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A CONSTRUÇÃO DE SENTIDOS
EM MANCHETES DO JORNAL POPULAR MEIA HORA DE NOTÍCIAS
A CONSTRUÇÃO DE SENTIDOS
EM MANCHETES DO JORNAL POPULAR MEIA HORA DE NOTÍCIAS
A CONSTRUÇÃO DE SENTIDOS
EM MANCHETES DO JORNAL POPULAR MEIA HORA DE NOTÍCIAS
BANCA EXAMINADORA
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A todos os alunos bolsistas do Programa Universidade Para Todos
(PROUNI) do Governo Federal, que, como eu, conseguiram provar que nas
escolas públicas ainda há alunos que querem e precisam de uma oportunidade
como essa para poder ingressar no mundo acadêmico...
Aos meus pais, com quem aprendi a driblar todos interpeles da vida. Obrigado pela
dedicação e confiança em mim
Aos meus queridos professores da Escola Estadual Jardim São Fernando, hoje
colegas de profissão, pelo incentivo ímpar
AGRADECIDO
“Esta é uma confissão de amor: amo a língua portuguesa. Ela não é fácil. Não é
maleável. E, como não foi profundamente trabalhada pelo pensamento, a sua
tendência é a de não ter sutilezas e de reagir às vezes com um verdadeiro pontapé
contra os que temerariamente ousam transformá-la numa linguagem de
sentimento e de alerteza. E de amor. A língua portuguesa é um verdadeiro desafio
para quem escreve. Sobretudo para quem escreve tirando das coisas e das pessoas
a primeira capa de superficialismo”.
Clarice Lispector
RESUMO
Esta monografia tem como objetivo analisar de que maneira são construídos
sentidos nas manchetes do jornal popular Meia Hora de Notícias. A partir dos
enunciados relativamente estáveis, conhecidos como manchetes, concentramos
nosso olhar nesta unidade textual, presente em qualquer periódico, como sendo um
gênero do discurso de suma importância para análise que desenvolvemos neste
trabalho. Nesse sentido, consideramos necessário inscrever nosso estudo na
perspectiva da análise do discurso de linha francesa, a fim de que possamos
verificar de que forma língua, ideologia, história e sociedade se associam para
assegurar a legitimação do discurso produzido, haja vista que a noção de
neutralidade no jornalismo é obsoleta e ilusória. Para tanto, selecionamos
aleatoriamente exemplares do referido jornal durante o mês de setembro de 2010.
Em seguida, consideramos, primeiramente, partir da macroestrutura do texto para,
em seguida, investir na compreensão de como se dão os sentidos nos enunciados.
De modo que, ao final deste estudo, conseguimos entender que os sentidos
construídos partem de um contexto de exclusão social e cultural, principalmente
daqueles que são encarados como sujeitos instaurados no processo de interlocução.
Além disso, percebemos que a linguagem materializa o que a sociedade, muitas
vezes, procura esconder, de modo que sua indissociabilidade com a história e a
ideologia é constada em cada enunciado analisado.
This study aims at analyzing how meanings are constructed in the Meia Hora de
Notícias, popular newspaper headlines. In the statements from the relatively stable,
known as headlines, we focus our gaze on this textual unit, present in any journal, as
a genre of discourse analysis, critical to have been developed in this work. In this
sense, we need to sign our study from the perspective of discourse analysis of the
French line, so that we may verify how language, ideology, history and society come
together to ensure the legitimacy of the discourse produced, given that the notion of
neutrality in journalism is obsolete and misleading. To this end, we have randomly
selected copies of the newspaper during the month of September 2010. Then we
have considered, first, from the macrostructure of the text and, from there, invest in
understanding how to give directions into the statements. So, at the end of this study,
we assume that the meanings are constructed from a context of social and cultural
exclusion, especially those that are viewed as subject which initiated the process of
dialogue. Also, we have realized that the language embodies what society often tries
to hide, so its inseparability from history and ideology which appear on each
utterance is analyzed.
manchetes ................................................................................... 26
ANEXOS ......................................................................................................................... 40
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
1
As editorias são inscritas por nomes sugestivos e que se coadunam ao
discurso que o jornal pretende legitimar. A primeira é intitulada “Trânsito”. Nela, o
leitor pode encontrar informações rápidas sobre o tempo e, é claro, situações gerais
do tráfego na cidade. A segunda, que é, na verdade, a maior de todas, é chamada
de “Geral”. Ela materializa em forma de notícias todas as chamadas existentes na
primeira página e algumas outras que não constam num índice sistemático que
geralmente existiria em um jornal de referência. A “Voz do Povo” está preocupada
em abrir espaços para os leitores participarem e, nela, podemos encontrar desde um
simples desabafo a um sítio reservado para anúncios de pessoas desaparecidas.
1
ANGRIMANI, Danilo. Espreme que sai sangue: um estudo sobre o sensacionalismo na imprensa.
São Paulo: Summus, 1995.
2
para os defensores de outra linha o termo mais apropriado, abrangente e menos
preconceituoso seria o popular 2.
Isso posto, parece-nos que o jornal pode oferecer um vasto e rico campo para
análises de ordem linguística. Entretanto, por se tratar de uma monografia, optamos
pela unicidade e delimitação do tema3, a fim de que pudéssemos, no deslizar teórico
deste trabalho, nos dedicar de maneira mais atenta a um assunto tangível. Nosso
recorte se dá, justamente, a partir das manchetes localizadas nas primeiras páginas
e, para tanto, selecionamos exemplares no período de dois a trinta de setembro de
2009.
2
AMARAL, Márcia Franz. Jornalismo popular. São Paulo: Contexto, 2006.
3
SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 23.ed. São Paulo: Cortez, 2007.
3
injunção pode produzir, mas o que se intenta evidenciar aqui é a maneira como se
dá essa interação, reconhecendo a importância do veiculador e daquele que se
apropria do discurso veiculado para a construção e validação dos sentidos.
4
ORLANDI, Eni P. Análise de discurso: Princípios e procedimentos. 8ª ed. Campinas: Pontes, 2009.
4
diariamente. Além disso, em 4 março de 2011, o grupo “O Dia”, responsável pela
produção do jornal Meia Hora, anunciou que não manteria mais a edição de São
Paulo, sendo que a versão paulistana do periódico, essencialmente carioca, durou
apenas sete meses. De qualquer forma, no período em que coletamos material para
este trabalho o jornal estava em plena atividade e, por esse motivo, decidimos
manter as discussões abarcadas pela produção de linguagem veiculada no Meia
Hora à nossa monografia.
5
(in)conclusões a que se podem chegar quando lidamos com a linguagem em
funcionamento.
5
Neste trabalho, o termo ganha o mesmo sentido adquirido nos grupos de pesquisas que envolvem,
prioritariamente, relações entre trabalho e linguagem.
6
CAPÍTULO I
CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS
7
O pêndulo ideológico pelo qual passa a definição do termo parece colocar em
voga uma discussão importante para a linguagem. A seleção lexical não está à
margem da ideologia. E, portanto, quando optamos pela utilização do termo popular
estamos preocupados em tentar não rotular de maneira taxativa jornais destinados
às classes menos favorecidas, uma vez que:
Sensacionalista é a primeira palavra que a maior parte das pessoas
utiliza para condenar uma publicação. Seja qual for a restrição, o termo é
o mesmo para quase todas as situações (ANGRIMANI, 1995, p. 13).
Não é tarefa das mais fáceis definir que o léxico, quando o conflito ideológico
entra em jogo e, por isso, toda e qualquer definição talvez sejam apenas
8
representações de discurso e de posicionamento. Neste trabalho optamos por
aquele que consideramos mais apropriado para um trabalho que vê na linguagem
uma potente arma de lutas sociais.
1.1. DA MANCHETE
9
se convenientemente proposto, do ponto de vista do consumidor, é mais
importante que o lead, porque “sem título atraente, o leitor não chega
sequer ao lead” (BURNETT, 1991, p. 43, apud COMASSETTO, 2003, p.
59).
É importante considerar que o Meia Hora não possui assinaturas e sua única
forma de comercialização é feita nas bancas com exposições de suas primeiras
páginas e é justamente por isso que, especificamente nos jornais populares, as
manchetes têm uma função imprescindível. Precisa ser concisa, concentrar a
atenção do leitor e, ao mesmo tempo, convidá-lo a ir à página da notícia para
concluir sua leitura. E, talvez por isso, sua imprecisão seja construída de maneira
proposital, de modo que consegue cumprir seu papel social e, de certa forma, atinge
os objetivos a que se propõe. Portanto, sua forma não constitui apenas uma cópia
fiel de qualquer manual de jornalismo, mas um discurso que entra em cena numa
arena dissonante de vozes com a finalidade única de se destacar das demais.
10
Antes, porém, é importante que se defina o que, neste estudo, é considerado
discurso. Segundo Orlandi (2009), discurso é efeito de sentidos entre locutores. A
nossa análise, portanto, busca compreender como os sentidos são construídos
socialmente nas manchetes do Meia Hora:
Tendo como fundamental a questão do sentido, a Análise do Discurso se
constitui no espaço em que a Linguística tem a ver com a Filosofia e com
as Ciências Sociais. Em outras palavras, na perspectiva discursiva, a
linguagem é linguagem porque faz sentido. E a linguagem só faz sentido
porque se inscreve na história (p. 25).
11
introduzir um olhar mais atento às diversas produções populares voltadas para a
comunicação e informação às pessoas das classes D e E da nossa sociedade.
12
CAPÍTULO II
A CONSTRUÇÃO DE SENTIDOS
EM MANCHETES DO JORNAL MEIA HORA DE NOTÍCIAS
6
FERREIRA JÚNIOR, J. Capas de Jornal: a primeira imagem e o espaço gráfico visual. São Paulo:
Editora SENAC, 2003.
13
Segundo Collaro (1996), o leitor tende a passar seu olhar por uma espécie de
roteiro que o conduz, de modo espontâneo, do dado mais importante àquele de
menor prestígio. Ele classifica esses lugares em um Mapa da Zona Ótica, no qual
essas zonas são hierarquizadas em primária (1), terminal (2) e duas mortas (3 e 4).
Dessa forma, o olhar do leitor seguiria o seguinte percurso:
1 3
4 2
7
COLLARO, Antonio Celso. Projeto Gráfico: teoria e prática da diagramação. São Paulo: Summus,
1996. p. 135
14
Com o objetivo de validarmos essas incursões de ordem teórica,
selecionamos uma PP em nosso arquivo:
1 3
4 2
Figura 2: PP do Jornal Meia Hora de Notícias do dia 25/09/2010 e o Mapa da Zona Ótica
8
Em análise do discurso, para poder utilizar a noção de identidade, convém acrescentar-lhe duas
outras noções que circulam igualmente nos domínios filosóficos e psicológicos, as de sujeito e
alteridade. In CHARAUDEAU, Patrick; MAINGUENEAU, Dominique. Dicionário de Análise do
Discurso. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2008. p. 266
15
destaque parece reafirmar sua necessidade de posicionamento9 perante o seu
interlocutor. Historicamente, a instituição é, relativamente, nova e precisa se
autoafirmar como forma de marcar e inscrever seu discurso no tempo e no espaço e,
talvez, seja essa a explicação mais adequada para o seu nome estar em um
quadrante em evidência.
9
Caracteriza a posição que o sujeito ocupa em um campo discursivo em relação aos sistemas de
valor que aí circulam. In CHARAUDEAU, Patrick; MAINGUENEAU, Dominique. Dicionário de Análise
do Discurso. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2008. p. 267
16
verbal ganha relevo em relação aos enunciados escritos. As cores selecionadas
para compor o espaço discursivo em que se encontram as manchetes são
sugestivas e auxiliam na discussão proposta neste trabalho.
10
Nesse sentido, Psicologia das Cores postula que se propõe observar as relações comportamentais
que se dá entre cor e sensação produzida nos seres humanos.
17
E, além disso, engendram sentidos como os que foram explicitados, além daqueles
que não se pretende esgotar nesta análise.
18
Data Manchete Assunto
10/09/2010
28/09/2010
19
veicular informações que envolviam as campanhas políticas que agitavam as
notícias, o Meia Hora estava no contrafluxo desse propósito.
20
Figura 4: Percentual dos assuntos coletados do Jornal Meia Hora de Notícias, no período de
02/09 a 30/09/2010.
21
Partindo do pressuposto de que o Meia Hora é um jornal autodeclarativo
popular, não poderíamos, a priori, aceitar que um meio de comunicação para o povo,
das classes C e D, pudesse estar preocupado com discussões de fundo político ou
qualquer outro, já que há uma construção social fortemente embasada pela
ideologia das classes de que essas pessoas convivam e se desenvolvam em
lugares periféricos e marginalizados e que, portanto, só podem estar preocupadas
com a violência, companheira que mora ao lado daqueles que se encontram nessa
condição. Além disso, o jornal, no que diz respeito à sua função social, é um
formador de opinião e contribui sumariamente para o estabelecimento de
posicionamentos e verdades que ele próprio, enquanto instância enunciadora,
pretende legitimar.
Portanto, o que pode e deve ser dito nesse diálogo conflituoso está
determinado pelas condições sociais e históricas em que cada objeto se instaura,
pois “apenas do ponto de vista das classes, isto é, da luta de classes, pode-se dar
conta das ideologias existentes numa formação social” (ALTHUSSER, 1985, p. 107).
22
disseminação e criação de novos efeitos de sentidos ao participar ativamente da
leitura das manchetes veiculadas no Meia Hora.
Contexto sócio-histórico
Coenunciador Pretendido
Adequação da Linguagem
Produção de Sentidos
Interdiscurso
Discurso
Identificação
Coenunciador
Com efeito, sabemos que a ideologia é inerente ao discurso e, para que ele
exista, o sujeito passa a ser também parte integrante desse mesmo discurso.
Temos, portanto, uma tríade indissociável. Ao falarmos de subjetividade em
jornalismo, um primeiro significado que nos vem à mente é tão somente a presença
24
de marcas linguísticas que remetam a pessoa de um eu àquele que enuncia o
discurso.
No caso específico das manchetes, não temos uma assinatura nominal que
nos transporte à autoria empírica de um indivíduo, mas, se analisarmos de maneira
mais atenta, podemos afirmar que, na verdade, o enunciador dos discursos
produzidos em todo o jornal parte da instância enunciadora Meia Hora de Notícias, o
que não encerra em si mesmo essa discussão.
25
Nesse sentido, parece-nos que as manchetes funcionam como essa
interpelação sugerida por Althusser, ilustrada pelo vocativo “ei, você aí”. Elas
“atraem” o leitor que, de uma forma ou de outra, dialoga com aquela notícia
veiculada e instaura-se, a partir daí, um diálogo que constituem os dois, instância
enunciadora e interlocutor, em sujeitos, sendo que ambos, mesmo inadvertidamente,
são interpelados pela ideologia subjacente ao discurso materializado nas primeiras
páginas do jornal:
26
Sujeito Predicado Data
Gangue da BMW apavora prédio de bacanas na Oscar Freire 03/09/2010
Coroa enforca a namorada de 22 aninhos em 07/09/2010
canavial
Bandido pinguço bate feio no caminhão de lixo 08/09/2010
Pai monstro violou filhas de 8, 13 e 17 anos 11/09/2010
Estuprador é decepado depois de violentar missionária 24/09/2010
Traveco leva balaço na cabeça em motel na Barra 30/09/2010
Funda
Tabela 2: Nível sintático nas manchetes do Jornal Meia Hora de Notícias
11
Para análise do discurso, o estereótipo, como representação coletiva cristalizada, é uma
construção de leitura, uma vez que ele emerge somente no momento em que um alocutário recupera,
no discurso, elementos espalhados e frequentemente lacunares, para reconstruí-los em função de um
modelo cultural preexistente. In CHARAUDEAU, Patrick; MAINGUENEAU, Dominique. Dicionário de
Análise do Discurso. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2008. p. 215
27
essa rede semântica12, mesmo que inconsciente, estabelece uma relação, em
partes, harmoniosa entre os já-sujeitos interpelados que se instauram na tríade
discursiva:
Gangue apavora
Coroa enforca
Estuprador decepado
12
Neste trabalho, rede semântica faz alusão à cadeia de palavras que criam uma atmosfera de
sentidos análogos.
28
O „pai monstro’ não é comum, ele se difere dos demais por sua característica
pejorativa, monstro. Assim, também, é o bandido, esse atributo marginalizado é
potencializado na medida em que é adicionado o determinante 13 pinguço. E, a partir
dessas coerções, de ordem extremamente subjetiva, parece-nos que o Meia Hora
significa seu discurso por meio de injunções sociais e linguísticas, com a finalidade
de situar seu lugar no espaço e tempo em que circula.
Além disso, a concepção de polifonia, que subjaz todo discurso, pode ser
elucidada a partir dessas construções. A construção dessas orações, que pressupõe
um sujeito qualificado, instaura outras vozes imanentes também dessa mesma
sociedade considerada popular que, de certa forma, dialoga com a ideologia
veiculada pelo jornal.
A língua, quanto à sua modalidade de uso, pode ser dividida em duas: oral e
escrita. A segunda, no entanto, é aquela utilizada nos jornais impressos. Entretanto,
embora apresentem significativas diferenças, as duas podem estar ligadas direta ou
indiretamente na linguagem jornalística popular. A escrita é caracterizada por um ato
de produção lento, planejado, editável e solitário, enquanto a fala é espontânea e
ocorre num ambiente de interação social (CHAFE, 1992, apud DIAS, 2008).
13
Aqui usado como termo técnico e equivalente a adjetivo.
29
criar efeitos de sentidos que legitimem o discurso no âmbito de sua materialidade
linguística. Esse é, sem dúvida, um procedimento extremamente usual nas redações
dos jornais populares. A ligação entre o oral e o popular revela que, no bojo da
gênese da linguagem, o fator histórico-social se revela como determinante para a
validação de enunciados. Na verdade, a língua escrita é uma outra língua, à qual
poucos têm acesso, daí a aproximação entre língua oral e pessoas de baixa
escolaridade.
30
observar. O esporte boliche é, no Brasil, para poucos. Dada a sua acessibilidade e
preço e, por essa e outras razões, parece-nos que o termo utilizado é sofisticado e,
talvez, grande parte dos leitores não consiga dimensionar proficientemente os
efeitos de sentidos que a manchete pretende legitimar.
Trata-se de um dito popular que, grosso modo, quer dizer “realizou o ato e
assumiu”. A manchete não segue o arquétipo do verbo flexionado no tempo
presente, não sintetiza de maneira clara a notícia, mas alimenta a ideia da
curiosidade. A vontade de saber o que aconteceu, provavelmente, conduza o leitor à
página da notícia anunciada.
31
2.2. DA VIOLÊNCIA: O PRINCÍPIO DE UMA DISCUSSÃO
32
pode e deve ser dito em determinado contexto. Dessa maneira, não podemos
pensar o vocábulo violência no singular, uma vez que os sentidos produzidos nas
manchetes do Meia Hora são, na verdade, polissêmicos. A violência nos jornais
populares parece que tem cenário certo: o submundo da periferia da cidade, local de
gente pobre, de refúgio de marginais, onde o crime e a vingança correm soltos
(DIAS, 2009).
33
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir deste trabalho, pudemos observar que, para além das mais diversas
explicações que existam da palavra exclusão, a mais cruel seja, quiçá, a falta de
oportunidades que o público-alvo do Meia Hora encontra em acessar as informações
consideradas eruditas. Ao analisarmos os tópicos recorrentes no período
selecionado, é possível compreender como são díspares os assuntos tratados em
um jornal canônico de um popular e isso, veladamente, determina o público que se
pretende atingir e, dessa forma, alimentar cada vez mais as lutas de classes e
interesses, próprio de um sistema que visa ao lucro sem precedentes. Além disso,
outros fatores contribuem para o aumento dessa triste constatação: o preço, muito
mais acessível à maneira popular, o projeto gráfico, mais chamativo, os locais em
que circulam e, principalmente, a adequação da linguagem.
34
ganham profundidade e deixam de ser meros títulos de primeira página para
entrarem numa cadeia implícita que envolve diretamente a tríade, sob a qual está
todo discurso: linguagem, história e sociedade.
As análises das manchetes revelam que não se deve pensar a língua como
algo inerte, morto ou dentro de uma caixa pré-moldada. Ela existe porque a pessoa
se apropria dela da maneira que tem acesso e a produz da mesma forma. Portanto,
reconhecer que a variação linguística ultrapassa os limites geográficos e chega até o
social é, relativamente, obsoleto. É preciso mais que isso: adotar um olhar histórico
e ideológico é compreender que saber usar a língua representa poder.
35
todo esse jogo de vozes que parecem estar numa arena discursiva, somos
surpreendidos em saber que, na produção de linguagem, existe muito mais do que
mera compreensão de significados e formas. Existem posicionamentos ideológicos,
marcados pela história de uma determinada sociedade que se diz livre de
estereótipos e preconceitos, mas que encerra na linguagem um retrato da definição
da concentração de poder.
Por fim, este trabalho não pretende encerrar-se em si mesmo, uma vez que,
mediante aos diversos sentidos que cada enunciado pode produzir, não podemos
deixar de reconhecer que nosso estudo ainda está aberto e em fase de construção
constante, de modo que os sentidos produzidos nas manchetes, por serem
polissêmicos por natureza, aceitam ser ressignificados.
36
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes,
2003.
BARROS, Diana Luz Pessoa de. Estudos do discurso. In: FIORIN, José Luiz (org.).
Introdução à Linguística: II. Princípios de análise. 4. ed. São Paulo: Contexto, 2007.
FARIA, Maria Alice; ZANCHETTA JUNIOR, Juvenal. Para ler e fazer o jornal em sala
de aula. São Paulo: Contexto, 2005.
37
FERREIRA JÚNIOR, J. Capas de Jornal: a primeira imagem e o espaço gráfico
visual. São Paulo: Editora SENAC, 2003.
FOUCAULT, Michel. A Ordem do Discurso. 9. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2005.
Outra fonte:
38
ANEXOS - Primeiras Páginas do Jornal Meia Hora de Notícias
de 02/09/2010 a 30/09/2010
39