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DIREITOS DE AUTOR E CONDIÇÕES DE UTILIZAÇÃO DO TRABALHO POR TERCEIROS

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Atribuição
CC BY

https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/

ii
AGRADECIMENTOS

Chegou o momento de agradecer a todas as pessoas que me ajudaram a


realizar este trabalho.
Agradeço sinceramente à minha orientadora da dissertação, a Professora
Doutora Anabela Leal de Barros, a sua paciência e dedicação, a orientação
responsável e cuidadosa, os conhecimentos que me transmitiu para ultrapassar as
dificuldades, bem como a sua imensa simpatia.
Um agradecimento especial à Professora Doutora Sun Lam, diretora do curso,
pela oportunidade que me deu de fazer o mestrado na Universidade do Minho e
pelo seu apoio, académico e pessoal.
A todos os docentes do Curso de Mestrado em Estudos Interculturais
Português-Chinês: Tradução, Formação e Comunicação Empresarial, pela sua
dedicação e pelos conhecimentos transmitidos.
Aos meus pais, quem sempre me apoiam incondicionalmente, pelo seu amor,
carinho e incentivo, aos amigos que sempre me encorajam.

iii
DECLARAÇÃO DE INTEGRIDADE

Declaro ter atuado com integridade na elaboração do presente trabalho académico e


confirmo que não recorri à prática de plágio nem a qualquer forma de utilização
indevida ou falsificação de informações ou resultados em nenhuma das etapas
conducentes à sua elaboração.
Mais declaro que conheço e que respeitei o Código de Conduta Ética da
Universidade do Minho.

iv
Estudo Contrastivo dos Provérbios e Idiomatismos Relativos à Mulher
em Português e Chinês

Resumo

Os provérbios e as expressões idiomáticas são fenómenos linguísticos exclusivos,


cuja história é longa. São transferidos de geração em geração e refletem a cultura e a
tradição de uma nação. Devido às diferenças entre a China e Portugal em relação à
cultura, história, crenças religiosas, costumes, hábitos e ambiente social, será
decerto frutuosa a comparação dos provérbios e idiomatismos de ambos os países.
Numa perspetiva intercultural, este trabalho compara os provérbios e
expressões idiomáticas no que respeita aos papéis femininos familiares chineses e
portugueses, estudando as diferenças e semelhanças sobre a imagem e situação da
mulher na cultura tradicional sino-portuguesa e tentando abordar as respetivas
causas históricas e sociais. Além disso, procura contribuir, no âmbito da tradução,
para a definição mais precisa de equivalentes, a caminho de futuros dicionários
bilingues de provérbios e idiomatismos em português e chinês.

Palavras-chave: equivalentes fraseológicos em português e chinês; estudo


intercultural e contrastivo; papéis femininos familiares; provérbios e idiomatismos;
sexismo

v
A Comparative Study of Female Role in Chinese and Portuguese Proverbs and
Idioms

Abstract

Proverbs and idioms are unique linguistic phenomenon and have a long history.
They are transferred from generation to generation, and reflect the culture and
tradition of a nation. Due to the differences between China and Portugal in relation
to culture, history, religious beliefs, customs, habits and social environment, it will
certainly be fruitful to compare proverbs and linguistics of both countries.
From an intercultural point of view, this paper compares proverbs and idioms in
relation to roles of Chinese and Portuguese woman in family, studying the
differences and similarities about the image and position of women in traditional
Sino-Portuguese culture and trying to address their historical and social causes. In
addition, this work also attempts to analyze translation to find equivalents, and
contributes to future bilingual proverb and linguistic dictionaries.

Key words: familiar female roles; intercultural and contrastive study;


phraseological equivalents in Portuguese and Chinese; proverbs and idioms; sexism

vi
中葡谚语和惯用语中女性角色的对比研究

摘要

,
谚语和惯用语是独特的语言现象,历史悠久代代相传,映射出一个民族的文
化和传统。中国和葡萄牙两国在历史文化、风俗习惯、社会环境、宗教信念等方


面存在差异,因此两国的谚语和惯用语存在对比性。
笔者从跨文化的角度,对比汉语和葡语中关于女性家庭角色和女性地位的谚

θ
语和惯用语,探究两国传统文化中女性形象和地位的异同,并分析其中的历史和

θ
社会原因。此外本文也尝试研究中葡的对等翻译,对今后的双语谚语和惯用语字
典做出贡献。
~
关键词:跨文化和对比研究;女性家庭角色;性别歧视;谚语和惯用语;中葡用
语对等

vii

Índice

Introdução......................................................................................................................1

Capítulo I. Dilucidação dos conceitos de provérbio e idiomatismo em chinês e em


português....................................................................................................................... 6

1.1 Definição de provérbio e idiomatismo em português.......................................7


1.1.1 Provérbios.................................................................................................. 7
1.1.2 Expressões idiomáticas ............................................................................ 9

1.2 Provérbio e idiomatismo em chinês e outras categorias afins........................11


1.2.1 惯用语 (guànyòngyǔ).................................................................................. 11

1.2.2 成语 (chéngyǔ).............................................................................................13

1.2.3 谚语 (yànyǔ)................................................................................................ 14

1.2.4 歇后语 (xiēhòuyǔ)........................................................................................14

1.2.5 格言(géyán)................................................................................................... 15

Capítulo II. Corpora dos provérbios selecionados para estudo em português e em


chinês.......................................................................................................................................17

Capítulo III. Principais papéis femininos familiares................................................... 21

3.1 A situação desqualificada ou desvalorizada de filha.......................................22


3.2 A submissão da esposa....................................................................................25
3.3 A relação complicada de sogra-nora...............................................................27
3.4 A imagem positiva da mãe.............................................................................. 29
3.5 A impressão depreciativa da madrasta...........................................................35
3.6 A situação ambivalente de viúva.....................................................................38

viii
Capítulo IV. A imagem discriminatória da mulher e a imagem de homem que
pressupõe.....................................................................................................................42

4.1 A imagem discriminatória da mulher nos provérbios.....................................44


4.1.1 Agressão à mulher...................................................................................44

4.1.2 A ignorância e insignificância da mulher.................................................45

4.1.3 Falta de liberdade no casamento e divórcio........................................... 47

4.2 A evolução da posição feminina em Portugal e na China............................... 50


4.3 A imagem de homem que os provérbios deixam pressupor.......................... 53
Conclusão..................................................................................................................... 55

Anexo........................................................................................................................... 60

Referências Bibliográficas........................................................................................... 62

ix
Introdução

1
Os provérbios e os idiomatismos refletem o refinamento – tanto formal como
conceptual – da experiência do povo, a partir da qual se pode observar a cultura e a
tradição de uma nação. Neste contexto, obviamente a mulher e o universo feminino
constituem sempre elementos incontornáveis. A presente dissertação visa analisar
os provérbios e idiomatismos relacionados com a mulher em português e em chinês
para que possamos observar as diferenças e semelhanças relativamente à condição
feminina e às figuras femininas na família em ambos os países, bem como
aprofundar as respetivas causas e estudar os aspetos linguísticos envolvidos na
transmissão de tais ideias, mentalidades e contingências e no plasmar de certos
aspetos históricos e socioculturais dos tempos antigos. Para que este objetivo possa
concretizar-se, num campo de estudos em que pouco ainda foi feito, haverá que ter
outro mais complexo em consideração: a busca e o estabelecimento de equivalentes
o mais possível fiéis para os idiomatismos e sobretudo provérbios relativos a esta
temática e selecionados em cada uma das línguas. Tendo em conta a dificuldade
desse trabalho, em que Joaquim Gonçalves foi um dos pioneiros para o caso do
chinês e do português — Gonçalves, Arte China (1829); Diccionario Portuguez-China
(1831); Diccionario China-Portuguez (1833), e ainda, do mesmo autor, o manuscrito
BNP 7975, editado com grafia atualizada em O Método de Joaquim Afonso Gonçalves
para o ensino-aprendizagem do Chinês e do Português (Barros e Ng Cen, 2017), —
propomo-nos contribuir para dar-lhe continuidade oferecendo um conjunto de
equivalentes que nos pareçam exatos.
A presente dissertação desenvolver-se-á através da análise documental,
essencialmente com base na leitura integral das obras lexicográficas de referência
em português e em chinês, aplicando-se o método contrastivo ou de comparação.
Ter-se-ão em consideração, não apenas os dicionários de idiomatismos e provérbios
monolingues, em toda a sua variedade, mas igualmente obras pioneiras no âmbito
dos estudos contrastivos e descritivos em chinês e português como os dicionários e
gramáticas de Joaquim Afonso Gonçalves, que incluem já vários idiomatismos, seja
com equivalentes nas duas línguas, seja com uma explicação ou frase corrente em
uma delas, integrando a gramática (Arte China, Gonçalves 1829), bem como a obra
2
manuscrita que a antecedeu (ms. BNP 7975; Barros e Ng 2014; 2015), em particular
o capítulo intitulado Provérbios. Selecionados manualmente todos os provérbios e
idiomatismos com interesse para a temática deste trabalho, serão os mesmos
aprofundados e analisados com vista à classificação e sistematização das questões
que levantam, das temáticas a considerar e dos traços linguísticos mais relevantes.
Com o intercâmbio cultural China-Portugal cada vez mais aprofundado, são já
muitos os que se focam na análise contrastiva das duas línguas, inclusive no âmbito
dos provérbios e idiomatismos. É disso exemplo o estudo intitulado Contributos para
o estudo contrastivo de provérbios e idiomatismos em português e chinês: as obras
metalinguísticas de Joaquim Afonso Gonçalves (Mao, 2018), em que se analisam
alguns provérbios e idiomatismos chineses, bem como os seu equivalentes, mera
tradução em chinês ou somente algumas explicações, oriundos das obras do Padre
Joaquim Afonso Gonçalves, identificando e explicando as diferenças culturais entre a
China e Portugal. A obra Provérbios e expressões idiomáticas em português e chinês
(Liu, 2012) procura abordar a diferença entre provérbio e idiomatismo e analisa um
corpus em português e chinês, bem como o seu aspeto comum: a metáfora e as
características culturais neles e nela refletidas. Além disso, oferece alguns
contributos no que toca à tradução. A dissertação intitulada Provérbios com animais
em chinês e português: estudo contrastivo (Lv, 2018) estuda as características dos
provérbios do ponto de vista sintático-semântico e prosódico, além de abordar o
contexto sociocultural subjacente aos provérbios chineses e portugueses com
animais, ajudando os estudantes a compreendê-los e usá-los adequadamente. Existe
ainda uma dissertação de mestrado recente relacionada mais concretamente com o
assunto que aqui nos ocupa: Provérbios e sexismo: um estudo intercultural entre
Portugal e a China (Sun, 2017). Nele se comparam, em vários aspetos negativos, os
provérbios chineses e portugueses relativos à mulher, bem como os fatores culturais
do sexismo, no entanto, este trabalho é muito devedor de uma dissertação anterior
em chinês — Sexismo em provérbios chineses e ingleses (Rong, 2007), em alguns
casos mesmo mera tradução, não tendo esta autora sido sequer citada. O contributo
positivo é ter apresentado um conjunto de equivalentes portugueses para os
3
provérbios que se achavam tratados em chinês e em inglês na obra original.
Existem duas dissertações que se centram mais especificamente na análise dos
papéis familiares femininos, mas envolvendo apenas as línguas chinesa, árabe e
russa. Na primeira, que se intitula Estudo contrastivo de conotação cultural de shúyǔ
chineses e árabes relativos à mulher (Al-Krimeen, 2018), analisam-se os papéis de
filha, esposa e mãe, bem como as características internas e externas femininas da
cultura chinesa e árabe que essas construções linguísticas pressupõem. Na segunda,
intitulada Estudo contrastivo da figura feminina em provérbios chineses e russos
(Zhang, 2018), estudam-se várias facetas femininas, como as de filha, esposa, mãe,
viúva, madrasta, avó, sogra, casamenteira e bruxa, apresentando os papéis de mãe,
esposa e viúva diversas categorias, tanto positivas como negativas.
Em suma, não existem ainda trabalhos que se debrucem sobre os provérbios e
idiomatismos em português e chinês acerca do tratamento da mulher na
paremiologia e dos papéis familiares que a mulher desempenha ao longo da vida,
conforme transparece nos provérbios e idiomatismos.
A presente dissertação acha-se dividida em quatro capítulos. No primeiro faz-se
a dilucidação dos conceitos de provérbio e idiomatismo, com breve observação das
diferenças e semelhanças entre eles. No segundo apresenta-se uma proposta de
corpus bilingue de provérbios e idiomatismos, com o objetivo de contribuir para a
construção de um futuro dicionário de provérbios português-chinês. No terceiro
capítulo analisa-se detalhadamente a presença feminina em provérbios e
idiomatismos, comparando-se as figuras femininas chinesas e portuguesas em
família, desde a infância até à velhice, incluindo os papéis de filha, esposa, nora, mãe,
madrasta, sogra e viúva. No quarto, como o estudo do capítulo anterior nos permite
observar a existência de imagens preconceituosas e discriminatórias da figura
feminina ao longo dos tempos, analisam-se as representações negativas de mulher
chinesa e portuguesa, ou seja, o sexismo, bem como aspetos relacionados com a
valorização de mulher, atentando-se nos âmbitos da esfera sociocultural e
existencial em que tal acontece. Por fim, analisa-se também a imagem do homem
que se deixa adivinhar e pressupor nesse tratamento da figura feminina — ou seja,
4
que tipo de homem se deixa ver e avaliar por detrás dos provérbios que falam de
mulheres e as tratam e avaliam de um determinado modo.

5
Capítulo I
Dilucidação dos conceitos de provérbio
e idiomatismo em chinês e em português

6
A língua transmite não apenas informações, mas também ideias sobre nós
mesmos. Tal como afirmou o filósofo alemão Johann Gottlieb Fichte, a língua de um
povo é a sua alma. A língua de um povo tem uma forte relação com a própria cultura,
permitindo-nos saber a sua forma de pensar, as opiniões sobre alguém ou algo. E
mais ainda: existe funcionalmente para tanto: englobar a cultura, comunicá-la e
transmiti-la (Câmara, 1955).
Pensando mais especificamente, o que é que, dentro da língua, consegue
transmitir ideias em bloco por longo tempo, de geração em geração? Obviamente, a
resposta inclui os provérbios e expressões idiomáticas, através dos quais as pessoas
hoje em dia podem ainda tomar conhecimento do passado. Por essa razão, a
presente pesquisa visa analisar os provérbios e expressões idiomáticas aludindo de
algum modo à figura da mulher em português e em chinês, no sentido de realizar um
estudo contrastivo. Em vista disso, vale a pena começar por aclarar as definições
desses elementos chave deste trabalho, ou seja, a definição de provérbio, de
idiomatismo e de lexemas semelhantes, sobretudo no que ao chinês diz respeito.
Adicionalmente, resumem-se as principais características e as diferenças entre eles.

1.1 Definição de provérbio e idiomatismo em português

1.1.1 Provérbio

O provérbio, baseado na experiência e no senso comum, desempenha um papel


importante na história e cultura dos seres humanos. Trata-se de uma peça de arte
popular, possuindo vários elementos essenciais, tais como a rima (Calça branca em
janeiro, sinal de pouco dinheiro), a métrica trabalhada e as figuras de sintaxe — por
exemplo, o isocolo (Quem o feio ama, bonito lhe parece); o quiasmo (Espelho reflete
sem falar, mulher fala sem refletir); a anáfora (Quem tem uma mãe tem tudo, quem
não tem mãe não tem nada), bem como outras figuras que têm a ver com a ordem
das palavras e elementos na frase. Também são trabalhados ao nível sonoro —
assonâncias (Casa caiada, filha casada); aliterações (Quem com ferro fere com ferro
7
será ferido) — e semântico, das figuras de estilo ou de pensamento — metáforas
(Viúva é barco sem leme, ou Choro de viúva, é água de chuva); metonímias (Em casa

em que falta o pão, todos gritam e ninguém tem razão); comparações (Casa tua filha
como o filho do teu vizinho) ou pleonasmos (Em abril, águas mil).
Os provérbios são pensamentos muito aperfeiçoados em termos formais (de
som, de vocabulário, de estrutura), também porque têm que ser fáceis de repetir, de
memorizar, atrativos, e porque, ao serem repetidos, ficam cada vez mais
aperfeiçoados, mais “destilados”, perdendo elementos excedentários, por isso
apresentam muitas vezes elisão do verbo (por exemplo, Casa de pais, escola de
filhos). Incluem frequentemente vocabulário antigo, que, por ser muitas vezes
repetido, ficou neles cristalizado ou conservado (por exemplo, já praticamente
ninguém usa o substantivo bragas para significar ‘cuecas ou calções interiores de
algodão’, mas ainda se repete o provérbio Não se pescam trutas a bragas enxutas
para se significar que é preciso esforçar-se e mesmo sofrer algum risco e
consequências, estéticas, psicológicas, etc., para se alcançar aquilo que se pretende,
não se pode simplesmente ficar na área de conforto, sem se arriscar ou fazer
esforços.
Inúmeros especialistas têm tentado definir o provérbio com precisão, porém as
opiniões são variáveis. Na verdade, muitos acabam por não definir precisamente
para não incorrerem em uma definição incompleta e insatisfatória (Xatara & Succi,
2008: 34). Atentemos nas definições de provérbio provenientes de dicionários de
Portugal e do Brasil.
O Dicionário Priberam da Língua Portuguesa (DPLP) oferece uma definição
muito sucinta: "Máxima expressa em poucas palavras e tornada vulgar".1 O
Dicionário do Português Atual Houaiss (2011) define-o da seguinte forma: "Frase
curta, de origem popular, frequentemente com ritmo e rima, rica em imagens, que
sintetiza um conceito a respeito da realidade ou uma regra social ou moral". Claudia
Maria Xatara e Thais Marini Succi revisitam e desenvolvem esse conceito de

1
Definição no Dicionário Priberam da Língua Portuguesa,
https://dicionario.priberam.org/prov%C3%A9rbio [consultado em 15-02-2019]
8
provérbio:

Para nós provérbio é uma unidade léxica fraseológica fixa, e consagrada por
determinada comunidade lingüística, que recolhe experiências vivenciadas em
comum e as formula como um enunciado conotativo, sucinto e completo,
empregado com a função de ensinar, aconselhar, consolar, advertir, repreender,
persuadir ou até mesmo praguejar.
(Xatara & Succi, 2008: 35)

Das definições acima apresentadas podem extrair-se as seguintes


características do provérbio: uma frase resumida e fixa com estruturas de perfeição
formal, uma sabedoria contida, a função de ensinar, aconselhar, repreender,
persuadir ou até praguejar. Por exemplo, Mais vale prevenir que remediar; Tudo
falta a quem tudo quer.
Um termo mais abrangente que aqui nos interessa observar é máxima, já que
os provérbios se enquadram nessa categoria, sendo um tipo de máxima de origem
popular, sem autor específico, mais trabalhada pela repetição, com características
geralmente mais depuradas e artísticas, como a rima, etc... No Dicionário de
Português Língua Estrangeira (2012: 450) define-se máxima do seguinte modo:
"Sentença moral que rege a ação, o comportamento e o pensamento".
Dito de outra maneira, a máxima também pode ser uma regra de conduta, cujo
autor é geralmente explicitado, tendo muitas vezes um nível de educação elevada.
De acordo com Xatara & Succi (2008), há fraseologismos, como a máxima e o
brocardo, que têm cunho erudito. Por exemplo, a famosa máxima de Sócrates é:
“Conhece-te, a ti mesmo.”

1.1.2 Expressão idiomática

As expressões idiomáticas ou idiomatismos fazem parte da comunicação


quotidiana, sendo usadas frequentemente na linguagem informal, embora existindo
9
também na escrita formal. Aparentemente, as expressões idiomáticas têm o seu
próprio charme, podendo dar ênfase e força à mensagem transmitida, até
acrescentando ironia e humor, como por exemplo Água que passarinho não bebe
('pinga, bebida alcoólica').
Xatara (1998: 149) define a expressão idiomática como “uma lexia complexa
indecomponível, conotativa e cristalizada em um idioma pela tradição cultural”. De
facto, as expressões idiomáticas são locuções ou frases fixas e não podem ser
interpretadas literalmente, tendo em conta que têm traços culturais de certas
regiões ou grupos, que muitas vezes causam dificuldades aos aprendentes
estrangeiros, e até mesmo aos nativos da língua portuguesa. Vejam-se alguns
exemplos: Lamber as botas ('lisonjear demasiadamente, com algum interesse'),
Macacos me mordam! (expressão que designa espanto, fúria, desagrado), Farinha do
mesmo saco (pessoas semelhantes nos seus defeitos). Repare-se que algumas
expressões idiomáticas são locuções verbais, conjugando-se o verbo conforme o
sujeito a que pretendem aplicar-se, não sendo neste caso totalmente fixas, mas até
certo ponto, ou em certo aspeto, adaptáveis, por exemplo, em relação ao verbo.
Além disso, muitas expressões idiomáticas referem apenas um objeto e o seu estado,
como é o caso de Lágrimas de crocodilo ('choro fingido').
Em resumo, apresentam-se contrastivamente os traços que distinguem o
provérbio e a expressão idiomática por meio de uma tabela.

Tabela 1: Traços distintivos de provérbios e idiomatismos

Provérbio Idiomatismo
É uma frase completa e fixa com Geralmente é uma locução fixa ou uma
estrutura revelando certa perfeição frase
formal
Pode-se ler no sentido literal Não se pode basear só em leitura literal
Contém experiência e sabedoria Às vezes sofre alterações ou adaptações,
10
populares, de maneira a ensinar, ao nível da flexão verbal, do sujeito ou de
persuadir ou até praguejar, e pode outro elemento, sendo usadas
usar-se formalmente frequentemente na linguagem informal

1.2 Provérbio e idiomatismo em chinês e outras categorias afins

Ao longo da história milenar da China, a sabedoria tem sido transmitida


constantemente através das palavras, entre as quais se destaca o 熟 语 (shúyǔ),
literalmente 'palavra madura', designando uma locução ou frase com estrutura fixa,
gradualmente formada por um longo tempo de uso.
Na verdade, o 熟语 (shúyǔ) é uma designação relativamente nova em relação
a outros termos; tendo surgido apenas no fim da década de 1950 como termo
técnico, rapidamente foi reconhecido pela comunidade linguística chinesa (Yao,
1998). Quanto à sua origem, o linguista Wu Zhankun (2000, apud Yao) considera que
o 熟语 (shúyǔ) é um estrangeirismo oriundo da língua russa de modo a representar
de forma geral 'várias expressões fixas'. De acordo com o Dicionário de Xinhua e o
Dicionário Padrão de Chinês Moderno, o 熟 语 (shúyǔ) é constituído por 惯 用 语
(guànyòngyǔ), 成语 (chéngyǔ), 谚语 (yànyǔ, 'provérbio') e 歇后语 (xiēhòuyǔ).
No presente trabalho procuraremos apresentar sucintamente as características
desses quatro tipos de frasemas, assim como as possíveis equivalências em
português.

1.2.1 惯用语 (guànyòngyǔ)

O 惯 用 语 (guànyòngyǔ) usa-se frequentemente na linguagem oral,


expressando significados complexos através de uma expressão curta. Literalmente
significa 'expressão habitualmente usada'. Veja-se a sua definição no Dicionário de
Xinhua (2001: 350):

11
É uma espécie de 熟 语 (shúyǔ). Um tipo de expressão fixa e curta,
habitualmente usada na linguagem falada, muitas vezes com três sílabas e
significados metafóricos.

O 惯用语 (guànyòngyǔ) geralmente é curto, contando com apenas três


carateres, como, por exemplo, 拍 马 屁 (pāi mǎpì, ‘Lamber as botas’) e 替 罪 羊
(tìzuì yáng, 'Bode expiatório'). Evidentemente há 惯 用 语 (guànyòngyǔ) que têm
mais de três carateres, tais como 人 不 可 貌 相 (rén búkě màoxiàng, 'um homem
não se mede pela sua aparência', algo como, em português, Os homens não se
medem aos palmos ou, num sentido próximo, O hábito não faz o monge) e 七大姑
八大姨 (qīdàgū bādàyí, uma expressão para indicar generalizadamente 'parentes do
sexo feminino').
Adicionalmente, o 惯用语 (guànyòngyǔ) é um tipo de frasema relativamente
fixo com respeito ao 成语 (chéngyǔ) pelo facto de que o 惯用语 (guànyòngyǔ) é
flexível, pois nele pode-se mudar a ordem das palavras e adicionar mais elementos
conforme o contexto. É o caso de 吃 老 本 (chī lǎoběn, 'viver com ganhos do
passado'), que tem forma variável: 吃 惯 了 老 本 (chīguàn le lǎoběn, 'viver
habitualmente com ganhos do passado'), 吃尽了老本 (chījìn le lǎoběn, 'uma pessoa
acabou com os ganhos do passado'), bem como o caso de 钻 空 子 (zuān kòngzi,
‘aproveitar-se da oportunidade’), que pode ser alterado para 钻 了 某 人 的 空 子
(zuān le mǒurén de kòngzi, ‘aproveitar a oportunidade que alguém deixou’).
Tendo em conta que o 惯用语 (guànyòngyǔ) se criou oralmente pelos povos
ao longo do tempo, é expressão muito coloquial e popular. Portanto, muitas vezes
não há dificuldade de entendê-la, entretanto no caso da metáfora e do dialeto de
alguma região, não se pode ler literalmente. Exemplificando, 炒鱿鱼 (chǎo yóuyú)
designa o ato de ser demitido, mas literalmente é ‘fritar lula’. No dialeto da província
de Sichuan, usa-se muito 摆龙门阵 (bǎi lóngménzhèn) no dia-a-dia, equivalendo a
‘conversar, bater-papo’ em mandarim. Quem não conhece este dialeto decerto fica
confuso ao ouvir esta expressão, pois 龙 门 阵 (lóngménzhèn) é um tipo de
formação tática das forças militares antigas chinesas.
12
Analisando as características acima mencionadas, o 惯 用 语 (guànyòngyǔ)
aproxima-se da expressão idiomática ou idiomatismo em português.

1.2.2 成语 (chéngyǔ)

O 成 语 (chéngyǔ) revela traços culturais da sociedade chinesa e atualmente


continua a desempenhar um papel importante na comunicação quotidiana e na
educação. O Dicionário Padrão de Chinês Moderno (2004: 166) define-o desta
maneira:

Locução ou frase fixa usada por povos há bastante tempo, possuindo forma
concisa e significado exato, composta geralmente por quatro carateres. Tem
sempre a sua própria origem e contexto.

Normalmente, o 成语 (chéngyǔ) possui quatro carateres, por exemplo 冰山


一 角 (bīngshān yījiǎo, ‘isto é apenas a ponta do iceberg’), mas também existem
exceções, há 成 语 (chéngyǔ) de três ou mais carateres, tais como 长 舌 妇
(chángshé fù, ‘mulher faladora’), 防 患 于 未 然 (fánghuàn yú wèirán, ‘prevenir é
melhor que remediar’).
A estrutura do 成语 (chéngyǔ) é definitivamente fixa, não se podendo sequer
alterar um carácter. Além disso, o seu sentido ultrapassa sempre o significado literal
dos seus elementos, uma vez que o 成 语 (chéngyǔ) tem origem nas lendas ou
mitos, na história e na literatura antiga. Por exemplo, 抛砖引玉 (pāozhuān yǐnyù)
significa literalmente ‘atirar um tijolo para atrair jade’, expressão oriunda da obra
literária《镜花缘》(jìng huā yuán)2. O contexto em que se usa esta expressão é o de
alguém que apresenta uma ideia sem valor ou com pouco valor na intenção de que
outras pessoas deem ideias muito melhores.

2
O romance escrito por Li Yuzhen, um literato da dinastia Qing.
13
1.2.3 谚语 (yànyǔ)

O 谚语 (yànyǔ) baseia-se na experiência e no senso comum, e o conteúdo nele


refletido abrange todos os aspetos ambientais e da vida social, como a meteorologia
— 燕子外迁,地旱天干 (yānzǐ wàiqiān, dìhàn tiāngān, ‘andorinha se move para
fora, vem seca extrema’ —, a agricultura — 春雷响,万物长 (chūnléi xiǎng, wànwù
zhǎng, ‘trovão na primavera, tudo começa a crescer’) —, a saúde — 饭后百步走,活
到 九 十 九 (fànhòu bǎibùzǒu, huódào jiǔshíjiǔ, ‘caminhando cem passos após a
refeição dá para viver até aos noventa e nove anos’) —, a sociedade — 人不可貌相
(rén bùkě màoxiàng, Os homens não se medem aos palmos) — ou a aprendizagem —
世上无难事,只怕有心人 (shìshàng wú nánshì, zhǐpà yǒu xīnrén, ‘nada no mundo é
difícil para quem se dedica a isso/se empenha’).
Quer dizer, o 谚 语 (yànyǔ) é um conjunto de sabedoria e experiência geral
resumido pelos povos ao longo do tempo; divulga-se oralmente entre as pessoas,
portanto a maior parte pode ser entendida literalmente e tem uma estrutura
aperfeiçoada e fixa para ser repetido facilmente. Comparando com o 成 语
(chéngyǔ), o 谚语 (yànyǔ) não é tão formal e universal, pelo facto de ter origem na
experiência do povo e não nas obras literárias, e em certos casos é variável de região
para região. Veja-se a definição no Dicionário de Xinhua (2001: 1138): “Frase concisa
e significativa, com estrutura fixa e que se divulga entre o povo”.
Tem em conta as características acima mencionadas, o 谚 语 (yànyǔ) é um
conceito semelhante ao do provérbio em português. Às vezes, o provérbio em
diferentes línguas tem similaridade de significado e até na forma, como, por
exemplo, no caso do chinês e do português: Em terra de cegos quem tem um olho é
rei (山中无虎,猴子称王, shānzhōng wúhǔ,hóuzi chēngwáng, ‘o macaco é rei caso
não haja tigre na montanha’); Tal pai, tal filho ( 有 其 父 必 有 其 子 , yǒu qífù bìyǒu
qízǐ ).

1.2.4 歇后语 (xiēhòuyǔ)

14
O 歇后语 (xiēhòuyǔ) é uma forma de linguagem especial e exclusiva da cultura
chinesa, e pode ser visto como um jogo de palavras que está intimamente ligado ao
dia-a-dia do povo. Segue-se a sua definição no Dicionário de Xinhua (2001: 1087):

É um tipo de 熟 语 (shúyǔ) composto por dois segmentos, sendo o primeiro a


descrição do enigma e o segundo o resultado ou o significado real. Às vezes
omite-se o segundo elemento.

Pode-se entender de forma clara a definição do 歇后语 (xiēhòuyǔ) através dos


exemplos. 皇 帝 的 女 儿 —— 不 愁 嫁 (huángdì de nǚér — bùchóujià, ‘a filha do
imperador – sem preocupação de se casar’). O primeiro segmento descreve o
cenário, e o segundo dá o resultado. Muitas vezes nem é preciso dizer o segundo
segmento, uma vez que todos o conhecem ou conseguem adivinhar, como, por
exemplo, 肉包子打狗 - 有去无回 (ròubāozǐ dǎgǒu - yǒuqù wuhuí, ‘o bolinho de
carne atirado para perseguir o cachorro – nunca mais volta’). A ocasião em que se
usa esta expressão é quando se sabe que algo emprestado nunca mais voltará. Algo
como o diálogo humorístico e popular em português quando alguém pergunta: "—
Deu-to ou emprestou-to? — Emprestou-mo. — Ah, então deu-to!...".

1.2.5 格言 (géyán)

Além de todas as categorias de 熟 语 (shúyǔ) que anteriormente se


apresentam, há outro tipo de expressão muito comum que se chama 格言 (géyán).
Veja-se a definição no Dicionário Padrão de Chinês Moderno (2004: 441): É frase fixa
e refinada, cheia de filosofia, com intenção de persuadir. A maior parte é dita por
famosos.
Em comparação com o 谚 语 (yànyǔ), basicamente há duas diferenças. Em
primeiro lugar, geralmente o 格言 (géyán) usa-se para regular o comportamento e
a ação, de modo a orientar as pessoas a obterem sucesso, estimulando-as a
15
conseguirem o progresso, ou seja, dá-se mais importância à perspetiva correta da
vida e do mundo, e são sempre frases positivas; por exemplo, um 格 言 (géyán)
famoso de Mao Tsé-tung é 虚心使人 进步,骄傲使人落后 (xūxīn shǐrén jìn bù,
jiāoào shǐrén luòhòu, ’A modéstia ajuda a pessoa a avançar, enquanto a vaidade
causa atraso’). Enquanto isso, o 谚语 (yànyǔ) é um resumo da experiência do povo
por longo tempo, em termos de vida e produção, tendo tanto sentido positivo
quanto negativo.
A outra diferença é que o 谚 语 (yànyǔ) é criado pelo povo, passando de
geração em geração, e não se pode confirmar o seu autor específico. No entanto, 格
言 (géyán) tem autor específico, sendo muitas vezes criado por pessoas famosas e
cultas. É muito possível encontrar a sua fonte numa obra, sendo assim, o 格 言
(géyán) é mais formal e erudito do que o 谚 语 (yànyǔ). Por exemplo, uma frase
conhecida em Analectos de Confúcio3: 见贤思齐焉;见不贤而内自省也 (jiànxián
sīqíyān, jiànbú xián ér nèizìxǐng yě, ‘Se encontrares um homem de valor, procura
igualá-lo. Se encontrares um homem sem valor, examina-te a ti próprio’).
Levando em consideração as características, o 格 言 (géyán) aproxima-se da
definição da máxima em português.

3
É o livro doutrinal mais importante do confucionismo.
16
Capítulo II
Corpora dos provérbios selecionados
para estudo em português e em chinês

17
A fim de efetuar a seleção dos provérbios e idiomatismos, percorri vários
dicionários portugueses, tais como o Dicionário de provérbios, adágios, ditados,
máximas, aforismos e frases feitas (Santos, 2000), o Dicionário de provérbios (Silva &
Quintão, 1990), o Dicionário aberto de calão e expressões idiomáticas (Almeida,
2018), o Dicionário de Expressões Populares Portuguesas (Simões, 2000), O grande
livro dos provérbios (Machado, 2011) e o Dicionário de expressões correntes (Neves
& Constantino, 2000), bem como dicionários chineses: Integração do Provérbio
Chinês 《中国谚语集成》 (zhōngguó yànyǔ jíchéng), Dicionário de Provérbios de
Xinhua 《新华谚语词典》 (xīnhuá yànyǔ cídiǎn), Conjunto de Provérbios Chineses
《 中 国 谚 语 大 全 》 (zhōngguó yànyǔ dàquán), Grande Dicionário de Provérbios
Chineses 《中华谚语大辞典》 (zhōnghuá yànyǔ dàcídiǎn), Dicionário de Ditados
Populares Chineses 《中国俗语大辞典》 (zhōngguó súyǔ dàcídiǎn), Dicionário de
Idiomatismos Comuns 《 常 用 惯 用 语 辞 典 》 (chángyòng guànyòngyǔ cídiǎn),
Dicionário de Xiēhòuyǔ e Provérbios 《歇后语和谚语词典》 (xiēhòuyǔ hé yànyǔ
cídiǎn), Grande Dicionário de Chéngyǔ 《中华成语大词典》 (zhōnghuá chéngyǔ
dàcìdiǎn). Além disso, pesquisaram-se ainda e reuniram-se exemplos soltos em
páginas Web, sítios e blogues, entre outros.
Pesquisou-se primeiro mais sistematicamente para cada língua e depois os
raros contributos existentes já bilingues, incluindo aqui sobretudo a obra Arte China
(1829) do padre Joaquim Afonso Gonçalves4, bem como a dissertação de Sun (2017).
O padre Joaquim Gonçalves foi um dos pioneiros na busca de equivalência para os
provérbios e idiomatismos em português e chinês; no capítulo VI da sua obra Arte
China apresentam-se provérbios chineses muitas vezes com explicação em
português, em vez de se oferecer um provérbio ou idiomatismo da língua
portuguesa. Quer dizer, não é nada fácil encontrar equivalentes de provérbios e
idiomatismos entre ambas as línguas, devido aos fatores culturais, históricos e
sociais diferentes. Posto isso, tendo em conta que hoje em dia não se encontra um
dicionário bilíngue específico que colete provérbios portugueses e chineses com os
seus respetivos equivalentes, procurei dar o meu contributo oferecendo sempre que
4
Foi missionário e sinólogo português, tendo muita importância no contexto cultural sino-português no século XIX
18
possível neste trabalho um conjunto de equivalentes que me pareçam exatos.
Para alcançar esse objetivo, o passo mais importante é evidentemente a
compreensão dos exemplos selecionados, para tanto, além de ter consultado os
dicionários monolingues chineses e portugueses, recorri também a muitos
informantes nativos portugueses para me explicarem o significado de uns exemplos,
pois tive alguma dificuldade de compreensão de algumas das expressões e frases
fixas portuguesas. Posto isto, socorri-me ainda de obras sobre a língua francesa,
portuguesa e inglesa, tais como o Dicionário de Provérbios - Francês / Português /
Inglês, bem como outros dicionários bilíngues chinês-inglês: Coleção de Chéngyǔ e
Provérbios com Tradução Inglesa 《汉英成语谚语汇编》 (hànyīng chéngyǔ yànyǔ
huìbiān), Dicionário Chinês-Inglês de Chéngyǔ 《汉英汉语成语用法词典》 (hànyīng
hànyǔ chéngyǔ yòngfǎ cídiǎn), com o intuito tanto de encontrar equivalentes como
de obter explicações adequadas, tendo em conta que muitas vezes a tradução literal
não serve, mas sim uma explicação adaptada. Por exemplo, 嫁鸡随鸡,嫁狗随狗
(jiàjī suíjī, jiàgǒu suígǒu), pode traduzir-se literalmente como ‘casa-se com galo e
segue-o, casa-se com cão e segue-o’, no entanto esta expressão significa ‘uma vez
que a mulher se casa com o homem, ela deve ser fiel e obediente a ele para sempre,
independentemente de todas as circunstâncias’, conforme a explicação em inglês.
Assim, foi possível constituir e propor a partir do meu trabalho um pequeno
corpus bilingue de provérbios e idiomatismos, para além de outros que se vão
explicando e procurando traduzir ao longo desta investigação:

Tabela 2: corpus bilingue de provérbios e idiomatismos

Em Português Em Chinês
Filha crescida dá-lhe marido. 女大当嫁
(nǚdà dāngjià)
女大不中留
(nǚdà búzhōngliú)

19
Do homem a praça, da mulher a casa. 男主外,女主内
(nán zhǔwài, nǚ zhǔnèi)
Tal pássaro, tal ovo. 有其母必有其女
Tal mãe, tal filha. (yǒu qímǔ bìyǒu qínǚ)
A mulher é um animal de cabelos 头发长,见识短
compridos e ideias curtas. (tóufā chǎng, jiànshí duǎn)
Mãe aguçosa, filha preguiçosa. 娘勤必养懒姑娘
(niángqín bìyǎng lǎngūniáng)
Menino da mamã (em português 娇生惯养
brasileiro, Filho da mamãe). (jiāoshēng guànyǎng)

Filha casada, casa depenada. 闺女是狼,吃塌她娘


(guīnǚ shìláng, chītā tāniáng)
Madrasta, o diabo arrasta. 后娘心比蛇蝎狠
(hòuniángxīn bǐ shéxiē hěn)
A mula e a mulher, com pancada se quer. 拳头底下出好妻
A mula e a mulher, com pau se quer. (quántóu dǐxià chū hǎoqī)
A mulher e a mula o pau as cura.
O burro e a mulher a pau se quer.

20
Capítulo III
Principais papéis femininos familiares

21
A presença do feminino em provérbios e expressões idiomáticas é bastante
forte e permite muito claramente distribuir essa figura por vários papéis. Na verdade,
os principais papéis que a mulher desempenha durante a vida toda são os de filha,
esposa, mãe. Além disso, nora e viúva aparecem também com frequência. Esses
provérbios e expressões idiomáticas referem-se a temas diferentes, destacando
questões ligadas à mulher em família e sociedade.

3.1 A situação desqualificada ou desvalorizada de filha

O primeiro papel da mulher na vida é o de filha e pode ser encontrado em


provérbios tanto chineses quanto portugueses, entre os quais uma grande parte tem
a ver com o casamento. Vejam-se os exemplos.

Portugueses:
1) A peixe fresco gasta-o cedo e à tua filha crescida, dá-lhe marido.
鱼要趁着新鲜吃,长大的女儿要嫁人。
2) Casa caiada, filha casada.
粉刷房子,女儿出嫁。
3) Com a verdade e com a mentira casa a velha a sua filha.
用真相和谎言把大龄女嫁出去。
4) Filha crescida dá-lhe marido.
女大当嫁。
5) Batatas e filhas não se querem greladas.
不要发芽的土豆和大龄的女儿。
6) Quem não tem marido, não tem amigo
没有丈夫的人没有朋友。

Chineses:

1) 男大当婚,女大当嫁。
22
Tanto o homem quanto a mulher devem casar ao atingir a maioridade.

2) 女大不中留。

Filha crescida deve casar.

3) 天要下雨,娘要嫁人5。

É natural que vá chover e a rapariga vá casar.

Provérbios como estes deixam ver que tanto a cultura tradicional chinesa como
a portuguesa partilhavam a mesma ideia em relação ao casamento: casar a filha o
mais cedo possível. A história confirma-o, tal como refere Sousa (2008: 164), “no
século XIV, quando a Igreja Católica já possuía o monopólio jurídico sobre o
matrimônio, o Direito Canônico fixou a idade mínima para o casamento: 12 anos
para a moça e 14 anos para o rapaz”. Enquanto isso, na China antiga os rapazes
casavam-se com a idade de 15 e 16 anos, 12 e 13 anos para as moças (Zhuang, 1996).
Caso a rapariga não casasse na idade adequada, provocaria polêmica e os seus pais
sofreriam críticas oriundas tanto da sociedade como do próprio governo.
Tendo em conta que mais cedo ou mais tarde a filha ia casar-se e sair da casa
dos pais, de modo a viver com o seu marido, era considerada muitas vezes uma
consumidora, sustentada pelos pais até estar casada, e o pior é que os pais ainda
deviam oferecer o dote6 ao noivo para arranjar o casamento: “O dote era
importante para conseguirem casamento, ter ou não dote podia determinar o futuro
da mulher” (Araújo, 2011: 14). Dito de outra maneira: sem dote, sem casamento. Tal
costume causava frequentemente dificuldades financeiras à família da rapariga.
Coincidentemente, encontra-se também o dote na tradição do casamento chinês, o
qual condicionava não apenas a honra da família, mas também uma melhor
condição na vida após o casamento (Diao, 2007). Pela mesma razão, na maioria dos
casos a sociedade tradicional chinesa desvalorizava a filha, considerando-a sempre

5
Há duas explicações em relação a 娘 (niáng), uma referente a 'mãe', outra a 'rapariga'.
6
Bens e dinheiro oferecidos ao noivo pela família da noiva, cuja administração é da responsabilidade do noivo.
23
como “赔钱货 (péiqián huò)”, ‘mercadoria que causa prejuízo’ (Zhang, 2018).
Existem diversos provérbios chineses e portugueses relacionados com os
aspetos acima mencionados.

Portugueses:
1) Casa o filho quando quiseres e a filha quando puderes.
儿子结婚易,女儿结婚难。
2) Filha má, dota-a e casa-a.
坏女儿,要给她嫁妆,让她嫁人。
3) Quem casa filha, depenado fica / Filha casada, casa depenada.
谁嫁女儿,会被敲诈一笔。
4) Parto ruim, filha no fim / Mau parto, filha ao cabo.
糟糕的分娩,生的是女儿。

Chineses:
1) 强盗不进五女之家。
Os bandidos não assaltam a casa que tem cinco filhas.
2) 家有两个女,连娘三个贼。
Duas filhas e uma esposa são três ladrões.
3) 嫁出去的女儿泼出去的水。
Filha casada é como água jogada/deitada fora.
4) 闺女是狼,吃塌她娘。
A filha é como um lobo, come toda a fortuna da mãe depois do casamento.

Ao recolher exemplos como os acima apresentados, foram, contudo,


igualmente encontrados vários provérbios chineses relacionados com o casamento
do rapaz na China antiga, causando também dificuldades financeiras devido ao
casamento. Por exemplo, 媳妇堂前拜,公婆背利债 (xífù tángqián bài, gōngpó bèi
lìzhài), significa ‘enquanto a nora está na cerimónia de casamento, a sogra está
endividada’. Antigamente eram várias as etapas para o rapaz se poder casar, tais
24
como propor à família da rapariga o casamento, o noivado e o matrimónio, e
durante as mesmas gastava-se muito dinheiro, do início até ao fim, como diz o
provérbio: 媳妇到门前,还得个老牛钱 (xífù dào ménqián, háid gè lǎoniú qián),
quer dizer, ‘para a nora entrar na porta, ainda é preciso um valor que equivale a um
boi’.
Distintamente do caso português, em chinês existem expressões que valorizam
o filho e desvalorizam a filha, uma vez que a sociedade tradicional chinesa tinha a
preferência absoluta pelo sexo masculino. Acreditava-se que o homem era superior
à mulher e que apenas o filho era capaz de continuar a linhagem ancestral. Desta
maneira, o filho é que herdava os bens e a habilidade profissional, tal como
confirmam os provérbios:

1) 生男可喜,生女不忧。
É alegre ter filho, e não é triste ter filha.
2) 传男不传女。
Os bens e a habilidade passam para o rapaz e não para a rapariga.

3.2 A submissão da esposa

Tornar-se esposa é o ponto de viragem ao longo da vida de uma mulher, pois


começa a formar um lar com o marido. Universalmente, tanto a cultura chinesa
quanto a portuguesa salientam a importância de ter mulher em casa.

Chineses:
1) 无梁不成屋,无妻不成家。
Casa sem viga, não é uma casa; família sem esposa, não é uma família.
2) 家无女人如庙堂,人没媳妇如和尚。
Casa sem mulher é como um templo, homem sem mulher é como um monge.

Português:
25
1) Casa sem mulher, corpo sem alma.
家里没有妻子,好比身体没有灵魂。

Apesar da importância que a mulher possui numa família, ao analisar as


expressões portuguesas e chinesas é fácil descobrir um fenómeno comum em torno
da esposa: a submissão ao marido. No caso de Portugal, de acordo com As
Ordenações da monarquia absoluta, “a esposa estava completamente submissa ao
marido, a quem devia o que se chamava «reverência marital»” (Guimarães, 1986:
558). O marido é que mandava em tudo, e a mulher não podia praticar qualquer ato
sem autorização do marido, conforme o Código Civil de 1867 (Guimarães, 1986).
Pode-se ver este aspeto nos seguintes provérbios:

1) Mulher à vela, marido ao leme.


女人起帆,男人掌舵。
2) Onde há galo não canta galinha.
有公鸡的地方母鸡不叫。
3) Do homem a praça, da mulher a casa.
男主外,女主内。

O homem a mandar em tudo é um dos reflexos do machismo português, e


“deve-se muito ao catolicismo romano, pois nele o império masculino é explícito. O
homem dirige a família. A mulher, na maioria, ainda relegada aos afazeres
domésticos, sentindo muito pouco os ares de liberdade” (Vieira, 2012: 80).
Tal situação aconteceu também durante a monarquia chinesa, altura em que a
filosofia do Confucionismo era predominante, e a obediência da mulher era
considerada a maior virtude. Mais especificamente, havia um padrão moral em
relação à mulher chamado 三从四德 (sāncóng sìdé), literalmente ‘três obediências
e quatro virtudes’, cuja definição no Dicionário Padrão de Chinês Moderno (2004:
1121) é a seguinte: “Padrão moral com que a sociedade feudal chinesa oprime as
mulheres. As três obediências: a mulher obedece ao pai antes do casamento, ao seu
26
marido quando casada e aos seus filhos na viuvez. As quatro virtudes: moralidade,
fala adequada, modéstia e trabalho diligente”. Quer dizer, o marido era superior à
mulher, que lhe obedecia naturalmente assim que se casava e não podia reagir ou
arrepender-se. Assim reza o provérbio 嫁 鸡 随 鸡 , 嫁 狗 随 狗 (jiàjī suíjī, jiàgǒu
suígǒu), ‘uma vez que a mulher se casa com o homem, ela deve ser-lhe fiel e
obediente para sempre, independentemente de todas as circunstâncias’. Outro
provérbio que reflete a mesma realidade é 妻跟夫走,水随沟流 (qīgēn fūzǒu ,
shuǐsuí gōuliú), cujo significado é ‘a esposa anda seguindo o marido, como a água
corre seguindo a vala’. Deste modo, recaía também sobre ela a obrigação de criar os
filhos e de fazer as tarefas domésticas, tornando-se uma 贤 内 助 (xiánnèizhù,
‘esposa virtuosa e trabalhadora’), expressão idiomática bem demonstrativa do que a
sociedade tradicional pretendia da mulher — 贤 (xián) corresponde a ‘bondade e
virtude’; 内 (nèi) refere-se a ‘assuntos domésticos’, como as tarefas domésticas e a
criação dos filhos, entre outros; 助 (zhù) pode ser interpretado como ‘ajudante,
assistente’. Esta mentalidade também pode ser vista no provérbio 妻 贤 夫 祸 少
(qīxián fūhuò shǎo), traduzido literalmente como ‘os desastres ficarão longe do
marido caso a sua esposa seja virtuosa’.
Diferentemente de Portugal, país católico onde se pratica a monogamia, na
China antiga havia o concubinato — este segundo tipo de companheira do homem, a
concubina, tinha como objetivo principal produzir mais filhos. Por exemplo, usa-se o
成语 (chéngyǔ) 三妻四妾 (sānqī sìqiè) para descrever ‘muitas esposas e
concubinas’ no tempo antigo devido ao sistema da poligamia. Note-se que a
concubina era inferior à esposa legítima na hierarquia familiar, e esta inferioridade
recaía também sobre os seus filhos (Gao, 2011). Tendo em conta que a inferioridade
provocava a submissão, muitas mulheres não queriam ser concubinas de modo
algum. Há provérbios que dizem respeito a esse aspeto: 宁做贫人妻,不做富家妾
(nìngzuò pínrén qī, bùzuò fùjiā qiè) significa literalmente ‘ser esposa de uma família
pobre é preferível a concubina de uma família rica’.

3.3 A relação complicada de sogra-nora


27
Obviamente, o casamento não envolve apenas os dois cônjuges, mas sim as
duas famílias inteiras, criando mais relações familiares, entre as quais a relação
sogra-nora, das mais interessantes e discutidas pela sociedade. Desde os tempos
antigos que a relação entre sogra e nora é extremamente complicada, apresentando
dificuldades e confrontos em muitas famílias.
De facto, independentemente de viver junto ou separado, a sogra fazia
interferências constantes na vida do casal, possivelmente provocando conflitos
(Chiapin, Araújo & Wagner, 1998), como demonstram os provérbios portugueses:
Enquanto fui nora nunca tive boa sogra. Enquanto fui sogra nunca tive boa nora. Esta
maneira de descrever a relação sogra-nora não é exclusiva de Portugal,
estendendo-se a outras culturas, como refere um provérbio chinês: 自古婆媳和谐
少 (zìgǔ póxí héxié shǎo, ‘desde a antiguidade há muito poucas relações sogra-nora
harmoniosas’). Essa relação é considerada como a mais difícil de enfrentar pelo povo
chinês, e hoje em dia essa dificuldade continua bem presente na sociedade, havendo
na China inúmeras telenovelas que abordam este tema. Veja-se a relação
estereotipada sogra-nora aos olhos dos portugueses e chineses através dos
seguintes provérbios.

Portugueses:
1) Amizade de sogra e de nora, só dos dentes para fora.
婆婆和儿媳间的友谊,只是说说而已。
2) Duas coisas matam de repente: vento pelas costas e a sogra pela frente.
有两件事是致命的:背后吹来的风和面前的婆婆。
3) Venha a minha nora, mas venha cada dia e não cada hora.
来吧我的儿媳妇,但每天来就好,不要每时每刻都来。
4) Quem na casa da mãe não atura na da sogra não espere ventura.
若在妈妈家里都不能忍受,在婆婆家里就不要期望幸福了。
5) Boa casada é a que não tem sogra nem cunhada.

28
没有婆婆和妯娌的婚姻才幸福。

Chineses:
1) 家里和不和,但看儿媳和婆婆。
A harmonia familiar depende da nora e da sogra.
2) 跟着婆婆吃肉,不如跟着爹娘受穷。
Sofrer com os pais é melhor do que viver com sogra rica.
3) 好性婆婆不如歹性娘。
A mãe antipática é melhor do que a sogra simpática.
4) 姑娘好过,媳妇难熬。
A vida da rapariga é agradável, mas a da nora é sofrimento.
5) 多年媳妇熬成婆。
Mesmo uma nora submissa um dia tornar-se-á uma sogra dominadora.

Como demonstram os exemplos acima, muitas vezes o preconceito recai na


sogra, que desempenha um papel negativo, como uma velha aborrecida e faladora,
vista de forma estereotipada e preconceituosa. De acordo com Wang (2008), a sogra
e a nora vêm de duas famílias distintas, com hábitos e mentalidades diferentes, a
que acresce a diferença de idade, tudo isto gerando dificuldades no relacionamento
entre si e até causando conflitos na vida do casal. Além disso, há uma relação de
rivalidade entre elas, tendo em conta que a nora rouba o filho, do ponto de vista da
sogra. Isso é refletido num provérbio: 娶了媳妇忘了娘 (qǔle xífù wàngle niáng, ‘o
filho esquece-se da mãe após o casamento’), pois realmente as duas mulheres
partilham o mesmo homem (marido, filho).

3.4 A imagem positiva da mãe

O amor materno é valioso e altruísta, pois a mãe dá à luz uma nova vida e ela
própria sofre com a gravidez, bem como com a dor do parto. Badinter (1985: 19)
chama a atenção para o facto de se identificar esse amor com a própria natureza da
29
mulher: “O amor materno foi por tanto tempo concebido em termos de instinto que
acreditamos facilmente que tal comportamento seja parte da natureza da mulher,
seja qual for o tempo ou o meio que a cercam”. A figura da mãe ocupa um lugar
extremamente importante entre todos os papéis analisados, sendo particularmente
abundantes os provérbios a respeito da maternidade, num registo valorizador e de
elogio, tanto em chinês como em português. A mãe é única, e há provérbios
aludindo à sua exclusividade, singularidade e amor eterno e incondicional.

Portugueses:
1) Mãe há só uma.
母亲只有一个。
2) Não há amor como o de mãe.
母爱独一无二。
3) Quem tem uma mãe tem tudo, quem não tem mãe, não tem nada.
有母亲的人拥有一切,反之则一无所有。

Chineses:
1) 母爱如海。
O amor materno parece o mar.
2) 吃遍天下盐好,走遍天下娘好。
Entre os pratos que experimentei, o que tem sal é ótimo;
viajei pelo mundo todo e descobri que a mãe é a melhor.
3) 儿不嫌母丑。
O filho nunca acha a sua mãe feia.

Note-se que o papel de mãe surge também incluído no substantivo pais,


também frequente em provérbios e idiomatismos. Universalmente os pais detêm
uma imagem positiva em relação aos filhos em expressões chinesas e portuguesas.
Vejam-se exemplos de provérbios que se referem ao valor e ao amor dos pais.

30
Portugueses:
1) Peidos dos filhos não cheiram aos pais.
父母闻不到孩子的屁臭。
2) Casa de pais, escola de filhos.
父母的家是孩子的学校。

Chineses:
1) 可怜天下父母心。
Somente os pais se preocupam com os filhos.
2) 父母恩比天大。
A graça dos pais é maior do que o céu.
3) 养儿方知父母恩。
Só entendemos o valor dos pais quando criamos filhos.

Tanto na China como em Portugal, numa família tradicional geralmente ainda é


a mãe a responsável pelo cuidado dos filhos, estando sempre disponível a fazer
qualquer coisa, até os sacrifícios que lhe são impostos, pelo bem de seus filhos
(Tourinho, 2006). Portanto, a mãe tradicional da China considera os filhos como seus
骨 肉 (gǔròu, ‘osso e carne’, em português 'carne da sua carne'). Trata-se de uma
manifestação de amor generoso sem exigir nada em retorno. Vejam-se exemplos de
provérbios a respeito dessa dedicação aos filhos.

Portugueses:
1) A abelha-mestra não tem sesta, e se a tem pouca e depressa. (sendo a
abelha-mestra metáfora representativa da imagem da mãe)
蜂王没有午睡,如果有也很短。
2) Uma mãe é para cem filhos, mas cem filhos não são para uma mãe.
一位母亲属于一百个孩子,但是一百个孩子不都属于母亲。
3) Mãe acautelada, filha bem guardada.

31
谨慎的母亲守护好女儿。

Chineses:
1) 儿行千里母担忧。
A mãe preocupa-se sempre com os filhos quando estão longe de casa.
2) 打在儿身,疼在娘心。
Bater nos filhos faz com que a mãe sinta dor no coração.

Com tanto amor pelos filhos, a certo momento o afeto podia transformar-se em
mimo, perdendo-se o equilíbrio entre o amor e a disciplina. Um possível resultado de
ser-se mimado, um jeito errado de amar, é não se saber retribuir o amor e tornar-se
preguiçoso, como demonstra um dos provérbios acima mencionados: Uma mãe é
para cem filhos, mas cem filhos não são para uma mãe, bem como Mãe aguçosa,
filha preguiçosa, equivalente ao provérbio chinês 娘 勤 必 养 懒 姑 娘 (niángqín
bìyǎng lǎngūniáng).
Existem várias expressões e frases idiomáticas portuguesas sobre o mimo da
mãe e os filhos pouco independentes: Filho da mamã, mãe coruja, mãe galinha, não
sair debaixo das saias da mãe.
Paralelamente, também se pode encontrar o fenómeno do mimo em
expressões chinesas populares. A expressão idiomática 小祖宗 (xiǎo zǔzōng) é um
típico exemplo, significando literalmente ‘o pequeno antepassado’. Quer dizer, os
filhos são considerados pelos pais como o seu antepassado, a quem prestam muita
atenção e cuidados. Usa-se em ocasiões em que os filhos são traquinas e
desobedientes, e os pais ou outros adultos queixam-se disso dizendo-lhes 小 祖 宗
(xiǎo zǔzōng). Trata-se de uma forma de tratamento cheia de amor e mimo. Trata-se
de trazê-los nas palminhas, tratamento muito comum quando se trata d' o benjamim
da família, o filho mais novo. Adicionalmente, há vários 成 语 (chéngyǔ) que
refletem também a realidade do mimo, por exemplo 娇 生 惯 养 (jiāoshēng
guànyǎng, ‘ser mimado desde a infância’), 掌上明珠 (zhǎngshàng míngzhū, ‘uma
pérola preciosa guardada na palma da mão’), que é uma forma metafórica de se
32
referir aos filhos amados pelos pais, sobretudo à filha.
Tradicionalmente, além de cuidar da vida quotidiana da família, a mãe assume
também a responsabilidade de criar e educar os filhos, sendo o seu primeiro
professor da vida. Há um 成 语 (chéngyǔ) que diz respeito à dedicação da mãe à
educação dos filhos: 孟母三迁 (mèngmǔ sānqiān, ‘mãe de Mêncio, três mudanças
de casa’). A expressão está relacionada com o famoso filósofo chinês do
confucionismo Mêncio, cuja mãe mudou três vezes de casa para encontrar o lugar
adequado onde pudesse criá-lo. Observem-se mais provérbios e 成 语 (chéngyǔ)
acerca deste aspeto.

Portugueses:
1) A filha da onça tem pintas que nem a mãe.
美洲豹的女儿和母亲一样有斑点。
2) Tal pássaro, tal ovo.
有其母必有其女。
3) Cabra que vai à vinha, onde pula a mãe, pula a filha.
去葡萄园的山羊,女儿跟着母亲跳跃。
4) De boa cepa a vinha, de boa mãe a filha.
好葡萄秧造就葡萄园,好母亲造就女儿。

Chineses:
1) 有其父必有其子,有其母必有其女。
Tal pai, tal filho. Tal mãe, tal filha.
2) 苗好米好,娘好女好。
De bom rebento o arroz, de boa mãe a filha.
3) 娘勤女不懒。
Mãe trabalhadora, filha não preguiçosa.
4) 买屋看梁,娶妻看娘。
Observe a viga se quiser comprar uma casa; observe a mãe se quiser casar com a
filha.
33
5) 母慈子孝。
Mãe bondosa cria filhos que têm amor filial.

Repare-se que, comummente, as expressões portuguesas e chinesas surgem em


maior abundância envolvendo a filha, do mesmo sexo. Na verdade, de certa maneira,
a personalidade e o comportamento quotidiano da mãe influenciam
constantemente os filhos, e em particular os mais próximos, em muitos casos as
filhas: “As adolescentes valorizam a companhia, a ajuda e a confiança na relação
materna. É atribuída à mãe uma condição privilegiada, ela é percebida pelas
adolescentes como “mulher única e especial”. Nota-se, assim, que mãe e filha
compartilham de uma relação particular” (Seron & Milani, 2011: 158).
Falando da mãe, existe na China desde a antiguidade um termo especial, 干妈
(gānmā) ou 干 娘 (gānniáng), que designa 'uma mulher cuja categoria é
aproximadamente igual à de uma mãe adotiva ou madrinha, mas sem complicações
religiosas ou legais'. Tal tradição também recai sobre o homem. Assim, existe o
idiomatismo 拜 干 亲 (bài gānqīn, ‘ter um padrinho ou uma madrinha’) para
descrever o ato de uma criança ter uma relação estreita com um amigo ou amiga
próximos dos pais. Do lado de Portugal, há o termo religioso ‘comadre’/compadre,
que geralmente tem conotação positiva. Trata-se da relação católica entre a mãe da
criança e a sua madrinha, que a batizou. Contudo, o termo comadre também se
utiliza para designar, por extensão, 'qualquer amiga ou vizinha', já que nas aldeias,
pouco povoadas, quase todos eram compadres e comadres. Ao longo do tempo,
acabou por significar também 'a outra', da mulher em geral, a que era vista
demasiadas vezes na rua, em vez de estar desejavelmente no recato da sua casa, ou
aquela que falava demasiado... Achando-se a relação próxima entre mulheres
sempre sujeita às contingências do humor e da vida quotidiana, nos provérbios ficou
cristalizada a crítica, a visão depreciativa, por acabarem por se dar mal, por
contarem os segredos umas das outras, por serem irritadiças ou menos recatadas:
Zangam-se as comadres, sabem-se as verdades. Bem parece a minha comadre se
não fora o Deus te salve. Comadre andeja, não vou a parte aonde a não veja.
34
3.5 A impressão depreciativa da madrasta

Ao falar da madrasta, vem sempre à mente uma imagem ruim, por exemplo a
madrasta da Cinderela e da Branca de Neve. Curiosamente, enquanto a mãe recebe
elogios, outra mulher que entre na família vinda de fora, a madrasta, recebe
frequentemente avaliação negativa, sendo invariavelmente considerada como uma
vilã, o que é um estereótipo para a mulher. Tal como refere Mello (2017: 24), tem
tudo a ver com a discriminação de género: “Vale ressaltar-se que, devido às
constantes cobranças sociais que costumam recair sobre as mulheres, o papel
desempenhado por uma madrasta é, normalmente, mais difícil que o de um
padrasto”. Trata-se de um aspeto comum entre a cultura chinesa e a portuguesa.
Atente-se nas aceções da palavra madrasta no Dicionário de Português Língua
Estrangeira (2012: 437):

1. Mulher do pai, em relação aos filhos de uma relação anterior deste.


2. Deprec. Mãe pouca carinhosa.
3. Que ou quem é fonte de dissabores.

Obviamente, pode-se ver que o termo madrasta possui um sentido depreciativo


apesar de se tratar de uma figura materna, como anuncia o provérbio, aludindo ao
próprio som, sufixo e semântica com indicadores de negatividade: Madrasta, o nome
lhe basta. Além disso, o idiomatismo sorte madrasta é um exemplo extremamente
típico, modificando neste caso o termo madrasta um substantivo cujo significado é
positivo; no entanto, a sorte vira-se para o seu oposto: 'azar'. Em comparação com a
figura da mãe, que está sempre relacionada com palavras positivas nos provérbios (A
diligência é a mãe da boa ventura. A experiência é a mãe da ciência e a mestra da
vida), muitas vezes o termo madrasta surge associado a substantivos negativos, tais
como avareza, diabo ou negligência, tal como aparecem nos seguintes provérbios
35
portugueses:

1) A avareza é madrasta de si mesma.


吝啬是继母本人。
2) A diligência é a mãe de todas as virtudes, como a negligência é a sua madrasta.
勤奋是所有美德之母,懒散则是继母。
3) Madrasta, o diabo arrasta.
继母,爬行的魔鬼。

Evidentemente, quem não convive bem com a madrasta são os enteados, por
não existir a relação biológica e por terem de aceitar um novo membro na família, a
quem é atribuída a função da maternidade. Desta maneira, a madrasta é
considerada pelos enteados como uma concorrente da sua mãe de sangue. Qualquer
sentimento positivo pela madrasta poderia ser uma traição à mãe. Na sequência
disso, muitas vezes a briga constante é inevitável. Há provérbios que espelham esta
situação:

1) Madrasta e enteada sempre andam em batalha.


继母和继女总是在斗争。
2) Quem em casa da mãe não atura, na da madrasta não espere ventura.
在母亲家里都无法忍受,在继母那里就不用期待幸福了。
3) A quem não quer boa mãe dá-se-lhe ruim madrasta.
给不想要好母亲的人一个坏继母。

Desde a antiguidade que há registo da qualidade de madrasta na literatura


chinesa. Sabe-se que 《叶 限》 (Yè Xiàn)7 é considerado como o primeiro conto
tradicional sobre a madrasta má a nível mundial, escrito na dinastia Tang8 por Duan

7
叶限 (Yè Xiàn) é considerado como a Cinderela chinesa, sendo um conto que faz parte do romance《酉阳杂俎》(Yǒuyáng
Zázǔ).
8
Dinastia que reinou na China de 618 a 907.
36
Chengshi9. De acordo com o folclorista americano Jameson (2014, apud Jin), o conto
da Cinderela chinesa Ye Xian é 700 anos mais antigo do que o do Ocidente sobre o
mesmo tema da madrasta. De facto, na cultura chinesa a situação é semelhante, a
madrasta representa sempre uma figura negativa, que frequentemente tem a ver
com aversão, crueldade, invasor, maus tratos, tortura, entre outros. Tudo isso surge
igualmente refletido em provérbios e expressões idiomáticas. O idiomatismo 后娘心
(hòuniáng xīn) literalmente traduz-se como ‘o coração da madrasta’, e usa-se para
descrever aquele tipo de madrasta com intenção venenosa e malévola. Seguem-se
mais exemplos de provérbios chineses aludindo à figura da madrasta:

1) 春天后母面。
A primavera é como se fosse o rosto da madrasta. (O clima na primavera muda
constantemente)
2) 晚娘的拳头,云里的日头。
Tanto o punho da madrasta quanto o sol atrás das nuvens são cruéis.
3) 后娘心比蛇蝎狠。
O coração da madrasta é mais venenoso do que o da serpente e do escorpião.
4) 前娘添饭满盈盈,后娘添饭四角空。
O prato que a mãe prepara está muito cheio, o da madrasta está muito pouco.

Certamente não é fácil lidar com o relacionamento entre a madrasta e os


enteados; perante esta dificuldade o homem pode desempenhar um papel positivo,
para a resolver, ou ao contrário, piorá-la, tal como refere o provérbio 既有后娘,就
有后爹 (jìyǒu hòuniáng, jiùyǒu hòudiē, ‘Terá padrasto uma vez que tem madrasta’).
Quer dizer, uma madrasta má é capaz de influenciar a opinião do pai de tal modo
que ele deixe de amar os seus filhos ou de cuidar bem deles, tornando-se um
padrasto. À maneira comum de persuasão conjugal chama-se 枕 边 风 (zhěnbiān
fēng), expressão idiomática que significa literalmente ‘conversa de travesseiro’. É um
método a que muita mulher recorre a fim de convencer o marido.
9
段成式 (Duàn Chéngshì) é um poeta e escritor da dinastia Tang.
37
3.6 A situação ambivalente de viúva

A viúva é sempre vista como uma mulher desgraçada, pois tradicionalmente


vivia dependente do seu marido, e assim que fica viúva, a vida passa a ser muito
difícil, sendo muitas vezes humilhada e diminuída pela família e pela sociedade.
Portanto, muitas mulheres viúvas procuram casar-se novamente e suscitam opiniões
ambivalentes.
Nas primeiras dinastias feudais chinesas não havia obstáculo ou restrição
quanto ao segundo ou novo casamento. Porém, a situação mudou quando o
confucionismo se tornou a ideologia oficial, nomeadamente a partir da dinastia
Song10, época em que o casamento era demasiadamente influenciado pelo
neoconfucianismo ( 理 学 , lǐxué), cujo ponto de vista importante é ‘salvar a lei da
natureza, eliminar a paixão’11. O governo da dinastia Song e as posteriores dinastias
começaram a promover rigorosamente a consciência de que a viúva devia manter a
castidade (Lin, 2007). Elogiavam-se aquelas viúvas que não se casavam de novo
através da construção de uma grande quantidade de ‘Arcos de Castidade’ (贞节牌坊,
zhēnjié páifāng). Neste contexto, tendo em conta a ética e a moralidade, muitas
viúvas optaram por viver sozinhas a fim de proteger a reputação da família e de
comprovar a fidelidade ao marido falecido. Há vários provérbios chineses que
refletem e apoiam esta mentalidade:

1) 好女不嫁二夫。
Boa mulher não se casa com dois homens.
2) 饿死事小,失节事大。
Morte por fome é preferível a perda de castidade.
3) 一女不吃两家饭。
Mulher não come refeição dos dois homens.

10
Dinastia que reinou na China de 960 a 1279.
11
Tradução de 存天理,灭人欲 (cún tiān lǐ, miè rén yù).
38
4) 众臣不事二君,贞妇不事二夫。
Ministros não trabalham para dois imperadores, mulher de castidade não serve
dois maridos.

O exemplo 1) é retirado da obra Gramática e Diálogos em Português e Chinês:


um manuscrito inédito do P.e Joaquim Afonso Gonçalves (Barros e Ng Cen, 2014). O
padre português, sinólogo extremamente importante na história do ensino do chinês
e do português, foi o primeiro a estudar especificamente os provérbios em ambas as
línguas, tendo fornecido muitos equivalentes ou explicações. Tal como refere Barros
na Introdução à edição semidiplomática do manuscrito BNP 7975, este apresenta
numerosas partes e passagens também publicadas no manual e gramática chinesa
da autoria do padre lazarista intitulado Arte China, publicado em Macau no ano de
1829, contudo, elas não coincidem completamente, apresentando muitas vezes
variação de enorme interesse linguístico, histórico e cultural, toda ela devidamente
anotada e comentada no aparato crítico, também no que respeita aos provérbios e
idiomatismos estudados pelo Padre (Barros e Ng, 2014; 2017).
Nota-se que, apesar de defender o conceito de castidade, geralmente a lei não
proibiu claramente o casamento da viúva desde a dinastia Han12 (Wang, 2013). De
facto, havia sempre viúvas procurando casar-se novamente em busca de uma vida
melhor, mesmo enfrentando problemas de ética e moralidade, uma vez que era o
homem que suportava economicamente a família, como refere o provérbio 姑娘操
贞易,寡妇守节难 (gūniáng cāozhēn yì, guǎfù shǒujié nán), que significa ‘é fácil uma
rapariga manter a virgindade, é difícil uma viúva manter a castidade’.
Na verdade, na China antiga tanto as viúvas solitárias como as casadas de novo
sofriam preconceitos e discriminação por parte da sociedade, tendo uma vida difícil.
Portanto, há um idiomatismo que o refere: 寡妇脸 (guǎfù liǎn), ‘um rosto cheio de
amargura, sem nenhuma alegria’. De facto, a palavra viúva em chinês, 寡妇 (guǎfu),
não indica apenas o estado civil da mulher, sendo também uma forma de
tratamento depreciativa (Luo, 1996: 445). Há vários provérbios e 歇后语 (xiēhòuyǔ)
12
Dinastia que governou a China a partir de 202 a.C. a 220 d.C.
39
chineses que revelam esta realidade:

1) 寡妇改嫁,儿女受骂。
Viúvas casadas (de novo), filhos insultados.
2) 寡妇门前是非多。
Há muitos escândalos diante da porta de uma viúva.
3) 疾风暴雨,不入寡妇之门。
Não entre na casa da viúva, mesmo em tempo de tempestade.
4) 寡妇赶集——没人也没钱。
A viúva vai à feira – não tem acompanhamento nem dinheiro.

No caso de Portugal, há um provérbio que diz: Viúva é barco sem leme. A vida
muda completamente por causa da perda do companheiro, já que tradicionalmente
era o homem que sustentava a família. Sem apoio do marido, a viúva tornou-se mais
vulnerável e podia sofrer uma certa discriminação, por exemplo em relação aos seus
filhos: Filho de viúva, malcriado ou mal-acostumado. Quanto a si própria, diz-se:
Viúva de estrada nem viúva nem casada.
Por outro lado, em Portugal, a nível religioso e civil, permitiam-se as segundas
núpcias dos viúvos. Em vista disso, para as viúvas, nomeadamente as que têm
dificuldade financeira, era possível que recorressem ao segundo casamento.
Vejam-se os provérbios que demonstram esta realidade:

1) Sol e chuva, casamento de viúva


日晒雨淋,寡妇结婚。
2) Viúva rica, casada fica.
有钱的寡妇容易再婚。
3) Quem tripas comeu e com viúva casou, nunca esquece o que lá passou.
吃过牛肚和娶了寡妇的人,永不会忘记发生的事。
4) A viúva mais ajuizada anda sempre doida por tornar a casar.

40
理智的寡妇总是疯狂得要再婚。

Ao falar da hipótese de a viúva casar novamente, surge sempre a questão da


deslealdade para com o primeiro marido. Levando em consideração os fatores
religiosos e sociais, muitas viúvas optam, por isso, por permanecer sozinhas. Pode-se
observar essa mentalidade nos provérbios: Viúva honrada, porta fechada.
A verdade é que era tal o preconceito contra as viúvas, por se lhes negar
qualquer direito à felicidade na ausência do marido, que nenhuma viúva, sendo viva,
fica fora de suspeita e mau conceito, sendo sempre objeto de crítica e julgamento
duro, até passarem a merecer o universal elogio fúnebre: É boa e honrada a viúva
sepultada, que significa que as viúvas só são boas/bem comportadas quando mortas,
vivas portam-se habitualmente "mal".
Por fim, de acordo com as Ordenações da monarquia absoluta, “a esposa não
tinha nenhum direito em relação aos bens que tinham sido completamente
administrados pelo marido, apenas era responsável pelos bens comuns até à partilha
como cabeça de casal” (Guimarães, 1986: 559). Dito de outro modo, a viuvez era
vista como momento de liberdade e prazeres para as mulheres, tal como ficou
plasmado na frase e expressão idiomática viúva alegre / Ser uma viúva alegre. Há
igualmente provérbio a esse respeito: Viúva rica com um olho chora com o outro
repenica.

41
Capítulo IV
A imagem discriminatória da mulher
e a imagem de homem que pressupõe

42
De acordo com Furlanetto (1981: 120), “a língua não só reflete a ideologia da
cultura como também é segmento material dessa cultura”. A partir daí, nota-se que
a discriminação e o preconceito em relação à mulher, ou seja, a ideologia machista,
muitas vezes também partilhada pelas próprias mulheres assim dominadas, podem
ser refletidos na língua portuguesa e chinesa.
Diz-se que a língua portuguesa é machista, uma vez que o masculino possui
uma posição predominante conforme algumas regras gramaticais de concordância.
Posto isto, há também muitas expressões que demonstram preconceito contra a
mulher, por exemplo, no caso de uma rapariga que permaneça solteira além do
tempo normal para casar, usam-se idiomatismos como Ficar encalhada, Ficar para
tia, Solteirona. Por fim, no dia-a-dia muitos palavrões que frequentemente aparecem
estão também relacionados com a figura feminina.
A língua chinesa também reflete a ideologia machista. Antigamente o marido
chamava “内人” (nèirén), literalmente ‘pessoa dentro de casa’, à mulher na hora de
apresentá-la a outras pessoas. Tal forma de tratamento revela a posição inferior da
mulher, já que o seu papel se resume a cuidar dos assuntos domésticos, enquanto o
homem trata dos assuntos importantes e pesados. Outro exemplo tem a ver com a
filha; como foi referido no capítulo anterior, ela é considerada às vezes um tipo de
赔钱货 (péiqián huò, ‘mercadoria que dá prejuízo’). De acordo com Gu (2016), esta
ideologia machista também pode ser descoberta do ponto de vista linguístico. Basta
analisar a ordem dos substantivos homem e mulher quando aparecem juntos em
expressões, e é fácil reparar que a maior parte das vezes a palavra homem vem antes
de mulher, de acordo com o hábito de falar. Exemplificando, 儿 女 情 长 (érnǚ
qíngcháng, 儿 ‘rapaz’ e 女 ‘rapariga’), 夫唱妇随 (fūchàng fùsuí, 夫 ‘marido’, e
妇 ‘esposa’), 衣食父母 (yīshí fùmǔ, 父 ‘pai’ e 母 ‘mãe’), 男女授受不亲 (nánnǚ
shòushòu bùqīn, 男 ‘homem’ e ‘ 女 ’ mulher’). Tal fenómeno existe também em
expressões com animais, como 攀 龙 附 凤 (pānlóng fùfèng, 龙 ‘dragão’ e 凤
‘fénix’).
Na verdade, ao coligir exemplos de provérbios e idiomatismos chineses e
portugueses pode-se descobrir facilmente o facto de a figura feminina ser
43
habitualmente alvo de crítica negativa, ou seja, a existência ao longo dos tempos do
sexismo em desfavor da mulher. De entre todos os papéis analisados no capítulo
anterior, apenas a figura de mãe não sofre nenhuma crítica, sendo sempre alvo de
elogio. A seguir, apresenta-se uma análise no que se refere à imagem negativa da
mulher em geral.

4.1 A imagem discriminatória da mulher nos provérbios

Ao recolher exemplos de provérbios ligados à figura discriminada, a mulher


compara-se sempre com animais, nomeadamente, nos provérbios portugueses,
utilizando termos como porco, mula, galinha, burro, sardinha, cavalo, entre os
outros. Tal forma de comparação revela a posição desvalorizada da mulher.

4.1.1 Agressão à mulher

No capítulo anterior, em relação ao papel familiar de esposa, destacou-se a


submissão ao marido. De facto, além de revelarem até que ponto a figura masculina
controlava tudo, incluindo a figura feminina, segundo a hierarquia familiar, ficaram
fossilizadas nos provérbios também situações em que o homem bate na mulher.

Portugueses:
1) A mula e a mulher, com pancada se quer.
A mula e a mulher, com pau se quer.
A mulher e a mula o pau as cura.
O burro e a mulher a pau se quer.
女人和骡子/驴是棍棒打出来的。

Chineses:
1) 娶到的媳妇买到的马,由人骑来由人打。
A esposa é como um cavalo comprado, pode-se montá-la e espancá-la.
44
2) 打老婆,骂老婆,手内无钱卖老婆。
Bater e insultar a mulher, até vendê-la se não se tiver dinheiro.
3) 拳头底下出好妻。
Com o punho é que se tem uma boa esposa.

De acordo com as Ordenações de Portugal, “o marido podia castigar a esposa


corporalmente, e tradicionalmente, a regulação social dos conflitos violentos na
família pertencia à comunidade de familiares e vizinhos” (Silva, 1991: 386). No caso
da China antiga, a situação da mulher era ainda pior, já que fazia parte dos bens do
marido. Apesar de ser proibido pela lei, existia ao longo do ano milenar a tradição
ridícula de “ 典 妻 “ (diǎnqī), literalmente ‘penhorar a esposa’. Como o exemplo 3
demonstra, além de bater e insultar a mulher, o homem podia penhorá-la ou
vendê-la devido às dificuldades financeiras. Muitas mulheres penhoradas precisavam
de satisfazer o apetite sexual do comprador, além de gerar filhos e fazer trabalhos
domésticos pesados (Xu, 2005). Pela mesma razão, há provérbios que consideram a
mulher como uma peça de roupa ou um objeto de consumo: 兄弟如手足,女人如
衣服 (xiōngdì rú shǒuzú, nǚrén rú yīfú) traduz-se literalmente como ‘irmão é como
mão, mulher é como roupa’.

4.1.2 A ignorância e insignificância da mulher

Ao tratar dos conhecimentos da mulher, aparece de imediato na mente o


famoso provérbio chinês 女子无才便是德 (nǚzǐ wúcái biànshì dé, ‘a mulher sem
talento tem virtude’). A sociedade tradicional chinesa atribuiu à mulher a função de
fazer os trabalhos no âmbito da casa, como as tarefas domésticas, o cuidado dos
filhos e pais do marido, bem como a educação dos filhos, sem precisar de mais
habilidades. Por isso, apesar de a China antiga possuir um sistema completo de
educação, as mulheres não tinham direito à educação oficial, e pequena parte delas
recebia apenas educação familiar. Além disso, não lhes era permitido participar no
45
‘Sistema de Exame Imperial’13 (科举考试, kējǔ kǎoshì), o qual era o principal acesso
à vida política e durou mais de 1300 anos (de 587 a 1905). Desta forma, elas ficavam
excluídas dos assuntos públicos do país, recebendo apenas o tipo de instrução que o
homem impunha para serem mulheres “boas” em vez de seres humanos válidos (Luo,
1996). Dai surgiu outro provérbio estereotipado com intenção de diminuir o valor e
os conhecimentos da mulher, 头发长,见识短 (tóufā cháng, jiànshí duǎn, ‘cabelo
comprido, conhecimentos poucos’), no sentido de evitar a insubmissão feminina,
que afetaria a base da sociedade patriarcal. Curiosamente, em português há uma
máxima semelhante para desvalorizar a sabedoria feminina através da sua aparência
física: A mulher é um animal de cabelos longos e ideias curtas. Ainda pior é que se
usa o termo demasiadamente pejorativo animal para descrever a mulher.
Adicionalmente, há outro provérbio que mancha a imagem da mulher a pretexto da
sua aparência física natural: Mulher sardenta ou puta ou ladra.
Relativamente à educação feminina em Portugal, as primeiras escolas femininas
foram criadas apenas no final de 1790 em Lisboa, e nelas as meninas podiam
aprender apenas a coser, a fiar e a bordar, bem como o ensino de leitura e escrita14.
No entanto, “antigamente muitos portugueses resistiam ao facto de oferecer
erudição às mulheres. E as poucas que alcançaram uma educação mais aperfeiçoada,
foram motivo de crítica e deboche de homens e mulheres que as rodeavam” (Ribeiro,
2002: 34). Este assunto foi aprofundado na dissertação de mestrado de Wang Kaiyu
(2017), intitulada A situação social da mulher na China e em Portugal desde o início
do século XX: o acesso ao espaço público, que compara precisamente o caso
português e o chinês. Neste contexto, ao longo dos séculos, não é surpreendente
encontrar vários provérbios que reduzem a importância feminina e desvalorizam a
necessidade de a mulher aceder ao conhecimento:

1) A mulher e a sardinha quer-se da mais pequenina.


女人和沙丁鱼越小越好。

13
O sistema antigo chinês de exames para eleger governantes capazes.
14
http://donamariaprimeira.blogspot.com/search/label/14.05.31-primeiras%20escolas%20femininas
Consultado a 25-04-2019.
46
2) Livra-te... da mulher que sabe latim.
避开懂拉丁语的女人。
3) Mulher que sabe latim, mula que faz him raras vezes têm bom fim.
会拉丁语的女人和叫唤的驴,很少有好结果。
4) A mulher e a galinha por andar se perde asinha.
四处游荡的女人和母鸡会迷路。
5) Conselho de mulher é tonto, e quem o toma é louco.
Conselho de mulher vale pouco, e quem o toma é louco.
女人的建议很愚蠢,采纳它的人是疯子。

4.1.3 Falta de liberdade no casamento e divórcio

Ao recolher exemplos de provérbios, foi interessante notar que não se


encontrou nenhum provérbio português em relação ao divórcio. Na verdade, o
divórcio apenas foi legalizado em 1910, pouco tempo depois da implantação da
República. Na época da monarquia não existia o divórcio, havendo apenas a
separação judicial de pessoas e bens, de acordo com as Ordenações e o Código Civil
de 1867 (Guimarães, 1986). Antes de 1867 só se podia casar pela igreja, em Portugal.
Independentemente de o casamento católico ser um sacramento, quem queria
"divorciar-se" podia recorrer à anulação do casamento com fortes razões (Wang,
2013).
Na China antiga, a posição da mulher era extremamente inferior em
comparação com a da mulher portuguesa da monarquia. Não havia divórcio como
hoje em dia, um rompimento do vínculo de casamento por mútuo consentimento, e
a base do regime de divórcio antigo chamava-se “七出” (qīchū), ‘as sete culpas’ que
a mulher tinha. Na base disso, o marido podia terminar unilateralmente o vínculo de
casamento através do envio da ‘Carta de Divórcio’ (休书, xiūshū) à mulher, sem para
tal necessitar do seu consentimento. O “七出“ (qīchū), cujo primeiro registo surge na

47
obra 《大戴礼记》15 (dàdài lǐjì), abarca as seguintes sete circunstâncias, ou seja, as
sete culpas que a mulher comete: não gerar filhos, cometer adultério, não ter
piedade filial para com os sogros, ser tagarela, praticar o roubo, demonstrar inveja,
ter uma doença grave. Este regime de divórcio aplicava-se universalmente pelo
menos desde a dinastia Han e começou a ser estipulado por lei desde a dinastia Tang
(Guo & Cui, 2010). Desta forma, existem provérbios atestando que o homem termina
o vínculo de casamento com a mulher:

1) 丈夫嫌妻一张纸,妻子嫌夫只有死。
O marido mandará a Carta de Divórcio se não gostar da mulher; a mulher apenas
recorrerá à morte se não gostar do marido.
2) 休妻毁地,到老不济。
Divorciar-se da mulher é como destruir a terra, ficará pobre na velhice.
3) 宁娶寡妇,不娶生妻。
Casar-se com viúva é preferível do que com mulher divorciada.
4) 有钱不娶活汉妻。
Não se case com mulher divorciada se tem dinheiro.

O exemplo 1 confirma novamente que a mulher chinesa não tinha o direito de


recorrer ao divórcio, ao contrário, tal direito estava na mão do homem. Os exemplos
3 e 4 revelam a realidade da posição da mulher divorciada, inferior à da viúva,
embora a viúva sofresse já discriminação e preconceito, como se referiu no capítulo
anterior.
Enquanto o “七出” (qīchū) protege os direitos do homem no casamento, a obra
《大戴礼记》(dàdài lǐjì) veio apresentar também três casos excecionais (三不去, sān
búqù) em que o homem não se podia divorciar da mulher, mesmo que ela
cometesse “ 七 出 ” (qīchū), exceto nos casos de adultério e doença grave, com o
objetivo de defender os direitos da mulher. São as seguintes as três exceções:

15
Um dos clássicos confucionistas, inclui os artigos de estudantes de Confúcio e eruditos confucionistas durante o Período dos
Reinos Combatentes.
48
1. A esposa não ter família parental para quem voltar depois do divórcio.
2. A esposa ter servido nos três anos de luto filial pelos pais falecidos do marido.
3. O marido ser pobre no momento do casamento, mas depois ter enriquecido.

Há um provérbio centrado da exceção número 3 que diz 糟 糠 之 妻 不 可 弃


(zāokāng zhī qī búkě qì), 'não pode abandonar a esposa que conviveu consigo na
pobreza'.
Por fim, outra tradição chinesa antiga que Portugal não partilhou tão
amplamente é o casamento arranjado pelos pais. Nem o rapaz nem a rapariga
tinham liberdade no casamento, sendo os pais a escolher a pessoa ideal de acordo
com as suas experiências e as condições de família, seguindo o princípio de 门当户
对 (méndāng hùduì), que é um 成 语 (chéngyǔ) com o seguinte significado: ‘o
estatuto social e económico de ambas as famílias combinam perfeitamente para o
casamento’. Para as famílias que se conheciam muito bem, até podia dar-se o caso
de 指 腹 为 婚 (zhǐfù wéihūn), cujo significado é ‘marcar o casamento antes de as
crianças nascerem’ (evidentemente, se fossem um menino e uma menina). Há vários
provérbios que refletem esta tradição do casamento arranjado entre os pais:

1) 父母之命,媒妁之言。
Por ordem dos pais, casam-se os jovens através de ajuda da casamenteira.
2) 出嫁从亲,再嫁从身。
O primeiro casamento depende dos pais, o segundo depende de si mesmo.

Neste contexto, apesar de o homem não ter liberdade no casamento, tinha sim
o direito de se divorciar da mulher ou arranjar concubinas. Enquanto isso, a mulher
chinesa não tinha nem o direito de requerer o divórcio nem a liberdade no
casamento, devido à sua hierarquia inferior na sociedade feudal, sendo mais um
ponto em seu desfavor em comparação com a mulher portuguesa.

49
4.2 A evolução da posição feminina em Portugal e na China

Desde a Antiguidade, o homem e a mulher possuíam trabalhos diferentes.


Sabe-se que no período neolítico os homens viviam caçando animais selvagens para
garantir a alimentação necessária, bem como eram responsáveis pela segurança,
enquanto as mulheres se dedicavam à colheita de plantas e frutos, e ao cuidado dos
filhos. As atividades diferentes pressupunham e implicavam diferenças a nível físico
e mental entre o homem e a mulher.
Durante séculos, a mulher ocupou uma posição inferior e subalterna.
Relativamente à constante discriminação contra a mulher na cultura ocidental, de
acordo com Lopes (2017), tal situação tinha a ver com os três tipos de intelectuais:
teólogo, médico e jurista:

Primeiramente, sabe-se que na Bíblia o pecado original resultou da primeira


mulher Eva. Adicionalmente, inúmeros teólogos, como Agostinho de Hipona,
São João Crisóstomo, entre outros, descreveram a mulher com termos como
pecado, culpa, maldade, nocivo, demonstrando sentido misógino e desprezo.
Os discursos destes teólogos passaram a ter influência até ao século XX. Em
segundo lugar, os conhecimentos antigos acreditaram-se durante as Idades
Média e Moderna. O corpo do homem era considerado quente e seco,
enquanto isso, o da mulher era frio e húmido. Porém, conforme o pensamento
aristotélico e galénico, tudo o que é quente e seco é superior ao que é frio e
húmido. (Lopes, 2017: 30-31).

Por fim, a lei não estava do lado da mulher. A história do direito português
começou com a invasão do Império Romano na Península Ibérica. O direito
português foi bastante influenciado pelo Direito Romano, no qual o homem era
superior à mulher na hierarquia. De acordo com Vieira (2012), “o machismo
português deve-se muito ao catolicismo romano, pois nele o império masculino é
explícito”.
50
Pode-se observar a evolução dos direitos da mulher portuguesa através da
legislação civil. Durante a monarquia absoluta (século XIV até 1820), a situação da
mulher era precária, destacando-se pela submissão ao marido, a maternidade e as
tarefas domésticas. Apesar das Grandes Navegações, período em que se precisava
de muita mão de obra para os Descobrimentos, as mulheres portuguesas não eram
permitidas a bordo, com exceção das mulheres da nobreza que conseguiam
autorização régia. A situação mudou quando as colónias necessitaram de presença
feminina, com a principal função de gerar herdeiros. Posteriormente, na monarquia
liberal (1820-1910), com o surgimento do Código Civil de 1867, houve uma pequena
melhoria da situação feminina em relação ao marido, aos filhos, bem como à
administração dos bens, apesar de o artigo 7º declarar que “a lei civil é igual para
todos, não faz distinção de pessoa nem de sexo, salvos os casos expressamente
enumerados” (1986, apud Guimarães). A Liga Republicana das Mulheres Portuguesas
foi criada em 1909, e no ano seguinte, com a proclamação da república em 1910,
deu passos importantes como a legalização do divórcio e o direito de acesso à
função pública, mas a mulher continuou sem direito de voto.
Durante o Estado Novo (1926-1974), houve várias restrições impostas à mulher.
“É um regime onde a mulher era o esteio da família, cabendo-lhe ser mãe, educar os
filhos e assistir o marido, do qual emanava a autoridade” (2000, apud Tavares). De
forma geral, houve recuos em relação aos direitos da mulher durante o período do
Estado Novo. A partir de 1975 a mulher começou a ter o direito de voto sem
qualquer restrição. Outro documento fundamental foi a Constituição de 1976, em
que a mulher adquiriu os direitos de igualdade perante os homens. Afinal de contas,
apesar dos avanços constantes e do facto de atualmente a Constituição consagrar a
igualdade de direitos para todos, esta luta continua, uma vez que na prática ainda
existe a desigualdade na sociedade quanto à mulher. Apesar das leis e do tempo, as
mentalidades machistas dificilmente se apagam.
No caso da China, acreditava-se desde a Antiguidade que há diferença entre o
homem e a mulher. E tal diferença não é apenas a nível fisiológico, mas também
uma ideologia profundamente radicada na cultura chinesa. Tendo em conta que a
51
economia da China antiga estava baseada na agricultura, e o homem era capaz de
obter mais vantagens na produção em relação à mulher, aos poucos ocupou a
posição predominante. De facto, a partir da dinastia Shang16, começou a valorizar-se
mais o homem do que a mulher. Por outro lado, de ponto de vista da filosofia, esta
ideologia da cultura tradicional chinesa em relação ao género proveio do Livro das
Mutações17, e mais especificamente da teoria Yin-Yang. Este conceito é uma
representação do princípio da dualidade de positivo e negativo. Enquanto Yang
representa o dia, luminoso, calor, forte, masculino, Yin representa a noite, o frio,
macio, escuro, feminino. Mesmo que os dois sejam opostos, acreditava-se que Yang
está na posição dominante e Yin na posição secundária. Ao pôr em prática esta
teoria em relação ao homem e à mulher, transformou-se na ideologia de que o
homem é superior à mulher (Zhang, 1988).
Posteriormente, a filosofia de Confúcio tornou-se a doutrina oficial da
monarquia chinesa a partir da dinastia Han (206 a.C. a 220 d.C.), e acabou por ajudar
a consolidar um papel de submissão e invisibilidade das mulheres, cuja maior virtude
seria a obediência, como demonstra a ética feudal das ‘três obediências e quatro
virtudes’. Ao longo do tempo, de forma geral, a mulher da monarquia detinha um
baixo estatuto social. “A prática como enfaixar os pés, surgida na dinastia Song
(960-1279), vista como um atributo de beleza e sexualidade pelos homens, persistiu
até às primeiras décadas do século XX, causando muitas mortes e uma vida
condenada à dor” (Prozczinski, 2017).
Com o fim da monarquia, em 1911, e a proclamação da República da China em
1912, os direitos femininos evoluíram bastante com os movimentos de libertação da
mulher, sob a influência do Ocidente, nomeadamente a educação feminina e a
liberdade no casamento sem restrição de casamento arranjado. Posteriormente
chegou a fundação da República Popular da China em 1949, o direito feminino teve
um enorme avanço, como deixa ver a frase famosa de Mao Tsé-tung: A mulher é
capaz de sustentar a metade do céu, e ficou afirmada em 1954 pela Constituição a

16
Uma dinastia chinesa antiga durante o período 1766 a.C.-1122 a.C.
17
易经(yì jīng), o primeiro livro chinês de filosofia, feito por volta do período de 1122 a.C.-1046 a.C.
52
igualdade de homem e mulher em todas as áreas, inclusive o direito de voto e a
candidatura às funções públicas. Atualmente há um sistema jurídico que protege os
direitos da mulher. Não obstante, devido à ideologia enraizada na cultura chinesa, a
desigualdade de género continua presente na sociedade chinesa, com a preferência
pelos filhos homens (nomeadamente em zona rural) e a desigualdade em aspetos de
emprego, educação, assédio sexual, política ou violência doméstica, entre outros.

4.3 A imagem de homem que os provérbios deixam pressupor

A maioria dos provérbios em relação à mulher decorre da visão dos homens,


portanto, é possível adivinhar a imagem do homem pressuposto nos provérbios que
falam de mulheres, como um espelho que reflete a perspetiva e a ideologia
masculinas.
O homem como filho é sensível e agradecido, fez provérbios simpáticos, doces e
carinhosos e incrivelmente não se vê nenhum provérbio que diga mal da mãe.
Sublinha bastante a sua importância e amor materno único, assim como presta
atenção à orientação e ao conselho da mãe, considerando-a como exemplo a seguir.
Aliás, o mesmo homem como enteado, pode ser resistente, manifestando o
preconceito, a aversão, o desgosto, até o ódio quanto à madrasta, e considera-a uma
pessoa dura, violenta e fria. Tal mentalidade demonstra também que é fiel à mãe
por não ter aceitado a maternidade da madrasta.
Quanto à viúva rica, há homens ambiciosos e oportunistas, valorizando o
dinheiro e a segurança material, subjacentes à intensão de casar-se com viúva rica.
Para a viúva e a esposa, o homem é como o leme do barco. Então, de acordo com a
sabedoria popular, o homem quer-se, e deve ser capaz de assumir o papel de chefe
de família, de elemento que manda e toma as rédeas dos acontecimentos,
suportando economicamente a família.
O homem como marido revela-se nos provérbios rígido, controlador, autoritário,
crítico, até antipático. Manda na mulher, nos filhos, aparecendo até a violência

53
doméstica, diminui a importância da esposa e a sua liberdade de expressão em
público, tendo uma atitude depreciativa em relação ao conselho e sabedoria
femininos. Enquanto pai, nomeadamente o pai chinês, não é justo perante os filhos,
dando mais importância ao filho do que à filha.
Perante o relacionamento complicado sogra-nora, o homem fica no meio
dessas duas mulheres importantes. Uma hipótese é ter uma atitude ambivalente,
causando dificuldades na resolução do problema. Por outro lado, muito
provavelmente o homem fica do lado da mãe pelo facto de ser mais velha e ser
admirada e respeitada por ele enquanto filho, enquanto a sua mulher se submete.
Portanto, há sempre uma nora que sofre e reclama pelo tratamento injusto.

54
Conclusão

55
Neste trabalho começou por se fazer a dilucidação dos conceitos de provérbio e
idiomatismo em chinês e em português, bem como de categorias afins, tendo-se
observado que, no português, o provérbio é uma frase completa e fixa com uma
estrutura que revela certa depuração formal, contendo experiência e sabedoria
populares de maneira a ensinar, persuadir ou até praguejar, e que pode ser
interpretado em sentido literal. Enquanto isso, o idiomatismo geralmente é uma
locução fixa ou uma frase, e não se pode basear só na leitura literal. Às vezes sofre
alterações ou adaptações, ao nível da flexão verbal, do sujeito ou de outro elemento,
sendo usado informalmente por um leque de falantes mais alargado, em
comparação com provérbio. No caso do chinês, o idiomatismo é um tipo de
expressão relativamente fixa e curta, habitualmente usada na linguagem falada,
muitas vezes com três sílabas e significados metafóricos, e nele pode-se mudar a
ordem das palavras e adicionar mais elementos conforme o contexto. O provérbio é
uma súmula da sabedoria e experiência geral do povo ao longo do tempo; divulga-se
oralmente entre as pessoas, podendo a maior parte ser entendida literalmente e
revelando uma estrutura aperfeiçoada e fixa, para ser repetido facilmente. Por fim,
uma categoria frástica muito próxima do provérbio que existe em ambas as línguas é
a máxima, uma frase de efeito que ganha fortuna e acaba por ser repetida por
muitos, podendo ou não partilhar as características formais de um provérbio, mas
partilhando o caráter filosófico, o conteúdo de sabedoria reconhecida, ainda que
possa ser de origem culta e literária, e não necessariamente popular; em chinês
coincidirá com o 格 言 (géyán), cujo autor é sempre explicitado, e que revela a
intenção de reger o comportamento, a ação e o pensamento.
Entre todos os exemplos recolhidos, abundam os provérbios como fontes
elucidativas da temática de que nos ocupamos neste trabalho, vindo a seguir os
idiomatismos e no final as expressões típicas chinesas conhecidas como 成 语
(chéngyǔ). No seu conjunto, todas estas formas fixas revelam uma íntima ligação ao
contexto sociocultural e histórico, apresentando-nos as imagens femininas
tradicionais de ambos os países. Além disso, o processo de tradução de todos os
exemplos recolhidos de provérbios e idiomatismos permitiu-nos perceber bem os
56
traços culturais e linguísticos, pois muitas vezes a tradução literal não é suficiente;
exige-se uma tradução na língua de chegada adequada e adaptada, considerando os
fatores interculturais de Portugal e da China; não obstante, ainda foi possível
apresentar alguns equivalentes bilingues de parte dos provérbios e idiomatismos
referidos neste trabalho, como se pode observar na tabela 2.
Como foi referido no início deste trabalho, os provérbios e idiomatismos
refletem a cultura e a mentalidade de uma nação. Entre os papéis femininos
familiares analisados, quase todos sofrem, de certa maneira, a discriminação e o
preconceito oriundos da sociedade antiga.
Em primeiro lugar, ambas as culturas tradicionais compartilhavam a
preocupação de casar a filha o mais brevemente possível, e tal ato enfrentava muitas
vezes dificuldades financeiras devido ao dote, o que fez com que a filha tivesse uma
posição desvalorizada, sobretudo na China antiga, período em que a filha era vista
como ‘mercadoria que causava prejuízo’, não tendo direito de herdar bens nem
habilidade profissional, enquanto se registava forte preferência por ter filhos
homens.
A seguir, o papel de esposa é extremamente importante entre os papéis
femininos familiares da China e de Portugal, sendo atribuídas à mulher
principalmente as funções de cuidar da família e manifestar a submissão ao marido.
Em comparação com a situação no Portugal antigo, a sociedade tradicional chinesa
exigia mais intensamente que a mulher seguisse vários padrões morais, tais como 三
从四德 (sāncóng sìdé), literalmente ‘três obediências e quatro virtudes’. Além disso,
outra diferença é que existia a figura da concubina na China antiga, cuja posição era
inferior à da esposa.
Diz-se que a maior parte dos conflitos familiares provém da relação sogra-nora,
e este estereótipo pode ser visto em provérbios e idiomatismos chineses e
portugueses. Muitas vezes, quem desempenha um papel negativo e duro é a sogra,
por ser faladora, exigente e dominadora, e também pelo facto de ser a mulher mais
velha e importante da família, merecendo o respeito de todos.
O único papel que recebe constantemente elogios é o de mãe, tanto na China
57
como em Portugal. Ambas as culturas valorizam bastante a sua exclusividade,
singularidade e amor eterno e incondicional. Quer dizer, a mãe faz seja o que for
pelos seus filhos, o que provavelmente implica o mimar dos filhos. O seu
comportamento e personalidade influenciam diretamente os filhos, pelo facto de a
mãe ser responsável por cuidar deles no dia a dia. Enquanto isso, outro tipo de
maternidade, a da madrasta, recebe uma visão depreciativa e a desvalorização tanto
na sociedade chinesa como na portuguesa, sendo comum a relação difícil com os
enteados. Muitas vezes a madrasta surge relacionada com termos feios e negativos.
Relativamente ao papel de viúva, esta encontrava-se tradicionalmente numa
situação ambivalente em ambos os países. Por um lado, era-lhe necessário casar de
novo, por causa da sua incapacidade financeira, por outro lado, enfrentava a crítica
de deslealdade ao marido morto. Sendo assim, era realmente uma figura feminina
desgraçada, sendo vítima de uma desvalorização injusta por parte da sociedade.
Após a análise de provérbios e idiomatismos em relação à figura feminina familiar
da China e Portugal, é fácil observar uma forte mentalidade sexista contra a mulher.
Tal fenómeno é comprovado em vários exemplos de provérbios e idiomatismos a
respeito de temas como a agressão à mulher, a sua ignorância e insignificância, bem
como a falta de liberdade no casamento e para o divórcio. Afinal de contas,
antigamente os papéis da mulher iam-se transformando com a idade, com atividades
focadas sempre na família e no ar, sofrendo a sua vida restrições relacionadas com a
sua capacidade financeira, a mentalidade machista, a religião, fatores físicos,
legislação, entre outros. Revelava uma posição inferior à do homem, sobretudo no
que tocava às mulheres chinesas na época antiga, cuja situação era mais desgraçada
do que a das mulheres portuguesas.
De forma geral, a situação da mulher e os seus respetivos direitos na China e em
Portugal apresenta hoje em dia significativas melhorias devido ao desenvolvimento
da sociedade e aos movimentos feministas constantes. Na verdade, a legislação de
ambos os países têm sofrido muitas alterações, de entre as quais muitas favorecem
a igualdade dos sexos. A meu ver, apesar de a legislação consagrar a igualdade para
todos, a questão atual é que na prática a mentalidade machista continua presente
58
na sociedade, e o facto é que hoje em dia muita gente continua a utilizar intencional
ou espontaneamente provérbios e expressões idiomáticas que insultam as mulheres,
desvalorizam e afetam os seus direitos. Existe ainda um longo caminho a percorrer
em busca de uma igualdade verdadeira em todos os aspetos.

59
ANEXO

Tabela 1: Traços distintivos de provérbios e idiomatismos

Provérbio Idiomatismo
É uma frase completa e fixa com Geralmente é uma locução fixa ou uma
estrutura revelando certa perfeição frase
formal
Pode-se ler no sentido literal Não se pode basear só em leitura literal
Contém experiência e sabedoria Às vezes sofre alterações ou adaptações,
populares, de maneira a ensinar, ao nível da flexão verbal, do sujeito ou de
persuadir ou até praguejar, e pode outro elemento, sendo usadas
usar-se formalmente frequentemente na linguagem informal

Tabela 2: corpus bilingue de provérbios e idiomatismos

Em Português Em Chinês
Filha crescida dá-lhe marido. 女大当嫁
(nǚdà dāngjià)
女大不中留
(nǚdà búzhōngliú)
Do homem a praça, da mulher a casa. 男主外,女主内
(nán zhǔwài, nǚ zhǔnèi)
Tal pássaro, tal ovo. 有其母必有其女
Tal mãe, tal filha. (yǒu qímǔ bìyǒu qínǚ)
A mulher é um animal de cabelos 头发长,见识短

60
compridos e ideias curtas. (tóufā chǎng, jiànshí duǎn)
Mãe aguçosa, filha preguiçosa. 娘勤必养懒姑娘
(niángqín bìyǎng lǎngūniáng)
Menino da mamã (em português 娇生惯养
brasileiro, Filho da mamãe). (jiāoshēng guànyǎng)
Filha casada, casa depenada. 闺女是狼,吃塌她娘
(guīnǚ shìláng, chītā tāniáng)
Madrasta, o diabo arrasta. 后娘心比蛇蝎狠
(hòuniángxīn bǐ shéxiē hěn)

A mula e a mulher, com pancada se quer. 拳头底下出好妻


A mula e a mulher, com pau se quer. (quántóu dǐxià chū hǎoqī)
A mulher e a mula o pau as cura.
O burro e a mulher a pau se quer.

61
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