ato enfrentava muitas
vezes dificuldades financeiras devido ao dote, o que fez com que a filha tivesse uma
posição desvalorizada, sobretudo na China antiga, período em que a filha era vista
como ‘mercadoria que causava prejuízo’, não tendo direito de herdar bens nem
habilidade profissional, enquanto se registava forte preferência por ter filhos
homens.
A seguir, o papel de esposa é extremamente importante entre os papéis
femininos familiares da China e de Portugal, sendo atribuídas à mulher
principalmente as funções de cuidar da família e manifestar a submissão ao marido.
Em comparação com a situação no Portugal antigo, a sociedade tradicional chinesa
exigia mais intensamente que a mulher seguisse vários padrões morais, tais como 三
从四德 (sāncóng sìdé), literalmente ‘três obediências e quatro virtudes’. Além disso,
outra diferença é que existia a figura da concubina na China antiga, cuja posição era
inferior à da esposa.
Diz-se que a maior parte dos conflitos familiares provém da relação sogra-nora,
e este estereótipo pode ser visto em provérbios e idiomatismos chineses e
portugueses. Muitas vezes, quem desempenha um papel negativo e duro é a sogra,
por ser faladora, exigente e dominadora, e também pelo facto de ser a mulher mais
velha e importante da família, merecendo o respeito de todos.
O único papel que recebe constantemente elogios é o de mãe, tanto na China
57
como em Portugal. Ambas as culturas valorizam bastante a sua exclusividade,
singularidade e amor eterno e incondicional. Quer dizer, a mãe faz seja o que for
pelos seus filhos, o que provavelmente implica o mimar dos filhos. O seu
comportamento e personalidade influenciam diretamente os filhos, pelo facto de a
mãe ser responsável por cuidar deles no dia a dia. Enquanto isso, outro tipo de
maternidade, a da madrasta, recebe uma visão depreciativa e a desvalorização tanto
na sociedade chinesa como na portuguesa, sendo comum a relação difícil com os
enteados. Muitas vezes a madrasta surge relacionada com termos feios e negativos.
Relativamente ao papel de viúva, esta encontrava-se tradicionalmente numa
situação ambivalente em ambos os países. Por um lado, era-lhe necessário casar de
novo, por causa da sua incapacidade financeira, por outro lado, enfrentava a crítica
de deslealdade ao marido morto. Sendo assim, era realmente uma figura feminina
desgraçada, sendo vítima de uma desvalorização injusta por parte da sociedade.
Após a análise de provérbios e idiomatismos em relação à figura feminina familiar
da China e Portugal, é fácil observar uma forte mentalidade sexista contra a mulher.
Tal fenómeno é comprovado em vários exemplos de provérbios e idiomatismos a
respeito de temas como a agressão à mulher, a sua ignorância e insignificância, bem
como a falta de liberdade no casamento e para o divórcio. Afinal de contas,
antigamente os papéis da mulher iam-se transformando com a idade, com atividades
focadas sempre na família e no ar, sofrendo a sua vida restrições relacionadas com a
sua capacidade financeira, a mentalidade machista, a religião, fatores físicos,
legislação, entre outros. Revelava uma posição inferior à do homem, sobretudo no
que tocava às mulheres chinesas na época antiga, cuja situação era mais desgraçada
do que a das mulheres portuguesas.
De forma geral, a situação da mulher e os seus respetivos direitos na China e em
Portugal apresenta hoje em dia significativas melhorias devido ao desenvolvimento
da sociedade e aos movimentos feministas constantes. Na verdade, a legislação de
ambos os países têm sofrido muitas alterações, de entre as quais muitas favorecem
a igualdade dos sexos. A meu ver, apesar de a legislação consagrar a igualdade para
todos, a questão atual é que na prática a mentalidade machista continua presente
58
na sociedade, e o facto é que hoje em dia muita gente continua a utilizar intencional
ou espontaneamente provérbios e expressões idiomáticas que insultam as mulheres,
desvalorizam e afetam os seus direitos. Existe ainda um longo caminho a percorrer
em busca de uma igualdade verdadeira em todos os aspetos.
59
ANEXO
Provérbio Idiomatismo
É uma frase completa e fixa com Geralmente é uma locução fixa ou uma
estrutura revelando certa perfeição frase
formal
Pode-se ler no sentido literal Não se pode basear só em leitura literal
Contém experiência e sabedoria Às vezes sofre alterações ou adaptações,
populares, de maneira a ensinar, ao nível da flexão verbal, do sujeito ou de
persuadir ou até praguejar, e pode outro elemento, sendo usadas
usar-se formalmente frequentemente na linguagem informal
Em Português Em Chinês
Filha crescida dá-lhe marido. 女大当嫁
(nǚdà dāngjià)
女大不中留
(nǚdà búzhōngliú)
Do homem a praça, da mulher a casa. 男主外,女主内
(nán zhǔwài, nǚ zhǔnèi)
Tal pássaro, tal ovo. 有其母必有其女
Tal mãe, tal filha. (yǒu qímǔ bìyǒu qínǚ)
A mulher é um animal de cabelos 头发长,见识短
60
compridos e ideias curtas. (tóufā chǎng, jiànshí duǎn)
Mãe aguçosa, filha preguiçosa. 娘勤必养懒姑娘
(niángqín bìyǎng lǎngūniáng)
Menino da mamã (em português 娇生惯养
brasileiro, Filho da mamãe). (jiāoshēng guànyǎng)
Filha casada, casa depenada. 闺女是狼,吃塌她娘
(guīnǚ shìláng, chītā tāniáng)
Madrasta, o diabo arrasta. 后娘心比蛇蝎狠
(hòuniángxīn bǐ shéxiē hěn)
61
Referências Bibliográficas:
http://natura.di.uminho.pt/~jj/pln/calao/dicionario.pdf Acedido a:
25/03/2019
http://www.redeblh.fiocruz.br/media/livrodigital%20(pdf)%20(rev).pdf
Acedido a: 17/02/2019
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Edição crítica de Anabela Leal de Barros, com Fixação dos caracteres chineses
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