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DE BAKHTIN
Márcia Helena de Melo Pereira
Ivo Di Camargo Junior
(Organizadores)
Todos os direitos garantidos. Qualquer parte desta obra pode ser reproduzida ou
transmitida ou arquivada, desde que levados em conta os direitos dos autores.
ISBN: 978-65-87069-74-6
Conselho editorial
Prof. Dr. Fábio Marques de Souza (UEPB, Brasil)
Profa. Dra. Cristiane Navarrete Tolomei (UFMA, Brasil)
Prof. Dr. Helder Neves de Albuquerque (IFPB, Brasil)
Comitê científico
Profa. Dra. Cristina Bongestab (UEPB, Brasil)
Prof. Dr. José Veranildo Lopes da Costa Junior (UFPB, Brasil)
Prof. Dr. Lidemberg Rocha de Oliveira (CODESE-SEEC/RN, Brasil)
Profa. Dra. Mona Mohamad Hawi (USP, Brasil)
Prof. Dr. Nefatalin Gonçalves Neto (UFRPE, Brasil)
Profa. Dra. Véronique Le Dü da Silva-Semik (UNL, Portugal)
www.mentesabertas.com.br
https://mentesabertas.minhalojanouol.com.br/ A Mentes Abertas é filiada à ABEC
SUMÁRIO
PREFÁCIO
EDUCAÇÃO COMO PRÁTICA SOCIAL MEDIADA PELA
LINGUAGEM
Desafios do e no tempo presente ........................................................................ 9
Prof. Dr. Fábio Marques de SOUZA
LETRAMENTO DIGITAL
O uso das Tecnologias da Informação e Comunicação para uma
aprendizagem significativa ................................................................................ 47
Leatrice Ferraz MACÁRIO
EDUCAÇÃO DO OLHAR
A linguagem cinematográfica em sala de aula ............................................. 105
João Vítor Zanato de Carvalho RIBEIRO
DIALOGICIDADES EM DIÁLOGO
Um post de Facebook à luz de Valentin Volóchinov e Paulo Freire ........ 117
Filipe Santos GUERRA
Márcia Helena de Melo PEREIRA
PREFÁCIO
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Desejo a todos uma boa leitura, seja pelo ponto ou pelo contraponto, tão
necessários à construção de conhecimentos que deem conta de compreender
e praticar atos responsivos e responsáveis em nosso tempo presente!
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Doutora em Linguística Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas, professora titular do
Departamento de Estudos Linguísticos e Literários (DELL) e docente do Programa de Pós-Graduação em
Linguística (PPGLin) da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), Vitória da Conquista/BA, Brasil.
E-mail: marciahelenad@yahoo.com.br
2
Doutoranda em Linguística pelo Programa de Pós-Graduação em Linguística (PPGLin) da Universidade
Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), Vitória da Conquista/BA, Brasil. Mestra também pelo Programa de
Pós-Graduação em Linguística (PPGLin/UESB). E-mail: graciethe@live.com
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À época em que a pesquisa foi realizada, estávamos sob a vigência dos Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCNs). Agora, estamos sob o jugo da BNCC, Base Nacional Comum Curricular, documento que define o
conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens fundamentais que deve ser desenvolvido por todo aluno
ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica.
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A pesquisa foi autorizada pelo Comitê de Ética e está inscrita na Plataforma Brasil sob o Certificado de
Apresentação para Apreciação Ética – CAAE, número 61086916.4.0000.0055.
5
Para preservar a identidade dos sujeitos da pesquisa, vamos nos referir às docentes e aos cursos nos quais
ministram aula por letras fictícias, A e B.
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O ano letivo desta escola é subdividido em três trimestres, dos quais utilizamos o primeiro deles para a
realização da coleta dos dados.
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possibilidades, conscientes ou não, dos usos que fazemos das palavras nos
mais diversos contextos reais de interação verbal. E, por meio do texto,
apresenta para o estudante a função gramatical que as palavras exercem.
Entretanto, o texto está sendo usado como pretexto para o estudo das normas
gramaticais, uma vez que a língua não está sendo concebida como interação
verbal, que inclui a relação entre ela e o enunciador, sempre num processo
dialógico, conforme indica Bakhtin (2011). Mesmo assim, podemos
considerar que a professora consegue estreitar as fronteiras – estabelecidas
por séculos – entre gramática, texto e literatura, conforme preconizam os
PCNs.
A inserção do poema “A pesca”, de Affonso Romano, na aula, se
configurou como mais um exemplo de texto formado majoritariamente por
substantivos e artigos. Não houve nenhuma tentativa de, pelo menos,
mencionar ou discutir o conteúdo temático do texto, suas características
formais ou seu estilo, enquanto texto literário. A análise do poema esgotou-
se “no modo como o texto foi construído”, no sentido metalinguístico de sua
composição. Eis o uso do texto como pretexto, como ilustração para os fatos
gramaticais.
Logo em seguida, é proposta uma atividade que caminha na mesma
direção da abordagem teórico-metodológica que a professora vinha
trabalhando. A atividade se inicia com o conto “Como um filho querido?”,
de Marina Colasanti. Questionamentos são feitos no sentido de explorar a
interpretação textual e gramatical do texto, tais como: “o feminino de marido
é mulher e o masculino de esposa é esposo. Na sua opinião, porque, na última
frase do 2° parágrafo, o narrador empregou esposa e não mulher, se antes
empregara, por duas vezes, marido”? Ao trazer questões como essa, a
docente chama a atenção dos alunos para o fato de que determinadas
escolhas lexicais podem interferir no sentido. Sendo a língua um sistema de
produção de sentido, as aulas de Língua Portuguesa precisam ser pensadas
de maneira que levem o aluno a se dar conta de que está diante de opções e
escolhas que ajustam a linguagem, bem como da possibilidade de produção
de sentido a seu favor, de modo que possa obter êxito no processo de
interação com seu interlocutor (TOLDO, ROCHA, 2003, p. 4). Contudo, mais
uma vez o texto está sendo utilizado como subterfúgio para tratar da
gramática ou da interpretação e compreensão textuais, sem dialogar com
questões contextuais. O mesmo ocorre nas demais questões da atividade
proposta, nas quais os conteúdos metalinguísticos ganham maior relevância,
como mostra a seguinte pergunta: “Que palavra designa a alegria excessiva
manifestada nessas datas?” Ao chamar a atenção dos alunos para essas
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O Projeto Lápis na Mão é um concurso de redação, cuja iniciativa é da TV Sudoeste, que realizou em 2017 a
sua segunda edição. O projeto tem o objetivo de incentivar a prática de leitura e escrita aos estudantes das
escolas públicas de algumas cidades da Bahia. Em sua primeira edição, foram contemplados apenas alunos do
Ensino Médio, já em 2017, agregaram-se, também, o oitavo e o nono anos do Ensino Fundamental II. Na etapa
final do concurso são premiados os três estudantes finalistas, a escola e seu professor.
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Núcleo Regional de Educação de Vitória da Conquista.
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Visuais Estudantis (AVE), Festival Anual da Canção Estudantil (FACE), Tempos de Artes
Literárias (TAL), Educação Patrimonial e Artística (EPA), Encontro de Canto Coral (Encante),
Produção de Vídeos Estudantis (PROVE), A Arte de Contar História (s), Mostra de Dança
Estudantil (DANCE), etc. A participação do estudante neles não é obrigatória. Esses projetos
são gerenciados pela Secretaria de Educação do Estado da Bahia e visam, de modo geral, a
implementação de políticas educacionais, bem como promover a diversificação e inovação
das práticas curriculares. As escolas e a secretaria trabalham em articulação, a partir de um
planejamento coletivo, cujo objetivo é potencializar o processo de ensino-aprendizagem no
contexto escolar.
A aula foi interrompida, antes mesmo do término do informe sobre os projetos
estruturantes, por uma equipe da TV Sudoeste, justamente para falar do Projeto “Lápis na
Mão”, assunto do primeiro informe. Foi um momento em que tanto os alunos quanto a
professora puderam sanar suas dúvidas referentes ao projeto, pois estavam diante dos
principais idealizadores do concurso. Após essa interrupção e tendo feito os informes, a
professora retomou a aula anterior, perguntando aos alunos o que lembravam sobre a classe
dos substantivos e, em seguida, corrigiu, de forma oral, a atividade da aula anterior sobre
substantivos e os efeitos de sentido que causam na língua.
A aula teve prosseguimento com a explanação, por meio de slides, projetados em data
show, do conteúdo “Flexão dos substantivos: gênero, número e grau”. Após explicação do
conteúdo, a professora fez uma reflexão com os alunos, perguntando-lhes o que a flexão dos
substantivos acarreta dentro da língua, sendo que eles fazem escolhas que envolvem o
sentido das palavras como, por exemplo: dizer “o cabeça” ou “a cabeça” produz sentidos
diferentes.
Mais uma interrupção ocorreu na aula, dessa vez por estudantes que estavam à frente
da votação para líder de classe. Os estudantes falaram da importância de se ter um
representante em cada turma e suas principais atribuições como líder de classe. Em seguida,
alguns nomes foram indicados para a votação, o que ocorreu em poucos instantes. Por fim,
após a pausa, foram exploradas, ainda nessa aula, “as regras de acentuação e de emprego do
hífen”. A professora mostrou as principais mudanças ocorridas com o Novo Acordo
Ortográfico e expôs, em PowerPoint, uma charge que tratava do emprego do hífen.
Fonte: dados da pesquisa.
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Por ordem da direção da escola, não foi possível observar as aulas na primeira semana do ano letivo, pois, os
horários eram provisórios, sendo construídos diariamente, assim, não daria para saber antecipadamente a
turma e o horário em que aconteciam as aulas de Língua Portuguesa.
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ser lido como sendo o lugar de encontro entre quem escreveu e quem lê”
(ANTUNES, 2003, p. 80).
Ao tratar do Humanismo, a docente também traça paralelos com a
realidade, dizendo que esta é encarada, atualmente, de maneira diferente a
partir do momento em que o Homem adota a postura de ser o centro do
universo. Todavia a docente não adota o texto como o ponto de partida para
o ensino de literatura, como recomendam os documentos oficiais. Há uma
variedade de textos da historiografia literária, inclusive dos períodos
supracitados, mas a professora optou por não os levar ao conhecimento dos
alunos, ou seja, apesar de “conceituar” as “Cantigas de Maldizer”, de
“Amigo”, etc., ela não as leva para aula, não possibilita que os alunos tenham
contato com esses textos que, muitas vezes, só seria possível por meio da
escola.
A abordagem feita pela professora não é o suficiente para romper com a
tradição, tão enraizada, do ensino de literatura. Na realidade, essa
abordagem não se insere nem no que estamos chamando, aqui, de ensino
tradicional de Literatura, que, segundo os PCNs, consistia em caracterizar
uma Escola Literária, inseri-la em um contexto histórico e, finalmente,
trabalhar com as obras e autores que se destacaram nesse movimento, obras
estas consideradas consagradas pela crítica literária como canônicas. A
inserção dos alunos nesse mundo desconhecido poderia ter sido possibilitada
de diversas formas, desde a leitura de textos à apreciação de peças teatrais ou
filmes que retratam esse período.
A aula demonstra uma falta de sistematização. Um planejamento
metodológico ancorado em Sequências Didáticas, procedimento
metodológico elaborado pelo Grupo de Genebra, sob os nomes de Dolz,
Noverraz e Schneuwly (2004), que é um conjunto de atividades planejadas e
organizadas sistematicamente em torno de um gênero, poderia se configurar
em uma possibilidade para essa sistematização. Além disso, permitiria a
integração não somente dos conteúdos de Literatura, propriamente ditos,
mas linguístico, histórico, e, por que não, de deleite? Será mesmo que a lírica
trovadoresca ou as novelas de cavalaria não despertariam nos estudantes
alguma curiosidade ou emoção? Nesse sentido, os estudantes, além de
compreenderem o contexto histórico da Idade Média, período em que
surgiram as Cantigas (amor, amigo, escárnio, maldizer), bem como a
formação dessa sociedade, na qual coexistiam reis, donzelas, servos, etc.,
poderiam estudar sobre as mudanças ocorridas na língua com o passar do
tempo, já que os textos são escritos em um português do século XIII.
Língua e literatura não devem ser consideradas dicotômicas, pois ambas
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disso, a atividade não foi planejada e os alunos foram pegos de surpresa, pois
estavam esperando a continuação da aula anterior. Dessa forma, a falta de
linearidade do trabalho da professora – cada dia uma aula diferente: um dia
é gramática, outro é literatura e assim por diante – evidencia a desarticulação
entre as aulas e proporciona a tão criticada fragmentação da disciplina, como
atestam os PCNs e teóricos da área.
Considerações finais
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Referências
ANTUNES, I. Aula de Português: encontro e interação. São Paulo: Parábola, 2003.
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 6. Ed. São Paulo: Ed. WMF Martins Fontes, 2011.
BRASIL. PCN - Parâmetros Curriculares Nacionais. Ensino Médio: Linguagens, códigos e suas
tecnologias. Brasília. MEC/SEF, 1999.
DOLZ, J.; NOVERRAZ, M.; SCHNEUWLY, B. Sequências didáticas para o oral e a escrita:
apresentação de um procedimento. In. DOLZ, Joaquim; SCHNEUWLY, Bernard (Orgs.). Id.
Gêneros orais e escritos na escola. São Paulo: Mercado das Letras, 2004.
GERALDI, J. W. Concepções de linguagem e ensino de português. In. O texto na sala de aula. Id.
GERALDI, João Wanderley. (Org.). 5. Ed. São Paulo: Ática, 2011, p.39 – 46.
KOCH, I. G. V. Desvendando os segredos do texto. São Paulo: Cortez, 2011.
LEITE, L. C. M. Gramática e literatura: desencontros e esperanças. In. O texto na sala de aula. Id.
GERALDI, João Wanderley. (Org.). 5. Ed. São Paulo: Ática, 2011, p.17 – 25.
MARCUSCHI, L. A. Produção textual análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola, 2008.
NEVES, M. H. M. Gramática e escola. 3. ed. São Paulo: Contexto, 1994.
______. A gramática passada a limpo: conceitos, análises e parâmetros. S.P: Parábola Editorial, 2012.
PEREIRA, A. D. A. A intervenção didática em uma abordagem interacional de ensino-aprendizagem da
língua materna: os percursos de uma pesquisa. Revista Letra Magna. Cidade, n. 05, 2º
semestre, 2006.
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PAULINO, G.; COSSON, R. Letramento literário: para viver a literatura dentro e fora da escola.
In: Escola e leitura: velha crise, novas alternativas. ZILBERMAN, Regina & ROSING, Tania
M. K. São Paulo: Global, 2009, p. 61-79.
POSSENTI, S. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas, SP: Mercado de Letras:
Associação de Leitura do Brasil, 1996.
TOLDO, C. S.; ROCHA, N. M. H. A sintaxe na construção dos sentidos. In: Encontro Nacional
de Ciências da Linguagem Aplicadas ao Ensino (ECLAE), 2, 2003, João Pessoa-PB. Anais do
2° Encontro Nacional de Ciências da Linguagem Aplicadas ao Ensino (ECLAE). João Pessoa-PB:
Editora Ideia, 2003. p. 428 – 439.
TRAVAGLIA, L. C. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática no 1° e 2°
graus. 4. ed. São Paulo: Cortez, 1998.
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Professora Adjunta do Departamento de Metodologia de Ensino da Universidade Federal de Santa Catarina.
Florianópolis, Brasil. E-mail: cristiane.lebler@gmail.com
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Linguística da Enunciação
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Embora saibamos que o Curso de Linguística Geral tenha sido organizado e publicado como obra póstuma
por Charles Bally e Albert Secheaye, nos referimos ao seu autor como Ferdinand de Saussure.
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Faço menção, aqui, à tradução publicada em 1992 pela editora Hucitec, citada e usada na elaboração deste
capítulo.
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O dialogismo em Bakhtin
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Os gêneros do discurso
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Recomendamos a leitura de Pires (2018), que apresenta resultados de uma pesquisa de campo com o tema
letramento jurídico, a qual evidenciou que a compreensão do gênero petição inicial esteve restrita ao universo
dos indivíduos com formação superior na área jurídica.
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LETRAMENTO DIGITAL
O uso das Tecnologias da Informação e Comunicação para uma
aprendizagem significativa
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Doutoranda em Memória, Linguagem e Sociedade pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB,
Mestre em Linguística (UESB), Vitória da Conquista – BA, Brasil. E-mail: leaferraz@gmail.com
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Letramento Digital
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traduzir a voz humana, uma vez que ela é a portadora dos sentidos da
existência. Nas palavras de Bakhtin, “vivo em um mundo povoado de
palavras alheias. E toda a minha vida, então, não é senão a orientação no
mundo das palavras alheias, desde assimilá-las, no processo de aquisição da
fala, e até apropriar-me de todos os tesouros da cultura” (BAKHTIN, 1997, p.
347-348).
No letramento digital, a figura do professor está muito mais centrada no
papel de mediador e o aluno assume para si maior responsabilidade sobre
seu processo de aprendizagem, sendo o desenvolvimento da autonomia uma
de suas potencialidades. A partir da década de 1990 e até os dias atuais,
vivemos na transição de uma aprendizagem centralizada na figura do
professor e do livro didático para uma aprendizagem flexível, interativa e
colaborativa.
Muitas atividades relacionadas à escrita e à leitura, propostas pela
instituição escolar, não apresentam significados para o estudante, uma vez
que elas têm objetivos que não encontram eco nos anseios deles como práticas
sociais. E, considerando a realidade chamada por Lèvy (1999) de a “era da
informação”, torna-se emergente a necessidade de compreender as funções
sociais da leitura e da escrita não apenas no tradicional contexto do texto
impresso, mas nas mais diversas formas midiáticas, especialmente naquelas
realizadas no computador, uma vez que estas têm alcançado adesão do
público estudante e, mais do que isso, provocado transformações no conceito
de tempo e espaço e dado acesso a um grande número de informações,
democratizando as relações de compartilhamento de dados.
Durante a pandemia do novo coronavírus, medidas de restrição à
circulação das pessoas foram impostas em todo o mundo e as instituições de
ensino fechadas. O ensino remoto passou, então, a ser uma das únicas
alternativas para manter os alunos em contato com os conteúdos curriculares.
De maneira abrupta, educadores precisaram remodelar seu modo de ensinar
para se adaptarem rapidamente a essa nova realidade.
O Comitê Gestor da Internet no Brasil divulgou o Painel TIC Covid-19,
uma pesquisa sobre o uso da internet no Brasil durante a pandemia do novo
coronavírus, e os resultados demonstram aumento das atividades e
pesquisas escolares pela internet, também da realização de cursos on-line e
de estudos autônomos, como demonstrado no gráfico a seguir.
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Considerações Finais
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Doutoranda em Linguística pelo programa de Pós-Graduação em Linguística da UFSC. Florianópolis, Santa
Catarina, Brasil. E-mail: jocelmaboto@gmail.com
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Gêneros e esferas
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Grupo de WhatsApp
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Figura 01 Figura 02
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Considerações finais
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nossas reflexões afirmando que a inserção do WhatsApp nas aulas não ocorre
de maneira proveitosa, pelo contrário, a ferramenta atua como forma de
manutenção das relações desiguais na prática pedagógica.
Referências
ALVES, Lynn. “Educação remota: entre a ilusão e a realidade”. Interfaces Científicas, Aracaju. V.8,
N.3, p. 348 – 365. 2020 - Fluxo Contínuo. Disponível em: <https://periodicos.set.edu.b
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BAKHTIN, Mikhail Mjkhailovitch. “Os gêneros do discurso”. In: BAKHTIN, Mikhail
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do francês por Maria Emsantina Galvão G. Pereira revisão da tradução Marina
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BRAIT, Beth. “Linguagem e identidade: um constante trabalho de estilo”. Trab. educ. saúde
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SILVA, Nívea Rohling da. A atuação do professor de língua portuguesa discursivizada por licenciandos
na Educação a Distância [tese]: o embate entre o discurso da tradição e o discurso teórico /
Nívea Rohling da Silva; orientadora, Rosângela Hammes Rodrigues – Florianópolis/SC,
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VOLOCHÍNOV, V. N. Marxismo e filosofia da linguagem: Problemas fundamentais do método
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VOLOCHÍNOV, V. N. A construção da enunciação e outros ensaios. Organização, tradução e notas
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WHATSAPP. In: WIKIPÉDIA. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/WhatsApp>.
Acesso em: 29.abril.2021.
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Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
(PPGLin – UESB). Vitória da Conquista – Bahia – Brasil. annerochaprado@gmail.com.
2
Doutora em Linguística Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP. Professora titular
do Departamento de Estudos Linguísticos e Literários da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (DELL
– UESB), campus de Vitória da Conquista, Bahia, Brasil. Docente do quadro permanente do Programa de Pós-
Graduação em Linguística da mesma instituição (PPGLin – UESB). marciahelenad@yahoo.com.br.
3
A pesquisa em questão, intitulada “A relação entre estilo e gênero na escrita individual e na escrita conjunta:
estilos em intersecção”, está sendo desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Linguística (PPGLin) da
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), é financiada pelo Programa Interno de Bolsas de Pós-
Graduação da mesma universidade. O corpus utilizado neste capítulo adveio dessa pesquisa.
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Presencial X Virtual
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De modo geral, os trabalhados desenvolvidos não investigam a escrita conjunta em si mesma, mas como
estratégia para apreensão de dados para outros fins, para verificação de questões sobre ensino/aprendizagem
e, ainda, para o desenvolvimento da prática em ambiente virtual, quase sempre, de maneira assíncrona. Para
maior aprofundamento acerca da escrita conjunta, recomendamos a consulta à dissertação de mestrado
“Participação, negociação e escolhas: como acontece a escrita conjunta no processo de construção de uma
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RESUMO – VIRTUAL
M.: Eu acho muito estranho. Eu fico com receio de escrever, porque parece que eu tô
invadindo o texto, assim.
A.: Não tá nada. É teu também.
M.: Eu sei, mas... (Risos).
Fonte: banco de dados das pesquisadoras
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porém, como veremos adiante, embora opte por não realizar acréscimos ou
mudanças diretamente no arquivo do Google Docs, o estudante apresentará
diversas ideias e argumentos que estarão presentes na versão final do
resumo. Pensando em uma produção semelhante sendo realizada em aulas
de Língua Portuguesa e comparando-a com uma produção realizada
presencialmente, lembramos que, geralmente, apenas um dos componentes
da dupla (ou grupo) efetivamente escreve. A escrita virtual, porém, mediada
pelo Google Docs, possibilita a todos os participantes da escrita a reação
imediata ao que está sendo escrito, inclusive, fazendo modificações que
podem ou não estar em concordância com o que foi escrito por outro
participante, ou, ainda, que cada um contribua em determinado momento até
chegar ao que o grupo deseja (PINHEIRO, 2011). Tanto uma quanto outra
possibilidade oferece a vantagem de dar a todos a chance de escrever e, dessa
forma, desenvolver habilidades necessárias à prática, como a livre expressão
e a aplicação das normas aprendidas em aulas de gramática, por exemplo.
Adiante, os dados serão apresentados em duas colunas: de um lado,
estarão trechos da conversa mantida pelos estudantes durante a produção
presencial da resenha; do outro, o diálogo mantido durante a construção
virtual do resumo.
RESENHA – PRESENCIAL RESUMO – VIRTUAL
A.: E, quem sabe, modificar... modificar M.: Versa sobre... É...
realidades... já tem realidades paralelas. A.: A polêmica, ou a indagação, o
Modificar seu meio? questionamento.
M.: É. M.: Acho que a polêmica, né?
A.: Modificar... Modificar o meio... Não sei. A.: É. A gente tá afirmando que é uma
Modificar a realidade vigente. Sei lá. Só que polêmica, mas... Ah, é uma polêmica, é uma
a gente tava aqui falando... O central é isso. polêmica, né?
A gente divagou. M.: É, porque, tipo, o título já é meio que
M.: É. chamando pra polêmica, né?
A.: Botar para além, né? Para além do ponto A.: É verdade. Não vai ser ruim a gente usar
central. (Relê o trecho escrito). A própria polêmica não.
realidade vigente. Eu achei ok.
M.: Eu achei bom também.
Fonte: Banco de dados das pesquisadoras
Acima, vemos, primeiramente, na produção presencial, A. dando ideias
e sugestões, enquanto M. apenas concorda, dizendo “É”, “É” e “Eu achei bom
também”. Na produção virtual, porém, M. afirma que a palavra a ser
utilizada seria “polêmica”, A. fica em dúvida, mas M. argumenta em defesa
do seu uso e, por fim, A. concorda.
Nestes dados, podemos observar a alternância dos sujeitos do discurso
de que falam os estudiosos dos Círculo: “O falante termina o seu enunciado
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RESENHA – PRESENCIAL
A.: Assim sendo, o vídeo é indicado para...
M.: O vídeo é indicado para... essa é a questão.
A.: Tanto para profissionais da área da educação...
M.: Sim, sim, sim.
A.: Quanto para todos.
M.: Isso. É pra todo mundo. Como é que a gente fala isso? Que é pra todo mundo?
A.: A população, de forma geral.
M.: É isso.
A.: População é ótimo. Amei.
M.: Gostei muito do texto.
A.: Também. Agora a gente pode fazer uma leitura detida, pra ‘gente ver os meus erros e
corrigi-los.
Fonte: Banco de dados das pesquisadoras
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que chama a nossa atenção é a última fala de A.: “Agora a gente pode fazer
uma leitura detida, pra ’gente ver os meus erros e corrigi-los”. O uso do
pronome possessivo “meus” revela que a influência de A. sobre M. no
processo da resenha é intensa, ao ponto de o primeiro entender que mesmo
os erros que aparecem na produção são seus e não de M., ou de ambos. No
que diz respeito a esses “erros”, vale salientar que o Google Docs mostra todas
as mudanças que foram feitas no texto, quando foram feitas e por quem
foram feitas. Uma vez que o professor também tem acesso ao documento, é
possível observar os problemas de gramática e ortografia de cada estudante
e, dessa forma, desenvolver atividades relacionadas à resolução desses
problemas.
Considerando nosso limite de tempo, finalizaremos a nossa
discussão nas Considerações finais, ressaltando que, há, durante as produções
dos dois textos, diversos outros momentos de diálogo entre os sujeitos que
revelam mudanças na relação entre eles, considerando a ambiente de escrita.
Conclusão
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Referências
BAKHTIN, Mikhail. Os gêneros do discurso. In: BAKHTIN, Mikhail. Os gêneros do discurso.
Organização, tradução posfácio e notas de Paulo Bezerra; notas da edição russa de Serguei
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sociológico na ciência da linguagem. Tradução, notas e glossário de Sheila Grillo e Ekaterina
Vólkova Américo. 2. ed. São Paulo: Editora 34, 2018.
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1
Mestra pelo Programa de Pós-Graduação em Linguística (PPGLin) da Universidade Estadual do Sudoeste da
Bahia — UESB (Vitória da Conquista, Bahia, Brasil). Graduada no curso de Licenciatura em Letras Vernáculas
pela mesma instituição. E-mail: tanevasconcelos@hotmail.com.
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2
Os fatores da textualidade, elencados por Koch (2015), foram discutidos no capitulo 2, seção 2.4, p. 63-77, da
Dissertação de Mestrado (MELO PEREIRA;VASCONCELOS, 2020) a qual originou este presente estudo. Vide
referências.
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3
Dissertação de Mestrado em Linguística sobre “Textualidade e textualização em blogs: implicações para o
processo de ensino-aprendizagem de textos no ensino médio” (MELO PEREIRA; VASCONCELOS, 2020).
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4
A sequência didática proposta na coleta de dados da pesquisa de Pereira e Vasconcelos (2020) é uma
adaptação do modelo de sequência didática proposto por Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004).
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Notamos que a dupla conhece o gênero digital blog, uma vez que, além
de produzirem o texto escrito, utilizaram as imagens (presentes no blog) para
complementarem o conteúdo discursivo, já que elas correspondem ao tema
que é discutido no texto escrito, nesse caso, a selfie, a exemplo do aparelho
celular indicando o ato de fazer uma selfie. De acordo com Xavier (2002), o
hipertexto é um espaço que propicia a confluência de modos enunciativos.
No caso do blog criado pela dupla, encontramos as imagens e o texto escrito
corroborando para a construção de sentido global do texto. Observamos que
a dupla desenvolveu a competência de produção em mídias, conforme
orienta a BNCC, e, além disso, conseguiu apropriar-se da cultura digital
comum ao espaço do hipertexto, especificamente, do blog.
Vejamos, a seguir, a transcrição do texto produzido pela dupla no blog:
A era da selfie?
Estamos mesmo vivendo a era da selfie? O que seria a era da selfie? Como
ela surgiu?
Será mesmo que a selfie surgiu com o aparecimento da internet, redes
sociais, o celular? Podemos perceber que ela vem de uma época muito
distante, como vemos nos nossos livros de história.
O que você queria mostrar com a sua selfie? Bom, a maioria das pessoas
usam esse meio para mostrar bens, como um carro novo, uma casa na praia,
uma viagem. Muitos dos sorrisos de hoje em dia só são em frente as
cameras, algumas pessoas mostram ser uma pessoa que não é para ser
aceito na sociedade sem julgamentos, vivemos de aparencia, um
personagem que criamos, que quando vivemos muito tempo nele,
esquecemos até quem somos de verdade.
Essa era não começou com o surgimento da tecnologia, você já deve ter
visto muitas vezes nos seus livros de história, pessoas que se auto-
intitulavam nobres, para serem vistos e tratados de maneira superior que
a maioria, porem a maioria desses títulos eram comprados, pessoas com
ambição ao extremo, com sede de poder e fama.
Você está vivendo de aparencias? A vida nos dá poucos momentos de
felicidade, em vez de tirar uma selfie, aproveite esse momento, sorria, seja
você mesmo, sem medo, por que todos envelhecemos, e o que você vai ter
no final? Vai lembrar dos momentos felizes e sorrir por ter aproveitado ou
vai olhar para seu celular e derramar lágrimas por momentos tirados de
você.
Seja você mesmo e aproveite a vida, saía desse computador ou celular, veja
o mundo ao seu redor e de um belo sorriso.
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Considerações finais
Referências
BAKHTIN, Mikhail. “Os gêneros do discurso”. In: BAKHTIN, Mikhail. Estética da Criação Verbal.
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Tradução de Paulo Bezerra. 6ª ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2011, p. 261-306.
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VASCONCELOS; Mariana Tane Neves; MELO PEREIRA, Márcia Helena de. “Textualidade e
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modo de enunciação digital. 2002. 214f. Tese (Doutorado em Linguística). Instituto de Estudos
da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2002.
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1
Pós-Doutorado em Formação de Professores (PPGFP-UEPB). Mestre e Doutor em Linguística (UFSCar).
Licenciado em Letras (UNESP/Assis), Filosofia (UFSJ) e Bacharel em História (UNESP/Franca). Desenvolve
pesquisas sobre Mikhail Bakhtin, cinema e outras mídias/linguagens e educação. E-mail: side_amaral
@hotmail.com
2
Docente Sênior do Programa de Mestrado Profissional em Letras–PROFLETRAS, e do Programa de Mestrado
Acadêmico em Letras da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul - UEMS/Dourados. /Campo Grande.
Coordenadora do projeto de Pesquisa “Memorias de Professores: diálogos sobre o letramento e o ensino da
língua portuguesa-EPATA II”. Colaboradora do projeto de pesquisa “Apoio à Qualificação Docente:
PROFLETRAS em Mato Grosso do Sul” financiado com recurso da FUNDECT. E-mail: cteno@uol.com.br.
3
Mestranda em Letras pela Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul – UEMS, Unidade de Campo
Grande, Área de concentração: Estudos Linguísticos - Linha de Pesquisa: Linguística Aplicada. E-mail:
maristelazeviani@hotmai.com
4
Imagem disponível em <https://emmaroquier.com/index.php/2016/10/02/mon-avis-sur-lexposition-magritte-
la-trahison-des-images-au-centre-pompidou/>. Acesso em 18.jul.2020.
5
Chama-se mecânico ao todo se alguns de seus elementos estão unificados apenas no espaço e no tempo por uma relação
externa e não os penetra a unidade interna do sentido. (Bakhtin, 2003, p. XXXIII).
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fácil criar sem responder pela vida e mais fácil viver sem contar com a arte
(2003, p. XXXIV).
6
Na teoria bakhtiniana não há remissões ao cinema como linguagem, todavia não podemos negá-lo como tal,
pois o filme é composto por várias linguagens (a imagética, a fala das personagens, as músicas, etc.). Robert
Stam (1992) chama a atenção para a grande aplicabilidade das teorias de Bakhtin ao cinema, mas em seu livro
Bakhtin: da teoria literária à cultura de massa, o autor prende-se, em geral, as discussões acerca da Carnavalização.
Por dizer, o cinema é linguagem, e se melhor quisermos clarificar, poderíamos dizer que O CINEMA É
LINGUAGENS.
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Educação e Linguagem no Círculo de Bakhtin
7
Ana Teberosky é uma das pesquisadoras mais respeitadas quando o tema é alfabetização. Desenvolveu junto
com Emília Ferreiro o estudo que trouxe novos elementos para esclarecer o processo vivido pelo aluno que
está aprendendo a ler e a escrever, registrados no livro “Psicogênese da Língua Escrita”. Doutora em psicologia
e docente do Departamento de Psicologia Evolutiva e da Educação da Universidade de Barcelona.
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8
Segundo nossas pesquisas, o INCE foi “o primeiro órgão oficial no Brasil especificamente planejado para o cinema,
possuindo uma função estritamente pedagógica [...]”, tendo como definição principal “[...] fornecer um programa geral
para a educação das massas que valorizasse, principalmente, os aspectos variados e desconhecidos da cultura brasileira”.
In RAMOS, Fernão. História do Cinema Brasileiro. São Paulo, Círculo do Livro, 1987, pp. 149-150.
93
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9
Entendemos, aqui, “complexificação” no sentido de que os gêneros discursivos se tornam mais complexos a
partir do momento que se tornam instrumentos de ação da linguagem, i.e., os indivíduos apropriam-se da
linguagem e agem sobre a realidade social. Eles passam a utilizar o gênero como um instrumento de
construção nova, por meio de mecanismos textuais e discursivos que asseguram a autonomia do texto, seu
controle, sua avaliação e sua definição, conforme aponta Schneuwly (1994:6-7).
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texto fílmico será um “dispositivo que opera a partir de uma rede de saberes sociais”
(EUGENI, 1999, p. 7). Tais saberes podem ser entendidos de duas formas: um
saber-objeto, que diz respeito aos conhecimentos, e um saber-instrumento,
que diz respeito às competências. Eugeni distingue ainda quatro áreas de
saberes sociais: 1- saber histórico (conhecimento da história e da dimensão
coletiva do agir em dado momento histórico); 2- saber privado (conhecimentos
e competências para agir na dimensão cotidiana da existência); 3- saber textual
e intertextual (competências e conhecimentos derivados de textos de vários
gêneros: livros, revistas, rádio, cinema, televisão); 4- saber metatextual
(conhecimentos e competências que orientam a relação do sujeito com os
textos: cânones, rituais de fruição, competências tecnológicas específicas
necessárias ao consumo, postura interpretativa e crítica, etc.). E é nesta rede
de saberes que o cinema como instrumento e objeto da ação pedagógica pode
atuar na construção da experiência da significação.
Diversos autores argumentam em favor da inserção do cinema no ensino
e inúmeras experiências em diferentes contextos sócio-culturais - que
veremos mais adiante - demonstram a importância da relação cinema-
educação. Alain Bergala defende a presença da arte na educa- ção
enfatizando que a escola deve ser um lugar de encontro com o cinema como
arte, pois entende o filme como “traços de um gesto de criação” (2002, p. 22). Ele
argumenta que os filmes-arte possibilitam um confronto do aluno com uma
forma de alteridade, a qual ele não teria acesso noutro espaço. A escola deve
ser alternativa a isso, expondo estas produções, o que as leis do mercado
tornam cada vez mais difíceis de acontecer. Nessa perspectiva, sua “hipótese
cinema” envolve uma relação entre a abordagem crítica, a “leitura” de filmes
e a passagem à ação-realização. Para Vitor Reia-Batista, o estudo da dimensão
pedagógica dos fenômenos fílmicos e cinematográficos significa a aquisição
de conhecimentos e de reflexão crítica sobre uma face da nossa história
cultural recente, desde que “a humanidade tem deixado as suas mar- cas
narrativas e multiculturais em imagens e sons interligados de formas várias”
(1995, p. 1). Para ele, essa perspectiva enquadra-se na inclusão dos estudos
de mídia, necessários para a formação integral do cidadão nas sociedades
modernas, cujo fenômeno comunicativo global assume a cada dia maior
importância. Por sua vez, diante da pergunta “Por que fazer educação
cinematográfica na escola?”, Rivoltella responde que é porque o cinema é
cruzamento de práticas sociais diversas, porque é um instrumento de difusão
do patrimônio cultural da humanidade e porque é documento de estudo da
história (2005).
Ao lado da televisão e dos novos meios, o cinema também é um dos
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Educação e Linguagem no Círculo de Bakhtin
elementos do ambiente simbólico das novas gerações. “À luz das novas teorias
interacionistas, o cinema e os meios em geral constituem campos de interação
simbólica, em que os sujeitos constroem e compartilham significados”
(Rivoltella, 2005, p. 75). E como discutimos no capítulo anterior, além de ser
elemento de um ambiente simbólico e envolver uma atividade cognitiva, o
cinema é, sobretudo, emoção e importante lugar de investimento psicológico,
como destaca o autor. Por ser um instrumento que difunde costumes e formas
de vida de diversos gru- pos sociais, o cinema difunde o patrimônio cultural
da humanidade. O autor cita Scaglioso para dizer que a realidade cultural,
vista no tempo e no espaço, é constituída de idéias, princípios, obras e
realizações que formam o patrimônio de toda a humanidade, e que os filmes
se colo- cam ao lado de outros produtos da ciência, da arte e da literatura. Por
isso, além da possibilidade de compartilhar significados sociais, na medida
em que os filmes contribuem para transmitir a cultura, isso já os configura
como fato cultural por si mesmo.
Embora o estudante possa “espontaneamente”, fazer da vivência de
assistir filmes uma experiência de fruição, participação estética e significação,
por que não ampliar tais possibilidades no sentido da produção de textos e
sentidos? Assim, a mediação educativa estaria cumprindo os objetivos e
pressupostos da mídia-educação, fazendo educação com os meios (usando o
cinema e os filmes em contextos de fruição), sobre os meios (leitura crítica
através da análise cinematográfica) e através dos meios (produzindo
audiovisual, fotografia, roteiros). Para tal, é preciso pensar em um trabalho
com cinema na escola que envolva tais momentos de saber, fazer e refletir, a
partir de uma concepção integrada. Tal concepção de mídia-educação
implica a relação do cinema com outras linguagens (como artes plásticas,
teatro, música e literatura) e tecnologias. Ou seja, pensar uma possibilidade
de intervenção pedagógica que envolva a fruição dos filmes, seu uso
instrumental como forma de conhecimento, leituras e análises diversas, bem
como a possibilidade de produção material.
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Educação e Linguagem no Círculo de Bakhtin
deve-se ter o cuidado de não confundir texto e discurso [...] pode-se dizer
que o texto é uma entidade concreta, realizada materialmente e
corporificada em algum gênero textual. Discurso é aquilo que um texto
produz ao se manifestar em alguma instância discursiva. Assim, o discurso
se realiza nos textos.
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Referências
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EUGENI, R. Film, sapere, società: per un’analisi sociosemiotica del testo cinematografico. Vita
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EDUCAÇÃO DO OLHAR
A linguagem cinematográfica em sala de aula
1
Mestrando em Educação pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP-USP).
Licenciado em Artes Cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP).
E-mail: jvzanato@gmail.com.
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Nas práticas que apregoam uma educação que flerta com o modelo
empresarial, professor e aluno relacionam-se por solavancos, de forma que a
relação pedagógica passa a se tornar um atendimento de demandas dos
consumidores. Muitos dos discursos que proliferam nos debates acerca da
função escolar possuem gana utilitarista, exigindo da escola não só uma
relação de “conexão imediata com as urgências do presente, mas de uma
antecipação profilática a elas.” (AQUINO, 2019a, p. 150). Em meio à exaltação
das demandas do presente, o diálogo intergeracional entre professor e aluno
arrasta-se penosamente, num trote capenga e, cada vez mais, atordoado. Em
meio às vociferações dos ideais e reivindicações mais nobres da luta política,
faz-se necessário refletir sobre a postura do professor na relação pedagógica
que esse leva a cabo com seus alunos. Algo surge, portanto, com fundamental
importância nessa relação entre docentes e discentes: a ampliação das
referências artístico-culturais daqueles que chegam aos montes às salas de
aula.
Os alunos que chegam a nossas escolas, como não se poderia deixar de
esperar dos mesmos, vêm embebidos, cada vez mais, dos discursos em voga
no presente, especialmente dos que tangem a defesa de uma educação
autogerida pelos próprios estudantes. O foco na aprendizagem toma conta
dos discursos discentes e docentes, em diferentes instituições e em diferentes
cidades. Tendo em vista a satisfação momentânea das necessidades do
alunado, as práticas docentes, em muitas das vezes, acabam por deixar de
lado a relação com o legado cultural. O exercício da prática docente tendo em
vista a ampliação das referências artístico-culturais dos alunos é o que pode
romper com essa verbalização constante sobre os meandros do presente.
Dessa forma, o gesto docente de pensar a aula como um terreno fértil para
promover o contato dos estudantes com o legado do mundo torna-se um
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[...] um olhar com olhos, ouvidos, pele e narinas, para a realidade, tentando
perceber nela dados que em si são metáforas para entendê-la de maneira
mais ampla. No contexto, o termo olhar se associa ao posicionamento do
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[...] a significação dos filmes precisaria ser recebida com uma atenção
especial por parte dos espectadores para que possam compreender o
funcionamento linguístico das narrativas explicitadas, pois, conforme
Turner (1997), compreender um filme mobiliza uma gama de sentidos no
âmbito da cultura. A complexidade que poderia ser percebida na projeção
de um filme não seria compreendida e decifrada de modo simples com um
foco parcial em uma linguagem atuante. Então, a apreciação amplificada
de todos os elementos utilizados para a construção da linguagem
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com o legado cultural, é entre a cópia e a criação que o aluno caminha nessa
corda bamba que é o acontecimento educacional.
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[...] cada sujeito deve entrar em empatia com o outro e ser capaz de ver o
mundo como o outro vê, colocar-se no lugar dele e, a partir desse excedente
de visão, ser capaz de fazer as próprias conclusões. Tal excedente de visão
deve ser capaz de motivar um ato ético (ajuda, consolo, reflexão cognitiva)
e, principalmente, um retorno a si próprio, de modo a assimilar em termos
éticos, cognitivos ou estéticos o que foi percebido. (CAMARGO; CAIMI,
2015, p. 26660).
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PORCHEDDU, Alba. Zygmunt Bauman: entrevista sobre a educação. Cadernos de Pesquisa,
São Paulo, v. 39, n. 137, p. 661-684, 2009.
RANCIÈRE, Jacques. O espectador emancipado. São Paulo: Martins Fontes, 2012.
RIBEIRO, João Vítor Zanato de Carvalho. Proteger contra o esquecimento: a ampliação das
referências artístico-culturais dos alunos no ensino das Artes Cênicas. Trabalho de
Conclusão de Curso (Licenciatura em Artes Cênicas) – Escola de Comunicações e Artes,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2020.
SOLER, Marcelo. Encenação: um espaço possível para a aprendizagem do espectador. Trama
Interdisciplinar, São Paulo, v.4, n.1, p. 88-98, 2013.
______. O espectador no teatro de não-ficção. Sala Preta, São Paulo, v. 8, p. 35-40, 2008.
THIEL, Grace Cristiane; THIEL, Janice Cristine. Movie takes: a magia do cinema na sala de aula.
Curitiba: Aimará, 2009.
115
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116
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DIALOGICIDADES EM DIÁLOGO
Um post de Facebook à luz de Valentin Volóchinov e Paulo Freire 1
1
O presente capítulo foi escrito com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
- Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.
2
Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em Linguística (PPGLin) da Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia — UESB (Vitória da Conquista, Bahia, Brasil). Graduado no curso de Licenciatura em Letras
Vernáculas (Português e Respectivas Literaturas) pela mesma instituição. Bolsista da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). E-mail: filipe.guerra16@gmail.com.
3
Doutora em Linguística Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas — UNICAMP. Professora titular
do Departamento de Estudos Linguísticos e Literários da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
(DELL/UESB), campus de Vitória da Conquista, Bahia, Brasil. Docente do quadro permanente do Programa de
Pós-Graduação em Linguística da mesma instituição (PPGLin/UESB). E-mail: marciahelenad@yahoo.com.br.
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quanto mais cedo comece o diálogo, mais revolução será. Este diálogo,
como exigência radical da revolução, responde a outra exigência radical –
a dos homens como seres que não podem ser fora da comunicação, pois
que são comunicação. Obstaculizar a comunicação é transformá-los em
quase “coisa” e isto é tarefa e objetivo dos opressores, não dos
revolucionários. (FREIRE, 1981, p. 149).
4
As ideias de Paulo Freire constroem um itinerário constitutivo de uma pedagogia libertadora, que se importa
com a existência do indivíduo no mundo. Isso posto, um dos aspectos basilares na elaboração da práxis
educativa freireana é a questão da humanização. Como ratifica Mendonça (2006), Freire adota, em seus
escritos, um humanismo vivo e real que só se realiza na relação histórica e cultural entre os sujeitos. O
educador ratifica que confia na vocação dos seres humanos para ser mais, o que, em outras palavras, significa
assumir que o ser humano se movimenta temporal e espacialmente com o objetivo de compor e instituir, de
forma permanente, a sua humanização.
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5
O corpus deste capítulo adveio de uma pesquisa de Mestrado intitulada “A (hiper)textualização de
enunciados LGBTQIA+(fóbicos) em ambiente digital: posts de Facebook sob um enfoque dialógico”, com defesa
prevista para março de 2022. Essa dissertação está sendo desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em
Linguística (PPGLin) da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (campus de Vitória da Conquista) e conta
com auxílio financeiro da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) através de
bolsa de fomento. Escolhemos esse campo político-ideológico específico pelo fato de o Brasil ser/estar
enraizado e enviesado por diversas crenças religiosas e culturais, as quais espelham em seus adeptos
estereótipos referentes aos seus segmentos, reforçando o preconceito contra essa situação social. Assim sendo,
muitas são as discussões encontradas em um post do Facebook sobre a temática em questão, o que nos
proporciona um produtivo corpus para análise.
6
Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais/Transgêneros, Queer, Intersexo, Assexual e todas as múltiplas
possibilidades de orientação sexual e/ou identidade de gênero que existam.
7
Disponível em: https://www.facebook.com/quebrandootabu/photos/a.575920612464330/3815871311802561/.
Acesso em: 28 mar. 2021.
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8
Disponível em: https://www.facebook.com/quebrandootabu/photos/a.575920612464330/3815871311802561/.
Acesso em: 28 mar. 2021.
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9
É possível checar a defesa da Quebrando o Tabu acerca da legitimidade da pansexualidade, por exemplo, no
link a seguir: https://twitter.com/quebrandootabu/status/997861941769977857. Acesso em: 30 mar. 2021.
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Considerações finais
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Referências
ASSUNÇÃO, E. T. C.; SOUZA, E. M. F. “Diálogos entre Mikhail Bakhtin e Paulo Freire: A
Palavraponte e a Palavramundo, face social de uso do signo”. Revista Brasileira de
Educação de Jovens e Adultos, v. 7, p. 286-300, 2019.
CASTELLS, M. Communication power. New York: Oxford, 2009.
FARACO, C. A. Linguagem & Diálogo: as ideias linguísticas do círculo de Bakhtin. 1ª ed. São
Paulo: Parábola Editorial, 2009.
FREIRE, P. Cartas à Guiné-Bissau: registros de uma experiência em processo. 4ª ed. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1978.
FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. 9ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981.
FREIRE, P. Extensão ou comunicação? 13ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2006.
MENDONÇA, N. J. A. A Humanização na Pedagogia de Paulo Freire. 2006. 168f. Dissertação
(Mestrado em Educação) – Universidade Federal de Pernambuco, Programa de Pós-
Graduação em Educação, Recife, 2006.
MOURA, E. M. Paulo Freire e Bakhtin: um diálogo possível. 2011. 190f. Tese (Doutorado em
Letras) – Universidade Presbiteriana Mackenzie, Programa de Pós-Graduação em Letras,
São Paulo, 2011.
SAUSSURE, F. Curso de Linguística Geral. Tradução de Antônio Chelini, José Paulo Paes e
Izidoro Blinkstein. 28ª ed. São Paulo: Editora Cultrix, 2012.
SCORSOLINI-COMIN, F. “Diálogo e dialogismo em Mikhail Bakhtin e Paulo Freire:
contribuições para a educação a distância”. Educação em Revista (UFMG), v. 30, n. 3, p.
245-265, 2014.
SILVA, D. D. Bakhtin e Paulo Freire: a relação do eu e do outro e as relações dialógicas para a
prática da liberdade. 2012. 142f. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Federal de
São Carlos, Centro de Educação e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em
Educação, São Carlos, 2012.
VOLÓCHINOV, V. (Círculo de Bakhtin). Marxismo e filosofia da linguagem. Problemas
fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. Tradução, notas e glossário
de Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. Ensaio introdutório de Sheila Grillo. 2ª ed.
São Paulo: Editora 34, 2018.
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1
Metre em Letras, Universidade Estadual de Maringá. Brasil. E-mail: lilianbachi@outlook.com.
2
Doutor em Letras. Professor Associado da Universidade Estadual de Maringá. Brasil. E-mail:
ecromualdo@uol.com.br
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não por acaso trazem como protagonistas duas crianças em torno das quais
todo o enredo das narrativas é desenvolvido, o que comprova a importância
desse ser para as narrativas.
Esse “sentimento moderno de infância” do qual nos fala Ariès (1978)
parece também ser representado nas obras aqui analisadas, porque livro e
filme trazem como as únicas crianças das obras suas protagonistas que vivem
apenas entre adultos: o pequeno príncipe vive suas experiências no contato
com o aviador e com os demais personagens, todos adultos, que conhece nos
planetas que visita; a menina do filme relaciona-se apenas com a mãe e com
o vizinho idoso.
Ao avançar no tempo, entre os séculos XIV e XVII, observamos que “as
idades da vida não correspondiam apenas a etapas biológicas, mas a funções
sociais” (ARIÉS, 1998, p. 39-40) ocupadas por indivíduos em diferentes fases
da vida. Também Gélis (2009) tece comentários sobre a primeira infância.
Para o autor, esse era o momento em que se aprendia:
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Educação e Linguagem no Círculo de Bakhtin
Além disso, aprende na relação com sua flor sobre o amor e o modo de
ver o outro: “Deveria tê-la julgado por seus atos, não pelas palavras. [...]
Deveria ter percebido sua ternura por trás daquelas tolas mentiras. [...] Mas
eu era jovem demais para saber amá-la” (SAINT-EXUPÉRY, 2015, p. 33),
desabafa o pequeno príncipe. O mesmo ocorre ao conhecer a raposa com
quem deseja ter amizade, dessa relação a criança compreende a necessidade
de conquistar a confiança de um amigo:
Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros
garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também
necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem
mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do
outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...
(SAINT-EXUPÉRY, 2015, p. 68).
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8:21’
Fonte: Osborne (2015).
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está inserida, como uma forma de dizer que de outro modo parece impossível
que a criança seja de fato socializada e educada.
No século XIX, vemos a polarização da vida social em torno da família e
da profissão e a extinção da antiga sociabilidade, fato que, associado à intensa
escolarização da juventude, culminou nas crises da juventude em se tornar
adulto, conforme aponta Schmidt (1997). De acordo com a autora, “o processo
de privatização da vida fez com que as crianças passassem a ser isoladas em
seus quartos e tivessem obrigações sociais: fossem à escola e se preparassem
para a vida” (p. 26).
A preparação da criança para que fizesse parte dessas sociedades era
assegurada pela instituição escolar, que impunha às crianças extrema
rigorosidade e uma disciplina severa, que privava a criança da liberdade que
gozava entre os adultos e lhe infligia duras correções. Mas toda essa
rigorosidade exprimia um amor extremo que dominaria a sociedade. Nesse
sentido, Ariés (1978, p. 277) afirma que “A família e a escola retiraram juntas
a criança da sociedade dos adultos”.
Esse processo de privatização da vida das crianças é bastante
representativo nas ações da menina protagonista da obra cinematográfica, a
qual vive praticamente enclausurada em sua casa, com inúmeras obrigações,
sendo a principal delas ser aceita na Werth Academie. Esse processo de
privatização e o rigoroso modelo educacional, como afirma Ariés (1978),
retiraram a criança da sociedade dos adultos. Essa ideia, no entanto, não se
confirma na representação fílmica, pois percebemos que, embora a menina
seja estudante e esteja inserida no processo do qual trata o historiador, ela
convive apenas em meio aos adultos, não tem amigos de sua idade e é
tornada uma “miniadulta” pelo rigoroso modelo educacional que lhe é
imposto. Apenas depois que passa a conviver com o idoso – que embora
sendo adulto é um ser que carrega uma alma de criança – é que ela se liberta
do universo dos adultos.
O que percebemos, portanto, é que a interação com o meio e com o outro
é um movimento basilar da constituição do sujeito e de sua aprendizagem.
Esse movimento de interação do sujeito com o outro (outro sujeito ou outro
meio) é um ponto de encontro entre diversos estudos sobre a criança e seus
processos de formação.
Hoje, o comportamento político e social quase não permite às crianças
muitos dos prazeres de outrora. As responsabilidades e convenções sociais
reservam a práticas prazerosas um pequeno espaço de tempo durante as
férias. A criança, já neste século, viu-se integrada em uma noção de
desenvolvimento, a qual passou a mostrá-la como um ser cujo crescimento é
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Referências
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BACHI, L. R. G. Uma análise textual de O Pequeno Príncipe: as visões sobre a criança no livro
de Saint-Exupéry e no filme de Osborne. Dissertação (Mestrado em Letras) – Universidade
Estadual de Maringá. Maringá, p. 194, 2020.
BAKHTIN, M. M. Estética da criação verbal. Trad. Maria Ermantina Galvão G. Pereira. 2ª ed.
São Paulo: Martins Fontes, 1997.
BRAIT, B. Estilo. In. BRAIT, B. (Org.): Bakhtin: conceitos-chave. 5ª ed. São Paulo: Contexto, 2016,
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COHN, C. Antropologia da criança. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005.
FARACO, C. A. Linguagens & Diálogos: as ideias linguísticas do círculo de Bakhtin. São Paulo:
Parábola Editorial, 2009.
FRIEDMANN, A. O universo simbólico da criança: olhares sensíveis para a infância.
Disponível em: <https://territoriodobrincar.com.br/wp-content/uploads/2015/06/Adriana_
Friedmann_O_Universo_Simbolico_da_Crianca.pdf>. Acesso em: 25 abr. 2019.
GÉLIS. J. A individualização da criança. In: História da vida privada: da Renascença ao Século
das Luzes. Coleção dirigida por Phillipe Ariès e Georges Duby. Org: Roger Chartier. Trad:
Hildegard Feist. Disponível em: <http://groups.google.com.br/group/digitalsource>.
Acesso em: 25 abr. 2019.
LOPES, M. A.; FERNANDES, E. M. F. A singularidade do sujeito em Bakhtin: convocação a agir.
In: FERNANDES, E. M. F. Gêneros do discurso: dialogando com Bakhtin. Campinas, SP:
Pontes Editores, 2017, p. 241-268.
O PEQUENO PRÍNCIPE. Direção de Mark Osborne. França: Paris Filmes, 2015. 1 DVD (108
min.).
SAINT-EXUPÉRY, A. O pequeno príncipe. 49ª ed. Rio de Janeiro: Agir, 2015.
SCHMIDT, M. A. M. S. Infância: sol do mundo. A primeira Conferência Nacional de Educação
e a construção da infância brasileira. Curitiba, 1927. (Tese) Doutorado em História,
Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 1997.
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1
Este trabalho foi realizado com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior –
CAPES (Código de Financiamento 001) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia – FAPESB.
2
Doutoranda em Linguística pelo Programa de Pós-graduação em Linguística (PPGlin) da Universidade
Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), campus de Vitória da Conquista/BA, Brasil. E-mail: graciethe@live.com
3
Doutor em Linguística pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Professor Titular do
Departamento de Estudos Linguísticos e Literários da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e docente
do quadro permanente do Programa de Pós-Graduação em Linguística (PPGLin-UESB), campus de Vitória da
Conquista/BA, Brasil. E-mail: viana.jorge.viana@gmail.com
4
Conforme considera Kilomba (2019), “[...] as intersecções das formas de opressão não podem ser vistas como
uma simples sobreposição de camadas, mas sim como a ‘produção de efeitos específicos’ (Antilhas e Yuval-
Davis, 1992, p. 100). Formas de opressão não operam em singularidade; elas se entrecruzam. O racismo, por
exemplo, não funciona como uma ideologia e estrutura distintas; ele interage com outras ideologias e
estruturas de dominação como o sexismo (Essed, 1991; hooks, 1989)” (KILOMBA, 2019, p. 98-99).
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5
O racismo estrutural funciona como uma reprodução sistêmica de práticas racistas nas mais diversas esferas
da sociedade: econômica, política, jurídica (ALMEIDA, 2019). Portanto, trata-se de “um processo em que
condições de subalternidade e de privilégio que se distribuem entre grupos raciais se reproduzem nos âmbitos
da política, da economia e das relações cotidianas” (ALMEIDA, 2019, p. 34, grifo do autor).
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Os gêneros do discurso
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6
Os gêneros discursivos possuem três pilares, os quais, juntos, fazem com que a interação verbal aconteça.
Assim, “todos esses três elementos – o conteúdo temático, o estilo, a construção composicional – estão
indissoluvelmente ligados no todo do enunciado e são igualmente determinados pela especificidade de um
determinado campo da comunicação” (BAKHTIN, 2011, p. 261-262).
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7
Souza, Ribeiro e Santos (2020) em artigo intitulado “Dos porões de navios negreiros ao eco da vida-liberdade:
sentidos de mulher negra no poema “Vozes-Mulheres” fizeram uma análise deste poema à luz da Semântica
do Acontecimento.
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memorável. A voz que fala nesta estrofe ecoa revolta, é uma voz consciente,
uma voz que olha para quatro séculos atrás e constata que uma geração de
mulheres negras viveu e vive à margem da sociedade brasileira, esta é a voz
da mulher negra atual. Embora legalmente abolida, a escravidão traz
reformulada conforme espaço e tempo as suas marcas (FAUSTO, 1994).
Segundo Bakhtin (2011), todo enunciado é uma resposta a enunciados ditos
anteriormente e nisso constitui, em linhas gerais, o caráter dialógico da
linguagem. No poema, as vozes se estabelecem na relação dialógica com as
outras vozes, em enunciados passados, – primeira, segunda e terceira estrofes
– e em enunciados futuros, quinta estrofe. Finalmente, passemos à estrofe (5):
(5) A voz de minha filha/Recolhe todas as nossas vozes/Recolhe em si/As vozes mudas
caladas/Engasgadas nas gargantas. /A voz de minha filha/Recolhe em si a fala e o ato.
/O ontem – o hoje – o agora. /Na voz de minha filha/Se fará ouvir a ressonância/O
eco da vida-liberdade.
151
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2017, p. 48)”. Assim, cada estrofe do poema em análise traz um diálogo com
outras vozes, em tempos e espaços outros.
Conforme a análise empreendida mostrou, nos diferentes tempos e
espaços a mulher negra tinha/tem direito à palavra, a voz. Contudo, esse
direito foi marcado por um conflito político que é próprio da linguagem.
Assim, o político, a partir da língua, fundamenta as relações sociais,
instaurando o “[...] conflito com a divisão desigual do real” (GUIMARÃES,
2002, p. 23). A distribuição da palavra é desigual.
Considerações Finais
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Referências
ALMEIDA, Sílvio Luiz de. Racismo estrutural. São Paulo: Sueli Carneiro/Pólen, 2019.
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 6. Ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes,
2011.
BAKHTIN, Mikhail Mikhailovitch (VOLOCHÍNOV, V.N). Marxismo e filosofia da linguagem:
problemas fundamentais do método sociológico da linguagem. 16. ed. São Paulo: Hucitec,
2014.
BEAUVOIR, Simone. O segundo sexo: a experiência vivida. Tradução de Sérgio Millet. 4. Ed.
São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1980a.
BENVENISTE, Émile. Problemas de Linguística Geral I. São Paulo: Editora Pontes, 1991. Edição
original: 1966.
BRANDÃO, Helena Nagamine. “Texto, gênero do discurso e ensino”. In: BRANDÃO, Helena
Nagamine (Org.). ID. Gêneros do discurso na escola: mito, conto, cordel, discurso político,
divulgação científica. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2011, p. 17-45.
DUCROT, Oswald. “Esboço de uma teoria polifônica da enunciação”. In: DUCROT, Oswald. O
Dizer e o Dito. Campinas: Pontes, 1988. p. 161-218. Edição original: 1984.
EVARISTO, Conceição. Vozes-mulheres. In: Cadernos Negros 13. São Paulo: Quilombhoje, 1990.
p. 32-33.
FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Editora Edusp, 2006. Edição original: 1994.
GUIMARÃES, Eduardo. Semântica do Acontecimento: um estudo enunciativo da designação.
Campinas: Pontes, 2002.
______. Semântica: enunciação e sentido. Campinas, SP: Pontes Editora, 2018.
KILOMBA, Grada. Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano. Trad. Jess Oliveira.
1. ed. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019.
MACHADO, Maria Helena Pereira Toledo. “Mulher, corpo e maternidade”. In: SCHWARCZ,
Lilia Moritz; GOMES, Flávio dos Santos. (Orgs.). Dicionário da escravidão e Liberdade.
São Paulo: Companhia das Letras, 2018, p. 353 – 360.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Linguística de texto: o que é e como se faz? São Paulo: Parábola,
2012.
RIBEIRO, DJamila. Lugar de fala. São Paulo: Sueli Carneiro; Editora Jandaíra, 2020.
SOUZA, Graciethe. Língua Portuguesa no ensino médio: o texto como ponto de partida (?).
Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Programa de Pós-
Graduação em Linguística – PPGLin. Vitória da Conquista-BA, 2017.
SOUZA, Graciethe; RIBEIRO, Jaqueline; SANTOS, Jorge. “Dos porões de navios negreiros ao eco
da vida-liberdade: sentidos de mulher negra no poema ‘vozes-mulheres’”. In: DIAS, Luiz
Francisco; DALMASCHIO, Luciani. (Orgs). Movimentos do linguístico: forma e sentido
em enunciação. Belo Horizonte: Editora FALE/UFMG, p. 171-188, 2020a.
SOUZA, Graciethe; RIBEIRO, Jaqueline; SANTOS, Jorge. “Sentidos de mulher negra nos
domínios da temporalidade: uma escravidão ainda por findar-se (?)”. Revista Philologus,
Rio de Janeiro: Ano 26, n. 78 Supl.,: CiFEFiL, p. 3312 – 3322, set./dez.2020b.
153
Educação e Linguagem no Círculo de Bakhtin
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Ecos do ‘nada’
1
Doutor em Antropologia Social. Professor em tempo integral na Universidad Internacional Iberoamericana–
UNINI, Campeche, México. E-mail: acordovess@gmail.com; alexander.cordoves@unini.edu.mx.
2
Doutora em Psicologia. Professora em tempo integral na Universidad Internacional Iberoamericana–UNINI,
Campeche, México. E-mail: garciadeysiemilia@gmail.com; deysi.garcia@unini.edu.mx.
3
O Sistema Nacional de Educação cubano estrutura-se, no que tange à educação geral, nos seguintes níveis de
ensino: ensino primário (1ª a 6ª séries); ensino secundário (7ª a 9ª séries); ensino pré-universitário (ensino
médio). Existe, também, ensino técnico de nível médio.
155
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4
Uma análise ampla sobre a constituição do Sistema Nacional de Educação cubano pode se consultar em
Cordovés (2019).
5
Eliminação do analfabetismo que afetava ao 80% da população; universalização do ensino primário
(fundamental) na primeira década; universalização do ensino secundário (seguindo os níveis de ensino em
Cuba) na segunda década; quase 100% de escolarização de crianças em idades para o ensino fundamental;
altos índices de sucesso escolar; dentre outros (CORDOVÉS, 2017).
156
Educação e Linguagem no Círculo de Bakhtin
6
Holguín é o município capital da província homônima, no leste cubano.
7
Município da província de Holguín.
157
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[…] tuve que coger una plaza que yo creo que me dio el toque a mí de mi
preparación, que fue en la escuela de conducta […] Cuando yo llegué allí,
mi preparación se iba por encima (sorri) de los profesores que estaban allí,
porque los profesores que estaban allí, casi todos los que estaban allí eran
los castigados, por cualquier cosa que hacían los mandaban, porque nadie
quería trabajar con niños de…, con niños con problemas de conducta. No
es como ahora que la gente se especializa, y allí los compañeros
realmente..., yo llegué como profesora y hasta a mi jefe (sorri) yo le tenía
que decir, ‘no eso no se hace así’, ayudarlos porque estaban muy mal
preparados, muy mal preparados (DAYSI, 29/12/2015).
8
Nomeadas oficialmente Escuelas de Formación Integral (EFI), essas escolas têm uma dupla subordinação: ao
Ministério de Educação e ao Ministério do Interior.
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Educação e Linguagem no Círculo de Bakhtin
alunos quanto dos colegas. Histórias perpassadas pelos silêncios, pelos não
ditos. Uma outra face da educação. Outras maneiras de se ensinar e de se
aprender na trajetória de Daysi.
A dificuldade maior com as/os colegas era atravessada pelo desinteresse
em aprimorar sua formação. O trabalho pedagógico se tornava mais difícil
posto que a maioria deles cumpriam punições administrativas. Já em relação
ao alunado, desvenda as complexidades da atuação. O grau de diferenciação,
de individualização nas estratégias pedagógicas era necessário, incluindo as
maneiras de garantir uma atuação em segurança. Além de ministrar aulas, as
tensões da atuação incluíam impedir as fugas, as autoagressões e as agressões
aos outros. A realização de atividades esportivas e de lazer que exigiam
trabalhar à noite.
Após três anos de aprendizados que nunca imaginou, de uma atuação
que veio a alargar suas possibilidades a partir das relações que aquele cenário
lhe possibilitou, de encarar um mundo que nem sabia que existia, Daysi foi
para a escola de ensino secundário onde passou a maior parte de sua carreira:
a escola Juan José Fornet Piña. E outras tensões se apresentaram à Daysi,
novamente ligados à equipe pedagógica.
Na época o professorado se organizava por cátedras9. Nos conselhos de
classe10 da cátedra, o chefe explicava, na tela, os conteúdos planejados para
cada semana, como se as/os professoras/es fossem alunas/os. A seguir
ajudava a cada um/a no planejamento individual das aulas. Esse o modelo
ressaltado por Daysi, o mesmo que se mantém vigente até hoje para o trabajo
metodológico (MINED, 2014). Nesta equipe (re)aprendeu a necessidade de
ritmos diferenciados, de reforços individualizados, como estratégia para ir
além de aulas ministradas homogeneamente para a turma toda.
Esos niños con mayor dificultad tienes que cogerlo tú solo y empezar con
ellos, a veces desde el principio, para que el niño logre…, a no ser un niño
que tenga problemas muy graves en el aprendizaje, los niños aprenden,
algo aprenden. Y eso me lo enseñó esa escuela. De esa escuela tengo
momentos muy gratos (DAYSI, 29/12/2015).
9
O termo, em espanhol, em uma de suas acepções, faz referência ao local onde se domina uma ciência ou arte.
Assim, cada disciplina conformava uma cátedra.
10
As cátedras visavam o aprimoramento em metodologias de ensino.
160
Educação e Linguagem no Círculo de Bakhtin
Yo llegué a estar solita, solita en un aula con 40 niños, dando, dando no,
intentando dar todas las asignaturas, eso es intentar. A veces me olvidaba
de la mía, como era la que más conocía. Y una madre me llegó a decir un
día, Daysi, tus niños están preparados teóricamente en Geografía, pero, a
la hora de un mapa están muy mal, en la práctica están muy mal. Y yo les
decía, pero que más tú quieres si yo no soy profesora de Geografía, yo no
soy especialista, no puedo estar para esa misión. Pero intentaba hacerlo.
Por lo menos la teoría yo se la daba, pero la práctica realmente los
muchachos tenían dificultades (DAYSI, 29/12/2015).
11
Em 2001 foi (re)configurado o ensino secundário em Cuba. Por causas múltiplas, o modelo pedagógico
mudou. Foi criada a figura do Professor Generalista Integral. Na sua idealização, devia se focar na
aprendizagem e no conhecimento aprofundado da turma. O ensino dos conteúdos de cada disciplina era
através da televisão. O PGI atendia as dúvidas dos estudantes. Todos os professores tornaram-se PGI, sem um
aperfeiçoamento prévio. A mudança atingiu a formação do professorado para o ensino médio. Deixaram-se
de formar por disciplinas e começaram a se formar como PGI. Na prática, o modelo fracassou.
12
Para aprofundamentos ver Cordovés (2017).
13
São nomeadas/os de repasador/a professores/es aposentados que dão reforços. Na prática são professoras/es
particulares. Sua proliferação começou junto com as/os PGI, devido à desconfiança, da sociedade toda,
daquelas/es professoras/es.
161
Educação e Linguagem no Círculo de Bakhtin
algum ensinamento melhor do que ela podia oferecer. Mas, nem tudo podia
ser resolvido assim. Uma vez, uma repasadora lhe disse que um dos alunos
era muito talentoso. Com essa informação, pediu para o estudante ensinar ela
a resolver os problemas que não compreendia. Na sala de aulas, buscava a
aprovação dele enquanto ela explicava algum conteúdo. Foi uma das formas
que encontrou para tentar aprender Matemáticas.
162
Educação e Linguagem no Círculo de Bakhtin
marcos históricos, pero bueno, hasta ahí yo estaba preparada, pero tuve
que aprender muchísimo de Historia, yo hoy en día me atrevo a dar
Historia como un profesor de Historia. Que me era más fácil para mí. Y
aprendí algo de Matemática […] No todo el mundo tiene la facilidad de ser
bueno en Matemática, en Matemática no era buena y tuve que aprender
Matemática (DAYSI, 29/12/2015).
14
Uma das escolas de maior prestígio em Holguín.
15
Para aprofundamentos, vide Cordovés (2017).
16
O professor guia é uma figura que coordena o trabalho pedagógico de uma turma. Sua carga de horas-aulas
é menor para se dedicar ao trabalho pedagógico e conhecer melhor as particularidades de cada estudante. O
ideal é que acompanhe à turma durante os três anos do ensino secundário.
163
Educação e Linguagem no Círculo de Bakhtin
quantidade de alunos. Tal era o prestígio que tinha atingido aquela mulher,
formada num curso aos finais de semana, e que se tornou professora por
rejeitar estudar em Havana. E aprendeu a amar a nova escola, graças, disse,
a atuação do diretor.
Na época da entrevista, passou a ter uma outra condição de saúde:
Diabetes Mellitus. As doenças não a impediam de trabalhar. Seus “niños” não
podiam ficar sem professora. Transparecem, na sua atuação, vozes de tempos
múltiplos: das diversas equipes pedagógicas que integrou; de estudantes que
se tornaram professoras/es; de chefes que viraram referências que ecoam nela
até os dias de hoje; das políticas educativas que em cada época marcaram os
rumos de sua trajetória.
Cada novo cenário de trabalho o encarou como um desafio, aprendendo
sempre dos outros, dos espaços, e das tensões que neles e com eles foram
(re)constituídas. Nos tempos em que foi entrevistada, se pensava já como
uma professora formada, após 37 anos de experiências, mas continuava a
aprender e aceitar desafios. Em sua narrativa, é como se Daysi ainda não
acreditasse que se tornou uma das professoras de maior prestígio do
município.
Leituras finais
164
Educação e Linguagem no Círculo de Bakhtin
165
Educação e Linguagem no Círculo de Bakhtin
Referências
BAKHTIN, M. Para uma filosofia do ato responsável. 2ª Edição. São Carlos: Pedro&João
Editores, 2012.
BAKHTIN, M. Problemas da poética de Dovstoiévski. 5ª. Rio de Janeiro: Forense Universitária,
2013.
BAJTIN, M. Estética de la creación verbal. 10ª. México, DF: Siglo XXI Editores, 1999.
CORDOVÉS, A. Escola e transformação social: a (re)configuração da educação cubana após 1959.
In: TASSINARI, A.; MONTARDO, D., et al (Coord.). Antropologia e educação: refletindo
sobre processos educativos em contextos escolares, não escolares e de políticas públicas
Tubarão: Copiart, 2019. p.199-225.
CORDOVÉS, A. Caminantes y caminos que se hacen al andar. Trajetórias de professoras/es de
ensino médio em Cuba. (Tese de Doutorado em Antropologia Social). PPGAS-
Departamento de Antropologia, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.
2017.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 25ª. São Paulo:
Paz e Terra, 2002.
GARCÍA, D. Tensões tempo-corpo na Escuela Cubana de Ballet. 2018. (Tese de Doutorado em
Psicologia). PPGP-Departamento de Psicologia, Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis.
MINED. Resolución No. 200/2014. Reglamento para el trabajo metodológico del Ministerio de
Educación. La Habana: MINJUS 2014.
VIGOTSKY, L. A tragédia de Hamlet, Príncipe de Dinamarca. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
166
Educação e Linguagem no Círculo de Bakhtin
1
Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Linguística (PPGLin) da Universidade Estadual do Sudoeste
da Bahia — UESB (Vitória da Conquista, Bahia, Brasil). Graduada no curso de Licenciatura em Letras
Modernas (Português, Inglês e Respectivas Literaturas) pela mesma instituição. Bolsista da Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb). E-mail: 98anaclaudia@gmail.com.
2
Doutora em Linguística Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas — UNICAMP. Professora titular
do Departamento de Estudos Linguísticos e Literários da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
(DELL/UESB), campus de Vitória da Conquista, Bahia, Brasil. Docente do quadro permanente do Programa
de Pós-Graduação em Linguística da mesma instituição(PPGLin/UESB). E-mail: marciahelenad@yahoo.com.br
3
De acordo com Faraco (2009), o Círculo de Bakhtin foi um grupo constituído por intelectuais de diversas
formações, que se reuniam na Rússia, entre 1919 e 1929, a fim de debater ideias diversas. Dentre os temas mais
discutidos pelos membros desse grupo, destacam-se a filosofia e a linguagem, sendo esta última o foco deste
trabalho. Os três principais teóricos da linguagem, no Círculo de Bakhtin, foram Medvedev, Volóchinov e
Bakhtin, cujo nome foi atribuído ao grupo por conta da maior extensão de sua produção.
167
Educação e Linguagem no Círculo de Bakhtin
4
Heinsfeld e Silva (2018) apresentam uma comparação entre a segunda e a terceira versão da BNCC, sendo
aquela fruto de uma consulta pública (feita com pessoas de diferentes segmentos da sociedade) e esta a versão
final promulgada pelo Governo. As autoras analisam criticamente a abordagem das tecnologias digitais em
ambas as versões do documento e constatam que a terceira versão demonstra um “[…] reducionismo do papel
das tecnologias digitais na formação escolar” (HEINSFELD; SILVA, 2018, p. 681), visto que, em comparação
com a segunda versão, suprime a reflexão crítica acerca dos eixos “tecnologia”, “ciência” e “sociedade”, além
de remover o eixo temático “Práticas Digitais”. As autoras ressaltam que a versão final do documento
apresenta majoritariamente uma visão de tecnologia como uma mera ferramenta, apesar de ressaltar a
necessidade de posicionamento crítico dos estudantes diante dessas tecnologias. A partir disso, Heinsfeld e
Silva (2018, p. 687) sugerem que “cada grupo escolar se debruce sobre o texto da BNCC para estudar e refletir
criticamente sobre formas para atender ao desenvolvimento das habilidades levando em conta a realidade
local”. Diante disso, buscamos propor o trabalho com o gênero tweet em aulas de diferentes disciplinas, para
ampliar o letramento dos estudantes e, consequentemente, torná-los cidadãos críticos, o que depende da forma
como textos nesse gênero são abordados na escola.
168
Educação e Linguagem no Círculo de Bakhtin
169
Educação e Linguagem no Círculo de Bakhtin
que palavras e orações são meras unidades da língua. Assim, para a teoria
bakhtiniana, a interação ocorre, efetivamente, por meio de enunciados, e não
de palavras e orações. Nesse sentido, ao afirmar que a linguagem está
presente em todos os campos da atividade humana, em diferentes contextos
socio-histórico-culturais, Bakhtin (2011, p. 262, grifos do autor) postula que
“cada campo de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis
de enunciados, os quais denominados gêneros do discurso”. Ou seja, o uso da
linguagem, em todos os campos, se dá sempre por meio de um gênero do
discurso, que, segundo o teórico, é constituído pelo conteúdo (temático),
estilo da linguagem e construção composicional, que serão definidos a seguir.
O conteúdo temático, de acordo com Bakhtin (2011), vai além do assunto
— elemento semântico-objetal — abordado no enunciado: consiste na relação
valorativa do falante com aquele assunto, relacionada ao campo da atividade
humana do qual o sujeito faz parte. Segundo Bakhtin (2011), esse elemento
determina o estilo e a composição do enunciado, pois implica aspectos
linguístico-textuais e enunciativo-discursivos. O estilo, por sua vez, para
Bakhtin (2011), consiste nas escolhas linguísticas, gramaticais e fraseológicas
feitas em determinado gênero. No entanto, o teórico acrescenta que todo
enunciado pode refletir o estilo individual do falante. Ele defende, assim, que
há gêneros mais e menos propícios ao reflexo da individualidade. A
construção composicional, terceiro pilar caracterizador dos gêneros
discursivos, pode ser definida como a estrutura do enunciado, que faz com
que ele seja socialmente reconhecível pelos integrantes de determinada
sociedade.
Embora as obras do Círculo de Bakhtin tenham sido escritas na primeira
metade do século XX, seus postulados podem ser adotados para abordar os
gêneros discursivos digitais, que surgiram com o advento das novas mídias
e tecnologias. Nesse sentido, Rojo (2013) sistematiza uma ampliação da teoria
bakhtiniana, de
modo a incluir
essas inovações,
como mostra a
figura 1, abaixo:
Figura 1.
Elementos da
teoria bakhtiniana
dos gêneros
discursivos
170
Educação e Linguagem no Círculo de Bakhtin
171
Educação e Linguagem no Círculo de Bakhtin
estilos nos tweets, o que depende dos propósitos de cada usuário e das
características específicas do perfil. Um perfil voltado ao jornalismo, por
exemplo, provavelmente utiliza um estilo mais formal que um perfil comum,
focado em comentários sobre fatos cotidianos. Com base nisso, podemos
considerar que o tweet é um gênero flexível, que abre espaço para a inserção
do estilo individual de seus escreventes, que podem optar pelo uso de
elementos multimodais, como hashtags, emojis, links, fotos, vídeos ou GIFs, na
composição de seus enunciados, além de definirem o grau de formalidade do
que escrevem.
A construção composicional do gênero tweet é caracterizada
principalmente pelo limite de 280 caracteres escritos, que exige que seus
usuários acionem estratégias de sumarização e de adequação ao limite de
caracteres, tais como o uso de hashtags, links ou elementos de outras
linguagens, de modo a manifestar sua vontade discursiva naquele gênero
específico — o tweet. Essas características estão relacionadas com o conteúdo
temático e o estilo do perfil, portanto, são fruto de escolhas do usuário. No
entanto, o tweet também é caracterizado por aspectos comuns em todos os
exemplares do gênero, que são gerados pelo próprio design do Twitter. São
eles: a foto de perfil, o apelido e o nome de usuário introduzido pelo símbolo
@, que ficam acima do texto elaborado pelo usuário; a data e horário de
publicação, o tipo de dispositivo/sistema por meio do qual o tweet foi
publicado e botões de interação próprios do Twitter (responder, retweetar,
curtir e salvar/compartilhar tweet), que aparecem logo abaixo do texto.
Com base nessas considerações, tendo em vista que o tweet é um gênero
flexível, cujo conteúdo temático e estilo podem variar, a depender do usuário
e de seus objetivos, na seção a seguir, analisamos tweets relacionados a
questões didáticas. A partir disso, buscamos propor o uso de textos desse
gênero na escola, não apenas como ferramenta, mas, efetivamente, como
objeto de ensino, em diferentes áreas do conhecimento.
5
Os tweets aqui apresentados foram retirados do corpus da pesquisa de mestrado intitulada de O gênero tweet
e a (hiper)textualização de objetos de ensino-aprendizagem, realizada no Programa de Pós-Graduação em
Linguística (PPGLin) da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) e financiada pela Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb), com previsão de defesa para março de 2022.
172
Educação e Linguagem no Círculo de Bakhtin
Fonte: Twitter6
O tweet da figura 2
é constituído por um
trecho verbal escrito e
uma imagem, que, por
sua vez, contém outros
elementos escritos, em
diferentes fontes e
layouts. O elemento
semântico-objetal do
tweet são as unidades de
medida e a conversão
de medidas, assuntos
relacionados a três disciplinas — Matemática, Química e Física —, que fazem
parte de duas grandes áreas do conhecimento — Matemática e Ciências da
Natureza. De acordo com Bakhtin (2011), o conteúdo temático de um
enunciado é constituído não só pelo seu elemento semântico-objetal, mas
também pelo seu elemento expressivo, ou seja, pela apreciação valorativa de
seu produtor. Nesse sentido, é importante ressaltar que o conteúdo temático
do tweet da figura 2 é baseado na relevância de conhecer as unidades de
medida e de saber convertê-las, para participação efetiva nas áreas de
Matemática, Química e Física. Portanto, o assunto é escolhido pelo usuário
@saladosaberofc a partir de uma necessidade educacional, o que está ligado
ao objetivo principal do perfil.
Quanto ao estilo do tweet, constatamos que há um alto grau de
formalidade, uma vez que é usada a norma padrão da Língua Portuguesa.
Esse uso está relacionado ao perfil responsável por sua publicação, que, por
6
Disponível em: https://twitter.com/saladosaberofc/status/1291381286439985155. Acesso em: 20 set. 2020.
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Fonte: Twitter7
7
Disponível em: https://twitter.com/afrolatinocae/status/1299217452891541506. Acesso em: 29 ago. 2020.
174
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175
Educação e Linguagem no Círculo de Bakhtin
176
Educação e Linguagem no Círculo de Bakhtin
1
Docente e gestora pela Secretaria da Educação da Bahia, desde 2012. Mestra (em 2019) pelo Programa de Pós-
Graduação em Linguística - PPGlin, nível Mestrado Acadêmico, da Universidade Estadual do Sudoeste da
Bahia (UESB), Campus de Vitória da Conquista – Ba, Brasil. E-mail: jaquelinefeitoza@gmail.com.
2
De acordo com os estudos de Swales (1990), os gêneros são concebidos como classes de eventos
comunicativos, podendo ser “aleatórios, idiossincráticos e motivados por um propósito único e distintivo”.
Além disso, são como ações linguísticas retóricas, que possibilitam à linguagem comunicar algo a alguém,
para algum propósito, em momento e contexto específicos, por isso, são tidos como importantes ferramentas
de ensino. A partir da definição apresentada, o autor trabalha a noção de prototipicidade, através da
compreensão de que “protótipos de gêneros são reconhecidos por uma lógica subjacente capaz de influenciar
e restringir a escolha de conteúdo e estilo em contexto situado. Segundo o linguista, o reconhecimento dos
protótipos é um dos procedimentos que um analista deve seguir, em um percurso que parte do contexto para
o texto e projeta a organização de gêneros em movimentos retóricos e, consequentemente, seus aspectos
textuais e linguísticos” (SOUZA; SILVA, 2017, p. 138).
177
Educação e Linguagem no Círculo de Bakhtin
3
Acerca do trabalho com gêneros sob a perspectiva metafórica, Swales esclarece: “[...] acredito que temos de
caracterizar gêneros como um esforço metafórico, essencialmente, para que as várias metáforas possam ser
chamadas em proporções variadas, de acordo com as circunstâncias, a sua própria luz em nossos
entendimentos” (SWALES, 2004, p. 61).
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Os gêneros do discurso
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Proposta metodológica
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Aspectos sociorretóricos
Quadro 01 - Movimentos retóricos de introdução de pesquisa
MOVIMENTOS
PROPÓSITO COMUNICATIVO: INTRODUZIR PESQUISA
RETÓRICOS
1- INTRODUÇÃO
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Os operadores argumentativos
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(01)
Os níveis de oxalato no biri-biri variam entre 8,57-10,32 mg/g,
consideravelmente maiores quando comparados aos da carambola (0,8- 7,3
mg/g) (LIMA et al, 2011). Apesar disso, existem muitos mais estudos que
associaram a lesão renal aguda ao consumo de carambola (MOYSÉS
NETO; VIEIRA NETO; DANTAS; 2010) quando comparados aos do biri-
biri. Assim, a lesão renal aguda por consumo de biri-biri,
excepcionalmente em pacientes hígidos, ainda é um evento considerado
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Considerações finais
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Referências
ADAM, Jean-Michel. Análises textuais e discursivas: metodologia e aplicações/Jean-Michel
Adam, Ute Heidmann, Dominique Maigueneau; Maria das Graças Soares Rodrigues, João
Gomes da Silva Neto, Luis Passegui (Orgs.) – São Paulo: Cortez, 2010.
KOCH, I. G. V. Argumentação e linguagem. São Paulo: Cortez, 2011.
______.; ELIAS, V. M. Escrever e argumentar. São Paulo: Contexto, 2016. 240 p.
MOTTA-ROTH, D.; HENDGES, G. R. Produção textual na universidade. São Paulo: Parábola,
2010.
SOUZA, C. R. R. de; SILVA, W. M. da. Gênero monografia em contexto de produção acadêmica
escrita. Raído, Dourados, MS, v. 12, n. 27, jan./jun. 2017 - ISSN 1984-4018.
SWALES, J. M. Research genres: exploration and applications. Cambridge: Cambridge
University Press, 2004.
YOSHIDA, Winston Bonetti. Redação do relato de caso. J Vasc Bras, 2007, Vol. 6, nº 2.
188
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POSFÁCIO
189
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190
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191
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192
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SOBRE OS ORGANIZADORES
193
Impressão e acabamento
oo